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Atividade V: POESIA ÉPICA

Patrick Souza e Silva

O grande épico do renascimento português, Lusíadas de Camões, não pode ser compreendido solto
da tradição literária que o liga à épica antiga. O próprio renascimento, movimento de inspiração
classicista, tinha por preceito a imitação ou emulação das obras clássicas. Porém Camões não se
liga tão diretamente à primeira fonte da poesia épica: Homero. Tanto a língua dos poemas
homéricos como a situação em que foram compostos (oralidade), dificultava a aproximação de
Camões com o poema. É, em grande parte, por meio de Virgílio que a voz da épica grega
reverberará no ocidente em nos Lusíadas. A Eneida de Virgílio tornou-se a obra clássica de
referência na poesia europeia. Nessa obra Virgílio sintetiza e imita muito dos dois poemas
homéricos: tanto as viagens fantásticas da Odisséia quanto às batalhas sanguinolentas da Ilíada
estão presentes na Eneida. Podemos observar que Camões, seguindo as convenções estéticas de sua
época, imita a obra épica de Virgílio seja na forma dos versos, seja na estrutura do poema. Assim
como o verso inicial dos Lusíadas (canto as armas e os barões assinalados) é emulação clássico do
prólogo ds Virgílio (arma virumque cano), muitos trechos da obra são modificações feitas pelo
engenho camoniano em trechos da eneida. Além disso, a própria estrutura dos cantos dos Lusíadas
lembra a obra de Virgílio: a narração de viagens fantásticas marítimas entremeadas de batalhas e a
influência de deuses, alguns auxiliadores e alguns nefastos.O herói camoniano narra suas viagens
para o rei que o acolhe, assim como Enéias contara sua história para Dido, rainha e anfitriã. Por
último, não faltam menções mais ou menos diretas a Virgílio nos Lusíadas (Cessem do sábio grego
e do troiano / As navegações grandes que fizeram. - terceira estância do primeiro canto, por
exemplo ). Mas Camões não se contenta em imitar Virgílio, e por meio dele também Homero. Quer
mostrar que sua obra será superior, que a história por ele contada é mais digna de fama. Assim se
estabelece uma relação de continuidade e de modificação entre a épica latina e a portuguesa. Para
Camões Virgílio é o mestre a ser imitado, mas não meramente repetido. É preciso esforcar-se para
com engenho renovar e melhorar o modelo clássico, e é justamente isso que Camões consegue fazer
na sua obra que, também por essa razão , se tornou eterna na poesia em língua portuguesa.

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