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PROTEÇÃO DA NATUREZA E EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL: A FORMA

PRÁTICA DOS DISCURSOS.

Marceles Oliveira Rocha

RESUMO

A análise da qual trata este trabalho foca no Parque Nacional dos Lençóis
Maranhenses, Unidade de Proteção Integral do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC), abrange os municípios de Santo Amaro (42,15%), Primeira Cruz
(6,89%) e Barreirinhas (44,86%), somando 155mil hectares. Neste trabalho busco refletir
sobre da gestão desta unidade de conservação, relacionando estas duas situações às vidas
das famílias que moram e trabalham no interior desse Parque, as restrições que sofrem,
as situações de conflitos e como podemos articular essa demanda sob a luz de uma
educação ambiental de mão dupla, onde conhecimento legal-técnico e o tradicional
poderiam se ajudar mutuamente e preservar aquele espaço, concluindo assim como
problemas socioambientais podem ser resolvidos quando o Estado burocrático se permite
articular com saberes tradicionais, que estão para além da burocracia técnica-legal sob a
qual se sustenta, abrindo espaços importantes de participação da população na sua gestão.

PALAVRAS-CHAVE
Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses - Comunidades Tradicionais – Educação
Ambiental.

INTRODUÇÃO

A relação entre meio ambiente e sociedade passou a fazer parte das agendas
políticas de todos os países, atentos para os efeitos da exploração capitalista e prevendo
as possíveis consequências do uso desenfreado dos recursos naturais e seus impactos,
várias leis e políticas públicas passam a ser pensadas ao redor do mundo na tentativa de
minimizar tais problemas. O Brasil sediou a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Natural, também conhecida como Rio+20, onde o objetivo era
reafirmar seu compromisso político de cuidar do meio ambiente e de promover o
desenvolvimento sustentável.
O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (PNLM), criado através do Decreto
nº 86.060, de 02 de Junho de 1981, localiza-se no litoral oriental do Estado do Maranhão
e figura entre as unidades de conservação federais de proteção integral, quem têm como
objetivo básico a preservação da fauna e flora de forma irrestrita, sendo assim, é proibido
o uso direto dos recursos naturais presentes naqueles ambientes, permitindo-se apenas o
uso indireto dos recursos na forma de educação ambiental, recreação e turismo ecológico.
Assim, este trabalho foi realizado com base em pesquisa bibliográfica e
experiência empírica do contato direto com as questões conflituosas entre Estado e
famílias locais propiciadas no ambiente de trabalho. Meus principais objetivos com este
trabalho era responder às perguntas: 1 – Como tem agido o Estado em sua gestão em
relação às famílias locais? 2 – É possível articular saber tradicional e conhecimento

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técnico-legal na preservação desse espaço? Justificando a importância da reflexão que me
proponho neste trabalho, dada a seriedade que a Educação Ambiental tem no cenário atual
diante do mundo, sendo basilar inclusive para relações diplomática entre os países.

DESENVOLVIMENTO

Há muito a questão ambiental vem constantemente sendo desenvolvida como um


problema público, não apenas no sentido de que os governos precisam chamar as
reponsabilidades para si, mas público no sentido de estar presente nos pensamentos e
preocupações da população em geral, como uma responsabilidade de todos. Porém se faz
necessário pensar em como educar a população sobre as questões ambientais, sem ignorar
as mais diversas formas de conhecimento e de relação com a natureza, com quais também
podemos aprender sobre educação ambiental, pensar em como articular esses dois
modelos de pensamento, o modelo legal, o de regras legais e aquele que chamarei de
“prático-tradicional”, que são os conhecimentos tradicionais de populações que vivem
em contato direto com a natureza.
Neste trabalho busco refletir sobre alguns exemplos dos prejuízos sociais causados
às populações tradicionais com a criação do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses
– PNLM, e refletir sobre da gestão desta unidade de conservação, relacionando estas duas
situações às vidas das famílias que moram e trabalham no interior desse Parque, as
restrições que sofrem, as situações de conflitos e como podemos articular essa demanda
sob a luz de uma educação ambiental de mão dupla, onde conhecimento legal-técnico e o
tradicional poderiam se ajudar mutuamente e preservar aquele espaço.
Não há como se alegar por parte do poder público, o desconhecimento em relação
à presença de famílias nos espaços hoje destinados a UC, o que existe é um Estado que
de forma autoritária impõe às camadas mais carentes das sociedades, sobretudo à aquelas
localizadas nas zonas rurais, o ônus da implantação de um modelo de política pública de
proteção ambiental que exclui essas famílias dos benefícios que tais medidas proteção
ambiental trariam a população.
No caso das famílias de trabalhadores do PNLM, temos esse claro exemplo de
como ocorrem essa situações, como elas desenvolvem como suas vidas ficam
completamente comprometidas pelas intervenções sofridas ao longo dos anos sobre todas
as gerações de moradores, das crianças aos idosos, tem cada etapa de suas vidas afetada
de maneira muito violenta, o que compromete todo o desenvolvimento regular e sadio
que teriam caso o Estado brasileiro ao menos respeitasse seu modo de vida e suas
necessidades, não apenas como populações tradicionais mas como cidadãos portadores
de direitos que deveriam ser resguardados pelo poder público.
No Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, com a chegada do órgão de
fiscalização, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio,
impondo novas regras de relação com os recursos ambientais, calcadas em códigos
jurídicos estranhos à prática das famílias, registra-se o que Wolf (1984, p. 339) entende
como sendo uma “crise dos sistemas internos de autoridade”. Desorganizam-se, assim, as
regras jurídicas costumeiras, situação que passa a favorecer denúncias de morador contra
morador, motivadas, muitas vezes, por conflitos entre famílias, que se mantinham sob
controle. Tal situação passou a ocorrer como forma de resolução dos conflitos internos,
provocando tensões em algumas localidades, ao que tudo indica fomentadas e
incentivadas pelo órgão ambiental.

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A chamada educação ambiental, introduzida no discurso das esferas publicas
oficiais de proteção da natureza passa a ser o novo código de conduta individual e
coletivo, difundido por distintos meios de modo a alcançar amplas camadas da sociedade,
inclusive aquelas residentes em áreas de preservação ambiental, apesar de muitas delas,
como as que vivem nas distintas localidades do PNLM, já serem promotoras da proteção
do meio ambiente muito antes da construção desses discursos.
Tais decisões têm demonstrado a falta de preocupação das autoridades em se
perguntar como aqueles espaços de exuberante beleza permaneceram tão bem
preservados durante o tempo em que ficou longe do alcance do Estado. Ignoram o fato de
que só assim os encontraram porque nessas paisagens, como afirma Balée (2008),
evidencia-se a indigeneidade ao longo tempo, referindo-se às maneiras tradicionais de
conhecimento do mundo, que podem ser detectadas em transformações na natureza, onde
estas resultam em melhorias ambientais, e não degradação, pois, ainda segundo o autor,
"paisagens são encontros de pessoas e lugares cujas histórias estão impressas na
matéria, incluindo matérias vivas" (BALÉE, 2008, p.11).
A ideia de retirar as famílias de seus locais não implica apenas no risco de maior
exposição e vulnerabilidade social delas – uma vez que, sem condições de reestabelecer
suas vidas, muitas acabam desempregadas, morando nos subúrbios das cidades, coloca-
se em risco a própria proteção e cuidados dos espaços, logo aqui percebe-se a falta de
“tato” por parte do Estado na figura do seu órgão de proteção ambiental, que não estreita
a relação de diálogo com as famílias, na tentativa de compreender o seu modo de
conservar a natureza e apresentar para elas outras formas de gerir o meio ambiente, ou
seja, uma forma de integrar estes dois conhecimentos com o mesmo objetivo.
A ideia central é que o papel principal da educação ambiental é de fomentar a
percepção da necessária integração do ser humano com a natureza (VIVIANE, p. 111),
assim, pensar em vários modelos de educação ambiental partindo da realidade prática dos
indivíduos, no caso dos moradores do Parque, que podem apresentar seus conhecimentos
ao mesmo tempo que aprendem mais sobre a educação ambiental dita “formal” , ofertada
pelos conhecimentos técnicos do ICMbio.

CONCLUSÃO

Com um país tão rico em biodiversidade e diversidade cultural como o Brasil, tais
modelos de proteção natural têm se chocado com a dinâmica de vida de populações
tradicionais que habitam as florestas brasileiras e fazem o uso sustentável de seus
recursos, essas políticas e objetivos de proteção ambiental não têm alcançado êxito. É
importante lembrar que, o Estado não tem demonstrado possuir recursos financeiros para
o reassentamento previsto em lei, ou mesmo que os possua, não tem tido condições de
realocar as famílias em locais onde lhes sejam permitidas a continuidade de suas
atividades econômicas e reprodução social.
O que tem feito até hoje em relação às tentativas de se encontrar uma solução
viável para este problema, não passam de ideias difíceis de concretizar. Esses impasses
que são apresentados à sociedade, demostram como a construção da realidade (ou das
realidades) é uma questão política, como coloca Annemarie Mol (2008), política-
ontológica. No caso atual do PARNA dos Lençóis o que se tem notado que pouco tem se
dado a devida importância as conhecimentos milenares das famílias que ali habitam há
várias gerações, não levando em consideração que, apesar das décadas que ali moram, o
espaço é claramente preservado, pois o ambiente é manejado em melhor harmonia e segue
outra lógica de tempo, que não a produção capitalista, e apesar de ser possível, articular
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esses conhecimentos, não é posto em pratica com a frequência necessária como seria a
ideal dentro da Educação Ambiental.

REFERÊNCIAS

BALÉE, William. Sobre a Indigeneidade das Paisagens. Revista de Arqueologia, 21, n.2:
09-23, 2008.
MOL, Annemarie. Política ontológica: algumas ideias e várias perguntas. In:
ARRISCADO NUNES, J. ROQUE, R. (eds.). Objectos impuros: experiências em
estudos sociais da ciência (Biblioteca das ciências). Porto: Edições Afrontamento, 2008.
Online: 5 https://pure.uva.nl/ws/files/899834/77537_310751.pdf]
VIVIANE, Daniela. Fundamentos da Educação Ambiental/Daniela Viviane [e] Rosimar
Bizello Muller. Centro Universitário Leonardo da Vinci. – Indaial: Grupo UNIASSELVI,
2009. X; 137P.:il.
WOLF, Eric. Guerras Camponesas no século XX. São Paulo: Global Editora, 1984. (1ª
Ed.)

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