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Avaliação do Primeiro Bimestre

aluno: Rogério Alves Rezende

1. Qual a definição clássica de conhecimento?


Classicamente o conhecimento é definido como uma crença verdadeira justificada.
Dizer que um sujeito ‘S’ sabe que ‘p’ é afirmar que além de ‘S’ acreditar que ‘p’, ‘p’
é verdade e ‘p’ também é justificado. As diferentes teorias do conhecimento são
diferentes teorias de justificação, dessas crenças verdadeiras. Essas teorias de
justificação são divididas em dois grupos: internalistas e externalistas.

2. O que é internalismo?
Nas teorias internalistas da epistemologia o sujeito ‘S’ não apenas sabe que ‘p’,
mas também sabe que sabe que ‘p’. Isso quer dizer que ele conhece as justificativas de
sua crença, de forma introspectiva, ele mesmo é capaz de citar essas evidências. É
preciso consciência reflexiva, de segunda ordem, saber separar a crença no objeto do
próprio objeto. Segundo os filósofos internalistas apenas humanos são capazes dessa
abstração da crença enquanto crença, portanto são os únicos que podem adquirir
conhecimento. Para esses pensadores, ter conhecimento de algo é ser capaz de justificar
internamente esse algo, trata-se de um conceito tradicional de justificação, pois foi
predominante ao longo da história. Apenas entre os filósofos modernos que essa teoria
foi questionada por teorias externalistas do conhecimento, onde ao contrário das
internalistas, acredita-se não haver a necessidade que um sujeito ‘S’ para justificar ‘p’
tenha de conhecer suas razões e evidências.

3. Compare o ceticismo prático e o ceticismo filosófico.


A partir dos estudos propostos, fica notório que o ceticismo prático está
relacionado ao sujeito questionador, aquele que lança dúvidas sobre opiniões, suspende
o juízo enquanto não forma as próprias opiniões, não tem pressa em formá-las, ao
contrário, sempre busca melhorá-las, tem senso crítico e não pensa que suas opiniões
são verdades absolutas.
Já o ceticismo teórico/filosófico acredita que o conhecimento não é possível e que
é impossível negar essa afirmação. Fato criticado pelos pirrônicos, por entenderem que
um cético de verdade não poderia acreditar dogmaticamente em nenhuma teoria, nem da
possibilidade e nem da impossibilidade do conhecimento. A importância epistemológica
desse ceticismo teórico é muito grande, são a partir destes argumentos que se
investigam possíveis falhas nas teorias do conhecimento ou como seria caso falhasse.
Enquanto o ceticismo prático entende que não podemos saber sobre o que não
conhecemos, acredita que para conhecer é preciso ser minucioso, questionador e
seletivo, o ceticismo filosófico coloca todas as crenças no mesmo patamar quando
duvida da possibilidade de existir conhecimento ou da “capacidade cognitiva humana”.
Porém, a capacidade do ser humano de agir 100% como um cético filosófico durante
toda a existência pode ser questionável, se um indivíduo suspende o juízo em tudo, ele
não deve acreditar também nas coisas mais óbvias, como o calor do fogo, por exemplo.
Os melhores argumentos são os mais simples, parecem “naturais” ou “intuitivos”,
possuem força por explorarem “o menor denominador comum do argumento”, não
disputam com outras teorias e não dependem de grandes estudos para entender.
Ceticismo prático e ceticismo teórico: enquanto o primeiro é o tipo de ceticismo
que mais encontramos na prática, se não for o único; o segundo, não deixando claro que
é realmente possível ser praticado por alguém, de forma coerente, durante todo o tempo,
aceita a hipótese de ser, literalmente, teórico, sem questionar a importância
epistemológica, afinal não é incomum ouvir entre pensadores, professores e estudiosos
que se os gregos não houvessem criado o ceticismo teórico/filosófico, os epistemólogos
precisaria inventá-los.

4. Explique o que é o trilema de Agripa.


Trata-se de um grupo de argumentos céticos com origem na Grécia clássica. Os
agripinianos provam a impossibilidade do conhecimento questionando qualquer
afirmação, quanto a ser uma mera opinião ou um saber de fato, se a resposta for ‘saber’,
o cético ‘pergunta como sabe?’. Provavelmente a resposta desta segunda pergunta será
outra afirmação, assim novamente o cético retorna a primeira questão, seguindo o
mesmo roteiro até que se conclua com uma das possibilidades do conjunto de opções
do trilema de Agripa:
1. Regresso ao infinito → se a resposta ao questionamento de um conhecimento é
sempre explicada por um outro conhecimento e isso se repete infinitamente, a
primeira resposta nunca estará completa, dependerá sempre de uma nova
justificativa, assim como todas outras respostas;
2. Suposição dogmática → quando em uma das respostas o agente se recusa a
argumentar, simplesmente afirma que: “é porque é”. Um conhecimento não pode
ser fundamentado em opinião, em suposições;
3. Raciocínio circular → quando as respostas se repetem ao longo do processo, o
problema aqui é a impossibilidade de justificar uma crença a partir dela mesma;
ora conclusão, ora premissa, uma “inconsistência pragmática”.

O agripiniano foca na ideia de que opinião e conhecimento não podem ser


confundidos, quanto maior a confusão, menor a capacidade de justificar as crenças.
Pressupõe admitir o conceito de conhecimento, menor denominador comum.
De argumento intuitivo, não depende de conhecer o assunto discutido e não
conclui a impossibilidade de realmente saber, do saber clássico, justificável e exato, sua
conclusão é que se ninguém sabe explicar exatamente suas crenças, portanto ninguém
tem razão para aceitar isso em vez daquilo e adotar uma epistemologia falibilista também
não ajudaria.
Esse grupo de argumentos pode ser útil em todo tipo de questionamento: se o que
pensamos é apenas uma opinião ou se conhecemos de fato? Qual a ‘profundidade’
desse conhecimento? De forma reflexiva, nos perguntamos se realmente conhecemos
aquilo que acreditamos.

5. Explique o que caracteriza o ceticismo cartesiano.


Trata-se de um outro grupo de argumentos céticos, estes com origem 350 anos
atrás, na obra de Descartes. Diz que ao pensarmos ter conhecimento de alguma coisa,
estamos fazendo uma inferência do efeito para a causa, e isso na lógica é uma falácia. Se
uma proposição maior me diz que ‘se A, então B’ (implicação do antecedente para o
consequente) e outra proposição ‘afirma que A’ (o antecedente é verdade, naquele
momento), a lógica me permite concluir ‘que B’ (o consequente também é verdade
naquele instante, 'que A)`, modus ponens. Porém, eu não posso fazer o contrário, se
afirmo o consequente ’B’, concluir então ‘que A’ (o antecedente ‘A’ está acontecendo) é
uma falácia. A implicação é apenas no sentido de A para B, não o contrário. Existe
também, o modus tollen, onde a partir da negação do consequente eu posso concluir a
negação do antecedente, mas também não é o caso do conhecimento quando
questionado pelos argumentos céticos.
Não podemos garantir a existência de qualquer coisa do mundo exterior a partir da
nossa percepção. Os argumentos céticos dizem que podemos estar sendo enganados
por forças maiores, gênios malignos, cérebros raptados, enfim qualquer coisa que
controle os nossos sentidos e nos dê a percepção falsa da realidade que estamos
sentindo. Questionam sobre a existência de um argumento lógico capaz de excluir uma
ou todas essas hipóteses:
● O solipsismo, só existe eu e meus sentimentos, tudo mais é percepção
pode ser verdade;
● Quem tem razão quanto à origem do planeta? a geologia ou o livro de
Gênesis? Toda nossa atual realidade criada cinco minutos atrás explica tão
bem quanto qualquer uma dessas teorias;
● Não posso fazer inferências indutivas sobre o futuro a partir de experiências
passadas, dizer que algo não acontecerá porque nunca aconteceu ou
acontecerá porque sempre aconteceu não pode ser considerado
conhecimento, pois também é verdade que coisas novas sempre
acontecem e outras deixam de ser realidade constantemente. Também é
tradição que as tradições acabem, por exemplo.
Em todos esses casos rejeitar logicamente os argumentos dos céticos parece
impossível. Também não é possível sobrepor uma crença do mundo exterior sobre outra
qualquer do mesmo tema.
Estes argumentos céticos transitam por 4 estágios: o que dizemos saber sobre o
mundo é “inferencial”, as evidências são frutos da nossa percepção; não existe conexão
dedutiva entre o que desejamos e nossas evidências; também não existe inferência
indutiva; portanto, “não existe a possibilidade de justificar qualquer crenças sobre o
mundo exterior”.
6 O que é realismo direto?
Se apenas os dados da mente estão diretamente ligados a ela mesma, os objetos
do mundo externo são conhecidos de forma inferencial, precisam do estado da mente
para justificar essa existência. Esse é o clássico exemplo do consequente justificando o
antecedente, que já foi explicado em respostas anteriores.
O realismo direto é um tipo de resposta ao ceticismo cartesiano, também
chamado de realismo ingênuo, que consiste em negar esse erro lógico de explicar o
antecedente a partir do consequente, diz que não é uma questão de inferência.
Simplesmente nega que o conhecimento do mundo exterior deva ser justificado pela
percepção. Eliminando essa necessidade de haver um intermediário para justificar o que
se está percebendo, vendo, sentindo, ouvindo. A realidade do mundo externo é
percebida diretamente, diferente de sonhos, alucinações e ilusões, sabemos quando é a
realidade, ela não depende do estado da mente. Por ser um argumento simples, direto e
ingênuo, é o mais comum quando as questões cartesianas são questionadas, esse é
exatamente o nosso modo natural de percepção do mundo, porém não apresenta um
argumento lógico que cancele as hipóteses cartesianas do gênio maligno ou do mundo
criado nos últimos 5 minutos, por exemplo. Dessa forma, esse tipo de resposta pode
acompanhar uma teoria disjuntiva da percepção que juntas são capazes de identificar
realidade e fantasia.

7. O que é fenomenalismo?
É um outro tipo de resposta que também procura contrapor-se ao ceticismo
cartesiano. Diz que o conhecimento do mundo externo é uma crença sobre as
experiências fenomenais. Os conceitos do mundo exterior são formas abreviadas de
explicar a complexidade sensorial que existe nessa relação, um resumo de todas as
sensações expressas em uma palavra. Uma apoia a outra, a percepção do mundo e as
crenças sobre ele.
O problema é descrever e explicar exatamente toda essa complexidade sensorial
envolvendo nossas relações mentais com o mundo externo, traduzir a linguagem física
para a sensorial, ou explicar qualquer 'dependência' do mundo exterior quanto à nossa
percepção.
Quando o fenomenalismo trata o mundo físico como fenomenal, está praticamente
confirmando o argumento cético, que não somos capazes de justificar nosso
conhecimento sobre o mundo, senão usando nossas experiências sensoriais sobre o
mesmo e portanto cometendo o mesmo erro lógico já explicado, quando o consequente
justifica o antecedente. Enfim, muitos pensadores veem o fenomenalismo incapaz de
contrapor-se aos céticos, mas sim coniventes com eles.

8. O que é inferência para a melhor explicação?


Este último tipo de resposta teórica aos céticos diz que a inferência indutiva não
deve ser subestimada. A “inferência para a melhor explicação” é uma justificativa
aceitável por ser uma crença comum dos objetos. A regularidade, a espontaneidade, a
involuntariedade, a constância e a coerência, são características dos sentidos e a
realidade exterior se faz necessária para que os sentidos sejam dessa forma. A melhor
explicação vem realmente da experiência e interação com o externo. O gênio maligno ou
o cérebro raptado por alienígenas não são impossíveis do ponto de vista lógico, porém
também não são prováveis na prática.
Laurence Bonjour é um simpatizante desse modelo de resposta enquanto Michael
Williams questiona o fato de supor antecipadamente a existência dos corpos e a
coerência dos sentidos, afirmando não ser correto afirmar que a experiência é previsível e
estável.

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