Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
GEOTECNIA
Introdução
O fluxo de água subterrânea pelo solo é a causa mais comum de proble-
mas de instabilidade em canteiros de obras, em escavações abaixo do
lençol freático e em estruturas de terra para retenção de água (barragens
de terra/concreto). A lei fundamental do fluxo de água subterrânea em
solo saturado é a lei de Darcy, que relaciona a quantidade de fluxo de
água que passa pela área de uma seção transversal com o gradiente
hidráulico causador do fluxo pelo coeficiente de permeabilidade. Para
o traçado prático das redes de fluxo, vários métodos são propostos em
mecânica dos solos, como construção gráfica, analogia elétrica, mode-
lagem numérica e modelos físicos.
Neste capítulo, você entenderá o que são redes de fluxo e como
são construídas graficamente. Além disso, verá como são calculadas as
pressões neutras e hidrodinâmicas em redes de fluxo.
1 Redes de fluxo
O estudo de redes de fluxo é fundamental para obras geotécnicas. De acordo
com Queiroz (2016), muitos problemas práticos de percolação e drenagem
podem ser estudados construindo-se redes de fluxo para seções tendo uma
permeabilidade única. Quando, por exemplo, o núcleo de uma barragem tem
2 Redes de fluxo, pressões neutras e hidrodinâmicas
A percolação de água nos solos ocorre quando há diferenças de carga hidráulica (ou
de potencial), sendo o sentido desse movimento dos pontos de maior para os de
menor carga. Carga hidráulica refere-se à carga piezométrica, expressa em altura
de coluna d’água.
Segundo Queiroz (2016), pelo fato das barragens de terra serem permeá-
veis, é necessário tomar cuidado no cálculo de vazões. Esse processo é feito
considerando-se as redes de fluxo, que, por sua vez, são formadas por linhas de
percurso contínuo das partículas de água através dos vazios dos solos e pelas
linhas equipotenciais. Ao longo de uma linha de fluxo, uma partícula de água
se desloca de um ponto mais elevado para um ponto mais baixo, sob a ação da
gravidade, fenômeno chamado de fluxo gravitacional livre (ou não confinado).
Dessa forma, a percolação da água no solo ocorre por meio de uma rede
de fluxo. Barnes (2016) menciona que uma rede de fluxo consiste em dois
conjuntos de linhas:
Figura 2. Representação gráfica de redes de fluxo, constituída por linhas de fluxo e linhas
equipotenciais.
Fonte: Adaptada de Machado e Machado ([19--]).
Redes de fluxo, pressões neutras e hidrodinâmicas 5
Q=k×i×A
onde:
Q = vazão volumétrica;
k = coeficiente de permeabilidade ou condutividade hidráulica;
A = área da seção transversal;
i = coeficiente hidráulico.
O gradiente hidráulico (i), também conhecido como coeficiente hidráulico,
representa a carga que se dissipa na percolação da água (Δh) no solo por
unidade de comprimento (l). Logo:
Figura 5. Representação gráfica de linhas de fluxo (LF): (a) representação para linhas
emergentes; (b) representação de linha de fluxo que termina em um filtro drenante;
(c) representação de linha de fluxo que emerge do talude.
Fonte: Adaptada de Bodó e Jones (2017).
Figura 6. Regras para montar graficamente redes de fluxo no solo: (a) ângulos retos; (b)
blocos quadrados; (c) limites impermeáveis; (d) limites permeáveis.
Fonte: Adaptada de Barnes (2016).
Quando a água se infiltra e sai pelo solo, existe uma tendência dos
gradientes hidráulicos da superfície do solo desestabilizarem o solo e
produzirem erosão ou a condição de borbulha, ou piping. Para controlar
esse fluxo, é necessário instalar drenos para escoar a água rapidamente.
Além disso, para impedir o movimento das partículas do solo para dentro
dos drenos, é necessário instalar um filtro intermediário, que funcionará
como uma zona de transição (BARNES, 2016). A Figura 7 apresenta alguns
exemplos de filtros.
Redes de fluxo, pressões neutras e hidrodinâmicas 11
α' = α – μ
onde:
μ = pressão neutra;
γa = peso específico da água, tomado igual a 10 kN/m3 = 1 g/cm3;
Za = profundidade em relação ao nível da água.
A água no solo transmite aos grãos pressões em todas as direções, produzindo sobre
cada partícula uma resultante nula. É por esse motivo que denomina-se pressão neutra,
ou seja, aquela que não ocasiona deslocamento de grãos no solo.
Logo, depois de traçada uma rede de fluxo, é possível obter a vazão, que
é calculada pela fórmula:
Exemplo 1
Considere a cortina apresentada a seguir, a qual apresenta 100 metros de
comprimento.
14 Redes de fluxo, pressões neutras e hidrodinâmicas
Resolução
Temos que
Q=k×i×A
a 1 para 1 m de cortina.
Pressão neutra:
µa = h × γa
µa = (6,25 + 25) × 1 t/m3
γa = 31,2 t/m2
Exemplo 2
Considere a rede de fluxo traçada para uma barragem de concreto, conforme
apresentada na Figura 9, adotando-se k = 10 -4 m/s. Existem cinco canais de
fluxo e 14 faixas de perda de potencial.
16 Redes de fluxo, pressões neutras e hidrodinâmicas
Logo:
Q = 10 -4 × 15,4 × (5 ÷ 40)
Q = 5,5 × 10 -4 m3/s, ou cerca de 2 m3/hora
Já em relação ao gradiente hidráulico (i), a perda de carga entre equipo-
tenciais consecutivas será de:
i = 15,4 ÷ 14 = 1,1 m
BARNES, G. Mecânica dos solos: princípios e práticas. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
BODÓ, B.; JONES, C. Introdução à mecânica dos solos. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017.
DAS, B. M. Fundamentos de engenharia geotécnica. São Paulo: Cengage Learning, 2013.
MACHADO, S. L.; MACHADO, M. F. C. Mecânica dos solos II: conceitos introdutórios.
Salvador: Universidade Federal da Bahia, [19--]. Disponível em: http://www.ct.ufpb.
br/~celso/solos/material/teoria2. Acesso em: 29 de set. 2020.
MARANGON, M. Hidráulica dos solos. Juiz de Fora, MG: UFJF, [2009]. Disponível em:
https://www.ufjf.br/nugeo/files/2009/11/ms2_unid01.pdf. Acesso em: 29 de set. 2020.
MIQUEZ, M. G.; VERÓL, A. P.; REZENDE, O. M. Drenagem urbana: do projeto tradicional
à sustentabilidade. 1. ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
PINTO, C. S. Curso básico de mecânica dos solos em 16 Aulas. 3. ed. São Paulo: Oficina
de Textos, 2006.
QUEIROZ, R. C. Geologia e geotecnia básica para engenharia civil. São Paulo: Blucher, 2016.
STANCATI, G. Redes de fluxo. São Paulo: USP, 1984.
Leitura recomendada
KNAPPETT, J. A.; CRAIG, R. F. Mecânica dos solos. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018.
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.