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Resumo
Este artigo se propõe a desenvolver alguns conceitos para reflexão de ética e inclusão na
educação, trazendo a proposta de uma perspectiva crítica analítica desenvolvida a partir
da observação de três dimensões: culturas, políticas e práticas, com uma abordagem que
perpassa pela dialética e pela complexidade. O texto traz uma leitura das dobras dos
filósofos Aristóteles e Zygmunt Bauman, e dos pesquisadores das faculdades de
educação da Universidade de São Paulo, Prof. Dr. Nivaldo José Machado, e da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Prof. Dr. Renato José de Oliveira. Sugere
reflexões sobre o papel da escola na construção e transformação da sociedade e de um
ambiente inclusivo, defendendo uma proposta de perspectiva crítico analítica para o
debate sobre inclusão.
Introdução
A proposta deste artigo é iniciar uma reflexão acerca do tema: ética e inclusão na
educação, a partir de uma visão totalizante da multiplicidade de leituras e variações de
vida, atos, concepções e intenções que ocorrem no que consideramos as três principais
dimensões em que a vida humana e social se manifesta: culturais, políticas e práticas,
abordando ainda aspectos dialéticos e de complexidade.
O conceito de ética utilizado para o desenvolvimento deste trabalho está
embasado na etimologia da palavra: de origem grega derivada de ethos, que diz respeito
ao costume, aos hábitos dos homens; e na definição aristotélica que define a ética como
um saber prático e que pressupõe três elementos fundamentais: o uso correto da razão, a
boa conduta (eupraxia) e a felicidade (eudaimonia), tendo como finalidade orientar o
homem para a prática do bem.
Para a construção do conceito de inclusão, o referencial é o Index para Inclusão
(BOOTH; AINSCOW, 2002, apud SANTOS, 2006), publicação que apresenta um
conjunto de indicadores e questões infindáveis para reflexão das questões de
inclusão/exclusão com o foco no contexto escolar, que propõe que tais considerações
sejam feitas a partir de três grandes dimensões nas quais a vida se manifesta: culturas,
políticas e práticas, abordando ainda aspectos da dialética marxista e de complexidade
(Mohin).
A fim de estabelecer a reflexão sobre ética e inclusão na educação,
identificaremos algumas funções sociais da escola, sob a perspectiva de alguns
filósofos, tendo como referencial concepções de Oliveira. R.J. e Machado. N.J.
A virtude ética é adquirida pelo hábito, logo não é natural. Ela tem que ser
ensinada através de exemplos, coerção e consenso. Logo ética não nasce com as
pessoas, mas somos capazes de adquirir e transformar a ética.
Um dos espaços onde encontramos a construção e a transformação da ética é a
escola, pois é concebida como democrático, plural e diverso. Na escola iniciamos nossa
constituição como pessoa e, como pessoas, somos todos diferentes. Nesse sentido um
dos valores de mais importância dentro do ambiente escolar é a igualdade, que nos
remete dialeticamente aos conceitos de diferença e desigualdade.
No espaço escolar encontramos diferenças culturais, de identidade, dentre
outras, que por vezes acabam constituindo espaços de desigualdade e exclusão. E se
existe espaço de exclusão, faz-se necessária a inserção do espaço de inclusão.
No entanto, temos que entender que a inclusão não pode se referir apenas a um
grupo, pois está em contínuo processo de identificação de exclusões e de organização de
estratégias para suas respectivas minimizações, ou finalizações (SANTOS et al., 2002),
inclusão é para todos:
[...] inclusão não é a proposta de um estado ao qual se
quer chegar. Também não se resume na simples inserção
de pessoas deficientes no mundo do qual têm sido
geralmente privados. Inclusão é um processo que reitera
princípios democráticos de participação social plena.
Neste sentido, a inclusão não se resume a uma ou algumas
áreas da vida humana, como, por exemplo, saúde, lazer
ou educação. Ela é uma luta, um movimento que tem por
essência estar presente em todas as áreas da vida
humana, inclusive a educacional. Inclusão refere-se,
portanto, a todos os esforços no sentido de garantia da
participação máxima de qualquer cidadão em qualquer
arena da sociedade em que viva, à qual ele tem direito, e
sobre a qual ele tem deveres.
Conclusão
O homem ético aristotélico não é produto de ações isoladas, mas de uma razão
que supõe a existência de um ethos comunitário cuja construção se dá no processo de
interação e comunicação entre os sujeitos. A totalidade ética representada pela polis é,
para Aristóteles, o solo de onde se pode extrair os pressupostos de ordem prática
capazes de orientar a vida humana para a conquista da felicidade (OLIVEIRA, 1995).
Existe uma frase de uso popular que diz: Ninguém é feliz sozinho.
E essa felicidade compartilhada perpassa sempre pelos limites dos valores das
pessoas envolvidas. Para Aristóteles o bem comum, a felicidade, é um direito de todos.
Mas “o seu direito termina aonde inicia o direito do outro”.
Refletir sobre questões éticas e inclusivas faz com que busquemos um elemento
fundamental, o conhecimento. E a escola é um lugar de destaque nesta busca, pois
pretende munir o indivíduo de conhecimento, de orientação, de valores e sentidos ao ser
humano, perpassando transversalmente por todas as dimensões da formação do cidadão.
Acreditando nesse perfil de espaço escolar, visualizamos uma educação que
proporcione um cidadão “capaz de lidar com o meio e seus diferentes aspectos de forma
crítica, otimizante e evolutiva” (Puig, 1998).
Na atual sociedade em que vivemos, as transformações devem ser não somente
no campo das ciências humanas, mas também das ciências sociais. Precisamos resgatar
valores mais coletivos e menos individuais. E a educação é peça fundamental neste
processo, pois é um espaço de diferentes pessoas com projetos e objetivos diversos. E
este espaço precisa manter normas para uma articulação que respeite os projetos
pessoais e coletivos. Neste sentido, ética e inclusão são elementos imprescindíveis para
o processo de evolução social.
Acredito na ética como bem comum e julgo que um dos fins da inclusão é o bem
comum. Ou seja, considero a inclusão como uma nova ética para a sociedade
contemporânea. Desta forma, valorizar e investir em novas propostas voltadas para o
diálogo sobre inclusão que busque o conhecimento e a construção de estratégias
coletivas para um ambiente mais inclusivo, é de suma importância para a formação do
cidadão e para o combate ao mundo líquido.
Referências Bibliográficas
BOOTH, T.; AINSCOW, M. The index for inclusion: developing learning and
participation in schools. London: CSIE, 2011.
______. The index for inclusion: developing learning and participation in schools.
London: CSIE, 2011. SANTOS, M. P.
______. The index for inclusion: developing learning and participation in schools.
London: CSIE, 2011.
CARDOSO, Maria Angélica e LARA, Ângela Mara de Barros et. Al. Sobre as funções
sociais da escola. São Paulo. 2009.