Você está na página 1de 2

Nacional

Pastores:Associação
Transmontana
luta há 20 anos
pela actividade
pastoril
Vila Real, 06 Mai (Lusa) - A Associação dos Pastores
Transmontanos (APT), sedeada em Vila Real, luta há 20
anos pela melhoria das condições da actividade pastoril,
marcada actualmente pela diminuição e envelhecimento
dos pastores.

Apesar de ter sido oficialmente criada há 20 anos, a actividade


da APT começou em 1981, com a realização de uma assembleia
que reuniu 110 pastores, em Mirandela, e onde foi aprovada a
primeira carta com as grandes preocupações do sector.

Décadas depois, algumas das reivindicações feitas permanecem


actuais. No entanto, verifica-se que o sector foi também
afectado por uma grande redução do número de pessoas que se
dedicam à actividade e pelo seu envelhecimento.

"De ano para ano vamos notando uma diminuição dos pastores
que percorrem as nossas serras", afirmou à Agência Lusa
Armando Carvalho, dirigente da Confederação Nacional de
Agricultura e dirigente da APT, tendo estado ligado à associação
desde o início da sua criação.

O responsável considera que actualmente "até há uma maior


concentração do efectivo, mas há também menos pastores e
produtores".

Segundo dados do último Recenseamento Geral da Agricultura,


feito em 1999, existiam na região transmontana 5363
explorações de ovinos, num total de 325.519 animais, e 3096
explorações de caprinos, com 73.522 animais.

A média de idades dos cerca de 600 associados da APT ronda


os 60 a 65 anos, apesar de Armando Carvalho destacar o
aparecimento de alguns, "poucos", jovens pastores.

"É uma profissão muito exigente. Os pastores trabalham de


segunda a domingo, quer faça sol, chuva ou esteja a nevar.
Passam a sua vida à mercê da natureza e do clima. É uma
profissão de risco", salienta o dirigente.

Armando Carvalho recorda que a primeira "Carta dos Pastores


Transmontanos" foi escrita à lareira da casa de Agostinho
Monteiro, o pastor que viria a ser o primeiro presidente da APT.

O dirigente sustenta que os pastores, quando se associaram,


pretendiam "limpar" a sua imagem. Na altura, estas pessoas
eram, segundo o responsável, associadas aos roubos, aos
incêndios, e o que se pretendia era mostrar que era uma
"profissão tão digna como qualquer outra".

Na primeira carta, os pastores reivindicavam ser ouvidos na


elaboração dos regulamentos municipais ou de freguesias sobre
"polícia dos campos e apascentação de gados", já que, na
altura, muitos foram proibidos de entrar nos terrenos de
privados. Exigiam ainda mais apoios para combater as doenças
que afectavam os rebanhos e medidas contra os lobos.

"Estes inimigos dos nossos rebanhos provocam prejuízos de


centenas de contos", pode ler-se na carta, onde é também
pedida como contrapartida o "pagamento total dos animais
mortos pelas feras".

Para além disso, os pastores queriam liberdade para possuir o


número de cães que achassem necessário e vender
directamente ao consumidor o leite, o queijo ou a carne. Na
altura apenas o "marchante" o podia fazer.

Porque consideravam ser muito "atreitos" a doenças como


reumatismo e bronquite, por causa do trabalho exposto "aos
rigores do tempo", os transmontanos queriam "melhores
pensões e reformas", "pagamentos em dia e sem atrasos",
"reforma de velhice aos 55 anos" e "remédios mais baratos e de
graça para os pastores reformados".

Com a entrada de Portugal na União Europeia, as regras


sanitárias também se apertaram e hoje está proibida a
construção de estábulos dentro dos aglomerados populacionais,
tal como a passagem dos rebanhos pelo meio das localidades.

Em Vila Real, os pastores chegaram a manifestar-se porque um


colega foi proibido de passar com o rebanho pela Avenida
Carvalho Araújo, a principal artéria da cidade, que ele tinha que
atravessar diariamente para levar os animais para o pasto.

Ao longo dos últimos anos foram muitas as lutas dos pastores,


com manifestações em Bragança contra as posturas que
obrigavam a retirar os animais das localidades, ou, mais
recentemente em Chaves, por causa do encerramento da feira
semanal.

Armando Carvalho recorda que uma das principais lutas se deu


em Mafomedes, uma aldeia da serra do Marão, que ficou
cercada pela autoridades que queriam abater "2.500 cabeças de
gado, infectado com brucelose, sem darem garantias de
indemnização".

O dirigente diz que, ainda hoje, a brucelose é uma doença que


afecta muitos rebanhos, um problema que nem mesmo o Plano
de Erradicação lançado especificamente para Trás-os-Montes na
década de 90, conseguiu resolver.

Os pastores também não conseguiram a reforma aos 55 anos,


agora só possível a partir dos 65 anos, e, para sobreviveram,
contam com os subsídios comunitários, atribuídos em função do
histórico e número de cabeças de gado.

© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.


2008-05-06 10:50:02

Você também pode gostar