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HABILIDADES ENVOLVIDAS NA ATUAGAD DO PSICOLOGO ESCOLAR/EDUCACIOMAL comporta 0 peso de todos mas, para sobreviverem, vocés deverio evar trés garrafSes de égua. Acontece que, se levarem os garrafBes, i ‘morreré. terdo de deixar uma pessoa do grupo na ilha, que fatalmente Existe, além do barco, uma boa ‘quantidade de corda. Encontrem a solugso para o problema. Depois de algum tempo de discusso, vendo que © grupo encontrava dificuldade para solucionar o problema, o coordenador solicitou a um. dos participantes no diretamente envolvidos na tarefa para dizer Como o grupo no conseguiu utilizar satisfatoriamente a “dica”, uma, 1ova instrugo buscou torné-la mais préxima dos elementos da situagiio: ~“Arquimedes... 0 peso... a corda... Lembrem-se de Arquimedes...” ‘Vérias tentativas foram adotadas pelo grupo mas nenhuma delas levou & solugio do problema. de conhecimento ¢ considerando-se que o grupo sabia que certos objetos ‘a dgua perdem parte de seu peso e flutuam, por que o grupo no foi capaz e-aplicarisso a solugdo do problema que estava vivenciando? Poder-sevia mm CamScanner Digitalizada co ‘id A. Pel Prete Ani Dt Pang 128 B6gicas para a aprendizagem do aluno em sal desem Pp la de see oe tins de formagio e qualificagdo do professor por parte dog so istas em Educagao? s ca ee mo eixoparaoexame dashabilidadesenvolvidasn co escolar/educaci cexistente entre @ jnteragdes educativas do aluno com 0} do psicélogo, como de qualquer out promover interabes construtivas desses agentes educacionss com og alvos e meios de sua ago pedagégica. ‘A questio da pritica do psicblogo na Edu presente trabalho, pela preocupagio com sua contexto educacional brasileiro, procurando-se como uma das dimensdes de requisitos envolvidas n oc iiloaiesinesiee, Habidodes Envobidas ma Aun 6 Plog Escala/Edscacoal 129 ‘com outros profissionais que compartilham o interesse por tal objeto, acrescentando novos elementos & sua identidade profissional. 'No caso especifico da interface entre Psicologia e EducasSo no Brasil, embora virios autores tenham apontado para a falta de um modelo proprio de atuagio e de padres que regulamentem tal atuaco (Carvalho, 1988; Oakland, 1989; Bastos, 1988), essa situagdo tem sido tomada como’ indicadora de um espago em construrdo © da necessidade de definir parimetros mais gerais que, a miéioe longos prazos orientem a configuras30 da area, Dentre tais parimetros, defende-se que a profssionalizag3o na irea Epossivelidentificar, na Psicologia,umacompreensiodoexercicig te6rico como atividade geradora, por exceléncia do conhecimento oy de sua apreenso, ¢ do exericio pritico como a aplicasdo da teoi, e, Portanto, quase estéril quanto & produgo de conhecimento. Somente para exemplificar essa visdo, pode-se fazer referéncia, os Cursos de Formagio em Psicologia, & programagao de trés ou quatro anos de “estudos” (teoria) ¢ de um ano de estigio (pritica). Tal organizagao pressupde a necessidade de uma cumulacidade de conhecimento teérico (saber), para, posteriormente, wna sua aplicacdo (fazer), Observam-se, ainda, nogdes mais simplistas sobre essa temética como, por exempl que associa a pritica ao uso da experigncia ou A tarefas que envolvem uma interagdo direta com o sujeito da demanda, como na aplicagdo de um teste, no preenchimento de um registro do tipo anamnese ele, mas que ndo requerem dominio de conhecimento especializado para sua execusdo.* Embora no se negue o aprimoramento de tecnologias como ‘onsequéncia natural da aplicagdo do conhecimento cientifico, restringit Habiidades Envohidas na AtuogSo do Pscsloga Esco Educaconal tabelecendo profissionalmente, pode produzir um viesamento. na apreensto da realidade e servir meramente para a reiicagio de tesane téenicas ja consagradas, diminuindo oespago da criatividade no exercici profissional e limitando o desenvolvimento das habilidades analtcas instrumentais ai requeridas. ‘Anecessidade de um saber cumulativo em qualquer area cientifico- -profissional certamente ndo deve obscurecerofato de que ele se consti se reestrutura, também, sobre a experiénca refletida, fonteinesgotivel de hipoteses, de questdes de pesquisa e de pontas de parida para aproduio de novos conhecimentos. Em uma area em construcdo como a PEE os relatos sistematizados sobre a pritica profissional, com o levantamento das questdes teéricas © empiricas que eles sugerem constituem esforgos que deveriam ser valorizados ¢ recuperados em uma perspectiva mais produtiva de articulagao entre produgo ¢ aplicag3o de conhecimento dentro da Psicologia ¢ em sua relagao com outras cigncias da Educagio. Nas areas humanisticas e, em especial na Educasdo, o fazer e 0 saber se interpenetram de tal modo na atuago profissional, que nio se Justifica 0 primado nem da teoria nem da pratica. Enquanto, no primeiro caso, a atuacdo fica reduzida 4 sua dimensfo técnica, no segundo, esvala-se perigosamente para a tendéncia a dispensar 0 conhecimento fico historicamente produzido e substitui-lo pela improvisagio pelo senso comum, A compreensio da pritica deve ultrapassar a ideia de um “mero” fazer € deve ser entendida como uma atividade transformadora do sujeito, Proporcionando-Ihe a sua prépria elaboragdo de conhecimento (seja em Contraponto, seja em ratificagdo ou complementaridade dos press te6ricos). Em um sentido amplo, portanto, a pritica Educagdo, analogamente a0 conceito de prixis em Marx’ ‘uma atividade que, ao buscar produzir alguma transformagao no mundo, impulsiona ¢ promove o desenvolvimento do individuo que a realiza, Digitalizada com CamScanner 138 THB. Pet Pata An Deg sa premissa leva, necessariamente ao is oon ee atuagto psicoldgica na Educaglo —condicto para a profissionatizaga, te tren esosrequstsneesirios 0 PEE para comprometersecgn. processo desde a formacio académica, A atuagdo do PEE na escola: desafios e requisites Conquanto a atuso do PEE nto seja resita & insinigas ‘escolar, esse contexto permite exemplificar grande parte das questdeg anteriomente colocadas. A atuaglo do psicSlogo na escola tem yn carer essencilmente social aticulado 2 outros fazeres da instiisan (dos especialistas, dos professores, da administraglo, da diferentes areas) resultando em um produto educacional coleve. impacto de sua atuagdo nfo pode ter como resultante apenas a melhor adaptagto da crianga aos programas ¢ ao ambiente escolar, tem, também, que contribuir para a criag8o de novos cenarios © priticas educativas «, principalmente, de novas realidades sociais. Essa atuacdo ocorre em condig6es ¢ relagdes sociais concretas que nBo sto dadas (preexistentes, Em outras palavras, sto situacionais, mas sto também hi 1 medida em que normas e valores se reproduzem ¢ se transformam, A compreensio dessas vinculagdes representa uma condig&o bisica para o exercicio do papel social que é esperado do PEE, e para o qual ele deveria de estratégias de interveng8o, como na produgio de conhecimento sobre esses aspectos. Esquematicamente, no quadro abaixo, sto representadas algumas das principais interagdes que caracterizam 0 contexto escolar, bem como os agentes nelas envolvidos, que poderiam orientar a andlise ¢ a intervengio do PEE: snes toi 0 sso fo Pct coal 139 Fanglo Socal da Escola Especialistas | Iistragio + pars ae ee Administragio ++ Servigos fe ‘Orgs Administrativos intermediérios (Secretariase Delegacias de Ensino) Politica Educacional Politica Socioecondmica Figura 1. Representagio esquematica da estrutura de relagdes formais no contexto escolar. Conforme procurou-se represemtar na Figura 1, as relagdes cconsideradas mais dir nantes da natureza e da qualidade ‘que definem, em tltima instancia, © projeto pedagogic: ‘ocorrem entre 0 aluno € usualmente resultantes da interagdo professor-aluno mas que, dependendo a perspectiva conceitual, podem i Digitalizada com CamScanner 140 ia AP Dal Pete Ari Dt Paty objeto expecifico de ensino, sobre lune, sobre 0 projeto ots ‘escola, sobre as finalidades © metas da ae oie seu papel na concretizagao desse Proj ‘ ‘da relagdo entre os professores deve tamt eed dessas representagBes, ¢ do grau em que elas, como parte escolar, Del Prette (1995) produzem padries de iota, sio reproduzidas por eles. ‘As relapdes que, @ administraglo, 06 especalista, a fama do aluno,€0 pestoal de servigos, estabelecem entre si e com professors ¢ alunos, podem ser entendidas como fatores que faclitam ou dificultam 1 concretizagao eficiente ¢ eficaz das relagSes essenciais anteriormente referidas.Adiregdo dessa influéncia é certamente determinada, em grande | de envolvimento com 0 (ou um) projeto pedagogico da tensio ediresto da influencia que 0 contexto sociopoliticn econdmi ‘A divisio de trabalho na escola colocou o professor na condigéo de executor de um processo que teoricamente caberia ser concebido ¢ planejado pelos especialistas ou técnicos, entre os quais se situa o PEE. A rejeigho da dicotomia entre o pensar € o fazer ea compreensio danatureza intelectual do trabalho do professor impde ao PEE, contraditoriamente é reservada (ainda a tarefa e 0 comprot para revalorizar a prética como esforco coletivo € para transformar normas, valores presentes na subcultura escolar, sobre papel de cada iniglo e coneretizago de um projeto pedagégico que ramente permita fazer face aos desafios do fracasso escolar © 80 ‘cumprimento da fung4o social da escola no contexto sociopolitico em ‘que ela esti inserida A atuagiio do PEE, se orientada por essa perspectiva, requer capacidade analitica, para aprender as miltiplas relagdes que caracterizam a instituig&o escolar ¢ os agentes nelas envolvidos ¢ pare * Uma anilisedesss flores sobre a ao educativa do professor pode sex cnconirads em De Prene (1990). ote tne 8 hu do con scorers m1 ificar necessidades © possibilidades de aperfeigoamento dessas ica_€ interpessoal), para paricipar de interac de Por capaz de analisar a natureza ¢ a qualidade das relagdes essencais professor-aluno-objeto de conhecimento) e de suporte (as que ocorrem is agentes ~ administrago, familia, especialistas, stes com os professores ¢ alunos), o PEE deve er ambém capaz de contribu para criar condigBes de interagdo com centre esses agentes com 0 intuto de defini 0 projeto pedagégico da escola € 0 papel de cada um deles na concretizagao desse projeto ¢ de promover sua capacidade erica e critiva para avaliarem ¢ conduzirem, ‘enire si ¢ junto aos alunos, relagdes efetivamente educativas e coerentes ¢ intra e entre 05 com tal projeto. ‘Asintervengdes mais diretasdoPEE juntoaoaluno (porintermédio, por exemplo, da orientagao psicopeda ou vocacional e de outras competéncias Sem perder de vista 4 especificidade do conhecimento ps © compromisso do PEE ‘com uuma atuagio socialmente relevante no contexto escolar se articula organicamente ao seu proprio desenvolvimento profissional, em miltiplas dimensBes de requisitos que no podem ser ignoradas. Os requisitos enfatizados compromisso e de habilidades analiticas ¢ interpessosis parece estar 8 Digitalizada com CamScanner oe 12 P janejamento curricular e nas jor investimento 00 P) " Pesquisas a wo especifico que deveria orientar 0s objetivas dq sobre 0 repert6r formagio academica- como objetivo desenvolver as habilidades dos professoreg : thoteve Nota ss amir interages signiictiva em sala de aula eiluseaye sanizar € conduzi poner vests serem implemeniadas com estidantes.A questo desrig sero nda em um progam de desenvolvimento de habiliades aii ae resolugdo de problemas em grupo, com adOleSCEMES QUE, em Sua mori, foram bem-aucedidos na solueo (Del Prete, 1962; Del Prete, 1983), “Abarca, N. & Hidalgo, C. G. (1989). Evaluacién psicométricn de hebildades relates em jovenes universitiios chinelos. Revista Anélisis de Comportameo, 4: 51-82. Bastos, A. V.B. (1988). Areas de atuago: Em questo 0 nosso modelo profissional, In Conselho Federal de Psicologia. 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