Dinâmica
A Cantoria de Viola
Convencionalmente, os cantadores colocam a bandeja a seus pés, pois ela não pode
circular entre os presentes para não desvalorizar o cantador. Um apologista
verdadeiro paga ao poeta com prazer, ele vai para o ambiente já preparado para isso
e nunca oferece sua ‘paga’ por caridade ou esmola: quando o verso é bom, o
dinheiro sai (EVANGELISTA; SOUZA, 2012, p.3).
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Graduando em História pela UFPE. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Isabel Cristina Martins Guillen, UFPE.
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conviver com esses indivíduos para conhecer o universo da cantoria de viola. Outro
conterrâneo de Leonardo Mota foi, o também folclorista, Rodrigues de Carvalho que, entre
outras obras, escreveu “Cancioneiro do Norte” de 1903 e trás um riquíssimo conjunto de
relatos e fatos que recolheu ao longo de suas viagens pelo sertão, esta foi denominado por
Câmara Cascudo como sendo a obra “O clássico na bibliografia folclórica” (CARVALHO,
1967, p.12).
Leonardo Mota e outros tantos fizeram parte desse universo do início do século XX
dos chamados folcloristas. Um dos grandes expoentes foi Câmara Cascudo que,
principalmente em sua obra “Vaqueiros e Cantadores”, faz um apanhado dos temas, origens,
principais cantadores do universo da viola. Assim como diz o autor, o livro é uma obra de
“confidências”, onde muito dos relatos foram tirados de sua infância e da reunião de notas e
leituras feitas ao longo de 15 anos. É de seu livro que tiramos uma das vertentes mais aceitas
da origem do fenômeno por anos, de que viria da Europa, assim Câmara Cascudo nos aponta:
O que existe no sertão, evidentemente, nos veio pela colonização portuguesa e foi
modificado para melhor. Aqui tomou aspectos novos, desdobrou os gêneros
poéticos, barbarizou-se, ficando mais áspero, agressivo e viril, mas o fio vinculador
é lusitano, peninsular, europeu.(CASCUDO,2005, p-192)
Mais tarde, o estudioso espanhol erradicado no Brasil Luis Soler, em seu livro
“Origens árabes no folclore do sertão brasileiro”, faz um belíssimo trabalho onde procura
enquadrar o fenômeno dos nossos repentistas sertanejos nos vasto panorama de países.
Busca, portanto, uma fronteira comum: a dos árabes, no Ocidente europeu-medieval, com a
floração da sabedoria e da arte por eles implantaram e desenvolveram durante 800 anos na
Península Ibérica e na Sicília. Como reflexo deste processo, vemos os colonizadores
espanhóis e portugueses, “impregnados ainda da rica cultura dos povos recém-banidos da
Península, foram expandir para a América do Sul” (SOLER1995, p.17) uma cultura de um
povo (árabes) que nem sequer fez parte da migração direta para essas terras (SOLER, 1995).
A partir deste ponto, Soler, como sendo professor do Departamento de Música da UFPE,
transcreve várias semelhanças entre trovadores peninsulares e improvisadores de outros países
da América Latina ao mesmo tempo em que disserta sobre os processos que os instrumentos
musicais (pandeiro, rabeca e viola, por exemplo) usados na poesia de improviso passaram até
chegar aos nossos dias.
Após passar por esse breve apanhado de alguns estudiosos que dedicaram obras ao
tema da origem da poesia do repente, passarei a dedicar mais especificamente à análise da
dinâmica dos violeiros do repente ao longo de boa parte do século XX. Saindo do foco do
estudar a forma pelo qual chegou até nós o fenômeno e partindo para o estudo do tema, assim
como chamou Silvio Romero, do fenômeno peculiarmente brasileiro, nordestino.
Ainda podemos observar nesse contexto que os congressos podem ser considerados
como uma fenda que separa os repentistas de renome dos que não conseguem aspirar um
reconhecimento profissional. Porém, há uma resposta pela continuidade da tradição dos
ancestrais da poesia e, podemos tirar com exemplo deste fato, os congressos promovidos na
cidade de Itapetim, que apesar de ter mudado com o tempo aceitando muitos poetas de outros
lugares, começou somente com poetas locais (de renome nacional ou não) para a promoção da
poesia com rebusques dos grandes mestres de outros tempos. Outra forma que podemos
interpretar como sendo de resistência às mudanças está galgada no âmbito mais temático das
poesias produzidas. É notável um sentimento de rebuscamento ao campo, às origens rurais da
cantoria sempre trazendo a tona um sentimento de saudade, em inúmeras poesias produzidas
nas cantorias. Tal fato é notável em larga escala até mesmo nos poetas de renome dos meios
urbanos, como, por exemplo, o poeta João Paraibano que é conhecido como um dos melhores
nas temáticas que falam da natureza e do campo.
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Quadra consiste em uma estrofe de quatro linhas onde a primeira rima com a terceira e a segunda com a
quarta. Sextilha consiste em uma estrofe de seis linhas onde se rima as linhas pares.
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Conclusão
Referências
• CARVALHO, José Rodrigues de. Cancioneiro do Norte. 3 ed. Rio de Janeiro, Instituto
Nacional do Livro, 1967.
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• COSTA, Marcos; PASSOS, Saulo. Itapetim: “ventre imortal da poesia”. 2 ed. Recife: Ed.
CEHM/CONDEPE/FIDEM, 2013.
• MOTA, Leonardo. Cantadores; prefácio de Luís da Câmara Cascudo. 4 ed. Rio de Janeiro,
Cátedra. INL, 1976.
• ROMERO, Silvio. Estudos sobre poesia popular do Brasil. Rio de Janeiro: Typ. Ladmmert
& C., 1888.
• SOLER, Luis. Origens árabes no folclore do sertão brasileiro. Florianópolis: Ed. da UFSC,
1995.
• THOMPSON, E.P. Costumes em comum. Companhia das Letras, São Paulo: 2008.
• WILSON, Luís. Roteiro de velhos cantadores e poetas populares do sertão. 2 ed. Recife:
CEHM, 1986.