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ÉTICA E

RESPONSABILIDADE SOCIAL
FACULDADE FRASSINETTI DO RECIFE
COORDENAÇÃO GERAL DE GRADUAÇÃO

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL


BRUNO HIPÓLITO

RECIFE, 2019
SUMÁRIO

Apresentação

Capítulo 1 - Diversidade no pensamento ético

Capítulo 2 - Ética e Filosofia

Capítulo 3 - Ética e Cultura

Capítulo 4 - Ética e Religião

Capítulo 5 - Ética, Política e Lei

Capítulo 6 - Ética Profissional

Capítulo 7 - Ética da Virtude

Capítulo 8 - Ética e cidadania na sociedade tecnológica


Apresentação

Olá, estimado (a) estudante! Neste bloco, você estudará os principais aspectos
teóricos que fundamentam a ética e os diferentes termos que compõe esse
campo. Vamos lá?
BLOCO 2
DIVERSIDADE NO PENSAMENTO ÉTICO
Capítulo 1 - Diversidade no pensamento ético

Nos tempos atuais, a subjetividade humana expressa o mundo interior do


homem, a sua espiritualidade, motivos e significado do comportamento, bem
como a diversidade e profundidade de intelecto, vontade e emoções.
Será que os valores éticos dependem de variáveis como: tempo, cultura e visão
de cada indivíduo?
Um dos temas recorrentes nos debates morais é se a moralidade é relativa ou
absoluta.
O relativismo moral ou relativismo ético é a visão de que a moralidade não é
baseada em nenhum padrão absoluto e que não existem valores morais
objetivos. Um dos significados aceitos dessa declaração é que toda sociedade
tem seu próprio conjunto de regras morais e isso pode ser completamente
diferente do sistema de outra sociedade, ou seja, as regras da conduta moral
dependem do contexto social.
Em uma determinada tribo indígena, os mortos são cremados e suas cinzas são
usadas na produção de uma bebida considerada sagrada. Eles defendem que
todos os nativos devem permanecer na tribo.
Agora, imagine que um missionário cristão chegou por lá, como um estranho, e
foi convidado para analisar tal cultura através de suas próprias ideias e
pensamentos. Que conclusões ele poderia chegar?
Aqui está um exemplo de relativismo moral, quando tudo depende de um ponto
de vista subjetivo.
Atitudes relativistas não estão necessariamente relacionadas apenas a bases
filosóficas, é parte do sentido da vida pós-moderna. Por exemplo, um relativista
afirma que "O que é bom para uma pessoa pode ser mau para outra e que não
há moralidade objetiva, portanto, a verdade varia de tempos em tempos, de
cultura para cultura e de pessoa para pessoa". Os relativistas morais afirmam
que não existem verdades morais universais como afirmam os defensores do
objetivismo moral.
Em outras palavras, o comportamento moral, dependendo das circunstâncias,
se torna relativo em uma determinada sociedade, mas não, necessariamente,
em outra. Além disso, aqueles que argumentam que a moralidade independe da
sociedade e do contexto social, podem, ainda assim, concordar que as regras
morais dependem das circunstâncias de uma determinada ação, isto é, que uma
regra moral, que é válida em certas circunstâncias, pode ser anulada ou alterada
em outras.
Dizer que a moralidade é relativa, pode ainda ter um significado adicional, o de
que ela muda não apenas de uma sociedade para outra, mas também de pessoa
para pessoa, na qual cada indivíduo pode ter sua própria percepção de regra
moral. Essa posição ressalta que qualquer percepção moral, que negue a
existência de regras sociais de conduta comuns a todos os seres humanos, é
referida como "subjetivismo moral”. Por exemplo, o código moral dos chineses é
completamente diferente do código moral dos europeus, bem como o código
moral dos africanos é diferente de ambos.
Como afirmado, a alegação de que a moralidade é relativa e depende da
sociedade, é bastante comum. Portanto, as questões que precisamos refletir é:
a moralidade é relativa? Quais são as razões que essa posição representa para
provar sua verdade?
Sendo assim, há dois tipos de raciocínio em favor da moralidade relativa. O
primeiro tipo se refere às razões factuais, nós o chamaremos de relatividade
factual ou descritiva. O outro tipo de visão a favor da posição relativa está
relacionada aos argumentos por razões filosóficas.
Quais são, então, os argumentos factuais aceitáveis para levar uma pessoa a
declarar que a moralidade é relativa? Como já dissemos, o primeiro tipo de
raciocínio é aquele baseado em fatos. Os defensores da posição de que a
moralidade é relativa advogam o fato de que as pessoas se comportam de forma
diferente em contextos sociais e culturas diferentes.
O fato de que diferentes formas de comportamento moral são observadas entre
diferentes sociedades, e o fato de que não há método objetivo pelo qual se possa
decidir qual das várias sociedades é mais justa ou mais moral, levam algumas
pessoas à conclusão de que a moralidade depende da sociedade.
Você já chegou a se perguntar: qual é a fonte de nossas opiniões e posições
morais e como elas foram criadas?
Pois é, caro estudante, nós aprendemos nosso comportamento moral a partir do
ambiente, através da imitação e outras influências. Mesmo nossas crenças mais
profundas, dentre as quais as crenças sobre justiça e direitos humanos, nada
mais são do que uma internalização dos pontos de vista predominantes em
nossa cultura, transmitidos a todos nós por educadores, pais, parentes e pelo
meio social.
Outro fato que os relativistas apontam é o de que as pessoas, em seus diversos
ambientes sociais, são etnocêntricas, isto é, concentram-se em sua tribo ou
grupo. O sentimento é que o grupo deles é superior a todos os outros. São
motivados pelo sentimento e confiança de que a moralidade que eles possuem
é a absoluta e que seu modo de vida é o único caminho correto. Para eles, os
demais grupos têm uma moral inferior e um modo de vida equivocado.
É claro que tais sentimentos etnocêntricos levam, mais cedo ou mais tarde, à
intolerância, a uma tentativa de forçar seu modo de vida e padrões morais em
qualquer outro grupo de pessoas. Assim, cada grupo se torna dogmático, no
sentido de que nem sequer tenta examinar criticamente seus próprios padrões
morais.
De acordo com essa posição, os fatos mostram que cada sociedade tem suas
próprias normas morais e que o comportamento de cada indivíduo é determinado
pelo comportamento da sociedade em que vive. Assim, não existe uma cultura
inferior ou superior, e sim, diferente.
Um tipo diferente de raciocínio em favor dessa afirmação são os argumentos por
razões filosóficas. Aqui, os proponentes da relatividade moral, não observando
os fatos sociais e não explicando as origens desses fatos, chegam à conclusão.
Utilizam, para isso, a priori, considerações filosóficas sobre o caráter e a classe
lógica de conceitos morais como "dever", "permissão", "proibição". "bem e mal."
Aqui, movemo-nos para outro tipo de relativismo, o normativo ou de valor. De
acordo com essa posição, a relatividade moral tem dois aspectos: o direito de
toda sociedade de viver em conformidade com seus princípios morais e o dever
de toda pessoa de viver de acordo com os princípios morais de sua sociedade.
Essa é uma posição de tolerância moral, de acordo com o princípio de que toda
sociedade deverá viver em suas crenças e costumes.
Vale a pena comparar essa posição com a posição do absolutista. É claro que a
posição absoluta da moralidade também negaria essa abordagem relativista.
Qualquer pessoa que aceita o argumento de que a moralidade é absoluta, está
disposto a dizer que o fato de os seres humanos, em diferentes sociedades,
comportarem-se diferentemente, não significa que estão certos ou que a
sociedade em que vivem é tão moral quanto qualquer outra sociedade. O fato de
descobrirmos que diferentes grupos se comportam de acordo com certas
tradições morais não legitima o comportamento dos mesmos.
Por outro lado, o relativista normativo alega que não existem normas morais
absolutas e objetivas que atendam a todos os seres humanos. É suficiente para
uma pessoa provar que segue as normas aceitas em sua sociedade para
comprovar sua moralidade. Uma pessoa que não age de acordo com as normas
aceitas em sua sociedade é, explicitamente, uma pessoa imoral. Essa posição
normativa adota a regra bem conhecida: "Em Roma, ele agiu como um romano".
O absolutista rejeitará esse argumento completamente. Para ele, não basta
mostrar que o comportamento de uma pessoa está de acordo com as normas de
sua sociedade. Para mostrar a própria moralidade, é preciso salientar que seu
comportamento está em conformidade com normas morais universais.
Ouça agora o podcast no qual o Professor Mario Sergio Cortella apresenta uma
visão geral sobre relativismo moral.
http://download.sgr.globo.com/sgr-mp3/cbn/2012/colunas/cortella_120619.mp3

Mas o que são normas morais universais? Elas existem?


Valores morais objetivos ou universais são verdades morais que permanecem
independentemente da cultura, de nossas crenças, do indivíduo ou grupo social,
seja no passado, no presente ou no futuro. O fato de pessoas, grupos ou
sociedades discordarem sobre algo não significa que não haja uma verdade
objetiva. Por exemplo, as pessoas podem discordar sobre a forma da Terra, mas
isso não significa que a Terra não tenha forma. Todos cometem erros de cálculo,
mas isso não significa que não existam regras matemáticas constantes.
Vejamos outro exemplo! O relativismo ético, como vimos anteriormente,
promove, como uma coisa boa, a tolerância de certas práticas culturais
consideradas como estranhas ou peculiares de acordo com as normas de uma
determinada sociedade. Embora a tolerância seja uma virtude, um relativista
ético não pode negar que a tolerância seja entendida como um valor absoluto.
Do mesmo modo, a tolerância só pode ser considerada uma virtude, se
pensarmos que a outra pessoa, cujo ponto de vista devemos tolerar, está
“gravemente” equivocada. Portanto, a tolerância deve ser aplicada mesmo que
as opiniões ou comportamentos de outras pessoas sejam “moralmente”
repreensíveis. Por outro lado, a tolerância não é indiferença ou desdém ao
comportamento do outro, mas o respeito e aceitação de uma opinião ou modo
de pensar contrário, sem fazer o julgamento de que uma está certa e a outra está
errada.
Vamos refletir!
Como poderíamos condenar os nazistas ou as práticas do governo norte-
coreano, que é amplamente criticado por graves violações dos direitos humanos,
se a cultura determina o que é certo e errado? Afinal, os nazistas agiram
conscientemente sobre os valores morais de sua cultura. Somente quando o
genocídio foi considerado um ato universalmente repreensível, é que as ações
dos nazistas foram consideradas como algo errado. O fato de que os nazistas
tivessem sua "própria moralidade" e agissem de acordo com suas crenças, não
muda a lei universal que condena tais práticas.
Se não houvesse uma medida universal pela qual um determinado
comportamento pudesse ser julgado, não haveria base racional para condenar
o assassinato de seis milhões de judeus e milhões de outras pessoas inocentes
pelos nazistas.
Do mesmo modo, se não houver uma medida universal, também não haverá
base racional para construção de uma legislação. Por exemplo, se houver
pessoas suficientes, com certas preferências, elas podem se organizar
politicamente e redigir leis que, a seu ver, proíbem e criminalizam
comportamentos indesejáveis e posteriormente se unirem na aplicação dessas
leis por meio de controle, inspeção, detecção e repressão. Mas, estritamente
falando, trata-se de impor suas preferências àqueles que não concordam. Além
disso, se não há um padrão moral universal, você não tem uma medida objetiva
para determinar quais comportamentos devem ser criminalizados e quais não.
Se há pessoas suficientes numa sociedade que acham que determinado
comportamento é passível de punição, podem criminalizar àqueles que não se
enquadrem às suas leis. Nesse caso, a fórmula "poder faz justiça" se aplica.
Então, qual é a conclusão ética e prática de que a moralidade é relativa ou
absoluta? O que isso significa, na prática, para cada um de nós? A que posição
moral cada um de nós deve se comprometer? Esta é, de fato, uma questão
moralmente crucial a ser respondida.
Vamos exercitar?
Dilema ético
Paulo estava prestes a terminar o ensino médio e começar sua jornada para
ingressar no ensino superior. Sua mãe era alcoólatra em recuperação, em uma
clínica, e permaneceu sóbria por três anos. . . até agora.
Quando ela finalmente chegou em casa, o pai de Paulo disse que iria deixá-la
se ela voltasse a beber. Tudo parecia bem até que seu pai conseguiu um novo
trabalho e teve que viajar muito.
Durante os últimos meses, o pai de Paulo precisou viajar bastante e, a cada
viagem, a mãe de Paulo bebeu. Ela fazia isso escondido, mas Paulo conhecia
os sinais. Ele viu as garrafas no banheiro e as garrafas de “água” em seu quarto.
Era como viver novamente em um pesadelo.
A parte mais difícil era que Paulo estava tentando descobrir o que ele deveria
fazer. Se ele dissesse a seu pai, provavelmente, ele iria embora de casa. Se ele
não fizesse nada, sua mãe iria piorar. Ele estava magoado, solitário e não sabia
o que fazer.
• O que Paulo deve fazer?
• O que você faria em sua situação?
• Você ou alguém que você conhece já enfrentou uma situação na qual ele
ou ela estava fazendo algo prejudicial para sua própria vida?
Capítulo 2 - Ética e Filosofia

A ética, referindo-se à moralidade, é uma ciência filosófica, cujo objeto de estudo


é a moralidade como forma de consciência social, como um dos aspectos mais
importantes da atividade humana, como um fenômeno específico histórico-
social.
Como vimos no Bloco I, o termo ética foi introduzido pelo antigo filósofo
Aristóteles. A ética atraiu a atenção desse pensador, principalmente, do ponto
de vista do problema da formação de um cidadão e de um Estado. Ele viu a
conexão entre política e ética, porque o Estado precisa de cidadãos dotados de
virtudes que lhes permitam ser cidadãos da política. Para se referir à ciência que
estuda as virtudes humanas, Aristóteles formou o substantivo ethice (ética) a
partir do adjetivo ético. Por esse termo, ele designou um campo especial de
estudo, uma filosofia prática, que foi projetada para responder à pergunta: o que
devemos fazer? A ética deve avaliar qualquer situação no tocante aos conceitos
de bem e mal, justiça, dever etc.
No sentido moderno, a ética é uma ciência filosófica que estuda a moralidade
como um dos aspectos mais importantes da vida e da sociedade.
Historicamente, o tema da ética mudou significativamente e começou a tomar
forma como uma escola para educar pessoas, ensinando-as suas virtudes. Foi
considerada, por religiosos, como um chamado para o cumprimento dos
desígnios divinos, caracterizada como a doutrina do dever inquestionável, como
a ciência da formação do "novo homem".
A ética como ciência não apenas estuda, resume e sistematiza os princípios e
normas da moralidade que operam na sociedade, mas também contribui para
desenvolvê-las de modo que melhor atendam às necessidades da própria
sociedade e do homem. A ética, como ciência, serve ao progresso social e
econômico da sociedade, à afirmação dos princípios humanísticos e da justiça.
Vamos refletir um pouco mais? Assista ao vídeo do professor Clóvis Barros sobre
o que é moral.

https://www.youtube.com/watch?v=Jsjn49FxJLc
Capítulo 3 - Ética e Cultura
A discussão sobre ética e cultura está se tornando cada vez mais relevante em
nosso tempo, pois o desenvolvimento da civilização, no século XXI, chegou a um
ponto em que a cultura da sociedade parece desprovida de princípios éticos
ameaçando, cada vez mais, o bem-estar e a existência do homem na Terra.
É necessário, portanto, refletirmos sobre o perigo que a chamada "cultura de
massa" da sociedade contemporânea representa para o futuro da humanidade.
Ou seja, sem sólidas fundações morais, está imbuída de ideias de violência,
intolerância, roubo, egoísmo, ganância, culto ao sexo, levando a uma lenta
degradação da dignidade humana.
Nossos grandes avanços materiais levaram a mudanças fundamentais nas
condições de vida dos indivíduos, da sociedade e das nações, mas a ameaça à
cultura, oculta em conquistas materiais, consiste no fato de que o resultado da
transformação radical nas condições de vida das pessoas, foi passar do livre
para o não-livre.
Mas, afinal, o que é cultura?
Cultura é uma coleção de valores, normas, padrões de comportamento,
estereótipos culturais e outros mecanismos culturais que asseguram a natureza
coletiva das atividades das pessoas. É a totalidade do progresso do homem e
da humanidade em todas as áreas e direções, desde que esse progresso sirva
para pleno desenvolvimento individual e coletivo. Em outras palavras, cultura é
produto de uma visão de mundo. Além disso, na medida em que uma
cosmovisão mundial consciente e ao mesmo tempo ética se tornar eficaz, os
ideais da cultura influenciarão as visões do indivíduo e da sociedade.
No entanto, desde meados do século XIX, estamos passando por uma crise de
visão de mundo. Não somos mais capazes de chegarmos ao conceito de
universalidade, ou seja, de visão holística, que nos permita conhecermos o
significado da existência humana e da humanidade, e, assim, consigamos
estabelecer ideais advindos da afirmação da vida e do desejo ético, visto que a
ausência de uma visão de mundo também predetermina a ausência de cultura.
Assim, enfrentamos uma grande questão: por quanto tempo uma sociedade
conseguirá evoluir sem uma visão de mundo e sem uma ética que traga, em si,
os ideais que aperfeiçoam o homem e a humanidade em sua totalidade?
Se formos bem-sucedidos na construção de uma visão de mundo ética e
suficientemente convicta na afirmação da vida, então, conseguiremos frear a
decadência de nossa cultura. Caso contrário, estaremos condenados a
testemunhar o colapso e a degeneração da humanidade. Mas o caminho para
novas convicções será reestabelecido quando percebermos que não depende
de quaisquer eventos aleatórios, mas sim de nós.
Será que podemos provar isso?

Capítulo 4 - Ética e Religião

A ética está relacionada à religião? Vamos tentar responder a essa pergunta?


A ética, como disciplina filosófica, não tem nada a ver com religião, uma vez que
a fé é importante na religião e a razão é importante na filosofia.
Antes de tudo, é necessário determinar o caráter genérico das duas classes de
fenômenos. Sem oferecer uma definição exata de religião sobre a qual talvez
seja difícil para todos concordar, pode-se dizer que a religião envolve a crença
em um poder ou poderes superiores e também alguma forma de culto ou
adoração. Moralidade, por outro lado, tem a ver com o homem nas relações
pessoais e sociais.
A religião tem sua origem, primariamente, nas relações que o homem estabelece
com a natureza, com a totalidade das forças cósmicas pelas quais ele está
cercado e que produzem nele a ideia de um poder infinito. O homem se vê
dependente dessas forças cósmicas; ele tem necessidades físicas que só elas
podem satisfazer; seu temor é despertado na presença de sua vastidão e poder;
sua admiração é despertada por sua beleza e ordem; seu intelecto exige uma
explicação causal de sua operação; e ele é, finalmente, obrigado a ceder a
própria vida ao seu poder conquistador. Essas são as experiências psicológicas
que tornam o homem um ser religioso, e são claramente distinguíveis daquelas
que estão na raiz da moralidade. Isso porque a moralidade provém daqueles
relacionamentos humanos nos quais o indivíduo se vê obrigado a viver e agir.
Tem suas raízes nas necessidades físicas e mentais que outros seres humanos
podem satisfazer e nas compaixões que respondem a essas necessidades.
Tendo em mente a distinção genérica entre moralidade e religião, podemos
passar a considerar as maneiras pelas quais eles agem e reagem uns sobre os
outros. A religião em seu desenvolvimento assume elementos éticos. A
concepção da divindade que qualquer religião oferece representa os padrões
éticos de seus adeptos. A história da religião deixa claro que os atributos morais
da divindade são, em todos os casos, extraídos dos ideais éticos predominantes
entre os principais adoradores, e que foram construídos primeiramente nas
relações humanas antes de serem atribuídos aos deuses. A moralidade cresceu
assim da terra para o céu; historicamente, não procedeu de outra maneira. O
homem projetou sobre o espírito infinito a mais alta excelência que conheceu,
trazendo seus melhores dons como oferenda à religião.
Nem poderia ter sido de outro modo no caso de seres como nós. "Se alguém
não ama a seu irmão, a quem viu, como pode amar a Deus a quem não viu?" Se
o homem não fosse constituído de modo a discernir e amar a verdade, a beleza
e a benevolência de caráter, seria inútil fazê-lo lutar por sua realização. Somente
quando sua própria natureza interior o impele a eles, é possível responder ao
chamado do dever para realizá-los em sua própria vida. Um motivo que não
encontra resposta dentro de nós é absolutamente um motivo impotente a nos
mover.

Em que sentido pode-se falar da relação entre ética e religião? Até que ponto a
moralidade é dependente da crença religiosa? Quais contribuições as crenças
religiosas fazem para a prática da moralidade?
A ciência moderna dá uma resposta positiva em vez de negativa a essa questão.
Immanuel Kant formulou um princípio ético chamado de " imperativo categórico
". A essência desse princípio pode ser expressa de maneira direta: faça o que
você quer que os outros façam a você. Em essência, Kant filosoficamente
repensa o princípio da ética, já refletido no Evangelho de Mateus. O princípio de
Kant é bastante abstrato, mas, ao mesmo tempo, muito eficaz. Por alguma razão,
não queremos ser enganados, sermos odiados, mas ser honestos, sermos
amados. De onde vem esse “mínimo de decência”? Kant acreditava que os
princípios morais, em particular, o mecanismo de controle dado ao homem
através da consciência, não podem ser deduzidos do mundo da razão, eles são,
realmente, de uma origem divina.
Kant considerou a experiência da obrigação moral como a base da religião.
Nesse caso, foi postulada a existência de uma esfera religiosa especial, que não
compete com o campo da ciência.
Em sua prática religiosa, o homem é livre para cumprir fidelidade à sua religião,
mas qualquer religião que degrada a personalidade humana ou encoraja sua
degradação é injusta. Por isso, é preciso reconhecer a relação que existe entre
religião, ética e humanidade. A religião é uma atividade humana que deve ser
feita tendo em vista o bem da humanidade, uma vez que está sujeita a uma
avaliação ética. Parte dessa ética é absorver a atitude de tolerância, pois o
pluralismo da sociedade contemporânea requer que encontremos normas
comuns para que todos os seres humanos possam viver juntos em harmonia,
independentemente da sua religião ou estilo de vida adotado.
Capítulo 5 - Ética, Política e Direito
O problema da correlação entre política e moralidade ocupou as mentes dos
pensadores por milhares de anos. Valores morais e normas relacionadas ao
mundo político, às suas instituições, atitudes, visão política do mundo e
comportamento dos membros de uma sociedade, juntos, constituem a ética
política. A ética política é a base normativa da atividade política, diretamente
ligada a problemas fundamentais como a estrutura social justa da sociedade e
do Estado.
As pessoas muito se interessam pelo que a frase "política moral" significa e quais
são os princípios que a política deve seguir para ser moral. Dessa forma, é
legítimo aplicar valores morais e éticos à esfera da política? Como a política e a
moralidade estão relacionadas? Quais são as características da interação entre
moralidade e política?
A política organiza a vida coletiva das pessoas e suas atividades; regula e
controla as ações da sociedade; a política é capaz de estabelecer regras morais.
A moralidade influencia a política através de mudanças ideológicas, as
orientações de valor dominante da consciência de massa e as posições políticas
dos cidadãos.
A moralidade (ou imoralidade) da política é um valor relativo?
Primeiro, se considerarmos que a moralidade é um produto do desenvolvimento
de uma sociedade específica, haverá uma distinção entre a moralidade do
indivíduo e a do Estado, entre a ética do comportamento individual e a ética do
dos grupos sociais. O que é considerado imoral no nível individual, no nível dos
grupos sociais, poderá ter um caráter moral. Dessa forma, o que é considerado
repreensível no comportamento do indivíduo poderá ser considerado normal no
comportamento do Estado e vice-versa.
Tal discrepância entre as normas da moralidade individual e social ocorre em
qualquer sociedade e em qualquer estado.
Em segundo lugar, a política é moral como uma reflexão, como a personificação
das relações sociais estabelecidas, da cultura de um povo, ou seja, sua
correspondência mais ou menos exata ao nível de desenvolvimento moral de
uma sociedade ou Estado. A política, portanto, não é moral em si mesma, mas
sim das relações sociais que a correspondem.
Em terceiro lugar, a política pode ser chamada de imoral quando,
aparentemente, leva à destruição do Estado, quando contribui para a anarquia,
quando tenta preservar ou impor as estruturas e instituições estatais sobre as
pessoas, quando deixa de responder aos interesses da população ou quando é
abstraído dos princípios morais. A história conhece muitas pessoas e partidos
que foram guiados apenas pelo desejo de poder, o desejo de governar e
comandar, considerando o poder do estado como um meio de alcançar seus
próprios interesses pessoais ou partidários. Esse tipo de "política" é certamente
imoral.
Quarto, o problema da relação entre política e moralidade se deve aos meios
inerentes da política. A mesma ferramenta pode ser usada para propósitos ruins
e bons. Moral ou imoral, não é o meio, mas os fins, intenções, ações dos
envolvidos. O que é considerado moral hoje, em um determinado lugar, em um
determinado povo, em um determinado ambiente social, pode ser considerado
imoral em um tempo diferente, em um lugar diferente, em outro povo, em um
ambiente social diferente.
Em quinto lugar, a política é considerada “a arte do possível”, o que significa não
abrir mão do princípio moral e ético, mas estabelecer os limites para a
moralização da política. Cada político, quase sempre, é levado a cumprir
determinados acordos preestabelecidos, sejam eles decorrentes de seu
programa, promessas ou por convicções pessoais. Contudo, tais obrigações e
promessas nem sempre correspondem às leis vigentes. E, em tais
circunstâncias, surge frequentemente um “dilema moral”: o que um político deve
e quer fazer, baseado em promessas preestabelecidas e convicções pessoais,
mesmo diante da falta das condições apropriadas para tal, e o que ele pode fazer
com base na lei, mesmo que seja um posicionamento contrário a todas as
promessas, intenções e interesses acordados.
Diante disso, podemos perguntar: é possível fazer política sem ética?
Há muito em comum entre ética e lei. Elas representam as formas de valor da
consciência, têm um conteúdo normativo e servem como reguladoras do
comportamento humano. A ética e a lei são determinadas por fatores sociais,
políticos e econômicos da vida social. Têm um objetivo comum, harmonizar os
interesses do indivíduo e da sociedade, fortalecer a liberdade e a dignidade da
pessoa e preservar a ordem pública. A ética e a lei são guiadas pelos ideais de
liberdade e justiça.
Ao mesmo tempo, a ética e a lei têm uma diferença significativa. A ética foi
formada antes mesmo da divisão da sociedade em classes e da formação do
estado. A lei expressa a vontade do estado, a consciência legal do povo. Os
princípios e normas da ética estão enraizados na consciência pública. Elas são
apoiadas pelo estilo de vida dos indivíduos de uma sociedade. A lei expressa a
vontade do estado e do povo e nem sempre oferece uma escolha de
comportamento.
Para aprofundar um pouco mais, sugerimos que você assista ao vídeo sobre
filosofia e ética, com Márcia Tiburi.

https://www.youtube.com/watch?v=9jsRUafEV9A
Parada obrigatória! Vamos fazer uma pausa de 2 minutos e, depois,
exercitaremos mais um dilema ético?

Dilema ético

Ricardo se despediu de seus amigos e foi para casa. Ele estava de


ótimo humor, pois tinha um mês de férias da escola. Ao entrar em
uma loja e ao passar perto do caixa eletrônico, viu que havia
dinheiro saindo da máquina.

Ricardo olhou em volta, viu que não havia ninguém por perto e
pensou: "alguém deve ter utilizado o caixa e se esqueceu de pegar
o dinheiro. Então, ele foi até a máquina e pegou a quantia de R$
50,00 e o recibo impresso.

Ricardo olhou em volta novamente e não havia ninguém. Ele


poderia devolver o dinheiro ao banco junto com o recibo no dia
seguinte. Mas, realmente, eram apenas R$ 50,00! Provavelmente,
não faria muita diferença para o cliente, mas, para ele, faria uma
diferença quanto ao número de presentes de Natal que ele poderia
comprar para sua família .. ou novas músicas para o seu iPod.

Será que realmente conta se você fizer algo assim apenas uma
vez? Ricardo pensou: é apenas uma vez. Ninguém precisa saber!
Não é como se ele fosse um ladrão, alguém, com pressa, acabou
deixando o dinheiro. Portanto, ele pegou o dinheiro e o colocou no
bolso, amassou o recibo e foi embora.

Ao sair, Ricardo lembrou de algo que seu avô sempre dizia: “Toda
vez que você mente, você fica mais perto de ser um grande
mentiroso”. Mas ele disse a si: "isso não é a mesma coisa" e seguiu
para casa.

• Sua escolha seria diferente? E se não tivesse nenhum


recibo?
• Você pegaria o dinheiro se você soubesse que pertencia ao
banco e não a um cliente?
• Você pegaria o dinheiro se outras pessoas estivessem
olhando?
• Você teria a mesma atitude que Ricardo se você estivesse
com seus amigos?
• Você já fez algo que você sabia que estava errado, porque
ninguém estava olhando? Como se sentiu quando fez? Faria
isso de novo?
Capítulo 6 - Ética Profissional
A ética profissional é um conjunto de regras de conduta para um determinado
grupo social, garantindo o caráter moral da relação decorrente ou associada às
atividades profissionais.
A ética profissional se originou com base em interesses e requisitos semelhantes
para a cultura de pessoas unidas por uma profissão. As tradições da ética
profissional evoluem juntamente com o desenvolvimento da própria profissão e,
atualmente, os princípios e normas da ética profissional podem ser consolidados
e expressos por meio de padrões de moralidade aceitáveis.
O conceito de ética profissional está associado, principalmente, às
peculiaridades de uma determinada profissão. Por exemplo, o “Juramento de
Hipócrates” e o sigilo médico são um dos elementos da ética profissional dos
médicos, assim como uma apresentação imparcial de fatos verdadeiros é um
elemento da ética profissional dos jornalistas.
O objeto de estudo da ética profissional são relações morais e profissionais, bem
como os princípios, normas e preceitos da moralidade vigente na sociedade,
adaptados às peculiaridades de uma determinada atividade profissional. As
tarefas da ética profissional são:
1) o estudo do processo de formação e reflexão das relações profissionais em
sua consciência ética;
2) fornecimento de recomendações a profissionais e gestores sobre o
componente moral no desempenho das funções da profissão;
3) conscientização dos objetivos sociais da profissão escolhida, bem como sua
importância para a sociedade.
As normas que os membros de uma profissão devem aderir são definidas em
seus códigos de ética profissional. Entende-se que os códigos de ética
profissional regulam as atividades de todos os membros da profissão, tanto para
profissionais independentes como os funcionários de uma empresa.
As normas devem ser precisas e justas. Um código que simplesmente declara
que os profissionais não devem mentir, roubar ou trapacear não promove nada
além do que é exigido a todas outras pessoas. A norma deve, além das condutas
essenciais a todos, refletir os aspectos que caracterizam a profissão.
Por exemplo, o que um médico que trabalha em uma fábrica deve fazer quando
é instruído a não divulgar informações sobre o aumento de doenças relacionadas
às atividades dos trabalhadores dessa empresa? Seus deveres em relação à
sociedade e em relação aos pacientes, neste caso os trabalhadores, são maiores
do que aqueles em relação ao pedido do dono da empresa?
A ética profissional, em via de regra, diz respeito àqueles tipos de atividades em
que as consequências ou processos dessas ações têm um impacto direto nas
vidas das pessoas ou da humanidade. A esse respeito, distinguem-se os tipos
tradicionais de ética profissional, tais como ética pedagógica, psicológica,
médica, jurídica, política, ética da engenharia, ética jornalística e bioética.

Dentro de cada categoria profissional, existem certas conexões específicas e de


relacionamentos com as pessoas. Dependendo do objeto do trabalho, surgem
as ferramentas, métodos e tarefas a serem desenvolvidas, bem como situações
peculiares que exigirão respostas humanas, métodos ou reações psicológicas
específicas. Ou seja, em cada profissão, nascem seus próprios dilemas e
valores, onde são desenvolvidas formas únicas de resolvê-las.
No entanto, se apropriar da informação correta é o primeiro passo no processo
de tomada de decisão. Saber reconhecer as implicações morais de uma
determinada situação deve preceder qualquer tentativa de resolvê-la. Conflitos
morais, raramente, são esperados e previsíveis. Eles, geralmente, vêm de
repente ou se desenvolvem tão lentamente que só os reconhecemos
tardiamente ou quando o problema já aconteceu.
Desse modo, deve-se ter em mente que a profissão não torna a pessoa moral.
Não é sobre a profissão, mas sobre as qualidades morais de uma pessoa. Uma
pessoa amoral pode usar a profissão mais nobre para seus próprios propósitos
egoístas. A moralidade não é formada pela profissão e não é determinada. Na
atividade profissional e através dela, a moralidade pode se manifestar. Há
profissões que estão direta e intimamente relacionadas com a responsabilidade
moral de uma pessoa, como, por exemplo, professor, médico e advogado. Em
suas mãos, estão os aspectos mais importantes da vida humana, então precisam
ter uma direção humanisticamente definida. A saúde e a vida de uma pessoa
dependem da consciência ética de um médico; da competência e moralidade de
um advogado, que pode afetar o destino de uma pessoa; o humanismo e
compromisso do docente com seu estudante são fatores decisivos no
desenvolvimento de uma personalidade eticamente comprometida.
Vamos assistir a um vídeo que ilustra o comportamento ético profissional.

https://www.youtube.com/watch?v=1-tUPtnrR98
Que bom rever o Chaves e o sr. Madruga, não é? De forma lúdica, podemos tirar
grandes reflexões sobre a ética no âmbito profissional.
Capítulo 7 - Ética da Virtude
De um modo geral, existem apenas dois sistemas éticos: ética baseada em
regras (ética normativa) e ética baseada na virtude. A normativa é baseada em
regras, definindo o que é certo ou errado. A da virtude, por sua vez, é baseada
na natureza humana, aquilo que aproxima a pessoa da perfeição.
O termo "virtude" aparece como um conceito geral correspondente à moralidade:
"pessoa virtuosa" é o mesmo que "pessoa moral". Por conseguinte, "corrupto" é
o mesmo que "imoral".
A palavra "virtude", em alguns casos, é usada como uma designação de
qualidade pessoal e, em outros, como um indicador geral de caráter, que sem a
qual ela não pode ser considerada moralmente ética. Então, existem muitas
virtudes, portanto, é natural acreditar que, em alguns casos, alguém será virtuoso
e, em outros, imoral, por exemplo, corajoso, mas injusto, sincero, mas
desregrado etc. Por natureza, uma pessoa é realmente virtuosa ou imoral, mas
o homem não é perfeito e essa imperfeição, em particular, se dá no fato de que
ela não é formada apenas de virtudes.
Do ponto de vista da teoria das virtudes, a ação moralmente correta é aquela
que se baseia nas qualidades morais positivas (virtudes) do indivíduo. Por
exemplo, práticas como responsabilidade, benevolência, justiça, paciência,
sinceridade, compaixão, generosidade, etc.
A ética das virtudes, naturalmente, não nega a necessidade de princípios e
regras morais; ela apenas atribui mais importância ao próprio homem e que é
impossível regular completamente o comportamento humano a partir delas.
Portanto, a questão crucial é qual qualidade o indivíduo deve possuir para agir
de forma correta. Desse ponto de vista, uma ação correta é aquela que um
indivíduo virtuoso realizaria sob quaisquer circunstâncias.
A presença de virtudes, em si, não garante um comportamento adequado: uma
pessoa boa pode, minimamente, cometer erros ou executar ações com
consequências negativas.
A teoria das virtudes é importante tanto em termos teóricos como em termos
práticos. Ela fornece elementos para olharmos uma pessoa como um indivíduo
heterogêneo, bem como entender a dualidade de qualquer caráter moral, o que
nos possibilitará entendermos o significado do mandamento "Não julgar uma
pessoa por ações individuais”.
Nesse sentido, virtude é a intenção do indivíduo de agir com base em princípios
morais. Para ser virtuosa, uma pessoa precisa ter a capacidade de agir com base
em seus próprios princípios. Por respeito a si mesmo, um indivíduo não deve
realizar ações que o faça se sentir envergonhado ou culpado após realizá-las.
Capítulo 8 - Ética e cidadania na sociedade tecnológica
A tecnologia avança de forma exponencial e os princípios culturais e as leis não
conseguem acompanhar tais avanços. À medida que a complexidade do mundo
aumenta, valores morais como solidariedade, responsabilidade, honestidade,
confiança, capacidade de cooperação, ajuda mútua e coletivismo, cada vez
mais, são entendidas como importantes necessidades para o indivíduo moderno.
Mudanças em larga escala, que costumavam levar séculos, agora, acontecem
em poucos anos. Não muito tempo atrás, o Facebook foi criado como um site
para encontros com amigos da faculdade, mas que, rapidamente, tornou-se o
maior site de rede social do mundo. Além disso, telefones celulares estavam
disponíveis apenas para pessoas ricas, drones custavam milhões e eram usados
para operações militares, e os supercomputadores eram usados para pesquisas
secretas do governo. Hoje, os amantes de drones podem projetar sozinhos seu
"Veículo Aéreo Não Tripulado" e moradores de aldeias africanas pobres têm
acesso ao Facebook via smartphones, com mais poder computacional do que o
Cray 2 - um supercomputador que em 1985 custou 17,5 milhões de dólares e
pesava 2.500 kg. Um estudo completo do genoma humano, que em 2002
custava 100 milhões de dólares, agora, pode ser feito por apenas mil dólares.
Talvez, em alguns anos, seja o equivalente a uma xícara de café.
Ao mesmo tempo que presenciamos tantos avanços tecnológicos, uma ética
universal destinada às particularidades do mundo digital ainda não foi
completamente elaborada. Recentemente, foi noticiado, em todos os jornais do
mundo, o compartilhamento de informações de milhões de usuários do
Facebook para a agência britânica Cambridge Analytica. Isso levou a um debate
público acalorado sobre como proteger os dados pessoais e manter um equilíbrio
entre coletar e analisar grandes volumes de dados e uma total vigilância.
Quando a análise de big data é usada na construção de uma rede de
telecomunicações para fornecer internet para onde as pessoas moram,
trabalham ou viajam, isso, potencialmente, tornará a vida delas melhor. Outro
exemplo é quando o lixo de informações é filtrado da Internet para mostrar aos
usuários apenas conteúdo "útil", acaba ajudando a economizar tempo e facilitar
a vida de todos.
Os computadores e a internet foram introduzidos na sociedade para facilitar o
trabalho das pessoas, bem como ampliar a percepção de tempo e espaço, mas
sem desconsiderar a interação e colaboração entre as pessoas como elementos
necessários. As máquinas e a rede são ferramentas que potencializam as
relações humanas e são melhores do que as mídias anteriores, como, por
exemplo, a televisão, que favorece uma relação mais passiva.
Diante disso, percebemos que hábitos e crenças estão mudando rapidamente,
modificando a relação das pessoas com a informação. Tal mudança foi possível
porque falar, dialogar, selecionar e criticar algo se tornou muito simples graças
às novas tecnologias e à Internet.
As tecnologias da informação, redes sociais, Internet, economia digital e outros
fenômenos e processos da sociedade da informação criou a chamada Cultura
Digital. Miller (2013) a definiu como um mundo que inclui a produção, utilização
e disseminação de produtos de informação. Cultura digital é uma realidade de
uma mudança de era, é a cultura da contemporaneidade.
Assista agora ao vídeo sobre cultura digital e reflita sobre o que foi estudado até
agora.

https://www.youtube.com/watch?v=CJbvPSQcI2Y

Ao mesmo tempo, os códigos éticos da sociedade da informação, assim como a


própria sociedade da informação, ainda estão em estado de formação, a
interação virtual ocorre em grande parte fora da ética e, geralmente, aceita ou
tem suas próprias especificidades e regras. Esses problemas são objeto de uma
seção particular da ética da informação, cujo objetivo é analisar os aspectos
morais do desenvolvimento de tecnologias de informação, princípios éticos e
normas da comunicação virtual e questões morais relacionadas à comunidade
midiática.
O estado atual do ambiente da informação é, frequentemente, descrito como
hegemonia pós-verdade. O falso parece reinar no mundo das notícias,
transformando a produção de opiniões em teorias conspiratórias e malabarismos
insanos.
Vamos assistir ao vídeo no qual o professor Luís Mauro fala sobre Fake News?

https://www.youtube.com/watch?v=WFzk12KPYvE

Agora que assistimos ao vídeo, podemos refletir: quem irá monitorar as falsas
notícias? Como filtrá-las? Essas questões permanecem abertas até hoje.
Chegamos ao final do segundo bloco! Agora que já entendemos melhor alguns
dos principais conceitos sobre ética, ficará mais fácil irmos para o próximo bloco.
Vamos avançar?
REFERÊNCIAS

VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1992.


33ªED.(2012)

DUBRIN, A. J. Fundamentos do comportamento organizacional. Trad. James


Sunderland Cook e Martha Malvezzi Leal. São Paulo: Thomson, 2003. 471 p.

HARMAN, Gilbert; THOMSON, Judith Jarvis. Moral relativism and moral


objectivity. 1996.

RACHELS, James; RACHELS, Stuart. Os elementos da filosofia moral. AMGH


Editora, 2013.
HONDERICH, Ted (Ed.). Morality and Objectivity (Routledge Revivals): A
Tribute to JL Mackie. Routledge, 2013.
HERRERO, F. Javier. A ética de Kant. Síntese: Revista de Filosofia, v. 28, n.
90, p. 17-36, 2010.
DE ALMEIDA, Guido Antônio. Liberdade e moralidade segundo Kant. Analytica.
Revista de Filosofia, v. 2, n. 1, p. 175-202, 1997.
WEBER, Thadeu. Autonomia e dignidade da pessoa humana em Kant. Revista
Brasileira de Direitos Fundamentais & Justiça, v. 3, n. 9, p. 232-259, 2009.
SILVEIRA, S. A. (Org.) (2010). Cidadania e redes digitais. São Paulo: Comitê
Gestor da Internet no Brasil/Maracá – Educação e Tecnologias.
FLORIDI 2013 – Floridi L. The Ethic of Information. – Oxford: Oxford
Scholarship Online, 2013.

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