Emoção e afetividade.
Arte e Educação, um estudo de caso.
O espetáculo Felicidade realizado na escola de tempo integral
Professora Maria Nosídia Palmeira das Neves - Goiânia 2014
Goiânia/GO
2017
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Emoção e afetividade.
Arte e Educação, um estudo de caso.
O espetáculo Felicidade realizado na escola de tempo integral
Professora Maria Nosídia Palmeira das Neves - Goiânia 2014.
Goiânia/GO
2017
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do
Programa de Geração Automática do Sistema de Bibliotecas da UFG.
CDU 316
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AGRADECIMENTOS
Emoção e afetividade.
Arte e Educação, um estudo de caso.
O espetáculo Felicidade realizado na escola de tempo integral
Professora Maria Nosídia Palmeira das Neves - Goiânia 2014
RESUMO
Este trabalho examina o papel da emoção e do afeto nos processos cognitivos e, ainda, a
ligação entre afetividade e inteligência, a partir das experiências com atividades artísticas
realizadas na Escola Municipal de Tempo Integral Professora Maria Nosídia Palmeira das
Neves, do município de Goiânia–GO, desenvolvidas no ano de 2014 com a construção
espetáculo Felicidade. Aborda aspectos das experiências e perspectivas do ensino integral no
Brasil, resgatando o modelo de educação do Serviço de Ensino Vocacional de Maria Nilde
Mascelani (1931-1999) em São Paulo e apresentando a construção pedagógica para o tempo
ampliado nas escolas da rede municipal de Goiânia. Neste cenário, com base na pesquisa de
campo, procura refletir sobre os processos emocionais e afetivos que envolvem o
desenvolvimento da criança, tais como estabelecidos nos escritos de Wallon (1879-1962),
Vygotsky (1896-1934) e Piaget (1896-1980), e busca conexões com os movimentos das artes
e a estruturação do conhecimento.
ABSTRACT
This work examines the role of emotion andaffectionin the cognitive processes, as well as the
connection between affectivity and intelligence, from the experience with artistic activities
within the context of the full timeschool through the construction of the show Felicidade
(Happiness), held at the Municipal School Professora Maria Nosídia Palmeira das Neves in
the municipality of Goiânia - GO, developed in the year 2014. Initially it deals with
experiences and perspectives of integral education in Brazil, rescuing the model of education
of the Service of Vocational Education of Maria Nilde Mascelani (1931-1999) and presenting
the pedagogical construction for the extended time in the schools of the municipal network of
Goiânia. In this scenario, based on the field research, it seeks to understand the emotional
and affective processes that involve the development of the child, as established in the
writings of Wallon (1879-1962), Vygotsky (1896-1934) and Piaget (1896-1980) seeking
connections with the movements of the arts and the structure of the knowledge.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
O que será que nos move?
Experienciei “minha” primeira sala de aula aos 14 anos, no ano de 1990. Fui
encaminhada para o mercado de trabalho pelo programa “Núcleo de Apoio ao Pequeno
Trabalhador”, implementado pela Lei nº 9.402 de 02 de dezembro de 1983, executada pela
extinta Fundação Estadual do Bem Estar do Menor, que, naquela época, conduzia crianças e
adolescentes entre 14 e 17 anos ao primeiro emprego. Auxiliar de sala? Que nada, professora
mesmo, no Departamento Assistencial Maria Dolores, no Setor Esplanada do Anicuns,
periferia da zona oeste de Goiânia.
Naquela época, iniciando minha vida profissional, a única experiência com
crianças que eu trazia na bagagem era a de servir refeições às crianças carentes e ainda lavar
entre 180 a 200 pratos após um almoço solidário. Isso acontecia uma vez por mês, aos
domingos, promovido por um grupo de oito a dez pessoas, organizadas pela Igreja Espiritual
São Cosme e Damião, na Vila João Vaz, em Goiânia. Minha mãe era a fundadora e, além
deste trabalho, ela também nos conduzia a visitas em asilos e hospitais mensalmente. Três
vezes por semana também estudávamos e pregávamos os ensinamentos das obras de Allan
Kardec1.
No Departamento Assistencial Maria Dolores eu era responsável por 12 crianças,
com idade entre 4 e 7 anos, que ficavam numa pequena sala sem espaço, ventilação,
brinquedo e, para completar, com uma professora desesperada e sem saber o que fazer. Foi
sofrido; porém, naquela turma, descobri que, apesar da ausência de recursos, o afeto rompe
barreiras e a emoção que pulsa forte o tempo todo e, algumas vezes, esta pode vir a se tornar
uma explosão de choro, de mordidas, de tapas e de agressões que, com um pouco de atenção,
uma brincadeira interessante, uma boa dramatização de história, uma canção, uma dança,
pode aos poucos se transformar.
Após essa experiência não parei mais: terminei o magistério no ano de 1993, no
1
Hippolyte Léon Denizard Rivali, pseudônimo, Allan Kardec (1804-1869), foi propagador da doutrina espírita.
Foi educador, escritor e tradutor francês. Entre os anos de 1855 e 1869 dedicou-se a estabelecer as bases da
Codificação Espírita, no aspecto filosófico, científico e religioso.
16
certeza era que “se desse tempo”, podíamos criar um clima de descontração, interesse e
alegria, digo isso porque era o que eu notava em cada um deles quando cantavam,
dramatizavam histórias ou podiam fazer desenhos livres. E se eles pudessem falar o que
pensavam dos desenhos, contar a sua história, experimentar, dançar, imitar, brincar? Não
haveria de ter hora melhor! Fui entendendo aos poucos que só por isso, talvez, me sentia
querida, conseguia ter meu trabalho reconhecido e ainda recebia elogios de algumas mães,
porque seus filhos gostavam de mim. Havia nessa prática possíveis momentos de alegria.
Vieram, com o tempo e pela experiência, as turmas de adolescentes, de adultos e
de alunos com maiores dificuldades físicas e ou de aprendizado. Foi então, que eu percebi que
precisava de novas estratégias, novas atitudes que promovessem uma reflexão e imaginação
que ultrapassassem a mera experiência comum. Sem poder pagar por meus estudos, fui atrás
de bolsas, de cursos gratuitos e de palestras (juntos somam hoje mais de 60 pequenos cursos
de formação continuada). Aos poucos amadurecia e sonhava já com o mestrado na
Universidade Federal de Goiás (UFG), logo após terminar o curso de pedagogia na
Universidade Estadual de Goiás (UEG) em 2005, porém, isso parecia um sonho inalcançável.
Eu queria fazer o melhor na minha vida pessoal e profissional. Amava as palestras
sobre o desenvolvimento cognitivo, o desenvolvimento cerebral e a aprendizagem da criança,
interesse que desenvolvi durante o curso de pedagogia. Por força do destino ou pelo esforço e
dedicação ao meu trabalho, fui contemplada com bolsas para fazer especialização e não tive
dúvidas de que eu, naquele momento, queria compreender os processos do desenvolvimento,
aprendizagem humana e suas relações.
Entre tantas descobertas, uma das maiores nesta trajetória de estudos, quando
repenso minha prática pedagógica e até mesmo minha formação pessoal, foi a compreensão
de que cada indivíduo desenvolve uma maneira própria para aprender, que cada pessoa pode
desenvolver com maior intensidade um ou outro determinado sentido. É, então, necessário
que haja estratégias de ensino diversificadas, envolvendo o máximo possível de órgãos dos
sentidos de possibilidades afetivas, motoras e perceptivas de cada indivíduo.
Aprendi em Piaget e Vygotsky, pelos estudos da psicopedagogia, que o indivíduo
deve ser compreendido por sua história pessoal, cultural e biológica, que ele se subdivide em
um mundo interno e outro externo e que, mesmo dotado de diferentes graus de
complexidades, todo indivíduo pode desenvolver-se.
Com os estudos da neuropedagogia e da psicanálise descobri a força natural que
nos move rumo ao aprendizado, mesmo se estivermos tomados por neuroses ou psicoses. Vi a
18
beleza da regeneração, da busca por caminhos alternativos diante de uma ou outra inabilidade
cerebral. Desenvolvi um olhar mais atento às minhas particularidades e para as crianças e as
pessoas com as quais eu convivia. Na verdade, na busca por um caminho que me ensinasse a
contribuir com os que tinham maior dificuldade de aprendizagem, creio que o que mais me
motivava era meu desejo de me sentir capaz. Necessidade que só compreendi após ser
diagnosticada com o já famoso TDAH, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
Neste percurso, o primeiro curso de especialização foi o de Psicopedagogia Clínica
e Institucional em 2010, pelo Instituto Saber, uma empresa de Brasília que oferece cursos de
especialização e consultoria em alguns estados. Depois Neuropedagogia e Psicanálise em
2012, pela mesma instituição. Concluí também um Master of Business Administration (MBA)
em Gestão de Pessoas em 2012, pela Universidade Alves Faria (ALFA); Língua Brasileira de
Sinais 2012-2014 no Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento
às Pessoas com Surdez (CAS), entre outros tantos que me propiciaram uma espécie de
“formação continuada”. Contrastavam com meu laboratório de chão da escola, com as trocas
de vivências e experiências com professores, alunos e pais, as respostas da comunidade e as
reações de cada um diante das trocas de afeto e atenção que geralmente eram possíveis em
dias em que a escola proporcionava ações que fugiam às regras da sala de aula.
Nas festividades, por exemplo, havia momentos nos quais, por meio de atividades
específicas com as artes, todos pareciam ter mais tempo, mais liberdade e mais alegria,
aproximando-se uns aos outros em um movimento diferente, eu percebia haver uma troca
mais intensa entre as pessoas e as bagagens que traziam. Passei então a me interessar mais por
momentos de interação em sala; comecei a tentar passar conteúdos com música, com dança,
com teatro, com obras de arte e criação de imagens, sempre de uma forma bem simples, pois
eu não compreendia ainda os movimentos da arte e também não tinha formação em educação
artística. Eu só tinha certeza de que aquelas atividades, em suas aparentes limitações, davam
um brilho especial em minha prática pedagógica e nas minhas relações com meus alunos.
Em sala de aula, também era possível captar uma expansão da experiência quando
cantando, brincando, dançando ou dramatizando histórias as crianças pareciam estar
vivenciando um relacionamento diferente umas com as outras e até com elas mesmas, como
se, naquele momento, pudessem mostrar o que era próprio delas, o que sabiam, do que eram
capazes. Demonstravam liberdade para fazer o que as outras crianças e adultos faziam, porém
do seu jeito próprio. Uma vivência que parecia fugir dos ditames da sala de aula, mas ao
mesmo tempo se adequava a ela.
Desenvolvendo esta percepção prossegui com minha formação teórica e prática.
19
Fui professora de educação infantil, alfabetizadora. Atuei nos 6 primeiros anos do ensino
fundamental, na Educação de Jovens e Adultos (EJA) e ministrei cursos para formação de
professores em escolas de Goiânia e Aparecida de Goiânia. Cheguei a trabalhar com todas as
disciplinas da grade curricular; fui bibliotecária e auxiliar de secretaria na Escola Municipal
Professora Leonísia; auxiliar de secretaria Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI)
Sara e Rebeca; secretária geral na Escola Municipal Marcos Antônio e na rede privada Escola
Monteiro Lobato; coordenadora pedagógica na Escola Municipal Santa Tereza de Ávila e na
Escola Municipal Recanto do Bosque; assistente educacional na Escola Amélia Cândida
Brasil; diretora pedagógica da Organização Não Governamental (ONG) Centro de Formação
Integral; diretora do Centro de Educação Municipal Irmã Lídia e intérprete de língua de sinais
na Escola Municipal Maria Nosídia.
Atuei praticamente em quase todas as áreas da educação, buscando aprender e
aperfeiçoar-me, primeiramente como pessoa, na expectativa de desenvolver um olhar mais
sensível aos outros, entendendo que esses outros (alunos, pais, colegas de trabalho e
comunidade) esperavam algo muito importante de mim. Ao tomar conhecimento do seu papel
enquanto membro do meio social, homens e mulheres são capazes de buscar maneiras de se
colocar como alguém que interfere nas mudanças e não apenas assisti-las de forma passiva.
Nessa perspectiva, entendo que a educação assume papel fundamental, haja vista que
favorece, através da escola, os meios e os instrumentos para que o homem se aproprie da
cultura humana construída ao longo da história. Essa apropriação lhe permite um
entendimento mais amplo da realidade, instrumentalizando-o teoricamente, para que entenda
e atue sobre as transformações sociais.
Foi no ano de 2012, em um momento reflexivo e descontraído entre amigos, parei
para pensar no que já havia feito em minha trajetória pessoal, profissional e estudantil entre os
anos de 1990 a 2012. Em minha infância, ajudava minha mãe a selecionar verduras
aproveitáveis no lixão da Central de Abastecimento Alimentar (Ceasa) de Goiânia, para que
tivéssemos alimento garantido em casa, meus pais tinham pouco estudo e não tiveram uma
profissão qualificada. A adolescência me ensinou que a caridade pode dar sentido à vida de
alguém e que muitas pessoas precisam de mais ajuda que nós mesmos. A vida adulta
oportunizou-me ser uma profissional e, a maior de todas as dádivas, ser mãe. Adquiri com o
suor do meu trabalho minha casa própria e sou a única responsável por meu filho.
Compreendi após minha reflexão o quanto eu era capaz, mesmo dotada de limitações de toda
ordem, mas quem não as tem? Percebi também que eu precisava ir além, pois sabia o que me
motivava.
20
Decidida a entrar no mestrado, estudei por seis meses participando como aluna
especial do programa de mestrado interdisciplinar em Performances Culturais da
Universidade Federal de Goiás (UFG). Impulsionada pelo desejo que me tocou aos 14 anos
em minha primeira sala de aula, enfrentei a seleção de mestrado. Não pensara em cursos na
Escola de Educação, pois queria atravessar outras fronteiras. Eu queria ver por outras lentes,
pensar como enxergavam os artistas, filósofos, sociólogos e historiadores entre outros. Minha
primeira e melhor opção para repensar o afeto e a emoção pela arte no ensino educacional foi
então o mestrado interdisciplinar em Performances Culturais, como uma ponte de
oportunidades para a busca de um conhecimento mais amplo e inovador que contemplasse a
essência humana, suas subjetividades e relações.
Assim, refletir sobre momentos em que a emoção e o afeto estão presentes nas
ações e relações no trabalho com as artes, dentro da escola em tempo integral, tornou-se meu
objeto de pesquisa. E como isso seria possível? Inicialmente, ancorada apenas nos saberes de
Wallon e Vygotsky decidi que meu caminho seriam os estudos das relações entre a arte e a
afetividade, especificamente pela prática da dança. As primeiras discussões com meu
orientador me conduziram à percepção da importância de incluir os achados de Piaget e ainda
me mostraram o quão mais enriquecido seria meu propósito, se eu realizasse um estudo de
caso que contemplasse outras atividades artísticas além da dança, considerando que o campo
de pesquisa escolhido apresentava um histórico de trabalhos com o teatro e a música. Foi
então que, mesmo insegura, debrucei-me nesta busca.
Na Escola Professora Maria Nosídia, tive a oportunidade de vivenciar várias
construções coletivas que desembocavam em inúmeras apresentações de teatro, dança,
música, jogos e brincadeiras, em muitas delas percebia um envolvimento dos alunos, dos
funcionários, da família e da comunidade de uma forma que eu ainda não havia experienciado
em mais de duas décadas como profissional da educação. Ali, iniciei minha pesquisa
documental, realizando observações, leituras do acervo pedagógico e histórico e anotações
durante os anos de 2013, 2014 e parte de 2015. Em 2016, após autorização do comitê de ética
da Universidade Federal de Goiás, desenvolvi a pesquisa de campo por meio de entrevistas
que envolveram alunos, profissionais, pais e responsáveis da referida comunidade escolar.
Dentre tantas ações com as artes, acompanhei, no ano de 2014, por alguns meses, a
construção do espetáculo Felicidade, um projeto inicialmente escrito pela professora de
música Karliene Araújo e Silva, da Escola Professora Maria Nosídia, com o objetivo de ser
selecionado pelo Projeto Mais Cultura, do Governo Federal. Com base na reflexão sobre este
espetáculo é que convido os leitores a pensarem sobre as possibilidades da arte como
22
2
“Os signos externos, de que as crianças em idade escolar necessitam, transformam-se em signos internos,
produzidos pelo adulto como um meio de memorizar” (VYGOTSKY, 1989, p. 51).
26
as releituras durante o processo de escrita desta pesquisa. Dessa forma, para facilitar a
compreensão, após o nome de alguns livros, encontram-se os anos das edições separados por
ponto e vírgula e geralmente seguidos pelo ano da obra original entre colchetes. A revisão
bibliográfica teve ainda como propósito a construção de uma contextualização para o
problema e a análise das possibilidades presentes na literatura consultada para a concepção do
referencial teórico da pesquisa. Os resultados desse percurso investigativo encontram-se nesta
dissertação, divididos em três capítulos, conforme sínteses apresentadas a seguir.
O primeiro capítulo aborda uma breve trajetória do ensino em tempo integral no
Brasil, o que foi possível desde os anos de 1930; e década de 1960; as perspectivas das
décadas de 1980 e 1990. Aborda experiências como as do ensino nos Ginásios Vocacionais de
São Paulo na década de 1960. É apresentada esta proposta pedagógica, permeada por
instrumentos de mediação (objetos, espaços e pessoas), e análises de interesses, reações,
interações, supostamente dotadas de emoção e afeto. Descreve-se aqui um ensino que
compreende que a aprendizagem e o desenvolvimento podem partir da ação do aluno e ser
esse ensino permeado pelos conhecimentos do professor de forma crítico-reflexiva, mesmo
que, com fins de determinação político e sócio-histórico-cultural.
Além de apresentar um modelo de educação paulista que repercutiu muito, mesmo
com as retaliações da era militar, esse capítulo traz também dados da história do ensino da
Rede Municipal de Goiânia, seu processo de implantação e de acompanhamento das escolas
em tempo integral e algumas perspectivas para uma nova modalidade de educação na cidade.
Relata a trajetória da rede municipal com base em uma investigação com base nas memórias
de alguns servidores, tendo em vista que são poucos os registros documentais que tratam
especificamente da sua história. O acervo documental da Secretaria Municipal de Educação é
composto por ofícios, decretos, circulares e comunicados, além de basear-se nas leis
municipais e federais que regem a educação no Brasil.
Esse capítulo também tem como propósito desenvolver uma consciência crítica,
tendo em vista as inúmeras mudanças das últimas décadas nas organizações familiares. Pensar
o que temos e o que queremos para as crianças que precisam da escola em tempo integral e
que tipo de cultura é possível criar nestes ambientes.
O segundo capítulo descreve a fundação e trajetória da unidade escolar que é o
campo de pesquisa deste estudo de caso, sua história, metodologia e organização. Explica os
motivos pelos quais a Escola Municipal Professora Maria Nosídia Palmeira das Neves foi
selecionada para a pesquisa e a descrição dos métodos de trabalho usados com os alunos,
27
equipe e comunidade escolar. Descreve também quem são e o que pretendem os envolvidos
no objeto de estudo dessa pesquisa. O espetáculo Felicidade é descrito por meio de trechos
das entrevistas realizadas, destacando-se como se originou e todo o seu processo de
construção. Foram também abordados junto aos profissionais, atores, pais e comunidade os
sentimentos e sensações que lhes perpassaram, as mudanças sentidas em suas rotinas, relações
e comportamentos, tudo isso aliado a uma reflexão teórica das abordagens clássicas de
Wallon, Vygotsky e Piaget, além de algumas pontuações de teóricos da atualidade. As
relações, as interações a as subjetividades foram apresentadas de forma objetiva e reflexiva a
fim de apontar os processos afetivos e a construção do conhecimento. Será possível conhecer
nesse capítulo toda a história de que trata esta minha narrativa.
O terceiro capítulo desta dissertação aprofunda um pouco mais estes três teóricos
diversos, que se preocuparam com o processo das emoções e do afeto no desenvolvimento das
funções psicológicas, cognitivas, da aprendizagem e do desenvolvimento: Wallon, Vygotsky e
Piaget. Aborda a experiência artística como promotora de sensações e emoções que podem
compor o conhecimento e a personalidade. Trata a extensão da vida nas relações de interação
e mediação concebidas pelo indivíduo, sociedade, cultura, recursos, instrumentos e processos
históricos numa perspectiva científica, biológica e subjetiva. Uma escrita que pretende
apontar o trabalho conjunto da emoção, do afeto e da cognição para o desenvolvimento e a
aprendizagem, além de revelar o quanto a experiência artística potencializa esses processos.
Por esses caminhos, proponho reflexões sobre os processos emocionais e afetivos
promovidos pela experiência das performances artísticas em um ambiente escolar com tempo
ampliado, para, entre outras, responder à questão principal desta pesquisa: Como se poderia
dar continuidade, no ambiente escolar, aos processos afetivos e cognitivos iniciados nos
primeiros anos de vida, se a criança vai para a escola em tempo integral e passa a vivenciar
situações completamente fora de sua relação familiar, distanciando-se de seus pais, de suas
trocas, de seus pertences e de seu tempo de brincar livre, para ficar o dia todo dentro da
escola?
28
CAPÍTULO 1
rede pública de ensino fundamental, apenas 4,3 milhões tinham jornada ampliada. Um
crescimento de 500% em relação a 2008, quando a modalidade atendia pouco mais de 700 mil
estudantes (BRASIL, 2014), mas ainda tímido.
Devido às mudanças históricas e culturais, além de uma necessária reflexão sobre
os processos educacionais internos e externos, este estudo realiza um exame específico sobre
o desenvolvimento humano na experiência com as artes na escola de tempo integral. Procura
entender algumas características da escola de tempo integral, tendo em vista as leis recentes
que preveem a ampliação do tempo da criança na escola, uma vez que, a cada década, é
maior a necessidade de um espaço onde as crianças possam ficar por mais tempo, para sua
família trabalhar.
Grandes angústias são geradas em torno do assunto em Goiânia, uma vez que, na
última década, foi crescente o número de escolas que deixaram de ser regulares para se
tornarem de tempo integral. Estas ainda não apresentam uma estrutura adequada que
comporte com qualidade e segurança os alunos no tempo ampliado, por isso, torna-se viável
que conheçamos o caminho por onde tem passado a educação integral a fim de que
desenvolvamos uma profunda percepção sobre o assunto e se possa auxiliar em sua melhoria.
Este capítulo pretende apresentar pequenas partículas de dados históricos sobre o
ensino em tempo integral no Brasil e na rede municipal de educação de Goiânia, na
perspectiva de expandir experiências positivas e abrir janelas para a imaginação de novas
estruturas e de seu funcionamento para o contexto do ensino em tempo integral. É necessário
que se conheça de alguma forma o que foi possível desde os anos de 1930; na década de
1960; as perspectivas das décadas de 1980 e 1990 e os caminhos percorridos pela educação do
município de Goiânia. Um meio para uma reflexão acerca de um assunto que deve permear a
vida dos brasileiros nas próximas décadas, uma vez que, a cada dia, nossa cultura se
transforma e transforma com ela a instituição familiar e suas necessidades.
Nos anos 30 discutia-se a construção do Brasil moderno via Estado [...], buscava-se
a construção da nacionalidade [...]. Em 1932 foi divulgado o “Manifesto dos
Pioneiros da Escola Nova” em defesa da gratuidade, laicidade, obrigatoriedade, co-
educação e Plano Nacional de Educação [...]. O “Manifesto dos Pioneiros da Escola
Nova” lançou as bases para os temas discutidos no decorrer das décadas de 50 e 60.
[...] No final dos anos 50 já existia um forte movimento a favor de transformações
no ensino secundário [...]. Nos anos 60, em todas as esferas – política, cultural,
educacional -, viveu-se um momento de intensa criação na busca do novo, da
construção de um mundo onde vicejassem a liberdade, a possibilidade de
participação social e política para todos, a democratização do acesso aos bens
superiores da educação e da cultura (TAMBERLINI, 2001, p,15-30).
3
Anísio Teixeira, ao lado de Paulo Freire, foi um dos grandes educadores nascidos no Brasil. Estudou na
Universidade de Columbia (EUA) onde conviveu com o pedagogo John Dewey. Em 1931 foi Secretário da
Educação do Rio de Janeiro. É de 1932 o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, assinado por ele e vários
intelectuais, que solicitava urgência na resolução dos problemas nacionais, para ele nenhum era maior em
importância e gravidade ao da educação. Em 1935, com sua participação, foram criadas a Universidade de
Brasília e a Universidade de São Paulo, modelos de ensino superior do Brasil.
31
(TEIXEIRA, 1996 [1968]) uma de suas preocupações principais consistia em elaborar uma
educação que socializasse e envolvesse a cultura, preparando para o trabalho e para a
cidadania.
Teixeira pensou a educação em um processo contínuo de crescimento e
desenvolvimento, algo a ser construído e descoberto. Suas hipóteses levaram a novas
organizações no interior da escola. Considerando a experiência e a necessidade da
diversificação, ideia que aparece no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932,
entendia que era preciso:
Já não se trata de escolas e salas de aula, mas de todo um conjunto de locais em que
as crianças se distribuem, entregues às atividades de ‘estudo’, de ‘trabalho’, de
‘recreação’, de ‘reunião’, de ‘administração’, e de vida e de convívio no mais amplo
sentido desse termo (TEIXEIRA, 1961, p. 197).
A escola deve ensinar a todos a viver melhor, a ter a casa mais cuidada e mais
higiênica; a dar às tarefas mais atenção, mais meticulosidade, mais esforço e maior
eficiência; a manter padrões mais razoáveis de vida familiar e social; a promover o
progresso individual, através dos cuidados de higiene e os hábitos de leitura e
estudo, indagação e crítica, meditação e conhecimento (TEIXEIRA, 1997[1936], p.
82).
32
Apenas em 1957, em sua obra Educação não é privilégio, Anísio Teixeira passa a
defender o horário integral, prevendo um modelo de escola que não atendesse apenas a classe
média e a alta. Para Teixeira (1994 [1957], p. 63), era preciso, em tempo integral, oferecer um
programa com “atividades práticas, dar-lhe amplas oportunidades de formação de hábitos de
vida real, organizando a escola como miniatura da comunidade, com toda a gama de suas
atividades de trabalho, de estudo, de recreação e de arte”. Uma forma de oferecer
“oportunidades completas de vida, compreendendo atividades de estudos, de trabalho, de vida
social e de recreação e jogos”, pois, para ele, o homem se desenvolve na ação, no fazer
(TEIXEIRA, 1994 [1957], p. 162).
Teixeira também considerou a relação necessária entre a qualidade do ensino em
tempo integral e a adequação do prédio escolar. Idealizou, em 1950, um modelo de complexo
escolar que atendesse a nova proposta e iniciou com o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, a
Escola Parque e um conjunto de várias escolas em Salvador. O propósito era de que estas
escolas funcionassem como uma universidade infantil e que a vida dos alunos lá dentro se
assemelhasse à vida em sociedade fora da escola. Para isso, as “universidades infantis”
desenvolveriam cursos de corte e costura, marcenaria, trabalho sobre couro, além de cursos de
arte. Partiu dele, na LDB de 1961, a proposta de instauração do dia completo para as duas
últimas séries do ensino primário que passou também a ser ampliado para seis anos.
Com a ditadura militar iniciada em 1964, Anísio Teixeira foi afastado da vida
política, aposentado compulsoriamente, e os Centros Educacionais idealizados por ele foram
interrompidos A educação integral no Brasil só ressurge por volta da década de 1980. Porém,
ainda na década de 1960 podemos citar um trabalho significativo que propôs uma dinâmica
escolar em tempo integral efetiva em algumas escolas públicas do estado de São Paulo que
conseguiu durar até 1969. Esse trabalho é parte integrante das memórias da educação integral
no Brasil e ficou registrado na memória afetiva de muitos alunos e professores paulistas.
O Ginásio Vocacional de São Paulo ficou marcado na história e na vida dos
pioneiros, dos que fizeram parte desta única experiência de ensino integral. É notório que
serve como ponto de partida para uma análise do que possa ser hipoteticamente um ensino
completo e integral, pois buscou promover de forma efetiva e afetiva uma educação formal e
humana, de acordo com os moldes da época. Apresentarei em breves linhas o trabalho dos
Ginásios Vocacionais da década de 1960, no Estado de São Paulo, uma experiência
abruptamente interrompida em dezembro de 1969.
Consta no Diário Oficial de 14 de fevereiro de 1965 que o processo de criação dos
33
Vocacionais iniciou-se entre os anos de 1950 e 1960, tendo sua primeira unidade inaugurada
pelo decreto de 13 de fevereiro de 1962. Para refletir sobre o ensino vocacional no Brasil, é
importante que nos situemos na história e nos aspectos políticos, como afirma a historiadora
Joana Neves4:
4
Possui graduação em licenciatura e bacharelado em História pela Universidade de São Paulo (1965) e mestrado
em História Econômica pela Universidade de São Paulo (1981). Informações coletadas do site da Plataforma
Lattes em 03/01/2016.
34
5
Disponível em: <<www.gvive.org.br>>.Acesso em: 10 mai. 2016.
35
renovadoras e/ou tradicionais, ainda é possível perceber que as relações desenvolvidas nas
ações dos vocacionais eram sempre significativas e carregadas de afeto, motivação e
movimento, pois todos os relatos já registrados, em sua simbologia, retratam uma experiência
marcante vivida pelo indivíduo que a expõe. As falas remetem a uma admiração, emoção que
marcou e que não se quer esquecer.
O sistema vocacional foi expandido por subjetividades e desejos daqueles que dele
participaram ou por necessidades que contemplavam o ser humano, como diria Piaget; nas
relações sociais e históricas construídas, de que falava Vygotsky, e estimulados pelo
movimento psicomotor, de que tratou Wallon, promovendo experiências estéticas e humanas.
A proposta do Ensino Vocacional teve seu pontapé inicial quando Luciano de
Carvalho tornou-se Secretário de Educação do governo paulista de Carlos Alberto Alves de
Carvalho Pinto entre os anos de 1952 a 1963. O então secretário avaliou o estado e a
organização da educação e detectou demandas já descritas pelo Ministério da Educação
(MEC) da época e pelos próprios educadores. Luciano de Carvalho visitou escolas, conheceu
por elas e pelas mídias o estado de precariedade em que se encontravam os prédios e as
condições de trabalho. O secretário também se inteirou do projeto de classes experimentais
que havia sido criado pela iniciativa de professores voluntários, “mas sem respaldo legal, o
que só ocorreria com as “Instruções sobre a natureza das classes experimentais” (1958) e com
a Portaria nº 1 do MEC, de 2/02/1959, autorizando a instalação de Classes Experimentais em
todo território nacional” (CHIOZZINI; MARQUES, 2016, p. 591).
6
“As Classes Experimentais foram criadas em 1959 pelo Departamento de Ensino Secundário (DES) do
Ministério da Educação com o intuito de inserir disciplinas práticas no ensino secundário. Aproximadamente 50
escolas, em sua maioria, particulares, chegaram a alterar o seu currículo, obedecendo a esta proposta” (NUNES,
1980, p. 61).
37
7
Gustave Monod (1885-1968) foi o precursor do modelo pedagógico das Classes Nouvelles, da École de Sèvres,
idealizado na França do pós-guerra e apropriado e transformado na experiência no Brasil das Classes
Secundárias Experimentais, pelo professor Luis Contier (1915-2013). A proposta chegou ao Brasil no VIII
Colóquio “Ensino Médio, História e Cidadania”. Florianópolis (SC) – 2013. ISSN 2236-7977 nos anos 50.
Alguns outros brasileiros fizeram estágios no CIEP em Sèvres. Monod criou o Centre International d´Études
Pédagogiques (CIEP) na cidade de Sèvres, como meio de divulgação, cooperação e intercâmbio entre
educadores e suas obras.
Segundo Tamberlini: “Em 1954, a convite do governo federal, Edmée Hatinguais, fez uma visita ao Brasil. Em
São Paulo realizou algumas palestras, porém, de pouca repercussão. Em 1956, o professor Luiz Contier, bolsista
brasileiro em Sèvres, realizou o Encontro de Diretores da rede oficial de ensino, o que não causou grandes
entusiasmos. (...) Em 1958, Luiz Contier assume a direção do Departamento de Educação no Estado de São
Paulo e lança as bases para a instalação das Classes Experimentais. A primeira classe experimental foi instalada
no Instituto de educação “Narciso Pieroni” na cidade de Socorro no interior do Estado de São Paulo”.
(TAMBERLINI, 2001, p. 48-49)
38
gerais de cada ginásio, objetivos gerais das áreas de estudos, objetivos específicos do ano
letivo e os específicos das unidades pedagógicas que professores, alunos, pais e demais
membros da comunidade eram levados à compreensão de que a escola era o centro, reunindo
esforços das famílias que moravam a seu redor e onde, por meio do processo de integração de
grupos através da ação, se dariam as realizações, os resultados esperados pelos mesmos e por
outros grupos e ou instituições. Os próprios partícipes avaliando e construindo a história.
A proposta, que previa o atendimento em período integral, contemplava um quadro
de funcionários de se admirar, vislumbrando profissionais pensados para todas as áreas
possíveis onde não haveria cargos efetivos no sistema, e o tempo deveria ser
sociedade.
Pelos depoimentos de ex-alunos, as oficinas de arte onde eles podiam construir
suas produções artísticas da forma mais livre possível, também colaboraram para a formação
de profissionais motivados, com perfil de liderança, capacidade de trabalho em equipe,
engajamento, criatividade e responsabilidade. A Arte era considerada uma manifestação
externa de uma necessidade interior, por isso os professores utilizavam procedimentos
diversos para as práxis artísticas em busca do domínio da técnica e da linguagem para a
construção de novos conhecimentos.
Minha intenção a partir do conhecimento das experiências do Vocacional é pensar,
nesta curta experiência inovadora, as performances da arte no viés do trabalho em equipe, do
trabalho integrado e do trabalho em tempo integral, pela interação dos processos afetivos,
cognitivos e motores. Tendo em vista ações, como aquelas desenvolvidas nos Ginásios
Vocacionais, que, segundo relatos, oferecia aos alunos atividades práticas com as artes
plásticas, o teatro, o artesanato, e a pintura, todo um conjunto de ações práticas para a
construção do conhecimento com um processo contínuo de avaliação do aluno, com a
interação da família e a capacitação e avaliação continua dos processos e dos profissionais.
Segundo trecho do depoimento de Márcia Fernandes da turma de 1967, do Ginásio
Estadual Vocacional Oswaldo Aranha (GEVOA)8, e também de outros depoimentos de ex-
alunos dos Vocacionais, encontrados neste site, é possível afirmar que as aulas que envolviam
as artes e a representação inspiravam e desenvolviam nos alunos o gosto pela escola, pela
autonomia e pela atuação democrática. Márcia Fernandes descreve a situação inusual:
8
Extraído do site <www.gvive.org/depoimento-marciafernandes>.
42
tempo integral durante o governo de Leonel Brizola. Os CIEPs, que começaram a ser
implantados em 1983 com uma arquitetura a contento, não alcançaram os anos de 1990,
deixando a impressão de que o problema essencial para o turno integral é mais a falta de
continuidade dos projetos políticos dos governos e o desinteresse em aliar as políticas
públicas ao necessário investimento na educação de qualidade.
Os CIEPs também foram alvo de crítica, pois para alguns eram vistos como
assistencialistas ou escolas para pobres. Ribeiro (1986, p. 47) descreve que a proposta
pedagógica dos CIEPs rompia “com o antigo isolamento da escola pública, para fazer dela
uma promotora efetiva da maior participação social das classes mais pobres”. Proposta, neste
aspecto, semelhante à dos Vocacionais onde se considerava o jovem que “[...] desde cedo era
predeterminado pelos azares da fortuna e posição dos pais [...]”. Daí a necessidade de uma
escola "que se abre em leque para o desabrochar da vocação e dá ao jovem a oportunidade de
se descobrir ou realizar” (VOCACIONAL, 1970, p. 23). Nos CIEPs “eram fornecidas
refeições completas para seus alunos, banho, além de atendimento médico e odontológico em
um período de 9 horas de atendimento diário” (RIBEIRO, 1986, p. 39-42).
Na proposta pedagógica dos Centros Integrados de Educação Pública, as emoções
deveriam ser valorizadas como fator relevante da aprendizagem, nessa concepção o trabalho
com as artes promoveria a mediação simbólica do homem com mundo contribuindo para “a
estruturação mental e emocional da criança (RIBEIRO, 1986)”. Embora estes sistemas
tenham apresentado uma perspectiva de renovação para uma educação que pretendia abarcar
os filhos de operários dando-lhes uma perspectiva de formação e crescimento, também
geraram grandes inquietações. Para seus críticos, destilavam uma dinâmica de seleção,
construção e desconstrução de saberes e ainda deixaram a impressão de que o propósito seria
apenas político e econômico, atendendo uma necessária formação de mão de obra na classe
trabalhadora. Mas o fato que realmente convém ao nosso estudo, sobre estes sistemas
complexos, foi a inserção da cultura e da arte como forma de possibilitar ao estudante uma
formação social e individual promovendo potencialidades pelas ações caracterizadas pela
prática de cidadania.
Pelas ciências humanas e por aproximações entre a psicologia e a sociologia 9 se
estruturava uma ideia de educação para a vida que construía uma identidade individual e
coletiva característica daquele meio sociocultural. Promovia-se, simultaneamente, o
desenvolvimento afetivo e cognitivo, pela elaboração de novos conhecimentos no contato
9
Essas aproximações entre a psicologia e a sociologia, inclusive, foram características da primeira metade do
século XX e seu resultado foi objeto de reflexão de Jean Piaget, em 1970, quando o autor apresenta reflexão
acerca da interdisciplinaridade: “A primeira metade deste século viu desenrolar-se, no terreno das ciências
humanas, uma série de discussões, em parte estéreis, entre as duas ciências do homem mais indicadas para
coordenarem os seus resultados: a psicologia e a sociologia [...]” (PIAGET, 1970, p. 17, apud CHIOZZINI,
2003).
44
1.2 Surgimento da Escola de Tempo Integral em Goiânia, muito além da Escola Nova.
10
Segundo Mainardes (2007), a educação básica neste período era organizada em séries anuais, períodos
semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na
45
competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de
aprendizagem assim o recomendar. “Os ciclos de formação baseiam-se nos ciclos de desenvolvimento humano
(infância, puberdade, adolescência) e propõe mudanças mais radicais no sistema de ensino e de organização
escolar. Nos ciclos de formação, geralmente, não há reprovação de alunos ao longo do Ensino Fundamental”
(MAINARDES, 2007, p. 73).
11
Passou a ser considerada jornada de tempo integral a proposição e oferta com duração igual ou superior a sete
horas diárias, mantida durante todo o período letivo, compreendendo o tempo total em que um mesmo aluno
permanecerá na escola ou em atividades escolares, conforme disposto no Decreto nº. 6.253, de 13 de novembro
de 2007 (BRASIL, 2007b).
46
escola no contra turno, permaneciam cerca de duas horas e meia e ocupavam espaços nas
áreas livres da escola: pátio, corredores, área verde, parte do anfiteatro (quando a escola o
possuía). A escola não dispunha de material ou mobiliário específico para a realização das
atividades do contra turno (conforme afirmaram os entrevistados). Tais condições, segundo
avaliação de alguns envolvidos, deram uma conotação de que estas atividades eram
desenvolvidas sem um propósito pedagógico profundo, apenas para impedir que "aqueles
alunos ficassem na rua".
Esse atendimento ampliado nas escolas em tempo parcial diz respeito ao Programa
Mais Educação do Governo Federal12, instituído pela Portaria Interministerial nº 17\2007 e
regulamentado pelo Decreto nº 7083\2010, como estratégia indutora para ampliação da
jornada escolar (LECLERC; MOLL, 2012b). O referido programa, neste cenário, alavanca a
perspectiva de ampliação de tempo, pretendida para a Educação Escolar em Tempo Integral
(EETI) apresentada no Projeto Político Pedagógico (PPP) da Rede Municipal de Ensino
(RME).
Em 2012, o município implantou as duas últimas Escolas Municipais em Tempo
Integral (EMTI) e, no ano de 2013, foi interrompida a implantação de mais instituições de
tempo integral, para um movimento de reavaliação pedagógica e adequações estruturais nas
instituições já existentes, segundo revelou o senhor Marcos Pedro do Departamento
Pedagógico da Secretaria Municipal de educação.
Atualmente existe um total de vinte e duas EMTIs e todas estão inscritas no
Programa Mais Educação; contudo, a organização da escola não é orientada pelos critérios do
programa, pois somente professores do quadro permanente desenvolvem atividades com os
educandos e não os monitores do Programa Mais Educação, todos os alunos são atendidos na
ampliação do tempo que de duas horas e meia passou a ocupar um segundo turno
(vespertino), ou seja, os alunos matriculados passaram a ser atendidos o dia todo na escola.
Sem uma diretriz curricular própria ou projeto educacional para a grade curricular com
ampliação do tempo e sem uma estrutura e equipamentos adequados.
12
O Programa Mais Educação é considerado uma estratégia do governo federal para indução da política de
educação integral no Brasil e seu objetivo é o fomento de ações que visam à ampliação da jornada escolar em
caráter experimental. O programa foi instituído pela Portaria Normativa Interministerial nº. 17, de 24 de abril de
2007 (BRASIL, 2007c), e passou a integrar o conjunto das ações do Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE). O Programa Mais Educação “[...] passou a induzir e a fortalecer experiências, bem como a auxiliar a
construção de uma agenda pública de educação integral em escala nacional” (MOLL; LECLERC, 2012, p. 18).
48
13
Art. 15 Os componentes curriculares obrigatórios do Ensino Fundamental serão assim organizados em relação
às áreas de conhecimento: I – Linguagens: a) Língua Portuguesa; b) Língua Materna, para populações indígenas;
c) Língua Estrangeira moderna; d) Arte; e) Educação Física; II – Matemática; III – Ciências da Natureza; IV –
Ciências Humanas: a) História; b) Geografia; V – Ensino Religioso (de matrícula facultativa).
14
Art. 12 Os conteúdos que compõem a base nacional comum e a parte diversificada têm origem nas disciplinas
científicas, no desenvolvimento das linguagens, no mundo do trabalho, na cultura e na tecnologia, na produção
artística, nas atividades desportivas e corporais, na área da saúde e ainda incorporam saberes como os que advêm
das formas diversas de exercício da cidadania, dos movimentos sociais, da cultura escolar, da experiência
docente, do cotidiano e dos alunos.
49
15
Esses dados foram coletados porque participei de todas as reuniões, a SME, até então, não havia formalizado
um documento único com esta organização e ou histórico, elaborava apenas ofício que eram encaminhados às
unidades escolares.
16
Dados levantados pela comissão instituída pelo decreto.
50
diferentes na mesma instituição que se configurava então como escola de tempo integral: o
turno matutino com um grupo de professores que trabalhavam das sete às onze e vinte, o
intermediário (sem professores, somente com auxiliares de atividades educativas e um
coordenador) e o turno vespertino com outro grupo de professores que trabalhavam das treze
às dezessete horas e vinte minutos. Com isso, de fato, a organização mostrava-se ainda mais
isolada, desarticulada e desintegrada. Observou-se também uma forte diferenciação entre os
trabalhos realizados entre o grupo de “professores do currículo” e dos “professores de
oficina”. A comissão concluiu ainda, a impossibilidade de o profissional da escola de tempo
integral participar de cursos de formação continuada em seu horário de trabalho, como era
inicialmente previsto aos professores das escolas em tempo parcial.
Sobre a estrutura física adequada, os grupos registraram que, na maioria das
instituições, não existiam salas apropriadas para as práticas artísticas (dança, teatro, música)
entre outras. Os espaços de convivência como refeitório e os banheiros também não estavam
adequados. Em virtude disso e a par das discussões das comissões, o senhor Marcos Pedro da
Silva, então coordenador pedagógico da SME, em entrevista para esta pesquisa, afirmou que,
desde o ano de 2012, quando houve a mudança da gestão, ficou suspensa a implantação de
novas EMTIs, pois era notória e urgente a necessidade de adequação.
Frente a essas questões, a comissão entendeu a emergência de uma única escola
com a alocação de professores em turno integral e com carga horária que permitisse uma
formação continuada em horário de trabalho, além do tempo de planejamento e estudo.
Interessante observar que ela também pensou a importância da formação inicial do professor,
uma vez que, até então, os professores das escolas em tempo integral, independentemente de
serem professores de área (português, matemática, história, geografia, etc.) ou pedagogos,
deveriam conseguir desenvolver as oficinas na escola. A nova redação da proposta criava
perspectivas positivas, porém todos acordavam que não bastaria, ainda era preciso muito mais
para que o ensino de fato promovesse uma formação humana integral.
Essa proposta de organização, de certa forma, embora bem distante, retoma a ideia
de exclusividade dos Ginásios Vocacionais da década de 1960, porém aparentemente sem os
mesmos critérios e rigor, pois não há uma seleção de profissionais, apenas a disponibilidade
de horário do servidor; não há vantagem financeira específica; não prevê formação que
anteceda a entrada do profissional na instituição de tempo integral. A escola ainda não é
projetada física e estruturalmente para receber e atender alunos o dia todo e não possui
recursos específicos, além do estímulo do Mais Educação. Cada liderança, direção e equipe
busca sua adequação, constrói sob orientação da SME a sua organização curricular, dentro do
que é possível ser feito num período de 9 horas de atendimento diário.
51
17
Arte em suas linguagens, como teatro, música, dança e artes visuais.
53
CAPÍTULO 2
A Escola Municipal Professora Maria Nosídia Palmeira das Neves situa-se na Rua
Celeste Baiocchi com a Rua Olinda Albernaz, APM 08, Setor Barravento em Goiânia, Goiás.
Segundo relatos de moradores e registros da escola, recebeu esse nome, com a ampla
aprovação da comunidade, em homenagem a Maria Nosídia Palmeira das Neves, uma baiana
que, como tantas outras pessoas vindas de cidades interioranas de diversas regiões do Brasil,
mudou-se para a cidade de Goiânia em 1972, com o sonho de estudar na capital. No Projeto
Político Pedagógico (2014) da escola, consta que Maria Nosídia
Apenas em 2002, trinta anos após sua chegada à capital, Maria Nosídia conseguiu
ingressar na Universidade Salgado de Oliveira (Universo), iniciando o Curso de Pedagogia,
mas, infelizmente, em 2006, foi acometida por uma doença altamente letal, “portadora de um
tumor cerebral cancerígeno, passando por uma cirurgia que a deixou hemiplégica” (PPP,
2014, p. 32), porém, nem seu estado de saúde a impediu de realizar o desejo de atuar como
professora. Segundo relatos registrados no PPP da escola, Maria tinha planos de desenvolver
um trabalho voluntário para as crianças portadoras de câncer internadas no Hospital Araújo
Jorge, assim que estivesse curada. Após 2 anos e 3 meses de batalha contra a doença, foi a
óbito em 07 de janeiro de 2009.
A história dessa professora emocionou a comunidade que escolheu seu nome para
a nova escola do novo bairro, o Setor Residencial Barravento. Assim, foi inaugurada no dia
29 de junho de 2009 a Escola Municipal Professora Maria Nosídia Palmeira das Neves, para o
ensino regular de primeira à nona série. Tornou-se, em 2010, uma escola de tempo integral da
prefeitura de Goiânia.
A escola foi construída para oferecer atendimento a crianças do ensino
fundamental de 6 a 11 anos de idade, na proposta de ciclo de formação e desenvolvimento
humano (ciclo I – de 6, 7 e 8 anos; ciclo II – 9, 10 e 11 anos), dos bairros: Jardim Fonte Nova,
Jardim Balneário Meia Ponte, Residencial das Acácias, Residencial Maria Lourença, Jardim
Belvedere, Sítios de Recreio Panorama, Setor Alto do Vale, Setor Parque das Flores,
58
A Escola Municipal Professora Maria Nosídia Palmeiras das Neves, atual escola de
tempo integral, tem como missão: contribuir para a formação integral do indivíduo e
para o aperfeiçoamento da sociedade em que vive através do incentivo à pesquisa e
aos valores humanos, éticos e ao aluno o fortalecimento dos princípios da livre
iniciativa e da prática democrática moral, possibilitando ser agente de transformação
na sociedade na qual está inserida (PPP, 2014, p. 9).
A missão que o PPP propõe para a escola de tempo integral Maria Nosídia volta-se
mais para a formação humana, para as relações sociais e os valores, diferentemente das
propostas de ensino das escolas em tempo integral da década de 1960, cujo foco estava na
formação profissional, no desenvolvimento de habilidades para o dia a dia, tal como aprender
a cozinhar, costurar e realizar coisas práticas da vida cotidiana em sociedade. Além disso os
professores do Vocacional tinham incentivos para o desenvolvimento de pesquisas.
O propósito almejado na escola Maria Nosídia é, aparentemente, adequar-se ao que é
possível fazer sem uma estrutura física adequada ou investimento e material para as escolas
realizarem pesquisas significativas. O incentivo à pesquisa para os professores e para os
alunos, está longe de assemelhar-se ao que ocorria nos Ginásios Vocacionais de 1960, cuja
proposta contemplava ações práticas e em campo e a possibilidade de se vivenciar para
construir sua própria experiência. Não diferente das demais escolas municipais de Goiânia, a
realização de pesquisas é um desafio gigantesco, uma vez que não há recursos financeiros
disponíveis para a realização de atividades em campo, pois os equipamentos de laboratório,
além de insuficientes, estão ultrapassados sem serem utilizados, além de não haver
profissionais qualificados para manuseá-los.
Podemos considerar que, na escola Maria Nosídia, a pesquisa realizada sobre a
cultura e costumes da comunidade local foi promovida pelo trabalho desenvolvido com as
59
artes: a equipe escolar abriu espaço para trazer para dentro da escola o que a as crianças
vivenciam em seus respectivos bairros e ainda promoveram diferentes contatos e linguagens.
O espetáculo construído considerou danças, músicas e brincadeiras trazidas dos moradores,
dos participantes da associação de idosos e as discussões que permeavam as rodas de
conversa das famílias. Tudo isso foi trazido para dentro da escola pelos próprios alunos.
Após uma análise sobre a metodologia da escola Maria Nosídia, verificou-se que
um de seus principais propósitos é a diversificação e expansão de linguagens, além da
valorização das diferentes culturas, a fim de um desenvolvimento mais amplo, o que, segundo
a equipe de profissionais entrevistados, só seria possível pela “ampliação de oportunidades e
situações que promovam aprendizagens significativas e emancipadoras” (PPP, 2014, p. 9).
Compreendendo que, na e pela arte, é dada à criança a oportunidade de
desenvolver diferentes linguagens que contemplam a fala, os movimentos, as expressões, o
simbolismo e a construção de signos, os professores afirmaram que ações como dançar,
cantar, dramatizar, interpretar, pintar, entre outras, permitem à criança relacionar-se, ser ativa
e criativa por estimularem o “sujeito em suas várias dimensões: física, psíquica, cognitiva,
ética, estética, social, emocional, dentre outras. Tais dimensões são capazes de movimentar o
processo de desenvolvimento humano” (PPP, 2014, p. 9).
Em seus registros, a escola revela seu interesse em manter uma intensa
comunicação e aproximação com a comunidade escolar e pais de alunos por meio de reuniões,
palestras, eventos festivos, comunicados. Como se pode observar, essa inserção no meio
social é tímida diante da proposta dos Vocacionais, em que o estilo de vida, os meios de
produção e as características da comunidade local direcionavam o que e como desenvolver as
atividades curriculares teóricas e práticas. No entanto, enquanto se preparava a atividade
artística da apresentação teatral do espetáculo Felicidade, os pais mostraram-se muito mais
envolvidos: o número de pais correspondendo aos chamados da escola nesta atividade era
maior que o números de pais que compareciam em outros momentos, como se pôde constatar
nos livros de registros da escola.
No teatro da EMAC/UFG, lotado no dia 06 de dezembro de 2014, para a
apresentação do espetáculo Felicidade, ficou ainda mais evidente o quanto as famílias
estavam envolvidas naquela experiência; nos relatos dos entrevistados para esta pesquisa,
também foi possível perceber que entre pais e filhos ocorriam mais diálogos e trocas durante o
período em que o (a) filho(a) estava produzindo artisticamente na escola.
Ainda refletindo sobre o PPP da escola Maria Nosídia, podemos dizer que ele
parece dar indício de uma escola que se preocupa com o indivíduo no coletivo com um
60
provável potencial para o aqui e agora e afirma que “é papel da escola promover ações
efetivas que garantam o desenvolvimento intelectual, social, afetivo, emocional e moral, de
forma consciente e humanizadora” (PPP, 2014, p. 21). O enredo produzido pelos alunos e
professores e que compôs este estudo de caso, de fato apresentou uma trama que mexeu com
os envolvidos, além de emocioná-los, pois foi escrito com base em situações cotidianas
familiares, comunitárias e políticas, além de individuais, estimulando nos atores e nos
coadjuvantes o pensamento, a reflexão crítica sobre nossas ações e relações com o mundo e
com as coisas e pessoas do mundo, até mesmo com nós mesmos, o que, pode colaborar com a
humanização na formação de crianças e jovens.
O PPP traz também uma proposta que tem por objetivo permitir aos alunos
conhecerem como aprendem, pensam, sentem. Permite ainda que tomem a palavra e
exponham seus sonhos, dificuldades, desejos, projetos e limitações. Propõe uma nova relação
dos adultos, profissionais da educação, com os educandos, com os conhecimentos científicos
e não científicos e seus modos de produção; com a cultura, com as competências e saberes dos
alunos, uma vez que, por meio de produções artísticas a participação na criação torna-se mais
ativa.
Os pais são convocados a estar presentes na escola, a inteirar-se das atividades das
quais seus filhos participarão (autorizando ou não). Com isso, abre-se um leque para a
construção de relações, porque os pais, além de se aproximarem dos profissionais que atuam
diretamente com seus filhos, também se aproximam mais de seus filhos, pois em um trabalho
em que as crianças têm liberdade para opinar e criar junto, como foi averiguado no relato dos
alunos, acaba por deixá-los mais próximos de seus responsáveis, pois, entusiasmados, relatam
com maior frequência suas experiências escolares em casa.
Wallon (1995c [1949]) descreve em sua obra, As origens do caráter na criança,
que a consciência de si mesmo, a consciência do outro e a consciência do mundo exterior se
constroem na relação com o mundo e com os outros. É desta relação emocional com o outro
que se desenvolvem as funções simbólicas, a atividade intelectual e as condutas sociais
adaptadas. Tal qual descreve esse autor “para que a criança possa ultrapassar o nível da
experiência ou da invenção imediata e concreta, precisa de instrumentos de origem
essencialmente social, como a linguagem e os diferentes sistemas de símbolos que daí
provém” (WALLON, 1995c [1949], p. 17), veremos nos relatos dos alunos, o poder da arte
para auxiliar a criança ultrapassar o imediato e construir estruturas.
Com base nos dados do ano de 2014, fornecidos pela secretaria da escola, a
unidade atende anualmente 269 alunos e tem, dentro de uma nova organização, aprovada pelo
61
Diretor -------------------------------------------------------------------------- 1
Secretário ----------------------------------------------------------------------- 1
Coordenador de turno -------------------------------------------------------- 2
Coordenador intermediário18 ------------------------------------------------- 2
Coordenador pedagógico -------- – 2 (1 no matutino e 1 no vespertino)
Auxiliar de sala de leitura ----------------------------------------------------1
Auxiliar de ambiente informatizado - ------------------------------------ – 1
Auxiliar de secretaria--------------------------------------------------------- 2
Porteiro Servente ----------------------------------------------------------- – 8
Merendeira ------------------------------------------------------------------ – 7
Readaptado ------------------------------------------------------------------ – 4
Agente Educativo --------------------------------------------------------- – 10
Cuidador --------------------------------------------------------------------- – 3
Professor Regente Educação Física -----– 2 (no matutino e vespertino)
18
Seu turno de trabalho é diferente do dos demais coordenadores, ele assume tanto funções pedagógicas quanto
disciplinares durante o intervalo do almoço dos demais professores e coordenadores.
62
De acordo com o documento organizado e com base nas diretrizes curriculares para o
ano de 2014, o “planejamento acontece no período matutino das 07h às 07h50min e, no
vespertino, das 16h30min às 17h20 min” (PPP, 2014, p. 46), todos os dias os profissionais
contam com esse tempo, e cada dia ele é destinado a um trabalho específico. No planejamento
individual, o profissional faz suas pesquisa e desenvolve nesse horário seu plano de trabalho;
o planejamento coletivo é destinado a tratar com todos os servidores as programações da
escola, as avaliações e acompanhamento dos trabalhos; no planejamento por ciclo os
professores do mesmo ciclo (ciclo I: crianças de 6 a 8 anos, turmas “A”, “B” e “C”; ciclo II:
crianças de 9 a 11 anos, turmas “D”, “E” e “F”) se reúnem para estudo, trocas de experiências,
para falar das dificuldades e dos avanços dos alunos e pensar metodologias que contemplem
as dificuldades a serem sanadas, além de estudarem teorias em busca de uma formação
continuada que contribua com as necessidades levantadas.
Há também o dia para o atendimento aos pais e responsáveis por parte dos
professores. Fora desse dia, os pais são atendidos pelos coordenadores e ou diretora, evitando
que o professor se ausente da sala de aula. Essa organização sofrerá mudanças para o ano de
2015, tendo por base o estudo da comissão já mencionado anteriormente. Conforme Figura 1:
porque a escola não dispõe de funcionários, e grande parte das máquinas precisa de
manutenção. A professora de música trabalha em uma sala em que deveria funcionar o
laboratório de ciências. Portanto, não há laboratório de ciências nem de informática em uso, o
que dificulta o cumprimento da proposta do PPP, que prevê um trabalho com pesquisas.
Os ensaios para teatro e espetáculos maiores se desenvolvem no anfiteatro, um
espaço aberto e coberto com um pequeno palco. Esse mesmo espaço é utilizado como
refeitório, para aulas de educação física e, assim como a biblioteca, também serve para a
realização de oficina de jogos e brincadeiras como dama, boliche, quebra-cabeça, pingue
pongue, dominó, bete, e outros jogos aplicados de forma alternada pelos professores, regentes
do ciclo I. Apesar de ser coberto por telhas, o espaço não possui paredes, por isso, parte dele
acaba ficando exposto ao vento e a chuva, além do sol intenso em alguns horários do dia.
O prédio além de uma quadra coberta, e espaço para estacionamento tem quatro
pavilhões distintos: um pavilhão, estruturado em dois pavimentos, com dez salas de aula,
cinco em cada andar. No piso superior há dois sanitários (masculino e feminino) e bebedouros
de água gelada. No inferior, o pavilhão conta com almoxarifado, departamento de educação
física e depósito de materiais de limpeza. É importante ressaltar que as salas possuem
quarenta e oito metros quadrados de área e são contempladas com dois ventiladores de parede
em cada uma delas, o que não impede que as crianças e professores sofram com o calor nas
épocas mais quentes do ano e com a demora na manutenção sempre que eles estragam.
O prédio escolar conta com outro pavilhão administrativo, que foi dividido em
secretaria, sala dos professores e coordenação, diretoria, sanitário para professores e
funcionários e sanitário adaptado. O pavilhão coberto com anfiteatro, já mencionado, cantina,
depósito da merenda, dispensa/vestiário para uso dos servidores administrativos e dois
vestiários (masculino e feminino), que não são utilizados, pois os alunos não tomam banho na
escola. Conta também com uma quadra poliesportiva coberta, estacionamento e área de
convivência com mesas e bancos no pátio (PPP, 2014, p. 29).
Entendendo que a falta de uma estrutura adequada nos prédios escolares que
atendem em tempo integral, reflete-se na qualidade do ensino e não pode ser resolvida apenas
com uma boa e diversificada estratégia pedagógica, torna-se necessário que a prática artística
também colabore para a construção de reflexões e posturas crítico-reflexivas relacionadas a
questões políticas e principalmente culturais, isso, porque pensar uma ação requer pensar,
além do tempo, o espaço, os recursos e os instrumentos disponíveis.
A diretora Izabel Cristina Soares Leal, que está na direção da escola desde sua
inauguração em 29 de junho de 2009, foi nomeada com cargo de confiança da SME na 2ª
64
gestão do Prefeito Iris Rezende Machado, que foi de 1º de janeiro de 2005 até 1º de abril de
2010. Izabel sempre apresentou, segundo as entrevistas coletadas, um enorme empenho e
criatividade frente aos trabalhos da unidade, mesmo que a estrutura da escola não ajudasse.
Percebe-se que seus modelos de organização para os trabalhos da escola e
principalmente as atividades desenvolvidas com as artes, serviram de apoio a muitas outras
escolas, sendo citados em reuniões de diretores da rede municipal de ensino. Izabel é Mestre
em Ciências da Educação Superior pela UEG/Havana; Especialista em Dinâmica de grupo
SOBRAP/PUC-GO; em Educação Superior e em Educação pela Universidade Estadual de
Goiás (UEG; Graduação em Educação Física pela (UEG), possui quinze anos de experiência
em Gestão Escolar. A professora Izabel Leal ainda ministra cursos na área educacional em
parceria com a prefeitura da capital e prefeituras de cidades vizinhas. Seu campo de atuação é
a Gestão Escolar, Dinâmica de Grupo, Metodologia de Pesquisa, Planejamento, Educação
Física e Educação Inclusiva. Uma experiência prática marcada por uma formação teórica
continuada que, certamente, faz toda diferença frente aos trabalhos desenvolvidos como
diretora e líder de um grupo.
Outro aspecto que é necessário abordar, diz respeito à formação dos professores. O
PPP da escola e a equipe gestora preocupam-se com a formação continuada dos servidores,
com base nas dificuldades detectadas nos processos de desenvolvimento das práticas
propostas e entendem que “pensar em formação continuada requer uma avaliação sistemática
que atenda as verdadeiras necessidades dos sujeitos envolvidos” (p. 34), porém, mesmo com
essa perspectiva, esbarram frequentemente com situações que inviabilizam essa formação
como, por exemplo, a ausência de servidores que adoecem e ficam de atestado médico; a
falta, por parte da SME, de professor substituto; a ausência de internet e equipamento para a
realização de pesquisa e ou materiais para estudo, entre outros. Mesmo assim o grupo afirma
que há muito esforço em conseguir desenvolver estratégias como “troca de experiências,
organização para participar de seminários, congressos, grupos de estudos, encontros e outros
procedimentos para propiciar ou mesmo facilitar a formação continuada” (PPP, 2014, p. 35).
Mesmo apresentando uma organização específica, com dias e horários de
planejamento no intuito de propiciar um momento para a formação continuada, os professores
que acompanharam esta pesquisa relataram informalmente que a proposta não consegue ser
efetiva com relação à formação continuada. Para eles, mesmo que sejam grandes seus
esforços no sentido de sempre trocar experiências, pesquisar e participar de momentos de
estudos, a formação continuada ainda é muito superficial e falta, por parte do governo
municipal, um incentivo e/ou apoio para a pesquisa e a capacitação.
65
Resultados do IDEB
2011
2010,5
2010 6.6
2009,5 7.0
2009
2008,5
2008
1
60%
60%
(-) 60%
60%
Turma F1 Turma F2
60%
60%
60% 60%
Com base na análise do PPP, foi possível observar que a escola realiza parcerias,
68
19
O Programa Saúde na Escola (PSE), política intersetorial da Saúde e da Educação, foi instituído em 2007. As
políticas de saúde e educação voltadas às crianças, adolescentes, jovens e adultos da educação pública brasileira
se unem para promover saúde e educação integral. A articulação intersetorial das redes públicas de saúde e de
educação e das demais redes sociais para o desenvolvimento das ações do PSE implica mais do que ofertas de
serviços num mesmo território, pois deve propiciar a sustentabilidade das ações a partir da conformação de redes
de corresponsabilidade. Implica colocar em questão: como esses serviços estão se relacionando? Qual o padrão
comunicacional estabelecido entre as diferentes equipes e serviços? Que modelos de atenção e de gestão estão
sendo produzidos nesses serviços?
20
O programa concede bolsas a alunos de licenciatura participantes de projetos de iniciação à docência,
desenvolvidos por Instituições de Educação Superior (IES) em parceria com escolas de educação básica da rede
pública de ensino. Os projetos devem promover a inserção dos estudantes no contexto das escolas públicas desde
o início da sua formação acadêmica, para que desenvolvam atividades didático-pedagógicas sob orientação de
um docente da licenciatura e de um professor da escola.
21
O Programa Mais Educação, criado pela Portaria Interministerial nº 17/2007, aumenta a oferta educativa nas
escolas públicas por meio de atividades optativas agrupadas em macro campos como acompanhamento
pedagógico, meio ambiente, esporte e lazer, direitos humanos, cultura e artes, cultura digital, prevenção e
promoção da saúde, educomunicação, educação científica e educação econômica.
22
O Programa Saúde na Escola (PSE), política intersetorial da Saúde e da Educação, foi instituído em 2007. As
políticas de saúde e educação voltadas às crianças, adolescentes, jovens e adultos da educação pública brasileira
se unem para promover saúde e educação integral. A articulação intersetorial das redes públicas de saúde e de
educação e das demais redes sociais para o desenvolvimento das ações do PSE implica mais do que ofertas de
serviços num mesmo território, pois deve propiciar a sustentabilidade das ações a partir da conformação de redes
de corresponsabilidade.
69
Matutino Vespertino
Componentes Curriculares Componentes Curriculares
Português História
Matemática Ciências
Geografia Arte
Educação Física Inglês
Eram realizadas oficinas de “rádio escola”, onde os alunos passavam a ser não
apenas consumidores, mas produtores de mídia, através da ação de criar “programas de rádio;
dança; educação financeira; estudo e leitura: produção, expressão e interpretação de diversos
contextos e discursos culturais, exercitando a prática social da linguagem (escrita e leitura)”;
contação de história; esporte na escola; educação ambiental; ética e cidadania; alimentação e
saúde; iniciação musical e instrumentos de corda; desenho. Atividades que, para a escola,
devem estar apoiadas “na prática reflexiva das crianças ao aprender, que articula a ação, a
percepção, a sensibilidade, a cognição e a imaginação” (PPP, 2014, p. 68).
Considero, nesse sentido, que a diversidade apoiada na prática das artes na escola,
pode tornar possível ao indivíduo e ao coletivo a constituição de uma cultura que supra suas
necessidades individuais, restaurando e construindo histórias; aproximando pessoas, criando
laços afetivos, proporcionando e organizando emoções, criando e decifrando signos,
simbolizando, construindo e desconstruindo o indivíduo, por intermédio de uma efetiva e
processual ação pedagógica que, consequentemente, auxiliará na aprendizagem, no processo
de desenvolvimento e na reestruturação de todas as funções do comportamento. Para
confirmar essa hipótese, convido o leitor a continuar acompanhando esta reflexão,
conhecendo o que de fato serviu de base para este estudo: o espetáculo Felicidade.
Para que se entenda melhor as atividades artísticas e a construção do espetáculo
Felicidade, apresento trechos das entrevistas realizadas com as professoras, sendo a primeira
entrevistada a senhora Elis Regina da Silva, que é coordenadora e professora de língua
portuguesa e relatou como tudo começou na escola.
70
Tudo começou por aí, com a oficina de “Rádio Escola” [...]. Eu entrei como
oficineira da rádio escola e nós começamos esse trabalho em 2010, esse trabalho foi
premiado no final do ano em um projeto da prefeitura. Nós apresentamos isso para
fora, envolvia linguagem de dança, de rádio, da comunicação em si, teatro e música,
e como não havia professor de música na época, de dança sim, então eu fiz esse
papel da música do meu jeito e o papel da rádio. O objetivo maior, que está na
ementa da oficina de rádio, é despertar esse gosto pela escola, o aluno querer vir
para escola, para ele querer vir para escola, você tem que motivá-lo a estar nesse
estado. Ele precisa fazer parte, ele precisa ser autônomo nessa construção do
conhecimento dele e essa oficina de rádio, ela propicia isso, esse momento, porque é
um momento de construção, ele vai buscar, ele vai pesquisar, ele vai investigar de
uma forma mais lúdica, e a partir do que? A partir dos conteúdos de sala de aulas,
dos componentes curriculares. Eu vou pegar o português; o que eu trabalho em
português, a matemática, a geografia e história. A gente montava os programas de
rádio em sala [...] eles começaram a ter voz (ELIS REGINA DA SILVA, EM
ENTREVISTA, EM OUTUBRO DE 2016).
Para Elis Regina, o trabalho com a rádio escola tirou os alunos de seu estado de
apenas ouvintes, (situação muito comum dentro das salas de aula, quando o professor dita e o
aluno copia e responde) para dar-lhes voz e vez, pois eles passaram a pesquisar assuntos e
criar e apresentar um programa.
Conforme é observado na fala da coordenadora, a escola busca viver a arte desde a
sua fundação e, para ela, talvez seja a explicação para o caminho de crescimento apresentado
graficamente em termos de aprendizagem. Podemos dizer então que pela prática artística, a
ação pedagógica pode estimular a organização da imaginação e das leituras que a criança fará
do mundo e das coisas do mundo. Isso porque ela permite uma ação pensante e comunicativa
permeada de sentimentos e relações que podem aproximar pessoas e coisas em seus mais
significativos sentidos íntimos. Para isso é preciso que se discuta “uma educação não apenas
intelectual, mas principalmente humanizadora” (BARBOSA, 2007, p. 5). Não restando
dúvida de que
O aluno vai falar algo que ele descobriu em casa com a sua família, algo que ele
conversou ou então vai levar daqui para lá também e tudo isso era matéria de
programa de rádio. Matérias que a gente desenvolvia para fazer os quadros do
programa que tinha declamação de poesia, tinha quadro de notícia, de agenda que
apresentava o que acontecia na escola, entrevistas, tudo isso elaborado por eles. Nós
começávamos desde a turminha D até a turminha F. No início do ano o processo foi
muito difícil, foi a primeira vez, então a gente tinha que criar um quadro, uma cara
para o programa da escola Barravento. Nós começamos com o nome as Ondas do
Rádio, como se fosse o nome da rádio, daí cada sala tinha o seu nome, o nome do
seu programa [...] cada sala tinha a vinheta do programa criada por eles a partir de
músicas já consolidadas. A gente pegava a música e criava a vinheta, como se fosse
uma paródia [...]. Fazíamos isso por sala, toda vez que ia começar o programinha na
sala, a gente cantava a musiquinha primeiro, como se fosse a vinheta do programa.
Todo esse processo foi longo, mas foi de grande valor para a aprendizagem deles,
isso contribuiu demais, porque, ao final do ano, a escola foi premiada, eles foram
para Caldas Novas, para o Hot Park, a prefeitura levou; eu ganhei um notebook de
presente pelo projeto, que não foi meu, o projeto foi da escola. Essa é a vantagem
desse projeto, porque ele envolve a escola, não fica só na sala de aula com uma
disciplina, ele envolve os componentes curriculares todos, todos da escola são
envolvidos no trabalho e sai dos muros da escola. A partir disso, que eu passei para a
coordenação a gente vem sempre trabalhando nessa perspectiva de trabalho com a
leitura, com a oralidade, com a construção do conhecimento e o aluno se
responsabiliza pelo que ele diz, porque, quando você trabalha o discurso, você tem
que ser responsável pelo que você diz, então eles passaram a entender esse processo
todinho: eu vou falar e tenho que pensar algo, mas eu tenho que pensar nisso,
preciso saber o que eu vou dizer. E ajudou até na questão da disciplina, até na
questão dos palavrões: eu posso falar isso com o meu colega? Mas e aí se eu falar o
que pode acontecer se eu usar determinado termo com meu colega? (ELIS REGINA
DA SILVA, EM ENTREVISTA, EM OUTUBRO DE 2016).
Com essa percepção podemos aproximar o que ocorre com a criança e estimula
seus processos cognitivos dentro da família e o que pode ocorrer dentro da escola para dar
sequência a este movimento interno. Caminhamos, assim, a fim de encontrar ações
pedagógicas que poderão dar continuidade aos processos afetivos e cognitivos iniciados nos
primeiros anos de vida, mesmo que a criança esteja fora de sua relação familiar, de suas
trocas, de seus pertences e seu tempo livre de brincar.
Compreendendo que também pela arte, a motivação da emoção impulsiona
processos criativos e afetivos que ajudam na conquista e adaptação de condutas, além de
oportunizar a vivência de outras adaptações, como expõe a fala da professora Elis Regina, me
aproximo de Piaget (1987, p. 123), para afirmar que, pelas atividades artísticas dentro da
escola, podemos estimular processos afetivos e cognitivos, isso porque, para Piaget, “toda
adaptação é, em última análise, o estabelecimento de um equilíbrio entre a acomodação e a
assimilação complementares, estando ela própria correlacionada com a organização interna e
externa dos sistemas adaptativos”.
Outro ponto importante sobre a escola é a fala da professora Karliene Araújo e
Silva, professora de música da escola Professora Maria Nosídia, formada em Educação
Musical pela Escola de Música e Artes Cênicas da UFG. Conta que ingressou na prefeitura
pelo concurso de 2011 e sua primeira lotação foi na referida escola. Ela reforça o fato de a
escola valorizar o trabalho com as artes, quando relata o início de sua experiência, como
demonstra o fragmento a seguir:
Aqui nessa(sic) escola eu logo percebi que se trabalhava muito com artes, a Isabel
estava sempre querendo estimular isso, movimentar a escola, a Elis como a
professora da rádio escola, e eu fui aprendendo a trabalhar com isso ao longo do
tempo, pois entrei aqui sem nenhuma experiência (KARLIENE ARAÚJO E
SILVA, EM OUTUBRO DE 2016).
Para falar desta produção recorro a Vygotsky (1999a [1925]) que, em seus escritos
sobre arte em Psicologia da Arte, deixa claro que a obra de arte não age por si só, ela precisa
do olhar do outro, aquele que poderá dar significado, aquele que poderá ser afetado, às vezes
por sentimentos, às vezes por vivências ou pela provocação da própria fantasia que o remeterá
a um novo processo interno. Por isso é preciso que compreendamos a importância do
processo de mediação e interação que devem ser reflexivos no contexto escolar em prol da
construção do conhecimento e da estruturação do homem.
Na experiência da arte, a possibilidade das reflexões e das trocas a partir das
mediações, apresenta-se intensa, porque passa pelo corpo em movimentos de desconstrução e
recriação, carregados de interação, adaptação e emoção, e a “criança passa a perceber o
mundo, não somente através dos olhos, mas também através da fala” (VYGOTSKY, 1989b,
p. 36), e da representação. Torna-se possível a percepção “de um mundo com sentido e
75
Felicidade
Loc.1: Era uma vez uma...
Loc.2: Que era uma vez o quê?!!! ________________, isso que vamos mostrar aqui
é coisa real, fatos verídicos que aconteceram realmente de verdade na realidade verdadeira.
Loc.3: Ah, não exagera né ______________, não há nenhuma prova de que isso
aconteceu de verdade verdadeira.
Loc.2: Aconteceu siiiiiiim. O primo da irmã do tio de meu amigo ouviu da vizinha
do padeiro que ouviu essa história e me disse que aconteceu mesmo.
Loc.3: Que confusão meu Deus... é um diz que me disse. Aonde vamos chegar com
esse falatório todo??
Loc.4: Time, please! Dá um tempo! Vamos contar nossa história e deixar que o
público tire suas próprias conclusões.
Entra a personagem com uma mala de viagem, como se estivesse viajando de volta
para casa. (Com sonoplastia de som de pássaros, água, crianças brincando... representação de
suas memórias).
Beltranira: Nossa tanto tempo que não vou a minha cidade. Oh, que saudade.... Dos
parques, dos bosques, dos pássaros, da tranquilidade e do ar puro (suspiro). Do doce som
deslizante das águas cristalinas. Oh, que saudades do tempo da minha infância das
brincadeiras da enxurrada, guerrinha de mamonas, futebol de rua.
(Ônibus chegando e acena para o ônibus parar, entra no ônibus e continua um
diálogo com o público)
Beltranira: Naquela época meu melhor amigo era Fulanildo, nós éramos uma dupla
do barulho. Tínhamos até apelido (rsrs) Trick e Track kkkkk. Até hoje não conheci ninguém
com a alma tão pura como a dele, apesar das traquinagens, afinal não éramos santos né? Sabe,
vai ser muito bom revê-lo.
(Desce do ônibus)
Beltranira: Cadê a minha cidade??? Eu não reconheço nada!!! O que eu faço agora?
(Pensando). Já sei! O Fulanildo vai poder me dizer o que aconteceu aqui. Eu vou procurá-lo é
já! (Levanta-se com as malas e caminha para a próxima cena).
Prefeito Senhor Doutor Vossa Excelência Fulano da Silva Pereira da Grana, vossa
senhoria tem visita.
Beltranira: Fulanildo???
Fulanildo: Fulanildo não existe mais, agora é Prefeito Senhor Doutor Vossa
Excelência Fulano da Silva Pereira da Grana
Beltranira (em choque): Fulanildo, foi você que transformou nossa cidade nisso????
Fulanildo: Beltranira??? É você mesmo???
Beltranira: Sim Fulanildo, sou eu... E desde que cheguei nessa cidade mal a
reconheci. Só vi lixo, poluição, pobreza e miséria, tanta desigualdade e falta de respeito.
Como você deixou isso acontecer????
Fulanildo: Quem é você para falar alguma coisa? Você que ficou tantos anos fora...
o que eu trouxe para nossa cidade se chama desenvolvimento.
Beltranira: Mas desenvolvimento a que preço???
Fulanildo: Que preço? Te garanto que foi um preço muito alto, e que a grana está
sendo muito bem aplicada (batendo no bolso).
Beltranira: Cadê aquele Fulanildo que brincava comigo nas enxurradas, pulando
monte de terra. Lembra quando você caiu de boca no chão, e encheu a boca de terra? Afinal
de contas, o que aconteceu com você?
Fulanildo: Beltranira, o mundo é dos espertos... e cada um tem seu preço. Qual é o
seu preço?
Beltranira: Nem tudo na vida pode ser comprado... e nem todos estão à venda.
Lembranças não se compram em uma prateleira de supermercado. Essas crianças da nossa
cidade nem podem sair na rua para brincar, como nós na nossa época.
Fulanildo: Num tem criança brincando, num tem criança brincando... (mexendo os
ombros)
Beltranira: Não tem! E eu te desafio a encontrar umazinha sequer! Passar bem
Senhor Prefeito Vossa Prffff ! (sai irritada com birra)
Fulanildo: Num tem criança brincando, num tem criança brincando... (mexendo os
ombros e andando). Será???
Fulanildo sai da prefeitura e se depara com a coreografia do caos no trânsito com
placas confusas, batidas de carro e crianças vendendo e pedindo dinheiro.
Loc3: Pois é __________________, não é que Fulanildo ficou surpreso com tudo
que vira. Será que Beltranira tinha razão?
Loc4: Fulanildo então, resolveu ir para sua casa colocar as ideias no lugar.
trazem? Por que mudei meus valores? Realmente, Beltranira tem razão... Lembranças não se
encontram em prateleiras de supermercado. Quais lembranças as crianças dessa cidade, da
minha cidade, vão ter quando crescer??? Aceitei o desafio de Beltranira, e perdi. Vocês
acreditam que eu não achei nenhuma criança brincando na rua, nenhuma pipa no céu,
nenhuma bola de gude rolando no chão, campinho de futebol então.... Ah, mas isso vai mudar,
ah se vai!
Beltranira: Vamos nos conscientizar pessoal, lixo é no lixo, vamos cuidar de nossa
cidade como cuidamos de nossa casa.
- Você já ouviu falar de coleta seletiva?
- Você salvou o mundo ou acabou com ele??? Lixo é no lixo, coleta seletiva já!
- Você já ouviu falar de coleta seletiva?
(Aparece Fulanildo)
Beltranira: Voo... Senhor Prefeito Vossa Ex....
Fulanildo: (mostra a mão interrompendo) Fulanildo, apenas Fulanildo.
Beltranira (chocada)
Fulanildo: É minha amiga, você tem razão... Grana não é tudo..., mas agora eu vou
fazer diferente. Me explique melhor sobre essa ideia de coleta seletiva!
Beltranira: É pra já! Trick e Track estão de volta!! (Piscadinha pra plateia)
Loc1: Meus amigos espectadores, com o Fulanildo transformado, o parque estava a
salvo, nem estrada nem passarela, apenas trilhas para se caminhar.
Loc2: E assim cada um começou a fazer sua parte, reutilizando a água das chuvas,
economizar energia elétrica em suas casas, as pessoas começaram a deixar os carros em casa e
82
Música Lixo no Lixo – Falamansa (no decorrer da música crianças ensinam como
fazer reciclagem)
Loc1: É pessoal, já não tinha mais como fugir da nova realidade daquela cidade.
Tudo estava diferente, até os assessores gananciosos mudaram seus hábitos.
83
Loc2: A população estava tão feliz, as crianças brincavam mais umas com as outras.
Brincavam de pula carniça, bete, queimada, pique pega, salva bandeira, pula corda, soltando
pipa...
Loc3: Maaas, não pensem que a tecnologia ficou obsoleta. Os jovens continuaram
sim brincando de vídeo-game e com seus aparelhinhos high tech, só que desta vez eram
utilizados com moderação.
Loc4: Ah, e a mãe terra agradeceu os cuidados que recebera tudo que ali plantava se
colhia com abundância, para a alegria das famílias camponesas.
Loc1: A fartura reinava, aquela cidade encontrou o equilíbrio entre o velho e o novo.
E o mais importante, permaneceu viva a criança que existia dentro de cada pessoa daquela
cidade.
Em uma análise geral dessa história podemos dizer que a própria trama expõe as
emoções e as relações de afeto em que o homem está inserido, suas motivações internas e sua
construção cultural. Na expectativa de esclarecer a importância da experiência emocional,
evidenciada na história construída e, principalmente, na vida dos indivíduos que participaram
dessa criação, remeto-me a Wallon (1995c [1949], p. 143), para quem as emoções são a
exteriorização da afetividade, um instrumento de adaptação ao seu meio social; elas permitem
as expressões que promovem as relações, as aproximações entre o homem e o mundo. Wallon
(1995c [1949], p. 262) tentou articular o biológico e o social, entendendo a emoção como o
primeiro e mais forte vínculo entre os indivíduos. Para este autor, as relações que a criança
estabelece com o mundo fora dela são de sociabilidade e promovem a aproximação para a
vida em comum. Nesse sentido, Damásio (2000, p. 72) diz que, “sem exceção, homens e
mulheres de todas as idades, culturas, níveis de instrução e econômicos têm emoções, atentam
para as emoções dos outros, cultivam passatempos que manipulam suas emoções e em grande
medida governam suas vidas buscando uma emoção”.
De forma fictícia podemos dizer que, após uma mediação, o personagem Fulanildo
foi movido pelas relações de afeto que construiu na infância com sua amiga e seu meio. O que
o levou a rever concepções e reordenar seu comportamento após uma abstração empírica (ele
pensou sobre o mundo) e uma abstração reflexiva (pensou sobre sua ação sobre o mundo).
Porém nosso estudo aqui irá sair da ficção para apresentar o que a experiência, dentro do
contexto escolar, com os contos, com a música, com a dança, com o teatro, com a poesia, com
as artes, pode propiciar na vida real.
2.3 O espetáculo Felicidade e sua gestação - um olhar artístico para a vida dentro da
escola
Com o propósito de compreender se a escola de tempo integral foi capaz, por meio
da arte, de oportunizar experiências pensantes que processam emoções e promovem relações
afetivas, continuaremos nossa reflexão considerando a riqueza do enredo tratado na história
do espetáculo Felicidade, sua maneira alegre e suave de despertar nossa capacidade de
repensar nossas atitudes sociais, políticas e humanas, além de aguçar nossa percepção para
aquilo que está ao nosso alcance, aquilo que podemos melhorar em prol de uma sociedade.
Questões culturais estão profundamente enraizadas neste enredo e instigam uma autocrítica
quanto a atitudes que, embora sejam incorporadas em ações políticas, partem dos indivíduos.
Por este ângulo, poderíamos superficialmente dizer que, pela arte, esta escola pode
promover experiências pensantes e até processar emoções ao apresentar as mudanças de
85
atitude dos personagens, ou até mesmo quando retrata a corrupção com o dinheiro público,
porém nosso trabalho aqui requer uma reflexão mais profunda.
Considerando que queremos de fato saber é se a escola em tempo integral é capaz
de promover experiências artísticas pensantes que permitam a continuidade do
desenvolvimento de processos afetivos e cognitivos, iniciados no meio familiar nos primeiros
anos de vida da criança, nosso foco é, precisamente, a análise dos processos de experiência
vivenciados durante a construção do espetáculo. O que a vivência com as artes foi capaz de
desenvolver em cada indivíduo a partir das relações e interações que ela oportunizou.
Neste estudo, a beleza dos personagens, dos figurinos, das luzes, dos cenários, da
plateia lotada e, até a finalidade social ou moral da trama apresentada, ficam suspensos para
que possamos fitar o que há por trás das cortinas deste palco organizado pela escola
Professora Maria Nosídia.
Tentaremos aqui perceber, nos aspectos emocionais, afetivos e cognitivos, os
efeitos do envolvimento de cada indivíduo na construção do espetáculo, além do estado de
envolvimento de cada um consigo mesmo, com o outro e com o meio, destacando a influência
das relações, das reações, do uso de instrumentos e das mediações, como fatores que
compõem a construção da história de cada indivíduo.
Para que isso seja possível, partiremos de uma análise minuciosa da organização,
dos procedimentos e dos sentimentos vivenciados pelos alunos, pais e servidores que
participaram da elaboração e apresentação do espetáculo Felicidade. Em busca de uma
consolidação científica, apresento aqui os relatos de cinco profissionais da educação, doze
alunos/atores e cinco pais/responsáveis que graciosamente falaram, cada um a seu modo, o
que pensaram, desejaram ou sentiram durante o tempo em que criaram, apresentaram ou
foram coadjuvantes diretos ou indiretos no espetáculo Felicidade.
De acordo com Piaget,
de analisar o que foi, e como foi para cada um deles o desenrolar deste trabalho, como o
entenderam, sentiram e o que ficou de importante para cada um.
Para iniciar esta reflexão temos o relato da professora Karliene Araújo e Silva que
conta em detalhes como tudo começou:
(FREIRE, 2011a, [1996], p. 47). O estudo de Dewey (1974 [1925]) mostra que, ao permitir o
indivíduo sua manifestação interior, ele consegue construir sua própria realização artística e
podemos dizer que isso ocorre também, porque a imaginação flui.
Diante desta realidade, e com base no desenvolvimento de trabalhos educativos e
sociais pautados nas possibilidades afetivas e emocionais das performances da arte, é viável
pensar que “o princípio de continuidade de experiência significa, que toda e qualquer
experiência toma algo das experiências passadas e modifica de algum modo as experiências
subsequentes” (DEWEY, 1971 [1938], p. 26), tornando viável uma nova criação.
Na e para a criação, o pensamento e a imaginação do homem tornam-se um motor
forte para a mudança e a aquisição de conhecimentos reflexivos, e como bem lembra Paulo
Freire (2011b, p.52) [...] “sem ela (imaginação), é impossível a superação da contradição
opressor-oprimido” talvez sem ela seja impossível também a autogovernança e a democracia
num sistema que prevê o desenvolvimento integral. Mais uma vez temos, pela arte na escola
em tempo integral, o espaço e o tempo proporcionando momentos de construção onde o
indivíduo poderá ler, interpretar e recriar experiências, imaginando e construindo seu próprio
conhecimento.
Entendendo que o nível de significado permanente requer um envolvimento
afetivo, creio ser possível notar esse envolvimento que colabora para um aprendizado quando
a professora Elis Regina, afirma que, no desenvolvimento de uma apresentação, cada um se
responsabiliza pela sua parte e, também realiza trocas. O que La Taille (1992 [1951], p. 59)
compreende, de acordo com os estudos de Piaget, da seguinte forma: “somente com a
cooperação o desenvolvimento intelectual e moral pode ocorrer, pois ele exige que os sujeitos
se descentrem para poder compreender o ponto de vista alheio. No que tange a moral da
cooperação derivam o respeito mútuo e a autonomia”. Um movimento de descentramento que
pressupõe um envolvimento ético político, que requer autoconhecimento, reconhecimento dos
recursos e limites existentes. Além de uma moral permeada pelo respeito, cooperação e
solidariedade durante a construção.
Para as professoras envolvidas diretamente na construção do espetáculo, o trabalho
que buscava integrar as oficinas, já realizado naturalmente na escola, agora teria apenas que
estender-se para a sala de aula, ampliando o diálogo de forma mais profunda com o professor,
o que certamente tornaria ainda mais sólida a construção do conhecimento. Elas contam que
foram realizadas reuniões com professores no intuito de rever as propostas do PPP, coletar
sugestões, e trocar ideias para o trabalho com o tema Felicidade e, como as questões políticas
e as manifestações populares estavam acontecendo em todo país, os professores optaram por
inserir aquele momento histórico na trama. Conforme descrevem as professoras “os alunos
88
contribuíram de diversas formas, mesmo os que não atuaram diretamente no palco, atuaram
sugerindo” (ELIS REGINA DA SILVA, EM ENTREVISTA, OUTUBRO DE 2016).
A professora e coordenadora ressalta também que
A gente sempre pesquisa em internet, conversa com um, conversa com outro, mostra
os passos, avalia os que estão bons e os que não estão. Sempre chamava a Karliene
(professora de música), a Isabel (diretora) para dar palpite. Eu sou uma pessoa muito
aberta, então se a outra pessoa falar “não, assim eu não gostei”, nessa hora a gente
tenta incrementar um outro passo, chamava as meninas da secretaria, que nos
89
que ela é por si própria um regulador e regula, o que está insuficientemente regulado pelas
regulações anteriores".
Ainda, sobre esse contexto, a professora Elis Regina confirma esse processo de
envolvimento permanente na construção, quando explica que a escrita inicial do espetáculo
Esse modo de agir vem ao encontro do que nos afirma Vygotsky (2003, p. 75):
“No processo de educação, o professor deve ser como os trilhos pelos quais avançam livres e
independentemente os vagões, recebendo deles apenas a direção do próprio movimento”.
Apresento a seguir um fragmento em que a professora confirma o sentido desse trabalho de
cooperação:
E aí você percebe, não sei se é só uma impressão minha, mas eu acho que é de
todos, o brilho nos olhos deles, porque eles são autores. Você percebe que eles estão
construindo conhecimento. E aí chegamos no Espetáculo Felicidade, que foi
apresentado em 2014 e vai ser espetáculo itinerante, nós fomos apresentar em outras
escolas, nós temos um projeto aí de mãos solidárias, que é aquele que nós fomos
para o asilo, então é levar essa alegria para outro, mostrar essa possibilidade de
contagiar a todos com essa felicidade que a gente tem, e é felicidade por quê?
Porque eu vou trabalhar com as ações humanas, vou trabalhar com os valores, com o
cuidado com o meio ambiente [...], sempre pensando no espaço que eu ocupo, no
cuidado com esse espaço e com o outro que está inserido nesse espaço, o respeito
que eu tenho que ter com esse outro e estabelecer nessas relações (ELIS REGINA
DA SILVA, EM ENTREVISTA, OUTUBRO DE 2016).
Para eles, o que “importa é observar que cada nova estrutura mental, ao integrar com as
precedentes, consegue, ao mesmo tempo, liberar em parte o indivíduo do passado e inaugurar
atividades novas, que, no nível presente, são essencialmente orientadas para o futuro” (p.
127).
A professora Elis aponta ainda que
Todo mundo envolvido. Isso gerou uma felicidade muito grande, uma realização
muito grande e foi parar no palco, nós apresentamos lá no teatro da EMAC, lotado o
auditório. Com pessoas que vieram de fora e se comoveram, se emocionaram com a
apresentação dos meninos, eles entenderam, incorporaram aquilo ali, se
transformaram em personagens para apresentar algo da vivência, do cotidiano, da
experiência deles. Quando você vivencia algo, fica mais real, mais verdadeiro para
você passar para outro. Por isso houve as emoções, as pessoas aplaudiram de pé
(ELIS REGINA DA SILVA, EM ENTREVISTA, OUTUBRO DE 2016).
ao final, esse aluno sorriu e falou: “Nossa, tia, como ficou bom!”. A professora de música
explica ainda, que é nítida a diferença dos alunos do início para o fim projeto:
Quando você pega os alunos no início do projeto, vai falando, conversando, nos
ensaios eles têm uma vivência totalmente diferente. Eles não precisam ficar ali todo
mundo certinho, numa mesma posição, na sua carteira, não é isso. Eles têm uma
vida diferente, eles movimentam, dialogam, se aproximam, adquirem uma
percepção maior das coisas, do outro, ele [aluno] percebe o outro. Quando o outro
está ensaiando ele observa, ele capta aquilo que para ele é interessante e também se
corrige. Ali ele tem mais opções para observar, dialogar [...], eu achei muito
interessante. Em um dos ensaios, num sábado de manhã, parecia que estávamos
todos eufóricos e rendeu tanto! Foi tão divertido, ensaiar num sábado, cada um com
uma roupa, querendo mostrar. Também notei que, quando acabou o projeto, alguns
alunos que eram muito tímidos, muito calados, eles se mostravam mais, queriam se
mostrar, tomar mais atitude. Outros que tinham muita dificuldade de fala, de
postura, eles apresentaram uma melhora. Na rádio eu tive dois que deram muito
trabalho, só que eles desenvolveram bastante, adquiriram certa maturidade. Eles
ouviram muitas críticas dos colegas, não só dos professores, mas também dos
colegas a quem eles ouvem bastante (KARLIENE ARAÚJO E SILVA, EM
ENTREVISTA, OUTUBRO DE 2016).
Nós trabalhamos, no geral, para o espetáculo todo, de agosto até dezembro, em torno
de quatro meses e alguns dias [...] tudo acontecendo simultaneamente. Tinha a cena
dos meninos brincando, então as professoras levam isso para sala de aula, para os
alunos, quais brincadeiras de infância. A professora Lucineide até fez um gibi com
as crianças sobre as brincadeiras tradicionais de infância. Tinha uma cena que
tratava a preservação do meio ambiente [...], a professora Marli trabalhou o assunto
nas turmas e eles construíram cartazes. A rádio trabalhava não só com os alunos da
apresentação, mas, dentro da sala com todos também. Então assim, foi um grande
movimento [...]. Essa construção foi muito rápida, um dia estávamos em uma cena
um aluno chegava e dizia “tia vamos fazer assim”, ai articulávamos de repente
chegava outro e “olha isso aqui poderíamos colocar assim”, então vamos.
Construímos juntos mesmo, foi emergindo. Quando não tínhamos ideia a gente
decidia, vamos fazer assim, depois mudamos [...]. Foi um processo muito louco!
Uma construção viva mesmo (KARLIENE ARAÚJO E SILVA, EM
ENTREVISTA, OUTUBRO DE 2016).
Os que estavam participando... eu acho que eles ficaram mais unidos, quando um
faltava ou adoecia outro informava o que havia acontecido, eles reforçavam uns com
os outros os dias dos ensaios e pediam para não faltar, criou certo vínculo, uma
94
O ser humano foi, logo que saiu da vida puramente orgânica, um ser afetivo. Da
afetividade diferenciou-se, lentamente a vida racional. Portanto no início da vida,
afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas, com a predominância da
primeira. A sua diferenciação logo se inicia, mas a reciprocidade entre os dois
desenvolvimentos se mantém de tal forma que as aquisições de cada um a
repercutem sobre a outra permanentemente. Ao longo do trajeto, elas alternam
preponderâncias, e a afetividade reflui para dar espaço à intensa atividade cognitiva
(WALLON apud DANTAS, 1992, p. 90).
Na visão de Paulo Freire (1996, p. 142), “é digna de nota a capacidade que tem a
experiência pedagógica para despertar, estimular e desenvolver em nós o gosto de querer bem
e o gosto da alegria sem a qual a prática educativa perde o sentido”. A diversidade e
receptividade proporcionada pela prática das artes tira a aprendizagem de seu modo mecânico,
introduzindo assim momentos pensantes, dotados de descobertas e construções de signos e
significados, que, por sua vez, nos chegam por intermédio da palavra e das relações
socioculturais como afirmou Vygotsky. Mas também pela comunicação motora e emocional
de que falou Wallon e ainda pelas vias sensitivas e cognitivas apresentadas por Piaget.
Nesse sentido, a prática pedagógica receptiva que propõe descobrir com o grupo o
que cada um vê e entende como sendo importante, favorecerá uma construção interna
individual e social mais significativa. Ouvir e ser ouvido pode proporcionar satisfação e
responsabilidade principalmente se, nesses momentos, houver espaço para a alegria. A
coordenadora, professora Elis Regina conta que, no início,
nós tivemos um eixo norteador, felicidade. O que te faz feliz? O que me faz feliz? O
que me move? O que move você? Ajudar ao outro te deixa feliz? Cuidar do meio
ambiente te deixa feliz? Fazer leituras, descobrir esse mundo através de leituras te
deixa feliz? Brincar te deixa feliz?[...] O espetáculo é uma brincadeira, se
95
transformou em uma brincadeira! Esse momento de brincar te deixa feliz? Então nós
unimos isso aí nas linguagens de dança, música, teatro e mais a rádio que envolve
teatro que é a comunicação associada aos componentes curriculares. A partir da peça
pronta, o texto escrito, os professores tiveram acesso e levaram para a sala de aula.
Em sala de aula foram desenvolver as atividades pegando cada ponto desses aí, do
lazer, da brincadeira, pensando na felicidade, o que é felicidade? Quais são os
momentos de felicidade que eu posso ter e posso propiciar ao outro? E aí vem a
geografia com os cuidados com o meio ambiente; a arte; a contação de histórias; a
língua portuguesa com a produção de textos [...]Se você pegar texto original e a
versão final tem muitas diferenças, coisas que foram retiradas, acrescentadas, foi um
trabalho feito por muitas mãos, foi um processo (ELIS REGINA DA SILVA, EM
ENTREVISTA, OUTUBRO DE 2016).
Elis Regina da Silva e a diretora Isabel Leal esclareceram que o trabalho começou
em janeiro de 2014, lá no PPP, quando o grupo de professores, a partir das atividades
propostas pela prefeitura para a Mostra Artístico Cultural (MAC), desenvolveram seus temas
geradores, o que pretendiam trabalhar. As duas explicaram que a escola não é perfeita e que
todos se entregam ao trabalho duro, em uma construção diária. Para elas a perfeição está no
sentido de que todos se envolvem e “parece que essa escola é de outro mundo, de outro lugar
por esse sentido, é um trabalho de todos [...] é um trabalho da escola” (ELIS REGINA DA
SILVA, EM ENTREVISTA, OUTUBRO DE 2016).
As colegas de trabalho explicaram também que o maior desafio para a construção
do espetáculo, foi pensar um contexto de diversidade, sem deixar nenhuma cultura regional
excluída. Pensar nessa cultura que vem de casa, que vem de fora e, é composta de
conhecimentos e comportamentos múltiplos. De acordo com as entrevistadas, foi tudo
pensado com toda equipe. Nesse caminho de percepção e busca das diferenças, Vygotsky
compreende que:
conseguiam deslanchar melhor. A criança era mudada de função ali mesmo dentro do
espetáculo, nunca excluída. Para elas, o fato de eles não quererem sair da peça e terem o
desejo de superar suas dificuldades era o mais importante.
Foi realizada uma reunião com a família, devidamente documentada, onde os pais
se comprometiam a ser parceiros da escola e a estarem juntos, para o sucesso da
aprendizagem de todos. Em Dewey (1971 [1938], p. 51) “a fonte primária de controle social
está na própria natureza do trabalho organizado como um cometimento social, em que todos
os indivíduos têm oportunidade de contribuir e pelo qual todos se sentem responsáveis”. Se
essa ação remete a controle social ou a construção cultural, apenas o percurso e os resultados
do trabalho em parceria serão capazes de responder.
É evidente nas falas das profissionais até aqui descritas, o envolvimento e as trocas
que ocorreram durante os meses de trabalho, em algumas falas foi possível registrar que
houve momentos bem densos, carregados de cansaço e muita expectativa.
Nas entrevistas sempre que perguntei sobre a formação dos que trabalharam na
montagem do espetáculo, os professores falavam com muito respeito do trabalho e dedicação
dos colegas, o que, para eles, não dispensa a importância de um profissional específico para
cada área. Porém, foram enfáticos em apresentar o empenho de cada um em realizar um
trabalho de qualidade. Deixaram claro também que sempre foi necessário buscarem o apoio
de profissionais das artes junto à SME, o que lhes promoveu uma rica experiência e ainda
mais êxito no percurso do trabalho.
Ao tratarmos sobre suas percepções quanto às relações e as emoções vivenciadas
pelas organizadoras do grupo nessa específica experiência na performance de arte elas foram
capazes de apresentar alguns momentos que lhes foram marcantes, sempre com o olhar para
os alunos, suas reações, mudanças e superações, o que demonstra que, de alguma forma,
foram marcadas por um sentimento que não chegaram a descrever.
O ponto culminante para as entrevistadas parece ter sido vivenciado no momento
em que elas realizaram suas leituras sobre o que sentiram e fizeram os alunos, ao final da
primeira apresentação feita ao público, no teatro da Escola de Música e Artes Cênicas
(EMAC/UFG). Todas as profissionais entrevistadas relacionaram as reações ao sentimento de
superação, de autoestima, intensa alegria e emoção.
Wallon afirma que o aparecimento da afetividade leva à transformação das
emoções em sentimentos:
A minha relação com meus colegas mudou muito. Nos ensaios a gente conversa
sobre coisas e depois você vê que a relação está mais próxima, aí a gente começa a
falar segredo, começa a se simpatizar com a pessoa e começa a ver que ela é muito
importante para você. As férias todas eu senti falta dos meus amigos [...]. Foi muito
bom, a gente se aproximou mais e, desde o começo, a gente teve ajuda, os alunos,
uns ajudavam os outros. Eu ajudei a minha amiga memorizar as falas dela, porque
ela era a narradora e auxiliei a Ana Cecília na dança. Também me ajudaram para
caramba! Foi o Leon, Geovana, Julia, foi muita gente ajudando todo mundo,
principalmente quando teve ensaio no fim de semana, até no intervalo a gente ficou
ensaiando [...], foi muito bom. A relação mudou entre mim, e minhas professoras de
dança e música, a gente ficou mais próxima, minha professora de música, minha
professora de dança mais ainda. Mudou muito (JÚLIA GABRIELE, EM
ENTREVISTA, OUTUBRO DE 2016).
Nas entrevistas com os alunos, são recorrentes trechos como: “relação está mais
99
próxima”, “uns ajudavam os outros”, “a gente criou”, “a gente dava ideia”, “foi muito bom”,
“a relação mudou”, “livre”, “difícil”, “cansaço”, “orgulho” e “senti muita felicidade”. Esses
trechos formaram a base de uma análise que considera que estes sentimentos e sensações são
capazes de promover processos internos e a construção de relações afetivas entre a criança e
sua ação, seu meio, as pessoas e objetos que fizeram parte da atividade artística.
Sem a pretensão de revelar achados para a psicologia, pois este estudo desvela-se
em uma perspectiva interdisciplinar, de acordo com Borba (2004, p. 31), para psicologia, a
afetividade “é um conjunto de fenômenos psíquicos que se manifesta sob a forma de emoções,
sentimentos e paixões acompanhados da sensação de agrado ou desagrado”. Neste contexto,
para Henri Wallon (1986a [1954], p. 288), a afetividade ocupa lugar central para a formação
da pessoa e a construção do conhecimento, partindo do pressuposto de que as emoções
também oportunizam os vínculos entre os indivíduos. Em Wallon a emoção é capaz de
realizar transições, é compreendida como o ponto de partida do psiquismo com raízes na vida
orgânica e é sempre influenciada pelo meio social, cultural e ainda, pelo biológico. Wallon
explica que
Como exemplo da ligação entre afeto e cognição, entre outros, a fala dos alunos
101
Júlia, Ana Cecília e Filipy descrevem bem os rumos da construção do conhecimento, cada um
deles, à sua maneira, desenvolveu uma percepção do seu aprender. Para Júlia: “Você usa arte
para tudo, para tudo que você vai fazer na vida. Na matemática, na dança, por exemplo, a
professora fala lá: três de oito, então você aprende 3x8, coisas assim”. Enquanto para Ana
Cecília, quando pergunto se o teatro mudou alguma coisa nela, a aluna responde:
Me mudou muito. Eu não ligo mais para as coisas da moda eu só quero me sentir
bem, estar com os meus amigos. O teatro me ensinou também sobre o lixo, antes eu
não me importava, jogava em qualquer lugar, depois do espetáculo eu cuido mais, eu
me preocupo. Minhas notas melhoraram muito, porque eu descobri que eu sou
capaz, só preciso me esforçar, treinar que eu consigo. Antes eu não me achava
capaz. Hoje eu olho para os meus colegas de forma diferente (ANA CECÍLIA, EM
ENTREVISTA, OUTUBRO DE 2016).
O aluno Filipy não demonstrou dúvidas ao dizer: “Eu aprendi que para tudo que
você se esforça tem uma recompensa, e que vale a pena se sentir orgulhoso de você [...]. Hoje
eu sei o quanto é importante a amizade entre as pessoas, elas ajudarem umas às outras e que a
arte faz isso com a gente, ela muda a gente” (FILIPY GABRIEL, EM ENTREVISTA,
OUTUBRO DE 2016).
Podemos dizer que o exercício da arte ajudou a aprender, porque colaborou com a
percepção do ‘eu’ e suas potencialidades. Com a percepção das relações estabelecidas com o
outro, e até com o mundo, porque na fala da Júlia foi possível perceber que ela buscou fazer
associações entre a história encenada e o meio. Ela conta que o personagem principal a fez
pensar na vida, quando “começou a pensar mais na cidade, nas pessoas, quando ele começou
a se importar mais com essas coisas, não só dinheiro, na [pensar] no dinheiro, na grana”.
Ouvir a experiência dessas crianças, desperta para uma possibilidade de construção
cultural que vai além das ciências exatas ou da racionalidade que, muitas vezes é imposta pelo
contexto social. A ação pedagógica aliada à criação artística pode, sem dúvidas, transpor
paradigmas e produzir a cultura da democracia, da participação, da ação crítica, autocrítica,
reflexiva e construtiva, desenvolvendo nossa cognição e nossa inteligência emocional. Em
outras palavras, ação pedagógica aliada a criação artística pode propiciar ao homem relações
que lhe permitirão construir com significado a sua própria experiência pensante, sua
aprendizagem significativa, como tratam Eliane Maria Cherulli Carvalho e Lílian Cherulli de
Carvalho, que demonstraram seu interesse nesse assunto, na pesquisa A afetividade no
entendimento intersubjetivo professor-aluno e a aprendizagem significativa:
“... Durante os ensaios eu sentia muita agonia, aquele calorzão e a tia punha a gente
para ralar mesmo e tinha momento que eu sentia muita raiva, principalmente quando
ela mandava a gente repetir, “passa de novo, de novo, de novo, está errado, perna
mais alta...” (ALUNA JÚLIA GABRIELE, EM ENTREVISTA EMOUTUBRO DE
2016).
“... Nossa senhora, muito. Dava nervoso aí uns caras meio atrapalhados, mais depois
a gente pegou o jeito e entramos, fizemos a apresentação” (JONATAS
RODRIGUES ENTREVISTA EM OUTUBRO DE 2016).
“... Eu sentia medo de errar, de não conseguir, mais [sic] aí a gente ia treinando
tanto, tanto, que eu via que ia melhorando que eu ia dar conta, era muita ansiedade,
muito medo, uma confusão de sentimentos. Mas todo dia eu me superava” (FILIPY
GABRIEL, EM ENTREVIST, OUTUBRO DE 2016).
“... Um dia eu fiquei muito nervosa, porque não conseguia fazer certo a dança com a
pipa e rasguei a pipa, joguei no chão xinguei e a Julia me ajudou me acalmar, me
deu conselhos, se propôs até me ajudar a consertar aquela pipa que era pesada e me
deixava cansada e com raiva” (ANA CECÍLIA, EM ENTREVISTA, OUTUBRO
DE 2016).
criança começar a passar o dia todo na escola. Nas experiências, até aqui apresentadas, o
proposito é perceber o poder das experiências artísticas, classificando-as como instrumentos
que permitem ao indivíduo vivenciar emoções que desencadeiam processos afetivos,
potencializando relações e inter-relações. Por isso apresento uma perspectiva que entende
que, além de social, somos seres individuais, perpassados pela afetividade, que é tão
responsável pela aquisição de conhecimentos que conduz a formação do homem, quanto à
cognição. Por essas análises, os processos emocionais e afetivos são motores da organização e
estruturação dos conhecimentos que compõem e fundamentam o desenvolvimento humano.
Outro ponto importante a ser esclarecido é a percepção de que este estudo
classifica a emoção como um elemento que, além de estimular processos afetivos, é uma
forma de expressão da afetividade. As contribuições de Wallon (2007 [1941], p. 47-49) ao
descrever que as emoções são manifestações de estados que provocam flutuações de tônus
muscular, tanto de vísceras como da musculatura superficial, podendo até provocar um tipo de
alteração muscular, enquanto a afetividade surge com a transformação das emoções (origem
biológica) em sentimentos (origem psicológica), com a evolução da criança, quando surgem
os elementos simbólicos. Para Wallon (2007, p. 47) a emoção faz a ligação entre o orgânico e
o cognitivo, colaborando com a produção de processos afetivos, e “entre o tônus muscular e
as sensibilidades correspondentes parece haver uma espécie de união e de reciprocidade
imediatas, a contração muscular e a sensação parecem se alimentar mutuamente”.
Em Vygotsky (2000a, p. 78-79) as emoções também não se resumem à sua
natureza orgânica ou biológica, pois promovem um processo ativo e passivo, que o autor
considera como complexos. Para ele, é preciso que atentemos para a dinâmica da vida
emocional mais do que para seus componentes orgânicos, tendo em vista que as emoções
desempenham funções no psiquismo e têm um estatuto psicológico que se relaciona à
imaginação, ao pensamento e à linguagem por meio da experiência humana. Ainda em
Vygotsky (2004b [1933], p. 214) “toda emoção é uma função da personalidade”, porque
assume uma função social de regulação dos estados internos e orientação do comportamento,
o que demonstra seu poder de formação e transformação
Piaget (1971, p. 271-272) concebe que a afetividade engloba as tendências e as
vontades, além das emoções e sentimentos; requer uma adaptação, um desequilíbrio, pois
advém de uma impressão afetiva particular e da consciência de uma necessidade. A
afetividade, de acordo com esse autor, além de auxiliar na constituição de estruturas de valor
por meio das relações interindividuais, influencia na percepção, na memória e no pensamento.
Assim, ele entende que a afetividade precede as funções cognitivas e as construções mentais
são permeadas por ela. Dessa forma, Piaget (1987-1971) afirma a presença da emoção como
104
motor dos processos afetivos e cognitivos. As emoções, segundo ele, originam-se nas funções
orgânicas e nas relações que se desenvolvem entre o indivíduo e os objetos do meio em que
ele está inserido. Relações essas que ocorrem em todos os estágios do desenvolvimento,
provocando uma incessante adaptação intelectual que requer a presença da afetividade.
Nota-se então que, a partir das artes no contexto escolar, será possível reduzir as
distâncias entre o indivíduo com ele mesmo e dele para com o seu ambiente, pois ela
possibilita inúmeras linguagens, produz relações e interações de diversas ordens, contribuindo
com a estruturação do conhecimento e a organização do comportamento.
Consciente deste estudo, penso no uso que o grupo humano pode dar às artes, no
sentido de promover, a partir de experiências pensantes, a estruturação do conhecimento e a
organização da inteligência, tendo em vista sua capacidade de envolver emocionalmente e
afetivamente o pensamento, no ato motor e na cognição.
Compreendo assim que a provocação da reação emocional, estimulada pelas artes
é essencial para a imaginação e para futuras construções e desconstruções que o indivíduo
fará, além de servir de estímulo para o constante processo de captação, organização,
estruturação e transformação que Piaget define como processos de assimilação e acomodação.
O processo de assimilação para o autor é
Vygotsky (1999a [1925]) deixa claro que a obra de arte não age por si só, ela
precisa do olhar do outro, aquele que poderá dar significado, aquele que poderá ser afetado, às
vezes, por sentimentos, às vezes, por vivências ou pela provocação da própria fantasia, que o
remeterá a um novo processo interno. Por isso é preciso que compreendamos a importância do
processo de mediação e interação que devem ser reflexivos no contexto escolar.
Pela profundidade dos relatos dos alunos podemos dizer que essa vivência com as
artes, mediada por pessoas, objetos, instrumentos culturais e construções internas
desenvolvem conexões. Neste trânsito, essas relações de causas externas ou internas, estão
diretamente ligadas a uma vida em sociedade, a uma cultura e aos usos de seus signos e
instrumentos que promovem pela experiência novos pensamentos, novos sistemas de
relacionamentos e comportamentos, impulsionando e sendo impulsionados por processos
afetivos.
Se é importante que experiência artística faça parte do currículo escolar? Este
estudo responde com alguns belíssimos trechos das entrevistas realizadas com os alunos:
106
... as atividades artísticas ajudam a desenvolver nos alunos um maior vínculo com a
unidade escolar, o que reflete em aprimoramentos nas atividades teóricas em sala de
aula, além de permitir uma maior facilidade na convivência entre os alunos e
funcionários da escola (GIOVANNA AZEVEDO, EM ENTREVISTA, OUTUBRO
DE 2016).
Gosto muito, eu amo dançar! Faz-me bem para caramba, quando eu estou dançando
lá, eu falo é o mundo. Onde eu estou, onde eu gostaria de estar, de onde eu não
gostaria de sair. [...]. Nem todas as escolas têm arte [...] tem escola que a gente só
estuda, estuda e estuda. Aí no recreio tem quase nada para fazer, fica cada um no seu
celular, só tecnologia, aí eu acho que deveria ter mais arte, mais amizade entre as
pessoas; conversar mais, eu acho que isso é bom para desenvolver o cérebro e
também você pensa sobre a outra pessoa, sobre o que você está fazendo e sobre o
que você consegue fazer de melhor (JÚLIA GABRIELE, EM ENTREVISTA,
OUTUBRO DE 2016).
Tem que ter dança, tem que ter música, tem que ter teatro, tudo. Porque você se
descobre, descobre seus medos porque nada nunca é igual na arte. Eu quero ter essas
experiências sempre, porque se eu não tivesse feito aquele espetáculo hoje eu não
estaria mais preparado para qualquer oportunidade. Agora se surgir alguma coisa eu
não vou ter medo eu vou me sentir mais preparado e saber que eu posso fazer
(FILIPY GABRIEL, EM ENTREVISTA, OUTUBRO DE 2016).
107
CAPÍTULO 3
emoção, no homem, são consideradas por ele como atividades opostas e, ao mesmo tempo em
que promovem conflitos, dão origem uma à outra numa intensa interação, que ocorre em um
ambiente que não é imutável e que por isso pode acarretar transformações constantes. Mesmo
diante de um mundo material que condiciona em nós a ideia que fazemos dele, Wallon
acreditou que, além da razão o homem é movido pela afetividade em uma articulação dialética
entre os processos orgânicos, biológicos, afetivos e cognitivos, instituindo sistemas e
estruturas em meio a uma história, sociedade e cultura. Ele buscou compreender uma vida
mental que mesmo condicionada, encontra-se carregada tanto de tendências próprias quanto
de tendências opostas.
O fator orgânico é a primeira condição para o desenvolvimento do pensamento,
porém, se dá sob as influências do meio; por isso Wallon desenvolve o estudo da pessoa em
sua totalidade (cognição, caráter afetivo e motor), dando destaque a afetividade e ao ato motor
Este que, por sua vez, é compreendido por Wallon (1995c [1949], p. 51), como indispensável
para a expressão das emoções e para a constituição do conhecimento. Afirma que “a
afetividade e a inteligência constituem um par inseparável na evolução psíquica, pois ambas
têm funções bem definidas e, quando integradas, permitem ao sujeito atingir níveis de
evolução cada vez mais elevados”.
Interessante observar inúmeros autores que abordam aspectos estudados por
Wallon. Segundo Heloisa Dantas em sua obra de 1992, a Afetividade e a construção do
sujeito na psicogenética de Wallon, a emoção, “com a maturação cortical, torna-se suscetível
de controle voluntário” (p. 86). Sobre afetividade e cognição a referida autora explica que elas
alternam seus momentos de domínio “e a afetividade reflui para dar espaço à intensa atividade
cognitiva assim que a maturação põe em ação o equipamento sensório-motor necessário à
exploração da realidade” (p. 90).
Galvão (2011, p. 61) é categórico ao afirmar que, para Wallon, o conceito de
afetividade envolve as manifestações das emoções, dos sentimentos e dos desejos. Galvão
entende que em Wallon a emoção é a manifestação que oferece a regulação das alterações do
tônus da musculatura dos órgãos internos (lisa) e da musculatura esquelética (estriada). E, que
este movimento muscular estimula mecanismos cerebrais permitindo ao homem a ação sobre
o mundo, e o uso de recursos.
Ainda em Galvão (2011, p. 63) “A serviço da expressão das emoções, as variações
tônico-posturais atuam também como produtoras de estados emocionais”. Assim, Wallon
(1995c [1949], p. 142-143) entende que há reciprocidade entre movimento e emoção, numa
atividade que apresenta a disposição do indivíduo de ser afetado interna e externamente.
111
descrever, classificar e relacionar com quaisquer outras leis do que todos os restantes”.
Além da experiência com teatro e arte (1919-1921), Vygotsky também se destacou
por suas críticas literárias e pelas análises que realizava sobre os significados históricos e
psicológicos das obras de arte, o que muito provavelmente contribuiu para que considerasse
em seus trabalhos questões relativas à emoção. Vygotsky (2003 [1926], p. 143-144) afirma:
“devemos considerar as emoções como um sistema de reações prévias que comunicam ao
organismo o futuro imediato do seu comportamento e organizam as formas desse
comportamento”. E conclui: “a emoção não é um agente menor que o pensamento”, mas, sim,
a construção de um para o outro.
Segundo Vygotsky (1999a [1925], p. 164), “a reação é uma resposta do
organismo, um ato de adaptação deste a tal ou qual elemento do meio que age sobre ele”.
Ainda, Vygotsky (2004b [1933], p. 40) “a ideia de que a emoção não é simplesmente a soma
das sensações das reações orgânicas, senão principalmente uma tendência a agir numa
determinada direção”. Tais considerações se tornam perceptíveis em relação à importância
dos estímulos, sejam eles externos ou internos (VYGOTSKY, 2003 [1926], p. 131). Neste
contexto, descreve que a
Afetividade é um elemento cultural que faz com que tenha peculiaridades de acordo
com cada cultura. Elemento importante em todas as etapas da vida da pessoa, a
afetividade tem relevância fundamental no processo ensino aprendizagem no que
diz respeito à motivação, avaliação e relação-professor e aluno (VYGOTSKY, 1998
[1932], p. 42)
Parto do princípio que pela arte, haverá a provocação das reações em virtude dos
estímulos interno e externos e, os elementos da cultura podem se tornar afetivos, motivando
as experiências escolares. Segundo Gisele Toassa (2009, p. 281), para “Vygotsky a base das
reações estéticas são as emoções suscitadas pela arte”, pois a mesma é capaz de estimular
desejos, percepções e memórias biológicas e ou culturalizadas e, “para Vygotsky, a emoção
artística difere da comum: é um terremoto desnudando e ordenando camadas de energia sem
direção, de caráter propriamente universal que desvela seu poder criador na vida em
sociedade” (p. 297). A autora explica ainda que, a arte, “também desencadeia processos
energéticos no sistema nervoso central, que coincidem com a vivência dos sentimentos”
(2009, p. 98).
A refundição das emoções fora de nós realiza-se por força de um sentimento social
que foi objetivado, levado para fora de nós, materializado e fixado nos objetos
externos da arte, que se tornaram instrumentos da sociedade. [...] De igual maneira,
113
Esta técnica social do sentimento, está inserida nas vivências da sociedade através
do próprio ciclo da vida, as artes podem sim, construir um sentimento social objetivo, tanto
para dentro, quanto para fora de nós. Nesta investigação pude constatar esta emoção
condutora e mediadora de processos nas interações humanas e suas reações. Dentro do
contexto deste estudo de caso, foi possível captar a construção de um sentimento individual e
social, além de algumas transformações que foram descritas pelos próprios envolvidos.
Explicam Barroco e Superi (2014, p. 31) que, para “Vygotsky, a obra de arte,
enquanto instrumento cultural, por sua estrutura específica e pelos processos criativos e de
catarse23, tanto na produção quanto na fruição, pode suscitar uma nova organização psíquica”,
isso porque ela é capaz de envolver os sentidos físicos, psicológicos e emocionais, provocar
pensamentos e desencadear processos de imaginação. Este intenso movimento leva ao
entendimento que não apenas as obras de arte, mas as artes devem ser compreendidas como
atividades humanas de extrema importância, pois:
Vygotsky (1999a, [1965], p. 76) propõe, ainda, que a razão pode controlar as
emoções mais primitivas, graças ao domínio dos instrumentos culturais e ao uso de signos
como a fala e afirma que o desenvolvimento do pensamento possibilita a estruturação da
consciência e das funções psíquicas. Segundo esse autor, qualquer que seja a forma do
pensamento: representações afetivas, imaginação, fantasia ou o pensamento lógico, ele tem
em sua base uma emoção (Vygotsky (1987a [1930], p. 129).
O pensamento propriamente dito é gerado pela motivação, isto é, por nossos desejos
e necessidade, nossos interesses e emoções. Por trás de cada pensamento há uma
tendência afetivo-volitiva, que traz em si a resposta ao último “por que” de nossa
análise do pensamento. Uma compreensão plena e verdadeira do pensamento de
outrem só é possível quando entendemos sua base afetivo-volitiva (VYGOTSKY,
1987a [1930], p. 129).
23
A catarse, nesse sentido diz respeito à transformação das emoções suscitadas em um novo sentimento.
Conforme Vygotsky (1999) a própria obra de arte deve oferecer em sua estrutura as condições para a catarse, ou
seja, para a superação das emoções conflitantes trabalhadas na obra (BARROCO; SUPERTI, 2014, p.30).
114
funções mentais que se relacionam com outros elementos da vida mental, na qual o orgânico
interage necessariamente com o contexto social histórico e cultural, um “processo complexo
que emerge historicamente” (p. 127). Nesse contexto, a imaginação e a fantasia estão, para
Vygotsky (1987a [1930]), a serviço da emoção e, nessa perspectiva a afetividade poderá ser
considerada como promotora da apropriação do conhecimento, como já dito anteriormente.
O terceiro autor investigado é Jean Piaget. Nascido em Neuchâtel, na Suíça, em 09
de agosto de 1896, de família rica e culta, foi biólogo de formação, doutor em Zoologia, e
mais tarde na França, estudou Filosofia e Psicologia. Piaget buscou saber como o
conhecimento cresce no próprio ser humano e seu foco era o sujeito, ser pensante que possui
uma forma própria de se desenvolver.
Na obra A psicologia da criança, escrita por Piaget e Inhelder (1978a, p. 24), os
autores falam sobre as reações sensoriais motoras e explicam que “o aspecto cognitivo das
condutas consiste na sua estruturação e o aspecto afetivo na sua energética” eles se dedicaram
a examinar a evolução das percepções para compreenderem o desenvolvimento da criança.
Em outra obra Piaget (1976b, p. 156) afirma que “quanto à relação funcional a criança é
idêntica ao adulto, ela é um ser ativo cuja ação, regida pela lei do interesse ou da necessidade,
só poderá dar seu pleno rendimento se fizer um apelo aos móveis autônomos dessa atividade”.
Mesmo considerando que o homem realiza internamente elaborações constantes e
que sofre influência do meio, Piaget (1987b, p. 53-54) afirmou a existência de duas
tendências inatas, que são a tendência natural à organização e à adaptação.
Esta perspectiva condiz com a ideia de Piaget (1999b, p. 36) de que, em toda
116
Como se pode observar, tendo como fundamento as palavras de Jean Piaget (1994
[1962], p. 129), que partem do princípio de que afetividade e inteligência seriam polos
indissociáveis (mesmo possuindo papéis diferentes) e caminham juntas, oferecendo
caracterização estrutural e energética às ações humanas. Ele entende que só afeto não seria o
suficiente para o desenvolvimento da inteligência; porém, sem o afeto, não seria possível ao
homem novas elaborações, uma vez que não existiria a motivação, os interesses ou as
necessidades. Portanto, para a constituição da inteligência, a afetividade é imprescindível.
Piaget (1976b, p. 162) diz que “o interesse verdadeiro surge quando o eu se identifica com
uma ideia ou um objeto, quando encontra neles um meio de expressão e eles se tornam um
alimento necessário à sua atividade”.
Em relação ao conceito de afeto, Damásio (2000, p. 431) descreve que “é aquilo
que você manifesta (exprime) ou experimenta (sente) em relação a um objeto ou situação, em
qualquer dia de sua vida”.
Pensando a experiência prática possível pelas artes, retomo a obra A psicologia da
criança onde Piaget e Inhelder (1978a, p. 49-50) explicam que, no início, a criança imita em
uma espécie de “representação em atos materiais e ainda não em pensamentos” e com o jogo
simbólico e a aquisição da linguagem, ela constitui a representação em pensamento, apoiada
também na comunicação. Esta concepção reforça a importância do exercício prático pelas
atividades artísticas, uma vez que inspira expressões, linguagens e símbolos próprios no ato
processual da criação e desenvolve a capacidade de representação pelos movimentos do
117
Para Wallon (2008, p. 157) a imitação e a representação (plano motor/ plano das
imagens e símbolos) se desenvolvem em oposição às reações que modificam o meio e
representam desejos de moldar-se. Analisando por outra perspectiva, podemos também
compreender que por elas é possível à criança enxergar os modelos, repensá-los e recriá-los.
Neste trabalho o fator motivador compreende as imitações e representações
possíveis nas atividades artísticas como motivadores de reflexões das práticas sociais,
culturais e históricas, ou ainda para “distinguir daquilo que é aquilo que o faz ser”, e nesse
processo Wallon (2008, p. 159) explica que a ficção “é um procedimento indispensável do
pensamento”.
Para Wallon a ficção, a representação e a imitação também promovem estímulos
emocionais. Segundo Jaques e Vicari (2005, p. 15-38) o fato é que “as emoções excitam a
reação comportamental e a recepção de estímulos e requerem processos cognitivos para gerar
ou recuperar preferências e significados”, o que representa uma estreita ligação com a
aquisição do conhecimento.
Wallon (2008) aprecia a importância da emoção no processo de conhecimento, que
segundo ele é altamente orgânico24, além de causar impacto no outro e se disseminar no meio,
como se as emoções ofertassem as bases da inteligência, provocando uma relação composta
de várias transformações interdependentes, que são instigadas nas e pelas interações. Wallon
(2008, p. 163) entende que “os [...] meios e grupos são noções conexas, que podem por vezes
coincidir, mas que são distintas [...], comportam evidentemente condições físicas e naturais,
mas que são transformadas pelas técnicas e pelo uso do grupo humano correspondente”.
Outro aspecto fundamental a ser observado nos autores pesquisados diz respeito à
24
Capaz de provocar alterações no ser humano ajudando-o a se conhecer.
118
[...] a linguagem não é suficiente para explicar o pensamento, pois as estruturas que
caracterizam esta última têm suas raízes na ação e nos mecanismos senso-motores
que são mais profundos que o fato linguístico. Mas não é menos evidente que quanto
mais refinadas são as estruturas do pensamento, mais a linguagem será necessária
para completar a elaboração delas (PIAGET, 1995, p. 85).
É por meio de outros, por intermédio do adulto que a criança se envolve em suas
atividades. Absolutamente, tudo no comportamento da criança está fundido,
enraizado no social [...] assim, as relações da criança com a realidade são, desde o
25
(denominados por Piaget de: imaginação, imitação, símbolos e jogos simbólicos).
119
início, relações sociais (VYGOTSKY, 1982-1984, p. 281, apud IVIC, 2010, p. 16).
Cada época tem as suas verdades, que são o seu material de ideias e de linguagem;
cada indivíduo tem sempre as suas, que dependem da idade psicológica e da
interação social. Do conflito entre os dois aspectos destaca-se a verdade nova que
representará para os indivíduos em evolução a formação do seu pensamento e
inteligência (MERANI, 1977, p. 87).
26
Leonidas Alberto Merani Colombo nasceu em 1918, na Argentina. Estudou em vários países, de modo que ele
foi um aluno de Henri Wallon na França e Nicolas Pende na Itália. Estabeleceu seu local de trabalho em Caracas,
trabalhando primeiro na Universidade dos Andes e mais tarde na Universidade Central da Venezuela.
27
O indivíduo tem a sua história. Em todos os seres vivos, o conhecimento é encarado como um processo de
modificações e adaptações ao meio desde o nascimento.
121
É bem verdade que, se pela expressão, pela linguagem, pela palavra ou fala
humana, entre outros, o homem se concebe na criação de signos e símbolos, nas relações
objetivas e subjetivas com objetos e seres, podemos pensar como ele alcança o
desenvolvimento. A proposta aqui é refletir o poder das artes como instauradoras de relações
28
Susanne Langer (1895-1985) foi uma grande Especialista em Filosofia da arte, seguidora de Ernst Cassirer.
29
Imanol Aguirre possui diploma de Professor EGB e Bacharelado em Filosofia pela Universidade do País
Basco é Doutor pelo Departamento de Filosofia de Valores e Antropologia Social.
123
Destaco ainda a linguagem, que segundo Langer (2004 [1962], p. 85) “é, decerto,
o nosso principal instrumento de expressão conceitual”. Dando ênfase à força como atos de
expressão, nos atores, nos dançarinos, nos cantores, nos artistas em geral (indivíduos
envolvidos na e pela performance) que podem ser percebidos com uma intensidade especial
na comunicação, o que torna as emoções e os prazeres, suscitados pela arte, essenciais para a
experiência e por que não dizer, para a aprendizagem e desenvolvimento, tendo em vista a
grande carga de afetividade que essa diversidade de movimentos e experiências pode
promover.
Pensando a reflexão e ação sobre o mundo, reporto-me a Laura Cardona (2014, p.
316) que, por meio da obra O lugar das pedagogias culturais em um projeto interdisciplinar
de colaboração: Factoría Piedra Buena - oficina de brinquedos, e afirma que
30
Paul Zumthor (1915-1995) medievalista, escritor e estudioso dos fenômenos da voz no âmbito da história, da
antropologia, da cultura e dos estudos literários.
124
Repor o ser humano que atua que pensa, que fala, que sonha, que ama, que odeia,
que cria e recria, que sabe e ignora, que se afirma e que se nega, que constrói e
desconstrói, que é tanto o que herda, quanto o que adquire, no centro de nossas
preocupações. Restaurar assim a significação profunda da radicalidade (FREIRE,
1995, p. 15).
O que ela faz é concentrar e ampliar uma experiência imediata [...]. A matéria
conformada da experiência estética expressa diretamente os significados
imaginativamente evocados [...]. Os significados imaginativamente convocados,
reunidos e integrados se encarnam na existência material que interage com o eu no
aqui e agora. [...]. É um desafio à execução de um ato similar de evocação e
organização através da imaginação, por parte daquele que vivencia (DEWEY, 2010
[1934], p. 471-472).
Nesse contexto, vale uma reflexão do poder da arte como uma cultura que pode se
propagar dentro de uma prática crítica reflexiva; e como essa prática pode se integrar com e
na formação das crianças e jovens junto à organização de sua imaginação; que tipo de
experiência eles podem vivenciar e que prática social pode ser objetivada? Que rumos pode
tomar essa arte comunicativa e que usos ela pode dar à palavra?
Sobre a emoção da arte, John Dewey (2010 [1934], p. 168-172) explica que na arte
“a expressão é o esclarecimento da emoção turva [...] é uma emoção induzida por um material
expressivo e, por ser evocada por esse material e estar ligada a ele, consiste em emoções
naturais que foram transformadas”. Portanto, a emoção “não é uma forma de sentimento que
125
tenha existência independente desde o início” (p. 168-172). Ocorre um processo onde a
“matéria primitiva e bruta da experiência precisa ser reelaborada para assegurar a expressão
artística [...] (p. 168-172). Nesse processo, a emoção despertada pelo material original se
modifica, ao se ligar ao material novo”, o que para Dewey “dá pistas sobre a natureza da
emoção estética” (p. 168-172), sendo
Uma afinidade sutil com a corrente de sua própria experiência, como criatura viva,
faz que as linhas e cores se disponham em um dado padrão e ritmo, e não em outros.
A paixão que marca a observação entra no desenvolvimento da própria forma - é a
emoção nitidamente estética que se falou. Mas não independente de uma emoção
anterior que se tenha agitado na experiência (DEWEY, 2010 [1934], p. 187).
Na visão de Dewey (2010 [1934], p. 579), a organização para o futuro, de que trata
Vygotsky, pode apresentar-se também por meio da arte literária; para ele, “a literatura
transmite o sentido do passado que é importante na experiência atual e profetiza o movimento
maior do futuro. Somente a visão imaginativa revela as possibilidades entremeadas na textura
do real”.
Nesse sentido, podemos afirmar que tanto Lev Vygotsky quanto John Dewey
encontraram uma profunda relação entre as experiências anteriores (passado), a percepção do
atual permeada pela imaginação (presente) e as novas possibilidades de experiência que
vislumbram o futuro por intermédio dos processos de catarse, que podem se promover pela
arte como experiência estética “quando o velho e o conhecido se tornam novos na
experiência, há imaginação” (DEWEY 2010 [1934], p. 461).
Essa discussão remete a escritos de Dewey (2010 [1934], p. 212) nos quais o autor
estabelece: “o mundo que experimentamos no passado se torna parte do eu que age e sofre a
ação em outras experiências. Em sua ocorrência física, as coisas e eventos vivenciados
passam e acabam, mas algo de seu significado e valor é preservado como parte integrante do
eu”. Uma explicação hipoteticamente semelhante à de Piaget, quando trata o
desenvolvimento, afirmando que, em contato com o mundo, selecionamos informações e
objetos como sendo nossos e que, com eles, realizamos novas construções.
Se pensarmos as expressões artísticas como culturas que se fazem presentes dentro
da escola e que podem ser vivenciadas de forma interdisciplinar por meio de experiências
significativas, carregadas de emoções, sentimentos e afetos, talvez consigamos, de forma
reflexiva, ressignificar nossas práticas pedagógicas. Assim, por meio da afetividade na
experiência da arte, ofereceremos aos alunos a possibilidade de um desenvolvimento
cognitivo e motor mais satisfatório e um aprendizado mais prazeroso.
126
Para Dewey (2010 [1934], pp. 324-332), chegar ao ápice de uma experiência
consumatória, requer, também, uma percepção estética: “tal percepção [...] consiste em uma
liberação de energia em sua mais pura forma, [...] é aquela que é organizada e, portanto,
rítmica”. E continua dizendo que “quanto maior o número de dados comprimidos da série
contínua de percepções anteriores, mais rica é a percepção atual e mais intenso é o impulso
para adiante” (p. 324-332).
Certo de que cada ser humano é único justamente por suas diferenças e por sua
maneira própria de processar suas experiências e que nele são inseparáveis e irredutíveis os
aspectos afetivos e cognitivos, caberia à escola o trabalho de planejar e organizar um contexto
que oportunize a percepção estética em atividades que demonstrem ações prazerosas em seu
percurso, entendendo que “a percepção estética significa não apenas relancear os olhos por
algo, mas atentar para ele, fitá-lo, perscrutá-lo, em suma, vê-lo realmente”(DEWEY, 2010
[1934], p. 33), eu diria vivenciá-lo em uma “experiência estética e emocional de ponta a
ponta” (DEWEY, 2010 [1934], p.35). E, continua:
A estética não dita o modo como os materiais devem ser usados [...] se dado uso dos
materiais faz ou não diferença para a experiência estética, depende apenas de como
os materiais são vivenciados. Não pode haver percepção estética senão em um
processo desenvolvido ao longo do tempo (DEWEY, 2010 [1934], p. 33).
Como consolidar este caminho? Digo, sem sombra de dúvidas, que a partir das
performances da arte, considerando as articulações afetivas, cognitivas e motoras, dentro da
escola, onde poderá haver a promoção de uma experiência viva, pensante, crítica e
contextualizada, com o fim de uma consciência individual e coletiva.
Corroborando na perspectiva do desenvolvimento e da aprendizagem temos nas
correntes teóricas clássicas de Wallon, Vygotsky e Piaget, bem como, em correntes teóricas
atuais, uma compreensão que afirma o envolvimento dos processos afetivos e cognitivos e por
eles continuaremos nossa reflexão.
Falar da atualidade da teoria de Jean Piaget é falar sobre suas concepções a respeito
das “trocas” do organismo com o meio. Por “trocas com o meio”, entenda-se desde
aquelas que se operam na digestão dos alimentos até as trocas simbólicas das
grandes realizações humanas, dentre elas as das várias linguagens que o homem
criou no decorrer de sua história filogenética até a história ontogenética de cada um.
[...] Segundo Piaget o que caracteriza o funcionamento endógeno, portanto orgânico,
do ser humano é o “classificar” e o “ordenar” ou, relacionar, daí o “elo” entre as
ações que visam o conhecimento do mundo, a Lógica Clássica, de classes e relações
e a neurofisiologia que estuda os funcionamentos orgânicos que lhes dão condição
de existência (CHIAROTTINO, 2011, p. 1-2).
Uma visão da natureza humana que ignore o poder das emoções é lamentavelmente
míope. A própria denominação Homo sapiens, a espécie pensante, é enganosa à luz
do que hoje a ciência diz acerca do lugar que as emoções ocupam em nossas vidas.
Como sabemos por experiência própria, quando se trata de moldar nossas decisões e
ações, a emoção pesa tanto – e às vezes muito mais – quanto a razão. Fomos longe
demais quando enfatizamos o valor e a importância do puramente racional – do que
mede o QI – na vida humana. Para o bem ou para o mal, quando são as emoções que
129
dominam, o intelecto não pode nos conduzir a lugar nenhum (GOLEMAN, 2007, p.
21).
Nessa perspectiva, Wadsworth (1997, p. 37) afirma que “o aspecto afetivo exerce
uma profunda influência sobre o desenvolvimento intelectual. Ele pode acelerar ou diminuir o
ritmo de desenvolvimento”. Por isso, ao falar em construção de conhecimento no processo
escolar, Vygotsky afirma a importância da afetividade que se manifesta na relação professor-
aluno, destaca a qualidade da interação pedagógica conferindo sentido afetivo aos objetos de
conhecimento e às experiências vividas.
Dessa forma, entendo que, para Vygotsky, os estímulos internos, causados pela
aprendizagem que o meio proporciona, provocam os processos de desenvolvimento.
Contudo, para Piaget (1977a, p. 52), a aprendizagem, entendida no senso comum,
é definida como aquela em que o “resultado (conhecimento ou desempenho) é adquirido em
função da experiência”, e o autor Piaget (1987b, p. 49) complementa afirmando que a
aprendizagem “implica em uma recordação dos próprios objetos ou de experiências feitas
com os objetos”. Nesse caminho, a aprendizagem seria para esse autor “o conjunto das
diferenciações devidas à acomodação, fonte de novos esquemas em função da diversidade
crescente dos conteúdos e que tende a se confundir com o desenvolvimento” (PIAGET,
1977a, p. 85-86). E, contribui, ainda, afirmando:
Seguindo a epistemologia genética de Jean Piaget, podemos dizer então que uma
aprendizagem em seu sentido mais amplo advém de atividades estruturantes que só são
possíveis em virtude de uma equilibração interna progressiva, caracterizada pelo
desenvolvimento. Para Piaget, quatro fatores principais influenciam a construção destas
estruturas, são eles:
131
Para que isso seja possível, é necessário que, assim como Piaget, pensemos num
trabalho pautado nas interações das atividades artísticas pela ética dos direitos humanos e da
democracia, vislumbrando o desenvolvimento da personalidade. Segundo Mahoney:
Entendendo que nas relações e nos ambientes temos a oportunidade de mediar uma
formação mais humana e integral, podemos ver na escola em tempo integral a potencialidade
do desenvolvimento e da aprendizagem, uma vez que organizarmos processos de construção
de conhecimento também pelas experiências artísticas que permitem a liberdade de criação
em grupo e individual, e provocam emoções, ações, reações e interações de todas as ordens.
Para Wallon (1986a, p. 164) “as pessoas do meio nada mais são, em suma, do que
ocasiões ou motivos para o sujeito exprimir-se e realizar-se”. Por isso, para ele, na escola, a
fim de que o aluno tenha um bom desempenho, deve-se conhecê-lo tanto no aspecto cognitivo
quanto no afetivo, observando as emoções que comunicam desejos e vontades ao mesmo
tempo em que revelam traços importantes da organização de sua personalidade.
Sobre o assunto, Wallon (2007, p. 122) diz que é “inevitável que as influências
afetivas que rodeiam a criança desde o berço tenham sobre sua evolução mental uma ação
determinante”. Na visão deste autor, as interações que o indivíduo estabelece definirão seu
crescimento íntimo, por isso, na escola, com colegas e professores, os alunos precisam
vivenciar experiências afetivas. Assim, poderão também incorporar as conquistas já realizadas
e constituir-se, num movimento de integração e diferenciação que está sempre propondo
desafios e desequilíbrios, ou conflitos mentais que são imprescindíveis ao amadurecimento.
Wallon (1995c [1949], p. 99) defende que pela emoção é possível o contágio e
que, nas relações dentro do grupo escolar, “a emoção necessita suscitar reações similares ou
recíprocas em outrem e, (...) possui sobre o outro um grande poder de contágio”. Além de
emocionar ou de afetar o outro, o desafio requer conseguir fazer com que a criança aprenda a
controlar suas emoções em sala de aula para não perder o foco, o que não significa eliminá-la.
E nosso estudo demonstra que a arte ajudará neste exercício. Para isso Wallon (1995a, [1937],
p. 370) sugere que "o principal estímulo da atenção é o interesse. Suscitá-lo deve ser
evidentemente, o objetivo essencial do educador", ele sugere que para isso, é necessário o
desenvolvimento da afetividade entre professor e aluno; aluno e objeto de conhecimento e
133
aluno e o seu meio. Para Wallon uma prática pedagógica afetiva pela arte da dramatização, do
desenho, da literatura oral, etc., favorece a estruturação ou organização da emoção.
Uma relação social permeada pela confiança e pelo afeto, para Wallon, Vygotsky e
Piaget, facilitam a promoção da aprendizagem e oferecem estímulos ao desenvolvimento
orgânico, biológico, cognitivo e das funções psicológicas. As relações e as medições
estabelecidas com a criança irão, também, compor sua formação humana, tendo em vista que
“aquilo que é zona de desenvolvimento proximal hoje será o nível de desenvolvimento real
amanhã. Ou seja, aquilo que uma criança pode fazer com assistência hoje, ela será capaz de
fazer sozinha amanhã” (VYGOTSKY, 1998 [1932], p. 98).
Resta então “saber observar, ou seja, deixar a criança falar, não desviar nada, não
esgotar nada e, ao mesmo tempo, saber buscar algo de precioso, ter a cada instante uma
hipótese de trabalho, uma teoria, verdadeira ou falsa, para controlar” (PIAGET, 1926, p. 11).
Para Goleman (2007, p. 294) “os alunos esperam um conteúdo mais significativo
que os ajude no direcionamento de suas escolhas”, ele também entende que nas relações, “a
forma como as pessoas expressam seus sentimentos constitui-se numa competência social
muito importante”. No entanto, “enviamos sinais emocionais sempre que interagimos, e esses
sinais afetam aqueles com quem estamos” (p. 134). Nesta direção Fernandez fala deste
processo da seguinte maneira:
Assim sendo, podemos considerar “o afetivo como uma qualidade das relações
humanas e das experiências que elas evocam” (PINO (mimeo), p. 130) podemos compreendê-
lo como o estímulo humano para o desenvolvimento e para a aprendizagem ou para a
aprendizagem e para o desenvolvimento. Em uma ou outra ordem, o fato é que o indivíduo “é
afetado pelos acontecimentos da vida ou, melhor, pelo sentido que tais acontecimentos têm
para ele” (PINO (mimeo), p. 128).
Sem polemizar quem vem primeiro, se o desenvolvimento ou a aprendizagem e
analisando a coerência de ambos os sentidos até aqui apresentados, prefiro, com Agnes Heller
(1982, p. 22), organizar uma visão que entende que "não há nada mais belo e sábio do que
134
poder escolher, numa teoria, o que é mais necessário". No caso deste trabalho, a compreensão
é de que, para desenvolver ou para aprender, os processos que ocorrerem a partir de
experiências emocionais, afetivas e reflexivas oferecerão melhores resultados também dentro
do contexto escolar.
Com o propósito de aprender para desenvolver ou desenvolver para aprender, o
fato é que “a construção progressiva das operações intelectuais supõe uma interdependência
crescente entre os fatos mentais e as interações interindividuais” (PIAGET, 1988, p. 29). Pela
arte é possível enveredarmos por caminhos que façam com que o “professor deixe de ser um
conferencista e estimule a pesquisa e o esforço, ao invés de se contentar com a transmissão de
soluções já prontas” (p. 18) e irrefletidas. É possível potencializar operações afetivas e
intelectuais. Piaget conclui que
É na pesquisa e através dela que a profissão professor deixa de ser uma simples
profissão e ultrapassa mesmo o nível de uma vocação efetiva para adquirir a
dignidade de toda profissão ligada ao mesmo tempo à arte e a ciência, pois a ciência
da criança e a da sua formação constituem mais do que nunca domínios inesgotáveis
(PIAGET, 1976b, p. 136).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa que aqui finalizo constata que promover experiências artísticas no
ambiente escolar permite a continuidade do desenvolvimento de processos afetivos e
cognitivos iniciados no meio familiar nos primeiros anos de vida. Mesmo “distante” de sua
relação familiar ou de seus pais, de suas trocas, de seus pertences e seus tempos de brincar
livres, ainda que estejam o dia todo dentro da escola, as crianças desenvolvem relações e
práticas que darão continuidade ao seu desenvolvimento cognitivo.
Para reforçar esta conclusão, além dos pensamentos já utilizados nesta pesquisa,
podemos ainda nos reportar aos trabalhos mais recentes de Goleman (2001, p. 20), que
apresenta as emoções como, “impulsos, legados pela evolução, para uma ação imediata, para
planejamentos instantâneos que visam a lidar com a própria vida”.
Esses impulsos comprovadamente são orgânicos, pois o sistema límbico é a parte
do cérebro que processa sentimentos e emoções, expressados no corpo por meio de alguns
sintomas expressivamente visíveis. Podemos explicar organicamente sua presença nos
processos de crescimento da espécie humana e, ainda, considerando as emoções como
expressões de sentimentos como alegria, desejo, prazer, etc. É possível também dizer que a
emoção é elemento de subjetividade composta da carga de experiências vivenciadas pelo
indivíduo, indo além dos meros fatores neurais.
Partindo disso, podemos considerar que a imaginação e a ação criativa podem
derivar de um sentimento, de uma experiência assim como a experiência criativa estimula a
imaginação e ação. Uma emoção que nos impulsiona à procura de uma compreensão ou de
algo satisfatório, o que certamente nos estimulará em novos processos ou a nos retrair diante
de certas situações. E, por isso mesmo, a ação educativa deve ter um olhar atento e sensível às
maneiras pelas quais oferta os trabalhos com as atividades artísticas.
De qualquer forma, os processos possíveis pela experiência da arte, que nos
emociona e afeta podem impulsionar uma espécie de busca por uma nova estruturação
interna, sobre influências externas, que se refletirão externa e internamente, em um ciclo
contínuo que apresenta as aquisições do homem, a estruturação do conhecimento e,
consequentemente, do comportamento. Considero que nossa relação com o mundo é cognitiva
e afetiva, impulsionada pelos processos racionais e emocionais. Neste amálgama as emoções
136
Concordando assim com Piaget e Inhelder (1978a, p. 109) podemos afirmar que “a
afetividade, a princípio centrada nos complexos familiares, amplia a sua escala à proporção da
multiplicação das relações sociais, e os sentimentos morais evoluem no sentido de um
respeito mútuo e de uma reciprocidade”. Por isso mesmo, a escola em tempo integral pode ser
local privilegiado para proporcionar a continuidade do desenvolvimento afetivo por meio de
uma prática pedagógica que utilize as artes de maneira ativa, interativa e reflexiva.
Para Morin (2002, p. 23) “o racionalismo que ignora os seres, a subjetividade, a
afetividade e a vida é irracional. A racionalidade deve reconhecer a parte de afeto” para que
possamos promover o processo de aprendizagem e desenvolvimento mais efetivos no
contexto escolar.
Dentro da escola, o que é possível pela arte? Não há como definir, quando se
considera a bagagem individual de cada um e sua cultura, porém esta pesquisa mostrou que os
processos de desenvolvimento e aprendizagem, que se iniciam em casa e estruturam o ser
humano, podem ser claramente continuados dentro de um contexto educativo que compreenda
a importância das construções possíveis pela interação na experiência da arte. Isso, porque a
arte permite ao homem constituir-se pelo pensamento, pelo sentimento, pelas linguagens, pela
imaginação, pelo uso do corpo, dos sentidos, das percepções, trazendo a consciência da
existência do eu, do outro, do social, da cultura e da história, ao mesmo tempo em que liberta
os indivíduos de todas as suas amarras.
Para se trabalhar com a arte é preciso formar-se um professor-observador-reflexivo
inserido em sua cultura. É preciso ser um sensível leitor do mundo, do meio, dos grupos, das
épocas, dos indivíduos. Afetar e ser afetado, emocionar e emocionar-se, ser o ator e ser a
plateia. É preciso ousar na espontaneidade, na expressão e na liberdade de criar. Cabe então, a
esse profissional, aprender a imaginar em conjunto e em parceria e, a partir de receitas
antigas, produzir novos doces momentos, evoluindo com a harmonia dos novos movimentos e
dos novos ritmos, em busca de outros traços, de outras danças.
A escola, mesmo com suas limitações é nosso espaço cultural privilegiado, ao
contar com um espaço adequado, tempo ampliado e pessoas dispostas a viajar na composição
de novas poesias, torna-se um dos instrumentos mais fortes para aprofundar nossa
humanização. É nela ou pelas práticas e fantasias possíveis em seu espaço que poderemos
potencializar organizações e estruturações internas e externas em prol de uma formação
integral, em prol das famílias modernas e do momento social e histórico em que nos
encontramos.
140
Pelas experiências descritas neste estudo de caso, podemos nos certificar de que os
processos desencadeados pelas performances artísticas promovem as emoções e as relações de
afeto, permitem a percepção das capacidades e liberam um vir-a-ser carregado de
autoconfiança. Provocam o envolvimento dos envolvidos, podendo até mesmo trazer à tona
habilidades e a capacidade de recriar. Enfim, a experiência estética da arte conduz a
continuidade do desenvolvimento afetivo abrindo as portas para o desenvolvimento cognitivo
pelos movimentos, pelos instrumentos e pelas relações que estabelece.
No começo da minha trajetória eu ainda olhava com estranheza o fato de uma
criança ter que ser deixada o dia todo em uma escola, longe de seus pertences, sem
privacidade, sem a exclusividade do carinho de um familiar, sem o aconchego do seu lar. Eu
sentia-me de coração partido por elas e ainda recordava a dor enorme que me acometeu
quando precisei deixar meu filho, aos quatro anos, em uma instituição de ensino em tempo
integral, no ano de 2006. Lembro-me, como se fosse hoje do seu choro sentido, dizendo que
não aguentava aquele barulho nem aquela bagunça. Choramos juntos por duas semanas, até
que, após muito carinho e diálogo, ele compreendeu (nós compreendemos) que precisávamos
daquele outro lugar e que eu sempre voltaria para buscá-lo. Até que ele criou seu primeiro
laço afetivo, foi com o colega Leonardo, até que ele começou a ficar mais tranquilo com a
professora Raquel e começou a produzir, cantar, pintar, fazer pose para foto... .
Ali, mais uma vez experienciei o poder da comunicação, das linguagens, das
trocas, das emoções e dos afetos que permeiam nossa formação vendo o quanto eles gostavam
de trazer para casa uma produção sua, fosse ela no papel, por meio de objetos ou pela
expressão e pelos movimentos do próprio corpo, de contar sobre o que haviam feito com os
colegas e com as professoras. Passei a refletir ainda mais, sobre o que pode a ação educativa
no ambiente escolar e como ela é necessária para a formação do sujeito.
Hoje, após os caminhos que percorri para me formar humana, mãe e profissional,
sinto que esta pesquisa contemplou minha busca, alargando meus horizontes e abrindo novas
lacunas, uma vez que as interações e trocas que ela me proporcionou enriqueceram minha
reflexão desvelando as profundezas da experiência artística que eu já admirava.
Mesmo com o pesar de saber da história do ensino integral em nosso país, cujas
tentativas, com profissionais capacitados e valorizados e com uma prática artística e
pedagógica realmente significativa, foram frustradas por falta de grandes investimentos em
políticas educacionais igualitárias e democráticas, ainda me sinto contemplada por poder
apresentar neste estudo práticas como as da Escola Professora Maria Nosídia e,
principalmente, por poder registrar a significância da experiência estética da arte dentro da
141
escola em tempo integral, pela comunicação expressiva de todos os que participaram desse
trabalho.
Pela voz, pelas palavras, pelas expressões emotivas, pelos movimentos do corpo,
pelas ações que vi e os relatos que tive a satisfação de ouvir, cheguei a uma só gigantesca
conclusão: a de que a vida com a arte pode ser repleta de tudo que o homem quer viver e
precisa expressar. Medos, alegrias, desejos, inseguranças, superações, aspirações,
aproximações, distanciamentos, ser eu e ser o outro ou, simplesmente não ser eu por alguns
instantes, apresentar-se, representar, imitar, produzir, reproduzir, imaginar. Para tudo isso é
preciso refletir e processar, construir e desconstruir, ir e voltar em movimentos que se
intensificam por meio de trocas, de interações, dos instrumentos e relações que desencadeiam
emoções que colaboram para as produções afetivas e cognitivas. Um ciclo em círculo onde se
estruturam as raízes do humano, em meio a subjetividades ímpares, que não cessam ao
mesmo tempo em que nunca são as mesmas.
A sensação do novo, do diferente, do empolgante, do assustador que desafia,
mobiliza e move indivíduos e grupos estão presentes na arte. E, é por ela que poderemos
compor um ensino em tempo integral onde as pessoas se aproximam, onde a inteligência é
composta de afetividade e a afetividade é composta de inteligência, tornando o ser humano
mais completo e mais ativo, responsável por uma organização racional, social e cultural
pensante e criativamente livre.
O desafio é, pois, desafiar-se a aventurar-se na construção de uma nova relação
com a prática pedagógica artística, nos tempos e espaços da escola, com os instrumentos, com
os alunos suas experiências e de suas famílias, para construir juntos, pensar juntos, avaliar
juntos. Tirar amarras e desvelar o que realmente pode ser significativo para o processo de
ensino e aprendizagem que visem um homem integral.
142
REFERÊNCIAS
Nota: nesta pesquisa foram utilizadas mais de uma edição de algumas obras, nesses casos os
anos das respectivas edições encontram-se separados por ponto e vírgula, conforme
explicação apresentada na introdução deste trabalho.
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ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz. Tradução de Amálio Pinheiro; Jerusa Pires Ferreira. São
Paulo: Companhia das Letras, 1993.
Sites Pesquisados
APÊNDICES
161
irritação, mal-estar etc., bem como os benefícios decorrentes da participação na mesma; para
o colaborador não haverão despesas decorrentes da cooperação com a pesquisa realizada.
Faz-se imprescindível esclarecer também que haverá a divulgação do nome do/a
participante quando for de interesse do/a mesmo/a ou não houver objeção. Sendo necessário
para isso a referida autorização (o/a participante deve rubricar dentro do parêntese):
( ) Declaro ciência de que os meus dados coletados podem ser relevantes em pesquisas
futuras e, portanto, autorizo a guarda do material em banco de dados;
( ) Declaro ciência de que os meus dados coletados podem ser relevantes em pesquisas
futuras, mas não autorizo a guarda do material em banco de dados;
Informo também que toda pesquisa a ser feita com os dados que foram coletados
deverá ser autorizada pelo/a participante e também será submetida novamente para aprovação
do CEP institucional e, quando for o caso, à CONEP.
163
___________________________________________________________________
Assinatura por extenso do(a) participante
__________________________________________________________________
Assinatura por extenso do(a) pesquisador(a) responsável
Testemunhas em caso de uso da assinatura datiloscópica
164
irritação, mal-estar etc., bem como os benefícios decorrentes da participação na mesma; para
o colaborador não haverá despesas decorrentes da cooperação com a pesquisa realizada.
Faz-se imprescindível esclarecer também que haverá a divulgação do nome do/a
participante quando for de interesse do/a mesmo/a ou não houver objeção. Sendo necessário
para isso a referida autorização (o/a participante deve rubricar dentro do parêntese):
( ) Declaro ciência de que os meus dados coletados podem ser relevantes em pesquisas
futuras e, portanto, autorizo a guarda do material em banco de dados;
( ) Declaro ciência de que os meus dados coletados podem ser relevantes em pesquisas
futuras, mas não autorizo a guarda do material em banco de dados;
(o/a participante a rubricar dentro do parêntese com a proposição escolhida).
Informo também que toda pesquisa a ser feita com os dados que foram coletados
deverá ser autorizada pelo/a participante e também será submetida novamente para aprovação
do CEP institucional e, quando for o caso, à CONEP.
166
___________________________________________________________________
Assinatura por extenso do(a) participante
__________________________________________________________________
__________________________________________________________
167
irritação, mal-estar tec., bem como os benefícios decorrentes da participação na mesma; para
o colaborador não haverão despesas decorrentes da cooperação com a pesquisa realizada.
Faz-se imprescindível esclarecer também que haverá a divulgação do nome do/a
participante quando for de interesse do/a mesmo/a ou não houver objeção. Sendo necessário
para isso a referida autorização (o/a participante deve rubricar dentro do parêntese):
Informo também que toda pesquisa a ser feita com os dados que foram coletados
deverá ser autorizada pelo/a participante e também será submetida novamente para aprovação
do CEP institucional e, quando for o caso, à CONEP.
169
________________________________________________________________
O menor de idade, doravante nominado como aluno autorizado, que está sob sua
responsabilidade está sendo convidado(a) a participar, como voluntário(a), da pesquisa
intitulada “Arte, emoção e afetividade, a prática da arte no contexto educativo, um estudo de
caso. O espetáculo “Felicidade” elaborado na escola de tempo integral Professora Maria
Nosídia Palmeira das Neves - município de Goiânia no ano de 2014”.
Meu nome é Gleicy de Miranda Castro, sou a pesquisadora responsável e minha
área de atuação é a educação.
Após receber os esclarecimentos e as informações a seguir, se o responsável der o
de acordo, o aluno autorizado (a) fará parte do referido estudo, se concordar assine ao final
deste documento, que está impresso em duas vias, sendo que uma delas é do responsável pelo
aluno autorizado e a outra pertence ao(à) pesquisador(a) responsável. Esclareço que em caso
de recusa na participação você e o menor sob sua responsabilidade não serão penalizados de
forma alguma. Mas se você autorizar a participação, as dúvidas sobre a pesquisa poderão ser
esclarecidas pela pesquisadora responsável, via e-mail gleicy.feliz@hotmail.com e, inclusive,
sob forma de ligação a cobrar, através do(s) seguinte(s) contato(s) telefônico(s): (62)
984434713 (62) 981376613. Ao persistirem as dúvidas sobre os seus direitos do participante
desta pesquisa, você também poderá fazer contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal de Goiás, pelo telefone (62)3521-1215.
ou
171
( ) Declaro ciência de que os dados coletados podem ser relevantes em pesquisas futuras
e, portanto, autorizo a guarda do material em banco de dados;
( ) Declaro ciência de que os dados coletados podem ser relevantes em pesquisas futuras,
mas não autorizo a guarda do material em banco de dados;
(rubricar dentro do parêntese com a proposição escolhida).
Informo também que toda pesquisa a ser feita com os dados que foram coletados
deverá ser autorizada pelo/a participante e também será submetida novamente para aprovação
do CEP institucional e, quando for o caso, à CONEP.
172
________________________________________________________________
Assinatura por extenso do(a) responsável
___________________________________________________________________
Assinatura por extenso do(a) menor participante
________________________________________________________________
ANEXOS
174
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
- Organização do cenário
- Gravação e mixagem do repertório em estúdio
- Organização de figurino e cenário
- Organização da projeção de tela do espetáculo
- Criação da arte difusora e divulgação
- Ensaio geral
- Ensaio por grupos
- Visita de agentes colaboradores
Dezembro
Janeiro
175
- Ações pendentes devido à falta de material para divulgação do projeto, sujeito a liberação da
segunda etapa da verba para pagamentos pendentes.
Dificuldades Encontradas
Início e Encerramento
Oficinas
Coolaborador: Rafael Muniz
Dias e horários: terças e quintas feiras das 13:00 as 15:00
6. SILVA, Ana Gabriela Braga. Entrevista com aluno. Pesquisa do curso de Mestrado
Interdisciplinar em Performances Culturais. Goiânia, UFG. Depoimento: 11/2016.
9. ALMEIDA, João Paulo Soares. Entrevista com aluno. Pesquisa do curso de Mestrado
Interdisciplinar em Performances Culturais. Goiânia, UFG. Depoimento: 10/2016.
10. FERREIRA, Eleuza Soares. Entrevista com mãe do aluno João Paulo. Pesquisa do curso
de Mestrado Interdisciplinar em Performances Culturais. Goiânia, UFG. Depoimento:
14/01/2017.
11. JANUÁRIO, Ana Cecília Ramanieli. Entrevista com aluno. Pesquisa do curso de
Mestrado Interdisciplinar em Performances Culturais. Goiânia, UFG. Depoimento: 10/2016.
177
12. PENIC, Analice Caldi. Entrevista com aluno. Pesquisa do curso de Mestrado
Interdisciplinar em Performances Culturais. Goiânia, UFG. Depoimento: 10/10/2016.
13. CALDI, Isis dos Santos. Entrevista com mãe da aluna Analice Caldi. Pesquisa do curso
de Mestrado Interdisciplinar em Performances Culturais. Goiânia, UFG. Depoimento:
14/01/2017.
14. SILVA, Filipy Gabriel da. Entrevista com aluno. Pesquisa do curso de Mestrado
Interdisciplinar em Performances Culturais. Goiânia, UFG. Depoimento: 11/2016.
15. SILVA, Layanne Santana. Entrevista com mãe do aluno Filipy Gabriel. Pesquisa do curso
de Mestrado Interdisciplinar em Performances Culturais. Goiânia, UFG. Depoimento:
14/01/2017.
16. SANTOS, Leon Dennys Belém Magalhães dos. Entrevista com aluno. Pesquisa do curso
de Mestrado Interdisciplinar em Performances Culturais. Goiânia, UFG. Depoimento:
10/2016.
17. SANTOS, Uedina Belém Magalhães dos. Entrevista com Avó do aluno Leon. Pesquisa
do curso de Mestrado Interdisciplinar em Performances Culturais. Goiânia, UFG.
Depoimento: 10/2016.
18. FERREIRA, Luis Ricardo Santos. Entrevista com aluno. Pesquisa do curso de Mestrado
Interdisciplinar em Performances Culturais. Goiânia, UFG. Depoimento: 11/2016.
19. ELISIO, Pedro Lucas. Entrevista com aluno. Pesquisa do curso de Mestrado
Interdisciplinar em Performances Culturais. Goiânia, UFG. Depoimento: 11/2016.
20. ELIAS, Cassia de Paula C.: Entrevista com Mãe do aluno Pedro Lucas. Pesquisa do curso
de mestrado em Performances Culturais Interdisciplinares. Goiânia, UFG. Depoimento:
11/2016.
21. JESUS, Jonatas Rodrigues de. Entrevista com aluno. Pesquisa do curso de Mestrado
Interdisciplinar em Performances Culturais. Goiânia, UFG. Depoimento: 11/2016.
22. MORAIS, Giovanna Azevedo. Entrevista com aluno. Pesquisa do curso de Mestrado
Interdisciplinar em Performances Culturais. Goiânia, UFG. Depoimento: 11/2016.
178
Tudo começou por aí, com a oficina da “Rádio Escola” [...]. Eu entrei como
oficineira da rádio escola, e nós começamos esse trabalho em 2010, esse trabalho foi
premiado no final do ano em um projeto da prefeitura. Nós apresentamos isso para fora,
envolvia linguagem de dança, de rádio, da comunicação em si, teatro e música, e como não
havia professor de música na época, de dança, então eu fiz esse papel da música do meu jeito
e o papel da rádio. O objetivo maior, que está na ementa da oficina de rádio, é despertar esse
gosto pela escola, o aluno querer vir para a escola. Você tem que motivá-lo, ele precisa fazer
parte, ele precisa ser autônomo nessa construção do conhecimento dele, e essa oficina de
rádio propicia isso, esse momento, porque é um momento de construção, ele vai buscar, ele
vai pesquisar, ele vai investigar de uma forma mais lúdica, e a partir do que? A partir dos
conteúdos de sala de aulas, dos componentes curriculares. Eu vou pegar o português, o que eu
trabalho em português, a matemática, a geografia e a história e a gente monta os programas de
rádio em sala [...] eles começaram a ter voz. O aluno vai falar algo que ele descobriu em casa
com a sua família, algo que ele conversou ou então vai levar daqui para lá também, e tudo
isso era matéria de programa de rádio. Matérias que a gente desenvolvia para fazer os quadros
do programa que tinha declamação de poesia, tinha quadro de notícia, de agenda que
apresentava o que acontecia na escola, entrevistas, tudo isso elaborado por eles. Nós
começávamos desde a turminha D até a turminha F.
No início do ano o processo foi muito difícil, foi a primeira vez então a gente tinha
que criar um quadro, uma cara para o programa da Escola Barravento. Nós começamos com o
nome “As ondas do rádio”, como se fosse o nome da rádio, daí cada sala tinha o seu nome, o
nome do seu programa [...] cada sala tinha a vinheta do programa criada por eles a partir de
músicas já consolidadas, a gente pegava a música e criava a vinheta, como se fosse uma
paródia[...]. Fazíamos isso por sala, toda vez que ia começar o programinha na sala a gente
cantava a musiquinha primeiro, como se fosse a vinheta do programa. Todo esse processo foi
longo, mas foi de grande valor para a aprendizagem deles, isso contribuiu de mais, porque ao
final do ano a escola foi premiada, eles foram para Caldas Novas, para o Hot Park, a
prefeitura levou; eu ganhei um notebook de presente pelo projeto, que não foi meu, o projeto
foi da escola. Essa e a vantagem desse projeto, porque ele envolve a escola, não fica só na sala
de aula com uma disciplina, ela envolve os componentes curriculares todos, todos da escola
são envolvidos no trabalho e sai dos muros da escola. A partir disso, que eu passei para a
coordenação, a gente vem sempre trabalhando nessa perspectiva de trabalho com a leitura,
com a oralidade com a construção do conhecimento e o aluno se responsabilizar pelo que ele
diz. Porque quando você trabalha o discurso você, tem que ser responsável pelo que você diz,
então eles passaram a entender esse processo todinho, eu vou falar e tenho que pensar algo,
mas eu tenho que pensar nisso, preciso saber o que eu vou dizer. E, ajudou até na questão da
disciplina, até na questão dos palavrões: “eu posso falar isso com o meu colega?” “Mas, e aí
se eu falar o que pode acontecer se eu usar determinado termo com meu colega?”
Você entende que foi o início de uma formação humana em todos os aspectos?
Foi, integral mesmo, humana. Socialização então! Porque era por grupos, eu fazia
um grupo, na outra aula era um novo grupo. Então eles tinham que interagir com os outros
alunos, e respeitar a opinião, criticar e ouvir críticas se não estivesse legal.
179
Antes de começar os ensaios eles conheceram, trabalharam a ideia, ela foi desenvolvida
em sala?
Teve essa ligação, a sala de aula com o espetáculo, porque nós tivemos um grupo
de 50 participantes diretamente, mas indiretamente toda escola participou, todos da escola
tiveram acesso e conhecimento. Nós tivemos uma reunião com os professores, colhemos
ideias, sugestões, para poder desenvolver um trabalho integral, porque não adianta
desenvolver um trabalho que fique restrito apenas a quem está apresentando.
Sim, sempre foi. Tanto é que ele foi modificado várias vezes. Se você pegar o
texto original e a versão final, tem muitas diferenças, coisas que foram retiradas e
acrescentadas, foi um trabalho feito por muitas mãos, foi um processo.
Para constituir o texto e depois partir para o espetáculo teve todo esse processo, todo
mundo envolvido?
Todo mundo envolvido. Isso gerou uma felicidade muito grande, uma realização e
foi parar no palco, nós apresentamos lá na universidade, no teatro da EMAC, lotado o
auditório, com pessoas que vieram de fora e se comoveram, se emocionaram com a
apresentação dos meninos. Eles entenderam, incorporaram aquilo ali, se transformaram em
personagens para apresentar algo da vivencia, do cotidiano e da experiência deles. Quando
180
você vivencia algo fica mais real mais verdadeiro para você passar para o outro. Por isso
houveram as emoções, e as pessoas aplaudiram de pé. A escrita inicial foi de um grupo de
pessoas, porque tinha que ter um norte. O esqueleto da apresentação tinha que estar ali, e a
partir disso, nós fomos incorporando outros discursos, outras sugestões, tirando algumas
coisas, e a construção foi crescendo tomando uma proporção.
Com esse propósito, e aí, isso contagia. Contagia o aluno, contagia a família. A
família não mede esforços para mandar o filho, para ajudar se for necessário, financeiramente,
para comprar uma roupa, por exemplo. O que for necessário a família envolve. Apesar desse
inúmero problema que a gente tem do contexto social, [...]. Eu acho muito interessante esse
contexto, esse trabalho, porque a escola envolve, porque ela é inclusiva, ela envolve o aluno
não só na socialização, mas na construção do saber, porque ele participa.
[...]
Cada um se responsabiliza pela sua parte. A escola tem todo esse movimento
artístico, literário, de apresentações mesmo, o contexto torna a escola viva, acho que é o
sangue que pulsa nessa escola com todo esse movimento que a gente tira da sala de aula e
leva para fora.
Na hora que vocês foram pensar esse início do espetáculo, essa ideia principal, vocês
conseguiram considerar ou não, tiveram essa preocupação com as diferentes culturais
que compõe esse espaço?
Sim. A maior preocupação foi essa, nós pensarmos num contexto de diversidade,
como nós iríamos atender a um contexto de diversidade, não deixar nenhuma excluída. Pensar
nessa cultura que vem de casa, que vem de fora, fui tudo pensado com toda equipe.
Como se deu a seleção dos atores para o espetáculo? Existiu uma ideia principal ou isso
aconteceu naturalmente?
Eles não foram escolhidos, nós lançamos a ideia e aqueles que quiseram participar,
porque já vinham com as atividades de sala de aula, já sabiam que haveria um espetáculo, já
haviam participado contribuindo até com falas no texto, quem quis, eles falavam olha
professora eu quero participar, então agora nós vamos mandar um bilhete para casa para pegar
a autorização da mãe.
Nós pensamos mais no ciclo II, o foco foi entre 9 e 12 anos, mas o ciclo I também
participou direta e indiretamente. Agora quanto ao personagem principal, para isso nós
181
tivemos que selecionar, nós colocamos esses meninos para fazer as apresentações e à medida
que eles iam mostrando habilidade com uma linguagem a gente ia encaixando ele naquela
linguagem que ele conseguia deslanchar melhor.
Então teve seleção? Teve alguém que não conseguiu ou a seleção foi só para os
personagens principais?
Tem a música, por exemplo, aquele que não conseguiu ele pode tocar os
instrumentos? Eu tenho mais habilidade com isso aqui, então eu vou para cá, então a seleção
foi nesse sentido. E teve todo esse cuidado, a gente morre de medo de o aluno falar assim, eu
quero, e ai de repente ele não conseguir e você tirar, por enquanto não aconteceu isso, a gente
muda ele de função ali dentro, nunca é excluído. Se ele se dispôs [...] alguns o professor
conhece a habilidade, outros a gente descobre as habilidades no processo; a gente descobre
menino que tem habilidade de tocar, outros para cantar, para dramatizar, menino que
consegue escrever uma poesia ou um texto, os talentos são descobertos nesse momento aí,
processo de ensaio, no trabalho com eles. E aí na medida em que a gente vai descobrindo a
gente vai colocando eles naqueles pontos em que eles tem habilidades, para tornar o trabalho
mais fácil, para ele ficar feliz no que ele está fazendo, porque se ele for forçado a ficar num
lugar em que ele não tem tanta habilidade corre o risco de ele se esforçar demais e não
conseguir fazer bem feito, porque não é a habilidade dele e não ficar tão feliz ali, não é? Com
aquele processo.
Nesse espetáculo teve alguém que vocês perceberam que não encaixava muito bem em
determinado papel e ele foi para outro e não ficou satisfeito?
Não. Eles não querem sair da peça, isso é o importante. Agora quanto aos
personagens principais, a gente tem todo cuidado de selecionar as falas e entregar para
aqueles que vão falar já de imediato, para não ter que tirar essa pessoa depois, porque ele está
muito na linha de frente, está no palco, ele é um personagem, e se você coloca ele para fazer
essa atividade e depois você tira dessa função [...] isso pode ser muito ruim para o aluno, ele
pensa: eu não consigo falar. [...] é incrível, eles são crianças, e têm esse desejo de se superar.
No Espetáculo Felicidade, tudo foi se encaixando.
Isso leva tempo. Meses, geralmente são meses de ensaio, porque a gente pega um
grupo, depois pega outro, e outro..., não pega tudo de uma vez, depois é que você coloca
todos. Na medida em que você vai pegando você vai combinando com eles; - Olha nós vamos
fazer um teste para ver se você se encaixa nessa habilidade, nessa linguagem artística aqui, se
você não encaixar nós vamos fazer o teste com você em outras, até você se encaixar, mas
você vai participar do espetáculo. Foi feito assim.
Desse início até a primeira apresentação aberta foi em torno de quantos meses?
Nesses casos de alunos que a família não era envolvida teve alguém que se aproximava
especificamente mais de uma ou outra pessoa para conseguir se engajar no processo,
para conseguir ter essa vontade, mesmo sem o apoio de casa?
Sim. [...]. As minhas impressões de tudo é que [...] a escola faz a diferença na vida
da criança e do indivíduo.
Você acha que isso é mais específico aqui, por ser escola de tempo integral ou acha que
não tem nada haver?
Ajuda. A Escola de Tempo Integral ela facilita o trabalho porque o aluno está aqui
o dia todo, mas depende do querer, do desejo, eu quero fazer a diferença na educação.
Você acha que isso seria possível numa escola de tempo regular?
No início eles aconteciam dentro da própria rotina da escola, nas aulas de música,
de dança e nas oficinas [...] e o teatro fazíamos separado. Começamos com dois ou três por
semana. No mês de outubro para novembro, que tínhamos que colocar todos juntos, fazíamos
em média um ensaio geral por semana, aí entrava a parceria do professor, liberando o aluno
da sua aula, mas, até para isso nós tínhamos tudo combinado com os meninos; uma reunião
com a família (documentada onde os pais se comprometiam a serem parceiros da escola, a
estarem juntos), para o sucesso da aprendizagem de todos.
Nós já apresentamos três vezes a composição atual, parte dela nós apresentamos
umas cinco vezes, porque ela é muito grande, tem uma hora e meia de duração, [...] Ela tem
percussão, tem coro, dança, teatro, rádio que são os contadores da história. [...] A tecnologia,
a falta de consciência com o meio ambiente, a questão da corrupção, as relações familiares,
políticas, e as relações com o poder, essa distorção de valores, a lembrança da infância e das
brincadeiras, tudo isso que vale a pena resgatar, está no espetáculo.
183
Contribuíram. Eu falava gente da ideia para tia, e eles tia a gente poderia fazer
assim. Como a gente trabalhou com muitos meninos da turma ‘E’, eles são muito criativos e
tem uma facilidade imensa para poder estar fluindo as ideias e a gente acatava essas ideias
também.
A dança do Paraquedas a gente viu no youtube, como o elemento paraquedas é
muito colorido, tem um visual muito bonito. Nós resolvemos incluir no espetáculo,
simbolizando uma serenidade, com movimentos mais calmos com uma música em inglês e a
ideia era que passasse através da dança né, um momento sereno, onde o personagem principal
estaria num sonho e passaria desse sonho para a realidade dele. Ia ter todo um colorido ali,
quando você sonha é uma coisa feliz, não é um pesadelo, então a dança era mais alegre, mais
feliz mesmo com a música num rimo mais lento. E, a última dança foi com ela que a gente
ganhou o Festival de Arte Educação, era a dança da pipa, simbolizando a nossa escola com a
pipa; com a peneira como símbolo da associação de idosos que é forte aqui no nosso setor,
que participam do forrozinho toda semana, e para dizer que as crianças têm que participar da
cultura de dançar, brincar, e se divertir com brincadeiras saudáveis.
Foi em torno de quantos meses? Pelo que está me falando foi uma construção, as
coreografias foram sendo construídas com os ensaios. Foi isso?
Foi, mas não foi um tempo longo, foi bem corrido. Praticamente, quando a gente
pegava essas turmas era só ensaio, aula mesmo do planejamento, do nosso conteúdo a gente
deixou um pouquinho de lado porque o foco principal estava nos ensaios. Nossos horários de
planejamento era tudo ensaio, às vezes a gente pegou alunos que estavam fazendo
atendimento com outra professora, alguns não gostaram que a gente estava tirando, mas o
nosso tempo foi muito pouco, em torno de uns três meses só para fazer isso tudo. A gente teve
184
que vir aos sábados, para gente estar ensaiando, porque você ensaiar separadinho é uma coisa,
depois que junta tudo, que tem que ter aquela continuidade do espetáculo sem falhas, sem
interrupções é muito diferente, é um novo ensaio. Às vezes os meninos estão com a
coreografia na ponta da língua, na ponta do pé, mas na hora que junta tudo eles se perdem, aí
era outro desgaste, para a gente ficar marcando as posições de cada um, e o fato de a gente
não ensaiar também no palco é uma coisa que dificulta muito.
Teve então uma primeira etapa e depois uma segunda etapa, para juntar tudo?
Justamente, depois que estava tudo ensaiadinho as partes e foi juntar aí a gente
ensaiava pelo menos duas vezes na semana o espetáculo todo lá no anfiteatro [...]. As vezes
era difícil ensaiar, porque, por exemplo eu precisei de 16 crianças no paraquedas, e além do
ensaio geral eu continuava pegando grupos separados e quando não iam todos eu os voltava
para a sala e ia buscar um outro grupo de alunos que estivesse completo. Foi muito corrido a
semana toda com ensaio, todos os dias. Às vezes eu até pedia para a coordenação mais
horários, eu ensaiava com eles até na minha folga.
Nesse caso você teve que ter dupla função, ou não deu tempo, você só se dedicou ao
espetáculo? Dupla função.
Dupla função. Por exemplo, quando eu estava na turma A, não estava relacionado
com o espetáculo, então eu tinha que ser a professora de dança. Então eu tinha a função da
professora de dança e eu estava participando do espetáculo, acaba que a gente tem uma
sobrecarga ai de trabalho.
Você acha que ser professora de educação física, que é a sua formação, contribuiu ou foi
o suficiente para desenvolver esse trabalho de montar o espetáculo, montar coreografias,
ou você acha que se você tivesse a formação para a dança a contribuição seria maior?
Mirian você acha que existe comprometimento das crianças com a atividade se você
trabalhar dentro de sala ou se fosse trabalhar ouvindo-as para com elas produzir algo
diferente? Você acha que tem diferença no comprometimento deles, na participação?
Quando eles participam no momento de criar, eles se interessam bem mais. Com
certeza. De você chegar com o passo lá e você dizer, é esse passo e pronto acabou, as vezes a
criança tem dificuldade de pegar aquilo, você tem que deixar a criança ter liberdade de chegar
e falar “tia eu não estou conseguindo”, e então aí se eles ajudarem a criar, eles se tornam mais
motivados a fazer.
185
E tem diferença entre dançar, numa aula de dança e dançar para apresentar? Você acha
que isso também tem influência no comportamento, no desenvolvimento, no interesse?
Eu acho que tem influência sim, com seus pontos negativos e positivos. Porque às
vezes a criança que está no espetáculo, ela acha que ela tem que largar os estudos, porque ele
está no espetáculo, ele é artista, a gente teve muito problema com isso. Às vezes a gente tinha
que chamar a criança e dizer “olha você está deixando de fazer a tarefa de português ou a de
matemática por causa do espetáculo”. Então você vai sair do espetáculo para se dedicar mais
aos estudos, era ruim, mas às vezes até usava alguns argumentos para que ele entenda que tem
responsabilidades em sala de aula também, não e só no espetáculo. E, às vezes acontecia de
eles agirem assim: “não eu vou me dedicar ao espetáculo, porque a tia achou que eu estou
bem na sala de aula, por isso ela me escolheu”. Então tem dois pontos, um que às vezes pode
acomodar e outro que eles falam “não, a tia me escolheu para o espetáculo, então ela acha que
eu sou capaz então eu tenho que ser capaz”.
Você usou algum critério para selecionar os meninos que queriam dançar?
A gente sem querer usa, porque a gente tinha pouco tempo, a gente não tem assim
um ano para preparar um espetáculo. Nós tivemos praticamente três meses só, então como eu
pego uma criança que tem problemas de coordenação motora para participar de uma dança
que em três meses tem que estar pronta? E três danças ainda e tinha criança que não
participava só de uma, então a gente sempre pega os de comportamento melhor, os de
coordenação motora melhor. Tem os momentos que exigem mais força, como para fazer um
mortal. Você tem que selecionar essas habilidades nas crianças, como eu pego uma criança
que não consegue se quer fazer um rolamento?
Você teve que tirar alguma criança do processo por falta de habilidade?
Todas. Eu não achei justo elas saírem por terem uma dificuldade, nós não somos
perfeitos [...].
Eu acho que entre os coleguinhas surgiu um pouquinho de inveja, tipo assim: por
que eles podem e a gente não pode, eu queria estar lá também. Mas a gente sempre deixava
claro assim que na próxima oportunidade esses que não participaram teriam a oportunidade
deles também. Os que estavam participando, eu acho, que eles ficaram mais unidos, quando
um faltava ou adoecia outro informava o que havia acontecido, eles reforçavam uns com os
outros os dias dos ensaios e pediam para não faltar, criou um vínculo, uma união, o
186
coleguismo, o grupo de whatsApp, Facebook, então as redes sociais nos ajudaram, e foi um
ponto favorável.
Eu acho, porque a gente viu a criança crescendo. Nós pegamos e fomos ensaiando,
ensaiando até chegar a um resultado final e viu o tanto que superou que foi bom. Para mim
cria um vínculo maior, eu sinto saudade desses meninos que já saíram da escola e que
participaram. Tanto é que todos nós choramos muito quando o espetáculo terminou, a gente
ensina, e às vezes da bronca, briga, mas depois eles agradecem, porque eles viram que
cresceram.
Que aspecto você notou como um fator que fez a diferença para que tudo desse certo?
Eu acho que o fato de termos escolhido os alunos fez com que os pais ficassem
mais comprometidos, porque eles sabiam da importância desse espetáculo. Quando a gente
marcava ensaio eles vinham, traziam aos sábados. Eu acho que os pais ajudaram muito [...],
quando pedíamos roupa ou outra coisa eles mandavam, traziam, no dia do espetáculo mesmo
no máximo um ou dois chegaram atrasados, então o comprometimento, aquela coisa de estar
com a escola. A gente fez no começo, uma reunião com os pais dos participantes e a gente
pediu esse compromisso da família. Iam surgindo ensaios fora do horário escolar e o déficit
de alunos era muito pouco, por isso eu acho que os pais contribuíram para isso.
Você que trabalhou muito em grupo, qual seu olhar sobre o grupo? Para você esse tipo
de trabalho vem para unificar-se com os conteúdos curriculares? Para reforçar os
conteúdos curriculares ou vai além disso?
É uma pergunta difícil, porque eu acho que ele vem para contribuir, mas um
espetáculo como esse nosso foi uma coisa tão grande que eu acho que ele superou e passou.
Eu acho que as duas coisas estão juntas, ele veio para contribuir, mas ele superou, foi além.
Depois que os professores começaram a ver as peças juntadas, a beleza que era, aí eles
valorizaram mais o nosso trabalho, porque as vezes quando você retirava de sala eles não
queriam que o aluno perdesse o conteúdo, porém depois que eles viram o espetáculo
montadinho eles entenderam a grandiosidade do que nós fizemos.
Todas as etapas envolvem. O menino que não deu conta de fazer um passo e ele
treina, treina, treina, até ele conseguir, ele se emociona, você se emociona, ele deu conta, essa
emoção acompanha todo processo.
187
Você gostaria de registrar mais algum aspecto desse trabalho, algo que foi importante
para você?
Eu só me queixo de ter sido assim um espetáculo tão trabalhoso, tão bonito e ter
ficado só para um dia, uma época que foi no mês de dezembro. Eu gostaria de dar
continuidade, de mostrar para mais pessoas, mais dias de espetáculo. Mas eu sei que é
dispendioso, requer dinheiro e a verba não veio, apresentar de novo requer som, iluminação,
aluguel do espaço. [...].
Você acha que é mais envolvente para o aluno os pequenos espetáculos que são
desenvolvidos durante o ano ou um grandioso que pode levar 4, 5 ou até seis meses para
a apresentação?
Eu acho que os pequenos contribuem mais, porque se você faz vários, dá mais
chance deles irem crescendo e se você pegar alguns para um grande espetáculo, aí é só aquela
turminha. Quando é pequeno você pode trabalhar com mais crianças e ajudá-las a crescer, não
são seis meses com as mesmas crianças.
Mirian eu colhi de uma família uma experiência de uma criança, que os pais estavam se
separando, era uma criança que chorava muito, que não dialogava com ninguém, era
muito fechada, e a participação dessa criança no processo de construção desse
espetáculo até a culminância. Segundo uma pessoa da família, modificou completamente
o comportamento dela, transformou emocionalmente, deu mais segurança mais alegria.
Nesse aspecto você acha outras vidas podem ter sido modificadas por participar dessa
arte? Você percebeu alguma coisa?
Eu acho que sim, eu não sei se é a mesma criança, mas essa criança eu escolhi para
fazer as coreografias comigo, ela estava nas três, justamente porque eu a achava inibida,
tímida, passando por problema familiar, e também ela teve um crescimento enorme, ela criou
um vínculo comigo muito grande, eu a chamava de minha filha; cheguei a levá-la para minha
casa. Um dia a mãe dela não poderia buscá-la no ensaio e eu me responsabilizei por levá-la
em casa. Eu acho que isso contribui muito para a criança crescer, cria vínculo afetivo, ela
cresce na capacidade motora, em vê que ela pode conseguir se tornar menos tímida, e se
socializou mais, e melhorou muito.
Aqui nessa escola eu logo percebi que se trabalhava muito com artes, a Isabel
estava sempre querendo estimular isso, movimentar a escola, a Elis como a professora da
rádio escola e eu fui aprendendo a trabalhar com isso ao longo do tempo, pois entrei aqui sem
nenhuma experiência.
O Espetáculo Felicidade foi a culminância do projeto “sustentabilidade por arte”
nas oficinas integradas, foi um projeto que a gente inscreveu no programa mais cultura do
governo federal, foi inscrito em 2013 e o resultado veio em 2014. Quem nos alertou sobre
esse programa foi a Isabel, disse que ia ter uma verba de cerca de R$ 20.000,00 para a escola.
Como a gente já trabalhava com espetáculos e a nossa grande dificuldade era financeira
188
principalmente para estar produzindo o espetáculo que depende de uma boa aparelhagem de
som, de iluminação, para ter um suporte técnico melhor.
Nos nós inscrevemos um dia antes de encerrarem as inscrições, eu sentei com o
Rafael Muniz, porque era preciso que alguém da comunidade estivesse envolvido [...] e nós
ficamos uma tarde inteira organizando esse projeto, no outro dia eu ainda fiz alguns ajustes e
enviei, de última hora, até pensei que não daria em nada, mas pelo menos tentamos.
No outro ano veio a surpresa, éramos uma das 21 escolas que tiveram o projeto
aprovado no programa Mais Cultura. Várias escolas convidaram artistas goianos como Maria
Eugênia, Pádua, eles também estavam participando desse projeto em outras escolas e a nossa
escola foi com o projeto Felicidade, que buscava integrar as oficinas, um trabalho que já
realizávamos, só que estender isso para a sala de aula, ampliar esse diálogo de forma mais
profunda com o professor de sala. Então isso a gente conversou aqui com os professores,
fizemos sugestões e alguns professores vieram nos procurar querendo saber o que eles
poderiam fazer. Fizemos reuniões para saber o que poderíamos estar fazendo nas salas para
discutir sobre o tema sustentabilidade, e partindo disso começamos a fazer o roteiro do
espetáculo. Sentamos Elis, Maria Daniela e eu para organizar o roteiro, que história nós
contaríamos no espetáculo.
Como as manifestações, as questões políticas foram muito fortes naquele ano, nós
pensamos em também estar inserindo essas questões na trama. [...]. Sentamos, fizemos o
roteiro e pensamos quem atuaria no espetáculo. Os alunos contribuíram de diversas formas,
mesmo os que não atuaram diretamente no palco atuaram sugerindo.
Vocês deixaram aberto para quem quisesse participar? Foi voluntário ou houve uma
seleção?
Exatamente por esse histórico da escola fazer muito espetáculo, quando a gente
pergunta geralmente todo mundo quer participar, pelo menos 90% quer participar, por assistir
bastante e até participar eles gostam disso [...]. Nós usamos os seguintes critérios:
comportamento em sala de aula também, até estimular os alunos a estarem se engajando mais
nas aulas, na escrita, no estudo individual, habilidades de interpretação, a gente pensava: esse
papel vai cair direitinho em tal aluno porque é o estilo dele, agente buscou encaixar o
personagem no aluno, e pegamos também aqueles alunos que tinham dificuldades de
comunicação de movimento, de fala. A gente buscou mesclar [...].
O papel principal que era o do prefeito Fulanildo, foi interpretado pelo Leon da
turma F, outra questão que nós buscamos, foi trabalhar com a turma F, as duas turmas Fs
porque eles já estavam saindo da escola, porque todo ano quando a gente faz os espetáculos
maiores a gente busca as turmas Fs, para que eles saiam com uma lembrança, uma memória
mais viva. Os outros têm ainda um tempo, vão assistir mais espetáculos, vão apresentar mais e
esses não eles vão sair daqui e vai saber para onde eles vão?
No espetáculo Felicidade nós fizemos grupos: a música, a banda, música do coro,
dança, teatro e rádio. As oficinas são integradas, mas para organizar o trabalho foi preciso
formar esses grupos. Os alunos do teatro também faziam a música e a dança, a gente
reutilizou os personagens, os figurantes da peça, eles tinham que passar por todas essas etapas
de ensaio. A rádio teve uma abrangência total porque os alunos narravam e atuavam cantando,
dançando. A banda também, além e tocar participou atuando no palco como figurante e
189
Você me disse que a escola toda vivenciou o processo de construção do espetáculo. Qual
foi o tempo gasto para que todos pudessem conhecer, se inteirar, participar desse
processo? Que tempo foi gasto com esses ensaios por etapa até conseguir juntar tudo?
O propósito dessa minha pesquisa é descobrir se ações como estas que você está me
descrevendo, podem possibilitar a continuidade do desenvolvimento da afetividade e
consequentemente colaborar com o desenvolvimento e a aprendizagem. Você acha que
esse processo todo contribuiu em algum aspecto nesse sentido?
Você acha que essa atividade fez com que ele construísse vínculo com alguma coisa?
Construiu. E isso e nítido, quando você pega os alunos no início do projeto, vai
falando, conversando, nos ensaios eles tem uma vivencia totalmente diferente. Eles não
precisam ficar ali todo mundo certinho, numa mesma posição, na sua carteira, não é isso. Eles
têm uma vida diferente, eles movimentam, dialogam, se aproximam, adquirem uma percepção
maior das coisas, do outro, ele percebe o outro. Quando o outro está ensaiando ele observa,
ele capta aquilo que para ele é interessante e também se corrige. Ali ele tem mais opções para
observar, dialogar... eu achei muito interessante. Em um dos ensaios, num sábado de manhã,
parecíamos que estávamos todos eufóricos e rendeu tanto, foi tão divertido, ensaiar num
sábado, cada um com uma roupa, querendo mostrar.
Também notei que quando acabou o projeto alguns alunos que eram muito
tímidos, muito calados, eles e mostravam mais, queriam se mostrar, tomar mais atitude.
Outros que tinham muita dificuldade de fala, de postura, eles apresentaram uma melhora. Na
rádio eu tive dois que deram muito trabalho, só que eles desenvolveram bastante, adquiriram
uma certa maturidade. Eles ouviram muitas críticas dos colegas, não só dos professores, mas
também dos colegas a quem eles ouvem bastante. Depois do projeto, muitos vieram me
procurar ainda loucos para ver o DVD do espetáculo, que ainda não está pronto.
190
A relação que é construída em sala, professor e aluno, aluno com Aluno, você acha que é
diferente da relação que se cria nesses momentos de teatro, de dança, de música?
É diferente, por exemplo, o professor e aluno. Tem uma das alunas que eu
coloquei que deu muito trabalho, mas nós conseguimos, e ela toda hora chegava e dizia “tia
você é tão linda”, ficava puxando o saco né e agora esse ano ela me responde. Aquela
experiência mostrou um certo lado do aluno que a gente não conhece, que em sala não se
percebe. Mas aí a gente vê, naquele momento fulano agia daquela forma, agora ele está
assim... Outros já tinham um certo vínculo com a gente e aí com esse trabalho o respeito
aumenta, tipo agora eu posso estar dando uma aula, poder estar chato para eles, mas eles não
estão respondendo, não estão cochichando com o colega, eles estão ali respeitando.
Você diria que essa mudança de comportamento, que você chamou de respeito, você
acha que isso é resultado de uma admiração? De uma amizade que pode ter sido
construída com esse espetáculo?
Eu acredito que sim. Porque ao mesmo tempo em que eu sou muito rígida nos
ensaios, na produção em si eu também sou um pouco palhaça, eu faço gracinha e alguns
alunos percebem isso. Os que não percebem criam uma imagem diferente, mas os que
percebem aprendem o tempo de cada coisa e respeitam.
[...]
Essas questões que são trabalhadas no espetáculo você acha que fica mais difícil ou mais
fácil para eles compreenderam o dia a dia lá fora? Eles demonstram isso? Eles
vivenciam ou é tudo automático?
Eles vivenciam, até pelo fato que eles trazem no momento dos ensaios, nas trocas
de experiência, eles já trazem algo de fora.
[...]
Você acredita que o fato de não ter um profissional específico para dança, um
profissional com formação para tocar na banda, as questões de coreografia, de teatro.
Você acha que não ter um profissional específico da área impediu o bom
desenvolvimento do trabalho ou é possível para um pedagogo, um professor de
matemática, de letras, trabalhar em conjunto e construir um bom processo nessa área
das artes?
Eu acredito que cada um quando tem a sua formação específica ele sabe como
trabalhar aquilo, ele tem um objetivo e ele vai começar a trabalhar com aquilo até chegar
nesse objetivo. Agora, por exemplo, um profissional formado em pedagogia, para trabalhar
com música, teatro, etc., ele deveria ter uma formação específica na área também, para poder
atingir o objetivo específico naquela arte, com técnicas próprias da área. [...]
50 alunos, em um espetáculo de uma hora com apenas 4 profissionais trabalhando
as artes e com dupla função na escola. Foi muito cansativo porque desempenhávamos nossas
funções na escola e ainda desenvolvíamos o projeto! [...]
Quem trabalhou as escolhas das músicas, das coreografias, dos locais dos atores no
palco, figurino, iluminação, como é que essas coisas foram sendo definidas?
A Cecília, uma professora que trabalhou um tempo aqui, nos ajudou bastante, as
agentes educativas faziam o que precisávamos os adereços de palco. A Cecília imaginou o
figurino de todos os personagens e aí nós fomos a um departamento da secretaria que tem
191
figurinos e tentamos encontrar algo que se aproximasse dos que ela havia desenhado para
cada personagem. Nós pegamos figurinos de lá, daqui da escola e ela também costurou
figurinos.
Quem trabalhou a banda foi o Rafael e ele trabalhou teclado, guitarra, contrabaixo,
violão. O coro foi de minha autoria. A percussão foi feita por um estagiário da Universidade
Federal de Goiás e aí eu ensaiei as músicas com os meninos. [...]. As músicas foram sugestões
da Isabel, eu trouxe algumas; a Mirian criou as coreografias e tivemos algumas intervenções
do pessoal da SME. Os alunos também construíram algumas partes em todos os seguimentos.
O que para você ficou forte e você acha que é importante registrar em toda essa
construção?
É costume da escola realizar vários espetáculos pequenos durante o ano. O que você
achou que é mais proveitoso, um grandioso que vai quase a metade do ano ou vários
menores?
Para mim todos são válidos, contribuem bastante, sem tirar nem pôr [...], só de
estarem na memória, de trabalharem valores para mim já é ótimo.
Você acha que isso cria uma cultura de gosto pela arte, de um querer vivenciar as artes:
dança, música, teatro...?
Eu acho que cria. A família manda muito na questão de gosto musical, mas o fato
de trabalharmos de tudo, por aqui eu não percebo aquele movimento de gosto midiático forte,
como se vê em outras escolas. Eles ficam mais ecléticos e prestam atenção na letra, sentem e
interpretam a música.
Tem duas alunas que participaram do espetáculo Felicidade, e agora estão na
turma E, volta e meia elas vêm até a mim com composições que me deixam encabulada,
chegam a ser complexas para a idade e vivencia musical delas. Eu atribuo isso ao espetáculo e
aos trabalhos com as artes nas oficinas.
Assistente Administrativo
na mesma história de 2013. Foi bem num período muito tumultuado politicamente em
Goiânia, aconteciam muitos movimentos, muitas reivindicações, então nós decidimos focar na
sustentabilidade, mas dentro das questões políticas e sociais. Quando eu, Karliene e Elis
sentamos nós criamos uma ideia, mas depois pensamos que talvez ficasse muito pesado para
as crianças verem então nós só abordamos a questão da corrupção na peça. A escola já estava
trabalhando questões sobre valores com os alunos, questões relacionados com felicidade, os
sentimentos e subjetividades, então nós sentamos e definimos que valores poderíamos tratar
na peça? Foi quando optamos por desenvolver algo acerca da felicidade. O que seria
felicidade? O que as pessoas fazem para ter felicidade? Nós tentamos nos ater ao valor
felicidade. Já acontecia o trabalho com os valores e depois que nós começamos a pensar nós
levamos para a sala de aula.
Para os ensaios nós abrimos várias frentes, eu fiquei com o pessoal do teatro, a
Miriam com a dança e a Karliene se dividiu entre o pessoal da percussão e o coral, o Rafael
Muniz que era um artista da comunidade assumiu os ensaios com a banda. Depois que cada
uma trabalhou individualmente com seus grupos que nós juntamos para os ensaios gerais.
A construção teve muita participação dos meninos, até três dias antes da primeira
apresentação nós ainda mudamos o texto porque os alunos falavam o que eles achavam, foi
bem prático com os meninos e nós fomos moldando no decorrer. A criação veio de muita
gente.
Faz muita falta um profissional de artes cênicas dentro da escola, mas como tudo
mundo aqui é muito bom, todo mundo aqui parece que sabe fazer de tudo, acabou que nós
superamos o que fez falta e também buscamos ajuda da professora de teatro da secretaria de
educação. Vieram uma profissional de dança e uma de teatro que nos ajudaram demais na
criação e no desenvolvimento dos personagens. Tivemos também a ajuda com a trilha sonora
de um profissional da SME e alguns estagiários de música da UFG que contribuíram muito.
Nós fomos fazendo, mas acho que não tínhamos a dimensão do trabalho, eu
mesmo só tive essa dimensão no dia da apresentação, quando eu vi todos os figurinos
organizados, era muita coisa. Eu percebo que a cada ano é como se nós estivéssemos subindo
um degrauzinho porque essas práticas com as artes acontecem desde o primeiro ano da escola,
como: teatro, dança, música. A diretora Isabel faz questão que isso faça parte da formação dos
meninos. Da MAC, eu acho que só não participamos uma vez, eu me lembro que na primeira
vez nós participamos com uma dança.
Sobre as relações, eu percebi que eles queriam ajudar um ao outro, dando dica,
mas uma coisa forte que eu vi, mas só tive a certeza depois da apresentação, que eu percebi o
quanto a apresentação foi boa para a autoestima deles. No final eles vieram me abraçar e
chorando assim, como se aquilo os permitisse dizer “eu consigo”, porque até então eles
tinham uma insegurança muito grande, mas no dia eles estavam maravilhados com eles
mesmos, teatro lotado e eles não erraram nada. Então eu percebi o quanto aquilo agregou para
eles. Foi um processo de emoções, era muita ansiedade, insegurança e o medo de não dar
conta e, no final foi só alegria, e o orgulho de ter apresentado para os pais. Não sei se por
minha expectativa, eu de fato só consegui ter certeza dos resultados do efeito daquela
experiência para eles na culminância. Eu também estava muito envolvida
193
Me fale sobre o Mais Educação e desse passo do Mais Educação dentro das escolas em
tempo integral.
O histórico do ME na rede ele vai começar a partir de 2007, quando várias escolas
aderiram aos programas a nível nacional, trabalhando com diversas atividades pedagógicas
conhecidas até pouco tempo como as oficinas. Essas atividades pedagógicas eram
desenvolvidas por oficineiros que na verdade são voluntários que recebem ajuda de custo para
desenvolver as atividades no contra turno. Essas atividades de música de dança, capoeira,
várias atividades dentro de vários macrocampos: meio ambiente, arte, educação, e esses
macrocampos servem para orientar dentro da educação essas atividades.
Essas pessoas não tinham formação específica, como não tem hoje ainda, na
verdade conta-se com o saber que elas acumulam na cultura popular. Por exemplo, o mestre
de capoeira que vai estar lá na escola, ele não tem nenhuma formação específica em educação
física ou na área de cultura e arte, mas ele tem um saber popular, da educação popular e ele
vai trabalhar como voluntário nas escolas. Nas escolas de tempo integral essas atividades que
nas escolas de tempo parcial são desenvolvidas por voluntários da comunidade, são
desenvolvidas pelos próprios professores, com formação inicial de curso superior e
professores da rede, sendo eles a grande maioria concursada da rede. Isso hoje, nas 22 escolas
de tempo integral, onde todas as atividades pedagógicas cadastradas no Programa Mais
Educação, são desenvolvidas por professores da rede, professores com formação inicial nas
diversas áreas do conhecimento (pedagogia, matemática, educação física...). São os próprios
professores que desenvolvem, e eles têm orientação na área da arte, e arte educação por parte
da secretaria.
Professor existe hoje na rede, o propósito de estar tendo profissionais específicos, com
formação nessas áreas da arte para escola de tempo integral?
Hoje, nós não temos profissionais nas cinco linguagens da arte, música, teatro,
dança, áudio visual e artes visuais, então essas cinco linguagens, você ter todos esses
profissionais nas escolas de tempo integral, hoje nós não temos, mesmo que seja interesse da
rede, nós não temos no mercado profissionais. Nós hoje temos dificuldade de encontrar
professor de artes para as escolas de tempo regular, temos dificuldade de encontrar professor
de teatro.
Aqui no departamento pedagógico, a partir do Festival de Arte Educação nós
ampliamos muito as vivencias para essas linguagens e fazemos trabalho de defesa para que
cada vez mais se possa vivenciar isso na escola, e a escola de tempo integral tem uma
possibilidade maior de oferecer essas vivências.
Pensada nessa nova formulação a partir de 2014, a escola de tempo integral tende a
entender que o currículo da base comum não é dissociado das artes. O currículo na verdade é
integrado e contextualizado.
194
Meu nome Jorcelina Nunes Braga, sou tia da Ana Gabriela, ela começou a estudar
lá na escola muito tímida, teve uma separação entre os pais dela e ela sofreu muito, muito com
isso, ela ficava sempre chorando, sempre de cabeça baixa e ela começou a participar dessas
aulas artísticas lá da escola, e eu achei que ela ficou bem melhor, mais descontraída, gostava
muito de participar das aulas de teatro. Eu sentia que ela estava mais entusiasmada, gostando
muito da escola. Mesmo antes do problema com os pais ela era muito tímida, se sentia inferior
às outras pessoas, não se abria nunca. Depois que ela começou a participar das aulas eu achei
que ela desenvolveu muito também para se relacionar, parou de ficar chorando.
Eu presenciei da participação dela só em um espetáculo, mas ela fez vários na
escola. Esse que eu assisti eu vi que ela ficou bem descontraída, bem desenvolvida, eu nem
sabia que ela era daquele jeito, conosco na família ela não era descontraída daquela forma lá.
Durante os ensaios eu já comecei a notar diferença nela, a convivência dela com a
gente da família mudou, ficou bem melhor, e aí ela me falou que estava participando das aulas
lá e estava gostando.
Não só ela, mas o primo também, eles ficavam em casa brincando como se
estivessem lá na escola treinando e eles gostavam de contar, de expressar o que eles estavam
sentindo e fazendo lá. Eu acho que essas aulas ajudam muito, eu gostei muito e se tivesse
mais ia ser ainda melhor. Para a Gabriela foi bom tanto pelo que ela estava passando com os
pais quanto pelo jeito dela, o trabalho contribuiu bastante. Eu acho que a escola deve
continuar com essas atividades para as crianças por que isso faz elas crescerem bastante, eu
não esperava que a Gabriela ia melhorar eu achei que a gente fosse precisar levá-la ao
psicólogo, mas com essas aulas lá, ela desenvolveu e melhorou muito, fiquei surpresa. A
irmãzinha dela é o oposto dela, também está lá na escola e ela está muito feliz de estar lá, se
envolveu mais.
Eu assisti só uma apresentação, eu deveria participar de mais, mas eu achei muito
legal, muito bacana, o espetáculo foi uma coisa bem grandiosa mesmo. Pensei que nem fosse
daquele tanto.
Meu nome é Eleuza Soares Ferreira e eu sou a mãe do João Paulo que participou do
teatro da Felicidade.
O que a senhora achou? Quais foram os sentimentos da senhora com aquele espetáculo?
Foi importante para a senhora que alguém da sua família estivesse lá apresentando?
195
De comunicar com a gente e de contar “mamãe a gente fez isso”. Falar sobre os
ensaios com a gente em casa, ele falava e contava - mãe nós ensaiamos isso e isso, e então ele
ficou mais comunicativo em casa.
Em casa a senhora acha que essa vivência oportunizou vocês saberem um pouco mais
sobre a escola nesse período?
Com certeza, porque o João Paulo é mais quietinho não é, com essa apresentação,
ele ficava contando e a gente conversava mais.
Notei diferença.
O que a senhora acha de ter esse tipo de trabalho com as artes nas escolas?
De suma importância, acho que deveria ter em toda escola, porque desenvolve a
criança tanto na escola como em casa, com a gente, fica mais comunicativa. No caso do João
Paulo que é mais tímido, mais quietinho, isso é muito importante ter.
Sobre essa atividade que ele vivenciou na escola, algo a incomodou ou a senhora gostaria
de deixar registrado?
Acho que nada me incomodou. Ver a participação dele eu não senti nada de
incomodo não. Eu acho que a escola ajudou demais o meu filho nessa questão de
comunicação, porque ele é muito tímido. Eu queria que todas as escolas tivessem isso, de
desenvolver a criança, de participação, de afeto. Acho muito importante.
O que a senhora achou? Quais foram os sentimentos da senhora com aquele espetáculo?
Lindo. Eu fiquei muito entusiasmada.
Foi importante para a senhora que alguém da sua família estivesse lá apresentando?
Sim, sempre é muito importante, eu gosto que eles participem. O Pedro não gosta,
mas a Analice, graças a Deus sempre está lá no meio. Desenvolve muito mais. Ás vezes
196
descobre até o dom da criança, uma arte, as vezes ela canta, desenvolve a comunicação com
as pessoas, não fica tão reprimida.
Ela ficava muito ansiosa, ansiosa para tudo.“Aí eu vou ensaiar... falta muito tempo
para apresentar, mas tem que ensaiar, e eu quero apresentar”... No dia da apresentação mesmo
ela não dormiu. Como eu falei, eu gosto, acho bom. Ela tinha uma meta, o objetivo dela era
fazer a apresentação. Ela foi bem persistente, não desistiu.
Em casa a senhora acha que essa vivência oportunizou vocês saberem um pouco mais
sobre a escola nesse período?
O que a senhora acha de ter esse tipo de trabalho com as artes nas escolas?
Eu gosto, acho muito interessante, eu queria até que todas as escolas tivessem
porque você vê que tem criança que tem esse dom e na escola que ele está não tem como
desenvolver nada.
Sobre essa atividade que ela vivenciou na escola, algo a incomodou ou a senhora gostaria
de deixar registrado?
Não tem nada para reclamar não, eu achei que foi bom o período que usaram para
os ensaios também foi bom, não foi aquela coisa exaustiva, repetia, mas era só aquele tempo,
não ficava na escola de cedo até tarde fazendo a mesma coisa. Tinha os dias certos para os
ensaios. Eu achei tudo tranquilo.
Qual o seu nome e grau de parentesco com o aluno Leon?Uedina Belém Magalhães dos
Santos, sou avó do Leon
O que a senhora achou? Foi lindo demais, emocionante de mais, chorei quase que a peça
inteira.
Foi importante para a senhora que alguém da sua família estivesse lá apresentando?
Foi muito importante. Porque o Leon é muito só, criado com a avó e com o avô,
não foi com o pai e com a mãe, foi criado só no meio de adulto e ele começou a participar de
coisas de criança assim quando ele começou a estudar no Maria Nosídia porque lá é de tempo
integral. Escola particular não dá essa oportunidade, essa integração da criançada, não tem
isso. E, quando ele foi para o Maria Nosídia parece que lá ele despertou aquela infância dele.
A escola Maria Nosídia foi muito importante para mim e para ele também.
Eu notei que ele ficou mais assim aqui dentro ele descontraiu mais, só que ele não
dava muito detalhe da peça não porque ele queria era uma surpresa. Ele trocava muitas ideias
com a Júlia, que é vizinha e também participava da peça.
Em casa, a senhora acha que essa vivência oportunizou vocês saberem um pouco mais
sobre a escola nesse período?
Com certeza, nesse ponto a família sempre foi muito presente na escola porque a
diretora sempre faz reunião com os pais, ela faz um café da manhã. Então sempre teve esse
movimento da família participar da escola. Na época do teatro também foi assim. Eu acho que
o Maria Nosídia é um modelo de escola de tempo integral para o estado também. Para mim o
Leon Denis poderia ficar lá até terminar o ensino médio.
O que a senhora acha de ter esse tipo de trabalho com as artes nas escolas?
Muito importante é uma forma de a criança desenvolver o que ela tem de melhor
porque criança gosta muito de inventar, de imitar e a escola é o melhor lugar para isso, porque
dentro de casa ele faz isso, ele imita, mas aqui é só a gente e na escola ele tem a oportunidade
de fazer isso para todo mundo. Deveria ter um horário para fazer isso, um stand-up das artes,
incluindo tudo, criança que gosta de desenhar, criança que gosta de cantar, eu acho que
deveria ter esse momento de liberdade da criança escolher o que ela quer fazer, tendo de tudo,
uma tela para pintar, um violão para tocar, um microfone para cantar, um palco para
representar. Eu acho que seria importante para a criança desenvolve o lado dela, o que dá
satisfação.
Sobre essa atividade que ele vivenciou na escola, algo a incomodou ou a senhora gostaria
de deixar registrado?
Acho que pelo tempo que foi pelo pouco de verba eu acho que foi tudo muito bem
elaborado dentro do possível. Não tenho nada a reclamar, nadinha.
O que a senhora achou? Quais foram os sentimentos da senhora com aquele espetáculo?
Foi importante para a senhora que alguém da sua família estivesse lá apresentando?
Com certeza. Porque ver seu filho lá apresentando e fazendo um papel tão bem
feito, para mim é muito gratificante.
Não, só notava muita ansiedade dele para conseguir fazer, desafiando ele próprio.
Ele ficava lá no quarto ensaiando, falando na frente do espelho. Na verdade, eu vi uma grande
dedicação, ele querendo apresentar o melhor, porque ele estava todo empolgado, querendo
fazer. Ele sempre estava lendo o roteiro. Então, eu notei muito esse comportamento, dele
querendo fazer, dando o melhor dele. Às vezes eu ficava aqui ouvindo ele lá do quarto.
Em casa a senhora acha que essa vivência oportunizou vocês saberem um pouco mais
sobre a escola nesse período?
A gente teve um diálogo maior porque ele estava super empolgado com esse
teatro, então ele só falava nesse teatro. Ele falava muito sobre esse teatro.
A gente sempre teve muito diálogo, o que eu notei nele foi mais a desenvoltura, de
falar mais. A gente teve um diálogo maior porque ele estava super empolgado com esse
teatro, então ele só falava nesse teatro.
O que a senhora acha de ter esse tipo de trabalho com as artes nas escolas?
Sobre essa atividade que ela vivenciou na escola, algo a incomodou ou a senhora gostaria
de deixar registrado?
Não. Nada me incomodou, pelo menos dele não teve nada assim... que ele tenha
ficado chateado ou que tenha acontecido alguma coisa com ele.
Qual seu nome e grau de parentesco do aluno (a) Pedro? Mãe do Pedro Lucas.
Foi importante para você uma criança de sua família estar lá apresentando?
A participação dele no teatro você acha que mudou alguma coisa na relação de vocês em
termos de trazer alguma coisa da escola para dentro de casa?
Como eu falei todo dia tinha alguma coisa para falar, todo dia dizia: - mãe hoje
teve isso e isso, talvez que eu mesmo sem tempo eu tirava um tempo para ouvir o que ele
tinha para falar.
Isso troca de ideias entre a gente, porque diariamente eu pergunto: “Pedro como
foi hoje lá na sua escola? O que você fez?” E, quando ele estava nessa parte do teatro ele que
chegava e falava.
Eu acho que deveria ter em todas as escolas, acho que é um projeto maravilhoso e
assim sair só daquelas regras do português e da matemática e incluir isso aí na educação. Vai
ser muito bom, acho que vai ter mais resultado tanto em casa quanto na escola. Na vida dele,
nas relações, vai ser muito bom, pelo menos o Pedro ele ficou mais dinâmico. Ele ficou mais
desenvolvido para falar, para conversar, que antes o Pedro era muito calado até para falar em
público mesmo, ele ficou mais preparado.
200
IDADE: 11 ANOS
Durante os ensaios, que duraram entre 4 e 5 meses, como foi sua relação com seus
colegas? Vocês se ajudaram em alguma coisa?
Muito boa, eu fiz mais amigos alguns deles me ajudaram, foi muito legal.
Sim, a tia sempre perguntava o que a gente achava e a gente falava, dava nossa
opinião.
E com os professores? Mudou alguma coisa entre vocês, na sua relação com eles?
O que mais te causou emoção durante os ensaios? O que você sentia? E por quê?
Às vezes muito cansaço, porque a gente tinha que ficar repetindo e repetindo,
muitas vezes a mesma coisa, mas foi bom porque depois ficou muito bom.
Qual foi seu melhor momento? Por quê? E o que você sentiu?
Sua família participou dessa sua experiência? Sim eu sempre chegava e em casa e contava
para minha mãe e ela foi assistir.
Mudou muito. Eu aprendi que dinheiro não compra tudo. Que os políticos
precisam olhar mais para as coisas que são realmente importantes. Aprendi que se eu me
esforçar eu posso conseguir qualquer coisa e que o mais importante e ter amigos de verdade.
Você gosta de dançar, cantar, encenar, criar ou recitar poesias, gosta das artes? Porque?
Você acha que todas as escolas devem ter essas atividades artísticas? Tem que ter, porque
isso ajuda a gente se desenvolver, ser mais descontraído.
IDADE: 11 ANOS
Durante os ensaios, que duraram entre 4 e 5 meses, como foi sua relação com seus
colegas? Vocês se ajudaram em alguma coisa?
A minha relação com meus colegas mudou muito, nos ensaios a gente conversa
sobre coisas e depois você vê que a relação está mais próxima, aí a gente começa a falar
segredo, começa a se simpatizar com a pessoa e começa a ver que ela é muito importante para
você. As férias todas eu senti falta dos meus amigos [...]. Foi muito bom, a gente se
aproximou mais e desde o começo a gente teve ajuda, os alunos uns ajudavam os outros. Eu
ajudei a minha amiga memorizar as falas dela, porque ela era a narradora e auxiliei a Ana
Cecília na dança. Também me ajudaram para caramba! Foi o Leon, Geonava, Julia, foi muita
gente ajudando todo mundo, principalmente quando teve ensaio no fim de semana, até no
intervalo a gente ficou ensaiando [...], foi muito bom.
Durante os ensaios a tia pedia a opinião de todo mundo e aí todo mundo foi dando
opinião e ai a gente fez a coreografia só com a opinião das pessoas. Foi com a tia Karliene,
aquela coreografia da música felicidade, teve um efeito muito top. Nós brincamos, pulamos
corda. A gente mesmo que criou tudo.
E com os professores? Mudou alguma coisa entre vocês, na sua relação com eles?
O que mais te causou emoção durante os ensaios? O que você sentia? E por quê?
Durante os ensaios eu sentia muita agonia, aquele calorzão e a tia colocava a gente
para ralar mesmo e tinha momento que eu sentia muita raiva, principalmente quando ela
mandava a gente repetir, “passa de novo, de novo, de novo, está errado, perna mais alta...”
Foi emoção, todo mundo alegre lá e eu meu Deus, meu Deus, o que eu faço? E se
eu errar alguma coisa? Deu-me vontade de gritar, correr, fugir dali. Quando terminou eu saí
correndo, e gritando: “Ai meu deus eu consegui, eu consegui!!!”, fui dando parabéns pros
outros e meu maior sentimento era de amor, amizade que eu tinha com as pessoas eu vi que
202
era muito grande naquele momento, agente foi se abraçando, a minha família toda ali
assistindo. Foi uma emoção muito grande.
O que me fez pensar na vida foi quando o ator principal começou a pensar mais na
cidade, nas pessoas, quando ele começou a se importar mais com essas coisas, não só no
dinheiro, na grana. Lógico que isso também é importante, mas não é tudo na vida, tipo você
não compra amizade, não compra amor, não compra sossego. Sossego nem todo mundo tem.
Você gosta de dançar, cantar, encenar, criar ou recitar poesias, gosta das artes? Por
quê?
Gosto muito. Eu amo dançar! Me faz bem para caramba! Quando eu estou
dançando lá eu falo é o um mundo, onde eu estou, onde eu gostaria de estar, de onde eu não
gostaria de sair.
Você acha que todas as escolas devem ter essas atividades artísticas?
Eu acho que fazendo arte a gente aprende, aprende matemática, português, aprende
tudo que é importante nas aulas que a gente tem em sala. Você usa arte para tudo, para tudo
que você vai fazer na vida. Na matemática, na dança, por exemplo, a professora fala lá: três de
oito, então você aprende 3x8, coisas assim. No meu dizer, eu acho que tem que ser com o
coração que você tem que fazer a arte, a dança a música o teatro.
Nem todas as escolas têm arte [...] tem escola que a gente só estuda, estuda, estuda,
aí no recreio tem quase nada para fazer, fica cada um no seu celular, só tecnologia, aí eu acho
que deveria ter mais arte, mais amizade entre as pessoas, conversar mais, eu acho que isso é
bom para desenvolver o cérebro, e também você pensa sobre a outra pessoa, sobre o que você
está fazendo e sobre o que você consegue fazer de melhor.
IDADE: 11 ANOS
Durante os ensaios, que duraram entre 4 e 5 meses, como foi sua relação com seus
colegas? Vocês se ajudaram em alguma coisa?
203
Sim, muitos se ajudaram e eu fiz mais amigos, eu sorri mais porque eu quase não
sorria.
Às vezes a tia perguntava as coisas para a gente e aí a gente dava uma ideia.
E com os professores? Mudou alguma coisa entre vocês, na sua relação com eles?
Não.
O que mais te causou emoção durante os ensaios? O que você sentia? E por quê?
Muita alegria.
Qual foi seu melhor momento? Por quê? E o que você sentiu?
Sim. Eles vieram assistir e eu contava para minha mãe como era.
Mudou. Eu fiquei mais solto, sorri mais, cantei. Eu aprendi a dançar e que o
dinheiro não compra tudo, a amizade verdadeira e mais importante.
Você gosta de dançar, cantar, encenar, criar ou recitar poesias, gosta das artes? Por
quê?
Você acha que todas as escolas devem ter essas atividades artísticas?
Devem.
IDADE: 11 ANOS
Durante os ensaios, que duraram entre 4 e 5 meses, como foi sua relação com seus
colegas? Vocês se ajudaram em alguma coisa?
No começo foi muito difícil porque os meninos maiores das turmas Fs não dão
muita bola para os menores. Eu estava na escola a um ano e não tinha feito quase amizade
nenhuma, as meninas me implicavam muito, me chamavam de cabelo de vaca lambida e de
muitos outros nomes chatos, eu também não tinha uma boa atitude, quando elas eram
elogiadas ou tinham algo que eu não tinha, que era melhor do que eu tinha eu ficava me
perguntando porque e sofria muito com isso, me preocupava só com as coisas da moda, eu
também implicava com elas. Tirando elas o que mais tinha na sala eram meninos e com
meninos eu não ia fazer amizade. Mas quando o tempo foi passando eu fui vendo tudo
diferente durante os ensaios, fui conhecendo melhor as pessoas, me aproximando, fazendo
amizade, via todo mundo ajudando todo mundo e na hora dos ensaios era todo mundo igual.
Na dança, por exemplo, era casal e os dois tinham o mesmo papel, não tinha diferença entre
meninos e meninas. Sempre que eu errava minhas novas amigas me ajudam muito. Um dia eu
fiquei muito nervosa, porque não conseguia fazer certo a dança com a pipa e rasguei a pipa,
joguei no chão xinguei e a Julia me ajudou me acalmar, me deu conselhos, se propôs até me
ajudar a consertar aquela pipa que era pesada e me deixava cansada e com raiva.
A dança com as sombrinhas, os movimentos foi ideia minha e ficou muito bom a
tia gostou, deu super certo. Mas sempre a gente dava ideia para a tia, foi até nos últimos dias a
gente conversava e mudava as coisas, cada um falava o que achava e a tia ia arrumando,
mudando.
E com os professores? Mudou alguma coisa entre vocês, na sua relação com eles?
Mudou. Antes eu só dizia bom dia, ou boa tarde, ou terminei a tarefa. Depois do
espetáculo Felicidade eu passei a conversar com elas, contar as coisas. Principalmente a de
música e dança, a gente ficou bem mais próxima assim, com mais liberdade, mais amizade.
O que mais te causou emoção durante os ensaios? O que você sentia? E por quê?
Eu senti muita raiva de ficar repetindo, de ficar errando, eu errava muito e muitas
vezes eu achava que não ia dar conta, pensava em largar tudo, desistir, porque eu não ia ser
capaz. Mas como todo mundo foi me ajudando eu comecei a pensar diferente, acreditar em
mim e começar a falar para mim mesmo eu posso, eu consigo, eu sou capaz e aí eu fui
treinando e treinando, tentando controlar a minha raiva e fui vendo que eu era capaz.
Uma emoção muito grande, uma ansiedade, que me deixou paralisada, na hora de
entrar no palco eu fiquei dura, não conseguia sair do lugar e minha colega me empurrou, eu
entrei e deu tudo certo. Quando acabou foi a maior alegria, todo mundo chorando, sorrindo de
felicidade aquela plateia cheia de gente, tinha gente até de pé de tanto que ficou cheio. E, eu
vi que eu dei conta, que eu sou capaz.
Qual foi seu melhor momento? Por quê? E o que você sentiu?
205
Meu pai, todo dia ele me ouvia e ele ficou tão orgulhoso de me ver apresentar,
porque ele sempre sonhava em me ver atuando, me ver famosa, na televisão e ele ficou muito
feliz quando viu o quanto eu me saí bem. Eu agora até faço aula de teatro duas vezes por
semana.
Me mudou muito. Eu não ligo mais para as coisas da moda eu só quero me sentir
bem, estar com os meus amigos. O teatro me ensinou também sobre o lixo, antes eu não me
importava, jogava em qualquer lugar, depois do espetáculo eu cuido mais, eu me preocupo.
Minhas notas melhoraram muito porque eu descobri que eu sou capaz, só preciso me esforçar,
treinar que eu consigo. Antes eu não me achava capaz. Hoje eu olho para os meus colegas de
forma diferente.
Você gosta de dançar, cantar, encenar, criar ou recitar poesias, gosta das artes? Por
quê?
Você acha que todas as escolas devem ter essas atividades artísticas?
Tem que ter, para as pessoas fazerem mais amigos, se ajudarem, ficarem mais
próximas umas das outras.
IDADE: 11 ANOS
Durante os ensaios, que duraram entre 4 e 5 meses, como foi sua relação com seus
colegas? Vocês se ajudaram em alguma coisa?
A tia sempre perguntava para a gente se estava bom? Aí a gente falava alguma
coisa.
E com os professores? Mudou alguma coisa entre vocês, na sua relação com eles?
206
Não. A tia Mirian e a tia Karliene elas brigavam com a gente, às vezes elas faziam a
gente rir.
O que mais te causou emoção durante os ensaios? O que você sentia? E por quê?
Sentia cansaço com aquele calor e a gente repetia, repetia, repetia. Uma vez eu até
bati minha mão na mesa quando fazia estrelinha, todo mundo se preocupou querendo saber se
eu tinha me machucado, mas eu falei que não e continuei.
Eu senti muita felicidade, a minha família toda ali, meu irmão até me gritou, mas
eu nem escutei, quando eu olhei para aquele monte de gente estava tudo escuro e eu só via os
fleches das câmaras e dos celulares tirando foto. Me senti aliviada.
Qual foi seu melhor momento? Por quê? E o que você sentiu?
Me mostrou que o dinheiro não é o mais importante, que uma amizade verdadeira
é a melhor coisa que a gente pode ter, que nós temos que cuidar da cidade, do lixo e que a
amizade verdadeira na infância a gente leva para a vida toda. Que as pessoas têm que cuidar
da cidade.
Você gosta de dançar, cantar, encenar, criar ou recitar poesias, gosta das artes? Por
quê?
Você acha que todas as escolas devem ter essas atividades artísticas?
Sim, porque não pode ser só o estudo sério da sala, tem que ter as artes.
IDADE: 11 ANOS
Qual foi seu papel no espetáculo Felicidade? Eu era narrador e participava de algumas
cenas.
Durante os ensaios, que duraram entre 4 e 5 meses, como foi sua relação com seus
colegas?Vocês se ajudaram em alguma coisa?
207
Nossa foi muito boa! A gente se divertia muito, conversava trocava ideia. Eu fiz
muita amizade. Todo dia tinha algo diferente, todo dia era uma nova experiência, todo dia era
um medo a menos. Eu me superava todos os dias e fica encantado com aquela experiência. Eu
quero ter muitas outras assim.
E com os professores? Mudou alguma coisa entre vocês, na sua relação com eles?
A gente passou a ter mais liberdade de falar com elas de sugerir outras coisas, elas
davam broncas, ficavam nervosas, mas também conversavam muito com a gente, falavam que
a gente era capaz que ia conseguir, faziam a gente rir. Foi uma experiência muito grandiosa
para mim.
O que mais te causou emoção durante os ensaios? O que você sentia? E por quê?
Eu sentia medo de errar, de não conseguir, mais aí a gente ia treinando tanto, tanto
que eu via que ia melhorando que eu ia dar conta, era muita ansiedade, muito medo, uma
confusão de sentimentos. Mas todo dia eu me superava.
No dia do teatro eu senti uma alegria que eu nem sei explicar, quando acabou que
eu vi que tudo deu certo, que as pessoas gostaram que se emocionaram, quando eu vi o quanto
elas me aplaudiram, foi uma lição para mim. Naquele dia eu vi que se eu me dedicasse,
treinasse bastante eu seria capaz de conseguir qualquer coisa que eu quisesse, em tudo na
minha vida, e eu tomei isso como uma lição que eu uso até hoje. Sempre que tem uma tarefa
ou uma matéria nova, que tem que estudar para a avaliação eu coloco na minha cabeça que eu
posso, que eu consigo e me esforço até chegar lá.
Qual foi seu melhor momento? Por quê? E o que você sentiu?
Todo dia para mim era um novo momento e era muito bom. Mas hoje o que mais
me marcou foi a morte da minha colega Maria Eduarda que narrou comigo, a gente criou um
laço muito forte, ficou muito amigo, de um ajudar o outro o tempo todo, eu era muito próximo
dela e ela de mim. Doeu muito saber que ela morreu, foi muito ruim.
Minha mãe era o meu diário. Todos os dias eu chegava e contava tudo para ela, eu
dividia todas as minhas experiências, os meus medos, as minhas frustrações, ela ficava lá me
ouvindo. Eu só não ensaiava perto dela senão ela ia pensar que eu sou louco, mas ela sabia de
tudo.
Eu aprendi que para tudo que você se esforça tem uma recompensa, e que vale a
pena se sentir orgulhoso de você, das pessoas te admirarem te darem os parabéns. Hoje eu sei
o quanto é importante a amizade entre as pessoas, elas ajudarem umas às outras e que a arte
faz isso com a gente, ela muda agente.
Você gosta de dançar, cantar, encenar, criar ou recitar poesias, gosta das artes? Por
quê?
Gosto muito, eu me sinto outro, me sinto diferente, a arte ajuda em tudo na vida.
Me ajudou a enxergar outras coisas, o quanto a amizade é mais importante.
Você acha que todas as escolas devem ter essas atividades artísticas?
Tem que ter dança, tem que ter música, tem que ter teatro, tudo. Porque você se
descobre, descobre seus medos porque nada nunca é igual na arte. Eu quero ter essas
experiências sempre, porque se eu não tivesse feito aquele espetáculo hoje eu não estaria mais
preparado para qualquer oportunidade. Agora se surgir alguma coisa eu não vou ter medo eu
me sentir mais preparado e saber que eu posso fazer.
14 ANOS ANOS
Durante os ensaios, que duraram entre 4 e 5 meses, como foi sua relação com seus
colegas? Você fez novos amigos? Fez inimizades?
Foi bastante legal, porque na época, antes dos ensaios eu era bastante reservado,
conversava com o pessoal da minha sala e a partir dos ensaios passei a ter mais liberdade com
todo mundo da escola. Acabei ficando amigo de bastante pessoas.
Sim, não tinha aquela de, se um erra outros ficam zoando, enchendo o saco ou
reclamando o tempo todo. A gente ajudava nos erros dos outros, até quando a pessoa tinha
mais dificuldade. Nos primeiros ensaios eu tive mais dificuldade para gravar a música e a
professora me ajudou bastante. Eu ajudei colegas com dificuldades no texto.
Sim. Os professores que estavam ensinando perguntavam o que nós achávamos
que tinha que ser feito, o que tinha que mudar. Então a gente deu bastante opinião no que a
gente queria fazer.
O que você achou de ser ouvido, de ter ajudado a criar a mudar? O que você achou
desse processo?
209
Achei muito bom porque a relação mudou, não ficou aquela relação de professores
e aluno, tudo mundo se incluiu junto e ficou como se todo mundo fosse amigo.
E com os professores? Mudou alguma coisa entre vocês, na sua relação com eles?
Mudou, a gente ficou mais próximo.
O que mais te causou emoção durante os ensaios? O que você sentia? E por quê?
Felicidade o tempo todo, porque nos momentos de ensaio a gente saia daquele
momento de escola, de ter que fazer isso, fazer aquilo, ficava tipo um momento de lazer,
como se fosse em casa mesmo. Eu parei de me sentir só um aluno, porque no memento que eu
passava a ajudar os outros eu me senti como se eu fosse um professor também.
Por que você acha que sentiu isso? Como eu já falei, a gente saiu daquele momento assim
de escola.
Foi, foi a primeira vez. Eu me senti muito valorizado. Me valorizei bastante a partir
daquele dia, a apresentação mudou bastante a relação minha com os alunos e até com os
professores.
No dia do teatro o que você sentiu?
Uma sensação bastante estranha, um frio na barriga e ainda teve o problema,
quando eu entrei, para aumentar minha vergonha o microfone estragou, deu bagunça lá, mas a
partir daquele momento eu acabei me soltando, eu me soltei bastante, parei de sentir medo, eu
fiquei bastante alegre.
Qual foi seu melhor momento? Por quê? E o que você sentiu?
Trocar ideia não, mas eles deram bastante palpite, dicas. A opinião deles contou
bastante para que eu não ficasse com medo na hora de apresentar.
Você acha que aquele momento, aquela experiência, fez com que vocês se aproximassem
um pouco mais?
Sim, de certa forma sim. A partir daquele momento, meu pai, minha mãe, minha
avó, eles ficaram mais presentes na escola.
Sim. Eu parei com o medo de dar opinião por exemplo. Tinha vez que eu ficava
sem dar opinião com medo de acontecer alguma coisa, então a partir do teatro eu fiquei mais
solto, senti que eu podia falar qualquer coisa dar a minha opinião sem alguém estragar.
210
Sim. Fiquei mais seguro para falar com as pessoas. Parei de ser tão tímido eu era
bastante tímido, depois daquilo me senti mais solto, mais confiante.
Você gosta de dançar, cantar, encenar, criar ou recitar poesias, gosta das artes? Por
quê?
Dançar não, eu não gosto muito de dançar, mais o resto gosto bastante
principalmente naquele colégio foi a primeira vez que eu descobri isso, não sabia que podia
fazer isso na escola, então eu gostei muito, música eu sempre gostei imitava cantor, eu sempre
gostei de música, mas sempre gostei mais de teatro.
O que você sente quando você está fazendo uma dessas artes que você gosta, cantar,
ouvir música ou fazendo teatro. Que sensação você tem?
Você acha que todas as escolas devem ter essas atividades artísticas? Por quê?
Depende. Depende muito dos alunos, porque no Maria Nosídia, todos os alunos
gostavam, já tem escolas que os alunos já são mais problemáticos, então eu acho que
dependendo dos alunos deveria ter em todas as escolas, mas dependendo dos alunos poderia
não dar certo e as professoras e a diretora poderiam não ter a mesma paciência que os do
Maria Nosídia tiveram.
Tem alguma coisa que eu não perguntei e que você gostaria de dizer sobre a sua
experiência com o espetáculo Felicidade? Negativa, positiva, qualquer coisa que você
ache que é interessante deixar registrado?
Positivo foi a experiência, porque a gente nunca tinha tido aquela experiência e
valorizou bastante cada um, o povo ficou mais corajoso e negativo foi que a gente apresentou
poucas vezes pela estrutura que foi feita, daquele tamanho, tempo gasto, dinheiro para
contratar os profissionais, a gente apresentou poucas vezes.
IDADE13 ANOS
Percussão e cantei e dancei. Percussão foi o que eu mais gostei, eu toquei agogô,
tamborim.
211
Durante os ensaios, que duraram entre 4 e 5 meses, como foi sua relação com seus
colegas? Você fez novos amigos? Fez inimizades?
E com os professores? Mudou alguma coisa entre vocês, na sua relação com eles? Não.
O que mais te causou emoção durante os ensaios? O que você sentia? E por quê?
No dia do teatro o que você sentiu? Quando eu fui dançar. Vergonha no dia da
apresentação.
Qual foi seu melhor momento? Por quê? E o que você sentiu? O dia que a gente fez
apresentação no teatro. Senti feliz, alegre.
Sua família participou dessa sua experiência? Eu não contei nada não.
Você acha que aquele momento, aquela experiência, fez com que vocês se aproximassem
um pouco mais? Eu entreguei um bilhete para a minha mãe.
Ter participado do teatro mudou você em alguma coisa em você? Acho que não.
Você gosta de dançar, cantar, encenar, criar ou recitar poesias, gosta das artes? Por
quê? Não. Normal.
Você acha que todas as escolas devem ter essas atividades artísticas? Sim porque você se
sente meio livre e bom.
Você gostaria de falar mais alguma coisa, algo que você tenha gostado ou não?
Ruim, o final, porque acabou.
IDADE 13 ANOS
E durante os ensaios que duraram cerca de 4 a 5 meses como foi a sua relação com seus
colegas? Você fez novos amigos ou você fez inimizades? Como é que foi isso?
Inimizade eu não fiz, fiz mais amizade por que tinha gente de muita turma a gente
reunia para decorar o texto para ver como ficava melhor, então foi muita amizade que eu fiz.
Sim, quando tinha assim fala a gente ajudava um ao outro para decorar o texto aí a
gente falava, não você tem que ficar ali, só para a pessoa lembrar e ajudar.
IDADE: 13 ANOS
Qual foi o seu papel que atividade você desempenhou no espetáculo Felicidade? Foi
Paraquedas.
Fiz muitos amigos, muito bom, conheci muitas pessoas e adorei o espetáculo, muito
bom! Fiz novos amigos e ajudei a aprenderem também.
Ajudei em ensinar as coisas que as professoras não estavam dando conta porque
eram muitas pessoas. Ela pedia para que nós ajudar.
E o que você acha disso de aluno dar ideia e ajudar a construir? Você acha que isso é
importante?
Muito importante porque as pessoas têm que pedir ajuda para as pessoas, quando
as pessoas não estão dando conta as crianças vão e falam, vamos fazer assim tal, tal, assim, aí
na hora que viu deu certo.
Dá um sentimento bom saber que você pode dar a sua opinião e ajudar, contribuir? Dá.
213
Sentimento de que? Sentimento de ajudar as pessoas, amor, carinho pelas pessoas, muito
bom.
E com os professores? Foi muito tempo ali ensaiando foram muitos meses, você acha que
a sua relação com eles mudou? Ficou mais próximo ou não?
Eu queria saber sobre os seus sentimentos durante o ensaio, porque parece que cada um
sentiu alguma coisa de alguma forma porque foi bem puxado para alguns. O que você
mais sentiu durante aquele tempo você se lembra?
Foi muita ansiedade para chegar o dia, todo mundo ficava doido para chegar o dia
para apresentar aí quando chegava à hora todo mundo ficava se tremendo.
Senti muito amor pelos colegas e pelas professoras também, estar lá era um sonho,
estar lá, se apresentando no meio do palco no meio de um monte de gente.
Todo o processo de ensaio teve algum momento que foi muito importante para você?
Foi quando os meninos estavam ensaiando lá da banda lá, foi muito engraçado para
aprender o instrumento tem que ter muita prática se não na hora que chegar a vez da pessoa...
Então foi na hora da banda, foi o momento com banda que você achou melhor?
É porque para chegar ao percurso, quando tiver praticamente assim. A pessoa está
apresentando aí o ritmo tem que estar no ritmo.
Quando entrar para dançar, entrar no ritmo da banda? Sim, aí aquilo era muito
complicado e eu gostei daquela parte lá.
Nossa senhora, muito. Dava um nervoso aí uns caras meio atrapalhados, mais
depois a gente pegou o jeito e entramos, e fizemos a apresentação.
A sua família participou dessa sua experiência, de alguma forma com você?
Sim, foi que toda hora falava com a minha mãe, mãe já está chegando o dia, já está
chegando o dia.
214
Ter participado do teatro você acha que te mudou em alguma coisa? Fez alguma
diferença na sua vida? Sim.
Você acha que todas as escolas deveriam ter essas atividades artísticas? Sim, todas sim.
Por quê? Porque ajuda as pessoas a incentivar as que estão apresentando, as que participam
também.
Tem alguma coisa no dia da apresentação lá no teatro mesmo que te marcou? Algum
sentimento mais forte que você sentiu? Da banda mesmo.
E de tudo o que você se lembra dos ensaios, da apresentação, teve alguma coisa que ficou
marcado para você?
IDADE: 14 ANOS
Qual foi o seu papel que atividade você desempenhou no espetáculo Felicidade?
Durante os ensaios que duraram cerca de 4 a 5 meses como foi a sua relação
com seus colegas? Você fez novos amigos ou você fez inimizades? Como é que foi sua
relação com os colegas?
E com os professores? Foi muito tempo ali ensaiando foram muitos meses, você acha que
a sua relação com eles mudou? Ficou mais próximo ou não?
Às vezes ocorriam uns gritos e chamadas de atenção, nada muito relevante, através
da peça eu pude adquirir mais confiança e admiração pelos meus professores e pelos
funcionários que não davam aula, mas que de alguma forma, através de seus aplausos
participaram do nosso espetáculo.
Um enorme frio na barriga que eu amava sentir, uma adrenalina que subia cada
vez que colocava meus pés no palco, uma sensação de satisfação cada vez que via o sorriso no
rosto das pessoas na platéia. Eu me sentia grande e livre, naquele momento eu sentia que era
capaz de fazer qualquer coisa, eu sentia uma enorme vontade de fazer as pessoas se sentirem
bem o tempo todo. O final, pois naquele momento eu vi as pessoas nos aplaudindo, naquele
momento eu tinha o certificado que nosso trabalho tinha valido a pena.
A sua família participou dessa sua experiência, de alguma forma com você?
Sim. Minha mãe sempre me dava conselhos sobre a peça e como lidar nos
momentos de nervosismo, ela mostrava o orgulho que sentia de mim e isso fazia com que eu
desse o meu melhor.
Ter participado do teatro você acha que te mudou em alguma coisa? Fez alguma
diferença na sua vida?
Você acha que todas as escolas deveriam ter essas atividades artísticas? Por quê?
aprimoramentos nas atividades teóricas em sala de aula, além de permitir uma maior
facilidade na convivência entre os alunos e funcionários da escola.
Foi um dos meus melhores momentos na escola, eu jamais vou me esquecer desse
momento.
217
Espetáculo Felicidade
Coreografia da cidade poluída (Goiamela) – Música Another Brick in the Wall do grupo Pink
Floyd, ao som da banda composta pelos alunos e re.gida pelo colaborador Muniz
221
Cena dos trabalhadores rurais – contam para Beltranira sobre as dificuldades no campo
222
Dança que retrata a cena anterior – Música Xote Ecologico – Luiz Gonzaga
Narradores contam
223
Prefeito Fulanildo dormindo e sonhando com suas experiências da infância – Led Zeppelin
Stairway to Heaven.
226
Prefeito Fulanildo dormindo e sonhando com suas experiências da infância – Led Zeppelin
Stairway to Heaven – Dança.
227
Prefeito Fulanildo dormindo e sonhando com suas experiências da infância – Led Zeppelin
Stairway to Heaven - Dança
228
Dança com a música Lixo no Lixo – População exigindo o cuidado dos políticos com a
cidade.
Cidade em festa com as novas ações da população e do prefeito em prol do meio ambiente.
AGUIRRE, Imanol.,
ALMEIDA, Ana Rita Silva.,
ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; MAHONEY, Abigail Alvarenga. (Orgs).,
FERNANDÉ Z, Alicia.,
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda.,
FREIRE, Paulo.,
FREITAS, Maria Tereza de Assunção.,
GADAMER, Hans-Georg.,
GALVÃO, Izabel.,
GARDNER, Howard.,
GOLEMAN, Daniel.,
JAMES, William.,
JAQUES, Patrícia Augustin; VICARI, Rosa Maria.,
LA TAILLE, Yves.,
LANGER, Susanne.,
LECLERC, Gesuína de Fátima Elias; MOLL, Jaqueline.,
LEITE, Sérgio Antônio da Silva; TASSONI, Elvira Cristina Martins.,
LIMONTA, Sandra; SANTOS, Lívia de S. L.,
NEVES, Joana.,
PAIN, Sara.,
PALANGANA, Isilda Campaner.,
PIAGET, Jean.,
PRESTES, Zoia; TUNES, Elizabeth.,
READ, Herbert.,
REGO, Teresa Cristina.,
T
233
WADSWORTH, B.J.,
WALLON, Henri.,
Z
ZANOLLA, Silvia Rosa da Silva.,
ZUMTHOR, Paul.,
234
Afetividade: 1, 2, 3, 4, 13, 21, 22, 23, 34, 55, 71, 76, 78, 86, 87, 91, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 99
100-118, 120-130, 132, 135, 136, 140-148, 150, 156-161, 162, 164, 178, 181
Aprendizagem: 7, 13, 16, 17, 21, 25, 26, 28, 42, 44, 55, 58, 62, 63, 65, 66, 67, 71, 81, 86, 87,
89, 94, 100, 101, 104, 107, 110-130, 133, 135, 137-139, 141-149, 153, 156, 159, 162, 170,
174, 181,
Arte: 1-3,7, 9, 13, 16 ,18, 20-24, 28, 31,32,34, 40-43, 46, 51-57, 61, 65-94, 97-119, 124-133,
136-146, 153,155, 156,167, 170,172,174,175,179, 181-189, 191,195,197,199, 201-205
Cognição: 22, 26, 65, 71, 86, 93-95, 97, 100, 102, 103, 107, 114, 142, 146,
Conhecimento: 5, 7, 19, 20, 21-26, 31, 37, 39, 40-43, 48, 51, 52, 54, 58, 66-70, 79, 80, 83, 84,
86, 88, 91-95, 97, 99, 102, 103, 105, 109-111, 114, 118, 121-129, 136, 138-140, 143, 144,
146, 170, 171, 185.
Consciência: 22, 26, 29, 33, 40, 41, 58, 76, 87, 96, 100, 105, 107, 108, 111, 113, 118, 120,
130, 136, 144, 166, 174.
Continuidade: 20, 23, 47, 52, 55, 67, 69, 77, 79, 81, 82, 86, 96, 97, 106, 113, 114, 120, 123,
127, 130, 131, 176, 179, 181.
Construção/criação: 16, 18, 22, 32, 33, 49, 52, 62, 69, 70, 80, 81, 85, 94, 108, 114, 123, 128,
129, 143, 146, 148, 166, 184, 211
Cultura: 19, 21, 26, 29, 31, 36, 39, 40, 43, 52, 54, 58, 62, 65, 68, 76, 78, 79, 81, 84, 88, 94, 98,
101, 104, 11, 112, 13, 114, 116, 119, 123, 125, 130, 133, 134, 138, 139, 142, 143, 145, 146,
153, 156, 159, 162, 166, 167, 172, 180, 183, 185.
Desenvolvimento: 7, 9, 10, 13, 16, 17, 21, 22-28, 30, 33, 36, 37, 39, 43, 44, 45, 49, 51, 54, 55,
57, 58, 63, 65, 66, 70, 71, 73, 76, 77, 79, 80, 83, 87, 92-96, 99, 100, 101, 103, 106, 109-134,
138-149, 153, 156, 159, 162, 177, 181-194.
Emoção: 1, 2, 3, 4, 7, 13, 15, 20-22, 25, 26, 27, 25, 66-70, 71, 77, 83, 85, 90, 92, 95, 96, 99-
126,1291,133,135,136,140,141,156,156,158-161, 162,164,175,180,182,185,192-202,205,
Ensino: 7, 9, 10, 12, 13, 16, 17, 18-20, 25, 28-65, 79, 89, 104-153, 156, 169, 173, 185,189
Experiência: 1, 2, 3, 7, 13, 15, 16, 17, 18, 21, 23, 24-33,35, 38, 39, 40, 41, 54, 55, 58, 62, 67-
69,72,77,79,83-93,103,107,108,111-149,153,156,159,162,167,171,175,178,182,184,192, 197-
205
Estruturação da pessoa: 25
Escola em tempo integral: 7, 9, 20, 21, 24-30, 53, 55, 77, 80, 96, 123, 129, 131
Formação integral: 19, 39, 51, 52, 57, 67, 86, 107, 113, 130
Imaginação: 17, 19, 65, 66, 68, 79, 80, 96, 97, 105, 114, 116, 117, 126, 129, 130, 148
Instrumentos: 21, 22, 25, 26, 31, 49, 53, 55, 58, 65, 67, 70, 76, 78, 86, 95, 98-105, 111, 121,
122, 130, 131, 132, 153, 156, 159, 162, 173
Inteligência: 7, 21, 22, 24, 31, 82, 87, 92, 94, 96, 97, 99-113, 119-129, 132, 136-138, 144-148
Interação: 18, 22, 24, 25, 26, 38, 40, 53, 58, 67, 70, 81, 82, 86, 89, 93, 98, 91, 103, 106, 110,
119, 121, 122, 127, 130, 134, 153, 156, 159, 162.
Interesse e/ou necessidade: 16, 17, 39, 42, 58, 85, 94, 101, 103, 106, 108, 120, 154, 157, 160,
163, 185
Linguagem: 40, 58, 65, 66, 71, 85-90, 96, 97, 108-126, 141, 142, 147, 148, 170, 173
Movimento: 18, 23, 29, 30, 35, 36, 47, 49, 51, 53, 66, 68, 69, 80, 81, 83, 85, 99, 100, 102,
103, 105, 110, 111, 113, 115, 123, 124, 126, 128, 129, 135, 172, 177, 180, 183, 189
Objetos: 25, 67, 83, 86, 89, 96, 97, 104, 107, 111, 114, 117, 119, 121, 131, 139,
Prática reflexiva: 65
Percepção: 18, 21, 23, 29, 40, 65, 68-70, 77, 81-86, 93-96, 111, 117-119, 128, 130,181
Pensamento: 22, 24, 29, 36, 67, 71, 80, 86, 96, 97-111, 119, 122, 127, 129, 130, 136, 144,
146, 148, 149
Processos afetivos: 21, 23, 24, 26, 27, 43, 55, 69, 77, 85, 86, 93, 94-108, 120, 122, 126, 153,
159
Trocas: 18, 20, 24, 27, 34, 68, 69, 70, 80, 85, 89, 92, 99, 118, 119, 126, 131, 132, 182
Vivência: 4, 5, 18, 23, 35, 52, 57, 61, 65, 68, 70, 77, 79, 81, 82, 85, 98, 99, 104, 112, 113,
119, 127, 134, 147, 185, 186, 187-189, 202