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O que pode se tornar notícia?


Uma das categorias que têm grande relevância para esta pesquisa são
os estudos sobre a produção de notícias, que buscam compreender por que as
notícias são como são, o que acontece com o fato desde o seu acontecimento
até a entrega do produto ao público.
De acordo com esses estudos, o jornalismo atua na construção social da
realidade, por meio dos discursos que são produzidos pelos jornalistas, com
base em alguns critérios para determinar o que deve ser notícia ou não. A
Teoria do Gatekeeper é um dos estudos que busca explicar o processo de
definição das notícias e que será abordada nesta pesquisa.
De acordo com Traquina (2020), o processo de produção da informação
é concebido como uma série de escolhas onde o fluxo de notícias tem de
passar por diversos gates, isto é, “portões” que não são mais do que áreas de
decisão em relação às quais o jornalista, isto é, o gatekeeper, tem de decidir se
vai escolher essa notícia ou não”.
O termo gatekeeper surgiu em 1947, na produção do psicólogo Kurt
Lewin sobre a modificação de hábitos alimentares de um grupo social, e foi
aplicado ao jornalismo por David Manning White, em 1950, durante um estudo
de caso em que ele deveria observar a atividade de um jornalista (Mr. Gates),
cuja função era determinar as notícias que deveriam ser selecionadas entre
todas que chegavam à redação.
White concluiu, em seu estudo, que as decisões de Mr. Gates foram
subjetivas e arbitrárias. Com o passar dos anos, os estudos apontaram que
essas decisões do gatekeeper estavam influenciadas mais por questões
ligadas às rotinas de produção do que pela avaliação da noticiabilidade, ou
seja, avaliações pessoais tinham mais peso do que as profissionais. Com isso,
esses estudos posteriores passaram a se aplicar no peso dos contextos que
rodeavam a escolha feita pelo selecionador.
Esse é o caso da Teoria do newsmaking, cuja sistematização do modelo
teórico se deu com autores como Mauro Wolf e Nelson Traquina, que
diferentemente dos primeiros estudiosos do tema, que se preocupavam com o
aspecto tecnicista no processo seletivo da informação, buscaram um olhar
mais ampliado sobre a produção de notícias.
Para Wolf (1999), diante da superabundância de acontecimentos, é
preciso “reduzir todos os fenômenos a classificações elaboradas
propositadamente, como os hospitais que ‘reduzem’ cada doente a um
conjunto de sintomas e de doenças”. E, para isso, o jornalismo deve se valer
de critérios que definem a noticiabilidade de cada acontecimento.
A noticiabilidade é uma das principais práticas do newsmaking e pode
ser definida como um conjunto de critérios, operações e instrumentos para
selecionar uma quantidade limitada de notícias durante o processo produtivo
na redação e sua aplicação baseia-se nos valores-notícia.
Os valores-notícia combinam-se no processo de seleção de um fato e
estão presentes nas diferentes etapas da produção jornalística, desde a
seleção dos acontecimentos até a elaboração de uma notícia. Eles são
divididos em: critérios substantivos, critérios relativos ao produto, critérios
relativos ao meio de comunicação, critérios relativos ao público e critérios
relativos à concorrência.
Os critérios substantivos articulam-se, essencialmente, em dois fatores:
a importância e o interesse da notícia. Essa importância pode ser determinada
por quatro critérios: o grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos, o
impacto sobre a nação e sobre o interesse nacional, a quantidade de pessoas
que o acontecimento envolve e a relevância e significatividade do
acontecimento quanto à evolução futura de uma determinada situação.
Os critérios relativos ao produto dizem respeito à disponibilidade de
materiais e às características específicas do produto informativo; se o fato
exige muitos recursos para ser coberto ou se já está estruturado de modo a ser
facilmente coberto. Os relativos ao meio de comunicação relacionam-se à
capacidade de cada tipo de veículo de produzir bom material para veicular o
fato. Os relativos ao público relacionam-se ao nível de conhecimento do fato e
interesse sobre ele. Por fim, os critérios relativos à concorrência, relacionam-se
à competição entre os mass media no processo de produção de notícias.
Traquina (2005) nos lembra que as notícias apresentam um padrão
estável e previsível e essa previsibilidade deve-se aos critérios de
noticiabilidade, “o conjunto de valores-notícia que determinam se um
acontecimento, ou assunto, é susceptível de se tornar notícia, isto é, de ser
julgado como merecedor de ser transformado em matéria noticiável e, por isso,
possuindo valor-notícia”.
Por sua vez, esses podem ser distinguidos como: valores-notícia de
seleção, que são os critérios utilizados na escolha dos acontecimentos, e
valores-notícia de construção, que são os utilizados na elaboração das
notícias, determinando como o fato será narrado.
O primeiro grupo pode ser dividido entre critérios substantivos, que
dizem respeito à avaliação direta do acontecimento em termos da sua
importância ou interesse como notícia, e critérios contextuais, que dizem
respeito ao contexto de produção da notícia.
Como critérios substantivos, Traquina (2005) destaca: a morte, a
notoriedade do ator principal, a proximidade (em termos geográficos e
culturais), a relevância sobre a vida das pessoas, a novidade, o tempo, a
notabilidade de um acontecimento, o inesperado, o conflito ou controvérsia
(violência física ou simbólica), a infração (transgressão das regras) e o
escândalo. Já os critérios contextuais são os de: disponibilidade, equilíbrio,
visualidade, concorrência e dia noticioso.
Quanto aos valores notícia de construção, o autor elenca: a
simplificação, a amplificação, a relevância, a personalização, a dramatização e
a consonância com o contexto.

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O poder do jornalismo
Teoria do agendamento
Ainda na década de 20, Walter Lippman sugeriu que havia uma relação
entre a agenda midiática e a agenda pública. Assim, os media são a principal
ligação entre os acontecimentos no mundo e as imagens que as pessoas têm
na cabeça acerca desses acontecimentos.
Cinquenta anos depois, na década de 70, surgiu a teoria do
agendamento, como uma reação à teoria dos efeitos limitados, num artigo de
McCombs e Shaw para a revista Public Opinion Quarterly.
A teoria inicialmente postulava que os media podem não dizer às
pessoas como pensar sobre os assuntos, mas são bem-sucedidos ao dizer às
pessoas no que pensar. Mas isso mudou após alguns anos de investigação. Os
media não só dizem no que pensar, mas também como pensar nisso e o que
pensar.
O jornalismo tem o poder de selecionar os acontecimentos noticiáveis e
de enquadrar esses acontecimentos.

Os consumidores de notícias tendem a considerar mais importantes os


assuntos que são veiculados na imprensa. Os meios de comunicação agendam
nossas conversas, nos dizendo sobre o que falar e pautando nossos
relacionamentos.

Ler a noção de Opinião Pública de Lippman e Habermas


Ler a metodologia da tese da professora (caracterização das
matérias/descrição)

4 a 5 pgs de teoria
Partir para a construção do corpus
27 de novembro – Entregar a parte teórica
27 a 10 de novembro – selecionar as matérias que serão analisadas (parte
empírica)
10 – Encontro de orientação
24/10 – novo encontro

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Num contexto de avanço das tecnologias digitais e de grande velocidade
na propagação de informações, o jornalismo enfrenta profundas
transformações. Com o grande fluxo de informações, equipes reduzidas em
redações e um tempo cada vez menor para a produção da notícia, se destaca
a atuação das assessorias de imprensa, que auxiliam na cobertura dos
múltiplos fatos na sociedade.

Walter Lippmann (2008, pág. 289) destaca que “todos os repórteres do mundo
trabalhando todas as horas do dia não poderiam testemunhar todos os
acontecimentos do mundo. Não existem assim tantos repórteres, e nenhum
deles tem o poder de estar em mais de um lugar ao mesmo tempo”.
É por meio de “observadores estacionados em certos lugares” (LIPPMANN,
2008, p.289), que o jornalismo supera esse obstáculo, recorrendo às
“maquinarias de registro”. Assim, as assessorias de imprensa “fornecem”
releases e sugestões de pautas para que os jornalistas as tornem notícias e
abasteçam a imprensa.
A atividade de assessoria de imprensa ou assessoria de comunicação surgiu
nos Estados Unidos no início do século XX, mais precisamente em 1906,
quando o jornalista Ivy Lee fundou o primeiro escritório de Relações Públicas
do Mundo, em Nova Iorque, e chegou a atender John D. Rockfeller, homem de
negócios que enfrentava forte impopularidade.
Durante sua trajetória, Lee lançou uma declaração de princípios da assessoria
de imprensa, em forma de carta enviada a editores. No documento, ele
defende a transparência na relação entre empresa e imprensa, definindo o
assessor como um facilitador no fornecimento de informações:
Este não é um serviço de imprensa secreto. Todo nosso trabalho é feito às
claras. Pretendemos fazer a divulgação de notícias. Isto não é um
agenciamento de anúncios. Se acharem que nosso assunto ficaria melhor na
seção comercial, não o usem. Nosso assunto é exato. Maiores detalhes, sobre
qualquer questão, serão dados prontamente. E qualquer edital de jornal
interessado será auxiliado, com o maior prazer, na verificação direta de
qualquer declaração de fato. Em resumo, nosso plano é divulgar, prontamente,
para o bem das empresas e das instituições públicas, com absoluta franqueza,
à imprensa e ao público dos Estados Unidos, informações relativas a assuntos
de valor e de interesse para o público (CHAPARRO, 2011, p. 6).

No Brasil, a figura do assessor de imprensa se confunde com a figura do


Relações Públicas. Com a eleição de Juscelino Kubitschek e a chegada de
multinacionais norte-americanas ao país, essas corporações resolveram se
aproximar da imprensa, mas sem a mão-de-obra especializada disponível,
foram contratados jornalistas para atuarem no segmento.
A ascensão deste profissional se deu com a redemocratização, depois de 20
anos de ditadura militar, e outros processos como “o movimento sindical, a
liberdade de imprensa, novos padrões de competitividade e o prenúncio de
maior exigência quanto aos direitos sociais e dos consumidores”, citados por
Duarte (2011, p. 59). A imprensa seria o caminho mais curto para agir sobre a
agenda pública, informar e obter uma agenda positiva.
De acordo com Torquato (2004), em uma assessoria de imprensa, a
comunicação externa necessita alinhar seu discurso à procura de pontos que
possam justapor os interesses dos consumidores e das empresas, sem se
desviar dos compromissos éticos da verdade, para identificar quais são as
informações que apresentam interesse público e por isso, têm maior
possibilidade de serem publicadas pela mídia.
Sem dúvida, no papel de “ponte” entre a instituição e os veículos, os
assessores de imprensa, apoiam-se no conhecimento que detém sobre o
funcionamento da mídia para encontrar oportunidades de promover a empresa,
procurando equilibrar o atendimento ao interesse público e às necessidades
organizacionais de divulgação (MONTEIRO, 2003, p.154)
É neste processo que se dá a influência da assessoria de comunicação no
agendamento, na inclusão de um determinado assunto na lista dos temas
abordados pela mídia e à visibilidade que um determinado assunto adquire ao
integrar o discurso jornalístico.
Hohlfeldt (2008) sustenta que a hipótese do agenda-setting remonta ao
intervalo entre os anos 60 e 70, em decorrência do Communication Research,
quando os pesquisadores se debruçaram sobre a abrangência do processo
comunicacional. A hipótese sustenta a ideia de que os meios de comunicação
de massa agendam as conversas das pessoas, sugerindo um conceito de
poder do jornalismo sobre a opinião pública.
McCombs e Shaw, ainda em 1972, utilizaram pela primeira vez o termo
agenda-setting, para definir como os meios de comunicação de massa
poderiam interferir no repertório da comunicação interpessoal, com uma
tendência de as pessoas conversarem e pensarem sobre os temas ofertados
pela mídia.
Para os pesquisadores, a mídia tem a capacidade de influenciar a projeção dos
acontecimentos na opinião pública. Segundo Shaw, citado por Wolf (2001), a
mídia é apresentada como agente modificador da realidade social quando
aponta para o público sobre o que se deve estar informado.

As pessoas têm tendência para incluir ou excluir dos seus próprios


conhecimentos aquilo que os mass media incluem ou excluem do seu próprio
conteúdo. Além disso, o público tende a atribuir àquilo que esse conteúdo inclui
uma importância que reflete de perto a ênfase atribuída pelos mass media aos
acontecimentos, aos problemas, às pessoas (Shaw, E. apud Wolf, 2001, p.144)

Cinquenta anos antes, Walter Lippmann destaca, em sua obra Public Opinion,
o papel da imprensa e os temas de maior interesse coletivo. De acordo com o
autor, a mídia exerce influência na aquisição de conhecimento e de
representações da realidade por meio das imagens que esboçam a realidade
social em nossas mentes. “Na perspectiva de Lippmann, a imprensa funciona
como agente modelador do conhecimento, usando os estereótipos como forma
simplificada e distorcida de entender a realidade”. (PENA, 2005, pág. 142)
Barros Filho (2008) também destaca o postulado de Lippmann de que as
pessoas conhecem o mundo por meio de imagens em suas mentes que são
modeladas pelos meios de comunicação, selecionando e organizando símbolos
de um mundo real amplo e que não pode ser apreendido somente pelo
conhecimento direto.
Wolf (2001) defende que nem todos os temas preenchem os requisitos para
integrar a agenda pública. Para isso, o tema precisa ter relevância social.
Assim, a hipótese do agendamento busca explicar por que alguns temas ou
fatos ganham visibilidade nos meios de comunicação e passam a integrar a
agenda pública. E é por meio desse processo que “as pessoas têm de grande
parte da realidade social lhes é fornecida, por empréstimo, pelos mass media”.
(SHAW apud WOLF, 2001, p. 145)
Por meio do caso específico dos assassinatos de Guajajaras no Maranhão, nos
propomos a verificar a interferência do trabalho das assessorias de imprensa e
comunicação no processo de agendamento da mídia.
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PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. 3 Ed., 5ª reimpressão. São Paulo:
Contexto, 2020.

MARTINO, Luís Mauro Sá. Teoria da comunicação: Ideias, conceitos e


métodos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.

TRAQUINA, Nelson. Porque as notícias são como são. 1. ed. Florianópolis, SC:
Insular Livros, 2020.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo. A tribo jornalística – uma


comunidade interpretativa transnacional. Florianópolis: Insular, 2005.

HOHLFELDT, Antonio; MARTINO, Luiz C; FRANÇA, Vera Veiga. Teorias da


comunicação: conceitos, escolas e tendências. 11. ed. Petrópolis, RJ. Vozes,
2017.

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Entregar: Selecionar categorias para fazer a análise e discorrer sobre os
conceitos
Delinear caminho teórico para identificar quais categorias e autores
principais são importantes para essa análise (4 a 5 categorias dentro do
jornalismo)
- agendamento (qual? É agenda setting)
- opinião pública
- critérios de noticiabilidade
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