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2020-2021
• Dêixis pessoal
• Dêixis espacial
• Dêixis temporal
«The traditional categories of deixis are person, place and time. (…) To these
traditional categories, we should also add (following Lyons, 1968, 1977a, and
Fillmore, 1971b, 1975) discourse (or text) deixis and social deixis»
(Levinson 1983, 62)
• Dêixis textual
A anáfora e o seu antecedente formam uma cadeia referencial (ou cadeia anafórica);
nos casos mais simples, a cadeia só tem dois elos, mas obviamente pode ter
mais:
Parte I. | 3. Expressões anafóricas ou anáforas – cadeias anafóricas (cont.)
Nota 2: o verbo fazer acompanhado de uma expressão como o mesmo, o, isso (ou
afim) funciona, segundo alguns autores, como uma anáfora pronominal de tipo
verbal (e.g. pró-SV ou pró-[V+complementos]), em contextos em que o antecedente
é accional:
(1) O Paulo [emigrou para França]i em 1965 e o Nuno [fez o mesmo]i um ano
depois.
(2) O chefe [deu uma reprimenda]i à Ana e ela [fez o mesmo]i à sua equipa.
(3) O Paulo [respondeu a tempo]i, mas a Ana não [o fez]i: respondeu já fora do
Parte I. | 4. Subclassificação das expressões anafóricas/cadeias referenciais (cont.)
• Parâmetro 1: realização morfossintática das anáforas (cont.)
II. Anáforas nulas
As expressões anafóricas podem não ter realização morfológica, correspondendo
a elementos nulos ou categorias vazias.
(1) [O Paulo]i entrou na sala. []i Olhou em redor e []i sentou-se.
[SUJEITOS NULOS, em justaposição e coordenação]
(2) [O Paulo]i vai trabalhar até mais tarde, se []i chegar atrasado, para []i não
ser criticado por ninguém, porque []i detesta situações de conflito
no trabalho. [SUJEITOS NULOS, em subordinação]
(3) [Os pais da Ana]i perguntaram-lhe o que é que ela queria que [eles]i lhe
oferecessem no Natal. Ela pediu uma boneca [] . [cf. Ela pediu-
Parte I. | 4. Subclassificação das expressões anafóricas/cadeias referenciais (cont.)
• Parâmetro 1: realização morfossintática das anáforas (cont.)
II. Anáforas nulas (cont.)
(1) Tentei convencer [o Paulo]i a mudar de atitude mas [o teimoso]i não me quis
(2) A Ana encontrou [um gato]i na rua e trouxe-o para casa. [A (infeliz da)
(1) A Ana chamou [o Pedro]i, mas [ele]i estava distraído e []i não ouviu.
(2) A bactéria revelou-se resistente aos principais antibióticos conhecidos. Bactérias assim
Parte I. | 4. Subclassificação das expressões anafóricas/cadeias referenciais (cont.)
• Parâmetro 2: categoria dos antecedentes das anáforas (cont.)
IV. pró-SP
(1) O Pedro gosta [da Ana]i e eu também gosto []i.
(2) Nem se pode dizer que eu concordo [com a tua opinião] i nem que não
concordo []i. Estou com algumas dúvidas...
V. pró-SV
(3) O Pedro já [esteve no Brasil]i, mas o Manuel não []i.
(2) [O Pedro]i combinou com [a Ana]i que seriam [eles]i+j a dar a notícia.
(1) A Ana devolveu à Rita muitos livros que ela lhe tinha emprestado. Deixou-
Parte II: Análise de textos com cadeias referenciais problemáticas(1)
1. Problemas com a expressão referencialmente dependente
Principais problemas: a expressão referencialmente dependente (ou anáfora)
falta (secções A-B), está a mais (secção C) ou tem uma forma inadequada
(secção D).
A. Repetição de expressão lexical em vez de uso de pró-forma
764 “Bastante pior que o anterior, este programa segue, todavia, os moldes do
anterior.” (Diário de Lisboa, 06-06-1990, p. 32, apud Peres 2009: 28)
933 “Existe agora uma lista familiar de queixas europeias contra a política
americana que inclui, embora não se limite, a retirada da administração Bush do
Protocolo de Kyoto (…).” (Tradução de texto de Francis Fukuyama, Público, 20-
08-2002, p. 9, apud Peres 2009: 28)
673 “Diversos deputados (...) referiram que a reacção do ministro foi pouco clara
quanto à defesa do seu secretário de Estado. Mas que, possivelmente, porque
não ouvira os ataques dos populares.” (Público, 11-07-1997, p. 5, apud Peres
2009: 28)
(1) A ponte caiu. Sabemos que isso aconteceu {em 1910 / porque houve um
terramoto}.
(2) A ponte caiu. Sabemos que [] {?em 1910 / ??porque houve um terramoto}.
Anáfora nula em posição de oração principal, realizando-se apenas o adjunto
adverbial de valor causal porque não ouvira os ataques dos populares. O antecedente é a
Parte II: Análise de textos com cadeias referenciais problemáticas (cont.)
1. Problemas com a expressão referencialmente dependente (cont.)
C. Adição de pró-forma
C1. Adição simples de pró-forma em estruturas tipicamente elípticas
124 “Finalmente, as jovens de hoje são mais realistas e cínicas do que nós o
éramos na juventude.” (Público, 03-08-2001, p. 9, apud Peres 2009: 28)
Em certas construções, como as conformativas (cf. Peres e Móia 1995) – cf. (1)
– e as comparativas (cf. Móia 2015) – cf. (2) –, os falantes tendem a evitar o
uso de anáforas pronominais.
(1) a. O presidente decidiu recandidatar-se, como eu {supunha / disse}.
b. ??O presidente decidiu recandidatar-se, como eu o {supunha /
disse}.
Parte II: Análise de textos com cadeias referenciais problemáticas (cont.)
1. Problemas com a expressão referencialmente dependente (cont.)
C. Adição de pró-forma (cont.)
C2. Adição de pró-forma associada a redundância de argumentos
495 “A pouca simpatia que os da situação lhe nutriam impediu-lhe uma carreira
clínica normal e foi assim que ele entrou no mundo dos negócios (...).” (O Jornal,
02-08-1991, p. 21, apud Peres 2009: 28)
126 “Mas em qualquer dos casos, só tem de ligar para lá – se for necessário
registo, sê-lo-á pedido no momento da sua ligação.” (Público, 19-12-1994, p.
XVIII, apud Peres 2009: 28)
Uso indevido de clítico acusativo (lo) em construções passivas, que não possuem
nunca complemento direto.
(1) O funcionário pedirá um registo ao Pedro. [FRASE ACTIVA]
(2) a. Será pedido um registo (ao Pedro) (pelo funcionário). [FRASE
PASSIVA]
Parte II: Análise de textos com cadeias referenciais problemáticas (cont.)
“Nos últimos dias, (...) a falta de sentido de Estado tomou conta de vários
políticos. Fragilizar o supervisor do sistema financeiro na situação atual é a pior
coisa que se pode fazer. Mas fazê-lo deixando a pairar a ideia de que a culpa é
do supervisor e não de quem cometeu actos lesivos é errar completamente o
Parte II: Análise de textos com cadeias referenciais problemáticas (cont.)
2. Problemas com o antecedente (ou com a ligação entre o antecedente e a expressão referencialmente dependente) [cont.]
A. Ausência (simples) de antecedente | elemento anáforico lexical sem antecedente (cont.)
245 “O Governo filipino apresentou ontem queixa contra Imelda Marcos, mulher
do exditador Ferdinando Marcos, por fraude fiscal, preparando assim o
julgamento da viúva do falecido presidente para quando esta regressar ao país,
autorização que lhe acaba de ser concedida e que vai ao encontro dos seus
reiterados pedidos nesse sentido.” (Público, 02-08-1991, p. 21, apud Peres 2009:
29)
Parte II: Análise de textos com cadeias referenciais problemáticas (cont.)
2. Problemas com o antecedente (ou com a ligação entre o antecedente e a expressão referencialmente dependente) [cont.]
A. Ausência (simples) de antecedente | elemento nominal aposto sem antecedente (cont.)
Porém, no excerto dado acima, o nome aposto autorização ocorre numa posição
em que ainda não tinha sido mencionada qualquer autorização.
Alternativas:
(1) ... preparando assim o julgamento da viúva (...) para quando [esta
regressar ao país]i. A autorização para [esse regresso]i acaba, aliás, de ser-lhe
Cada frase da primeira coluna de (1) só pode ser seguida por uma das frases da
segunda coluna e nenhuma destas últimas é adequada como continuação da
frase (2), o que mostra que há restrições combinatórias fortes (de natureza
morfológica, sintática e semântica) à formação de cadeias referenciais.
O verbo existir admite sujeitos nominais, mas não frásicos (cf. o diálogo não existe vs.
*dialogar não existe). Logo é necessário mudar a estrutura. Alternativas:
Parte II: Análise de textos com cadeias referenciais problemáticas (cont.)
2. Problemas com o antecedente (ou com a ligação entre o antecedente e a expressão referencialmente dependente) [cont.]
B. Incompatibilidade entre elementos da cadeia referencial (cont.)
A sequência (descontínua) o... fazer requer um antecedente frásico, que não está
presente no texto. Alternativas:
− manter antecedente nominal (a reforma antecipada), usar anáfora pró-SN (a), que
Parte II: Análise de textos com cadeias referenciais problemáticas (cont.)
2. Problemas com o antecedente (ou com a ligação entre o antecedente e a expressão referencialmente dependente) [cont.]
B. Incompatibilidade entre elementos da cadeia referencial (cont.)B2. Antecedente nominal e pró-forma de tipo verbal ou
proposicional (cont.)
1145 “Estas são as questões essenciais a que José Sócrates tem de responder e
que, salvo melhor opinião, ainda não vi que tenha feito satisfatoriamente.”
(Expresso, PRIMEIRO CADERNO, 30-01-2009, p. 33, apud Peres 2009: 30)
− antecedente nominal (questões essenciais), anáfora pró-SN
(1) ... as questões essenciais a que José Sócrates tem de responder e a que,
salvo melhor opinião, ainda não vi que tenha respondido
satisfatoriamente
− antecedente verbal/proposicional (responder), anáfora com fazer (+ o que)
Parte II: Análise de textos com cadeias referenciais problemáticas (cont.)
2. Problemas com o antecedente (ou com a ligação entre o antecedente e a expressão referencialmente dependente) [cont.]
B. Incompatibilidade entre elementos da cadeia referencial (cont.) B3. Antecedente não participial (verbal ou
nominal) e pró-forma participial
O clítico demonstrativo (invariável) o pode formar cadeias com expressões
participiais em construções passivas:
(1) O trabalho já foi feito. Foi-o em menos de quatro horas.
(2) O trânsito na ponte foi interrompido no sábado. Foi-o para que pudesse
passar a comitiva presidencial.
Para o seu uso regular, tem de haver um antecedente verbal participial, que não
existe nos três textos seguintes.
654 “José Afonso Pimentel pensa que trabalho infantil está conotado com
Parte II: Análise de textos com cadeias referenciais problemáticas (cont.)
2. Problemas com o antecedente (ou com a ligação entre o antecedente e a expressão referencialmente dependente) [cont.]
B. Incompatibilidade entre elementos da cadeia referencial (cont.)B3. Antecedente não participial (verbal ou nominal) e pró-
forma participial (cont.)