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Liquidaçã o de Sentença – Consideraçõ es à luz do Novo CPC – Maximiliano Pereira de

Carvalho1 e André Braga Barreto2

I – Liquidação de sentença no Processo Civil e no Processo do Trabalho: aspectos históricos e


procedimentais.

No presente artigo, buscamos descortinar os aspectos mais relevantes no que diz respeito à
liquidaçã o de sentença, como uma das fases do rito processual, com especial enfoque à realidade do
processo laboral.

O rito da liquidaçã o, cujo escopo essencial é o de definir o quantum debeatur, ou seja, quantificar a
obrigaçã o reconhecida no comando sentencial já qualificado pelo trâ nsito em julgado, foi compreendido
de variadas formas ao longo dos tempos, seja doutriná ria ou jurisprudencialmente.

Inicialmente, o instituto da liquidaçã o de sentença chegou a ser percebido como processo incidental
ao processo de execuçã o, ideia que encontrou algum eco, sobretudo perante aqueles que defendiam,
frente ao regramento legal entã o vigente, a plena autonomia entre os processos de conhecimento e de
execuçã o. Posteriormente, malgrado persistisse alguma divisã o entre os estudiosos, passou a ser
predominante a percepçã o da liquidaçã o de sentença como um incidente do processo de execuçã o,
remanescendo apenas a esse a condiçã o de processo autô nomo.

Com a ediçã o da Lei 11.232/2005, reformadora do có digo de processo civil de 1973, donde emergiu
a figura do cumprimento de sentença, ascendeu a compreensã o do processo como rito sincrético, com
suas fases cognitiva e de cumprimento, tendo o instituto da liquidaçã o deixado de integrar o Capítulo VI
do Livro II (Do Processo de Execuçã o), passando a integrar o Capítulo IX do Título VIII do Livro I (Do
Processo de Conhecimento). Tal inteligência perdurou com o advento do Có digo de Processo Civil de
2015, sendo a liquidaçã o de sentença apresentada no Capítulo XIV do Título I (Do processo Comum), na
Parte Especial – Livro I (Do Processo de Conhecimento e do Cumprimento de Sentença).

1
Juiz do Trabalho do TRT 10ª Região – DF e TO. Juiz Auxiliar da Presidência do TST/CSJT. Membro da Comissão Nacional de
Efetividade da Execução Trabalhista – CNEET, Coordenador Executivo.
2
Juiz do Trabalho do TRT 7ª Região – CE. Membro da Comissão Nacional de Efetividade da Execução Trabalhista – CNEET,
Representante da Região Nordeste.
Tal alteraçã o, para além da mera localizaçã o do instituto no corpo da legislaçã o codificada,
representou autêntica mudança na essência da figura, alinhada à revoluçã o ocorrida no seio do processo
civil. Ao passo que anteriormente a liquidaçã o era vista como incidente de apuraçã o de valor a ser
perseguido, em processo autô nomo de execuçã o já em curso, na nova ordem legal o instituto passou a ser
entendido como fase essencial prévia ao início da efetivaçã o do comando sentencial qualificado pelo
trâ nsito em julgado; integrador desse, portanto.

Neste sentido, percebe-se a liquidaçã o como fase da pró pria formaçã o da coisa julgada, na medida
em que lhe define os limites, balizando a pró pria atuaçã o do Estado-Juiz na fase de cumprimento de
sentença. Tal asserçã o é reforçada pelo conteú do do art. 523 do CPC de 2015, que dispõ e, in litteris:

Art. 523.  No caso de condenaçã o em quantia certa, ou já fixada em liquidaçã o, e no caso de decisã o
sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do
exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido
de custas, se houver.

§ 1o Nã o ocorrendo pagamento voluntá rio no prazo do caput, o débito será acrescido de multa de
dez por cento e, também, de honorá rios de advogado de dez por cento.

§ 2o Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput, a multa e os honorá rios previstos no
§ 1o incidirã o sobre o restante.

§ 3o Nã o efetuado tempestivamente o pagamento voluntá rio, será expedido, desde logo, mandado
de penhora e avaliaçã o, seguindo-se os atos de expropriaçã o.

Referido dispositivo, que veio a sepultar de vez controvérsia inicialmente instalada quanto ao
momento de incidência da multa do art. 475-J do CPC de 1973, de natureza congênere à penalidade de
seu §1º, consolidou inarredavelmente a fase de acertamento da obrigaçã o reconhecida no título
executivo como definidora dos limites da pró pria coisa julgada, porquanto integrante de fase cognitiva do
processo, razã o pela qual somente apó s a definiçã o do quantum debeatur pode o devedor ser compelido
ao cumprimento da decisã o. Idêntica linha foi adotada pelo legislador no regramento do cumprimento
provisó rio de sentença (art. 520, §2º, do CPC) e do protesto da sentença judicial transitada em julgado
(art. 517 do CPC).

Em abono a tal conclusã o, colhe-se a manifestaçã o de Marcelo Abelha no excerto abaixo:

É justamente para os casos em que a norma jurídica está quase completa, enfim, para as situaçõ es
em que nela existe uma incompletude de algum (ns) de seu(s) elemento(s), que existe a atividade
jurisdicional liquidató ria. Essa atividade é de natureza cognitiva, porém o objeto do conhecimento é
parcial do ponto de vista horizontal, pois se restringe à obtençã o do elemento faltante na norma
jurídica quase concreta. O uso da atividade jurisdicional liquidató ria de forma destacada e isolada é
absolutamente anormal, pois a regra prevista no CPC é de que a norma jurídica concreta seja
revelada em um só momento, em respeito à concentraçã o da sentença. Normalmente, nã o se
biparte a fase cognitiva em dois momentos, que é, v.g., o que ocorre na liquidaçã o da sentença.

Por outro lado, o leitor poderia perguntar-se como e porque seria possível falar em “norma jurídica
concreta” se, afinal de contas, nã o está completamente “concreta”. Realmente, nã o é exato falar em
“norma jurídica concreta” se alguns de seus elementos nã o forem identificados, enfim, se alguns dos
itens do aspecto objetivo ou subjetivo da norma individualizada (quase individualizada) nã o
estiverem completamente identificados.

Assim, se existe essa incompletude, é sinal de que a tarefa de identificaçã o ou formulaçã o da norma
jurídica concreta que revelará o “direito exequendo” ainda nã o está acabada, devendo socorrer-se
ainda de uma atividade cognitiva que terá por desiderato a identificaçã o do(s) elemento(s) que
estiver(em) faltando na norma jurídica quase completa.3

Portanto, conclui-se, no â mbito do processo civil, pela consagraçã o do instituto da liquidaçã o de


sentença como pertencente da fase de conhecimento do processo, pensado esse como fenô meno
sincrético, destinado à integraçã o dos pró prios limites da coisa julgada.

No que pertence ao processo do trabalho, entretanto, muito embora já tenha havido alteraçõ es
legislativas no procedimento da liquidaçã o de sentença (a ú ltima através da Lei 12.405/2011, que
expressou a possibilidade de nomeaçã o de perito contá bil, para cá lculos complexos), essa continua
posicionada no Capítulo V (Da Execuçã o) do Título X (Do Processo Judiciá rio do Trabalho), o que, ao
menos do ponto de vista formal, a integra ao processo de execuçã o, ou ao menos à fase de execuçã o no
processo trabalhista, caso reconhecida a incidência do sincretismo processual â mbito juslaboral.

Diante disso, no â mbito do Processo do Trabalho, há aqueles que defendem a liquidaçã o de


sentença ainda como pertencente ao processo de execuçã o, em respeito ao texto legal. Neste sentido é a
doutrina de Manuel Antô nio Teixeira Filho, ainda sob o pá lio do CPC de 1973, in verbis:

Para logo, devemos dizer que a Lei n. 11.232/2005 nã o se aplica ao processo do trabalho, no
tocante ao deslocamento do procedimento da liquidaçã o da sentença para o processo de
conhecimento. Ademais, enquanto no processo civil a liquidaçã o depende de iniciativa da parte
(CPC, arts. 475-A, §§1ª e 2º; 475-B; 475-D), no do trabalho ela pode ser promovida ex officio, exceto
quando deva ser processada mediante artigos.
3
ABELHA. Marcelo. Manual de Execução Civil. Editora Forense. 5ª edição. Págs. 435 – 436.
Embora a liquidaçã o, do ponto de vista sistemá tico, integre a execuçã o, sob o aspecto ló gico ela
figura como uma fase destinada a prepara a execuçã o, a tornar exequível a obrigaçã o contida no
título judicial, seja precisando o valor da condenaçã o ou individualizando o objeto da obrigaçã o. A
liquidaçã o possui, portanto, cará ter nã o apenas quantificante, mas também individuante. Título
judicial, cuja execuçã o se promova sem prévia liquidaçã o – sem que esta fosse imprescindível –, é
legalmente inexigível, rendendo ensejo a que o devedor argua a falta em seus embargos. 4

De outra parte, há importantes vozes a defender que, já com a reforma da norma processual de
1973, o instituto da liquidaçã o de sentença, mesmo no Processo do Trabalho, teria passado a compor a
“fase” de conhecimento do iter processual. Neste sentido, vê-se a inteligência de Homero Batista Mateus
da Silva:

Controverte-se, também, sobre a posiçã o ocupada pela fase de liquidaçã o, alguns a inserindo na fase
de conhecimento e outra a enquadrando como o início da execuçã o. A questã o é desprovida de
interesse especialmente no processo do trabalho, haja vista que este sempre se pautou pela
unificaçã o processual, sem necessidade de ajuizamento da açã o executiva e sem nem ao menos
haver necessidade de nova autuaçã o processual. Com a reforma do Có digo de Processo Civil de
2006, ficou ainda mais evidente que a liquidaçã o corresponde a um simples acertamento de
cá lculos ainda na fase de conhecimento processual, algo como um complemento da sentença, que,
para ser célere, nã o pode trazer o valor exato.5

No que atine ao procedimento, a liquidaçã o da sentença trabalhista é regida pelo contido no art.
879 da CLT, em sua redaçã o atual, que dispõ e:

Art. 879 - Sendo ilíquida a sentença exequenda, ordenar-se-á , previamente, a sua liquidaçã o, que
poderá ser feita por cá lculo, por arbitramento ou por artigos. (Redaçã o dada pela Lei nº 2.244, de
23.6.1954)

        Pará grafo ú nico. Na liquidaçã o, nã o se poderá modificar, ou inovar, a sentença liquidanda, nem
discutir matéria pertinente à causa principal. (Incluído pela Lei nº 2.244, de 23.6.1954)

        § 1º - Na liquidaçã o, nã o se poderá modificar, ou inovar, a sentença liquidanda nem discutir


matéria pertinente à causa principal.(Incluído pela Lei nº 8.432, 11.6.1992)

        § 1o-A. A liquidaçã o abrangerá , também, o cá lculo das contribuiçõ es previdenciá rias devidas.
(Incluído pela Lei nº 10.035, de 2000)

4
FILHO. Manuel Antônio Teixeira. Curso de Direito Processual do Trabalho. Editora LTR. 1ª Edição – 2009. Volume III. Pág. 2051.
5
DA SILVA. Homero Batista Mateus. Curso de Direito do Trabalho Aplicado. Ed. Revista dos Tribunais. 2ª Edição. Vol. 10 – Execução
Trabalhista. Capítulo 4. Págs. 80-81.
        § 1o-B. As partes deverã o ser previamente intimadas para a apresentaçã o do cá lculo de
liquidaçã o, inclusive da contribuiçã o previdenciá ria incidente. (Incluído pela Lei nº 10.035, de
2000)

        § 2º - Elaborada a conta e tornada líquida, o Juiz poderá abrir à s partes prazo sucessivo de 10
(dez) dias para impugnaçã o fundamentada com a indicaçã o dos itens e valores objeto da
discordâ ncia, sob pena de preclusã o. (Incluído pela Lei nº 8.432, 11.6.1992)

        § 3o Elaborada a conta pela parte ou pelos ó rgã os auxiliares da Justiça do Trabalho, o juiz
procederá à intimaçã o por via postal do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, por intermédio
do ó rgã o competente, para manifestaçã o, no prazo de dez dias, sob pena de preclusã o. (Incluído
pela Lei nº 10.035, de 2000)

        § 3o  Elaborada a conta pela parte ou pelos ó rgã os auxiliares da Justiça do Trabalho, o juiz
procederá à intimaçã o da Uniã o para manifestaçã o, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de
preclusã o. (Redaçã o dada pela Lei nº 11.457, de 2007)    (Vigência)

        § 4o A atualizaçã o do crédito devido à Previdência Social observará os critérios estabelecidos na


legislaçã o previdenciá ria. (Incluído pela Lei nº 10.035, de 2000)

        § 5o  O Ministro de Estado da Fazenda poderá , mediante ato fundamentado, dispensar a
manifestaçã o da Uniã o quando o valor total das verbas que integram o salá rio-de-contribuiçã o, na
forma do art. 28 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, ocasionar perda de escala decorrente da
atuaçã o do ó rgã o jurídico. (Incluído pela Lei nº 11.457, de 2007)    (Vigência)

        § 6o  Tratando-se de cá lculos de liquidaçã o complexos, o juiz poderá nomear perito para a
elaboraçã o e fixará , depois da conclusã o do trabalho, o valor dos respectivos honorá rios com
observâ ncia, entre outros, dos critérios de razoabilidade e proporcionalidade. (Incluído pela Lei nº
12.405, de 2011)

Em se tratando de processo do trabalho, revela-se bastante comum que as sentenças judiciais


sejam liquidá veis por meros cá lculos aritméticos, casos nos quais o juiz já poderá proferir a decisã o
devidamente liquidada, ou simplesmente ordenar que os cá lculos sejam feitos, incontinenti, pelo
contador do juízo, inclusive no que tange à s contribuiçõ es previdenciá rias e fiscais. Nestas situaçõ es, as
partes já tomarã o ciência dos cá lculos homologados, sendo o réu/executado para o devido pagamento.
Adotada tal linha de procedimental, eventuais discussõ es sobre os cá lculos elaborados, por qualquer das
partes, pertencerã o aos embargos à execuçã o.

Poderá o juiz, ainda, adotar o disposto no §§2 o e 3o, acima encartados, instando as partes e a Uniã o a
se manifestarem sobre os cá lculos elaborados pelo servidor da vara, sob pena de preclusã o, o que
inviabilizaria tais discussõ es em sede de embargos à execuçã o.

Para as situaçõ es nas quais os cá lculos consubstanciem mediana dificuldade, o condutor do


processo poderá adotar o disposto no §1o-B, que nã o obstante contenha o verbo “deverá ”, representa
faculdade ao juiz para que delegue à s partes a tarefa de elaboraçã o dos cá lculos de liquidaçã o, ou ainda,
naqueles casos de acentuada complexidade, é dado ao magistrado se servir do §6o, nomeando perito
judicial, normalmente na á rea de contabilidade, para que elabore a conta de liquidaçã o, dadas as
dificuldades técnicas para a sua realizaçã o pelos pró prios atores do processo. Em ambas as situaçõ es,
será observado o devido contraditó rio, com posterior decisã o interlocutó ria de homologaçã o dos
cá lculos, outrora chamada “sentença de liquidaçã o”, decisã o essa por essência irrecorrível, na forma do
art. 893, §1o, da CLT.

Registre-se, por oportuno, serem residuais, pela pró pria natureza dos casos trazido perante à
Justiça Laboral, os casos de necessidade da realizaçã o da liquidaçã o por artigos, na qual há necessidade
da prova de determinado fato, como elemento componente da quantificaçã o da sentença, ou mesmo da
liquidaçã o por arbitramento, quando se necessita da atuaçã o de perito, diverso do mero perito contá bil,
para elaboraçã o de trabalho técnico cujo objeto seja prejudicial à finalizaçã o dos cá lculos.

Vistos os aspectos histó ricos e procedimentais do instituto da liquidaçã o, seja no â mbito do


processo civil, seja no que pertence ao processo do trabalho, cumpre-nos analisar em que medida tal
figura foi inovada pelo advento do Novo Có digo de Processo Civil de 2015 e quais seriam as repercussõ es
geradas por tal renovaçã o no rito juslaboral.

II – Liquidação de Sentença segundo o Novo Código de Processo Civil (CPC) – Repercussões no


Processo do Trabalho.

O rito de liquidaçã o de sentença pelo Có digo de Processo Civil de 2015, como dito alhures, integra o
Capítulo XIV do Título I (Do processo Comum), na Parte Especial – Livro I (Do Processo de Conhecimento
e do Cumprimento de Sentença), sendo regulado nos artigos 509 a 512 da legislaçã o codificada, que
dispõ em:

Art. 509.  Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua
liquidaçã o, a requerimento do credor ou do devedor:

I - por arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido
pela natureza do objeto da liquidaçã o;

II - pelo procedimento comum, quando houver necessidade de alegar e provar fato novo.

§ 1o Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito
promover simultaneamente a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta.
§ 2o Quando a apuraçã o do valor depender apenas de cá lculo aritmético, o credor poderá
promover, desde logo, o cumprimento da sentença.

§ 3o O Conselho Nacional de Justiça desenvolverá e colocará à disposiçã o dos interessados


programa de atualizaçã o financeira.

§ 4o Na liquidaçã o é vedado discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou.

Art. 510.  Na liquidaçã o por arbitramento, o juiz intimará as partes para a apresentaçã o de
pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso nã o possa decidir de plano,
nomeará perito, observando-se, no que couber, o procedimento da prova pericial.

Art. 511.  Na liquidaçã o pelo procedimento comum, o juiz determinará a intimaçã o do requerido, na
pessoa de seu advogado ou da sociedade de advogados a que estiver vinculado, para, querendo,
apresentar contestaçã o no prazo de 15 (quinze) dias, observando-se, a seguir, no que couber, o
disposto no Livro I da Parte Especial deste Có digo.

Art. 512.  A liquidaçã o poderá ser realizada na pendência de recurso, processando-se em autos
apartados no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com có pias das peças
processuais pertinentes. (destaque nosso)

Pelo que se percebe dos dispositivos concernentes à liquidaçã o no Novo Có digo de Processo Civil,
notadamente pelos artigos em realce, a principal novidade trazida diz respeito a uma maior preocupaçã o
com a celeridade no rito, evitando-se a utilizaçã o das discussõ es em sede de acertamento da decisã o
judicial como medida de postergaçã o de seu cumprimento. Nesta linha, o processamento da execuçã o do
capítulo da sentença já apto ao pleno cumprimento é medida que presta homenagem ao Princípio do
Acesso à Justiça, inscrito no art. 5o, XXXV, da CF, em seu viés substancial, que nã o mais se contenta com o
mero reconhecimento formal do direito, mas com sua efetivaçã o, leitura que restou fortalecida com o
cristalizaçã o do direito fundamental à Razoá vel Duraçã o do Processo e aos meios que garantam a
celeridade sua tramitaçã o (art. 5o, LXXVIII, da CF), esse igualmente voltando para o processo como um
todo, em suas fase cognitiva e de cumprimento, visto o processo judicial como instrumento de
consagraçã o e promoçã o de direitos.

A discussã o acerca da aplicabilidade ou nã o do dispositivo acima destacado ao processo do trabalho


está ainda na ordem do dia, na medida em que a Instruçã o Normativa 39/2016 do Tribunal Superior do
Trabalho, editada pela Corte Má xima Trabalhista no intuito de trazer uma maior segurança jurídica neste
período de transiçã o para a vigência do Novo CPC, foi silente sobre o tema. Caberá , portanto, à doutrina e,
sobretudo, à jurisprudência trabalhista, a definiçã o sobre a incidência de tais alteraçõ es no â mbito do rito
juslaboral.
E na soluçã o da contenda, concessa maxima venia à queles que perfilhem entendimento diverso, nã o
se vislumbra saída outra senã o a da plena aplicabilidade de tal inovaçã o ao processo do trabalho. A par
das razõ es acima delineadas, atreladas à incidência dos direitos fundamentais do acesso à justiça e da
razoá vel duraçã o do processo, vistos sob suas ó pticas substanciais, na interpretaçã o e aplicaçã o das
normas processuais, tidas as normas do Novo CPC como instrumentos a conferir maior celeridade e
efetividade ao rito processual, é de se notar, mesmo à luz de uma aná lise mais restrita acerca das
possibilidades de aplicaçã o subsidiá ria das normas do processo civil ao processo do trabalho, que a
Consolidaçã o das Leis do Trabalho (CLT) nã o traz qualquer norma que regule tais situaçõ es, pela
possibilidade ou nã o se prosseguir com o rito de liquidaçã o em paralelo à execuçã o do capítulo já líquido
da sentença. Seria, em verdade, caso de omissã o típica do diploma consolidado, a reclamar a aplicaçã o do
art. 769 da CLT:

Art. 769 - Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiá ria do direito
processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título.

Cumpre registrar que o regime nã o é exatamente novo, mas sim uma espécie de repristinaçã o de
disposiçõ es que constavam do CPC de 1973, especificamente nos artigos 475-I, §2 o, e 586, §2o, ambos
revogados pela Lei 11.382/2006, que reformou vá rios dispositivos da antiga lei adjetiva. E mesmo apó s a
retirada de tais dispositivos do ordenamento jurídico pá trio, houve abalizadas vozes a defender a
aplicaçã o desses (ou ao menos da Teoria dos Capítulo da Decisã o, subjacentes a seu conteú do) ao
processo do trabalho. Neste sentido, colhe-se o ensinamento de Manuel Antô nio Teixeira Filho:

“Via de regra, a execuçã o pressupõ e que todas as parcelas integrantes da condenaçã o já tenham
sido liquidadas, de tal arte que o título executivo judicial é exigível em sua plenitude. Se, contudo, a
sentença possuir uma parte líquida e outra ilíquida, permite-se ao credor promover, de modo
simultâ neo, a execuçã o daquela e a liquidaçã o desta. Essa faculdade estava prevista no art. 586, §2 o,
do CPC, e tinha aplicaçã o supletiva ao processo do trabalho. Aqui, tal execuçã o parcial convinha,
muitas vezes, aos interesses do credor, má xime, quando a liquidez (que permitia a imediata
execuçã o parcial do título) compreendia valores significativamente elevados, em cotejo com os que
deveriam ser apurados em liquidaçã o.

Embora essa norma do CPC tenha sido revogada, o seu espírito foi incorporado pelo processo do
trabalho, pelas razõ es acima expostas, que permanecem atuais.”6

6
FILHO. Manuel Antônio Teixeira. Curso de Direito Processual do Trabalho. Editora LTR. 1ª Edição – 2009. Volume III. Pág. 2057-
2058.
Com efeito, se as razõ es expostas pelo ilustre professor paranaense já mereciam relevo no contexto
posterior à revogaçã o dos artigos 475-I, §2o, e 586, §2o, do CPC de 1973 pela Lei 11.382/2006, apó s a
repristinaçã o de seus conteú dos normativos pelo Novo CPC, suas conclusõ es parecem absolutamente
irresistíveis. Como já exposto acima, o texto consolidado é patentemente omisso em tratar o tema, ao
passo que a imediata execuçã o do capítulo líquido da sentença, ainda que persistam capítulos ilíquidos, é
medida de inequívoca compatibilidade com o principiologia do processo do trabalho, notadamente
marcado pela celeridade e efetividade, sobretudo por se tratar de instrumento de busca pelo
adimplemento de valores de cunho alimentar, no mais das vezes ú nica fonte de subsistência de seus
destinatá rios.

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