Você está na página 1de 4

Aplicação de usinagem de alto avanço em aços com baixa ou

média dureza

Por: Luis Brombim:


e-mail: ri.brombim@gmail.com
Graduado em Física – USP

Com o avanço da tecnologia temos hoje no mercado vários fabricantes de maquinas


ferramentas que oferecem a mais alta tecnologia quando falamos em altos avanços nos
movimentos dos eixos e alta rotação nos spindles. Mas toda esta tecnologia custa um valor
elevado e que muitas vezes o pequeno empresário não pode pagar, tendo que contar com
maquinas que inviabilizam a usinagem em aços de alta dureza.

Outro aspecto que podemos levantar seriam as empresas especialistas em usinagem de aços
com baixa ou media dureza, como, por exemplo, porta moldes, placas de choque, bases e
outros elementos que compões um molde ou uma matriz.

Mas o que estes tipos de empresas têm em comum?

Não só estas empresas, mas todas de qualquer ramo querem aumentar sua produtividade,
garantido a qualidade e respeitando os prazos estabelecidos. Elas também demonstram um
outro fator em comum: a usinagem de aços de baixa e media dureza.

Uma alternativa que pode atender estas necessidades seria a utilização de técnicas de
usinagem de aços de alta dureza, devidamente adaptados para este processo. É válido
ressaltar que este tipo de usinagem é aplicável para operação de desbaste ou acabamento em
regiões onde a rugosidade e a tolerância dimensional não são exigências.

Para a aplicação desta técnica alguns aspectos têm que ser observados: a geometria a ser
usinada, a maquina utilizada para as usinagem e o ferramental a ser utilizado, sendo que estes
três aspectos complementam um ao outro.
Na questão da geometria a ser usinada, temos que observar que este tipo de usinagem é mais
recomendado. A usinagem das faces externas de um porta molde, por exemplo, se torna mais
viável com a utilização de métodos convencionais, pois a geometria favorece a utilização de
grandes suportes de insertos (diâmetros de 150 mm em diante).

Com relação a maquina utilizada, esta é um dos aspectos que apresenta um ganho
significativo. Digo isto, pois podemos perceber neste tipo de usinagem que o esforço solicitado
é mínimo, diferentemente de uma usinagem convencional, onde se utiliza de altas
profundidades de corte e alta penetração lateral da ferramenta, exigindo mais do seu
equipamento. Como utilizamos de técnicas de usinagem de alto avanço, as profundidades de
corte são reduzidas e outros fatores aumentados (o que será visto mais a frente), reduzindo
também os esforços do equipamento. Isto quer dizer que você não precisa ter uma maquina
robusta para a remoção eficiente de grandes materiais e, por conseqüência, acaba
conservando seu equipamento.

O fator ferramenta é o mais importante dentre os três, pois ela que vai centralizar os valores de
usinagem, associando geometria + material no processo. A aplicação desta técnica de
usinagem exige que a ferramenta seja própria para sua execução.

Estas ferramentas se apresentam em varias configurações como insertos intercambiáveis e


ferramentas inteiriças, mas todas próprias para usinagem de alto avanço. O principal aspecto
destas ferramentas é que elas apresentam uma geometria diferenciada, podendo ser composta
de dois ou mais raios em sua ponta, bem como a aplicação de ângulos que favorecem um alto
desempenho. Posso salientar que todos os fabricantes de ferramentas oferecem este tipo de
ferramental e que seus preços não se diferenciam muito dos ferramentais para usinagem
convencional. O mais importante neste fator é a atenção aos valores a serem praticados

www.moldesinjecaoplasticos.com.br – contato@ moldesinjecaoplasticos.com.br


descritos nos catálogos do fabricante, o que pode servir como uma ótima fonte de pesquisa a
aplicação neste método.

Como aplicar o método:

Para mensurar e comparar valores pode-se utilizar o volume de cavaco removido (Q) como
elemento norteador. No mundo da usinagem posso garantir que este valor é o que vai
representar o ganho que sua empresa terá em relação à produtividade.
Segue abaixo a equação que definirá o valor Q:

Q = (ae x ap x Vf)/1000 (cm³/min)

Onde:

Q = volume de cavaco removido (cm³/min)


ae = profundidade lateral (mm)
ap = profundidade de corte (mm)
Vf = avanço da mesa (mm/min)

Para descrever um pouco sobre as variáveis do processo, o valor Q (como explicado


anteriormente) será o volume de cavaco (material) removido. Quando maior este valor maior
será sua produtividade. Portanto o objetivo é otimizar ao máximo as outras variáveis do
processo para garantir o máximo de Q.
O valor de ae será a profundidade lateral que pode ser definido como 70% do diâmetro efetivo
da ferramenta (o diâmetro que realmente estará em contato com o material no momento da
usinagem). Este valor aplicado na usinagem permitirá que sua ferramenta desempenhe sua
melhor condição de corte, evitando desgaste desnecessário.
Falando sobre ap (profundidade de corte), será o fator de maior diferencial entre a usinagem
convencional e de alto avanço. Na usinagem convencional o conceito é de grandes
profundidades de corte o que diverge totalmente da usinagem de alto avanço que prega
pequenas profundidades de corte.
Para compensar a redução na profundidade de corte, o Vf (avanço da mesa) terá que ser
aumentado. Mas o aumento desta variável é baseada em dados concretos e não somente em
um valor qualquer para que exista a compensação citada. Esta variável é a conseqüência de
outras importantes variáveis. Estas variáveis são a velocidade de corte (Vc), o diâmetro da
ferramenta (D), o numero de corte desta (Z) e o avanço por faca da ferramenta (fz). Segue
abaixo as equações envolvidas no processo:

RPM = 1000 x Vc / p x D (revolução/min)

Vf = RPM x Z x fz (mm/min)

O D e o Z da ferramenta é definido pela a que será utilizada na usinagem. A Vc se mostra


como um dos diferenciais neste tipo de usinagem, pois a geometria da ferramenta de alto
avanço permite um aumento deste valor. O fz também se mostra como uma variável otimizada
para estas ferramentas podendo ser aumentada em até 10x em relação a uma ferramenta de
usinagem convencional.
Estas variáveis citadas no parágrafo anterior estão contidas no catálogo da ferramenta
aplicada, que sempre é fornecido pelos fabricantes de ferramentas. Mas nem sempre os
valores atendem a qualidade de sua usinagem ou esbarra nos parâmetros de sua maquina.
Para resolver este impasse estes valores podem ser ajustados a estas condições, mas sempre
na idéia de aproximar ao máximo destes valores pré-estabelecidos e duramente pesquisado
pelos fabricantes de ferramenta.
Como um adiantamento conclusivo podemos perceber que as três equações utilizadas para

www.moldesinjecaoplasticos.com.br – contato@ moldesinjecaoplasticos.com.br


controlar este processo são as mesmas utilizadas diariamente em usinagem convencional,
somente as grandezas das variáveis são alteradas.

Um exemplo prático:

Para exemplificar o texto vamos simular os dois tipos de usinagem (convencional e alto
avanço) em um material de 35 HRc e utilizar o valor de Q para comparar as diferenças. É
válido lembrar que os valores que serão utilizados dependerão da ferramenta, maquina e
geometria a ser usinada, mas em geral atende a maior parte das usinagens que acontece em
uma ferramentaria.

- Usinagem convencional:

D = 50 mm
Z = 4 facas
Vc = 100 mm/min
ae = 35 mm
ap = 5 mm
fz = 0,2 mm

___________________________________________

RPM = 1000 x Vc / p x D (revolução/min)


RPM = 1000 x 100 / p x 50 (revolução/min)
RPM = 636 (revoluções/min)
_____________________________________________
____________________________________________
Vf = RPM x Z x fz (mm/min)
Vf = 636 x 4 x 0,2 (mm/min)
Vf = 509 (mm/min)
____________________________________________

Q = (ae x ap x Vf)/1000 (cm³/min)


Q = (35 x 5 x 509)/1000 (cm³/min)
Q = 90 (cm³/min) – para usinagem convencional

- Usinagem de alto avanço:

D = 50 mm
Z = 4 facas
Vc = 250 mm/min
ae = 35 mm
ap = 0,9 mm
fz = 0,75 mm

___________________________________________
RPM = 1000 x Vc / p x D (revolução/min)
RPM = 1000 x 250 / p x 50 (revolução/min)
RPM = 1590 (revoluções/min)
_____________________________________________
____________________________________________
Vf = RPM x Z x fz (mm/min)
Vf = 1590 x 4 x 0,75 (mm/min)

www.moldesinjecaoplasticos.com.br – contato@ moldesinjecaoplasticos.com.br


Vf = 4770 (mm/min)
____________________________________________

Q = (ae x ap x Vf)/1000 (cm³/min)


Q = (35 x 0,9 x 4470)/1000 (cm³/min)
Q = 150 (cm³/min) – para usinagem de alto avanço
______________________________________________________________________

Parece absurdo? Mas esta é a realidade deste tipo de usinagem aplicada em matérias de baixa
e media dureza. Um aumento por volta de 65% é que proporciona este tipo de usinagem.
Temos também outros benefícios embutidos na usinagem que seria o baixo esforço de
usinagem (conservação do equipamento) e maior utilização da ferramenta de corte (custo –
beneficio elevado).
Um dos fatores limitante neste processo pode ser os avanços limitados de maquinas antigas e
que podem compor o parque de maquinas de uma pequena ferramentaria.
Suponhamos que certa maquina oferece somente 3000 mm/min máximo de Vf, o que fazer?
O que podemos fazer e que foi comentado anteriormente seria utilizar este máximo Vf e
aumentar o ap. O aumento deste valor é permitido neste caso, pois por conseqüência da
redução do Vf, o RPM sofrerá uma redução em seu valor. As outras variáveis envolvidas se
mantém para que conserve o conceito de usinagem de alto avanço:
____________________________________________

Q = (ae x ap x Vf)/1000 (cm³/min)


Q = (35 x 1,2 x 3000)/1000 (cm³/min)
Q = 126 (cm³/min) – para usinagem de alto avanço
____________________________________________
Vf = RPM x Z x fz (mm/min)
3000 = RPM x 4 x 0,75 (mm/min)
RPM= 1000 (revoluções/min)
______________________________________________________________________

Mesmo com esta limitação oferecida pela maquina, alcançamos um aumento de 40% na
produtividade.

Conclusão:

Atendendo o objetivo inicial este texto apresentou uma alternativa viável para as pequenas,
médias e (porque não?) grandes ferramentarias para aumentar a produtividade. Aplicando este
método nos casos adequados a empresa pode fortalecer o tripé qualidade – prazo –
produtividade, preservando a maquina e utilizando todo o potencial oferecido pelas novas
tecnologias aplicada nas ferramentas de usinagem de alto avanço. Utilize as equações
apresentadas, trabalhe com as variáveis e as limitações de sua empresa e compare seu
processo a esta proposta.
Nos dias atuais, muitos textos sobre usinagem de alto avanço chegam a nós com informações
de utilização em “supermaquinas” e em materiais de dureza elevada (o que representa o real
principio deste tipo de usinagem), mas conseguimos aproveitar o conceito em usinagem de
materiais de baixa e media dureza, que pode representar o único negocio de uma
ferramentaria.

www.moldesinjecaoplasticos.com.br – contato@ moldesinjecaoplasticos.com.br

Você também pode gostar