Você está na página 1de 132

E S T A T U T O S

D O

S E M I N Á R I O E P I S C O P A L

D E

N . S E N H O R A D A G R A S A

D A C I D A D E D E O L I N D A

D E P A R N A M B U C O

O R D E N A D O S P O R

D . J O Z É J O A Q U I M D A C U N H A

D E A Z E R E D O C O U T 1 N H O ,

XII. B I S P O D E P A R N A M B Ú C O

DO CONSELHO DE S. MAGESTADE FIDELISIMA,

FUNDADOR DO MESMO SEMINÁRIO.

L I S B O A
i 7 P 8 .

N A T Y P O G R A F I A D A A C A D . R. DAS CIÊNCIAS.;

Com liçenfa da Miza do Dmmbargo do Pafo.


H l . m o
e E x . m o
Sfir.

S VA Mageftade Manda rcmctter á Meza do Dcfcmbargo do

Paço os E f t a t u t o s i n c l u z o s , f e i t o s p e l o B i f p o de Pernambuco 3

para o regimen do Seminário daquella D i o c e f e . E H e Servida ,

que achando a mefma M e z a , que elles naõ contém couza al-

guma contra os Direitos da Coroa , dê logo Licença para que

o r e f e r i d o B i f p o os poíTa m a n d a r imprimir, Deos guarde a VoíTa

Excellencia. P a l á c i o de Q u e l u z em v i n t e e n o v e de Janeiro de

mil fetecentos noventa e oito.


D. Rodrigo de Souza Cominho.
Snr. Luiz de Vaftonçellos e Souza.
Í N D I C E .

PARTE I.

Que contém o que pertence á obfervancia

E c o n ô m i c a .

c A P . I . Da eleisao y que f e dde f a z e r dos

Seminariftas pobres. . pag. 4.

C A P I I . Do modo da eleisao j e entrada dos Co-

legiaes do número. 5%

C A P I I I . Do vefiido , e calfado , de que aode

u z a r os Colegiaes. 2.

C A P I Y Dos Colegiaes Extranumerarios y ou

Porcionistas. 1 o.

C A P V Do Refeitório. . 12.

C A P V I . Do cuidado, que deve aver dos E n -

f e r m o s . . 14.

C A P V I I . Do Oficio do Reitor. . . 1 7 -

C A P V I I I . Do Oficio do Fice-Reitor. 2 1 .

C A P I X . Do Oficio do Sacriftao. • . 2 2 .

C A P X . Do Porteiro. > • 23*

C A P , X I . Dos Ofícios interiores. . ~ 24.

Do Barbeiro 3 e Refeitoreiro. ibid.

Do Cozinheiro. . ibid.

Do Ajudante da Cozinha. . 25.

Do Cerqueiro . • ibid.

De Comprador. . . . ibid»

C A P X I I . Do Cofre y que deve ter o Colégio. 26.

C A P X I I I . Do modo de f e tomarem anualmente

as contas da receita y e de/fieza do Colégio. 28.

PAR-
Í N D I C E »

P A R T E I I .

Que contém o que pertence á obférvariciâ Moral.

CAP. I. Da ohrigafao do ómem a rejpeito de

Deus. . . 3 4 »
C A P I I . Da obriga/ao do ornem a r e f p e i t o de ft

m e f m o . . . . 3 8 »

C A P I I I . Da ohrigafao do ómem a refpeito dos

outros ómens. 4 0

P A R T E I I I .

Da obfervancia Literária.

C A P . I . Das primeiras Letras. . 4 6 .

Do P r o f e f o r das primeiras Letras. i b i d .

C A P I I . Do Canto. .

Do P r o f e f o r do Canto.

C A P , I I I . Da Gramática.
JS
Do P r o f e f o r da Gramática Latina. ibid;
C A P I V Da Rétorica. . . .
5 8.
Do P r o f e f o r da Rétorica. ibid.
C A P V Da Filozofia. 60.
Do P r o f e f o r de Filozofia 6 1 .
C A P V I . Da J e o m e t r i a . * .
. í 3-
Do P r o f e f o r de Jeometria. i t i d .
C A P V I L Da Teolojia. . . .
5T-
Do P r o f e f o r da Iftoría E c l e z i a j í k a . 0*8.
Do P r o f e f o r de Teolojia E f p e c u l a t i v a . 7 0 .

Da
I N D \ C Et

Do P r o f e f o r de Teolojia Prática, . . . 7 4 »

C A P . V I I L Dos Compêndios. . n . 8 1 .

C A P . X I . Das Lisoes. . 82.

C A P . X . Dos Exercícios vocaes cotidianos. 83.

C A P X I . Dos E x e r c i d o s vocaes Semanários. 84.

C A P X I I . Dos Exercícios Semanários por eferito. 85*.

C A P . X I I I . Do tempo létivo , e feriado , e da

d e f t r i b u i f a â das âras do efludo em cada uma

das A u l a s . . y ibi,

C A P . X I V . Da f o r m a dos Exames anuaes. 87,

C A P X V Da i d a d e , que devem ter os E f i u d a n t e s

para J e poderem matricular em Teolojia. 8 Q *

C A P X V I . Dos Sermões , e OrasÕes , que em cada

ano f e ao de recitar no Colégio para exercitar

os Alunos. . ^ . 9 0 .

C A P , X V I I . De algumas advertências a refpeito

^ dos P r o f e f o res. , v y i .

C A P X V I I I . Da ordem das precedências nos Atos

Literários. _ . . . 0 2 .

C A P . X I X . Das OpozisÕes ás Cadeiras. . 0 3 .

C A P X X . Do Diretor dos E f l u d o s . . . 0 6 .

C A P X X I . Do Vice-Dirétor dos E f i u d o s . QJ*

C A P . X X I I . Da Congrega]"ao'Literária. p 8 .

C A P X X I I I . Do Secretario das Congregasoes L i -

terárias. . . i o o ~

C A P X X I V Do Bibliotecário. . .. . r o í .

C A P . X X V Do Oficio do Bedel . . * 103-

E S -
E S T A T U T O S

D O

S E M I N Á R I O E P I S C O P A L

DE NOSA SENHORA DA GRASA

D E P A R N A M B U C O .

A
e para
ra
NATUREZA

culpa
os
é
deleites
umana corrompida pela primei-

e m e x t r e m o
terrenos ,
propenfa para o erro,
e m os quaes parece
querer conltituir a fua felicidade. Se o ó m e m dcf-

de a fua tenra idade n a õ tiver q u e m o e d u q u e na

p i e d a d e , na R e l i g i ã o , e nos bons coftumes antes que

o p o í u a o os ábitos dos vicios, nunca virá a confe-

guir a perfeita obfervancia dos deveres de u m verda-

deiro C r i f t a õ , e das o b r i g a s ó e s da Sociedade , f e m

u m grande , e extraordinário auxilio da O n i p o t ê n -

cia.
Por efta razaó a I g r e j a d i v i n a m e n t e iluftrada ,

d e t e r m i n o u -ouvéfe e m cada B i f p á d o u m C o l é g i o ,

que fofe unicamente d e p u t a d o para a e d u c a f a õ da

M o c idade, e rejido nos eítudos das v i r t u d e s , e das

ciências c o m tao particular cuidado, que efe C o l é -

g i o feja u m p e r p é t u o S e m i n á r i o de M i n i f t r o s de

D e u s .
L o g o que a D i v i n a Providencia N o s p ô s ( f e m

merecimentos n ó f o s ) no governo da Igreja de Par-


A nam-
% Ejlatutos do Seminário E p i f c o p a l

n a m b u c o , as nófas primeiras viftas fe dirijiraó a

p ô r e m e x e c u f a ó u m a o b r a , que á l e m de fer grande-

m e n t e recomendada pelos Padres d o C o n c i l i o T r i -

dentino , é e m íi m e f m a o mais p r ó p r i o objeto da

v i g i l â n c i a , e cuidado dos Paftores da Santa Igreja.

E por i f o N ó s f e m perdermos t e m p o , n e m perdoar-

m o s a trabalho c u i d á m o s e m crear , e eftabelecer

na C i d a d e de O l i n d a u m C o l é g i o , para nele fe inf-

truir a M o c i d a d e da nofa D i o c e z e no c o n h e c i m e n -

to das verdades da R e l i g i ã o , na p r á t i c a dos bons

coftumes , c nos eftudos das artes , e ciências , que

f a ó necefárias para pulir o ó m e m , e fazer M i n i f -

tros dignos de fervirem á I g r e j a , e ao E f t á d o .

Para efte fim concorreu piedoza , e liberalmen-

te a N o f a A u g u f t a Soberana f e m p r e p r o n t a a fazer

felices os feus vafalos , doando á M i t r a de P a r n a m -

b u c o p o r f e u A l v a r á de 22 de M a r f o de 1 7 9 6 a

C o l é g i o , e I g r e j a , que f o i dos Jezuitas , c o m - t o -

das as fuás pertenfas ; para nele eftabelecermos os

fundos necefários para a fuííftencia d o m e f m o C o -

l é g i o ; e darmos u m a n o r m a , pela qual fe dirija

a obfervancia^ d o g o v e r n o d o m e f t i c o , dos coftu-

mes y e das ciências ; d i f p o n d o e m breve regula-

m e n t o u m plano , p e l o qual fe ájaó de rcjer c o m

f r u t o os A l u n o s defte n o v o C o l é g i o .

E p o r q u e f a ó tres as m a t é r i a s diferentes , de

que fe c o m p õ e m t o d o o edifício deita grande obra y

c o n v é m á f a b e r , a economia d o g o v e r n o interior

da C a z a , o r e g u l a m e n t o dos c o f t u m e s , e o da d i -

refao dos E f t u d o s , que f a z e m t o d o o caráter de u m

C o l é g i o regular • p o r i f o d i v i d i m o s cftes Eftatutos

e m
âe N , S. da Grâsa âe Tarnambuco. $

e m tres p a r t e s , das quaes a i . a


trata da obfervancia

E c o n ô m i c a , a i . a
da M o r a l , a 3," da Literária.

E c o m o N o s naÕ poupamos a a l g u m trabalho,

para que eíles Eftatutos faiao conformes ao fim , que

p r e f c r e v e o d i t o C o n c i l i o ; quanto p e r m i t i r e m as

forfas do n o f o Paftoral O f i c i o , p o d e m o s ter u m a

efperanfa b e m fundada de que p o r eles fe f o r m e m

fujeitos dignos da n o f a e x p é t a f a õ , e que íirvaò de

gloria ao C o l é g i o , de ornamento á Pátria ; de utili-

d a d e á I g r e j a ? e de b e m ao Eftado.

A i i P A R -
Ejlatutos do Seminário E p i f c o p a l

P A R T E P R I M E I R A .

Que contém o que pertence á obfervancia

E c o n ô m i c a .

CAPITULO L

Da eleisao que fe d de fazer dos Seminarijtas pobres.


y

R
car
EFLETINDO

nas v i r t u d e s
Nós feriarnente, que a erefao dos

S e m i n á r i o s f o i p r o p r i a m e n t e inftituida para edu-


e c i ê n c i a s os M e n i n o s p o b r e s ,
y e
ó r f ã o s , inabilitados para fe p o d e r e m fuftentar nos,

eftudos y e que para fe c o n í e g u i r efte í i m c o m o

fruto dezejado é necefaria regra p o r onde fe r e g u -

le a efcolha dos q ú e a ô de fazer a c o r ç o r a f a õ d e f -

tes A l u n o s ; d e t e r m i n a m o s os E f t a t u t o s feguintes.

§. i . Q u e o f u j e i t o , que ouver de fer a d m i t i d o

a C o l e g i a l d o n ú m e r o , deve fer natural d o B i f p a -

do , p o b r e , ó r f a ó , ou filho de Pais pobres y q u e

n a ò t e n h a ò poíibilidade para o fuftentar nos eftu-

dos ; e que feja á v i d o de legitimo m a t r i m ô n i o , fem.

nota y o u i n f â m i a de j é r a f a ó das reprovadas e m

D i r e i t o \ e que ao m e n o s tenha doze anos de

idade.

§. 2. Q u e faiba ler 7 e e ferever fuficiente m e n -

te y que feja d e e n j e n h o v i v o y e b o m p r o c e d i m e n -

to ; c que n a ô feja axacado, doente y o u c o n t a m i -

nado de m a l contajiozo.

§. 3.. Q u e de todas a s F r é g u e z i a s d o B i f p a d o

í e -
de JST. S . da G r a f a âe Parnambüco. f

f e g u i d a m e n t e fe ao de tirar os Colegiaes , que

ao de preenxer o n u m e r o y que fe ouver de eilabe-

lecer , para f e r e m educados á cuíta d o C o l é g i o :

b e m entendido , que n e n h u m a F r é g u e z i a ficará ex-

cluída de d á r a f e u t e m p o u m M e n i n o pobre para

C o l e g i a l d o n ú m e r o ; exceto n o cazo e m que o n a ò

tenha c o m os requizitos aíima declarádos j mas en-

t ã o ficará efa F r é g u e z i a efperada para a outra v e s ,

que p o r f e u t u r n o l h e tocar.

§. 4. Q u e as duas F r é g u e z i a s d o R e c i f e , e de

Santo A n t ô n i o , c o m o mais populozas > e que mais ao

de concorrer para a fuílentafaõ de obra t a õ pia y

c o m o é a de u m S e m i n á r i o de e d u c a f a ò de M e n i -

nos pobres y t e r á o o privilejio de aprezentar cada

u m a delas dois E í t u d a n t e s feus naturaes para f e r e m

educados n o C o l é g i o ; mas á cada u m a das outras

( f e m e x c é f a õ da da B o a v i í t a ) n a õ fe aceitará mais

d o que u m f ó de cada ves y que l h e tocar \ e f e

repetirá efte privilejio d o n ú m e r o dobrado a fa-

vor das ditas duas F r é g u e z i a s todas as vezes, que

pela alternativa dos feus turnos lhes tocar o dar

Colegiaes , depois de t e r e m concorrido as outras

c o m os feus,

CAPITULO II.

Do modo âa eleisao e entrada dos Colegiaes do número*


5

P
que
ARA naó aver para o futuro alterafao fuítan-

cial ,
a boa
o u i n t r o d u f a õ
o r d e m e
de
juílifa
} y
abuzo
que
, que
deve
prejudi-
regular os
que
6 E j l a t u t o s do Seminário E p t f c o p a t

que v i v e m e m C o m u n i d a d e e m u m m e f m o efpirito,

e debaixo de u m a m e i m a o b f e r v a n c i a ; determinamos

o feguinte.

§. 5- Q u e l o g o que vagar a l g u m lugar de

C o l e g i a l d o n u m e r o , o R e i t o r d o C o l é g i o fará

avizo ao P r o v i z o r d o B i f p a d o , para que na nofa

C â m a r a m a n d e lavrár E d i t a l , que ferá p o r ele aii*

n a d o , e felado d o n o f o Selo m e n o r ; e para a F r é -

guezia , a que pertencer d á r C o l e g i a l f e g u n d o a

ó r d e m d o feu t u r n o , ferá r e m e t i d o o m e f m o EditaL

declarando-fe nele o lugar v a g o de C o l e g i a l d o nume-

r o , as qualidades , que deve ter o Sujeito , que per-

tender entrár n o dito l u g a r na f o r m a que fica orde-

nado nos E f t a t u t o s i.° e 2. 0


, e o t e m p o que f e

p e r m i t e de efpéra para que os Pertendentes da d i -

ta F r é g u e z i a aparefao c o m íuas p e t i f ó e s ; c u j o t e m -

p o ferá regulado p o r d é s dias contados da p u b l i c a -

faó d o E d i t a l naquelas F r é g u e z i a s , que n a õ tive-

r e m mais de duas legoas de extenfao , e de v i n t e

dias nas que c o m p r e e n d e r e m m a i o r extenfao : e o

P á r o c o da F r é g u e z i a ferá o b r i g á d o a publicar o d i -

to E d i t á l á eftafáô da M i f a C o n v e n t u á l , e afixálo

na porta da I g r e j a p e l o t e m p o nele d e t e r m i n a d o ;

findo o q u a l , o r e m e t e r á ao m e f m o P r o v i z o r c o m

certidão fua de que e x e c u t o u na f o r m a 3 q u e nele

fe declara.

§. 6. Q u e e m a t e n f a ò á grande diltancia, e m

que ficaó as F r é g u e z i a s d o C e r t a õ , e que f e m n o -

tável i n c o m o d o n a õ p o d e r á ò os Pertendentes v i r

de t a ó l o n g e requerer a f u a entrada n o C o l é g i o

c o m á d u v i d a de f e r e m , o u n a ò a c e i t o s ; d e t e r m i -

n a m 3S
âe 2?. $ . da Gr asa âe Pamanibuco. 7

namos que , f e n d o publicado o m e n c i o n a d o E d i t a l

em a l g u m a das F r é g u e z i a s d o C e r t a ó , o P á r o c o

j u n t a m e n t e c o m o V i g á r i o Foraneo d o d e í l r i t o , ( e

fendo efte o p r ó p r i o P á r o c o , c o m o u t r o P á r o c o

mais v i z i n h o ) , e c o m a p r o v a f a õ dos V é r e a d o r e s d o

Senado da C â m a r a refpétiva , p o d e r á elejer u m

E f t u d a n t e , que tenha as qualidades , e requizitos-

declarados n o E d i t á l ; e n a õ ferá p o r N ó s a d m i t i d o

ao C o l é g i o , f e m N o s arprezentar c o m . a fua p e t i f a õ

a c e r t i d ã o d o f e u b a t i f m o , e as tres ateftafões da

fua eleifaõ pafadas pelos referidos P á r o c o , V i g á -

rio Foraneo , e' V é r e a d o r e s .

§• 7 Q u e n e n h u m C o l e g i a l ferá admitido n o

C o l é g i o f e m a p r o v a f a õ , e licenfa nofa p o r efcrito.

§. 8. Q u e o Pertendente , que f o r p o r N ó s ad-

m i t i d o para entrar n o C o l é g i o , a p r e z e n t a r á o n o f o

d e f p á x o ao R e i t o r d o C o l é g i o , o qual lhe deter-

m i n a r á o dia da fua entrada ; e nefe dia perante

duas , o u tres t e f t e m u n h a s , que o c o n d u z i r e m , o u

de outras d o m e f m o C o l é g i o , declarará ao Perten-

dente o fim para que é a d m i t i d o ao C o l é g i o ; que

é o aproveitar nas virtudes , e ciências necefarias

para b e m fervir á I g r e j a e m utilidade do p r ó x i m o ;

e l h e intimará a o b e d i ê n c i a , e refpeito , que deve

ter a todos os feus Superiores , e aos P r o f e f o r e s ,

c o m os quaes ouver de aprender ; e finalmente a

obfervancia deftes Eftatutos , e das o b r i g a f õ e s , e

encargos , a que deve e f h r fujeito p o r todo o t e m -

p o , que eftiver n o C o l é g i o , f o b pena de fer caf-

t i g a d o , a t é fer lanfado fora d o m e f m o C o l é g i o . E

ouvida afim a p r o m e f a , que o Pertendente deve


dar
g E j l a t u t o s do Seminário E p i f c o p a T

dar p o r palavras claras , e exprefas de m o d o que

p e r c e b a õ todos os que e í t i v e r e m prezentes , pr ace-

d e r á ao ato de l h e fazer veítir a Beca de Colegial.

CAPITULO III.

Do veflido , e calfado , de que aode uzar os

Colegiaes,

P uzo
EDE a boa economia , que os vellidos para o

de caza fejaó diverfos daqueles , que


t r a z e r os C o l e g i a e s , q u a n d o aparecerem e m
ao de
p u b l i -
co , o u fairem á r u a : para o que o r d e n a m o s o f e -

g u i n t e .

§. o . Q u e á l e m da cama , e r o u p a b r a n c a ,

que d e v e m trazer das fuás cazas para o f e u u z o ,

trarão t a m b é m u m r o u p ã o de d r u g u e t e p r e t o , a

que x a m a õ f a m á r r a , f e m fobremangas , abotoado

t o d o p o r d i a n t e , d o qual u z a r á õ cotidianamente n o

C o l é g i o , e nas Aulas : n o p u b l i c o p o r é m , e n a

rua a n d a r ã o veítidos de beca de durante r o x o claro

f e m m a n g a s , e aberta a l g u m tanto pelos lados c o m

cauda, que dobre n o x a õ u m p a l m o ; a qual deve

fer apanhada debaixo d o b t a f o e f q u e r d o , q u a n d o

c a m i n h a r e m ; e a n d a r á f e m p r e fobre batina , que

defa abotoada a t é os tornozelos e f o b r e a m e fina

b é c a a c o m o d a r á õ a eftóla , que ferá de durante ver-

de , cujo m e i o fique pendente f o b r e o p e i t o , e as

duas pontas lanfadas f o b r e os o m b r o s , para as c o i f a s ;

e teráò o p e f c o f o coberto c o m c a b e f a õ , e volta ; e na

m a ô , o u na cabefa traráõ gorros de p a n o , o u de d r u -

g u e t e
de N . S . da Gr asa de Pamamlucõé p

guete p r e t o , q u e n a õ e x c e d a õ o c o m p r i m e n t o de

dois palmos.

§. 10. Q u e as m e i a s , fapatos, e fivelas fejaó

proporcionadas á fua p o b r e z a ; e quando fairem á

rua , leyaráõ meias de laia pretas, o u de linha de

cor o n e f t a , mas nunca de feda ; p o r f e r e m i m p r ó -

prias da pobreza , a c u j o titulo foraõ admitidos.

§. n . Q u e ferá cada u m o b r i g a d o a trazer

uma área , o u b a ú , e m que fe a c o m o d e , e g u a r d e

a f u a roupa , afim branca, c o m o de c o r , para fer

c o n f e r v á d a c o m o d e v i d o afeio ; e de toda efa rou-

pa fe fará u m r ó i c o m toda a individuafaõ , o q u a l

ferá afinado pelo V i c e - R e i t o r , e pregado no interior

do t a m p o da m e f m a área, para p o r ele fe t o m a r c o n -

ta da r o u p a , que l e v o u para o C o l é g i o , quando

ouver de fair d e l e , o u todas as vezes que ao R e i -

tor parecer. A f i m c o m o t a m b é m da r o u p a , que ca-

da u m d é r a lavar, fará de f u a letra u m r ó i , para

por ele fe lhe p o d e r entregar; e para fe evitarem

os d e f c a m i n h o s , que p o d e m acontecer, deve toda

a roupa branca fer marcada.

§. 12. Q u e o C o l é g i o de tres, e m tres anos

ferá o b r i g a d o a d á r b é c a nova aos Colegiaes d o

n ú m e r o , excetuando a primeira , a qual deve cada

u m trazer de fua caza, para entrar n o C o l é g i o ; co-

m o t a m b é m deve trazer os livros , que lhe f o r e m

necefarios para os eftudos. I g u a l m e n t e ferá o C o -

l é g i o o b r i g á d o a mandar lavar á fua eufta a r o u p a

branca de t o d o s os C o l e g i a e s , e das p e f o a s , que fer-

v i r e m nele ; e a l é m difo a ter Barbeiro , C i r u r g i ã o ,

e M e d i c o p a g o s anualmente , para fazer as bar-

B bas
t o Ejlatutos do Seminário Epijcopal

bas duas vezes na feraana aos q u e difo n e c e l í t a r e m ;

e para curar nas doenfas os Colegiaes d o n ú m e r o ,

q u e f o r e m t a õ pobres , que n a õ t e n h a õ e m fuás

cazas pofibilidade para o f a z e r ; e dar-lhes os r e m é -

dios , e as g a l i n h a s , que f o r e m precizas, para as

enfermidades , que t i v e r e m , depois de entrarem no

C o l é g i o ,

CAPITULO IV

Dos Colegiaes Extranumerarios , ou Porcionistas.

N
vina
AO foi iníHtuida taõ fomente para os pobres

a f u n d a f a õ dos S e m i n á r i o s :
Providencia , que a pequenos ,
á i m i t a f a õ da D i -
e grandes , a
p o b r e s , e ricos abrange g e r a l m e n t e c o m os tezoi-

ros da f u a M i z e r i c o r d i a , d e t e r m i n o u a Santa I g r e -

j a que dos S e m i n á r i o s , que m a n d o u inftituir para os

pobres , n a õ f o f e m excluidos os ricos , c o m tanto

que eíles fe f u f t e n t e m á fua cuíla. ,P o r efta razaõ

conformando-nos c o m as pias i n t e n s õ e s da I g r e j a

declaramos , que feraõ a d m i t i d o s n o C o l é g i o os

filhos d a q u e l a s pefoas, que fe o b r i g a r e m a dar anual-

m e n t e a congrua fuficiente para a fua f u f t e n t a f a ó :

para o que determinamos o f e g u i n t e .

§. 13. Q u e l o g o que f o r p o r N ó s aceito al-

g u m Poreionifta , o qual d e v e r á ter a m a i o r parte

das qualidades, que ficaõ declarádas nos E í t a t u t o s

i.° e 2 . 0
, irá j u n t a m e n t e c o m f e u P a i , T u t o r , ou

Procurador , ajuftar c o m o R e i t o r d o C o l é g i o a con-

grua a n u a l , c o m que d e v e contribuir para a f u a fuf-

teii-
âe j f V . «T. da Gr asa âe Pamamhueo. t *

t e n t a f a õ ; e o m e f m o R e i t o r l h e fará faber a congrua,

que avemos eftabelecer , f e g u n d o a cariftia dos t e m °

pos ocurrentes , f e m que fique lezado o C o l é g i o .

§. 14. Q u e a mencionada congrua , para os

alimentos d o C o l e g i a l PorcioniUa , ferá p a g a adian-

tada , e fatisfeita ao m e f m o R e i t o r , l o g o no prin-

cipio de cada ano létivo ; o u fe preítará fianfa de

pefoa abonada moradora na C i d a d e de O l i n d a , o u

na V i l a d o R e c i f e , que fe o b r i g u e , p o r efcri-

to afinado p o r ambos , a pagar p r o n t a m e n t e t o -

dos os q u a r t é i s , debaixo da pena de que faltando

a a l g u m quartel fer o C o l e g i a l d e f p e d i d o ; o que

fe fará antes da entrada do C o l e g i a l , para cuja

r e c é f a õ , fe obfervará t u d o o que fica determinado

nos Eftatutos , 8 , 9 , e 11

§. 1^ Q u e os Colegiaes Porcioniftas , para fe

confervar a u n i ã o , e u n i f o r m i d a d e da Sociedade, ao

d è fer tratados na m e z a , e c o m i d a c o m igualdade

aos Colegiaes do n ú m e r o : da m e f m a f o r m a feraÕ

obrigados a uzar de veftidos , p r i n c i p a l m e n t e ex-

teriores , f e m diferenfa alguma dos outros; por fer

conveniente que aqueles , que v i v e m c o m o irmãos

e m u m a m e f m a C o m u n i d a d e , fe viítaõ dos m e f -

m o s trages , e fejaò rejidos pelas m e f m a s l e i s , e

c o f t u m e s , das quaes n e n h u m Porcionifta ferá j á -

mais e x c é t u a d o , n e m difpenfado , por mais diltin-

to , e rico que f e j a ; e efte Eftatuto lhes ferá lido

nos dias das fuás entradas, para que l o g o fiquem

perdidas as efperanfas de toda , e qualquer diifin-

f a ò , que n a õ lhes ferá a d m i t i d a , p o r fer prejudicial

ás C o m u n i d a d e s .
B i i C A -
r % E j l a t u t o s do Seminário Epifcopaí

CAPITULO V.

Do Refeitório.

C de
efpirito
OMO efte Colégio é Caza de criafao de pefoas

m e n o r idade
e m
,
d e c o r a r as
que
lisões
t r a b a l h a õ
dos
c o m t o d o
feus eftudos ,
o
e
f a õ de natureza cálida , e de fácil d i g e f t a õ , é

necefario , que fejaõ alimentados p o r vezes en-

tre dia , para que n a ó acontefa enfraquefer-fe efa

m e f m a natureza c o m a falta de a l i m e n t o , e v e n h a ó

a perder-fe as defpezas d o C o l é g i o , e dos P á i s ,

q u e nele d e p o z i t a r e m feus filhos : d e t e r m i n a m o s

§. 1 6 . Q u e todos os d i a s , que n a õ f o r e m de

j e j u m de p r e c e i t o , o u S á b a d o ( d i a que é propria-

m e n t e dedicado a N o f a S e n h o r a , de q u e m d e v e m

fer m u i t o devotos todos os que eftudaõ ) aos três

quartos para as oito oras da m a n h a a v e r á n o R e -

feitório almofo p r o n t o para os C o l e g i a e s . N a Q u a -

r e f m a p o r é m a l é m dos S á b a d o s ferao t a m b é m exce-

tuadas as quartas feiras, e m as quaes d e v e m jejuar

os que n a õ t i v e r e m a idade c o m p e t e n t e para a

o b r i g a f a õ d o j e j u m ; para que afim fe v a õ l o g o

a c c f t u m a n d o para q u a n d o a t i v e r e m .

§. 17. Q u e ás onze óras e m e i a da m a n h a fe

tafa final c o m a c a m p a para o j a n t a r , o qual nunca

conftará de m e n o s d e q u a t r o pratos c o m o da f o -

b r e m e z a : e afim que e n t r a r e m todos para o R e -

feitório , o R e i t o r , o u o u t r o Sacerdote de f e u m a n -

dado , e í t a n d o todos c m p é p o r diante das mezas 5

as
de N . S . da Gr asa de Pamamhucê. 13

as b e n z e r á c o m as preces, que trás o Breviario ; e

n e n h u m fe fentará , f e m que p r i m e i r o fe fente o

R e i t o r , V i c e - R e i t o r , e as outras pefoas de maior

idade , o u authoridade; depois do que t o m a r á cada

u m o a f e n t o , que lhe c o m p e t i r pela o r d e m das fuás

a n t i g ü i d a d e s n o C o l é g i o ; exceto os Colegiaes ,

que f o r e m de Ordens Sacras , os quaes d e v e m pre-

ferir aos de O r d e n s M e n o r e s , e aos S e c u l a r e s , ainda

que eftes f e j a õ mais antigos.

§. 18. Q u e l o g o que eltiverem fentados á m e -

za y u m dos Colegiaes p o r fua alternativa ( que

ferá continuada p o r cada femana ) f u b i r á ao p ú l p i -

to , o u cadeira para i f o defhinada , e lerá u m ca-

p i t u l o da Sagrada E f c r i t u r a , e lifaõ e f p i r i t u a l , á

qual eítaráõ todos atentos , dando paíto ao efpirito,

ao m e f m o t e m p o que alimentao o corpo ; e n a õ

p o d e r á õ falar uns c o m os outros e m t o d o o t e m p o

da m e z a ; a qual acabada, fe fará a afaõ de grafas

da m e f m a f o r m a que fizeraõ á entrada d o R e f e i t ó -

rio , f a i n d o todos p o r fua o r d e m e m f e g u i m e n t o

d o R e i t o r . E imediatamente depois de jantar ave-

rá repouzo p o r efpafo de u m quarto de ó r a , pa-

ra e n t a õ converfarem uns c o m os outros e m lugar

para i f o d e p u t a d o , a t é que fe faía final para f e

recolherem.

§. 19. Q u e nas tardes dos D o m i n g o s , e dias

Santos de guarda , c e m alguns dias feriados , que

ao R e i t o r parecer conveniente, averá merenda para

todos os Colegiaes , os quaes c o m ê r á õ juntos na

m e f m a meza c o m o i r m ã o s , f e m aver feparafaõ uns

dos outros j e n a õ lhes ferá p e r m i t i d o levar coiza


al-
1 4 E j l a t u t o s do Seminário E p i f c o p a t

a l g u m a da m e z a ; para aíim fe evitar a g o l o d i c e ,

e a o c a z i a õ de n u t r i r p a i x õ e s .

§. 2 0 . Q u e ás n o v e oras da n o i t e fe fará final

para a cêa*, q u e f e m p r e conftará de dois pratos,

exceto nos dias de confoada e m obfervancia do je-

j u m , e m c u j o t e m p o averá t a m b é m lifaò efpiri-

t u a l , e fe o b f e r v a r á t u d o o mais, que aíima fica dif-

p o f t o a efte r e f p e i t o nos Eftatutos 17. e 18. E

imediatamente depois de c ê a a v e r á m e i a ora de re-

p o u z o da m e f m a f o r m a , que fica d i t o n o Eftatuto

18. F i n d o o d i t o t e m p o , fe t o c a r á a íilencio , e

fe r e c o l h e r á õ todos aos feus cubiculos para fe dei-

t a r e m ; e f e m licenfa n e n h u m p o d e r á d o r m i r c o m

lus.

CAPITULO VI.

Do cuidado, que deve aver dos Enfermos.

N mais
t e n d i d o
A aíiftencia , e cuidado dos Enfermos é onde

que
fe deve efmerar
fe agrada mais
a Caridade
a D e u s
; b e m
n e í l e
en-
fervi-

f o , d o que e m qualquer o u t r o ; pois que o m e f m o

R e d e n t o r reputa c o m o feito a fi p r ó p r i o t u d o aqui-

lo , que fe fás aos E n f e r m o s : p o r i f o d e t e r m i n a -


m o s

§ . 2 1 . Q u e tanto q u e - f o u b e r e m que a l g u m

dos C o l e g i a e s eílá e n f e r m o , a v i z a r á õ l o g o ao R e i -

tor , o q u a l f e m perda de t e m p o m a n d a r á x a m a r o

M e d ico \ e j u l g a n d o que p o d e r á fer moleíria

g r a v e , dará parte aos P a i s , o u T u t o r e s d o E n f e r m o ,

para
de'27. S . da Çrasà de Pamamhico.

para p m a n d a r conduzir para fua c a z a , podendo f e r ,

aliás ferá curado no C o l é g i o ; e n o m e a r á u m , o u

dois C o l e g i a e s , que parecerem mais caritativos , pa-

ra E n f e r m e i r o s d o doente , os quaes ficaráõ encar-

regados de afiftir ao E n f e r m o c o m f r e q ü ê n c i a ; e

de fazer que a caza , e cama do doente eftejaõ l i m -

p a s , e afeadas; que a c o m i d a feja feita a feu t e m -

p o , e c o m m u i t a l i m p e z a ; e fe na cozinha ouver

a l g u m defeuido , o fafao faber ao R e i t o r para d á r

a devida providencia. O m e f m o R e i t o r , o u V i c e -

R e i t o r d e v e r á afiftir ao M e d i c o , quando vizitar ao

E n f e r m o , e fazer t o m a r por eícrito todas as fuás

d e t e r m i n a s õ e s , encarregando ao E n f e r m e i r o a i n -

teira fatisfafaõ delas ;e dará todas as providencias,

para que nada falte ao E n f e r m o , afim d o fuftento

p r ó p r i o dos d o e n t e s , c o m o dos r e m é d i o s , que lhe

f o r e m receitados.

§. 22. Q u e os r e m é d i o s da botica , e outras

defpezas extraordinárias , que fe fizerem c o m os E n -

fermos Porcioniftas , feraõ p a g a s , e fatisfeitas p o r

conta dos m e f m o s Porcioniftas ; para que afim n a õ

fiquem p r e j u d i c a d a s as rendas do C o l é g i o , gaftan-

do-as c o m os que delas n a õ neceíitaõ.

§. 2 3 . Q u e fendo grave , e de perigo a enfer-

m i d a d e , que neceíite o E n f e r m o de receber os Sacra-

m e n t o s do Viatico , e E x t r e m a U n f a Õ , lhos a d m i -

niftrará o R e i t o r , o u o u t r o 'Sacerdote, que^ ele de-

terminar , nao fendo fora de oras ; porque e n t a õ irá

da nofa S é : e por efte n o f o E f t a t u t o , concedemos

licenfa perpetua aos Reitores do n o f o C o l é g i o ,

para p o d e r e m adminiftrar aos feus S ú d i t o s os ditos


Sa,
1 6 E j l a t u t o s do Seminário E p i f c o p a l

Sacramentos , ficando falvo o direito d o P á r o c o

neíta m a t é r i a e m v i r t u d e defta n o f a faculdade.

E para fe fazer c o m a devida folenidade a admi-

niítrafaõ dos fobreditos Sacramentos , fe fará final

c o m a c a m p a , para que concorra toda a C o m u n i -

dade a acompanhar c o m vélas acezas. E xegando

o E n f e r m o a termos de agonia , fe fará outro final

d i v e r f o , para que todos c o n c o r r a õ a e n c o m e n d a r a

fua alma c o m as p r e c e s , e ladainha para i f o delti-

nadas pela Igreja.

§. 24. Q u e acontecendo falecer dentro do

C o l é g i o a l g u m C o l e g i a l , o u outra pefoa domeftica

d o m e f m o C o l é g i o , o R e i t o r c o m a fua C o m u n i -

dade , f e m i n t e r v e n f a õ d o P á r o c o d o l u g a r , d ê fe-

pultura ao corpo d o f e u S ú d i t o n o c e m i t é r i o da

I g r e j a d o C o l é g i o , e lhe fafa os ofícios de fepul-

t u r a , e mais f u f r a g i o s , f e m levar p o r eles d e i h i -

b u i f a õ alguma ; e p o d e r á f o m e n t e levar a e f m o l a da

M i f a , o u M i f a s , que o P a i , o u T u t o r d o m e f m o

d e f u n t o lhe m a n d a r e m dizer. E para o R e i t o r afim

o poder fazer licitamente , p o r eífe n o f o E í t a t u t o

igualmente lhe d a m o s plena faculdade , e licen-

fa perpetua , ficando ao P á r o c o d o d o m i c i l i o do

d e f u n t o falvo o direito , que t i v e r , para l h e fazer o

O f i c i o Paroquial na f o r m a das C o n f t i t u i s ó e s d o

B i f p a d o . P o r é m f è a l g u m dos que falecerem n o C o -

l é g i o tiver p e d i d o , o u deixar d i f p o f t o , que fe en-

terre o feu corpo e m outra I g r e j a , c o m tanto q u e

feja dentro d o deftrito da f r é g u e z i a d o C o l é g i o ; or-

d e n a m o s , que l o g o depois de ter falecido , fe m a n -

de avizo ao P á r o c o , a q u e p e r t e n c e r , para que fafa

o
âe N . âa Gr asa âe f a r n a m l u c â l i ?

Ó enterro c o n f o r m e faria c o m o u t r o qualquer F r e -

g u ê s , v i n d o r e c e b e r , e encomendar o cadáver á

Portaria , o u I g r e j a d o C o l é g i o , para o levar a en*

terrar á I g r e j a , que tiver e (colhido.

CAPITULO VIL

Do Oficio do Reitor.

O Reitor, que deve fer efcolhido com muita cir-

c u n f p é f a o , e ter todas as c o n d i s o e s , q u e
r e q u e r e m , para a boa e d u c a f a õ , e g o v e r n o da
fe
M o
cidade , t e m a f e u cargo vigiar continuamente f o -

bre a obfervancia deites E í t a t u t o s , para que eles fe

n a õ relaxem , antes p o r á todos os feus esforfos pa-

ra os p r o m o v e r mais ; e p o r i f o deve fazer que t o -

das as o b r i g a s õ e s , afim d e n t r o c o m o fora de C a z a

fe executem c o m perfeifaõ.

A r e f p e i t o da o b r i g a f a õ de fora de C a z a , de-

v e fer f u m a a vigilância d o R e i t o r e m duas coizas,

primeira e m fazer cobrar os rendimentos d o C o l é -

g i o , e p ô r t o d o o cuidado e m que fe n a õ perca a l -

g u m a das fuás rendas, o u dividas, p o r falta de d i -

ligencia ; f e g u n d a e m vigiar fobre os Colegiaes 9

afim dentro de C a z a , c o m o fora d e l a , nas faidas

que fizerem a p a f e i o s , admoeftando-os que m o í t r e m

a gravidade , e c o m p o f t u r a , que é p r ó p r i a da C a z a

e m que v i v e m , e da beca que v e f t e m , portando-fe

e m todos os l u g a r e s , onde fe axarem , c o m tal

m o d e í t i a , e feriedade, que t e n h a õ m u i t o que apren-


C der
18 E j l a t u t o s do Sèmmarlo E p i j t o p d l

der os outros ó m e n s , que n a ò fe e m p r e g a 6 e m cul-

tivar o j u i z o c o m a liiaó das ciências.

Pelo que r e f p e i t a ás o b r i g a s õ e s de portas a

d e n t r o , deve ter e í p e c i a l cuidado e m eníinar aos feus

S ú d i t o s desde a tenra i d a d e , a penfar b e m , fa-

zendo-os ver as coizas p e l o efencial delas ; tiran-

do-lhes as p r e o c u p a s õ e s , que lhes p o d e m f e r cau-

za de erros; e enlinando-os a c o n h e c e r , e praticar

os tres ofí;ios p r ó p r i o s d o ó m e m , ifto é , para com

D e u s feu G r e a d o r , para c o m íigo m e f m o s , e para

c o m os outros ó m e n s , d e cujos ofícios procede a boa

a r m o n i a da Sociedade , da qual f a ó m u t u a m e n t e de-

pendentes todos os m e m b r o s dela.

O s meios para fe c o n f e g u i r efte fim de cada

u m fatisfazer b e m as fuás o b r i g a s ó e s , f a õ o lou-

v o r , e o p r ê m i o , a r e p r e e n f a õ , e o caftigo : o

que t u d o deve adminiítrar o R e i t o r c o m m u i t a

p r u d ê n c i a , d e p o n d o t o d o o efpirito de parcialida-

de , e t e m e n d o a o m i f a õ a r e f p e i t o das t r a n f g r e s õ e s

leves y que í a õ as que infenfivelmente e f t r a g a õ a

M o c i d a d e , e f a z e m c o m que os S ú d i t o s y alentados

c e m os defeuidos d o Superior , v e n h a õ deprefa a

cair nas graves ; p r o c u r a r á f e m p r e c o m f u m a pru-

d ê n c i a fer mais a m a d o , d o que t e m i d o , pois de-

ve atender que g o v e r n a Sujeitos de fac.il cem-

p r e e n f a ó , o b e d i ê n c i a , e d o c i l i d a d e ; e p o r i f o dif-

poflos para fe m o v e r e m m a i s p e l o s i m p u l f e s do

a m o r , d o que d o temor. I g u a l m e n t e terá grande

vigilância e m fazer q u e nada falte d o n e c e f a r i o pa<-

ra a f u f i f t m e i a dos feus S ú d i t o s , trazendo-os fem-

pre: contentes j e fatisfeitos para afim m s l h o r lhes


âe' N . S . âa Grata âe Pamambuco. 19

ganhar as^ v o n t a d e s , e l h e obedecerem c o m g o f -

to ; e quando a c o n t e c e r , que ája a l g u m incorriji-

v e l , N o s dará conta p o r eícrito das íúas tranfgre-

soes para l h e d á r m o s o r e m é d i o , que f o r conve-

niente.

A l é m dos fobreditos e n c a r g o s , terá o R e i t o r

o g o v e r n o , aíim t e m p o r a l , c o m o e i p i r i t u a l . d e t o d o

o G o l e g i o , fazendo as nofas vezes dentro dele :

para o que p o r efte n o f o E f t a t u t o o c o n f t i t u i m o s

p r i m e i r o Superior , e p r ó p r i o P á r o c o do n o f o C o -

l e g i o ' , f e m f u b o r d i n a f a ô a l g u m a ao P á r o c o d o def-

t r i t o , ainda m e f m o quanto á d e z o b r i g a q u a r e f m a l

de í i , e de todos os feus S ú d i t o s , que v i v e r e m , ê

abitarem dentro d o G o l e g i o , ficando f o m e n t e f u -

jeitos a N ó s , e ao n o f o P r o v i z o r , ao qual o R e i t o r

r e m e t e r á o rói das dezobrigas quarefmaes c o m cer-

t i d ã o de que ficaò dezobrigados dos preceitos da

C o n f i f a õ , e C o m u n h ã o na f o r m a que c o f t u m a õ , e

f a õ obrigados os outros P á r o c o s , f e m que lhes p o -

í à õ pedir a conhecenfa coftumada pela d e z o b r i g a ,

n e m o R e i t o r , n e m o P á r o c o d o deftrito, n e m dosi

domicílios dos que m o r a r e m no C o l é g i o , para os

quaes refalvamos t a õ f o m e n t e os direitos, que ficao

declarados nos Eftatutos 24. e 32.

E porque o R e i t o r t e m fobre II todo o g o -

v e r n o d o C o l é g i o , terá f u m o cuidado e m vigiar

fobre o procedimento , e eftudos dos Colegiaes , v i -

zitando algumas vezes na femana os cubículos d e

cada u m deles , nos tempos d o lilencio , e e m ó r a

incerta. E f ó c o n c e d e r á licenfas aos Colegiaes para

v i z i t a r e m a feus P á i s u m a ves e m cada m ê s , í e n -

C i d o
2 0 E j l a t u t o s ão Seminário E p i f c o p a l

d o na C i d a d e ; e deve uzar de t o d a a cireunfpéfao

e m conceder taes l i c e n f a s , p e l o p e r i g o de diftrai-

m e n t o , que nas faidas de C a z a f e adquire c o m fa-

cilidade -y e quando j u l g u e necefaria a faida de al-

g u m C o l e g i a l e m dia f e r i a d o , lhe afinará compa-

n h e i r o de conhecida p r o b i d a d e ; mas nunca lhes

c o n c e d e r á eftas licenfas e m dia l e t i v o , n e m a ir jan-

tar , o u pernoitar fóra de C a z a ; n e m para i r e m fóra

da C i d a d e f e m n o f a e f p e c i a l licenfa , da q u a l n a ó

p o d e r á õ uzar f e m que p r i m e i r o a a p r e z e n t e m ao

R e i t o r , para a a p r o v a r , o u contradizer, tendo r a z a õ

para afim o fazer , reprezentando-nos a q u i l o , que tal-

ve$ nos o c u l t o u o C o l e g i a l .

F i n a l m e n t e terá o R e i t o r n o f e u c u b í c u l o o

A r q u i v o d o C o l é g i o e m a r m á r i o f e x a d o , onde ef-

t e j a õ d e p o z i t a d o s , e b e m acondicionados todos os

livros pertencentes ao g o v e r n o interior d o C o l é g i o ,

afim os das m a t r í c u l a s , e entradas dos C o l e g i a e s ,

c o m o os das receitas , e defpezas , e f c r i t u r a s , lega-

dos , d o a s õ e s , e mais papeis pertencentes ao C o -

l é g i o , n a õ f ó os que e f t j v e r e m f e r v i n d o , mas t a m -

b é m os que j á eftiverem findos ; t u d o p o r fua or-

d e m , para deles dar conta anualmente , c o m o adian-

te irá declarado e m f e u lugar.

C A -
V
de N , S . da Gr as a de Parnambuco. u

C A P I T U L O V I I I .

Do Oficio do Fice-Reitor.

O
vernar
Vice-Reitor deve fer um Sacerdote feparado

d o C o r p o L i t e r á r i o , e que
o C o l é g i o
feja capas
nas faltas d o R e i t o r . E l e
de
é
g o -
p r o -

priamente o C o a d j u t o r , A j u d a n t e , e Suítituto d o

R e i t o r , e m cuja auzencia , o u i m p e d i m e n t o t o m a

f o b r e íi todo o g o v e r n o ; e p o r i f o deve ter m u i t a

p r u d ê n c i a , e atividade , e fer aprovado para C o n -

fefor. A o feu oficio pertence, quanto ao interior

d o C o l é g i o , zelar a obfervancia deites Eítatutos ,

p o r fer o Fifcal do C o l é g i o : cuidar e m que ande

o r e l ó g i o e m feu c u r f o ordinário , e que as c a m -

painhas fe t o q u e m a p o n t o para as aulas , e atos de

C o m u n i d a d e : mandar que as alfaias do C o r o , I g r e -

j a , e Sacriftia fejaõ tratadas c o m aceio , fazendo

varrer os d o r m i t ó r i o s , aulas, e mais cazas publi-

cas : vigiar fobre as oficinas , e feus oficiaes, para

que nada falte ás fuás oras : p r o v e r a d i f p e n f a ,

cuja xave eftará f e m p r e e m f e u poder ~ e ter toda

a i n f p é f a õ fobre os criados do C o l é g i o , e f p e c i a l -

m e n t e fobre o c o m p r a d o r , ao qual todos os dias

d e v e t o m a r contas dos dinheiros , que lhe entre-

g o u para os p r o v i m e n t o s , para as dar p o r efcrito

ao R e i t o r todos os S á b a d o s , e m os quaes d e v e m

elas f e r lanfadas no livro das defpezas.

Q u a n t o ao exterior do C o l é g i o , pertence a©

y i c e - R e i t o r , p ô r t o d o o cuidado e m cobrar , e

arre-
%i Ejlatutos d o Seminário E p i f ç o p a l

arrecadar todos os r e n d i m e n t o s d o C o l é g i o ; e fe

efte o u v e r de ter fundos , j u r o s , o u cazas, que fe

á j a ó de arrendar, N o s p r o p o r á u m a pefoa fidedig-

na , que c o m p r o c u r a f a 6 baftante d o R e i t o r , feja o

Procurador das rendas d o C o l é g i o , c o m o b r i g a f a õ de

Jhe dar contas todos os mezes d o que tiver cobrado,

para fer lanfado n o livro da receita , o qual todos

os anos fe á d e aprezentar na J u n t a , que eitabeiecer*

m o s , para t o m a r anualmente as contas da receita |

e defpeza d o C o l é g i o .

CAPITULO IX.

Do Oficio do SacriftaÕ.

OSugeito , que for efcolhido para Sacriitao, de-

v e fer pefoa fidedigna , e que prefte fiado?

abonado , que fe o b r i g u e aos d e f ç a m i n h o s , que

tiver a p r a t a , e mais alfaias da I g r e j a , e Sacriftia;

cujos m o v e i s lhe feraõ entregues p o r i n v e n t a r i o ,

ficando o livro deite e m p o d e r d o R e i t o r , que o

n a ó a d m i t i r á f e m a f o b r e dita fianfa. A o f e u oficio

pertence abrir todos os dias as portas da I g r e j a ,

acender as alampadas , efpanar os altares , varrer a

I g r e j a , Sacriítia , e C o r o , e tocar os finos para

as M i f a s , Feltividades , e mais oras c o í t u m a d a s en-

tre dia , e noite. E p o r q u e n a õ é tanto o traba-

l h o da S a c r i f t i a , que nele fe o c u p e o dia inteiro ,

ferá o b r i g a d o o S a c r i J k õ a fervir á M e z a n o R e -

feitório ao j a n t a r , e á c e i a , e fervirá t a m b é m o ofi-

cio de B e d e l , c o m o fe d i r á n a 3 / Parte deftes E & w

tutos Ç a p . 25-, C A -
d è Jf. <?. da G r a f a âe Parnámluco. 2 3

C A P I T U L O X .

Do Porteiro*

P Ara guardar a porta de um Colégio de Sujei-

tos de pouca idade , deve


conhecida p r o b i d a d e , que
fer eleito u m ó m e m
n a õ tenha outra
de
a l g u m a
o c u p a f a õ , mais d o que eítar vigilante de guarda na

portaria do" C o l é g i o , para ver o que p o r ela en-

tra , e f á e , entre d i a , e noite. E l e ferá encarrega-

d o de receber, e defpedir c o m política os S u j e i t o s ,

que p r o c u r a r e m as pefoas d o C o l é g i o : e fendo p r o -

c u r a d o na portaria a l g u m C o l e g i a l , o u vindo-fe-

lhe trazer a l g u m a carta , p a p e l , o u outra qualquer

coiza , que l h e feja m a n d a d a y n a õ fará a v i z o ao

C o l e g i a l f e m p r i m e i r o dar parte ao R e i t o r , o u V i *

ce^Reitor , e dele faber fe quer o u n a õ , que o C o -

legial v á receber a vizita , carta, papel , o u outra

coiza , que lhe f o r m a n d a d a ; e concedida a licenfa^

o p o d e r á x a m a r , o u fazer-lhe' avizo , e ifto fe entende

nas oras feriadas , e n a õ nas de filencio. N a õ c o n -

f e n t i r á , que entrem' n o C o l é g i o pefoas defconhe-

cidas , e que n a õ t e m dentro o c u p a f a õ a l g u m a r

e m u i t o p r i n c i p a l m e n t e mulheres : defpidirá c o m

boas palavras os pobres y qUC f o r e m á portaria ,

n a õ avendo que lhes d á r , o u c o m a e f m o l a , que

o R e i t o r mandar que fe lhes d ê ; e n a õ confínta y

que eles p a f e m da p o r t a para dentro : abrirá a

portaria l o g o depois da primeira M i f a , e a fexará a

ó r a s d e jantarj'abrirá' ás duas da t a r d e , e fexará ao

f o i
2 4 E j l a t u t o s do Seminário E p i f c o p a i

f o i p o f t o ; cujas xaves e n t r e g a r á ao R e i t o r ás nove

da n o i t e , e lhe d a r á c o n t a de t u d o o que entre

dia , e noite tiver acontecido na fua oficina para

ele lhe dar as p r o v i d e n c i a s , que f o r e m necefarias.

CAPITULO XI.

Dos ofícios interiores.

Do Barbeiro , e Refeitoreiro.

P Ede a economia do governo , que o Colégio,

tenha
m e n f a l ,
B a r b e i r o de caza , que
e m o r a d o r n o
feja t a m b é m
m e f m o C o l é g i o : o
co-
qual

a l é m da o b r i g a f a õ de fazer as barbas , e cortar o

cabelo aos de caza u m a , o u duas vezes na f e m a n a ,

c o n f o r m e exigir a necefidade ; terá t a m b é m a f e u

c u i d a d o o fervir de R e f e i t o r e i r o , trazendo f e m p r e

l i m p o , e aceado o R e f e i t ó r i o , p r o v e n d o - o de t u d o

o que f o r necefario ; fervir á m e z a ; acender o

candieiro d o R e f e i t ó r i o , q u a n d o f o r a oras de c ê a ,

e os dos d o r m i t ó r i o s , provendo-os p r i m e i r a m e n t e do

azeite, e torcidas competentes ; e c o n d u z i r da por-

taria para entregar a cada u m dos C o l e g i a e s pelo

f e u r ó i a roupa lavada , q u e trouxer a lavadeira ;

e da m e f m a f o r m a entregar a efta a r o u p a , que

fôr a lavar.

Do Cozinheiro.

Para C o z i n h e i r o deve fer e f c o l h i d o u m S u g e i t o , ,

que
de N . S . da Gr asa de Pamambuco. i $

que tenha boa i n t e l i g ê n c i a n o oficio de C o z i n h a ;

que feja fiel, e aceado no f e u m i n i f t e r i o , repartin-

do as p o r s õ e s c o m i g u a l d a d e , e tratando t u d o c o m

a l i m p e z a , que requer o c o m e í t i v e l , f e m faltar c o m

coiza a l g u m a ás oras competentes para n a õ fe i n -

verter o r e g u l a m e n t o da C o m u n i d a d e .

Da Ajudante da Cozinha.

Averá um Ajudante da Cozinha, que ferá um

criado abil para ajudar o C o z i n h e i r o n o fervifo da

C o z i n h a , acarretando de m a n h ã agua para ela , e

para as tálhas da C o m u n i d a d e - , e R e f e i t ó r i o ; e de

tarde e m lavar a l o i f a , c o b r e , e mais pertenfas da

m e z a , e C o z i n h a , e ir bufcar á D i f p e n f a o necefa-

rio para ela.

Do Cerqueiro.

A Cerca igualmente necefita de um criado,

que tenha inteligência de O r t e l a õ , para femear, e

plantar a feus t e m p o s a ortaiifa, que f o r necefaria ;

e fervirá t a m b é m de conduzir a lenha, que f o r pre-

ciza para a C o z i n h a , f e n d o o b r i g a d o todas as n o i -

tes a entregar ao R e i t o r as x a v e s d a s p o r t a s d a Cerca,

tanto da i n t e r i o r , c o m o da exterior.

Do Comprador.

Além dos fobreditos averá um Comprador, pa-

ra c u j o oficio f e e f c o l h e r á u m ó m e m fiel,e de sã
D con-
2 6 ÉJlatutos do Seminário E p i f c o p a i

conciencia , o qual irá c o m p r a r todos os dias a oras

competentes a carne, p e i x e , e mais coizas necefa-

rias para a C o m u n i d a d e , f e g u n d o as ordens, que

lhe der o V i c e R e i t o r , ao q u a l todos os dias dará

conta d o d i n h e i r o , que lhe f o r entregue , e do

e m p r e g o , que fes.

CAPITULO XII.

Do Cofre, que deve ter o Colégio.

P Ara perfeito regulamento das rendas do Colé-

g i o , e mais f e g ü r o m é t o d o da fua corifervafaõ,


averá n o c u b i c u l o d o R e i t o r u m C o f r e feito e o m toda

a feguranfa , o qual fe c o n f e r v a r á f e m p r e fexado

c o m tres xaves d i f e r e n t e s , u m a das quaes eftará e m

p o d e r d o R e i t o r do m e f m o C o l é g i o ; a fegunda

terá o V i g á r i o G e r a l d o B i f p a d o , e a terceira o

D e a õ da C a t e d r a l , n a õ f e n d o efte o V i g á r i o G e r a l ;

p o r q u e n o cazo de exercitar efte e m p r e g o , o ter-

ceiro claviculario ferá o que ocupar a Cadeira da D i -

gnidade imediata ao D e a õ , e eftando efta v a g a , o

que ocupar a f e g u n d a C a d e i r á imediata , e afim de-

cendo pelas outras, a t é o C o n e g o m á i s a n t i g o de-

pois das D i g n i d a d e s , fe todas elas acontecer eíta-

r e m v a g a s , o u i m p e d i d o s os que as p o f u i r e m .

N e n h u m dos fobreditos Clavicularios p o d e r á fiar

a xave 5 de que efbá e n c a r r e g a d o a outra pefoa , fe-

n a õ n o cazo de auzencia , o u enfermidade ; e entaô

a p o d e r á entregar o R e i t o r ao V - i c e - R e i t o r ; o D e a ò

à o Teu i m e d i a t o C o l e g a da C a t e d r a l \ e o V i g á r i o

Geral
de N . S . da Gr asa âe Parnambuco. 2 7

Geral ao que fizer as fuás v e z e s ; e ifto t a ó f o m e n t e

nas o c a z i ó e s de preciza necefidade de fe abrir o

C o f r e , i n t i m a d a pelo R e i t o r .

N e f t e C o f r e fe g u a r d a r ã o , n a ó f ó os dinheiros

d o C o l é g i o , mas t a m b é m o livro d o T o m b o , que

ferá n u m e r a d o , e rubricado pelo n o f o P r o v i z o r ,

e m o qual eílará i n f e r t o o A l v a r á O r i g i n a l da R e a l

D o a f a õ , que deite C o l é g i o , e Igreja fes Sua M a -

geitade á M i t r a de P a r n a m b u c o , c o m o t a m b é m as

Cartas , A l v a r á s , e Decretos de todas as rendas,

M e r c ê s , e Doasoes , que a m e f m a Senhora f o i fer-

vida fazer ao m e f m o S e m i n á r i o , e .por todo o livro

eítaráõ defcritas , e lanfadas j u d i c i a l m e n t e todas as

rendas , fundos , propriedades , doasoes , e legados,

aplicados para a fuítentafaõ deite C o l é g i o , cujo ter-

m o de enferramento ferá afinado do n o f o p u n h o ,

e felado c o m o Selo m a i o r das nofas A r m a s . E i t e

livro nao p o d e r á jamais fer tirado d o d i t o C o f r e f e m

nofa efpecial licenfa por e f c r i t o , a qual ficará c o n -

fervada no m e f m o C o f r e por todo o t e m p o , que exif-

tir fóra dele o dito livro. O f e g u n d o livro , que

t a m b é m ferá n u m e r a d o , e rubricado pelo n o f o Pro-

vizor , e que deve fer confervado fempre, n o C o f r e

m e n c i o n a d o , é aquele e m que fe d e v e m ir lanfan-

d o as parcelas dos d i n h e i r o s , que entrarem n o C o -

fre , e as que fe f o r e m tirando d e l e , cujos termos

afim da entrada, c o m o da faida dos d i n h e i r o s , fe-

raõ afinados p o r todos os tres C l a v i c u l a r i o s , f e m

cujas afinaturas , nao fe ihes p o d e r ã o confirmar as

contas na J u n t a , que para elas fe deve eítabelecer.

E fendo findo o d i t o livro , irá para o A r q u i v o d o

D i i C o -
2 8 E j l a t u t o s do Seminário EpiJcopai

C o l é g i o , p o n d o - f e e m f e u l u g a r outro n o v o para

fervir , e fe guardar n o C o f r e da m e f m a forte que

o primeiro.

CAPITULO XIII.

Do modo de fe tomarem anualmente as contas da

receita, e â e j p e z a do Colégio.

EStabelecida a necefaria economia do governo

interior d o C o l é g i o , fe fas t a m b é m precizo

inifituir ao m e f m o t e m p o u m f e g u r o m é t o d o de

provizional r e j i m e n , p o r onde todos os anos , fen-

d o n e c e f a r i o , fe ajaõ de dar prontas p r o v i d e n c i a s ,

f e g u n d o exijirem os cazos ocurrentes , c o r r i j i n d o ,

e e m e n d a n d o as coizas , q u e p o f a ô ler prejudi-

ciaes ás rendas d o C o l é g i o , que p r e c i z a õ de conti-

n u a vigilância.

Para o c u r r e r m o s aos d a n o s , que c o m a m u d a n f a ,

e variafaõ dos t e m p o s p o d e m acontecer , creamos,

e inftituimos u m a J u n t a de M i n i f t r o s , q u e e m o mef-

m o C o l é g i o c o n g r e g a d o s è m conclave na caza para

eíte fim J & t é r m i n a d a , r e z o l v a õ as coizas , que de

n o v o ax^rem fe devao d e t e r m i n a r a b e m d o C o l é g i o .

E f t a J u n t a , que terá o f o b r e n o m e da E c o n o -

mia , ferá c o m p ô f t a de feis D e p u t a d o s , e u m Pre-

zidente , c u j a prezidencia rezervamos para N ó s ;

p o r q u e muitas vezes N o s a x à r e m o s prezentes a eíte

u t i l i f i m o C o n f e l h o , p e l o grande d e z e j o , que temos

d e p r o m o v e r , quanto e m N ó s f o r , o adiantamento do

n o f o S e m i n á r i o .

M a s
de N . <S\ da Gr as a de Parnamhuco. 29

M a s porque as n o f a s continuas ocupasoes , n e m

f e m p r e N o s d a r á õ lugar de aíiftirmos ás fuás C o n -

ferências , c o m o dezejamos ; ficará f e r v i n d o na n o f a

auzencia o lugar de Prezidente o n o f o V i g á r i o G e -

rado qual ainda m e f m o nas ocazioes, e m que prezidir-

m o s , fe axará prezente ás SesÒes deita Junta , e terá

nela v o t o c o m o u m dos outros D e p u t a d o s , que p o r

tal o elejemos , b e m c o m o aos outros , p o r efta

nofa C o n f t i t u i f a õ do prezente Eítatuto.

O s quatro primeiros D e p u t a d o s , depois d o

V i g á r i o G e r a l feráõ eleitos na f o r m a determinada

pelo C o n c i l i o de T r e n t o : c o n v é m a faber, dois d o

C a b i d o da nofa Catedral , e os outros dois da C o r -

p o r a f a õ do n o f o C l e r o , eleitos deftributivamente

p o r N ó s , e pelo m e f m o C a b i d o . Para o p r i m e i r o

d o C a b i d o , que pertence á nofa eleifaó , nomeamos

a D i g n i d a d e , o u C o n e g o , que f o r Claviculario d o

C o f r e do C o l é g i o , c o m o afima fica d i f p o f t o , quan-

d o dele f a l á m o s ; e para D e p u t a d o da C o r p o r a f a ó

d o C l e r o , nomearemos a f e u t e m p o aquele , que j u l -

garmos mais fuficiente.

O s outros dois na f o r m a do m e f m o C o n c i l i o ,

p e r t e n c e m á eleifaó d o n o f o C a b i d o , á o qual re-

comendamos eleja da fua C o r p o r a f a ó o C o n e g o , que

j u l g a r fer mais d o u t o , prudente , d e f p i d o de pai-

x ã o , e dotado de f a ó c o n f e l h o ; e que o m e f m o obre

na eleifaó do D e p u t a d o do C l e r o , o qual deverá fer

conftituido e m a l g u m e m p r e g o p u b l i c o , o u B e n e -

ficio do n o f o B i f p a d o .

Para os dois ú l t i m o s , que a ó - d e preenxer o C o n -

f e l h o da J u n t a da E c o n o m i a , n o m e a m o s o R e i t o r do
3 o E j l a t u t o s do Seminário F^pifcopal

m e f m o C o l é g i o , que nas S e s ô e s fervirá de Juís Re-

lator , p r o p o n d o as m a t é r i a s de que fe deve tratar,

expondo-as c o m o o mais i n t e l i g e n t e das necefidades

da C a z a , e dará o feu v o t o p o r u l t i m o , e imedia-

t a m e n t e antes d o P r e z i d e n t e ; e n o m e a m o s o nofo

P r o m o t o r para F i f c a l dos n e g ó c i o s da dita Junta,

e requerer t u d o o que f o r a b e m d o m e f m o Colé-

g i o , e obftar a t u d o o que lhe f o r p r e j u d i c i a l ; e

para o u t r o D e p u t a d o n o m e a m o s o V i c e - R e i t o r do Co-

l é g i o , o q u a l a l é m de ter v o t o n o C o n f e l h o da Jun-

ta , fervirá de Secretario da m e f m a , efcrevendp

e m livros para i f o f o m e n t e d e p u t a d o s , as rezoluspes,

que nas S e s õ e s fe d e t e r m i n a r e m pela p l u r a l i d a d e de

votos , principiadas p o r t e r m o de afentada ; cujas

r e z o l u s õ e s feraõ afinadas p o r todos os D e p u t a d o s ,

que fe a x á r e m prezentes , e p o r N ó s confirmadas

pata a fua inteira validade , e d e v i d a e x e c u f a ó .

Para as S e s ó e s ordinárias deite n o v o C o n f e l h o

d e t e r m i n a m o s , que a J u n t a fe c o n g r e g u e quatro

vezes e m cada ano létivo : a I . n o f e g u n d o dia f e -

riado depois da abertura dos E f t u d o s , e m o m ê s de

Fevereiro ; a I I . n o f e g u n d o dia feriado depois da

Pafcoa ; a I I I .n o p r i m e i r o dia feriado depois do

n a c i m e n t o de S. J o a õ Batifta ; a I V n o p r i m e i r o dia

feriado depois da N a t i v i d a d e d e N o f a Senhora.

A l é m das fobreditas a v ê r á ó t a m b é m C o n f e r ê n -

cias e x t r a o r d i n á r i a s , que fe faráõ todas as vezes , que

afim o p e d i r a necefidade das m a t é r i a s ocurrentes

a inftancia d o R e i t o r , f o b r e o qual carrega t o d o o

p e z o da c o n t i n u a vijilancia e m c o n í e r v a r n o feu

p r i m i t i v o v i g o r a o b f e r v a n c i a da e c o n o m i a , cujas

mate-
âe N . S . da Gr asa âe Parnamhuco. 31

matérias f ó r m a õ o principal o b j e t o da J u n t a da E c o -

n o m i a ; á cujos D e p u t a d o s p o r efte n o f o E f t a t u t o

c o n c e d e m o s , e damos plena autoridade para as tra-

tar , e rezolver na m e l h o r f o r m a , que parecer j u f t o ,

para b e m , e a u m e n t o d o C o l é g i o , f e m atende-

r e m j á m a i s a refpeitos umanos, e m u i t o m e n o s a pre-

c e d ê n c i a s de afentos ; p o r fer i m p r ó p r i a de Sujeitos

iluftrados a fantaítica a m b i f a õ de vans diírinsões e m

congrefos particulares.

E e m todas eftas conferências o B e d e l d o C o -

l é g i o fervirá de Porteiro , e de C o n t i n u o , efperando

as ordens da parte de fóra para fazer os avizos , e

x a m a r as p e f o a s , que o Prezidente da Junta deter-

m i n a r , para o que fe fará íinal c o m u m a campainha,

que deve eftar f e m p r e fobre a M e z a , aíim c o m o

t a m b é m os tinteiros , penas , papel & c .

A l é m das C o n f e r ê n c i a s fobreditas averá mais

u m a , para a qual fe c o n g r e g a r á © todos os D e p u t a -

dos , e o Fifcal n o cubiculo d o R e i t o r e m o m ê s de

D e z e m b r o para fe t o m a r e m as contas da r e c e i t a ,

e d e f p e z a , que naquele ano tiver feito o C o l é g i o .

N e í t a c o n f e r ê n c i a , que ferá unicamente r e z e r v á d a

para i f o n o t e m p o das ferias maiores , aprezenta-

rá o R e i t o r na M e z a da J u n t a quatro livros , a fa-

ber o da R e c e i t a , que deve e n t ã o fer conferido c o m

o livro da faida dos dinheiros d o C o f r e , de que

f a l á m o s no capitulo antecedente: o da d e f p e z a , q u e

fe tiver feito e m t o d o efe a n o : o dos ordenados ,

e falarios das pefoas , que f a ó pagas pelas rendas

do C o l é g i o : e o livro e m que j u d i c i a l m e n t e fe a õ -

de lanfar as contas de toda a r e c e i t a , e d e f p e z a , o

qual
3 2 Ejlatutos do Seminário Epifcopai

qual ferá p r i m e i r a m e n t e n u m e r a d o , e rubricado pe-

lo n o f o P r o v i z o r ; e o E f c r i v a õ da n o f a C â m a r a ferá

o que nele efcreva , e lanfe as contas, que fe toma-

r e m , c o m diítinta f e p a r a f a ô , e clareza da receita,

e defpeza , e d o que faltar , o u f o b r a r , principian-

d o pelo t e r m o da afentada , e rematando pelo da

c o n c l u z a õ ; o que t u d o , depois de fer fubfcrito pe-

l o d i t o E f c r i v a õ , ferá afinado p r i m e i r a m e n t e pelo

V i g á r i o G e r a l , ao qual n o m e a m o s , e conftituimos

J u i s das ditas contas c o m poderes de as j u l g a r ,

a p r o v a r , o u reprovar c o m o f o r de juítifa ; depois

pelos quatro primeiros D e p u t a d o s , e F i f c a l , e ul-

t i m a m e n t e pelo R e i t o r , e V i c e - R e i t o r , fendo as

contas julgadas p o r boas.

P A R -
de N . S . da Gr asa de Tarnambuco. 3 5

P A R T E S E G U N D A .

Que contém o que pertence á obfervancia

M o r a l .

NÚTEIS feriaõ os Eftatutos, que dirijem os ef-

tudos de u m S e m i n á r i o de educafao .da M o c i d a -

d e , fe eles ao m e f m o t e m p o nao p r e f c r e v e f e m a nor-

m a de regular os coftumes na prática da virtude ;

pois é b e m certo , que f e m virtude n a õ á verdadei-

ra Sabedoria , a qual n a õ confífte tanto na teórica

da* ciências , c o m o na pratica delas ; e efta f ó fe

confegue , quando as regras da e f p e c u l a f a õ fe apli-

caó para f o r m a r e m o ó m e m coftumes verdadeira-

m e n t e criftãos.

O fanto t e m o r de D e u s , que fabemos é o prin-

cipio da Sabedoria , é a primeira l i í a õ , que dezeja-

m o s a p r e n d a õ os Educandos do n o f o C o l é g i o : ele

é o que diíipa t o d a s as nevoas, que efcurecem o en-

t e n d i m e n t o ; ele é o que refreia todas as p a i x õ e s ,

cpe d e f o r d e n a õ a vontade ; ele e m f í m é o que

p õ e m o efpirito u m a n o e m eftado de poder fubir

até á Prezenfa da Sabedoria Eterna , cujas luzes

fe c o m u n i c a õ liberalmente aos que as p r o c u r a õ c o m

o corafaõ p u r o , e fincero. Por efte m e i o alcanfá*

r a õ a folida Sabedoria muitos v a r õ e s Santos, que

c o m as luzes da fua doutrina eftaõ aluminando a

I g r e j a de Jezus C r i f t o por t o d o o m u n d o .

E f t e fanto t e m o r , que deve fer o p r i m e i r o

o b j e t o dos Eftudantes C r i f t ã o s , para m e l h o r fe con-

E fe-
3 4 E j l a t u t o s âo Seminário Epij"copai ,

feguir necefita d o p r é v i o c o n h e c i m e n t o das princi-

paes o b r i g a s ó e s , que a t o d o o ó m e m naturalmente

c o r r e f p o n d e m ; e v e m a fer a r e f p e i t o de D e u s , de

íi m e f m o , e dos outros ó m e n s , n o que fe contém

os princípios da M o r a l , dos quaes pafamos a dar

u m breve r e z u m o nefla f e g u n d a parte.

CAPITULO I.

Da ohrigafao do ómem a refpeito de Deus.

O NEGOCIO

fobre a
c o n f e g u e f e m
mais importante ,<iue os ómens tem

terra, é a falvafaó
o c o n h e c i m e n t o de
; e e í t a n a ó ©fe
D e u s e de Jezus
5

C r i í t o , n o qual devemos crer., efperar, e a m a r r e

dar-lhe o C u l t o , que lhe é devido. E para que os nofos

E d u c a n d o s aprendao a doutrina necefaria a efte ref-

p e i t o , N ó s daremos a p r o v i d e n c i a e m o Catecif-

m o , que p o r eles faremos diftribuir a f e u t e m p o ,

e p o r ora N o s contentamos de lhes fazer as feguin-

tes a d v e r t ê n c i a s , as quaes c o m o verdades funda-

mentaes da R e l i g i ã o , d e v e m f e m p r e trazer na

m e m ó r i a .

Q u e D e u s é o f e u p r i m e i r o p r i n c i p i o , e ul-

t i m o fim : c o n v é m a faber , que lhes d é o o fer , a

.vida , e a r a z a õ , e que os conferva a t o d o o inftan-

t e ; que os v ê , e conhece todos os feus peiofamen-

tos , palavras , e asoes; eme os ama desde a eter-

nidade ; que os enxe de bens ? e que lhes ade dar

outros infinitamente m a i o r e s , para os fazer eterna-

m e n t e felices. D e p o i s de t e r e m p e r c e b i d o eíta

gran-
de N . $ . da Gr asa âe Parnamhuco. 3 ç

grande idéa de D e u s , é fácil de fe perfuadi-

rem , que nao á gloria verdadeira , n e m felicidade

c o m p l e t a , c o m o a de fervir ao feu C r e a d o r , a m a 11-

do-o e m tudo ; e pelo contrario , que fora de

D e u s n a õ fe e n c o n t r a õ fenaõ d e í g r a f a s , i n q u i e t a s õ e s ,

e mizerias.

A f e g u n d a i d é a , que deve ocupar a inteligên-

cia d o ó m e m , é a d o inefável mifterio da Encarna-

faó* d o F i l h o de Deus. Efte é aquele grande de-

íignio da D i v i n a Sabedoria na economia da R e l i -

g i ã o , e da Grafa , c o m que ficarão fatisfeitas a Juf-

tifa , e a M i z e r i c o r d i a : advirtindo que fem. intervir

efte R e d e n t o r , nada p o d e m o s fazer que feja ágra-

davel a D e u s , n e m receber da fua m a õ coiza a l g u -

m a fenaõ por virtude dos feus merecimentos.

C o n h e c i d a a f u m a d e p e n d ê n c i a , que o ó m e m

tem de D e u s , fica p o r confeguinte conhecida a obri-

g a f a õ d o C u l t o , que lhe é devido ; e perfuadido o

ó m e m defta v e r d a d e , n a õ pode deixar de t o m a r a

fabia rezolufaõ de empregar entre dia alguns efpa-

fos de t e m p o e m c u m p r i r c o m a fua principal obri-

g a f a õ de dar C u l t o de adorafaõ , e de agradeci-

m e n t o a u m S e n h o r , ao q u a l deve tudo quanto é ,

e quanto p o f u e ; e p o r i f o m a n d a m o s

§. 1 Q u e de m a n h a meia ora depois de feito

o final da campa , iráõ todos os Colegiaes para o

C o r o da Igreja , onde poftos de j o e l h o s , e feito

o final d o C r i f t a õ , adoraráõ a D e u s e m e í p i r i t o , e

verdade, c o m o enfinou o m e f m o Jezus C r i f t o ; ifto

é , que a u m i l d e atenfaõ interior d o e f p i r i t o , cor-

refponda verdadeiramente á adorafaõ exterior do cor-

E i i p o ,
3 6 E j l a t u t o s do Seminário E p i f c o p a l

p o , e l o g o l h e r e n d e r ã o as devidas grafas pelos be-

nefícios recebidos, i m p l o r a n d o j u n t a m e n t e o divino

focorro , cantando d e v o t a m e n t e o I n o Veni Saneie

Spiritus para que os deixe pafar aquele dia izentos

de c u l p a g r a v e , que é f ó a que os fepára da fua

a m i z a d e ; n o que fe p o d e r á gaitar u m quarto de

o r a , p o u c o m a i s , o u menos. E n o s . D o m i n g o s , e

dias fantos de guarda , a l é m d o f o b r e d i t o , e an-

tes d o I n o diráõ de corafaõ os A t o s de F é , Efpe-

r a n f a , e Caridade , que vao deferitos n o fim deita

f e g u n d a parte deites E í í a t u t o s .

g. 2. Q u e acabado de fe cantar o fobredito

I n o , fairá o Padre V i c e - R e i t o r para o A l t a r a dizer

M i f a , á qual ajudará u m dos Colegiaes e m cada

femana p o r feu t u r n o , e todos os outros a ouvi-

r ã o d o C o r o ,

Q u a n d o aíiitirem ao tremendo Sacrifício dos

nofos A l t a r e s , e m que o Sacerdote vai fazer u m a

r e n o v a i ao dos ú l t i m o s , e principaes miíterios da vida

de Jezus C r i í t o , quando nos r e m i o na C r u s , de-

pois de fe ter eonfagrado a f i m e f m o , para ficar

c o m o ó m e m até á c o n f u m a f a ó dos S é c u l o s ; entaó

deve cada u m avivar mais a f u a F é 5 o f e u amor ,

e a fua devofao.

§. 3. Q u e nos D o m i n g o s , e dias Santos de guar-

da iraõ todos os C o l e g i a e s á ora de T c r f a á M i f a

conventual da I g r e j a C a t e d r a l , onde os que fe def-

tinao para o E Í a d o Ecleziaítico afiftiráõ á E í t a n t e

d o C o r o , para ajudar a cantar a M i f a , e praticar o

que t i v e r e m aprendido na aula d o C a n t o - x a õ , fican-

d o dois t a õ f o m e n t e n o C o l é g i o para ajudarem a

M i f a
âe N . S*. da Cr asa de Parnamhuco. 3 7

M i f a conventual do R e i t o r , que nos ditos dias a

dirá ás n o v e oras.

§. 4. Q u e nos dias e m que celebrarmos M i f a

Pontificai na nofa S é , iráo aíiftir a ela todos os que

f o r e m C l é r i g o s , veítidos de fobrepelizes para ajuda-

r e m aos do C o r o , e f e r v i r e m e m t u d o o que lhes

f o r mandado pelo M e f t r e das C e r é m o n i a s da C a t e -

dral nos minifterios competentes aos g r á o s das O r -

dens , que t i v e r e m , e para que ao m e f m o t e m p o f e

v a ó exercitando na pratica das C e r é m o n i a s p r o -

.prias para o c i t a d o , que pertendem.

§. $ Q u e todas as noites , l o g o depois das A v e

M a r i a s , rezaráõ no C o r o da Igreja , o u na C a p e l a

interior d o C o l é g i o o T e r f o do R o z a r i o de N o f a Se-

nhora 5 á qual todo o Criítaõ deve tributar o d e v i d o

C u l t o 5 e implorar o f e u grande p a t r o c í n i o , e m u i -

to efpecialmente os que fe d e d i c a õ ao eítudo das

ciências ; p o r eíta puriiima V i r g e m fer M a e n da E t e r -

na Sabedoria , e a que confegue de feu amado F i -

lho as luzes de que necelitaõ os feus devotos : e

p o d e m eftar na certeza de q u e , fe á pia devofao deífa

Senhora a juntarem a pureza d o c o r p o , e d o e f p i -

r i t o , ao de confeguir nao f o m e n t e a Sabedoria , que

d e z e j a ò ; mas t a m b é m a falvafaõ , que e f p e r a õ .

§. 6. Q u e u m a ves e m cada m ê s , e nas Solenes

Feítividades 5 que determinarmos, d e v e m todos con»

fefar-fc, c c o m u n g a r facramentaimente. E para que

ifto fe fafa c o m maior e x p e d i f a õ , e n a õ aja a l g u m a

falta , ou embarafo 5 fe fará u m a jufta diítribuifaõ

pelos D o m i n g o s do m ê s , de forte que v a õ uns e m

u m D o m i n g o ? outros, e m outros á Catedral para a í


3 81 E j l a t u t o s do Seminário E p i f c o p a l

fe c o n f e f a r e m , e v o l t a r e m a t e m p o de comungai 1

d a m a õ d o R e i t o r na M i f a c o n v e n t u a l da Igreja do

C o l é g i o : e declaramos que eíta o b r i g a f a ó compreen-

de n a õ f ó aos C o l e g i a e s ; mas t a m b é m a todos os E f -

tudantes , que e í t u d a r e m nas aulas d o C o l é g i o , os

quaes para m o f t r a r e m , que fatisfazem a eíta obriga-

f a ó d e v e m t a m b é m , c o m u n g a r da m a õ d o m e í m o

R e i t o r , f o b pena de fe lhes dar e m culpa fazendo

o contrario d o que aqui fe lhes d e t e r m i n a ; e os

Profefores lhes d e v e m i n t i m a r eíta o b r i g a f a ó para

n a õ afetarem i g n o r â n c i a .

A q u i t a m b é m r e c o m e n d a m o s fe d i f p o n h a õ de

forte para eítes dois S a c r a m e n t o s , que deles tirem

o c o p i o z o f r u t o , que eles certamente c o m u n i c a o aos

que d i g n a m e n t e os r e c e b e m : para eíte fim é i n -

d i f p e n f a v e l a p r e p a r a f a õ antecedente, a c o m p a n h a d a

daquelas ferias r e f l e x õ e s , que d i f p o e m a vontade pa-

ra receber c o m p r o v e i t o t a õ importantes r e m é d i o s ,

que Jezus C r i í t o deixou na fua I g r e j a , p o n d o cada

u m da fua parte todos os esforfos para alcanfar aquela

p u r e z a , de que é capas o ó m e m m o r t a l focorrido

c o m as g r a f a s , c o m que o E f p i r i t o d o S e n h o r e n x e ,

e enriquece a todos os q u e f a õ fieis á f u a L e i . .

CAPITULO II.

Da obriga/ao do ómem a refpeito de Jl mefmo.

S E o ómem desde os feus primeiros anos, naõ

^ t e m o trabalho de cultivar a
f a õ , iíto é de arrancar as e r v a s
terra d o
venenozas
f e u cora-
dos v i -

c i o s ,
de J S f . S . da Gr asa de Parnamhico. 3 o

c i o s , m á s inclinasões , e apetites defordenados, e

de lan-far a femente das virtudes; nunca virá a c o -

lher os faudaveis frutos das boas obras, pelas quaes

u n i c a m e n t e fe fas d i g n o da Sociedade dos J u l l o s

e da felicidáde eterna.

O ó m e m naturalmente ama a l i p r ó p r i o c o m

u m a amizade t a ó eftreita , que n a õ teve neceiidade

de preceito a l g u m p o z i t i v o a efte r e f p e i t o : ele

p o r u m a intrinfeca l e i da N a t u r e z a é o b r i g a d o a

procurar todos os meios necefarios para confervar

a v i d a a n i m a l ; fujir d o que lhe fas m a l , e f e g u i r

o que l h e fas b e m : ifto m e f m o fas o bruto p o r

natural i n f t i n t o y e n a õ pafa adiante p o r n a õ ter

outra l e i , n e m outra vida mais d o que a d o cor-

p o , c o m o pura m a q u i n a material : mas o ó m e m ,

que t e m outra lei diverfa da d o c o r p o , e efpera ter

outra vida mais durável , que c o m p e t e á i m o r -

talidade da a l m a ; pelas m e f m a s leis da N a t u r e z a ,

e lus da r a z a õ é obrigado a procurar a c o n f e r v a f a õ ,

c u l t u r a , e perfeifaõ da vida r a c i o n a l , o u m o r a l ,

c o m tanto maior cuidado , quanto é mais nobre a

v i d a d o efpirito , d o que a d o corpo. O entendi-

m e n t o , e a vontade livre f a ó os principies intrin-

fecos das asóes umanas ; fe o ó m e m n a õ trabalha

e m defterrar os erros d o e n t e n d i m e n t o ? e c o m p r i -

m i r as defordens da vontade , tao longe eftá de fe

amar a íi m e f m o c o m o deve , que antes p e l o con-

trario fe declara i n i m i g o de íi p r ó p r i o .

E ' pois necefario que fe l e m b r e m de c o n t i n u o da

o b r i g a f a ó , que cada u m t e m de fe renunciar a íi p r ó -

prio 7 e feguir a Jezus Critfto y a ç u f t u m a n d o - f e desde


M e -
4 0 E/lattitos do Seminário Epifcopal

M e n i n o s a ter u m a vida l a b o r i o z a ; a fujirem de toda

a ociozidade ; a nao fe d i f g o f t a r e m c o m as dificul-

dades , e trabalhos, que encontrarem na ferie da f u i

vida , a fatisfazerem-fe c o m o que lhes é necefario

para v i v e r e m ; a nao v e r e m , n e m d e z è j a r e m o que

p o d e expor a fua i n o c ê n c i a a p e r i g o de fer man-

xada ; a eítar sempre prontos , e d i f p o f t o s para tu-

d o o que p o d e fuceder de u m m o d o contrario ás

fuás inclinasóes ; a nao fe q u e i x a r e m das injurias,

e a perdoa-las c o m facilidade ; a amar os que os

a b o r r e c e m , e fazer b e m aos que lhes f a z e m m a l ;

a f u f o c a r os refentimentos , e r e p r i m i r a paixão da

v i n g a n f a ; a fallar f e m p r e verdade , e eltima-la como

d o m p r ó p r i o de D e u s ; a v i v e r e m n o m u n d o , e

a uzar dele c o m m o d e r a f a õ , e temperanfa , como

fe dele n a õ u z a f e m .

Eis-aqui a r e t i d ã o do a m o r p r ó p r i o , o f u f -

t a n c i a l , e o f u n d a m e n t o da piedade criíta : aquele

que ainda n a õ fabe praticar eíte a m o r c o n í i g o mef-

m o , n a õ é Criftaõ p o r mais d e v o t o q u e parefa; n e m

p o d e r á j á m a i s c o n f e g u i r a verdadeira Sabedoria,

n e m os bens e t e r n o s , que d e v e m fer a n o f a eran-

fa na outra vida.

CAPITULO III.

Da ohrigafao do ómem a refpeito dos outros ómens.

A
aos
Terceira obrigafaõ do ómem é a de amar ao

p r ó x i m o : ifto é ,
outros ó m e n s feus
que o a m o r ,
i r m ã o s , á d e
que
fer
deve
i g u a l
ter
aa

que
âe 27. $. da Gr asa de Parnambuco. 4 l

ao que o ó m e m t e m c o m ligo m e f m o . A igualdade

d efte a m o r reciproco , além de fer i n t r i n f e c a ao ó m e m

pela l e i da N a t u r e z a , foi diretamente i m p o f t a p o r

u m a l e i de D e u s pozitiva , publicada folenemente

por M o y z é s , e intimada por Jezus C r i f t o c o m t a õ

vivas expresões , que x e g o u a dar-lhe o n o m e de

M a n d a m e n t o n o v o , e propriamente preceito feu ,

declarando l o g o que a m e d i d a defte m u t u o amor ,

deve fer i g u a l á d o feu D i v i n o A m o r para c o m os

ó m e n s .

E c o m razaõ foi aíim recomendado pela D i v i n a

Sabedoria efte grande preceito da Caridade , que é

o principal f u n d a m e n t o da Sociedade: e aíim c o m o

f e m Sociedade n a õ p ô d e fuliftir o j e n e r o u m a n o , da

m e f m a forte f e m amor reciproco n a õ pode aver So-

ciedade. A m e f m a Natureza nos d á u m claro e x e m -

plo da necendade defta c o m u m armonia na u n i a õ

das partes fizicas do c o r p o u m a n o , as quaes tendo

ofícios diferentes umas das outras , todas rejidas de

u m m e f m o e f p i r i t o , m u t u a m e n t e c o n c o r r e m , e tra-

balhaõ para o m e f m o fim da f a ú d e , e vida do cor-

p o ; e pelo contrario v e m o s , que efta fe perde to-

das as vezes que aquelas partes fe d e f o r d e n a õ en-

tre íi , e deixao de feguir o fim para que foraõ

creadas. O m e f m o fe c o n t é m no corpo civil das

Sociedades , fejaõ elas quaes forem; as pefoas, que

faõ as partes moraes d o corpo c i v i l , p o f t o que te-

n h a õ ofícios , e empregos diferentes , todas d e v e m

fer animadas de u m m e f m o efpirito de caridade, e

concorrerem unidas para o m e f m o fim da tranqüi-

lidade , aumento , e feguranfa da Sociedade ; cujo

F fim
4 & E j l a t u t o s do Seminário E p i f c o p a l

fim necefariamente v i r á a perder-fe todas as vezes

que fe perder a c o n c ó r d i a das partes.

E* c e r t o , que todos os ó m e n s f a ó iguaes en-

tre fi nas propriedades efenciaes da Natureza , pois

todos d e c e n d e m de u m m e f m o P a i , e p o r efta ra-

z ã o lhes c o m p e t e a natural o b r i g a f a ó de fe amarem

uns aos outros c o m o i r m ã o s ; mas c o m o n e m todos

f a ó iguaes nas propriedades acidentaes , e eítados

adventicios , antes nifto d i f e r e m m u i t o uns dos ou-

tros , f e g u n d o a o r d e m e m que os p ô s a Providen-

cia n o c o r p o da Sociedade para a p r ó p r i a confer-

v a f a õ dos m e f m o s ó m e n s ; fegue-fe que deíles di-

verfos eítados da Sociedade p r o c e d e m t a m b é m cer-

tos g r á o s de p e r f e i s õ e s , que e x i j e m diverfos , e

maiores direitos que f e n a õ d e v e m a todos igualmen-

te ; e v e m a f e r ^ a reverencia , o b z e q u i o , e obe-

diência , que a l é m do a m o r c o m u m d e v i d o a to»

dos cflá o b r i g a d o a p r e ü a r o inferior ao que- é de:

fuperior eítado : c o m o p o r e x e m p l o , os filhos aos

Pais ; os- D i c i p u l o s aos M e í l r e s ; os M o f o s aos Ve-

lhos ; o P o v o aos M a g L f t r a d o s ; os V a í a l o s aos

Soberanos & c .

D a q u i fe dedus p o r l e g i t i m a c o n c l u z a õ : Que

o b e m p u b l i c o da C o m u n i d a d e naturalmente deve

fer p r e f e r i d o ao b e m particular das partes : Q u e as

leis das Sociedades o b r i g a o e m conciencia á. f u a in-

teira obfervancia pelo m e f m o m o t i v o do b e m jeral

de cada u m dos i n d i v í d u o s delas ; e que fendo um

b o m criítaõ aquele que b e m ama a D e u s , e ao pró-

x i m o , v e m a fer u m b o m C i d a d ã o aquele que é

b o m Criítaõ,

E
âe J V . S . da G r a f a âe Parnamhucõ. 43

E p o r q u e a eíte r e f p e i t o o b e m c o m u m da no-

va Sociedade, que agora inftituimos no n o f o C o l é -

gio neceíita de algumas leis , que f e g u r e m a fua

tranqüilidade , e obíervaneia ; determinamos os fe-

guintes Eftatutos

§. 7. Q u e o C o l e g i a l que c o m licenfa fair fóra

d o C o l é g i o fe recolha a ele á ora de j a n t a r , fendo

de m a n h ã ; e ao p ô r d o f o i , fendo de tarde.

§. 8. Q u e no t e m p o do íilencio n e n h u m fale,

n e m decore as lisões c m t o m de v ó s , que fe oifa

f ó r a dos c u b i c u l o s , para nao violar o í i l e n c i o , n e m

eítorvar os o u t r o s , que eítudaõ.

§. 9. Q u e n e n h u m fale das janelas para a r u a ,

n e m v á ao cubiculo de o u t r o , n e m á I g r e j a , Por-

taria , o u outra oficina da C a z a f e m exprefa licen-

fa do R e i t o r ; n e m faiaõ fora dos feus cubiculos

f e m u r g e n t e necefidade.

§• 10. Q u e aquele que v i r , o u fouber , que

a l g u m dos feus C o l e g a s fes injuria a outro p o r pa-

lavras , o u a s õ e s ; o u lhe t e m i n i m i z a d e , odio , o u

r a n c o r , que claramente fe perceba ; o u comete al-

g u m crime contra D e u s , o u contra o p r ó x i m o , de-

ve primeiramente admoeíta-lo c o m boas palavras

para que fe e m e n d e , procurando que cites princí-

pios n a õ fafao progrefos , mas fejaõ l o g o atalha-

dos ; e fe depois da corréfaõ a m i g á v e l v i r que con-

tinua na m e f m a culpa , a deve manifeítar ao R e i t o r ,

para lhe dar o r e m é d i o , de que neceíita a fua e f p i -


ritual enfermidade.

Atos
E j l a t u t o s do Seminário E p i f c o p a l
4 4

Atos , que deve praticar o verdadeiro CriJlaÕ.

A T O DE F E\

M
l i c a ,
EU DEUS , e Senhor ; eu creio firmemente tu-

do o que
A p o f t o l i c a
c r ê , e enfina a Santa I g r e j a Cató-
R o m a n a ; p o r q u e fois V ó s , O ' meu
D e u s o que difefte ; e p o r q u e fois a m e f m a Verda-

de y que n a õ V o s podeis e n g a n a r , n e m enganar-nos^

ATO DE ESPERANSA.

Efpero,meu Deus, da vofa Bondade, e da vofa

M i z e r i c o r d i a , pelos m e r e c i m e n t o s de Jezus Crifto ,

meu. S a l v a d o r , a vida eterna da vofa G l o r i a , e as

grafas neceíarias para a merecer ; porque V ó s fois

fiel nas vofas Protnefas, e f a õ infinitas as vofas M i -

zericordias.

ATO DE CARIDADE.

Meu Deus, eu vos amo de todo o meu cora*-

f a õ fobre todas as coizas ; p o r q u e V ó s fois infinita-

m e n t e b o m : e a m o ao m e u p r ó x i m o c o m o a m i m

m e f m o p o r a m o r de V ó s ,

P A R -
d e N . S . da Grasa de Parnamluco. 4 ?

P A R T E T E R C E I R A .

Da obfervancia Literária.

A
que
OBSERVÂNCIA

ral é a
ele enxe
Literária afentando fobre a Mo-

que r e p õ e m
perfeitamente
o ó m e m n o
toda a idéa
e f t a d o ,
de
e m
ó m e m :
ela é a que defterra a i g n o r â n c i a , e introdus as l u -

zes, que f a õ hecefarias para defcubrir os f e g r e d o s

mais ocultos da N a t u r e z a , e para faber adorar os

mifterios mais profundos da D i v i n d a d e . F o r p o u c o

que fe adiantem os conhecimentos umanos nos e f -

tudos das ciências , j á os d i f c u r f o s , e coftumes

n a õ f a õ os que d*antes erao , mas fim outros mais

i l u m i n a d o s , e mais regulados , e que f a z e m diftin-

guir o ó m e m na Sociedade. Para que fe adquira õ

eftas ventagens, que p r o d u z e m as ciências , d e v e m

fer regulados os eftudos por u m verdadeiro m é t o d o ^

que n a õ implique os entendimentos c o m m a t é r i a s ,

e queftões inúteis ; mas fim adiante os c o n h e c i m e n -

tos , e eníine a procurar a verdade nas fuás fontes :

para efte fim d i f p ô m o s aqui as A r t e s , e C i ê n c i a s %

que fe a õ de aprender n o n o f o C o l é g i o , e d a m o s

a n o r m a pela qual f e a õ de rejeros P r o f e f o r e s , quec

as o u v e r e m de enfmar, na f o r m a feguinte.
4>£ Ejlatutos do Seminário E p i f c o p a l

C A P I T U L O L

Das primeiras Letras.

L
tos ,
ER é conhecer, e pronunciar o íom , e ílgnifíca-

do dos caratércs e feri tos ,


c o m os quaes quis a l g u é m
i m p r e f o s ,
declarar o
o u aber-
feu pen-
f a m e n t o . E f c r e v e r é f o r m a r c o m u m iníirumento

c a r a t é r e s , que f a õ retratos d o p e n f a m e n t o , e da fala.

Do P r o f e f o r das primeiras Letras.

§. r. P o r q u e o ó m e m nos feus p r i m e i r o s anos

n a õ fas mais d o que adquirir idéas , e imitar t u d o

Quanto o u v e , e quanto v ê ; é necefario que o P r o -

fefor das primeiras letras feja u m ó m e m n a õ f ó abil

na f u a arte ; mas t a m b é m u m m o d e l o de v i r t u d e ,

e de bondade , q u a n t o cabe nas forfas umanas , para

f o r m a r D i c i p u l o s abeis , e bons C i d a d õ e s ; e c o m o

para fe d a r e m regras para a b o a educafao é nece-

fario principiar pelas idéas mais ílmplices , que nos

e n t r a õ pelos o l h o s , e pelos o u v i d o s , para depois

pafar ás mais f u b l i m e s , e a b í t r a t a s ; trataremos p r i -

meircTdas regras da A r t e de L e r , E f c r e v e r , e C o n -

tar, e d e p o i s da R e l i j i a õ .

Quanto d JLrte de L e r .

§. 2. D e v e o P r o f e f o r eníinar aos feus D i c i p u -

los a c o n h e c e r as letras, o u caratéres de que fe á d e

fer-
âe N . S , da Grasa de Parnamhuco. 4 7

fervir, fazendo diferenfa das v o g a e s , e das confoan-

tes, e d o f ô m de cada u m a delas feparadas 7 o u

juntas umas c o m as outras , nao lhes c o n f e n t i n d o

que p r o n u n c i e m umas e m lugar de outras : v. g r .

v e m lugar de b , n e m h e m lugar de v , c o m o

vento e m lugar de Bento , e Bento e m lugar de vento y

n e m acrefentar letras aonde n a õ á , c o m o v. g r .

aiagua e m lugar de a agua , . nao a i á e m lugar d e

naS a d ; n e m tirar letras onde á , c o m o v. gr. J a -

nero e m lugar de Janeiro ; teado e m l u g a r de telha-

do , mio e m lugar de milho ; n e m inverter a o r d e m

das letras , p o n d o e m p r i m e i r o lugar as que fe de-

v e m p ô r e m f e g u n d o ,. c o m o v. gr. treato e m l u -

gar de teatro ; cravao e m lugar de carvão ; v i r d a f a

e m lugar de v i d r a / a ; brefo e m lugar de herfo ; pro-

vezinho e m l u g a r d e pobrezinho & c . D e v e eníinar-lhes

a pronunciar os ditongos c o m clareza, e e m toda:

fua forfar c o m o v gr. meu P a i , e n a õ me Pai , p a u -

zinho , e n a õ pazinho; nao r z n a õ «0*0 & c .

§. 3. D e v e enfmar-lhes a proferir c o m perfei-

faõ os fons das vogaes de cada uma. das palavras

c o m o por e x e m p l o a vogai a da palavra bordado,

que é- l o n g a , e fe deve proferir c o m a boca mais

aberta y d o que o a da palavra covado^quc é b r e v e ,

e que fe deve pronunciar c o m a boca mais f e x a d a :

a v o g a i e da palavra f e b r e , cujo p r i m e i r o e é l o n -

g o ,.e fe pronuncia c o m a boca mais aberta d o que:

o f e g u n d o e y o qual c o m tudo n a õ fe deve p r o -

nunciar c o m a boca taõ fexada que parefa i , c o m o ,

Jebrt , d i Deus, di c d , di a v o g a i i da palavra get*.

tio x f n o , que é l o n g o , e íe pronuncia c o m o fe.

fofeok
4 ^ E j l a t u t o s do Seminário Epifcopal

f o f e m dois ü , e c o m a boca mais aberta , do que

o i da palavra abrio , confcntio , e efte mais aberto

d o que o i da palavra índio , relojio , que é breve ;

a v o g a i 6 da palavra , que fe deve pronunciar

c o m a boca mais aberta ; c o m o o d das palavras

colhe, , e nao olhe c o m o o fexado , e próprio

d o o das palavras f o l h a , /è/J># , c u j o í e g u n d o o

ainda é mais fexado d o que o p r i m e i r o , e fe pro-

nuncia quazi c o m o u folha ; a v o g a i u da palavra

efcrupulo y cujo p r i m e i r o 0 é l o n g o , e fe pronun-

cia c o m a boca u m p o u c o menos fexada do que

o f e g u n d o u y que é breve & c . A falta deftas , e

d'outras femelhantes a d v e r t ê n c i a s que p a r e c e m i m -

pertinencias aos que refletem p o u c o , produs defeitos,

q u e ainda que nas primeiras idades, e nas Efcolas

f a õ m u i t o fáceis de fe e m e n d a r e m , e de fe corriji-

r e m ; c o m t u d o depois f a õ m u i t o d i í i c u l t o z o s , e

muitas vezes irremediáveis.

§. 4. D e v e t a m b é m e x p l i c a r o q u e é , e o

para que ferve o parefitezis , o p o n t o , a v i r g u l a ,

a i n t e r r o g a f a õ , a a d m i r a f a õ & c . , e os f o n s , que

c o r r e f p o n d e m a eftes íinaes ; e para m e l h o r d i f p ô r

c o m a n t i c i p a f a õ o f o m dos pontos de interroga-

f a õ , e de a d m i r a f a õ , ferá b o m que os a n t e p o n h a õ i n -

verfamente ás palavras ás quaes eles o u v e r e m de

f e r v i r de nota , aíim c o m o j á u z a õ m u i t o s Efcrito-

res modernos : p o r e x e m p l o ^ Q u e m m a t o u a Pe-

dro ? j Q u e o r r o r ! & c . D e v e e m fim o P r o f e f o r tra-

balhar p o r enfinar aos feus D i c i p u l o s a l e r , e p r o -

nunciar c o m clareza, e e x p e d i f a õ os penfamentos

d a q u e l e , que efcreveu.

Quan-
de N . S . da Gr asa de Vamambuco. 49

Quanto â Arte de E f c r e v e r .

§. ? O Profefor enfinará aos feus Dicipulos

a f o r m a r os caratéres f o r m o z o s , fimplices, e d e

u m a figura jeralmente conhecida , e adotada p o r

t o d o s ; pois que fendo as letras, o u caratéres uns

finaes fignificativos d o p e n f a m e n t o d o que e f c r e v e ,

é u m erro i m p e r d o á v e l faze-los ainda que f o r m o z o s ,

de u m a figura particular d o g o f t o de q u e m a f e s ,

defconhecida, e fora d o c o m u m , de forte que n a õ

fe pode entender f e m u m eftudo particular: e p o r

ifo fe dis c o m r a z a õ , que a m e l h o r letra n a õ é a que

mais b e m parece 3 mas fim a que m e l h o r fe lê : e

para mais facilitar o eniino fará fimplificar efes m e f -

mos caratéres reduzindo-os t a õ f o m e n t e aos dois

c ? / ' , o u u m a afte ; p o r q u e depois de faberem for-

mar eftas duas letras c o m p e r f e i f a õ , f o r m a r á õ f e m

dificuldade todas as outras do alfabeto , as quaes

nao f a õ mais do que u m a c o m b i n a f a õ das fobredi-

tas duas. D e v e aprezentar-lhes bons modelos da

Arte de E f c r e v e r , de bons caratéres } e que conte-

n h a õ fentenfas breves para a M o r a l , o u regras pa-

ra os conhecimentos umanos.

§. 6. D e v e enfinar-lhes a pegar na pena para

formarem os caratéres c o m f a c i l i d a d e , c o m p o í h i r a ,

e defembarafo : deve enfinar-lhes a e f c o l h e r , e apa-

rar as penas , explicando-lhes o m o d o p a r t i c u -

lar de dar o g o l p e , de raxar, e de cortar os bicos.

D e v e enfinar-lhes a ortografia mais fimples, ilto é

efcrever como fe f a l a ; pois que f u p o f t o alguns dao

G c o m o
$ o Ejlatutos do Seminário Epijcopal

c o m o regra para a ortografia a l i n g u a L a t i n a , prin-

c i p a l m e n t e aquelas palavras , q u e f a õ as mefmas ,

o u femelhantes as n o f a s ; c o m tudo c o m o a maior

parte dos P o r t u g u e z e s n a õ e f t u d a ó a l i n g u a L a t i n a ,

viriaõ m u i t o s a ficar f e m ter u m a regra jeral pa-

ra b e m efcrever c o m u n i f o r m i d a d e , e perfeifaõ a

l i n g u a P o r t u g u e z a : p o r cuja cauza c o m juíla razaõ

m a n d o u o Senhor R e i D . J o z é na L e i de 28 de

J u n h o de 1 7 $Q para a inítrufao dos Profefores de

G r a m á t i c a §. T I . , que fe uzafe da que c o m p ô s

L u i s A n t ô n i o V e r n e i , que é a mais fimples , e a

mais c o n f o r m e ao que acabamos de dizer.

Quanto d Aritmética.

§. 7. Enfinará o Profefor aos feus Dicipulos

a conhecer , e f o r m a r os caratéres y e a l g a r i f m o s , o u

n ú m e r o s , explicando os feus diverfos valores nas

u n i d a d e s , centenas & c . , e enfinará a f o m a r , d i m i -

nuir , multiplicar , e repartir , e a regra de tres,

que é quanto b a f t a , p o r f e r e m as principaes , e de

m a i o r u z o na p r a t i c a , ficando as o u t r a s regras de A r i t -

m é t i c a para o Profefor de G e o m e t r i a , e m c u j o ca-

p i t u l o trataremos mais a m p l a m e n t e defta matéria.

Quanto d Religião.

$. 8. Enfinará a Doutrina Crifta aos feus Di-

cipulos p o r a l g u m c o m p ê n d i o claro , c o n c i z o , e p r ó -

p r i o para o u z o das efcolas: dará breves n o s õ e s de

D e u s , e dos feus a t r i b u t o s : explicará que a nofa

San-
de N . S . da Gr asa de Parnambuco. $ i

Santa R e l i g i ã o , e m f u m a , coníífte e m amar a D e u s ,

e ao p r ó x i m o , ifto é , as creaturas racionaes , q u e

relativamente ás outras creaturas irracionaes , e ina-

nimadas , f a ó mais p r ó x i m a s a cada u m de n ó s ; aos

que e m razaõ d o fangue , d o n a c i m e n t o , da p á -

tria & c . eftaõ mais p r ó x i m o s de cada u m de n ó s

e m iguaes circunítancias & c . : que fe n a õ pode b e m

amar a D e u s f e m amar ao p r ó x i m o , n e m ao p r ó -

x i m o f e m amar a D e u s : que a verdadeira virtude

n a õ coníifte í i m p l e f m e n t e nas exterioridades ; p o r

fer ifto u m a refinada ipocrifia ; mas fim e m amar a

D e u s de corafaõ , e fazer ao p r ó x i m o t o d o o b e m

que p o d e r m o s : fará que os feus D i c i p u l o s a d q u i r a õ

u m abi to de falar f e m p r e verdade , e de aborrecer a

i n t r i g a , e a mentira ; e que c o n h e f a õ que o ó m e m

de virtude , e de o n r a , n a õ d e f o n r a , n e m defacredita

a pefoa a l g u m a ; e fará e m f i m que os feus D i c i p u -

los fe p e r f u a d a õ da grande verdade de que o b e m

ainda m e f m o t e m p o r a l , e particular de cada u m eftá

ligado , e dependente d o b e m geral da Sociedade;

e que p o r i f o eftá cada u m o b r i g a d o a trabalhar

c o m todas as fuás forfas para o b e m , e c o n f e r v a f a õ

do E f t a d o , e a fer b o m C i d a d ã o pelo feu m e f m o

interefe.

E i u p o f t o pelos nofos E í t a t u t o s temos deter-

m i n a d o , que fe n a õ aceitem para o n o f o S e m i n á r i o

•Colegiaes alguns , f e m que f e j a õ examinados , e

aprovados de l e r , e f c r e v e r , e c o n t a r ., p e l o i n c o m o -

do que c a u z a r i a õ ao C o l é g i o rapazes de tenra i d a d e ,

que ainda p r e c i z a ó de cuidado particular de fuás

M a e n s ; c o n t u d o c o m o todos os nofos dezejos f a õ

G i i c o n -
ç 2 E j l a t u t o s do Seminário E p i f c o p a l

concorrer q u a n t o eftiver da n o f a parte para o maior

b e m , e p e r f e i f a ó dos nofos C o l e g i a e s , dos quaes a l -

g u n s , ainda que faibaõ e f c r e v e r , c o m tudo nao fa-

z e m c o m perfeifaõ ; m a n d a m o s q u e o Profefor das

primeiras letras d o n o f o C o l é g i o ( que f e mp ie em

iguaes circunítancias d e v e r á fer o de m e l h o r letra

poíivel ) e m todas as quartas f e i r a s , que n a õ forem

dias Santos de g u a r d a , desde as quatro a t é as finco

óras da tarde d ê lisões de efcrita e m u m a das aulas

do C o l é g i o a todos os Colegiaes , que N ó s , o u o

R e i t o r m a n d a r m o s , o u que dele t e n h a õ p e r m i f a õ ;

e que nos outros dias e m f u a caza d ê lisões de ler,

e f c r e v e r , contar , e de D o u t r i n a C r i í t ã a todos os

q u e q u i z e r e m ir c o m ele aprender.

CAPITULO II.

Do Canto.

O
enfina
C a n t o , o u

A r m o n i c a , e e m
a c o m b i n a r as
a M u z i c a fe divide j e r a l m e n t e

A r t i f i c i a l : a A r m o n i c a é a que
v o z e s , e os f o n s , e a f o r m a r
e m

p o r m i l m o d o s as confonancias , e armonias : a A r -

tificial é a que enfina p o r m e i o de certas notas ,

p o n t o s , e figuras a efcrever, e pintar todas as con-

fonancias , e armonias , afim c o m o na efcrita fe p i n -

t a õ os p e n f a m e n t o s de q u e m efcreve. O s A n t i g o s d i -

vidiaõ a M u z i c a e m R i m i c a , M é t r i c a , O r g â n i c a ,

P o é t i c a , e Ipocritica. A R i m i c a era a que nas dan-

fas regulava os m o v i m e n t o s d o corpo. A M é t r i c a ,

a q u e dava cadência ás palavras nos d i f c u r f o s , que

fe
de N - S . da Grasa de Parnambuco. $ 3

fe recitavaô. A O r g â n i c a , a que regulava o f o m dos

inftrumentos muzicos. A P o é t i c a a que dava c a d ê n -

cia a u m certo n u m e r o de fílabas medidas. A I p o -

critica a que dava regras para os P a n t o m i m o s fe

f a z e r e m entender pelas a s õ e s , e geltos do c o r p o .

N ó s p o r é m deixando todas eftas M u z i c a s T e a -

traes , e p r i n c i p a l m e n t e a R i m i c a , e Ipocritica , co-

m o indignas da fantidade d o C u l t o , e da m a j e í t a d e

dos nofos Altares , e p o r i f o j u f t a m e n t e reprovada

p o r muitos Santos Padres, e C o n c i l i o s ; adotamos

t a ó f ó m e n t e a A r m o n i c a , que m o v e n d o á c o m p u n -

f a õ , e fantidade , arrebata a alma a ir louvar c o m

os A n j o s ao feu Creador ; e p o r i f o recomendada

p e l o C o n c i l i o de T r e n t o nas inítituisões dos S e m i -

nários , e p o r muitos Santos Pontífices , e p o r toda a

Igreja nao f ó O c i d e n t a l , mas t a m b é m O r i e n t a l , que

elevou os Cantores ás dignidades.

Do Profefor do Canto.

§. 1. O Profefor do Canto enfinará aos feus

D i c i p u l o s , n a õ f ó a f o r m a r os f o n s , e a facar as

vozes c o m fuavidade , e armonía ; mas t a m b é m a

ler, e efcrever eítes m e f m o s fons c o m as fuás no-

tas , p o n t o s , pauzas , finaes , e figuras : enfinará a

conhecer as diverfas claves, e as linhas e m que elas

d e v e m fer afinadas, os tempos , o c o m p a f o , o va-

lor de cada u m a das figuras & c . Enfinará t a m b é m

a arte de c o m p o r , e de c o m b i n a r os diverfos fons ,

e armonias p r ó p r i a s para louvar a D e u s : e terá

m u i t o cuidado e m que os feus D i c i p u l o s n a õ adqui-

raõ
$T 4 E j l a t u t o s do Seminário E p i f c o p a L

raó m á o s abi tos n o cantar, n e m fafaõ trejeitos c o m

o roito , n e m c o m a boca , n e m tenhao outros fe-

melhantes defeitos , e afétasoes i m p r ó p r i a s de atos

t a ò f e r i o s , e t a õ fagrados. N a õ c o n f e n t i r á , que can-

t e m c o m u m e í t r o n d o a f é t a d o ; n e m c o m uma vos

c o m o de eftoiro , que mais e f t r u j e m os ouvidos , do

que m o v e m a c o m p u n f a õ , p i e d a d e , e devofao : fará

e m í i m , que eles c a n t e m , mas n a õ que g r i t e m , e in-

c o m o d e m aos que v a õ aos T e m p l o s adorar a Deus

e m e f p i r i t o , e verdade.

§. 2. O P r o f e f o r d o C a n t o ferá t a m b é m das

C e r é m o n i a s praticas da M i f a rezada, e de todas as

que p e r t e n c e m á obfervancia p r á t i c a d o C o r o , fi-

cando o eníino e f p e c u l a t i v o das m e f m a s C e r é m o n i a s

para o P r o f e f o r de T e o l o g i a M o r a l , e L i t u r g i c a ,

da qual trataremos e m f e u lugar. E c o m o o d i t o P r o -

fefor d o C a n t o , e das C e r é m o n i a s d e v e r á dar e m fua

c a z a as fuás lisões a todos os de fóra d o n o f o C o l é -

g i o , que fe q u i z e r e m aplicar a elas ; d e t e r m i n a m o s ,

que o dito P r o f e f o r f ó nas terfas , e feitas feiras de

tarde feja o b r i g a d o a d á r as fuás lisões nas aulas

d o S e m i n á r i o aos E H u d a n t e s , que N ó s , o u o R e i t o r

m a n d a r - m o s , o u aos que de N ó s t i v e r e m licenfa ; a

faber de C a n t o ás terfas feiras desde as quatro a t é as

c i n c o ó r a s ; e de C e r é m o n i a s ás feitas feiras ás mef-

mas oras.

C A -
de N . S . da Gr asa de Pamambuco. 5 $

CAPITULO III.

Da Gramática.

A
dos
Gramática é a que enfina a falar , e ler cor-

r é t a m e n t e , e
termos e das
?
c o m acerto
frazes.
? e a que d á a regra

Do Profefor da Gramática Latina.

§ 1. Para que o enfino da Gramática fe pofa

fazer c o m clareza , e f e m confuzao , é necefario

dividir as lisoes dos Eftudantes , c o m o e m tres cla-

fes : e p o r i f o o Profefor da G r a m á t i c a L a t i n a dará

aos feus D i c i p u l o s da p r i m e i r a clafe, u m a n o f a õ da

G r a m á t i c a P o r t u g u e z a , para que c o m mais facilida-

de v a ó percebendo os principios da G r a m á t i c a L a -

tina j advertindo-lhes t u d o aquilo e m que a P o r t u -

gueza t e m a l g u m a analogia c o m a L a t i n a 9 e p r i n -

cipalmente pelo que pertence ás partes da orafaò :

a faber y N o m e , V e r b o y A d v é r b i o s ? e particulas

c o m as fuás diferenfas, t u d o pelo m o d o mais bre-

ve , f á c i l , e acomodado ás pequenas idades. D e p o i s

entrará nas Declinasoes , C o n j u g a s õ e s y G ê n e r o s ,

P r e t é r i t o s , e Sintaxe , p o r a l g u m a A r t e moderna ,

e recopilada , e quando recordarem a Sintaxe, e to»

dos os feus p r e l i m i n a r e s , fará que eles traduzaó al-

guns periodos mais efcolhidos da lingua P o r t u g u e -

za para a L a t i n a rejendo , e fazendo-lhes conhecer

a d e p e n d ê n c i a que umas partes da orafaÕ t e m das

ou-
5" 6 E f t a t u t o s do Seminário E p i f c o p a t

outras ; c para que os feus D i c i p u l o s na6 fafaó f ó

u z o da m e m ó r i a , mas t a m b é m d o j u i z o , e do d i f -

curfo , m a n d a r á que eles d ê m a r a z a õ das coizas.

§. 2. A o s D i c i p u l o s da f e g u n d a c l a f e , que j á

t i v e r e m fido e x a m i n a d o s , e aprovados na Sintaxe,

e feus preliminares fará o dito P r o f e f o r traduzir

S u l p i c i o Severo , C e z a r , e C i c e r o , e de nenhuma

forte os P o e t a s ; e as lisões feráo pequenas , e bem

rejidas , e os fará elhidar a Silaba para poderem co-

nhecer a quantidade de cada u m a delas ; e J o g o ime-

diatamente as figuras da Sintaxe : e terá grande cui-

dado e m lhes fazer advertir as figuras, de que tem

mais f r e q ü e n t e u z o as l i n g u a s L a t i n a 5 e Portugueza.

§. 3. A o s D i c i p u l o s da terceira c l a f e , que j á

t i v e r e m dado provas de u m a m a i o r i n t e l i g ê n c i a dos

fobreditos A u t o r e s L a t i n o s , fará traduzir S a l u f t i o ,

T i t o L i v i o y e T e r e n c i o , e o P r o f e f o r lhes expli-

cará y e lhes fará advertir neftes Autores a F á b u l a ,

a I f t o r i a , a b e l e z a , e o mais que pertencer para a

boa i n t e l i g ê n c i a da L a t i n i d a d e ; e faraõ tudo o mais

c o m o eftá d e t e r m i n a d o n o p a r á g r a f o afima ; e quan-

d o m o f t r a r e m ter j á a d q u i r i d o baftante lus da l i n -

g u a L a t i n a na tradufaõ da p r o z a , pafaráõ para a tra-

d u f a õ dos Poetas de m e l h o r n o t a , mas c o m m u i t a

f o b r i e d a d e , t a õ f o m e n t e para n a õ i g n o r a r e m a ver-

fificafaõ L a t i n a , e p o d e r e m entender as belezas da

arte: e lhes fará ver as diferenfas entre o eftilo p o é -

t i c o , e a p r o z a : as qualidades dos verfos , a f u a

m e d i f a ó , o u z o das figuras p o é t i c a s , e t u d o q u a n -

to pertence á fua f o r m a material.

§. 4. M a s c o m o para c o m p o r e m L a t i m é ne-

cefa-
âe N . S . âa Gr asa âe Parnamíiícâ. £ 7

cefario p r i m e i r o faber os t e r m o s , frazes , e proprie-

dades defta l i n g u a , o que fó fe adquire pela lifaò

dos livros e m que ela eftá d e p o z i t a d a ; d e v e r á o

P r o f e f o r principiar pelos t e m a s mais fáceis , pa-

f a n d o depois á p r o p o r f a ò para os mais difíceis : e

os afuntos f e m p r e d e v e r á õ fer algumas Iftorias bre-

ves , o u m á x i m a s úteis aos bons coftumes : algumas

agradáveis pinturas das virtudes , e a s o es nobres; e

outros defte g ê n e r o e m que aja g o f t o , e p r o v e i t o :

os afuntos fe p o d e m tirar de alguns A u t o r e s L a t i n o s ,

mas f e m lhes declarar quaes eles f a ò , para depois

á vifta deles lhes fazer ver a d i f e r e n f a das c o m p o -

z i s õ e s , que eles fizeraó , e conhecerem fenfivel-

m e n t e o j e n i o d e u m a , e outra lingua.

§. $ Eftes temas fe daráo alternativamente u m

dia fim, o u t r o n a ó , para que os E f t u d a n t e s os c o m -

p o n h a õ e m c a z a , e fó u m dia na femana os faráõ

na a u l a , mas todos d e v e r á õ fer rejidos , e emen-

dados -pelo P r o f e f o r ; e cada Eftudante l o g o que en-

trar na c o m p o z i f a õ dos temas , pedirá ao R e i t o r u m

caderno de papel rubricado p o r ele , o u p o r pefoa

da f u a confidencia, d i v i d i d o c o m o e m duas colunas

e m u m a das quaes fará o Eftudante o feu tema , e

na outra p o r á o P r o f e f o r a fua a p r o v a f a õ , o u cor-

réfaõ ; e acabado u m caderno , pedirá outro feito

d o m e f m o m o d ó para a t o d o o t e m p o as corrésões

fervirem de regra ao E f t u d a n t e ; e fe poder pela fim-

ples i n f p é f a õ dos temas , e c o r r é s õ e s , conhecer o

adiantamento de cada u m . T o d o s os ditos cadernos

p o r é m , afinados , e acabados que fejaõ , fe deve-

r á õ entregar ao R e i t o r , para os ter guardados e m


H l u g a r
5* 8 E j l a t u t o s do Seminário Epijcòpal

lugar f e g u r o ; e nao dará f e g u n d o caderno f e m que

o p r i m e i r o lhe feja entregue : e t o d o o eníino da

G r a m á t i c a L a t i n a fe p o d e r á c o n c l u i r e m tres anos.

CAPITULO IV.

Da Rétorica.

A
das
Rétorica é a que enfina a falar bem , fupon-

d o j á a c i ê n c i a das palavras , dos termos ,


frazes : ela é a q u e o r d e n a os p e n f a m e n t o s ,
e
a
d i U r i b u i f a õ , e o ornato ; e c o m ifto enfina todos os

meios , e artifícios para p e r f u a d i r os â n i m o s , e atrair

as vontades.

Do P r o f e f o r da Retórica.

§. i Inftruidos os Eítudantes , e aprovados na

L a t i n i d a d e , ao de pafar a aprender R é t o r i c a ; e o P r o -

fefor lhes dará as fuás lisões p o r a l g u m c o m p ê n d i o

tirado de Q u i n t i l i a n o , e de C i c e r o : fará analizar as

nielhores orasões de C i c e r o , para fe exercitarem prin-

cipalmente e m fazer c o m p o z i s õ e s oratórias , e epif-

tulares : m a n d a r á fazer elojios dos ó m e n s grandes y

e dará regras fobre o e x e r c i d o d o P ú l p i t o , p o r fer

eíte o minifterio a que mais a l t a , e p r o v e i t o s a m e n -

te deve fervir quanto á de m e l h o r na e l o q ü ê n c i a .

Q u a n d o o P r o f e f o r tratar da e l o c u f a õ devera expli-

car os diverfos eftilos das C a r t a s , dos D i á l o g o s da

Iftoria , dos P a n e j i r i c o s , das D e c l a m a s õ e s & c . D a r á

afuntos para f o b r e eles d i f c o r r e r e m os D i c i p u l o s ,

e a r g u m e n t a r e m uns c o m os outros na a u l a , advir-

t i n -
âe 1$. S . âa Gr as a âe Pamamhucú. $ 9

tindo-lhes f e m p r e que nas contendas d o e n t e n d i -

m e n t o , ê a c o r t e z i a , e a civilidade c o m o c o n -

tendor o final carateriítico d o ó m e m c r i f t a õ , e b e m

educado.

§. 2. D e p o i s de b e m exercitados os E f t u d a n -

tes n o que pertence á R e t ó r i c a ; f e lhes e n í i n a r á õ a s

regras da Poezia pela A r t e P o é t i c a de O r a c i o , aíim

c o m o t a m b é m a c o n h e c e r , e a aprender a executar

as boas i m a g e n s , e p e n í a m e n t o s nos melhores Poe-

tas ; acoftumando-os t a m b é m a fazer c o m p o z i s õ e s

e m verfo , nao f ó L a t i n o s , mas t a m b é m P o r t u g u e -

zes ; fazendo-lhes ver as belezas dos nofos Poetas,

efpecialmente de C a m ó e s , que apezar dos feus de-

feitos , n a õ deixou de fer u m excelente Poeta : mas

c o n t u d o o P r o f e f o r n a õ o b r i g a r á os feus D i c i p u l o s

a fazer v e r f o s , f e n a õ à q u e l e s , aos quaes conhecer

g o f t o , e j e n i o para os fazer.

§. 3. O P r o f e f o r de R é t o r i c a ferá t a m b é m

da Iftoria ; para o que depois de d á r aos feus D i -

cipulos as n o s õ e s , que ficaõ ditas , enfinará os ele-

m e n t o s da Iftoria univerfal p o r a l g u m r e z u m o f u -

cinto j c l a r o , e m e t ó d i c o . N a õ fará d i f c u s õ e s ííto-

r i c a s , que fao i m p r ó p r i a s da p r i m e i r a idade : mas

f o m e n t e explicará os principios jeraes , e m que f e

f u n d a toda a I f t o r i a , fazendo-lhes faber as princi-

paes n o s õ e s da G r o n o l o j i a , das é p o c a s , e das f u -

p u t a s õ e s dos tempos e m c o m u m : depois as da J e o -

grafia c o m u m ordinário c o n h e c i m e n t o da E s f e r a ,

e dos M a p a s , de forte que os E í f u d a n t e s faibaõ as

lítuasões da terra nos feus lugares principaes , e p o -

í a õ bufcar 110 M a p a qualquer P r o v i n c i a , o u C i d a d e

H i i f a m o -
6 o E f t a t u t o s do Seminário E p i f c o p a l

f a m o z a ; e u l t i m a m e n t e os fatos mais celebres do

M u n d o civil nos feus diverfos G o v e r n o s , e I m p é -

rios mais f a m o z o s , e f p e c i a l m e n t e n o de Portugal:

e todo o enlino da R e t ó r i c a , e da Iftoria fe de-

v e r á concluir e m u m ano.

CAPITULO V.

Da Filozofia*

A
divide
Filozofia é a ciência , que enfina a indagar

as
e m
coizas pelas fuás cauzas , e e f e i t o s ; e
tres grandes p a r t e s , que faô a
fe
R a c i o n a l ,
M o r a l , e N a t u r a l : na Filozofia R a c i o n a l fe com-

preende a L o j i c a , que dirije as o p e r a s õ e s do en-

t e n d i m e n t o , e a O n t o l o j i a , que prepara os prin-

c í p i o s ideaes de todas as ciências : a efta fe a j u n -

ta a P n e u m a t o l o j i a , na qual fe c o m p r e e n d e a ciên-

cia dos Efpiritos y e fe divide e m T e o l o j i a N a t u -

r a l , e Pficolojia , e do c o n c u r f o de ambas fe fôr-

m a a Metafizica , que trata dos primeiros princí-

pios , e da N a t u r e z a Efpiritual. N a M o r a l fe c o m -

preende t u d o o que pertence á É t i c a y que trata da

c o m p o z i f a õ dos c o f t u m e s , e da m o d e r a f a Õ das pai-

x õ e s , e m que confifte a felicidade da n o f a vida. N a

N a t u r a l finalmente t u d o o que pertence á c o n t e m -

p l a f a õ da N a t u r e z a ; mas c o m o f a õ m u i t o s os ra-

m o s das c i ê n c i a s , que t e m por o b j e t o a c o n t e m p l a -

f a õ da N a t u r e z a , e N ó s n o n o f o S e m i n á r i o , n a õ

p e r t e n d e m o s eftabelecer u m C o l é g i o de ciências uni-

Yerfaes j mas fim y e t a õ f o m e n t e u m a E f c o l a de

p r i n -
âe N* S , âa Cr asa âe Parnambuco. 61

princípios e l e m e n t a r e s , p r ó p r i o s nao f ó de u m b o m ,

e verdadeiro M i n i f t r o da Igreja ; mas t a m b é m de

u m b o m C i d a d ã o , e de u m indagador da N a t u r e -

za , que adora o C r e a d o r nas fuás o b r a s , e as. fas

fervir ao b e m dos ó m e n s ; dividiremos o eftudo da

Filozofia e m duas p a r t e s : na primeira trataremos da

L o j i c a , M e u f i z i c a , e É t i c a , e parte da Fiziea E x -

p e r i m e n t a l ; e na f e g u n d a da Iítoria N a t u r a l , e

Q u í m i c a .

Do P r o f e f o r de Filozofia.

§. 1. O Profefor de Filozofia enfinará a Loji-

ca , M e t a f i z i c a , e É t i c a por a l g u m c o m p ê n d i o m o -

d e r n o , e f c o l h e n d o , e explicando c o m clareza f ó -

m e n t e as queftoes ú t e i s , que pertencerem aos co-

n h e c i m e n t o s umanos , J u í z o s , D i f c u r f o s , Critica ,

E r m e n e u t i c a , O n t o l o j i a , Pficolojia , T e o l o j i a

N a t u r a l , regras , e princípios das asões m o r a e s ,

virtudes , e ofícios dos ó m e n s , f e m d i f u z o e s , n e m

perplexidades , que e m b a r a f a õ o progrefo dos eftu-

dos : deve explicar aos feus D i c i p u l o s , que coiza

feja m é t o d o , e m que confifte , e e m quantas par-

tes fe divide ; c o m o fe defcobre a verdade pelo m é -

t o d o A n a l í t i c o ; c o m o fe enfina , e convence p e l o

m é t o d o S i n t é t i c o y e que coiza feja m é t o d o Socra-

tico.

§. 2. E x p l i c a r á t a m b é m u m dos ramos da F i -

lozofia N a t u r a l , o u Fizica E x p e r i m e n t a l pelo que

pertence t a õ f o m e n t e á M e c â n i c a , e a Idroft-iti-

ça , e os princípios necefarios para a i n t e l i g ê n c i a

das m a q u i n a s , e das fuás f o r f a s j c u j o c o n h e c i m e n -


t o
6 z E j l a t u t o s do Seminário E p i f c d p a l

t o é m u i t o necefario para fazer m o v e r , e levantar

grandes c o r p o s , e c o n d u z i r as á g u a s e m u m pais,

c u j o f u n d o principal coníifte na A g r i c u l t u r a , e n o

trabalho de lavrar as terras, c a v a r , e extrair os m i -

neraes & c .

§ . 3 . O P r o f e f o r de Filozofia enfinará t a m b é m

as verdades de fato da Iftoria N a t u r a l ávidas pela ob-

f e r v a f a ó , pertencentes aos tres R e i n o s da Natureza,

A n i m a l , V e g e t a l , e M i n e r a l ; e fairá a pafeio fó-

ra da C i d a d e c o m os feus D i c i p u l o s e m algumas

tardes para os fazer ver n o c a m p o a m e f m a N a t u -

reza p r o d u z i n d o , e p r i n c i p a l m e n t e aqueles produ-

tos f o b r e que j á lhes tiver dado a l g u m a s n o s õ e s ,

o u o u v e r de lhes explicar i m e d i a t a m e n t e : mas co-

m o a o b f e r v a f a õ p o r 11 f ó n a õ baila f e m a experiên-

cia , d e v e r á t a m b é m pafar para o c o n h e c i m e n t o i n -

t e r n o dos p r o d u t o s da N a t u r e z a , e m cuja indaga-

f a õ coníifte o principal o b j e t o da Q u i m i c a ; para

o que enfinará aos feus D i c i p u l o s a indagar as pro-

priedades particulares dos corpos , analizando pelo

m e i o da arte os p r i n c i p i o s deles , e e x a m i n a n d o

os elementos de que eles fe c o m p õ e m , e d e f c o -

b r i n d o os efeitos , v i r t u d e s , e propriedades relati-

vas, que r e z u l t a õ da m i í t u r a , e a p l i c a f a õ i n t i m a de

uns aos outros.

§ . 4 . E ' necefario p o r é m , que a Iftoria de ca-

da u m dos p r o d u t o s da N a t u r e z a , p r i n c i p a l m e n t e

daqueles, que f a õ p r ó p r i o s da Z o n a T o r r i d a , o u m u i -

t o raros nos outros C l i m a s , feja m u i t o b e m d e f -

crita , e d e z e n h a d a , e as fuás analizes m u i t o b e m

çirçunftanciadas,para q u e os S á b i o s , q u e a b i t a õ fóra d a

Z o -
dè N . 8 . da Grasa de Tarnambuco, 6 3

Z o n a T o r r i d a , que o u n a õ t e m , o u n a õ p o d e m ter

os ditos p r o d u t o s t a õ perfeitos , e t a e s , quaes a

N a t u r e z a os produs no lugar dos feus n a c i m e n t o s ,

fe p o f a õ aproveitar d o n o f o t r a b a l h o , e n ó s t a m -

b é m das fuás luzes: e p o r i f o o P r o f e f o r de F i l o -

zofia examinará , e e m e n d a r á as D i f e r t a s õ e s , que

os feus D i c i p u l o s fizerem y e depois de b e m corri-

j idas ? feraõ a l é m dos feus A u t o r e s afinadas t a m b é m

p e l o P r o f e f o r , que as e n t r e g a r á ao R e i t o r d o C o -

l é g i o , para fe fazer u m a c o l é f a õ p r ó p r i a da Ifto-

ria N a t u r a l dos produtos d o Brazil , das fuás ana-

l i z e s , e das fuás virtudes : e t o d o o enfino da F i -

lozofia fe d e v e r á concluir e m dois anos.

CAPITULO VI.

Da Jeometria,

AJeometria é a Ciência, que enfina a medir y

n a õ f ó a terra , mas t a m b é m a a g u a , os cor-

pos celeftes , e jeralmente a quantidade , f e g u n d o

todas as fuás d i m e n s õ e s .

Do Profefor de Jeometria.

§. 1. O Profefor de Jeometria principiará pe-

lo enfino da A r i t m é t i c a , a qual trata das diverfas

c o m b i n a s õ e s dos n ú m e r o s ; e explicará as n o s õ e s

preliminares d o n ú m e r o , é da u n i d a d e , cuja natu-

reza deve procurar que feja b e m entendida pelos

feus D i c i p u l o s ; p o r q u e f e m i f o n a õ p o d e r ã o j á m a i s
6 4 E j l a t u t o s do Seminário E p i f c o p a l

p o l u i r cientificamente a teórica delta diciplina, není

p r o c e d e r c o m acerto na p r á t i c a : p r o c u r a r á , que os

feus D i c i p u l o s nao f o m e n t e a d q u i r a ò o conhecimen-

to das regras , e a f a c i l i d a d e , e p r o n t i d ã o na exe-

c u f a õ , mas t a m b é m a r a z a õ cientifica , e m que to-

das elas fe f u n d ã o . D a q u i p a f a r á a moítrar a for-

m a f a õ dos n ú m e r o s quadrados , e cúbicos , e a extra-

f a ò das f u á s r a í z e s : as propriedades principaes das

p r o p o r s õ e s , e p r o g r e s ò e s , t a n t o a r i t m é t i c a s , c o m o

g e o m é t r i c a s , e as regras de mais u z o , e i m p o r t â n -

cia , que delas d e p e n d e m ; c o m o fao a regra de tres

fimples , e c o m p o i t a , d i r e i t a , e inverfa ; e as re-

gras da falfa p o z i f a ó , de fociedade , de liga & c .

§. 2. D e p o i s de ter explicado o q u e no tem-

p o prezente é ballante faber da A r i t m é t i c a p o r u m

m o d o c o n c i z o , e abreviado , pafará a enfinar a J e o -

metria E l e m e n t a r : eíta ciência requer todas as aten-

s ô e s poíiveis , e f e r v e de acoftumar o e n t e n d i m e n -

to a fentir a evidencia d ó s raciocínios , a procurar

a e x a t i d ã o , e o r i g o r j e o m e t r i c ô das d e m o n f t r a -

s õ e s , e difcorrer m e t o d i c a m e n t e e m qualquer m a t é -

ria : e c o m o os E l e m e n t o s de Euclides f a ó os que

a t é agora m e l h o r t e m enfinado a ligar as idéas , e

os d i f c u r f o s , n a Ó avendo p r o p o z i f a õ a l g u m a f o l h a -

ria , mas enlafando todas necefariamente umas c o m

as outras , d e v e r á o P r o f e f o r d á r as fuás lisóes pe-

los ditos E l e m e n t o s , e fará quanto f o r pofivel para

j u n t a r a teórica c o m a p r á t i c a , m o l l r a n d o diítinta-

m e n t e o u z o , e a p l i c a f a õ das p r o p o z i s ó e s , q u e
explicar.

§. 3. A c a b a d a a J e o m e t r i a , p a f a r á a enfinar a

T r i g o -
de N . S . da Gr asa de Parnamhtcõ. é $

T r i g o n o m e t r i a p l a n a , que dela fe d e r i v a , e é de

abfoluta neceíidade para a prática. D e p o i s p a f a r á a

explicar a Aljebra e l e m e n t a r , que trata das p r o -

priedades da quantidade mais e m j e r a l , e que en-

fina os p r i n c i p i o s fundamcntaes da analize , que é

a xave de todos os d e f c o b r i m e n t o s , a que p o -

de xegar o E f p i r i t o u m a n o a r e f p e i t o de tudo o que

é quantidade. T o d o efte enfino fe d e v e r á concluir

e m u m ano.

CAPITULO VII.

Da Teolojia.

A
que
Teolojia Revelada , ou Crifta ainda que ver-

dadeiramente
toda
n a õ feja mais do que
proceda do m e f m o principio, que
u m a
é
f ó ;
D e u s
A u t o r da R e v e l a f a õ ; que toda fe derive das m e f -

mas fontes a E f c r i t u r a , e a T r a d i f a õ , que f a õ os

dois o r g a õ s fagrados da D i v i n a R e v e l a f a õ ; que t o -

da tenha p o r objeto fimultaneo, e individuo as re-

gras do que devemos crer , e obrar, pela intima u n i a õ

que elas t e m entre í i ; e finalmente que toda fe de-

va f e m p r e referir a D e u s c o m o a f e u ultimo fim ;

c o m t u d o para m a i o r c o m o d i d a d e do feu e f t u d o ,

e da p r e p a r a f a õ necefaria para as diverfas f u n s õ e s

d o f e u e x e r c í c i o , coftuma fer dividida pelos T e ó -

logos e m diferentes efpecies, tanto e m razaõ dos

objetos imediatos , e fins particulares e m que ela

fe ocupa , c o m o e m confiderafaÕ do diverfo m é t o d o ,

c o m que a trataõ os m e f m o s T e ó l o g o s ,
I C o n -
6 £ E j l a t u t o s do Seminário E p f c õ p a F

C o n í i d e r a d a e m r a z ã o dos o b j é t o s imediatos ,

e p r ó x i m o s , d i v i d e - í e a T e o l o j i a e m T e o r e t i c a , o u

E f p e c u l a t i v a , e e m Prática , ou M o r a l . A T e o r e t i c a ,

ou E f p e c u l a t i v a t e m por o b j e t o i m e d i a t o , e próxi-

m o a explicafaõ da F é , e dos D o g m a s d a R e l i j i a õ ,

e verfa p r e c i z a m e n t e fobre as verdades, que nós os

C r i f t ã o s d e v e m o s crer. A P r á t i c a , ou M o r a l ocupa-

fe toda e m dirijir as a s õ e s , e f o r m a r os coftumes

do Criftao , em regular o C u l t o D i v i n o , e prefere-

ver as C e r é m o n i a s Sagradas ; por onde fe v ê , que o

feu o b j é t o i m e d i a t o , e p r ó x i m o coníifte no que de-

v e m o s obrar.

U m a , e outra fe f u b d i v i d e e m diferentes ef-

pecies : a T e o l o j i a T e o r e t i c a , o u E f p e c u l a t i v a fe

fubdivide e m D o g m á t i c a , S i m b ó l i c a , P o z i t i v a , e

P o l e m i c a : D o g m á t i c a e m quanto t e m por o b j e t o a

e x p l i c a f a õ dos D o g m a s da F é : S i m b ó l i c a e m quan-

t o explica o D o g m a pela o r d e m , e ferie do S í m -

b o l o : P o z i t i v a e m quanto fe explica por a r g u m e n -

tos p o z i t i v o s da E f c r i t u r a , e da T r a d i f a õ : P o l e m i -

ca e m quanto indica os erros contrários á F é , e de-

f e n d e os D o g m a s contra eles.

A T e o l o j i a P r á t i c a fe fubdivide e m M o r a l , D i -

ciplinar, e L i t u r j i c a M o r a l e m q u r n t o trata ern

jeral dos principios da M o r a l C r i f t ã , da N a t u r e z a

M o r a l do, ó m e m , da n o r m a das fuás asões m o r a e s ,

e e m particular dos ofícios da M o r a l C r i f t ã relativos

á Sociedade N a t u r a l , C i v i l , e R e l i j i o z a : D i c i p l i n a r

e m quanto explica certas verdades , afim teoreticas ,

c o m o p r á t i c a s , que n a õ pertencem á efencia d a R e -

lijiaó , ainda que d i g a Õ refpeito á F é , e aos cof-

t u m e s :
âe N . S. âa Gr as a âe Varnãmluco. 6 7

t u m e s ; c p o r i f o f a õ variáveis pela I g r e j a c o m aten»

faõ aos t e m p o s , aos lugares , e ás p*efoas; e fe dis

C a n o n i c a e m quanto trata da f o r m a política , e ex-

terior d o governo da i g r e j a ; e fe dis lítorica e m

quanto e x p õ e m e m particular as variasões fucedidas

na I g r e j a a refpeito d o C u l t o .

A l é m deítas principaes d i v i z õ e s , e f u b d i v i -

z õ e s da T e o l o j i a , á outras m u i t a s , cujas diferentes

n o s õ e s fe p o d e m ver nos T e ó l o g o s , efpecialmente

m o d e r n o s , que para d a r e m u m c o n h e c i m e n t o mais

efpecifico de todas as partes da T e o l o j i a , e faze-

r e m conceber u m a idéa mais c l á r a , e c o m p l é t a da

extenfao deita Sagrada C i ê n c i a , fe t e m aplicado a

diitinguir todas as efpecies dela, e a explicar a na-

tureza , e fim particular, e p r ó p r i o de cada u m a das


ditas partes.

A Iítoria da I g r e j a t a m b é m fe divide e m Sa-

grada , e Ecleziaftica propriamente. A Sagrada é a

que compreende o A n t i g o , e N o v o T e í t a m e n t o a t é

á g l o r i o z a A c e n f a õ de Jezus C r i í t o : a Ecleziaítica

p r o p r i a m e n t e é a que refere os acontecimentos da

I g r e j a , e todos aqueles , que c o m eles t e m r e l a f a õ ,

desde a A c e n f a õ de C r i í t o a t é o prezente.

Sendo pois c o m o é a Iítoria da I g r e j a u m a fiel

narrafaõ dos fatos , que f e r v e m de provas da n o f a

c r e n f a , e de regras das nofas asões moraes f e m mais

o u t r o l i g a m e n t o d o que o da Cronolojia , e o da í i m -

ples ferie dos tempos ; e a C i ê n c i a T e o l o j i c a n a õ

f e n d o mais d o que a arte de l i g a r , t e f e r , e enca-

dear os fatos que f e r v e m , e d e v e m fervir de p r o -

vas da verdade, e da d e m o n f t r a f a õ do que devemos

I i i crer ,
6 t "Ejlatutos do Seminário E p i f c o p a l

c r e r , e do que devemos o b r a r ; é c l a r o , que o ef-

t u d o da lftorki da Igreja deve fer o primeiro do

C u r f o T e o l o j i c o d o n o f o C o l é g i o , vifto que con-

f o r m e a boa o r d e m , e diftribuifaõ das matérias ,

aqueles f a t o s , e p r i n c í p i o s , que o u v e r e m de fervir

de baze ao edifício dos nofos difcurfos , fe devem

p ô r e m p r i m e i r o lugar.

E f u p o f t o f e j a ó as matérias muitas , e grande

a extenfao da C i ê n c i a Sagrada , c o m t u d o N ó s cingin-

do-nos t a õ f o m e n t e aos eftudos elementares , e quan-

tos baftem para dar as principaes nosões«defta C i ê n -

cia aos nofos T e ó l o g o s , e abrir-lhes as portas dos

eftudos, que eles depois d e v e m f e g u i r p e l o feu tra-

b a l h o , e aplicafao \ determinamos, que o C u r f o T e o -

lojico d o n o f o C o l é g i o fe c o m p l e t e e m tres anos,

e que tres fejaõ os Profefores , que d e v e r á õ e x p l i -

car as matérias dele na f o r m a f e g u i n t e .

*
Do P r o f e f o r da Ijloria Ecleziajlica.

§. i. Além dos princípios jeraes da Crono-

l ò j i a , e da Jeografia , e m que j á f u p o m o s inftrui-

dos os nofos C o l e g i a e s nas aulas menores na for-

m a que fica determinado no C a p i t u l o I V §. 3 Par-

te 3. deftes E f t a t u t o s , d e v e o P r o f e f o r da I f t o r i a Ecle-

ziaftica fazer u m a breve r e c a p i t u l a f a õ aos feus D i -

cipulos dos E l e m e n t o s da C r o n o l o j i a , e da J e o -

grafia, tanto Sagrada , c o m o Ecleziaftica , e m que

fe c o m p r e e n d a õ as d i v i z õ e s dos tempos , e dos, l u -

gares pertencentes á Iftoria de ambos os T e f t a m e n -

t o s , e da I g r e j a .
de J V . S . da Gr asa âe Parnambucô. 6 y

§. 2. D i f p o f t o s c o m eftesnecefarios p r e l ú d i o s ,

pafaráõ ao eftudo da Iftoria Sagrada , que p r i n c i p i a

na creafaõ d o ó m e m , e acaba na A c e n f a õ d o O r n e m

D e u s . Para m a i o r facilidade fe p o d e dividir efta Ifto-

ria e m duas partes , u m a T i p i c a , o u F i g u r a t i v a , que

fe eftende a t é o N a c i m e n t o de Jezus C r i f t o , e fe

p o d e tratar f e g u n d o a o r d e m dos quatro eftados d o

P o v o de D e u s debaixo d o g o v e r n o dos Patriarcas ,

dos J u i z e s , dos R e i s , e dos Pontífices : outra E v a n -

jelica que c o m p r e e n d e a V i d a do Salvador do M u n -

d o a t é fobir aos C e o s ; e fe p o d e explicar f e g u n -

d o a o r d e m , que fe coftuma f e g u i r na armonia d o

E v a n j e l h o .

§. 3. N o enfino da Iftoria da I g r e j a , a qual é

c o m o a c o n t i n u a f a õ da Iftoria Sagrada , f e g u i r - f e - á

a o r d e m dos S é c u l o s , moftrando-fe e m cada u m de-

les , quaes foraõ os Sumos Pontifices , que g o v e r n á -

r a ó a I g r e j a ; quaes os C o n c i l i o s , q u e fe celebráraõ ;

quaes os D o g m a s , que fe definirão; qual a D i c i p l i -

n a , que fe o b f e r v á v a ; quaes as difputas e m m a t é -

rias ecleziafticas , que fe fucitáraô ; quaes os E r e g e s ,

que c o m b a t e r ã o a verdade ; quaes e m f i m os V a r õ e s

iluftres e m fantidade , e d o u t r i n a , que florecêraÕ.

Pela m e f m a o r d e m principiando pela f u c e f a õ dos

B i f p o s nas Diocezes mais antigas , fe explicará e m

c o m p ê n d i o a Iftoria particular da I g r e j a L u z i t a n a

e m correfpondencia a cada S é c u l o , e t a m b c m a da

N ò f a D i o c e z e .

§. 4. T o d a s eftas noticias d e v e m fer acompa-

nhadas de judiciozas reflexões, principalmente n o que

dis refpeito ao conhecimento dos D o g m a s , e á al-

tera-
3
f ò E j l a t u t o s ão Seminário Epifccpat-

t e r a f a ó da D i c i p i i n a , dois objetos que nefte eftudo

d e v e ter f e m p r e diante dos o l h o s o Profefor ; por-

que eftes fatos , que ele enfina difperfos f e m outra

o r d e m mais d o que a dos S é c u l o s , f a õ os m e f m o s

que depois fe a õ de p r o p o r f e g u n d a ves u n i d o s , e

ligados e m u m c o r p o , por o r d e m fiftematica nas duas

partes da T e o l o j i a D o g m á t i c a , o u E f p e c u l a t i v a ,

e da D i c i p l i n a r , o u Prática. T o d o o enfino da Ifto-

ria Ecleziaftica fe deve concluir e m u m ano.

DQ Profefor de Teolojia Efpeculativa.

§. r. Deverá o Profefor de Teolojia Efpecu-

lativa principiar as fuás lisões p o r u m a breve noti-

cia da R e v e l a f a õ , m o f t r a n d o a certeza da fua exiften-

cia , e a n e c e í i d a d e que dela t i n h a õ os ó m e n s , p r i n -

cipalmente depois d o pecado de A d a Õ : p a f a r á de-

pois para a doutrina dos L u g a r e s T e o l o j i c o s , d i v i -

dindo-os e m p r i m i t i v o s originaes , e e m derivativos

fecundados ; e fará v e r , que os p r i m i t i v o s f a õ a E f -

critura, e a T r a d i f a õ , e que os S e c u n d á r i o s f a õ os

C o n c i l i o s , p r i n c i p a l m e n t e o s j e r a e s , e o c o n f e n f o

dos B i f p o s ; e depois de fe m o f t r a r a fua inftituifaõ

de direito D i v i n o , pafará a moftrar o p o d e r , q u e a

cada u m deles c o m p e t e de j u l g a r as^ matérias de

R e l i j i a õ , c o m o Juis nato da I g r e j a , e que o P o n -

tífice R o m a n o é o p r i m e i r o Juis inftituido p o r J e -

zus C n f t o nas controverfias da R e l i j i a õ , e o p r i -

m e i r o D e p o z i t a r i o das xaves dos R e i n o s dos C é o s ,

para o que fe d e v e r á eftabelecer a inftituifaõ D i v i -

m do f e u P r i m a d o de o n r a , jurisdifaõ e autoridade.

M o f -
de N . S . da Gr as a de Parnambuco. 7 1

Moftrará t a m b é m que os S a n t o s P a d r e s , e D o u t o r e s

da I g r e j a , c o m o teftemunhas da Tradi£?.Õ , confti-

t u e m u m lugar d e r i v a t i v o : e da m e f m a f o r t e os S í m -

bolos ? o u f ó r m u l a s da F é , que f a ó outros tantos

C o m p ê n d i o s da D o u t r i n a , que a I g r e j a p r o p õ e m á

crenfa dos Fieis ; para o que fe d e v e r á d á r u m a n o -

ticia de todos os S í m b o l o s , e livros limbolicos , e m

que eles fe c o n t é m , c o m o f a õ o A p o f t o l i c o , o N i -

ceno j o C o n f t a n t i n o p o l i t a n o , o A t a n a z i a n o , o L a -

teranenfe , o V i e n e n f e , e a C o n f i f a õ da F é de P i o

I V acomodada á D o u t r i n a do C o n c i l i o de T r e n t o .

§. 2. M o f t r a r á e m f i m , que f ó a I g r e j a é y e

p o d e fer o verdadeiro J u i s , a R e g r a certa, e o Ó r -

g ã o infalível das verdades criftas ; p o r n a õ fer p o -

íivel que c o m p i t a efte j u i z o a cada u m dos Fieis ;

p o r q u e de fe arrogar qualquer deles o M a g i f t e r i o

da i n t e r p r e t a f a õ da palavra D i v i n a , defprezando a

A u t o r i d a d e p u b l i c a da I g r e j a y á qual D e u s p r o m e -

teo a fua aíiftencia, rezultaria i n f a l i v e l m e n t e f e r e m

tantas as d e c i z õ e s , quantas f o f e m as cabefas ; que

afim fe abalaria o E d i f í c i o da R e l i j i a õ ; que nela

n a õ averia firmeza; que tudo fe poria e m o p i n i ã o ;

e que e m lugar de fer ela u m a , feriaõ; muitas , co-

m o infelismente t e m m o f t r a d o a experiência de

tantos S é c u l o s c o m o grande n u m e r o de erezias 5 e

de erros, que t e m inféftado a I g r e j a , os quaes t o -

dos n a c e r a õ de fe arrogarem os A u t o r e s delas o j u i -

z o particular da interpretafaõ da palavra D i v i n a , e

de d e f p r c z a r e m a A u t o r i d a d e p u b l i c a da Santa I g r e -

j a C a t ó l i c a .

§. 3. Feita eíta i n t r o d u f a õ entrará o d i t o P r o -


72- Ejlatutos do Seminário EpiJcopai

fefor n o eníino da T e o l o j i a E f p e c u l a t i v a , e tratará

de D e u s , e de fuás P e r f e i s ò e s D i v i n a s , ou A t r i b u -

tos. D a diftinfaõ das tres P e í o a s e m D e u s , e das

propriedades , que í i n g u l a r m e n t e c o m p e t e m a cada

uma delas. D o p r i m e i r o efeito exterior , pelo qual

principiou D e u s a manifeftar-fe , ifto é da Creafao

e m jerai , e e m particular da Creafao dos A n j o s , e

mais particularmente ainda da Creafao do ó m e m ,

c o m o i m a j e m de D e u s ; onde fe e x p o r á o primei-

r o eltado do ó m e m , que é o da I n f t i t u i f a õ , ou da

i n o c ê n c i a , e m que f o i creado. D o f e g u n d o efeito

e x t e r i o r , pelo qual D e u s continua a manifeftar-fe ;

ifto é da Providencia tanto e m jeral a refpeito de

todas as coizas creadas, c o m o e m particular a ref-

p e i t o da Creatura R a c i o n a l .

§. 4. D e p o i s pafará a explicar a parte da T e o -

lojia , a que os Padres d a õ o n o m e de E c o n o m i a D i -

vina , por conter as verdades, que d i z e m relafaõ á

reftaurafaõ da inocência d o ó m e m perdida pelo pe-

cado , e tratará do f e g u n d o eftado d o ó m e m , que

é o de D e f t i t u i f a õ , o u de culpa e m que ele m e f m o fe

p ô s abuzando da fua liberdade. D o pecado e m j e -

ral , e e m particular do pecado o r i j i n a l , m o f t r a n -

d o - f e a fua n o f a õ , c a u z a , f o r m a , fujeito , e con-

fequencias , e principalmente a fua t r a n s f u z a õ . D a

^neceíidade de u m L i b e r t a d o r , que reftaura-fe os ef-

tragos d o pecado do p r i m e i r o ó m e m . D a R e v e l a f a õ

defte D i v i n o L i b e r t a d o r feita a A d a õ , e conferva-

da e m todas as idades , q u e p r e c e d e r ã o ao N a c i -
m e n t o do M e í i a s p r o m e t i d o .

§. E x p l i c a d a a E c o n o m i a D i v i n a a r e f p e i t o

4 o
de 2T. <T. da Gr asa de Tarnambuco. 73

do ó m e m n o eftado da culpa , fegue-fe a explica-

faó da m e f m a E c o n o m i a D i v i n a a refpeito d o ó m e m ,

no f e u terceiro eftado, que é o de R e f t i t u i f a õ co-

mefada , o u da G r a f a , ao qual f o i elevado p o r Deus.

E p r i n c i p i a n d o pela Pefoa d o L i b e r t a d o r , tratará das

Profeíias fobre o M e í i a s p r o m e t i d o , verificadas e m

J e z u s de N a z a r é . D a I n c a r n a f a ó do V e r b o , e con-

feguintemente da D i v i n d a d e de J e z u s C r i f t o . D o

O r n e m D e u s , c o m o M e d i a d o r entre D e u s , e os ó m e n s ,

e j u n t a m e n t e da i n v o c a f a ó , e culto dos S a n t o s ,

que f a ó os M e d i a d o r e s fubalternos. D o m e f m o O r n e m

D e u s ^ c o m o L e g i s l a d o r , e A u t o r do N o v o T e f t a -

í h e n t o : onde fe fará ver qual é a verdadeira n o f a ó

da I g r e j a ; qual a natureza do governo interior, que

J e z u s C r i f t o nela d e i x o u eftabelecicto ; qual o p o d e r

das Xaves , que o m e f m o D i v i n o Inftituidor c o m u -

nicou aos A p o f t o l o s , e aos feus legitimos Sucefo-

res; quaes e m fim os feus m e m b r o s , as fuás notas

caraterifticas & c . D o m e f m o O r n e m D e u s c o m o Sa-

cerdote ; o n d e fe e x p o r á a inftituifaõ do Sacrifício

da L e i N o v a , a fua diferenfa dos Sacrifícios da L e i

A n t i g a , os feus efeitos , o f e u fim & c .

§. 6. D e p o i s de confiderar as principaes p r o -

priedades , e f u n s õ e s divinas da Pefoa do L i b e r t a d o r

fegue-fe explicar os meios fobrenaturaes, que Ele nos

d e i x o u para p o d e r m o s confeguir a fálvafaó , q u e

mereceo para n ó s c o m a fua morte. Eftes meios f a õ

a G r a f a M e d i c i n a l , e os Sacramentos. E m quanto á

Grafa , depois de fe narrar e m c o m p ê n d i o a Iftoria

dos diverfos Siftemas dos T e ó l o g o s ' da Efcola fobre

a natureza defte d o m maravilhozo da D i v i n d a d e ,


K f e m
7 4 Ejlatutos do Seminário EpiJcopai

f e m fe t o m a r partido p o r a l g u m d e l e s , n e m fe de-

m o r a r a refuta-los , tratará da G r a f a da V o c a f a ó , da

G r a f a A d j u v a n t e i n t e r n a , da n e c e í i d a d e da G r a f a ,

da fua eficácia , da fua fuficiencia, da neceíidade da

F é e m Jezus C r i í t o : depois d e f e e x p l i c a r e m os meios

fobrenaturaes , que nos d i f p o e m para a Juftificafaõ ,

e para nos f e r e m aplicados os f r u t o s da P a i x ã o do

R e d e n t o r , fe p a í e a tratar da m e f m a juftificafaõ,

e do m e r e c i m e n t o d o ó m e m n o eftado da G r a f a , da

R e d e n f a õ a favor d o ó m e m n o f e u quarto eftado ,

que é o de Reftituifaõ* c o n f u m a d a , o u de Gloria

Eterna.

§. 7- Explicadas pois p r i m e i r o que t u d o as

m u d a n f a s , que a õ de preceder a efte u l t i m o eftado,

o u fejaõ particuláres c o m o a M o r t e , o J u i z o parti-

cular , o P u r g a t ó r i o & c . , o u f e j a õ jeraes c o m o a

R e f u r r e i í a õ dos corpos , a f e g u n d a V i n d a de J e z u s

C r i f t o , o J u i z o u n i v e r f a l , a C o n f u m a f a õ d o m u n -

d o & c . ; fe e x p o r á , q u a n t o a n o f a fraca razaÕ aju-

dada c o m as luzes da F é p ô d e c o m p r e e n d e r , a g r a n -

deza d o p r ê m i o da vida eterna , que D e u s t e m re-

zervado para os que nefta vida m o r t a l fe f o u b e r e m

aproveitar dos merecimentos d o R e d e n t o r , e a enor-

m i d a d e d;a p e n a d a m o r t e eterna, que D e u s t e m igual-

m e n t e deftinadoaos que d e f p r e z a ò , a fua L e i . T o d o

Oj e n f i n o da T e o l o j i a E f p e c u l a t i v a fe d e v e r á concluir

em. u m ano.

Do Profefor de Teolojia Prática.

§. i. O. Profefior de Teolojia Prática deverá

E r i u -
âe N . $ . âa G r a f a âe Parnàmbuco. y f

p r i n c i p i a r as f u á s l i s õ e s p e l a explicafaõ da É t i c a E v a n -

jelica , a qual toda fe ocupa e m defcubrir ao C r i f t a õ

o c a m i n h o da vida eterna,. e p o r confequencia e m

dirijir para efte fim fobrenatural as asões moraes d o

ó m e m f e g u n d o a L e i da G r a f a , que J e z u s C r i f t o

v e i o intimar-nos. E f t a É t i c a D i v i n a é tanto mais

fublime d o que a F i l o z o f i a , quanto é fuperior a f e -

licidade eterna á temporal ; a eficácia da G r a f a á

debilidade da N a t u r e z a : a lus da F é ás f o m b r a s

da r a z a õ umana. E para m e l h o r fe tratar efta i m p o r -

tantifima C i ê n c i a ferá necefario dividi-la e m J e r a l ,

e e m Particular.

§. 2. N a Jeral tratará d o S u m o B e m , e verda-

deira felicidade da vida e t e r n a , e das verdades j e -

raes donde fe dedus a t e ó r i c a , e a prática da d o u -

trina m o r a l d o E v a n j e l h o : das L e i s c o m o n o r m a

das asões moraes , e da fua aplicafaõ a elas , c o m o

principio donde nace a I m p u t a f a õ & c . , e d e v e r á

enfinar as principaes regras d o D e c a l o g o p o r fer efte

u m a d m i r á v e l c o m p ê n d i o de toda a m o r a l criftã. N a

Particular d e v e r á d á r a verdadeira n o f a õ d o que é

oficio d o ó m e m C r i f t a õ , e a aplicafaõ aos minifte-

rios ecleziafticos; e explicará quaes f a õ os ofícios

d o ó m e m a refpeito de D e u s , e j u n t a m e n t e as vir-

tudes, que deles nacem, e os vicios, que lhes faõ o p o f -

tos : quaes f a õ os ofícios d o ó m e m Criftaõ a refpeito

de fi m e f m o , e q u a e s as v i r t u d e s , e vicios que fe fe-

g u e m da fua obfervancia, o u n a õ obfervancia ; e quaes

f a õ os ofícios do m e f m o ó m e m C r i f t a õ , tanto a b f o l u -

t o s , c o m o ipoteticos a refpeito d o feu p r ó x i m o ; e

quaes as virtudes , e vicios , que lhes correfpondem.

K i i § . 3 .
7 6 Ejlatutos do Seminário E p i f c o p a l

§. 3. D e p o i s tratará e m c o m p ê n d i o das p r i n -

cipaes virtudes , que p e r t e n c e m á T e o l o j i a Paftoral,

explicando os ofícios efpeciaes dos Paftores da Igreja

de todas as Jerarquias no que refpeita á p r é g a f a õ

da palavra de D e u s ; á d i f p e n f a f a õ dos Sacramentos;

á cura das almas; e ao exercicio d o C u l t o externo.

D e p o i s pafará a tratar da D o u t r i n a E c l e z i a f t i c a , que

fe funda na A u t o r i d a d e L e g i s l a t i v a da I g r e j a , e que

p o r efa razaõ é v a r i á v e l ,. e acomodada ao t e m p o ,

ao lugar , e ás pefoas ; e é a que f o r m a o o b j e t o

da T e o l o j i a D i c i p l i n a r , de cuja f u b d i v i z a ò , c o m o

j á d i f e m o s , na c e m as duas ultimas partes d o Siftema

D o u t r i n a i , a faber T e o l o j i a C a n o n i c a , e T e o l o j i a

L i t u r j i c a .

§. 4, Pelo que refpeita á T e o l o j i a C a n o n i c a ,

depois de d á r u m a c o m p e n d i o z a noticia da p r o p a -

gafao d o E v a n j e l h o pelos A p o f t o l o s , e das d i ver-

ias p e r f e g u i s õ e s , que a I g r e j a f o f r e o n o f e u efta-

belecimento ; explicará a Iftoria das Inftituisoes C a -

nonicas , e das diverfas ordens dos Fieis , que f e m -

pre o u v e r a õ na Sociedade Ecleziaftica ; da o r i g e m

dos titulos , prerogativas , extenfao de poder , f u n -

soes minifteriaes, o r d e n a s õ e s r e eleisòes dos B i f p o s

e m j e r a l , e e m particular d o R o m a n o P o n t i f í c e ;

dos Patriarcas, dos E x a r c o s , e Primazes , dos M e -

tropolitanos , dos G o r e p i f c o p o s , das p r e r o g a t i v a s ,

dignidades , ofícios , e f u n s ô e s relativas de cada u m a

das diverfas clafes do C l e r o da fegunda o r d e m , Pres-

biteros, A r c i p r e t e s , Protopapas , D i a c o n o s , A r c e -

diagos , Subdiaconos, A c ó l i t o s , Exorciftas & c . : das

(uas ordenasoes, c e l i b a t o , i m u n i d a d e s , rendas, vef-

t i d o j
âe N S. da Qraèa de Tarnambuco. 77

tido", regras de coftumes & c . D a o r i g e m da v i d a

monaftica , dos diverfos g ê n e r o s de M o n g e s , e de

feus Inftitutos. Das v i r g e n s , e viuvas na p r i m i t i v a

Igreja. Das regras Canonicas fobre a vida do co-

m u m dos F i e i s , e diferentes ordens de C a t e c u m e -

nos , e da fua a d m i f a õ . U l t i m a m e n t e da D i c i p l i n a

d o Segredo uzada nos primeiros Séculos a refpeito

dos m e f m o s C a t e c u m e n o s : e o P r o f e f o r quando ex-

plicar os C a p i t u l o s das ditas Inftituisòes Ganonicas

terá cuidado de fazer t a m b é m m e n f a ô dos C a p i t u -

Jos das G o n f t i t u i s ó e s do n o f o B i f p a d o , que lhes f o -

r e m correspondentes.

§ . 5 À refpeito da T e o l o j i a L i t u r j i c a dará

t a m b é m u m a breve n o f a õ do m o d o autorizado pe-

la I g r e j a de celebrar o C u l t o publico da R e l i j i a õ ,

e tratará e m jeral da orijem dos T e m p l o s entre

os Criftãos , de fuás antigas f o r m a s , partes, edifi- -

cios a d j u n t o s , de feus ornatos , da fua C o n f a g r a -

f a õ , e D e d i c a f a õ ; da o r i j e m , e uzo da Liturjía

das veftes, e vazos Sagrados , dos t e m p o s deftina-

dos ao C u l t o p u b l i c o , da deftribuifao das Oras Ca-

nonicas , da lifaõ da Efcritura , das O m i l i a s & c ,

f e g u n d o a D i c i p l i n a dos quatro primeiros S é c u l o s

da I g r e j a , e e m particular dos diverfos ritos uzados

na celebrafaõ do Sacrifício ; das c e r é m o n i a s y que

p r e c e d i a õ , a c o m p a n h a v a õ , e fe f e g u i a õ na adminif-

trafao dos Sacramentos em jeral , e e m particular

de cada u m deles : das principaes folenidades de C r i f -

t o , e dos Santos, do C u l t o das I m a g e n s , e R e l í q u i a s ,

dos jejuns p ú b l i c o s , e efpecialmente da Q u a r e f m a y

T ê m p o r a s , R o g a s õ e s & c . , e finalmente das C e r é -

m o n i a s
7 2 E j l a t u t o s do Seminário E p i f c o p a l

monias Ecleziafticas praticadas nos funeraes dos C r i f -

tãos. E o P r o f e f o r quando tratar de a l g u m dos d i -

tos C a p í t u l o s da L i t u r j í a terá t a m b é m cuidado de

fazer m e n f a õ dos C a p í t u l o s c o r r e f p o n d e n t e s das ditas

C o n f t i t u i s ó e s d o n o f o B i f p a d o , e dará u m a fuficien-

te noticia dos L i v r o s L r t u r j i c o s , e explicará as re-

gras mais necefarias para interpreta-los.

§. 6. O P r o f e f o r depois de dar as principaes

n o s ò e s da M o r a l E v a n j e l i c a , e da T e o l o j i a C a n o -

nica , e L i t u r j i c a , terá grande cuidado e m dar de-

fini soes claras, e exátas , que i n f p i r e m u m a perfei-

ta n o f a ô das m a t é r i a s definidas. P o r á depois os A x i o -

m a s , ó u R e g r a s , que c o n t é m as primeiras , e prin-

cipaes verdades de que nacem todas as o u t r a s ; tra-

b a l h a r á p o r moftrar a certeza delas , e e m as p ô r

na m a i o r e v i d e n c i a , de que elas f o r e m f u c é t i v e i s ,

d e m o n í t r a n d o - a s pelos p r i n c í p i o s da E f c r i t u r a , e da

T r a d i f a ô . D a s primeiras verdades pafará ás f e g u n -

das , que f a ó as c o n c l u z õ e s imediatas 3 e que dos

ditos p r i n c í p i o s , e A x i o m a s , o u da c o m b i n a f a õ de-

les fe d e d u z e m . Deftas e x p e n d e r á f o m e n t e as q u e

f o r e m mais n o t ó r i a s , e t i v e r e m u m u z o mais u n i -

verfal na vida criítã y e na a d m i n i í t r a f a õ dos Sacra-

mentos.

§ . 7 E por n a õ t r a n f g r e d i r os termos de u m

C o m p ê n d i o o m i t i r á as c o n c l u z õ e s , que f o r e m mais

fingulares, e de u m u z o menos f r e q ü e n t e : p o r q u e

ainda que eftas f a õ t a m b é m necefarias n o u z o , e

exercício ; c o m t u d o n a õ é pofivel , n e m p r e c i z o

que todas fe a p r e n d a õ l o g o j u n t a m e n t e c o m a p r i -

m e i r a doutrina da C i ê n c i a \ p o i s que b e m f a b i d ô s

os
d e ~ N . S . da Gr ara de Parnambueo. 7 9

os principios , nao é dificultozo a qualquer ó m e m

de m e d i a n o talento , e de a l g u m exercicio da L o -

jica o d e d u z i r deles as r e g r a s , e aplica-las aos cazos

ocurrentes. E para que os D i c i p u l o s p o f a õ p o r l i f ó

fazer eftas d e d u s õ e s , e aplicasões , deve o P r o f e f o r

exercita-los nas A u l a s nas m e f m a s aplicasões , e de-

d u s õ e s : dando-lhes alguns cazos para eles os r e z o l -

v e r e m p o r l i f ó c o m a í i m p l e s l e i dos p r i n c i p i o s ,

revendo as rezolusões dadas p o r eles , aprovando-as ?

o u emendando-as n o que pecarem.

§ . 8 . O Profefor p o r é m fe d e v e r á abfter de fe-

g u i r a eftrada dos Moraliftas Cazuiftas , n a õ f ó dos

m á o s , mas ainda dos bons : p o r q u e a l é m de n a õ

d a r e m as regras unidas e m u m corpo , e tratadas

c o m boa d e d u f a õ c o m o é necefario para os D i c i p u -

los p o d e r e m conceber u m a boa idéa , e formar u m

j u f t o S i f t e m a de toda a M o r a l Evanjelica 5 lhes fa-

z e m perder o f e u t e m p o n o eftudo de cazos par-

ticulares , e desligados , f e m regra , f e m m é t o d o ,

e f e m Siftema , inabilkando-os p o r i f o de p o d e r e m

rezolver c o m feguranfa qualquer c a z o , que o u eles

n a õ t e n h a ó eftudado , o u n a õ feja e m t u d o f e m e -

Uiante a a l g u m dos que eles eftudaraõ.

§. r>. Fará t a m b é m faber aos feus D i c i p u l o s y

q u e a M o r a l t e m principios certos , e evidentes ,

que ifto bafta para fobre eles; poder cair a verda-p

deira d e m o n f t r a f a õ : e que ifto nao f ó procede na

M o r a l E v a n j e l i c a , cuja certeza , e evidencia de-

p e n d e da R e v e l a í à õ , claramente manifeftada na E f -

crftura , e reconhecida pela T r a d i f k Õ ; mas t a m b é m

Ua M o r a l Filozofica : p o r q u e a r a z a õ eníina a t o -
£ o E j l a t u t o s cio Seminário E p i f c o p a l

dos os ó m e n s , que a q u e r e m o u v i r , q u e n e m é\es y

n e m efte M u n d o , que os cerca , fe íízeraõ por í i :

que á u m E n t e S u p r e m o C r e a d o r d o U n i v e r f o , a

q u e m eles d e v e m t u d o o que f a õ : que f e n d o t o -

dos iguaes p o r natureza d e v e m amar-fe , dezejar-

f e , e procurar-fe reciprocamente t o d o o b e m que

p o d e m : que d e v e m falar v e r d a d e , c u m p r i r as fuás

promefas , e obfervar fielmente os feus contratos ,

e c o n v e n s õ e s . Eftes grandes principios , e outros f e -

melhantes , todos p o r íi m e f m o e v i d e n t e s , foraõ con-

firmados p e l a R e v e l a f a õ na L e i Efcrita , e d e p o i s

na da G r a f a ; e delas fe dedus toda a M o r a l c o m

o uzo dos bons raciocinios, guiados pelas regras d a

verdadeira L o j i c a .

§. 10. porque os D o m i n g o s , e dias Santos

f a õ dias fantificados , e dedicados ao exercício das

virtudes criftãs ; ordenamos que cada u m dos P r o -

fefores de T e o l o j i a p o r f e u t ü r n o , p r i n c i p i a n d o pe-

lo de T e o l o j i a P r á t i c a , nos primeiros D o m i n g o s

de cada m ê s e m u m a das A u l a s c o m todos os E f -

tudantes T e ó l o g o s , e c o m aqueles que fe q u i z e r e n r

inftruír na T e o l o j i a M o r a l , fafa c o n f e r ê n c i a f o b r e

a l g u m , o u alguns C a p i t u l o s da Efcritura S a g r a d a ,

principiando pelos E v a n j e l h o s , e mais L i v r o s d o

N o v o T e f t a m e n t o ; e pafando aos L i v r o s M o r a e s d o

A n t i g o , e e m cada u m a deftas C o n f e r ê n c i a s , afina-

rá o Profefor Prezidente , o u o que fe feguir p o r

feu t u r n o , a matéria para a f e g u i n t e C o n f e r ê n c i a ,

para que os feus O u v i n t e s a leiaõ , m e d i t e m , e exa-

m i n e m c o m a n t e f i p a f a õ , e v e n h a õ preparados a dar

conta d o a p r o v e i t a m e n t o , que. dela t i v e r a ó ,. f e n d c f c

per-
de N . $ . da Cr asa de Parnambucô. 8 r

perguntados, e a colher o dezejado f r u t o da e x p l i -

cafaõ , que ao de ouvir. E f t a e x p l i c a f a õ , que deve

fazer o P r e z i d e n t e , ferá c o n c i z a , e dirijida u n i c a -

m e n t e á r e f o r m a dos coftumes , e edifícafaõ efpiri-

tuah

§. 1 1 . E e m todos os D o m i n g o s da Q u a r e f m a ,

e do A d v e n t o fe explicarão alguns T r a t a d o s A c é t i -

cos , o u M o r a e s , que v e m nas Obras dos Padres da

I g r e j a , c o m o f a õ p o r e x e m p l o os T r a t a d o s de S.

A g o f t i n h o De D i f c i p l i n a Chrijiiana. De moribus Eccle-

J i a . De utilhate jejunii. De F i d e , et operibus. D e p a -

tientia , e outros femelhantes : os T r a t a d o s de S.

Bernardo De ãiligendo Deo. D e p r a c e p t o , et d i f p e n f a -

tione. De gradibus humilitatis, et J u p e r b i a , o u outros

quaefquer dos da m e f m a clafe , que fe axaõ j u n t o s

na excelente obra Bibliotheca Ajcetica veterum Patrum

ad nfurn Omgregationis S. M a u r i . T o d o o eníino da

T e o l o j i a Pratica fe d e v e r á concluir e m u m ano.

CAPITULO VIII.

Dos Compêndios.

AEfcolha dos Compêndios, que devem fervir de

t e x t o para as l i s õ e s d a s diverfas D i c i p l i n a s def-

tes Eftatutos é u m o b j e t o d i g n o de toda a p o n d e -

ra f a õ ; porque dele depende e m grande parte o apro-

veitamento dos Eftudantes. N a õ hafta pois o juizo

de u m f ó ó m e m , para efta efcolha fer acertada; e

p o r i f o d e t e r m i n a m o s , que n e n h u m dos Profefores

d o n o f o C o l é g i o uze nas fuás lisões de C o m p ê n d i o


L al-
%i Ejlatutos do Seminário E p i f c o p a l

a l g u m , que nao tenha fido antecedentemente apro-

vado para o m e f m o fim pela C o n g r e g a f a õ L i t e -

rária, da qual trataremos adiante. E para que a m e f -

m a C o n g r e g a f a õ fe c o n f o r m e c o m o m é t o d o j á pro-

pofto , n a õ d e v e r á aprovar fenao aqueles C o m p ê n -

dios , que t i v e r e m as qualidades feguintes.

E m jeral os C o m p ê n d i o s feráõ. I . Elementares,

ifto é concizos , f e m f e r e m fuperficiaes ; e fecundos

f e m d i f u z a õ . I I . Siftematicos , ifto é b e m ordena-

dos nas d i í p o z i s õ e s das m a t é r i a s de que trataõ , e

de fuás divizões. I I I .B e m eferitos c o m eftilo p u r o ,

ifto é f e m barbarifmos , e f e m afeta f a ó de orna to.

A l é m difto fe nos ditos C o m p ê n d i o s faltar a l g u m

dos T r a t a d o s , que nos feus lugares a p o n t a m o s , p o -

d e r á õ os Profefores f u p r i - l o , o u extraindo-o de o u -

tros C o m p ê n d i o s j á i m p r e f o s , o u c o m p o n d o - o eles

m e f m o s , e dando-o aos D i c i p u l o s para o c o p i á r e m

depois de fer aprovado pela C o n g r e g a f a õ Literária.

CAPITULO IX.

Das Lisões.

O
m e n t e
Método de expor , e ouvir as Lisões é outro

objeto i m p o r t a n t i í i m o , p o r q u e dele
nace o b o m , o u m á o fruto d o
principal-
enfino. Pelo

que d e v e m todos os Profefores , principalmente os

de Filozofia , e T e o l o j i a ; I . E x p l i c a r cada u m a das

difinisões q u e e n t r a õ no f e u C o m p ê n d i o , ifto é re-

zolve-las nas idéas fimplices , de que elas fe c o m -

p õ e m , iluftra-las c o m e x e m p l o s c o n h e c i d o s , e c o m

apli-
de N . S . da Gr asa de Parnambuco. $3

a p l i c a s õ e s , e cazos p a r t i c u l a r e s , e ó b v i o s I I . D e -

v e m analizar cada u m a das p r o p o z i s Õ e s d o m e f m o

C o m p ê n d i o , m o f t r a n d o o que nelas é T é z e , e o que

é I p o t e z e , diftinguindo as fuás partes d e t e r m i n a n -

tes , iluftrando-as c o m exemplos claros , e d e f c u b r i n -

d o o nexo, que elas t e m c o m outras p r o p o z i s ó e s an-

tecedentes , de m o d o que os D i c i p u l o s fiquem per-

fuadidos da m u t u a d e p e n d ê n c i a das verdades , que

v a ô aprendendo , e c o n h e í a õ d i í t i n t a m e n t e o uzo ,

que fe p o d e fazer de cada u m a delas.

CAPITULO X.

Dos Exercícios vocaes quotidianos.

éT^\ S Profefores deverão regular as óras do eítu-

V ^ / d o de f o r t e que todos os dias lhes fique t e m p o

baífante para e x p l i c a r e m as matérias da lisaô f e -

g u i n t e , e p e d i r e m conta aos feus D i c i p u l o s da u l t i -

m a lifao precedente; e depois da r e p e t i f a õ das l i -

sões p e r g u n t a r á õ j e r a i m e n t e a todos os Dicipulos.

fe t e m a l g u m a duvida nas m a t é r i a s das ditas lisões;

e levantando-fe a l g u m que a t e n h a , os Profefores

lhe m a n d a r ã o , que a p r o p o n h a ; e c o n f o r m e a qua-

lidade d e l a , o u lha tirarão , o u n o m e a r ã o a l g u m C o n -

d i c i p u l o , para que refponda a ela, pafando da n o -

m e a i aõ de uns para os outros ; e a p r o v a r ã o , o u re-

p r o v a r ã o as refpoífas , que fe d e r e m , e iluílraráõ

quanto f o r necefario para fazer cefar a d u v i d a pro-

p o i t a , louvando f e m p r e os que p r o p o z e r e m duvidas

í o l i d a s , e os que d e r e m boas refpoítas. N o cazo


L i i de
# 4 Ejlatutos do Seminário E p i f c o p a i

de conter a d u v i d a maior dificuldade , o u que nao

ocorra l o g o a m e l h o r folufaõ , m a n d a r ã o os Profe-

fores que ela fique para a f e g u i n t e l i f a ó , e que entre-

tanto fe examine c o m mais vagar.

CAPITULO XI.

Dos Exercidos vocaes Semanários.

E
tinas
M todos os Sábados de cada femana averáó exer-

c i d o s
j nas
e difputas particulares , xamadas Saba-
y

m e f m a s A u l a s das lisões , e por t o d o o


t e m p o delas , prezididas pelos m e f m o s Profefores y

e na falta deles pelos feus Suftitutos ; e f e n d o o

S á b a d o f e r i a d o , fe faráo n o u l t i m o dia l é t i v a de

cada femana. A v e r á f e m p r e pelo menos t r e s D e f e n -

dentes , e dobrados Arguentes ? e tanto uns c o m o o u -

tros feraõ todos tirados p o r fortes p e l o Profefor. A s

matérias ordinárias deites e x e r c i d o s , feráõ todas as

das lisões y que fe o u v e r e m e x p l i c a d o na m e f m a f e -

mana : e o p r i m e i r o D e f e n d e n t c fará u m a breve re-

capitulafaõ de todas para fe avivar , e dcfpcrtar a

m e m ó r i a delas. A f o r m a deites exercícios ferá f e m -

pre p e l o m é t o d o Socratico , o u D i a l o j i í t i c a .

C A -
âe N . S . âa Gr as a âe Parnamluco.

C A P I T U L O X I I .

Dos Exercieios Semanários por efcrito.

/""X S Profefores no principio de cada femana da-

\ J r á õ temas , e afuntos p r ó p r i o s aos eftudos , e

c o m p r e e n f a õ dos feus r e f p é t i v o s D i c i p u l o s , para f o -

bre eles f a z e r e m as fuás D i f e r t a s ó e s , e lhes eníina-

ráò os preceitos, que d e v e m obfervar n o f e u traba-

l h o ; os fubfidios de que p o d e m , e d e v e m fervir-fe,

e o m o d o q ü e d e v e m guardar n o u z o , e prática de-

les ; e n o fim de cada oito dias d e v e r á õ os D i c i p u -

los. entregar as ditas D i f e r t a s ó e s aos feus M e f t r e s

para eftes as corrijirem , o u a p r o v a r e m , e as refti-

tuirem aos feus A u t o r e s y os quaes finalmente as co-

p i a r ã o e m u m caderno , c o m as m e f m a s emendas

na f ô r m a que fica d e t e r m i n a d o n o C a p . 3. §. 5: > e

C a p . 5 §. 4. defta T e r c e i r a Parte.

CAPITULO XIIL

Do tempo letivo , e feriado , e da deftribuifafi das

oras do e f t u d o em cada uma das Aulas.

O Tempo létivo principiará desde o dia 3 de Fe-

vereiro i n c l u z i v a m ç n t e
C o l é g i o t o d o s os C o l e g i a e s
; e d e v e r á õ
desde o dia
axar-fe n o
anteceden-
t e , e m o qual fe terá cantado folenemente a M i f a

d o E f p i r i t o Santo c o m afiftencia de t o d o o C o r p o

L i t e r á r i o . D u r a r á efte t e m p o létivo a t é o S á b a d o de

R a ~
8 6 E j l a t u t o s do Seminário E p i f c o p a l

R a m o s , e m que fe fexaráõ as A u l a s p e l a s o n z e oras

da m a n h ã . T e r á õ os eftudos f e g u n d a v ê s principio

desde o p r i m e i r o dia depois d o D o m i n g o i n Albis

i n c l u z i v a m e n t e , a t é o dia de N o v e m b r o , e m que

findarão as l i s õ e s , e fe dará p r i n c i p i o aos Exames

anuaes a t é o dia 7 de D e z e m b r o , e m que fe fexa-

r á õ .as A u l a s ; e n o dia f e g u i n t e , depois de fe can-

tar a M i f a de N o f a Senhora T i t u l a r , e Padroeira d o

C o l é g i o , p o d e r ã o fair os C o l e g i a e s para as fuás ca-

za s p o r t o d o o t e m p o de ferias , tanto as m a i o r e s ,

c o m o as menores. M a s p o r q u e o t e m p o que é j u f -

tamente necefario para os E x a m e s anuaes , f o m e n t e

fe deve regular p e l o m a i o r , o u m e n o r n u m e r o dos

Eftudantes , que f r e q ü e n t a r e m as A u l a s d o C o l é g i o ;

m a n d a m o s que l o g o n o principio d o m ê s de N o v e m -

b r o aja u m a Se.faõ da C o n g r e g a f a õ L i t e r á r i a , e m a

q u a l fe determine o dia e m que fe deve dar prin-

cipio aos E x a m e s , adiantando, o u atrazando o t e m -

p o que deixamos eftabelecido nefte c a p i t u l o , d e

forte que os ditos E x a m e s n a õ e x c e d a õ o dia 7 de

D e z e m b r o . A l é m deftas ferias anuaes , feráõ feria-

das todas as quintas feiras de cada femana , fe nela

n a õ ouver dia de guarda ; e n o cazo , que efte- ocor-

ra n o S á b a d o ferá feriada a quarta feira , e fe ocor-

rer na f e g u n d a , ferá f e m p r e feriada a quinta feira ,

de f o r t e que nunca a j a õ cinco dias de aulas f e g u i -

das.

A s oras d o eftudo de cada u m dos Profefores

nas A u l a s ..feráõ. d i f t r i b u i d a s na f o r m a f e g u i n t e . O s

Profefores de G r a m á t i c a L a t i n a , e de R é t o r i c a te-

r á õ feis oras de A u l a e m cada d i a , tres de m a n h a

des-
de J V . $ . da G r a f a de Parnamhucâ. 2 7

desde ás oito a t é ás onze oras ; e outras tres de tar-

de , desde ás duas a t é ás cinco. O s Profefores de

Filozofia, e de Jeometria teráõ quatro óras de A u l a

e m cada dia , duas de m a n h a desde ás o i t o , a t é ás

d é s , e duas de tarde , desde as duas a t é ás quatro.

O Profefor de T e o l o j i a t e r á õ tres óras de A u l a

e m cada dia , duas de m a n h a desde ás oito a t é ás

des , e u m a de tarde desde ás tres a t é ás quatro.

O P r o f e f o r das primeiras letras irá f o m e n t e d á r

lisões de efcrever nas Aulas d o C o l é g i o ás f e g u n -

das 5 e quartas feiras de tarde e m cada femana def-

de as quatro óras a t é ás cinco. E o P r o f e f o r d o C a n -

t o - x a õ da m e f m a forte ás terfas ? e feilas feiras d e

tarde desde as quatro a t é ás cinco.

CAPITULO XIV.

Da forma dos Exames anuaes*

C
das
Oncluidas que fejaõ as lisões em cada ano fe-

ráõ os m e f m o s E f t u d a n t e s examinados e m
as D i c i p l i n a s , q u e d e r a o m a t é r i a á s l i s õ e s ,
t o -
que
a c a b a r ã o de ouvir , e fe lhes afinaráõ vinte quatro

óras para dentro delas eftudarem a matéria ? que lhes

fair p o r f o r t e , para o que fe fará u m a repartifao de

todos os T r a t a d o s de cada D i c i p l i n a e m tantas par-

tes quantas p o f a õ bailar para dar copioza m a t é r i a

a todas as perguntas d o exame , e de cada u m a das

partes deita d i v i z a õ averáõ bilhetes e m que fe de-

clarem os titulos, e c a p í t u l o s , que nela fe i n c l u e m

p e l o n u m e r o das folhas ; titulos , e c a p í t u l o s , e m


que
8S E j l a t u t o s do Seminário E p i f c o p a i

que f o r deftribuido o C o m p ê n d i o * que fervir para o

u z o das lisões das m e f m a s D i c i p l i n a s : depois fe d o -

b r a r ã o , e fe lanfaráo todos e m u m a pequena urna

para eles f o m e n t e deputada.

O s Prezidentes d e v e r á õ fer os m e f m o s Profe-

fores , cada u m na fua refpetiva Cadeira , e todos

feráõ os A r g u e n t e s , e Examinadores , uns dos D i c i -

pulos dos o u t r o s , e ainda m e f m o os M e f t r e s feráõ

t a m b é m Examinadores dos feus refpetivos D i c i p u l o s

a faber os Profefores de G r a m á t i c a , e de R e t ó r i c a

c o m o f e u S u f t i t u t o feráõ E x a m i n a d o r e s dos feus,

e dos D i c i p u l o s uns dos outros ; da m e f m a fórte os

de Filozofia, e de J e o m e t r i a , e o feu Suftituto ; e

t a m b é m os de T e o l o j i a , e o f e u Suftituto.

Acabadas as perguntas , e argumentos do exa-

m e , o B e d e l a p r e z e n t a r á ao R e i t o r , ao P r e z i d e n t e ,

e a cada u m dos Examinadores dois bilhetes u m , e m

que efteja efcrita a letra A , e outro e m que efteja

a letra R , para que no dar dos feus votos p o f a õ

fervir-fe de u m , o u de outro c o n f o r m e o j u i z o que

t i v e r e m feito d o m e r e c i m e n t o d o á t o . D e f t r i b u i d o s

eftes bilhetes, o m e f m o Bedel lhes a p r e z e n t a r á u m a

pequena c a i x a , na qual cada u m deles lanfará o b i -

lhete indicativo d o f e u j u i z o , e recolhidos eles en-

t r e g a r á a caixa ao R e i t o r , e* n a fua falta ao P r e z i -

dente d o ato , para que efte os examine a í m e f m o ,

e regule os votos á vifta de todos.

Se axar todos os votos de a p r o v a f a õ , manda-

rá que o B e d e l declare que ficou aprovado por todos:

fe axar mais votos de a p r o v a f a õ d o que de repro-

v a f a õ , fe dirá aprovado f m i p l e s m e n l e } c fe axar tan-

t o s ,
âe N . S . âa Gr asa âe "Parnanibuco, t o

t o s , o u mais votos de r e p r o v a f a ò fe dirá manente,

para efeito de continuar n o ano f e g u i n t e a eítudar

as m e f m a s d o u t r i n a s , e no cazo de tornar a fer re-

p r o v a d o no f e g u n d o exame , ferá e x e l u i d o dos ef-

tudos , e n a õ p o d e r á j á m a i s fer a d m i t i d o , principal-

m e n t e aos e m que f o i reprovado , f e m exprefa l i -

cenfa n o f a , depois de examinadas as cauzas das fuás

faltas de aplicafaõ : e o B e d e l fará l o g o afento d o

exame c o m declarafaõ efpecifica d o m o d o das ditas

a p r o v a s õ e s de cada u m dos E x a m i n a d o s ; e os q u e

f a i r e m aprovados d e v e r á õ c o m certidão d o B e d e l ,

aíinada p e l o Prezidente d o á t o , requerer ao V i c e -

D i r é t o r , para os mandar admitir ás doutrinas d o

C u r f o d o ano f e g u i n t e , f e m o que n a õ feráõ a d m i -

tidos pelos Profefores nas fuás refpétivas A u l a s .

CAPITULO XV.

Da idade, que devem ter os Efludantes para Jc pode-

rem matricular em Teolojia.

Ainda que nao determinamos a idade , que de-

verá ter cada u m dos Efludantes para fe m a -

tricular e m algumas das aulas d o n o f o S e m i n á r i o ,

e f ó f i m para a entrada nos lugares de Colejiaes

dele ; c o m tudo m a n d a m o s , que n e n h u m dos nofos

D i o c e z a n o s fe p o f a matricular no C u r f o T e o l o j i c o

antes de ter ao menos dezoito anos de idade c o m -

pletos ; e fará certa a fua idade ao V i c e - D i r é t o r pela

C e r t i d ã o d o f e u B a t i f m o , reconhecida pelo E f c r i v a õ

da nofa C â m a r a Ecleziaftica , debaixo da pena de ficar

M inabi-
9 o E f t a t t i t o s do Seminário E p i f c o p a l

inabilitado para entrar e m a l g u m dos anos f e g u i n t e s ,

desde que conftar que nao t e m a idade c o m p e t e n -

te ; depois de N o s t e r e m dado provas da obfervancia

da D i c i p l i n a d o C o l é g i o , e d o efpirito de u m ver-

dadeiro E c l e z i a f t i c o , p o d e r ã o fer a d m i t i d o s ás O r -

dens Sacras.

CAPITULO XVI.

Dos Sermões , e OrasÕes , que em cada anofe aõ de recitar

no Colégio para exercitar os Alunos.

N A Fefta de S. Jozé a i o de Mario averá um

S e r m ã o , e
d e D e z e m b r o , os
o u t r o
quaes
n o dia de N . Senhora a 8
feráõ recitados por Eftudan-
tes T e ó l o g o s , que ao m e n o s t e n h a õ a O r d e m de

D i a c o n o , e feráõ c o m t e m p o nomeados para i f o pe-

l o V i c e - D i r é t o r dos E f t u d o s , o qual j u n t a m e n t e c o m

u m dos Profefores de T e o l o j i a , que l h e p a r e c e r ,

e x a m i n a r á os ditos S e r m õ e s , e os e m e n d a r á n o cazo

que j u l g u e neceíitaõ de e m e n d a , e para i f o feráõ

api é z e n t a d o s c o m t e m p o , l o g o que os t e n h a õ feito.

A s O r a soes d e v e m fer c i n c o , e recitadas e m L a t i m

n a A u l a , o u grande fala dos átos : a primeira na

abertura dos E f t u d o s n o dia 3 de Fevereiro:. a fe-

g u n d a 110 dia 1 3 de M a i o , e m que fas anos o n o f o

Serenifimo P r i n c i p e d o Brazil ; a terceira no ulti-

m o dia d o ano l é t i v o , todas de tarde : ,eftas tres

O r a s õ e s d e v e r á õ fer recitadas pelos Profefores de

T e o l o j i a , de Filozofia , e de R é t o r i c a pelos feus

turnos : as outras duas O r a s õ e s feráõ u m a de m a n h a

n o
âe 27. S . âa Gr asa de Pamamluco. 9 1

n ó dia e m que fe p r i n c i p i a r e m os d i t o s E x a m e s anuaes,

e outra de tarde no d i a , e m que fe c o n c l u í r e m os

ditos E x a m e s , recitadas a primeira p o r u m E f t u d a n -

te T e ó l o g o , a f e g u n d a por u m Filozofo. Eftas O r a -

sões d e v e m fer aprovadas pelo V i c e - D i r e t o r dos E f -

tudos , o u v i n d o primeiro os Profefores dos E f t u d a n -

tes que f o r e m nomeados. E tanto os Eftudantes

c o m o os Profefores fe d e v e r á õ alternar todos os

a n o s , para que p o r todos i g u a l m e n t e fe reparta o

trabalho.

CAPITULO XVII.

Da algumas advertências a refpeito dos "Profefores.

O
vor ,
S Profefores fe devem portar de tal modo dian-

te dos E f t u d a n t e s , que feja eftimado o f e u lou-


e t e m i d a a* f u a r e p r e e n f a õ ; a q u a l c o m t u d o
nunca fe deve dar c o m palavras injuriozas , mas fim

c o m palavras p r ó p r i a s , e capazes de lhes i n f u n d i r

efpiritos de v i r t u d e , de onra , e de gloria : e n o

cazo que u m a tal r e p r e e n f a õ n a õ bafte para coibir

os inquietos , e defpertar os negligentes , d e v e r á õ

d á r parte ao V i c e - D i r é t o r para que efte lhes d ê , o u

m a n d e d á r os caftigos que merecerem pelas fuás cul-

pas ; e fe ainda afim n a õ baftarem , o V i c e - D i r é t o r

N o s i n f o r m a r á p o r efcrito, e c o m ateftafao do P r o -

fefor r e f p é t i v o , para N ó s , o u lhes acrecentarmos as

penas , o u m a n d a r - m ò s proceder á efétiva e x c l u z a õ

das Aulas do C o l é g i o , e da c o m p a n h i a dos b e n e m é r i -

tos , para os n a õ perverter c o m o feu m á o exemplo.

M i i C A -
9 2 E j l a t u t o s do Seminário E p i f c o p a l

C A P I T U L O X V I I I .

Da ordem das precedências nos Atos Literários.

E
ler
M todos os Atos Literários terá o primeiro lu-

o
g a r , depois
que
de N ó s , o R e i t o r d o C o l é g i o ,
f a s as n o f a s v e z e s n a C a z a , e m q u e
por
t e m

t o d o o g o v e r n o ; e imediatamente o V i c e - D i r é t o r ,

que fizer as nofas vezes na D i r é f a õ dos Eftudos ;

depois deftes t o m a r ã o afentos os Profefores princi-

p i a n d o pela o r d e m inverfa das Cadeiras , que fica

determinada nos capítulos antecedentes da terceira

Parte deftes Eftatutos ; e imediatamente aos P r o f e f o -

res de cada u m a das D i c i p l i n a s , fe f e g u i r á ó os feus

Suftitutos p o r f a z e r e m c o m eles o m e f m o C o r p o . E f -

tes afentos feráõ da parte direita da C a z a , onde fe

fizerem os A t o s , e da parte e f q ú e r d a terá o p r i -

m e i r o lugar o V i c e - R e i t o r d o C o l é g i o , fe a eles afif-

tir , depois f e g u i r - f e - a õ os E f t u d a n t e s T e ó l o g o s , pre-

cedendo f e m p r e os Sacerdotes , l o g o os Diaconos , e

Subdiaconos , depois os C l é r i g o s M i n o r i f t a s , e final-

m e n t e os outros Eftudantes de T e o l o j i a , a t é os das

Aulas M e n o r e s , pelas fuás jerarquias , e a n t i g ü i d a -

des aíiftindo c o m toda a feriedade, e civilidade p o r

t o d o o t e m p o que durarem os A t o s , aos quaes d a õ

m u i t o explendor a m o d e f t i a ; e c o m p o í t u r a d o C o r -

p o Literário.

C A »
de N . S . da Gr asa de Parnamhüco. 9 3

C A P I T U L O X I X .

Das opozisoes ás Cadeiras.

Meio menos equivoco, que a experiência tem

até agora defeuberto para fe a v e r i g u a r e m os

merecimentos Literários , é f e m d ú v i d a o das o p o z i -

soes , quando eftas f a õ b e m ordenadas. E p o r q u e a

efcolha dos f u j e i t o s , que d e z e m p e n h e m d i g n a m e n -

te o e m p r ç g o de enfinar a M o c i d a d e é u m o b j é t o

de grande i m p o r t â n c i a , e que merece fer tratado

c o m a mais eferupuloza exatidão 5 m a n d a m o s , que

a n e n h u m Pertendente fe pafe P r o v i z a õ de Profe-

f o r , f e m que p r i m e i r o tenha lido aprovado p e l o m o -

d o f e g u i n t e .

L o g o que vagar qualquer Cadeira , o V i c e - D i -

retor N o s fará f a b e r , para o u darmos a p r o v i d e n c i a ,

que N o s parecer mais juíta , o u mandarmos fixar u m

Edital c o m t e r m o certo para dentro dele fe apre-

z e n t a r e m os Pertendentes. E c o m o para o enfino da

M o c i d a d e n a õ baila f ó ter c i ê n c i a , mas é t a m b é m

necefario ter bons coftumes ; d e v e r á õ os Pertenden-

tes aprezentar AteftasÕes juradas dos feus P á r o c o s ,

pelas*quaes confte da fua p r o b i d a d e , v i d a , e cof-

tumes , e as cartas , o u d o c u m e n t o s dos feus eftu-

dos , e a p r o v a s õ e s ; b e m entendido , que os O p o z i -

tores que t i v e r e m fido educados, e doutrinados n o

n o f o C o l é g i o , eftando e m iguaes circunítancias c o m

os outros C o n c u r r e n t e s , a õ de preferir aos O p o z i -

tores , que n a õ f o r e m educados nas A u l a s d o m e f m o


G Q -
« 4 E j l a t u t o s do Seminário E f i f c o p d t

C o l é g i o ; o que fe deve entender n a õ f ó neítes c o n -

curfos de que tratamos de o p o z i f a õ ás Cadeiras de L i -

teratura ; mas t a m b é m ás dos Benefícios Ecleziaíticos ?

•afim C a n o n i c a e s , c o m o Paroquiaes d o n o f o B i í p a d o .

A p r e z e n t a d o s os ditos d o c u m e n t o s , N ó s , ou .o

V i c e - D i r é t o r , que fizer as nofas vezes afinará dia' e m

que cada u m dos O p o z i t o r e s d e v e r á fazer a f u a

o p o z i f a õ , e l h e n o m e a r á o feu O p o z i t o r , o qual de-

v e r á fer u m dos Concurrentes á Cadeira v a g a , fe o

o u v e r , e quando n a õ , l h e n o m e a r á a l g u m dos P r o f e -

fores Suílitutos da C a d e i r a a que pertencer a o p o -

z i f a õ , o u o u t r o qualquer que feja inftruido na m a -

téria dela. O V i c e - D i r é t o r fará aprontar e m u m a urna

diverfos bilhetes aprovados pela C o n g r e g a f a õ L i t e -

rária c o m os titulos dos T r a t a d o s , o u d i v i z õ e s das

m a t é r i a s , que fe enfinaõ na Cadeira da o p o z i f a õ , e

afinará d i a , e ora para que o O p o z i t o r D e f e n d e n t e

na n o f a prezenfa, o u d o que fizer as n o f a s v e z e s , tire

da dita urna dois dos ditos bilhetes para fazer u m a

D i f e r t a f a õ L a t i n a fobre as m a t é r i a s de u m deles ,

que l h e f o r afinada, e fer examinado f o b r e as m a -

térias de ambos eles , trinta óras depois de tirados

os b i l h e t e s , dos quaes o B e d e l fará afento n o l i v r o

dos exames c o m declarafaõ d o n o m e d o O p o z i t o r ,

e d o d i a , m ê s , e ano.

N o d i a f e g u i n t e trinta óras depois de tirado

o b i l h e t e , fe ajuntará na fala dos A t o s t o d o o C o r -

p o d o C o l é g i o , para o que fe t o c a r á a campa ; o

O p o z i t o r D e f e n d e n t e f u b i r á á C a d e i r a , e depois d e

p e d i r venia , e invocar o E f p i r i t o Santo lerá a f u a

D i f e r t a f a õ ; na qual terá e x p o í t o fiítematicamente a

ma-
d e N . S ' . da Gr asa âe Parnamhtc$.

matéria d o T r a t a d o , que l h e faío p o r f o r t e , m o f -

trando os p r i n c i p i o s , d e d u z i n d o d e l e s as p r o p o z i s õ e s ,

e deftas os c o r o l á r i o s , de m o d o que fafa v e r q u e

eftá f e n h o r da m a t é r i a , e que fabe explica-la c o m

m é t o d o , clareza, e c o n c i z a õ : efta D i f e r t a f a õ n a õ ex-

c e d e r á o t e m p o de m e i a ora. O O p o z i t o r A r g u e n t e

p o d e r á i m p u g n a r o u t o d o o Siftema d o T r a t a d o f o -

bre que fe fes a D i f e r t a f a õ , o u cada u m a das p r o p o -

z i s ô e s , que nela fe c o n t é m : mas nefta i m p u g n a f a õ ,

a qual ferá feita p e l o m é t o d o Socratico p o r fer o

mais p r ó p r i o defta e í p e c i e de exames , n a ó gaftará

mais de u m a ora. D e p o i s dele a r g u m e n t a r á õ mais dois

P r o f e f o r e s , que N ó s , o u o que fizer nofas vezes n o -

mear , u m p á r a a r g u m e n t a r na m a t é r i a , que faío p o r

f o r t e n o f e g u n d o b i l h e t e , e outro para argumentar

vagamente nas matérias dos ditos dois bilhetes , o b r i -

g a n d o o D e f e n d e n t e a fazer uzo nas fuás repoftas

das doutrinas fubfidiarias, a fim de e x a m i n a r e m f e

ele fabe , o u n a õ fundamentalmente as m a t é r i a s d a

o p o z i f a õ ; e cada u m dos ditos dois Profefores n a õ

e x c e d e r á o t e m p o de meia ora : o m e f m o fe pra-

ticará c o m os outros O p o z i t o r e s , que ouverem.

Acabados os exames, os O p o z i t o r e s N o s entre-

g a r á õ as fuás D i f e r f a s õ e s afinadas p o r eles, para as

m a n d a r m o s examinar pelos Profefores , que N o s pa-

recer , os quaes N o s daráõ as fuás cenfuras por ef-

crito , que feráõ lidas na Junta Literária e m o d i a ,

que N ó s afinarmos : e depois de lidas fe pafará a

correr o E f c r u t i n i o a r e f p e i t o d o m e r e c i m e n t o l i -

terário , e da capacidade de cada u m dos O p o z i t o -

res pela fua o r d e m , para o que o Bedel e n t r e g a r á &


9 6 E j l a t u t o s ão Seminário E p i j c o p a l

cada u n i dos V o g a e s u m E , e u m N para que latt-

fe na urna o final da fua eleifaó , o u n e g a f a õ : a urna

ferá aberta, e examinada na n o f a prezenfa , e de

'um , o u dois Profefores ; e à q u e l e que fe axar c o m

m a i o r n u m e r o de votos de e l e i f a õ , e c o m preferen-

cia aos outros , fe m a n d a r á ao Secretario da J u n t a ,

que da nofa parte fafa avizo de fe axar eleito

para que p o f a requerer a fua P r o v i z a õ de P r o f e f o r ,

a qual lhe ferá pafada c o m a clauzula de fer exclui-

d o , l o g o que nao obfervar o que p o r eftes E f t a t u -

tos eftá determinado , o u o que pelas nofas P r o v i -

z ô e s lhe f o r mandado.

CAPITULO XX.

Do Dirétor dos Ejludos.

COmo pelo Concilio Tridentino, e pela Carta

R e g i a da D o a f a ó d o C o l é g i o , que f o i dos Je-

zuitas para o n o f o S e m i n á r i o de O l i n d a , cuja copia

vai inferta neftes Eftatutos , N o s eftá encarregada a

d i r é f a õ , i n f p é f a õ , e adminiftrafaò d o d i t o S e m i n á -

rio ; determinamos , que o O f i c i o de D i r é t o r dos E f -

tudos d o d i t o S e m i n á r i o feja infeparavel do n o f o O f i -

cio P a f t o r a l , para mandarmos a r e f p e i t o dos ditos

E f t a t u t o s , o que N o s parecer m e l h o r , para o b e m

da I g r e j a , e d o Eftado. M a s c o m o as nofas indif-

^penfaveis o b r i g a f ó e s , n e m f e m p r e N o s p e r m i t i r á ò t o -

d o o t e m p o para v i j i a r m o s de perto , c o m o d e z e -

j a m o s , a obfervancia dos ditos Eftatutos ; determina-

m o s , que aja u m V i c e - D i r é t o r que fafa as nofas ve-

zes,
âe % $ . âa Gr asa âe Parnamíucõ* 9 7

zes, e q u e N o s avize d e t u d o para l h e d a r m o s pro?

videncia.

CAPITULO XXI.

Do Vtce-Dirètor dos Eftudos.

A
t u d o
O Vice-Dirétor dos Eftudos, que ferá a pefoa,

que N ó s n o m e a r m o s ,
o q u e fe c o n t é m
pertence fazer obfervar
na parte Literária deftes E f -

tatutos : e todos os Profefores f e m diftinfaó lhe

f e r á õ fubordinados na f ô r m a feguinte.

O V i c e - D i r é t o r terá cuidado de averiguar c o m

e f p e c i a l exátidaõ o p r o g r e f o dos Eftudos , para N o s

p o d e r d á r n o fim de cada m ê s u m a fiel narrafaõ d o

eftado deles, a fim de evitar os abuzos que fe f o -

r e m i n t r o d u z i n d o ,p r o p o n d o - n o s ao m e f m o t e m p o os

m e i o s , que l h e parecerem mais convenientes, para o

adiantamento dos E f t u d o s .

Q u a n d o a l g u m Profefor deixar de c u m p r i r c o m

as fuás o b r i g a s õ e s , que f a õ as que fe lhes i m p õ e m

neftes nofos E f t a t u t o s , e nas inftrusões que lhe der-

m o s , o V i c e - D i r é t o r o advirtirá , e corrijirá ; n o cazo

p o r é m de fe n a õ emendar , N o s i n f o r m a r á p o r eferi-

to , para o c a f t i g a r m o s , a t é m e f m o c o m a p r i v a f a õ

d o e m p r e g o incluzivamente.

E p o r q u e as d i f c o r d i a s p r o v e n i e n t e s da contra-

riedade de o p i n i õ e s entre os Profefores , f ó f e r v e m

de diftraí-los das fuás verdadeiras o b r i g a s õ e s , e de

p r o d u z i r e m na M o c i d a d e o efpirito de o r g u l h o , e

de d i f c o r d i a ; terá o V i c e - D i r é t o r t o d o o cuidado

N de
9 8 E f l d t u t o s Jto Seminário E p t f c o p a i

de extinguir as controverfias , e de fazer que entre

eles aja uma perfeita pas , e u m a conftante unifor-

m i d a d e de D o u t r i n a , de forte que todos c o n c o r r a õ

paça o p r o g r e f ó da lua p r o f i f a õ , e a p r o v e i t a m e n t o

dos feus D i c i p u l o s .

E p o r q u e n e n h u m Profefor , n e m Suftituto po-

d e r á fer p a g o do feu ordenado f e m aprezentar á J u n t a

c o m p e t e n t e u m a prova legal de ter c u m p r i d o c ò m

as fuás o b r i g a s õ e s , m a n d a m o s que o V i c e - D i r è t o r

pafe u m a ateftafaó e m f o r m a legal aos que t i v e r e m

d e z e m p e n h a d o as o b r i g a s õ e s impoftas neftes E f t a t u -

tos y e o que por N ó s lhes f o r r e c o m e n d a d o : e fa-

z e n d o o contrario o averemos l o g o por excluído dos

O f í c i o s , e o c u p a s õ e s do n o f o C o l é g i o .

CAPITULO XXII.

Da Congregafaõ Literária,

C
ta de
Omo para o bom governo , e eonfervafaõ da

o b f e r v a n c i a l i t e r á r i a f e fas i n d i f p e n f a v e l
pefoas doutas , que congregadas e m
u m a J u n -
C o n f e l h o

d e m as providencias , que f o r e m necefarias para a d i -

réfaó , e adiantamento dos E f t u d o s ; por efta iiofa

C o n f t i t u i f a ó . , c r e a m o s , e inftituimos u m a C o n g r e g a -

faõ c o m o n o m e de L i t e r á r i a , da qual f e r á õ os V o -

gaes t o d o s os P r o f e f o r e s das A u l a s do n o í b C o l é g i o ;

e N ó s , ou o V i c e - D i r é t o r e m n o f o lugar feremos o

Prezidente déla. N o principio de cada ano létivo f e

c o n v o c a r á a C o n g r e g a f a õ , na q u a l , a l é m dos oUtros

n e g ó c i o s de. que j á fe t e m feito m e a f a õ j f e tratará


e í b e -
ãe 2?. í . da Q m m de P a r n d m f y c f a 9 9

efpecialmente das p r o v i d e n c i a s , que fe j u l g a r e m

necefarias para obviar algumas relaxasões , q u e n o

ano antecedente fe t e n h a õ c o m e f a d o a i n t r o d u z i r :

para o que todos os V o g a e s pela o r d e m das fuás an-

t i g ü i d a d e s advirtiraõ , o u de p a l a v r a , o u p o r efcrito

t u d o o que lhes. parecer necefario para manter a boa

o r d e m dos Eftudos. Se o Prezidente j u l g a r que al-

g u m a deftas a d v e r t ê n c i a s p e d e mais vagarozo exa-

m e ficará rezervada para fe diçidir e m outra C o n -

g r e g a f a õ extraordinária ; as outras p o r é m feráõ de-

cididas a í. m e f m o , o u v o c a l m e n t e o u p o r efcrito ,

c o n f o r m e determinar o m e f m o Prezidente.

N o fim de cada ano létivo fe c o n v o c a r á t a m -

b é m C o n g r e g a f a õ , na qual fe i n d a g a r á e f p e c i a l m e n -

te o f r u t o , que p r o d u z i r ã o as a d v e r t ê n c i a s feitas n o

p r i n c i p i o d o ano létivo. « E quando confte que a l -

g u m dos P r o f e f o r e s , o u Suftitutos p o r efeito , o u de

j e n i o , o u de p r e o c u p a f a õ , o u de partido t e m con-

iravindo de a l g u m a f o r t e , o u a face defcuberta ? o u

paliativamente as rezolusões afentadas na C o n g r e g a -

f a õ a n t e c e d e n t e ; o Prezidente o a d m o e f t a r á na p r e -

zenfa de todos c o m m o d e r a f a õ , para q u é ele aja de

corrigir-fe ; e fe no feguinte ano ele continuar a dar

provas da fua indocilidade , fe N o s informará por

efcrito feito pelo Secretario da C o n g r e g a f a õ afina-

d o pelos d o i s , o u tres Profefores mais antigos , pa-

ra N ó s o m a n d a r m o s f u f p e n d e r , e a t é m e f m o excluir

d o exercicio da fua Cadeira , Suftituifaõ , ou empre-

g o literário , que ocupar , a fim de que nos eftudos

fe conferve entre todos a uniformidade de doutrina ,

f e m a qual t u d o fe reduzirá a c o n f u z a õ y e d e z o r d e m .
N i i N a s
I O O Ejlatutos do Seminário EpiJcopai

N a s ditas C o n g r e g a s õ e s p o d e r á t a m b é m cada

u m dos Profefores p r o p o r p o r efcrito as fuás obfer-

v a s õ e s fobre os d e f e i t o s , que tiver encontrado nos

C o m p ê n d i o s das fuás refpétivas D i c i p l i n a s , ajuntan-

d o as notas , e a d i s ó e s , que eles m e f m o s tiverem

c o m p o f t o para fuprir os ditos defeitos. S e n d o eftas

notas , e adisões aprovadas pela C o n g r e g a f a õ , pode-

ráõ os Profefores da-las aos feus D i c i p u l o s para as

copiarem ; e p o d e r á õ t a m b é m uzar delas nas L i s õ e s

da A u l a .

CAPITULO XXIII.

Do Secretario das Congregasões»

P
res
Ara o emprego de Secretario fe elegerá a vo-

,
tos
o u
da C o n g r e g a f a õ
Suftitutos que
Literária u m dos P r o f e f o r
efcreva b e m , que feja ativo ,
e que faiba p ô r os livros , e papeis e m boa o r d e m .

O que u m a ves f o r eleito continuará n o e x e r c i d o

da m e f m a o c u p a f a õ e m quanto a d e z e m p e n h a r , e

n a õ ferá p r o m o v i d o a outra que feja c o m ela i n c o m -

pativel. A ele p e r t e n c e r á efcrever nos livros c o m -

petentes as rezolusões da C o n g r e g a f a õ ; fazer todos

os afentos de que fe fala e m diverfos lugares na

T e r c e i r a Parte deftes E f t a t u t o s , pafar as c e r t i d õ e s

d o que conftar dos livros que eftaõ a feu cargo.,

fendo mandado p o r N ó s , o u pelo Prezidente ; e ef»

tando a u z e n t e , ou i m p e d i d o fará a efte refpeito as

fuás vezes , aquele que N ó s , o u o V i c e - D i r é t o r n o -

m e a r m o s para Vice-Secretario*
âe N . S . âa Gr asa âe P a r n a m b u c f f . 101

O Secretario terá t a m b é m o b r i g a f a ó de fazer

uma efpecie de D i á r i o de todos os fucefos n o t á v e i s

de cada ano relativos á Iftoria Literária , á j e r a l d o

n o f o R e i n o , á particular da nofa D i o c e z e , e á p a r t i c u -

lariíima d o n o f o S e m i n á r i o . E m todas as C o n g r e -

g a s õ e s Literárias d e v e r á aprezentar o D i á r i o d o ano

l é t i v o antecedente, para que ouvidas as a d v e r t ê n c i a s

dos V o g a e s , o e m e n d e f e n d o necefario ; e depois

d e e m e n d a d o o lance n o livro para ifto d e f t i n a d o ,

o qual fe g u a r d a r á j u n t o c o m os outros pertencen-

tes ao feu Oficio - y e depois de xeio fe p o r á na L i -

vraria.

CAPITULO XXIV

Do Bibliotecário.

O to
preferirá
Bibliotecário do Seminário ferá também elei-

a votos
f e m p r e
da C o n g r e g a f a õ L i t e r á r i a , a
aquele Profefor , o u Suftituto , que
qual

confte fer mais b e m inftruido na Iftoria Literária-,

e na Bibliografia ; e o que for u m a ves eleito d e v e r á

fer confervado n o m e f m o e m p r e g o , e m quanto fatif-

fizer b e m as o b r i g a s õ e s dele. Será da fua c o m p e t ê n -

cia guardar o preciozo d e p o z i t o , que lhe f o r confia-

d o , para o que terá feito pela o r d e m das m a t é r i a s

u m í n d i c e , e m que fe declare cada u m dos livros

p e l o caráter que o fas mais c o n h e c i d o ; ifto é , o u

pelo t i t u l o , o u pelo n o m e d o A u t o r , e e m que fe

aponte c o m exáfaó o lugar que ocupa na Livraria»

E f t e í n d i c e eftará patente e m a l g u m a das mezas da


i o i E j l a t u t o s do Seminário E p i f c o p a l

L i v r a r i a , para p o r ele fe axar c o m facilidade qual-

quer livro q u e fe procure. Por efte m e f m o í n d i c e

examirará o Bibliotecário todos os mez.es f e falta a l -

g u m l i v r o ., o u fe eftá fóra d o f e u l u g a r , para o p ô r

onde p e r t e n c e ; e cuidará m u i t o n o afeio da L i v r a -

ria , fervindo-fe para i f o dos C r i a d o s d o C o l é g i o ,

q u a n d o f ô r necefario.

N a õ c o n f e n t i r á , que fe leve da caza da Livra-.

ria para fóra livro a l g u m f e m licenfa d o V i c e - D i r é t o r

dada p o r efcrito , na qual fará afinar a pefoa , que o l e -

var , c o m declarafaõ d o dia , m ê s , e ano , e m que

ele f o i entregue , e d o t e m p o e m que d e v e r á refti-

tuir , findo o q u a l , p e d i r á o dito l i v r o ; e q u a n d o

o receber, pafará recibo n o m e f m o efcrito da licenfa

para defcarga de ambos : e terá f e m p r e prontos f o -

bre a meza da Livraria tinteiros , e penas , para os

a p o n t a m e n t o s , que q u i z e r e m fazer nas fuás m e m ó -

rias, e cadernos, os que a ela f o r e m eftudar. F a r á

guardar t o d o o Íilencio na caza da Livraria , para

que uns n a õ i n c o m o d e m aos o u t r o s , n e m p e r t u r b e m

os que devéras fe q u i z e r e m aproveitar.

G u a r d a r á todos os T e m a s , D i f e r t a s ó e s , O r a -

sões , e todos os papeis L i t e r á r i o s que f o r e m reme-

tidos para as gavetas da Livraria , cujas xaves terá

guardadas c o m recato , para dar conta dos m a f o s dos

ditos papeis , quando l h e f o r e m pedidos p o r N ó s ,

o u pelo V i c e - D i r é t o r dos eftudos d o m e f m o S e m i -

nário.

C A -
de N . S . da Gr asa de Parnambuco. 103

CAPITULO XXV

Do Oficio do Bedel.

S
ra
Erá o Bedel do Colégio ,0 que fe*rvir de Sacrif-

taõ da I g r e j a c o m o fica d e t e r m i n a d o na P r i m e i -
Parte deites E f t a t u t o s C a p . I X . ; a f e u oficio per-

tence mandar tocar os finos ás óras competentes pa-

ra o e f t u d o afim dentro dos cubiculos , c o m o nas

A u l a s , abrindo-as nos feus t e m p o s determinados para

as lisões , e átos literários , e fexando-as depois de

findos os ditos átos , e l i s õ e s ; fixar os pontos das

q u e f t õ e s Literárias nas portas , o u lugares , que l h e

f o r e m determinados ; avizar os Eftudantes que a õ

de fer examinados ; fazer afento das a p r o v a s õ e s , o u

r e p r o v a s õ e s deles , e fervir de Porteiro das J u n t a s

E c o n ô m i c a , e L i t e r á r i a , eftando f e m p r e p r o n t o para

q u a n d o f o r x a m a d o , c o m o fe d e t e r m i n a na I . Part.

deites Eftatutos C a p . I X . ; e terá p o r Suftituto , quan-

d o feja p r e c i z o , aquele que N ó s , o u o R e i t o r n o -

m e a r m o s .

Eq u e
Todos os cazos , que neftes nofos Eftatutos naõ

f o r e m efpecialmente p r o v i d e n c i a d o s , m a n d a m o s
fe r e g u l e m p e l o que fe axa d e t e r m i n a d o nos

N o v o s Eftatutos da U n i v e r f i d a d e de C o i m b r a .

F I M
C O P I A D A R E A L C A R T A ,

P E L A Q V A L

A R A I N H A N . S E N H O R A

f ê s p e r p é t u a D o a s a o d o C o l é g i o d e O l i n d a á

S, I g r e j a C a t e d r a l d e P a r n a m b u c o

p a r a S e m i n á r i o E p i f c o p a L

D O N A M A R I A p o r G r a ç a de D e o s R a i n h a

de P o r t u g a l , e dos A l g a r v e s , d ' a q u e m , e d ^ l é m

M a r , - e m Á f r i c a Senhora de G u i n é , e da C o n q u i f t a ,

N a v e g a ç ã o , C o m m e r c i o da E t h i o p i a , A r á b i a , Períia ,

e da í n d i a & c . F a ç o f a b e r aos que efta M i n h a Carta d e

D ò a ç a ó , e perpetua firmidaõ v i r e m : Q u e f e n d o - m e

prefente a r e q u e r i m e n t o , e p o r parte d o R e v e r e n -

d o B i f p o de Pernambuco D o m J o z é J o a q u i m da

C u n h a de A z e r e d o C o u t i n h o , que na C i d a d e de

O l i n d a , C a p i t a l daquelle B i f p a d o , exifte ainda a

C a z a , que f o i C o l l e g i o , e h a b i t a ç a ó dos e x t i n & o s

J e f u i t a s , c o m a fua refpedriva I g r e j a , Alfaias a ella

pertencentes, e C e r c a , que he annexa á referida C a -

za , e C o l l e g i o ; e t u d o confervado debaixo da apre-

h e n ç a ò , e fequeftro , que nos Bens dos fobreditos

R e g u l a r e s fe fez p e l o M e u R e a l F i f c o : E que achan-

d o - f e o m e n c i o n a d o C o l l e g i o , I g r e j a , Alfaias , e
O C e r -
t o 6 C A R T A

Ç e r c a f e m que fe lhe houvelfe dado até ap p r e f e n t e

d e í t i n o , o u a p p l l c a ç a ó a l g u m a ; e n a õ fe lhe p o -

d e n d o dar outra m e l h o r , e mais p r ó p r i a , que a,

de fer a p p l i c a d o para h u m S e m i n á r i o de e d u c a ç a ó '

da M o c i d a d e y f e m a qual fe n a õ p o d e m crear Su-

jeitos h á b e i s para d e í e m p e n h a r e m os M i n i f t e r i o s r l

e O b r i g a ç õ e s do S a c e r d ó c i o , e do I m p é r i o : M e pe-]

dio o m e f m o R e v e r e n d o B i f p o foíTe E u fervida fa- ;

zer D o a ç ã o do dito C o l l e g i o I g r e j a c o m todas as>

fuás Alfaias , e Cerca á I g r e j a C a t h e d r a l do B i f -

p a d o de P e r n a m b u c o , para nelle fe eftabelecer q

referido S e m i n á r i o , na f o r m a que fe acha d e t e r m i -

do p e l o Santo C o n c i l i o de T r e n t o , r e c o m m e n d a d o í

pelas Bullas da C r e a ç a õ d o m e f m o B i f p a d o , e l e m -

brado na da C o n f i r m a ç ã o d e l í e R e v e r e n d o B i f p o *

A o que tendo confideraçaõ , e defejando c o m t o d a

a efficacia concorrer para p b e m , e a u g m e n t o . ef-

piritual da I g r e j a , e para a u t i l i d a d e publica dos

M e u s fieis YaíTallos y e o n f o r m a n d o - m e c o m as m e n -

cionadas Bullas A p o í t o l i c a s : H e i por b e m , e M e

praz fazer p u r a , l i v r e , p e r p e t u a , e i r r e v o g á v e l

JJ)paçaõ á Santa I g r e j a C a t h e d r a l de P e r n a m b u c o d o

( J o l l c g i o , ; I g r e j a c o m t o d a s as fuás A l f a i a s , e C e r c a ,

<me foraó dos referidos extmclos J e f u i t a s , e fe a c h a $

onpu M e u R e a l F i f c o , para que no m e f m o C o l l e g i p '

fe eftabeleça o S e m i n á r i o E p i f c o p a l na f o r m a f u p r

plicada p e l o fobredito R e v e r e n d o B i f p o f ; ao quajrj.

e aos feus SuecelTores no- B i f p a d o E n c o m m e n d o , e

E n c a r r e g o m u i t o a d i r e c ç a õ , i n f p e c ç a õ , e a d m i n i f -

tração d e l l e , pela m e f m a n o r m a , e m o d o , que fe,

acha deterniinadp p e l o d i t o § a ^ t o Çp^cjui^;<k. T r e n r


D E D O A £ A Ô*. I O 7

tò 7 para crue aos f e u s prudentes , e z e l ò f ò s cuida-

d o s , e d o á d é feus SuccelTores , fe d e v a õ os pios ^'e

virtuofos progrelTos de t a õ d i g n a , e t a õ Santa

ínftituiçaÕ.

P e l o q u e M a n d o ao C o n f e l h o U l t r a m a r i n o ;

M à r q u e z M e u M o r d o m o M ó r , Prefidente d o R e a l

E r á r i o , d o C o n f e l h o da F a z e n d a , e da R e a l J u n -

ta d o C o m m e r c i o ; M e z a d o D e f e m b a r g o d o P a ç o ;

C o n f e l h o da M i n h a F a z e n d a ; M e z a da C o n f c i e n c i a ,

e O r d e n s ; V i c e - R e i , e C a p i t ã o G e n e r a l de M a r ,

é T e r r a d o E f t a d o d o B r a z i l ; G o v e r n a d o r e s , e C a -

p i t ã e s Generaes dos M e u s D o m i n i o s U l t r a m a r i n o s ;

D e f e m b a r g a d o r e s , M a g i f t r a d o s , e mais Juizes, J u f -

r i ç a s , e Ofticiaes , aos quaes o c o n h e c i m e n t o defta

M i n h a C a r t a deva , e poíTa p e r t e n c e r , que a c u m -

p r a ó , g u a r d e m , façaõ c u m p r i r , e guardar t a õ i n -

v i o l a v é l m e n t e , c o m o nella fe c o n t é m , e n a õ obftan^

tes quaesquer L e i s , A l v a r á s , R e g i m e n t o s , P r o v i -

s õ e s , D e c r e t o s ^ R e f o l u ç õ e s , e Eftyllos c o n t r á r i o s ;

p o r q u e todas , e todos H e i p o r e x p r e í f a m e n t e derro-

g a d ò s , para efte effeitò f o m e n t e , e c o m o fe de ca-

da h u m a dellas , e delles fizeífe expreíTa , e efpecial

m e n ç ã o . E ao D o u t o r J o z é A l b e r t o L e i t ã o , d o M e u

C o n f e l h o , D e f e m b a r g a d o r d o P a ç o , e Chanceller

M ó r deftes R e i n o s , e feus D o m i n i o s , O r d e n o , q u e

a faça p u b l i c a r n a C h a n c e l l a r i a , paífar p o r ella, e

r e g i í t a r e m todos o ¥ lugares, onde fe c o f t u m a ó re-

^iftaí: femelhantes D o a ç õ e s ; e remettendo-fe o O r i -

ginal 1
defta para o M e u R e a l A r q u i v o da T o r r e d o

T o m b o . D a d a n o P a l á c i o de Q u e l u z aos vinte e dois

tiíàs d o m e z de M a r ç o d o A n n o d o N a f c i m e n t o de

O i i N o í f o
I o 8 C 'A R -¥ A

N o í T o Senhor J e z u s C h r i f t o de m i l fetecentos n o *

venta e feis.

O PRÍNCIPE-

M a r q u e z M o r d o m o M ó r .

Arta, pela qual Voffa Mageftade Ha por hem fa-

z e r perpetua , firme , e irrevogável Doação d Santa

I g r e j a Cathedral de Pernambuco , a requerimento do j e u

ablual B i f p o Dom J o z é Joaquim da Cunha de A z e r e -

do Coutinho, do Collegio, I g r e j a com todas as A l f a i a s

delia , e Cerca annexa ao m e f m o Collegio, que exifte

na Cidade de Olinda , Capital do referido B i f p a d o , p a -

ra nelle f e erigir o Seminário E p i f c o p a i , na f ô r m a

determinada pelo Santo Concilia de Trento : Encarregan-

do ao mejmo P r e l a d o , e a f e u s Succejfores no . B i f p a d o

a Infpecçao , DirecçaÓ , e Governo do m e f m o Seminá-

rio. Tudo na f ô r m a a j l m a declaradas

Para VoíFa Mageftade ver.

R e -
D E D o A Ç A . 6 . 1 0 ^

R e g i f t a d a nefta Secretaria de E f t a d o dos N e -

g ó c i o s da F a z e n d a no L i v r o I I I , que nella ferve

de R e g i f t o das Cartas , e A l v a r á s , a F o l h a s 18 verf.

L i s b o a 14 de J u l h o de 1 7 9 6 .

Lourenço J o z é da M o t t a M a n j o %

Jozé Alberto Leitão,

Foi publicada efta Carta na Chancellaria Mór

da C o r t e , e R e i n o ; pela qual paliou f e m embar-

g o d o l a p f o d o t e m p o , por aílim o ordenar S. M a -

geftade. L i s b o a 10 de J u l h o de 1796.

Jeronymo J o z é Corrêa de Moura.

Regiftada na Chancellaria Mor da Corte , e

R e i n o no L i v r o das L e i s a f o i . 6 y verf. L i s b o a 1 6

de J u l h o de 1 7 9 6 .

Manoel Antônio Pereira da Silva,

Lourenço Jozé da Motta Manjo a fez*

Regiftada na Chancellaria Mór da Corte, e

R e i n o n o L i v r o de P a d r õ e s , e D o a ç õ e s de J u r o a

foi. 202. verf. L i s b o a 2 0 de J u l h o de 1 7 ^ 6 .

Jeronymo Jozé Corrêa de Moura»


E R R A T A S .

Pag. Lin, Erros Emendas

4 22 e efcrever fuficiente- efcrever, e contar fuficien*


mente temente
«7 no fim
11 ? ue

oi
tenhaõ
? ue

or
eftaõ
deles

ainda
tenhaõ

alumíand*
eftaõ alüminando
«7 6 o Profeíor os Profefores

Você também pode gostar