Você está na página 1de 143

CURSO MODERNO Dl F1LOSOHA

C*ARL O . HfcMPEL
Al Vãiitrrmtode dr PrincrtoH

FILOSOFIA DA
CIÊNCIA NATURAL

IM.IHIO Sl'k»*WNIi KocIL

>'- VllWtill&nU í"1"*t A i C/m.n.ift.".i

V.y—llll ! • « , * '

ZAHAR EDITOltVs
• • J i . r . i .. • •

m o D B J A N e m o •

5.w ,,
I- Ji CféZ
Titulo Oii(iiul:
Phitosophy d Natural SãeHct

Tr"iluiido dl (vimtíri cdi^io. publicada cm 196$ pela PwncfcHaiJ..


INC.. de Englewood Çlifft, N i " Jervey. EsUdot Unidin da Amínc». na
•én* FDUNDATIONS OF PWLGSOPHY, dirigida por E U W i m e

Copfrighl © /°*o by FrtMkfHaB. Int.

CK ICO

IST*

DireitM para a língua portuguesa adquiridos por


ZAHAR EDITORES
Riu Méxko, i\ — Rio de Janeiro
que Sí reservam a propriedade d«ia tradu;ao

Imf/ruo no Biaul
INP! C E

Prefácio 9
1. Alcance e Obfttivo deste Livro II
2. Investigação Científica: Invenção e Verificação . . 13
Um Caio Histórico como Exemplo, 13. As Etapas
Fundamentais para Verificar unia Hipótese, 16.
O Papel da Indução na Investigação Cientifica, 21.
3. A Verificação de uma Hipótese: Saa Lógica e
Sua Força 32
Verificações Experimentai» kV. Não-Experi men-
tais. 32. O Papel das Hipóteses Auxiliarei. 36.
Verificações Cruciais, 40. Hipóteses ad hoc, 43.
Vcrificabilidade cm Principio e Significação Em-
pírica. 45.
4. Critérios de Confirmação e Aceitabilidade 48
Ouantidadc. Variedade c Prccisio da Evidência
Sustentados, 48. Confirmação por "Novas" Im-
plicações. 52. O Apoio Teórico, 54. Simplici-
dade, 57. A Probabilidade das Hipóteses. 63.
«•> As Leis e seu Papel na Explicação Cientifica 65
Dua* Exigências Básicas para as Explicações
Cientificai. 65. A Explicação Dcdulivo-Nomoló-
gica. 68. Leis Universais c Generalizações Aciden-
tais, 73. As Explicações Probabillsticas: Seus Fun-
damentos, 78. Probabilidades Estatísticas c Leis
probabilisticas. 79. O Caráter Indutivo da Expli-
cação Probabilística. 89. f.
ii A* Teorias e a Hxplicação Teórica 92
As Características Gerais das Tconas, 92. O* Prin-
cípios Internos c os Princípios de Transposição.
95 Compreensão Tcóric», 98. O "Status" das
Entidade* Teóricas. 100. Explicação e "Redução
,i(i E-tinilíar". 106.
6 FltOSOFIA D* CrffCM NATURAL

7. Formação d< Concciioi - 109


Dcfmtcio, 109. DcfíoKôes Oprracioniii, 113.
Importância Siitcmática e Empírica d»n Concei-
to* Científicos. 117. Sobre as Quesiôçi "Opera-
cionalmente Km Sentido". 123. O Caráter dai
Sente rifai I n te rprçi ativas. 124.
8. Reduçòo Ttérka 129
A Controvínia MceanieiwiQ vs. VítaKim», 129.
RcilusJo do» Teimo». 131. Redução das Leis.
133. Rcfocmuluifio do Mictmicitmo. 134. Rcdii-
çllo da Psicologia; o Beliaviotiímo, 135.
Ieiluras Aduiotutíl 141
FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA

Muito* dos problemas da Filosofia sio dí f o ampla rck-


vAocia para ai preocupações humanas, c tüo complexos em suas
ramifii-iiivri, que u encontram, de uma formji ou outra, cons-
ta ntrmrnie prrtfntr*. Embora, no decorrer do tempo, cies se
luhmctam à invcsii#içflo filosófica. lalvci necc*iilcm ser recoo-
«ulrriilirt em tadl ípnen. A lui de cmiliccínicntos cientificoi
mais vastos c mais profunda experiência ética c religiosa. Me-
lhore* soluções slo dctcobcrtai por métodos mais refinado* c
rigorosos. Assim, quem abordar o estudo da fitotofia ni espe-
rança de compreender o melhor do que ela proporciona,
procurara tanto at questões fundamentais corno as reallaações
con(cmpor/liKM.
•'.Krlio por um jiiupo de eminentes flIMofo*. o "Curso
Moderno do Mlosoíia" tem por finalidade expor alguns dos
piliiiipnii |»ruliliiiiji mu divmoi ciinpnh >!> hlirtolia, tal CMM
IO apreieiitam na aluai fase da história filosófica.
Conquanto seja prnvívcl que ceitos setoríi citcjam rcpic
sentados na maloiia doa catot do introdução a Filosofia, as
classes universitárias diferem muito em finfa»e. nos mildos
de instrução e no ritmo de progresso. Todo* os professores
necessitam de liberdade para alterar seus curto* • medida que
o* leus próprio* Interesses filosóficos, o tamanho e caracterii-
llcas da composição de suas classes e ai necessidades de seui
nlunoi variem de ano pura ano. Ui dlvetiót volumei do "Curió
Moderno de Fitotofla" (cada um completo cm »i meimo, ma*
•crvlndo lambem de complemento para o» outros) oferecem
uma nova flexibilidade ao professor, que pode criar seu próprio
curso mediante a combinação de vários volume*, conforme dc-
ncjar, e pode escolher diversas combinações em diferentes oca-
siões. Aqueles volumes que oio tão usados num curso de
iniciação podem ser comprovadamente valiosos, a par de outros
(extot ou compilações de lições, para os curto* maii cspceiali-
/.iidoi de nfvcl superior.

EUZABETH BEARD4LBY M O N í Q B BEAROsirv


Para PETER ANDRÉ»
e TOBY ANNE
PREFACIO

lUIc livro oferece uma introdução a alguns dos teVptco»


centrai* da Metodologia c da 1-ilutofia da Ciíncia Natural con-
temporâneas. Cata atender às exigências do espaç» disponível,
preferi tratar com cena minúcia um número limitado de ques-
itos ímpotlonlCf » tentar um esboço rudimentar <k um pano-
rama mais VíIMIT Embora seja livro de caráter elementar, pro-
curei evitar uma simplificação enganou c aptmlci vária»
questões que ainda cstào icndo pesquisadas c discutidas.
O i leitores que quiserem conhecei melhor as questões aqui
examinadas ou se informai more outros problemas da Filosofia
d» Ciíncia encontrarão sugestões para leituras adicionais na
curta bibliografia que *c acha no fim do volume.
Uma parte substancial deste livro foi cicrila em 1964. du-
rante oi últimos meses de um ano cm que fir parle do Centro
d« Estudos Avançados em Ciências do Comportamento. Ouero
deixar aqui expresso o quimto apreciei esta oporturtidade.
E quero, por fim, agradecer calorosamente «o* diretores
dtma eoleclo, Elirahclh e Monroe Beardsky, pelos conselhos
valiosos e a Jcromc I I . Neu pelo auxilio eficiente m Icilui» dai
Pfovai.

CARL Ü. HEMrlL
ALCANCE h OHJETIVO DI-STE LIVRO

Oi iHcttalrt r i m B -da investigação científica podem set


l em AM (rapo* nuiom: a» Ciências empíricas c a*
As primeira* procuram descobrir, descrever.
e prcifcrer as ocorrências no mundo cm que vivemos.
Saas avscrtòe* devem ter. portanto, confrontada» com os fato*
de nossa experiência e to são accitiveis se amparadas por i a «
rviatacãa csnpínca.
Tal evidencia te obtém de muitas maneiras por espertas»,
taçao. por obaervacio ustcmãlica. por entrevista* ou levanta,
neatos. por eiames psicolopcos ou cUaicos, por estado atta*>
de rciiqina* arqueológicas, documcMos. inscrições, moedas.
etc £ dessa referencia essencial a cípeneacra que prescinde*
a Ldpca e a Matemática pura. que \áo as Oen:ua aa*-
nffcl
As Ciência* empíricas dividem-se por sua vez cm Ciências
Sacaram e Ciências Sociais. O critério para essa dWisão é raur*>
menos claro do que o que distingue a investigação erapÚKa da.
itio-cnararica e não existe acordo geral sobre onde se caçoam «
linha de separação. £ costume incluir nas Ciências Satanss a
Física, a Química, a Biologia e as suas umas fronteiriças. As
Gèecias Sociais compreendem eniio a Sociologia, a Ciência Po-
laca, a Aatropotogu, a Economia, a HistoriograTia c as drserpa-
aas oorrelaeas- A Psicologia é às vezes incluída num campo, *a
vezes noutro e não raro c dita pertencer * ambos.
Na presente coleção, a Filosofia das Cãencras Naturais e a
niotofu das Ciências Sócias» sao tratada* em volumes drierest-
•rs. Es«a separação usa apenas ao ptopóiiso pratico de perna**
dmcaatão maã adequada do largo campo da Filosofia da Cácaçã;
são pretende prcjnlgar a questão de ter ou não essa divisão
sãtasfieacao sistemática, i. e.. de serem as Ciências Naturais fuv
diferentes das Ciências Sociais cai astuto*,
ou preisipouos. Que existam diferenças bã-
12 FILOSOFIA DA C I í N C I A NATURAI,

sicas cnttc esses vastos domínios j i o (oi amplamente afirmado


e com as mais diversas c interessantes razões. Mas uni estudo
completo desses argumentos requer uma análise cerrada tanto das
Ciências Sociais como das Naturais, o que ultrapassa o domínio
deste pequeno volume. Entretanto, nossa discussão derramará
alguma luz sobre a questão, pois nesta exploração da Filosofia
das Ciências Naturais teremos, de quando cm vez, ocasião de
lançar um olhar comparativo cm relação às Ciências Sociais c
veremos que muito do que vamos descobrir quanto aos métodos
e J railonalc da investigação cientifica aplica-se tanlo às Ciên-
cias Naturais como às Ciências Sociais. As palavras "ciência" c
"científico" serâu, portanto, frcqücntcmcnic usadas cm referên-
cia to domínio inteiro da Ciência empírica; mas quando a cla-
reia o exigir, restrições convenientes serão acrescentadas.
O enorme prestígio desfrutado pela Ciência hoje cm dia c
certamente devido cm grande parte aos sucessos espetaculares c
á rápida expansão do alcance de suas aplicações. Muitos ramos
da Ciência empírica vieram constituir a base para tecnologias as-
sociadas, que colocam os resultados da investigação cientifica cm
uso prático c que por ma vez fornecem freqüentemente * pes-
quisa pura ou básica novos dudos, novos problemas c novos ins-
trumentos para a Investigação.
Mas, alem de auxiliar o homem em sua busca de um contro-
le sobre seu ambiente, a Ciência responde a uma outra necessi-
dade, desinteressada, mas não menos profunda c pcrsis<cntc: a
de ganhar um conhecimento cada vez mais vasto e unia com-
preensão cuda vez mais profunda do mundo em que ele
se encontra. Nos capítulos seguintes, vamos estudar co-
mo são atingidos esses objetivos principais da investigação cien-
tifica. Examinaremos como se alcança, como se estabelece e
como muda o conhecimento cientifico; veremos como a Ciência
explica os fatos empíricos c que espécie de compreensão noa i
dada por suas explicações; no decorrer dessas discussões, aborda-
daremos alguns problemas mais gerais referentes aos limites e
aos pressupostos da investigação, do conhecimento e da com-
preensão cientificas.
INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA:
INVENÇÃO E VERIFICAÇÃO

U M CASO H I S T Ó H H O C O M O fXtMPlO

Como simples ilustração de alguns aspecios importantes da


investigação científica vamos considerar o Itabalho sobre a febre
puerpera), realizado pelo médico húngaro Iguaz Scmmelwcis, no
Hospital Coral de Viena, de 1844 a 1848. Grande número de
mulheres internadas no Primeiro Serviço du Maternidade do Hos-
pital contrata após u parlo uma doença séria, c muitas vezes
fatal, conhecida como febre pucrpcrul. Fm 1844, das 5.157
mães hospitalizadas nesse Serviço, 260 (ou seja, 8,2 por cenlo)
morreram da doença; cm 1845 a pcrccntagcm era de 6,8 por
cenlo c em IK46 de 11,4 por cento. iUsas cifras se tornavam
ainda mais alarmantes quando confronUdas com as dos casos
de morte pela doença no Segundo Serviço de Maternidade do
mesmo hospital, que abrigava quase tantas mulheres como o
primeiro: 2,3, 2.0 e 2.7 por cento para os mesmos anos.
Atormentado pelo terrível problema, Semmelweis esforçou-
se por resolve Io, seguindo um caminho que ele mesmo veio
a descrever mais tarde cm livro que escreveu sobre a causa c a
prevenção da febre puerperal.1
Começou considerando várias explicações entào em voga,
algumas rejeitou logo por serem incompatíveis com fatos bem

I A naiialM* a» tuluUHn ik V — I — r «•• diflfuldaMi noi i » t n r o *


" • d a i l o w i l u l uma fdfini f m i u n i c «a fcaidaia da M í d m u . Uma aiponiaa
püimaniiiliaOi i|in inclui iiad<i(A« a niraTrawi « Ui«m I n o o a doi a x i u o i
dt Samavlard. ( « . • a i n * <m W I Sa.la>i S m a v l M i r Mu l / V o-J Ha
l>n(-Mr (Maarhtue. Inalwma: MaMhdirr U*»t<MI> P m i . 1»WP. I*«a
adia • sua foiam líiadai a> itpldai cilatfWi d»ir ia|>llaaa O. eunlot oilml
naniri da cainiia * V * ~ l . n , m i o («aluadot no primlra capim» * P
Ot Kn.lt. »,. A,tMH r V w * <N**a V M H v i a . f i . Hiaia * W—M, l a l . I N I )
14 FllOSOFlA DA ClÍNClA NATVKAL

estabelecidos, outras, passou a submeter a verificações especí-


fkas.
Uma idéia amplamente aceita na época atribuía as devas-
tações da febre pucrprral a "influências epidêmicas-. > i p a m r
descritas como mudanças "cosmico-lclúiico-atmosfcricas" espa-
Ihando-sc sobre bairros inteirose causando a febre «as n  -
res inicrnaiiiv Mas, raciocina Scntmelweis. como pnderiw Um
influências afetar o Primeiio Serviço durante anos c poupar o
Segundo? E como poderia reconciliar-se essa idéia com o falo
de estar a fcbic grassando no hospital sem que praticamente
ocorresse outro caso na cidade de Viena ou em seus arredores'
Uma epidemia genuína, como o c a cólera nio podena ser lio
seletiva, finalmente. Scmmclv-cis nota que alfumas dai BM-
Iheres admitida nu PTUUCíIO Serviço, residindo lonçe do henpiHl
vencidas pelo trabalho de parlo ainda tm laininho, tinhas
». luz em plena rua: pois. a despeito dessas condições dcvfai
veis, a laia de morte por febre pucrpcral entre esses caso» de
"parto de tua" era menor que a media no Primeiro Serviço.
Segundo outra opinião, a ouvi d.i mortalidade no Pruneuo
Serviço era o excesso de gente. Mas Scmmciwcu observa que
..M- c i n * i .1.1 ainda aitkM H topado h n .•• o p i m
parte se explicava como resultado do» esforce* desesperado»
das pacKntet para evitar o Primeiro Srrviço já mal afanado.
Ele rejeita também duas conjcluras Mimliiuruct entao corrente»,
observando ijue não havia diferença entre os dois Serviços quan-
to à dieta c ao cuidado geral com as pacientes.
Em 1846, uma comissão nomeada para investigar o assunto
atribuía a predominância da doença no Primeiro Serviço a da-
nos ei usados pelo exame grosseiro feito petos estudantes de
Medicina, que recebiam seu treino cm obstetrícia apenas no
Primeiro Serviço. Semmelwcis observa, refutando ena opinião,
que: a) o» danos resultante* naturalmente do processo de pano
são muito mais extensos que os que poderiam ser cansados por
um exame grosseiro; b) as parteiras que recebiam seu treino
no Segundo Serviço examinavam suas pacientes quase do mesmo
modo, mas sem os mesmos efeitos nocivos; e) quando, cai con-
seqüência do relatório da comissão, o número dos cstadaBks
de Medicina ficou diminuído da metade e os seus exames das
mulheres foram reduudos ao mínimo, a mortalidade, depois de
breve declínio, elevou-se a níveis ainda mais altos do qoe aatts.
INVENçãO E VERIFICAçãO 15

Varias explicações psicológicas tinham sida tentadas. Uma


delis lembrava que o Primeiro Serviço estava disposto de tal
modo que um padre, levando o último sacramento a uma mo-
ribunda. Unha que passar por cinco enfermarias' antes de alcan-
çar o quarto da doente; o aparecimento do padre, precedido por
um auxiliar soando uma campainha, produziria um efeito ater-
rador e debüitante nas pacientes dessas enfermarias c as trans-
formavam em vítimas prováveis da febre, No Segundo Serviço
nlo havia esse fator prejudicial porque o padre tinha acesso
dsrrto ao quarto da doente Para verificar esta conjetura. Sem-
tneí«cis convenceu ao padre de tomar um outro caminho e de
nlo soar • campainha, chegando ao quarto da doente silencio-
samente e sem ser observado Mas a mortalidade no Primeiro
Serviço nlo diminuiu.
Observaram ainda a Scmmclwcis que no Primeiro Serviço
as mulheres no parto ficavam deitadas de costas e no Segundo
Serviço, de lado. Mesmo achando a idéia inverossímil, decidiu,
'como um naufrago te agarra a uma palha", verificar se a
dierença de posição poderia ser signifícanlr Introduzindo o
uso da posição lateral no Primeiro Serviço a mortalidade nlo
se alterou.
Finalmente, no começo de 1847, um acidente deu > Sem-
roelwcs a chave decisiva para a solução do problema. Um seu
colega. Koilcischka. feriu-se no dedo com o bitturi de um estu-
dasse que realizava uma Julórmj e morreu depois de uma
agonia em que se revelaram os mesmos sintomas observados
•as viiimu da febre pucrpcial.
Apesar de nessa época não estar ainda reconhecido o pape)
desempenhado nas infecções pelos microrganismos, Semmelwcis
cociprcemlcu que "a matéria cadavérica", introduzida na cor-
rente sangüínea de Koltcuchta pelo bisturi. é que causara a
doença fatal do seu colega. As semelhanças entre o curso da
doença de Kollctschka c a das mulheres cm sua clinica levaram
Sceunclweis à conclusão de que suas pacientes morreram da
mesma espécie de envenenamento do sangue: ele, seus colegas,
c os estudantes tinham sido os vekutos do material infeccioso,
pois vinham às enfermarias logo após realizarem dissecações na
sala de autópsia e examinavam as mulheres em trabalho de parto
depois de Lavarem as mãos apenas superficialmente, muitas ve-
zes retendo o cheiro nauseante.
Novamente, Semmdweu submeteu sua idéii a um teste.
Raciocinou que. se estivesse certo, então a febre puerperal pode-
1* FILOSOFIA D* QéWCTA NATU«AI

ria ser prevenida peta destruição química do material infeccioso


aderido às mãos Ordenou então que iodos os estsdarües lavas-
sem soas mãos numa solução de cal dotada ances de procede-
rem a qualquer exame. A modalidade pela febre logo começou
a decrcsccr, caindo cm 18*8 a 1.27 por cento ao Prianciro
Serviço, enquanto que no Segundo era de 1.13
Justificando ainda mais sua idéia oa sara kàpótrte. como
também ditemos. Semmelwcis observou que ela explicava o (ato
de sei a mortalidade do Segundo Serviço mab baiu- lá as pa-
cienles eram socorridas por porteiras, cujo treino não ladoia
instrução anatômica por druecaç&o dos cadáveres.
E a hipótese também explicava a menor •oçiaaaaaifc entre
os casos de "panos de nu": ai mulheres que sá chegavam
maçado seus bebes ao colo raramente eram examinadas após
a admissão c tinham assim melhor sorte de escapar à infeceâo.
Finalmente, a hipótese explKata o (ato de só serem vitimas
de febre os recém-nascidos cujas mães tinham coetrakío a doen-
ça durante o trabalho de pano, pob então a mfccçao podia
ser transmitida a criança ames do nascimento, através da cor-
rente sangüínea comum à mac e ao filho, o qae era impossível
quando a mie permanecia sadia.
Ultrriorcs cxpchcacias clinicas levaram Semmelwtis cm
pouco tempo a alargar sua hipótese Numa ocasião, por exem-
plo, ek c seus colaboradores, apó» desinfetarem cuidadosamente
as mãos. examinaram primeiro tanu mulher em trabalho de
pano que sofria de câncer cervical purulenio. passaram em se-
guida a examinar dou outras mulheres na mesma sala, limi-
taado-sc a lavar as mãos sem repetir a Jciaafccyto. Oaze das
dote pacientes morreram de febre pucrperal. Sranwrparii ena-

cadavérico, mas urnbém por "maioria pútrida retirada de um


organismo vivo**.

AS ETAPAS FUNDAMENTAIS PARA VEtlFKAB


LHA SUPÓTESE

Vimos como, procurando a causa - lebre poerperal. Sen-


ntdweíi examinou várias hipóteses que haviam sido sugeridas
como possíveis respostas. Porque essas hipóteses se apresenta-
ram em primeiro lugar é uma questão debatida que iremos
•v. i s,;. i VEIIPICAçãO 17

cottsiderar mais urde. De inicio, vamos examinar como uma


hipótese, uma vez proposta, i verificada.
As vetes, o procedimento é direto. £ o que aconteceu
coro as cwijcturas d* que as diferenças em aglomeração, em
dieta ou em atenção explicariam a diferença de mortalidade entre
oi dois Serviços de Maternidade. Como Semmelwcis observou.
das aâo concordavam com os fatos imediatamente observiveb.
Não existiam uis diferenças entre os Serviços; as hipóteses fo-
ram portanto receitadas como falsas.
Mas habitual me n te a verificação n£o é tão simples e lio
direta Consideremos, por exemplo, a hipótese que atribuía
a alta mortalidade no Primeiro Serviço ao temor evocado pelo
aparecimento do padre com o seu auxiliar. Não sendo a inten-
sidade do temor nem seu efeito sobre a febre diretamente deter-
minados, como o são. a diferença em aglomeração e cm dieta.
Semmclocis usou um método indireto de verificação. Pergun-
tou a si mesmo: Existe algum efeito facilmente observável que
ocorra caso seja a hipótese verdadeira? E raciocinou: Se a
hipótese fosse verdadeira, imâo uma mudança apropriada no
procedimento do padre deveria ter acompanhada de um declínio
noa casos fatais- Verificou esta implicação por uma simples
experiência e achando que ela era falsa rejeitou a hipótese.
Analogamente, para verificar a omjetura sobre a posiçio
das mulheres durante o pano, raciocinou: St a conictura fosse
verdadeira, eaiào a «doção da posição lateral no Primeiro Ser-
viço reduziria a mortalidade. Outra vez a experiência mostrou
Ser falsa a implicação e a conpetura foi afastada.
Nos dois Ultimo* casos a verificação baseava-se no seguinte
argumento: SV a hipótese considerada, que designaremos por H.
for verdadeira, ewfão certos evento* observáveis (e.f., declínio
ria mortalidade) deverão ocorrer sob certas circunstâncias espe-
cificada* (e\í.. te o padre se abstiver de passar pelas enferma-
rias ou se o parto se realizar em posiçio lateral)", mal* breve-
mente, se H c verdadeira, também o è /. sendo / um enunciado
que descreve a* ocorrências observáveis a serem esperadas. E
conveniente dizer que / é inferido de " . ou implicado por U. e
que / c uma implicação verificável da hipótese // (Mais tarde
daremos uma descrição mais apurada da relação entre / e H.)
Nesses dois últimos exemplos a experiência mostrou ser
falsa a implicação verificável e por isso a hipótese foi rejeitada.
It FILOSOFIA DA GÍMCIA NATtUAL

O raciocínio o;uc cooduriu á rcjeiçio pode ser ejquematizado


da seguinte mineira:
Sc H t "(rdsdeito. t r tio / lambem o É
fll M M Itornu malt» a cuJèmn) I cio * vttdtdt-.to
H nio # verdadeiro.

Oualqucr argumento desta forma, chamado modut laíUm em


Lógica, 1 é dedutivamente válido, isto e. *e suas premissas ( a i
sentenças acima da linha honiontal) sao verdadeiras, t r t á o n u
conclusão ( a Knlença abano da linha horizontal) i infalivH
mente verdadeira l o g o , se ai prcmttMi de a>) fá estiverem
iimvenientemciitc eitabclccidas, • hipoieK " que eita tendo ve-
rificada deve >er crrlamenle receitada
Consideremos agora o caio em que a observação ou a ex-
periência apoia • implicação / Da, hipótese de ser a febre puer-
peral um envíncnamcnlo do sangue provocado pela matéria
cadaverica, Semmclwcii inferiu que medidas antissíplicas apro-
priadas reduziriam os casos fatais da doença. Desta vez. •
experiência mo»trou ser verdadeira a implicação. M a s e u c re-
sultado favorável n i o provava concluuvamente que a hipótese
fosse verdadeira, pois o argumento subtteente seria a forma:

Sr II * verdadciiu. (alio / u a i f i > O é.


*) |(Ui>o m w u • evidencia) I t •eidadcim
'/ ( >:iJ>i::.r••
Fite modo de raciocinar, chamado a talácta 4* aftrmaç&o
da cí*i*fQiienu, c dedutivamente nio-válido, ralo e, n u con-
clusão pode t e ' falsa ainda que suai premissas sejam verda-
deiras.' E isso e de fato tiempJifn*Jo pela própria c i p e o t o c u
de Semmclweii A versão inicial de n u interpretação da febre
puerperal como uma forma de envenenamento do sangue mea-
cionava a iníeoião com matéria cadaverica como sendo a única
fonte da doença; corretamente ele raciocinara que. se asã hipó-
tese fosse verdadeira, então a destruição 4as partículas cadaven-
c a i pela aniisscpiia deveria reduzir a modalidade. Alem disso.

I rua deullm. — « r o • o l n r da cihdai. W. laaata*. Ut*. f * 1*B


IX A> I P E . : - a l «• ira**t,lo pai*

( Va< SaMoa. 1-a*. M 17-». <K. 4, •: '- «MT -'•


INVENçãO B VERIFICAçãO 19

soa eípcncacia mostrou ser verdadeira a implicação. Logo. nes-


te caso, as premissas de *) eram ambas verdadeiras. Contudo,
sua. hipótese era falsa, pois como ele descobriu depois, a febre
podia lambem ser produzida por malcríal pútrido proveniente de
organismo» vivos.
Assim, o resultado favorável de uma verificação, 1. e., o
fato de ser achada verdadeira a implicação inferida de uma
hipótese, nio prova que a hipótese seja verdadeira. Mesmo que
mMas impbcaçõcs de uma hipótese tenham sido sustentadas por
vcíifkacões cuidadosas, amda assim a hipótese pode ser falsa.
O arnunenco seguinte também comete a falácia de afirmar o

St H t .(filadíifa. eólio lambem o sio I,. ij, .... /.


U i -Efdaleira.
Isso alada pode ser ilustrado pela hipótese final de Sem-
nxlwcii < « soa primeira versão. Como já indicamos antenor-
mente. dai soa hipótese lambem se tiram as implicações de que
entre os casos de parto de rua. admitidos no Primeiro Serviço,
a mortalidade pela fcbie puerpcral deveria ser menor que a
rr.pdia para o Senso e que as crianças cuj-.it mies tinham
escapado da doença nio contraiam a febre puciperal Esus
•mplicaçoc» também eram amparadas pela evidência — apesar
de ser lassa a primeira versão da hipótese final.
Mas, observando que o resultado favorável de nio importa
quantas verificações nao fornece prova conclusiva para uma hi-
pótese, não devemos pensar que ao obter de um certo numero
de verificações um resuludo favorável estaremos como se nio
tivéssemos feito verificação alguma. Pois cada uma de nossas
verificações poderia ter tido um resultado desfavorável e pode-
ria ler levado a rejeição da hipótese. Um conjunto de resultados
favoráveis obtados ao verificarmos diferentes implicações I,, /*.
• • .Jm de uma hipótese mostra que essa hipótese foi confirma-
da no qae da respeito àquelas implicações particulares; ainda
que cale resultado não produza prova completa da hipótese,
fornece pelo nseaos certo suporte, alguma corroboraçâo ou con-
firmação dela Em que medida isso é feito dependerá de vários
aspectos da hipótese e dos dados colhidos pela verificação. Esses
serio eiaminados no capitulo 4.
20 FILOSOFIA DA CIíNCU NATURAL

Vejamos agora outro exemplo* que nos fari prestar aten-


ção a outros aspectos da investigação científica.

Como jã se sabia no tempo de Galüeu, e provavdmmu


muito mais cedo, qualquer bomba aspirante que retira água de
um poço por meio de um emboto móvel no interior de um
cilindro nào consegue elevar a apua a mais de cerca de 10.5
metros acima da superfície livre do poço. Galüeu fico* intri-
gado por esta limitação e sugeriu uma capbcaçao apressada
para ela. Depois da morte de Galileu, seu discípulo Torri-
celti propôs uma outra resposta. Argumentou que a Terra está
envolvida por um oceano de ar que. cm virtude do> seu peso.
exerce pressão sobre o seu fundo, e que c essa pressão sobre a
superfície livre do poço que foría a água a subir quando se
levanta o embolo. Aquela altura máuma de cerca de 10.5
metros para a coluna dágua sobielcvada dã simplesmente uma
medida de pressão exercida pela atmosfera sobre a superfície
livre do poço.
Sendo evidentemente impossível determinar poc mpcclo
direta ou por observação se a tupn*>>ção e correu. Torricrtt pro-
curou verificá-la indiretamente. Raciocinou que cr fouc ver-
dadeira sua conjetura, então a pressão atmosfertea sena tam-
bém capaz de auporlar uma coluna proporcioaalssseMc •—of
de mercúrio; com efeito, sendo a densidade do asercuno cerca
de 14 vezes menor que a da água. a altura da colossa de ater-
cúrio deveria ser da ordem de 10.5/14 metros, nto é. da ordem
de 75 cm. Verificou essa implicarão por meio de um aparelho
engenhosamente simples, que era, de fato. o barometro de mer-
cúrio. O poço de água e substituído por uma cuba contendo
mercúrio, o cano de sucção da bomba é substituído por um
tubo de vidro fechado numa das extremidades. Enchendo com-
pletamente o tubo com mercúrio c obturando a enrcmidade
aberta com o dedo polcgar. Torricclli inverteu-o, iMbmrrgindo
no mercúrio a extremidade tapada pelo polegar. Redrando era
seguida o polcgar, a coluna de mercúrio caiu a cerca de 75 cm.
tal como pievira

4 O knH ••rsHtut umi fipn^lc m


• As Imo riHinuw de I. a Ceaam. l n « md C.
Y»fc UaMnrtf Picn. mi). |taa CMU *= Tom**
•«iam • i wlfa:aflo deli, •»» át um •««•••AO *UMl At rofxBm
*.** tttae. Kkw .m W • Mif*, A S~*« a—A - f*,™ ICAiil
huraaM P m . i i pn«. uso. n . «i. n
INVENçãO t VERIFICAçãO 21

Outra implicação dessa hipótese foi anotada por Pascal,


raciocinando que. ic o mercúrio no barômctro de Totrkclli c « r -
cc sobre o mercúrio da cuba pressão igual à do ar, então a
altura da coluna deve diminuir à medida que cresce a altitude,
pois a atmosfera vai-vc tornando menor. A pedido de Pascal.
esia implicação fi» verificada pelo seu cunhado, Pcricr, que
mediu a altura da coluna de mercúrio no barômctro ao p i de
Puy-dc-IXVne. um* montanha com 1600 melroa de altura, pa-
ra em seguida transportar cuidadosamente o aparelho até o
cimo, lá repetindo a nwdida, enquanto um barômetro de con-
trole ficava em batio sob a supervisão de um assistente. Périer
achou que a coluna de mercúrio levada ao topo da montanha
se encurtara de mais de oito ccntimclros enquanto a do bard-
mciro de controle permanecera invaiiávcl durante iodo o dia.

O n m . DA INDUÇÃO NA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

Vimos aljrtimai investigações cientificas nas quais um pro-


blema foi enfrentado ensaiando respostas em forma de hipóteses,
que eram então verificadas derivando delas implicações apro-
priadas a serem confrontadas com a observação ou com a ex-
periência.
Mas como se chega pela primeira v o a hipóteses apropria-
das'' Asscgura-sc às véus que elas silo inferidas de dados an-
teriormente coligidos por meio de um procedimento chamado
Inferincia indutiva, para distingui-lo da inferíncia dedutiva, da
qual difere, em pontos importantes.
Num argumento dedutivamente valido, a conclusão se rela-
ciona com as premissas de tal modo que, sendo estas verda-
deiras, então a conclusão é infalivelmentc também verdadeira.
Essa eiigineia fica satisfeita, por eiemplo, por qualquer argu-
mento da seguinte forma;

Si .*. tnuo ,
.( n.t,i r t> u v i
p nílo « o .»ui
Uma rápida reflexão mostra que selam quais forem oc enuncia-
dos particulares que ocupem os lugares marcados pelas letras
'p' e V i a conclusão ser» certamente verdadeira se as premissas
o forem. De fato, nosso esquema representa a forma de argu-
mento chamada modus tolltns. a que já nos referimos.
22 FtLOSOpiA DA CIêNCIA NATUBAL

Outro tipo de inferencia dedutivamente válida está ilustrado


por este exemplo:

Qualquer, ia! de v-dio. quando colocado na cham;. de um


bico de Bintfn. lorni • chama amarela
tire pedaço de tal de pedn í ia. iie ii>Jlo.
Este (vdiço de ia! de pcUm. quanlo coito u ctuini d;
um bico de BuriKti. loraari a c h u a amarela.

Dii-ic mui!,11 vezes que o* argumentos dessa espécie levam


d geral (aqui a premissa sobre todo* o* sais dte sódio) a o
particular (uma conclusão sobre o pedaço particular de sal de
pedra). A o contrário, ai inferencia* indutivas lewam de pre-
missas sobre casos particulares a uma conclusão que tem o
caráter de lei geral ou de principio. Por exemplo, partindo das
premissas de que cada uma das amostras particulares de vario*
sais de sadio que foram colocados na chama de Bunscn tor-
naram a chama amarela, a inferencia indutiva levaria a conclusão
geral de que todos os sais de sódio, quando colocados na cha-
ma de um b k o de Bunsc», tornam a chama amarela. Mas c
óbvio, neve caso. que a verdade dai premisiat náo garante a
verdade da c o n d u t l o ; poii ainda que todas as amostrai de
sais de sódio examinadas ate- agora tenham tornado amarela
a chama de Bunscn, é perfeitamente pnuivrl que ninas espe-
ciri de sais de sódio sejam encontrada! K m estarem de acordo
com r s u generalização Alem disso, mesmo algumas dai espé-
cies de i*l de sódio já examinadas com resultado positivo po-
deriam deixar de satisfazer à generalização sob condições físicas
especiais (tal como campos magnético* intensos ou coisa pa-
recida), em que ainda n-lo foram examinadas. Por esse mo-
tivo, diz-se freqüentemente que as premissas de uma inferencia
indutiva implicam a conclusão apenas com maior ou menor
probabilidade, enquanto as premissas de uma inferencia d e -
dutiva implicam a conclusão com certeza.
A idéia de que, em investigação científica, a inferencia
indutiva parte de dados previamente cougjdo* para chegai a
princípios gerais apropriados, está claramente exposta no se-
guinte resumo do procedimento ideal d e um cientista:

Se tencgn-mc-i imaginar como ura npinto de poder e al-


cance sobre-humano-, m*< normal quanto a o processos
lóficoa de teu pcrnamtnto. . . . usaria o métod) cientifico.
diiUmoa o Miuic-icr Fiimcíro, todos oi fatos seriam obter-
IHVíNÇÍO E VERIFICAÇÃO 25

rada* t Cfiiitridoi. irm itlrxiv ou « l i m a t i t i * prlori


quanto 1 Importância relativa dtUa. Srgumlo, Oa (tio*
otiMivadoi r (rgliliaJua ícnarn analiuifcn. «'inparadea (
d i i i i f l i i d o i , ttm iiiT.ii hip&cut Ou toUnMof •Um doa
necciuriairicnlt «nvolvidoi na lorca do penaaoicnlo. Ter-
wiro, il-<»i analiie do* f M n itnam lindai, iadutl>amtntr.
|in«ra1i»(4a quanto ai lua* rtlaç&M, claniAcalArlaa ou
CButail, Quarlu. tmqiina adk.unal poderia ari tanto d*
iluru» conto indutiva, «mnr*l*ndo Infrrtiu i » a pa>ul dai
I«nr(ali(át4ti prevlimintr f i u K H n i J u i '

E*la H M t f V B d i i l i n p i e quatro clapa» numa invciii»» ç ao


cientifica ideal: 1) obiervacâo e rcRiiito de l o d o i o i f i l o » .
2 ) aiioliM c claMiflcaçlo dciaei íatt», 3> derivarão indutiva
de pcnerali/avoci a partir d e l c i e 4 ) vertfkac.lo adicional d a l
gcnciali*ac.oei Admite capreiiamenle que a i d u a i p i i m e i t a i
i n p . i i i . i " f . , . i m " v i . de qualquer cuimativi. ou hlpotcic, l e i -
d i f f l o que paicce ter l i d o Impoala pela crença de que Idélai
procotHchlilai pirjuillttiriain a Itrnvno ncccMlfla * objetividade
cientifica da i n v e i t i u m í i i .
A concepção c x p i c u a no trecho citado que »u cha-
tnarei do i-o»r«*/«,*fln Iruluiiia ttlreiM da lnyf.Ulgüç/ii> iirniifna
— 4 Iniuilctitavcl por variai m o » , que v u n o i retumir para
ampliar c luplemehtai o que \h oliaeivamol tOrM" o prtkfder
CiclllIfiCO.
Primeiro, um« lnveill|[açlo cientifica como e»la apreten-
lada nunca poderia desenvolve r i e . Mesmo lua primeira Mapa
IHHiui l l l l i i CUCVUlAdn, p o n uma l o l r t u u de forfitr os f*l«n teria.
por a u l m duer, que aguardar o rim d o mundo; nem mrsmo
poderia ter colecionada a totalidade de todo» o i fatos ait agora.
boi» * l « "TO em numero infinito e de Infinita variedade.
Teríamos, por exemplo, que examinar lodo* os grftot de
iiicla c m lodo» <•» desertos e em t o d a i m praiai. reRiifando-lnea
li forma, o peso, * composição química, a i distanciai mútua»,
a i temperatura» constantemente variando c a distancia ao centio
da lua também variando constantemente? Teríamos que regis-
trar o i pemamcntoi f l u l u a n l c i que a l r à v í l t a m n o i i i i v f i p i r i l ü l
nene proceder fastidioso"' A l f o r m a i d a i nuvem c m cotai
cambiantei d o ecu? A conilrucfto e o fabricante do noiu> equi-
pamento para regiuro? N o u a i próprlai biografia» c a i doa

l uu m
m t"l (M«*
<*«• *•.!,
**•!, Affit*
AM»d A « **•»•«.
• * • ) , laa* i»J4>. * MO l « , i U .t..
•aaatdwl,
24 FILOSOFIA DA CIêNCIA NATURAL

companheiros de invesipcio? Tudo isso e Unia coisa


pertencem, afinal de costas, a "totalidade dos fatos ate
Dir-se-i talvez qoe todo quanio se requer na primeira fase
é que sepm colecionados todos os fatos relevantes. Mas tefe-
vanies para que? Ainda que o autor não o mencione, suponfca-
raos que * investigação se restrinja a um problema bem deter-
minado Não deveríamos cotio começar colecionando todos os
fatos — ou melbof. todos os fatos disponíveis — relevantes
para o problema? A pergunta não lein sentido claro. Sem-
melwea procurava resolver im problema bem definido c en-
tretanto cüleoonava dados os mars diversos nas diferentes etapas
de sua investigação- E estava certo: pois os dados particulares
a serem colecionado* nio estão determinados pelo problema em
estudo mjs pela tentativa razoável de resposta que o investi-
gador formula em forma de conjetura ou hipótese. Se se con-
jetura que o aumento de mortalidade pela febre puerpcral c
devido ao apareciroeoto aterrador do padre com a campainha
aauaciaoora da morte, o que se torna relevante c colecionar
dados sobre as consequeacas do haver sido suprimida cisa apa-
rição; mas scri totalmente irrelevante procurar saber o que
acontecem se os doutorei e os estudantes desinfetassem suas
mios antas de eiamiaar os pacientes. Esses dados c que pas-
saram a « r relevantes relati»anveoie à hipótese da contaminação
eventual, para a qual os dados anteriores se lorrwiim irrele-
vante»
"Fatos" ou dados empíricos só podem ser qualificados co-
mo lopcamcnle relevantes ou irrelevantes relativamente a uma
dada hipótese, c não rela&vameate a um dado problema.
Suponhamos agram que uma hipótese H tenha sido propos-
ta como tentativa de resposta a um problema em pesquisa: Ou;
espécie de dados serio relevantes para Hf Nossos esemplos an-
teriores s u g r r i nana resposta: Um fato é relevancc para H se
sua ocorrência oa aao-ocorrência peder ser inferida de tf. To-
memos, por exemplo, a hipótese de TorriceUi. Como vimos.
Pascal inferiu dela que a coluna de mercúrio num barómecro
deve ir diminuindo à medida ique subimos na atmosfera. Por-
tanto, qualquer verificação de que assim acontece num parti-
cular é relevante para a hipótese, mas igualmente relevante
teria sido ,achar que a coluna de mercúrio permanecera esta-
cionária oa que tivera diminuído para depois crescer durante
a ascensão, pois tais fatos refutariam a implicação tirada por
IHVENçAO E VBBIFKAçAO 25

P i m l c. portanto, • hipótese de Torrieclli. Diremos que o*


dados da primeira espécie i3o positivamente, ou favoravelmente,
relevante* c que o* da última espécie sâo negativa mente, ou des-
favoravclmcnte, relevantes.
Em «uma. o preceito de que os dados devem ser reunidos
sem a guia de uma hipótese preliminar sobre as conexões entre
os fatos cm estudo é autodcslruldor c, certamente, não é seguido
na investigação cientifica. Ao contrario, é necessário tentar hi-
póteses que décm uma dircçAo n investigação cientifica. lissai
hipóteses é que determinam, entre outras coisas, quais dados
devem ser collgidos a um cerio momento da investigação.
Interessa notar que os cientistas sociais ao tentarem veri-
Aofll uma hipótese usando o vasto arquivo Ce fatos registrados
pelos Serviços de Rcccnscamcnto. ou por outras organizações
coletoras de dados, ficam às vezes desapontados por nlo en-
contrarem registro algum dos valores de um» variável que de-
sempenha um papel central na hipótese. Ksta observaçftn nlo
visa, nem entendido, criticar n sistema usado para o censo:
sem duvida alguma as pessoas encarregada» df fazé Io procuram
selecionar faliu que possam ser relevantes pata futuras hipó-
teses; visa simplesmente ilustrar 11 tmpossilrilldade de wllglr
"Iodos os dados relevantes" sem conheci menu* da hipótese para
a qual os dado* devem ter rclcvllncla.
Critica semelhante pode icr feita A segunda etapa consi-
derada no trecho citado. Um conjunto de "fatos" empíricos
pode ser analisado e classificado de multas maneiras diferentes,
das rpiais a maioria nenhuma luz trará ao que se pretende atin-
gir com uma determinada investigação. Scmmclwcis poderia ter
classificado as mulheres nas enfermarias da maternidade con-
fuimc a idade, rctldCncii, calado civil, hábiioi dlciftlcoi etc;
nada disso forneceria qualquer indicação quanto à probabilidade
de uma paciente vir a ser vitima da febre puerperal. O que
Semmelwcis procurava oram critérios de classificação que fos-
sem vinculados aquela probabilidade de um modo significativo;
assim era, como ele acabou achando, o de separar as mulheres
examinadas por pessoa) medico com mãos contaminadas; pois
era com esta característica ou com a correspondente classe de
pacientes que estava associada a alta mortalidade pela febre.
Portanto, para que uma maneira punkular de analisar e
classificar os dados empíricos posta conduzir a uma explicação
dos fenômenos correspondentes é necessário fundamentá-la em
16 FILOSOFIA DA CIêNCIA NATURAL

hipóteses fobre como estão esses fenômenos correlacionados; sem


essas hipóteses, a análise e a classificação são cegas.
Essas nossas reflexões criticas sobre as duas primeiras eta-
pas da investigação tal como foi descrito na passagem citada
invalidam também a idéia de que as hipóteses só são introdu-
íídas na terceira etapa, pela inferência indutiva a partir de dados
previamente eoligidos. Convém, entretanto, acrescentar algumas
Observações sobre o assunto.
A indução é não raro concebida como um método para
passar dos fatos observados aos principio* gerais correspondentes
por meio de regras mecanicamente aplicáveis. Segundo esta
ccjccpcão. as regras da inferência indutiva forneceriam câno-
nes eficazes para a descoberta cientifica; a indução seria um
procedimento mecânico análogo a familiar rotina para multipli-
cação de inteiros, que leva, em número Imito de passos prede-
terminados e executáveis mecanicamente, «o correspondente pu>-
duto. Na realidade, não se dispõe até agora de nenhum pro-
cedimento geral e mecânico de indução; se assim não fósse,
dificilmente se compreenderia, por exemplo, por que ficou até
hoje Km solução o ultra-estudado problema da causa do câncer.
Nem hi que esperar pela descoberta de um lal procedimento.
Pois — para mencionar apenas uma ratão — at hipôteici c
teoria* cientificai são habitualmente formuladai em térmoi que
absolutamente não ocorrem na descrição dos dados empíricos
cm que estão baseadas e que ciai servem para explicar. Por
exemplo, as teorias sobre a estiutura atômica c subatômica da
matéria contém termos como -átomo", "eléctron". "próton".
"néutron", "função psi" etc; entretanto, estão baseadas em da-
dos fornecidos pelo laboratório sobre os espectros de vários
gases, rastros deixados em câmaras de nuvem e de bolha, aspec-
tos quantitativos de reações químicas etc. cuja descrição pode
ser feita sem emprego daqueles "termos teóricos". As regras
de indução do tipo aqui considerado teriam portanto que for-
necer uma rotina mecânica para construir, sobre a base dos
dados encontrados, uma hipótese nu uma teoria formulada em
termos de conceitos inteiramente novos, nunca usados na des-
crição daqueles dados. Certamente nenhuma regra de proceder
mecânico poderia realizar isso. Poderia haver, por exemplo,
uma regra geral que. aplicada aos dados de que dispunha Ga-
lileu referentes ao limite de eficiência das bombas aspirantes,
produzisse uma hipótese baseada no conceito de um oceano
de ar?
INVENçãO E VERIFICAçãO 27

Cctto, em situações especiais e relativamente simples, po-


demos receitar um procedimento mecânico para "inferir- indu-
tivamente uma hipótese a partir de certos dados. Por exemplo,
uma vez medido o comprimento de uma barra de cobre cm
diferentes temperaturas, os resultantes pares de valores asso-
ciados podem ser representados num plano, mediante um sis-
tema de coordenadas, por pontos, por onde se fará passar uma
curva seguindo uma regra particular de intcrpolação. A curva
assim obtida representa graficamente uma hipótese geral quan-
titativa, que exprime o comprimento da barra cm função de sua
temperatura. Mas. note-se. essa hipótese não contêm qualquer
termo novo. podendo ser expressa cm leimns dos conditos
de comprimento e temperatura que foram usados na descrição
dos dados. Além disso, a escolha de valores "associados" de
comprimento c temperatura, como dados, )á pressupõe uma
hipótese diretriz, a de que a cada valor de temperatura esteja
associado exatamente um valor de comprimento di barra de
cobre, ou. cm outras palavras, que o comprimento da barra
seja função apenas de sua temperatura. A rotina mecânica da
intcrpolação serve apenas para selecionar uma função psdicular
como a apropriada. Este ponto c Importante; pois suponhamos
que em lugar de uma borra de cobre estejamos examinando gás
nitrogênio encerrado num reservatório obturado por um embolo
móvel c que meçamos o volume ocupado pelo gis em diferentes
temperaturas. Se quiséssemos usor o mesmo procedimento para
extrair doa dados colhidos uma hipótese gfral representando o
volume do gás como função de sua temperatura, fracassaríamos,
porque o volume de um gás é função tanto da temperatura
como da pressão exercida sobre cie, de modo que. ã mesma
temperatura, um dado gás pode ter diferentet volumes
Assim, mesmo nesses casos simples, os procedimentos me-
cânicos para a construção de uma hipótese executam ap:nas
parte do trabalho, pois eles pressupor..) uma hipótese antece-
dente, menos especifica (í. c , que uma certa variável física
seja função apenas de uma outra variável física), que não pode
ser obtida pelo mesmo procedimento.
Não existem, portanto, "regras de indução" aplicáveis em
geral, mediante as quais hipóteses ou teorias possam ser me-
canicamente derivadas ou inferidos dos dados empíricos. A
transição dos dados à teoria requer uma imaginação criadora.
As hipóteses e as teorias científicas não *4o dm\*dai dos fatos
observados, mas inventadas com o fim de explicá-los. Cons-
28 FILOSOFIA DA CIêNCIA N « U R A I .

t i t u e m . se assim se pode dizer, palpites sobre o* nexos q u e


possam ser obtidos entre os fenômenos em estudo, sobre as
uãiformidadcs e estruturas que possam estar por baixo da ocor-
rência deies. "Palpites felizes'* dessa natureza requerem um
grande engenho, especialmente quando encerram um afastamento
radical dos modos correntes de pensamento científico, como
aconteceu, por exemplo, com a teoria da relatividade c a teoria
dos quanta. Naturalmente, esse esforço inventiva so pode ser
beneficiado por u m a familiarida.de completa com o conhecimento
corrente do c a m p o em questão. U m principiante dificilmente
fará uma descoberta científica importante, pois o piovável é
que as idéias que vcnhnm a lhe ocorrer sejam simples duplica-
tas do que já f o i tentado antes o u entrem em c o n f l i t o com
teorias ou fatos b e m eslabcleciiJos d e que ele tem conhecimento.
Sem e m b a r g o , os caminhos pelos quais se checa a palpites
científicos proveitosos diferem m u i t o de qualquer processo de
inferência sistemática. Por exemplo, o químico Kekulc nos con-
ta como, numa noite de 1865, enquanto dormitava -diante de
sua lareira, achou a solução p a r i o problema de esboçar uma
fórmula estrutural para a molécula de benzeno, após t í - I a p r o -
curado sem sucesso por m u i t o tempo. Olhando para as chamas
pareceulhe ver átomos dançando c m filas sinuosas. Subitamen-
te, uma dessas filas f o r m o u um anel, como se fora u m a serpente
segurando seu p r ó p r i o rabo o pôs-se a p r a r vertiginosamente
c o m o se estivesse caçoando dele. Kekulc acordou numa cxul-
taçào: nele surgira a idéia, agora famosa c familiar, de repre-
sentar a estrutura molecular d » benzeno pnr um anel hexagonal.
E passou o resto da noite trabalhando para tirar as conseqüên-
cias dessa hipótese •*
Esta última informação nos traz de volta à questão da ob-
jetividade científica. N o seu « f o r ç o para achar uma solução d o

t l u i ntuitiiuKfci já d'i« *nl» nu WiHum Wlxvtll pa «•* «Br» TW


« r * i M <** Mmií.# Vio-v. j ' ,d. ili.i-ii..- M » W fftei. 1H71.
. 41 WM-HII iinihim íJ!J »<« "i»ViS*n~ • " I " " " B « « «* • • » H ' r <P- **>
Mo « M O aeliao. K foplri t »«,•* » birMr**
.- - l i ; • . . , " " i ' . ' r - < l l l - i ' l ' i . ' • ' - M U . • •

ca* •*• n«'0 CoWítmti and Hieiiimi,mt |-»".- Vort


" M l N» nntedi. A. B Wille. t l l | . ,.„,„.>.*, rJictU
(«Mini» Xfcíl li" lr.HIWiiUi Mamiilncflll. ImUlf « • • * • « "*«•*-
BBUII In" i ™ *•< "•.« .*. "!».>-• i m B i B H I í I — I » m A t a d a " ,
— f • [ ! • M l í i i u c —M . 1 , " " " a»*» o™**» «•» »I*"BM
<M iriMlho - lp. < » üII raab • <**> U IHH» i».
T Cl. • ™*»toi«. •!" BrinA* NlâMrll d* Krt-M tat A. r » l n . A
r~i>l H ÇAmni», : * rd. i l . . « X - ; C*r»a One»»-** Co. !*•*).
* í>; - •* i » U<v-ri.!i. TW An »l .VornrdK juvinontioa. >• eJ l
H»i»m»«. Ud-, l « l ) , B. »!•-
INVUNçãO • VERIFICAçãO 29

seu problema, o cientista pode soltar ns rédeas de tua imaginação


c o rumo do wu pensamento citndor pode icr influenciado até
por iii",'»-» cienlificumcnlc discutíveis. Ao eiludar o movimento
planetário, por exemplo, Kepler foi inspirado por MU interesse
numa doutrina mística sobre o» números c por um apaixonado
desejo de demonstrar a música dai esferas- Nada disso impede
que a objetividade cientifica fique salvaguardada. P0Í1 ai In
pAlcscs c ai teorias que podem ser livrcmcnlc inventadas e li-
vremente prtifwmas não podem ser miiiut se nua passarem pe-
lo escrutínio critico, especialmente pela verificarão das impli-
cações ca paus de serem observadas ou experimentadas.
Nilo • sem interesse obscivar que a imuRintu-ào e a livre
invenção desempenham um papel igualmente importante nas
disciplinai cujos resultados são legitimado* exclusivamente pelo
raciocínio dedutivo; por exemplo, cm Matemática. Pois as re-
gras da inferincia dedutiva tumpouco oferecem regras mecâni-
cas para a descoberta. Como ficou ilustrado acima pelo nosso
enunciado do modus iollcm. essas regras «c et primem habitual-
mente cm forma de esquemas gerais, cujos casos particulares
são argumentos dedutivamente validos. Ni verdade, tais esque-
mas determinam um modo de chegarmos • uma conseqüência
lógica punindo de premissas dadas. Mas para qualquer conjun-
to de premissas que poisam ser dadas, a* regras de srfliMCk
dedutiva fornecem uma infinidade de conclusões validnmcnte
dcdutlvci» Tomemos, por exemplo, a simples regra represen-
tada pelo seguinte esquema:

P ou
fcle nos di/. com efeito, que i*J proposição que /> ò o cuso. se-
gue-se que p ou q c o caso, onde p e q podem ser quaisquer
proposições. O vocábulo 'ou' deve ser aqui entendido no sen-
tido "não exclusivo", de modo que 'p ou q eqüivale a 'ou p ou
q ou p c q conjuntamente*. É claro que sendo verdadeira a
premissa de um argumento deste tipo. também o é a conclusão;
logo. é válido qualquer argumento da forma especifleuda. Mus.
isolada, mu icgia nos permite infeiir uniu infinidade de conse-
qüências diferentes a partir de qualquer premissa. Assim, de
'a l.ua nao tem atmosfera' cia nos autoriza inferir qualquer
enunciado da forma 'a Lua não tem atmosfera, ou q\ onde V
pode ser substituído por qualquer enunciado, seja ele falso ou
30 FiUMOf u D* Gfctcu S*rum*L

verdadeiro: por rtrmpto. *a atmosfera da Lm ê rmão aêaae'.


'a t.jia não c habitada'. *o ouro ê ma» denso qae a prata', *a
praia é mar* deesa que o caaro* etc. (Ni© é seai i i i r r w c
não é difícil pregar qae se pode formar uma. iafimdade de enun-
ciados diferentes erc português, cada um deks pode ser posto
no local da vanavd •**.) E, aataralmenle, outras regrai de
inleréneia dedatrva í L I L H ü M aovos eaiaaciador dcri«a»e*s
de uma oo mao premiam Poetamo, para MI dado eonjaato
de ptemisHS. as regras de dedaçÉo. não pKMteM acaar MM
dirttna para DOSSOí peooaaneBHC mfercDciait. Nao isolam, MI
enunciado Umco como "a" coaesasão a ser rarada
prcm.ua*. Nraa aos duzm como obter coackasoes
lei M lintnitcwnuM MpcataMes; MO fornecem
mecaaKa para. por exemplo, cm Matemátxa Mar dos pos-
MUlfca koteaaar tkearfKatrxa- A descoberta CHI Matemática
de leorcaaas wconantes e fecundo» como a descoberu <ae Ko-
ri-i iaaporUMcs c fcenadas aa OCSKU empiiKa rtcptciej enge-
a*o iawmivo: píd* capacidade laTniaailcna. haamaatna e re-
trospectiva Ma. ao> taaaMM.M — m i l as l l | » i l i l «en-
ufica f*am ssfraguardados peta cijaftacsa de MM saatt»*
ufcfrma paia tais «oajetarat- Eat Matemática, aso quer doer
l*trv* por dcraoastrac io dedutiva a partir dos *'"**^ai E para
provar ave r mdadiiiB oo fataa MM preposição
•procMaM CCMO M M f i e aectssano
cnptflfco in«n*m> do> mais a*o s«*ri; as regras de
dedutiva nem mesaso foraecem MM aai
provas. Ames, descaspeahaaa apeaa* «a modesto papel de »er-
virera coou cnsrnoj aY IrfUMidaáV para tt% ari—aia—i ofere-
cidos como provas: MB atgaaacsro constitui ara* prova Mk>
maika válida aaaodo caaãafca dos axiomas i!é o teoreau pro-
posto por uma rarllii de pasaos MTIHMI iiii c cada usa dos quais
é válido de acordo com S M «OS regras da raferesKia dedutiva
VwiÍKar se un dado argaMcato é tuna prova válida neste sen-
tido é bem urna tarefa patiMCMc r—** 1 "
S i o te caega ao coalsoosaeacoi científico pela apís^çâo de
alpua pfoceõaaaeau de iaferenen indutiva a dados f ^ p * 1 *
laRaaMBMMt • • » M t t "- ' -.-: - Irea^üeowmeiiie ;hamado
~o método da aãpóteac~. t*•, pesataveacfcode hipóteses, como
tentativas de resposta ao prubksaa em estado e mlimíiiiii des-
sas Mpóteses ã nraueacâo eaapihca. Parle dessa venficaíão
coasisüá em apurar se a hipótese te ajusta ao ove já fora esta-
belecido ames. de SM fmmalacão: Outra parte, em derivar novas
INVíNÇÍó t VéíIíICAçíO 31

implicações para submeté-Ias a observações e experiências apro-


priadas. Conto já notamos anteriormente, uma verificação nu-
nwresa. com resultados inteiramente favoráveis, nSo estabeleci
a hipótese conclusívamentc; fornece apenas um suporte mai»
ou nKnos sólido para ela. Portanto, embora nio seja indutiva
no sentido estrito que eliminamos com certa minúcia, a investi-
pçâú cientifica è indutiva num ffrVMtf mais amplo, n,i medida
em Que aceita hipóteses baseadas em dados que nio fornecem
para ela evidencia dedutivamente conclusiva, mas lhe confe-
rem apenas um "suporte indutivo" ou confirmação mais ou me-
nos foric. As "regras de indução" devem ser cuncebidai, em
aiukiKJi com l l regrai de deducid. como cânones de validação
e BAO propriamente de descoberta. Longe de gerarem uma hi-
pótese que dí uma raiao de certos dados empíricos, essas regras
pressupõem que alem desses dadi» empíricos que formam as
"premissas'' de um "argumento indutivo** seja. dada também i
hipótese proposta como sua -conclusão". As regras de indução
forneceriam enllo critérios para * legitimidade do argumento.
De acordo com certas teorias da indução, cisas regras determi-
nariam a força do apoio fornecido pelo* dados a hipótetc e úc-
m u n i eiprimlr eue apoio em lermos de probabilidades. Nos
capítulos 3 e 4 vamos considerar o* vários fatores que afetam o
apokr indutivo e a aceitabilidade das hipóteses cientificai.
A VERIFICAÇÃO DE UMA HIPÓTESE:
SUA EOGICA E SUA FORCA

V l W I X ^ Ü ü ( S r E U M E ^ T U S V5 «»ií.piimiXI.B

ifpra a MB c u a c mais condo do lacwcimo


CRI que K baseiam as «crrficacóc* ocaüfitas c das coactusões
que podem ser urídii de tevt rrsattados. Coso u m , vurc-
nwi o vjicibulo 'hipótese" para aos referirmos a aanamaR caua-
cudo qtsc esteu acado •araVado. nao imponaado «se * * e des-
crever aipim fato ou r w a » partacaUr. ou qat procure expri-
mir u m lei fcral ou aJmaaa proporão de aaiarexa toar» com-
p4e«a.
Comecemos com ama naapkfl observação, A q«al teremos
que noa refenr frequeatemenw aa discussão tabacqAcaac: a i
implicações de ama aif 6irsr aém aorirulmeriu « n caraeer con-
dicional; dai BOI diacaa «me. tob dcaermiudas condições, ocor-
rerá aat multado de m u certa espécie podem pc-s ter postas
na tonta i ijiliiiramiaai crmrfaioaal Kfuinte

•I St v w ^ l u a f irm**fr% * npécw C. cmte ocomra


*a acaasaomama •> vtaéõt £.
POB exemplo, ama das hipóteses, consideradas por Semmel-

iw-cto

E uma das implicações da sua hipótese final era

B malktru as Pnaw*o Stn^o


m a * M wt«w de cal curada. «*ão • mom-
(e^t aarmvni manasirl.
A VERIFICAçãO DE IIMA HIPóTESE 33

Analogamente, a* implicações cU hipótese de Torricclli in-


cluíam enunciado* condicionai* como

St uin birúiflcuo d« TorrKclk I M uva polindo • IIIíIIMUI


cicKcntev «nl*o HM coluna de mercúrio diminuirá eontv
pondeQfcnttMc de comprimento.

A t implicações de uma hipótese «ao pois normalmente im-


r ^ T f ^ f i num duplo sentido: são enunciados implicados pela
hipótese c tão enunciados da forma se-Pntío. que. em Lógica.
sio chamados condicionais ou implicações materiais.
Em cada um dos tres exemplos que acabamos de citar, as
cctndiçoM C especificadas sio iccmilogjía,mcnie círqilíveis e de-
las podemos portanto dispor à vontade, para rciiliz.t-l.11, lemos
que controlar um (ator (posição durante o parlo; ausíncla ou
presença de matéria infectada; altitude da leitura barometrica)
que. de acordo com a hipótese considerada, afeta o fenômeno
cm estudo (/ *>., incidência da (ebre puerperal nos dois primeiro»
caoot; altura da coluna de mercúrio no terceiro). Implicações
'! \>J natureza fornecem umi base para uma vtrilkaçAo ou
irue exptfimtitiül. que se reiumc em produzir as condições C
e em ornervar K fc ocoffc como cila implicado pela liipóic-K
Muitas das hipóteses cientificas -á-, expressai em (ermos
quantitativos. No caso mais simples, representam o valor de
unia vaiiável quantitativa como uma funçio matemática de nu-
tras variáveis. Assim é que a lei clássica. V c.T/P. repre-
senta o volume de um gás como função de sua temperatuta
e de sua pressio (c c um fator consume). Um enunciado
desu csp.-cie pode produzir uma infinidade de implicações veri-
ftcávcb. que. no nosso exemplo, tio <*a forma seguinte: te a
temperatura do gás t T, e sua pressio i P,, entio seu Volume
e c.Ti/Pt. Uma verificaçio eipenmcnui consiste entio em va-
riar os valores das variáveis "independentes" e em observar
M a variável "dependente" toma os valores implicados pela
hipótese.
Ouando o controle experimental é impossível, quando as
condições C mencionadas na implicação r-ã-j podem ser rea-
lizadas ou variadas pelos meios tecnológicos disponíveis, entio
a hlpÓICSC deve K l Verificada nào experimentalmente, seja pro-
cwrando. seja esperando os casos cm que as condições Cru-
cificadas sfto realizadas pela natureza c observando se £ de
fato ocorre.
34 FILOSOFIA DA Ciísci» NATUKU

Da-sc às vezes que na verificação ciperíacataJ de uma


hipótese quantitativa somente uma das grandezas neta neacao-
nadas é variada de cada vez, mantendo-se consta cies iodas as
outras condições. Mas isso é impossível. Certo, ao verificarmos
a lei dos gases a peessão pode ver variada mantendo-se a tem-
peratura consume, ou vice-versa; mas variai outras circunstân-
cias mudarão durante o processo — talvez a anssdadc rela-
tiva, talvez a intensidade da iluminação, talvez o campo magnc-
tico no laboratório de. — c certamente a distância entre o corpo
gasoso e o Sol ou a Lua. Nem há razão para. tanto quanto
possível, tentar manter constantes esses [atores se a experiên-
cia visa apenas verificar a lei dos gases como foi formulada
Pois a lei diz que o volume de um dado corpo gasoso faca
completamente determinado por sua temperatura c por sua
pressão Ela implica portanto que todos os outros fatores são
"irrelevantes para o volume", no sentido de que esses fatores
não afetam o volume do gás. Permitir qae esses outros fatores
variem e. portanto, explorar um domínio mais vasto de
a procura dai possíveis violações da hipótese que está
verificada
Eatretjnlo. a experimentação e usada cm afaria não so-
mente tomo um método de verificação, mas, também, como
um método de descoberta; e neste outro contexto, conto vamos
ver agora, a exigência da constância de certos fatores é per
feitamente procedente.
O uso da experimentação como um método de verificação
está exemplificado pelas experiências de Torncclli e de Pér>er,
que foram realizadas justamente para verificar urru hipótese já
proposta Mas quando não existe linda hipótese formulada,
o cientista pode ser levado a começar por uma estimativa gros-
seira c usar então a experimentação conto um guia para chegar
a uma hipótese mau- precisa. Ao estudar como um peso distenoe
o fio metálico que o sustenta, o físico pode conacturar que o
alonaaaKnto depende do comprimento inicial do fio. da sua
seção, da espécie de metal dV que é leilo c do peso do corpo
suspenso Pode então rcaliur experiências pata determinai se
esses fatores influenciam nu alongamento (a eaperirzwntaç-ão
serve então como um métudo de verificação) e. se assim for.
o quanto eles afetam a "variável dependente" — isto é, qual
a expressão matemática da dependência (a experimentação serve
então como método de dcKvncrta). Sabendo que o compri-
mento do fio varia também com sua temperatura, o eiperimcn-
A VUlFKAÇÃO DE UMA HlPÜIfsi 35

lador. antes de tudo, manterá a temperatura constante para eli-


minar a influencia perturbadora dessr fator (embora possa, mais
Urde. variar sistematicamente a temperatura pata averiguai «
os valorei de certos parâmetros, que comparecem na expresta»
daquela fundão, dependem da temperatura), e nessas cxpciiín-
u a i a uma teniperatuia constante, variara o» fatores que julgur
relevante*, uni de cada vei, nu mondo oi outros constantes.
Ap.*hl,i no* resultado* aiiini obtido* ele ternura formular #c
m u li/açócs que exprimam o alongamento em função do com-
primento inicial do peso etc, poderá então prosseguir pwa
construir uma fórmula mais geral, que represente o alongamento
em funçlo de todas as variáveis examinadas.
Em cato* dessa natureza, a experimentação serve como
mctiwio heurístico, como guia psra a descoberta de hipóteses,
o que dá sentido ao princípio de manter constantes todos os
"fatores relevantes*', salvo um Mas, naturalmente, o máximo
que pode ser feito c manter constantes, salvo um, aqueles fa-
tores que se acredita serem "rele',,inies" no sentido de afetarem
o fenômeno em estudo c sempre possível que tenham ficado
despercebidos outros fatores, lambem importantes.
£ unu dos características notáveis da Ciência Natural, c
uma Jc suas grande* vantagens metodológicas, que sua* hipó-
teses admitem cm geral verificando experimental. Mas nJo se
pode di/vr que se).i > iraeterislica distintiva de todas as Ciências
Naturais c exclusivamente delas, formando uma linha divisória
entre a Ciência Natural c a Ciência Social- Pois verificações
experimentar* também são uiad.is cm Psicologia e, posto que
mais raramente, em Sociologia Além disso, o alcance da vc*
nfícaçáo experimental cresce firmemente com o avanço da tec-
•olofria indispensável. De resto, u m todas us hipóteses nas
Cieavíai Nalurais são WfnVIwsi experimentalmente. Por exem-
plo, a lei formulada por Lcavili e Shaplcy paru as flutuações
periódicas no brilho de um certo tipo de estrelas variáveis, as
chamadas Cefeidas: quanto maior o período P de uma dessas
estrebi, i.t.o irítcivalo de tempo entre dois estados sucessivos
de máximo brilho, maior é a sua luminosidade intrínseca; em
exprtsiáo exata Aí - |u r * logr*). omle M i n magnitude
da estrela, por deliniçáo inversamente proporcional »o seu brilho.
A lei implica dedutiva mente um sem-número de sentenças que
serviriam para verificá-b, dando a grandeza de uma Ceftida
correspondente ao valor particular do seu período, por exemplo,
5.) dias ou 17,5 dias. Mas Cefeidas com esses períodos deur-
FILOSOFIA CM C i t s o * NATV«*I

• • • d o s não podem ser produzidas 1 vontade, lofo. a l â são


pode ser verificada por cxpennsea-ação. Antes, o utrrmoao
tera que olhar para o cé J ã peocura d: novas Ccfcidas para
averiguar se a grandna e o período das que for eacootraodo
obedecei ou não k lei presumida.

O PAPEL DAS HIPÓTESES AUXILIAM*

Dissemos aate* que implicações t i o "derivadas"" ou "rafe-


ndas" da hipótese a ser verificada- Assim dito. poecra. o que
se obtém e somente uma posseira indicação da relação que
existe entre ama hipótese e as tesKocas que serrem para *cn>
ficã-la. £ bem «cidade que em aLgv» casos pode-tc mfcrir
dedutivameatc de uma hipótese certo» enunciados coasmcáaams
•MC podem servir a sua verificação. a lei de Leavm-Shapkv:. por
exemplo, implica sentenças da forma "Se i e uma Ceiem* com
um período de íamos dias. entfco sua mapiitude terá tal e
tal' Mas. freajueniementc. a "•demação"" de uma unplicacão
coofioatavd com a rtpetiencia c menos simples c conctusrva.
Tomemos, por exemplo, a hipótese semmelvvcimri» de que a
febre pucrpèral e causada por couaammucao com matéria] mfec-
tado e consideremos a uii implicação que se o pessoal cmdaa-
do das pacientes lavar *s mãos mama solução de sal dotada,
então ficará redunda 4 mortalidade pela febre. Este e nu atado
não decorre dedutivamente apenas da hipótese; pressupõe tam-
bém a premissa que a cal dotada dcstnúã o material infectado,
o que rsio c feito por Igua e sabão. Esta premissa, tacrumeatc
admitida ao argumento, desempenha o papel do que c-himarcmos
iupaaçAo mnrf*a» ou hipõirst tmittiar ao denvarmo* da fctpó-
lesc de Scmoetvtcis a sentença que se coafroota com os fatos
Logo. aao estamos amornados a asseverar aqui q u e se a hi-
pótese H t verdadeira, catão deve ser lambem verdadeira a im-
plicação I. mas somem; que. i c M c i hipótese auxiliar são
verdadeiras, então também o i / . Confiança era hipóteses
. como veremos, a repa t não a exceção mi
de hipóteses científica*; e isso Km « ceuttccjmmãa
•murtaale para decidirmos se um resultado desfavorável. : c_
que mostra ' «et fabo, pode ser considerado como relutarão
da hipótese em investigação.
Se H é sarxknle para imphcar / e te os resultados em-
píricos mostram que / é falsa, calão H deve ser m m m m i
A VEBIFICAçAO oe UMA HIPóTESE 37

como falsa, de acordo cosa o argumento modui loürm (a).


Mil quando I decorre de H cm conjunção com outra ou mais
hipóteses auxiliarei A. o esquema (a) deve « t substituído pe-
lo K|ui«e:

%t H * A a» unfcM «ij*dí.i»v (Mio I I W M B O *


H t í ""> t i a <«th*» xriliiki*«i

Assim, da verificação de Kt / M u . podemos somente in-


fcfii que ou i hipótese H ou uma dai suposições induidai em
.* deve ser falsa; portanto, a verificação não fornece razoes
conclusivas pjtj rejeitar //. Por exemplo, K a medida antis-
scptka tomada poi V-nn tclwcn não fone acompanhada pot um
ikctimo da modalidade, a hipót;« icmmrlvcivuna ainda asaini
poderia ser vrrdad:ira: o multado negativo da verificação po-
deria *er devido i ineficácia como aaUnepiKo da solução de
cal dotada.
E nao >c Haia de mera possibilidade abstrata. O asirô-
nomo Tycho Brahe. cujai observações apuradas fornecem a base
empírica para as le» de Kcpltr. rejeitou a concepção coper-
meana de qui a Tetra te move cm torno do Sol, dando, entre
outras, as seguintes raróes SC a hipótese de Copernieo fosse
terdadeira, a direção segundo a qual uma estrela fixa seria
vista po» um observador terrcsire * mesma hora do dia Iria
gradualmente mudando; pois no decurso da viagem anual da
Terra cm tmno do Sol. a estrela iria sendo observada de uma
posição que vana conslaniemcnie — assim como uma criança
num carrossel obscria um espectador de uma posição que vai
mudando c portanto o »í secundo uma direção que também
vai mudando Mari exatamente, a reta que passa pelo obser-
vador e pela estreia variaria periodicamente entre dois extre-
mos, correspondentes a posições opostas na órbita da Terra
em torno do Sol. O angulo subentendido por essas posições e
a chamada paralaie anual da estrela; quanto mais longe da
Terra Tn;c a estrela, tanto menor será sua paralaie. Brahe. que
fei suas obscrsaçóct antes da introdução do telescópio, procurou
com os seus instrumentos mass precisos uma coufiimaçao desses
"movimentos pataUticos" das estrelas fixas — e não achou
nenhuma Kcjciiou por isso a hipótese de que a Terra se
move. Mas a dcdu;ão de que as estrelas fixas tenham movi-
mento* paralaiicoi observáveis só pode ser feita a partir da
38 F n o s o r u M CIíííCI* NAIUILAL

hipótese de Copcrnicci com auxilio da suposição de que elas


estejam tão próximas da Terra que seus movimentos paraláiicos
tenham amplitude suficiente para serro observados com os
Instrumentos. Brahe não ignorava que estava fazendo essa so-
pjffffl* auxiliar, mas acreditada ter tarem para julga-la verda-
deira; dai sua rejeição da hipótese de Copérnico. Mai* tarde
ficou provado que Brabc se enganara: mesmo as estrelai fixas
mais próximas estão muitíssimo mais longe do que cie supunha,
de modo que as medidas de paralaic exigem telescópio* pode-
rosos e técnicas uhraprcctsav Somente em 1858 W a ser
realizada a primeira medida Bniversalroenle aceita de uma pa-
ralaxe csiclar.
A significação dai hipóteses « • • • u m vai alem Supo-
nhamos que uma hipótese // seja vc-^cada mediante uma im-
plicação "Sc C então E~ que decorreu de II r de um conjunto A
de hipóteses auxiliara. A verificação se reduz então a constatai
te E ococie ou não numa situação em que. tanto quanto saiba
O iambfador, « t i ú rcalírada.» as condkõcs C Sc de fato não
for «Me e caio — K por exemplo o equipamento usado estiver
•';ít . : •.,. . u •!•. b l •SftammnNml WmÈtÚ <.-.:»> / ,vx«-
nlo ocorrer mesmo que II t A sejam ambas verdadeiras Por
caia ruão, rnlrc aa hipóteses auxiliarcs pressupostas pela veri-
ficação deve-tc incluir a de que a situação inicial satisfaça as
condicócs 4c ler mi nadai C.
Este ponto é particularmente importante quando a hipótese
em exame já foi vitoriosa em provas anteriores c * parle essen-
cial de um sistema mais vasto de hipóteses mutuamente ligadas.
também apoiado por múltipla evidencia. Ê provável que em
tal caso seja feito um esforço para justificar a aao-ocorré&cia
de £ mostrando que alguma* das condições C alo estavam sa-
tisfeitas
Como exemplo. ciHtudcrrnt"* ;i hipótese de que as cartas
elétricas tem uma ruiuturu ainmnlica i«i sejam todas múltiplos
inteiros da carga cfc» •ílonm de cktricidaa;. o dectron F**a hi-
pótese recebeu apeão iuipn-uMiiuntc das experiências t O» por
R. A. Millikan. a partir de IW19. Netas, as cargas elétricas
de goticulas isoladas de um IKJUKIO tal como óleo ou mercúrio
eram determinadas medindo a» velocidades das goticulas ao
caírem no ar sob a influencia da gravidade ou ao subirem sob
a influencia de um campo elétrico oposto. Millikan
todas as cargas ou eram iguais a. ou eram
A ViairtcAçÂo D í UMA Hir-oTrsr 39

de, unu certa carga mínima fundamental que ele, <rm confor-
midade com a hipótese, identificou como sendo a carga do
décima. Baseado cm numerou* medida* cuidadosamente (ci-
tas eoconlrou como seu valor cm unidade» cktrostãlicjs 4,774
X 10-**. Esta hipótese foi logo contestada pelo físico Ehrcnhaft
cm Viena, que JHUTK-.OU ICT repetido a cxp.-iiêiicia de Millikan
e encontrado cargas consideravelmente menores que a curga ele-
trônica determinada por este. Discutindo os tcsultudoi de
Fhrcnhafl.1 Millikan supriu várias fontes prováveis Oc cnos
(i- '.. violações das condições cxpcnmeniais) que poderiam dat
conta dos resultados aparentemente discordantes de Ehrcnhaft:
evaporação durante a ob«rviie.ã«. fj/endo diminuir o peto da
goticuta; fotmac.au de um película de ósido nas gotrçulas de
mercúrio usadas em algumas das experiências de Ehrcnhaft: in-
fluência perturbadora das partículas de poeira suspensas no ar:
afastamento da partícula cm relação ao foco da luneta usada
p*'a obscrví-la; modificação da forma esférica preuuposta.
quando as gotlcutas sao muito pequena»; erros inevitáveis na
cronoiuctragem dos movimentos dr pequenas partícula». Rcfc-
rindo te a duas partículas abcrrantcs observadas por um outro
hHMliaailiu que usara gotas de óleo, Millikan conclui "A única
interpretação possível então para o comportamento «lestas dum
partículas. • era que. . . nAtj eram esferas de óleo", mas par-
BciriM dc poeira (pp. 170, 169). Milhkan afirma ainda que os
resultados de repetições mais precisas dc sua própria experiên-
cia, estavam todos cm acordo essencial com o resultado ante-
riormente anunciado por ele. Ehrcnhaft continuou por muitot
anos a defender c multiplicar os resultados com que pretendia
ttUbcteccr i exiittnria de carga* subclcuonuaii mas cm geral
esssa resultados nio puderam ser reproduzidos por outro* físicos.
dc modo que a concepção atomlstica da carga elétrica foi man-
tida. O valor numérico achado por Millikan para a carga ele-
trônica, entretanto, foi mau tarde reconhecido como sendo
ligeira mente pequeno; o desvio foi atribuída a um erro numa das
hipóteses auxiliarei do próprio Millikan: ele usara um valor
demasudo pequeno para a viscosídade do ar nos cálculos que
filtra com as informações fornecidas pela goticula de óleo'

i v « I » I W VIII * • A MiiiikM. r»» «*•«»• <o-„»o r n


f ff <!..«. flW l»ITl. R.mrmO» tni- niliiMl.it*" *• i w M
1*41
*0 FlLOSOftA D* OttOA N*.nniAL

VfKtFKAÇÕES CBUCIA1S

As observações pncede—fl l i o importantes tambcoa para


a Kki* de verfira-^o andai, que pode ser rapidamente des-
crita como segue «oponhamos que H( f Ht sejam duas hipó-
teses rivais sobre o n n o o u w o , líualmenie bem apoiada»
mt agora pela cípcncocu. sem que se possa dizer portanto que
i evidencia disponível favoreça maes a una que a ouira. Uma
lecitíK entre as dias poderá catão ser obtida se se conceber
M U «inuaçio paia a qual J/i e Wi predicam resultados incorri-
patíveis. i. r., te, para ama detcnBiajda condição C da expe-
irfoeia. decorrer da prumcira. hipótese a implicação 'Sc C então
/?/ e da segunda tepótesc "Sc C cniâo fV. onde t i c rVi sejam
•csultanV» que se exetuem mutuamente. C de presumir que a
i calunio da cipencacia refute ama dai hipóteses c sanlente
i outra
Uni eaempio clássico c o experimento feito por Fooeaull
para decidir entre duas concepções, antagônicas sobre a natu-
reza d* luz Uma. proposta por rfuyghci» e desenvolvia por
Ifcsncl c Yount. luslenu-a qnr a luz consiste cm onda* iram-
verui* prounfindo-sc anua me»- CíJMKO. o cier. a outra era
a concepção corpuacwrae de NOIOH. «fiando a qual a luz é
.tMUMuida de particulas extremamente pequenas que se mo-
vem cm alta velocidade Ambas as concepções permitiam con-
cluir QMC oi "rarts" de lua obedecem às k n da propagação rc-
tilfaca, da reflexão c da retração Ma* a concepção ondiüalótia
mptieavt que a mz cammha. mau depressa no ar que na. ã?ua.
rnquumW que a corpustmm? levava a conclusão oposta. Em
ItJQ. Fcmèaufc conseguiu realizar nm experimento cm que as
telocidadcs da. luz no ar c raa ágata eram diretamente compila-
das. As imaerm de duas fontes luminosas puoctforrnes- eram
fanuadus • rimam* rams lumünotos. que passavam através da
.gua e através do ar. vcparadamctte. ames de seicm refletidos
por um espelho girando cm alta velocidade Conforme a velo-
cidade da luz fosse maior ou menor no ar que na água. a
:nia?cm da primeira fome iria aparecer à direita ou á esquerda
da mu-rm da se panda fonte. As implicações antagônicas con-
frontadas com a experiência polem portanto ser brevemente
formuladas do leguinie muda>: "se te realiza o experimente d:
loDcaust. catão a primeira imagem aparece à direita c!a sc-
runda imagem' c 'se se realiza o experimento de FoucauJt, cn-
A VmmcAçAo DE UMA HIPóTESE 41

l i o a primeira imagem aparece à esquerda da secunda Imagem'.


O experimento mostrou ser verdadeira • primeira destas im-
plicações.
i ! «c resultado foi amplamente considerado como uma í t -
futaçao definitiva da concepção corpuscular c uma justificação
decisiva da concepção ondulatóua Mu» cise julgamento, em-
bora pcrfcilamcnlc natural, superestimava a forca da expciiin-
cia. Pois o enunciado de que a luz caminha ma» deprciu
na água do que no ur não decorre simplesmente da conccpçlo
geral de que o* mios de lu/ sejam correntes de partículas;
isoladamente a suposição >' demasiado indefinida para gerar
qualquer conseqüência quantitativa. Implicações como as k i t
da reflexão e da refração c o enunciado sobre as velocidades
da lui no ar c na água to poderão ser derivadas quando
a concepção corpuscular for suplementada por suposições espe-
cificas sobre o movimento dos corpúsculot c sobre a influência
exercida neles pelo meio ambiente. Tais suposições foram de
fato formuladas explicitamente por Newton; c ao fazé-lo ele
estabeleceu uma teoria' precisa sobre a propagação da luz. Des-
sa totalidade de princípios teórico* básicos t que decorrem ai
conseqüências experimentalmente verificáveis, tal como a ave-
riguada por Foucaull. Analogamente, a concepção ondulatóría
foi formulada como uma ttaria baseada num conjunto de tu-
posições especificas sobre ondas de éter nos diferentes meios
óplicos; e novamente í este conjunto de princípios teóricos que
implica as lets da reflexão c da retração e o enunciado de que
:: vciocdade da luz <• maior no ar do que na água. Conse-
qüentemente — admitindo a verdade de todas as outras hipó-
teses auxiliarei — o resultado do experimento de Foucault só
not habilita n inferir que nem todas as suposições básicas ou
princípios da teoria corpuscular podem ser verdadeiros — que
pelo menos um deles deve ser falso. Mas não sabemos qual
deles deve ser rejeitado. O que sabemos e que a concepção
corpuscular da luz nao pode ser mantida sem uma modificação
ilc sua forma, sem introdução de um outro conjunto de leis
básicas.
F, de falo. em 1905, Einttcin propôs uma nova versão da
concepção corpuscular na sua teoria dos quanta de luz. ou
foions. como vieram a ser chamados. A evidencia citada por
cie cm apoio da sua teoria incluía um experimento realizado

i A forma • • l . r ç i o m i w w l » « i t o mflhnr • • « • I O » no <M>1I»H>


42 FILOSOFIA DA CIêNCIA NATURAL

por Lcnard cm 1903. Eirulein caracterizou-o como om "segundo


experimento crucial" pata as conce-pçoes ondulatóna -c corpus-
cular, que segundo ele "eliminava" a clássica teoria ondula-
lóna. na qual, cm virtude dos trabalhos de Maxwell c lierU,
a noção de vibrações elásticas do éter fora subuuuída pela de
ondas eletromagnéticas transversais O experimento de Lcnard.
que envolvia o efeito fotoelétrico, podia ser considerado como
verificação de duas implicações antagônicas quanio à energia
luminosa que uma fonte puntiforme P pode transmitir, por uni-
dade de tempo, a uma pequena leia colocada perpendicular-
mente aos raios de luz. S:pundo a teoria clássica, essa energia
diminuirá continuadümcntc para zero á medida qoc a (ela se
afastar do ponto /'; na teoria fotúnica cia deve ser pelo menos
ij«al i transportada por um único fólon — a menos que nenhum
lótun atinja a (ela. caso cm que a energia recebida será nula:
não haverá portanto diminuição continua para icro. O experi-
mento de Lcnard apoiou esta última altrrnalivi. Mas, outra
vez, a concepção ondululória não foi definitivamente refutada;
o resultado cxpeiimcnltil mostrou apenas lei necessário modi-
ficar de algum modo o sistema das suposições básicas da teoria
ondulatóna. Pc fato, o que Elnlcin fez foi procurai modificar
a teoria clássica o menos possível.' Lm suma, um experimento
do lipo aqui exemplificado não pode refutar estritamente uma
de duas hipóteses rivais.
Mas também nío pode "provar" ou estabelecer definiiíva-
mente a outra; pois. como foi observado de modo geral na
2.» parte do capitulo 2. as hipótese» ou teona» científicas não
podem ser provadas tonei ustvãmente por qualquer conjunto de
dados disponíveis, por mais acurado c numeroso que ele seja.
Isso e particularmente óbvio para hipóteses ou teorias que afir-
mam ou implicam leis gerais tanto para um processo que não c
diretamente observável — como no caso das teorias rivais da
h a — como para um fenômeno mais facilmente acessível à
observação e à medida, como a queda livre. A lei de Galileu,
por exemplo, re(cre>se a todos os casos de queda livre no pas-
mado, no presente c no futuro, ao passo que ioda evidência rele-
vante de que se dispõe cm qualquer época está limitada ao con-
junto de casos — todos cies pertencendo ao passado — em

) UM CMHplo « l i dKui>4° diBDiatfinRBi na opliud » •* P. FitaX.


nil0Hf*r <tt iUnet (3n|k»eod ClItM. M. J.' Pirntit* Hsi. M t = « " •***•>
mi»
A VEIIPICAçãO DE UM* HIPóTESE 43

que medidas cuidadosas foram feitas. E mesmo que a lei de


Galileu tivesse sido rigorosamente satisfeita em todos os casos
observados, não se teria obviamente excluído a possibilidade de
certos casos não observados no passado c no futuro não a
seguirem. Em suma. a experiência mais cuidadosa e mais repe-
tida não pode provar uma de duas hipóteses nem refutar a
outra. Neste sentido estrito, uma experiência crucial é impos-
sível na ciência.4 Mas uma experiência conto a de Foucault
ou a de Unard pode ser crucial num sentido menos rigoroso,
mais prático: pode denunciar uma de duas teorias em con-
flito como seriamente inadequada c apoiar fortemente a teoria
rival, exercendo, por isso. uma influência decisiva sobre o rumo
subsequente tomado pela teoria c pela experimentação.

HIPóTESES "AD HOC"

Ouando a manciia particular de verificar uma hipótese H


prtiiupiit enunciados auxiliarei .41, Ai A. — 1.«., quando
estes l i o usados como premissas adicionais ao se derivar de
II a implicação relevante / — cnlão. como se viu antes, um
resultado ncfialivo, mostrando que / t Ms», diz apenas que H
ou uma djs hipótcsci, auxiiiarcs deve ser falsa c que algo deve
ser mudado nesse conjunto, de sentenças para que cie se ajuste
ao resultado da verificação, quer modificando ou abandonando
completamente H. qwi alterando o sistema de hipóteses auxilia-
rei Em principio, pode-se sempre reler //. mesmo cm face de
multados seriamente adversos, desde que se queira rever ss
hipóteses auxiliarcs úc um modo suficientemente radical, ainda
ente trabalhoso. Mas a tiêticia nao está interessada cm protegei
suas hipóteses ou suas tcocias a qualquer preço — e tem boas
razões para isso- Consideremos um exemplo. Antes de Tor-
ricclli introduzir sua concepção da pressão atmosférica, expli-
cava-se o comportamento das bombas aspirantes admitindo que
a natureza tem honor ao vácuo c que, portanto, a água sobe
pelo cano da bomba para encher o vácuo criado pela elevação
do embolo. A mesma idéia servia também para explicar di-

* * » • t o Iwiw-n -«-«am de H m DuMm. liite i JnuoftaA* dl cltoíl.


l-m«««. Cl P«m II. Ci* VI de KU IWfO TH* Aim —4 S»«n.>r <* H>yu?ti
fw—i. m<l<KÍ" de 9. P w « « ( P I , K « C « Unnanij no«, 191». rnraiwi).
>««*t«d» oo<m.i™ni( < • itos PKficlMtelo • uidutii salcu. Leu» A
44 FILOSOFIA DA CIêNCIA NATURAL

versos outros fenômenos. Quando Pascal escreveu a Périer pe-


dindo-lhe para executar a experiência de Puy-de-Dôme, acres-
centou que o resultado esperado seria uma refutação "decisiva"
daquela concepção: "Se acontecer que a altura do azougue
for menor no topo que na base da montanha. . . será necessário
concluir que o peso e a pressão do ar são a única causa da
suspensão do azougue e não a aversão ao vácuo: pois nenhuma
dúvida existe de que há muito mais ar pesando sobre o pé
de uma montanha do que sobre o seu cume e ninguém pode
dizer que a natureza tenha mais horror ao vácuo ao pé de uma
montanha do que no seu cume."5 Mas a última observação indi-
ca justamente a maneira de salvar a concepção de um horror
vacui em face dos resultados de Périer. Pois estes só consti-
tuíam uma evidência decisiva contra aquela concepção admitindo
também que a intensidade do horror não depende da altitude.
Para reconciliar a evidência aparentemente contrária de Périer
com a idéia de um horror vacui basta introduzir em vez daquela
a hipótese auxiliar de que a aversão ao vácuo decresce quando
a altitude aumenta. Essa suposição não é logicamente absur-
da nem patentemente falsa e sim discutível do ponto de vista
científico. Pois seria introduzida ad hoc — /. e.t com o único
propósito de salvar uma hipótese seriamente ameaçada por uma
evidência adversa; não seria invocada para outros resultados
achados e provavelmente não levaria a nenhuma implicação
adicional. Ao contrário, a hipótese da pressão atmosférica con-
duz a outras implicações, como a mencionada por Pascal de que
se um balão parcialmente inflado for transportado ao topo da
montanha lá ele ficará mais inflado.
Nos meados do século xvn um grupo de físicos, os ple-
nistas, sustentava que o vácuo não poderia existir na natureza;
para salvar esta idéia face à experiência de Torricelli, um deles
aventou a hipótese ad hoc de que no barômetro o mercúrio
ficava suspenso no teto do tubo de vidro por um fio invisível
chamado "juniculus". De acordo com uma teoria inicialmente
muito útil, desenvolvida no começo do século xvm, uma subs-
tância chamada flogístico escapava dos metais durante a com-
bustão. Esta concepção teve de ser abandonada quando La-
voisier mostrou experimentalmente que o produto final do pro-

5 Extraído da carta de Pascal datada de 15 de novembro de 1647, em I. H.


B. e A. G. H. Spiers, trad.. The Physical Treatises of Pascal (Nova York:
Columbia University Press, 1937), p. 101.
A VERIFICAçãO DE UMA H I P ó T E S E 45

cesso de combustão pesava mais que o metal inicial. Ainda


assim, alguns adeptos obstinados da teoria do fiogístico pro-
curaram reconciliá-la com os resultados de Lavoisier propondo
a hipótese ad hoc de que o fiogístico teria peso negativo, de
modo que sua perda aumentaria o peso do resíduo.
Não esqueçamos, entretanto, que se, com o recuo do tempo,
torna-se aparentemente fácil recusar certas sugestões do pas-
sado como hipóteses ad hoc, pode ser muito difícil julgar uma
hipótese proposta num contexto contemporâneo. Não existe
de fato critério preciso para caracterizar as hipóteses ad hoc, se
bem que as questões sugeridas anteriormente forneçam alguma
orientação: a hipótese é proposta apenas com o fim de salvar
uma concepção corrente contra a evidência adversa, ou dá razão
também a outros fenômenos gerando implicações significati-
vas? Importa finalmente observar que, introduzindo hipóteses
restritivas para reconciliar certa concepção básica com uma no-
va evidência, o sistema resultante poderá tornar-se tão comple-
xo que terá de ser abandonado quando uma concepção alterna-
tiva mais simples for proposta.

VERIFICABILIDADE EM PRINCíPIO E
SIGNIFICAÇÃO EMPÍRICA

Como mostra a discussão precedente, nenhum enunciado ou


conjunto de enunciados T pode, de modo significativo, ser pro-
posto como uma hipótese ou teoria científica a menos que seja
suscetível de uma verificação empírica objetiva, pelo menos "em
princípio". Isso eqüivale a dizer que deve ser possível derivar
de T no sentido lato considerado certas implicações da forma
'se se realizarem as condições C, então ocorrerá o resultado E'\
mas essas condições não precisam ser realizadas ou tecnologica-
mente realizáveis na época em que T é proposto ou entrevisto.
Tomemos, por exemplo, a hipótese de que a distância percorrida
cm t segundos por um-corpo caindo livremente a partir do re-
pouso na vizinhança da superfície da Lua é. s — 89/ 2 cm. Dela
decorre dedutivamente que as distâncias percorridas por esse
corpo em 1, 2, 3, . . . segundos serão 89, 376, 801, . . . centí-
metros. A hipótese é portanto verificável em princípio, embora
seja atualmente impossível realizar a verificação descrita.
Mas se um enunciado ou um conjunto de enunciados não
for verificável pelo menos em princípio, isto é, em outras pala-
46 FILOSOFIA DA CDÈMCU NATURAL

vras, se n ã o possuir implicação alguma confrontável com a ex-


periência, c o t i o não podcrã ser proposto o u acolhido como u n a
teoria ou hipótese científica, pois nenhum dado empírico pode
estar de acordo ou e m desacordo com ele. Neste caso. «Ao
M m apoio algum nos fenômenos empíricos; falta-lhe, COMO da-
remos, significação empírica. Considere-te. por exemplo, a opi-
nião ile q u e a mútua atração gravítacional dos corpos Bascos
seja uma manifestação de certos "apetites ou tendências natu-
rais" inerentes a esses corpos, como o amor, e que tornam "'MC'
l i ç u c i s e possíveis os movimentos naturais d e l e s " * Que impli-
cações podem sei derivadas dessa interpretação dos fcaõtaeat*
pa»«acionais'' Atendendo a certos aspectos característicos do-
amor no sentido que nos c familiar, essa opinião p i r e c e impli-
car que a afinidade gravitacional seria u m fenômeno seletivo:
nem todo p a r de corpos físicos te atrairia mutuamente Ncast
s c r u a intensidade d a afinidade de u m corpo por u m outro
sempre igual à deste por aquele, nem dependeria de um modo
significativo das massas dos corpos ou das distâncias entre eles
Corno sodas casas conseqüências são sabidamente f i l i a s , o sen-
t i d o da concepção conaidcradi não pode set tal que as implique
Certo, ela pretende apenas que as afinidade» naturais tubfacett-
tes à atração pav-itacKma! são como o amor. M a s , corno se
pode ver agora claramente, essa aatcr\ão c tão evasiva qac ex-
c l u i a derivação de qualquer conseqüência confrontável com a
experiência Nenhum fato empírico pode ser invocado por esta
interpretação; nenhum dado obtervacional ou eaperimcaial pode
confirma-la ou refuta-la. Logo, em particular, não tem tmpttca-
ç ã o concerncnlc aos fenômenos gra* nacionais e, potrtiMo. n ã o
pode explicar esses fenômenos o o t o n á - l o s "inteligíveis". Para
«sdarcce-ln ainda melhor, suponhamos que alguém proponha •
lirv.- J Icisi.ilivj ik L|_,- m K i t p . i t fUtm N draOBI ;'--li---r.i'.-
mente uns aos o u i t o i e tendem a se mover uns para os otstras
e m virtude de u n a icndí-nda natural semelhante a o ódio, d e
uma inclinação natural para colidir com os outros objetos físicos,
destruindo-os. Haverá maneira concebi vcl de emitir parecer
sobre essas opiniões conflitantes? F. claro que não. Nenhuma
delas c o n d u i a qualquer iinpliiücão verificável; nenhuma discri-
minação empírica entre ebv c possível. E não se dica qtsc a
questão è "demasiado p i o t u n d a " para ser decidida ciesirfica-

« E>u • " « < O M » (•* ••>*r*" r s I F. O S m t r u * aM Lon


d t o J i n , rnaOpiD". rs* 7t—.„. « H ;i n«s*>. i***i
A VEBIPKAçãO DB U M * HlPÓTFSE 47

menlc- as duas interpretações verbalmente antagônicas simples-


mente não fa«m asscrçào alguma. Portanio, não Ía2 sentido
perguntar x lão Ycrdidcirai ou falsui C C por isso que a invés-
ligação cientifica não pode decidir cnlre elas. São pseudo-hlpó-
ities: são hipóteses apenas cm aparência.
Não se esqueça, entretanto, que uma hipótese cientifica cm
geral só conduz a implicações verificáveis quando combinadas
com suposições auxiliarei apropriadas. Assim c que a concep-
ção de Torricclli da pressão exercida pelo oceano de ar só
condiu a implicações verificáveis precisas supondo que a pres-
são do ar obedece a leis análogas a da pressão da água; c o
pressuposto, por exemplo, d j experiência de Puy dc-iMme Pa-
ra julgarmos se uma hipótese propoila tem ou não significação
empírica, devemos indagar porlanlo quais hipóteses auxiliares
estão explícita ou intitamcnte pressupostas no contexto dado e
se. conjunta mente coiti estas, a hipótese dada -admite implicações
tTrifiedvíi* (além das que decorrem diretamente das suposições
auxiliarei).
De resto, freqüente mente uma idéia cientifica c introduzida
sob forma que oferece apenas possibilidades limitadas c frágeis
de verificação; com bases nestes tçstcs iniciai» ir4 adquirindo
gradattvamentc uma forma mais definida, mais precisa e veri-
ficável de um modo mais diversificado.
Por estas ra/ões « por outros que nos levariam muilo lon-
ge.1 não c possível traçar uma linha divisória entre hipóteses e
icofLu que tão vcnftcivcif em princípio e ai a i * não o iào.
Mas embora seja algo vaga. a distinção mencioiada í impor-
tante para avaliar a significação do potencial explanatório das
hipóteses c teorias propostas.

(UPIJil I• citai
qiKUiu inu-if >m *«« W KUmt «•»
«''» "HfW! WÉIIt.m AH
•I f - i ^ citdi Munir
n . <ia. * iNim 4,nitr»
j . vWymt iàHJ"
Toilii-idoMii WilÜim<Alili-
o DHI.|uti p.
D lluí» >-L>™/- J- Imt-^m. « . /.H« t*t...^ KW-. .•«•) ... (Vmi
oi CotuiH Stikdmm Piaalrm anl Chaajt>". <m C. O. Ilimpal. AI*H"
CRITÉRIOS D E CONFIRMAÇÃO
E ACEITABILIDADE

Como já notamos anteriormente, um resultado favorável


das verificações, ainda que numerosas c exatas, não fornece
prova conclusiva paia uma hipótese, mas apenas o apoio de
uma evidencia mais ou menos forte, que é a confirmação dela.
Quão fort» e esse suporte * questão que depende de vátias
características da evidencia, que *amos agora examinar
Na avaliação do que poderia ser chamado a aceitabilidade
ou credibilidade cientifica de uma hipótese, um dos fatores mais
importantes a ser considerado í. naiuralmenie, a resistência do
apoio que lhe dá a citensáo e o caráler da evidência relevante
disponível. Mas náo t o único, como veremos também neste
capitulo
Inicialmente, falaremos algo intuitivamente do que torna
um apoio mais ou menos forte, do que jumenta muito ou pouco
: uma confirmação, do que faz crescer ou deciescer a aceitabilt-
• dade de uma hipótese e de questões semelhantes. No fim do
capitulo, riaminaremos rapidamente se os conceitos aqui intro-
duzidos admitem ou na© uma interpretação quantitativa pre-
ço*.

QUANTIDADE, VABUEüADE E n c c t i l o DA
EVIDENCIA S l S I Í S l A D O t A

Na ausência de evidencia desfavorável, a confirmação de


uma hipótese será normalmente considerada como crescente
com o número dos resultados favoráveis nas verificações. Por
exemplo, cada nova variável Cefeida encontrada com período
e luminosidade conforme á lei de Leavitt-Shapky será conside-
rada como suporte adicional à evidencia da lei. Ma*, falando
CRU íBIOS DE CONFIBMACãO E ACEITABILIDADE 49

de modo geral, o aumento em confirmação trazido por um novo


Caso favorável vai-se tornando metior a medida que cresce o
número de casos favoraveb previamente estabelecidos. Ha-
vendo já milhares de casos confírmatórios, a adição de mais un>
aumenta pouco a confirmação.
P. preciso porém acrescentar: se o novo caso for obtido pe-
lo mesmo tipo de verificação que os casos anteriores Pois se
resultar de um outro tipo, a confirmação da hipótese ficará
niajorada de um modo significativo. A confirmação depende
não somente da quantidade de evidência favorável, mas tam-
bém da sua variedade: quanto maior for esta, tanto miis forte o
apoio resultante.
Suponhamos, por exemplo, que a lei cm questão seja a de
Sueli, segundo a qual um raio de luz ao passar de um meio
óptico para outro è retratado na superfície de separação de tal
modo que a relação sen a/sen 0 entre os senos dos ângulos
de incidência e dç refração è uma constante para qualquer par
de meios. E suponhamos que tenham sido feitos tics conjuntos
de 100 mcdida\ cada um. No primeito, o* meios c
os ângulos de incidência foram mantidos constantes; cm cada
Mperimcnto o raio pastava do ar para a água com um ingulo
de incidência de )0° c o Angulo de refração era medido, lendo
vido encontrado o mesmo valor para todo» o» cato*. No se-
cundo conjunto, oi meios eram mantidos os mesmo*, mas o
ângulo a variava, tendo sido encontrado o mesmo valor para
sen a/sen ;i cm todas as medidas. No terceiro conjunto, tanto
os meios como o ingulo a variavam: 25 pares diferentes de meios
eram examinados e para cada p.ir quatro valores diferentes do
ângulo a eram usados, tendo a medida de 0 mostrado que para
cada par de meio» os quatro valores associados de sen a/sen £
eram iguais, tendo as relações associadas com diferentes pares
diferentes valores.
Cada um desses conjuntos constitui uma class? de resulta-
dos favoráveis i lei de Snell Todas as três classes lèm a
mesma extensão. Mas a terceira, que oferece a maior variedade
de casos, será considerada como um apoio muito mais forte
que a segunda, t esta como um apoio mais forte que a pri-
meira. Poderia parecer que assim se julga porque no primeiro
conjunto não se fez outra coisa senão repetir o mesmo expe-
rimento, de modo que o resultado positivo em Iodos os 100
casos não sustenta a hipótese com mais força do que já fazia o
50 FILOSOFIA DA CIêNCIA NATURAL

resultado dos dois primeiros casos do conjunto. Mas isso é um


erro. O que se repetiu 100 vezes não foi literalmente o mesmo
experimento, pois as sucessivas execuções diferiam em vários
aspectos: certamente a distância do aparelho à Lua, talvez a
temperatura da fonte de luz ou a pressão atmosférica etc. O
que se "manteve o mesmo" foi simplesmente certo conjunto de
condições, entre as quais determinado ângulo de incidência e
um particular par de meios. E ainda que as primeiras medidas
nessas circunstâncias tivessem fornecido o mesmo valor para
sen a/sen /3, não é logicamente impossível que as subseqüen-
tes, nas mesmas circunstâncias, fornecessem outros valores. A
repetição de medidas com resultado favorável aumentou de fato
a confirmação da hipótese, embora muito menos do que fize-
ram as medidas executadas numa variedade mais ampla de
casos.
Em geral, as teorias científicas estão apoiadas por uma
variedade considerável de fatos. Lembremo-nos da confirmação
encontrada por Semmelweis para a sua hipótese final. Lem-
bremo-nos sobretudo da impressionante confirmação recebida
pela teoria newtoniana do movimento e da gravitação: dela
são deduzidas as leis de queda livre, do pêndulo simples, do
movimento da Lua em torno da Terra e dos planetas em torno
do Sol, das órbitas dos cometas e dos satélites feitos pelo ho-
mem, do movimento relativo das estrelas duplas, dos fenômenos
das marés e de muitos outros fenômenos. Todos os resultados
observacionais e experimentais que estão de acordo com essas
leis trazem apoio à teoria de Newton.
A razão pela qual a diversidade de evidência é um fator
tão importante na confirmação de uma hipótese pode ser su-
gerida pela seguinte consideração, relativa ao nosso exemplo
das várias verificações da lei de Snell. A hipótese em ques-
tão — que vamos designar por 5 — se refere a todos os pares
de meios ópticos e afirma que para um par qualquer a relação
sen a/sen /3 tem o mesmo valor para todos os associados
ângulos de incidência c de refração. Quanto mais distribuídas
forem as experiências sobre essas diversas possibilidades, tanto
maior será a probabilidade de achar um caso desfavorável se S
for falsa. Pode-se dizer que o primeiro conjunto de experi-
mentos examina uma hipótese mais particular Si, segundo a qual
s?n a/sen j3 tem o mesmo valor toda vez que o raio luminoso
passa do ar para a água com uma incidência de 30°. Por-
tanto, se Si fosse verdadeira mas S falsa, o primeiro tipo de
CRITéRIOS DE CONFIRMAçãO E ACEITABILIDADE 51

teste não o revelaria. Analogamente, o segundo conjunto de ex-


perimentos verifica uma hipótese 52, que afirma distintamente
mais do que 5i mas não tanto quanto 5 — a saber, que
sen a/sen (3 tem o mesmo valor para todos os ângulos a e seus
correspondentes ângulos )3 quando a luz passa do ar para a
água. Aqui também, se 52 fosse verdadeira mas 5 falsa, o se-
gundo tipo de teste não o revelaria. Pode-se, pois, dizer que
o terceiro conjunto de experimentos verifica a lei de Sncll mais
completamente que os outros dois e que por isso um resultado
dele, inteiramente favorável, fornece um apoio mais forte pa-
ra ela.
Mas não estamos exagerando a importância da evidência
diversificada? Afinal de contas, um aumento de variedade pode
às vezes ser considerado como insignificante, justamente por
ser.incapaz de elevar a confirmação da hipótese. Assim é que
no nosso primeiro conjunto de verificações da lei de Snell a
variedade poderia ter sido aumentada realizando a experiência
em locais diferentes, sob diferentes fases da Lua ou por expe-
rimentadores com olhos de diferentes cores. Mas procurar tais
variações poderia ser uma atitude razoável se nada soubéssemos
ou soubéssemos extremamente pouco sobre os fatores capazes
de afetarem os fenômenos ópticos. Na época da experiência de
Puy-de-Dôme, por exemplo, os experimentadores não tinham
idéia precisa sobre quais fatores, além da altitude, poderiam
afetar o comprimento da coluna de mercúrio no barômetro;
quando o cunhado de Pascal e seus associados repetiram a
experiência de Torricelli no alto da montanha e acharam que
a coluna de mercúrio diminuíra mais de oito centímetros,
decidiram logo refazer a experiência em diferentes lugares e
em diferentes épocas, mudando as circunstâncias de vários mo-
dos. É o próprio Périer quem o diz em seu relatório: "Pro-
curei a mesma coisa ainda cinco vezes, com grande precisão,
em diferentes locais no alto da montanha; no interior da ca-
pela que lá se acha, fora dela, cm pleno vento e abrigado
dele, em bom tempo e durante a chuva e o nevoeiro que às
vezes caíam sobre nós, tomando sempre a precaução de eliminar
o ar no tubo; em todas essas circunstâncias achou-se a mesma
altura de azougue. . .; este resultado nos satisfez plenamente." 1
O julgamento, portanto, de certas maneiras de variar a
evidência como importantes e de outras como insignificantes

1 W. F. Magie, org., A Source Book In Physlcs, p. 74.


52 FILOSOFIA DA CIêNCIA NATURAL

baseia-se em pressupostos — talvez resultantes de pesquisas


anteriores — quanto à influência provável dos fatores a serem
variados sobre o fenômeno a que se refere a hipótese*
E, às vezes, quando esses pressupostos são contestados e
são por isso introduzidas variações experimentais até então con-
sideradas insignificantes, uma descoberta revolucionária pode so-
brevir. Ê o que aconteceu com a recente derrubada de um
dos pressupostos básicos da Física, o princípio da paridade,
segundo o qual as leis da natureza são imparciais entre a direita
e a esquerda: se um processo físico é possível (/. e.t se sua
ocorrência não está excluída pelas leis da natureza), também
o é sua imagem por reflexão (o processo visto num espelho),
onde a direita e a esquerda são trocadas. Em 1956, Yang
e Lee, que procuravam a razão de alguns resultados experi-
mentais enigmáticos sobre partículas elementares, sugeriram
arrojadamente que o princípio de paridade fica violado em
certos casos; o que não tardou a ser claramente confirmado
pela experiência.
Às vezes um teste pode ser refeito de modo mais rigoroso
e o seu resultado mais ponderável, aumentando a precisão dos
processos de observação e de medida que ele usa. Assim é
que a hipótese da identidade das massas de inércia e gravita-
cional — justificada, por exemplo, pela igualdade da acelera-
ção em queda livre de todos os corpos — foi recentemente
reexaminada com métodos extremamente precisos; e os resul-
tados, que até agora sustentaram a hipótese, reforçaram enor-
memente a confirmação dela.

CONFIRMAçãO POR "NOVAS" IMPLICAçõES

Quando uma hipótese se destina a explicar certos fenôme-


nos observados, será naturalmente formulada de tal modo que
implique a ocorrência deles; logo o próprio fato a ser explicado
constituirá evidência confirmatória dela. Mas é altamente de-
sejável para uma hipótese científica que seja também con-
firmada por "nova" evidência, por fatos que não eram conhe-
cidos ou não eram levados em conta no momento da formulação.
E muitas hipóteses e muitas teorias cm Ciência Natural tiveram,
com efeito, a confirmação consideravelmente robustecida por
esses fenômenos "novos".
CRITéRIOS DE CONFIRMAçãO E ACEITABILIDADE 53

A questão fica bem esclarecida por um exemplo que re-


monta ao último quarto do século xix, quando os físicos
procuravam as regularidades inerentes às raias que se encontra-
vam em profusão nos espectros de emissão e de absorção dos
gases. Em 1855, um mestre-escola suíço, J. J. Balmer, propôs
uma fórmula que ele pensava expressar a regularidade dos com-
primentos de onda correspondentes às raias de emissão do es-
pectro de hidrogênio. Baseado nas medidas feitas por Angstrõm
de quatro raias desse espectro, Balmer achou a seguinte fór-
mula geral:

n2 — 2*

onde b é uma constante cujo valor Balmer determinou empiri-


camente como sendo 3645,6 A e n é um inteiro maior que 2.
Para n = 3, 4, 5 e 6, essa fórmula fornece valores para X que
concordam estreitamente com os medidos por Angstrõm; Bal-
mer porém confiava que os outros valores também represen-
tassem comprimentos de onda de raias que ainda não tinham
sido medidos — e nem mesmo encontrados — no espectro
de hidrogênio. (Na realidade, Balmer desconhecia que outras
raias já tinham sido observadas e medidas.) Atualmente, já
são conhecidas 35 raias consecutivas na chamada série de
Balmer e todas elas têm comprimentos de onda em boa con-
cordância com os valores previstos pela fórmula de Balmer.2
Não é de surpreender que uma tão notável confirmação
por "novos" fatos previstos com exatidão aumente a crença
que tínhamos na hipótese. Entretanto, surge aqui um enigma.
Suponhamos, por um momento, que a fórmula de Balmer só
tivesse sido proposta depois que as 35 raias atualmente regis-
tradas na série tivessem sido cuidadosamente medidas. Neste
caso fictício, ter-se-ia obtido exatamente o mesmo resultado
experimental que o que de fato o foi por medidas feitas, em
parte antes, e em muito maior parte depois, do estabelecimento
da fórmula. Deveria 'essa fórmula ser considerada como menos
bem confirmada no caso fictício que no caso real? Poderia

2 Um relato lúcido c completo, de onde se extraiu este breve resumo,


encontra-se no cap. 33 de G. Holton e D, H. D. Roller, Foundations of Modem
Physical Science (Reading, Mass.: Addison-Wesley Publishing Co., 1958).
54 FlLOSOfU DA C-i v r : . SATV*AI

parecer razoável respondeimas afirmativamente pela seguinte ra-


zão: c sempre possível construir uma hipótese que esteja de
acordo com um conjunto qualquer de dados quantitativo!, do
mesmo modo que c sempre possível desenhar unu curva re-
gular passando por um número finTlo de pontos. Assim ten-
do, não há nada de surpreendente que «roa fórsnala como a
de Balmer possa ser estabelecida no nosso caso fictício. O que
<- notável e dá credito a uma hipótese é que da se ajuste aos
casos "novos" como sucedeu com a de Balmer no caso real
Mas a isso se poderia replicar que, mesmo no caso fictício, a
fórmula de Balmer não é simpiesaneMs «na hipótese ai-btirá-
ria capai de se ajustar aos 35 comprimentos de onda mrdidos.
jates, é uma hipótese de si-mplieidide formal impressionante:
« é o fato mesmo de ela conter essas 35 medidas nana f^tur^r
mate mítica mente simples que lhe dá muito maior credibilidade
que a que seria atribuida a uma fórmula mato c o n p k u tam-
bém w ajustando aos mesmos dados, Para dize-lo ena lansaa-
cem peomcinca: se se puder Uret passar orna carva simples
pelos pontos represenlalivos dos retaliados de medidas, tem-se
muito maior confiança cm haver descoberto ama Hei aeral sob-
jacente do que se a curva for complicada Km unrfornaidadc
perceptível (Adiante, neste capitulo, retomaremos esta qnes-
tão da simplicidade.) De testo, do ponto de vista da Lopca.
a fiimn» do apoio que uma hipótese recebe de u a certo con-
junto de dados só depende do que c afirmado pela hipoKic
e do que sejasn os dados: saber se foi a hipótese on o
dos dados que se apresentou em primeiro lugar i
mente histórica e pec isso não pode ser levado em coou aa
confirmação da hipótese. Esta c a concepção certamente im-
plícita nas teorias cstatíslicai da verificação, recentemente de-
senvolvidas, e Umlvni cm algumas analises tópicas contem-
poráneas da confirnucãu c J.i lnJ*,-ão. como «cremos bre-
vemenle ao fim do capítulo.

O kfoto TEóSUCO

O apoio -que pode Mf reclamado para


precisa ser inteiramente do tipo indntivo qae
agora: não precisa consistir inteiramente — ou mesmo parcial-
mente — de dados que confirmam as conseqüências derivadas
CRITéRIOS T>F CONFIRMAçãO E ACEITARIL IDADE 55

delas. O apoio pode vir lambem "de cima", isto é, de hipóteses


mais ampJu ou de teorias que implicam a hipótese considerada
e que rim o apoio de uma evidência independente Pata exem-
plificar, consideremos novamente a lei hipotética para a queda
livre na Lua j = 891* cm. Embora nenhuma de suas con-
seqüências tinha sido jamais verificada por experiência na tua,
tem fntrcianin um forte ti/*Ww ttórteo. poil decorre dedutiva -
mente da teoria nevitoriiana do movimento c da graviiaçao (for-
temente apoiada por uma evidência altamente diversificada)
juntamente com a informação de que o raio e a massa da
Lua sio 0.272 c 0,0123 dos da Tcrta c que a aceleração de
gravidade n a vizinhança da superfície da Terra í de 981 centí-
metros por segundo por segundo.
Por outro lado, a confirmação de uma hipótese que ja
tem apoio indutivo pode ser reforçada se receber "dç cima" um
apwo dedutivo. Ê o que aconteceu, por exemplo, com a fór-
mula de Balmer Ralmer entreviu a possibilidade de o espectro
de hidrogênio conter outras series de ralai, cujos comprimentos
de onda obedeceriam a uma generalização da sua fórmula.

*»-*•'
onde m c um inteiro positivo c n qualquer inteiro maior que m
Para m =a 2 recai-se na fórmula já conhecida; m — | , 3,4. . . .
determinariam novas séries de raias. E, de fato, a existência de
séries correspondentes a m - 1,3,4 c 5 foi estabelecida pos-
teriormente pelJ exploração eípcr.nKnlai dl» palies invisivfii
infra-vermelho e utua-violela do espectro de hidrogênio. Che-
gou-se assim a um forte apoio empírico para uma hipótese
mais geral que implicava a fórmula original de Balmer como
caio especial, fornecendo portanto um apoio dedutivo para
ela. E em 1913 surgiu um apoio dedutivo por uma teoria,
quando Bohr mostrou que a fórmula generalizada - - e portanto
a original de Balmer — decorria da sua teoria do átomo de
hidrogênio. Essa dedução reforçou enormemente o apoio à
fórmula de Balmer, porque a colocou no contexto das concep-
ções quâniicas desenvolvidas por Plaack. Einsteln t Bohr. que
estavam apoiadas por diversas evidências além das medidas
56 FILOSOFIA DA CIêNCIA NATURAL

espectroscópicas que forneceram suporte indutivo à fórmula


de Balmer. 3
Correlativamente, a credibilidade de uma hipótese será
atingida adversamente se entrar em conflito com as hipóteses
ou teorias já aceitas como bem confirmadas. No New York
Medicai Rccord, de'1877, um médico de Iowa, Dr. Caldwell,
relatando uma exumação a que teria testemunhado, assegurou
que o cabelo e a barba de um homem que fora enterrado bar-
beado e de cabelos cortados arrebentaram o caixão e cres-
ceram através das fendas. 4 Ainda que apresentado por uma
testemunha presuntiva, a afirmação será rejeitada sem muita
hesitação porque colide com os fatos bem estabelecidos sobre
o crescimento do cabelo humano depois da morte.
Analogamente, a nossa discussão anterior da pretensão de
Ehrenhaft de ter experimentalmente estabelecido a existência de
cargas subeletrônicas mostra como o conflito com uma teoria
amplamente sustentada milita contra uma hipótese.
Entretanto, o princípio a que nos estamos referindo deve
ser aplicado com discrição e com restrições, Senão, poderia ser
usado para proteger qualquer teoria contra qualquer descoberta
que lhe fosse contrária. Ora, a ciência não está interessada em
defender concepções favoritas contra as evidências que possam
lhes ser contrárias. Em virtude mesmo do seu objetivo, está
sempre pronta a renunciar a uma hipótese já aceita ou pelo
menos a modificá-la. Mas para desalojar uma teoria bem esta-
belecida exigem-se razões ponderáveis; exige-se sobretudo
que os resultados experimentais adversos possam ser repetidos.
E mesmo quando "efeitos" experimentalmente reproduzíveis en-
tram em conflito com uma teoria robusta e fecunda, esta poderá
continuar a ser usada nos contextos em que não crie dificulda-
des. Foi o que Einstcin reconheceu quando, ao propor a teoria
dos quanta de luz para explicar fenômenos como o efeito fotoe-
létrico, observou que para tratar da reflexão, da retração e da
polarização da luz a teoria eletromagnética era provavelmente
insubstituível; e de fato ainda c usada neste contexto. Uma teo-
ria de largo âmbito, já triunfante em muitos domínios, só será
abandonada normalmente quando uma outra teoria ainda mais

3 Para detalhes, ver Hollon c Rollcr, Foundutions oi Modern Physiccl


Science, cap. 34 (especialmente a seção 7 ) .
4 B. Evans, The Natural Historv aí Nonsenie (Nova York: Alfred A. Knopf,
19461, p. 133.
CRITéRIOS DE CONFIRMAçãO E ACEITABILIDADE 57

satisfatória se apresentar — mas boas teorias são difíceis de


aparecer.5

SIMPLICIDADE

Outro aspecto que afeta a aceitabilidade de uma hipótese


é a sua simplicidade comparada com a de hipóteses alternativas
que justificam o mesmo fenômeno.
Consideremos uma ilustração esquemática. Suponhamos
que a investigação de certo tipo de sistemas físicos (Cefeidas,
molas elásticas, líquidos viscosos ou o que for) sugira que certa
característica quantitativa, n, desses sistemas possa ser uma fun-
ção de outra característica u e, assim, determinada univocamen-
te por u (do mesmo modo que o período de um pêndulo é
função do seu comprimento). Procuremos portanto construir
uma hipótese enunciando a forma exata da função tendo cons-
tatado muitos casos em que u tinha os valores 0, 1, 2, ou 3 e
correspondentemente « os valores 2, 3, 4 e 5. Suponhamos
tinda que não tivéssemos pressuposto algum sobre qual poderia
ser a forma da relação funcional e que as seguintes três hipóte-
ses tenham sido propostas à luz dos nossos dados:

/ / , : n = u* - 6u* + 11K> — Jll + 2


fí2: n = tfi — 4W — u* + 16u2 — l l u + 2
H3: n = u +• 2

Cada uma dessas hipóteses se ajusta aos dados: para cada


um dos quatro valores examinados de « cada uma delas faz
corresponder exatamente o valor achado associado. Em lingua-
gem geométrica: traduzindo cada uma das três hipóteses por
um gráfico, as três curvas obtidas contêm cada uma os quatro
pontos dados (0,2), (1,3), (2,4) e (3,5).
Não havendo, como foi admitido, qualquer pressuposto que
nos indicasse uma escolha diferente,, a hipótese teria a
nossa preferência, por ser mais simples que H\ e H2. Isso
sugere que, de duas hipóteses em acordo com os mesmos dados

5 Este ponto está tratado de modo sugestivo, usando como exemplo a teoria
flogística da combustão, no capítulo 7 de J. B. Conant, Science and Common Sense.
Uma concepção geral estimulante de como nascem e caem as teorias cientííicaB
está desenvolvida em T. S. Kuhn. The Slructure oi Scicnlijic Revoluíions (Chicago:
The Uoiversity of Chicago Press, 1962).
51 FILOSOFIA DA CILNCU NATUKAL

e que nio diferem no que ainda p o n * »er relevante pau a cosv


(ir macio, a mais simples teria a mais bem aceita.
A importância da simplicidade paia teorias inteiras é fre-
qüentemente exemplificada com o dcsironamento d i concepção
gcoccntrica do interna lolir, herdada de Ptolomea. pela hclio-
rtntrlca de Copérnico. A concepção de Plolomeu era cnpcnho-
•a e rlgoroia, n u "sontuoiamente complicada por ctreuloa prUi-
cipaii e subdrculos. com diferentes raios, velocidade», inclina-
ções c diferente* valore* c direções de cx^entricidad;"*.*
Inegávelmente. cxtile cm ciência uma preferencia marcante
pelas teorias e hipóteses mais simples, mas nio é fácil formular
criléno* de simplicidade num sentido relevante que justifiquem
essa preferência.
Qualquer critério de simplicidade teria que ser objetivo, c
claro; nao le poderia referir a uma sedução intuitiva ou a faci-
lidade com que uma hipótese ou teoria possa ser compreendida
ou lembrada ele., pois estes sio fatores que variam de pessoa
a pcaaoa. No caio de hipóteses quantitativa* como / / i . //•. //>
poder-sc-ia pensar cm julgar da simplicidade observando-se o i
gráficos correspondeates Km coordenadai retansubre». o fiàÍKo
de / / . é uma reta, enquanto os de II, e II, sao curvas muito mais
complicadai panando pelos quatro ponloi dado* Mas esle
critério parece arbitrário. Pois se usarmos coordenadas pob-
res, representando u pelo insulo diretor e n pilo rato vecloe.
então H, determinaria uma espiral, enquanto a função determi-
nando uma "simples" reta seria bastante complicada.
Quando, como no nosso exemplo todas as funções estão
expressas por polinAmkis, a ordem do polinômio poderia servir
como fndive da complexidade; II, reria mait complexa que / / i
por sua ICT mais COMpkn que ll> Mas outro* cmenos t i o
necessários quando funções de outra natureza, como a i irifo-
notnéliicai, devam *»•( laiiibiiu consideradus.
Sugere-se às WtaYs qi«- •• iiimi.io de fiipooçõti básicat
seja um indicador da ciuiipkxidadv de unia Icoiia Mas suposi-
ções podem ter combinada* • |>n,,lidai de vársot modos; nio

6 f HiW>. «f«« >»• 'V 1« • *»•" irmmi™- rr—••—


Pn>i. |«U|. Ot .ipUitUn 14 . !• A — ••*• >*tnnm _ u n l . » * i « m « l i
tcmipKt-tHü «• •* *—I»». <— l m*- »«IUII 1 p(IHUM>«> l*»«»*>•
ilmpl-iab* ai ..»-m. »> ( M m , «•> moéUun i i M M R—o «SI «••
( > p > I J < < J i ' i r i > S K • > . • T I — I J I I » . I > > . « M > l d B > u ( ( 4 4 1 * C « f » r M n , « —

u UIIHH * Piolii*. nSo pbUi- u r i . - '


OUTéSUOS oe CONFIRMAçãO E ACEITABILIDADE 59

há maneira inequívoca de contá-las. Por exemplo, dizer que


para qualquer par de pontos existe exatamente uma rela pas-
ssado por ele» pode ser contado como expressão de doas supo-
sições em vez de uma; a de que existe pelo menos uma lal
reta e a de que existe no máximo uma. E mesmo que houvesse
acordo na contagem, ai diferentes suposições básicas ainda po-
deriam diferir pela complexidade, devendo portanto ser pesadas
cm vez de contadas. Observações semelhantes se aplicariam à
sugestão de que o número de conceitos táticos usados numa
teoria poderia servir como Índice de sua complexidade.
A questão dos critérios de simplicidade recebeu recente-
mente uma atenção especial da parle dos lógicos c dos filósofos,
que obtiveram resultados interessantes, mas ainda não consegui-
ram uma caracterização geral satisfatória da simplicidade. En-
tretanto, como está sugerido pelos nossos exemplos, existem
certamente casos cm que mesmo na ausência de critérios explí-
citos há substancial acordo sobre qual seja a mais simples de
duas hipótcsei ou teorias rivats.
Outro problema intricado atinenie á simplicidade é o da
sua justificação: que razoes existem pari seguir o chamado
principia da simplicidade, isto é. o preceito de que »e deve pre-
ferir, estimar como mais aceitável, entre duas hipóteses ou teo-
rias rivais c igualmente confirmadas aquela que t a mais simples?
Muitos grandes cientistas manifestaram a convicção de que
as leb básicas da natureza são simples Se assim o fosse, po-
der-sc-ta de fato admitir que a mais provavelmente verdadeira
de duas hipóteses rivais í a mais simples. Mas supor que as leis
Nfjfn da natureza sáo simples ê. naturalmente, pelo menos
tio problemático quanto a legitimidade do principio de simpli-
cidade c não pode portanto fornecer uma justificação para ele.
Alguns dentistas e filósofos — entre os quais Mach, Ave-
narius, Ostwald c Prarson — sustentaram que a ciência visa
dar uma descrição econômica ou parcimoniosa do mundo c que
as hipóteses gerais promovidas a leis da natureza são expedien-
tes econômicos para o pensamento, servindo para condensar
um número indefinido de casos particulares (como os de queda
livre) numa única fórmula simples (como a lei de Galilcu);
desse ponto de vista parece inteiramente razoável adotar a mais
simples das hipóteses adversárias. O argumento seria convin-
cente se tivéssemos que escolher entre diferentes descrições de
um mesmo conjunto de jatos; mas ao adotar uma entre várias
60 F*OSOÍU CM CtfxTlA NATVftAL

hipóteses OB drspcu. tais COMO


também as predições eme da
aao vejJkjoor. e a « t respeito as •ápoKlts
meate. Assim e mje. para * = «. //,. H». H$
m as valores 150. 30 c 6 respecrivMncmc. Cabe
Basta reconhecei qor //» é matraaafkamenic a mais simples
para considerá-la a a M provávd de stf verdadara. para ba-

• = 4 c rjão nas amas mpósrsrs «me acertam aos casos p


medidos coA a mesma precisão?
Uma resposta iateressaate a esta oaestão foi sa-enda por
Rochcabad*-7 Ean rrr—j, o sei atgmm MU C o sepamae: m-
prmhamm. d*e ao nosso cscmplo • seja 4c falo ama fmacia de
• , • = /<*>- Seji t o tem pifiem cm ate— liiKmi de coor-
limJn. n n eacoma aão e emracisl A 'rijamai Inação /
c o sca gráfico jt são. natardmeme. i1rwcmhtr.idut peto cnbata
• K mede os valom smociadoi das dam variáven. Ammtoja.
para tavorcoa ao arpas»: ato, mae aaas mtmdm iriam exatas.
de achará certo «úmero ir pomos 'dados- mjc penoacem k
"verdadeira" enrva f. Sapaahamji em aramas: oac. de acorda
com o prmdpso de nmnli.idsifc. etc
pies. mo e, » Mlmtrvameai
posso* O trafico ass*m obtido, mjc rb amarem ca tu pode afas-
tar-se comaicravcsmeasc da verdadesra carva, irado, catrgsaato,
cientista vai dctcmuoaad© n m cornos mi traçam» aovos grá-
ficos mais simples $,. r». &. • • m : irão coiaodmdo cada «cx
maã com a vodawkwa carva r. assim coma
das h. fí. U aproaima»-*t-ão cada vez mais da
relação fanfiarol t- A tOt-uVncu ao principio de
não pode pois n r a m «MC *C •*noma a fnação / de aaaa só ve*
o* mesmo e*> vária*: mas se c*n*r ama rrtacád fnaoonul entre
B e m. o processo coada/ira rrj.hcahm.-nte a ama (nação oae se
aproxima da verdaaewa n ordem rfcrcjada.
O armanemo de Rcv^cnh».*. aomi rtpraJnsnlu ean forma
um tasto simplificada, c eapamao. mas aaa força ê maátada.
Pots, por mais longe oae *c tenha ido aa i iimatiii dos emV i

rma, m».
CUTéBIOS DF CONFIRMAçãO t ACEII^MUIMOE 61

cos e das íunçôes. o processo oi» fornece indicação alguma sobre


a aproximação com a qual foi aoagsda a verdadeira função —
se é que existe uma verdadeira fasseio. (Como já notamos an-
lei, o volume de um corpo gasoso pode parecer ser. mas de
falo não ê. função apenas da texnperarara.) Alem dbsso. o ar-
gumento baseado na convergência pari uma curva verdadeira
poderia ser usado para justificar outros snêtodos. intuitivamente
complexos e nio-raroívcis. de d r wh a i os gráficos. Por exem-
plo. *ê-sc imediatamcnie que iiráado doa pontos dado* jdjacen-
tes por um scmidrcul© cato diâmetro seja a distância entre os
pomos as curvas obtidas convergiriam eventualmente para a
verdadeira curva, se esta existisse. Contado, a despeito dessa
"fuslificacJo"'. o procedimento não seria considerado como mo-
do legitimo de formar hipóteses qsxantfutnas. Entretanto, outros
procedimentos não simples — como o de aoar pontos dados adja-
centes por arcos em forma de V. caio* comprimentos sempre
excedem um valor mínimo deterananado — não são justificá-
veis desta as—cita. sendo nrcsmo auudcslruidorcs. como pode
ser mostrado pelo argumento de Rescbeahach Sua idéia guarda
auirn um interesse próprio.

Muito diferente t a concepção de Popper. Para ele a mais


de duas hipóteses é aquela que Um mator conteúdo
eanpirico e pode portanto ser n u a facúncnic falsificada (ser
verificada como laba mais f^cilraeMc). se de fato fuf falsai
c íiso é da maior importância era» ciência, «que procura subme-
tei suas conjeturas ã mais cooupkta vcrdãeacão e falsificação
possível. Ele mesmo resume o seu Mg—vmu com as seguin-
te* palavras: "Se nosso objetivo t o conhecimento, o» enun-
ciado» simples devem ler cotação anais alta que os mcnJs sim-
ples porque eles nos dL;em mais. porque u> conteúdo rtnpirico
deles é maior e porque são nenfKéreis em melhor grau.""*
Popper torna sua noção de simplicidade como grau de falsi-
Dcabilidade mais explicita por meio de dois critérios diferentes.
De acordo com um deles, a ftipõcese de qj*e a órbita de um
planeta seja um circulo c mais simples do que a qje

nmt, p- MI 10» r*» —> *o « o


él FILOSOFIA DA O í S C I A NATURAL

que s-j.i uma elipse, porque a ptimeiti poderia ser falsificada


pela determinação de quatro posições que nio pertençam a
um mesmo círculo (três pontos podem icf sempre unidos por
o » circulo), ao pasto que a falsificação da segunda hipóusc
exibiria a determinação de pelo monos seis posições, do planeta.
Neste sentido, a hipótese mais simples é a mais facilmente fal-
sifKivel c é também a mais forte porque logicamente implica
a aipotese menos simples. Este critério certamente contribuí
para esclarecer a espécie de simplicidade que interessa à
Ciência.
Mas Poppcr dia alicrnali vãmente que uma hipótese é mais
ralnficJYCi. logo ma» simples, que outra quando implica esta
ouira e tem portanto maior conteúdo num sentido estriumente
dedutivo, d a . nem sempre maior conteúdo se une * maior
simplicidade Certo, uma teoria lu-rtç "tomo a teoria ncwto-
niana do movimento c da gravitado pode ser considerada
cooo mais simples que uma vasta coleção de leia desconexas
c de akancc mais limitado, que são implicadas por ela. Mas
• desejável espécie de simplificação atum conseguida por uma
(corta nio e apenas uma questão de maior conteúdo, pois se
duai hjpólcses desvinculadas {tf.. • lei de llooke c a de
Soei)) forem afirmadas conjuntamente, a conjunção nus diz
min, sem ter mais simples, que cada componente. Nem qual-
quer das ires hipóteses " i , fft, lf< consideradas acima, que
certamente não são igualmente simples, diz mais que uma das
outras; nem diferem quanto à fahificabilidade. Se falsas,
qualquer uma delas pode ser revelada falsa com a mesma
facilidade: uni única caso contrário, por exemplo o par (4.
10). uma vez medida, falsificaria a todas ela».

A*sim. ainda que as diferentes idéia* aqui rapidamente


revistas iluminem de certo modo o raiitmale do principio da
simplicidade, permanece sem solução satisfatória o problema
de achar para ele uma formulação precisa, e uma justificação
naiticada*

* O kiur dWwlow * ie«i<*BMr uia> «*u6» «amuwl mllio nu


lan aimiii»- S j»tnr. In<•••«•• è»d lliycilxai (Um - Cama UfcMf-
< tnm. IM7I; "A Fistl D u m » 01 Staplmij <á UM:.:*' TWoftH".
'**"Hi — **•>». « t II 119*1». •W-ft. W. V. O Owat. "0« S^t-t
• !".•—«i Wprtr* Traru*. na. 15 n#1| lU*.
CRITéRIOS nr. CONFIRMAçãO t ACEITABILIDADE 63

A PROBABILIDADE DAS HIPÓTESES

NoM.ii exanK mostrou que a credibilidade de uma hipó-


tese / / numa dada época depende, estritamente falando, do que
c relevante nu totalidade do conhecimento cientifico da tpoca,
o que inclui ioda evidencia relevante paia II »• ludai ai hipó-
teses c teorias ciiiao aceitas que lhe duo algum apoio. A tij[or,
potlanlo, deveríamos falat da cndiMuladr de u/tui 'n/>i>inr II
reUium a MR0 MTJW de cimlicamenua, que i o conjunto X
de lodo* os enunciados aceitos pela ciência da época.
Mirgc naturalmente a questão de saber K C possível ci-
prcuar essu cieiiibtlidudc em lermos quantitativos exatos, me-
diante uma ililiiiiv.n' que paia qualquer hipótese II c qualquer
conjunlo K de enunciado» determine um nunieio c(/7. K) que
scia o grau de cicditnlidade que / / pouui cm relação a K. fc,
ja que talamos freqüentemente em hipóteses mais ou menos
prováveis, pciguntamos logo se esle conceito quantitativo não
podenu ser dcliiiido de mudo a luiiifazcr aos pnnclpktt bancos
da icoria da probabilidade. Neste cato, a credibilidade de / /
relativa a K scliu um numcio real não inferior a O e ato
•upenoi a I ; um* hipótese que C verdadeira por ratões pura-
mente lógicas (tal como 'Amanha chovera ou não chovera
no Corcovado') lera sempre a credibilidade I ; e a credibili-
dade da hipótese de que seja verdadeiro um ou outro de dois
enunciados II, c Hi logicamente incompatíveis será igual a
soma de suas credibilidade!: cW, ou //,, K) — c ( / / i , K) +
+ H.H», K).
De lato, várias teorias para essas probabilidades foram
propostas.1" Partindo de ceitos uxiomai. como os que acaba-
mos de mencionar, chegam a uma variedade de leoninas mais
ou menos complexos que servem para determinar certas pro-
babilidades amumio qur outras i<l irfun cimhedtku; mal não
o/tracem uma definição da probabilidade de uma hipótese re-
lativa a uma informação dada.
l i a dificuldade de definir o conceito c(II.K), levando em
consideração todos os diferentes (atores que encontramos, e
enorme, para dizei o menos; pois como vimos não ficou sequer

10 Umi «•!« ff> ííonomt.'. lohn Marurd (Tino, n> MU Ir™ A


Titailrt ou Pn>biMbi> (InHin: Macmlll» Hd ComrilT. LU- 1*111.
64 FILOSOFIA DA CIêNCIA NATUBAL

claro como caracterizar com rigor fatores como a simplicidade


de una hipótese oa a variedade da evidência que a sustenta;
muito menos, como eipreuá los numericamente.
Entretanto, certos resultados clxidativos e de enorme
alcance focam obtidas rcwaenxntt por Carnap, que estudou
o problema em liafuareni modelo rigorosamente formalizada,
cuja estruma lógica é eoosideravelraeoie mais simples que a
requerida para os propósitos da âéTKia. Carnap desenvolveu
um método rcral de definir o que chamou o grau de confir-
mação para qualquer Marfim expressa cm tal linguagem. O
conceito assim definido satisfaz; a iodos os princípios da teoria
da probabilidade, o que permitiu a Carnap referir-se a ele como
a probabilidade lógica om atdullra da hipótese relativa a In-
formação dada."

| l I I I M deu a * DMi • m n n tfa^ta « l i •«*«< W S —


« ânus " S m l c n imã l — i r ^ N * « B ' « • • (*««"> « • e H M a i a M .
• t . n* s i m — v — * • • m lawpai <••••• • • • • • • — twnpwT.
;«WI. n> f-1*. UMa e » T » < l » n » W D * r * • • muno «-.V-ti» ti i n n n »
T B « N I 1 C m * - T S E A t a of fcjl I J Le»C". . M y " ç o C
• S * f- S - n « • A. T - * . « . ( « . UVM>*lh>(, —rf « u l - « » * f >f
I n u . f w ) b « «I « • l * a C * o » n « iSutí-xd XIHIIMJ
UaMni» *»*•. I W I n - M » 1 .
AS LEIS E SEU PAPEL NA EXPLICAÇÃO
CIENTIFICA

DUAS lMi.ft.tlAS BÁSICAS FARá AS EXPLICAÇÕES CIENTIFICAS

Explicai os fenômeno* do mundo físico c um dos prin-


cipais objetive* dar Oíncias Naluiais. l)c fato, quase Iodas a>
investigação científicas que serviram como ilustrações nos
capítulos precedentes visaram não à descoberta de um falo par-
ticular, mas à conquista de uma concepção explicativa; pro-
curou-se uber como era contraída a lebre puerperal. por que
havia uma limitação característica para a capacidade eleva-
tória das bombas, por que a transmissão da luz obedecia a* kit
da óptica geométrica etc. NeaJe capitulo c no próximo vamos
examinar com algum detalhe o caráter dai explicações científi-
ca» c a tspecte da compreensão que ela. lornecem.

Oue o homem sempre e persistentemente preocupou-se cm


comprecrtdcr a enorme diversidade das ocorrências no mundo
que o envolvia, deixando-o muitas vezes perplexo < nio raro
amedrontado, prova-o a multiplicidade d« mitos c metáforas que
imaginou para justificar a existência mesma do mundo e de si
próprio, a vida e a morte, os movimentos dos astros, a suces-
são regular do dia e da noite, as. cambiantes estações, a chuva
e o bom tempo, o relâmpago c o trovão. Algumas dessas expli-
cações H basearam em concepções anttopomórficas das forças
da natureza, outras apelavam para podeies ou agentes invisíveis,
quando não invocavam o destino ou os inescruliveis desígnios
de um Deus. H é inegável que davam a quem as aceitava o sen-
limenio de uma compreensão, porque lhe aplacava a perple-
xidade; IKSK sentido eram "respostas" às perguntas formuladas
Mas por mais satisfatórias que o fossem psicologicamente, não
eram adequadas à finalidade da ciência que é. cm suma, a de
desenvolver uma concepção do universo apoiada clara e k>p-
«6 FllOSOf LA DA Cii-sci* NATUBAI

c u w i r f n aos» capcra-acia i | i i i l 1 n um i aa*a verificação


objcma- Ai riytkiayõc» « « f u i deveaa. por o O razão, sa-
fjsfazer a dois woaáinus. oae cnaraareaos o rernaWilo da rele-
vância rrphaaiáiia e o rriyiin da verrficac*lsdac)í-
0 antrvaaaa» fraarraro Ssò aarcacatoa o sífuinte arpi-
snento para Éiaaanuai por «ae. ao coarrário do que seu COB-
VBporaaeo Gaaar* afirmava ler «ata coa aaaa laneta, nao

Etattea Wc jaadai aa cabeça, daas venta*, doai orelhas.


Da* momo modo. ei*erii rto ecu
daas desfavoravetf. daas lomi-
e ãadaercMe. qoc c Mrroino. Daí
c «V a—M ontros (caõaKaot armrtrtiaarT da
(aaat raeia» de.), ase sera füiearMí
ram oac o snsaero dos planetas e
Alta da», oa s a n a s alo avaveei a otto « loco a k
podem Ia atacaria sobre a Terra, logo sao náten, loto

O defcuo araaaaal «case M i n r i i a e endeatt. os -!iu»-


qae adaz. atada «ne acesa» aesa Ia rasai n. sao mafusmente rr-
Mkvaaaespara o noa» oa pana. ano foraecea raxao alpina
P**» « • • « •«" lépsar senha ssaflün. o aso de palavras coeao
Tono' e 'accnaanaaacaK-. cosa o f-t, de dar aata avrttsao de
ríkviacu, é intrsraaaear *if'—i"
Maãu dsfereatc c a rrpacacto do arco-irâ dada pela H-
ssca O scaóaeao sara: cação coeso reatado da reflexão e da
n*açao da na branca do Sol nas foticatas catencas de ágaa
ptraNca prever ioda «ca aac i p a pnrverrzada fc» iluminada
por ssssa foMe de aaz brasa rãasdt atras ao observador As-
cação coaaatasria bom fasanaento para acreditar qoe o fenô-
saeno sareria nas ensaapãci PsarraVartas- A esu aracterisbea
t oae ossereaos aos refcrar s|aaado daesnos que a expbcaçáo
utoíai ao r-n .ii ém rtlnámas «adraaaKvãr: a irrforsnaçâo
adnida fornece noa faaaaaeaj para acreditar *te O lead-
ser riaicadu de faao inoaarrcu ou acontecera. E a
As LEIS E SEU PAPEL HA EXPLICAçãO 67

condição a ser satisfeita para que estejamos autorizados a dlfer:


"O fenômeno está explicado — é iusiamcnte o que se esperava
nas circunstancias dadas."
O requisito traditf uma condição necessária para uma ex-
plicação adequada, mas não suficiente. Por exemplo, o desloca-
mento para o vermelho nos «pectro* das galáxias distantes for-
nece uma forte base para acreditar qur essas galáxia* se afastam
de nó* com enormes velocidades, mas nao para explicar por qur
esse afastamento.
Para introduzir o segundo requisito, consideremos uma vez
mais a concepção da atração gravitacional como manifestação
de uma tendência natural comparável ao amor. Como já obser-
vamos, essa concepção nao tem nenhuma implicação verificá-
vel Portanto, nenhum resultado empírico poderia sustentá-la
i-y refutá-la. Sendo assim vazia de qualquer conteúdo empíri-
co, não pode justificar a expectativa dos fenômenos caracterís-
ticos da atração gravitacional; falta-lhe poder explicativo obje-
tivo. O mesmo se pode dizer sobre as explicações feitas em
termos de um destino tnescruiivcl: invocar uma idéia como
esta. longe de ter tina) de uma visão profunda, é apenas re-
nuncia a qualquer explicação. Ao contrário, os enunciados em
que se baseia a explicação ftika do arco-lt» têm várias impli-
cações verificáveis: por exemplo, quanto ás condições em que
M vê um arco-íris no cêu. quanto i ordem das cores que nele
figuram, quaniu ao KU aparecimento nj poeira liquida levan-
tada pelo quebrar das onda* ou por uma fonte artificial cie.
Esses exemplos ilustram uma icgunda condição para as explica-
ções científicas, que chamaremos o requluto da verijicabilidnér.
os enunciados que constituem uma explicação científica devem
prestar-K á verificação empírica.
Como já foi sugerido, a concepção da gtavitação como uma
afinidade universal subjacente não pode ler poder explanatório
porque não tçm implicações verificáveis. Com efeito, para jus-
tificar a ocorrência da graviiaçáo universal ou de qualquer um
de seus aspectos característicos, a concepção teria que implicá-
los quer dedutivamente quer num sentido mais fraco induüvo-
probabilístico, mas então ela seria venfic4vel no que se re-
fere a essas conseqüências. Este exemplo mostra que os dois
requisitos nár> são independentes: uma explicação que satisfaz
á exigência de relevância satisfaz também á de vcrificabiüdadc.
(E daro que a recíproca não é verdadeira.)
61 FILOSOFIA DA G ê * C M S.m.i

Vejamos a^ora gae {amas u n o as ciptocôes daxtTi-


cas c como das satisfazem aos dou raqúãos faodajneauéc

A EXPLICAçãO DíCKJ i ivo-woaaoiòojCA

Consideremos aasda ama « a o rcsaludo achado por Pé-


rier na experiência dc Pav-de-Donse: o comprimento da coíana
dc mercúrio no baianamu dc TocnccHi dunÉnoi Cjaando a ató-
tade aumenta. As «dc**» de Torriccüi e dc Pascal sobre a pres-
são atmosférica f u i r m i pari este fenômeno m casaca-
çao qoc. dc modo «ai tanno pcdiianr. pode ser formulada como

•1 in

»l At pnw*.
BHpMBkai
• Ma MM
ti A cotou
«M*a» * ipansaw W M I I U * •>—n»s» «a «w
r»i» ( a !•!>>.
d) (PonsMel. • <**-• * —«mw ao tato «
«u»ndo • i * n w -U •• »*o 4» niiiiM do «w
nU em » M *
Assim formulada, a explicação é um arnuacnto DO sentido
de I o ) o fenômeno a ser eiphcaoo. descTXo peta sentença
d), c |usi3ot:nic o one se esperava tendo em vrsta os fatos
explicativos citados cia a), b) e c); 2.*) de fato. d) de-
corre dedalrvanacatc dos rssssarúdoi npliaaiórioi. Esla úi-
limos sio dc dais espiões, a) c b) tem caráter de leis (crars
asse exprimem conexões rapine as, naãfonnu e c> descreve

•ercéiiu fica eaafcado peta ério—tração de mae ocorre* em


obediência a cenas leis da nunrm como resahado de
circunstancias partknsli^s- A
ser eipltcado noa contexto de •snTormididti e mostra oae ssa
ocorrência devia ser esperada, dadas as leis sscaáosadas e as
pertinentes i ín i—iftm i—i partcntnttj.
O fenômeao a ser npfcndo será doravante "*'iiifn como o
Irnòmrna ripsanaaamai c a seafcnc/a oae o descreve como a
iemtnça cxpéammátmL Onaado o come «to mostrar o eme se
As '.'-• E sax P A P E L NA EXPLICAçãO 69

um como o nutro será designado simplesminte


por tipimm—dmm. As sentenças que formulam a informação
cxpUBaaória — a ) , b ) . c) DO nosso exemplo — serão as
ifnsençms tipUrtims. diremos que o conjunto delas forma o

COMO s e p u d o exemplo, consideremos a explicação de


M M cararterinici da formação de imagem por reflexão rum
eapdbo esférico, isto é, a equação l/ii -f- \/n = 2/r. onde
• c r são respectivamente as distâncias do objeto puntiformc
e da imagem puniiforme ao espelho t ' C D raio de curvatura
do espelho fim óptica geométrica essa uniformidade se explica
trataaido a reflexão de um raio de luz num ponto qualquer de
um espeko estético como reflexão num plano «npenle à su-
perfkte esfenca nesse ponto c usando a lei básica da reflexão
« • a »>»rfto p k a o A explicação resultante pode ser formulada
dedutivo cuja conclusão é a sentença ' < -
c ciJM premissas incluem as leis básicas da reflexão
e da propagação reUlnca assim como o enunciado de que a
wiperfKK é j espelho e uma calota esférica.1
Um afgwmenio Kmclhjnle. cups ptemnsai incluem tan»-
Mai a ki da reflexão num espelho plano, explica p . * que a Ua
«e M p n j a c a fonte colocada no foco de un espelho parabó-
lico i refletida por este de modo a se transforma- m m feixe para-
k*o t o « a o d o parabolóidc (principio tecnologkaaKMc aplicado
à rn—wção dos holofotes, lanternas etc.).
Todas essas explicações podem ser concebidas, então, co-
• o argumentos dedutivos cuja conclusão é a sentença eifmmtm-
ditm. E. e c«)0 conrunto do premissa» é constituído de leis ge-
ra» Lu t j . . . L. e de outras enunciados & • t » , . . . C, que
taxem asserçoes sobre fatos particulares. A forma de tais argu-
meatos, que constitui um dos tipos de explicação cientifica, pode
ser rcpreseBtada pelo seguinte esquema:

£»!» - *- 1
DS» S Sfnlençat n p U w
C <V ... C. I
E Sentença rif

Cl"»».
« IBofia
Wt-i4 ( N o « Y o n
F:LOSOFH W CBXOA NmiajA

Drenos qae ê o emjacsaa das explicações por H U M ^ í U


deduiva sob leis pena oa das eipLcaçàet aVaWm» m«miaflfi
eas. (A m z do tenso 'acmakòpcó t a p i f a m grega 'aomos*.
para 10.) Pire»» taaasèai ame o arpam r i a orpliãrtiria sab-
•aac o rxpimmémm sob o w kit oa oae o i u são as í*ii

O feaaawao rajaaaanamm mrma rrafcacio dcdalivo-ao-


pooc ser a s K t W e ó t H o qac ocorrca em época c
o resakaóo da experiência de Pé-
m fCBBMidade racoamda oa aa-
a doa aspectos ajrraaacsae exibidos pelos arco-
íris; pode ter atada ama in fnraiiilc aprcaw por noa ki
como a de GaHcw oa a de Kepkr. As eipbcacôes
deaus aaaonaidade» iavocarao kia de akaacc mais
nato. coeno as kis da rcfkxio e da rsfraçao, oa as leis Dewto-
manas do nclaxoro e da arantaçao. Cos» analia este aso
das ara de Newtoav aa les tmçkVM ficam maltas vezes expü-
cada* por meio de pnadpaca troncos qoe se referem a estrats-
raa c processos aabttccsan aa aadoraadades c a pauta Vol-
laremos a csk

As cipl<acfVs
uto di relevância riaaaaalftrm ao
a mfcemacao ciatiasaniii mar das (orsscrm aapkva a
t^tmmmm Jc^_-...*.-«-•( < paoriM aasjaj eamdab > . ' A >
•mate por oae t ek esperar o kaòmeao rxawsmaasav** (hocoo-

a» fraco, isdutivo.) E o
e saCBBcslo, pois o rxsss-
qae saa eoacaçôei especifica-

ao esquema
exato. £ o qac acontece, parti-
aaaaflH ema?itiuii>ca de um íeoõ-
•is—itin a panir de
ia reflexão em espelhos
e •awitsftgaa Oaero tiraailn é a celebre erpikacao
por Lncrtier (e i I i n i l l l i i 11 por Adams) dai
do ptiaeti Urano, qac
asa atração gravitacanal exercida
easaecidüt Levemcr taspemoa
dniõas a BDD pUoeu exienor amda não ob-
c calculoa a posição, a massa c ostras características
As L u * E s i u PAPU. S » EXPLICAçãO 71

que ciic planeta deveria possuir para. de acordo com a leoha


de Newton, dai razão quantitativa das irregularidades consta-
u d u . Sai explitaçio foi scnsactooilmen» w n í i m i d i peta
descoberta, na posição prevista, de um novo planeta. Netuno.
que tinha exatamente aquelas aaraoteaittKas calculada» por
Leverrier. Aqui tanthçm a eaplicação tem o caráter de um
argumento dedutivo cujas premissas incluem leis gerais — DO
caso, as leis iKwtonianas do movimento e da gravitaçáo — e
enunciados que especificam os valores particulares ao planeta
perturbador de varias grandetas.
Não raro. entretanto, as eiphcacôn dedutivo-nomoloci-
cas lio enunciadas e » forma caplica: omitrm a mencao de
certas suposições pressupostas pela ci.piicac.ao mas tacitamen-
te aceitas ao contexto dado. Sao eaplicacoes as veies espres-
sas na forma '£ porque C~. onde H í o evento a ser esphcado
e C algum evento ou estado de coisas antecedente ou conco-
mitante a £ Como exemplo, tomemos o enunciado. 'A lama
na cagada pcimaiKttu liquida duianlc a atada porque fo»
salpicada' Ista rapina***» nlo nMncKina eaplicilamente Io
alguma, mas tacitamrnM pressupõe pelo menos uma que o
ponto de SOJHÍUVBVÍH da igua t mau haiao quando há tal
dissolvido nela Ik falo, t prrciumcnir em virtude dessa lei
que o salpico adquire o papel rspianatóno, • aapecifKanKnle
causai, a ele atribuído pelo porque do enunciado «llptlco l-.uc
enunciado, acidemalmente, lambem e cliptKo em ouiio* senti-
dos; por cicmpio. admite tacitamcntc certas suposições sobre
as condições físicas vigentes, como a de que a temperatura
nlo baisou muito Acrescentando essas suposições e a let omi-
tidas ao enunciado de que o sal foi espalhado na lama, obtém-
se às premissa* pala uma Mpltfaiio dedutlvoBAmoio|Íea do
fato de havei a lama pcrrunecido liquida.
ComenurHM semelhantes se aplicam 4 explicação dada
por Scmmelweis de que a febre puerpcral era causada pela
matéria cm dccompo*Kio introduzida na corrente sangüínea
através das fendas abertas. Assim formulada, a explicação nlo
faz menção de lei geral alguma; mas pressupõe que tal conta-
minação da corrente sangüínea provoca em geral am envene-
namento do sangue Acompanhado dos sintomas característicos
da febre puerpcral. pois isso c o que está implicado pela ai-
scrçâo de que a contaminação catsa a febre puerpcral. Esta
generalização foi certamente admitida sem discussão por Sem-
melwcis, para quem a causa da doença fatal de Kolletscrika
72 FILOSOFIA DA C i r N c u NATUBAL

não apresentava problema etiológico uma vez introduzida m i -


teria infectada na contate sangüínea, resulta o envenenamento
do sangue (Kolcrscfaka não fora o primeiro a morrer de en-
venenamento do sangue resultante de um cone com bisturi
infectado. Por uma iroma trágica, o próprio Scrnmclwcis so-
freria o mesmo destino.) E, uma vez explicitada 3 premissa
omitida. »é-se que a expãcaçio faz referência a leis gerais.
L e u gerais estão sempre pressupostas quando se diz que
• a fÊttíoÉÊr evento da espécie C (por ctemplo-. dilatação de
um gás te* pressão constante; passagem de corrente pelo lio
de uma bobina) foi casam»» por um emento de outra cspück
F (por exemplo. *jscci«iea« do gás; movimento da bobina
através de um campo magnético). Para vé-lo. não precisamos
entrar aas complexas ramificações da noção de causa; batia
notarmos que o OWado 'Mesmas causas, mesmos efeitos".
aplicado a esses eu—ciidoi. Hnpkca dizer que toda vez que
ocorrer M evento d« espécie F, ele teia acompanhado de um
evento da espécie G
Dizer que uma eapbcaçio repousa em leis gerais não e
doer que a sua descoberta requer a descobena de k b . O que
ha de deesuro na rneaseao trazida po* uma explicação pode
provir as vezei da descoberta de um fato particular (por exem-
plo, l cxtttfnoa de um planeta ate então desapercebido; a
matéria infectada introduzida durante o exame pelai miot do
médico) que. cm virtude de leu gerais j i aceita», da a razão
do feaoaaeao expJsMmidam. Fm outros casos, como o das
raiai ao espectro de aidre^énio. o triunfo explanaióno consiste
M descoberta de uma lei de cobertura (no caio, a de Balmer)
ou. evesttualmentr. (te una teoria explicativa (ao caso. • de
Bohr). e. cm outros casos ainda, a maior façanha de uma
explicação está c n mostrar que, c exatamente como, o fenô-
meno tipUnamàum pode ser justificado por leis e dados so-
bre fatos, particulares f* conhecidos: é o caso da derivação cx-
pUnatória das leis de refexáo para espelhos esféricos e parabóli-
cos parando das leis básicas da óplica geométrica juntamente
com enunciados sobre as características geométricas desses
espelhos.

Um probtema cfplanatòtio não determina po* t i mesma a


especie dè descoberta requerida para sua solução. Leverrier
tentou explicar os desvios observados no movimento de Mer-
cúrio relativa mente ao calculado teoricamente pela atração
devida a uat planeta ainda nao observado. Vulcaoo, que deve-
A l LKIS I seu PATU NA EXPLICAçãO 73

ria Kr multo denso, muito pequeno c «lar colocado cnlre o


Sol c Mercúrio. Ma», ao contrário do que sucedeu com ai
anomalias de Urano, Vulcano nao foi achado. Uma explica-
«Ao satisfatória *o veio a ser encontrada multo ma» tarde pela
teoria da relatividade gencrall/ada. que justificou ai irregulB-
ridades de Mercúrio nflo pela existência de um elemento per-
turbador, mui dcdu/indo-u* de um novo sistema de k u .

LIH UNIVIIMMI* E CeNERALIZAVÔni M-|0FK1AI«

Como acahnmua .lc ver. ai leis desempenham um paprl


essencial nas cMplicavôci dcdutlvo-nomologiiat. Fornecem "
elo em ra/«o «In qual circunstancias particulares (indicadas
por Ci, C. . ., Ca) podem acmr para explicar a ocorrência
de um cvcnlo. R quando o explmuindum nao e um evento
particular, mni uma uniformidade como a dai caraclem1.,.»
doi espelhos 1i(> 'nioi e iwrabollcos, as Íris eipll.attvus mt»
liam uni siilcina de unlfnrmidadcs mais OOmpftfMlvo, das
quais ti unilurmidadc dada e uma cas.> .«;>. <i
\: In- i . v ^ s , ! ! . " ,n ••«|i|i.«coc« l i . KiUvominiolotriim
Um IIIII.I ,-uriclffrilUM básica em comum san. coirui pauare-
nii" J di/er, enunciados de (nnua miiveiul l m Imhai gr-
rait. um enunciado dessa «pecie MMVfM U M DMMlO umfor
nu enlre difcrei»'*'* fenômenos empírico* ou entre dilerentei
aspecios de um fenômeno empírico, t. um enunciado de que,
onde r quando ocorrerem condições de uma « p M l determinada
f, entlo, M'Hi|iii'. e sem cxccc.Bn. ocorrei*" ccrlai condicots de
...ili.l >.;• .. I, IN.IH t..,l.i, || Ml .".li'i.,H |l«l tl.-l. It|t.<
Nfll MC«Ui «.'«litidm. vartiol cncnnlrai k i t d. forma prob-bili».
lica e etplicac.de* baseadas nelas.)
Aqui vio ulguni exemplos de enunciado* em forma univer-
sal: sempre que u temperatura de um Bis aumentar, ficando
conslanic u sua pressão, o teu volume aumentará, sempre que
*c dissolver um *i'»lido num liquido, subirá o ponto de cbultcân
driso liquido, sempre que um raio de luz se refletir numa superfí-
cie plana, o angulo de rcllcxâo será igual ao ângulo de incidência,
sempre que HC partir umu barra imantada. o» pedaços obtidos
lambem serão íniüi; Sempre que um corpa cair livremente no
vazio, partindo do repouso e de uma altura não muito grande,
a diilâtum percorrida cm / segundos será de 4901> cm. A i l r i i
dai clincias nolurais são cm maioria quantitativas: estabelecem
74 FILOSOFIA D* CIêNCIA NATURAL

relações matemática* entre diferentes características quantitativas


do» sistemas físicos (pot exemplo, entre o volume, a pressão e a
temperatura de um gás) ou de processos (por exemplo, entre o
tempo e a distância percorridos cm queda livre na lei de Galileu;
entre o período de revolução de ura planeta e sua distância mé-
dia ao Sol na terceira lei de Kepler; entre os ângulos de inci-
dência e de refraçáo na lei de Snell >.
Estritamente falando, um enunciado que asseverai uma co-
nexão uniforme nâo será considerado uma lei se na\o houver
razoes para admiti-lo como verdadeiro: normalmente, ninguém
fala de falsas leis da natureza. Mas se isso fosse rigidamente
observado, os enunciados habitualmente chamados leis de Ga-
likv e leis de Kcplcr nío seriam classificados como leis. pois de
acordo com o q,uc se sabe hoje em dia eles só valem aproxi-
aadMKOte. e. como vçrcmos mais larde, a teoria física ex-
plica por que assim o c. Observações análoga* se aplicam as
leis da óptica geométrica. Por exemplo, mesmo em meio homo-
gêneo, a luz ni-> se move rigorosamente cm linha rela; pode
ser rncurvada por uma nesta. Usaremos entretanto a palavra
lei' de modo um tanto liberal, aplicando o termo também a
enunciados do tipo aqui mencionado, válidos apenas com apro-
ximação c com restriçio que • teoria justifica. Voltaremos a
este ponto quando, no próximo capitulo, considerarmos a ex-
plicação das k u pelas teorias.
Vimos que as leis invocadas nas explicações científicas de-
dutivo-nomológKas têm uma forma básica: 'Em todos os casos
cm que se realizam condições de espécie F. realizam-se também
condições da espécie G\ Interessa observar, entretanto, que nem
todo enunciado com cita forma universal, ainda que verdadei-
ro, pode ser qualificado como lei da natureza. Por exemplo, a
sentença Todas as rochas nesta caiu contém ferro' lem forma
universal ( f í i condição de ser uma rocha na caixa, C a de
conter ferro); contudo, mesmo sendo verdadeira, não seria con-
siderada como uma lei. e sim como uma asserçao de algo que
"acontece ser o caso'', como unia "generalização acidental"'.
Como outro exemplo, tomemos o enunciado: Todos os corpos
iOiaTlftiHM de ouro puro tem massa inferior a 100.000 quilo-
graosas'. Sem dúvida alguma, todos os blocos de ouro alé agora
examinados pelo homem estão de acordo com esse enunciado;
há, assim, uma considerável evidencia confirmatóna dele e ne-
nhum caso se conhece que o refute. E mesmo possível que na
história do Universo nunca tenha existido ou venha a existir um
As Luís C «EU PAPEL NA EXPLICAçãO 75

corpo de ouro puro com massa superior à de 100.000 quilogra-


mas. Sr assim f o u c . a generalização em pauta teria nao so-
mcnic bem confirmada, mas verdadeira. I todavia, i de pre-
sumir que sua verdade continuasse a ser vista c o m o acidentai,
porque nenhuma lei fundamental da natureza, concebida pela
ciínci» contemporânea, exclui a possibilidade de haver — o u
mesmo a possibilidade de produzirmos - • um solido objeto de
ouro lendo massa superior u 100 000 quilogramas.
Portanto, uma k l iicntilioa nao fica adequadamente de-
finida como u m enunciado verdadeiro c m forma universal: a
condição # necessária m i s nao sufkicnlc para as leis d o t i p o
em d t K u i d o .
O que t que distingue cnlfto uma lei genuína de uma
gcncrallzaçlo acidental? O problema c intricado e f o i discuti-
d o Intensamente nos últimos anoa. Vejamos rapidamrnle al-
gumas das principais idéias que emergiram do debate, que ainda
continua.
Uma notável c sugestiva diferença, notada por Nelson
Ckiodman.' t a legulnle: uma lei pode, a o passo que uma gene
raltiaçBn ocidental nao pode. acrvtr para w s i e n t a i nmdkimali
amiralaiuoli, lato i, anunciados da forma 'Sc A fosse f i i w s s e
«ido) u coto, e n l l o B seria (lerta l i d o ) o cato', onde de f a l o
A nao c ( n l o l o l ) o caso. A u i m , a •sserçAo 'Se esta vela de
parafina llvessc sido coloiada numa ilialcir u com Água fervendo
teria derretido' pode ter sustentada adurindo-se a lei de que
a parafina e liquida acima de nO giaut centígrado» <e o fato de
ser 100 grau* « m i g r a d o s o ponto de ebulição 4 a àguaj Mal
o enunciado T o d a i as rochas nesta caixa contem ferro' n l o
pode ser utftdo aiiiihijumcriic f w i a iiisicniar o enunciado contra-
fatuul 'Se e x c se l i o tivesso t i d o colocado na c a i u . c k conteria
ferro'. D o mesmo modo, uma let, a o contrário de uma gene-
ralização acidental mente verdadeira, pode sustentar rondVíionmi
sublu/itivoj, islo c, sentenças d o t i p o 'Se A vier a acontecer,
lambem acontecerá B', onde se deixa e m abeno se sim ou não
. ( venha a acontecer. O enunciado 'Se esta vela de parafina vier
a ser colocada em água fervendo ela derretera' é u m exemplo.

] Em «u rtniio "TI* ProPle» oi COMW<IKI*<I CwiAiia**li". " N ~ H I I »


mm. pMmiitn laptote da • • Hiro, Fmt. fliHait. and Frtiaal. J* té. <••
Putu lha BopnvMaiitll Co. Int. I*H>. Baw oBia l*>ama | i » l n n
l<»umaniaia omniu (wiianifi t o » M » » oi " T I I I M i m i i alai «ad
iHIocInlo Induuao, «lUUaandoiii Oi um puniu de tina •uIMUo IUPHIOI
76 FlLOSOfU DA OÍNCl» N»TV*AL

Estreita m;nle ligada a essa dJerença há ama ostra, eme e


de especial interesse paia nós: ama ki pode. ao passo qac lana
generalização acidental ia> pode senir da base para tana ea-
pÍ<caçâo. Assim, a fo&ão de «ma poxtkamr vela de parafioa orne
foi colocada cm água fervendo pode ser explicada, de corfanai-
dade com o eiomcmi D-Nl. prla referencia aos fatos parti-
culares que acabamos de •meio—r c a ki de que * parafina
funde quando sua It matracara aferapassa 60 graus ceatiçrados.
Mas o falo de uma particular rocha oa caiu cooter ferro não
pode ser analogmmcMc tapl içada pela referencia ao enunciado
geral de que todas as rochas na u i u contém ferro
Poderia parecei plaasttd doei, à fuiaa de uma distin-
ção adicional, que o ãaamo maneia do serve ilaamcuncnu
como uma formulação coawm—lemtnlt breve de uma con-
junção finlla do tapo: 'A racha r, contém ferro, e a rocha
i contém ferro. . r a rocha tn contem feiro*, ao pasao
que a generalização sobre a parafina refere-se a um con-
junto potencial me ase iafaãk» de cava particulares c portanto
nao pode icr paraftaacaau por ama conjunção fimta de caaa-
ciadoi que descrevem casca intavaluati. A dáOiaçao c iates -
uva. mas c ixaperada Para começar, a aracrakzaçao Toda*
ai rochas ncUa cana coaaèm ferro' nio aos da ée fau> qoaniaa
rochas cintem na caiu, acm da nomes ',. <•. -t. Il rocaat
parucularci. Logo. a teatença acral não e cquivakntc lof>
camente a unia coetpinçao Dasta do iipo mencionado Para
formular uma conjunção apropriada, necessitariamoi de ama
informação r**fT~T'. que poderia sei obtida colocando ama
etiqueta numerada em cada rocha il< caixa. Akm dato, a
Arncrakzatão 'Todo* ca corpo* de MM puro tem amtt infe-
:ior a 1UCI.ÜO0 qaüo£rama*' u u • * • anaM H*IK> aau lei
mesmo que ciiutsse ao Uarteiw unu infinidade de corpo»
feitos de oura. Assim, o criscrio em tela falha por varias
razões.

Finalmente. <>aem*ios eme aa enunciado de forma uni-


versal pode serrtasamcaabcomo «ma lei mesmo sena ler sido
verificado em alnaa cato paràcalar. Um exemplo é a sen-
tença: 'Em cmaJoaer corpo cekste que tenha o mesmo raio
que a Terra c «ma massa doas vezes maior, a queda feVre
a partii d* repouso obedece ã ki « = *,9i: m Pode oao haver
no Universo inteiro objeto qae lenha eme raso e essa massa,
e contudo o enunciado leu o caráter de uma hâ. Pots de
(ou ames, uma estreita aproximação dek. como no caso da
As LEIS I u U PAPBI NA EXPLICAçãO 77

lei de Galilcu) decorre da teoria ncwtoniana do movimento


e da gravitaçlo cm conjunção com o enunciado de que a ace-
leração de qued' livre na Terra é de 9,8 metros por segundo
por segundo; tem assim um forte apoio teórico, exatamente como
a lei mencionada anteriormente da queda livre na Lua.
l.i observamos que uma lei pode sustentar enunciados
condicionais subjuniivos c contrafaluais sobre casos poten-
cial*, bto #, w*rc casos paiticularcs que possam ocorrer ou
Cpoderiam ter ocorrido mas nlo ocorreram. De modo aná-
a teoria de Ncnimi «uiicntu nosso enunciado geral numa
versão subjuntiva que íugcre suo condição do lei, a saber:
Tm qualquer corpo ccktlc que pudesse existir com o mesmo
tamanho da Terra mas com o dobro de sua massa, a queda
livre obedeceria â fórmula » 9.9/' metros. Ao contrário,
a generalização *°brc as rochas não pode ser parafraseada como
•firmando que qualquer rocha que ciiivcsse na caixa conteria
ferro, nem esta ultima afirmação teria evidentemente qualquer
apoio Mor K ii
Analogamente, nó* riflo usailaiiun im*ia generalização no-
bre l massa di*s cornos de ouro intime mo-Ia // pura
apoiar enunciado* como esie: 'Dois corpot da ouro puro cuias
massas individuais tomada* di« mim de MM1.IKHI quilogramis
nio podem ter fundido* para formar um corpo unien; ou, se
a fusão foi possível, a massa do corpo resullanle terá menor
que 100.000 kg', po» as teorias vigentes da Hik* e da Quí-
mica não excluem a espécie de fusão mencionada nem Impli-
cam que li i um perda de massa do valor referido. Por-
tanto, ainda que a generalização // fone verdadeira, lito é.
ainda que nenhuma exceção a cia viesse a ocorrer, isso cons-
tituiria mero acidente ou mera coincidência, a julgar pela teo-
ria corrente qi* permite a ocorrência de exceções a //.
Depende, pois, cm parte das teorias aceitai na época a
decaao «obre vt um enunciado de forma universal é ou nio
considerado conto uma lei. Issu nlo quer dizer que •'generali-
zações empíricas" — enunciados de forma universal que estão
bem confirmados pela experiência mas que nio se baseiam
numa teoria — não sejam classificadas como leis: as leis de
Galilcu. de Keplcr c de Boyle, por exemplo, foram aceitas
como tal antes de receberem uma justificação teórica. A rc-,
Icvineia da teoria e. ante*, a seguinte: um enunciado de forma
univcrtal, quer esteja confirmado empiricumente, quer nio te-
nha sido ainda submetido u unia verificação, será classificado
78 FllOSOFl» DA ClfííClA NATUBAL

como lei te for implicado por ama teoria aceita (os ._ .


dos deste gênero são freqüentemente chamados de leu teóricas); !
mas. ainda que venha a ver bem confirmado pela experiêncü
e presumido como verdadeiro de fato. não seri qualificado
como uma lei se eicluir certas ocorrências hipotéticas (como
• fusio de dois blocos de ouro com massa resultante superior
a 100 000 quilosramas. ao caso de nossa rencraluaria / / )
que uma icoria aceita considera possíveis.4

At BXFUGAÇAfiS FBOBAtlLlsTKrAS; SEUS H.KDAMIHIO»

Nem toda explicação cientifica cst> baseada em leis de


forma estritamente universal Por exemplo, pode-se explicar
que Paulinho esleja com sarampo dizendo que ele apanhou a
doença de seu irmlo. que a tivera, o gravemente, aipins dias
antes. Ainda uma vez, o que se faz ç hgar o evento exptman-
dum a uma ocorrência anterior, a oposição de Paulinho ao
urampo; diz-se que esta fornece um* explicação porque existe
uma conexio cnire ficar perto de um doente d* sarampo e
apanhar a doença Entictanto. essa eoocaao nio pode ser ex-
pressa por uma lei de forma universal, pou nem todo caso de
cxposíçlo «o sarampo produz contagio. Tudo quanto se pode
diicr f que as pessoas expostas ao sarampo contrairão a doen-
ça com alia probabilidade, ato é. numa alta percenlaeem de
iodos os casos. Enunciados gerais deste tipo, que examinare-
mos daqui • pouco m*is de perto, serio chamados ItU de
forma probabiUstica ou. abreviadamente. (eU ptohabiturtna
No nosso exemplo, enfio, o exptMOW coosuie na lei pro-
habilistica que acabamos de mencionar e no enunciado de que
Paulinho esteve cxposiu ao sarampo Ao contrário do que
acontece na explicação dcd<ihvo-iso*tol6pca. esses enunciado*
eipJanufU nio implicam dedutivamente o enunciado tzptmm-
dum de que Paulinho apanhou sarampo, pois nas infcrèacias
dedutivas de premissa* vcidadciras a conclusio e invariável-
menlc verdadeira, ao pjsto que neste exemplo t claramente
possível que os enuna.iJm npUmani sejam verdadeiros sem
que o seja. o txpkmamlum Diremos, abreviadamente, que o

MM.O(.-»tit.. idUlOBa» •»
Hanom. Bim a «tuVS.
As (-éIS E SEU PAPEI NA EXPLICAçãO 79

explanara implica o explanandum. nio com "certeza dedutiva",


mas somente com crueza aproximada ou com alia probabi-
lidade.
O argumento eaplanatório a que aisim se chega pode ler
esqui matizado da seguinte maneira:
( alia • probabtltdfff p l l l pnaea* M(H>ttl|
•O u n i n p i da apanharem • acene»
Paulinho t>l»v» tlpuMO *° MunipO
IIn altamente píi>v»vel|
Paulinho apanhou t a i u n t f
Na CiHtumcira jprclCAIaÇao de um argumento dedutivo,
que usamos no esquema D-N) visto antcriormcnCe. a conílu-
Uo fica «eparada dai premíiiai p<«r uma UV linha, o que ative
para indicar que ai preitiiuai iinoticam logicamente a concluído.
A dtipla linha usada no ultimo esquema indica que At "pIÇ-
mista*" (o explanam) taxem que a "conclusão" (a sen-
Iene* txpUnmtdmn) veja mala ou menos provável; o grau
de probabilidade fica lugcrldo pela notação enlre colchetes
Argumento* deita cipíeie lerlo chamado* etplkações prtt-
rWM/lifHMr Corno ii- dcpicciub d.i nmu ditcuiiio, uma M-
plicaçA» pmhabilliiica tem ceiiai caractcrtilicai batkiii em
comum com o corrctpundcnlc tipo de rxplicacao dedutivo-rut-
moiofico. Km amboi oa caioa. •> evento dado t explicado pela
referencia a outroi. com o* qu.ni o rvcntn •> • pUmimdiim fita
ligado por leii Uai num caio A* leu lio de forma univei*al;
no outro, de foi ma probabiliaiiça F «quanto uma explicação
dedutiva mostra que pela informarão contida no explanam o
rxpianaiulum deve wr esperado com "certeza dedutiva", uma
ciplit*,'âi) indutiva mostra apertai que pela informação cMtli-
da no explanam o explananJum deve »er ciperado com alta
probabilidade, e talvez com "certeza pratica"; desta maneira
í que o último aigumenio satisfaz ao requinto de relevância
ciplanatoria.

PaOBABItmADES ESTATÍSTICAS E LEIS PROBABILfSIlCAS

Devemos agora considerar min de perto m doli iraçoa


característicos da explicação prObabilistica que acabamos de
anotar: as kit probabilisticas que ela invoca c o gênero peculiar
de implicação probabilistica que liga o explanam ao explana"-
80 FHOSOFIA D* CIêNCIA NATUBAL

Supotüiarnos que vr façam sucessivas extrações numa urna


contendo várias bolas de momo umiaho e de mesma massa.,
mas não acrcss^namcntc de ««ma coe. Em cada extração
rclíra-s; somente orna bola e anota-se a sua cor. Recoloca-se
ca tecida a bola aa orna. -cujo conteúdo c completamente
matutado aMcs da sova extração. Tem~«c assim um exemplo
-z picccsao fonuilo ou 4e experimento fortuito. conceito que
em breve caracterizaremos com mais poemenores. Nos nos re-
ferimos ao procedimento que acabamr» de descrever como o
experimento U. a cada extração como ama ciecução de V e
ã cor da boto retirada ooio o rcsuhado da execução
Sc são brancas iodas as bolas da urna, então c verdadeiro
um enunciado de forma estritamente umvcrsal sobre os resul-
tados produzidos pela execução de U: toda extração da urna
produz uma boto branca ou. simplesmente, produz o resultado
B. Se sorucnle 600 das 1000 botas contidas na urna são bran-
cas, então c verdadeiro sobre V um enunciado geral de forma
probatoiktijca a probarxkdade para uma execução de V pro-
duzir uma boto branca, ou o letuludo S. í 0.6: em limbolou

st MUt m o>
Analogamente, a pfobabddadf de obler cara como rciul-
lado do experimento fortuKo *# de atirar uma moeda sem
defeito* ê dada por

ftj HCMÍ = M
c a probabilidade de obter um és como resultado do experi-
mento lortuito de lançar ura dado refutar í

ei HAJU = i/*

Q-: :.:nfcam MM emUmmmoal Dt HONn C00I MM


oumiio naiio di* ulgada. chamada às vezes de concepção "clás-
sica" da tvobabutdade, o enunciado ul teria que ser inter-
pretado da sepunte maneira, cada execução de V efetua uma
escolha de uma entre 100» possibilidades básicas, ou alterna-
tivas básicas, individualmcMc representadas pelas bolai na urna:
dessas possíveis escomas. 600 são "favoráveis" ao resultado B:
a probabüidad.- de tirar uma bola branca é simplesmente o
A l I-EIS | StU PAftl. NA EXU.II \'..v Kl

quoclcnte entre o numero de escolha* l.ivn-.,.,.. disponíveis c


o número de ioda* as «colhas possíveis, íslo é, 600/1000. A
in1CfpIClnS'Uo iMwiifl. de f>) c c) seria unàloga.
Mas esu cafacicrii.ic.ao C inadequada; se antes de cad.i
extração as 600 bolas branca» estivessem colocadas abaixo das
400 restantes — nova especie de experimento com a urna que
chamaremos V — o quocicntc entre us alternativas bátkas favo-
ráveis c as possíveis continuaria o mesmo, mm a probabilidade
de tirar uma bola branca wna menor que em V, onde houve
mistura completa das bolas antes de cada extração. A con-
cepção clássica leva Cm conta esta dificuldade exigindo que
as illlcrnaiitjit básicas, mencionadas na sua definição de pro-
babilidade, sejam "cqUipotsivcji" ou "cqul prováveis" _ exi-
gência presumivelmente violada no caso do experimento V
Esta, cláusula adicional levanta a questão de como definir
cqllipossibilidade ou eqüiprobabilidade. Ouestão prnosa c con-
trovertida, passaremos por cinta dela porque — míífflo admi-
tindo que a cqiliprobabilidade tivesse Vido satisfatoriamente
caractcnx»da - • a concepção clássica ainda assim seria Inade-
quada, puis SC atribuem lambím probabilidades a resultados de
capcrimcnlul foituito» para o* quais nau se conhece maneira
plausível de assinalar alternativas básicas cqulpruvAvcli. Por
exemplo, pura o oxpírimcnlo ftutuito /> de lançar um dado
regular, as tela face» podem ser consideradas como represen-
tativas das alternativas cquiprováveis; mas atribuímos probabi-
lidades u resultados como tair um ái, OU um mlrncro Impar
de pontos etc. lambem no caso de um dado carregado, mesmo
K m poder indicar quais resultados básicos seriam eqliipiováveii.
Tara chegarmos a uma interpretação mais satisfatória dos
nowvs enunciados prohubiliitK-os, consideremos como se pode-
ria avaliar a probabilidade de sair um ás com vim dado que se
sabe não ser regular. Obviamente poderíamos consegui-lo fazen-
do um grande número de lançamentos e achando a freqütneia
relativa, Isio í, a proporção dos casos em que o ás ficou para
cima. %c, por exemplo, o experimento D' de lançar o dado
c realizado 300 u-/,- e o ás fica para cima em 62 casos, então
a freqüência relativa 62/300 seria considerada como um valor
aproximado da probabilidade pf.1.I>') de obter um ás com
o dado. Procedimentos análogos poderiam ser usados para es-
timar at probabilidades associadas com o lançamento de uma
moeda, a rotação de uma roleia etc. !>:• modo semelhante, as
$2 I I I O V í I I A DA CiÍNt IA NATURAL

probabilidade* a*»o."iadai com a desintegração radioativa, com


as transicòei cnnc diferentes estados de energia atômica, com
processo* genético» cK'. M O d> L i mi nadas pela avcrifiiaciio das
ÍVcqücncia* relativas corrcipondcntc»; entretanto, IMO é muitai
vc/c* feito por iticioi altamente indireto» c n l o pela contagem
do eventos atômico» individuaii ou evento» individual da» ou-
tra* cípctlc» relevante».
A Interpretação cm termo» do freqüência* relativa» ic apli-
ca lambem a enunciado* como ^ ) c c ) , concernente* a resul-
tado* do lançamento de uma moeda perfeita (isto 6. homogínca
e rigorosamente cilíndrica) ou do lançamento de um iludo re-
gulai (hoitiouCno) >' iiíiifcwaiiiriilü i t i h i u i ) : n i\\w iiilvioti.i
ao cientista (ou ao jogador, nesio cato) act fa/.-r um anunciado
probabilfttico 6 0 frcqilenciu relativa com <jue um ccil» r«ul-
udo H pode ler operado numa longa terie de rcpellçoc» tte
certo experimento forluito f, A contagem dai alternativa» I».
sica* "cqülprnvávcli" c dai que, dentre ela*, 1O0 "favoráveis" a
R. pode K r considerada como um recurso heurístico paro adivi-
nhar a ircqUCncii relativa de K. P. na verdade, quando um
dado ou uma moedn regular t i o lançados um grande mimem
dr vc/tt, ai d i l i i i i i i r * uUH tcntlum u ficar pjrn cima com
tonai frcqiieinii IMO podenu >er onerado pur conildcraçoei
de limelria. du gênero freqüentemente unido na foimiçttn da»
hipótese» fiiica-, put» nono conhecimento empírico nlo for-
nece railo alguma para se ciperar que qualquer umA tia» fa-
ce» icja maii favorecida que a» outra*. Tai* considerações «ao
muitai ve/.ci úteis heuriiticainente, mai n l o devem K l cill-
madai como certa* mi como vcrdndci evldcntei por n itveimni:
suposições de ilnutrla m u plausíveis, como a do principio de
piiidJtlc. foram refutada* pula experiência no nível lubaiAmko,
Suposiçôe» sobre cqúiprnbahilidadc» e i t l o portanto lemprc H>
icita» a corrcçuo à lut do» dado» empírico* tobre ai rcai* fre-
quencias relativa» do fenômeno cm questão. Este ponto fica
ilustrado também pelai leiMia* estatísticas dos gases docnvol-
vldai por Iluw e EinMcln e por 1'crmi c Dirae. respectivamente,
que »e apoiam ciii diferciil.» suposições sobre a eoiilprobahili-
dade da» dutrlbuK'oc» de particulai num espaço dai /asei.
A» probabilidade* especificada» na» lei» probabílisiicai rc-
prísintam portanto freqüência* relativas. Entretanto, náo po-
dem, a rigor. ier definidas como freqüência» relativas numa
longa serie de repeliçòcs do experimento foituito relevante.
Poi» a proporção, di«amm. doi atei obtido» pelo lançamento
AS U l S B SEU PWEL NA EXPLICAÇÃO 83

de u m cotio dado mudar*, ainda que m u i t o pouco, à medida


que i e prolonga u sírlc de lançamento» c mesmo c m duas
séries que tem cxniaincnlc a mesma extensão o número de u c *
6 comumenlc diferente. Acha-se entretanto que, t medida o u r
cresce o número de lançamento», a freqüência n l a t l ' i J i . - I . I .
u m do» diferente» re»ultado» tende a m u d a r cada vez roenos,
ainda que o* resultado» do» sucessivos lançamentos continuem
a vanar de maneira irregular c praticamente ImprcdfzívcJ. Esta
c em geral a característica de u m experimento for tuilo F com

resultado» Ri, Ri Rn', exccuçòc* sucessivas de ' díiy u m


ou outro des»c» rc»ultadi» de uma maneira i i . g u l . i i , n i u a
freqüência relativa do» resultados tende a se tornar cstàvd
quando o n ú m : r o de execuções aumenta. E as probabilidade»
dos resultado» p(R,,Fl, p(Rt.F). . p(R..F) podem *er
considerada» c o m o valore» ideais que as freqüenn*» reais ten-
dem li assumir ã medida que se tornam cada vez mai» estivei».
Por conveniência matemática, as probabilidades são definidas
iis vezes como o» limites matemilicos para o t quais convergem
as freqüências relaiiva» quando o númcio de exccuçôe» aumenta
inderinidamcnlc. Mas essa definição tem ccitos defeitos concep-
t u a l l c, c m estudo» matemático» m a i l recentes tobre o a u u n t o .
o conteúdo empírico almejado para o conceito de probabilidade
* deliberadamente, c por boa» razoe*, caracter i n d o de modo
m a i l vago por meio da chamada interpretação estatística da
probahilidadf; *
O enunciado

significa que numa longa serie de execuções d o experimento


f o r t u í l o F é qua*e « r i o que a proporção dos ca»o» c o m resul-
tado R seja próxima de .1. O conceito de probabitidad* esta-
tística assim caracterizado deve ser cuidadosamente disúnguido
d o conceito de probabilidade lógica ou indutiva, que conside-
ramos n o capitulo 4. A probabilidade lógica c uma relação
lógica entre enurttiados precisos; a Wntença

tiH.K) = I

iNImiii <!• «(In»»» <»mo um tMM •Io •f-i-Hi.úm • • - . - i * « r - «i I! N i » l


f>«(i r l>i H «W tl*«t, .) /v.,*.(.tl,<, í I - K I » . U m i i l » •* <lt"*m
1910). NOIU XfUO ill MMI|ll(l«tt> •«•IIMK» H l l l • Ú**» f " I I Cf
»•• MildM l*H« A> M« Imo * ( - « . - i - l . - l M..-W .1 «XMW
rnnntH U . t - i n " I',.,. |*4t)
84 FILOSOFIA DA CIêNCIA NATURAL

assevera que a hipótese H c sustentada, ou tornada provável.


com grau / pela evidencia fo:mutoda DO enunciado K. A pro-
babilidade estatística é uma relação quantitativa entre espiões
reproduuveis de cvrnti'*: uma certa espécie de resultado, R,
e uma certa expede de processo iortuito. F; representa, poiui
modo, a freqüência relativa com que o resultado R tende a
ocorrer numa longa serie de eiecuçôei de F.
O que os do« conceitos possuem em comum sao suas
caracttrluicas matemãticas: r.mbos satisfazem ao* princípios bá-
sicos da teoria matemática da probabilidade:
a) Os valore* numéricos potáveis de amba* as probabi-
lidades v.iriam de 0 a 1:
O < n*f) < I
O í tiHJCt < I
b) A probabilidade para que ocorra um de dois resulta-
dos que te excluem mutuamente c a soma das probabilidades
do* resultados tomados separadamente; a probabilidade, com
qualquer evidência A', para que valha una ou outra de duas
hipóteses que se cacluem mutuamente, e a toma das probabi-
lidades respectivas:
S* / » , A. M ttclucen mutuamente. eatio
;(*, i* í , F| r HJti-F) + tiKuF)
Se H,. H, slo nipMnet que *e eicfuera lopc•<•*•>•. >M'O
ciH, «i H..KÍ = ctH.Jit -t eíHuK)
c) A probabilidade de um resultado que ocCte necessa-
riamente cm todos os casos — tal como R ou nio R — í I ;
a probabilidade, com qualquer evidencia, de uma pipótese que
é logicamente (e ncslc sentido nctcssaiijroente) verdadeira,
tal como // ou nao " . é I:
*(* ou nao A, Fl = I
. ( « ou nio H. Kt = l
As hipóteses cientificas que tini a forma de enunciados
de probabilidade estatística podem ser. e o sao. verificadas
pelo exame das freqüência» relativas cm longas series de e*e-
cucdtt; e. falando cm linhas gerais, a confirmação dei** ê
julgída cm lermos da proximidade do acordo entre as proba-
bilidades hipotéticas e as íreqúcnciaí observadas. A lópca de
A* U « f v u P*riL NA ExrLiCAçAo 85

u i i verificações, entretanto, apresenta problemas e»peciai* que


pedem p r um r u m e , ainda que breve.
Comidcremo» a hipótese. H, de que a probabilidade de
lançar um ás com um certo dado seja 0.15; cm notação con-
ciu p)A.D) — 0.15. onde /> é o experimento focluito de
lançar o dado em questão A hipowie H nio implica dedu-
tivamente quantoi ases sairão numa série íinita d ; lançamento».
Nfto implica, por exemplo, que exatamente cm 75 dos primeiro*
500 lançamentos sairá um é», nem meuno que o numero de
«e/e» cm que sairá um ás esteja compreendido, dlgamoi, entre
50 r 100. 1-ogo. ic a proporção do» ases r:alm?nte obtida
num grande numero de lançamento* diferir Considerável mfrilf
de 0.15, Uso nio refuta // no sentido em que uma hipótese
de forma estritamente universal, como "Todo* M ciines sfto
brancos", pode ser refutada por um to contia-cicmplo. como
o de um cisne preto, em virlude do argumento modm tolltns.
Analogamente, se numa longa serie de lançamentos a proporção
do* «MS aparecer d» (ato muito prosima d* 0.15, isso nlo
confirma / / n<> sentido em que uma hipótese f,,a confirmada
pela descoberta de que uma sentença /, logicamente implicada
poi ela. e de falo verdadeira. Pu». Miie ülluihi uso, a hlrWiir-uj
M t V t n / po r implicaçlo lógica e o resultado da verificação
< confirniatorio no sentido de mostiar que uma cerla parta
do que a hipótese usicvcia e de falo verdadeita Mas nada de
estritamente joihign fica mostrado para // por medidas do fr«
quéncia confirmatorias, pois II nlo assevera por implicação que
a freqüência do» ases numa longa serie de lançamcnlo» seta
certamente muito próxima de 0.15.

Mas embora / / nao impeça logicamente que a proporção


dos ases obtido» numa longa serie de lançamento» posta a f i l -
iar-»* grandemente, de 0,15, certamente implica logicamente
que cases afastamentos sejam altamente improváveis no icnlido
«latistico, isto é, que se repetirmos um grande número de
veie» o eipenmcnto de executar uma longa tíric de lançamen-
tos (digamos, 1000 deles por série), então somente uma dimi-
nuta proporção dessas longa» series produzir* uma proporção
de ase» que difere consideravelmente de 0,15.
Admite-se habitualmente que o» resultados de »uces»ivot
lançamentos de um mesmo dado »cjam "estatisticamente inde-
pendente»", isto i, gr-oiro modo. que a probabilidade de obter
um as num lançamento nlo dependa do resultado do lançamen-
to precedente. A analise matemática mostra que, juntamente
•86 FILOSOFIA DA CIêNCIA NATURAL

cora o U suposição de ndepeodcKU. nos» hipótese H deter-


mina dedutivamente a probabilidade estatística para qoc a pro-
porção dos ases obtidos em n lançamentos não difira de 0,15
além de uma quantidade determinada. Por exemplo, c de 0.976
a probabilidade para aae, suma serie de 1000 lançamentos, a
proporção dos ases obtidos fique cnüx 0.125 e 0,175; c c de
0.995 a probabilidade para que. rm 10000 lançamentos, a
proporção dos ases fique entre 0.14 c 0,16. Pode-se dizer catão
que, tendo H verdadeira, ê praticamente certo que numa longa
serie de execuções a proporção dos ases diferirá muito pouco
da probabilidade hipotética 0.15. Logo, se a freqüência obser-
vada de um multado nana longa serie não estiver próxima
da probabilidade a ela atribuída por ama hipótese probabil btlca,
então é muito provável çue a hipótese seja falsa. Neste caso,
a freqüência observada coma como uma dcsconfirmaçlo da
hipótese ou como redução de soa credibilidade; e se for achada
uma evidência descoafinnadora suficientemente forte, a hipótese
seiá considerada como praticamente refutada, embora não logica-
mente, e terá por isso rejeitada. Analogamente, uma concor-
dlncu estreita entre probabilidade hipotética c freqüência obser-
vada tenderá a confiramu a hipótese probabiIJUica c pode levai
a tua aceitação Para que hipóteses probabülsucas sejam acei-
tai oa rejeitada* i luz da evidência cstatiüica fornecida pelai
freqüências observadas, ai que apelar para normas apropria-
das que deteiaMaaráo «) quais demos dam freqüência* obser-
vadas em relação às probabilidades enunciadas por uma hipó-
tese podem ser considerado* conto rudes para rejeitar a hipótese
c D) com que aproximação devem as freqüências observadas
concordar com a probabilidade hipotética para que se possa
aceitar a hipótese Easas narinas podem ser mais ou menos
rígidas conforme a escolha e serão de uma severidade variável
•a» geral com o contexto e com os objetivos da pesquisa cm
questão- Em linhas geras, a severidade dependerá da impor-
tância que te da. no contexto, á conveniência de evitar duas
espécies possíveis de erro: rejeitar a hipótese que esti sendo
examinada apesar de ser ela verdadeira e aceitá-la apesar de
falsa. A importância deste ponto é particularmente clara quan-
do a aceitação oa a rejeição da hipótese serve de base i ação
prática. Por exemplo, se a fupecese se refere a provável efi-
cácia e MgurjTÇ' d; uma sova vacina, a. decisão wbre sua
aceitação terá que levar em conta o grau de concordância dos
resultados eflatnôcos com as probabilidades especificadas pela
As I.E1S E Sl;u PAPtl. NA EXPLICAÇÃO 87

hipótese, mas lambem quão seria seria a conseqüência de acci-


1.11 a hipótese c agir em conformidade (»\ §„ inoculando crianças
com a vacina.) quando de falo cia c lalsa ou de rejeilat a
hipótese c a^if cm conseqüência (e. jf.. destruindo a vacina c
modificando ou interrompendo o processo de manulaiuto)
quando de l.nn a hipótese é verdadeira. Os problemas com-
plexos que surgem neste contexto formam a matéria da teoria
das verificações c decisões estatísticas, que se desenvolveu nas
décadas recentes baseada na teoria matemática da probabilidade
e estatística.*
Muitas leis e muitos princípios teóricos importante* da»
Ciências Naturais sao de caráter probibilUlieo. embora Iftjtftt
freqüentemente de forma mais complicada que os simples enun-
ciados de probabilidade que discutimos. Por exemplo, de acor-
do com a teoria física corrente, a desintegração radioativa é
um fenômeno forluilo cm que os fllomc* de cada elemento
radioativo possuem uma probabilidade cataclctfstica de dcstntc-
I'MI durante um determinado período de tempo. As leis pro
babilístkat correspondentes slo usualmente formulada» como
enunciados que dio a "vida média" do elemento referido por
eles. Aíiiin. ;u leis de que a "víd.i média" do tlidio' 1 " é de
1620 unos c a do polônio'" é de 3.03 minutos si|[nificam
ser do 1/2 a probabilidade para um átomo de rádio'" dcsln-
teurnr-se dentro de 1620 anos c ser de 1/2 a probabilidade
para um átomo de polônio dcsinteurar-ic dentro de 3,05 mi-
nutos. De acordo com a interpretação estatística citada ante-
riormente, Ckiai leis implicam que, de um grande número
de átomos de rádio*" ou de polônio111 existentes a um
certo instante, praticamente a metade continuará existindo ainda
1620 anos ou 3.03 minutos depois; a outra parte desintegrou-se
r a dioa l ivãmente. Outro exemplo bem conhecido é o das hipó-
teses feitas em teoria cinética paia explicar várias umformida-
des no comportamento do» gases, inclusive as leis de Termo-
dinâmica: sã'j hipóteses probabilísticas sobre a regularidade es-
tatística nos movimentos e nos choques das moléculas.
Convém finalmente acrescentar algumas observações sobre
a noção de lei probablllstica. Poderia parecer que iodas ai leu
ciciiiifuai dcvciicni tu clísiilícadai conto prubiíbiliMicu, de vez

A Soorc o iiumio. w » D. I i n f II Hoini


Yí.t» John W*,, A SM,. |.< 1WÍJ.
*8 FILOSOFIA o* CIêNCIA NATURAL

que a evidencia de apoio achada para elas c sempre a de um


conjunto de descobertas e verificações finita c logicamente ín—
conclusivo-, que lhes pode conferir somente uma probabilidade
mais ou menos alta, Ma« esie argumento esquece que a dis-
tinção entre leis de forma universal c leis de forma probabdís-
fica não se refere à força do suporte evidenciai para os dois
lipos de enunciado, mas ã forma deles, que reflete o caráter
lógico do que eles afirmam. Uma lei de forma universal é
essencialmente uma afirmação de que em todo* os casos onde
são realizadas condições da espécie F. realizam-se também con-
dições da espécie G; uma ki de forma probabilistica assevera,
essencialmente, que sob certas condições, que constituem a
execução de um experimento fottuito H, uma certa espécie de
resultado ocorrerá numa determinada peretntagem dos casos.
Verdadeiros ou nio. bem amparados ou mal amparados, esses
dois tipos de afirmação diferem quanto ao caráter lógico e e
sobre essa diferença que se baseia a nossa distinção.
Com» foi vista antes, unia lei de form U l t W l *SM|n
que * então (!' não é de modo algum o equivalente abreviado
de um relatório onde se rejfistrou » associação de uma ocorrên-
cia de C a cada ocorrência de F ate então examinada Poli
contem também assereões sobre iodos os casos nio examinadas
de F. passados, presentes e futuros; e implica, ainda, condicio-
nais contrafatuais e hipotéticos sobre, por assim dizer, "pos-
síveis ocorrências de ****: è justamente essa característica que dá
a essas leis o seu poder wplanatório. E o mesmo se pode
dizer das leis tle forma prubabilística. A lei que d a ser a
desintegração radioativa do- ridióm um processo forluito com
uma vida média associada de 1620 anos não eqüivale eviden-
temente a um relatório sobre aí taxas de desiategraçâo que
foram observadas em certas amostras de rádio™. Ela refe-
re-se ao processo de desintegração de qualquer corpo de rá-
di»-**. passado, presente ou futuro; e implica condicionais sub-
junitvos c contrafatuais como. por exemplo: se dois corpos d;
rádio 13 forem combinados num só, as taxas de desintegração
permanecerão as mesmas como se os dois corpos se manti-
vessem separados. Aqui também esta é a característica que di
ás Ira orooabüisdcas tua forca preditiva ç çsoliaatórJa.
AS I H-- E »EU P A P Í L NA EXPLICAÇÃO KS

O CARÁTER INI>t"IVO DA FXPMCAlAO PBOBAliLlSTKA

U m do» tipo* m i m timplc* de explicação probabtlluica e


o que « t i l i m i t a d o pelo noivo exemplo do aarampo de Pauli-
nho. A formn (tcral d c i i c argumento cxplanatório pode ver
enunciada do icjtuinlc modo:

•<•?.*') í p<*»lmo d i i
i i um cato a* P
[In iliarmnir provável(
I i um e«»o .tf R

Ora, a alia piobal-il Idade que. conforme cMá indicado cn-


Ire colchete», o e*phinan\ confere ni ixitUmnndum. OMMMMM
n l o i uma probabilidade c i i a t d t l c a , p o l i caracteriza uma re-
laçAo enlrc tciilcncai " n l o entie (cípcclei de) evento». Po-
drmiiü ili/cr, eni[tií|íii»do um Wfmo Iniroduiido no capitulo 4 ,
quo a probabilidade cm u u c t t l o reprcMnla a credibilidade ta-
vional d » r A p t o i r W t c r i , dada • I n f o i m i ç l u forneuda pclu r i -
l>lmmu\ « como foi notado anteriormente, na medida cm que
c i t a n t \ B o pode *ei intciprclada «orno m i n pr.>tul>lidao1l ela
reprcienla uma probabilidade louica ou Indutiva.
l i n i algum t u t o i iimple*, exlitc um modo natural e óbvio
do c x p i l m i i numericamente cita probabilidade. Se, por e a r n v
pio, toi determinado o valor n u m í t l e o de i>(R.Ft num argu-
l i m i t o ilo i l p n t|Uc v i m i n de c o n u d e r i r , cnlfto %wn n i o á v c l
diaer que ti piobjbllldade Indutiva conferida pelo explanam ao
rxplammdum u m cite m c i m o valor numérico, • C K p U t K l o
probabilfilleu resultante tem a forma:

P ( I W • '
I t um c a » d* t
, r um I* II

Sc a ctptanaiu for imil» complcao. a determinação dai cone»-


pondenict probabilidade» indutivaa para o expUtnandum levanta
problema» dlflceit, em parte ainda n l o retolvidot. Ma», aeja
o u n l o posilvcl .ilribuir probabllidadci numérica» exalas a Io-
d a i e i m i explicações, a i con»)dcrac,ôcs prccedcnici m o i t r a m
que quando um evento é explicado mediante leu p r o b a b t b i t K u .
o explanam confere ao eiplanandum somente um suporte indu-
tivo m a i i ou me(iM fone. Pudernut c n t l o ditiinguir a i e i p l i -
caçoe» deduitvo-nomoiogicai da» explicações probabiliiticas dl-
90 FILOSOFIA DA CIENCIA N A T U H A I

zendo que ai primeiras efeiuam uma subsunção dcdativa sob


l í i i de forma universal c que as últimas efetuam ama subsurieão
indutiva sob lets de forma probabilística.
Diz-se às vezes que justamente por causa do seu caráter
ndutivo. uma interpretação probabslisika não explica, a ocor-
rência de um evento, já que o explanam não exclui lógica-
menu a sua nãt)-oconéncia. Mas o pap:l importante e cada
vez maiof que as leis c as teorias probabilisticas desempenh-tm
na cãêacia c nas suas aplicações far que w t i preferível
considerar as interpretações baseadas nesses princípios, também
conto explicações, embora de espécie menos rigorosa que as
de forma dedutivo- nomológica. Tomemos, para exemplo, a
desintegração radioativa de um miligrama de polônio"*. Su-
ponhamos que o que fica dessa quantidade após 3-05- minutos
lenha uma mana compreendida entre 0.499 e 0.501 miligra-
mas. Podemos tlizer que este fato fica explicado pela lei pro-
babtlísticj da desintegração do polônio'": pois essa. lei. em
c o i b inação tom os princípios da probabilidade matemática.
uapUca dedutivamente que, dado o enorme número de átomos
M O I miligrama de polônio11*, a probabilidade do resultado
mencionado é ín comparável mente maior, de modo que a sua
ocorrência num caso parliculur pode ser esperada com "cer-
teza prática".
Tornemos, para outro exemplo, a explicação dada pela
teoria eineties dos gases para a gcnernluaçfto estabelecida cm-
prricanente que se chamou lei de difusão de (ir«rum. Secun-
do d * , nas mesmas condições de temperatura e de pressão, as
«doadades com que diferentes gases escapam, ou difundem-se.
através d ; uma parede porosa delgada são inversamente pro-
porcionais às ra i/cs quadradas dos seus pesos moleculares, de
modo que. quanto maior for a quantidade de gás difundida por
segando através da parede, mais leves serão as suas moléculas.
A explicação se apoia na consideração de que a massa do
gás qae se difunde através da parede, por segundo, è propor-
cional à velocidade média de suas moléculas c. portanto, que
a lei de Granam (eri sido explicada se se puder mostrar que
aa velocidades moleculares médias dos diferentes gases puros
l á * Mversamcntc proporcionais ãs raízes quadradas dos seus
pesos moleculares. Para mostrá-lo, a teoria faz certa» supo-
sições cuja significação ampla é a de que um gás consiste de
um número muito grande de moléculas movendo-se ao acaso
com velocidades, diferentes, que mudam freqüentemente cm
As Lits t itv PAPEL NA EXPLICAçãO 91

virtude das colisões, e que esle comportamento foftnilo exibe


oertu uniformidades probatidislicas — e n par&Vula:. a de
que as moléculas de um dado fãs. com teasperalura e pressão
determinadas, lerão diferentes velocidades caias cowrcncias
lêm probabilidades difcientci bem d.terminada*. Essas supo-
sições perniilem calcular os valores avobabtetKaincatc espe-
rados — o* chamados valores "mais prováveis-' — que as tt>
Io; idade* médias ;l "• diíc:;r.-ii ,••-.. p-.---rj.-i pai ammM>
condizes it CmpCratal t pKtlSt C MM mmatf* J :^:.-.-.
esses valores médio* mais prováveis si» de falo inv;rsam;nic
proporeioruis às raízes quadradas dos pesos moleculares dos
{ases. Mas as velocidades reais de diíusáo. que são medidas
experimentalmcnlc e estão sueias ã lei de Orariam, depende-
rão dos valores reais que as írlocUaén nedias têm nos vas-
tos mas íiniios cniamcs de sssolecumj qae constituem os gases
cm questão- t os valores médios reais estão relacionados aos
correspondentes avaliados probabibjticaaeote. «os valores
"mais prováveis", de maneira que é essesvialmeote análoea
i relação entre a proporção de fases que ocorrem numa vasta
mas finca serie de lançamentos de usa mesmo dado c a cor-
respondente probabilidade de sair ure as com este dado Do
que tconcaifunte se concluiu sobre as avaliações probabilisticas
•eguc-se apenas que, cm vista do nMicro asais» grande de mo-
léculas envolvidas, e csmafatdoraascsse awsVrl que a qual-
quer instante as velocidades médias reais lessssssm valorei SMN-
to próiimoS dos "mais prováveis" e que, arrUsti). é irauna
mrwe ctrio que elas sejam, como enes, inversamente pro-
porcionais ãs raízes quadradas de suas w**«^i moleculares,
satisfazendo assim à lei de Giaham "

Parece razoável dizer que esta iaserpretacão fornece uma


explicação, embora "apenas'' com prueaWidaii, associada
muito alta, da razão pela qual os (ases ciibem a uniformidade
expressa pela lei de Granam, de falo. nos compêndios c nos
tratados de Física, as interpretações troncas deste eènero pro-
babilístKo são amplamente apresentadas como explicações

i •- .-...'--<• --••-••. ma
si—&. A a
•*Sa * M « «
ou • w> -«o.- !-.
numa Tcav sa»
AS TEORIAS E A EXPLICAÇÃO TEÓRICA

AS CARACIfcStJSTICAS GtRAIS DAS lEOftlAS

Nos capítulos precedentes tivemos repetidamente ocasião


de mencionar o importante papel que a* teorias desempenham
na explicação cientifica. Vamos agora examinar sistematica-
mente e com alguma minúcia a natureza c o função delas.
Um» teoria é usualmente introduzida quando um estudo
-rtvlo de uma classe de fenômeno» revelou um sistema de uni-
Iormtdadcs que podem ser cipressas em foima de leis cmplri-
cas. A (cotia procura então explicai essas regularidade» c, cm
geral, proporcionar uma compreendo mais profunda c mais
apurada dos fenômenos cm questão. Com este fim, interpreta
os fenômeno* como manifestações de entidades c de processos
que estão, por assim diicr, por trás ou por baixo deles c que
são governados por leis teóricas características, ou princípios
teóricos, que permitem explicar as uniformidades empíricas
previamente descobertas e, quase sempre, prever "novas" regu-
l.inducki Consideremos alguns exemplos.
Os sistemas de Ptolomcu c Copcrnico procuraram expli-
car os movimentos observados, "aparentes", dos astros, me-
diante suposições apropriadas sobre seus movimentos "reais"
c sobre a estrutura do universo. As teorias corpuscutar e on-
dulatória da luz explicaram as uniformidades previamente es-
tabelecidas, expressai nas leis da propagação retillnca, da re-
flexão, da rcfraçAo e da difração, como conseqüências das leis
básicas admitidas para os processos subjacentes que descreviam
a natureza da luz. Assim i que a retração de um feixe de luz
ao passar do ar para o vidro foi explicada, pela teoria ondula-
tória de Huyghcns, como conseqWncia de serem as ondas lu-
minosas mais lentas num meio mais denso c, pela teoria cor-
puscutar de Newton, como devida à atração mais forte exercida
sobre as partículas de luz pelo meio mais denso Acidental-
As TEORIAS t A EXPLICAçãO TEóUC* 93

mente, esta concepção não implicava rnirrirtr o observado des-


vio de um feixe luminoso; combinada com «liras suposições
básicas da teoria de Newton, inrpucava também que as partí-
culas de luz são aceleradas quando penetram em meio mais
denso e não retardadas como afirmava a leoru de Huyghens
Essas implicações antagônicas foram submetidas a uma veri-
ficação cerca de duzentos anos mais tarde por Foucault. na
experiência rapidamente mcnScoada ao capítulo 3 e cujo re-
sultado apoiou a implicação relevante da teoria ondulatória.
Para dar mais um exemplo, a troria cirtéiica dos gases
fornece eapbcaçõcs para uma vasta variedade de regularidades
empírica mente estabelecidas, concebendo-as como manifesta-
ções de regularidades estatísticas em sabsaccnies fenômenos
moleculares e atômicos.
At entidades e os processos básicos introduzidos por uma
teoria, assim como as leis admitidas para go*erni-los. devem
ser especificadas com clareza c precisão apropriadas; de outro
modo, i teoria não poderia servir ao ara propósito cientifico.
fcste ponto importante e ilustrado pela conwftçlo neoviulnu
dos lenônKnos biológico» E bem safado cjtw M sistemas vivos
ciibcm «ma viricdack impTCSboeantc de aspectos distinta-
mente ideológicos, isto e. caracterizados pelo fim a que se des-
tinam Recordemos, entre outros, a regeneração em certas es-
peeses dos membros amputados, o detemoi*invento, em outras
espécies, de organismos noiman a partir de embriões que fo-
ram avariados ou mesmo cortados em vinca pedaços no ini-
cio do crescimento; e a notável coordenação de numerosos pro-
cessos num organismo cm desenvolvimento que. como se obe-
decesse 3 um plano comum, conduz ao indivíduo adulto. De
acordo com o neovitalismo. esses fenômenos «ao ocorrem nos
sistemas desprovidos de vida e não podem ser explicados por
meio de conceitos e leis da Física c da Química somente; an-
tes, são manifestações de agentes ideológicos subjacentes, de
natureza não-fisica. denominados torças vitais ou entelequias.
1
Agem. as entelequias, de maneira especifica que se admite não
violar os princípios da Física e da Oainuca e que. dentro das
possibilidades deixadas em aberto por esses princípios, diri-
gem os pfocessos orgânicos de tal modo que, mesmo na pre-
sença de fatores perturbadores, es embriões se transformam
em indivíduos normais c os cngarúsmos adultos, quando afasta-
dos do estado de funcionamento apropriado, são a esc recon-
duzidos.
94 FILOSOFIA DA CIêNCIA NATUIUL

Esu concepção parece fornecer-nos uma compreemío


mais profunda desses notáveis fenômenos biológicos dando-nos
a impressão de ficarmos mais familiarizados, mais "» vontade"
com cies. Mas, compreender nesle sentido não é o que se quer
cm ciência e um sistema conceplual que explique os fenômenos
neste sentido intuitivo não será. somente por esta razão, quali-
ficado como uma teoria cientifica. As suposições feitas por
uma temi» cientifica sobre os processos subjacentes devem ser
suftcientemente precisas para permitir a derivação d? implica-
ções específicas concernentes aos fenômenos que ela pretende
explicar. E a isso a doutrina ncovltalbta não satisfaz NJO in-
dica sob que circunstâncias as cntrléquias entram em ação. nem
de que modo especifico dirigem os processos biológicos: nenhum
aspecto particular do desenvolvimento do embrião, por exem-
plo, pooV ser inferido da doutrina, nem esta nos habiliu a pre-
dizer que eomportamcnlo biológico ocorrerá sob determinadas
condições experimentais. Por isso. quando um novo tipo- de
"diretiva orzânica" c encontrado, tudo que a doutrina neovita-
lista nos permite fiircr e um pronunciamento pou facium.
"Mais uma mamí-Hacâo *l«* locca» vilais!'\ nenliuma base ela
nos oferece para dizer; "Isso e justamente o que se deveria es-
perar cm vinudc das suposições teóricas — a leoria o explica!''
Esu inadcquucio de neovitaliimo nuo c devida i circuns-
tância de serem ai enteléquías concebidas como agentes irrule-
riais. que Mo podem ser vistos ou locado». £ o que se *t cla-
ramente quando o comparamos com a explicação dos movimen-
tos planetários fornecida pela teoria de Newton Ambas as con-
cepções invocam agentes imateriais: forças vitais por uma, for-
ças graniacionais pela outra. Mas a teoria nevrtoruana coalêm
hipóteses especificas, expressas pelas leis do movimento e pela
ki da graviiação, que determinam, ú ) quais forças graviucio-
nais cada conjunto de corpo» físicos com massas c posições co-
nhecidas exerce sobre os outros, e ri) quais mudanças de veloci-
dade e, conseqüentemente, de localização sio provocadas por
essas forças F. esta característica que dá à teoria o poder de ex-
plicar as uniformidade» previamente observadas e também o de
predizer c rctrodiíer. Poder de que Hallcy tirou partido para
predizer que o cometa por ele observado em 1682 voltaria, em
1759 e para identificá-lo ao» cometas cujo aparecimento havia
sido registrado cm seis ocasiões prévias, remontando ao ano
de 1066. Poder que permitiu a espetacular descoberta do pla-
neta Nctuno. na posição prevista pelo cálculo feito a partir das
As TüOHIAS | A EXPLICAçãO TEóRICA 95

irregularidade* registrada» na movlmcnio de Urano e. poslo-


riormc/ile, a descoberta de 1'lutflo baseada na* irregularidades
da orbita do Neuino

OS PRINCÍPIOS INTERNOS E OS PRINCÍPIOS PF TRANSPOSIÇÃO

Pod:mos então dizer, cm linhas gerais, que a formulação


de uma teoria pedirá a especificação de dois tipos de princípios
que chamaremos abreviadamente de princ'pios Internos c princí-
pios de transposição,* Os primeiros caracterizarão as entidades
c os pio;cs*o* bjs)ços invocados pela iioria, nuirn como 11 Icii
a que supostamente obedecem Os uliimot indicarão como esses
processos estilo relacionados aos fenômenos empíricos com que
já csiiimos familiarizado» e que a teoria pode cntào explicar,
predizer ou rclrodizcr. Vejamos alguns exemplos.
Nu teoria cinetica dos gases, os princípios internos tão os
que caracterizam os "microfenômenos" em nível molecular e os
princípios de tmnspotlção são os que ligam oeitos aspectos dot
microfcnònienos a correspondentes fclçoet "macroscopicai" de
um gás- Na explicação da lei de difusão de Griham, discutida
na sexta pane do capitulo 5. os principie» internos incluem as
supottçôct sobre o caráter fortuito dos movimentos moleculares
• iii le-i*. |iiob;ili.l • i. ijui o. K"vi-nuiii t '" pnniipio* de Ir.int
posição contem a hipótese- sobre a proporcionalidade da taxa de
difusão, que i característica macroscópica do gás, á velocidade
mídia de suas moléculas, que e quantidade definida em termos
de "micronlvel"".
Na explicação pela teoria cinetica da lol de Hoylc, segundo
a qual rt piesiflo de um gás, a temperütui* constante, é Inversa-
iiu-iiic proporcional ao seu volume, as hipóteses internas invo-
cadas são as mesmas que para a lei de Granam: a ligação com
a macroquantidade, pressão, c estabelecida pela hipótese de
que a pressão exercida por um gás sobre o recipiente que o con-
tém resulta dos choques das moléculas sobre as paredes desse
recipiente e é quantitativamente igual ao valor médio da quanti-
dade de movimento total que as moléculas comunicam por se-
gundo ã unidade de área da parede. Essas suposições levam a
concluir que a pressão de um gás 6 inversamente proporcional
ao seu volume c diretamente proporcional á energia cinetica

• UtH.Im.iu». -FtlHliUnMWH*- (*>*»• wMVOi <N. *• Ti


•6 FllOSOFU O* ClÈKCIA S . T V W I

media de suas moléculas. A explicação asa então ama segunda


hipótese de transposicio: a de qoe a energia anetica meda da*
aaotécolit de una dctersiinada massa de gás permanece COM
lanle enquanto permanecer constante • temperatura: este princí-
pio, junto com a prema cuatmaio. coanWi t w d f r M l e a k>
deBoyte.
Nestes dois exemplos pode-se doer dos prnwpna de trans-
posição que cks titam cenas entidades admitidas, qoe não po-
dem ser observadas oa medidas anxtaaarnte (tais como as mo-
léculas, suas musas, suas qnaaodades de movimento c soas ener-
gias), com aspectos mar* ou menos diretamente observáveis ou
acararaVets de srHcmas físicos de tamanho aactfao (r r. a
temperatura medda. por um irrir l ir ~**ir oa a prcssjo medida
por um inaaometro). Mas o» prmápMM de transpôs*» nem
sempre relacionam ~ioobser«ai*en teóricos- com "observiven
cxpenmfntaU*\ como mostra a expUcacáo dada aor Bcor da ge-
neralização empírica expressa pela fona ala de Baawrr. que per-
ante, com» vimos, calcalar facilmente o* coamrãaeacos de onda
das raia* dncrctai ojae aami im (cm numero lacmcameMe u>
fiurlo) no espectro «o maroarmo A caaticacao de Bobr esU
hiscadi nas seguintes hipóteses * ) a lua efh.tida pelo vapor
"excitado'" elétrica ou icmucamente resulta da energia libertada
quando oa. eketrons. DOS átomos indmdwaa saltam para um ai-
vd eaerpetuo mais baixo, ft) para um cketroa de ura átomo
de hidrogênio só l i o pcimwdos nívea entrnetico* que formam
um conjunto discr-to (ifurêamcnic infinito): r ) a energia /'_£
Ubcrtada por um salto de esectron produz ha de um comprimen-
to de onda » dado pela fci * = (a. e > / A £ onde * c a costs-
tante umi f rui de Plaocfc c e ê a velocidade da to. Em conse-
qüência, rada ama das raias ao espectro de hidrofímo corres-
ponde a um "salto qulauco" entre dois níveis energéticos de-
terminade», c a fórmula de Balmer decorre rigorosamente da»
hipóteses teóricas de bohr Os princípios internos :n%ocadot
aqui incluem as hipóteses que caracterizam ornacSdode Bohr
para o átomo de hidroaimto como conMiiuído de aaa núcleo po-
sitivo e de um elêcQoa que te move em torno dele cm uma
ou outra de uma séne de ÓrbiAas possíveis, cada uma das quais
corresponde a um raivei de energia; e da hipótese *>) acima. As
hipottats 4) e c) são princípios de transposição corrdacio-
aam as entidades teoncas "issobservávets," com o qoe deve ser
explicado — os cotnprimenios de coda das raias existentes no
espectro de emissão do mdrogcmj Esse* comprimentos de onda
As TtOlIAI I A ExrLKAÇÃO TEÓRICA 97

náo sáo observáveis no sentido ordinário da palavra, e nau po-


dem ser medido* tão simplesmente c (Io diretamente como, di-
£jmos. o comprimento c a largura de um retraio ou n pc*u de
um saco de batatas. A medição dele» í um procedimento alta-
mente indireto que se apoia cm numerosas suposições, cnlte tu
quais as da teoria ondulatória da lua. Mas no contexto que esta-
mos considerando, essas suposiçOe*. mais do que admitidas, es
Ho pressupostas no próprio enunciado da uniformidade para a
qual se procura uma explicação. Assim, os fenômeno* que
correspondem pelos princípios de transposição às entidades e aos
processos basitos postulados por uma teoria nao precisam ser
"direiimcnie" otisei****!» w mcntuilvfli, podem multo bem
ser eaiaetert/ados cm lermos de teorias previamente eslnhelecl-
dfts, cujos princípios eitáo pressupostos na observação < na me
diçlo ilcki
Sem princípios dt ifaitspusiçJto, como vímoa. uma leorla
rüo teria poder «pJa«ssoilo Potiemo» acrescentar agora que
Km eles cia seria inverificável, poli os princípios internos de
uma teoria tratam de peculiares entidades e processo* postulados
por ela liais como os salto* de elíctron* de um nível cnergí-
i .» (mi • 11- • •. II.I li irni il llohf) • • portanto, HpHUM
em grande parle a cuita de "conceito* teóricos" característicos,
CSM M referem a casai entidades c a esses processo*. Mas as
implicações dct*r* princípios teóricos só poderio ser verificadas
se forem expressas cm termos de coisa* e ocorrência» com que
)l estejamos familiarizados, que saibamos de anlcmAo observar.
medir e descrever Hm outras palavra*, embora sejam o* prin-
cipio* internos de uma teoria formulados em termos tetíritoi
característicos ('núcleo', 'elcelron oibual', 'nível energálMo1,
t.ilin uuánlico'), as implicações verificável* devem wr expressas
cm termos (como 'vapor de hidrogênio', 'espectro de emissão',
'comprimento de onda associado a uma rala espectral') que,
poderíamos duer, estejam "de antemão compreendido*", termo*
que tenham sido introduzido* antes da leoria e possam ser usa-
do* Independententente dela. A eles nos referiremos como ' « -
«tos de antemão disponíveis ou lermos pté-uótícos. A derivação
deitai implicações verificáveis a partir dos princípios internou
da teoria requer evidentemente premissas adicionais que corre-
lacionem os dois conjuntos de conceitos; ettc é o papel desem-
penhado pelo* princípios de transposição (correlacionando por
eiemplo a energia liberada num salto de elíctron com o com-
primento de onda da luz emitida como resultado). Sem princi-
91 FILOSOFIA DA CííNCU NATI*AI

pios de transposição, os principies- internos de uma teoria aao


conduziriam a implicações conírotniveb com o que já nos é
familiar e a exigência de vcrrficabtlidadc seria violada

COMPREENSãO TEóRICA

A verificabilidade c o podei ciptanalório, embora de im-


portância decisiva, são apenas cond^ões necessárias mínimas a
srrem satisfeitos por unia teoria; pois esta pode satisfazi-las sem
elucidar grande coisa c sem despertar interesse cientifico.
Quais tio as características que distinguem uma boa teoria
cientifica não ê possível dize-lo de maneira muito precisa. Al-
gumas delas foram sugeridas no capitulo 4, ao discutirmos o
que suporta a confirmação e a aceitabilidade das hipóteses cica-
tlficas. Cumpre agora acrescentar algumas observações
Num campo de investigação onde já se conseguia a l p u n
compreensão p:lo MUModMPM de leis empíricas, m a boa
teoria aprofundará e alargar* essa compre* ruão. Ean priaaeifo
lugar, oferecerá uma interprelaçlo srttemalicamcntc aaaficada
de fenômenos bem diversos, vendo atrás deles um mesmo pro-
cesso subjacente e apresentando as diferentes uniformidade* em-
píricas exibidas por cies como manifestação das mesmas leis
básicas Toda uma enorme diversidade de regularidade* empíri-
CM (queda dos corpos; pêndulo kimples. movimento* da Loa.
dos planetas, dos cometas, dai estrelas duplas e dos satélites ar-
tificiais; mares etc.) está subiumida no* princípios básicos da
teoria ncwtoniaiu do movimento e da gravitaçao. Toda uma
vasta variedade de unifoimidades reveladas pela expericaoa é
vista pela teoria emética dos gases como manifestação de certas
uniformidade) probabilísucas fundamentais nos movimentos for-
tuitos das moléculas E a teoria de Bohr do átomo d; hidro-
gênio não fundamenta apenas a unuformidade expressa pela fór-
mula de Balroer. que se refere soiraeate a uma serie de raias ao
espectro do hidrogênio, mas lambem as leis empíricas análogas
que representam os comprimemos de onda de outras series de
raias do mesmo espectro, inclusive varias series exijas raias se
encontram nas partes invisíveis infravermelho e ultravioleta do
espectro
Uma teoria aprofundará também nossa compreensão taoa-
trando, como o faz frcqüentemenK, que as leis empíricas pee-
viamenle formuladas, cuja explicação ela procura, não são a
As TEORIAS I A EXPLICAçãO TEóRICA 99

rigor cxaLu c icm exceção. Assim í que B (cotia de Newton


noitra que u Irti de Kepler *ó valem aproximadamente e ex-
plica por que; a órbiu de um planeta que K movene cm (orno
do Sol, sujeita apenas ã influencia gravitaeional deste, seria de
(alo uma elipse, mas a iraieiória verdadeira se afana dessa elip-
se rigorosa em vjrtudc da atração exercida pelos oulros planetas
e de modo que a teoria pcimite calcular com exatidão. Analo-
gamente a teoria de Newton interpreta a lei galilciana da queda
livre como manifestação especial das leis básicas do movimento
sob atração gravitaeional. mas ao faié-lo mostra também que a
In (mesmo restrita à queda livre no vácuo) só vale aproximativa-
meme. Uma dai riíôci c que a aceleração de queda livre nSo
í uma constante (o dobro do fator 490 na fórmula '» - 490/*').
mas cresce durante a queda, pois segundo a segunda lei newto-
nnna do movimcnio a acelcraçlo c diretamente proporcional
á força aplicada c segundo a lei newtoniana da gravitação essa
força c inversamente proporcional ao quadrado da distância
que sepua o corpo do centro da Terra. Observações semelhan-
tes aplicam-se aa leis de óptica geométrica encaradas do ponto
de vista da teoria ondulatóría da luz. Por exemplo, mesmo cm
mein homogêneo a luí n.io K propaga rigorosamente cm linhn
rela; pode ser difratada por uma aresta. E as leis da óptica geo-
métrica para a formação de imagens por espelhos curvos ou por
lentes só valem aproximadamente e dentro de certos limiles.
Poder-sc-ia ficar tentado a dUcr que as teorias, muitas ve-
tes, refutam as kis previamente estabelecidas cm vez de expli-
cá-las. Mas isso seria deformar completamente * visáo pro-
porcionada pela teoria que, ao contrário, Justifica com rigor a
aproximação em que valem aquelas generalizações empíricas.
Atum é uuc, segundo ai ler» de Ncwion( ai leli de Kepler liu
perfeitamente válidas quando as massas dos planetas perturba-
dores sáo pequenas em rctuçáo à massa do Sol ou grandes sáo
as distâncias deles ao planeta em questão relativamente à dis-
tância deste ao Sol; e a lei de Galileu vale com boa aproximação
para quedas livres de pequenas alturas.
Finalmente, uma boa teoria pode alargar nosso conheci-
mento t nossa comprecnsio ao predizer e explicar fenômenos
que náo eram conhecidos no momento de ser formulada: a con-
cepção lorricclham de um oceano de ir levou Pascal a prever
que o comprimento da coluna barométrica diminuiria com a
altitude, a teoria cinsteiniana da relatividade generalizada náo
somente explicou a jã conhecida rotação lenta da órbita de
100 FILOSOFIA DA CIêNCIA NATURAL

Mercúrio mas predisse o encurvamenio de um laio de luz num


campo gravitacional. como foi depois confirmado por medições
astronômicas; c a leoiia maxwelliana 4o cletromagnclismo pre-
disse a existência c características importantes das ondas elclro-
magníticas. como foi posteriormente confirmado pela obra ex-
perimental de Heinrich Hcitz, base da tecnologia da radiotrans-
missio c de tantas outras aplicações.
Previsões espetaculares como « t n certamente reforçam
nosia confiança numa teoria que já nos deu uma explicação
sistemática mente unificada de leis previamente estabelecida! o
muitas vc/cs também uma correção delas. A viiâo que a teoria
nos proporciona ò muito mais profunda que a fornecida por leis
empíricas; da( ter-se formado a opiniáo de que uma explicação
cientificamente adequada de uma classe de fenômenos empíricos
só pode ser alcançada por uma teoria apropriada. Com efeito,
parece ser um fato que, mesmo nos limitando a um estudo dos
aspectos mais ou menos diretamente observáveis ou mensuráveis
do nosso univetso e tentando explicá-los, como foi discutido no
capitulo \ ]ii>r meio de leis enunciadjis cm tcimos desses ob-
tcivávcis. nossos esforços teriam um sucesso bem limitado. Pois
a i leis que sfto formuladas ao nível dq ubscrvuç.1o acabam por
valer de um modo apenas upioxlmado c dentro de certos limi-
tes; recorrendo entretanto teoricamente a entidades e eventos
subjacentes a superfície que noa c familiar, podemos chegar a
uma exposição muito mais compreensiva c multo mais exala.
Poder-sc-ia mesmo por em dúvida que sejam concebiveis muo-
dos mais simples onde Iodos o i fenômenos estivessem por assim
dizer na superfície observável, onde ocorressem talvez apenas
mudanças do cor c de figuia. dentro de uma estreita faixa ae
possibilidade! e estritamente de acordo com algumas leis sim-
ples de foima universal.

O "STATUS" DAS ENTIDADES TEÓRICAS

Seja como for, foi descendo abaixo do nível dos fenômenos


empíricos familiares que as Ciências Naturais conseguiram che-
gar às suas concepções mais profundas c de maior alcance; não
é pois de surpreender que alguns pensadores considerem as es-
truturas, as forças e os processos subjacentes, postulados pelas
teorias estabelecidas, como os únicos constituintes riais do uni-
verso. Esta é a opinião de Eddington na provocante introdução
A s TEORIAS E A F V P I . I T . . . . . T E ó R I C A 101

ao MU hvro The Naiurt oi lhe Physical World. Ed&ngtoa


começa dizendo aos leitores que, ao sentar-sc para escrever.
aproiimou mas cadeiras de suas duas mesas, e passa a expor
as diferenças entre as duas mesas:

Uma delas rac * familiar dride a infância... Tean exseav


lio, í relativamente permanente, í colorida c. lobretuda. t
• • • • o r i . . . A mesa o." 2 í a minha mesa cicalifica- £
lei ia quite que esclu<ivi mente de vawo Djipciui
• M *aiio ciiâo numerout cargas elétr-cai movendo-tt coa
grande velocidade; m» o (amanho lotai delas não cheg» a
btLcsnma porte do tamanho da prOpiia mesa. (Enltfjato)
••poeta o papel em que e«icvo lio latitiaioriamentc « n t v
lo • •***> « • I: pois quando coloco a folha «obre esta, aá
•ama sucessão veriigtaoia dt choquei dai pariiculaa elétrica*
cocara o verto, de modo que O papel fica pialicameMe DUD
tido ao meimo nível como M fora um* pétrea Tudo
eKá em ubee te o papel etta equilibrado como *e cbvcaa*
toexe um eniamc de moteas . . . ou te e*tS ami
porque «liste uma lubilãncia embaiio dele. tendo
é+è* intrínseca da uma tubatlncia a de ocupar
de outra aubuancia Nflo preetto dia»
rna, usando uma lógica im pi ativei e
eipmínc.ai. convenceu me que a minha
•MM. a cientifica. * a única que realmente eati ali .
Nata fracM» acrescentai que a 1'iuca moderna
Mf*ira «tconjuiar a peimena meia — cilianbo
de na tu reta exteeioi, de i matei» mentaii e de
aianco — que permanece visível ao* meut olho» e t*aa)>«l
ao meu tato.1

Mas essa concepção, por mais persuasiva que seja a ssst


apresentação, c insustentável. Eiplicar um fenômeno não é su-
primi-lo. Não í o objelivo nem o efeito das explicações teóricas
mostrai que as coisas c os acontecimentos familiares à expcraêQ-
cia quotidiana nao estão "realmente ali". A teoria cirtétsca dos
gases certamente não mostra que não existem coisas
corpos macroscópicos gasosos que mudam de volume
muda a pressão, que se difundem através daí paredes porosas
com velocidades características cie. e que "realmente" são ape-
nas enxames de moléculas a zumbirem em movimentos caóticos.
Ao contrario, a teoria admite sem discussão que existem esses
acontecimentos e uniformidades macroscópicas e procura expuci-
los cm lermos de microestrutura dos gases e dos microprooes-

I A. S t » i f . f*r \ = - t et fhr FliyiKtí WvU INOvi T«t-


arte*» Ua»cn*> hau. TO»I, pp B4IÉ (siilo na encUuJ); iiuds ce*n
l*iniii4o U OaColac (JUVIIUí] f n "
102 FILOSOFIA DA CIèíCCIA N A T C I A L

s<» que estão envolvidos nas toas transformações. Que os ma-


crofenornenos estão pressupostos pela teoria c o que se vê cla-
ramente na referência espocita que os seus princípios de trans-
posição fazem a catacterisòcas macroscópicas — como a pres-
são, o volume, a temperatura, a velocidade de difusão — que
estão associadas com ntacroobjctivos c macroprocessos. Do
mesmo modo, a teoria atômica da matéria não nega que a mesa
c um objeto substancia!. sólido c duro. não discute essas coisas
c procura mostrar em virtude de que aspectos dos microproces-
tos subjacentes a mesa eaibe aquelas características macroscó-
picas A o faze-lo. a teoria pode. evidentemente, revelar serem
enganos certas ooçoes particulares que poderíamos ter mantido
sobre a natureza de um corpo gasoso ou de um objeto sólido,
como por exemplo a noção de serem esses corpos físicos per-
feitamente homogêneo», por menor que seja a parte considerada,
mas, ao corrigir concepções falsas como esta, estamos longe d ;
pretender que os objetos quotidianos e soas características fa-
miliares n i o estejam 'realmente ali"
Alguns cientistas e alguns filósofos da ciência silo de opi-
nião diametralmeaic oposta • esta que acabamos do considerar.
Em IúúHH gera*, efcs segam a existência de "entidades toóri-
e»s" ou acham que as hipóteses leóncas sobre elos l i o ficçfle*
samente inventadas, que permitem uma concepção for-
te simples e conveme «emente descritiva c preditiva dai
coisas e dos acontecimento* obscrvávcri. Esta opinião foi sus-
tentada óe varias raaneiras c com razões bem diversas.
Um tipo de coasaáeracio que influenciou os recente* **-
tudo» filosóficos sobre a questão pode ser resumido da sejuintc
maneira: para que uma teoria tenha uma significação clara, os
novos conceitos teóricos usados na sua formulação devem ser
clara e objetivamente def.nidos em lermos de conceitos já dis-
poníveis e comprtMaAdof- Mas, via de regra, tais definições
plenas n i o são fornecidas aa habitual formulação de uma teo-
ria e um exame lógico mais cerrado da maneira pela quat oi
novos conceitos são ligados aos já disponíveis sugere que essas
definições possam ser de fato inatingíveis. Mas, contínua o ar-
gumento, uma teoria expressa em termos de conceitos tão ina-
dequadamente caracterizados deve, por sua vez, carecer de uma
signJicação plenamente definida: seus p-rinciplos. que pretendem
falar sobre cenas entidades e ocorrências teóricas, não são ab-
tohmmente enunciados precisos; não são verdadeiros nem fal-
sos; quando muito formam uma conveniente e efetiva apare-
As TEOMIAS E A EXPLICAçãO TEóKICA 103

Ihagem simbólica para inferir certos fenômenos empíricos (co-


nto o aparecimento de raias características num espectrógrafo
convenientemente colocado) a pariir de outros (como a passa-
gem de u m descarga elétrica através do gás hidrogênio).
No próximo capitulo examinaremos melhor como se dc-
teimina o significado de um termo científico. Por ora. notemos
apenas que a exigência de uma definição plena > demasiado se-
vera. Ê possível tomar claro e preciso o uso de um conceito do
qual não se lem uma definição plena, mss somente uma determi-
nação parcial do seu significado. Por exemplo, a caracterização
do conceito de temperatura pelai leituras de um termômetro de
mercúrio rio fornece uma definição gcial de temperaturai nada
diz sobre uma temperatura abaixo do ponto de solidificação ou
acima do> ponto de ebulição do mercúrio Contudo, dentro
desses limites, o conceito pode ser usado de maneira precisa e
objetiva. E pode MI aplicado além destes limites pela especifi-
cação de outros métodos para medir temperaturas. Outro
exemplo < dado pelo principio de que • massa de um corpo e
inversamente proporcional à aceleração comunicada pela forca
aplicada. Nio w define assim o significado pleno da massa de
um corpo, rrias consegue-se uma caracterização parcial que per-
mite a verificação de certoa enunciado* onde aparece o con-
oriio de ma*». Analogamente, em qualquer scoria. os princi-
pio* de tiansposiçao fornecem critérios para o uso dos termos
teóricos cm termos de conceitos já compreendidos. Portanto, a
ausência de definições plenas dificilmente poderá justificar a
coacepção de que os termos teóricos r os princípios teóricos
que os contêm sejam meramente dispositivos de computação
simbólka
Um segundo argumento contra a existência d; cntidadcii
teóricas difeíc bastante do primeiro.
OuikjinT conjunto de fatos empíricos, por mais rico e va-
riado que seja. pode cm principio ser subsumido em leis ou teo-
rias muito diferentes. Por exemplo, podemos uair por curvas
muito diferentes, como vimos, os pontos representativos, num
gráfico, dos pares de valores simultaneamente determinados
pela experiência de duas variáveis físicas; cada uaia dessas cur-
vas representa uma lei compatível com os pares associados efe-
tivamente medidos O mesmo se pode dizer sobre as teorias.
Mas quando duas teorias alternativas se aplicam aos mesmos
fenômenos empíricos — como o faziam as teorias corpuscular
e ondulatón;i da luz antes dos "experimentos cruciais'* do sé-
104 FII-OSOFU DA CIISCIA NATURAL

culo xix — a atam* "existência real" deve ser atribuída


tanto ás entidades postuladas por uma como às entidades pos-
tuladas pela outra; m s isso implica negar que essas enti-
dades realmente existam
Esie argumento nos obrigaria a dizer quando julgamos
ouvir um pássaro cantar que não devemos admitir a existência
real do pássaro, pors o som poderia ser explicado pela hipótese
de alguém estar assoviaado como um pássaro. Mas. evidente-
mentç. existem maneiras de achai qual das suposições é ver-
dadeira, se alguma o for. pois além de explicarem o som ou-
vido, as duas hipóteses (èra outras implicações qiK podemos
verificar para sabei se foi "realmente" um pássaro ou uma
pessoa ou alguma outra coisa que produziu o som. Analoga-
mente, como «itnos. as duas teorias da luz têm implicações
adicionais discordantes pelas quais podem ser. e o foram, sub-
metidas a uma verificação que confirme apenas uma. f Vef*
dade que a eliminação gradual de algumas das hipóteses ou
teorias rivais nunca poderá chegar ao ponto em que somente
uma delas fique de pi. nunca poderemos estabelecer com ctr-
irza que uma teoria tesa a verdadeira, que as entidades que
ela introduz sejam rcaa. Mas reconhece-lo nio c revelar uma
falha inerente as coastraçoti teóricos e sim registrar uma M -
ractemtica que permeia wrfo conhecimento empírico.

Um terceiro argumento ainda (oi aduzido e, cm resumo, i


o seguinte: A investigação cientifica visa. cm última análise, a
uma descrição sisiemiiãca c coerente dos "fatos", dos fenô-
menos que prrcebcrnos pesos nossos sentidos Suai suposições
explanatónas deveram, a ngor, referir-se somente a entida-
des e processos que foascaa pelo menos fatos potenciais, isto é.
potencialmente aoeasftcss aos nossos sentidos. Hipóteses e teo-
rias que pretendem ir atem do» fenômenos de nossa experiência
podem, quando muito, ser uteo artifícios formais, mas não po-
dem representar aspectos do mundo físico. Foi com razões
deste jaez que o eminente fisico-filósofo Ernst Mach. entre
outros, sustentou que a teoria atômica da matéria fornecia
um modelo matemático para a representação de certos fatos,
mas que nenhuma Teaiãdadt" física podia ser atribuída tos
átomos e às racíecuías.

Já observamos, entretanto, que se a ciência se limitasse


ao estudo dos fenômenos observáveis, dificilmente Sena capaz
de formular leis gerais expsanatórias com a precisão- e o alcan-
As TEORIAS E A EXPLICAçãO TEóRICA 105

cc dos princípio» que se referem a entidades subjacentes te-


mo as moléculas, os átomos c ai partículas subatômicas. E se
CSKS pilncíplos 180 verificados e confirmados essencial mente
do mesmu modo que as hipóteses referentes a coisas e eventos
mais ou menos diretamente observáveis ou mcnsurAvci», parece
arbitrário rejeitar como fictícias a* enlidudes postuladas leorica-
incnle.
Mas, afinal, existe ou nao existe uma diferença importan-
te entre os dois níveis? Suponhamos que se queira explicar o
com porta inento de uma "caixa preta", que responde 4 diferen-
tes "entradas" com "saídas" especificas c complexas. Podería-
mos -IVIIHJI uma hipótese sobre a csirulura interna da caixa
— talvez um mecanismo com rodas, engrenagens c catracas,
talvez um circuito com bobinas, válvulas c pilhas. A hipótese
poderia str verificada variando os "entradas" e conferindo as
correspondentes "saldas"; ouvirão os ruídos produzidos pela
caixa etc. Mus se as componentes da estrutura imaginada fo-
rem iodas macroscópicas e, em principio, acessíveis A observa-
ção. rcsUiá aempre a possibilidade de ubrlr a caixa c verificar
a hipótese por inspeção direta. Essu inspeçlo dircu t que
nlo c possível quando a caixa í- um [ t i c 1 relaçio "entrada"-
"aalda" é u obtervadu mire as variações de pressão e a* corres-
pondente» mudanças de volume sob temperatura constante e
* explicada pelo comportamento de micromecanismos mole-
culares.
Nio í verdade porem que a distinção seja tio clara c con-
vincente como parece, pois a classe de observáveis a que se
refere não é delimitada de maneira precisa Presumivelmente
ela deveria Incluir todas at coitas, todas as propriedades c to-
dos os processos cuja presença ou ocorrência pudesse ser
constatada por observadores humanos normais "imediatamen-
te", sem a mediação de instrumentos especiais ou de hipóteses
e teorias interprelalivas. A» rodas, as engrenagens t as ca-
tracas do nosso exemplo pertencem certamente a essa classe,
assim como os seus movimentos solidários. Observáveis lam-
bem neste sentido sao os fioa c as chaves do nosso outro exem-
plo. Mu* surgirum dúvidas quanto A classificação de coisas
como as válvulas. Inegavelmente, uma válvula e um objeto
físico que pode ser "diictamenic" percebido; mas quando nos
referimos a uma válvula {como poderíamos ter feito na expli-
cação da comportamento da caixa preta) estamos pensando
106 FILOSOFIA DA G è N C I A NATURAL

num objeto que tem uma estrutura física característica; pode-


mos perguntar então se uma válvula é observável neste senti-
do, se a propriedade de ser uma válvula é contestável pela ob-
servação imediata. Sabemos que n&o o é. pois a propriedade
de ser uma válvula, de Funcionar convenientemente como w
admitiu na hipótese sobre a caixa preta, só pode ser verificada
pelo uso de insiiuinentos cujas leituras para serem significati-
vas pressupõem leis e princípios teóricos da r-ísKa. Mas se
para caracterizarmos um objeto como uma válvula temos que
ir alem do reino dos observáveis, o exemplo da caixa preta per-
de a sua força.
De reslo, o argumento poderia prosseguir numa direção
diferente. Quando dizemos que um fio no interior da caixa
preta í um observável, ccnamcnle não queremos dizer que
um fio fino tramioimou-sc numa entidade fictícia porque a
vista cansada nos obriga a u*ar óculos para vi-lo. Mas entào
seria arbitrário classificar como fictícios objetos, como um fio
capilar ou uma partícula de pó. que só são visíveis ao olho
humano munido de uma lente. E pela morna raiio leremos
que admitir a existência de objcios que só podem ser obser-
vados com auxílio de um microscópio, logo depois a do ob-
jeto» que só podem ser observados por meio de contadores Gci-
ger, câmaras de bolha, microscópios eletrônicos c outros ins-
trumentos.

Há assim uma transição gradual entre os objcios macros-


cópicos da experiência quotidiana e as bactérias, os vírus, as
moléculas, os átomos e as partículas subatômicas; qualquer
linha traçada para djvidi-los em objetos físicos reais e enti-
dades fictícias seria inteiramente arbitrária.'

EXPLICAçãO E "REDUçãO AO F A M í L I A * "

Diz-se às vezes que as explicações científicas efetuam a


redução de um fenômeno enigmático, scnâo estranho, a fatos c
princípios com que já estamos familiarizados. Sem dúvida, esia

1 Nona dnnuto da M-tfui d» «wididn MOrim llmliou-t* » COMidctutia


* ítrunii M M B M MMCM impara*"** Um cuudo i u » o—ipkm < mu*
pinttrinii. i n a tomo retnínciai 1 liKtMMi* idiiunil. e*caKii-w no> i«f». S
• » da '. Nivrl. !'• Scníiuti o) Stimtr Ot*fi obn wliMlinlt mtt I I I I I
• M M »Hllir i i J. I. C. Sn*H. pAdOw^t/ tud Surml/tr MrMsm II
Rcuikó» i*d K<((n Flui U d : Non Vou. T u Mum.mi — Fmi. I*MI.
As TEORIAS E A EXPLICAçãO TEóRICA 107

caracterização se adapta perfeitamente bem a alguma» expli-


cações. As explicações pela teoria ondulatória das leis de ópiica
previamente estabelecidas, as explicações trazidas pela teoria
cinclica dos gases e mesmo os modelos de Botir para os áto-
mos de hidrogênio e de uulros elementos invocam certas idéias
com as quais estamos familiarizados pelo uso na descrição c
explicação dos fenômenos a que estamos acostumados, tais
como a propagação de ondas na água. os movimentos c as
colisões de bolas de bilhar, os. movimentos dos planetas cm
torno do Sol. Alguns escritores, entre os quais o físico N. R
Campbell, chegaram a afirmar que para uma leoria ser de al-
gum valor deve "rcvçiar alguma unalogia": as leis básicas que
os seus princípios Internos especificam para as entidades c
os processos teóricos devem ser "análogas a algumas leis co-
nhecidas", corno por exemplo as leis para a propagação das
ondas luminosas são análogas (porque têm a mesma forma ma-
temática) às leis para a propagação das ondas na água.

Contudo, esta opinião não resiste a um exame mais de-


morado. Antes de mais nuda, cia Implicaria u idéia de que oi
fenômenos com os qunis já estamos familiarizados não preci-
sam ou nilo suo suscetíveis de explicação cientificai na verdade,
i ciência procura explicar fenômenos "familiares" como a su-
cessão regular do dia o da noite c das estações, as fases da Lua,
o relâmpago c o trovão, a disposição das cores no arco-íris
ou nas películas de óleo, c u observação de que o café c o lei-
te, ou a areia branca i ,\ areia preta, uma vez misturados, não
mais se separarão. A explicação científica nJio visa criar um
sentimento de familiaridade com os fenômenos da natureza,
liste é um sentimento que pode muito bem ser evocado por
interpretações metafóricas sem qualquer valor explicativo, co-
mo a da gravitaçlo pela "afinidade natural" ou a dos proces-
sos biológicos pela obediência a forças vitais. Não é «Ia es-
pécie intuitiva e altamente subjetiva de compreensão a pro-
curada pela explicação científica, e particularmente pela expli-
cação teórica, mas uma visão objetiva, que se alcança por
uma unificação sistemática, pela revelação de serem os fenô-
menos manifestações de estruturas c processos comuns que
obedecem a princípios específicos e que podem ser verifica-
dos. Se essa concepção puder ser dada numa conecituação
que revele cenas analogias com a dos fenômenos familiares,
tanto melhor.
I (
* F O O S O í U OA O í N C U N m u

Se não for. a câêncã não hesitará em cipücai n o n o o


é fiMinr por orna redação «o que nio c familiar, BJC-
. c princípios novo* qae podem de inicio cao-
* f ° — i*»iÇ*o> E o que aconteceu com as
. «çlicaçõc» da teoria da relatividade referentes à
relatividade do comprimento, da massa, da duração temporal
e da Bmultaneiclade; c o que acootcccu também cona o priao-
P » A i i e « r t e a em mecânica quãnbca e a reoúncia desu a t m
concepção estritamente carnal dos processos que envolvem indrri-
dualmente as paxrioilas elementares-
F O R M A Ç Ã O DE CONCEITOS

D l M N iv Ao

Os enunciado» científicos sio tipicamente formulados em


termo* especiais, (aii como 'ma.ua', 'foiça', 'campo magnético',
'entropia', 'espaço dai fases* etc. Paia <|ue esics lermos sirvam
• o fim a que K destinam seus significado* devem ser deter-
minados de modo a astc|urarcm aos enunciados resultantes
uma verlficaotlidadc apropriada c uma aptidão a serem usadas
nai explicações, rui piediçoes e nas ictrodtçoci Nesle capitulo
vamos . " i i i h l i i i iomii Hs.i . I.nQ
Para este fim, m i convtnknte distinguir claramente entie
concilio*, lan como os de mana. força, campo migneiico ale..
• o* Urmtm conespondenlci, lilo *, ai expressões vertais ou
umbòltcai que representam aqueles conceitos. Para noa «fe-
nrmoa a termos particulares de qualquer outia natureza, pre-
cisamot de nomes ou de designações para eles. De acordo com
a convenção seguida em lógica e Filosofia analítica, formamos
um nome ou designação para um termo colocando-o entre aspas
asklijUl. GOMO faemos na primeira sentença dctta icçló a u mén-
ckmaraao* o» termos 'massa*, 'força' etc Nos nos ocupare-
mos, enilo, neste capitulo, com os métodos que especificam
os significados dos termos científicos e com as exigências a
que esses métodos devem satisfazer.

Pode parecer que destes métodos o mais óbvio, e talvez o


único adequado, seja a definição. Convém pois examiná-lo
imediatamente.
As definições rio propostas çom um ou outro de dois
fins bastante diferentes, a saber:
a) enunciar ou descrever o que se acciu como signifi-
cado, ou como significados, de um termo já em uso;
110 F I L O S O I U DA CIêNCIA NATURAL

ft) atribuir, pot c&tipulação, um significado especial a


dado termo, que pode ser uma expressão verbal ou simbólica
nunca vista (tal como 'pí-meson') ou um "velho" termo que
deve ser usado num sentido técnico especifico (como. por
exemplo, o termo 'estranhera' é usado na teoria das partículas
elementares).
A* definições que servem ao primeiro- propósito são cha-
madas dcfcriiívos; as que servem ao segundo propósito são
chamadas enipulalivas.
As do primeiro gênero podem ser enunc.adas na forma
Km o BHirnu MfnficaJU q>
O (ermo a ser definido, ou o detinitnáum. ocupa o lugar
da linha cheia á esquerda; a expressão definidora, ou o de-
finiens, ocupa o lucar da linha fragmentada à direita. Exem-
plos de definições descritivas- são:
'Menuvt' Icm o mesti» •ifnífiiado d* 'ciiinça do « i n nuv
nino'.
ApovJmir um o nttmo iifmfiíjilo d* "inflamação dn
& mu li finem' l«m O intimo •ijnilimdi' d» 'nfimrntki »o
nnnto icmpo*.
Definições como essas visam analisai o significado aceito de
um termo c descrevi-Io com auxilio- d< outros lermos - - cujos
significados d.-vi-m emiar prciiamcnlc com prendidos para que
a definição sirva ao seu propósito. São definições descritivas
que chamaremos mais especificamente de «rV/imcõVr anatiiiau,
pois, como veremos no proaimo capitulo, existem enunciados
que podem ser considerados como definições descritivas de
tipo não-analilico: determinam a extensão de um termo, bsio é.
o seu domhio de aplicação c não a sua intenção, isto c. o seu
significado. Quer de uma, ujacr de outra espécie, as def.ruçõcs
descritivas pretender» descrever certos aspectos do uso con-
sagrado de um termo; pode-se. por ino, direr delas que são
mais ou menos precisas c. mesmo, verdadeiras ou falsas
As definições estipulativas, por outro lado, servem para
introduzir uma expressão a ser usada cm certo sentido espe-
cífico no contexto de uma discussão, de uma teoria ou de algo
semelhante. A elas pode ser dada a forma
•• deve K( o momo s^iruficsdo qu: -
ou
Poc • • • • enteodarrws a meiira coita que rxir
1'OKMA^AO Dl'. CONlültOS III

A i expressões a esquerda c a direita i&o aqui lambem cha-


madas o definicndum c o definieits, respectivamente. A* defi-
nições ictuliiinici lím o caráter de citipulaçoc* ou conven-
ções, que evidentemente nio podem ter qualificada* como ver-
dadeiro* ou fiih.it O i exemplo* seguinte* ilustiam diícrenlci
modM M que ela* *e apresentam na lilcralui* ckrillfka; cada
um dele* pode fiicilmenic w i po*to numa da* formai-padrflo
que acabamo* de mencionar.
Uwmoi o (ermo 'acolla' «mo ii»cvi»i*<> paia 'falia d*
«vif\io Nlmr".
O teimo 'drniiiInoV Min irtT.a itWVlialfl ilí 'mnu BOI
unidndf ik volume'.
Por |>ldo fiuawlfi * r t íltlrdllt» qun roínwf him o> Kl-
d(0|llni<i
PtrlktllM ti' M f f l m o • número ib ni.i-iii um terão i im
nuiUt ntuiionv
Um termo definido anulltka ou convencionalmente pode
*er sempre tubaifiuido numa sentença pelo teu definltm. trans-
foimamlo a sentença numa equivalente que nlo contem innli o
trtmo. Por exemplo, a sentença 'a dcnikladc do ouro c maior
ue a do chumbo' pode icr traduzida em 'um dado volume
S o oum tem maior maiiu que o IMM10 volume du cliumho'.
Ne*to acntldo, como nbaervou Quine, definir um Icim» 6
imiiti.ii L.MII . i vitJl Io
A liijuirçfto 'Define oi leu* Iciinotl' tem a aurcola ito um
tolldo preceito cientifico; com efeilo, pude parecer que, idoal-
mente, eada teimo uudo numa temia cientifica nu num dado
iiimii da Ciência deva icr definido com proeiiao. Ma* l»*o t
logicamente lnipn**fvel, poli, apni uma delinkJio, lerlamo*. por
M " ' " vi'/, que definir enda louno uindo no áttMrm a cutln
de oulio* Icimoi e attim por diante, tem nunca "cair num
circulo vicloto", isin c, u m nunca definir um termo a c u i u
de outro |4 utado anteriormente. Fxcmplo de um "circulo
vicioso" ler-w-ia na seguinte »eqUíncin de definiçoe», onde a
fraic 'deve ter o mesmo lignificado de' está mbitiiufda pelo
símbolo ahreviatorio ' - w ' :

Viimicu' mm 'menino ou menina'


'menino' =m 'chanca do seio masculino'
'menina' —u 'iriancB, mas nio menino'
Para dcteiminar o significado de 'menino', podeilamo* subiti-
tuir o termo 'criança' na segunda definição por seu dejinteni
como esta especificado na primeira. Mas assim fa/endo obtc-
112 FB-Oson» DA CIêNCIA NATURAL

rfaimy a expressão 'menino ou menina do seio masculino'


que define o termo 'metano' à ctsta de si mesmo (c de outros
termos) c, ponin:o. frcrassa no seu intento. A mesma difi-
culdade surgiria te peceurássemo* na terceira definição o signi-
ficado de nmuaa*. A n u c a mineira de escapar a esta difi-
culdade, obedecendo ao preceito de definir cada termo de um
dado sistema, é a de moca usai num deiimrfis um termo que
já lenha sido definido anteriormente na seqüência. Mas neste
caio. a seqüência nunca chegai** > um fim. pois, por mab
longe <\me te tenha ido, ficaria eor definir os termos usados no
último átfmeiu. d que por htpMese eles nio foram definidos
antes. Esta obediência ao preceito por meio de uma serie
infinita de definições seria na reaí»dade uma desobediência, pois
nossa compreensão de ara termo dependeria da do seguinte,
que por sua » « dependeria da do seguisse e assitn por diante
indefinidamente, de modo que ararium termo ficaria realmente
e i pi içado.
Nem iodo termo de um interna cientifico, portanto, pode
ser definido à custa de outros lermos do sistema: u m que haver
um conjunto de teimo*, chamados primitivos, que não. rece-
bem dVfmiçao dentro do sistema e que servem de base para
definir iodos m outro* lermos. Isso c levado em conta de um
modo muito claro na formulação aaiomática das teorias mate-
máticas, conto, por eiemplo. Ms diferentes uiomaüxaçoet
modernas da Geometria euclidiana uma lista de tetmos pri-
mitivos í eipucsument: especificada e todos os outros termo*
t i o introduzidos por "•*"— de definições estipulitivai que
FCCOfldujeat a expressões onde *o figuram termos primitivos.1
Osaaso aos lermos usados numa teoria cientifica, con-
vém lembrar aqui que. como ficou sugerido no capítulo 6,
eles podem ser divididos em duas classes: a dos termos pro-
priamente teóricos, que são característicos, da teoria, e a dos
termos- nré-teóricos, de antemão disponíveis. Alguns dos lermos
teóricos são óeiuudos i custa de outros, exatamenae como numa
•sateusítica: en> Mecânica, a velocidade c a
1
de asa ponto material são definidos como a primeira
aterradas da posição desse ponto ean relação ao
tempo; cm teoria a r r a i e s , um deuteron pode ser definido como

I UKOFO A n ^ i M*W n | um <• r u w i a « oaoa


cão- S IVaSM. ( M w M •» •**•*• n " " . 9* U-M. AJAI
iunAí fati a n - 1 « • lill fio. A# A !"-»• »•*"»"• A* M<
hORMAçAo IIE CONteiTOÍ 11}

o núcleo do isótopo de hidrogênio cujo número de massa é 2;


ele. Tais definições desempenham um papel Impoiianlc na for-
mulação c no uso da (cotia, mas slo incapazes de dar conteúdo
empírico aos lermos definidos. Para esle fim, são necessários
enunciados que especifiquem os significados dos. lermos teóri-
cos por meio de expressões já compreendidas, que possam ser
usadas sem referencia à teoria. * que são precisamente os
trrmiw que- havíamos ili.mi.nli de PfiMcóricoi. Aos enunciados,
que assim determinam o significado dos "lermos característi-
cos", isio é. dos termos propriamente Icórlcos tlc uma dada
leona, por meio de um vocabulário pre-teorico. isto c, previa-
mente disponível, nós chamaremos de "WtíOtfúl interpreta-
i"i" F-xamincmos mais de perto o caiiler dessas sentenças.

DKCINIVúI-S OPERACIONAIS

Uma concepção muito particular do caráter das sentenças


Intcrpretatlvai foi upicteiiiuilii \K\» tliumuda escola operado-
insta que surgiu da obra metodológica do físico P. W.
Hrldgmun.' A idéia central do operacionismo c a de que o
significado de cadu teimo cientifico deve ser drlirminado pela
indlcuçlo de uma operação bem definida que forneça um cri-
tério para sua aplicação. Ksses critérios 1A0 multai vozes cha-
mados de "definições operacionais", Se slo ou tüo definições
no semiilu esliiln, <" uma quesiàü que considmrcmui mais. lardc.
Primeiro, vamos ver alguns exemplos.
No infeio da investigação química, o termo 'ácido' poderia
ler sido "definido opcracionalmcnlc" do seguinte modo: para
achar K O lermo 'ácido' se aplica a um dado liquido — isto
c, se o liquido c um ícidn — coloque-se nele uma lira de papel
de tornassol azul; o líquido c um ácido se e someme se o papel
virar vermelho. Eslc critério indica uma bem definida opera-
ção de teste — a de inserir o papel a/ul de tornassol — para
achar se o termo se aplica ou nlo a um dado liquido, c men-
ciona um resultado de teste bem determinado — a mudança
para o vermelho da cor do papel — que devj ser conside-
rado como indicando que o lermo se aplica ao líquido dado.

I A pfiimlia (ipouglo. «o» il»"(i. di fUidaiun i-i" <n u ' .n. Ito
logv ei Mdil"<> fA,wi (NOVJ Voi»; 1W Miimlllin Coropin». IWÍ).
114 F I L O » * ! » D* Cabacu NATVKAL

AMiopmcMe. o m o "•»» daro osse* apicado a *W-


awrajs peóz ser caracterizado u f n r i a a i l i f K c o n vera*:
para dcfcrnm: se o • • m l m, i amais daro çae o amenl
• i j . faz-se passar aau ponta fpta de ar», sob pressão, ao
•puS.iL ée sana a i aura de «*i 1 oprração de teste);
«•i c a a » dar* aoc afl» K • 10—fie se a amostra
ficar amaanáa tmmtiáj especifico do teste).
A t e u u i dr fMu"í*».i CMC aâo fasen ntrartn fTpaítiia de
operações c d : iriafcaaüs pode* ser facdaaestte postai em
forau de M U driua—JLJJ opnaciomL for campio. cata
caracterização de BM mâ: barra de fcrro< oa Je aço cujas
esmaidades atran» c s e r r a a lãataata de (ore*. Uma
•ersão expbaUrBeate oavracnanU rezaria para achar se o
se aplica a aaaa dada barra de ferro m de aço.
n u l a dj ferro peno drta Se a batalhi for atraída
petas eatrr—djcWs da barra c ficar agarrada a das, a barra
c aaa i - l
O tamm HwaánaWa toa aoMOs ires

l aaaez oa de
O pR-
•er tcrãado
•a caracterizarão de trrsaoa COSK> •«•pn—calo'. 'ataaaa', •**-
soedade. -amprraaan-. carpi dãnca' e ladloapa. qwc repre-
«eataaa coaceilos awaaaitatrwas ai—nsr*n valores rsaaacricoi. A
dei«açio opcraooaal c catão cotfccbida cosas a especifica^ão
ée aaa prw;ed—:aao para B t U f í a i r o «ator auaacnco de
M M dada aaBUkãdadc «aa caaos paracatarii: a» dcftaiccVi opc-
nootais loauai o cuMet oV repras de ascdãcâo.
A b i » c (MT aaak aanatao opcracwaal de 'i naaawaan'

da durai n eatre dos poaeos raapruaal


uaaa aVfaação nfrrmrioail de "•••p eranara" descreverá COBRO
a leaaperatara ée aaa corpo — por exemplo, um líquido —
seria rinrranBBáa par aano> de ü " terasoiretro de aautário.
e w.—: par ; . . - : ;
O prcetdmctu operacjoaaJ —rfinanto eaa eputauer òefi-
racao operacãaaal dr*e ser Nieaaãdn de tal forau que possa
ser ctemtaao por «aaleoer obamador cosnpcteate r que o
FODMAçAO Oi COMCíIIO* 115

multado possa ser objetivamente assegurado, sem depender es-


sencialmente de quem realiza o exame. Não seria permitido,
por exemplo, para definir o termo 'mérito estético' cm relação
a MI quadro, usar este preceito operacional: contemple a pin-
tura c anote numa escala de I a 10 o grau que melhor lhe
parece indicar a bete» da pintura.
Insistindo cm inequívocos critérios operacionais de aplica-
ria pira todos os termos cientificai, procura o operacionismo
garantir a venficabilidade objetiva de todos os enunciados cien-
tíficos. Consideremos, por exemplo, a seguinte hipótese. 'A
'(agilidade do gelo aumenta quando a temperatura diminua ou,
nuit precisamente, de dou pedaço* de grlu de lempcraiui»
diferente», o de temperatura P9M ham í mais frágil que o outro'
e suponhamos que tenham sido especificado* procedinlentos
operacionais adequados para determinar se é gelo uma dada
lubslãncia e para medir, ou pelo m.-nos comparar, as tempe-
raturas de diferentes pedaço* de gelo A hipótese ainda n.lo
Km significarão clara ainda nío mndu/ a implKaçàc* verifi-
cável! bem definidas a menu* iiue ir disponha também de
critério* claro* para • comparação de fragilidade Impressões
tomo inait frágil q«.-' ou li.-.rim' fragilidade' parecem Kl
intuilivamrnlc i l ' i ' i mas isso n**i baila para totná-lat «cri-
i**i-i* para UMI cientifico. Mas i. for fornecida uma regia
operacional da aplicava» para **vr* termo*, a hipótese tor-
nai w-a verificável no icniido que unhamos cüiuidcrudo. Po-
demos entlo direr que uma escolha apropriada de critério»
operacional* de aplicação para um conjunto de termos garante
a veriíicabtlidade do* enunciados em que «Ias ocorrem '
Correia!ivaniinlc. arguem oi opera. mniaUi. o um de ler-
mos deiprovidoi de definição operacional — por mala intuiu-
vãmente claros e familiares que possam parecer — condu» a
enunciados e questões sem significação Assim, a hipótese con-
siderada anteriormente de que a atiaçio gravitacional é devida
a unu afinidade natural subjacente, e desprovida de significação
ptxuuc nenhum cntéuo operacional foi fornecido para o con-
ceito de afinidade natural. Assim, também, face u ausência de
critérios operacionais para o movimento absoluto, fica recusada

> E u « mirado n-utio I (ariu « m I M I U í I . W i •• «u- P»


II'. FILOSOFIA DA C I È K C U NATURAL

como sem significação a questão de saber st t i Terra ou o


Sol que "realmente" esiá em movimento. 4
Essas idéias básicas do operacionísmo exerceram conside-
rável influência no pensamento metodológico em Psicologia c
em Ciências Sociais, onde se acentuou a necessidade de esta-
belecer critérios operacionais claros para os termos empregados
nas hipóteses o u nas teorias. Hipóteses como a de que os mais
inteligentes têm tendência a serem emocionalmente menos está-
veis, ou como a da habilidade matemática estar fortemente
correlacionada ã habilidade musical, não podem ser objetiva-
mente verificadas sem critérios claros de aplicação para os ter-
mos constituintes. Para esse fim não basta ter uma vaga com-
preensão intuitiva, que quando muito pode sugerir meios para
determinar critérios objetivos.
Em Psicologia tais critérios s i o comumente formulados cm
termos de testes (de inteligência, estabilidade emocional, habi-
lidade matemática e l e ) . Em linhas gerais, o procedimento ope-
racional consiste em administrar o teste de acordo com especi-
o resultado soo as respostas das pessoas submetidas
ou, e m regra, uma avaliação qualitativa dessas respos-
de modo mais ou menos objetivo e mais ou menos
No teste de Ronchach, por exemplo, casa avaliação se
apoia mais na competência para julgar, gradualmente adquirida
pelo intérprete, c menos cm critério* explícitos e precisos que
a avaliação do teste de Stanford-B-inct para a inteligcncia, o de
Ronchach é. por isso, menos satisfatório que o dV Stanford-
Bmct do ponto de vista operacionista. Algumas dai principais
objeçôes que foram levantadas contra a especulação psicanalitica
são concernentes á falta de adequados critérios de aplicação
para os termos psicanalíticos e as concomitantes dificuldades
para tirar das hipóteses, em que figuram, alguma implicação
verificável e inequívoca.
Os avisos assim lançados pelo operacionismo foram nitida-
mente estimulantes para o estudo filosófico e metodológico da
Ciência, além d e exercerem uma forte influência sobre os mé-
todos de pesquisa em Psicologia c em Ciências Sociais. Mas,
ver agora, a reconstrução operacionista do caráter

1 A am meiüo. •• «tOei I i 4 U <IT U df Honoa r Hnlln. ímn-


>f Ms**» Nitnitl >.-•-.-< IOIKCCIB «cnplnt ( c n m t i . » tdklonin
H**n O fclior poor *<hai lamAtm «umgtm n a w i . «s po«o da
*~a «D íattnaapmo ( Oi niifi"» * N r i M M a t « "»pi*»iij m i l l i i
SM fBIULMMI OHíIíJ*. j,ut BiiUim-f. pit-pV QMIC ml fim t e uo. 1 4c
r»« Uf» oi UO*T* rhiUti
FORMAçãO m CONCEITOS 117

empírico da Ciência, demasiado rcsiriiiva, Icndc a obscurcccr o*


aspectos siíiemíticos c teórico* dos cortcdlPi científicos C a
forlc interdependência da formação dos conceitos c da formação
dai teorias.

IMPORTâNCIA SISTF.MáIKA V PMI'I«ICA


DOS CONCP.ITOS CIENTíFICOS

O operacionismo sustenla que o significado de um termo


esta" completa C exclusivamente dctciminado pela sua definirão
operacional. Assim, diz Bridgman; "O conceito de compri-
mento esta portanto estabelecido quando eslão estabelecidas u
operações pelas quais se mede o comprimento' isto é. o conceito
de comprimento contem tanto e nlo mais que o conjunto das
opr rações pelas quais, w deicrmina o comprimento: o conceito
t sinônimo com o correspondente contanto de operações."*
I-Sla coiufpv*" implica i|uc um IctinO dMttOO "'• MM
significado dentro da faixa dai situações empíricas em que pode
ser executado o procedimento operacional que o "define". Su-
ponhamos, por exemplo, que se construa a Física a partii do
marco zero, por assim dlrcr, c que se intioduxa o termo "com-
primento' por referência à operação de medir o comprimento
de distancias relllfncas com regua* rígidas. Nenhuma signifi-
cação scfi cnlâo atribuída a quwiãri 'Uu.il é o comprimento
da circunferência deste cilindro?', nem a qualquer resposta a
ela. pois a operação de medir comprimento com léguas rígi-
das retilíncas é evidentemente inaplicávc! ao caso. Para que
o conceito de comprimento lenha um significado definido neste
contexto é preciso especificar um novo critério operacional.
Isso poderia ser feito estipulando que a circunferência de um
cilindro deva sfi' recoberta com um fio inextensivel e flexível
bem ajustado a cia c em seguida medindo com uma regua
ligida o comprimento dü fto retificado. Analogamente, o nosso
método inicial de medir comprimento n&o pode ser usado para
determinar as distâncias de objetos extraterrestres. Enuncia-
dos sobre essas distâncias só teráo significado definido, segundo
o operacionismo. depois de serem especificada* operações apro-
priadas de medicío. Uma destas poderia ser um método óptico
de triangulação semelhante ao usado nos levantamentos topo-

í Biidww. IW "*« «T ««O"-" ritma. f J (o p*0 ( «r B(i?|m.- |


111 FllOSOflA DA CrfNCU N A T U I A L

gráfico»; oatn poderá ser a medição do tempo decorrido


entre a cnsrssao e a recepção de nan sinal de radar enviado ao
objeto eatraierrestre e por este refletido.
A escolha desses critérios operacionais estaria nat arai-
mente sujeita a uma condição importante que poderíamos cha-
mar o requinto de eonn ornou: sempre que dois procedimentos
diferentes forem aplicáveis devem fornecer o mesmo m t t i l r "
se a distância entre (Sors marcos num terreno for
por reguas rígidas c por triangulação óptica, os
assim obtidos devem ter iguais. E, se uma escala
de temperatura :i>rr sido "dcfnwda operacionalmente" pelas
leituras de um termômetro de mercúrio e, em seguida, pro-
longada para baião usando como corpo lermomctricoi o álcool,
que tem um ponto de congelamento muito mais baiio. lemos
de nos certificai que. dentro do intervalo em que ambos os
lermometros podem ser usados, eles dão as mesma» leituras.
Ora, segundo Bridgman. duxr que duas operaçâcs de me-
dida lím os mesmos resultados no intervalo de comum apu-
caNlidade c farei uma generalização empírica que mesmo
apoiada em leites cuidadoso* poder* ser falsa Por este mo-
trvo Bndmnu tmuenu «jue sena -pengoto" coosidetar oa doa
procedimentos operacionais como determinando o mesmo con-
ceito crnerios operacionais diferentes deveriam ser considera-
dos como caracterizações de conceitos diferentes a que. de pre-
ferencia, deveriam corresponder termos diferente». Asma,
para nos referirmos as quantidades determinadas 4 custa de
réguat c de triangulação óptica deveríamos usar os ternos 'cosst-
pnmcnio tanã" e "comprimento dpòco'. respectivamente Analo-
gamente, deveríamos distinguir entre mercúrio-tcrnperaiura e
ákool temperatura
Mas, como vamos ver agora, esta conclusão drástica está
longe de ser autorizada pelo argumento, que exagera a neces-
sidade de uma inequívoca irXcrpretação empírica <Jos termos
científicos e n i o leva na devida conta o que chamarem M de
importância sistemática deles. Suponhamos aceita. Conforme o
preceito de BrWigman. a distinção catre comprimento tanl e
comprimi nto óptico e. depois de caãdadosa experiência, estabe-
lecida conso k i putativa a igualdade numérica entre os dois
comprimentos era qualquer intervalo físico a que ambos os pro-
cedimentos de medida tenham sida aplicados. Se sç descobrir
que sob novas coooacoes os dois rxocedíraentos
a resultados diferentes, a lei putativa tecia de ser
FORMAçãO DE CONCEITOS 119

abandonada, mas continuar-sc-ia a usai os (cimos 'comprimento


:•'...' e 'comprjmcnlo óptico* sem mudança d ; significado.
Mas qual seria a conseqüência desta descoberta de casos
dj discordância se. contrariamente ao preceito de Bridgman.
os dois procedimentos operacionais tivessem sido coacebidos
como diferentes maneiras de medir a mesma quantidade, desig-
nada simplesmente como 'comprimento"1 Não havendo mais
consistência entre os dois procedimentos, um dos critérios teria
de ser abandonado: o termo 'comprimento' continuaria a ser
usado, mas com uma interpretação operacional modificada.
Portanto. Tosse pelo abandono de uma lei putativa. fouc
pela modificação da interpretação operacional de um lernto.
sempre poderia ser feito um ajuste aos resultados empíricos dis-
cordantes.
Além disso — e esta é uma objeção muito mais síria —
seria difícil, senão impossível, aderir estritamente ao preceito
d : Bridgman A medida que vão .tomando corpo ai leis e even-
tualmente os principio* teóricos numa área cm investigação,
seus conceitos vlo-se ligando de vários modos enlie si e com
os conceitos previamente disponíveis. F. esses vínculos forne-
cem muitas veies critérios "operacionais" de aplicação inteira-
mente novos. Assim, as leis que vinculam a resistência elétrica
de um metal k sua tcmpcraluia permitem a construção de um
termômetro de resistência; a lei que relaciona a temperatura
de um gás á pressão constante com o seu volume é a base de
um termômetro de gls; termel é um aparelho que mede tempe-
ratura usando o efeito termoctétnco; o pirometro óptico deter-
mina a temperatura dos corpos muito quentes medindo o brilho
da radiação que eles emitem: e as leis c os princípios teóricos
fornecem uma ampla variedade de maneiras para medir distân-
cias: o decréscimo da pressão atmosférica com a altitude é a
base dos altúnctros barométricos. usados nos aviões; distân-
cias submarinas são freqüentemente medidas determinando o
tempo de percurso de sinais sonoros; pequenas distâncias astro-
nômicas sâo medidas por triangulação óptica ou por sinais de
radar: * distância dos aglomerados globulares de estrelas e dos
sistemas galiticos c inferida, segundo leis, do período e do
brüho aparente de certas estrelas variáveis nesses sistemas; e a
medida de distâncias muito pequenas pode envolver o uso, além
de pressupor a teoria, de microscópios ópticos, microscópios
eletrônicos, procedimentos cspectrográficos. métodos que em-
pregam a difração de raios X c vários outros O preceito suge-
120 FILOSOFIA D* CIENCIA. NATURAL

rido poc Bridgman DOS obrigaria a distinguir uma variedade


corrtspoodentc de conceitos de temperatura e de comprimento.
E ainda assim a lota estaria longe de ser completa; pois a
rigor o uso de dois barômctros. diferindo de algum modo na
fabricação, para medir ÜDrtfci — ou de dois microscópios
diferentes, para determinai o comprimento das bactérias — de-
veria ser considerado como determinando dois conceitos dife-
rentes de comprimento, de vez que os detalhes operacionais
nao seriam exatamente os mesmos. O preceito operacionalista
em pauta nos obrigaria assim a provocar uma proliferação de
conceitos de comprimento, de temperatura c de todos os outros
conceitos científicos, nao só praticamente intratável, mas teori-
camente interminável. E isso seria renunciar a um dos princi-
pais objetive* da Ciência, que c o de atingir uma. descrição
simples e sistematicamente unificada dos fenômenos empíricos

A sistema tízacaV> emáhct requer o estabelecimento de


diversas relações, por leis ost priiKÍpios teóricos, entre os dife-
rentes aspectos do mundo empírico que sio caracterizados pelos
conceito* científicos Estes slo como que oi nó* de uma rede
cujos fios lio formado* pelas lei* c peto* principio* teórico*.
Um desses nos., por extmpkx t o c•aceito de temperatura,
ligado ao» outro* nó* por "fu* nõrnico*", doa quais lazcm
parte ai leis que formam a base do* diferentes método* ternw-
metnco* Quanto maior for o número de fio* que terminam
num *ó conceptual tanto mais forte será o papel sistcmaüzador,
ou a importância sistemática deste. De resto, a simplicidade ao
sentido de economia de conceitos é traço importante de umi boa
teoria científica. Pode-se duxr. cm linhas gerais, que a signi-
ficação sistemática dos conceitos num sistema teoricamente
cconôciico c mais forte qnc a dos conceitos numa leoria
menos econômica para o mesmo assunto.
Portanto, considerações de importância sistemática militam
fortemente contra a peohfcraçio de conceitos decorrente do
preceito segundo o qual critério* operacionais diferentes deter-
minam diferentes com»** E, de fato. muna teoria científica nao
te encontra distancio aJgnmn entre diferentes conceitos de com-
primento (por exemplo), caracterizados individualmente pelas
suas próprias definições operacionais. Antes, a teoria consi-
dera um conceito básico de comprimento e vários modos,
mais ou menos precisos, de medir comprimentos cm diferentes
circunstâncias, indicando muitas vezes o domínio c a precisão
do método de medida.
I-ORMAçAO t»r CONCEITOS 121

Alem dliM. o dewnvttlvlmcnlo do um sistema d» leu —


c em especial de uniu teoria — conduz freqüente mente a uma
modlflcaçto dos critério» operacional» originalmente adoudoi
pma ulgun» conceito» ccnlraja. Pof exemplo, uma caraclcriu-
e,Ao operacional de comprimento lera que cspccllicar. enlre
outras coliai, uma unldado de medida que, normalmente, e
dcíirildii comu a dliianuu enlie doii Iraço» gravados nuniu pnr-
lleulur bnrra de metal. Ma» a i lei* e o i principio» teórico» da
Hsica motlrum que a distancia entre o* traço» viirla com •
temperutura dn huria e com quaisquer esforço» a que poiia
eitur subiutiida 1'iuo a**C|[urur um padrão uniforme de com-
prlmcnlo, lotna-ic enlâo ncceiaário acrescentar cena» condiçoe»
u dcfiniçAo inicial. O metro, por exemplo, í definido pela dl»-
liliuh «Ir ilms Ii.nm pjivndu* no Mrlro 1'ndrflo l n l . n i . . .i>n.il
que * uma turra feita de platina Indiuda, com uma »cçao
ulii IRíUIIIII cm (titiiiii tlc K — quando a batia citA na ivmpc-
ruluru do gelo fundente c está iimclrlcamcnlc suportada por
doli rolos, colocadoa perpendicularmente ao sen comprimento
num pluno hortionlal r separado» pw 0,371 metro*. A seção

cullar foi desenhada pata garantir o máximo de rlgidei da


C nu; i» MpcfilfloiçflBi qunnio ao mporic procura iam eviiai a
diminuta modificarão pnr (lesão da distancia enlte os trneo».
depois que a analise leorleu mostrou que a colocação prescrita
parti o» rolo» 4 a melhor possível no «entido que a distância entre
oi liayos fica virtualmente inalterada para pequenas alterações
na nosIçUo dos tolo».'
Consideremos um outro exemplo. Um do» mau antljio» c
do» mal» importante! critério» empírico» paru a medida do
lempo foi fornecido peta» umforinIdades nos movimento» apa-
rento tio Sol c ilm rtiirlm [Uui: lomnu-w, como unidade de
lempo. o lempo decorrido enlte duas pastagens comecutlvai
de um desses astro» pela mesma posição aparente (por exem-
plo, do Sol pela sua po»içl 0 zcnltc). Unidade» menotci (oram
"operacionalmente" laiaetch/adn» por meio de relógio» de IOI,
ampulhcliis, dcptidrai e, mal» tarde, pelo» pêndulos Obser-
vo »o que nciia faie nlo fa* Kntido Indagar »c dois dias solarei
diferente» ou duas oscllaçôei complcios diferente» de um pên-
dulo sAo "realmente" de mesma duração O oprracionlimo
corretamente no» lembra Que nessa fase o» critério» eipoclfl-

• Uma MI«-»,I<> din <bulHtt a dai ton.liS»av>< w«flm (<*>•<•«•• •>"»•


••I l««g"IS<» •* "l-tliaa Manai Mau (•"•I" and I Mit (••lliattM. MUI-
ianO !•<",..". Botita. IHI), ia- í
122 FILOSOFIA DA G é N C I A NATVBAL

cadot lenon para drlaár a tfatiátáe de duração c. portanto.


a questão de sa ber se os períodos serapora» •arcados por eles
são ip<ujs só pode receber a resposta trivial • sun — poc con-
venção definidora A afirmação da igualdade deles não ê om
juízo sobre falas empíricos que poderá ser ara coeaoo
Mas a formulação e o pcopeswvo refraameato das leis c
das teorias qae encerra» o concerto do lerapo conduziram a
uma modificação dessa errtenos operacional n c i u Assnn.
de acordo com a Mccânea Clássica, o período de um pêndulo
depende de soa arnpbnsde; e. de acordo COM a teoria Sdiocên-
Iríca, que justifica o movimenta' aparente dos astros peta rota-
ção diária da T e m esn tono do sés eixo e pda sua revolução
anual esn torso do Sol. cotntUada com a leona Dcalooáana.
os aderente* dias solares têm durações temporais desiguais
ainda qae a Terra gire cosa vrlncidaslc aapalar constante Mas
cm virtude do atrrio provocado pelas mares c outros fatores
scmclhanics esta vttocãdade aapalar deve di•anuir lentamente,
o que se confirma pda comparação das datas repatradas para
certos cchptet solares na aatiesidadc com as calculadas a paru
dos dados amnsosMCOS atuais. Assim, o* processos onpaal-
menlc esnprcpdos pars a mrdhda do tempo ••marsan a ser tra-
tados como caparas de raraccer «asa medvda apratunadn; c
eventualmente, por motivoa teóricas, sistemas aovos e latcira-
mentr diverso* — Uo como o retomo de quartzo < os rtlopos
atômicos. — pasmam a ser adotados como fosses de escalas
de tempo mais precisas.
Mas como é possível qae as leis ou as teorias mostrem a
inetabdão dos critérios operacionan para os próprios lermos
cm que das são formuladas — critérios que devem ser pressu-
postos c usadas, aa vertficaçic. dessas mesmas leis ou teorias?
O processo pode ser cpatpiratlu ao da coawnacao de uma ponte
sobre um rio: de início, a ponte é colocada sobre poniàes ou
sobre suportes provoono* ancoradas no fundo do rio; em
tffssBs a ponte e usada cosa* plMatorma para melborar e
mesmo deslocar as fundações, fssamsease é amstada e recebe
para se srasiatnrmT mtm todo bem faadado
c crtruturalmrsst separo. As Ias e as teonas csfadBcas podem
dados obDdos por tsseto de critérios operacio-
adotados, asas sem se ajustarem com eiati-
a esses anáoi; pois, como vimos, outras cosuideraçôn. entre
Mmt a de Bmpacádade t ã t l f rtíft*. desemsenbarn un papel
E cooio as
Foauaçio M Concerni» 123

I r á t o* princípios teóricos assim aceito* p a n a m , pelo menos


p u n i K t u m c n i e , a exprimir corretamente as relações entre o*
conceito» que n c k s figuram, nâo e de surpreender que o i p r i -
mitivo* critério* operacional* venham a ser encarados como
caparei de fornecer caraclcfitaçõcs. suroeniç aproximadas desse*
CaMdatB.
A significação empírica refletida noa claro* critério* de
apuCaçào. a quC o üpcraciiHiu,m.tf dá cum ra/l>> tanta impor-
tância, não c o único dcsideraio para o» conceitos cientifico».
A significação sistemática i outra exigência indispensável — a
t * l ponto que a interpretarão empírica do* conceito* Icõnco*
pod> ser alterada no interesse de encarecer o poder sinemati-
ia*tor da rede teórica. Na investigação cientifica, a fotmação
de Conceito*, e a f o r m a ç i o de teorias devem caminhar de mãos
dada.

So**»; U QUISTO*-* 'OPFHACHm.LMeNie « M SEHTIOO"

U m doa problemas intrigantes que Bridgman discute, para


•lustrar o uso critico das normas operacionais, refere-se 4 possi-
bilidade de haver uma mudança invcriftcávcl na escala absoluta
de comprimento. N l o e possível que todas as distancia* n o
universo estejam variando constantemente de modo a dupli-
caram de valor cada 24 horu\?' l u t e fenômeno nunca poderia
•cr percebido pela Ciência, uma vez que a* barras usadas na
dvMrmmaclo operacional dos comprimento* alongar « iam na
mca*M proporção. Bridgman conclui dal que a questão não
tem sentido: julgada pelas normas operacionais, náo haveria
tal expansão do universo, pretender que ainda assim et* possa
ocorrer — desconhecida e para sempre imperceptível para nos
— é algo sem significação operacional, sem conseqüências ve-
rificava* mediante operações de medida.
Esta apreciarão lem que ser mudada quando considera-
rnoj que t m Física o conceito de comprimento não é usado iso-
ladamente, mas em leis ou teorias que o vinculam a outros
conceitos. A combinação da hipótese da expansão universal
com outros princípios da Física, que servem ;m.i.> de hipóteses
auxiliara» <c(. capitulo 3 ) . conduz de fato a implicações opc-

i1 1
1» tatavlKto •• iia>i'HHMi
» »B™-»H»9 1lt>l'*M"H wnK
M i l «p.<ti
M ^ H V » mm • * i-*J%-M <*•
» i l M I » Utm -t V i - c . 'W,..,, mm «• IuI I IIIIIII •» wmvi »,i.i.i.i
124 FILOSOFIA DA Casa* NATUXAL

racionalmente verificáveis. Por eiíraplo, te a hipótese ê ver-


dadeira, cri lio o lempo guio pat um srail wooro para ( w m i a
a distancia, e nire dois pontos — digamos, as margeos opostas
de uni lago — duplicaria cada 24 horas; e isso seria, veribcivcL
Mas se modificarmos a hipótese acrescentando a suposição de
que a velocidade dos sinais sonoro* e eletromapiébco* aumenta
exatamente na mesma proporção eme todas as dbstaaãas'1
Ainda assim a nova hipótese teria implicações veafkavenv. por
exemplo, se admitirmos que a expansão universal aio afeta a
produçáo de energia nas estrelas como o Sol. o brilho delas
decretecria à quarta parte do valor inicial em cada período
de 24 horas, pois durante este tempo a superfície quadrupb-
caria. Assim, a impossibilidade de vení-cacio operacional de
uma hipótese tomada isoladamente "*o é ratão suficiente para
rejeita-la como desprovida de conteúdo empírico os como
cientifica mente Km sentido. Devemos, aates. coasádert-U no
conluio sistemático das outras leis e hipóteses em que vai
funcionar e eliminar as implicações verificáveis que pode
então originar O que nfto quer duer que este procedimento
dé sigrufKaçáo a Iodai ai hipótese* que poisam ter propostas:
entrr ouins. JI h;|>'trte\ sobre forcas vitaa e sobre afinidades
naturais universais, diicutidas amenor mente, continuariam
excluídas

O l A l m * DAS SE.VTENÇAS DTTCRWTATIVAS

O oue dissemos tobre o opeíacioniinxi foi tujrrido peto


pensamento que uma teoria só é ipücãveJ aos fenômenos em-
piricoi depois de ter seus termos característico» convemente-
menie inierprciados mediante um vocabulário pré-lconco. isto
é, aceito independentemente dela. Nossa discussão mostrou qoe
a coBcepçio operacionista dessa interpretação fornece sugestões
proveitosas, mas requer modificações coarideráveit. Em par-
ticular, tivemos que rejeitar a lese de que ma coaorilo *M^M«H»
é "sinônimo"' de una conjunto de operações Pois. primeiro).
pode haver — c os há habitualmente — vánot critérios aher-
aaiivos de aplicação para um mesmo termo, baseados em dife-
rentes conjuntos de operações. Segundo, para compreender o
significado de um termo científico e usa-lo apropriadamente,
há que conhecer também seu papel sistematizador inafcado
pelos princípios leóricos cm que funciona c que o vinculam a
l«J«MAÇXO OF CONCEITO» 123

outro» termo» da teoria. Terceiro, um termo cientifico nlo


pode ur considerado "sinônimo" de um conjunto de operações
no sentido de ler o seu «jfnifiu&i completa mente determinado
por ela*, pois. como vimos, elai 10 fornecem critério» de apli-
cação pari um termo dentro de uma limitada faixa de condi-
çAc», pof exemplo, ai operações que num léjua e termômetro
10 fornecem imrrprtiaçàts panrtaii para o* termos 'tempera-
tura' c 'comprimento', validai apenas oVntro de uma faixa
limitada de circunstâncias.
VbW» assim, of critério» operacional» di/cm menos que
o que K pede a uma dcfmiçüo plena. Há entretanto um outro
ponto de * i i l i icgundo u qual t l n duem mal» - na realidade.
muito m*U do que habitualmente te entende por uma deflnlçlo.
Ordinariamente, eonecbe-se uma definição eitipulnllva como
uma wntença que mlmdtu um termo conveniente ou um slm-
bolo abreviativo simplesmente especificando o K U lifilUitdo,
Rm acrescentar qualquer informação falual. Mai doti crité-
rio» operacional» para um meimo termo lím Implicações cmpf>
rlcaa M . como é freqüente, houver tupetpotlçto den domínio»
da ipHcacfto « M mantivermo» o rcquHIlo de continência pari
critério» operacional» alternativo», com» (tbvrvumo» anterior-
mente Vlmoa t)iM, aa diferente» procedinwnln» forem adota-
do» como critério» de aplicação para um meimo termo, defini
do» enunciado» dcssei critério» que nu» n n * onde se aplica
mau de um daquele» procedimento» o» residindo» «eríln nt
meimo», e essa implicação tem o caráter de uma generalização
empírica. O enunciado considerado anteriormente, que exprime
i ifuaJdadc numérica doa comprimento» "óptico" o "Idlll" em
lodo» oi caoo» t m que amboa oa procedimento» poaiam oer
uiado», é um exemplo Outro c o que ats>r«e'4 a Igualdade 0*1
leitura» feita» com termômetro de mercúrio c com termômetro
de álcool no intervalo em que tanto o mercúrio como o Álcool
l i o liquidai. Ene enunciado é uma conseqüência da eitípula-
ç l o de que qualquer um do» doii termômetros pode ser usado
na determinação operacional da» temperatura» Em luma, a*
sentença» intcipreiativa», que fornecem critério» de aplicação
para o» termo» cientifico», combinam freqüentemente a funçio
ctlipulativa de uma definição com a funçio descritiva de uma
fcneraliuçáo emptrtca.
H.i ainda um outro ponto de vista iritereuantc c impor-
tante, legando o qual ai sentenças inlcrprftativas diferem dai
definiçõe* no icntido considerado anteriormente. O» termos
126 FILOSOFIA DA C I ê N C I A NATURAL

científicos, são freqüentemente usados apenas cm locuções ou


frases de ceda forma característica; pof exemplo, o conceilo
de dureza, lal como está caracterizado pelo leste do risco, des-
tina-se a servir apenas em expressões da forma, ' o mineral -">L
é mais duro que o mineral ms' e cm oulras frases que são <Je-
fíníveis medianie tais expressões. Nesses casos, è suficiente
ler uma interpretação para aquelas expressões características.
No nosso exemplo, Lal interpretação e fornecida pelo exame do
risco, que dá um significado empírico a 'mi é mais duro que
mj mas não ao termo 'dureza" em si, nem a expressões como
'o mineral m é dur»»' ou 'a dureza do mineral m é tanlo'.
Enunciados q*c especificam plenamenlc o significado de
um contexto panicular que contém um lermo dado são cha-
mados definições coniexlmii. paia distingui-los das chamadas
definições explícita*, tais como: "Ácido" terá o mesmo signifi-
cado de "ektrólito que fornece lons de hidrogênio". Por analo-
gia, pode-se dizer entao que as sentenças inicrpreUtivas para
uma teoria científica fornecem usualmente interpretações con-
tcxiuais para r» termos teórico*. As várias maneiras de medir
comprimento, por exemplo, nflo interpretam o termo 'compri-
mento' em si mas somente expressões como 'o comprimento
da disiincia entre o« pontos A r II' c ' o comprimento da linha
/ ' ; os critérios para a medidu do tempo nada dizem sobre o
conceilo de tempo em geral; e assim por diante. No caso de
certos eonceilos leftricos, corno 'átomo', 'eléciron". 'fôlon'. so-
mente contextos muito especiais e um tanto restritos podem
permitir uma interpretação que forneça base pata verificação
experimental. Certo, é possível dar uma defmiçõo teórica do
termo 'eléciron', isto ê. que empregue outros termos teóricos
('eléciron' quer duicr 'partícula elementar cuja massa cm re-
pouso é 9,107 x 1 0 - " g . cuia carga é 4,80} x I 0 ' ° ' ' « -
klin c cujo giro í de meia unidade'), mas como seria uma
definição operacional do termo? Certamente • não podemos
esperar que sejam dadas regras operacionais paia determinar
se o termo 'eléciron' se aplica a um dado objeto — isto é.
se o objeto é um eléciron. O que pode ser formulado sio inter-
pretações contextuais para cenas espécies de enunciados con-
tendo o termo 'eléciron'. tais como: 'existem cléctrons na su-
perfície desta esfera de melai isolada", "cléclrons eslão esca-
pando deste clectrCfdio'. 'este rastro de condensação na câmara
de nuvem marca a trajetória de um eléciron'. e análogos. O
mesmo »e poderia dizer dos conceito* de campo elétrico e
POAHAÇlO r». CONCEITOS 127

campo magnético. Critérios operacional* podem ler formu-


lado* para verificar a estrutura e a intensidade dele» em regiões
dada*, mediante o comportamento de corpos de prova, traje-
tórias de partículas, tios percorridos por correntes etc. Mas
lata critérios só serio válidos em condições especiais, experi-
mentalmente favoráveis, como a homogeneidade em região su-
ficientemente ampla ou fortes gradientes em cenas distâncias.
OU análogas; um enunciado que exprimir uma condição leori-
lamcnlc possível mas altamtfntc complicada do campo (abran-
gendo lalvcí fortes mudança* cm distancias muito curta») pode
•IO lei iiii|>li.'i>çoci "opciaiíonalmenlc verificáveis",
1'odcmo» agora ver claramente que os lermos de uma
teoria cientifica n&o podem « r pensados como lendo cada um
número finllo de critérios operacionais específicos ou, mais
geralmente, de enunciados jntciprclativo» ligados a eles. Poli
os enunciados interprclalivos «*o pensado» como determinando
os modos pelos quais as sentença» que contem o termo inter-
pretado podem ser verificada»; cm outras* palavra», quando
comhlnndos a cisai «cnienCA». oi enunciados lnt?rprclaiivi>t
devem conduzir a inipluaçõcs verificáveis, formulada» num
vocabulário de anieman ilitponfvel Assim, a Inlciprclaçlo opt-
racional da durcia, por mem do lesie do risco, permite • dcn-
vaçlo de Impllcaçõe» verificáveis a partir d* sentenças da foima
>i< e mais duro que m,', a interpretação, baseada no teste pelo
papel de lurnimol, fa/ o mesmo para sentença» da forma 'o
liquido I 6 um ácido', c assim por diante. Ora, a» diferentes
maneiras pelas quais (ou a» implicações pelas quais) as sen-
tenças, que conltm os termo» de uma (cotia cientifica, podem
•cr verificada» estão determinadas pelos princípios de trans-
posição da teoria. Esses princípios, como notamos no capitulo
6, vinculam a» cnlidadci e ot processos caractcrlilicns, supostos
peta teima, com os fenômenos que podem ser descritos em
lermos pré-tcóricoi, ligando aisim os lermo» teóricos aos já
entendidos previamente. Mas esses princípios não ainbu.ni a
um lermo teórico um número finilo de critéhos de aplicação,
como se v i considerando ainda uma vei o termo 'cléciron*.
Já observamos que nem iodi> sentença que contem esse termo
lerá implicaçftj» verificáveis bem definidas. Coniudo, as sen-
tenças contendo o termo uue produzem implicações verificá-
veis MíO de uma diversidade ilimitada, e a diversidade corres-
pondente de verificações não pode, sem arbitrariedade, ser
considerada como conforme a apenai dois, ou sete. ou vinte
I2t F I L C O O í U D* Q é W J A NATU*AL

otténot «Heroeo & apàcaçio para o lenno "décMo' Aqm.


catão, a concepção de
dasbacoat JMii|JiiHi1ra
nãomm te» ojw *
coMBto de aiiai friM de aa—jiio.ln qoe M O urterpretam os
m u » leonco* •ifcnilnitoiiir « m fornecem m a variedade
jpJin—iiti de crüérioi de aplicação peta deterainacão de uma
variedade, ipiataeaee •defefcda. de implicações wif.ca*ei*
para o* f — I K T " * 1 " q»e roatfai • » oo BW» ttnaos teóricos.
RLDUÇAO T E Ó R I C A

A CONTBOVÉIISIA MECANitisMU VS. VITALISMO

Segundo a doutrina, neovitalista de que ji tratamos nio


se pode explicar certa* características dos corpo* vivos —
como a* de adaptação c de auto-rcgulaç&o — Km apelar para
fatores desconhecidos na.i Ciências Físicas, que são as cntelé-
quias ou forcas vitais. E. segundo * nossa análise, o conceito
de entelequia. Ul como f usado pelos ncovitalistas, nio pode
fornecer explicação de fenômeno biológico algum. As razoes
para esta conclusão nio no* autorizam a negar que os salemas
e processo* biológicos difiram fundamental mente dos puramente
fhKo-qulmkos. como afirma a tese básica do vitahsmo. contra
a qual se opõe a chamada doutrina mecanKisU de que os
organismo* vivos nada mais sio do que sistemas físico-quimicos
complexos (embora nig puramente mecânicos, como o velho
termo 'mecankismo' poderia sugerir).
Estas concepções antagônicas (oram assunto de longos •
calorosos debates, cujos detalhes não podemos reproduzir aqui.
Mas evidentemente a questão só pode ser discutida com pro-
veito se a significação das teses opostas for suficientemente
esclarecida para revelar que tipos de argumento c de eviden-
cia podem ser sustentados no problema e como poderia ter
decidida a controvérsia. E este problema, tipicamente filo-
sófico, de esclarecer a* concepções antagônicas que vamos
agora considerar; como veremos, o resultado de nowai re-
fkiôM teri também certas implicações quanto a poaiihilidade
d* decidir a queiiao.
Sem dúvida a questão é saber se os organismo* vivo*
sio "meramente", ou exclusivamente, sistemas físico-químicos.
Mas, qual é o sentido de dizer que eles o sio? Nossas obser-
vações introdutórias sugerem que podemos sintetizar a doutrina
:;. FtosofiA M C*NC:* i b n a

toe: (M.) : > i = i u ; ; - ; ; ' ; r >' . ; -


características
detentas em termos dos -•»••—«T
(Mi) lodat os aspectos do compor -
Q W , «ar podes ser de fato eiptl
b e teoria*

i ahawtfi dessas uoervões. é daro ooc no asa-


dos fcsotscaot bioèopcot reajuer o «to l i o
de irmos da Ftaica c da Qséraka. nas de tensos
bicdõecos qae ado fifarua no vocabulário
T f l w w . por eieaiaso. o ensaciado *aa
da M K ocorre. escre M D B costas, noa coa-
«se M

« i p - o - Secsado
biotteKot neles
cc rolas núcleos.
i ser carseteria-

ata* especifica de M>. que irtafwi


se todas os fcnotncsos btotó-
* ••*!<•iiliili•
ter cspücavers por
ateio de snactptot Baioo taátakua, eacio todas as I n di Bio-
logia «rio ooe ser dtr>âycts de leis e pnadpaos troncos d*
Fbka e da Oaatca A tese de que M I — o r pode ser enca-
rada cosa© «asa versão asast especifica de Ms. que caamare-

a foiot t à sJadM.f • £ m
ceaot como as kit d
dade doa coseekot e d » l ã de atsts oBCsais* aos de ostra
é asterprctsda respeetrvasseste cosso aesáatWsdsde dos con-

oâs dJttrr ase o atecasãtaso afiran a redo-


a Fitara e 1 Ottssáca oa, se se prefere,
•M oeja a asaonossia da Jaohpia. a u t dos coaccitot e prio-
REDUçãO TEóRICA 131

d p i » biológico». Dir-scl cotio que o neovitaUsmo afirma o u


autonomia c suplementa, casa tcie com a doutiina dai forc.it
viun. Vamos agora considerar a» leses roecanicislas mais pof-
menoriiadamente.

Rrou^Ao txM T U * »

A lese Mi", sobre a defmibilidade doa termo* biológico».


n*o pretende, claro, afirmar a possibilidade de atribuir «igntfi-
c*doa fítko-qul micos ao« tcrmoi biológicos por definições citi-
1'ulitivj» arburariat. Admite tem discussío i|uc ,n termos no
mcabuliiio da Biologia tenham tigmfkadot tccnKoa dcfinidot,
•na» pretende que, num tentido que devcmoi tentar esclarecer,
a significação dele» posta ter «dequadanKnle expressa com au-
xilio de conceito» da Hstea e da Química. O que a K M afir-
MII .11!.i". 1 .1 [vmiluliJ.nli .1. wrem il 1 I M li I -in.1 N". t dei
cnUvM" doa conecitoa biológico» cm termo* de Fliica e de
Iruimica. conforme a cUuificaçlo da» definições que apresen-
tamos cm linhai gciai» no capítulo 7. Ora. no cato. citai de
finiçOe» datcriliva» dificilmente poderiam ser analítica». Poii
Una obviamente (alio pretender que para t^da termo htoló-
gteo — por exemplo, 'ovo de galinha', 'rctina'. 'miloae'. 'vírus',
'hormônio' - - ealtu uma expressão cm termos fltko-qulmko»
qiM lenha o metmo sigmficado, no sentido cm que 'criança' tem
Ct mesmo significado que. nu 4 sinônimo de. 'menino ou me-
nina' Seria metmo diftcil indicar um to termo biológko para
o qual se pudesse dar um sinônimo físico-químico, e m u absur-
do atribuir ao mccaniclsmo tal interpretação de sua lese. Ma»
Umi definição dciculivj lambem pode K l tniiipirnHlula num
sentido menos « m i o . c m que o Minam nao precisa Ut O
mesmo lignifkado, ou intenção, que o dtUnandum. nua so-
mente a mesma extensão, ou aplicação. O Wniens então ca-
peçifici condições que l i o , de fato. satisfeitas por lodo* o* caso»,
« lomaotc por eles, aos quais se aplica o dtUntendum. Um
txcfltplo tradiciooal < a definição de 'homem' como 'bipede
implume'; nio assevera que a palavra 'homem' tenha o mesmo
tignifícado que a expressão 'bipede implume'. mas apenas que
tem a mesma extensão, que o termo 'homem' se aplica a Iodas
«a coisas que são bipede» Implumcs e somente a citai, ou que
ser um bipede implume c condição ncceuaiia c suficiente pari
1J2 F u o s o r u DA CrfNOA SATURAI

ser uni homem. P o d í i » rcíerii-oos a enunciados deste gênero


como drflrãç&et em rxJmsõo e podemos esquemarizá-los P»
forma.
• ttm a m w oKTdo que
S*o desie tipo as definições a que um — j "ni pode
recorrer para àatstnr e apoiar sua lese. Exprime* rrmjíçpf
físico qausuúcai •eccsuirâs t ssafjoeate» para a ipncabiudadc dos
termo» biológicos c são porUato os resultados de pesquisa*
biofísicas oc bsoramaakai quase sempre difice» £ o qoc «
exempüfica pela caracterização de substâncias coano a pesuc*-
Una. a tesaosterona e o coksterol cm ternos de M M esüluiiU
moleculares — uma tacanha que Derrote "defatãr" oc termos
biológico* mcd:aole knsos p a n M M t ipafinj ia Mas tais de-
finições não pretendem expressar os significados dos termos
Uolópcos O significado origMal da palavra 'acaualma'. p«*
eieroplo. m i a qae ser istdkado caracterizando a peaàáswa c O
mo Btu sabstancia bartrricida prodárida pelo fungo Pentcdhufn
imatton. a leslosteroea t ongiaalmcnle definida conto um nof-
monio KiuaJ masculino, produzido pelos testículos, c asai»
por diante. A caracterização deasas snbailncias peU estrutu/a
molecular t alcançada aao por analise do signuVado. mas pi*
analise qolnuca; o wiufcaiu coauotui uma descoberta bioquí-
mica, c a t o lógtca ou filosófica, capresao por aras rHipirifui c
n i o por oVKasgatfaa de saaonámu Na realidade, ao accàtarmc*
as car*clerizac.ões qmunúcaa coano sovas definições doa termo»
biológicos, fairmos uma mudança não so de "tw'--»'*iT ou iav
tencão, mas lambem de extensão Pois os enainos najauirm
fiajatifr**^ como [n rTiiisuji <m coano m i i u m u — certas subs-
tâncias que não foram produzadas por sistemas orujlaacoc, ma»
foram tirgciaadas n u u laboratório.

O iraporucie a reler é qoc o esübclecimento de tais de-


finições reoaer pcsqsaisa esapíiãca. Portaitio. em geral, saber te
um termo biológico é 'defmfueT somente à custa de termos
de Física e de Química é uma questão que não pode ser res-
pondida pela simples cotstrssmsaçâo do significado, ou por qual-
quer outro proccobahcafo aío-cropírKo Logo. a tese M,' n*o
pode ser estabelecida nem refutada por razões a prior), cKo C-
por considerações que possam ser desenvolvidas "aniiiiiiiiBsf
te" à — ou, melhor, mdepamGassmseaDB d l — frffnria caar-
pírica-
REDUçAO TKóBICA 133

R E D U ç ã O DAS L I I S

Pastamos agora à segunda lese. Mi', na nossa interpre-


tação do mecinicismo — a que afirma serem u leis e os prin-
ciptoj tcóncoida Biologia dcnvívcli doada l U i c a c da Química.
£ claro que deduções lógicas a partir de enunciados formula-
do* exclusivamente em termos de Física e de Química n i o
c b c p i â o a k i i catabictutieanKQh: biológicas, de v « q«e « ' "
têm que conter também termos especificamente biológicos.1
Para obter essas leis. precisamos de premissa» adicionais, que
exprimam íOQCAôCI entre as característica* fisico-qulmicai c a i
biolópcai. A situaçlo lógica aqui c a mesma que existe no
uso cxplanatório de uma teoria, onde slo exigido* princípios
de ir imposição, além dos princípios teóricos internos, para a
derivação de conseqüências que podem ser expressas exclusi-
vamente em termos pré-teóricos. Aqui. para deduzir leis blo-
lógKis de leis flsico-qulmicas, sao necesvari** premissas adi-
cionais que contenham termo* biológico* e termos fisteo-qul-
•nicos c unham o caráter da leu que vinculam certo* aspecto*
flsico-qulmicos de um fenômeno a certos aspectos biológicos.
Um enunciado conectivo desta espécie pode tomar a forma
especial das lei* que acabamos dê considerar o que servem
de base a uma definição cm extensio dos lermos Wológicoi.
posa afirmam que a presença de certos características flslco-qul-
aaicas (por exemplo, uma substancia ser de u l a tal oatiutura
molecular) c condição necessária e suficiente para a presença
de certa* características biológicas (por exemplo, ser tcstoslc-
roeta). Outros enunciado* conectivo* podem exprimir condições
fbieo-qulmicas que l i o necessárias mas n i o suficientes, ou con-
dições que l i o suficientes mas nio necessárias para uma dada
característica biológica. As generalizações 'unde cxlttc verte-
brado vivo existe oxigênio' c 'qualquer fibr* nervosa conduz

I Pvatm M " d*vto q>« H «m*(Uik>M kwuitum* JM^I-n í, u«


•W**» *• iiii fcim ••* W»»M» n-m uiiBii "nona", »u> «, UIDKH *a*
•L* auMíba *M ii Ou, A <swKts4s * Fi«i. 't'm i " * ••[iniir
l ^ â . TTaiian « • lllllll Ulllllll ' iqWMa " j l W N Um !«• M II»-IHH
» • IIH< H B ( BM « U B «• «-Mt-il— *rfO*> Md (•,„*, (oaiUBIC «*•
* «•» HIMLIIéí * »K>ioii« MM • T J I p-miiiB *, Kliin mmm umiHm
- • .'• .-•• i i i L i n l a i V r . ! • , : • ' •.,!•'. . .: i -.. • r- .ruiu*
Ai »m>riirt auinJu W H Í ' * * >•»» ! " » " " lUlilllllt". Um l | t " (»(>•"* '"I
« » M i f i « _ n ^ i i - : ; - " «amila •<wf\i4v WB ( « " S a i n i u « m t • " 1'm
S P « SPiSiaw tnwmi**» * • Hulnin * u * • * « • • *"*".!*> « » > i » n u »
• • M > nsullmr-j.* l » b « — 1 « « « • P I B f t M M W kaMAaKOt QUC " • •
" m t * ptji „ J I msMft»! o» par atini>«i*f oui-o" iiraioi. aBMaiw uini "n*
- ^ . l o t l u » A I J U I W 4 i k i tiMA N ( M «MuD 1 Kl fiUCS f l K M I .n»0
..-. ^«- „ „ ,,„, Mol-OO l.fHlt.HI-1 •—,!,»..
134 FILOSOFIA DA CIêNCIA NATURAL

impulsos elétrico*' são do primeiro tipo; o enunciado que o


gãt tabun (caracterizado por tua estrutura molecular) bloqueia
a »iividadc nervosa e por isso causa a morte no homem. í do
segundo tipo. E muitos ouiros tipo* de enunciado* conectivos
sín* concebíveis.
Uma forma muito simples de derivação de uma lei bio-
lógica a partir de urna lei fisico-quimica poderia xi esquema-
tizada da seguinte maneira: Sejam 'PC. 'PC expressões que
contêm apenas leirnus físico-químicos e sejam 'BC. 'BC expres-
sões que contam um ou mais de um (ermo especificamente
biológico (podendo conter também lermos físico-químicos). Se-
ja uma lei físico-quimica de enunciado 'iodos os casos de I',
são casos de PC — que chamaremos Lr — e sejam dadas as
seguintes leis de conexão: Todos oi casos de B, são casos
de Pi e Todos os casos de Pt sâo casos de BC (a primeira
diz que as condições físico químicas de lipo Pi CâO necessá-
ria* para a ocorrência do estado ou condirão biológicos II,; a %e-
gurfda. que as condições fí-ico-químicai Pi são suficientes paia
o aspecto biológico Ht). Entlo. como le vi facilmente, uma
lei puramente biológica pode set logicamente deduiida da lei
fisico-química J.r em conjunção com ai leis de conexão, i sa-
ber: 'todos os casos de B, tio casos de BC (ou 'Sempre que
ocorrerem o* aspectos biológico» B,t ocorrerão também os aspec-
tos biológicos HC).

Em geral» pois, o número de leis biológicas explicáveis


mediance leis físico-químtcat depende do número de leis de
conexão convenientes que possam ser estabelecidas. E isso,
mais uma vez. nau pode ser decidido por argumentos a priori;
a resposta >ó pode ser enconlrada pela pesquisa biológica c
bie/isica.

REFORMULAçãO DO MECANICISMO

Sem duvida, as teorias da Física e da Química e as leis


de conexão que são disponíveis no momento atual não bas-
tam para reduzir os termos c as leia da Biologia aos da Física
e da Química. Mas a pesquisa neste terreno avança rapida-
mente, Jazendo- sempre crescer o alcance da interpretação flsi-
co-química dos fenômenos biológicos- Podcr-se-ia então inter-
pretar o mecanicismo como a opinião de que DO futuro a Bio-
logia será reduzida à Física e à Química. Mas esta formulação
RtouçÀo TEóRICA 135

não pode ser feita sem cautela. Pois na nossa discussão admi-
timos ser possível separar claiamenle os teimo* de Física e de
Quimiüa dc um Indo c oi especificamente bíDlôRicm do outro.
CCKO, diante dc qualquer lermo cientifico atualmente cm uso,
c provável que não haja dificuldade cm decidir Intuitivamente
se ele pertence a um ou a outro desses vocabulário! ou a
nenhum deles. MaB seria muito difícil formular explicitamente
critérios gerais mediante os quais qualquer termo cientifico ago-
ra cm uso. c também qualquer termo que venha a ser introdu-
zido no futuro, possa ser identificado dc modo inequívoco como
pertencente no vocabulário especifico dc lal disciplina particular.
Pude mesmo wi impossível tldl tais crilério», pois no decorrer
da pesquisa futura a linha divisória entre a Biologia « •
I;isi ca-e-Química pode tornar-se tao pouco nítida como a que
separa nos nossos dias a Física da Química. Pode muito bem
acontecer que teorias futuras, formuladas cm termos dc espé-
cies inteiramente novas, forneçam explicações tanto para os
fenômenos atualmente chamado* biológicos como para os que
soo agora denominados físicos ou químicos. No vocabulário
de uma tul teoria unlficanlc a distinção entre termos flslco-
qulmicoi c lermos biológicos Ma teria mais sentido, nem a
questão dc rcduílr a Riologia a Física c A Química.
Um desenvolvimento teórico deste gênero, cntrclonto, nlo
está alntla a nosso Mcance. E enquanto não estiver, é melhor
inlciprct.ii .1 inccaniclsino como um principio heurístico, como
um preceito orientador das pesquisas, do que como uma tese
ou uma teoria sobre a natureza dos fenômenos biológicos. Assim
compreendido, o mecanicismo estimula o cientista a persistir
na procura de teoiios básicas flsico-químicas dos fenômenos
liiolofúeot, cm vez de ic tcii|'iiir a opinião de que vt conceitos
e princípios da Física o da Química sfio impotentes para dar
uma explicação adequada dov fenômenos da vidu. Os triunfos
alcançados pela pesquisu biofísica e bioquímica orientada por
este preceito constituem uma credencial .1 qual a concepção viu-
lista nada tem a contrapor.

KnouçAo DA FSICOLUOIA; U BEtlAVlomaMO

A questão da redutibilldade também foi levantada para


outras disciplinas cientificas alem da Biologia. E é de particular
interesse no caso d» Psicologia, onde se coloco no famoso pro-
136 Fll-OSOFIA DA ClÊNCI* XATUIAL

blema psicofiiico, isto è, no problema da relação entre o corpo


e o espírito. Uma concepção reducionista da Psicologia sus-
tenta, grosso modo, que todos o* fenômenos psiccdóeicos sao
fundamentalmente de natureza biológica ou físico-quimica; ou,
mais precisamente, que os lermc* e leis espedficos da Psico-
logia podem ser reduzidos aos da Biologia. Química c Física.
Entendeodo-se por redução o mc*mo que antes, valem aqui os
mesmo» comentários gerais. Assim sendo, a "definição" redu-
tiva de um terno psicológico requer a especificação de con-
dições biológicas ou físico-químicas que sejam necessárias e
suficientes a ocorrência da característica, estado ou processo
mental (tais como inteligência, fome alucinação, sonho) corres-
pondente ao termo. E a reduçãp das leis psicológicas requer
princípios convenientes de conexão, contendo lermos psicológi-
cos, além de termos biológicos ou ftsico-quimicos.
De fato. são conhecidos alguns desses principio* de cone-
xão, que exprimem condições necessárias ou suficientes para
certos estados psicológicos: privar alguém de alimento, água ou
oportunidade para repouso c suficiente para a ocorrência de
fome. sede ou fadiga; a administração de certas drogas pode
ser suficiente para a ocorrência de alucinaçoes; a presença de
certo» ligamentos nervosos c nc«*slria * ocorrência de certas
sensações e à percepção visual; um fornecimento apropriado
de oxigênio ao cérebro c necessário à atividade menu) c mes-
mo u consciência.
Uma classe especialmente importante de indicadores bio-
lógicos ou fiitcos de estados c eventos psicológicos consiste
no comportamento publicamente observável do indivíduo a
quem se atribui esses estados c eventos. Por esse comporta-
mento se entende nao só manifestações em larga escala, direta-
mente observáveis, como os movimentos dos corpos, as expres-
sões faciais, o enrubescimento, as exclamações verbais, a exe-
cução de certas tarefas (como nos testes psicológicos), mas
também reações mais sutis, como as variações de pressão san-
güínea e de batidas do coração, a condutibilidade da pele, a
química do sangue. Assim é que a fadiga pode manifestar-se
tanto em exclamações faladas ("Éu me sinto cansado" etc.),
como na dim.nu»çáo da rapidez c da qualidade com que se
executa uma tarefa, no bocejar c cm alterações fisiológicas; ou
que certos processos afetivos e emocioaais se fazem acompanhar
por mudanças na resistência aparente da pele, medida pelos
"detectores de mentira"; ou que a* preferências e a hierarquia
REDUçAO TEóRICA 137

de valores de umi pcsim se exprimem no moda pelo qual ei*


escolhe entre cem» ofertas relevantes, c AS SUS» crença* na*
exclamações vcrbaíi que dela podem ser oblidai e também noi
mudos de agir — por exemplo, a crença de um viajante de
que uma canada está fechada pode revelar-se no fato de ele
tomar um desvio.
Certos tipos de comportamento "aberto" (publicamente
observável) manifestado por uma pessoa sob "estímulos" ou
"testes" apropriados são largamente usados em Psicologia comt>
critérios operacionais para constatar a presença de um deter-
minado eslad<t psicológico ou de uma determinada propriedade
psicológica üd pcwoa cm qucslflo. An rtsposlai dadai pof
uma pessoa a um questionário apropriado »io Índices da inlc
lijtcmiii ou da introvcrvflo; a salivuçáo, a Intensidade do choque
clòtrico pnra alcançar a comida ou a quantidade de comida
consumida sftd manifestações da fome de um animal. No m e
dida cm que ot estímulos e oi resultados podem ser deserto*
em (ermos biológicos ou ffsico-quimicos, pode-se dizer que o*
critérios resultantes fornecem especificações parciais do signi-
ficado de expressões psicológica» cm termos dos vocabulário»
da Biologia., d» Química c da Física. Embora muitas veu*
mencionados como definições operacionais, náo determinam na
realidade condições necessárias e suficiente» pura os termos psi-
cológicos: a situação lógica t Inteiramente semelhante A que
encontramos ao examinar a relação entre os termos biológico*
c os do vocabulário da Física e da Química.
O bohaviorismo é uma escola de pensamento influente em
Psicologia que, cm suas múltiplas formas, tem uma orlenlaçao
fundamental mente rcducionlsta; num sentido mais. OU menos
estrito, piocura reduzir qualquer discurso sobre fenômenos psi-
cológicos a um discurso sobre fenômenos de comportamento.
Uma forma de bchaviorismo especialmente preocupada em ga-
rantir a verifkabilidadc objetiva das hipóteses c teorias psicoló-
gicas insiste cm que todos os termos psicológicos devem ter
critérios claramente especificados de aplicação, formulados cm
termos de comportamento, c que as hipóteses c teorias psicoló-
gicas devem ter implicações concernentes ao comportamento pu-
Itlii.imcülr observável. Esta escola de pensamento rejeita, cm
particular, toda confiança em métodos como a introspcoçlo.
que só pode ser usada pela própria pessoa numa exploração
fenomenalhilct» do seu universo mental; c nlo admite como
138 FILOSOFIA D* CIíNCU NATUHAL

dado patológico ncnham fenômeno psicológico "privado" —


sensação, sentimento, esperança, receio etc — que os metodos
mtrospectivos prcicadeai revelar.
Enquanto os behavioristas concordam em insistir nos cri-
iérios objetivos de comportamento paia características, estados
e eventos pskolópcos, diferem (oa sío omissos) quanto a re-
lação entre os fenômenos psâcolopcos c os correspondentes,
• É n t e m sutis c fn—jè"iw fenômenos de comportamento
— se esles sâo sãtsssicsssteace manifestações publicas daqueles
oa se os íenômesse» •ãcompeos são. em sentido claro, idênti-
co* a certos estados, propriedades ou eventos complexos de
comportamento. Uma versão recente do behavioritmo, que
exerceu forte influência na analise filosófica dos conceitos psi-
cológicos, sustenta que os termos psicológicos, embora se re-
firam ostensivamente a estados mentais e a processos "no espí-
rito", servem, na realidade, simplesmente como meios de falar
sobre aspectos ma» oa menos intricados do comportamento
— especificamente infere propensoes ou disposições a com-
portar-te de maneira njatteriuica cm certas situações. Nesta
coooapclo. dizer de orna pessoa que é inteligente e dizei que
•Ia taode a agir oa tem drspcuclo para agir de certo modo ca-
racatriauco; a saber, dê modo que normalmente qualificariam»*
como atáo ioteligcnu nas mesmas ciscunstàncias. Dizer de si-
gacm qoe fala russo nao t doer. claro, que esteia constante-
mente pronunciando caprcwocs russas, nus que é capa* de uma
espécie especifica de comportamento que se revela em situações
parüculircs c que e geralmente considerado característico de
uma pessoa que compreende e fala russo. Pensar em Viena,
gostar de iazz, ser hoòciio, ser esquecido, ver certas coisas, ter
cenas vontades, rudo aso pode ser concebido de modo seme-
lhante E concebendo-o desta maneira — sustenta esta forma
do behaviorismo — a gente se liberta do que ha de descon-
ccrtanie no problema do corpo e do espirito: não ha mais que
procurar pelo "fartura aa maquina.".1 pelas entidades « pelos
processos mentais que estão por "trás" da fachada física.
Cabe aqui uma análoga. De um cronômetro que marcha muito
bem dá-se que tem uma precisão muito alta; atribuir alta pre-
cisão a ele é equivalente a dizer que marcha muito bem. Não

. ««•> *••• TV Ca-ttpi «


laRitcvc. *»a-ot>r pmmrman-
RnixiçAo Tirtmc» 139

faz sentido, portanto, perguntar de que modo ene agente nlo-


substancial, a precisão, atua sobre o mecanismo do relógio; nem
faz sentido perguntar o que acontece à precisão quando o reló-
gio para de funcionar. Analogamente, ncsla vírsáo do bchavio-
rismo, tiilti faz icntida perguntar como eventos ou características
mentais modificam o comportamento de um organismo.
Esta concepção, que contribuiu grandemente para esclare-
cer o papel dos conceitos psicológicos, é evidentemeole de teor
rcducíonisia; segundo ela, os conceitos da Psicologia permitem
um modo eficiente e conveniente de falar sobre as estruturas su-
tis do comportamento. Entretanto, os argumentos que a supor-
u m não estabelecem que todos os conceitos da Psicologia se-
jam realmente definheis em termos de conceitos não-psicológi-
001 da espécie requerida para descrever um comportamento
aberto ou disposições de comportamento; e Isso por duas razões,
pelo menus. Primeiro, í muito duvidoso que todas as espetes
de siluaçáo cm que uma pessoa, por exemplo, possa "agir inte-
ligentemente" c as espécies particulares de ação que as classifi-
quem como inteligentes cm cada uma dessas situações fiquem
Incluídas numa definição clara c plenamente explicita. Segundo,
parece que as circunstâncias sob as quais, c a* maneiras pelas
quais, a Inteligência ou • coragem ou a malcvolíncia podem
manifestar-sc cm comportamento aberto n l o podem ser adequa-
damente enunciadas em lermos de um "vocabulário puramente
bchaviorlstico", que contivesse apenas, além dos termos de Fí-
sica, de Química e de Biologia, expressões nào*tcc nicas da lin-
guagem quotidiana como 'sacudir a cabeça', 'estender a mão',
'retrair-se', 'fazer careta', 'rir' c análogas: parece que são neces-
sários lambem termos psicológicos para caracttrizar as espécies
de estruturas de comporiamcnlo. ou disposições c capacidades
de compor lamento, que (ermos como 'cansado', 'inteligente',
'sabe russo' indicam ao que se presume. Pois saber se o com-
portamento aberto de alguém numa dada situação qualifica-o
como inteligente, corajoso, icmcrário, cortês, rude etc. n i o
depende simplesmente dos falas que constituem a situação, mas.
e de um modo muilo importante, do que esse alguém sabe ou
acredita sobre a situação cm que se encontra. t ' m homem que
caminha sem titubear para uma mala onde se encontra um
leão faminto não está agindo corajosamente se não acreditar (e
portanto não souber) que existe um leão na mala. Analoga-
mente, saber se o comportamento de uma pessoa numa dada si-
tuação qualifica-o como inteligente, dependerá do que ele oere-
140 FILOSOFIA OA CIêNCIA NATUIAL

djia sobre a situação e dos objetivos que ele quer atingir pela
loa ação. Parece assim que. para caracterizar as formas, pro-
pensdes ou capacidades dê coõiporlamento a que se referem os
temos paicotógwos precisa «ws de outros termos psicológicos.
aJeaa de uai vocabulário bchavioristico conveniente. Esta con-
sideração não prova, claro, que seja impossível uma redução
dos lermos psicológicos a Ba vocabulário behaviorístico. mas
adverte que a rtosinafidadc de uma tal redução não ficou estabe-
lecida pelo tipo de analise que apreciamos.
Outra disciplina a que se pensou que a Psicologia pudesse
ser eventualmente reduzida ê a Fisiologia. e especialmente a
NeuroTisiolOfja; rnas aqui também uma redução plena no sen-
tido especificado aateriorneate não pode sequer ser vislum-
brada.
Finalmente, devemos registrar que questões de redutibiii-
dade surgem também a respeito das Ciências Sociais, particular-
mente a propósito da doutrina do individualismo metodológico.'
«piado a qual todo* o* Icaõmeaoa sociais devem ser descritos.
analisados c explicados em lermos de situações dos agentes in-
dividuais envolvidos acJea, ascdiante leis e teorias concernentes
ao comportamento iadmdaaL A descrição da "situação" de
BM agente teria que levar «ai coou seu* motivos c suas crenças
•assai coaao aea estado fcàcauajco e «a diversos fatores físicos,
aaaakicM « btokSficos do ara aartlcnsc Pode-se pois dizer da
dcuinna do individualismo metodológico que ela implica a re-
dutibüidade dos conceitos c leis das Ciências Sociais (num sen-
tido amplo, incluindo Psicologia de grupo. Teoria do compor-
tamento econômico c análogos) aos da Psicologia individual.
PMpgir. Química e Física. Mas oa problemas assim levanta-
dos escapam ao alcance deste livro. Pertencem à Filosofia das
Ciências Sociais < só foram mencionados aqui como ilustração
adicional do protskaaa da rcdaDostídadc teórica c como exemplo
das várias afinidades légècaa c metodológicas que existem entre
as Gcacias Naturais e ;
LEITURAS ADICIONAIS

A htta abaixo conte" aperta» uma; povos rim escolhida*. •


saaiotia d » quais (mora. eairetanlo. refercaciaa É B É J M i litera-
tura soete o assunto.

Amtoiottai

A. D«nro c S. MoiOUaUllt, ora*. Phthiúphy o) I n n n . Nova Yort:


Meridun BooU 1960 (Brochar»)
H. FUUL e M. |l.oo»i«. otfs. Hradiit/n i« ikt FArioao»*» oi Sne-rr.
Nova Ytfik: Appleir* f "i'uf> Crollv 195».
E. H MABDCN, ora . íft/ Samcmrt of Si ir nu f* Tkomfhi Boato*'
Houihton MirfllD Cor«paay, I « 0 .
F. P. Wirr.rR. iuf. Rrméi*ft •• Philewptiy i-) Xfnrarr Nova Yort:
Charlei Scribntii Soa*. 19)).

<>/»« ir « . / « r i ind-r-éuMi

N. O w M f i i . W*«/ /. liWr#» Nova Yort» Dovef Patíicaiiotn. I « :


(Brochura ) Um» ii*o*.e.»o lúoda st* icpuMM loaaêotK a> •»*.
•i teorias, a nji:«-»iii> t x mensuraçao.
E. Ciaaur. fhlhuopkKil Fomndanoai oi Fkyiici. otf; Mulia Gaplacr
Nova York. lotam Basic Books. lae. 1966. Haia fascinante
larroaHiçio a BiuArroMi trmit da Filosofia da F u i . por um * *
aaaM antiacnlei lógicos r filósofos contemporânea d* ctéocia.
P. Cawa. Ta* Phihuipkj t>f Srsracr. Pr.nceior,: D. Vaa Noatnnd Co,
1965. Uma ciai* i a n a a a Introduiorla ao* principais aspttioa
lopcov mciodol6(xot f lilinobcn do iconiar ucMlbca
*. G*CN».UM. PhílMopÜtal froòlimi of Spact aW Tlmt. fion
York: Alficd A. Knopí. 1961. Obra muito • * * • • ' • • ' . que *«•
nsina com cuidado t ceai profundidade a «titulara do espaço e do
tempo i luz da> taoriat recentes da Física e da Muetnitica
N. K HANWH, Farre/su oi Diacowy. Carabndfr. ISgUtcrra Casv
bridge Uiuvctiity Freta. 1958. Estudo sugestivo da» bises r da
fuacio dai leoriai cientifica» localizando as uorui da Física Clns-
Bca c da FUica Moderna sobre ai partkulu
C G. HESCPEL. Aipt.-i of Jr-íníi/ií Eiplaimlkm na*f Orarr £iuji àt
oW PhiUaapIty ei Sãtmu. Nova York: Tbe Free Presa. |96S-
Inclui diverso* ensxiot tobec a formação c dpUaaçaO doi con-
ceici nas CüoclH Naiora»* a Sociais c cn Hãssonofrafia.
142 FILOSOFIA D * CIêNCIA NATURAL

E. Nacaa. Thr Simtaar of írároe*. No*» York: Harcowl. Bruce A Worid.


IBC, 1*61. EsU obra eatepãooal torctcata ama ttptniçSo iliic-
mát>-a e eomr*m. « w » eooao nfna análãc lumínota. òe uitn
C N O W «ariedade de prnbhmw iTodolOiticw < filosófico» sobre
M leiv « leoro» e o* aodoi de explicação M> Ctéacúi Naluratt
C StOU • cm Hitforjotraíi*.
X li. PorrE». 7*# f-fie o/ Sdfttfic Díxottry. Loodret: HUlcluntM
and Co-; Nova V<ark: Bauc Boots, |m.. 155». Obra «uimulinie c
ahiiKDic oripaal q w »t oespa ttMcialmeMe di nciuiura lógica
e d) Wfifxação daa teorias cicnHIical- Nh*l mcdetadasnentc
i.i!K>Ai )Taa»»*-ai eaa brochura )
H. Kiina.ouCH. TV Malaarfarj <•/ Spaet mnd Tlnw. Nova Yoth:
Dover Publicaborai 1M*. (Brochura.) L'm cume. moderada-
mcMe leenKO. «a» b—uaií laodo (U oalutrta do eipaco e Icmpo
» l u dj teoria d» nlMwfcfc raUtila c leneraUzada.
I & M O U I r*í Am*om, H h+mn. Nova Vcrt: Alfrtd A Ksofrf.
1M1. Ert«do v a l u e a»a*ç»do do. comnca de eaphcaOo.
iitntkasao empírica. ( coatuantâG.
S. ToWMrw. The Pfcl|op«fdT o/ Scteae* Londm: HutchiMOfti L'ni-
vtrWI librar». 1*31 Lnro «atrativo, de ciriter Introdutório, que
ic ocura wprri>li"M da —tiriu dw leu. d u teoria* c do
d*Hr»fj-nio n — Q » . lTi-*b*w tm beothu.e )

OBTM « t o - » » ••*'* Cli«e- riak*

Cano <oa>hatu—ao da Catana e. Brtferiwebntau, lambem de ma


IhMoua. * altamente moawadávri sara o evt.do da Filoiolia da O -
•neta. e Meu»o Inibir i a j | il para »«i mudo nua avançado. Oi do«
IIVIM tíjuinit) o i i t a t T ei^ou^m idiBiravelmcaw IUCHIU e tobu*a-
cian, de caiatei latrodòiono (Mas •verem dt nodc algum vulganucàe*).
da Oeòoa HUca. tona forte rafai* no» contatai basco*, no* métodV*
e fto doeii<olv(ine*io baMnco.
G HOLTW c D H D. R g u u . fem-énloHi of MoaWa Thitkel Sciemt.
Rtad»* Ma»: Addooa Wcaky PuWiibuijCo. IM(.
E Rociai. HriWci te- aW r « w u | Mina*. Fnaotun: Princelon Uni
vtniiy r m k 1«*0.
mu Hmiiii * J
Uo rimo i•i >
OMI* - Rua l u l a * IW.nu » •
•IMO - Uo fniio SP Un.ui

Você também pode gostar