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O Mundo da Mecánica Quântica


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O Mundo da Mecânica Quântica

Volume I

Cursos de Licenciatura, Universidade Pedagógica- Moçambique


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O Mundo da Física

Manual de apoio aos estudantes do Curso de Licenciatura em Ensino de Física

Por

Alberto Marcos Halar

Universidade Pedagógica, Moçambique


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Índice

Sumário........................................................................................................................vi
Prefácio.......................................................................................................................vii
Resumo histórico..........................................................................................................8
Introdução.....................................................................................................................8
O limite clássico.........................................................................................................13
Objectivos gerais da disciplina...................................................................................12
Estratégias e métodos de ensino e aprendizagem....................................................12
Meios de ensino.........................................................................................................12
Instrumentos de Avaliação.........................................................................................12
Limites da física clássica e necessidade da nova teoria...........................................13
Experiência de difracção electrónica de duas fendas...............................................14
Explicação da experiência.........................................................................................15
Particularidades básicas da mecânica quântica........................................................17
Conceitos básicos da mecânica Quântica.................................................................18
Principio de Incerteza de Heisenberg........................................................................18
Realização da Experiência.........................................................................................20
Grandezas Conjugadas.............................................................................................22
8.3.6 O Paradoxo EPR...............................................................................................23
8.3.7 Sistemas Entrelaçados.....................................................................................25
Princípio de Correspondência....................................................................................25
Medição na Mecânica Quântica.................................................................................30
3.5. Princípio da Indescernibilidade das partículas da mesma espécie....................32
Medições....................................................................................................................33
Determinismo Quântico..............................................................................................33
Princípio de super posição.........................................................................................35
Formalismo matemático da Mecânica quântica........................................................37
Operadores................................................................................................................37
Conceito de valor médio...........................................................................................39
Operadores e suas propriedades .............................................................................40
Operações com operadores......................................................................................41
Autovalor de um operador inverso.............................................................................43
8. Autovalores e autofunções de um operador..........................................................43
10. Produto escalar de duas funções........................................................................44
11. Propriedades do produto escalar.........................................................................44
9. Operadores lineares...............................................................................................44
Cálculo de operadores conjugados...........................................................................45
13. Operadores auto conjugados. Operadores Hermitianos.....................................46
Demonstração da ortogonalidade recíproca das auto funções de um operador......46
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v
Teorema: Realidade dos Auto-valores......................................................................46
Operador Hermitiano :................................................................................................47
2. Grandezas observáveis.........................................................................................49
Auto-valores ou valores próprios...............................................................................49
5. Postulados da Mecânica Quântica........................................................................49
3. Resultados das medições......................................................................................50
4. Valores esperados dos observáveis......................................................................50
5. Conjunto de Auto-funções......................................................................................50
A equação de Schrodinger independente do tempo.................................................53
OBSERVÁVEIS MAIS COMUNS E SEUS OPERADORES ASSOCIADOS.............53
A equação de Schrodinger dependente do tempo....................................................55
Potenciais unidimensionais........................................................................................57
PROBLEMAS UNIDIMENSIONAIS...........................................................................57
Níveis de energia e funções de onda para uma partícula situada no campo
potencial.................................................................................................................63
O átomo de hidrogénio...............................................................................................65
A separação das variáveis.........................................................................................65
Os polinómios de Legendre e as funções harmónicas esféricas..............................66
Poço potencial unidimensional infinito e rectangular.................................................60
A função radial e os polinómios de Laguerre.............................................................78
A ortogonalidade dos polinómios de Legendre........................................................70
Fórmula de recorrência..............................................................................................72
Fórmula de Rodrigues................................................................................................72
Solução assimptótica e espectro de energia.............................................................74
O estado fundamental e os primeiros estados excitados..........................................76
Bibliografia..................................................................................................................82
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vi

Sumário

Embora ainda hoje se ensine a teoria de Bohr, o modelo atómico de Rutherford, a


hipótese de De Broglie e a equação de Schröndinger, falta muitas vezes ensinar
como tudo isso se torna uma teoria consistente, útil, que é usada todos os dias
naturalmente por muitos físicos ao redor do mundo. A física quântica não é um
monstro, ou um fantasma, ou uma teoria científica que se baseia em acreditar em
particulas-onda, em outras ideias que vão contra o bom senso. A física quântica é
um ramo da física tão sério como qualquer outro e tão correcto quanto qualquer
outro. Nenhum ramo da física é imune a erros ou a alterações futuras, mas essas
alterações têm que ser bem fundamentadas quer teoricamente mostrando o como e
um porquê, quer experimentalmente assegurando que essas alterações estão de
acordo com o Mundo que a física pretende estudar. Não cabe na física quântica, ou
qualquer outro ramo da física, nenhuma ponta de misticismo, ou véus de mistério,
nem características enigmáticas. A principal característica de um cientista é o seu
espírito crítico. Ter espírito crítico é diferente de ser céptico. Ter espírito crítico é
aceitar o que poder ser comprovado experimentalmente como a melhor
aproximação da verdade, aceitar o que ainda não foi comprovado
experimentalmente como uma possível aproximação da verdade e aceitar como
errado tudo o que for comprovado experimentalmente e não ter o mínimo sequer de
aproximação com a verdade. Um cientista também tem imaginação, é uma das
suas mais poderosas ferramentas, mas a sua função não é convencer as pessoas
de que o que ele imaginar é real, mas sim mostrar a todos onde, na realidade, está
aquilo que ele imaginou. O presente manual discute os seguintes assuntos: Os
limites da física clássica, Conceitos básicos da mecânica Quântica, a equação de
Schrodinger, Auto – funções e auto valores, Potenciais unidimensionais, Estrutura
geral da mecânica ondulatória, Sistemas quânticos de n partículas, a equação de
Schrodinger em três dimensões, Métodos de operadores na mecânica quântica e
Átomo de hidrogénio.
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Prefácio

Este manual é essencialmente para a Leccionação de aulas nos Cursos de


Licenciatura em ensino de Física. Ele representa um material de apoio ao processo
de ensino e aprendisagem e surge como resultado de uma compilação de vários
pontos considerados focais, de diversificados autores, para o ensino da Mecânica
Quântica.
Uma definição básica com que o autor se simpatizou, aponta para a Mecânica
quântica como sendo uma teoria geral que descreve os processos que ocorrem em
átomos, moléculas e seus conjuntos, oferecendo bases para a sua compreensão. O
seu objecto de estudo são os objectos microscópicos ou micro-objectos (m.o), que
são sistemas Físicos cujas dimensões são de ordem de grandeza de 1
Angstron( 10-10 m).
Esta A teoria quântica tem revelado a sua importância não só para a Física como
também para outras disciplinas. Seu impacto tem sido mais pronunciado na
Química, dada a sua importânncia na compreensão de fenómenos como Ligações
químicas, espectros moleculares e as dinâmicas das reacções químicas.
Este Manual vai se debruçar sobre a Mecânica Quântica não Relativista (v<<c),
Serão expostas e desenvolvidas matérias que ilustram o surgimento e o
desenvolvimento da mecânica quântica que é essencialmente a fundamentação da
necessidade de uma nova abordagem físico Matemática na explicação e
interpretação dos fenómenos que ocorrem no mundo sub atómico. Serão estudadas
as metodologias desenvolvidas na mecânica quântica e a aplicação dos resultados
obtidos em outras áreas como por exemplo na física atómica e nuclear, física da
matéria condensada, etc.
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Introdução
Resumo histórico

O problema abordado por Max planck (1858 – 1947) era o de explicar o espectro
da radiação térmica, a energia emitida sob forma de ondas electromagnéticas por
qualquer corpo aquecido a uma dada temperatura. A emissão ocorre em todos os
comprimentos de onda (espectro continuo), mas com intensidade variável,
passando por um máximo em um dado comprimento de onda. Por sua vez, ela
depende da temperatura do corpo dado que a medida que a temperatura aumenta,
o máximo da intensidade da radiação emitida desloca – se para comprimentos de
onda cada vez menores.
O espectro da radiação que recebemos do sol é o exemplo mais familiar na faixa de
luz visível, esse espectro analisado por Isaac newton (1642 – 1727 ) em seus
experimentos com prismas, abrange do vermelho ao violeta ( cada cor corresponde
a um comprimento de onda diferente). O espectro estende – se além desta faixa,
incluindo comprimentos de onda maiores ( infravermelho, que sentimos como calor)
e menores (ultravioleta). O máximo, no espectro solar, está na região entre o
amarelo e o verde.
A variação da cor aparente na radiação emitida com a temperatura do corpo nos é
familiar em outras fontes de radiação térmica. Assim, a temperatura de 600 o C
( elemento térmico de um fogão eléctrico, por exemplo), um metal está aquecido “
ao rubro”,emitindo uma fraca luminosidade avermelhada. Já o filamento de uma
lâmpada eléctrica ( 2000 0 C) emite luz amarelada. A luz do sol provém da sua
superfície, onde a temperatura atinge cerca de 6.000 0 C.
Esse efeito do deslocamento do pico de radiação térmica com a temperatura já
estava contido em uma fórmula empírica proposta em 1896 por Wilhelm Wien
( 1864 – 1928 ), para descrever a lei da distribuição de intensidade no espectro
emitido, como função da temperatura da fonte. Gustav Kirchhof (1824 – 1887) havia
demonstrado em 1859 que essa lei é a mesma para qualquer fonte a uma dada
temperatura, mas ninguém havia conseguido a forma precisa da lei. Foi esse
problema ao qual Lord Kelvin (William Thomson, (1824 – 1907) se referiu ao final do
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século XIX, como uma das pequenas nuvens que toldam o horizonte da física, que
Plunck procurou resolver. A outra nuvem, o resultado negativo do experimento de
Albert Michelson (1852 – 1931) e Edward Morley (1838 – 1923) sobre o efeito do
movimento da terra na propagação da luz, foi explicado pela teoria de relatividade
de Albert Einstein (1879 – 1955).
Uma lei empírica para a energia total emitida, como função da temperatura, já havia
sido proposta em 1879 por Josef Stefan (1835 – 1893). Foi demonstrada em 1884
por Ludwig Boltzman (1844 – 1906) usando argumentos termodinâmicos. Em Junho
de 1900, Lord Reyleigh (John Willian Strutt, 1842 – 1893) mostrou que a chamada
lei de equipartição da energia, um resultado fundamental da mecânica estatística
clássica de James Clerk Maxwell (1831 – 1879) e de Boltzmann, conduzia a uma
predição sobre a forma da lei universal procurada, Trabalhos experimentais de Lord
conduziram a famosa catastrofe do ultravioleta.
Experimentalmente era muito difícil medir a distribuição espectral com a precisão
necessária. Os primeiros resultados precisos no infravermelhos para temperaturas
entre 200 0 C e 1500 0 C, formam obtidos em Berlim por Otto Lummer (1860 – 1925)
e Ernst Pringsheim (1859 – 1917), em Fevereiro de 1900, e por Heinrick Rubens
( 1865 – 1922) e Ferdinand Kurlibaum (1857 – 1927 ), em Outubro daquele ano, em
experimentos cruciais realizados precursor do actual laboratório Nacional de Física
e Tecnologia da Alemanha. Esses resultados estavam em desacordo tanto com a
lei de Wien (para baixas frequências) quanto com a lei de Reyleigh (para altas
frequências).
Em Outubro de 1900, reagindo aos resultados apresentados por Lord, Planck
encontrou uma fórmula que interpolava entre essas duas leis e fornecia um
excelente ajuste a todos os dados experimentais conhecidos. Nos três meses
seguintes, ele buscou uma justificativa teórica para sua fórmula, a partir de
argumentos da teoria electromagnética de Maxwell, da termodinâmica e da
mecânica estática. Usando as duas primeiras, reduziu o problema ao de encontrar a
energia U de um oscilador harmónico (um sistema que oscila com uma frequência
bem definida, como um pêndulo) de frequência f em equilíbrio termodinâmico com a
radiação térmica à temperatura T, dentro de um recipiente fechado. Os osciladores
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representavam as paredes do recipiente e o equilíbrio resultava das trocas de


energias entre essas partículas e a radiação electromagnética. A distribuição
espectral da energia total entre os osciladores de diferentes frequências deveria
maximizar a entropia para uma dada temperatura.
Ao invocar ideias da Mecânica estatística para impor essa condição, Planck só
conseguiu justificar sua fórmula introduzindo conceitos totalmente contraditórios à
Física clássica. Em lugar de tratar da energia total E dos osciladores como uma
grandeza continuamente variável, disse: “consideramos porém que este é o ponto
mais importante do cálculo que E é a soma do número inteiro de partes iguais, e
empregamos para isso a constante da Natureza h  6,55 x10 27 erg s . Essa
constante, multiplicada pela frequência comum f dos osciladores nos dá o elemento
das energias e”.
Além de romper com a noção de descontinuidade de energia, Planck também usou
um processo não ortodoxo de contagem no cálculo da distribuição estatística da
energia.
Ironicamente, ele era por formação um físico muito conservador, convicto da
validade da física clássica, com a qual procurou conciliar depois , durante vários
anos a ideia de quantização. Em 1931, disse que o seu rompimento com a física
clássica fora um acto de desespero. Havia considerado suas propostas como mera
sugestão, sujeitas a verificação experimental. Por isso, Planck foi caracterizado pelo
Físico e historiador da ciência Abraham pais como um “revolucionário relutante ”.
Se tivesse aplicado em seu cálculo a mecânica estatística clássica, baseando – se
como Reyleigh na lei de equipartição de energia, Planck teria chegado a um
resultado desastroso: a energia total irradiada seria infinita! A intensidade cresceria
rapidamente com a frequência, o que tornaria perigoso aproximar – se de qualquer
corpo aquecido, pois emitiria luz ultravioleta, raios – X, raios gama, etc. Essa
“catástrofe ultravioleta” é uma das muitas evidências da inadequação da física
clássica. Outra é sua incapacidade de explicar a existência de átomos e a
estabilidade da matéria.
O nome quantum de energia para o elemento E  hf de Planck foi dado por Albert
Einstein em seu trabalho de Março de 1905 sobre o efeito fotoeléctrico, onde propôs
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uma nova dedução para a fórmula de Planck sobre a radiação térmica. Einstein foi o
primeiro Físico, e por 25 anos, o único a perceber as consequências revolucionárias
dos resultados de Planck sobre a natureza da radiação electromagnética, e baseou
– se neles para introduzir o conceito de fóton, bem como muitas ideias básicas da
teoria quântica.
A formulação quantitativa das bases da mecânica quântica só ocorreu em 1925,
com os trabalhos de Werner Heisenberg (1901 – 1976), Erwin Schrodinger ( 1887
-1961), Paul Adrien Maurice Dirac ( 1902 – 1984) e Max Born ( 1882 – 1970). A
precisão dos dados experimentais em que Planck se baseou é atestada pelo valor
actualmente aceito da constante de Planck, h  6,6261x10 27 ergs , que difere em
1% do seu resultado original.
Uma das verificações experimenteis mais belas e precisas da lei de Planck é a
determinação do espectro da radiação térmica cosmológica de fundo
( remanescente da origem do universo, o Big Bang), efectuada a partir dos anos 90
pela missão espacial Cósmic Background Explorer (COBE). A expansão do
universo resfriou essa radiação até a sua temperatura actual de 2,73k, com
intensidade máxima na região de microondas.
Os desvios da lei de Planck observados nessa radiação, de apenas alguns pares
por milhão, são considerados flutuações primordiais, responsáveis pelo
aparecimento das galáxias.
A mecânica quântica nasceu no primeiro quartil do século XX. Esta Física dos entes
microscópicos, que se pretendia completa e definitiva, introduziu uma visão
bastante estranha do Mundo. Presentemente devido, sobretudo a ruptura com a
ontologia de Fourier, elemento fundamental onde se apoia a física Borheana e à
introdução da análise local em onduletas, é possível ultrapassar o indeterminismo
quântico e recuperar a causalidade. A nova Física quântica não linear, sendo mais
geral, engloba, do ponto de vista formal, a teoria ortodoxa como um simples caso
particular. Torna – se assim possível libertar o espaço e o tempo e aceitar a
existência de uma objectiva realidade independente do observador.
12

Objectivos gerais da disciplina

Discutir um melhor enquadramento da física geral e suas ferramentas, sua


importância e limite de aplicação
Dar ao estudante os pré requisitos necessários para possíveis estudos mais
aprofundados na área da física quântica
Aprofundar a discussão de certos conteúdos abordados na física escolar.

Estratégias e métodos de ensino e aprendizagem

As matérias serão ministradas por vias de leccionação directa constituída por


conferências e seminários. Serão desenvolvidos temas de investigação pelo
discente.
Meios de ensino
A disciplina de mecânica quântica usará como meios de ensino, o data show, o
retroprojector, livro, computador e ficha compilada pelo docente.

Instrumentos de Avaliação
Os instrumentos de avaliação serão testes escritos e um exame final oral, relatórios
de pesquisa bibliográfica
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O limite clássico
1. Limites da física clássica e necessidade da nova teoria

Até ao fim do séc. XIX, na Física Clássica foram bem distinguidos dois conceitos:
Substância e Radiação.
O comportamento das partículas (substâncias) obedece às leis da Mecânica de
Newton. Para as partículas, são apropriadas as noções de Localização no espaço,
Trajectória, etc.
A radiação electromagnética é descrita através da Electrodinâmica de Maxwell.
Suas propriedades características são a difracção, refracção e interferência
(Características ondulatórias).
Então: A imagem Clássica da natureza consistia de ondas de luz e partículas de
matéria.
No entanto, a aplicação da Mecânica e Electrodinâmica Clássicas para explicar os
fenómenos atómicos levam à conclusões que entram numa clara contradição com a
experiência.
A clarificação disto se percebe na contradição resultante da aplicação da
electrodinâmica comum ao modelo do átomo, Modelo Planetário proposto por
Rutherford em que os electrões se movimentam em torno do núcleo por órbitas
clássicas. Em todo o movimento acelerado de partículas os eléctrons deveriam
radiar continuamente ondas electromagnéticas. Com a radiação os eléctrons
perderiam sua energia e cairiam inevitavelmente no núcleo. Assim, de acordo com a
electrodinâmica clássica, o átomo seria instável o que de modo algum não
corresponde a realidade pois na natureza existem átomos estáveis.
Portanto, a Mecânica e a Electrodinâmica Clássicas fracassam em absoluto quando
são usadas para esclarecer os processos de emissão e absorção da radiação:
 Os efeitos Fotoeléctrico e Compton;
 Os Espectros atómicos.

. Esta contradição atesta que a construção de uma teoria aplicável a fenómenos


atómicos – fenómenos ocorridos com partículas de massa muito reduzida em
14

espaços muito limitados (micro-mundo), exige uma alteração profunda nas noções
e leis clássicas básicas.
A explicação dos fenómenos que ocorrem no micro-mundo exige uma alteração
fundamental das noções e leis Clássicas básicas.
Com o efeito a explicação do efeito Fotoeléctrico por Einstein atribui, à luz, uma
natureza corpuscular (partícula).
A conjectura audaciosa de De Broglie segundo a qual as órbitas dos electrões no
modelo de Bohr do átomo constituíam ondas estacionárias, levou a um completo
colapso da imagem Clássica, atribuindo uma natureza ondulatória à matéria
(electrões). Esta é a dualidade onda – partícula.
Para melhor percebermos a necessidade duma alteração fundamental das noções
Clássicas básicas, revisitemos o fenómeno da difracção de electrões – Experiência
de Davisson – Germer realizada em 1927.
Quando da passagem de um feixe homogéneo de eléctrons através de um cristal,
no feixe que deixa cristal descobre - se uma distribuição de máximos e mínimos de
intensidade enfileirados, análoga ao quadro difracional observado na difracção de
ondas electromagnéticas. Deste modo, o comportamento de partículas materiais
( os eléctrons), deixa transparecer aspectos próprios de processos ondulatórios.

x
Fonte de electrões

w1, 2  w1  w2

Experiência de difracção electrónica de duas fendas

Neste contexto, imaginando um anteparo não permissível aos electrões, no qual


foram feitos dois orifícios. Fazemos passar os electrões por um sistema com duas
fendas.
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a) A assiduidade ( frequência) com símbolo H, ao longo de x é dada por

ne ( x )
H ( x)  , número de electrões que alcançam o local x sobre o
ne
número total de electrões lançados e que tenham passado pelas
fendas.
b) Probabilidade ( W( x ) ) : Quando o número total de electrões que

ne ( x)
ne  W( x )  Lim
passam pelo sistema é infinitamente grande ne

Explicação da experiência
1. Fechamos a fenda 2 e medimos a probabilidade de localizar os electrões em
cada lugar ao longo do eixo x
2. Repete – se a medição fechando – se a fenda 1
Cada uma destas curvas significa que maior parte dos electrões caem na zona
central. Isto significa que lançando um electrão, há maior probabilidade de cair na
zona central. A probabilidade vai diminuindo à medida que nos afastamos desta
zona.
3. Medir a probabilidade com as duas fendas abertas ao mesmo tempo temos
os seguintes resultados:
a) O número de electrões registado em cada lugar x não é igual a soma dos
electrões que passam pelas fendas 1 e 2 nos procedimentos primeiro e
segundo respectivamente.
b) O resultado é uma consequência de que não se pode associar ao electrão
uma trajectória definida, pois, nesse caso seria de esperar o somatório das
duas probabilidades.
c) A probabilidade de localização dos electrões ao longo do eixo x, é distribuída
de tal maneira como uma função de onda. Conhecendo esta onda, pode – se
fazer afirmações sobre a probabilidade de localizar um electrão num
determinado lugar.
16

Assim, em determinadas condições, partículas materiais (electrões) deixam


transparecer aspectos próprios de processos ondulatórios.
O caso limite da mecânica quântica é a mecânica clássica. Importa saber de que
modo se realiza a passagem a este limite.
Na mecânica clássica o eléctron é considerado como uma partícula material que se
movimenta em uma trajectória completamente definida pela equação de movimento,
enquanto na mecânica quântica é descrito por meio de uma função de onda,
(solução de uma equação diferencial linear em derivadas parciais), que determina
os diferentes valores da sua coordenada.
A passagem limite da mecânica quântica para a clássica ocorre de forma análoga à
electrodinâmica entre a óptica ondulatória e a geométrica.
Na óptica ondulatória as ondas electromagnéticas são descritas pelos vectores
campo eléctrico e campo magnético que obedecem a um sistema determinado de
equações diferenciais lineares (as equações de Maxwell) enquanto que na óptica
geométrica se considera a propagação da luz em trajectória definidas, (os raios).
Recordando o modo em que se realiza esta passagem ao limite matematicamente,
temos:
Seja u  ae i (com uma amplitude a e fase  reais), qualquer uma das
componentes do campo na onda electromagnética. Na óptica geométrica, onde 
é denominada eiconal, o caso limite corresponde aos pequenos comprimentos de
onda, facto que matematicamente se expressa nas grandes alterações de fase 
em pequenos espaços.
Nisto, ao caso limite da mecânica clássica, correspondem na mecânica quântica as
funções de onda do tipo   ae i onde a é uma função que se altera lentamente e a
 se atribuem grandes valores.
“ Na mecânica clássica a trajectória de uma partícula pode ser
determinada pelo princípio variacional que advoga que a acção S de
um sistema mecânico deve ser mínima (princípio de acção mínima)
enquanto que na óptica geométrica o caminho dos raios é
17

determinado pelo princípio de Fermat, segundo o qual deve haver um


comprimento de caminho óptico mínimo do raio, isto é, a diferença de
suas fases no início e no fim do caminho” ( LANDAU,1985, P. 37).
Desta analogia se pode dizer que a fase  da função de onda no limite
clássico deve ser determinada pela acção mecânica S, do sistema físico
considerado, isto é, deve se cumprir S  const . O coeficiente de proporcionalidade
é a constante de Planck  que tem a dimensão da acção ( já que  é
admensional) e é numericamente   1,054 * 10 27 erg.s
iS
Assim, a função de onda quase clássica de um sistema toma a forma   ae 

A grandeza relativa da constante de Planck define o grau de quantização de um


sistema físico.
A passagem da mecânica quântica para a clássica correspondendo a uma grande
fase, pode ser formalmente descrita como a passagem ao limite   0 (em analogia
ao facto de que a óptica geométrica corresponde à passagem ao limite igual a zero
de comprimento de onda   0)
Os operadores mecânico – quânticos no limite devem reduzir – se a simples
multiplicação pela grandeza física respectiva.

Particularidades básicas da mecânica quântica.

1) Na Mecânica Quântica não é possível definir a trajectória de movimento do


micro – objecto. Qualquer micro – objecto pode revelar propriedades
ondulatórias e por isso o conceito de trajectória perde seu sentido. Desta
propriedade, segue – se também a impossibilidade de uma definição
simultânea da velocidade e da coordenada da partícula ou do micro objecto.
2) Na Mecânica Quântica, a natureza apresenta-nos um comportamento dual:
3) Entidades comportam-se como partículas quando interagem com outras
entidades diferentes. Exemplo: Fotões com electrões no Efeito Fotoeléctrico.
 Entidades comportam-se como ondas quando interagem com outras
entidades iguais. Exemplo: Difracção, Refracção e interferência. As relações
18

de Einstein e De Broglie revelam esta natureza onda – partícula (E = ħ.ω ,

= ħ. , onde é o vector de onda em que é o número de

onda, é o vector unitário traçado no sentido da propagação da onda.

4) Na base de descrição de qualquer fenómeno estão as leis probabilísticas ou


estatísticas
5) Partículas que realizam movimentos finitos tem espectro energético discreto,

TPC:
Faça um resumo sobre a história da criação da Mecânica Quântica (eventos mais
importantes e os respectivos descobridores).

Pode-se dizer que as discrepâncias na teoria Clássica tornaram-se evidentes


quando os cientistas começaram a explorar a estrutura interna dos átomos e a
interacção da radiação com partículas sub – atómicas
As origens desses defeitos não foram entendidas por muitos anos até que
Heisenberg revelou que um observador, inevitavelmente, perturba qualquer sistema
que ele tenta medir.
Este entendimento levou ao abandono da objectividade e determinismo rígidos na
Física e, previsões de nova teoria eram formuladas na linguagem de
probabilidade.

Conceitos básicos da mecânica Quântica

Principio de Incerteza de Heisenberg

Foi descoberto em 1927 por W. Heisenberg.


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A possibilidade limitada de realizar medições define as fronteiras entre os nossos


conceitos de partícula e de onda.
A descrição corpuscular significa, ao fim ao cabo, que realizemos medições com

objectivo de obtermos informações exactas acerca das relações da e E (exemplo:

Efeito compton).
As experiências que implicam determinações de lugares e de tempo podem,
sempre, ser infindas em termos de representação ondulatória (exemplo: A
passagem de electrões através de lâminas delgadas e as observações do feixe
reflectido)
Depois dos trabalhos com Born e Jordan, Heisenberg chegou a um resultado
conhecido com o Principio de Incerteza ou Principio de Heisenberg. A cada
observação estão disponíveis os valores de todas as grandezas do sistema,
posição, momento linear, momento angular, energia, etc. … contudo, serão elas
todas independentes? Ou seja, será que podemos medir quaisquer duas sem que
isso interfira no valor observável?
Heisenberg chegou à conclusão de que nem todas eram independentes. Existem
pares de grandezas cuja observação não pode ser feita simultaneamente.
Da mesma forma que temos um erro experimental para o valor medido, existe
também um erro teórico para o valor observável. Afinal um modelo não é a
realidade e o modelo quântico sabe calcular o quanto pode se afastar da realidade.
Esta é uma propriedade que mais nenhum modelo físico tem.
Portanto, além de podermos saber o quando o valor medido se afasta do valor
observável, o modelo quântico pode dizer o quanto o valor observável se afasta da
realidade.
O que Heisenberg descobriu é que para certos pares de grandezas quanto mais o
valor observável de uma se aproxima do real valor expectável, mais o valor da outra
se afasta do valor espectável.
Consideremos o fenómeno de difracção de electrões numa fenda:
 A consideração da passagem de electrões por uma fenda e a observação da
figura de difracção como medida simultânea da posição e da quantidade de
movimento;
20

 Sob o ponto de vista do conceito de corpúsculo, a largura da fenda, Δx, dá-


nos a incerteza na medição da posição na direcção perpendicular à direcção
do movimento.

O surgimento de figura de difracção permite-nos, apenas, afirmar que o electrão


passou pela fenda. O ponto da fenda em que se deu a passagem fica totalmente
indeterminado.
Além disso, a ocorrência da figura de difracção no alvo deve ser interpretado no
sentido de que o electrão individual sofre na fenda um desvio (para baixo ou para
cima).

Realização da Experiência

p x .

h
O feixe de luz é constituído por partículas cujo momento linear é Po  . Na
o
primeira interacção com o anteparo, haverá um desvio de uma parte da luz, o que
  
mostra que o momento linear po fica também desviado. p  po
Tomando .xcomo a incerteza da medida da posição e a incerteza da medida
do momento linear de um electrão confinado a se movimentar ao longo do eixo x,
o princípio de incerteza afirma que p x .x  h
Quer dizer: Planejando uma experiência no sentido de fixar a posição do eléctron
com a maior precisão ( .x muito pequeno) constata – se que não é possível
21

medir o momento linear com precisão ( p x .tende a tomar valores muito elevados)
e refinando a experiência no sentido de melhorar a medida do momento linear,
perde – se a medida da localização da partícula
Assim, a relação de incerteza de Heisenberg, pode ser escrita na forma

h p x .x 
x.px  2
, ou seja
4
Este princípio é consistente com a ideia de que para um pacote de onda
1
k .x 
2
Outra relação importante deste princípio envolve a incerteza na medição de energia
do pacote de onda ∆E, e o intervalo de tempo gasto em fazer tal medição ∆t; com
efeito,

E
Sabe  se que E  .  E    .   .    .

1 E 1 
Assim .t   .t   E.t 
2  2 2

A medida com que podemos conhecer a energia duma dada partícula num intervalo

h
de tempo t , tem uma incerteza E  e para melhorar a precisão da sua
t
medida tem que se fornecer mais tempo, ou seja, é possível violar a lei de
conservação da energia tomando emprestada uma quantidade de energia desde

h
que a devolva num intervalo de tempo t 
E
Da relação de incerteza de Heisenberg, podem se extrair as seguintes
consequências básicas:

Concluíndo:
i) A incerteza de Heisenberg nada tem a ver com a incerteza dos
instrumentos de medição, tão pouco com o grau das habilidades do
medidor. Tem a ver com as propriedades características das partículas
pelo facto de não serem completamente partículas nem completamente
ondas.
22

ii) A mecânica à que se satisfazem os fenómenos atómicos ( mecânica


quântica ou ondulatória) deve ser baseada em conceitos de movimento
categoricamente distintos dos conceitos da mecânica clássica.
Segundo LANDAU ( 1985), na mecânica quântica não existe a noção de
trajectória de uma partícula ( conteúdo do princípio de incerteza) que constitui
um dos principais fundamentos descobertos por W Heisenberg em 1927.

iii) Podemos descrever o comportamento de uma partícula através de uma


onda, contudo, temos que interpretar isto de forma estatística.
Uma teoria mais geral pode ser formulada de forma logicamente concisa,
independentemente de uma teoria menos geral que seja um caso limite dela. Neste
contexto, a mecânica relativista pode ser construída baseando – se em seus
princípios fundamentais sem qualquer referência a mecânica Newtoniana mas a
formulação dos principais enunciados da mecânica quântica é absolutamente
impossível sem o emprego da mecânica clássica.
“A ausência de uma trajectória definida para o eléctron o priva certamente de
qualquer outra característica dinâmica” (LANDAU, 1985, P 13).

Grandezas Conjugadas.
O Princípio de Incerteza mede, assim, a qualidade do valor observável que o
modelo passa ao processo de medição. Note-se: que o modelo passa, não o que o
sistema passa. Os nossos instrumentos de medições podem ser de ultima geração
completamente fiáveis e confiáveis e os seus erros os mais diminutos possíveis,
mas isso não servirá se tentarmos observar, e portanto medir, as duas grandezas
simultaneamente. Um dos valores será tanto mais afastado do valor espectável
quanto o outro for mais próximo. Como nem sempre podemos saber o quanto os
valores se afastam, o bom método de trabalho aconselha a que nunca se meçam
essas grandeza simultaneamente, sob pena de depois não sabermos qual o valor
aproximado e qual o afastado.
23

O Principio de Incerteza de Heisenberg é também largamente usado por vários


autores, sob os mais diversos pretextos para chegar nas mais variadas conclusões.
O Principio de Incerteza transforma-se assim no Principio da Duvida, um princípio
não físico que atesta que nunca podemos ter certeza de nada. Não é isto que a
Física Quântica mostra. Nem sempre o uso do princípio de incerteza é correcto.
Mais uma coisa que temos de ter constante atenção ao ler um artigo, livro ou
qualquer texto sobre este assunto ou que refira este assunto de alguma forma.
Existe alguma controvérsia em relação a se o Principio de Incerteza representa uma
limitação do modelo ou uma restrição da própria natureza. O problema foi discutido
no estágio inicial da construção da Mecânica Quântica por pessoas como Einstein e
Bohr, por exemplo, e le vou à proposta conhecida como “Paradoxo EPR ”.

8.3.6 O Paradoxo EPR


EPR são as iniciais das três pessoas que conceberam esta experiência mental em
1935: Albert Einstein, Boris Podolsky e Nathan Rosen A ideia deles era propor um
processo de medida que ludibriaria o Principio de Incerteza de Heisenberg
mostrando que ele é um problema do modelo e não da natureza. A ideia era a
seguinte. Uma partícula parada num dado ponto do espaço, separa-se em duas
outras partículas iguais. Essas partículas afastam-se do ponto inicial em direcções
opostas. Devido ao Principio de Conservação do Momento Linear elas terão o
mesmo momento linear e portanto a mesma velocidade.
O Momento Linear de cada partícula é uma grandeza conjugada da Posição da
partícula, por isso, segundo o Principio de Incerteza de Heisenberg não é possível
observar o valor dessas grandezas simultaneamente. Os autores da experiência,
então propuseram que seria possível observar a posição de uma das partículas e o
momento da outra. Sendo que os momentos são iguais, as posições também serão
e medindo um deles saberemos o outro. Segundo os autores, esta forma de
observar os valores violaria o Principio de Incerteza pois seria possível saber o valor
da posição e o valor do momento, para as duas partículas, simultaneamente.
24

Em alguns textos esta experiência é interpretada sobre a perspectiva da relatividade


restrita e sobre o princípio da velocidade da luz no vácuo ser a velocidade máxima
para a transferência da informação”. Nesta perspectiva esperamos para fazer a
observação até que as duas partículas estejam separadas de vários anos- luz.
Vários textos reflectem sobre a questão da seguinte
forma:

1. Deixamos as partículas se separarem por uma distância de vários anos- luz.


2. Observamos a posição da partícula A e o momento da partícula B
simultaneamente.
3. Resultado, sabemos simultaneamente o momento de A e a posição de B.
4. Mas isso viola a princípio da relatividade restrita de que a velocidade da luz é a
velocidade máxima para a transferência de informação entre dois pontos.
5. Concluímos que este processo não pode ocorrer ou se ocorre, a teoria da
relatividade está errada.
Existem neste raciocínio muitos erros básicos. Primeiro, o conceito de
simultaneidade em Física Quântica é diferente do da Física Relativista. Segundo,
quem observa o valor da posição de A e o momento de B não é o mesmo
observador, mas dois observadores.
Quando o Observador A observa a partícula A ele sabe a posição dela, mas não o
momento de B. Quando o Observador B observa a partícula B ele sabe o momento
dela, mas não a posição de A. Para que os observadores saibam o valor que o
25

outro observador mediu, eles têm que comunicar. A simples observação das
propriedades das partículas não lhes permite comunicar.
Os observadores medem simultaneamente, mas eles não sabem simultaneamente
os dois valores. Para que saibam, eles precisam comunicar um com o outro por
outros meios. São esses meios que estão vinculados à regra da relatividade sobre a
velocidade máxima de transferência de informação e nenhuns outros.

8.3.7 Sistemas Entrelaçados


O sistema que os autores do paradoxo EPR construíram é conhecido como um
sistema entrelaçado. Sistemas entrelaçados são sistemas constituídos por dois ou
mais sistemas simples
cujos valores de certas grandezas se encontram relacionados. No caso da
experiência EPR, o sistema é constituído por dois sistemas menores, as partículas
A e B. O estado do sistema é o resultado do entrelaçamento dos estados de A e B.
Durante algum tempo pensou-se que este tipo de sistema poderia transmitir
informação mais depressa que a luz, mas já se mostrou que não é de facto assim. A
informação não viaja, Se o observador A observar a posição de A ele tem
conhecimento do valor dessa grandeza localmente e da mesma grandeza noutro
local, onde estiver B. Contudo, ninguém perto de B sabe esse valor a não ser que o
meça directamente ou que comunique com o observador A por outro meios.
Resumindo, o Paradoxo EPR levantou a possibilidade da existência de sistemas
entrelaçados cuja existência foi já testada em laboratório, mostrou que a Principio
de Incerteza é uma limitação do modelo e não da Natureza, mas não mostrou que o
modelo quântico está errado, incompleto ou que é imperfeito. Mostrou que ele é
muito mais rico do que à partida parecia.

3.2. Princípio de Correspondência

Embora todas as teorias da Física tenham as suas limitações, geralmente, não


perdem validade abruptamente mas sim de uma forma contínua.
26

O princípio de correspondência demonstra as circunstâncias sob as quais as leis da


Mecânica Quântica passam às leis da Física Clássica.
A partir da teoria de Bohr sabe-se que no estado energético mais baixo (estado
fundamental) que corresponde a n=1 o raio de órbita do electrão (átomo-H) é

Mas

Para

Este átomo excitado já é tão grande que se deve suspeitar que o seu
comportamento passa a ser descrito com a precisão da Física Clássica.
Isto pode ser verificado, calculando-se a frequência da luz emitida tanto pela teoria
Clássica quanto pela teoria Quântica.
Os resultados deverão deferir entre si para o caso de números quânticos grandes.

Sabe-se que (frequência clássica)

Sabe-se que

O electrão se mantém na órbita graças à interacção de Coulomb:

Assim:

Mas de acordo com a teoria de Bohr:

Ocorre emissão se k > n


Vamos supor que k = n+1
27

Para n=2: e

O que acontece quando (para números quânticos grandes)?

Para grandes números quânticos, as leis da Física Quântica reduzem-se às de


Física Clássica.
Isto acontece também para massas grandes: .

O princípio de Correspondência diz que:

As previsões da Teoria Quântica devem corresponder às previsões da Física


Clássica na região de dimensões onde a teoria Clássica é válida.

As dimensões Clássicas para comprimento, massa e tempo são de ordem dos


centímetros, gramas e segundos e, tipicamente envolvem grandes números
quânticos.
Em 1913 Bohr, genialmente, mostrou que a quantização do momento angular é a
consequência da emergência gradual e contínua dos resultados clássicos a partir
da teoria Quântica no limite números quânticos grandes.
Em particular, Bohr argumenta que de acordo com o princípio de correspondência,

a condição quântica e a teoria clássica da radiação de Maxwell (carga

eléctrica com frequência orbital f irradia ondas de luz de frequência f) devem,


simultaneamente, se verificar para o caso de órbitas electrónicas extremamente
grandes.
28

r1 e r2 são raios de órbitas adjacentes com frequências angulares ω 1 e ω2:

a suposição energética das duas órbitas é dada por dE e ω é a frequência angular

orbital do electrão onde nas transições entre órbitas grandes.

Pretende-se determinar os valores permitidos do momento angular a partir de


variações conhecidas na energia do átomo quando este emite luz:

(energia total do electrão)

Sabe-se que

Mas

Agora consideremos a emissão de um fotão com energia quando o

electrão transita de órbita r1 para r2:

Onde: é a frequência angular do fotão e ω é a frequência angular orbital.

E porque estamos na região de grandes números quânticos

A equação mostra que a variação do momento angular do electrão, para a transição


entre duas órbitas adjacentes, órbitas muito grandes é sempre ħ.
Isto significa que o valor do momento angular total do electrão em uma determinada
órbita pode ser considerado como tendo um valor igual a um múltiplo inteiro de ħ,
ou seja:
29

para n=grandes números inteiros.

3.3. Condições Quânticas para os movimentos periódicos simples

Sabe-se que para a quantização das órbitas do átomo-H, Bohr postulou que

No entanto, existem muitos exemplos de movimentos periódicos desde os


movimentos simples até aos que ocorrem em poços de potencial.
Como descobrir as grandezas quantificáveis?
Considera-se um sistema mecânico em que apareçam grandezas susceptíveis de
assumir valores inteiros (variáveis quantificáveis), sob a acção duma perturbação no
sistema as referidas grandezas deverão ou variar de um número inteiro, dando um
salto, ou permanecerem constantes.
Ehrenfest (1914) – Cientista Alemão propôs uma regra geral de quantificação de
grandezas que descrevem movimentos periódocos.
Em geral, ele afirmou que (só grandezas que variam lentamente) se as acções que
afectam o sistema variarem lentamente, então as grandezas quantificáveis
permanecem constantes. E as grandezas chamam-se invariáveis adiabáticas.
Para o movimento periódico do pêndulo simples Ehrenfest demonstrou que E é
invariante adiabática (pode ser quantificado).
Portanto, só grandezas que variam lentamente no processo (variantes adiabáticas)
podem ser quantificadas.

Sabe-se que para ângulos pequenos (e dados em radianos)


30

Seja

Onde: q – coordenada generalizada


P – impulso generalizado
f – constante

podemos exprimir a energia usando as novas definições: , mas

A equação acima é equação de uma elipse com os semi-eixos e

assim:

Trata-se de uma elipse no plano de fase (p,q)


A área duma elipse pode ser calculada por:

sendo e

O invariante adiabático é igual à área da elipse no plano de fase.


31

Um postulado da teoria quântica estabelece que a área da curva fechada descrita


no plano pq (plano de fase), num período do movimento é um múltiplo inteiro de h.
Este postulado foi estabelecido por Debye em 1913.

Esta expressão foi aplicada por Sommerfeld em 1916 para cálculos de átomos de
Bohr considerando o electrão segundo as leis de Kepler, não deve realizar
movimentos circulares mas sim movimentos elípticos.
Esta regra de quantização permite, em geral, de todo conjunto de movimentos
imaginários, destacar o número determinado de movimentos realmente permitidos,
isto é, quantificar o movimento do sistema.
- acção elementar, e designa-se . tendo em conta que

- quantum de acção.

As elipses correspondem aos diferentes números quânticos n.

3.4. Medição na Mecânica Quântica

Para descrição quantitativa do movimento do electrão é necessário também o uso


de objectos físicos clássicos (que satisfazem com suficiente precisão a Mecânica
clássica).
Se um electrão interage com um objecto clássico, este último altera o estado do
electrão.
O carácter e a grandeza desta alteração dependem do estado do electrão, por isso
podem ser consideradas suas características quantitativas. O objecto clássico é o
instrumento ou aparelho de medição; e o processo de interacção com o electrão é
designado medição.
32

Na Mecânica Quântica, chama-se medição a qualquer processo de interacção


entre objectos Clássicos e objectos Quânticos, ocorridos com ou sem a intervenção
de qualquer observador. Se um eléctron interagem com um objecto clássico, este
último altera o seu estado e o carácter e a grandeza desta alteração dependem do
estado do eléctron e logo podem ser compreendidos como sua característica
quantitativa.
Neste contexto, ao “objecto clássico” vamos chamar de instrumento (aparelho), que
obedece com suficiente precisão à mecânica clássica e ao processo de interacção
deste objecto com o eléctron de “medição”. Reitera – se no entanto que medição
em mecânica quântica se subentende qualquer processo de interacção entre
objectos clássicos e quânticos, ocorrido com ou sem a intervenção do observador.
De salientar que o papel do instrumento pode desempenhar um objecto tanto
macroscópico como microscópico dado depender do problema posto
concretamente. Exemplo, o movimento do eléctron na câmara de Wilson é
observado pelo rastro nebuloso deixado por ele, cuja largura é grande se
comparada com as dimensões atómicas, com tal ordem de precisão da definição de
trajectória, o eléctron pode ser considerado um objecto clássico. Deste modo, a
mecânica quântica ocupa um lugar muito especial dentre as teorias físicas. Ela
contém a mecânica clássica como seu caso limite e simultaneamente precisa dela
para sua própria fundamentação.
O processo de medição na mecânica quântica exerce uma acção no eléctron
submetido à medição e esta acção com dada precisão não pode ser feita pequena o
quanto se queira.
Quanto mais precisa a medição, tanto mais forte a acção exercida por esta e
somente em medições de precisão muito pequena a acção sobre o objecto de
medição pode ser pequena. Note que esta propriedade está ligada ao facto de que
as características dinâmicas do eléctron surgem apenas como resultado da própria
medição. A medição das coordenadas do eléctron é de estrema importância. Sobre
o eléctron nos limites da aplicabilidade da mecânica quântica, sempre pode ser
produzida a medição de suas coordenadas com qualquer precisão. Quanto mais
precisas forem as medições, tanto mais em forma de picos obter – se ia um curso
33

desordenado dos resultados em correspondência com a ausência do conceito de


trajectória. Somente se pode conseguir uma trajectória lisa se medir as
coordenadas do eléctron com um pequeno grau de exactidão, como por exemplo
pela condensação das gotas de vapor na Câmara de Wilson.
Deixando a precisão da medição inalterada, e diminuirmos os intervalos t entre
as medições, então as medições vizinhas darão evidentemente valores próximos
das coordenadas, portanto numa pequena extensão do espaço mas completamente
desordenada. Em particular, quando t  0 , os resultados das medições vizinhas
jamais tender – se ão a dispor – se em linha recta, o que prova que na mecânica
quântica não existe o conceito de velocidade de uma partícula no sentido clássico
destas palavras.
Atribuindo ao eléctron como resultado de medição determinadas coordenadas,
neste caso não se pode atribuir absolutamente nenhuma velocidade determinada.
E vice versa, possuindo uma determinada velocidade, o eléctron não pode ter uma
posição determinada no espaço. Na mecânica quântica, as coordenadas e a
velocidade de um eléctron não são grandezas mensuráveis simultaneamente com
precisão.
Enquanto que a descrição clássica é suficiente para prever o movimento de um
sistema mecânico no futuro de maneira totalmente exacta, a descrição menos
pormenorizada da mecânica quântica, não é suficiente para tanto, isto é, se o
eléctron se encontra em um estado descrito de maneira mais completa possível, em
mecânica quântica, seu comportamento nos instantes seguintes é incerto. O
problema da mecânica quântica consiste apenas em determinar a probabilidade de
um ou outro resultado desta medição.
Toda a descrição de um estado de um eléctron é consequência de uma certa
medição.

3.5. Princípio da Indescernibilidade das partículas da mesma espécie


Se se considerar sistemas com partículas idênticas, elas não se podem
individualizar, seguindo-as como na Mecânica Clássica, ao longo de uma
determinada trajectória.
34

De acordo com a experiência de difracção de electrões não é possível determinar


qual das cintilações no ecrã corresponde ao electrão que passou pelo orifício 1 e
qual cintilação corresponde ao electrão que passou pelo orifício 2.
Um sistema constituído por n-partículas (idênticas) forma um todo, em que os
corpúsculos perdem a sua individualidade.
Dado um sistema de partículas, os resultados de uma experiência não podem ser
previstos de uma forma perfeitamente determinada por cada partícula individual.
Podem ser caracterizadas só propriedades do conjunto.
3.6. Determinismo Quântico
Qualquer teoria Física deve ser capaz de predizer alguns resultados práticos (reais)
e nesse sentido ser determinista.
Através da experiência de Young foi se levando a considerar como elemento de
previsões, a função de onda Ψ associada ao sistema microscópico.
Nessa experiência, embora os impactos dos electrões no anteparo não pareçam
obedecer, individualmente, a qualquer lei, o aspecto ondulatório permite estabelecer

uma lei colectiva que nos dá, por intermédio de Ψ ou melhor , a probabilidade

dos impactos.
A Mecânica Quântica, embora não permite prever de uma forma unívoca o
resultado de uma experiência sobre uma determinada partícula individual, permite
determinar para cada tipo de experimento uma lista de resultados possíveis e as
respectivas probabilidades.
Os valores, referidos, de probabilidade são determinados de forma unívoca. E
nesse sentido a Mecânica Quântica é determinista como a Física Clássica.
Na prática essas probabilidades referem-se à repetição de uma mesma experiência
em um grande número de vezes num sistema em um determinado estado, ou a sua
realização num grande número de sistemas idênticos.
Medições
Para explicar a incompatibilidade das leis Clássicas para explicar os fenómenos que
ocorrem no domínio quântico, Heisenberg revelou que um observador,
inevitavelmente, perturba qualquer sistema que ele tenta medir.
35

A transição entre os domínios relaciona-se com a natureza das perturbações a que


o sistema físico está sujeito devido as operações implícitas nas suas observações.
Na teoria Clássica - pressupõe-se que é sempre possível conhecer de modo
exacto aquelas perturbações e corrigir os seus efeitos.
Na teoria quântica - existem limites para a precisão das nossas observações que
não se ultrapassa através do melhoramento das condições experimentais.
Há uma correlação intrínseca entre os resultados das medições e as perturbações
necessariamente provocam no sistema. A capacidade de resolução do nosso poder
de observação não e limitada e depende da escala a que se dão os fenómenos
físicos.
Na Mecânica Quântica, chama se medição a qualquer processo de
interacção entre objectos clássicos e objectos quânticos, ocorridos com ou
sem a intervenção de qualquer observador.

Objecto Clássico – (satisfaz com suficiente precisão a Mecânica Clássica)- e é o


instrumento ou aparelho de medição .
Assim, se um electrão interage com um objecto Clássico, este último altera o seu
estado (do electrão).
O efeito Compton é um exemplo ilustrativo desse tipo de limitação.
A maneira mais simples de observar o electrão é fazer incidir sobre ele um feixe de
luz e detectar os fotões difundidos. Porém o choque vai afectar o estado de
movimento do electrão e isso reflecte-se na energia do fotão emergente.
Se pretendermos aumentar a precisão da medida de posição, devemos diminuir o
comprimento de onda do feixe incidente. O choque dá-se a uma energia bastante

elevada e vai perturbar ainda mais o movimento do electrão. A medida do seu

resultante, necessariamente mais imprecisa.

3.7. Princípio de super posição.


36

Dada a mudança radical dos conceitos de movimento na mecânica quântica, em


comparação com a clássica, exige – se também uma alteração básica do
formalismo matemático da teoria.
Vamos representar por q o conjunto de coordenadas do sistema quântico, e por
dq o produto dos diferenciais destas coordenadas (ele é denominado elemento de
volume do espaço de configurações do sistema). Para uma partícula dq coincide
com o elemento de volume dV do espaço ordinário.
No formalismo matemático da mecânica quântica, o elemento básico consiste em
que o estado do sistema pode ser descrito por uma determinada função das
coordenadas, em geral complexas, sendo que o quadrado do módulo desta função
2
define a distribuição das probabilidades dos valores das coordenadas:  dq éa
probabilidade de que ao realizar a medição das coordenadas do sistema, os valores
desta pertençam ao dq do espaço de configurações.  é a função de onda do
sistema introduzida pela primeira vez por Schrodinger em 1926. Conhecendo a
função de onda, pode – se calcular a probabilidade dos diferentes resultados de
qualquer outra medição. Estas probabilidades definem – se todas por expressões

bilineares com respeito a   * cuja forma geral é  (q ) * ( q ) ( q, q ) dqdq  .

Na relação,  (q, q ) depende do género e do resultado da medição e a integração


estende – se a todo o espaço de configurações.
A probabilidade  *   (q) *(q ) (q  q 0 ) ( q   q 0 ) dqdq  , onde  representa

a função  , q 0 representa o valor da coordenada cuja probabilidade buscamos.


A soma das probabilidades de todos os valores possíveis das coordenadas de um
sistema deve ser igual a um, o que requer que o resultado da integração em todo o
2
espaço das configurações seja igual a unidade   dq  1 ( condição de
normalização das funções de onda)
Convergindo a integral de 
2
, é sempre possível normalizar a função 
2
mediante a escolha conveniente de um coeficiente constante. Se a integral de 

divergir,  não pode determinar os valores absolutos das probabilidades das


2
coordenadas dado que a razão dos quadrados  em dois pontos distintos do
37

espaço de configurações determina as probabilidades dos valores respectivos das


coordenadas.
Na base do conteúdo positivo da mecânica quântica, encontra – se toda uma série
de afirmações relativas às propriedades da função de onda. Elas consistem no
seguinte:
Supondo que no estado caracterizado pela função de onda  1 (q ) se efectue uma
medição que conduza com certeza a um determinado resultado ( resultado 1), e que
o mesmo fazendo no estado  2 ( q ) , conduza ao resultado 2.Toda a combinação

linear de  1 e 2 , ou seja, toda a função de forma C1 1 + C 2 2 , (com C1 e C 2


constantes), representa um estado em que a mesma medição pode dar o resultado
1 ou resultado 2. Conhecendo a dependência dos estados com relação ao tempo,
que em um caso é dada pela função  1 ( q, t ) e em outro, por  2 (q, t ) , qualquer
combinação linear destas dá também a possível dependência de um estado de
tempo. Estas afirmações dão – nos o princípio de super posição de estados do qual
vem que todas as equações que satisfazem as funções de onda, devem ser
lineares com respeito a  .
Supondo que um sistema seja constituído de duas partes e que o estado deste
sistema é dado de maneiras que cada uma das partes seja descrita de maneira
completa, então as probabilidades das coordenadas q1 da primeira parte são
independentes das coordenadas q 2 da segunda parte. Nisto, a distribuição das
probabilidades como um todo deve ser igual ao produto das probabilidades de suas
partes. Significa que a função de onda  12 ( q1, q 2 ) de um sistema pode se

representar como produto das funções de onda  1 (q1 ) e  2 ( q 2 ) de suas partes:


 12 (q1, q 2 )   1 (q1 ) 2 ( q 2 ) .

Se estas partes não se interagem, a relação entre a função de onda do sistema e as


de suas partes conserva – se também nos instantes futuros, isto é,
 12 ( q1, q 2 , t )   1 ( q1 , t ) 2 ( q 2 , t )

3.8. Formalismo matemático da Mecânica quântica

Operadores
38

Qualquer teoria Física que descreve uma nova área da natureza, pretende-se como
regra seu próprio aparato Matemático.
Historicamente a Física Clássica foi associada ao cálculo diferencial e integral
(Leibeniz, Newton, etc).
A Mecânica Quântica baseia-se na teoria dos operadores. A teoria dos operadores
lineares constitui a base Matemática da Mecânica Quântica.
Definição 1:
Chama-se operador à uma regra (ou receita) que transforma uma
função em outra.

, operador:

Para a designação de operador usa-se o assento circunflexo. Ex:

(função)

operador

Exemplos:

(Laplaciano)

(Nabla)

Considere – se uma grandeza f que caracteriza o estado de um sistema. Os


valores que podem tomar uma grandeza física dada, são chamados em mecânica
quântica de seus auto valores e o conjunto destes é chamado de espectro de auto
valores da grandeza em questão. Quando as grandezas são de tal maneiras que os
auto valores formam uma sucessão contínua, o espectro dos auto valores diz – se
contínuo. Se os auto valores formam uma sucessão discreta, o espectro diz – se
discreto. Os auto valores da grandeza f são designados por f n em que o índice
39


n  Z 0 . As funções de onda correspondentes  n são designadas auto funções de

uma dada grandeza física f . De notar que cada uma destas funções supõe – se
2
normalizada, pelo que,   n dq  1 . Se o sistema encontra – se em um estado
caracterizado pela função de onda  , a medição da grandeza f dará como
resultado um dos auto valores f n . No caso geral de um estado qualquer, a função

 pode ser dada por    a n n . a n são certos coeficientes constantes. Este


n

facto mostra que qualquer função pode ser decomposta em uma série de auto
funções de uma grandeza física qualquer.
Um sistema de funções que torne possível efectuar esta decomposição diz se

constituir um sistema completo de funções. A expansão    a n n possibilita


n

determinar as probabilidades de encontrar no sistema em um estado com uma


função de onda  , um ou outro valor f n da grandeza f . As probabilidades em
referência, devem ser bilineares com relação a   * e por conseguinte, com
relação a a n  a n * . A demais estas expressões devem ser positivas. A soma das
probabilidades de todos os valores possíveis f n deve ser igual a um, ou seja,

a a
2 2
n  1 . Se a função  não é normalizada, n determina – se por uma
n n

expressão bilinear com respeito a   * . A única expressão deste tipo é a integral

 * dq . Neste contexto, tem lugar a igualdade a


n
n a n *   * dq

Se multiplicamos por  a decomposição  *   a n * n * da função  *


n

conjugada complexa de  e integrando temos:  * dq   a *  n


n n *dq .

Comparando este resultado com  a n a n *   * dq temos


n

a
n
n a n *   a n *  n *dq  a n   n * dq
n
. an são os coeficientes da

decomposição de  em série de auto funções  n . Introduzindo aqui a relação


40

   a n n , obtemos a n   a m  m n * dq . Desta expressão, fica claro que as


n m

auto funções devem satisfazer as condições   n * dq   nm , onde  nm  1 se


m

nm e  nm  0 se n  m . A anulação das integrais dos produtos  m n * no

caso em que n  m traduz a ortogonalidade das funções  n . Neste contexto, o


conjunto de auto funções constitui um sistema funções ortonormais.

Conceito de valor médio


Diz – se valor médio f a soma de todos os auto valores f da grandeza dada
2
multiplicada cada uma pela probabilidade correspondente an , ou seja,

f   f n an .
2

Introduzindo agora um operador matemático teremos fˆ (letras mediante as quais


poremos um acento circunflexo). Aplicando o operador fˆ na função  teremos
( fˆ ) . Então o valor médio será igual a integral do produto de ( fˆ ) pela função

conjugada complexa  * , ou seja, f   * ( fˆ )dq .


No caso geral, o operador fˆ é integral linear, pois satisfaz as seguintes
propriedades:
a) fˆ ( 1   2 )  fˆ 1  fˆ 2
b) fˆ ( a )  afˆ

 1 e  2 são funções quaisquer e a é uma constante qualquer.


Se empregarmos a expressão a n   n * dq para a n podemos reescrever a

definição f   f n a n do valor médio obtendo f   f n a n a n *   * ( a n f n n )dq e


2

n n n

comparando com f   * ( fˆ )dq notamos que o resultado da aplicação do

é da forma ( f )   a n f n n . Substituindo aqui a


ˆ
operador fˆ na função 
n

expressão a n   n * dq para a n encontramos que fˆ é um operador integral da


41

forma ( fˆ )   k (q, q ) (q )dq  . A função k ( q, q )   f n n *( q ) n (q ) é o núcleo


n

do operador. Assim, a cada grandeza física na mecânica quântica corresponde um


determinado operador.
Igualando f   * ( fˆ )dq a sua conjugada complexa teremos  * ( fˆ )dq 
 ( fˆ * *)dq em que fˆ * representa o operador complexo conjugado de fˆ .

Por definição, se para um operador fˆ . fˆ   , diz se operador conjugado


complexo aquele para o qual fˆ * *   * . Para qualquer operador fˆ pode se
encontrar um operador transposto e definido de forma que se tenha
~
  ( fˆ )dq   ( fˆ )dq , onde fˆ e  são duas funções distintas.

Escolhendo  como  * sendo  conjugada de  , da comparação com


~
 * ( fˆ )dq   ( fˆ * *)dq , vem que fˆ  fˆ * . Os operadores que satisfazem

esta condição são chamados de hermitianos. O facto mostra que os operadores que
no formalismo matemático da mecânica quântica correspondem a grandezas físicas
reais devem ser hermitianos. A condição básica de hermiticidade é que
k (q, q )  k * (q , q ) .
O operador que corresponde a grandeza f * (conjugada de f ) designa – se por
fˆ  e se chama de conjugado do operador fˆ .
em um dado estado  é f *   * fˆ dq .

O valor médio da grandeza f *

~
Temos por outro lado que ( f )*  [  * fˆdq ] *  fˆ * * dq   * fˆ *dq.

~
Igualando estas duas expressões encontraremos fˆ   fˆ * , o que diferencia fˆ 

de fˆ *
~
Neste contexto, a condição fˆ  fˆ * pode ser escrita na forma fˆ  fˆ  , isto é, o
operador de uma grandeza física real coincide com o seu conjugado (Os
operadores hermitianos são também chamados de auto conjugados)

Operadores e suas propriedades .


Sendo dado uma grandeza funcional f (x)
42

a) Operador de multiplicação
ˆ f ( x)   ( x)
L

 ( x )  af ( x ) , Lˆ  a , a  cons tan te
 ( x)  u ( x) f ( x) , Lˆ  u ( x )

b) Operador diferencial
d d
Lˆ  . Lf ( x )  f ( x)   ( x )
dx dx
2 d 2
f ( x)    x  de Hˆ   . 2  U ( x) Operador de Hamilton
2mo dx

c) Hˆ  ( x )  E ( x)
2 d 2
[ .  U ( x )] ( x )  E ( x ) Equação de Schrodinger
2mo dx 2

d) Operador matricial
 

A   aik  =

 
1

 a11 a12 .......a1n   


  2
. 


a a1 a 22 .......a
.......... .......... ......
2n 
;   
.
;

 *  
( *  
* .... *)
 
   
 a m1 a m2 ........a mn  . 

 n

e) Operador integral
Lˆ   k ( x,  ) ....d
 ( x)   k ( x ,  ) f ( x ,  ) d ,   
núcleo do operador

Operações com operadores


a) A soma de dois operadores é também um operador
Lˆ  Lˆ1  Lˆ 2 ; L̂f  

Lˆ f  ( Lˆ1  Lˆ 2 ) f  Lˆ1 f  Lˆ 2 f  

b) Operador unidade. È tal operador que não muda de sinal


Lˆ f  f ( x ) , Lˆ  Iˆ
c) Comparação de operadores Aˆ  Bˆ
ˆ f ( x )   ( x ), B
A ˆ B
ˆ f ( x)   ( x)  A ˆ

d) Produto.
Cˆ  A
ˆ Bˆ

e) Operador de projecção
Um operador  diz – se de projecção se cumpre a condição Aˆ 2  Aˆ
43

Exemplo: Mostre que o operador Abaixo indicado é um operador de projecção.


1 0
  
0 
 0

2
 1 0   1 0 1 0   1 0  ˆ
Solução: Aˆ 2            A
 0 0   0 0  0 0   0 0 

Comutação de operadores
De uma forma geral os operadores não obedecem a lei comutativa, ou seja,
ˆB
A ˆ
ˆ  Bˆ A

Verificação:
d
Seja Aˆ  x e Bˆ 
dx

Aˆ Bˆ  x d , A ˆ Bˆ f ( x)  x d f ( x )  x df
dx dx dx
ˆ  d ˆ f ( x)  d df
Bˆ A x, Bˆ A xf ( x)  f ( x)  x
dx dx dx
Em mecânica quântica usa – se o comutador ˆ, B
[A ˆB
ˆ]  A ˆ B
ˆAˆ. È exemplo de um
comutador o seguinte:
ˆ , Bˆ ] f ( x)  [ A
[A ˆ Bˆ  Bˆ A
ˆ ] f ( x)  A ˆ f ( x)  x df  f ( x)  x df   f ( x) , onde
ˆ Bˆ f ( x)  Bˆ A
dx dx
f (x ) é uma função arbitrária.

f) Operador inversível
Um operador diz inverso a um operador dado se satisfaz a condição
Lˆ Lˆ1  Lˆ1 Lˆ  Iˆ
ˆ1 é o operador inverso de L̂
L
O operador inverso existe se o determinante dos elementos deste operados é

Adj xi
diferente de zero, ou seja, Det| Lik |  0 . Da álgebra linear, Lˆ 
1

Lik

8. Autovalores e autofunções de um operador


As auto funções de uma dada grandeza f são soluções da equação fˆ  f onde
f é uma constante e os autovalores são os valores da constante f para os quais a
expressão escrita possui solução satisfazendo as condições exigidas.
44

Tanto os auto valores como os valores médios de uma grandeza física real são
reais em qualquer estado.

ˆ f ( x)   ( x)
L
Se ˆ f ( x)  f ( x) com  constante, diz se que  é auto valor do operador e
L

f (x ) é autofunção do operador.

O conjunto de autovalores pode ser discreto ou contínuo.


    n  ;   1,2,3,..., O autovalor possui um espectro discreto de autovalores. Para
este caso de espectro discreto temos a seguinte equação para os autovalores e

autofunções: Lˆ  n ( x)   n n ( x)
Quando  representa um conjunto de autovalores contínuos, diz – se que 
apresenta o espectro contínuo de autovalores. Neste caso é válida para os
autovalores e autofunções a seguinte equação: Lˆ  ( x,  )   ( x,  ) .
Se para um dado autovalor de um operador corresponde uma função, diz – se que
temos o caso não degenerado n   n .
Se para um dado autovalor  n corresponde um grupo de funções, por exemplo,

n   n1, n 2, ..., nmn


       , neste caso diz – se que temos o caso degenerado e este
mn

número mn chama – se constante de degeneração.


Autovalor de um operador inverso.
ˆ  ( x )   ( x );
L
ˆ1 ( x )   1 ( x ) ?
Sabe – se que Lˆ Lˆ1  Lˆ1 Lˆ  Iˆ
L

 l ( 
x)

ˆ ˆ ˆ 1 ˆ 1 ˆ ˆ 1 ˆ
 ( x)  I ( x)  LL  ( x)  L L ( x)  L ( ( x ))   L  ( x )  l ( x)   ( x)  l ( x) 
1

1  l  l  1

9. Operadores lineares
Um operador L̂ diz se linear se satisfaz as condições:
ˆ ( a )  aL
1.L ˆ ( ) 
 ˆ
 L ( a1 1  a 2 2
ˆ
)  a1 L 1  a 2 L
ˆ
2
ˆ (
1   2 )  L 1  L
2.L ˆ ˆ 
2 

10. Produto escalar de duas funções f ( x ). ( x )


45


( f ( x ),  ( x))   f * ( x ) ( x ) dx  

f ( x) ( x ) dx

 
2
(( f ( x ), f ( x ))  f * ( x ) f ( x) dx  f ( x) dx
    
Norma 

Se a função é dada como função coluna


 f 1 ( x)   1 ( x ) 
   
f ( x )   f 2 ( x ) ;  ( x )    2 ( x ) 
 f ( x)    ( x) 
 3   3 
 1 ( x ) 
 
  2 ( x) 
. 
( f ( x ),  ( x ))   f * ( x ) ( x ) dx   f 1 *, f 2 *,..., f n * 
.
dx 
 ( f 1 * 1  f 2 *  2  ...  f n *  n
 
. 
  ( x) 
 n 
n n
 1
f n * n dx  1
f n * n dx

11. Propriedades do produto escalar


a)  f ,    , f  *

b) ( f11   2 )  ( f , 1 )  ( f1 2 )
c) ( f 1  f 2 ,  )  ( f 1,  f 2 )
d) (f ,  )   * ( f ,  )  constante
e) ( f ,  )   ( f ,  )  constante

Demonstração 1
( f , )  f * dx

( , f )*  [   * f ( x ) dx]*    * * f * dx   f * dx

12. Operadores conjugados


Se Aˆ  Bˆ são dois operadores lineares, então esses operadores serão conjugados
se for válida a operação ( Aˆ  ,  )  ( , Bˆ  ) (1),
onde  ,  são funções arbitrárias. Designaremos pelos seguintes símbolos:
ˆ  B
A ˆ, ˆ .
ˆ  A
B

Cálculo de operadores conjugados


1. C  const C   ?
(C ,  )   C * * dx  C *  * dx
( , C )  C ( ,  )  C  * dx
C C*
C   C * Regra

U ( x ), U(x)  ?
2.
U  ( x)  U * ( x)

3. Seja dado o operador derivada


46

d d 
, ( ) ?
dx dx
d  d
Neste caso é válida a relação 1, isto é, (( )  ,  )  ( ,  ), ou na forma integral
dx dx
d d *
 
d 
 (( dx )  *)dx  dx   *    dx  (

  * 
dx     dx
  U  0
dU

d d d d
 ( dx )  * dx   ( ) * dx  (

)  

dx dx dx

Generalização
d d d
( , )  (( )  ,  )  ( ,  ),
dx dx dx
d d
( , )  ( , )
dx dx
d n n d 
n
( , )  (  1) ( , )
dx n dx n

13. Operadores auto conjugados. Operadores Hermitianos


Um operador L̂ diz auto conjugado se verifica a condição Lˆ  Lˆ ou
( Lˆ  ,  )  ( , Lˆ  ) ou na forma integral

 ( Lˆ  ) * dx  Lˆ dx

Demonstração da ortogonalidade recíproca das auto funções de um operador


hermitiano correspondentes a auto valores diferentes.
Sejam dados dois auto valores f n e f m distintos de uma grandeza real f , e
 n   m as auto funções correspondentes,

fˆ n  f n n , fˆ m  fˆm m

Multiplicando o primeiro membro da primeira igualdade por  m * , a igualdade


conjugada complexa da segunda por  n e subtraindo termo a termo os dois

produtos temos:  m * fˆ * n   n fˆ * m *  ( f n  f m ) n *m . Integrando os dois


~
membros desta igualdade em ordem a dq . Visto que fˆ *  fˆ , em virtude de
47

~
  ( fˆ )dq   ( fˆ )dq a integral da primeira das igualdades se anula, de forma
que teremos ( f n  f m )   n *m dq  0 .

Uma vez que f n  f m resulta a propriedade da ortogonalidade das funções  n   m ,


cqd.

Teorema: Realidade dos Auto-valores


Os autovalores de aperadores autoconjugados são valores reais.
Demonstração
( Lˆ  , )  ( , Lˆ  ) (1)
Supondo que  é autovalor do operador L̂ , então, L̂   (2)
Aplicando a expressão 2,
( Lˆ  , )  ( , )   * ( , ) (3a)

Da parte direita de 1, temos que,


( , Lˆ  )  ( ,  )   ( , ) 3b)
 * ( , )   ( , )   *  

Sendo coordenada um número real, o operador da coordenada é um número real .

Auto-valores dos operadores Hermitianos são reais

Demonstração:

Seja operador Hermitiano e Ψ uma auto-função que corresponde ao auto-valor λ,

então:

(i)

Por outro lado é Hermitiano: (ii)

Além disso podemos escrever a equação complexa conjugada a (i):

(iii)
Substituindo (i) e (iii) em (ii) obtemos:
48

Definição 1:
Operador Hermitiano :

O operador chama-se Hermitiano no caso em que se verifique a seguinte

igualdade:

(1)

Onde: A integração realiza-se em todos os valores possíveis das coordenadas.


É ainda hermitiano, um operador que verifica a relação Lˆ  Lˆ . Se for verificada a
relação Aˆ    Aˆ , o operador chama – se ante - Hermitiano
Exemplo.
d  d
a) ( ) 
dx dx
b) i   1, i*  i

A soma de dois operadores Hermitianos é um operador Hermitiado.

Sejam e dois operadores hermitianos temos que mostrar que é um

operador Hermitiano.

(Linearidade do operador integral).

pelo facto de serem

Hermitianos, e o resultado obtêm-se usando a linearidade do operador Hermitiano.


Se o operador for dado na forma matricial pode se construir também o seu operador
conjugado.
Seja Aˆ  Aik , (A ik )   ?
Um operador matricial é conjugado se verificar a condição ( A  ,  )  ( , Aˆ  )
Porém, no caso de uma matriz, os operadores devem ser dados em forma de
coluna.

 1 



 1 

   2     2 
   
 n   n 
49

Para encontrar o operador conjugado dado na forma matricial é preciso trocar as


linhas por colunas e depois conjugar complexamente
Ex. Seja dada a matriz
3  i 2i 
Aki  
1  5 
2i  3  ,
 

Encontrar o operador conjugado na forma matricial


 3  i i  5  3  i i  5 
Aki   *   
 2i 2i  3   2i 2i  3 

5. Postulados da Mecânica Quântica


5.1. Postulados da função de onda:
“Qualquer sistema físico com n graus de liberdade é descrito de maneira tão

completa quanto possível com a função de onda tal que deve

ser contínuo, unívoco e limitado por todos os valores reais.

Ela é normalizada no sentido integral:

Onde: dq indica a variação em todas as coordenadas e é a função complexa

conjugada a . dq=dq1dq2…dqn é o elemento do volume no espaço configuracional.

A integração realiza-se em todos os valores possíveis das coordenadas.


Os estados dinâmicos dos sistemas físicos correspondem a funções de onda.

Definição 2:
Observável – chama-se observável a qualquer propriedade duma partícula que
pode ser medida.

Exemplo: x, , T, U, etc.

Definição 3:
Auto-valores ou valores próprios
50

Se Ψ é uma função de onda e onde λ é uma constante arbitrária; Ψ é

auto-função (ou função própria) do operador e λ chama-se auto-valor ou valor

próprio de .

A equação chama-se equação dos valores próprios.

2. Grandezas observáveis

Associado à qualquer observável físico está um operador matemático que quando

opera sobre a função de onda associada a um dado valor do referido observável,


produz o tal valor multiplicado pela função de onda.

, Ψ(q) é auto-função de pertencente ao valor próprio λ.

O conjunto destes valores próprios constitui o espectro de .

As variáveis dinâmicas que descrevem os diversos atributos físicos correspondem à


operadores lineares.
3. Resultados das medições
Suponha que Ψ descreve o estado do sistema quântico.
Se o sistema físico se encontra num estado correspondente a uma função própria

de , pertencente ao valor próprio λ, então o resultado da medição de é

certamente λ.
As variáveis dinâmicas podem ter espectros contínuos, discretos ou ainda espectros

com uma parte contínua e outra discreta; conforme a natureza do operador e as

condições de fronteira resultantes da interpretação associada à função própria Ψ(q).

Se tiver um espectro inteiramente discreto, constituído por uma infinidade

numerável de valores próprios, a equação aos valores próprios pode ser escrita na

forma com n=0,1,2,3…

e ,
51

a interpretação física proposta pelas equações aos valores próprios leva-nos a


concluir que o espectro das variáveis dinâmicas é necessariamente real dado que
os valores próprios constituem possíveis resultados de medições destas variáveis.
Em geral, não é possível prever o resultado da medição efectuada sobre
determinado sistema físico tomado individualmente. A Mecânica Quântica, apenas
permite prever a distribuição estatística dos resultados obtidos quando a mesma
medição é repetida sobre um número muito elevado de sistemas idênticos e todos
no mesmo estado.
4. Valores esperados dos observáveis
Consideremos um grade número de sistemas físicos idênticos cada m dos quais
distinguidos pela função de onda Ψ.
Se Ψ corresponde a L, medições exactas de L em todos os sistemas quânticos vão
dar como resultado o valor médio de L:

calculado em todo intervalo da variação das coordenadas.

5. Conjunto de Auto-funções
De acordo com o postulado 1, cada estado do sistema quântico descreve-se tão
completamente quanto possível pela função de onda Ψ em qualquer instante. As
funções de onda do sistema pertencem ao espaço de Hilbert.

O conjunto de Auto-funções dum operador forma um conjunto completo de

funções linearmente independentes.

O espaço de Hilbert tem dimensão infinita.


Qualquer função de onda que descreve um estado pertencente ao espaço de
Hilbert pode ser expresso como uma combinação linear das funções do estado
possíveis.
52

Um sistema físico que pode se encontrar em diferentes estados descritos por

(i=1,2,…,n) este sistema pode ser encontrado também no estado definido pela
função:

Onde: C1, C2,…,Cn são números complexos chamados amplitudes dos estados
particulares.
A probabilidade de encontrar o sistema num dos estados possíveis é dada

pela grandeza .

Sistema de funções diz-se completo, pois qualquer grandeza

física pode ser decomposta em uma série de auto-funções.

Este postulado exprime o princípio de sobreposição da Mecânica Quântica.


As fórmulas apresentadas descrevem a decomposição da função de onda qualquer
pelo sistema pleno das funções de onda que caracterizam este sistema físico.
Aqui tem lugar a analogia com a óptica ondulatória quando uma onda
representativa, pode ser decomposta num espectro de ondas (decomposição da luz
branca num prisma óptico) segundo a teoria de Fourier, nesta óptica ondulatória
teremos:

Cada corresponde a sua frequência própria e intensidade de qualquer dessas

ondas define-se pelos quadrados das amplitudes das componentes respectivas

No entanto, existe uma diferença principal entre o princípio de sobreposição da


Física Quântica e na Física Clássica.
Na Física Clássica, o resultado da sobreposição de duas ondas com frequências
iguais ou proporcionais dá como resultado um novo estado oscilatório ou um quadro
de interferência. Mas na Mecânica Quântica, o resultado da sobreposição é sempre
53

um dos seus estados primordiais, mas que aparece com uma determinada
probabilidade.
Pode-se dizer também que este postulado é o corolário da propriedade de
ortogonalidade das funções de onda que constituem um sistema completo para
qualquer micro-objecto.

Com efeito a relação se verifica quando Ψ é uma função normalizada.

Se Ψ não for normalizado é determinado por uma expressão bilinear com

respeito a Ψ e Ψ* e reduzir-se à unidade quando Ψ fosse normalizado.

A tal expressão deveria ser de forma

Seja , multiplicando por Ψ e integrando obtêm-se:

Note que agora temos:

Sabe-se, no entanto, que donde segue que:

Aqui vê-se que as auto-funções devem satisfazer às condições:

O conjunto das auto-funções Ψn constitui um sistema completo de funções


ortogonais.

OBSERVÁVEIS MAIS COMUNS E SEUS OPERADORES ASSOCIADOS


54

SÍMBOL OPERADOR
OBSERVÁVEL
O ASSOCIADO

Posição

Momento Linear

Energia Potencial

Energia Cinética

Hamiltoniano

Energia Total

A equação de Schrodinger independente do tempo.


“Schrodinger aprofundando a analogia assinalada por hamilton, entre a óptica
geométrica e a mecânica analítica conseguiu escrever a equação geral de
propagação, válida na propagação não relativista para uma onda associada a um
corpúsculo em um dado campo “(CARUSO,2006,p 442).
A forma da equação de onda de um sistema físico é determinada pelo seu
Hamiltoniano que para uma partícula livre pode ser estabelecido partindo das
condições gerais impostas ao sistema físico, relacionadas com a homogeneidade e
isotropia do espaço e o princípio de relatividade de Galileu. Enquanto que na
clássica estas exigências conduzem a uma dependência quadrática da energia da

p2
partícula com respeito a seu impulso. E  , Para a mecânica quântica estas
2m
exigências do espaço dão a mesma relação entre os auto valores da energia e o
impulso. Salienta – se que para que esta relação se cumpra para todos os auto
valores da energia e do impulso, ela deve valer para os respectivos operadores:
55

1
Hˆ 
2 2 2
( pˆ x  pˆ y  pˆ z ). Substituindo aqui a expressão p̂  i obteremos o
2m
Hamiltoniano de uma partícula que se movimenta livremente sob a forma

2    2 2 2

Hˆ    onde   2  2  2 é o operador de Laplace, ou seja, Laplaciano.


2m x y z

Um sistema de partículas que não se interagem tem um Hamiltoniano igual a soma

 2
a
dos Hamiltonianos de cada partícula. Hˆ  
2
m a
. A descrição da interacção
a

entre as partículas na Mecânica quântica é propiciada pelo acréscimo da energia

 2
a
potencial de interacção ao Hamiltoniano. Hˆ  
2
m a
+ U ( r1  r2 ,...., )
a

O primeiro termo do segundo membro é interpretado como o operador de energia


cinética e o segundo é o operador de energia potencial.
Para uma partícula sujeita a um campo externo, o Hamiltoniano é dado por

pˆ 2 2
Hˆ   U ( x, y , z )    U ( x, y , z ) .
2m 2m    
energia potencial da particula no campo exteno

2 ˆ pˆ 2 2
Substituindo as expressões Hˆ    e H  2 m  U ( x, y , z )   2 m   U ( x, y , z )
   
2m


na equação geral i  Hˆ  teremos as equações de onda nos sistemas
t
correspondentes.
Para uma partícula sujeita a um campo externo, temos

 2
i    U ( x, y , z )
t 2m
A equação que assume os estados estacionários ˆ   E
H assume a forma

2
  [ E  U ( x, y, z )]  0 .
2m
56

 2 2
As equações i    U ( x, y , z ) e   [ E  U ( x, y, z )]  0 são da
t 2m 2m

2
forma   E  0 e são chamadas equações de Schrodinger. Ele descobriu –
2m
as no ano de 1926.
“Schrodinger Utilizou a equação independente do tempo em problemas de contorno
para determinar, com sucessos os espectros de energia do átomo de hidrogénio e
do oscilador harmónico”(CARUSO, 2006, p445).
Usou a igualmente como uma quantidade auxiliar para determinar as distribuições
das probabilidades para a ocorrência dos valores das grandezas físicas associadas
a uma partícula.

A equação de Schrodinger dependente do tempo


Em 23 de Novembro de 1925, Schrodinger proferiu um colóquio, a convite de
Debye, sobre a tese de L. De Broglie, ao final do qual ouviu o próprio Debye
comentar que havia aprendido com o seu mestre, Professor Arnold Sommerfeld,
que o melhor modo de tratar com ondas era dispor de uma equação diferencial de
onda. Qual seria então a equação para a onda de L. de Broglie? Debye dirigia a
questão ao Schrodinger. Algumas semanas mais tarde, Schrodinger informou - lhe
que havia chegado a uma equação diferencial para a onda de L. Debroglie
associada ao movimento de um eléctron.( a equação de Schrodinger).
  
H ( r , t )  i  (r , t ) , onde H é o Hamiltoniano que no caso de sistemas
t

conservativos corresponde a energia do eléctron.


Schrodinger considerou que a equação de onda associada a uma partícula com
energia E em um região do espaço sob acção de forças conservativo, tivesse uma
 iEt
dependência temporal e harmónica do  (r, t )   (r)e  onde ré um ponto

genérico do espaço e t qualquer instante de tempo. A função de onda obedece


também às equações:
 2   
 2  E 2 (r , t )  i  E (r , t ) .
t 2
t
57

Eliminando a dependência explicita de energia da expressão que envolve a

2 2    2
segunda derivada, teremos: [    V ( r )] 2 ( r , t )   2 e a partir da
2m t 2
expressão que envolve a derivada primeira , temos

2 2   
[   V (r )] (r , t )  i
2m t
Pelo argumento da simplicidade, Schrodinger optou pela equação

2 2   
[   V (r )] (r , t )  i mas com sinal positivo para descrever o
2m t
comportamento de uma partícula de massa m, mesmo em um campo de forças não

conservativo, V ( r , t ) , em uma dada região de espaço, mas no domínio não
relativístico, estabelecendo assim aquela que ficou conhecida como equação de
Schrodinger dependente do tempo, ou simplesmente equação de Schrodinger.
2 2   
[   V ( r )] (r , t )  i .
2m t
Atendendo a sua escolha, a solução para a onda associada a uma partícula livre de
massa m e energia E , que se propaga no sentido positivo da direcção x com
momento p 2mE , é dada pela onda plana de L. de broglie.

i 

 ( r , t )  A.e
 ( Et  pr )
h onde A é uma constante.

i
a forma   const.e  h ( Et  pr ) . Cada função deste tipo representa uma onda plana e

descreve um estado no qual a partícula possui uma determinada energia E e um

E
impulso P. Esta onda tem uma frequência igual a e o seu vector de onda é

p 2
k  . O comprimento de onda correspondente   p e é denominado

comprimento de onda de Debroglie. Deste modo, o espectro energético de uma


partícula é contínuo e se estende de 0 a +  .
58

A presença da unidade imaginária i na equação de Schrodinger implica que o



valor da função de onda  ( r , t ) seja complexo, pois representando – a como
   
 (r , t )  f ( r , t )  ig (r , t ) , onde f  g são funções reais da posição r e de tempo t

2 2   
Substituindo – a na equação [   V ( r )] (r , t )  i e agrupando as
2m t
partes real e complexa da equação obtida, obtemos
 2 g
   2 f  Vf   
 2m t

  2
f
 2 g  Vg   

 2m t
 
Como as funções f (r , t )  g (r , t ) estão acopladas pelas duas equações anteriores
e não existem soluções não triviais, dependentes do tempo, correspondentes a
f  0 g  0, isso implica que o valor de  nunca é real nem puramente imaginário
gerando sérias dificuldades para interpretar essa equação. Neste contexto, a onda
piloto de L. De Broglie não pode ser associada directamente a nenhuma variável
dinâmica.

PROBLEMAS UNIDIMENSIONAIS

2 d 2
[  U ( x )] ( x)  E ( x )
2m0 dx 2

Potenciais unidimensionais
Propriedades gerais do movimento unidimensional. Barreiras e poços potenciais.
E  E cin  U (x)
59

Para o caso da mecânica clássica, consideremos

Efeito Túnel. Existe a probabilidade de que a partícula no intervalo [ x3 , x 4 ] seja


reflectiva mas também a probabilidade de que neste intervalo a partícula penetre
dentro da barreira E.
Pode se demonstrar que n o caso do movimento finito ( no poço de potencial) da
partícula os valores das energias não são degenerados.
Consideremos o caso contrário de não degeneração.

d 2 2m0   2m0  1 2m0      


 (U ( x )  E ) ( x )   (U  E )   2 (U  E )  2  1  2
dx 2 2   2
   1  2
60

d
 1
 2   2 1   1
 2   2 1  0  ( 1
 2   2 1 )  0   1 2   2 1  const
dx
 1  2
 1 2   2 1  0   .
1  2

Esta última expressão é uma igualdade de duas derivadas logarítmicas


 1
 (ln 1 )
1
 1  2
As derivadas  diferem apenas de uma constante. Neste caso, essas
1  2
derivadas são a mesma função e a constante pode ser igualada a 1, isto é,
 1  C 2

Barreiras
61

Para todos estes casos a função de onda deve ser contínua, portanto, deve ser
válida a igualdade  1 ,  II , III .
 I (0)   II (0)  I (a )   II (a )
 I (0)   II (0)  I (a)   II (a)

Poço potencial unidimensional infinito e rectangular

n representa o número quântico de energia


0, se 0  x  a
U ( x)  
, se x  0, x  a

Condições:
 (0)  0  (a )  0
62

Equação geral:
0
 2 d 2   2 d 2
  U ( x )  E  ( x ) Esta equação reduz – se a   E ( x )
2m0 dx 2 2m0 dx 2
d 2 2m 0 E
 k 2  0 Equação diferencial da 2ª ordem onde k 
2

dx 2
2

A solução geral desta equação é  ( x )  Asen(kx )  B cos kx


A primeira condição  (0)  0 resulta em  (0)  0  A.0  B.1  B  0
 ( x )  Asenkx

n
A segunda condição  (a)  0  Asenka  ka  n  k  . N =1,2,3,...
a
2 m0 E  2 2 2
Tomando em consideração a relação k 2  , temos E n  n .
2 2m 0 a 2
n
Substituindo na equação de onda temos  ( x)  Asen x . Normalizando temos a
a
2
expressão A 
a

n 2 n
 n ( x)  A xdx  1 .
2
sen  n ( x)  sen x
a a a

Funções de onda possuem certa simetria, isto é, podem ser pares ou ímpares.

 ( a )  0
 2

 ( a )  0

 2

2 n a
Neste caso, substituindo a solução  n ( x)  sen x por x  x  temos
a a 2
63

2 n a
 n ( x)  sen (x  )
a a 2
Solução geral

 ( x)  Csenkx  D cos kx
 a a a
 ( )  0  0  Csenk  D cos k
 2 2 2

 ( a a a
 )  0  0  Csenk  D cos k
 2 2 2

ka ka 2 n
Subtraindo a segunda da primeira equação temos 2Csen 0  n  k 
2 2 a
n= 1,2,3,...
 4n 2 2  2 2 2  2 2
A energia é igual a E n   n (-) Função ímpar.
2 m0 a 2 m0 a 2
ka ka 
Somando aquelas equações temos 2 D cos 0  (2n  1)
2 2 2
 4 2  2 2 2  2
Neste contexto, a energia é dada por E n    (2n  1) 2 (+)
2
2
( 2 n 1) 2
2 m0 a m0 a
Função par.
2 n (2n  1)
 ( x)  Csen x  D cos x
a a
De uma forma conclusiva pode se dizer que todos os estados de uma partícula no
poço do potencial infinito podem ser pares ou ímpares em relação à substituição
x   x . C e D são coeficientes de normalização
2
CD .
a
n a n n n n
Substituindo sen ( x  )  Sen x. cos  cos xsen
a 2 a 2 a 2
O resultado final desta solução é que os valores de energia num poço potencial são
grandezas discretas ( quantificadas).

Níveis de energia e funções de onda para uma partícula situada no campo


potencial.

E0
V ( x )   a ( x )
E0
Partícula no poço potencial assimétrico.
64

U1 , x  0

0, 0  x  a
U , x  a
 2

Admitimos que E  U , isto é, existem valores discretos dentro do potencial.

Tarefa: Encontre esses valores discretos de energia.


Para isso resolveremos a equação de Schrodinger

 2 d 2
[  U ( x)] ( x)  E ( x)
2m0 dx 2
d 2 ( x) 2m0
 2 ( E  U ( x)) ( x)  0
dx 2 

d 2 ( x) 2m0
Ao resolver a equação  2 ( E  U ( x)) ( x)  0 encontramos 3 valores de
dx 2 
função de onda.
Pela condição de continuidade a função de onda de onda nas paredes deve ser
igual:
 I (0)   II (0)  I (a )   II (a )

 I (0)   II (0)  I (a)   II (a)


Resolvendo na primeira região
d 2 2m0
I)  2 ( E  U 1 ) ( x)  0
dx 2 
65

2m0 2
E  U1  2
( E  U 1 )   k1 . A energia E é menor que U.

d 2 2
2
 k1  1 ( x )  0
dx
0 k1x
k1 x
 1 ( x)  C1e  C 2 e

Nesta região x  0 , portanto a função de onda deve ser finita. Atendendo esta

consideração, o segundo membro de


 0  k1x podemos igualar a zero
k1 x
 1 ( x)  C1e  C2e
pois esta parte tende ao infinito quando quando x  0

x
 1 ( x)  C1e k1

3ª região

d 2 III 2m0
 2 ( E  U1 ) III ( x)  0
dx 2 
2m0
2
( E  U1 )  k 2 3

  0
d 2 III
 k 3  III ( x)  0   III  C3 e  k3 x  C 4 e k3 x
2
2 ( porque a função de onda tende a
dx
decrescer)

x0
 III  C 3 e  k3 x

d 2 II 2m0
II .  2 E II ( x)  0 2m 0
dx 2  2
E  k2
2


d 2 II 2
2
 k 2  II ( x)  0   II ( x)  Asenk 2 x  B cos k 2 x.
dx
O átomo de hidrogénio
O átomo de hidrogénio constitui o primeiro sistema abordado por Schrodinger ao
estabelecer a equação independente do tempo. Sua importância prende – se com a
66

utilização de seus auto estados de energia para a construção de modelos atómicos


mais complexos.
e2
Supondo em primeira aproximação que V (r )   seja o potencial electrostático
r
coloumbiano que descreve a interacção entre o próton e o eléctron, onde e é o
módulo da carga do eléctron e r a distância entre o eléctron ao próton, a equação
de Schrodinger para determinar os níveis de energia e os estados estacionários do

2  
átomo é dada por [   2  U (r )] ( r )  E ( r ) .
2 m0

O Laplaciano em coordenadas esféricas


1 2 1 1   1 2
2   [ ( sen )  ].
r r 2 r 2 sen   sen 2  2
Identificando a parte angular pelo operador L2 , a equação do auto valor para a
2 1 2 L2 ( ,  )  
energia pode ser escrita como [    U ( r )] (r ,  ,  )  E ( r ,  ,  )
2m0 r r
2 2
2mr
A separação das variáveis
Em coordenadas esféricas, a equação

2 1 2 L2 ( ,  )  
[   U ( r )] (r ,  ,  )  E ( r ,  ,  ) pode ser separada em
2m0 r r 2
2mr 2

equações independentes de apenas uma variável.


Tomando  (r ,  ,  )  R (r )Y ( ,  ) e substituindo naquela equação teríamos
r2 1 d2 2m 1
( 2
) R  2 [ E  U (r )]  L2Y    0
R r dr  Y
A constante de separação    l é o autovalor positivo do operador L2 . A
2

respectiva função Yl ( ,  ) é chamada de função harmónica esférica. Estas auto


funções não dependem da forma do potencial V (r )
A parte angular.
Os polinómios de Legendre e as funções harmónicas esféricas.
Escrevendo explicitamente a equação de autovalor para L2
1  Y 1  2Yl
( sen l )   2 l Yl ( ,  )  0 . De notar que a equação angular
sen   sen 2  2

ainda pode ser separada fazendo


67

Y ( ,  )  P ( ) ( ) . Substituindo esta expressão na equação

1  Yl 1  2Yl
( sen )  2 l Yl ( ,  )  0 obtém – se
sen   sen  
2 2

1 1 d dP 1 d 2
[ ( sen )  l ]sen 2  
2
 2 m .  m é uma nova constante de
P sen d d  d 2

separação. Deste modo resultam as duas equações:


d 2 m
  m  m ( )  0
 d
2


 1 dPl
m
dPl
m
m
 sen d ( sen d )  (l  sen 2 ) Pl ( )  0
m

Associando a equação que envolve a variável azimutal ( ) com a equação de


autovalor da componente L z do momento angular, temos as seguintes igualdades:
 2
L z  i  L2 z   2 .
  2
A constante  m é associada ao autovalor m 2 , e  m , a auto função Ae im , tal que
Lz d d2
 m  i  m  m m ( )   m  m 2  m ( ) ( m  0,1,2,...)
 d d 2
Como a condição de normalização para a função de onda é expressa por

  (r ,  ,  ) * (r ,  ,  )r drsendd , a separação de variáveis permite que as


2
V

funções R ( r ), P( ) e  ( ) sejam normalizadas independentemente umas das


outras.
Assim, a condição de normalização da parte azimutal implica

2
1

0
m ( ) * m ( )d  1  A 
2

Fazendo x  cos  , a equação da parte associada à variável zenital pode ser escrita
m
d dP m2
[(1  x 2 ) l ]  [l 
2 m
como ]Pl ( x)  0 definindo ainda.
dx dx 1 x 2

1 d d d d
Definindo ainda (1  x )  y   2 x dx  dy  dx  2 (1  y ) dy . Deste modo,
2

m
d 2 dPl m2
]  [l 
2 m
reescrevendo a equação [(1  x ) ]Pl ( x)  0 ficamos com
dx dx 1 x 2

d d m2
 2 (1  y ) [2 y (1  y ) P ( y )]  [2 l  ]P ( y )  0 .
dy dy y
Se a solução desta equação a ser encontrada pelo método das séries for da forma
68

m
Pl ( y )  y   a j y j   a j y   j e portanto dPl   (  j )a j y   j 1 .  é uma
m

j j
dy j

constante a determinar. Neste caso a equação


d d m2
 2 (1  y ) [2 y (1  y ) P ( y )]  [2 l  ]P ( y )  0 torna – se
dy dy y
1
1 
4 (1  y )[ (1  y )  (  j ) 2 a j y   j 1 
(1  y ) 2  (  j )a j y   j  [2 l  m 2 y 1 ] a j y   j  0
j 2 j j

Se dividirmos toda a equação por y , resulta
4(1  y ) (  j ) 2 a j y j 1  2 (a  j )a j y j  [m l  m 2 y 1 ] a j y j  0 ou
j j

[ 4(  j ) 2 a j  m 2  a j ] y j 1  [4 (  j ) 2 a j  2  a  j a j  2 l  a j ] y j  0
j j j j

1
Tomando j  0 , temos [4 a 0  m a 0 ] y  [4 a0  2a 0   l a 0 ]  0
2 2 2 2

Tem – se que os coeficientes de y 1 e o termo independente devem ser nulos


 m2 m
a 0 [4 2  m 2 ]  0    
 2 2 a 0 0
a [ 2 l  m 2  m]  0   2 l  m( m  1)
 0

Note que a última equação implica que a constante de separação l seja o produto
de dois números inteiros consecutivos.
Escrevendo a solução Pl ( y )  y  a j y j   a j y   j em termos da variável x e de
m 

j j

m
m m
uma nova função U l vem que P m ( x )  (1  x 2 ) 2 U m ( x ) . Nota se que U l deve
l l
m m
d 2U l dU l m
satisfazer a equação (1  x 2 )
2
 2( m  1) x  [2 l  m(m  1)]U l  0 .
dx dx
Derivando esta equação em ordem a x temos
m m
d 3U l d 2U l d m
(1  x )
2
3
 2(m  2) x 2
 [2 l  (m  1)(m  2)] U l  0 e fazendo m  m  1
dx dx dx
m m
d 2U l dU l m
na equação (1  x 2 )
2
 2 ( m  1) x  [2 l  m(m  1)]U l  0 temos
dx dx
2 m 1 m 1
d Ul dU m 1
(1  x 2 ) 2
 2(m  2) x l  [2 l  (m  1)( m  2)]U l  0
dx dx
Fazendo uma comparação directa entre as equações
m m
d 3U l d 2U l d m
(1  x )
2
3
 2(m  2) x 2
 [2 l  (m  1)(m  2)] U l  0 e
dx dx dx
69

m 1 m 1
d 2U l dU m 1
(1  x )
2
2
 2(m  2) x l  [2 l  (m  1)( m  2)]U l  0 , nota – se facilmente
dx dx
m
dU l m 1 m dm 0
que  U l  U l  m U l .Fórmula de recorrência.
dx dx
m m
d 2U l dU l m
Fazendo m  0 na equação (1  x 2 )
2
 2(m  1) x  [2 l  m(m  1)]U l  0 ,
dx dx

d 2U 0 l dU m l 0
chega – se à equação (1  x 2 ) 2
 2 x  2 lU l  0 cuja solução pode ser
dx dx

expressa em série de potências inteiras de x U l ( x)   a j x . O desenvolvimento


0 j

j 0

[2l a0  2a2 ]  [(2l  2)a1  6a3 ]x  [(2l  6)a2  12a4 ]  ...


desta série implica
 {[2l  n(n  1)an ]  (n  1)(n  2)an2}]x n  ...  0
Como esta equação deve – se verificar para qualquer x

(n  1(n  2)a n  2  [2 l  n(n  1)]a n  0 . Note que todo termo par é expresso em função
de a 0 e todo ímpar em função de a1 . Neste contexto, a solução deve ser do tipo

U 0 l ( x)  a0U p ( x)  a1U i ( x) segundo a relação

an2 n(n  1)  2 l 2n  1
lim
n  a2
 lim
n  ( n  1)( n  2)
 lim
n   2n  3
 1 de onde se pode concluir que ,

para x  1, U p  U i são divergentes, a menos que os desenvolvimentos em séries


0
sejam finitos, o que corre se U l for um polinómio. Para isto a constante de

separação deve obedecer as condições: 2 l  l (l  1)  l  0,1,2,... .Nessas


l  par  a1  0

condições é necessário que 


ou
l  impar  a
 0  0

0
Exigindo se por convenção, que U l (1)  1 , qualquer que seja o valor de l , os
polinómios U 0 l de grau l chamam – se polinómios de Legendre e são denotados
por Pl ( x ).
70

m m
m d
As funções Pl (x). dadas por Pl m ( x)  (1  x 2 ) 2
Pl ( x) ou em termos da variável
dx m
m
d
angular, Pl ( )  ( sen ) Pl ( ) são chamadas funções associadas de
m m

d cos 
m

Legendre de primeira espécie. Neste caso, a solução da parte angular da equação


Alm
de Schrodinger é Yl ( ,  )  Pl ( )e im onde Alm são constantes de
m m

2
normalização.

l Pl ( x) Pl ( ) m Pl ( )
m

0 P0  0 1 0 0
P0  1
1 P1  x cos  0 0
P1  cos 
1 P1  sen
1

2 1 1 0 1
(3 cos 2   1) (3 cos 2   1)
0
P2  (3 x 2  1) P2 
2 2 2
1 1
P2  3sen cos 
2 2
P2  3sen 2

Primeiros polinómios e funções associadas de Legendre de primeira espécie

A função geratriz, a fórmula de Rodrigues e as fórmulas de recorrência dos


polinómios de Legendre

1
 Função geratriz G ( x, t ) 
1  2 xt  t 2
1 dl
 P
Fórmula de Rodrigues l ( x )  l l
( x 2  1) l
2 l ! dx
.

 Fórmula de recorrência (2l  1) xPl ( x)  (l  1) Pl 1 ( x)  lPl 1 ( x)

Pl ( x)  Pl1 ( x)  2 xPl( x)  Pl1 ( x) (l  1)


lPl ( x)  Pl1 ( x)  xPl( x) (l  1)
Pl1 ( x)  xPl( x)  (l  1) Pl ( x) (l  0)
( x 2  1) Pl( x)  lxPl ( x)  Pl 1 ( x) (l  1)
(1  x ) 2
Pl 1 ( x)  xPl ( x)  Pl( x) (l  1)
l
(1 - x 2 )
Pl1 (x)  xPl (x) - Pl(x) (l  0)
l 1

A ortogonalidade dos polinómios de Legendre


71

d d
A partir da equação [(1  x 2 ) Pl ( x)]  l (l  1)( Pl ( x)  0
dx dx
Multiplicando –a por Pl (x) e integrando entre x  1  x  1
1
d d
 P ( x)
1
l
dx
[(1  x 2 )
dx
Pl ( x)]  l (l  1)( Pl ( x)  dx obtém – se
1
dPl dPl 
 [( x 2  1)  l (l  1)( Pl  Pl )  dx  0
1
dx dx
1
dPl dPl 
 [( x 2  1)  l (l   1)( Pl  Pl)  dx  0
1
dx dx

Subtraindo esta última da penúltima equação teremos


1 1
[l (l  1)  l (l   1)]  Pl ( x) Pl  ( x)dx  0 Para l  l ,  P ( x) P ( x)dx  0
l l e para l  l ,
1 1

d ( x 2  1) l
1 1
1
temos segundo a fórmula de Rodrigues I   [ Pl ( x)] dx   dx l dx .
2

1 2 (l!) 2
2l
1
 dl d l 1
u  ( x 2  1) l  du  ( x 2  1) l dx
 dx l dx l 1
Integrando por partes temos 
dv  d
l
d l 1
( x 2  1) l dx  v  ( x 2  1) l

 dx l dx l 1

d l 1
Note que cada integral por partes efectuada, a ordem de l 1
( x 2  1) l é reduzida
dx
de uma unidade ao passo que a ordem da outra derivada aumentada de uma
unidade. O que mostra que após l integrações por partes teremos
1
d 2l 2
I  (1) l  ( x 2  1) l 2l
( x  1) l dx . Mas como a derivada de ( x 2  1) l efectuada 2l
1 dx
1 1
( 2l )!
I   [ Pl ( x )] 2 dx   (1  x
2
) l dx
vezes é igual a ( 2l!), 1 2 (l!) 2
2l
1
    
j

Integrando por partes sucessivamente,


1 1 1
2 2 l (l  1)
J     2l (1  x 2 ) l 1 x 2 dx  2l  (1  x 2 ) l 1 x 2 dx  1 (1  x ) x dx 
2 l 2 4

1 1
3
1 1
2 l (l  1)(l  2)
3
2 4 l (l  1)(l  2)(l  3)
1 1(1  x ) x dx 
2 l 3 2 l 4
 (1  x ) x 6
dx  8

3.5 3.5.7
.
.
.
1
x 2 l 1 2 l 1 l!
1
2 l l! 2 l l!
3.5.7...( 2l  1) 1 3.5.7...( 2l  1) (2l  1) 1
 x 2l
dx  
3.5.7....( 2l  1)(2l  1)
72

(2l  1)! (2l  1)2l (2l  1)( 2l  2)(2l  3)(2l  4)...


Uma vez que                 , os (2l  1)
( 2 l 1) termos

termos podem ser escritos agrupando os termos ímpares e pares


( 2l  1)!  ( 2l  1)( 2l  1)( 2l  3)....x 2l ( 2l  2)( 2l  4)...
               
( l 1) termos ímpares l termos pares

 
 ( 2l  1)( 2l  1)( 2l  3)...x 2 l l (l  1)(l  2)(l  3)...1  2 l l!( 2l  1)( 2l  1)( 2l  3)...
          
 l! 

1 1
( 2l )!
Nisto, J 
2 2l 1 (l!) 2
e tomando a equação
I  [ Pl ( x )] 2 dx  2 l 2
2 (l!) 1 
(1  x 2 ) l dx 
,
(2l  1)! 1
    
j

1 2
( 2l )! 2 2l 1 (l!) 2 2
  Pl ( x)
1
dx 
2 (l!) ( 2l  1)!
2l 2

2l  1

Por consequência disto, a condição de ortonormalidade dos polinómios de


1
2
Legendre pode ser escrita como  Pl ( x ) Pl  ( x ) dx   ll 
1
2l  1
73

A fórmula de Rodrigues e as fórmulas de recorrência das funções associadas de


Legendre.

Fórmula de Rodrigues
m

m (1  x ) d l  m 2 2 2
Pl ( x)  l l m
( x  1) l (0  m  1)
2 l! dx
Fórmula de recorrência

m
(l  m  1) P m l 1  (2l  1) xPl  (l  m) P m l 1  0
m 1 m m 1
(1  x 2 Pl  2mxPl  (l  m)(l  m  1) (1  x 2 ) Pl 0
m
dP m m
(1  x ) l  mxPl  (l  m)(l  m  1) (1  x 2 ) Pl
2

dx

A ortogonalidade e a normalização das funções associadas de Legendre


d   
m
2 dPl m2  m
A partir da equação  (1  x ) 
 l (l  1)   Pl  0 , multiplicando a por
dx  dx   1 x2 
Pl (x ) e integrando entre -1 e 1 obtém ´- se
1  d  2 dPl
m
  m2  m
 Pl  dx (1  x ) dx   l (l  1)  1  x 2  Pl  dx  0 . Esta relação pode ser escrita
m

1   
 2 m 2  m m 
m m
1
dPl dPl  
como   ( x  1)  l (l  1 )  P Pl  dx  0 e analogamente a isto,
2 l
1  dx dx  1  x  
1
 2 m m
dPl dPl   m 2  m m 
temos  ( x  1) l (l   1)   Pl Pl  dx  0
1  dx dx  1 x2  
1

Subtraindo esta última equação da anterior, temos  l (l  1)  l (l   1)  Pl Pl  dx  0 .


m m

1
1

Para l  l  temos P Pl  dx  0 e para l  l  , segundo a fórmula de Rodrigues,


m m
l
1
2

 P 
1 1
d m Pl d m Pl
 (1  x )
m
I  l ( x) dx  2 m
dx
1 1 dx m dx m
Integrando por partes
1
d m 1 Pl d  m
2 m d Pl
 1
d m 1 Pl d  m
2 m 1 d Pl 2 m d
m 1
Pl 
I   m 1  (1  x ) m 
dx    m 1   2 mx(1  x ) m
 (1  x ) m 1 
dx
1 dx
dx  dx  1 dx
dx  dx dx 
1 m 1
d m 1 Pl  m 1
d m Pl m 1
d m 1 Pl 
   (1  x 2 ) 2
  2 mx (1  x 2
) 2
 (1  x 2
) 2
 dx
1 dx m 1  dx m dx m 1 
74

m m
d
Se tivermos que usar a definição Pl m ( x)  (1  x 2 ) 2
m
Pl ( x ) , a integral acima
dx
pode ser escrita como
 
 dx
1 1 m 1
2mx Pl
I    Pl dx   
m 1 m m 1 m 1 m
 Pl  Pl (1  x 2 ) Pl  2mxPl
1  (1  x ) 2
 1 (1  x ) 2 e

pela fórmula de recorrência


m 1 m m 1
(1  x 2 Pl  2mxPl  (l  m)(l  m  1) (1  x 2 ) Pl  0,

 
1 m 1 1
Pl 2
I    (1) dx  (l  m)(l  m  1)  Pl
m 1 m 1
(l  m)(l  m  1) (1  x 2 ) Pl ( x) dx
(1  x 2 )
1 1

. Note que integrando esta última equação m vezes temos que


2 2

P  P 
1 1

 
m m2
l ( x) d x  (l  m )(l  m  1)(l  m  1)(l  m  2) l ( x) dx 
1 1

 (l  m)(l  m  1)...(l  m  k  1)  (l  m  1)(l  m  2). ..(l  m  k ) 


1
P l
mk
( x)  2
dx 
1
2

P 
1


0
 (l  m)(l  m  1)(l  m  2). ..(l  1)  (l  m  1)(l  m  2)...l l ( x) dx
1

 P 
1
0 2 2
Sabendo – se que l ( x) dx  , temos finalmente o seguinte resultado
1
2l  1
2

 P 
1
m 2 (l  m)!
l ( x ) dx  , de onde concluindo se nota que a condição das
1
2l  1 (l  m)!
2 (l  m )!
1

P u 
m
funções associadas de Legendre é dada por l ( x ) P m l  ( x)dx 
1
2l  1 (l  m )!
Atendendo que os coeficientes de normalização Alm das funções harmónicas
2 1 2
Alm
P Pl  dx  e i ( m  m ) d  1
m m
esféricas devem satisfazer 2
l , temos por
1
0    
2mm

2l  1 (l  m )!
implicação que Alm  .
2 (l  m )!
Finalmente, as funções harmónicas esféricas normalizadas podem ser escritas
2l  1 (l  m )! m
como Yl ( ,  )  Pl ( )e im
m

4 (l  m )!
75

A parte radial
Em conformidade com a expressão da separação de variáveis
 (r ,  ,  )  R (r )Ylm ( ,  ) , a parte radial é a solução da equação
1 d 2r 2m  e 2  2 l (l  1) 
( rR )   E    R  0 sujeita à condição de normalização
r dr 2 2  r 2m r 2 
 2


0
R ( r ) r 2 dr  1

Solução assimptótica e espectro de energia


 2

Considerando u (r )  rR (r )  
0
u (r ) dr  1 . Substituindo esta igualdade na

1 d 2r 2m  e 2  2 l (l  1) 
equação ( rR )   E    R  0 ,encontramos uma equação do
r dr 2 2  r 2m r 2 
tipo
d 2 u l ( r ) 2m  e 2  2 l (l  1) 
  E   u l ( r )  0
dr 2 2  r 2m r 2 

Note que para r  , a forma assimptótica de u (r ) obedece à equação


d 2u 2m E
2
  2 u   0 com   . Neste contexto, a solução que satisfaz a
dr 
condição u l (r )  0 para r  , B  0, é dada por u  ~ A e r
d 2 u 0 l (l  1)
Por outro lado, para r  0, u (r ) obedece a equação  u0  0
dr 2 r2
Admitindo que a solução seja da forma Ar  e que portanto,
 d
 dr Ar

 A r  1

 2
 d
Ar   A (   1) r   2
 dr 2

Temos A (   1)r   2  l (l  1) Ar   2  0   2    l (l  1)  0, deste modo,


l  1
1  ( 2l  1) 
   ou
2  l

l 1
A solução compatível com u 0 (r )  0 para r  0 é dada por u o ~ A0 r

Fica evidente que as equações u  ~ A e r e u o ~ A0 r l 1 sugerem que u (r ) tenha


a forma u (r )  r l 1e r v (r )
76

Então tem – se o seguinte:


 du l r  dv 
 dr  r e (l  1)v ( r )  rv ( r )  r dr 
  
 2
 
 d u  r l e lr r d v( r )  2(l  1  r ) dvl ( r )  l (l  1) r 1   2 r  2 (l  1) v ( r )
2

 2  2

 dr  dr dr

2m E
Tendo em conta que   e substituindo u (r ) incluindo suas derivadas na

d 2 ul ( r ) 2m  e 2  2 l (l  1) 
equação   E    ul (r )  0 obtém – se
dr 2 2  r 2m r 2 
d 2 v (r )  (l  1)  dv 2  1  2 0
2
 2         (l  1)  v ( r )  0 onde a   0,52 A
dr  r  dr r  a  me 2


Fazendo uma expansão de v(r ) em séries de potências, tem – se v( r )   bv r
v

v 0

dv ( r )
dr
  vb r
v 0
v
v 1

Daí advém 2 
d v(r )
dr 2
  v(v  1)b r
v 0
v
v2

Substituindo v(r ) e suas derivadas na equação


d 2 v (r )  (l  1)  dv 2  1 
2
 2      (l  1)  v( r )  0 resulta
dr  r  dr r  a 

  v  v  1  2l  2bv r v 2   2  2v  2 (l  1)bv r v 1   0


v 0 a 
Se tivermos que escrever todos os coeficientes em termos de r v 1 ,

 2 
 (v  1)[v  2l  2]bv  1    2v  2 (l  1)bv  r  0 obtém se assim a seguinte
v 1

v 0  a 
 1 
formula de recorrência (v  1) v  2l  2 bv 1  v  l  1  bv . Para v muito grande
 a 
bv 1 2
temos que ~ e portanto, com os coeficientes dados pela relação
bv v

 1  , a série será divergente para


(v  1) v  2l  2 bv 1  v  l  1  bv r  .
  a 
Note que se v (r ) for um polinómio em r , u ( r ) tenderá a zero quando r   , de
acordo com o comportamento sugerido na equação u (r )  r l 1e r v (r ) . Se para
um número inteiro não negativo k  l , chamado número quântico radial,
1 me 2
k  l 1   ( k  0,1,2...) fazendo n  k  l  1 (k  0,1,2,...)
a  ( 2m E )
77

n é o número quântico total. Estas formulações resultam em

me 2 1 e2
En     ( ) ( n  1,2,...)
2n 2  2 n 2 2a 2

Fórmula de energia de Bohr para um estado n com Z  1


Dessa maneira, os níveis energéticos do átomo de hidrogénio são quantizados em
consequência da anulação no infinito de solução radial de Schrodinger e são os
únicos valores possíveis correspondentes a soluções unívocas, finitas, contínuas e
de quadrado somável.

O estado fundamental e os primeiros estados excitados


As funções v( r ), u ( r )  R (r ) dependem dos inteiros n  l e são denotadas por
v nl (r ), u nl (r )  Rnl ( r ).

A auto função estacionária é caracterizada por três índices inteiros n, l  m e é


denotada por  nlm ( r ,  ,  ).
Dado que k  0  l  0 e (k  l )  Z
n  1  l  0 k  0
    
n 2 l 0,1 k 1, 0

n  3  l  0,1 ,2 k  2 ,1 ,0
n
  m  l  0, 1, 2,3, .. . (m  1) k  (m - 1 ).

A solução mais simples que corresponde ao estado fundamental, (n  1, l  0) é


1
dada por v10 (r )  b0  u10  b0 re r onde   .
a
Em conformidade com a condição de normalização,

r e  2r dr  1  b0  2  3 
2 2
b0
0    
1
4 2
r
1 1 
b0  2  3  ( ) 3  u10  2 ( ) 3 re a
a a
Para n  2 , tem / se duas soluções radiais, correspondendo a (
l  1, k  0)  (l  0.k  1). 1 me 2 1
da equação k  l 1   resulta  
Para (l  1, k  0),  a  ( 2m E ) 2a
 1  1
Da equação (v  1) v  2l  2 bv 1  v  l  1  bv 4b1  2 (2  )b0  b1  0
 a  a
2 r
Assim v 21 (r )  b0  u 21 (r )  b0 r e . E de acordo com a condição de normalização,
78


1 1
b 2 0  r 4 e 2r dr  1  b0  ( ) 3 r
2a a 3 , neste contexto, u 21 (r )  ( 1 ) 3 1 r 2 e 2 a .

0
    2a a 3
3
4 5

Para (l  0  k  1), v 20 ( r )  b0  b1 r .
1 me 2 1
Note que da equação k  l 1   resulta   e da equação
a  ( 2 m E ) 2a
 1  1
(v  1) v  2l  2 bv 1  v  l  1   bv , obtém (v  1)(v  2)bv 1  2 (v  1  )bv .
 a  a
1 1
Nesse caso, b1  b0 estão relacionados por 2b1  2 (1  )b0  b1   b0 , logo,
a 2a
r b r
)  u 20 (r )  0 ( 2  ) re r . Note que de acordo com a condição de
v 20 (r )b0 (1 
2a 2 a
normalização temos
2
2 
    
r 1 1
  (1  2a ) r 2 e r dr  b0   r 2 e  2r dr  r e  2r dr  r e  2r dr 
2
1 u 20 ( r ) dr  b0 2 3 4

0 0 0 a 0 4a 2 0 
2 1 1 3 3 1
Estas três integrais já foram calculadas e portanto, b0  3   * 2   1.
 4 a 8 16
4 5
a 
3 r
1 1 1 3 r 
Substituindo    b0  2 ( ) , nisto, u 20 ( r ) 
) (2  )re 2 a . (
2a 2a 2a a
u (r )
Neste caso, as funções radiais de Schrodinger Rnl (r )  nl são dadas para os
r
valores mais baixos de n  l , por
r
1 
n 1 l0 R 10  ( ) 3 2e a
a
r
1 3 r 
n2 l0 R 20  ( ) ( 2  )e 2 a
2a a
r
1 3 r 
n  3 l 1 R 21  ( ) e 2a
2a a 3

A função radial e os polinómios de Laguerre

A solução radial do átomo de hidrogénio depende das funções associadas de

Laguerre, Ln (x) que satisfazem a equação de Laguerre xy   (k  1  x) y   ny  0


k

A solução desta equação pode ser expressa em termos dos polinómios ordinários
de Laguerre Ln ( x) satisfazendo a equação
xy   (1  x) y   (n  k ) y  0 . Diferenciando k vezes esta equação obtém se

xy ( k  2)  (k  1  x) y ( k 1) ny ( k )  0
79

Fazendo uma comparação das equações xy ( k  2)  (k  1  x) y ( k 1) ny ( k )  0 e


xy   (k  1  x) y   ny  0 pode se concluir facilmente que se Ln  k é um polinómio

que é solução da equação xy   (1  x) y   (n  k ) y  0 , então sua derivada de ordem


k é um polinómio que é solução da equação de Laguerre, dado por

dk
Lkn ( x )  Ln  k ( x )
dx k
Para o caso específico do átomo de hidrogénio, as funções radiais são dadas pelas

u nl (r )
equações u (r )  r l 1e r v(r ) e Rnl (r )  , resumidamente pela equação
r

k
1
Rnl (r )  r l e r v nl (r ) , na qual v nl (r )   bvr
v 0
v
,n  k  l 1 
a
1
Já com a fórmula de recorrência temos (v  1)(v  2l  2)bv 1  2 (v  l  1  )b0
a

( 2m E ) 2 .
onde   a 
 me 2

Os polinómios v nl (r ) satisfazem a equação

d 2 vnl l 1 dv v
2
 2(   ) nl  2(n  l  1) nl  0
dr r dr r
Esses são os polinómios associados de Laguerre, de grau ( n  l  1)
2r 2l  3
Com a mudança de variáveis   2r  , segue se que v ( )  2 ) 2 L2 l 1 ( )
na nl n  l 1

Apesar do sucesso na determinação do espectro de hidrogénio e na predição das


linhas espectrais com base nas regras de selecção, a teoria de Schrodinger não
explicava a estrutura fina do espectro. Por exemplo, enquanto a previsão é de uma
o
única linha, de comprimento de onda de 6563 A, correspondente a transição entre

0
os níveis 3s e 2p, na realidade ocorrem duas linhas separadas de 1,4 A .
80

Note ainda que se um átomo estiver sob acção de um campo magnético, de acordo
com a regra de selecção, cumpre –se m  0,1.
No contexto, espera – se um efeito Zeeman normal, com a divisão de uma linha
espectral em três componentes, conforme previsto também pelo electromagnetismo
clássico. Contudo, a observação mais frequente é o aparecimento de quatro, seis
ou mais componentes, correspondendo ao efeito Zeeman anômalo.
As tentativas de Sommerfeld, Landé, Pauli, Ralph Kronig e Tomas, os holandeses
George E. Uhlenbeck e Samuel Goudsmit, em 1925, permitiram sugerir mais um
grau de liberdade para o eléctron, um momento angular intrínseco, o spin,
independente do momento angular orbital e portanto, de qualquer interacção.

Apesar das auto funções do momento orbital ( L ), Yl ( ,  ), dependerem das
m

coordenadas angulares    , as acções dos operadores L2  Lz podem ser


apresentadas como
 2
 L l , ml   2 l (l  1) l , ml l  0,1,2,...

L z l , ml
  ml l , ml m L
 0,1,2,...  l

Os inteiros l  ml são os números quânticos orbital e magnético.


O espectro de auto valores associados ao spin do eléctron é semi –inteiros, e a

acção dos operadores correspondentes S 2  S z , são denotadas como


 2 1
 S s, m s   2 s ( s  1) s, m s s 
 2

S s, m 1 1
 z s  m s s , m s ms   ,
 2 2

Onde os semi – inteiros s  m s são os números quânticos do spin.


Os auto estados associados do spin, não dependem de coordenadas espaciais.
A partir do conceito de spin, foram explicados não só a estrutura fina do espectro
de emissão ou absorção dos átomos, como um grande número de outros efeitos
que ocorrem nos fenómenos microscópicos.
Sob a acção de um campo magnético na direcção z , um feixe de raios excitados,
com momento angular orbital l .se desdobraria em 2l  1 feixes, que seria
detectados como traços paralelos em um anteparo.
81

Como prova de que para átomos no estado fundamental (l  0), sempre eram
observados apenas dois traços correspondentes a dois valores no momento bipolar
magnético   b   b , foram de grande destaque os experimentos dos Alemães Otto
Stern e Walther Gerlach em 1922.
Segundo Goudsmit e Uhlenbeck, seria possível ter uma explicação compatível para
os resultados dos experimentos de Stern e Gerlach, com apenas dois autovalores
para a projecção do momento dipolar magnético na direcção z , se se atribuísse ao

eléctron um momento angular intrínseco (S ) , cujos autovalores para S 2 e S z
fossem dados pela equação
 2 1
S s, m s   2 s ( s  1) s, m s s 
 2

S s, m 1 1
 z s  m s s , m s ms   ,
 2 2

Os semi- inteiros s e m s são os números quânticos do Spin.


 
Neste contexto, o momento dipolar (  s ) seria dado por  s   g s  l S
e
Onde g s  2   s  .
m
O princípio de Pauli é que trouxe a principal aplicação do conceito de Spin.
O estado normal do átomo de hidrogénio é o estado fundamental, no qual o
eléctron encontra – se em seu nível de energia mais baixo. Neste caso, duas
questões se colocam:
Qual seria o estado fundamental de um átomo multielectrónico? Estariam
todos os eléctrons com a mesma energia?
Pauli, embora tenha aceite o conceito de Spin, em 1925, propõe o princípio
de exclusão para explicar a estrutura electrónica dos átomos. Este princípio
estabelece que os números quânticos incluindo os de Spin, que caracterizam dois
eléctrons não podem ser todos simultaneamente iguais.
Em 1927, Pauli apresentou uma equação capaz de descrever
fenomenologicamente a dinâmica da interacção entre uma partícula com spin e um
campo magnético. Sua equação corresponde ao limite não relativístico da equação

2  mc 
relativística de onda para o eléctron ( H 2   2    2 c 2   2  ( ) 2 
t 2
  

estabelecida por Dirac em 1928.


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Bibliografia

Alonso M. & E. Finn – Física – Addison – Wesley Ibero American, Espanha 1999.
Landau, L. Mecânica quântica – tomo 3.1. – Editora Moscovo 1985.
Landau, L. Mecânica quântica – tomo 3.2. – Editora Moscovo 1985.
Stephen Gasiorowicz – Física quàntica – Rio de Janeiro 1974
Robert Eisberg e Robert Resnick, Física quântica – Brasil, 1979.

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