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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES


FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
ESPECIALIZAÇÃO EM JORNALISMO CULTURAL

Disciplina: Literatura e Jornalismo


Professora: Patrícia Miranda
Aluna: Érica Viana dos Santos

Introdução
Através de anos a cultura vem sendo objeto de estudo, através de sua origem,
marcas nas sociedades e construções antropológicas. Compreender seus sentidos gerou
um intenso debate e suas significações continuam a se transformar. Ao direcionar sua
compreensão no espectro do jornalismo o leque de possibilidades e questionamentos
aumentam. O estudo será na estrutura de uma análise exploratória descritiva a partir do
conceito de cultura e tendo como empiria o canal de Youtube Ler antes de morrer da
Jornalista Isabella Lubrano, entendido como uma das materializações do jornalismo
cultural. A necessidade da análise surge para compreender como a transformação dos
significados de cultura vêm se moldando na contemporaneidade do jornalismo. Sendo
assim, o presente trabalho busca analisar as concepções acerca das compreensões da
cultura nos meios digitais.

Jornalismo Cultural
Antes de compreender e discutir a literatura no jornalismo cultural, é notória a
importância do conhecimento acerca da cultura. Para isso iremos abordar cultura em
Eagleton (2011). O autor em sua obra A ideia de cultura transpõe o universo
etimológico da palavra. Trabalha as suas origens e modificações conforme a mudança
da sociedade. Cultura, segundo Eagleton (2011), vem da palavra cultivo, aquilo que
nasce naturalmente, traz a noção de natureza. Ademais, sua construção em sociedade se
transforma à medida em que o ser ultrapassa a barreira do objetivo em busca do
subjetivo.
O autor ainda argumenta a evolução dos significados de cultura, passando por
costumes de um povo, civilização e da agricultura ao urbano. Eagleton (1943) entende
cultura como: “A cultura pode ser aproximadamente resumida como o complexo de
valores, costumes, crenças, e práticas que constituem o modo de vida de um grupo
específico.” (EAGLETON, 2011, p. 54). Desse modo, a cultura ainda está sendo

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trabalhado como um aspecto social, de comunidade, aquela que reúne em determinado
ponto específico a congruência de afinidades entre pessoas.
         A cultura, porém, evoluiu com o tempo e sua função social também. Eagleton
(2011) afirma:
“No mundo pós-moderno, a cultura e a vida social estão mais uma vez
estreitamente aliadas, mas agora na forma da estética da mercadoria, da
espetacularização da política, do consumismo do estilo de vida, da
centralidade da imagem, e da integração final da cultura dentro da produção
de mercadorias em geral.” (EAGLETON, 2011, p. 48)

 Cabe, portanto, compreender a ligação entre a cultura e o jornalismo.


Acompanhando tal evolução da sociedade e para tornar o jornalismo mais ágil em sua
produção, foram criadas as editorias. Política, economia, cidade, caderno cultural são
algumas das separações. Há quem tente entender a origem dessa necessidade em dividir
e Ballerini (2015) comenta sobre o tema. O autor cita Medina (2007) que traz a
Revolução Industrial como base para a divisão do trabalho no processo de apuração dos
jornalistas. E dessa forma, o jornalismo cultural torna-se uma dessas vertentes.
Os jornais em sua origem eram caracterizados com extensos textos opinativos e
pouca publicidade. Atualmente, observa-se uma redução nos textos de opinião, ficando
a cargo das colunas e artigos. Tal ponto demonstra o surgimento, de fato, da estética da
mercadoria agindo sobre o jornalismo cultural e a sociedade.
Após décadas, os anúncios conseguiram obter grande espaço na imprensa,
ocupando o lugar da notícia, eram os jornais aflorando em sua essência o comercial. O
jornalismo cultural, sendo assim, é incluído nos periódicos, revistas e sites de notícias,
como forma de levar informações ao público a respeito das artes, peças teatrais,
exposições, dos shows e afins. Para Ballerini (2015) o jornalismo cultural é o meio entre
a arte e o público. Porém, há controvérsias em relação à qualidade das notícias com
cunho cultural. Com o advento da internet, a comunicação viu a necessidade em
acompanhar a sociedade no sentido da rapidez e fluidez dos assuntos. Poucas pautas
culturais estão sendo trabalhadas com a profundidade e investigação necessária. 
Jornalismo cultural, segundo o autor, é uma reflexão.

A cultura em Barbero
Compreendi ser importante uma aproximação com a obra de Jesus Martin
Barbero (1987) por acreditar que o produto cultural escolhido para a análise parte de
uma premissa em ser acessível ao grande público. O canal do Youtube Ler antes de

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Morrer apresenta resenhas dos clássicos da literatura. A criadora, Isabella Lubrano é
uma jornalista e bookmaker que resenha obras literárias com uma linguagem próxima
daqueles que a assistem. A maior parte dos seus vídeos possuem por volta de 10.000
visualizações, alguns atingem números maiores como será explicado mais adiante,
porém se formos analisar a cultura da leitura do nosso país é um número animador. Há
muito o que melhorar, claramente, mas a Isabella segue há anos no intuito de apresentar
de forma clara e concisa obras que muitos tem medo de ler. 
Desse modo, ao falar sobre uma cultura crescente das novas gerações, chegamos
ao que Barbero (1987) analisa no conceito de Gramsci: Hegemonia.
“Possibilitando pensar o processo de dominação social já não como
imposição a partir de um exterior e sem sujeitos, mas como um processo no
qual uma classe hegemoniza, na medida em que representa interesses que
também reconhecem de alguma maneira como seus as classes subalternas. E
"na medida" significa aqui que não há hegemonia, mas sim que ela se faz e
desfaz, se refaz permanentemente num "processo vivido", feito não só de
força, mas também de sentido, de apropriação do sentido pelo poder, de
sedução e de cumplicidade.” (BARBERO, 1987, p. 104)

Importante pensar, portanto, a necessidade em compreender a evolução dos


processos. Não seria correto pensar em superficialidade ao se tratar dos canais de
bookmakers, ou até mesmo imaginar uma superficialidade no conteúdo. Tempos adiante
iremos precisar nos acostumar com novos meios e formas de se comunicar. Se os jovens
estão lendo menos será necessário conversar na linguagem deles e, atualmente, tais
plataformas digitais vêm se tornando o melhor caminho.
Barbero comenta Cirese em uma passagem em que pontua noções de cultura
hegemônica com essa ideia de “classes subalternas”, trazendo para o presente trabalho
como aqueles que fomentam o canal dos bookmakers como novas formas de
representatividade da cultura. O autor diz: 
“Em um trabalho de explicitação e desenvolvimento da concepção
gramsciana do popular, A. Cirese toma por essencial o conceber "a
popularidade como um uso e não como uma origem, como um fato e não
como uma essência, como posição relacional e não como substância". Quer
dizer que frente a toda tendência culturalista, o valor do popular não reside
em sua autenticidade ou em sua beleza, mas sim em sua representatividade
sociocultural, em sua capacidade de materializar e de expressar o modo de
viver e pensar das classes subalternas, as formas como sobrevivem e as
estratégias através das quais filtram, reorganizam o que vem da cultura
hegemônica, e o integram e fundem com o que vem de sua memória
histórica.” (BARBERO, 1987, p. 105)

Canal Ler Antes de Morrer 

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Segundo informações da própria Isabella Lubrano, criadora do canal, em um site
de apadrinhamento do seu projeto, o Padrin, comentou que o início de tudo foi assim: 
“O projeto Ler Antes de Morrer surgiu em 2011. No começo, ele era só um
blog onde eu, então estudante de jornalismo, praticava redação e resenhava
os livros que eu tinha que ler para a Faculdade. A brincadeira era tentar ler e
resenhar 1001 livros antes de morrer - e daí o nome. Mas uma revolução
aconteceu em 2014: migrei para o YouTube e comecei a alcançar muito mais
gente. O sucesso me levou a criar uma frequência semanal de publicações,
escrever roteiros, encomendar vinhetas, imaginar novos quadros, desenhar
banners e fazer tudo mais que tinha direito. Enfim, o negócio se
profissionalizou. Aos pouquinhos, o canal Ler Antes de Morrer começou a
atrair a atenção das pessoas por aí. Afinal, não é em todo lugar que a gente
acha conteúdo sobre literatura com qualidade e bom humor, não é verdade?
Só o que nos falta (talvez) é modéstia. Hoje, a comunidade Ler Antes de
Morrer já reúne 500 mil inscritos. Em 2020, nossa página no YouTube se
tornou o maior canal sobre livros em todo o Brasil! Já são mais de meio
milhão internautas inscritos em toda as nossas redes sociais: YouTube,
Instagram, Facebook e Twitter. E ainda há quem diga que não existe vida
inteligente na internet brasileira, não é? Além disso, deixa claro ao público
que pretende ajudá-la nessa empreitada as origens de alguns dos recursos
fixos para manter o canal ativo: 1) Parceria com livrarias, como a Amazon,
Saraiva e Livraria Cultura (Entendeu agora por que eu sempre insisto para
comprar livros usando links que eu deixo na descrição dos vídeos? Isso
garante uma pequena comissão para o canal) 2) Palestras em escolas ou
empresas 3) Merchandisings, os famosos "publieditoriais".” (LUBRANO,
2017)
 
A marca Ler antes de morrer está presente no Youtube, Instagram, Facebook e Twitter.
Cada mídia possui uma linguagem diferente, porém, dei atenção exclusiva para uma
análise introdutória na plataforma digital em que há mais visualizações e interação com
o público: Youtube.

Análise do canal
Optei por compreender alguns aspectos de determinados vídeos do canal, como
por exemplo escolha dos locais de gravação, narrativas para a apresentação dos livros,
observações quanto a escolhas técnicas de áudios e efeitos, além, claro, das escolhas das
obras resenhadas.
No 1° vídeo do canal: Relato de um náufrago - Gabriel García Marquez (2014),
a criadora de conteúdo decidiu por introduzir um contexto histórico sobre a vida do
autor da obra e ganhador do Prêmio Nobel. A narrativa se apresenta com elogios ao
autor e comenta sobre a qualidade na escrita e o início do famoso engajamento político
nas obras de Marquez. O local escolhido para a gravação do vídeo foi um lugar
tranquilo como jardim e piscina.

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O segundo vídeo é importante pois a Isabela realiza a gravação com o cenário
que irá marcar seus vídeos, com a estante atrás dela. Passa maquiagem e logo após lê o
trecho do livro que será resenhado. Talvez essa parte de se produzir antes de iniciar de
fato o vídeo tenha sido uma tentativa de observar públicos-alvo. Atualmente, inclusive,
é muito comum pessoas se maquiarem enquanto comentam assuntos relacionados aos
seus conteúdos. Porém, o que vingou mesmo para o canal Ler antes de morrer foram as
resenhas.
O vídeo que primeiro atingiu a marca das 100.000 visualizações foi o oitavo, há
anos, e nele foi possível notar uma característica da Isabela: ser crítica não só em
relação à obra, mas também ao que estiver no universo do livro, como a editora por
exemplo. Neste vídeo, antes da resenha, ela faz uma crítica à Editora Hemus por não
sinalizar que o livro era condensado. À época não houve grandes polêmicas, mas
importante notar que não eram todos os bookmakers que faziam esse tipo de
comentário.
As 500.000 mil visualizações não vieram de um vídeo com a Isabela
resenhando, o vídeo foi sobre dicas de como conseguir ler mais. Com 10 minutos e 22
segundo resumiu algumas das principais técnicas utilizadas por ela para atingir sua meta
de ler uma maior quantidade de livros. Portanto, sugere uma vontade por parte do
público em saber como trazer a rotina da leitura para suas vidas. As dicas são:

1 - Escolha com cuidado a edição e tradução


2 - Não consulte cada palavra no dicionário
3 - Dê uma forcinha para sua imaginação
4 - Leia prefácios e textos de apoio. Não mergulhe no escuro.
5 - Jogue seus preconceitos no lixo “Livro clássico não é sinônimo de livro velho”

Um dos vídeos mais longos é o também o mais assistido do canal. O príncipe de


Nicolau Maquiavel recebeu em seu vídeo edição de Game of Thrones. Pelo vídeo ser
muito longo e entender que muitos não iriam se interessar pela contextualização
histórica, a Isabella deixou na descrição a minutagem para avançar para a resenha.
Comenta que precisou fazer uma grande pesquisa para fazer o vídeo. Inicia o vídeo,
como dito acima, com uma passagem de Game of Thrones em que um dos personagens
lê O príncipe. A partir de 2018, a Isabela busca trazer cada vez mais livros clássicos de

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diversas áreas para fazer a resenha. Altera, portanto, a ideia que o canal sempre trouxe
de resenhar somente livros de ficção.
Por fim, a resenha do livro de Machado de Assim: Dom Casmurro. É o livro
brasileiro mais visualizado até a data de entrega deste trabalho. Não reduz seus vídeos a
comentar os livros, traz também na maior parte deles o contexto histórico juntamente
com pontuais observações sobre as editoras ou outras ordens técnicas. 

Bibliografia

BALLERINI, F. Jornalismo cultural no século 21. São Paulo: Summus, 2015.


EAGLETON, T. A ideia de cultura. São Paulo: Editora Unesp, 2011. P. 9 - 50.
MARTÍN-BARBERO, Jesus. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: UFRJ, 1987.
PADRIN. Publicado em: 2017. Disponível em: https://www.padrim.com.br/lerantesdemorrer. A
cesso em: 01 jul. 2021.
YOUTUBE. Relatos de um náufrago. Publicado em: 05 mai. 2014. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=kQ9odA4OKP4 . Acesso em 01 jul. 2021.
_________. Publicado em: 25 mai. 2014. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
v=ycOYqgly_YI. Acesso em: 01 jul. 2021.
_________. Publicado em: 30 jan. 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
v=H9RVJZ9AnZ8. Acesso em: 01 jul. 2021.
_________. Publicado em: 18 dez. 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
v=cgEDCx6yq10. Acesso em: 01 jul. 2021.

_________. Publicado em: 26 jan. 2018. https://www.youtube.com/watch?v=SCZQzThIXBE A
cesso em: 01 jul. 2021.
_________. Publicado em: 26 mai. 2015 https://www.youtube.com/watch?v=Y67JAGsWBIg A
cesso em: 01 jul. 2021.

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