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O VIGÁRIO JUDICIAL

Num   grau   de   importância   que   o   ordenamento   jurídico   prevê   a   figura   do  


Vigário   Judicial   compõe   o   segundo   lugar,   referindo-­se   às   competências   anexadas   pelo  
direito  a  este  ofício,  que  são  ordem  administrativa  e  judiciária1.  Fazendo  aqui  menção2  
aos   cânones3,   embora   não   enumeram   o   vigário   judicial   entre   os   vigários   episcopais,  
reservando  este  patamar  aos  vigários  do  bispo  no  âmbito  do  poder  executivo,  e  não  no  
judiciário.   Não   obstante   isto,   o   vigário   judicial   faz   às   vezes   do   bispo   na   área   da  
administração  da  justiça,  seja  no  julgar,  seja  no  governo  do  tribunal,  por  isso  mesmo  as  
funções  executivas  em  matéria  de  justiça.  O  vigário  judicial  forma  com  o  bispo  no  único  
tribunal4,  por  isso  não  é  possível  apelar  ao  bispo  contra  as  decisões  do  Vigário  judicial5.  

1  M.  J.  ARROBA  CONDE,  Direito processual,  p.  233.


2  M.  J.  ARROBA  CONDE,  Direito processual, p.  234.

3Cfr.  c.  463  do  CIC:  § 1. Ad synodum dioecesanam vocandi sunt uti synodi sodales eamque participandi
obligatione tenentur:
1°- Episcopus coadiutor atque Episcopi auxiliares;
2°- Vicarii generales et Vicarii episcopales, necnon Vicarius iudicialis;
3°- canonici ecclesiae cathedralis;
4°- membra consilii presbyteralis;
5°- christifideles laici, etiam sodales institutorum vitae consecratae, a consilio pastorali
eligendi, modo et numero ab Episcopo dioecesano determinandis, aut, ubi hoc consilium non exstet,
ratione ab Episcopo dioecesano determinata;
6°- rector seminarii dioecesani maioris;
7°- vicarii foranei;
8°- unus saltem presbyter ex unoquoque vicariatu foraneo eligendus ab
omnibus qui curam animarum inibi habeant; item eligendus est alius
presbyter qui, eodem impedito, in eius locum substituatur;
9°- aliqui Superiores institutorum religiosorum et societatum vitae apostolicae, quae in dioecesi
domum habent, eligendi numero et modo ab Episcopo dioecesano determinatis.
Cfr.  c.  479  do  CIC:  § 1. Vicario generali, vi officii, in universa dioecesi competit potestas exsecutiva quae
ad Episcopum dioecesanum iure pertinet, ad ponendos scilicet omnes actus administrativos, iis tamem
exceptis quos Episcopus sibi reservaverit vel qui ex iure requirant speciale Episcopi mandatum.
§ 2. Vicario episcopali ipso iure eadem competit potestas de qua in § 1, sed quoad determinatam
territorii partem aut negotiorum genus aut fideles determinati ritus vel coetus tantum pro quibus
constitutus est, iis causis exceptis quas Episcopus sibi aut Vicario generali reservaverit, aut quae ex iure
requirunt speciale Episcopi mandatum.
§ 3. Ad Vicarium generalem atque ad Vicarium episcopalem, intra ambitum eorum competentiae,
pertinent etiam facultates habituales ab Apostolica Sede Episcopo concessae, necnon rescriptorum
exsecutio, nisi aliud expresse cautum fuerit aut electa fuerit industria personae Episcopi dioecesani.
4  Cfr.  c.  1420,  §2  do  CIC: Vicarius iudicialis unum constituit tribunal cum Episcopo, sed nequit iudicare
causas quas Episcopus sibi reservat.    
Cfr.   DC.   art.   38   §2:   Vicarius iudicialis dioecesanus unum constituit tribunal cum Episcopo, sed nequit
iudicare causas quas Episcopus sibi reservat.
5  M.  J.  ARROBA  CONDE,  Direito processual, p.  234.
O   bispo   e   seu   oficial   (Vigário   Judicial)   passam   a   constituir   um   único  
consistório.   O   oficial   torna-­se   o   “alter ego”   do   bispo,   exercendo   em   lugar   deste   a  
jurisdição  ordinária  sobre  toda  a  diocese 6.  

COMPETÊNCIA DE DIREITO A ESTE OFICIO – O VIGÁRIO JUDICIAL


INTRODUÇÃO  

A  Igreja  primitiva  estava  consciente  de  que  Cristo  tinha  comunicado  o  poder  
de  julgar  os  vivos,  não  só  de  foro  interno  sacramental,  mas  também  no  externo  judicial,  
seja   a   Pedro7,   seja   ao   Colégio   dos   Doze8.   Aliás,   a   Igreja   primitiva   já   conhecia   certo  
procedimento  para  julgar  os  conflitos  entre  os  fiéis 9.  
Os   Apóstolos   exerciam   esse   poder   judiciário   recebido   de   Cristo,   após   ter  
realizado  pelo  menos  um  julgamento  sumário  sobre  a  culpabilidade  do  réu10.  

VIGÁRIO JUDICIAL

Para  Ghirlanda  a  competência  do  poder  judicial  esta  na  autoridade  da  Igreja,  
pois  o  juízo  eclesiástico  é  a  discussão  e  a  definição,  conduzidas  segundo  a  lei  perante  
um   tribunal   eclesiástico,   de   uma   controvérsia   relativa   à   matéria   na   qual   a   Igreja   tem  

6  H.  ZAPP,  A Jurisdição Diocesana. Panorama Histórico.  Revista  Concilium,  Petrópolis:  Vozes,  n.  127,  p.  
26,  1977/7.
7  Mt.  16,  19:  ‘Eu
te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado no céus, e o
que desligares na terra será desligado no céus’.   A   Biblia   de   Jerusalém   –   Novo   Testamento,   Edições  
Paulinas,  1985.
8  
Mt   18,18:   ‘Em verdade vos digo: tudo quanto ligares na terra será ligado no céu e tudo quanto
desligardes na terra será desligado no céu’.  A  Biblia  de  Jerusalém  –  Novo  Testamento,  Edições  Paulinas,  
1985.
9  Mt  18,  15-­18:  ‘Se
teu irmão pecar, vai corrigi-lo a sós. Se ele te ouvir, ganhaste o teu irmão. Se não te
ouvir, porém, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda questão seja decidida pela palavra
de duas ou três testemunhas. Caso não lhes der ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja der
ouvido, trata-o como gentio ou o publicano. E verdade vos digo: [...] terra será desligado no céu’.  A  
Biblia  de  Jerusalém  –  Novo  Testamento,  Edições  Paulinas,  1985.
10   1   Cor   5,4:   ‘É
preciso que, em nome do Senhor Jesus, estando vós e o meu espírito reunidos em
Assembléia com o poder de nosso Senhor Jesus’.  A   Biblia   de   Jerusalém   –   Novo   Testamento,   Edições  
Paulinas,  1985.
poder   de   julgar11 .     Portanto,   a   autoridade   judicial   da   Igreja   tem   poder   próprio   e  
exclusivo  para  julgar:  
a.   Controvérsias   relativas   a   coisas   espirituais   (fé,   moral,   sacramentos,   votos)   ou  
relacionadas  com  as  coisas  espirituais  (bens  eclesiásticos);;  
b.   Controvérsias   referentes   a   violações   de   leis   eclesiásticas   ou   que   de   qualquer  
maneira   se   referem   a   violações   de   ordem   moral   (ratio peccati),   no   que   diz   respeito   à  
definição  da  culpa  e  à  irrogação  da  pena12.  
c.  Controvérsias  surgidas  de  atos  do  poder  administrativo:  podem  ser  deferidos  ao    
superior  ou  ao  tribunal  administrativo13.  
Para  Segú  historicamente  a  noção  de  “vicarius”  e  a  delegação  foram  muito  
importantes   no   Direito   Canônico14.  A   teoria   referente   à   delegação   adquiriu   forma   nos  
séculos  XII  e  XII  com  o  maior  número  de  delegações  pontifícias  e  com  o  uso  maior  do  
Direito   Romano   no   Direito   Canônico,   onde   vários   tipos   de   jurisdição   delegada   eram  
conhecidos,  sob  o  título  “de  officio eius cui mandata est iurisdictio”15.    
Estritamente   falando   a   “iurisdictio”   é   o   poder   típico   do   Bispo,   Vigário  
Geral,  do  Vigário  Judicial  etc.  Constituindo  assim  o  poder  pastoral  pleno  e  que  hoje  em  
dia   se   usa   demasiadamente   a   “potestas regiminis”.   Esta   expressão   tomou   o   lugar   da  
“iurisdictio”,  que  pode  ser  usada  ainda 16.  Portanto,  Corral  contribui  dizendo  que  Vigário  
Geral  ou  Judicial  são  aqueles  que  ajudam  o  Bispo  no  governo  de  uma  diocese,  ou  para  
certo  tipo  de  questões17.    
Segundo  Arroba,   o   ofício   de  Vigário   Judicial   é   o   segundo   em   importância  
entre  as  figuras  que  o  ordenamento  prevê  em  relação  ao  poder  judiciário.  A  importância  

11  G.  GHIRLANDA, O Direito na Igreja: Ministério de Comunhão, 10ª  ed.,  Santuário,  Aparecida,  2007,  p.  
510.  

12   C.   1401   do   CIC:   Ecclesia


iure proprio et exclusivo cognoscit: 1°- de causis quae respiciunt res
spirituales et spiritulibus adnexas; 2°- de violatione legum ecclesiasticarum deque omnibus in quibus
inest ratio peccati, quod attinet ad culpae definitionem et poenarum ecclesiasticarum irrogationem.

13   C.   1400,   §2   do   CIC:   Attamen


controversiae ortae ex actu potestatis administativae deferri possunt
solummodo ad Superiorem vel ad tribunal administrativum.
14  SEGÚ  G.  M.,  De Personis, in  Apostila  “Ad  usum  alumnorum”  (2010),  in  Tratado  de  Personis,  p.  106.
15  SEGÚ  G.  M.,  De Personis, p.  106.
16  SEGÚ  G.  M.,  De Personis,  p.  108.
17  C.C.  SALVADOR,  Dicionário de Direito Canonico, Tradução  e  adaptação  para  o  Brasil  de  Jesús  Hortal,  
Ed.  Loyola,  1997,  p.750.  
se   refere   às   competências   anexadas   pelo   direito   a   este   ofício,   que   são   de   ordem  
administrativa   e   judiciária18.   Em   relação   ao   oficio   Barra   colabora   definindo   ofício  
eclesiástico:   é   qualquer   encargo   constituído   estavelmente   por   disposição   divina   ou  
eclesiástica,  a  ser  exercido  para  uma  finalidade  espiritual.  Nesta  definição,  mantém-­se  o  
caráter   genérico   do   encargo.   A   origem   encontra-­se   na   ordenação   ou   intervenção   do  
poder.   Quer   seja   divina,   como   no   ofício   do   Papa   (Romano   Pontífice)   ou   dos   Bispos,  
quer  eclesiástica,  como  no  ofício  do  Vigário  Judicial  ou  Juiz  diocesano19.  
O   juiz   de   primeira   instância   é   o   bispo,   que   pode   exercer20   este   ofício  
pessoalmente   ou   por   delegação.   Em   geral,   o   bispo   delega   este   poder   a   um   Vigário  
Judicial  e  nomeia  juízes  eclesiásticos21.    
O  vigário  judicial  pode  acumular  se  quiser  a  função  de  presidente  quando  o  
Tribunal  for  colegial  e  ser  também,  o  Relator,  nesta  causa.    
Segundo   Lelis:   «estes   Juízes   são,   via   de   regra,   clérigos;;   porém,   o   Código  
faculta  às  Conferências  Episcopais  a  nomeação  de  juízes  leigos.»22  
Confirma   Pompedda   citando   o   c.   1421   dizendo:   “os   juízes   devem23   ser  
ordinariamente  clérigos,  de  fama  íntegra  e  doutores  em  direito  canônico  ou  pelo  menos  
diplomados.  E  que  no  caso  de  Vigários  Judiciais  e  Vigários  Judiciais  Adjuntos,  ou  seja,  
daqueles   que   normalmente   presidem   a   um   colégio   judicial   e   nele   desempenham   uma  
função  diretiva  e  autorizada,  muito  além  da  mera  presidência  formal24,  é  exigido  para,  

18  M.  J.  ARROBA  CONDE,  Direito processual canônico,  (traduzido  por  Côn.  Dr.  Martin  Segú  Girona), 5ª  
ed.,  Editiones  Institutum  Iuridicum  Claretianum,  São  Paulo,  2006,  p.  234.    
19  C.C.  SALVADOR,  Dicionário de Direito Canonico, Tradução  e  adaptação  para  o  Brasil  de  Jesús  Hortal,  
Ed.  Loyola,  1997,  p.517.
20  C.  1419  do  CIC:
§ 1. In unaquaque dioecesi et pro omnibus causis iure expresse non exceptis, iudex
primae instantiae est Episcopus dioecesanus, qui iudicialem potestatem exercere potest per se ipse vel
per alios, secundum canones qui sequuntur.  
21  
L.   LARA,   Caderno de Direito Canônico,   ano   2   n.1   (jan/jul   2004),   A   constituição   de   um   tribunal  
eclesiástico,  p.13.
22  L.  LARA,  Caderno de Direito Canônico,  p.13.

23    C.  1421,§1  do  CIC:  In dioecesi constituantur ab Episcopo iudices dioecesani, qui sint clerici.
24   M.   F.   POMPEDDA,   O
Juiz Eclesiástico.   Discurso   do   Cardeal   Mario   F.   Pompedda,   no   início   do    Ano  
Acadêmico   do   “Studium   Romanae   Rotae”,   06   de   novembro   de   2002,   p.   2.   Disponível   em:  
W W W. v a t i c a n . v a / r o m a n _ c u r i a / t r i b u n a l s / r o m a m _ r o t a / d o c u m e n t s /
rc_trib_rota_doc_20021106_pompedda_po.  ht  ml.  
além   disso,   que   sejam   sacerdotes   e   não   tenham   menos   de   trinta   anos   conforme   o  
ordenamento  jurídico25.  
Para   tanto   “O”   legislador   apresenta   o   Vigário   Judicial   como   uma   função  
importante  em  cada  diocese  como  sendo  uma  constituição  obrigatória 26.    
A   constituição   de   um   "Vigário   judicial"   (chamado   também   "Oficial")   é  
obrigatória  em  todas  as  dioceses,  mesmo  nos  países  onde,  como  no  Brasil,  existem  
tribunais  regionais27,  podem  ou  não  conhecer  todas  as  causas.  
Hortal  enfatiza  que  os  títulos  acadêmicos  exigidos  no  §  4  não  se  requerem  
para   a   validade   da   nomeação.   Na   maioria   das   dioceses   do   Brasil   nem   será   possível  
contar  com  sacerdotes  que  tenham  esses  títulos.  Isso,  porém,  deve  ser  um  incentivo  para  
procurar  formá-­los28.    

A INSTITUIÇÃO

Segú  diz  que  o  título  VIII  do  Livro  I  do  Código  vigente  trata  do  Poder  de  
Governo   ou   da   “Potestas Regiminis”.   Quem,   fundamentalmente,   tem   poder   na   Igreja  
são   os   Bispos.   Trata-­se   aqui   de   poder   público.   O   poder   público   que   é   o   poder   de  
Governo.   Segú   afirma   que   se   usava,   antigamente,   com   muita   freqüência   a   palavra  
‘Potestas iurisdictionis’.   Esta   expressão   não   foi   totalmente   abandonada   pelos   Códigos  
haja  vista  que  aparece  no  CIC  c.  129  §129  CCEO  c.  979  §130.  Esta  expressão  levanta  o  

25   C.   1420,   §4   do   CIC:
Tum Vicarius iudicialis tum Vicarii iudiciles adiuncti esse debent sacerdotes,
integrae famae, in iure canonico doctores vel saltem licenciati, annos nati non minus triginta.
26   C.   1420,   §1   do   CIC:   Quilibet
Episcopus dioecesanus tenetur Vicarium iudicialem seu Officialem
constituere cum potestate ordinaria iudicandi, a Vicario generali distinctum, nisi parvitas dioecesis aut
paucitas causarum aliud suadeat.

27   C.   1423   do   CIC:
§ 1 Plures dioecesani Episcopi, probante Sede Apostolica, possunt concordes, in
locum tribunalium dioecesanorum de quibus in cann. 1419-1421, unicum constituere in suis dioecesibus
tribunal primae instantiae; quo in casu ipsorum Episcoporum coetui vel Episcopo ab eisdem designato
omnes competunt potestates, quas Episcopus dioecesanus habet circa suum tribunal.
§ 2. Tribunalia, de quibus in § 1, constitui possunt vel ad causas quaslibet vel ad aliqua tantum
causarum genera.
28  J.  HORTAL,  Código de Direito Canônico,  NEP  do  “C.  1420  do  CIC”,  p.  623.  

29   C.   129,   §1   do   CIC:   Potestatis


regiminis, quae quidem ex divina institutione est in Ecclesia et etiam
potestas iurisdictionis vocatur, ad normam praescriptorum iuris, habiles sunt qui ordine sacro sunt
insigniti.
30  C.  979  do  CCEO:  Potestatis
regiminis, quae ex divina institutione est in Ecclesia, ad normam iuris
habiles Sunt, qui in ordine sacro sunt constituti.
problema   da   possibilidade   dos   leigos   participarem   do   poder   de   jurisdição,   como   por  
exemplo,  do  leigo  poder  ser  juiz.    
Para   definir   o   poder   do   Juiz,   Segú   salienta   que   na   língua   latina   usa-­se   a  
‘iurisdictio’   para   significar   o   poder   do   juiz.   Este   é   o   sentido   mais   técnico   e  
especializado.   A   iurisdictio   é   a   potestas   pública   de   governo   (regendi)   normalmente  
provêm  de  um  ofício  ou  de  uma  missão  canônica 31.  Portanto,  a  potestas  de  governo  é  
uma  potestas  plenamente  pública  de  governo:  de  fazer  leis,  de  julgar  (o  juiz  possui  parte  
deste   poder);;   administrar,   p.   ex.   dar   a   dispensa,   é   um   ato   do   poder   de   jurisdição.  
Potestas pastoralis  quem  possui  a  potestas pastoralis  por  execelência  é  o  Bispo32.  
A  iurisdictio  clássica  significava  o  poder  do  magistrado  oficial,  não  aquele  
do   juiz   privado.   Com   o   procedimento   da   cognitio,   o   termo   foi   aplicado   a   todos   os  
funcionários  que  exerciam  o  ofício  de  juiz 33.  
No   Código   de   Justiniano,   aparecem   textos   onde   o   termo   é   usado   para  
significar  a  atividade  dos  oficiais  imperiais  mesmo  fora  do  procedimento  judiciário.  Nas  
Novellae   de   Justiniano   existem   diversos   textos   onde   o   termo   é   usado   para   designar   a  
potestas   dos   Bispos;;   ali,   no   entanto   a   ‘potestas’   era   entendida   de   modo   genérico,   no  
sentido  de  toda  a  ‘potestas’  pública  de  reger  e  administrar  a  Igreja34.    
Nas  aulas  do  Concílio  Vaticano  I  estudou-­se  em  profundidade  se  o  Papa  era  
a  origem  de  todo  o  poder  de  jurisdição  na  Igreja.  Quando  o  Vaticano  I  definiu  o  Primado  
do   Papa,   Bismark   reagiu   dizendo   que   os   Bispos   eram   simples   instrumentos   do   Papa.  
Mas  Pio  IX  respondeu  que  os  bispos  não  eram  simples  instrumentos  nas  mãos  do  Papa,  
mas  os  Bispos  tinham  ‘potestas’  ordinária  própria35 .    
No  Tratado  “De Personis”  vimos  que  com  o  passar  do  tempo  cronológico  e  
a  dinamicidade  da  Igreja,  o  Concilio  Vaticano  II,  apresenta  uma  nova  noção  mais  clara  
sobre  o  bispo,  para  sublinhar  e  salientar  a  sacramentalidade  da  ordenação  episcopal;;  é  
do  Sacramento  que  se  recebe  o  múnus.  E  este  múnus  é  recebido  diretamente  de  Deus  e  

31  SEGÚ  G.  M.,  De Personis, p.  108.


32  SEGÚ  G.  M.,  De Personis,  p.  109.  
33  SEGÚ  G.  M.,  De Personis,  p.  110.
34  SEGÚ  G.  M.,  De Personis,  p.  110.
35  SEGÚ  G.  M.,  De Personis,  p.  112.  
não   do   Papa.   Daí   a   tese   “consecratio confert munera”,   portanto   a   função   ou   ofício  
provém   de   Deus.   O   texto   diz   “munera non potestas”.   Não   diz   que   a   “consecratio”   dá  
toda  a  potestas,  mas  lhe  dá  o  múnus36.  
Mas   o   Concilio   Vaticano   II   não   diz   tudo.   Nem   mesmo   a   nota   prévia   à  
Constituição  “Lumen Gentium”  explica  tudo.  Para  se  ter  a  potestas  livre,  que  funcione  
ativa,  deve-­se  ter  a  MISSIO CANONICA  ou  a  IURIDICA DETERMINATIO.  O  encargo  
ou   função   pastoral   devem   ser   determinados   porque   uma   missão   indeterminada   não  
significa   nada.   O   Concílio   Vaticano   II   fala   de   “sacra potestas”.   E   a   “sacra potestas”  
origina-­se  do  Sacramento,  mas  não  sem  a  intervenção  da  missio canônica.  É  sempre  no  
contexto   de   fazer   alguma   coisa,   de   desempenhar   alguma   função,   e   de   constituí-­lo  
ministro,   isto   é,   o   múnus   de   fazer.   A   missio canonica   constitui-­se   em   verdadeira  
causalidade.   Nem   todos   aceitam   este   posicionamento37.   Se   houver   comparação   de  
poderes   constata-­se   que   o   poder   do   Papa   é   muito   grande,   porque   o   Papa   tem   a  
responsabilidade   da   Igreja   Universal.   O   Bispo   pode   ter   responsabilidade   de   um  
minúsculo  território.  Mas  tanto  um  como  o  outro  são  Bispos,  mas  um  tem  uma  missio
canonica  determinata  e  o  outro,  outra38.  

1. BISPOS    
O   Legislador   no   código   latino,   salienta   que   os   bispos   diocesanos   têm   “O”  
poder  judicial39  para  sua  diocese,  em  1ª  Instância,  mas  normalmente  exercem-­no  através  
de   outros.   O   ideal   seria   que   em   toda   a   diocese   fosse   instituído   um   tribunal   diocesano  
estável,   que   funcionaria   como   órgão   judiciário   do   bispo   (juiz   ordinário   local)   para  
decisão   em   primeira   instância   de   todas   as   causas   que   não   fossem   reservadas   pelo  

36  SEGÚ  G.  M.,  De Personis,  p.  112.  


37  SEGÚ  G.  M.,  De Personis,  p.  112.
38  SEGÚ  G.  M.,  De Personis, p.  112.  
39  C.  1419,  §  1  do  CIC:  In
unaquaque dioecesi et pro omnibus causis iure expresse non exceptis, iudex
primae instantiae est Episcopus dioecesanus, qui iudicialem potestatem exercere potest per se ipse vel
per alios, secundum canones qui sequuntur.
direito40.  O  episcopado  é  de  instituição  divina41,  por  isso  a  função  ou  ofício  provém  de  
Deus,  pois,  Nosso  Senhor  Jesus  Cristo  instituiu  um  colégio  sob  a  presidência  de  Pedro.  
E  o  Romano  Pontífice  apresenta  a  sucessão  apostólica  como  escolha  da  ação  do  Espírito  
e  como  servidores  do  povo  de  Deus42.    
Por  isso,  o  episcopado43  é  de  instituição  divina.  A  escolha  dos  sucessores  dá  
continuidade   à   sucessão   apostólica,   e   são   constituídos   mestres   da   doutrina44,   por   isso  
tem   o   múnus   de   ensinar,   ministrare   =   servir,   os   bispos   devem   ser   os   ministros,   os  
servidores  do  povo  de  Deus,  do  culto  e  do  governo.  
Pela  consagração  episcopal  recebe-­se  o  tríplice  múnus  de  ensinar,  governar  
e   santificar.   Os   bispos   tornam-­se   membros   do   colégio   em   virtude   da   consagração  
sacramental   e   da   comunhão   hierárquica   com   o   ‘Cabeça’   do   Colégio   e   com   seus  
membros45.    
Mas   a   Igreja   é   uma   monarquia   de   caráter   hierárquico   oriunda   do   poder  
sagrado,   por   determinação   do   seu   fundador.   Numa   única   pessoa   concentra-­se   toda   a  
organização.  O  Bispo  é  o  cerne  porque  faz  às  vezes  de  Cristo,  mestre  e  sacerdote.  Foi  a  
graça  da  consagração  episcopal  que  o  colocou46  e  constituiu.    
Por  isso  que  os  Bispos,  por  divina  instituição  são  sucessores  dos  apóstolos  
com  toda  a  autoridade  pastoral 47.  Por  isso,  os  Bispos  são  colocados  como  cabeças  das  
Igrejas   Particulares 48.  Tal   ofício   é   exercido   em   comunhão   com   o   Romano   Pontífice,   e  

40  G.  GHIRLANDA, O Direito na Igreja...,  p.  513.


41  G.  GHIRLANDA, O Direito na Igreja...,  p.  564.

42  C.  375,  §§  1-­2  do  CIC:  §  1.  Episcopi,


qui ex divina institutione in Apostolarum locum succedunt per
Spiritum Sanctum qui datus est eis, in Ecclesia Pastores constituuntur, ut sint et ipsi doctrinae magistri,
sacri cultus sacerdotes et gubernationis ministri.
§  2.  Episcopi ipsa consecratione episcopali recipiunt cum munere sanctificandi munera quoque
docendi et regendi, quae tamen natura sua nonnisi in hierarchica communione cum Collegii capite et
membris exercere possunt.
43  DICIONÁRIO  TEOLÓGICO  ENCICLOPÉDICO,  Lexicon,  tradução  J.  P.  NETTO  -­  A.  A.  MACHADO,  Edições  

Loyola,  São  Paulo,  2003,  verbete:  Episcopado,  p.  236.


44    G.  GHIRLANDA, O Direito na Igreja...,  p.  601.
45  Cfr.  L.G.,  n.22 a.  
46  CONGREGAÇÃO  PARA  OS  BISPOS,  Diretório para o ministério pastoral dos Bispos, Edições  Loyola,  São  
Paulo,  2005,  n.  1.  
47  CONGREGAÇÃO  PARA  OS  BISPOS,  Diretório para o ministério pastoral...,  n.  22.
48  CONGREGAÇÃO  PARA  OS  BISPOS,  Diretório para o ministério pastoral...,  n.  158.
com   o   colégio   episcopal 49.     É   o   Bispo   da   Diocese,   e,   além   disso,   é   Bispo   da   Igreja.  
Nenhum   Bispo   pode   ensinar   fora   do   que   a   Sagrada   Escritura   revela50;;   Deve   governar  
com   o   Código   de   Direito   Canônico51,   não   pode   inventar   “coisas   escalafobéticas”,  
evitando   assim,   governar   segundo   visões   e   esquemas   personalistas   a   respeito   da  
realidade  eclesial.  
O  Bispo  exerce  o  poder  judiciário  seja  pessoalmente  seja  mediante  o  Vigário  
Judicial  e  os  Juízes52.    
A   administração   da   justiça   canônica   é   uma   tarefa   de   graves  
responsabilidades  que  exige,  antes  de  tudo,  um  profundo  senso  de  justiça,  mas  também  
uma   adequada   perícia   canônica   e   a   correspondente   experiência.   Por   esse   motivo,   o  
Bispo   escolherá   atentamente   os   titulares   dos   vários   ofícios:   o   Vigário   Judicial,   outros  
juízes  diocesanos,  promotor  de  justiça  e  o  defensor  do  vínculo,  advogados  e  notários 53;;  
E   em   especial   dando   ênfase   dentro   do   ordenamento   jurídico   ao   Oficial,   pois   o   cânon  
refere-­se  diretamente  ao  Vigário  Judicial  e  os  Vigários  Judiciais  adjuntos,  indiretamente,  
a  necessidade  de  estabelecer  o  tribunal 54.  

1.1.2  -­    QUANTO  A  OBRIGAÇÃO  DE  CONSTITUIR  UM  TRIBUNAL  

49  CONGREGAÇÃO  PARA  OS  BISPOS,  Diretório para o ministério pastoral...,  n.  14.
50  CONGREGAÇÃO  PARA  OS  BISPOS,  Diretório para o ministério pastoral...,  n.  13.  
51  CONGREGAÇÃO  PARA  OS  BISPOS,  Diretório para o ministério pastoral...,  n.  62.  

52   C.   391,   §2   do   CIC:   Potestatem


legislativam exercet ipse Episcopus; potestatem exsecutivam exercet
sive per se sive per Vicarios generales aut episcopales ad normam iuris; potestatem iudicialem sive per
se sive per Vicarium iudicialem et iudices ad normam iuris.
53  CONGREGAÇÃO  PARA  OS  BISPOS,  Diretório para o ministério pastoral...,  n.  180.

54   C.   1420   do   CIC:   §
1. Quilibet Episcopus dioecesanus tenetur Vicarium iudicialem seu Officialem
constituere cum potestate ordinaria iudicandi, a Vicario generali distinctum, nisi parvitas dioecesis aut
paucitas causarum aliud suadeat.
§ 2. Vicarius iudicialis unum constituit tribunal cum Episcopo, sed nequit iudicare causas quas Episcopus
sibi reservat.
§ 3. Vicario iudiciali dari possunt adiutores, quibus nomen est Vicarioroum iudicialium adiunctorum seu
Vice-officialium.
§ 4. Tum Vicarius iudicialis tum Vicarii iudiciles adiuncti esse debent sacerdotes, integrae famae, in iure
canonico doctores vel saltem licenciati, annos nati non minus triginta.
§ 5. Ipsi, sede vacante, a munere non cessant nec ab Administratore dioecesano amoveri possunt;
adveniente autem novo Episcopo, indigent confirmatione.
O   Vigário   Judicial,   juiz   e   chefe   da   administração   judiciária   deve   ser  
necessariamente  constituído  pelo  Bispo 55.    
A   Congregação   para   os   Bispos,   ciente   do   fato   de   que   a   administração   da  
justiça   é   um   aspecto   do   poder   sagrado,   cujo   devido   e   tempestivo   exercício   é   muito  
importante  para  o  bem  das  almas,  o  Bispo  considerará  o  âmbito  judiciário  como  objeto  
de   sua   preocupação   pastoral.   Respeitando     a   devida   independência   dos   órgãos  
legitimamente  constituídos,  vigiará  contudo  sobre  a  eficácia  do  seu  trabalho  e  sobretudo  
sobre   sua   fidelidade   em   relação   à   doutrina   da   Igreja,   sobre   a   fé   e   os   costumes,  
especialmente  em  matéria  matrimonial.  Sem  se  deixar  intimidar  pela  índole  técnica  de  
muitas   questões,   saberá   aconselhar-­se   e   tomar   as   medidas   oportunas   de   governo   para  
conseguir  ter  um  tribunal  em  que  resplandeça  a  verdadeira  justiça  intra-­eclesial56.    
A   obrigação,   contida   no   §   1   º,   a   nomeação   de   um   vigário   judicial   é  
praticamente  equivalente  à  luz  do  cânone  e  além,  o  dever  de  cada  Bispo  diocesano  (e  
todos   os   equivalentes   a   ele:   para   estabelecer   sua   própria   instância.   Pois   em   relação   a  
essa  obrigação,  deve  notar 57:  
Zenon,   diz   que   estão   isentos   os   Ordinários   militares.   De   fato,   Spirituali
Militum Curae,  dispõe  que:  "Para os processos judiciais de fiéis do Ordinariato militar,
a competência originária é o tribunal da diocese em que está localizado a cúria do
Ordinariato militar58".   No   entanto,   não   excluem   a   possibilidade   de   que   o   Ordinariato  
militar  tenha  sua  própria  instância59.  
Salienta   Zenon,   a   razão   que   a   Spirituali Militum Curae   não   exige   que   um  
tribunal  militar  regular  para  ter  seus  próprios  (e  designa  um  tribunal  estrangeiro  para  as  
possíveis   causas,   se   o   tribunal   não   tem   Ordinariato)   isto   reside   no   fato   de   que   sua  
competência  é  cumulativa  com  a  do  bispo  diocesano60.    

55  CONGREGAÇÃO  PARA  OS  BISPOS,  Diretório para o ministério pastoral...,  n.  180.
56  CONGREGAÇÃO  PARA  OS  BISPOS,  Diretório para o ministério pastoral...,  n.  180.  
57  
Z.   GROCHOLEWSKI,   El Juez,   in   Instituto   Martin   De   Azpilcueta   Facultad   De   Derecho   Canonico  
Universidad  De  Navarra,  Comentário exegético al código de derecho canônico, 3ª ed., eunsa,  Pamplona,  
2002,  Vol.  IV/1,  p.772.
58  IOANNES  PAULUS  PP.  II,  Const. Ap.  Spirituali Militum Curae,  21.IV.1986:    AAS  78  (1986)  481-­486.
59  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez,…, p.  772.
60  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez,...,  p.  772.  
Em   outras   palavras,   diz   Zenon,   para   o   Ordinário   militar   não   é   necessário  
que   tenha     um   tribunal   próprio,   explica   por   que   aos   fiéis   do   Ordinariato   já   estão  
disponíveis  um  tribunal  de  primeira  instância  na  diocese,  eparquia  ou  equiparada  a  elas.  
Portanto,   apesar   de   não   haver     nenhum   tribunal   no   Ordinariato,   os   fiéis   não   precisam  
necessariamente,   submeter-­se   a   referida   causa   ao   "tribunal   da   diocese   em   que   esta  
localizado   a   Cúria   do   Ordinariato",   mas     pode   introduzir   em   outra   jurisdição     a   que  
pertence  cumulativamente  cada  um 61.  
Em   qualquer   caso,   se   por   qualquer   motivo   não   tinham   os   fiéis   desse  
tribunal,  ou  isso  não  vai  funcionar  e  não  houve  corte  de  funcionamento  na  diocese  em  
que  está  localizado  a  cúria  do  Ordinariato  militar,  o  Ordinário  Militar    como  presidente  
de  uma  comunidade  de  crentes  na  lei  equiparada  à  diocese,  seria  gravemente  obrigado  a  
buscar  para  eles  um  tribunal  funcional 62.  
Com  relação  à  prática,  os  tribunais  militares  ordinários  não  são  geralmente  
próprios63.   Na   verdade,   eles   não   devem   ser   multiplicados   desnecessariamente   pelas  
instituições,   e   ainda   menos   quando   há   falta   de   pessoal   qualificado64.  Além   disso,   uma  
vez  que  os  fiéis  do  Ordinariato  Militar  são  geralmente  espalhado  por  todo  o  território  de  
muitas   dioceses   (ou   combinados   distritos   em   lei)   é   geralmente   mais   confortável   para  
eles   irem   para   o   tribunal   diocesano.   A   constituição   Spirituali Militum Curae   não   só  
exige  que  os  militares  tenham  Ordinariatos  e  próprios  tribunal,  mas  até  o  recomenda65.  
O   Bispo   diocesano   pode   cumprir   a   obrigação   de   fornecer   um   tribunal  
próprio,  ao  juntar-­se  com  outros,    e  eregindo  um  tribunal  inter-­diocesano66.  
Há  dioceses  que  por  uma  razão  ou  outra,  como  por  exemplo,  diocese  porque  
é   muito   pequena   ou   recém-­criada,   ou   não   possui   pessoal   treinado,   e   assim   por   diante.    
Estas   Dioceses   não   são   capazes   de   ter   o   próprio   tribunal,   ou   então   considerá-­o  

61  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez,...,  p.  772.  


62  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez,...,  pp.766-­777.
63  
Cfr.   E.   BAURA,   L’ufficio di Ordinario militare. Profili giuridici, en   “Ius   Ecclesiae”   4   (1992),   pp.  
409-­410.  
64  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez,...,  p.772.  
65  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  p.773.
66  Cfr.  C.  1423  do  CIC:  §  1
Plures dioecesani Episcopi, probante Sede Apostolica, possunt concordes, in
locum tribunalium dioecesanorum de quibus in cann. 1419-1421, unicum constituere in suis dioecesibus
tribunal primae instantiae; quo in casu ipsorum Episcoporum coetui vel Episcopo ab eisdem designato
omnes competunt potestates, quas Episcopus dioecesanus habet circa suum tribunal.
inadequado,   e   ainda   não   se   têm   nenhuma   possibilidade   de   erigir   um   Tribunal  
interdiocesano.  Mesmo  assim,  o  Bispo  diocesano  ou  os  equiparados  são  obrigados  por  
lei  divina,  prover  para  que  os  fiéis  tenham  o  seu  tribunal  de  primeira  instância.  A  única  
possibilidade,   nesses   casos,   é   encontrar   um   tribunal   de   uma   Diocese   vizinha,   pronto  
para  assumir  as  causas    uma  vez  obtida  a  devida  licença  da  Assinatura  Apostólica67  -­  sob  
Pastor Bonus,   124,3   º   -­   conceder   a   prorrogação   necessária   de   competência   para   o  
tribunal  ao  lado68.  
Esta   solução   parece   ser   necessária   para   as   missões   "sui iuris",   listadas   no  
"Anuário  Pontifício"  após  as  Administrações  Apostólicas 69,  dado  o  pequeno  número  de  
causas.  

2.  -­  PODER  JUDICIAL70    

 O  Direito  Canônico  não  contempla  a  distribuição  de  poderes  montesquiana  


com   suas   respectivas   organizações   unitárias   e   independentes   entre   si.   A   causa   é   o  
princípio   de   concentração   da   “sacra potestas”   no   Romano   Pontífice   e   nos   Bispos.   O  
Romano   Pontífice   e   os   Bispos   em   suas   dioceses   são   simultanea   e   originalmente  
legisladores,  juízes  e  administradores71.  O  ordenamento  jurídico  canônico  reconhece  e  
promove   a   distinção   entre   as   diversas   formas   de   exercício   de   poder   de   regime.   No  
Direito   da   Igreja   não   há   separação   de   poderes   e   sim   distinção   em   seu   exercício.     A  

67  IOANNES  PAULUS  PP.  II,  Const. Ap. Pastor Bonus,  28.VI.1988:  in  AAS 80  (1988),  art.  124  n.3,  (daqui  
em  diante,  PB  art.  124,  n.3),  pp.  841-­912,  913-­923  Adnexa,  in  ANDRÉS  GUTIÉREZ,  D.  J.,  Leges  Ecclesiae
post codicem Iuris Canonici editae, Vol.  IX,  Roma,  2001.
68  Z.  GROCHOLEWSKI,  Tribunal da Sé Apostólica...,  p.  908.  
69  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  p.777.

70  Cfr.  DC  art.  32  §1:  Potestas


iudicialis, qua gaudent iudices aut collegia iudicialia, exercenda est modo
iure praescripto, et delegari nequit, nisi ad actus cuivis decreto aut sententiae praeparatorios
perficiendos.  
71  SEGÚ  G.  M.,  De Personis,  p.  58.
aplicação  deste  princípio  interessa  particularmente  no  nível  das  atividades  subordinadas  
aos  ofícios  capitais72.    
De   modo   que   o   princípio   da   distinção   de   funções   era   concebido   na  
preparação  do  Ordenamento  Jurídico  vigente  como  um  instrumento  técnico-­jurídico  ao  
serviço  da  tutela  dos  direitos  dos  fiéis  e  de  um  exercício  ordenado  do  poder  da  Igreja73.
«Com efeito a distinção de poder:

a) Promove a necessária ordem e segurança jurídica na criação e aplicação do direito


(evitando-se por ex., com mais facilidade a ingerência de autoridades administrativas em
tarefas próprias do poder legislativo, manifestada neste século com a atividade das
Congregações da Cúria Romana);
b) É requisito prévio para o estabelecimento de um oportuno sistema de recursos
administrativos e processuais, com sua correspondente organização (autoridades e, em
seu caso, tribunais administrativos, organização judicial);
c) Permite uma distinção formal entre os atos derivados do exercício dos três poderes
(normas legislativas, normas e atos administrativos, atos processuais) e o
estabelecimento de uma hierarquia normativa que resolva o problema da possível
contradição entre normas procedentes e autoridades diversas (cf. c. 135, §2);
d) Permite identificar a competência, a parcela de poder, atribuída a cada ofício ou
autoridade eclesiástica.
Enfocando os aspectos formais e orgânicos do principio de distinção de poderes segundo
as normas do CIC 83, cabe destacar:
- a própria formulação geral do princípio no c. 135, §1, desenvolvida para o nível
diocesano pelo c. 139, §1;
- a regulação do exercício do poder legislativo, executivo e judicial, segundo os
critérios gerais dos cc. 135, §2 ss.;
- a distinção e formação das normas legislativas (leis: c. 7 ss.; decretos gerais
legislativos: c. 29) e dos atos administrativos gerais (decretos gerais executórios: c. 31
ss.; instruções: c. 34) e singulares (decretos: c. 48; rescritos: c. 59; privilégios: c. 76 ss.;
dispensas: c. 85 ss.), com seu correspondente regime jurídico;
- a regulamentação de alguns recursos e procedimentos administrativos (cc. 1732 ss.;
1740 ss.), assim como dos processos e recursos judiciais no Lib. VII;
- a indicação se encontra estabelecida com caráter geral no c. 391,§2.
A titularidade dos três poderes pertence ao Romano Pontífice para a Igreja Universal e
ao Bispo diocesano em cada Igreja particular (vide c. 381, §2: aqueles que se equiparam
canonicamente com o Bispo diocesano).»74  

Para  Montesquieu  a  distribuição  de  poderes  não  é  algo  totalmente  separado,  


como   querem   alguns.   Não   visa   uma   autonomia   plena   e   absoluta   dos   poderes.   Ele  
desejava   que   houvesse   um   equilíbrio   entre   os   três   poderes.   Mas   como   órgãos   à  
semelhança  do  corpo  cada  qual  possui  sua  própria  função,  mas  para  o  bem  do  conjunto.  
Um   órgão   separado   do   todo   não   pode   subsistir.   Tudo   isto   visava   a   proteção   do  

72  SEGÚ  G.  M.,  De Personis,  p.  58.


73  SEGÚ  G.  M.,  De Personis,  p.  58.
74  SEGÚ  G.  M.,  De Personis, pp.  58-­59.  
indivíduo.   Se   é   o   mesmo   que   legisla,   que   julga   e   que   executa   o   indivíduo   não   poderá  
estar  protegido  e  tutelado.  Portanto,  estes  poderes  deveram  gozar  de  certa  autonomia  e  
agir  separadamente75.  
«No   Direito   Canônico   uma   mesma   pessoa   concentra   os   três   poderes.   Esta  
poderá  ser  Chefe  Supremo  Bispo.  Os  Bispos  detêm  os  três  poderes,  portanto  no  Direito  
Canônico   não   existe   a   distribuição   de   poderes.   Portanto,   teoricamente   não   existe,   mas  
na  prática  sim,  através  das  Cúrias  e  Tribunais.  Por  exemplo,  na  Cúria  Romana  o  poder  
executivo   está   distribuído   pelos   diversos   Dicastérios,   e   o   Judiciário   também   (Rota  
Romana,   Penitenciaria   Apostólica   e   Signatura   Apostólica);;   Nas   Cúrias   Diocesanas  
encontram-­se  as  figuras  do  Vigário  Geral  (poder  administrativo)  e  a  do  Vigário  Judicial  
(poder  judiciário).    
No   Direito   Canônico   o   poder   administrativo   é   sinônimo,   com   pequenas  
nuances,  de  poder  executivo.  Diferentemente  do  Civil  que  existem  certas  nuances  que  
os  distinguem  e  não  se  identificam.  No  Canônico  praticamente  são  idênticos»76.  
Langaro   confirma   que   as   origens   do   poder   judicial   são   as   próprias   origens  
do  direito77.    
Voltaire,  declarou  que  “a  mais  bela  função  da  humanidade  é  a  de  administrar  
a  Justiça” 78.  E  expandindo  a  beleza  do  pensamento  do  poder  judicial  Lamoignon,  citado  
por   Fabreguettes   afirma   que:   “não   é   a   púrpura,   nem   o   armarinho   que   faz   excelente   o  
magistrado:  é  a  integridade,  o  saber,  o  amor  da  virtude  e  o  zelo  da  justiça”,  e  termina  
dizendo  que:  “não  há  função  mais  grave  e  mais  severa  do  que  a  que  lhe  é  confiada,  isto  
é,  a  de  ser  o  árbitro  de  seus  semelhantes,  dispondo  soberanamente  sobre  sua  fortuna  e  de  
seus   mais   sagrados   direitos”79.   Cirne   Lima,   citado   em   Langaro   conceitua:   “juiz   é   o  
homem  a  quem  é  cometida  a  sobre-­humana  função  de  julgar,  que  é  a  função  mais  alta,  
mas  o  juiz  ao  julgar  está,  sempre,  só,  totalmente  só,  angustiadamente  só” 80.  

75  SEGÚ  G.  M.,  De Personis, p.132.  


76  SEGÚ  G.  M.,  De Personis,  p.133.  
77  L.  L.  LANGARO,  Curso de Deontologia Juridica,  2ª  ed.,  São  Paulo:  Editora  Saraiva,  1996,  p.  75.
78  L.  L.  LANGARO,  Curso de Deontologia,  p.  75.
79  FABREGUETTES,  Aarte de julgar,  tradução  port.,  Lisboa,  1914,  p.  7e  8.  apud  LANGARO,  L.  L.,  Curso
de Deontologia Juridica.  2ª  ed.  São  Paulo:  Editora  Saraiva,  1996,  p.  75.
80  L.  L.  LANGARO,  Curso de Deontologia...,  p.  76.  
Arroba   aponta   que   a   função   judiciária   enquanto   parte   do   poder   de  
jurisdição,   consiste   no   “ius dicere”,   isto   é,   no   declarar   o   direito   nas   situações  
controversas,  aplicando  o  próprio  direito.  Por  isso,  o  poder  judiciário  deve  ser  exercido  
“modo iure praescripto”,  isto  é  no  modo  que  o  próprio  direito  estabelece.  A  resolução  
judiciária   é   precedida   do   acerto   dos   fatos   da   lei   a   ser   aplicada,   por   isso,   sempre   se  
sublinha  uma  dupla  dimensão  no  poder  judiciário:  a  “potestas cognoscendi”  (relativa  à  
instrução   da   causa)   e   a   “potestas definiendi”   (relativa   à   decisão)   para   garantir   o  
principio   de   legalidade   na   comunidade   eclesial.   A   exigência   de   restabelecimento   da  
legalidade   se   realiza   mediante   a   reivindicação   dos   próprios   direitos   no   foro  
eclesiástico81.  Esta  reivindicação  não  deve  ser  interpretada  apenas  como  dirigida  a  fins  
individuais,   mas   como   um   modo   de   contribuir   para   eliminar   da   ordem   jurídica   uma  
situação  que,  em  consciência,  é  tida  como  estranha  ao  patrimônio  de  valores  que  todos  
têm   o   dever   de   defender   corresponsavelmente82 ;;   a   atividade   judiciária   recobra   assim  
uma  competência  de  comunhão,  que  consiste  no  controle  da  legitimidade  e  da  justiça  a  
ser  aplicada  às  situações  controversas83;;  não  são  estranhos  ao  controle  judiciário  os  atos  
da  própria  autoridade 84.  
Deste   modo,  Arroba,   diz   que   por   poder   judiciário   eclesiástico   entendemos  
aquela   parte   do   poder   público   de   governo   mediante   o   qual   se   definem   os   direitos  
controversos  e  se  declaram  autoritativamente  os  direitos  violados  em  razão  da  irrogação  
das   penas.   Enquanto   parte   do   poder   pessoal   e   pleno   de   governo,   o   poder   judiciário  
pertence   propriamente   aos   órgãos   hierárquicos   capitais   (papa   e   bispos).   Todavia,   em  
quanto  é  uma  das  três  funções  em  que  se  distingue  o  poder  de  governo,  para  um  mais  
adequado   controle,   o   poder   judiciário   exerce-­se   normalmente   de   modo   vicário   através  

81   Cfr.   c.   221   do   CIC:   §


1. Christifidelibus competit ut iura, quibus in Ecclesia gaudent, legitime
vindicent atque defendant in foro competenti ecclesiastico ad normam iuris.

82  Cfr.  c.  208  do  CIC:  Inter


christifideles omnes, ex corum quidem in Christo regeneratione, vera viget
quoad dignitatem et actionem aequalitas, qua cuncti, sucundum propriam cuiusque condicionem et
munus,ad edificationem Corporis Christi cooperantur.

83   C.   1400,   §   2   do   CIC:   Attamen


controversiae ortae ex actu potestatis administativae deferri possunt
solummodo ad Superiorem vel ad tribunal administrativum.
C.   1445,   §   2   do   CIC:   Ipsum Tribunal videt de contentionibus ortis ex actu potestatis administrativae
ecclesiasticae ad eam legitime delatis, de aliis controversiis administrativis quae a Romano Pontifice
vel a Romanae Curiae dicasteriis ipsi deferantur, et de conflictu competentiae inter eadem dicasteria.
84  M.  J.  ARROBA  CONDE,  Direito processual...,  p.  110.    
das   estruturas   estavelmente   constituídas   (tribunais)   para   um   determinado   âmbito  
territorial  ou  pessoal  (âmbito  de  competência)85.    
Gozam   de   modo   ordinário   deste   poder   os   juízes   e   os   colégios   judicantes,  
que   não   podem   delegar,   em   quanto   os   juízes   não   podem   confiar   as   competências  
judiciárias   a   ninguém   que   não   seja   constituído   publicamente   como   juiz.   Existe   a  
possibilidade   de   exercício   delegado86   do   poder   judiciário   quando   o   papa   ou   o   bispo  
confiam  a  um  tribunal  uma  causa  que  por  lei  (no  caso  do  papa87)  ou  por  tê-­la  reservado  
(no  caso  do  papa 88,  e  do  bispo 89),  é  de  sua  competência.  Os  juízes,  no  entanto,  diante  do  
que   diz   o   Romano   Pontífice,   não   podem   delegar   seu   poder90 ,   a   não   ser   para   os   atos  
preparatórios  da  decisão,  entre  os  quais  a  coleta  das  provas 91.  
Parte   da   doutrina   nega   que   o   bispo   possa   delegar   o   seu   poder   próprio   de  
julgar,  argüindo  que  o c.  1419,  quando  estabelece  que  o  bispo92  pode  julgar  “per se”  o  
“per alios”,  acrescenta  que  o  segundo  caso  (julgar  “per alios”)  é  permitido  ao  bispo  só  
“secundum cânones qui sequuntur”,   vale   dizer,   através   de   ter   conferido   aos   outros   os  
ofícios   (vigário   judicial   e   juízes   diocesanos)   previstos   na   lei   para   exercer   o   poder  
“ordinário”   de   julgar,   sem   poder   omitir-­se   da   provisão   destes   ofícios   que   lhe   compete  

85  M.  J.  ARROBA  CONDE,  Direito processual...,  p.  110.

86  C.  1400,  §  2  do  CIC:  Romanus


Pontifex pro toto orbe catholico iudex est supremus, qui vel per se ipse
ius dicit, vel per ordinaria Sedis Apostolicae tribunalia, vel per iudices a se delegatos.  

87  C.  1405,  §  1  do  CIC:  Ipsius


Romani Pontificis dumtaxat ius est iudicandi in causis de quibus in can.
1401: 1°- eos qui supremum tenent civitatis magistratum; 2°- Patres Cardinales; 3°- Legatos Sedis
Apostolicae, et in causis poenalibus Episcopos; 4°- alias causas quas ipse ad suum advocaverit iudicium.  

88   C.   1417   do   CIC:   §
1. Ob primatum Romani Pontificis integrum est cuilibet fideli causam suam sive
contentiosam sive poenalem, in quovis iudicii gradu et in quovis litis statu, cognoscendam ad Sanctam
Sedem deferre vel apud eandem introducere.

89  C.  1419  do  CIC:  §


1.  In unaquaque dioecesi et pro omnibus causis iure expresse non exceptis, iudex
primae instantiae est Episcopus dioecesanus, qui iudicialem potestatem exercere potest per se ipse vel
per alios, secundum canones qui sequuntur.  

90   C.   135,   §   3   do   CIC:   Potestas


iudicialis, qua gaudent iudices aut collegia iudicialia, exercenda est
modo iure praescripto, et delegari nequit, nisi ad actus cuivis decreto aut sententiae praeparatorios
perficiendos.  
91  M.  J.  ARROBA  CONDE,  Direito processual...,  p.  110.
92  C.  1419  do  CIC:   §
1. In unaquaque dioecesi et pro omnibus causis iure expresse non exceptis, iudex
primae instantiae est Episcopus dioecesanus, qui iudicialem potestatem exercere potest per se ipse vel
per alios, secundum canones qui sequuntur.
§ 2. Si vero agatur de iuribus aut bonis temporalibus personae iuridicae ab Episcopo
repraesentatae, iudicat in primo gradu tribunal appellationis.  
prover,   como   se   requer   no   ordenamento   jurídico93.   Se   assim   fosse,   a   menção   do   juiz  
delegado94   significaria   apenas   que   o   bispo   pode   delegar   o   juízo   duma   causa   que   ele  
tenha  reservado  a  si,  mas  não  o  poder  de  julgar;;  por  quem,  a  referida  delegação  deve  por  
isso   mesmo   recair   a   quem   goze   de   poder   ordinário   de   julgar.   Naquele   caso,   a  
possibilidade  de  delegar  uma  causa  por  parte  do  bispo,  na  prática  viria  a  coincidir  com  a  
faculdade,  concedida  só  ao  bispo  (não  ao  vigário  judicial),  de  modificar  a  ordem  ou  o  
turno   de   juízes   a   quem   corresponderia   julgar   a   causa   objeto   da   reserva   do   bispo   e   da  
sucessiva   delegação95.   Semelhante   interpretação   não   é   condividida   se   se   levar   em  
consideração   o   critério   dos   lugares   paralelos96,   constituído   neste   caso 97,   onde  
expressamente  se  prevê  a  possibilidade  que  o  papa  possa  delegar  o  poder  judiciário  sem  
que  esta  delegação  deva  recair  no  tribunal  da  Sé  Apostólica;;  de  modo  análogo,  Arroba  
diz  que  se  o  bispo  reserva  a  si  uma  causa,  pode  sucessivamente  delegá-­la  a  quem  achar  
oportuno,  seja  ou  não  juiz98.    
Segundo  Arroba,  a  instrução  Dignitas Connubii  avalia  esta  nossa  leitura  em  
quanto,  ao  reforçar  o  poder  do  bispo  de  julgar  por  si  ou  por  outros  não  estabelece  uma  
clausula   análoga   àquela   codicial   («secundum canones quae sequitur»99)   mesmo   que  

93  C.  391,  §  2  do  CIC:  Potestatem


legislativam exercet ipse Episcopus; potestatem exsecutivam exercet
sive per se sive per Vicarios generales aut episcopales ad normam iuris; potestatem iudicialem sive per
se sive per Vicarium iudicialem et iudices ad normam iuris.  

94  C.  1512,  §  3  do  CIC:  Cum


citatio legitime notificata fuerit aut partes coram iudice steterint ad causam
agendam: 1°- res desinit esse integra; 2°- causa fit propria illius iudicis aut tribunalis ceteroquin
competentis, coram quo actio instituta est; 3°- in iudice delegato firma redditur iurisdictio, ita ut non
expiret resoluto iure delegantis: 4°- interrumpitur praescriptio, nisi aliud cautum sit; 5°- lis pendere
incipit; et ideo statim locum habet principium

95   C.   1425,   §   4   do   CIC:  
In primo iudicii gradu, si forte collegium constitui nequeat, Episcoporum
conferentia, quamdiu huiusmodi impossibilitas perduret, permittere potest ut Episcopus causas unico
iudici clerico committat, qui, ubi fieri possit, assessorem et auditorem sibi asciscat.

96  C.  17  do  CIC:  Leges


ecclesiasticae intellegendae sunt secundum propriam verborum significationem in
textu et contextu consideratam; quae si dubia et obscura manserit, ad locos parallelos, si qui sint, ad
legis finem ac circumstantias et ad mentem legislatoris est recurrendum.
97  C.  1442  do  CIC:  Romanus Pontifex pro toto orbe catholico iudex est supremus, qui vel per se ipse ius
dicit, vel per ordinaria Sedis Apostolicae tribunalia, vel per iudices a se delegatos.
98  M.  J.  ARROBA  CONDE,  Direito processual...,  p.  111.
99  Cfr.  DC  art.  22  §1:  §
1. In unaquaque iudex primae instantiae pro causis nullitatis matrimonii iure
expresse non exceptis est Episcopus dioecesanus, qui iudicialem potestatem exercere potest per se ipse
vel por alios, ad normam iuris.
acrescente   a   inoportunidade   de   julgar   pessoalmente,   a   não   ser   que   existam   razões  
especiais100.  
Os   leigos101   podem   receber   ofício   de   juiz,   seja   para   exercê-­lo   como  
membros  de  um  colégio,  junto  com  dois  clérigos102,  seja,  sobretudo  para  exercê-­lo  como  
juízes  instrutores103.  Gozam,  pois  do  poder  judiciário,  diferentemente  de  quanto  possam  
sugerir   os   que   restringem   a   habilidade   para   o   exercício   do   poder   de   governo   (sem  
distinguir  as  funções,  e,  portanto  incluindo  também  a  função  judiciária)  a  quem  recebeu  
a   ordem   sacra 104.   Não   se   justifica   a   qualificação   de   poder   delegado,   ou   de   juiz  
extraordinário,  ou  cooperador,  que  alguns  autores  atribuem  ao  poder  judiciário  exercido  
por   um   leigo.   Do   ponto   de   vista   processual,   a   diferença   entre   «habiles sunt»   e  
«cooperari possunt»  é  totalmente  irrelevante.  Arroba  salienta  que  interessa  saber  apenas  
se   os   atos   jurídicos   produzidos   por   quem   exerce   uma   função   produzem   no   sujeito  
passivo   um   vinculo   jurídico   de   submissão   obrigatória   ou   não.   No   caso   da   função  
decisória  o  poder  do  juiz  leigo  é  de  natureza  «integrativa»,  a  exercer-­se  só  no  interno  de  
um  colégio.  No  caso  da  função  judiciária  do  instrutor  (que  pode  ser  um  leigo),  as  suas  
decisões,   mesmo   pessoais,   possuem   valor   vinculante.   Em   ambos   os   casos,   o   exercício  
“cooperativo”   do   poder   pressupõe   que   o   leigo   possua   verdadeiro   poder   judiciário;;   em  
realidade  qualquer  juiz  coopera  com  o  juiz  próprio105.    

100  Cfr.  DC  art.  22 §2:  expedit tamem, nisi specials causae id exigent, ne ipse id per se faciar.

101   C.   129,   §2   do   CIC:   In exercitio eiusdem potestatis, christifideles laici ad normam iuris cooperari
possunt.  

102  C.  1421,  §  2  do  CIC:  Episcoporum


conferentia permittere potest ut etiam laici iudices constituantur, e
quibus, suadente necessitate, unus assumi potest ad collegium efformandum.  

103  C.  1428,  §  2  do  CIC:  Episcopus


potest ad auditoris munus approbare clericos vel laicos, qui bonis
moribus, prudentia et doctrina fulgeant.

104     C.   274   do   CIC:   §


1. Soli clerici obtinere possunt officia ad quorum exercitium requiritur potestas
ordinis aut potestas regiminis ecclesiastici.
105  M.  J.  ARROBA  CONDE,  Direito processual...,  p.  112.
2.1. -­  PODER  ORDINÁRIO  DO  VIGÁRIO  JUDICIAL106    

Deve  ficar  claro  que  o  tribunal  diocesano  é,  estritamente  falando,  o  tribunal  
do   bispo   diocesano,   e   que   é   justamente   chamado 107   no   CIC:   «tribunal Episcopi»,  
«Metropolitae tribunal».   De   fato,   nele,   o   vigário   judicial108   -­   e   os   outros   juízes   -­   para  
exercer   o   poder   judicial   por   direito   divino   foi   o   bispo   diocesano   na   consagração  
episcopal.  Tendo  presente,  a  este  respeito,  as  palavras:  "Em  cada  diocese109  (...)  o  juiz  é  
o  Bispo  diocesano  pode  exercer  o  poder  judicial  (...)  através  dos  outros."  Portanto,  esse  
poder   de   vigário   judicial   e   juízes   no   tribunal   ordinário   vigário   diocesano.  
Conseqüentemente,   "o   vigário   judicial   constitui   um   único   tribunal   com   o   Bispo110",  
depende   do   bispo,   e,   obviamente,   "não   pode   julgar   as   causas   que   o   Bispo   tem  
reservado" 111.  
Em   relação   à   dependência   do   Bispo   diocesano,   a   Assinatura   Apostólica  
observou:   "O   Bispo   e   o   oficial   estão   intimamente   associados   na   administração   da  
justiça,  de  modo  que  uma  supervisão  adequada  ao  Bispo  sobre  a  disciplina  de  juízes  e  
ministros   (...)   Sem   prejuízo   dos   tribunais,   como   é   óbvio,   o   tribunal   em   quando   isso  

106   C.   1420,   §§   1-­2   do   CIC:   §


1. Quilibet Episcopus dioecesanus tenetur Vicarium iudicialem seu
Officialem constituere cum potestate ordinaria iudicandi, a Vicario generali distinctum, nisi parvitas
dioecesis aut paucitas causarum aliud suadeat.
§ 2. Vicarius iudicialis unum constituit tribunal cum Episcopo, sed nequit iudicare causas quas
Episcopus sibi reservat.  

107  C.  1438,  §1  do  CIC:  Firmo


praescripto can. 1444, § 1, n. 1:
1°- a tribunali Episcopi suffraganei appellatur ad tribunal Metropolitae, salvo praescripto can. 1439.
2°- in causis in prima instantia pertractatis coram Metropolita fit appellatio ad tribunal quod ipse,
probante Sede Apostolica, stabiliter designaverit;
3°- pro causis coram Superiore provinciali actis tribunal secundae instantiae est penes supremum
Moderatorem; pro causis actis coram Abbate locali, penes Abbatem superiorem congregationis
monasticae.

108  C.  391,  §  2  do  CIC:  Potestatem


legislativam exercet ipse Episcopus; potestatem exsecutivam exercet
sive per se sive per Vicarios generales aut episcopales ad normam iuris; potestatem iudicialem sive per
se sive per Vicarium iudicialem et iudices ad normam iuris.

109  C.  1419,  §1  do  CIC:


In unaquaque dioecesi et pro omnibus causis iure expresse non exceptis, iudex
primae instantiae est Episcopus dioecesanus, qui iudicialem potestatem exercere potest per se ipse vel
per alios, secundum canones qui sequuntur.
110   C.   1420,   §2   do   CIC:   Vicarius
iudicialis unum constituit tribunal cum Episcopo, sed nequit iudicare
causas quas Episcopus sibi reservat.
111  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  p.774.
acontece,   e   transporte   quando   solicitado,   os   minutos   de   uma   causa   e   uma   cópia   dos  
julgamentos112  ".  

1.2.2.  -­  NOMES113    

Segundo   Zenon,   para   expressar   a   dependência   do   Bispo   diocesano,   os  


nomes   tradicionais   "officialis"   (oficiais)   e   "vice-officialis"   (vice-­oficiais)     ter   sido  
mudado   para   o   CIC   novo   "vicárius iudicialis"   e   "vicarius iudicialis adiunctus".   Junto  
com   esses   novos   nomes,   também   continua   a   ser   a   antiga   nomenclatura,   mas   só   este  
cânon   nos   §   §   1   e   3,   provavelmente   para   enfatizar   que   este   é   o   mesmo   departamento  
(mesma   função   em   graus   diferentes).   Em   todos   os   outros   cânones   da   Lib.   VII   (e   nos  
restantes  números  deste  Canon)  são  usados  apenas  novos  nomes,  certamente  preferível  
por  causa  de  sua  expressividade114.  

3.    -­  DEVE  SER  DISTINTO  DO  VIGÁRIO  GERAL  

Segú  enfatiza  que  «a  regra  geral  é  um  tanto  utópica  e,  por  isso  mesmo  um  
ideal  a  ser  atingido,  pois  nem  mesmo  em  países  desenvolvidos  se  consegue  aplicar  esta  
norma   em   sua   plenitude,   mas   o   Legislador   apresenta   aqui   o   que   deveria   ser,   para   que  
houvesse   uma   justiça   ágil   e   adequada,   quando   diz   que   em   cada   diocese,   dever-­se-­ia  
constituir  um  Vigário  Judicial,  distinto  do  Vigário  Geral»115.  

112  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  p.774.


113   C.   1420,   §§1-­3   do   CIC:   §
1. Quilibet Episcopus dioecesanus tenetur Vicarium iudicialem seu
Officialem constituere cum potestate ordinaria iudicandi, a Vicario generali distinctum, nisi parvitas
dioecesis aut paucitas causarum aliud suadeat.
§ 3. Vicario iudiciali dari possunt adiutores, quibus nomen est Vicarioroum iudicialium
adiunctorum seu Vice-officialium.
114  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  p.774.  
115  
SEGÚ   G.   M.,   Pequena Visão de conjunto da 1ª Parte do Livro VII e sua importância para o
processual,   e o cânon 1420, §1 do novo Código de Direito Canônico de 1983,   in   Revista   de   Cultura  
Teológica,  Paulinas,  São  Paulo,  Ano  XIV  (2006),  n.  54,  pp.  79-­103  (91).  
3.1. -­  VIGÁRIO  JUDICIAL  DIFERENTE  DE  VIGÁRIO  GERAL116    

A  prescrição  do  §  1  º,  segundo  a  qual  o  vigário  judicial  deve  ser  "diferente  
do   Vigário   Geral"   encontra   a   sua   justificação   no   fato   de   que   existem   dois   ofícios  
paralelos  -­  de  fato,  o  vigário  judicial  exerce  o  seu  poder  judicial  em  nome  do  bispo,  o  
mesmo   acontece   com   o   vigário   geral   ao   exercer   a   autoridade   executiva,   ou  
administrativa117.  É,  portanto,  pertinente  que  pessoas  diferentes  exerçam  essas  funções.  
 No  n.7  do  «Principia Iuris Canonici Codicis recognitionem quae dirigant»  
de  1967,  postulou-­se:  "Distinguir  claramente  as  várias  funções  do  poder  eclesiástico,  ou  
seja,   a   legislativa,   a   administrativa   e   a   judiciária;;   e   a   definir   corretamente   todos   os  
ofícios" 118.  
A   acumulação   eventual   de   as   duas   funções   só   pode   ser   justificada   pelo  
pequeno   tamanho   da   diocese   ou   o   número   limitado   de   causas.   Como   pode   ser   visto  
facilmente,  estas  são  razões  que  o  tornam  estes  ofícios  menos  exigentes 119.  
Vigário  Judicial  ou  Oficial  é  cargo  necessário  na  Cúria  diocesana.  O  poder  
do  Vigário  Judicial  é  ordinário.  Pelo  fato  de  não  ter  sido  nomeado  um  Vigário  Judicial  
na   diocese,   nem   por   isso   o  Vigário   Geral   ipso facto   goza   de   poder   judicial,   pois   uma  
coisa   é   que   possa   o  Vigário   Geral   ser   ao   mesmo   tempo  Vigário   Judicial,   e   outra   bem  
distinta  que  por  falta  de  ter  sido  nomeado  o  Vigário  Judicial,  automaticamente  goze  o  
Vigário  Geral  deste  poder 120.  
Os  comentaristas  do  Ordenamento  Jurídico  anterior  discutiam  se  o  Vigário  
Judicial  podia  ou  não  delegar  o  seu  poder;;  hoje  o  código  vigente  diz  explicitamente  que  

116   C.   1420,   §1   do   CIC:   Quilibet


Episcopus dioecesanus tenetur Vicarium iudicialem seu Officialem
constituere cum potestate ordinaria iudicandi, a Vicario generali distinctum, nisi parvitas dioecesis aut
paucitas causarum aliud suadeat.  

117  C.  391,  §2  do  CIC:   Potestatem


legislativam exercet ipse Episcopus; potestatem exsecutivam exercet
sive per se sive per Vicarios generales aut episcopales ad normam iuris; potestatem iudicialem sive per
se sive per Vicarium iudicialem et iudices ad normam iuris.
118  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  p.775.
119  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  p.775.
120   INSTITUTO     MARTIN   DE   AZPILCUETA   UNIVERSIDAD   DE   NAVARRA,   “cânon   1420”,   in   Comentário
exegético al Codigo de Derecho canônico,   Edição   anotada   –   P.   LOMBARDIA   –   J.   I.  ARRIETA,   Braga  
1997,  p.1061.  
o  poder  judicial  não  pode  ser  delegado121 ,  a  não  ser  para  atos  preparatórios  de  qualquer  
decreto   ou   sentença.   O  Vigário   Judicial   constitui   com   o   Bispo   Diocesano   um   tribunal  
único,  de  tal  modo  que  da  sentença  não  se  apela  para  o  Bispo,  nem  este  pode  reformar  
ou  mudar  as  sentenças  pronunciadas  pelo  seu  Vigário  Judicial.  Pode  o  Bispo  reservar  e  
avocar   para   si   as   causas   que   julgue   conveniente   conhecer   e   dirimir   e   nestes   casos,   o  
Oficial  carece  de  competência122.    

3.2. -­  TAREFAS  ESPECÍFICAS  DO  VIGÁRIO  JUDICIAL  

O  Cânon  (c.  1420,  §§  1-­3)    atribui  especial  importância  ao  vigário  judicial.  
Na  verdade,  ele  dirige  os  trabalhos  do  tribunal,  sob  a  direção  do  Bispo  diocesano.  Suas  
funções   específicas   incluem:   a   nomeação   de   juízes   para   cada   uma   das   causas123,   a  
eventual  substituição  de  juízes  já  nomeados 124,  o  julgamento  sobre  a  desqualificação  do  
juiz125,  presidente  do  colégio  de  juízes126  nas  causas,  a  notificação 127  da  decisão  firme  e  
executiva   ao   Ordinário   do   lugar,   e   nomeação   de   um   juiz   monocrático   no   processo  
documental128.  

121   C.   135,   §3   do   CIC:   Potestas


iudicialis, qua gaudent iudices aut collegia iudicialia, exercenda est
modo iure praescripto, et delegari nequit, nisi ad actus cuivis decreto aut sententiae praeparatorios
perficiendos.
122  INSTITUTO  MARTIN  DE  AZPILCUETA...,  p.  1062.

123   C.   1425,   §3   do   CIC:   Vicarius


iudicialis ad singulas causas cognoscendas iudices ex ordine per
turnum advocet, nisi Episcopus in singulis casibus aliter statuerit.

124   C.   1425,   §5   do   CIC:   Iudices semel designatos ne subroget Vicarius iudicialis, nisi ex gravissima
causa in decreto exprimenda.

125  C.  1449,  §2  do  CIC:  De recusatione videt Vicarius iudicialis; si ipse recusetur, videt Episcopus qui
tribunali praeest.

126   C.   1426,   §2   do   CIC:   Eidem praeesse debet, quatenus fieri potest, Vicarius iudicialis vel Vicarius
iudicialis adiunctus.

127  C.  1685  do  CIC:   Statim


ac sententia facta est exsecutiva, Vicarius iudicialis debet eandem notificare
Ordinario loci in quo matrimonium celebratum est. Is autem curare debet ut quam primum de decreta
nullitate matrimonii et de vetitis forte statutis in matrimoniorum et baptizatorum libris mentio fiat.

128   C.  1686  do  CIC:   Recepta


petitione ad normam can. 1677 proposita, Vicarius iudicialis vel iudex ab
ipso designatus potest, praetermissis sollemnitatibus ordinarii processus sed citatis partibus et cum
interventu defensoris vinculi, matrimonii nullitatem sententia declarare si ex documento, quod nulli
contradictioni vel exceptioni sit obnoxium, certo contest de exsistentia impedimenti dirimentis vel de
defectu legitimae formae, dummodo pari certitudine pateat dispensationem datam non esse, aut de
defectu validi mandati procuratoris.
Ao   vigário   judicial   do   domicílio   da   parte   demandada   também   lhe  
corresponde  o  conceder  ou  não,  depois  de  ter  ouvido  a  demandada,  o  devido  aforamento  
canônico  nas  causas  de  nulidade  matrimonial129.  
Além   disso,   devido   à   importância   de   seu   cargo,   o   Vigário   Judicial   é  
obrigado   a   emitir   profissão   de   fé   pessoal   na   presença   do   bispo   diocesano   ou   seu  
delegado130  e  receber  o  juramento  dos  outros  ministros  do  Tribunal131;;  É  membro  e  por  
isso  é  obrigado  a  participar  do  Sínodo  Diocesano 132.  

3.3. -­  VIGÁRIOS  JUDICIAIS  ADJUNTOS    

Segú   expressa   a   mente   de   nosso   legislador,   dizendo   que   “este”   conhece   a  


importância  e  o  destaque  que  merecem  a  justiça  eclesiástica  na  caminhada  do  povo  de  
Deus,   para   o   bem   estar,   segurança,   harmonia   e   paz   da   própria   comunidade   no   aqui   e  
agora.   Sabe   o   quanto   custa   a   aplicação   adequada   da   justiça   eclesiástica   e   por   isso  
mesmo   permite,   incentiva   e   alerta   os   Bispos   Diocesanos,   dando-­lhes   poderes   e  
faculdades  para  que  possam  constituir  diversos  auxiliares133  ao  Vigário  Judicial,  pois  é  
quem   responde   em   última   analise   por   toda   a   administração   da   justiça   eclesiástica   no  
âmbito   que   lhe   fora   confiado.   Os   auxiliares   do   Vigário   Judicial   são   conhecidos   e  
qualificados  como  Vigários  Judiciais  adjuntos  ou  Vice-­Oficiais,  para  a  sua  constituição  

129  C.  1673  nn.  3-­4  do  CIC:  In


causis de matrimonii nullitate, quae non sint Sedi Apostolicae reservatae,
competentia sunt:
3°- tribunal loci in quo pars actrix domicilium habet, dummodo utraque pars in territorio
eiusdem Episcoporum conferentiae degat et Vicarius iudicialis domicilii partis conventae, ipsa audita,
consentiat;
4°- tribunal loci in quo de facto colligendae sunt pleraeque probationes, dummodo accedat
consensus Vicarii iudicialis domicilii partis conventae, qui prius ipsam interroget, num quid excipiendum
habeat.

130   C.   833,   n.5   do   CIC:   Obligatione


emittendi personaliter professionem fidei, secundum formulam a
Sede Apostolica probatam, tenentur: 5°- coram Episcopo diocesano eiusve delegato, Vicarii generales
et Vicarii episcopales necnon Vicarii iudiciales;

131    C.  1454  do  CIC:  Omnes


qui tribunal constituunt aut eidem opem ferunt, iusiurandum de munere rite
et fideliter implendo praestare debent.

132  
C.   463,   §1   n.2   do   CIC:   Ad synodum dioecesanam vocandi sunt uti synodi sodales eamque
participandi obligatione tenentur: 2°- Vicarii generales et Vicarii episcopales, necnon Vicarius iudicialis;

133  
C.   1420,   §3   do   CIC:   Vicario iudiciali dari possunt adiutores, quibus nomen est Vicarioroum
iudicialium adiunctorum seu Vice-officialium.
tudo   dependerá   das   circunstâncias   concretas   e   da   própria   extenção   territorial   a   ser  
abrangida  por  este  Tribunal134.  
Zenon   ao   comentar   este   §   3   º   afirma   que   os   assistentes   podem   ser  
designados   para   o   Vigário   Judicial,   os   vigários   judiciais   adjuntos   chamados   de   vice-­
oficiais.   Portanto,   a   função   destes   está   intimamente   relacionada   com   a   do   Vigário  
Judicial,   no   sentido   de   que   o   Vigário   Judicial   preside-­as   e   os   escolhe   para   serem   os  
juízes135,   e   também   pode   substitui-­los,   especialmente   no   caso   de   impedimento   ou   de  
ausência  prolongada136.  

4. -­  QUANTO  AOS  TÍTULOS  

O   Romano   Pontífice   alega   que   quanto   aos   títulos   deve   ser:   doutor   ou   ao  
menos  licenciado  em  direito  canônico:  refere-­se  aos  graus  acadêmicos  assim  como  são  
conferidos  nas  faculdades  erigidas  pela  Sé  Apostólica 137.  E  Arroba  salienta  que  o  título  
acadêmico  é  um  critério  objetivo,  mas  deve  ser  integrado  a  outras  qualidades,  por  isso  
não   confere   direito   algum   de   precedência.   Pode-­se   sustentar,   além   disso,   que   o   título  
seja  suficiente  sem  a  devida  experiência  forense,  em  quanto  se  recomenda  vivamente  de  
não  confiar  este  ofício  a  quem  esteja  dela  carente138.  

1.4.1    -­  QUALIFICAÇÕES  ACADÊMICAS  REQUERIDAS139    

134  
SEGÚ   G.   M.,   Pequena Visão de conjunto da 1ª Parte do Livro VII e sua importância para o
processual,   e o cânon 1420, §1 do novo Código de Direito Canônico de 1983,   in   Revista   de   Cultura  
Teológica,  Paulinas,  São  Paulo,  Ano  XIV  (2006),  n.  54,  p  91.

135   C.   1426,   §2   do   CIC:   Eidem praeesse debet, quatenus fieri potest, Vicarius iudicialis vel Vicarius
iudicialis adiunctus.
136  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  n.7,  p.776.

137  C.  817  do  CIC:  Gradus academicos, qui effectus canonicos in Ecclesia habeant, nulla universitas
vel facultas conferre valet, quae non sit ab Apostolica Sede erecta vel approbata.
138  M.  J.  ARROBA  CONDE,  Direito processual...,  p.  236.  
Cfr.  DC  art.  42,  §2:  Enixe commendatur ne quis, experientia fori carens, Vicarius iudicialis vel Vicarius
iudicialis adiunctus constituatur.

139   C.   1420,   §4   do   CIC:   Tum


Vicarius iudicialis tum Vicarii iudiciles adiuncti esse debent sacerdotes,
integrae famae, in iure canonico doctores vel saltem licenciati, annos nati non minus triginta.
Mediante   as   qualificações,   Zenon   apresenta   as   dificuldades   que   o   juiz  
enfrentará,   dizendo   que   o   papel   do   juiz   eclesiástico   é   particularmente   difícil   e   que  
envolve  muita  responsabilidade  do  ponto  de  vista  da  teologia  pastoral,  especialmente  no  
que  diz  respeito  às  causas  de  nulidade  do  casamento 140.  
Pompedda,   no   discurso   do   ano   acadêmico,   insiste   que     o   Legislador,  
“mesmo   entre   notáveis   resistências   motivadas   pela   escassez   de   Clero   da   qual   sofrem  
muitas   Dioceses,   escassez   que   depois   se   converte   na   falta   numérica   e   na   carência   de  
disponibilidade   de   juizes   eclesiásticos,   prescreveu   que   os   juízes   possuam   os   títulos  
acadêmicos  do  doutoramento  em  direito  canônico  ou  pelo  menos  o  diploma141.  Pois  foi  
uma   opção   corajosa,   dizia,   devido   ao   contexto;;   mas   necessária   para   a   dignidade   do  
ministério  do  juiz”142.  
Muitas   vezes   o   Supremo   Tribunal   da   Signatura   Apostólica,   em   cartas   a  
vários   tribunais,   fez   e   faz   notar   que   possa   desempenhar   devidamente   as   funções   em  
tribunais   requer:   a)   um   bom   conhecimento   do   direito   canônico,   tanto   material   como  
processual,   b)   conhecimento   da   jurisprudência   rotal,   c   )   experiência,   e   d)   certas  
qualidades  peculiares143.  
Para  o  Ordenamento  Jurídico  anterior  no  ditâme  dos  canns. 1573  §  4;;  1574,  
§1;;  1589,  §  1;;  era  necessários144  para  o  vigário  judicial,  vigários  judiciais  adjuntos,  os  
demais   juízes,   o   promotor   de   justiça   e   defensor   do   vínculo,   que   fossem     pelo   menos  
proficientes  em  lei  canônica.  O  Código  vigente,  no  entanto,  tentando  fazer  um  trabalho  

140  Cfr.  Z.  GROCHOLEWSKI,  Aspetti teologici dell’attività giudiziaria della Chiesa, em  VV.AA.,  Teologia e
diritto canônico,  Città  del  Vaticano  1987,  pp.  203-­205.  
141  C.  1421,  §3  do  CIC:  Iudices sint integrae famae et in iure canonico doctores vel saltem licentiati.
142   M.   F.   POMPEDDA,   O
Juiz Eclesiástico,   Discurso   do   Cardeal   Mario   F.   Pompedda,   no   início   do  Ano  
Acadêmico   do   “Studium Romanae Rotae”,   6   de   novembro   de   2002,   p.   1.,   in   WWW.vatican.va/
roman_curia/tribunals/roman_rota/documents/rc_trib_rota_doc_20021106_pompeda_po.html  
143  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  n.7,  p.777.
144   Cfr.   BENEDICTUS   PP.   XV,   Codex Iuris Canonici, Constitutione   Apostolica:   Providentissima Mater
Ecclesia, 27  maii  1917,  c.  1573,  promulgatus  AAS  9  Pars  II  (1917),  pp.  11-­465,  in  ANDRÉS  GUTIERREZ,  
D.  J.,  Leges Ecclesiae post codicem Iuris Canonici editae, VII  (Romae  1994),  5165.  Coll.  9263-­9760,  (de  
agora   em   diante   C.   1573,   §4   do   CIC/17):   Tum officialis tum vice-officiales esse debent sacerdotes,
integrae famae, in iure canonico doctores vel ceteroqui periti, annos nati non minus triginta.
C.  1574,  §1  do  CIC/17:  In qualibet dioebatae vitae et in iure canonico periti, etsi extradioecesani, non
plures quam duodecim eligantur ut potestate ab Episcopo delegata in litibus iudicantis partem habeant;
quibus nomen esto “iudicum synodalium” aut “pro-synodalium”, si extra Synodum constituuntur.
C.   1589,   §1   do   CIC/17:   Ordinarii est promotorem iustitiae et vinculi defensorem eligere, qui sint
sacerdotes integrae famae, in iure canonico doctores vel ceteroqui periti, ac prudentiae et iustitiae zelo
probati.
mais   qualificado   dos   tribunais   eclesiásticos,   faz   chamadas   para   todos   aqueles   que   são  
doutores   ou,   pelo   menos   tenham   uma   licenciatura   em   Direito   Canônico 145.   O   atual  
processo   simplificado,   em   comparação   com   o   Código   anterior,   "exige   apenas   uma  
preparação  melhor  dos  administradores  da  justiça,  isto  é,  uma  melhor  compreensão  dos  
princípios  fundamentais  que  são  a  base  do  processo  canônico,  uma  compreensão  mais  
aguda  do  espírito  das  normas  canônicas,  capacidade  de  interpretá-­los  à  luz  da  tradição  e  
do  contexto.  Caso  contrário,  corremos  o  risco  de  cair  no  formalismo  jurídico  inaceitável  
no  direito  canônico  de  invenções  bizarras  pastorais  e  consequentemente  teremos  danos  
inevitáveis146.  
O   cânon   exige   dos   Bispos   diocesanos   a   obrigação   grave   de   assegurar  
treinamento  adequado  aos  operadores  de  justiça.  
Pompedda   salienta   que   por   vezes   a   especialidade,   ou   talvez   mais  
modestamente,   a   formação   obtida   numa   Escola   de   pensamento,   por   muito   prestigiosa  
que   seja,   na   prática   pode   provocar   rigidez   e   até   sectarismo,   que   estão   muito   longe   da  
riqueza  e  da  “profundidade  de  campo”  daqueles  que,  apesar  de  terem  optado  por  uma  
linha  interpretativa,  examinaram  primeiro  e  avaliaram  qualquer  contributo  magisterial,  
doutrinal   e   jurisprudencial147.   E   o   beato,   João   Paulo   II,   recordava   que   o   “este  
conhecimento   supõe   um   estudo   assíduo,   científico,   aprofundado,   que   não   se   limite   a  
revelar  as  eventuais  variações  em  relação  a  lei  anterior,  ou  a  estabelecer  o  seu  sentido  
meramente  literal  ou  filológico,  mas  que  consiga  considerar  também  a  mens  legislatoris,  
e  a  ratio  legis,  de  modo  a  dar  uma  visão  global  que  vos  permita  penetar  o  espírito  da  [...]  
lei148”.  
O   Legislador   alerta   que   a   exigência   de   uma   preparação   adequada   para   os  
operadores   da   justiça   está   intimamente   ligada   com   o   direito   fundamental   dos   fiéis   de  

145   Cfr.   C.   1435   do   CIC:   Episcopi est promotorem iustitiae et vinculi defensorem nominare, qui sint
clerici vel laici, integrae famae, in iure canonico doctores vel licentiati, ac prudentia et iustitiae zelo
probati.
C.  1421,  §3  do  CIC.  (já  citado  na  nota  134)
146  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  n.9,  p.778.
147  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.6.
148  IOANNES  PAULUS  PP  II,  Allocutio ad Praelatos Auditores S. Romanae Rotae,  26  de  Janeiro  de  1984,  n.  
3,  in  AAS  76  (1984),  p.  645.
reivindicar   e   defender   seus   direitos   em   juízo 149.   O   despreparo   dos   administradores   da  
justiça   é   de   fato   uma   afronta   grave   e   direta,   na   medida   em   que   é   a   incapacidade   de  
exercê-­lo   corretamente.   Zenon   confirma   o   que   o   legislador   acaba   de   apontar,   dizendo  
que  deve  ser  enfatizado  fortemente  que  a  qualificação  acadêmica  em  si,  ou  seja,  sem  a  
experiência   adequada   ou   profunda   (especialmente   considerando   o   estado   atual   dos  
estudos   de   Direito   Canônico150   -­   não   é   certamente   suficiente   para   que   alguém   exerça  
corretamente   a   função   de  Vigário   Judicial   ou  Vigário   Judicial   adjunto)151.   Por   isso,     é  
desconcertante  quando  alguém  é  nomeado  vigário  judicial  (ou  vigário  judicial  adjunto)  
imediatamente   depois   de   completar   os   estudos   de   Direito   Canônico   (especialmente   se  
for   apenas   um   grau),   sem   qualquer   experiência   amadurecida   sobre   o   assunto,   ou   na  
prática  da  experiência  forense.  

1.4.2.  -­  DISPENSA  DE  QUALIFICAÇÕES  EXIGIDAS  


   
Note-­se,   o   Legislador   afirma   categoricamente,   que   o   bispo   diocesano,   em  
nosso   Ordenamento   Jurídico,   tem   amplo   poder   de   dispensar   das   leis   disciplinares,  
universais  ou  particulares,  porém,  não  pode  liberar  "das  leis  processuais" 152  e,  portanto,  
não   pode   dispensar   a   exigência   de   qualificação   educacional   necessária   (ou   de   outras  
qualidades   requeridas   dos   operadores   justiça   no   código   vigente)153.   Portanto   o  
Legislador  vem  expressar  que  o  canon  87  do  ordenamento  juridico  vigente  implica  uma  
radical   reforma   do   canon   81   do   ordenamento   juridico   de   1917,   aplicando   as  
determinações   do   Decreto       Christus Dominus, n.8,   tendo   em   conta   a   experiência   da  
legislação   e   da   práxis   posteriores   ao   Concilio   Vaticano   II.   Nestes   supostos   o   Bispo  
diocesano   e   o   Ordinário   exercem   o   seu   poder   executivo   ordinário;;   portanto,   as   suas  

149  C.  221,  §  1  do  CIC:  Christifidelibus


competit ut iura, quibus in Ecclesia gaudent, legitime vindicent
atque defendant in foro competenti ecclesiastico ad normam iuris.
150  FELICI,  Formalitates iuridicae et aestimatio probatiomum in processu canônico, in  Communicatiiones
9 (1977), pp.  178-­180.
151  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  p.778.

152  C.  87,  §  1  do  CIC:  Episcopus


dioecesanus fideles, quoties id ad eorundem spirituale bonum conferre
iudicet, dispensare valet in legibus disciplinaribus tam universalibus quam particularibus pro suo
territorio vel suis subditis a suprema Ecclesiae auctoritate latis, non tamen in legibus processualibus aut
poenalibus, nec in iis quarum dispensatio Apostolicae Sedi aliive auctoritati specialiter reservatur.
153  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  p.779.
dispensas   são   atos   administrativos154.     O   competente   para   dispensar   é   o   Tribunal   da  
Assinatura  Apostólica155.  
Quanto   à   dispensa   dos   títulos   acadêmicos   requeridos,   na   opinião   expressa  
de   forma   esporádica   de   Grocholewski,   segundo   a   qual   o   Bispo   diocesano   pode  
dispensar,  por  que  não  seria  uma  lei  estritamente  processual,  é  improcedente156.  Porém,    
Assinatura   Apostólica   considerada   fora   de   dúvida   que   as   disposições   relativas   à  
obrigação  de  habilitações  acadêmicas  para  os  servidores  da  justiça  são  leis  processuais.  
Na  verdade  são  normas  do  Livro  “De Processibus”,  e  proteção  dos  direitos  dos  fiéis  que  
recorrem  aos  tribunais  eclesiásticos  é  garantida  pelo  cumprimento  não  somente  a  parte  
dinâmica   do   direito   processual   (canns.   1501ss.),   mas   também   a   parte   estática   (canns.  
1400-­1500),  e  particularmente  à  preparação  e  profissionalismo  das  pessoas  que  aplicam  
essas  leis;;  A  exigência  destes  títulos  visam  assegurar  a  possibilidade  de  tal  proteção  e,  
portanto,   pertence   ao   direito   processual;;   A   Assinatura   Apostólica   sempre   considerou  
estas  normas,  como  parte  do  direito  processual  e,  consequentemente,  após  a  entrada  em  
vigor   do   novo   Ordenamento   Jurídico,   frequentemente   recorda   aos   moderadores   dos  
tribunais157   que   a   nomeação   de   juízes,   promotores   de   justiça   e   defensores   do   vínculo  
desprovidos   dos   títulos   requeridos   é   ilegitima;;   diz   exclusiva   sua   competência   para  
examinar   os   pedidos   de   dispensa   nesta   àrea,   não   encontrando   nenhuma   divergência  
substancial,  nem  na  doutrina  nem  nos  bispos  ou  vigários,  o  bispo  diocesano,  na  Igreja  
Latina   não   pode   prescindir   dessas   regras,   nos   ditâmes   do   cânon158   c.   87,   §   1,   entre  
outras  coisas,  porque  esta  norma  aplica-­se  à  faculdade  de  dispensar  os  fiéis,  quando  ele  
“contribui  para  o  bem  espiritual”,  e  de  fato,  não  pode  ver  como  a  renúncia  a  um  título  

154  INSTITUTO  MARTIN  DE  AZPILCUETA  UNIVERSIDAD  DE  NAVARRA,  “cânon  87”,  in  Comentário exegético
al Codigo de Derecho canônico,  Edição  anotada  –  P.  LOMBARDIA  –  J  .  I.  ARRIETA,  Braga  1997,  p.125.
155   PB   art.   124,   n.2:   Julgar
acerca dos pedidos dirigidos à Sé Apostólica para obter o deferimento da
causa para a Rota Romana;    
156  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  n.10,  pp.  778-­779.  
157  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  comentário  ao  cânon  c.  1419  n.  5,  p.769,  e  comentário  ao  cânon  c.  1423  
n.9,  p.  793.

158   Cfr.   c.   87,   §1   do   CIC:   Episcopus


dioecesanus fideles, quoties id ad eorundem spirituale bonum
conferre iudicet, dispensare valet in legibus disciplinaribus tam universalibus quam particularibus pro
suo territorio vel suis subditis a suprema Ecclesiae auctoritate latis, non tamen in legibus processualibus
aut poenalibus, nec in iis quarum dispensatio Apostolicae Sedi aliive auctoritati specialiter reservatur.
acadêmico   poderia   contribuir   para   o   bem   espiritual   do   administrador   da   justiça   que   o  
recebeu159.  
Note-­se,   finalmente,   que   o   Pontificium Consilium de Legum Textibus
Interpretandis   160  considera  que  é  direito  processual  e,  portanto,  o  Bispo  diocesano  não  
pode   dispensar   a   exigência   de   qualificações161.   Caso   contrário,   assumi   o   Pontifícia
Commissio Codici Iuris Canonici Orientalis Recognoscendo162 .   Além   disso,   ele  
claramente   pressupõe   o   "mandatum speciale"   dado   à   Assinatura   Apostólica   do   Papa  
João  Paulo  II,  25.XI.1993,  de  poder  dispensar  dos  títulos  acadêmcios  para  os  operadores  
da   justiça   das   Igrejas   Orientais,   não   obstante   o   cânon   1537   do   Código   Oriental163.  
Obviamente,   pode-­se   solicitar   uma   dispensa   das   qualificações   exigidas   somente   se   for  
necessário  para  poder  preencher  as  respectivas  nomeações.  
Neste   pedido   é   necessário:   a)   anexar   o   "curriculum vitae"   do   candidato,   a  
partir  do  qual  se  estabelece  a  preparação  especial  em  direito  canônico  e  a  experiência  na  
magistratura,   mas   também   outros   itens   úteis,   tais   como   habilidades   pessoais,  
capacidade,  doutrina,  e  assim  por  diante.  b)  indicar  a  necessidade  de  nomear  ou  mantê-­
lo  no  exercício  de  atividade  judicial 164.  
Dependendo   das   circunstâncias   e   das   necessidades   concretas,   a  Assinatura  
Apostólica  concede  a  dispensa  sem  limite  de  tempo  ou  por  um  certo  tempo.  Às  vezes,  a  
dispensa   concedida   sob   condição   (por   exemplo,   que   a   pessoa   renunce   a   algum   outro  
ofício)   ou   com   certas   limitações   (por   exemplo,   no   que   diz   respeito   ao   juiz,   intervir  
apenas  para  completar  o  colégio,  mas  não  pode  ser  presidente  ou  ponente  no  colégio,  ou  
não  pode  ser  o  juiz,  monocrático  ou  defensor  do  vínculo.  
Em   qualquer   caso,   cada   dispensa   é   concedida   apenas   para   um   ofício  
específico  para  este  tribunal.  

159  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  comentário  ao  cânon  1420,  §4  n.  10,  p.779.
160  CPITL  –  Pontificium
Consilium de Legum Textibus Interpretandis (a 28.VI.1988). Hodie nuncupatum:
Pontificium Consilium de Legum Textibus.  
161  Z.  Grocholewski,  El Juez...,  comentário  ao  cânon  1420,  §4  n.  10,  p.779.
162  PCCICR  -­  PontifíciaCommissio Codici Iuris Canonici Orientalis Recognoscendo,  Z.  GROCHOLEWSKI,  
El Juez...,  comentário  ao  cânon  1420,  §4  n.  10,  p.779.
163  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  comentário  ao  cânon  1420,  §4  n.  10,  p.780.    
C.  1537  do  CCEO:  Dispensationi obnoxiae non sunt leges, quatenus determinant ea, quae institutorum
aut actuum iuriditutiva, nec leges processuales et poenales.
164  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  comentário  ao  cânon  1420,  §4  n.  10,  p.780.
Em   cada   decreto   de   dispensa   tem   que   se   ter   presente   que   o   Bispo   e/ou   os  
Bispos  responsáveis  pelo tribunal  tem  a  obrigação  de  ter  ministros  da  justiça,  com    as  
qualificações   exigidas   por   lei.   Exorta-­se   sempre   que   as   pessoas   dispensadas   se  
dediquem  aos  estudos  de  graduação  em  Direito  Canônico,  e  da  jurisprudência  da  Rota  
Romana,   e   de   assimilarem   os   conteúdos   dos   discursos   do   Romano   Pontífice   à   Rota  
Romana165.  
De   fato,   o   Supremo   Tribunal   é   competente   na   concessão   da   dispensa   dos  
títulos   acadêmicos   exigidos   “in casibus particularibus”.   A   graça   da   dispensa   é  
concedida   ‘omnibus perpensis’,   considerando   sobretudo   que   nalguns   casos   a   falta   da  
dispeensa   comportaria   de   fato   a   falta   de   administração   da   justiça,   à   qual   os   fiéis   têm  
direito166.  

5. -­  SÉ  VACANTE  

O  Legislador  sabe  e  por  isso  salienta  que  o  poder  Judiciário  não  pode  sofrer  
interrupções,   pois,   os   que   clamam   por   justiça   merecem   uma   resposta   o   mais   breve  
possível,   por   isso   que   no   nosso   Ordenamento   Jurídico,   quando   houver   sede   vacante   o  
Vigário   Judicial   e   seus   auxiliares   não   cessam   do   cargo167   e   nem   sequer   podem   ser  
destituídos   pelo   Administrador   diocesano,   mas,   perderão   seus   cargos/ofícios   se   não  
forem  confirmados  pelo  novo  titular168.    

Zenon  quanto  à  Sé  Vacante169 ,  aborda  dois  requisitos:  

165  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  comentário  ao  cânon  1420,  §4  n.  10,  p.780.
166  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  6.

167   C.   1420,   §5   do   CIC:   Ipsi,


sede vacante, a munere non cessant nec ab Administratore dioecesano
amoveri possunt; adveniente autem novo Episcopo, indigent confirmatione.
168  
SEGÚ   G.   M.,   Pequena Visão de conjunto da 1ª Parte do Livro VII e sua importância para o
processual,   e o cânon 1420, §1 do novo Código de Direito Canônico de 1983, in   Revista   de   Cultura  
Teológica,  Paulinas,  São  Paulo,  Ano  XIV  (2006),  n.  54,  p  91.

169  C.  382,  §  1  do  CIC:  Episcopus


promotus in exercitium officii sibi commissi sese ingerere nequit,ante
captam dioecesis canonicam possessionem; exercere tamen valet officia, quae in eadem dioecesi tempore
promotionis iam retinebat, firmo praescripto can. 409, § 2.
-­   A   continuação   da   administração   da   justiça,   na   sé   vacante,   afirmando   que   em   tais  
situações:   a)   ao   contrário   do   Vigário   Geral   e   do   vigário   episcopal 170,   nem   o   Vigário  
Judicial   nem   os   Vigários   Judiciais  Adjuntos,   cessam   do   seu   ofício;;   b)   não   podem   ser  
removidos  pelo  administrador  diocesano171.  
Na  Sede  vacante,  explica  Faílde,  não  cessam  os  ofícios  do  Vigário  Judicial  e  
dos   Vigários   Judiciais     adjuntos,   nem   podem   eles   ser   removidos   pelo   Administrador  
diocesano;;   por   contraposição,   os   demais   juízes   diocesanos   perdem   seus   ofícios  
quedando-­se   vacante   a   sede   e   podem   ser   removidos,   “aunque para ello se requiera
casua legítima grave, por el Administrador diocesano”172.  
O   Legislador   apresenta   a   realidade   teológica,   segundo   a   qual   o   vigário  
judicial   exerce   o   poder   que   pertence   ao   bispo   diocesano,   que   preside   o   tribunal  
determinando  especificamente  que  uma  vez  tomada  a  posse  do  novo  bispo  da  diocese,  
Vigário   Judicial   e   os   Vigários   Judiciais   adjuntos   necessitam   de   confirmação173.  A   não  
confirmação  pelo  novo  Bispo,  significa  a  destituição174.  
O  Legislador  afirma  que  o  administrador  diocesano175 ,  pode  nomear  Vigário  
Judicial  quando  o  oficio  está  vago,  e  também  o  Vigário  Judicial  adjunto,  mas  ao  tomar  
posse  o  novo  bispo,  necessitam  de  confirmação 176.  

170  C.  481,  §  1  do  CIC:  Expirat


potestas Vicarii generalis et Vicarii episcopalis expleto tempore mandati,
renuntiatone, itemque, salvis cann. 406 et 409, remotione eisdem ab Episcopo dioecesano intimata, atque
sedis episcopalis vacatione.

171  
C.   418,   §   2   n.1   do   CIC:   A certa   translationis notitia usque ad canonicam novae dioecesis
possessionem, Episcopus translatus in dioecesi a qua:
1°- Administratoris dioecesani potestatem obtinet eiusdemque obligationibus tenetur, cessante qualibet
Vicarii generalis et Vicarii episcopalis potestate, salvo tamem can. 409, § 2;
172   J.   J.   G.   FAÍLDE,   Nuevo Derecho Procesal Canónico,   3ª   ed.,   Salamanca:   Univerdad   Pontificia   de  
Salamanca,  1995,  p.  77.  

173   C.   1420,   §5   do   CIC:   Ipsi,


sede vacante, a munere non cessant nec ab Administratore dioecesano
amoveri possunt; adveniente autem novo Episcopo, indigent confirmatione.

174   C.   1422   do   CIC:   Vicarius


iudicialis, Vicarii iudiciales adiuncti et ceteri iudices nominantur ad
definitum tempus, firmo praescripto can. 1420, § 5, nec removeri possunt nisi ex legitima gravique causa.

175   C.   427,   §   1   do   CIC:   Administrator


dioecesanus tenetur obligationibus et gaudet potestate Episcopi
dioecesani, iis exclusis quae ex rei natura aut ipso iure excipiuntur.  
176  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  n.11,  p.  781.
2. -­  OFÍCIO  DO  VIGÁRIO  JUDICIAL  

Arroba  expressa  que  as  qualidades  mínimas  requeridas  para  confiar  o  ofício  
de   vigário   judicial,   que   se   aplicam   também   aos   vigários   judiciais   adjuntos.   São  
expressas  com  a  fórmula  “debent”,  o  que  significa  que  são  obrigatórias,  mesmo  se  não  
‘ad validitatem’  mas  ‘ad licentatem’.  De  fato  o  cânon  1420  não  é  uma  lei  inabilitante,  
por  isso  que  algumas  qualidades  podem  ser  dispensadas  pela  autoridade  competente  por  
justa  causa.    A  competência  é  do  Tribunal  supremo  da  Assinatura  Apostólica177.  

Faílde,  diz  que:  


«el Obispo diocesano está obligado a nombrar Vigario Judicial aún en la
hipótesis de que la Diócesis sea pequeña y causas escassas, puede hacer que una
misma persona desempeñe el oficio de Vicario Judicial y de Vicario General»178.    

O  Vigário   Judicial   tem   o   poder   de   agir   em   nome   do   Bispo,   é   o   único   que  


ostenta  o  título  de  Oficial  e,  por  isso,  ele  e  o  Bispo  diocesano  formam  um  só  tribunal,  de  
forma  que  não  se  pode  apelar  do  Vigário  Judicial  ao  Bispo  diocesano.  E  que  o  Vigário  
Judicial   tem   relação   estreita   com   o   moderador,   sendo   que   o   Vigário   Judicial   pode   ser  
padre,  mas  o  Moderador  tem  que  ser  Bispo 179.  
Ao   falar   do   oficio   do   Vigário   Judical,   Segú,   explica   que   quem   avalia   as  
circunstâncias,  pondera  e  decide  é  o  Juiz,  pois  para  o  Legislador,  os  juízes  devem  ser  a  
boca   da   verdade,   ser   homens   justos   que   não   discriminem   que   sejam   imparciais.   Não  
devem  se  envolver  ou  tomar  partido,  não  ter  ciência  dos  fatos  fora,  deve  julgar  somente  
com   o   que   consta   dos   autos.   Cabe   ao   Juiz   determinar   o   sentido   de   precisar   o   direito,  
casando-­o  com  os  fatos  da  causa  e  por  isso  os  decretos  devem  sempre  ser  diferentes  e  
não  esteriotipados.  O  Juiz  deve  encarar  concretamente  na  sua  vida  o  desígnio  de  Deus  e  
saber  que  está  lá  a  serviço:  exercendo  diaconía  (coloca-­se  a  serviço),  mas  o  juiz  tem  que  

177  M.  J.  ARROBA  CONDE,  Direito processual...,  p.  236.


178   J.   J.   G.   FAÍLDE,   Nuevo Derecho Procesal Canônico, 3ª   ed.   Salamanca:   Universidad   Pontificia   de  
Salamanca,  1995,  p.75.
179  SEGÚ  G.  M.,  Tratado dos Juizos em Geral,  2009,  anotações  em  sala  de  aula.
ser   coerente   ao   determinar   e   ao   colocar   parâmetros;;   devendo   ainda,   definir   concreta   e  
sinteticamente  o  direito  substantivo  e  aplicá-­lo 180.  
O  juiz  deve  interpretar  e  aplicar  o  direito  e  a  jurisprudência  na  interpretação  
da  lei.  No  entanto,  se  requer  que  o  juiz  possua  um  conhecimento  profundo  do  direito,  
das  decisões,  da  jurisprudência,  da  evolução  do  direito,  etc.  O  juiz  deve  conhecer  as  leis  
da   Igreja   porque   contém   direito,   e   porque   lida   com   a   salvação   das   almas,   ou   seja,  
conhecimento  profundo  e  não  de  manual,  quanto  mais  conhecer  a  pessao  humana,  mais  
hábil  é  para  exercer  esse  oficio181.  
A  função  do  Vigário  Judicial  é  exercer  de  forma  ordinária  o  poder  judiciário  
do  Bispo  diocesano182.    

2.1.-­  NOMEAÇÃO  

Nosso   Legislador   salienta   que   tanto   os   Oficiais   como   os   demais   Juízes   do  


Tribunal,  pouco  importa  se  se  trata  de  um  Tribunal  diocesano  ou  interdiocesano  devem  
ser  nomeados183  por  quem  de  direito  e  por  tempo  determinado184.  
O  Legislador  enfatiza  os  que  podem  ser  Vigários  ou  Oficiais,  especificando  
e   qualificando   as   figuras   do  Vigário   Judicial   e   dos  Vigários   Judiciais   adjuntos   e   quais  
são  os  requisitos185 .  Diz  que  devem  ser  sacerdotes  com  idade  não  menor  de  trinta  anos,  
de   boa   reputação   e   doutores   ou   ao   menos   licenciados   em   direito   canônico186,   e   em  
consonância   com   Arroba   que   salienta   nos   dizeres   do   Sumo   Pontífice   devem   ser   de:  
Idade  não  inferior  aos  trinta  anos;;  Ser  sacerdote:  o  que  significa  que  os  sujeitos  hábeis  

180  SEGÚ  G.  M.,  Tratado dos Juizos em Geral,  2009,  anotações  em  sala  de  aula,  p.  31.
181  SEGÚ  G.  M.,  Tratado dos Juizos em Geral,  2009,  anotações  em  sala  de  aula,  p.  32.  
182   J.   J.   G.   FAÍLDE,   Nuevo Derecho Procesal Canônico, 3ª   ed.   Salamanca:   Universidad   Pontificia   de  
Salamanca,  1995,  p.74.
183   Cfr.   c.   1422   do   CIC:   Vicarius
iudicialis, Vicarii iudiciales adiuncti et ceteri iudices nominantur ad
definitum tempus, firmo praescripto can. 1420, § 5, nec removeri possunt nisi ex legitima gravique causa.
184  
SEGÚ   G.   M.,   Pequena Visão de conjunto da 1ª Parte do Livro VII e sua importância para o
processual, e o cânon 1422...,  p  92.  
185  
SEGÚ   G.   M.,   Pequena Visão de conjunto da 1ª Parte do Livro VII e sua importância para o
processual,  e o cânon 1420, §4...,  p  92.  

186  Cfr.  c.  1420,  §4  do  CIC:


Tum Vicarius iudicialis tum Vicarii iudiciles adiuncti esse debent sacerdotes,
integrae famae, in iure canonico doctores vel saltem licenciati, annos nati non minus triginta.
para  exercer  este  ofício  são  apenas  os  que  tenham  recebido  a  ordem  sacra  no  segundo  
grau.  Estão  excluídos  os  diáconos  e  os  leigos,  mas  não  os  bispos.  Às  vezes  os  Vigários  
Judiciais,   com   a   nomeação,   recebem   também   o   episcopado187;;   Integra   fama:   a   fama,  
além  de  ser  um  direito  subjetivo  é  um  dever  fundamental  de  cada  fiel  (a  boa  fama188),  é  
uma  qualidade  que  depende  da  estima  dos  outros.  Por  isso,  no  contexto  dos  requisitos,  a  
integra  fama  de  que  fala  o  cânon  não  deve  ser  entendida  apenas  como  virtude  pessoal,  
mas  como  um  reconhecimento  dos  fiéis  perante  os  que  deve  ser  desenvolvido  o  delicado  
serviço   de   vigário   judicial.   Isto   não   permite   considerar   as   lesões   ilegítimas   à   boa  
fama189.    
O   Legislador   salienta   ainda   que   deve   ser   Doutor   ou   licenciado   em   direito  
canônico190:   é   qualidade   comum   a   todos   os   juízes   diocesanos,   independentemente   do  
fato  que  desempenham  sua  função  como  juízes  monocráticos  ou  colegiais.  São  também  
requisitos   comuns   ao   ofício   de   vigário   judicial,   assim   como   na   analogia   com   estes,  
recomenda-­se  vivamente  a  prévia  experiência  forense,  escolhendo  para  o  ofício  de  juiz  
apenas   aquele   que   tenha   exercido   no   tribunal   outra   função   (oficio)   por   um   tempo  
conveniente191.   Para   os   juízes,   além   disso,   se   requerem-­se   solicitude   na   formação  
permanente,  especialmente  no  setor  matrimonial,  processual  e  na  jurisprudência  rotal192.  
Para  a  função  de  auditor  (separada  do  ofício  de  juiz  diocesano193,  não  se  requer  nenhum  
título  acadêmico,  achando-­se  suficiente  os  requisitos  de  boa  doutrina  e  prudência194.  

187  M.  J.  ARROBA  CONDE,  Direito processual...,  p.  236.

188    Cfr.  c.  220  do  CIC:  Nemini


licet bonam famam, qua quis gaudet, ellegitime laedere, nec ius cuiusque
personae ad propriam intimitatem tuendam violare.
189  M.  J.  ARROBA  CONDE,  Direito processual...,  p.  236.
190  Cfr.  c.  1420  §4  do  CIC:  Tum
Vicarius iudicialis tum Vicarii iudiciles adiuncti esse debent sacerdotes,
integrae famae, in iure canonico doctores vel saltem licenciati, annos nati non minus triginta.
191  
Art.   43,   §4   da   DC:   Commendatur quoque ne quis iudex constituatur nisi qui aliud múnus per
congruum tempus in tribunali exercuerit.  
192  Art.   35,   §3   da   DC:   Peculiari
ratione iurisprudentiae Rotae Romanae student oportet, cum eius sit
unnitati iurisprudentiae consulere et, per proprias sententias, tribunalibus inferioribus auxilio esse (cfr.
Pastor bônus, art. 126).  

193  C.  1428,  §  2  do  CIC:  Episcopus


potest ad auditoris munus approbare clericos vel laicos, qui bonis
moribus, prudentia et doctrina fulgeant.
Art.  50,§2  da  DC: Episcopus dioecesanus potest pro sua dioecesi ad auditoris munus approbare clericos
vel laicos, qui bonis moribus, prudentia et doctrina fulgeant.
194  M.  J.  ARROBA  CONDE,  Direito processual...,  p.  236.
Além   do   mais,   o   Legislador   determina   que,   os   Vigários   Judiciais   estão  
obrigados  a  emitir  pessoalmente,  perante  o  bispo  diocesano  ou  o  moderador  do  tribunal  
ou  o  seu  delegado,  a  profissão  de  fé195  e  o  juramento  de  fidelidade,  segundo  a  fórmula  
aprovada  pela  Sé  Apostólica.  

2.2.   -­   QUALIFICAÇÕES   MÍNIMAS   EXIGIDAS   PARA   O   VIGÁRIO   JUDICIAL   E  


VIGÁRIOS JUDICIAIS  ADJUNTOS  

São  qualidades  relativas  ao  estado,  à  fama,  à  ciência  canônica,  e  à  idade196.  
Em   relação   ao   estado.   Esses   ministros   devem   ser   sacerdotes197 .   Portanto,  
nao   podem   ser   leigos,   nem   diáconos.   Não   convem   que,   o   Bispo   diocesano   assuma  
pessoalmente  o  ofício  de  Vigário  Judicial 198  e  muito  menos  de  Vigário  Judicial  adjunto.  
O  Bispo  é  o  oficial  e  está  intimamente  ligado  e  associado  à  administração  da  justiça,  e  
de  tal  modo  que  lhe  corresponde    a  vigilância  e  disciplina  dos  juízes 199.    
-­   Quanto   à   fama.   Eles   devem   gozar   de   integra   fama.   Este   requisito   ("integra   fama")   é  
expressamente   exigido   pelo   Código   apenas   para   aqueles   que   trabalham   na  
administração  da  justiça  -­  não  só  para  o  Vigário  Judicial  e  Vigário  Judicial  Adjunto.  A  
exigência   por   esses   requisitos   ressalta   a   importância   que   atribui   o   Código   Canônico   à  
integridade  moral  e  estima  de  todos  os  operadores  da  justiça.  A  integra  fama  significa  
mais   que   boa   fama,   além   da   reputação,   definida   como   uma   estimativa   geralmente  
assumida,   que,   na   opinião   das   pessoas   não   se   leva   em   conta   qualquer   pessoa  

195  Cfr.  c.  833,  n.  5  do  CIC:  Obligatione


emittendi personaliter professionem fidei, secundum formulam
a Sede Apostolica probatam, tenentur:
5°- coram Episcopo diocesano eiusve delegato, Vicarii generales et Vicarii episcopales necnon Vicarii
iudiciales;
196  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  n.8,  p.  776.

197   Cfr.   c.   129,   §1   do   CIC:   Potestatis


regiminis, quae quidem ex divina institutione est in Ecclesia et
etiam potestas iurisdictionis vocatur, ad normam praescriptorum iuris, habiles sunt qui ordine sacro sunt
insigniti.    
C.  274,  §1  do  CIC:  Soli clerici obtinere possunt officia ad quorum exercitium requiritur potestas ordinis
aut potestas regiminis ecclesiastici.
198  Cfr.  c.  1420  §1  do  CIC:  Quilibet
Episcopus dioecesanus tenetur Vicarium iudicialem seu Officialem
constituere cum potestate ordinaria iudicandi, a Vicario generali distinctum, nisi parvitas dioecesis aut
paucitas causarum aliud suadeat.
199  Z.  GROCHOLEWSKI,    El Juez...,  n.3,  p.  774.
responsável   razoavelmente   que   a   comprometa   do   ponto   de   vista   moral.   O   julgamento  
deve  ser  feito  pelo  bispo  diocesano,  responsável  pela  nomeação.  Em  qualquer  caso,  as  
ações  criminosas,  tais  como  calúnia  e  difamação200,  por  si  só  não  pode  ser  considerada  
nociva  para  integra  fama.  
-­   Na   preparação   canônica   especificamente   o   Legislador   exige   essa   qualidade   do  
conhecimento   atualizado   e   completo   da   disciplina   canônica,   quer   substantiva   quer  
processual,  segundo  Pompedda201.    
-­  Quanto  à  idade  não  deve  ser  inferior  a  30  anos.  Este  requisito  está  em  conexão  com  a  
integra   fama   e   preparação   canônica   necessárias.   Na   verdade,     a   boa   reputação  
dificilmente   pode   ser   levada   em   consideração   se   for   comprovada   com   alguma  
consistência,   que   perdera   ao   longo   dos   anos,   também   a   maturidade   intelectual   e   é  
geralmente   associada   com   experiência   de   avaliação   e   é   reforçada   com   as   atribuições    
aos  engargos  desempenhados.  
O   Legislador   estabelece   que   todas   essas   qualidades   denotam   idoneidade  
para   o   ofício   e   se   trata   de   uma   pessoa   que   está   em   comunhão   com   a   Igreja202.   É  
necessário  a  qualificação,  pois  se  não  houver  a  prestação  do  ofício  eclesiástico  sem  as  
qualidades  necessárias203,  é  nula204  quando  feita  por  simonia205.  
3. -­  QUALIDADES  DO  JUIZ  
   
No  inicio  do  Ano  Acadêmico  Rotal  de  2002,  do  “Studium Romana Rotae”,  o  
Cardeal  Pompedda,  salienta  a  pouca  sensibilidade  e  atenção  que  se  dedica  aquele  que  é  

200   Cfr.   c.   1390,   §§   2-­3   do   CIC:   §


2. Qui aliam ecclesiastico Superiori calumniosam praebet delicti
denuntiationem, vel aliter alterius bonam famam laedit, iusta poena, non exclusa censura, puniri potest.
§ 3. Calumniator potest cogi etiam ad congruam satisfactionem praestandam.
201  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.5.

202  
C.   149,   §1   do   CIC:   Ut ad officium ecclesiasticum quis promoveatur, debet esse in Ecclesiae
communione necnon idoneus, scilicet iis qualitatibus praeditus, quae iure universali vel particulari aut
lege fundationis ad idem officium requiruntur.  

  C.   149,   §2   do   CIC:   Provisio officii ecclesiastici facta illi qui caret qualitatibus requisitis, irrita
203  
tantum est, si qualitates iure universali vel particulari aut lege fundationis ad validitatem provisionis
expresse exigantur; secus valida est, sed rescindi potest per decretum auctoritatis competentis aut per
sententiam tribunalis administrativi.
204  C.  149,  §3  do  CIC:  Provisio officii simoniace facta ipso iure irrita est.

205  Z.  GROCHOLEWSKI,  El Juez...,  n.8,  p.  777.


o  protagonista  da  ação  processual,  o  Juiz  eclesiástico206.  Pompedda  atribui  esta  carência  
de   atenção   à   orientação   formalista   seguida   pelo   direito   continental   europeu   e,  
conseqüentemente,  pelo  direito  canônico  para  análise  do  fenômeno  jurídico207.
Pompedda   separa   definitivamente   direito   e   realidade,   ‘dever   ser’   e   ‘ser’,  
assim   como   também   inculca   a   radical   separação   entre   conceito   de   validade   e   o   de  
efetividade   da   norma   jurídica.   No   âmbito   da   sociologia   do   direito   e   no   delineamento  
pragmático   e   realista,   no   qual   se   considera   o   fenômeno   jurídico   como   fato   ou,   no  
máximo,   como   a   profecia   ou   a   probabilidade   do   que   juiz   pronunciará   de   fato,   é   mais  
profunda   a   sensibilidade   a   tudo   o   que   realmente   influenciará   a   pessoa   do   juiz   (deste  
juiz)  na  determinação  da  decisão  judicial.  Neste  contexto,  “o  apuramento  da  locução  da  
lei   ou   a   ponderação   da   doutrina   prevalecente,   e   até   a   análise   pormenorizada   dos  
precedentes  jurisprudências  e  da  sua  ratio,  é  acompanhada  de  maneira  igual  da  análise  
psicológica  dos  mecanismos  e  dos  fenômenos,  os  mais  concretos,  que  incidirão  sobre  a  
sensibilidade   do   juiz   e   poderão   fazer   com   que   ele   tome   uma   decisão   em   vez   de  
outra”208.    
Salienta  que  ao  percebermos  a  figura  do  juiz  no  ordenamento  juridico  pode-­
se   evidenciar   três   perfis   da   sua   pessoa:   o   perfil   humano,   o   judiciário   e   o   eclesial.   A  
necessidade   de   distinguir,   o   que   se   coloca   na   origem   da   ciência,   não   deve   induzir   em  
erro.  A   pessoa   é   una   e   única,   e   esta   unidade   (e   unicidade)   atua   realmente   nas,   e   não  
obstante,   necessárias   distinções   especulativas.   Desta   forma,   devemos   considerar   que   a  
humanidade   do   juiz,   o   seu   papel   profissional   e   a   dimensão   espiritual   atuam   juntas,  
contemporaneamente  e  sinergicamente209.  
Pompedda   aponta   ainda   que   “se   é   sem   dúvida   errado   pensar   que   se   pode  
formar  primeiro  um  homem  e  depois  introduzi-­lo  num  papel  e  numa  função  e,  por  fim  
propor-­lhe,   se   é   o   caso,   uma   perfeição   ulterior   proveniente   da   espiritualidade,   quase  
uma  meta  última  a  ser  atingida  no  fim,  revelar-­se-­ia  de  igual  modo  errado  propor  ou  ter  
unicamente   em   vista   um   papel   e   uma   função,   descuidando,   de   facto   ou   até   de   direito,  

206  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  1.


207  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  1.  
208  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  pp.  1-­2.  
209  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  pp.  2-­3.  
qualquer  crescimento  humano  e  pessoal,  como  se  se  tratasse  de  algo  alheio,  ou  até  um  
obstáculo,   à   profissionalidade   da   qual   deve   ser   dotado   e   com   base   na   qual   deverá  
agir210.  
Descreve   ainda   que   se   o   primeiro   erro   não   reconhece   as   interações   e   as  
integrações   que   se   verificam   na   unidade   da   pessoa   que   dinamicamente   evolui   e  
progride,  o  outro  nega  a  verdade  dos  nossos  axiomas,  segundo  os  quais  a  ‘natura  non
facit saltus et gratia non destruit sed perficit naturam’211,   para   tanto   a   formação  
humana,   profissional   e   eclesial   devem   formar   harmoniosamente   a   pessoa   e   a  
personalidade  do  juiz  eclesiástico.  

2.3.1    -­  PERFIL  HUMANO  DO  JUIZ  

Ao   apresentar   o   perfil   humano   do   Juiz,   Pompedda   diz   que:   «buscamos   a  


maturidade  que  por  sua  vez  difere  das  formas  autoritária  de  ser  em  julgamento.  Pois  sob  
o   perfil   humano   exige-­se   além   do   mais,   que   o   juiz   seja   uma   pessoa   madura.   Trata-­se  
precisamente  daquela  maturidade  sobre  a  qual,  muitas  vezes,  as  sentenças  eclesiásticas  
debatem,  e  sobre  a  qual  os  juízes  intervêm  autoritariamente  no  contexto  das  causas,  o  
dirimir  requer  do  juiz  uma  maturidade  pessoal»212.    
Embora   já   mencionado   no   item   anterior   sobre   alguns   requisitos   para   a  
nomeação   de   juiz   parecem   destinados   a   defender   e   a   garantir   a   existência   desta  
maturidade   e   devem   ser   aplicadas   de   modo   rigoroso,   penetrando   o   espírito   da   norma.  
Basta  pensar  na  idade.  Não  é  por  acaso  que  se  fala  precisamente,  na  linguagem  comum  
e   normativa,   de   idade   madura213 .   Pois,   Duda   recorda   que,   além   disso,   não   se   pode  
esquecer  que,  de  fato  e,  em  vários  aspectos,  também  de  direito,  a  quase  totalidade  dos  

210  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  3.  


211  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  3.
212   M.   F.   POMPEDDA,   Il
giudice nei tribunali ecclesiastici: norma generale e caso concreto (funzione,
competenza profissionale, garanzie di indipendenza, giudici laici), em A justiça na Igreja: fundamento  
divino  e  cultural  processual  moderna,  Cidade  do  Vaticano,  1997,  p.  142.  
213  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  3.
juízes  eclesiásticos  são  sacerdotes.  Isto  significa  que  o  acesso 214  às  Ordens  sagradas  já  
constituiu  uma  significativa  verificação  da  sua  maturidade215.  Por  outro  lado,  Pompedda  
salienta  que  a  introdução  nos  papéis  judiciais  canônicos  de  leigos,  homens  e  mulheres,  
não  poderão  prescindir  da  necessidade  de  um  confronto  com  a  verificação  e  o  nível  de  
maturidade   exigido   aos   juízes,   na   sua   qualidade   de   sacerdotes 216.   Há,   porém,   muita  
dificuldade  sobre  esta  premissa  insiste  particularmente  Graziano,  ‘pois  não  é  fácil  dizer  
em   que   consiste   esta   maturidade   humana   e   pessoal,   necessária   e   suficiente,   num   juiz  
eclesiástico’.   Talvez   não   nos   afastemos   demasiado   da   verdade   se   se   identifica   com   a  
capacidade  do  juiz  de  julgar  a  si  mesmo  e  ao  seu  tempo.  Antes  de  mais,  a  capacidade  de  
se  julgar  a  si  mesmo217:    
«De cette étude psychologique que le juge fera sur lui-même, la première et
essentielle conclusión est que, pour juge les autres, il doit avant tout renoncer à
son moimauvais: amour propre, paresse, intérêt personnel, préjugés; trop bonne
opinion de soi-même, source de tant de nos errements; sensibilité déréglée avec
sés sympaties, fussent-elles pour la loi, mais au détriment de l’impartialité. Il doit
impitouablement retrancher, comprimer toutes ces imaginations qui entravent le
jugement droit»218.  

Isto  significa  obter  a  serenidade  de  juízo,  que  é  como  o  efeito  principal  da  
maturidade.   Pois,   ela   consiste   na   “capacidade   de   agir   e   julgar   destancando-­se   dos  
próprios   e   pessoais   pontos   de   vista   e   opiniões,   de   julgar   abstraindo-­se   de   qualquer  
preconceito  quer  geral  quer  particular,  isto  é,  que  se  refere  ao  caso;;  de  saber  abstrair-­se  
de   considerações   humanas,   políticas   ou   sociais;;   de   saber   aceitar   também   a   opinião   de  
outrem   mesmo   se   é   contrária   à   sua   (mostrando,   por   exemplo,   indiferença   a   uma  
sentença   de   apelo   que   reformule   a   própria);;   de   saber   aceitar   na   fase   de   câmara   de  
conselho  o  parecer  da  maioria,  ou  até  do  mais  jovem;;  de  saber  enfrentar  e  confrontar  as  
razões   dos   outros   colegas   sem   prevenção   ou   qualquer   tipo   de   reserva;;   e   por   fim,  

214   Cfr.   c.   1029   do   CIC:


Ad ordines ii soli promoveantur qui, prudenti iudicio Episcopi proprii aut
Superioris maioris competentis, omnibus perpensis, integram habent fidem, recta moventur intentione,
debita pollent scientia, bona gaudent existimatione, integris moribus probatisque virtutibus atque aliis
qualitatibus physicis et psychicis ordini recipiendo congruentibus sunt praediti.
215  J.  DUDA,  A Formação, nomeação e remoção dos juízes eclesiásticos,  em  Folia  canônica  3  (2000),  P.  
245-­247.  
216  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  3.
217  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  3.  
218  A.  CARDEAL  JULLIEN,  Juges et avocats des Tribunaux de l’Église,  Roma  1970,  pp.  265-­266.  
sobretudo,   saber   render-­se   face   às   atas   e   a   quanto   foi   provocado,   sem   jamais   dobrar,  
através  de  artifícios  instrutórios  legais  [...],  as  mesmas  atas  segundo  uma  teoria  própria  
pré-­concebida  ou  de  particular  orientação,  recordando-­se  sempre  que  se  for  ele  quem  dá  
a  decisão  final,  não  é,  contudo  o  único  protagonista  essencial  do  processo  canônico,  no  
qual   se   impõe   [...]   o   respeito   pelos   diferentes   papéis”219.   Dando   continuidade   ao   seu  
discurso,  manifesta  que  faz  parte  da  maturidade  pessoal  também  a  capacidade  de  julgar  
o  próprio  tempo.  Com  efeito,  isto  não  é  simplesmente  reconduzível  ao  conhecimento  de  
fatos  e  acontecimentos.  Trata-­se  de  conhecer  a  cultura  do  próprio  tempo.  Já  não  é  por  ter  
ouvido   dizer,   mas   porque   dela   participa;;   mencionando   a   expressão   cultura,   para  
significar   a   sua   necessária   referência   antropológica   e   incluir   também   as   suas  
manifestações  mais  ordinárias 220.    
Na   Ecclesiam Suann,   o   Sumo   Pontífice   Paulo   VI   ao   falar   da   maturidade,  
apresenta-­a  com  a  finalidade  de  um  juízo  maduro:    
“[...]   é   preciso,   como   o   Verbo   de   Deus   que   se   fez   homem,   compenetrar-­se,   em   certa  
medida,  nas  formas  de  vida  [...]  é  preciso  partilhar,  sem  criar  distância  de  privilégios,  ou  
diafragma   de   linguagem   incompreensível,   os   hábitos   comuns,   que   sejam   humanos   e  
honestos,   sobretudo   o   dos   menores,   se   queremos   ser   ouvidos   e   compreendidos.   É  
preciso,  ainda  antes  de  falar,  ouvir  a  voz,  ou  melhor,  o  coração  do  homem;;  compreendê-­
lo,  e  na  medida  do  possível,  respeitá-­lo,  e  no  que  merece  contentá-­lo”221.  
De   fato,   o   juiz   maduro   não   pode   deixar   de   conhecer   o   estilo   de   vida   dos  
homens  de  hoje,  as  suas  escalas  de  valores,  o  seu  modo  de  raciocinar,  as  suas  reações  
imediatas,  irrefletidas,  aos  acontecimentos  da  vida.  A  esta  consciência  não  pode  ligar-­se  
um  juízo  maduro,  ou  seja,  que  de  novo  saiba  desapegar-­se  de  si,  tornando-­se  capaz  de  
ponderar  o  homem  de  hoje,  ou  melhor,  o  seu  agir,  por  aquilo  que  é,  mais  do  que  pelo  

219   M.   F.   POMPEDDA,   Il guidice nei tribunali ecclesiastici: norma generale e caso concreto (funzione,
competenza professionale, garanzie di indipendenza profissionale, garanzie di indipendenza, giudici
laici),   pp.   142-­143.   Cfr.   também:   Decisione-sentenza nei processi matrimoniali: Del concetto e dei
principi per emettere una sentenza ecclesiastica,  em    Studio di diritto processuale canônico,  Milão  1995,  
p.  188.
220  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  4.
221  
PAULUS   PP   VI,   Litterae   encyclicae   Ecceliam suam, 6   de   agosto   de   1964,   III,   in   AAS   56   (1964)  
646-­647.
juízo   moral   que   deve   ser   formulado,   ou   pelo   juízo   axiológico   ou   prospectivo   ou,   com  
mais  freqüência,  fácil  e  superficialmente  formulável  sobre  ele 222.    
Porém   o   Sumo   Pontífice   Pio   XII,   salienta   que   o   Magistério   pontifício,  
mesmo  pondo  de  sobreaviso  contra  excessos,  que  se  escondem  em  qualquer  campo  de  
fronteira,   louva,   há   muito   tempo,   por   assim   dizer,   não   suspeito223,   «o   recurso   feito   às  
disciplinas  humanistas  em  sentido  lato,  e  às  médico-­biológicas  ou  também  psiquiátrico-­
psicológicas   em   sentido   estrito»224,   isto   referendado   pelo   beato   João   Paulo   II;;   noutro  
discurso   o   beato   afirma   que   “[...]   o   ‘officium caritatis et unitatis’   [...]   nunca   poderá  
significar   um   estado   de   inércia   intelectual,   pela   qual   da   pessoa   objeto   dos   vossos  
julgados  se  tenha  uma  concepção  avulsa  da  realidade  histórica  e  antropológica,  limitada  
e  até  invalidada  por  uma  visão  culturalmente  ligada  a  uma  ou  outra  parte  do  mundo.    
Conservai  com  veneração  tudo  o  que  o  passado  nos  transmitiu  de  sã  cultura  
e  doutrina,  mas  acolhei  com  discernimento,  de  igual  modo,  tudo  o  que  de  bom  e  justo  o  
presente  nos  oferece”225.  

2.3.2.  -­  PERFIL  JUDICIÁRIO  DO  JUIZ  ECLESIÁSTICO  

Pompedda   salienta   que   o   juiz   é   chamado   a   ‘fazer   justiça’,   portanto,   deve  


sobressair   nas   virtudes   e   nas   qualidades   próprias,   mas   ao   qual   se   recorre   como   “ad
quandam iustitiam animatam”,   sendo   que   a   primeira   destas   qualidades   é   sem   dúvida  
alguma,  a  ciência,  ou  seja,  o  conhecimento  atualizado  e  completo  da  disciplina  canônica  
quer  substantiva  quer  processual226.    

222  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  4.


223  Cfr.  PIUS  PP.  XII,  Allocutio adstantibus Praelatis Auditoribus ceterrisque Officialibus et Administris
Tribunalis Sacrae Romanae Rotae necnon eiusdem Tribunalis Advocatis et Procuratoribus,  3  de  outubro  
de  1941,  in  AAS  33  (1941)  421-­426.
224   IOANNES   PAULUS   PP.   II,   Allocutio ad Romanae iudicis, 10 de fevereiro de 1995, n. 5, in AAS 87
(1995),  p.  1015.
225  IOANNES  PAULUS    PP.  II,  Allocutio ad Romanae Rotae praelatos auditores, 17  de  janeiro  de  1998,  n.  6,  
in  AAS  90  (1998),  pp.  784-­785.  
226  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  5.
O   beato   João   Paulo   II   afirma   que   “este   conhecimento   supõe   um   estudo  
assíduo,  aprofundado,  que  não  se  limite  a  revelar  as  eventuais  variações  em  relação  à  lei  
anterior,  ou  a  estabelecer  o  seu  sentido  meramente  literal  ou  filológico,  mas  que  consiga  
considerar   também   a   ‘mens legislatoris’,   e   a   ‘ratio legis’,   de   modo   a   dar   uma   visão  
global  que  se  permita  penetrar  o  espírito  da  [...]  lei”227.  
Uma  vez  que  o  dever  essencial  do  juiz  é  “fazer  justiça”,  ou  seja,  administrar  
a  justiça,  segundo  Langaro,  “o  dever  fundamental  do  juiz,  básico  e  irrecusável,  é  o  de  
exercer  a  jurisdição,  que  lhe  foi  confiada  no  ato  sacramental  da  investidura.  [...]  como  
frisava   Chiovenda,   ‘ele   é   o   representante   do   órgão   jurisdicional   do   Estado...   [...].   Por  
isso  mesmo,  o  dever  fundamental  do  juiz  é  a  prestação  das  atividades  inerentes  às  suas  
funções   estatais...”228.   E   deste   dever   decorre   outro   de   igual   importância:   conhecer   o  
Direito,   interpretá-­lo   e   aplicá-­lo   ao   caso   concreto,   pois   parece   evidente   que   o   dever  
funcional  do  juiz  é  “administrar  a  justiça” 229.  
Pompedda  salienda  que  a  prescrição  da  intervenção  da  inteligência  do  juiz  
exclui   depois   de   modo   suficientemente   claro   que   o   juízo   se   possa   reduzir   a   uma  
operação  externa  ou  extrínseca  à  pessoa  do  juiz,  como  se  pode  prescindir  do  mesmo230,  
ressaltando   ainda   a   idéia,   segundo   a   qual   a   sentença   judicial   revestiria   a   forma   de   um  
silogismo:  a  premissa  maior  seria  constituída  pela  norma;;  a  premissa  menor  pelos  fatos;;  
a   conclusão,   precisamente,   seria   a   sentença.   Não   se   erra   na   mencionada   percepção   da  
essência   e   da   estrutura   do   juízo.   Ao   contrário,   erra-­se   da   compreensão   silogística   da  
sentença   se   quisesse   deduzir   a   irrelevância   da   (pessoa   do)   juiz,   como   se   ‘quilibet’   e  
‘populo’,   dotado   das   consciências   apropriadas,   pudesse   tirar   das   premissas   a   mesma  
conclusão  judicial.  A  exigência  de  universalidade  e  de  unidade  da  jurisprudência,  assim  
como   o   conexo   pedido   da   certeza   do   direito,   não   se   devem   procurar   e   pretender   ‘a
priori’   ou   ‘in initio’,   tornando   ou   pretendendo   reduzir   o   juiz   a   um   sujeito   que   seja   o  
mais  possível  equivalente  a  um  elaborador  eletrônico;;  a  universalidade  e  a  unidade  da  

227  IOANNES  PAULUS  PP.  II,  Allocutio ad Praelatos Auditores S. Romanae Rotae,  26  de  Janeiro  de  1984,  
n.  3,  in  AAS  76  (1984),  p.  645.  
228  L.  L.  LANGARO,  Curso de Deontologia Jurídica,  2ª  edição,  São  Paulo,  ed.  Saraiva  1996,  p.  83.  
229  L.  L.  LANGARO,  Curso de Deontologia Jurídica,  p.  83.
230  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  8.
jurisprudência  e  a  certeza  do  direito  brotam  ‘in fine’,  isto  é,  como  fruto  da  convergência  
do  corpo  judiciário  nos  seus  pronunciamentos  individuais  emitidos  ‘ex conscientia’231.  
No   ordemamento   jurídico   vigente   é   pedido   ao   juiz   que   julgue   ex   sua  
conscientia,   pois   o   juizo   dado,   não   se   reduz   à   subjetivivdade   o   pronunciamento  
judicial232.    
Pois,  segundo  o  Beato  João  Paulo  II:  
«a consciência [...] não é uma fonte autônoma e exclusiva para decidir o que é bom e o
que é mau; ao contrário, está inscrito nela de modo profundo um princípio de obediência
em relação à norma objetiva, que funda e condiciona a correspondência das suas
decisões com os mandamentos e as proibições que estão na base do comportamento
humano [...].» 233  

O   Legislador,   portanto,   no   ordenamento   jurídico   vigente,   pede   ao   juiz   que  


julgue   ‘ex sua conscientia’,   o   que   se   traduz   em   liberdade   interior   e   independência  
exterior234.   De   cuja   finalidade   lhe   impõe   certos   impedimentos235   no   próprio   ato   de  
julgar,  refere  Pompedda  que  preservando  a  imparcialidade  da  qual  o  ministério  do  juiz  
não  pode  prescindir236.  Deste  modo,  é  necessário  que  o  juiz,  sendo  fiel  a  este  espírito  do  
direito  processual,  busque  a  liberdade  interior  e  a  independência  exterior  através  da  fuga  
do   enriquecimento   material   pessoal,   o   que,   em   contrapartida,   justifica   a   existência   de  
normas   que   estipulam   uma   justa   e   digna   remuneração   para   o   desempenho   do   cargo  
judicial237.

231  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  8.  

232  Cfr.  c.  1608,  §2  do  CIC:  Hac certitudinem iudex haurire debet ex actis et probatis.
233  IOANNES  PAULUS  PP  II,  Litterae encyclicae  Dominum et vivificantem,  18  de  Maio  de  1986,  n.  43,  em  
AAS  78  (1986),  p.  859.  

234  
Cfr.   c.   1608,   §3   do   CIC:   Probationes autem aestimare iudex debet ex sua conscientia, firmis
praescriptis legis de quarundam probationum efficacia.

235   Cfr.   c.   1447   do   CIC:   Qui


causae interfuit tamquam iudex, promotor iustitiae, defensor vinculi,
procurator, advocatus, testis aut peritus, nequit postea valide eandem causam in alia instantia tamquam
iudex definire aut in eadem munus assessoris sustinere.
C.   1448   do   CIC:   § 1. Iudex cognoscendam ne suscipiat causam, in qua ratione consanguinitatis vel
affinitatis in quolibet gradu lineae rectae et usque ad quartum gradum lineae collateralis, vel ratione
tutelae et curatelae, intimae vitae consuetudinis, magnae simultatis, vel lucri faciendi aut damni vitandi,
aliquid ipsius intersit.
§ 2. In iisdem adiunctis ab officio suo abstinere debent iustitiae promotor, defensor vinculi,
assessor et auditor.
236  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  7.
237  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  7.  
Pois,  segundo  Mogavero,  o  juiz  “deve  ser  deixado  sozinho  para  que  forme  
para   si   uma   convicção   pessoal,   sem   interferências   externas   de   qualquer   gênero.  
Entretanto,  esta  solidão  deve  ser  total  e  absoluta,  respeitada  também  pelos  membros  do  
mesmo  colégio,  devido  à  dignidade  da  função  e  das  pessoas  [...].  No  momento  em  que  o  
juiz   se   apresenta   para   dar   sua   resposta   à   dúvida   proposta   não   pode   partilhar   com  
ninguém  a  sua  fadiga,  nem  pode  ser  apoiado  ou  ajudado  por  sugestões  ou  iluminações  
de  outrem.  A  única  sede  institucional  de  comunicação  e  circularidade  [...]  só  poderá  ser  
a  sessão  colegial  em  câmara  de  conselho  [...]” 238.  
Concluindo,   Pompedda,   enfatiza   que   “ao   pronunciar   a   sentença   o   juiz   não  
manifesta  a  própria  vontade.  O  juiz  manifesta  simplesmente  o  seu  juízo  sobre  a  vontade  
do   corpo   legislativo   num   caso   concreto.   Por   conseguinte,   a   sentença   contém   apenas   a  
vontade   ou   a   intenção   da   lei   transferida   concretamente   pelo   juiz”239 .   E   Langaro  
confirma  que  o  desempenho  da  função  de  juiz  é  estabelecido  numa  consciência  capaz  de  
discernir  o  justo  do  injusto,  e  ser  fundamentalmente  reta;;  para  tal,  deve  como  requisito  
essencial,  o  magistrado,  reunir  três  qualidades:  cultura,  independência  e  probidade240.    

               Quanto  a  esses  requisitos  salienta  que:    
«somente pela independência e integridade do magistrado, que geram a
imparcialidade, é que se pode ter uma organização judiciária boa e eficiente. Se,
assim, a probidade, a imparcialidade e a integridade dos juízes constituem
condições e qualidades essenciais ao magistrado, é preciso, também, que ele seja
ilustrado, isto é, culto, tendo conhecimento do direito, para bem saber julgar.
Quanto à imparcialidade é resultado, ao mesmo tempo, da inteligência e da
moralidade. Pressupõe a existência de um espírito de lealdade, de retidão, de
desinteresse, pois a moderação é o apanágio do verdadeiro magistrado, além da
prudência, inspirada no saber, da sabedoria de espírito e da simplicidade,
evitando a sobranceira e a vazia solenidade. De outra parte, é indispensável
possuir tino vivaz e sagacidade, qualidade esta que implica outra de igual
importância, a de compreender as lides e as situações e de adivinhar por um
simples indício. Isso significa, como se percebe, o requisito do discernimento,
pelo qual o espírito percebe e distingue os fatos e sua interpretação. Nessas

238  D.  MORENGO,  O Ministério do Juiz no Tribunal de Primeira Instância.  A  justiça  na  igreja:  fundamento  
divino  e  cultura  processual  moderna,  pp.  204  e  205.  
239  M.  F.  POMPEDDA,  Decissão-sentença nos processos matrimoniais: do conceito e dos princípios para
emitir uma sentença eclesiástica,  pp.  157-­158.  
240  L.  L.  LANGARO,  Curso  de  Deontologia,...,  p.  76.  
qualidades reunidas numa só pessoa, caracterizam, sem dúvida alguma, um
autêntico magistrado» 241.  

2.3.3.  -­  PERFIL  ECLESIAL  DO  JUIZ  ECLESIÁSTICO  

Neste  último  aspecto  marcado  pela  eclesialidade,  Pompedda,  refere-­se,  antes  


de   mais,   ontologicamente,   à   potestas   que   o   juiz   recebe,   detém   e   exerce.   Com   efeito,  
trata-­se  da  única  potestas  que  na  Igreja  e  para  a  Igreja  é  dada,  ‘potestas sacra’.  Se  isto  é  
tornado,   diria   visível   no   requerimento   comumente   exigido   da   Ordem   sagrada   para   a  
nomeação   de   juiz   eclesiástico,   não   é   menos   verdade   para   o   juiz   leigo,   que,   segundo   a  
norma   do   direito,   pode   ser   nomeado   juiz   eclesiástico.   Sendo   assim,   afirma   a   natureza  
sagrada   da   potestas   exercida   pelo   juiz   eclesiástico,   poderá   sim   comportar   uma   nova   e  
mais  profunda  consciência  da  não  separabilidade  (e,  porque  não,  discriminação)  entre  o  
exercício   do   ministério   judiciário   e   o   exercício   do   ministério   pastoral,   ou   seja,   dos  
‘munera docendi,   sanctificandi’   (fazendo   exceção   para   a   dignidade   e   a   diferença  
ontológica  da  ‘potestas ordinis’  por  vezes  exigida  no  exercício  do  munus sanctificandi)  
e  regendi,  este  último,  na  sua  mais  difundida  forma  de  ministério  da  unidade  pastoral242 .  
Para   sustentar   esse   modo   de   ver   o   ministério   judiciário   e   o   exercício   do  
ministério   pastoral,   Pompedda   afirma   que   há   uma   “síntese   e   sintoma   desta   posição  
empenhativa   e   dinâmica   do   juiz   eclesiástico,   é   a   prescrição   de   que   as   sentenças   se  
formem   e   sejam   emitidas   ‘post divini Nominis invocationem’243.   Esta   prescrição,   que  
tem   o   seu   paralelo   na   disposição   que   quer   que   todos   os   textos   de   sentença   se  
desenvolvam  por  escrito  ‘post divini Nominis invocationem’244,  exige  que  em  câmara  de  
conselho   a   discussão   seja   precedida   da   oração.   Nesta   previsão   sábia   e   tradicional  
normativa  pode  ser  lida  grande  parte  da  eclesialidade  do  juiz,  mesmo  se,  não  eximo  de  o  

241  L.  L.  LANGARO,  Curso  de  Deontologia,...,  pp.  76-­77.

242  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  9.

243  
Cfr.   c.   1609,   §3   do   CIC:   Post divini Nominis invocationem, prolatis ex ordine singulorum
conclusionibus secundum praecedentiam, ita tamen ut semper a causae ponente seu relatore initium fiat,
habeatur discussio sub tribunalis praesidis ductu, praesertim ut constabiliatur quid statuendum sit in
parte dispositiva setententiae.

244  Cfr.  c.  1612,  §1  do  CIC:


Sententia, post divini Nominis invocationem, exprimat oportet ex ordine qui
sit iudex aut tribunal; qui sit actor pars conventa, procurator, nominibus et domiciliis rit
designatis,promotor iustitiae, defensor vinculi, si partem in iudicio habuerint.
fazer   observar,   em   tempos   não   distantes   também   em   ordenamentos   seculares   era  
prevista   uma   semelhante   disposição   para   a   câmara   de   conselho   e   para   o   texto   dos  
pronunciamentos  judiciais245.    
Nota-­se  que  espiritualidade  é  um  dos  perfis  do  juiz,  secular  ou  eclesiástico,  
afirma  Pompedda,  pois,  este  último  também  recebe,  detém  e  exerce  um  poder  sagrado  
que   revela   a   eclesialidade   de   sua   função246.   Pois   aquela   oração   “in concipiendis
sententiis et ferendis”   é   imagem   do   múnus   do   juiz   eclesiástico 247.   Só   na   oração   o  
homem  pode  haurir  a  liberdade,  aquela  liberdade  interior  da  qual  tem  necessidade  para  
um  juízo  equitativo,  pois  a  oração  é  uma  barca  mais  segura,  para  retomar  uma  famosa  
imagem  clássica,  da  jangada  dos  esforços  humanos  para  se  libertar  do  próprio  eu  a  favor  
de  uma  alma  equitativa 248.  
Felici  salienta  que  «não  se  deveria  conceber  um  juízo  que,  descuidando  esta  
obra   de   purificação   e   sublimação,   se   pusesse   na   condição   de   julgar   com   idéias   pré-­
concebidas,   alheias   ao   juízo,   ou   ‘in aestu passionis’.   “É   preciso,   ao   contrário,   criar   as  
condições   melhores,   para   que   ‘non   favor   inflectat,   non   acceptio   muneris   vel   personae  
corrumpat’,  mas  o  juizo  seja  dado,  segundo  a  expressão  usada  na  Sacra  Rota  Romana:  
‘unice  Deum  prae  oculis  habendo’»249.
Por  fim,  surge  a  busca,  ou  ainda  melhor,  a  invocação  da  aequitas  por  parte  
do   juiz,   para   que   o   seu   juizo   dele   participe:   ‘Iudices autem debent uti aequitate’. Só  
deste   modo   o   juizo   dado   poderá   alcançar   a   sua   finalidade   intrínseca,   ou   seja,   o   ‘salus
animarum’250,  lei  fundamental  da  Igreja 251.  
Para  o  beato  João  Paulo  II:  
 «o  juiz  eclesiástico,  autêntico  “sacerdos iuris” na  sociedade  eclesial,  não  pode  deixar  de  
ser   chamado   a   realizar   um   verdadeiro   “officium caritatis et unitatis”.   Por   conseguinte,  
quanto   mais   empenhativa   é   a   vossa   tarefa   e   ao   mesmo   tempo   de   nobre   densidade  

245  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  9.


246  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  10.
247  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  9.
248  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  9.  
249  FELICI,  Formalitates iuridicae et aestimatio probationum in processu canônico, p. 180.  

250   Cfr.  c.  1752  do  CIC:   In


causis translationis applicentur praescripta canonis 1747, servata aequitate
canonica et prae oculis habita salute animarum, quae in Ecclesia suprema semper lex esse debet.  
251  M.  F.  POMPEDDA,  O Juiz Eclesiástico,...,  p.  10.
espiritual,   tornando-­vos   vós   efectivos   artífices   de   uma   singular   diaconia   para   todos   os  
homens   e,   ainda   mais,   para   o   “christifidelis”.   É   precisamente   a   aplicação   correcta   do  
direito  canônico,  que  pressupõe  a  graça  da  vida  sacramental,  que  favorece  esta  unidade  na  
caridade,  porque  o  direito  na  Igreja  não  poderia  ter  outra  interpretação,  outro  significado  
e  outro  valor,  sem  falar  à  finalidade  essencial  da  própria  Igreja» 252.  

E  concluiu  o  beato  noutro  discurso  dizendo:  «o  juiz  eclesiástico  não  deverá  
ter   presente   unicamente   que   a   exigência   primária   da   justiça   é   respeitar   a   pessoa,   mas  
além   da   justiça,   ele   deverá   tender   para   a   equidade,   e,   para   além   dela,   para   a  
caridade» 253.  

CONCLUSÃO    

  A  missão  da  Igreja  e  o  mérito  histórico  dela,  de  proclamar  e  defender  em  toda  a  
parte   e   sempre   os   direitos   fundamentais   do   homem,   não   a   exime   antes   a   obriga,   a   ser  
diante   do   mundo   “speculum iustitiae”.   A   Igreja   tem   neste   campo   responsabilidade  
própria   e   específica.   Esta   opção   fundamental,   que   representa   uma,   tomada   de  
consciência  por  parte  de  todo  o  “Povo  de  Deus”,  não  deixa  de  atingir  e  estimular  todos  
os  homens  da  Igreja,  e  em  particular  aqueles  que,  como  vós,  têm  missão  especial  neste  
particular,  a  que  amem  a  justiça  e  o  direito254.  

252  IOANNES  PAULUS  PP.  II,  Allocutio ad Romanae Rotae prelates auditores,  17  de  Janeiro  de  1998,  n.  2,  
in  AAS  90  (1998),  pp.  782-­783.
253IOANNES   PAULUS   PP   II,   Allocutio
ad Sacrae Romanae Rotae,,   17   de   Fevereiro   de   1979,   n.   2,   em  
ENSINAMENTOS DE JOÃO PAULO II,  II,  Cidade  do  Vaticano  (1979),  p.  410.  
254   IOANNES   PAULUS   PP   II,   Allocutio ad Tribunalis Sacrae Romanae Rotae,   in   AAS   71   (1979),   pp.  
422-­427.

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