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Rede Globo de Televisão

Central Globo de Produção Próxima novela das 18 horas CAPÍTULO 01


Amor, Eterno Amor
Novela de

Elizabeth Jhin
Personagens deste capítulo

ANGÉLICA FERNANDO TERESA


ANTONIO GABRIEL TOBIAS
AUGUSTO GRACINHA VALÉRIA
CARLOS JACIRA VERBENA
CARMEM JOSUÉ VIRGILIO
DEOLINDA KLEBER ZÉ
DIMAS MELISSA
ELISA MIRIAM

Participação Especial: ENFERMEIRA, MOTORISTA, XAVIER,


ENTREVISTADORA, MULHER.

VALE ESTE
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:1 .....

CENA 1/ CÉU ESTRELADO/ AMBIENTE. EXTERIOR/ NOITE.

Uma magnífica visão do cosmos a partir da terra, um mergulho profundo nas


estrelas, nebulosas, galáxias. Uma música linda, forte, impressionante.
Um tempo nessas imagens sublimes, a música suaviza para entrada de uma voz
de menino de uns nove/dez anos. No melhor momento os dizeres: minas gerais,
1990.
CARLOS — (em off) Tão lindo o céu, Elisa... Se a gente pudesse tocar nas estrelas...
ELISA — (ri, em off) A gente pode!
CAM faz movimento até pegar Carlos e Elisa, uma linda menina da mesma idade, olhando o
céu estrelado em um lugar afastado, perto de um lago.
CARLOS — (ri) A gente não tem asa!
ELISA — Fecha o olho e faz de conta...
CARLOS — (fecha os olhos, sorri) Legal... !
ELISA — (sorri, olhando o rosto dele) A gente veio de lá, Carlinhos... Das estrelas.
Você acredita?
CARLOS — (sorrindo, olhos fechados) Acredito.
Os dois se dão as mãos, fecham os olhos, sorrindo, um lindo momento dos dois
passeando entre as estrelas, algo mágico, surreal, belíssimo. Mas a magia do
momento é interrompida pela voz irritada de Virgilio ao longe;
VIRGILIO — (off) Carlos!! Cadê você?! Seu moleque do inferno?! Carlos!!
CARLOS — (larga a mão de Elisa) Meu padrasto! Ele me mata se eu não trabalhar.
Amanhã a gente se vê!
E sai em corrida desabalada, Elisa olhando, penalizada.
CORTA PARA:

CENA 2/ CASEBRE DE VIRGILIO/ AMBIENTE. EXTERIOR/ NOITE.

Virgilio na porta do casebre, fulo, cinta na mão.


VIRGILIO — (grita) Carlos!!
ANGÉLICA — (vem de dentro) Deixa o menino, Virgilio... Só hoje! Deixa ele em paz!
VIRGILIO — A culpa é sua, você estraga o moleque! Na idade dele eu já me esfolava
pra ajudar meu pai!
Carlos vem correndo, ofegante.
VIRGILIO — (fulo) Quer morrer de pancada, seu coisa ruim?!
CARLOS — (altivo) E quem ia trabalhar pro senhor?
Virgilio levanta a cinta, Virginia segura o braço dele, súplice. Carlos sem mostrar
medo, altivo.
ANGÉLICA — Virgilio!! (t) Entra, filho... por favor, Carlos!
Carlos sustenta o olhar de Virgilio, firme, impávido.
VIRGILIO — (entredentes) Vai se arrumar, anda!!!
Carlos entra ainda sustentando o olhar do padrasto. Angélica vai atrás dele, meio
trêmula.
ANGÉLICA — (p/Virgilio) Eu falo com ele, calma....
Fecha na expressão soturna de Virgilio,
CORTA PARA:

CENA 3/ UMA FEIRA ITINERANTE/ EXTERIOR/ NOITE.

Uma visão do alto de uma feira/circo/quermesse. Tudo pobrezinho, luzes,


bandeirinhas. CAM vai mostrando barraca da mulher barbada, do engolidor de
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:2 .....

fogo, um carrossel antigo com cavalinhos meio quebrados, muita gente da cidade
e das redondezas, crianças correndo, venda de guloseimas sem noção de higiene.
Uma lona mambembe de circo. Entre as barracas vemos Virgilio, Carlos e
Angélica indo rápido na direção da armação de lona. Carlos vestido com uma
roupa improvisada de domador, rosto sério. Outras crianças o apontam, riem
dele. Carlos não se abala, e vai em frente, puxado por Virgilio.
CORTA PARA:

CENA 4/ LONA DE CIRCO/ AMBIENTE. INTERIOR/ NOITE.

Abre em um urro de um tigre (ou similar) dentro de uma jaula no meio do


picadeiro. Em volta deste estão as arquibancadas rústicas, feitas de tábuas, muita
gente já sentada. Um homem de fraque puído e botas sujas chega á frente. Um
rufar de um tamborzinho tocado por alguma figura.
HOMEM — Respeitável público!! Dentro de alguns segundos verão a nossa atração
principal: Carlos, o menino mágico, um espetáculo jamais visto na face da
terra!!
CORTA PARA:

CENA 5/ CAMARIM IMPROVISADO/ AMBIENTE. INTERIOR/ NOITE.

Angélica, nervosa, ajeitando a cartola na cabeça de Carlos. Este com expressão


contrariada.
ANGÉLICA — Filho, só mais um pouco de paciência! Sabe como seu padrasto é... faz
o que tem que fazer e a gente volta rápido para casa!
CARLOS — Um dia eu vou embora... eu juro.
ANGÉLICA — Quer me matar de desgosto, é? Quer me matar, filho?!
Virgilio entra, trazendo um pequeno chicote. Reações, ela instintivamente abraça
o filho.
VIRGILIO —Tá remanchando, né, moleque?! (entrega chicote) Toma, vem logo,
anda...!!! Larga ele, Angélica!!
Puxa o garoto com força, saem, angélica se benze, fecha os olhos, mão apertando
o peito,
CORTA PARA:

CENA 6/ LONA DE CIRCO/ AMBIENTE. INTERIOR/ NOITE.

Palmas, as pessoas se levantam para ver melhor a pequena figura de Carlos que
entra no picadeiro. O tigre rugindo, ameaçador. Ele tira a cartola e faz um giro à
guisa de agradecimento. Virgilio o olhando firme, satisfeito com as reações.
HOMEM — Carlos, “o menino selvagem”, senhoras e senhores!!! O maior fenômeno
de todos os tempos, estudado por cientistas da América do Norte!! A única
criança no mundo capaz de enfrentar uma fera sem medo e sem nenhuma
proteção!!!
Palmas, frisson. Angélica olhando de longe, lábios mexendo em uma oração.
Carlos entrega a cartola e o chicote para Virgilio, vira-se para o tigre. Um
domador adulto dentro da jaula bate com o chicote no chão, excitando o animal.
Sai rápido da jaula. Todos ficam em silêncio profundo quando Carlos se
encaminha para a porta da jaula. Um rufar do tambor. O tigre ruge, nervoso.
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:3 .....

Carlos já dentro da jaula olha fixo os olhos do tigre. Este lhe mostra os dentes
ainda. Carlos aponta o dedo para o animal e faz um gesto para baixo. O tigre pára
de rugir e se abaixa, até deitar como um gatinho manso. Carlos se aproxima,
passa a mão na cabeça dele. O bicho ronrona e dorme. Carlos faz sinal de
silêncio para a plateia, sai da jaula. A plateia explode em gritos e palmas. O tigre
levanta e volta a se mostrar feroz. Carlos agradece, Virgílio idem. Dois ou três
músicos tocam algo e Carlos sai do picadeiro, Virgilio ainda fica um instante
agradecendo.
CORTA PARA:

CENA 7/ CASEBRE/ CAMA DE CARLOS/ INTERIOR/ NOITE.

Carlos de camiseta e short, se preparando para dormir. Em um canto da sala


separado por uma cortina. Há muitos livros velhos, usados. Ele arruma uma velha
mochila com material escolar, tudo pobre, tosco. Olhar determinado em olhos
marejados. Vozes de angélica e Virgilio o fazem levantar e espiar através da
cortina.
ANGÉLICA — É perigoso, Virgílio! E se um dia aquele bicho não obedecer ele? Não
tem dó do menino?
VIRGILIO — (ri) O Carlos tem parte com o coisa ruim, mulher!
ANGÉLICA — (se benze) Não fala assim do meu filho!
VIRGILIO — Olha como ela enche a boca... “meu filho”...! Um mal educado, mal
agradecido... isso é que o “seu filho” é! (t) Anda, faz alguma coisa de útil e
esquenta logo esse seu grude que eu tou com o bucho roncando!
Carlos fecha a cortina, tenso. vai para a janela abre, fica olhando o céu estrelado.
ELISA — (em off) “A gente veio de lá, Carlinhos”... das estrelas.
Um take do sorriso dela, o sorriso dele e
CORTA PARA:

CENA 8/ ARRAIAL DE FORA/ AMBIENTE. EXTERIOR/ NOITE/


AMANHECER.

As estrelas da cena anterior vão se apagando para o nascer belíssimo do sol. Uma
tomada da cidadezinha de arraial de fora. (AT.: nessa época o lugar se chamava
arraial de fora, um lugarejo que com o tempo cresceu e tomou o nome de rio
fundo) uma região linda, com cachoeiras e grutas. Fecha na casinha de Virgilio.
CORTA PARA:

CENA 9/ CASEBRE DE VIRGILIO/ AMBIENTE. INTERIOR/ DIA.

Carlos de uniforme de grupo escolar, surradinho, mas limpo, tomando café com
pão, angélica do lado.
ANGÉLICA — Ouvi dizer que a Feira vai embora da cidade, Carlos... você vai se livrar
dessa doideira do seu padrasto.
CARLOS — Só entro naquela jaula pela senhora, mãe, por causa do seu remédio.
ANGÉLICA — O melhor remédio é sossego... não vou ter nunca.
CARLOS — Vamo embora daqui. Na aula eu aprendi... o Brasil é grande, mãe... a
gente foge pra bem longe!
ANGÉLICA — E viver do que? Eu com esse coração fraco, você ainda uma criança...!
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:4 .....

CARLOS — Criança que enfrenta bicho! Deve ter um tanto de bicho nesse mundo afora
pra eu amansar. Vamo...!!
ANGÉLICA — (faz que não) E seu estudo? Vai crescer ignorante que nem eu, que nem
o Virgílio? (t) Filho, você é especial, você tem um dom! Não é parte com
o demo coisa nenhuma, foi Deus que te deu esse presente! Você vai se
formar e ser alguém na vida! Eu faço qualquer coisa pra isso, Carlos...
qualquer coisa!
Carlos inconformado, pega a mochila velha.
CARLOS — Não é justo, não, mãe. (t) Tou indo... benção.
ANGÉLICA — Deus te abençoe....
Ele sai porta afora, Angélica muito mexida.
ANGÉLICA — (p/si) E me perdoe pelo mal que eu te causei!
A expressão dolorida dela e
CORTA PARA:

CENA 10/ RIO DE JANEIRO/ AMBIENTE. EXTERIOR/ DIA.

Funde com imagem de verbena olhando de uma janela com olhos marejados. O
mesmo tipo de data superposta, rio de janeiro 1990. CAM vai para os jardins de
uma bela mansão supostamente na gávea (ou similar) onde está sendo
comemorado o aniversário de um menino de seus 8/9 anos, Fernando. Há faixas
de “parabéns, Fernando”, bolas coloridas, uma linda mesa de doces, muitas
crianças. Melissa e Dimas tirando fotos ao lado do filho. Fernando acena para a
janela.
FERNANDO — (grita, alegre) Vem, tia Verbena!! Desce logo!!
Verbena assente, força um sorriso, dá um adeus simpático para o sobrinho. CAM
mostra que melissa e Dimas trocam um olhar significativo,
CORTA PARA:

CENA 11/ CASA DE VERBENA/ QUARTO DO CASAL/ INTERIOR/ DIA.


Verbena ainda na janela, augusto vem por trás, puxa-a, abraça-a, carinhoso,
procurando ser forte.
AUGUSTO — Se nosso filho estivesse vivo a festa podia ser pra ele também.
VERBENA — Nosso filho está vivo, Augusto.
AUGUSTO —Já são quase sete anos...! Desde que ele desapareceu... nenhuma pista,
nenhum pedido de resgate... nada!
VERBENA — O Rodrigo está vivo! Eu sei que no fundo você tem a mesma certeza.
Um dia ele vai voltar, eu repito isso todos os dias... e é assim que tem que
ser. (t) Vamos descer... o Fernando ta me chamando... Pelo menos posso
fazer o Fernando feliz, não é? (sorri) Ele ficou doido pela bicicleta nova!
AUGUSTO — (sorri) Assim que eu gosto... esse sorriso nos olhos...!
Os dois vão saindo, enlaçados,
CORTA PARA:

CENA 12/ MANSÃO/ JARDINS/ EXTERIOR/ DIA.

Abre no “parabéns”, alegria, palmas, Fernando sopra as velas do bolo. Melissa


chama verbena, sorridente.
MELISSA — Vem minha irmã, uma foto com seu sobrinho!!
Verbena vai, abraça Fernando, sorriem para a foto que Dimas tira. Depois
melissa abraça verbena e o filho. Nova foto. Crianças correndo, alegria.
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:5 .....

MELISSA — (beija Verbena) Você foi um anjo de emprestar a casa pra festinha do
Fernando! Ele te adora!
VERBENA — (sorri) Agradeço todo dia pelo Fernando, Melissa. A Deus... e a você
também.
CAM mostra Teresa olhando as duas, atenta, enquanto serve docinhos. Dimas se
aproximou.
DIMAS — As fotos estão ótimas, depois te mando, Verbena. (t) O Rodrigo também
fazia anos por agora... ele era um ano mais velho que o Fernando, não é isso?
MELISSA — Que horror, Dimas!! O Rodrigo está vivo! Ele faz aniversário, ele é um
ano mais velho! (t) Desculpa...!
VERBENA — Seu marido não teve intenção. Acontece até comigo de vez em quando...
(t) Nada de tristeza... hoje só interessa a alegria do Fernando!
Fernando na bicicleta, amigos em volta. CAM vai para augusto que tira um doce
da bandeja de Teresa.
TERESA — Olha o açúcar, hein, doutor Augusto!
AUGUSTO — (leve) Olha o dedo-duro, hein, Teresa?!
TERESA — Não vou contar pra dona Verbena, pode deixar. (confidencial) O senhor
viu como a dona Melissa tá “meiguinha” hoje?! Quem não conhece até que
compra!
AUGUSTO — (“zangado”) Quem lhe deu essa ousadia toda?!
TERESA — Muitos anos de casa! (t) O senhor também não acredita nessa “bondade”
dela. Pensa que eu não percebo?
AUGUSTO — Penso é que você devia servir os convidados em vez de fazer fofoca!
Vai... anda!
Ela vai, compenetrada, ele sorrindo. Mas ao desviar o olhar para melissa
paparicando verbena o rosto dele fica sério.
CORTA PARA:

CENA 13/ MANSÃO DE VERBENA/ BIBLIOTECA/ INTERIOR/ DIA.

Verbena entra, fecha a porta, respira fundo. Pega em uma estante um álbum de
fotos, folheia: vemos que há muitas fotos dela com um bebê no colo, ela e
augusto idem, o menino com dois anos no colo de Teresa. O aniversário de 3
anos. uma batida na porta e Teresa aparece.
TERESA — Tava de olho na senhora! Quando entrou na casa eu pensei: xi... lá vai ela
olhar aquele álbum de novo!
VERBENA — Meu filho está vivo, Teresa. Ele ainda não pôde voltar por algum
motivo.
TERESA — Claro, dona Verbena! (t) Eu fico pensando... o Rodrigo era um menino
abençoado, diferente dos outros. Ninguém ia fazer mal pra ele. Lembra como
chamava os passarinhos e eles vinham? Até beija-flor que é arisco pousava no
ombro dele!
VERBENA — (procura e acha a foto, sorri) Olha essa foto: saiu nos jornais na época
que ele desapareceu, todo mundo ficava impressionado com aquele toco de
gente...
CAM mostra a foto de um menino de três anos no meio de pássaros, sorrindo,
lindo.
VERBENA — (off) Um dom assim não se perde, Teresa... um filho assim não se perde.
CAM mostra a foto que vai fazendo fusão com:
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:6 .....

CENA 14/ ARRAIAL DE FORA/ LAGO/ EXTERIOR/ DIA.

Carlos batendo palmas e um pássaro (ou vários) voam na direção dele. Elisa
rindo. Eles ficam em volta, pousam nele, por perto, uma cena linda. Ele de
uniforme da escola, a mochila jogada por ali.
ELISA — Imagina se aparece um elefante também! Vem voando, voando... e pum!...
cai na cabeça da gente!
CARLOS — (ri) Tá duvidando?! (sorri) Aí que meu padrasto não me deixa nunca mais
em paz! (t) Tenho medo da minha mãe morrer do coração, Elisa... por isso
que não brigo com o seu Virgílio. Não sei por que ela casou com ele... a gente
era mais feliz só eu e ela...
ELISA — Você não disse que não tinham rumo e passavam fome?
CARLOS — Mas a gente não tinha medo de nada.
SENTARAM-SE EM ALGUM LUGAR, ELA PASSA OS DEDOS NO ROSTO DELE,
SORRI.
ELISA — Um dia você vai ser muito feliz, Carlinhos.
CARLOS — Quando você tá junto eu sou muito feliz. (t) A gente podia casar quando
crescer... quer?
ELISA — (sorri) Tem que fazer o pedido direito!
DE UM PEDAÇO DE CAPIM ELE IMPROVISA UMA ALIANÇA. PEGA A MÃOZINHA
DELA.
CARLOS — (sério) Elisa, você aceita casar comigo?
ELISA — (idem) Aceito.
OS DOIS RIEM, INOCENTES, ELE PÕE A ALIANÇA NELA.
ELISA — (séria) Agora você só pode casar comigo, Carlinhos, com mais ninguém!
Você jura?
CARLOS — (sério, beija dedos cruzados) Juro!
ELISA — A gente vai ficar junto pra sempre?
CARLOS — Pra sempre, Elisa... eu juro.
Um beijo suave no rosto dela, o encantamento dos dois, CAM deriva e mostra
Lexor olhando os dois com um sorriso. ele está todo de branco e uma luz
bonita emana dele e ilumina as crianças.
CORTA PARA:

CENA 15 / RIO DE JANEIRO/ EXTERIOR/ NOITE/DIA.

Tomadas da cidade em 1990, o amanhecer, e vemos a fachada de prédio simples


em botafogo.
CORTA PARA:

CENA 16/ RIO DE JANEIRO/ APTO DE MELISSA/ INTERIOR/ DIA.

Sala modesta, pequena, móveis antigos, melissa, Dimas e Fernando tomam o café
da manhã.
MELISSA — A Verbena podia ter nos convidado para jantar com ela e o Augusto
ontem. (t) Pelo menos o Fernando!
DIMAS — Ela emprestou a casa, os empregados, mandou fazer meia dúzia de
docinhos... com certeza achou que era suficiente.
FERNANDO — Eu achei legal a minha festa.
MELISSA — Melhor do que neste ovo de apartamento é claro que foi. (t) Nunca se
contente com pouco, filho! A pessoa tem que ser ambiciosa, querer sempre
mais... ou se torna um nada na vida. É isso que você quer ser? Um nada?!
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:7 .....

FERNANDO — Eu não! Eu quero ser muito rico!


DIMAS — Pois é, e quanto mais perto você ficar da sua tia Verbena mais rico você vai
ser. (t) Pra ela você ficou no lugar do seu primo que morreu... é até uma
caridade.
FERNANDO — A tia Verbena disse que ele vai voltar.
MELISSA — (suspira) A gente fica com pena e concorda, mas o Rodrigo sumiu há sete
anos... infelizmente não vai voltar mais. Viu como a sua tia precisa de você?
Ela não pode ter mais filhinhos, coitada.
DIMAS —Você tem que ir bastante na casa dela, fazer companhia... / aí ela vai
gostando cada vez mais de você.
O telefone toca, verbena atende e reage.
MELISSA — Foi encontrado?! Tem certeza?! É mesmo o Rodrigo?!
ESTA CENA SE INTERCALA COM AS PRÓXIMAS

CENA 17/ CONSTRUTORA DE VERBENA/ AMBIENTE. EXTERIOR/


DIA.

Fachada do prédio da construtora, elegante, revelando o sucesso da empresa. Já


ouvimos a voz de verbena.
VERBENA — (off) É ele, minha irmã, é o meu filho!
FUSÃO COM:

CENA 18/ CONSTRUTORA/ SALA DE VERBENA/ INTERIOR/ DIA.

Verbena, emocionada, ao telefone, uma carta na mão. a sala é cheia de fotos de


crianças desaparecidas. Ela fundou um movimento para mães que têm o mesmo
problema que ela. Computadores da época.
VERBENA — O menino encontrado mora numa cidadezinha no interior de Minas...
pela descrição é o meu filho Rodrigo! Algo me dizia que eu devia botar de
novo o anúncio no jornal! Estamos indo agora para Minas! O Augusto
mandou preparar o avião!
MELISSA — Calma, Verbena!! Cuidado pra não ter outra decepção! Mandaram
alguma foto do menino? Alguma prova?
VERBENA — Não, é gente muito pobre... parece que o menino apareceu na cidade e
uma família pegou pra criar... (t) O Augusto vai ligar para o Dimas dando
algumas instruções. (t) Me deseja boa sorte, Melissa...!
MELISSA — Claro!! Boa sorte... vai dar tudo certo, querida, vocês merecem!
Desliga e o sorriso murcha.
FERNANDO — É o meu primo, mãe? O Rodrigo apareceu?!
MELISSA — É claro que não. É mais um dos desvarios da Verbena. (t) Vai se arrumar
pro colégio, Fernando, está na hora.
FERNANDO — Ufa! Ainda bem. Se o Rodrigo voltar aposto que a tia Verbena não me
dá mais presente.
O garoto vai, Dimas e Melissa se olhando.
DIMAS — (irônico) Garoto esperto... bem filho da mãe dele.
MELISSA — (n/ouve) A Verbena gosta de sofrer, é impressionante. Depois que
inventou a tal Central de Crianças Desaparecidas ficou ainda pior da cabeça.
DIMAS — (assente) O Augusto deixou ela usar uma sala ótima na empresa, só pra essa
bobagem. (intencional) Uma hora dessas a notícia pode ser verdadeira, meu
amor. Milagres acontecem.
MELISSA — Milagres não existem, Dimas. Rodrigo não volta mais.
CORTA PARA:
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:8 .....

CENA 19/ MONTANHAS DE MINAS GERAIS/ AMBIENTE. EXTERIOR/


DIA.

Um lindo stock-shot de montanhas.


CORTA PARA:

CENA 20/ MINAS/ CASA MODESTA/ AMBIENTE. EXTERIOR/ DIA.

Uma casinha simples em uma rua simples. Um taxi parando, verbena e augusto
descendo, chamando a atenção, pelas roupas elegantes e pelo nervosismo.
Criançada correu atrás do taxi, moradores chegando nas janelas e portões das
casas. Uma mulher vem.
AUGUSTO — (p/mulher) Por favor... dona Deolinda...?
MULHER — Eu levo o senhor lá... / e o dinheiro que prometeram? Eu que escrevi a
carta!
VERBENA — (trêmula) Se for o meu filho você ganha uma fortuna!
CORTA PARA:

CENA 21/ MINAS/ CASEBRE/ AMBIENTE. INTERIOR/ DIA.

Verbena e augusto entrando, emocionados, precedidos pela mulher. Em uma


cama um menino de uns nove anos, com muita febre. Deolinda perto dele,
levanta, nervosa.
MULHER — Deolinda... os pais do menino. Entrega ele... anda!
AUGUSTO — Espera, essa criança parece muito doente!
MULHER — Mas é seu filho, ué... vai enjeitar ele por isso, doutor?! A gente bem que
desconfiava que era filho de gente rica, precisava ver quando ele apareceu
aqui... todo sujinho mas tinha roupa de marca.., pena que Deolinda jogou
fora. Era daquele jeitinho que saiu no jornal!
Verbena já se ajoelhou ao lado da cama, comovida.
VERBENA — Parece que é ele sim, Augusto... é o nosso Rodrigo! Olha o cabelinho...
o tom da pele!! Meu Deus... será que é ele?!
DEOLINDA — A doença dele tem cura, moça... leva ele!... aqui o Uilha morre! (t) A
gente que botou esse nome quando ele apareceu.... Eu cuidei dele direito,
doutor!
MULHER — Sua esposa já reconheceu o menino, coração de mãe não se engana! (t)
Parece que o doutor não ta acreditando!
CORTA PARA:

CENA 22/ ARRAIAL DE FORA/ CASEBRE DE VIRGILIO/ EXT DIA.

Stock-shot e ouvimos a voz de Angélica.


ANGÉLICA — (off) Você não vai levar meu filho! Eu não deixo!
CORTA PARA:

CENA 23/ CENÁRIO. CASEBRE DE VIRGILIO/ INTERIOR/ DIA.

Virgilio e Angélica discutindo.


VIRGILIO — Deixa de ser burra, Angélica! O Carlos faz um sucesso danado... acha
que vou perder essa mina de ouro?!
ANGÉLICA — Não quero o meu filho de cidade em cidade, se mostrando que nem
bicho raro! Ele tem que estudar, Virgilio, ter vida de criança!
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:9 .....

VIRGILIO — Que mal tem perder um ano de escola, mulher, se é pra ganhar dinheiro,
pra ajudar a família?! Você é muito metida a besta, só porque nasceu no Rio
de Janeiro se acha melhor que os outros! Volta pra lá e me deixa em paz que
eu sei cuidar do menino!
ANGÉLICA — Eu nunca vou deixar o Carlos com você, Virgílio! Desiste dessa ideia
maluca! Eu pego mais roupa pra lavar, juro que te dou o dinheiro todo, eu/
VIRGILIO — (ri) Você, com esse coração fraco, que lava uma meia e já fica toda
chiliquenta?! Nem sei o que ia fazer com essa dinheirama toda! (t) Quando
o Carlos chegar da escola vai fazer a trouxa e cair no mundo comigo!
ANGÉLICA — Vai ter que me matar primeiro!
VIRGILIO — (empurra) Sai da minha frente, mulher, não me tenta! Olha o que eu faço
com os “estudos” do moleque!
Vai para o canto de Carlos, pega cadernos, livros, começa a rasgar, fulo.
Angélica o segura com força.
ANGÉLICA — Pára, Virgilio!! Você ficou doido?! As coisas do menino, ele adora os
livros dele!!
Virgilio dá um safanão, ela cai, mão no peito, arfando. Ele se assusta, deita-a na
cama de Carlos.
VIRGILIO — Pára de chilique, mulher!! Respira fundo, deixa de coisa! Não pensa que
vai me dobrar com esse teatro!!
Mas angélica está sem sentidos. Virgilio a sacode, entre fulo e preocupado.
VIRGILIO — Não sou idiota, ta ouvindo?! Nada vai me impedir de levar o moleque,
deixa de fricote!!
Angélica não reage, a situação e
CORTA PARA:

CENA 24/ ESTRADINHA DE TERRA/ EXTERIOR/ DIA.

Carlos vindo da escola, com mochila, Elisa do lado.


CARLOS — Minha professora disse que vai denunciar meu padrasto, diz que eu tou
correndo perigo de vida naquele circo.
ELISA — (segura a mão dele) Se você morrer eu morro junto. Como nas outras vidas.
CARLOS — (ri) Boba! Do que você ta falando? Que vidas?
ELISA — (sorri) Esquece! (t) Criança tinha que ser muito amada, né?
CARLOS — (assente) Seus pais são legais com você?
ELISA — Não gosto de falar disso!
CARLOS — Eu gosto de falar da minha mãe. Ela é doente mas é muito legal. Quer ir na
minha casa conhecer ela?
ELISA — (assente) Um dia eu vou.
A atenção dele foi despertada por algo. CAM mostra: nos fundos de uma casa
simples de beira de estrada há muitas gaiolas de passarinhos.
CARLOS — Olha lá, Elisa... me ajuda a soltar! Não aguento ver bichinho preso.
ELISA — Nem eu! Vem!
Os dois se esgueiram e, sem fazer ruído começam a soltar os passarinhos, que
saem voando. os dois saem correndo, rindo. O dono da casa acaba percebendo e
vem de dentro, furioso.
HOMEM — Carlos!!! Tinha que ser você, seu desgraçado!! Vou contar pro Virgilio, ele
vai te dar uma coça, moleque!!
CARLOS — (se vira e grita) Se prender passarinho eu solto de novo!
Fecha no riso dele e
CORTA PARA:
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:10 .....

CENA 25/ CASEBRE DE VIRGILIO/ AMBIENTE. EXTERIOR/ DIA.


Carlos todo contente, vindo com sua mochila no ombro, passarinhos atrás, entra
em casa chamando pela mãe.
CARLOS — (alegre) Mãe! Cheguei!!
Ele entra na casa e
CORTA PARA:

CENA 26/ CASEBRE DE VIRGILIO/ AMBIENTE. INTERIOR/ DIA.

Carlos entrando e se deparando, atônito, com angélica deitada na cama dele, sem
sentidos. Virgilio enfiando roupas em uma mala velha.
CARLOS — Mãe!! O que aconteceu com ela?!
VIRGILIO — A Angélica teve um ataque, Carlos, não faz escândalo, com aquele
coração bichado um dia ia acontecer.
CARLOS — Eu não acredito!! Mãe!! Fala comigo!! Mãe... por favor ... não vai
embora!! (t) Foi o senhor!! Foi o senhor que matou ela...!!!
VIRGILIO — (segura-o c/força, fulo) A culpa foi sua, moleque!! Sua mãe morreu por
sua causa!! De desgosto!!
CARLOS — Eu não fiz nada!! Eu não fiz nada!!
VIRGILIO — A gente tem que fugir, moleque! A polícia vai chegar e eu vou dizer que
a culpa é sua!! Vão te prender e te jogar num buraco sujo!! Vamo seguir
com o circo, lá você ta seguro!!
CARLOS — Eu não vou!! Não quero! (t) Mãe... acorda!! Mãe!!
VIRGILIO O PUXA, SACODE, FULO DA VIDA.
VIRGILIO — Num ta vendo que ela se foi, seu burro?! Agora você só tem eu na sua
vida, tem que me obedecer!!! O pessoal do circo ta esperando, a gente vai
junto, você vai ficar rico, moleque!! Rico!!!
Carlos se solta, Virgilio tenta pegá-lo. Carlos corre.
CARLOS — Você não vai me ver nunca mais!! Quem deu desgosto pra minha mãe foi
você! Você que matou ela!!! Você!
E sai correndo porta afora, chorando, jogando uma cadeira em que Virgilio
tropeça e cai, praguejando por causa da dor.
VIRGILIO — (fulo) Coisa ruim... maldito... eu te pego...!
E vai se levantando
CORTA PARA:

CENA 27/ ESTRADINHA DE TERRA/ AMBIENTE. EXTERIOR/ DIA.

Carlos correndo feito louco pela estrada, quase cego pelas lágrimas, uniforme do
colégio, mochila nas costas. Um tempo nisso.
CORTA PARA:

CENA 28/ CASEBRE DE VIRGILIO/ AMBIENTE. EXTERIOR/ DIA.

Virgilio mancando de uma perna, saindo da casa fulo, algum pedaço de pau na
mão.
VIRGILIO — Eu te acho, moleque desgraçado!! Não adianta se esconder que eu te
acho!!!
A ação dele correndo como pode,
CORTA PARA:
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:11 .....

CENA 29/ ARRAIAL DE FORA/ LAGO/ AMBIENTE. EXTERIOR/ DIA.

Carlos ofegante diante de Elisa. Ela arrasada.


ELISA — Não vai, Carlinhos, não me deixa!!
CARLOS — Meu padrasto não vai sossegar enquanto não me pegar, Elisa... ele quer me
levar junto com o circo. Agora que minha mãe morreu ninguém vai me salvar
dele!
ELISA — Por favor, eu te ajudo a se esconder, não vai pra longe!
CARLOS — Eu tenho que ir! Mas eu volto, eu juro que eu volto!!
ELISA — Você vai esquecer de mim!
CARLOS — Nunca nessa vida!! A gente vai se casar, lembra? Eu jurei, Elisa!! Eu volto
pra te buscar!!
ELISA — Não quero me perder de você, Carlinhos!
CARLOS — Não fala assim, eu já disse que volto pra te buscar! (t) Sabe aquela estrela
grande que eu gosto tanto? Todo dia às seis da tarde eu vou olhar pra ela e
você também olha.
ELISA — (assente) Não me deixa sozinha...
CARLOS — Não vou te deixar. Confia em mim! Você confia?
ELISA — (assente) Confio. Vou ficar te esperando. Pra sempre.
CARLOS — Guarda a aliança, ta legal?
ELISA — (assente, abre a mãozinha, dentro vemos uma concha) E você guarda isto pra
lembrar de mim. Guarda bem!
Ele pega a concha, beija.
CARLOS — Vou guardar pra sempre, Elisa... (t) me espera!
Eles se abraçam forte, ele dá um beijo no rosto dela e vai, rápido, CAM mostra
que Lexor apareceu e ficou ao lado dela, iluminado, Carlos indo.
CORTA PARA:

CENA 30/ ESTRADA ESTREITA DE ASFALTO/ AMBIENTE.


EXTERIOR/ DIA.

Carlos à beira da estrada, tentando uma carona. Não consegue, corre mais um
pouco. De repente vê de longe a camionete de entrega de leite. Reage, corre para
dentro do mato e fica olhando. CAM vai para a camionete. Nela está Virgílio no
banco do carona.
VIRGILIO — O coisa ruim não pode ter ido muito longe... Deve de ter se escondido
por esses matos... mas eu acho ele!! Pode me deixar por aqui! Conheço o
moleque!
O sujeito pára, Virgilio desce, com o pedaço de pau. Começa a andar pela
estrada, se mete em algum mato, praguejando. Carlos olhando de algum lugar
escondido, trêmulo. De repente vemos do PV dele um taxi que vem vindo. Ele
sai do esconderijo faz sinal, mas o táxi não pára. CAM vai para dentro do taxi.
Nele estão além do motorista, Verbena e Deolinda, o menino Uilha deitado no
colo das duas.
VERBENA — (olhando p/trás) Você viu o garoto, Augusto? Vamos voltar e dar uma
carona pra ele! Por favor!
AUGUSTO — Não podemos perder tempo, querida... essa criança também precisa de
ajuda e é mais urgente!
DEOLINDA — Agora o hospital ta perto, dona... tem piedade do meu filho! A senhora
perdeu o seu, sabe a dor que é!
VERBENA — (assente) Seu filho vai sobreviver, Deolinda... nós vamos cuidar dele,
fica tranquila.
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:12 .....

Mas verbena ainda olha para trás e vê Carlos, olhando decepcionado o táxi que se
foi. Um tempo nisso, o táxi indo do PV de Carlos e
CORTA PARA:

INTERVALO COMERCIAL

CENA 31/ ESTRADA/ POSTO DE GASOLINA/ EXTERIOR/ DIA.

Um caminhão de carga entra no posto. O motorista salta, verifica os pneus. Vai


até a parte de trás para examinar a carga. Já vai se afastar quando ouve um
espirro. Reage, volta, tira algum volume e vê Carlos todo encolhido, sujinho,
tentando se esconder dele.
MOTORISTA — Ei, garoto... fora daqui!! Que folga é essa?! Sai...!!
CARLOS — Deixa eu ficar, moço... eu fico quieto, eu juro!!
MOTORISTA — Acha que eu sou maluco? Se a polícia me pega eu tou ferrado! Cadê
seu pai, sua mãe?
CARLOS — Não tenho mais ninguém....
MOTORISTA — De farda da escola? Me engana que eu gosto. Fora, moleque!! Tem
um posto da polícia mais pra frente, eles vão te devolver pros seus pais,
moleque fujão!!
Tira Carlos do esconderijo, este se debate, consegue se soltar e corre para o mato.
Ele vai atrás.
MOTORISTA — Volta aqui!! Você não tem idade pra ficar sozinho!!
E começa a procurar Carlos que o espia de uma moita.
MOTORISTA — Não quero te fazer mal, garoto... aparece!! É pro seu bem!! Sua mãe
deve tar atrás de você feito doida!!
Carlos sem respirar, trêmulo. De repente ele vê um cão enorme e bravo vindo na
direção do homem que não percebe.
MOTORISTA — (p/si) E agora? Onde o infeliz se escondeu?!
O cão se aproxima mais do motorista, espumando, Carlos não hesita mais.
CARLOS — (saindo, controlado) Moço, não se mexe! Cuidado!!
E aponta o cão que mostra os dentes para o homem.
MOTORISTA — (lívido) Meu Deus... tou perdido...
CARLOS — Eu cuido dele... não corre... não se mexe.
Com toda calma ele se aproxima do cão, ergue a mão e a olha fixamente. Um
instante de suspense, mas o cão se acalma, dá meia volta e se mete no mato outra
vez. O homem treme, sem cor, quase sem fala.
CARLOS — Pronto, o perigo passou, pode parar de tremer, moço.
MOTORISTA — Eu... não entendi... o que você fez?... como...? porquê ele foi
embora... por que não me atacou?!
CARLOS — Também não entendo, moço, mas tenho um jeito danado com os bichos.
Minha mãe diz que é um dom que Deus me deu. (t) Dizia, porque agora ela
morreu. Pena que o meu dom não serve pra curar gente.
O homem ainda olhando atônito para Carlos.
MOTORISTA — Você salvou minha vida, garoto.
CARLOS — (assente, s/maldade) Foi mesmo, esse cachorro é daqueles bravos.
Conheço eles como ninguém.
MOTORISTA — Vamo sair daqui, vem... / se aparece mais algum.,,!
CARLOS — (sorri) Eu boto ele mansinho de novo!
O sorriso dele, o homem ainda pasmo,
CORTA PARA:
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:13 .....

CENA 32/ ESTRADA/ LANCHONETE DO POSTO/ AMBIENTE.


INTERIOR/ DIA.

Carlos comendo um super sanduíche, faminto. O homem diante dele, tomando


um café.
MOTORISTA — Quer dizer que sua mãe morreu de repente?
CARLOS — (assente) Faz uns três dias. O coração dela tava doente... ela sofria demais
na mão do seu Virgilio.
MOTORISTA — Quem é o seu Virgilio?
CARLOS — O meu padrasto. Disse que fui eu que matei minha mãe de desgosto, mas
foi ele. (t) O senhor acredita, né? Não faz a polícia me entregar pra ele! Por
favor!
MOTORISTA — Calma! Eu tou vendo que você não é uma criança como as outras...
mas não posso te deixar fazer nenhuma burrada. Você não tem uma tia,
alguém... uma avó?
CARLOS — Ninguém. Mas eu me viro, só quero ir pra bem longe do seu Virgilio. Ele
me detesta desde que minha mãe casou com ele. Quer me levar embora com
o circo... pra eu entrar na jaula do tigre na frente de todo mundo!
MOTORISTA — Na jaula do tigre? Que história é essa, menino?
CARLOS — Eu amanso bicho, o senhor bem que viu... amanso até tigre, onça/ o seu
Virgílio ganha dinheiro comigo. Eu só entrava na jaula por causa do remédio
da minha mãe. (olhos úmidos) Mas agora ela não existe mais...
MOTORISTA —É o maior absurdo que já ouvi... / você tem muita imaginação!
CARLOS — Juro que não tou inventando, moço! Por isso que eu fugi e tou faz três dias
na estrada, pulando de um caminhão pra outro... eu morava em Minas!
MOTORISTA — É... você já ta longe da sua terra...
CARLOS — Mas um dia eu volto... tenho um compromisso sério com uma menina.
Vou casar com ela.
MOTORISTA — (sorri) Você é muito topetudo, rapazinho! É um tampinha cheio de
atitude. (t) Bom.,., com certeza vou me arrepender mas... tou indo pro
norte do país... você pode ir comigo e te levo pra minha casa no Pará.
Tenho um filho da sua idade, Tobias . Combinado?
CARLOS — Combinado! (estende a mão) Meu nome é Carlos.
MOTORISTA — (aperta, achando graça) O meu é Xavier.
O aperto de mão, o sorriso de Carlos e
CORTA PARA:

CENA 33/ ESTRADA/ CAMINHÃO/ EXTERIOR/ DIA.

Carlos no banco do carona, encantado com o caminhão. Xavier manobrando para


sair.
CARLOS — Eu nunca entrei num bichão desses, sô! Quando eu crescer vou ser
caminhoneiro, que nem o senhor!
MOTORISTA — (ri) Acho que você vai ser é mágico, garoto! Desses que aparece na
televisão. Vai ficar rico!
CARLOS — Só se for pra comprar um caminhão e buscar a Elisa.
MOTORISTA — Quem é a Elisa?
CARLOS — A minha noiva, uai! Só tenho ela nesse mundo.
MOTORISTA — (ri) Mas o garoto é mesmo topetudo!
A risada dele, música linda, o caminhão indo pela estrada.
CORTA PARA:
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:14 .....

CENA 34/ ESTRADA PERTO DE RIO/ AMBIENTE. EXTERIOR/


ENTARDECER.

O caminhão parado, Xavier esquentando o café em um fogareiro, duas redes já


armadas no chassi. CAM vai para a beira do rio. Carlos lá, banho tomado,
vestindo a roupa do filho de Xavier.
MOTORISTA — (alto) Serviu direitinho, eu sabia... você e o Tobias têm o mesmo
tamanho. Ele às vezes viaja comigo.
CARLOS — (sorri) Tou até cheirando bem de novo, sô! Muito agradecido, amigo
Xavier!
MOTORISTA — (faz um gesto) Você e o Tobias vão se dar bem... ele é doido pra ter
um irmão. Nasceu a Gracinha, minha caçula, ele ficou todo desenxavido.
CARLOS — Eu queria ter um irmão... até menina ia ser bom.
O homem sorri e volta ao fogareiro. Carlos pega a concha que Elisa lhe deu, lava
no rio. Sorri.
CARLOS — Não vou te esquecer nunca, Elisa...
Olha para o céu, no belo entardecer, vemos surgir a primeira estrela no céu, a
estrela dos dois.
CARLOS — (sorri) É a nossa estrela...
Uma bela imagem dele olhando a estrela e fusão com a mesma estrela em outro
entardecer em outro lugar....
FUSÃO COM:

CENA 35/ MARAJÓ/ FAZENDA DE BÚFALOS/ EXT/ ENTARDECER.

CAM mostra Carlos, vinte e dois anos depois, em cima de um cavalo, olhando a
estrela. Um sorriso amargo no rosto. Vemos no pescoço dele, pela camisa
entreaberta no peito, a concha amarrada em um pedaço de couro. Um letreiro
mostra que é 2012.
TOBIAS — (grita, bem humorado) Ei Carlos... !! Ta no mundo da lua de novo, meu
camarada?!
CAM abre e vemos que Carlos está com peões, inclusive Josué, em seus cavalos,
conduzindo uma pequena manada de búfalos leiteiros.
CARLOS — (idem) Cuida da tua vida, Tobias!! Da minha cuido eu!
Tobias ri, amigo. Um tempo na ação deles levando os búfalos, belas tomadas de
fim de tarde, Carlos no comando, belo, viril,
CORTA PARA:

CENA 36/ MATO/ CABANA DE CARLOS/ EXTERIOR/ NOITE.

A noite caiu, CAM mostra luz de candeeiro na entrada da cabana. Dentro vemos
também luz similar.
CORTA PARA:

CENA 37/ CABANA DE CARLOS/ AMBIENTE. INTERIOR/ NOITE.

Uma cabana típica de regiões longe de tudo. Uma rede como cama. Fogareiro a
lenha, poucos móveis, poucos utensílios. Uma prateleira com livros velhos,
usados, como a que ele tinha no seu cantinho da casa em minas. Carlos sem
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:15 .....

camisa, terminando de enxugar a cabeça. A porta entreaberta, Valéria entra,


charmosa, sensual.
VALÉRIA — Oi... a porta tava aberta...
CARLOS — (leve) E você respeita porta fechada?
ELA VEM, SE ENROSCA NELE.
VALÉRIA — Hum... tá com cheiro bom... de verbena... tomou banho no rio, foi?
CARLOS — (tenta afastá-la, leve) Valéria...
VALÉRIA — Tou falando mentira...? (toca a concha no pescoço dele) Quando é que tu vai tirar
isso daqui?
CARLOS — Nunca. (t) Quantas vezes já me perguntou isso...
VALÉRIA — Tu não respondes quem te deu, ué...
CARLOS — (leve) Porque não é da sua conta. A Carmem sabe que você veio pra cá há
essa hora?
VALÉRIA — Pois foi ela que mandou te buscar... / tem novidade na Birosca... mãe
trouxe de Belém. Vem comigo, vem...
CARLOS — Eu vou é te levar pra casa antes que teu pai apareça aqui de garrucha na
mão.
VALÉRIA — Potoca! Meu pai te adora, Carlos...
CARLOS — E sua mãe não quer me ver nem pintado! Vam’bora!
Ele vestiu a camisa, abaixou o lampião e sai com ela, Valéria dengosa,
CORTA PARA:

CENA 38/ BIROSCA DA CARMEM/ AMBIENTE. EXTERIOR/ NOITE.

A birosca fica em uma rua quase de faroeste. Sem calçamento, (tipo crocodilo
dundee) mas tem luz elétrica. Alguns locais, gente simples, outros cavalos
amarrados, alguma camionete muito velha. Jipe idem, som de viola vindo de
dentro. Carlos chega com Valéria na garupa, o cavalo não tem sela nem cabresto.
ele olha o céu estrelado, como se fosse um hábito.
VALÉRIA — Perdeu alguma coisa no céu?
Ele não responde, sisudo, apeiam, ele faz um carinho no cavalo, fala no ouvido
dele, sem ouvirmos.
VALÉRIA — Tu tens mania de não prender o Gepeto no poste nem botar cabresto...
uma hora ele foge, só quero ver.
CARLOS — Eu falei pra ele esperar quieto, ele espera.
VALÉRIA — Tu tens mais carinho com ele que comigo...
CARLOS — (sorri, leve) Eu falo pra ele ficar quieto, ele fica.
E entram na birosca, ela
CORTA PARA:

CENA 39/ BIROSCA DA CARMEM/ AMBIENTE. INTERIOR/ NOITE.

O interior da birosca é também estilo crocodilo dundee. Mercadorias que


Carmem traz de Belém, coisa barata, importada do Paraguai, muito cosmético,
perfumes da região, além dos artigos típicos de uma birosca. gente local, simples
mas bem arrumadinha, algumas mesas, Carmem no balcão, zé servindo. Josué
tocando viola e reage ao ver Valéria entrando com Carlos, este é cumprimentado
com certo respeito. Carmem fuzila-o do balcão. Zé, simpático, vem.
ZÉ — Oi, Carlos... abanca aí, toma alguma coisa. O pirão tá danado de bom,
vale exprimentar.
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:16 .....

CARLOS — Ninguém faz pirão igual a Carmem, Zé. Mas hoje já tou satisfeito, traz só
um café, obrigado.
VALÉRIA — Trouxe ele pra ver a novidade, pai... / cadê ela?
ZÉ — (ri) Se aquiete, Valéria... é surpresa, filha. Daqui a pouco. (t) Vou pegar seu café,
Barão.
Ele se afasta, Josué olhando comprido para Valéria. Carmem sempre fuzilando o
casal. Chama a filha de longe.
CARMEM — Valéria! Psssti!! Valéria...!
VALÉRIA — (se enrosca) Adoro quando o povo te chama de Barão... tu parece mesmo
um nobre... seu jeito... / meu barão...!
CARLOS — (sorri, leve) Sua mãe tá te chamando, melhor você atender.
Ela suspira e vai. Carmem a puxa para um canto. Zé levou o café para Carlos.
CARMEM — Tava na casa desse aí, nesses matos?! Tá querendo o quê, menina?! Que
o povo te chame de varejeira, é?!
VALÉRIA — Arre, mãezinha... só fui chamar ele pra ver a novidade...
CARMEM — (nem ouve) Um sujeito sem chão, sem ambição... que fala com bicho, só
gosta de bicho, que ninguém sabe de onde veio... é isso que tu queres?!
VALÉRIA — Ele é filho do seu Xavier e da falecida dona Santinha.
CARMEM — Filho nada que todo mundo sabe que o falecido Xavier pegou ele na
estrada lá pelas bandas do sul, que nem cão perdido. O coisa não tem mãe
nem pai, a verdade é essa.
VALÉRIA — Eu sou louca por ele, mãezinha. O que eu posso fazer?!
CARMEM — Eu sei: vou te mandar pra Belém na primeira vuadeira que aportar por
aqui! (t) Vai ajudar o frouxo do teu pai, anda! E se dê o respeito com a
freguesia, vai, anda!!
Ela vai, sonsa. Carlos quieto, as pessoas parecem respeitá-lo demais para se
aproximar.
CORTA PARA:

CENA 40/ RIO/ MANSÃO DE VERBENA/ EXTERIOR/ NOITE.

Localização. Jardins bem iluminados, alguma mudança na casa depois de tantos


anos. Um letreiro mostrando que estamos em 2012.
CORTA PARA:

CENA 41/ MANSÃO DE VERBENA/ SALA/ INTERIOR/ NOITE.

Teresa, triste, servindo um café para Dimas, melissa, doutor Gabriel e Kleber.
conversam com seriedade.
GABRIEL — Não há nada mais que a medicina possa fazer pela Verbena. Infelizmente
é uma questão de tempo.
MELISSA — (suspira) Coitada da minha irmã... vai morrer sem realizar o grande sonho
de rever o filho.
TERESA — (cutucando) Não sei não, dona Melissa... pra Deus nada é impossível.
MELISSA — (gelada) Já se passaram quase trinta anos, Teresa. (t) Pode ir pra cozinha,
eu termino de servir o café.
TERESA — (idem) Sim, senhora. (t) Vou trazer os biscoitinhos que o senhor gosta, viu,
doutor Gabriel?
GABRIEL — (sorri, leve) Você é um amor, Teresa, obrigado.
Ela vai para dentro.
DIMAS — Você implica mesmo com a Teresa, hein, querida?!
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:17 .....

MELISSA — Eu só aguento essa criatura por causa da Verbena, você sabe disso. Assim
que/ (corta-se)... que as coisas mudarem por aqui eu boto a Teresa na rua. O
jeito que ela me olha...!
KLEBER — As coisas não vão ser tão simples assim, Melissa. O testamento da
Verbena é muito claro. Você só toma posse da herança caso o Rodrigo não
seja encontrado nos próximos vinte e quatro meses. Até lá as propriedades, os
empregados, as empresas, tudo continua exatamente como estão agora.
DIMAS — Isso se não houver uma cláusula no testamento exigindo que a criadagem
seja mantida até o final dos tempos. Seria bem o estilo da minha cunhada.
Verbena é a generosidade em pessoa.
MELISSA — (controla-se) É verdade... / (t) aliás, a única coisa que me importa é que
Verbena tenha um final tranquilo, cercada das pessoas que gostam dela.
DIMAS — (p/Gabriel) Você devia tirar da cabeça da minha cunhada essa ideia de
retomar as buscas pelo Rodrigo, Gabriel. Vai esgotar o resto de forças que ela
tem! Acho um absurdo. A essa altura do campeonato?!
GABRIEL — A Verbena nunca deixou de procurar pelo filho, a gente sabe disso. (sorri,
afetuoso) E desde quando alguém consegue controlar a minha cliente
predileta?
KLEBER — Nem a mim, advogado da empresa há tantos anos, ela ouve. Depois então
que o doutor Augusto morreu...
Teresa entrou com os biscoitinhos, oferece.
GABRIEL — Verbena sabe o que faz, confio nela.
TERESA — E eu em Deus, doutor! A dona Verbena tem certeza que o Rodrigo tá vivo.
Um dia ele vai voltar, eu também acredito nisso. (t) Com licença...
Sai, segura de si. Melissa a fuzila, disfarçadamente. De repente uma enfermeira
vem de dentro, lívida.
ENFERMEIRA — Doutor Gabriel... a dona Verbena... não está no quarto... ela
desapareceu!!
Reações e
CORTA PARA:

CENA 42/ RUA DO RIO DE JANEIRO/ CARRO/ EXTERIOR/ NOITE.

Verbena, muito bem vestida, no banco de trás com Deolinda. Antonio na direção,
ela tranquila.
VERBENA — Pé na tábua, Antonio! Já estamos atrasados!
ANTONIO — O doutor Gabriel vai fazer picadinho de mim, dona Verbena! Sair assim
de noite, a senhora nesse estado!
DEOLINDA — Eu faço qualquer coisa pela senhora, lhe devo a vida do meu filho...
mas também tou achando uma doideira! A dona Melissa não vai me
perdoar!
VERBENA — Vocês só devem satisfações a quem paga o salário de vocês, ou seja, eu!
E eu estou me sentindo muito bem. (t) Vai pela praia, (ou similar)
Antonio... é mais direto!
ANTONIO — (obedece, fazer o quê?) A senhora é que manda...
VERBENA — Não vou deixar de fazer uma última tentativa de encontrar o meu filho!
A Melissa e o Dimas pensam que vão continuar a me fazer de idiota, mas
estão muito enganados. Estou morrendo, mas não fiquei burra por causa
disso! (t) Acelera ou pego eu mesma esse volante!
Antonio obedece, ele e Deolinda trocam um olhar de impotência, ambos
afetuosos com ela,
CORTA PARA:
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:18 .....

CENA 43/ FRENTE DE UM EDIFÍCIO COMERCIAL/ AMBIENTE.


EXTERIOR/ NOITE.

O carro parando perto da entrada de um prédio comercial, ainda não


identificamos o que é. Movimento grande de entrada e saída. Uma moça,
Miriam, estava à espera, ansiosa e vem rápido.
MIRIAM — Verbena! Que bom que chegou! (t) Está tudo bem?
VERBENA — Tudo ótimo! Não precisa fazer essa cara preocupada, Miriam... não
pretendo morrer hoje nem amanhã!
ANTONIO, DESCEU, DÁ MÃO PARA VERBENA DESCER.
MIRIAM — Obrigada, Antonio, Deolinda... vocês foram perfeitos!
ANTONIO — O seu pai vai ficar uma fera comigo, Miriam!
VERBENA — Um homão desse tamanho, com medo do Gabriel?! Ora essa!! (t) Está
tudo preparado, Miriam?
MIRIAM — Só estão esperando por você! Vamos...?
VERBENA — Vamos! (t) Antonio e Deolinda, vão tomar um lanche, dar uma volta.
Talvez a coisa demore um pouco.
DEOLINDA — Não é melhor eu ir junto com a senhora?
VERBENA — Pra ficar me olhando com esse ar de “tadinha dela”? Negativo. Vão!... os
dois! É uma ordem!
Os dois entram no carro, Verbena dá o braço para Miriam e as duas vão indo para
a entrada.
VERBENA — (animada) Estou com um bom pressentimento, Miriam! Dessa vez meu
filho vai aparecer.
MIRIAM — A gente vai achar o Rodrigo, Verbena. Eu prometi que ia fazer tudo pra
ajudar... e vou cumprir!
VERBENA — (sorri) E eu te prometo: se o Fernando não te tratar bem como você
merece... eu venho do além pra puxar o pé dele todas as noites!
Miriam ri, as duas entrando,
CORTA PARA:

CENA 44/ BIROSCA DA CARMEM/ AMBIENTE. INTERIOR/ NOITE.

Carlos já de saída. Mais gente agora na birosca. Valéria vem, driblando a atenção
da mãe. Josué tocando.
VALÉRIA — Carlos... não vai embora... meu pai já vai trazer a surpresa! Por favor!!
Você vai adorar!
CARLOS — Amanhã cedo eu tenho uma doma difícil, Valéria...
VALÉRIA — (aponta, animada) Espera... Olha quem tá chegando!
CAM mostra Tobias chegando, arrumado, com Jacira e gracinha. Tobias acena
para Carlos. Josué, que tocava a viola, de olho em Valéria, pára, se anima e se
aproxima de Carlos, respeitoso.
JOSUÉ — Posso abancar concês aqui, Barão...?
CARLOS — Senta aí, Josué...
JOSUÉ — Tava lhe vendo meio mufino, não quis trazer ainda mais aperreio.
CARLOS — É só cansaço da lida, homem... já tava de partida.
TOBIAS — (sentando) Milagre meu irmão fora da toca a essa hora... foi aquela onça
(aponta Valéria) que te tirou de lá? Arre, que ela é tinhosa!
Valéria foi para Jacira e Gracinha, animada.
VALÉRIA — Cês chegaram na hora certa, o Carlos já tava com aquela doença do
“vôembora”!
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:19 .....

JACIRA —E eu tive que tirar o Tobias da rede pra vir com a gente... (maliciosa)
prometi de fazer tanta coisa que não sei se vou dar conta numa noite só... /
GRACINHA — Égua! E a gente ia perder a tal da surpresa da dona Carmem?! Que
horas que começa, Valéria?
VALÉRIA — (animada) Agora! Já começou!
CAM mostra Zé e algum ajudante trazendo um objeto grande, coberto por um pano colorido, e
o colocando sobre uma mesa perto da parede. Carmem dando ordens, põe aqui... Chega pra cá,
etc.
ZÉ — Resolve logo, Carmem... o bicho tá pesado!!
CARMEM — Mas olhe o Zé se armando todo pra cantar de galo!! Quer que eu diga na
frente da Vila em peso quem manda nesta birosca?! Ou prefere ir ciscar
noutro terreiro?!
ZÉ — Desculpa, tesouro... / eu gosto de me queixar a toa!
CARMEM — Ah, bom!
Objeto no lugar, todos de olho agora, suspense, zum-zum. Carmem bate palmas,
pede atenção.
CARMEM — Povo de Vila dos Milagres! Dessa vez eu fui pra Belém com uma missão
na mente: trazer cada vez mais alegria e conforto pra freguesia do meu
estabelecimento. Hoje é uma data especial: o progresso chegando à nossa
comunidade!
ZÉ — Ninguém mais precisa pegar vuadeira ou andar pelos matos pra chegar até na
civilização. (t) Carmem trouche o mundo pra vocês aqui mesmo, na birosca!
Num gesto dramático Carmem puxa o pano de cima do objeto e vemos uma
televisão de 40’’, analógica. Tela plana. Reações entusiasmadas. Carlos na dele,
observa. Ele e Gracinha afetuosos, foram criados como irmãos.
CARMEM — Devido aos problemas que a Vila ainda enfrenta no quesito luz elétrica,
essa maravilha... que aliás me custou uma facada, sem falar na antena de
fora... /
TOBIAS — (alto, leve) Por isso que tá tudo mais caro hoje, dona Carmem? A gente que
vai pagar pela “surpresa”?!
Risos, protestos, a maioria bem humorados.
CARMEM — (ignora) Pode fazer a ligação, Zé! Vamo deixar esse povinho atrasado de
queixo caído e de cabelo em pé!
Zé e o ajudante mexem nas tomadas, ligam a tv. Silêncio de expectativa e depois
de decepção. Na tela só aparece o chuvisco da falta de conexão.
GRACINHA — (alto) Égua! Pra ver formigueiro a gente não precisa de televisão!
Risadas. Valéria aproveitou a confusão para afastar gracinha e se colar em
Carlos, Josué de olho nela, respeitoso. Carlos meio impaciente com tudo aquilo,
Zé tentando conectar os fios,
CORTA PARA:

CENA 45/ MANSÃO DE VERBENA/ SALA/ INTERIOR/ NOITE.

Estão na sala Gabriel, melissa, Dimas, Kléber, Teresa, e agora Fernando,


agitados, alguns muito preocupados.
FERNANDO — Não acredito que a tia Verbena fez isso! “Fugir” de casa... a essa altura
da vida! Que absurdo!
MELISSA — É típico dela agir assim, Fernando, dessa forma egoísta! Nem pensou em
mim... em nós, na nossa preocupação! (t) Acho que chegou a hora de
interditar a minha irmã, Kleber... para o bem dela mesma!
KLEBER — Calma, Melissa... não é tão simples assim... /
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:20 .....

MELISSA — Tudo pra você é difícil quando se trata de sua cliente, né, Kleber?!
Mas eu sei que no estado atual dela é perfeitamente cabível! Qualquer juiz/
GABRIEL — (corta) Qualquer médico, eu também, é evidente, assinaria um laudo
constatando a perfeita saúde mental da minha cliente. Não é por aí, Melissa.
DIMAS — (intencional) Claro que não, meu amor...! (t) Não fica assim... a Verbena
não saiu daqui sozinha... não devem ter ido muito longe!
FERNANDO — (estava tentando) O celular dela continua desligado. O do Antonio
também. (t) Teresa... tem certeza que não ouviu nenhum comentário...?
Nem do Antonio, da Deolinda...?
MELISSA — Claro que ela sabe tudo, Fernando! Teresa é sonsa! (t) Diz onde a sua
patroa foi, Teresa!
GABRIEL — Espera... (t) Teresa, você é leal a Verbena e eu admiro muito isso. Mas
estou com receio que um esforço desnecessário possa ser prejudicial à saúde
dela. Fico seriamente preocupado.
TERESA — (aflita) Não sei de nada, doutor Gabriel... de nada!
FERNANDO — (estava tentando) A Miriam não atende também... o que está
acontecendo?! O senhor sabe da sua filha, doutor Gabriel? Ficamos de
nos encontrar aqui.
GABRIEL — Ela disse que viria pra cá depois da redação, Fernando.
MELISSA — Tenta mais uma vez o celular, filho. A Miriam e a Verbena são tão
amigas... é possível que a doida da minha irmã tenha comentado alguma
coisa com ela.
DIMAS — A Miriam jamais acobertaria uma loucura da Verbena.
FERNANDO — (assente) Eu conheço bem a Miriam! É claro que não!
A ENFERMEIRA VEM DE DENTRO DE NOVO, ARREGALADA.
ENFERMEIRA — A televisão/ a dona Verbena! Liga ela, dona Melissa!!
Dimas vai rápido e liga a televisão enorme presa à parede num canto da sala. E
todos reagem, cada um a seu modo. Vemos na tela a imagem de Verbena sendo
entrevistada ao vivo.
VERBENA — (na tela, firme, serena) Eu nunca perdi a esperança de encontrar meu
filho... e agora, mais do que nunca, estou certa de que em algum lugar do
mundo... ele está vivo!
MELISSA — (lívida) Não é possível... que palhaçada é essa?! Como a Verbena
consegui...?! Uma entrevista na televisão... é demais... (t) Kleber!!
KLEBER — Não tenho nenhuma responsabilidade nisso, Melissa.
DIMAS — É incrível...
FERNANDO — (contido) A Miriam, como jornalista, conhece muita gente... mas ela
não seria capaz de/... eu disse pra ela não alimentar a loucura da minha
tia!
GABRIEL — (um gesto) Vamos ouvir...
CORTA RENTE PARA:

CENA 46/ ESTÚDIO DE TELEVISÃO/ AMBIENTE. INTERIOR/ NOITE.

Verbena no estúdio, sendo entrevistada por uma repórter. Miriam, ansiosa, tensa,
ao lado do diretor, fora do alcance das Câmeras.. Do PV da câmera verbena fala.
VERBENA — Depois do desaparecimento do meu filho, criei uma Instituição para
ajudar outras crianças voltarem a seus lares... e já tivemos sucesso em
muitos casos.
ENTREVISTADORA — (p/cam) O Caso Rodrigo Borges teve ampla repercussão no
começo da década de oitenta. Desde então a família tem feito
inúmeras tentativas de descobrir o que realmente aconteceu
naquela trágica tarde de outono.
AMOR, ETERNO AMOR CAPÍTLULO 01 PAG.:21 .....

Ela pega uma imagem tipo retrato falado feito por computador e mostra para a
CAM.
ENTREVISTADORA — (sobre a imagem, em off) Usando recursos tecnológicos
avançados um especialista em computação que trabalhou
inclusive na CIA, conseguiu chegar a esse rosto, partindo de
fotos do menino e de seu falecido pai, doutor Augusto Borges,
dono de uma das maiores empresas de construção do Brasil...
FUNDE COM:

CENA 47/ BIROSCA/ AMBIENTE. INTERIOR/ NOITE.

Os mesmos da cena 44. Finalmente a televisão começa a funcionar, a tela


colorida arranca aplausos. Na tela o retrato falado de Rodrigo, que na confusão
não chama a atenção especial de ninguém.
CARMEM — (eufórica) Arre, que imagem mais bonita!! Taí, meu povo... Carmem
promete, Carmem cumpre!! A Vila dos Milagres nunca mais vai ser a
mesma!!!
Enquanto Carmem fala CAM mostra Carlos, pela primeira vez olhando fixo para a tela. Vemos
a tela onde Verbena olha diretamente para a Cam.
VERBENA — Atualmente, com tantos recursos de mídia, internet, redes sociais... fica
mais possível ainda a realização de meu grande sonho. (na tela, muita
emoção) Rodrigo... se estiver me vendo, meu filho.... onde você estiver...
nesse enorme Brasil... volta pra casa, volta pra mim, meu filho!
Verbena na tela, comovida, Carlos olhando-a como se estivesse fascinado, como
se tudo em volta houvesse desaparecido, um tempo e
CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO 01

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