Você está na página 1de 4

ANÁLISE FÍLMICA: O

QUATRILHO

Maria Isadora Galvão


Brasil III - UNIOESTE
O presente trabalho procurará discutir e analisar, de forma geral, o filme “o
quatrilho”, obra cinematográfica lançada no ano de 1995, dirigida por Fabio Barreto.
Baseado na obra literária de José Clemente Pozenato, o filme foi indicado ao Oscar no
ano de 1996, como melhor filme estrangeiro. O longa conta a história de dois casais de
imigrantes italianos entre os anos de 1910 e 19130, inseridos no Rio Grande do sul. Em
busca de melhores condições, e almejando a compra de terras, Ângelo, chama seu
amigo Massimo para morarem juntos, comprando uma colônia e dividindo o trabalho e
as dívidas. Em dado momento, insatisfeitos com seus casamentos, Teresa, casada com
Ângelo, decide fugir com Massimo, que é casado com Pierina, abandonando as terras e
seus respectivos pares. A partir da obra de ficção, podemos observar e debater diversos
pontos relacionados a imigração italiana, suas representações, o ideal do trabalho,
formas de viver, relações com a religiosidade, como também a noção de anarquismo
italiano que o diretor quis representar.

As ondas populacionais da Europa para o brasil se concentraram de forma mais


sucinta entre os anos 1830 e 19301. Algumas representações desses imigrantes italianos
são expostas no decorrer do filme. Trabalhadores, sempre labutando em suas terras,
visando melhores condições e pensando no trabalho antes de qualquer coisa, “no meio
rural, a casa é a unidade econômica de base, e suas necessidades se impõem a seus
interesses”. Acredito ser interessante mencionar a dicotomia exposta no filme, na qual
um dos protagonistas, Ângelo, ideal imigrante, trabalhador e ambicioso, é chamado de
capitalista várias vezes durante o longa, enquanto em oposição, nos é apresentado o
anarquista, outro personagem, também trabalhador, mas que enxerga a exploração
presente na busca por uma vida melhor. No artigo intitulado “o Quatrilho: literatura e
história na obra de José Clemente Pozenato” de Monique Cerine Rodriges, essa pontua:

Através do personagem analisado, Ângelo Gardone, é possível perceber


conceitos intrínsecos ao contexto histórico da época, como por exemplo, o
capitalismo, conceito esse que muitos ali, inclusive Ângelo, nem mesmo sabia o que
significava, mas que tinha sido talvez o principal motivo pelo qual ele estava no
Brasil, como colono.2

1
História da vida privada no Brasil./ Vários autores/ Alvim, Zuleica. A vida privada dos pobres no campo.
Pagina: 216
2
Rodriges, M. C.- o Quatrilho: literatura e história na obra de José Clemente Pozenato”
Pagina: 70.
A religiosidade também é vista de forma palpável na obra cinematográfica, nos
mostrando o papel da religião na vida destas pessoas. Zuleica Alvim pontua o papel da
religião na vida desses imigrantes, levantando a questão de que, abandonados pelos
governantes de seus países, não sendo acolhidos pelos países aos quais chegavam,
encontravam na espiritualidade um caminho para lidar com as circunstâncias da vida 3. A
presença do padre, e da religião em sí é sentida em vários momentos do filme, de forma
direta, ou indireta. Em casamentos, aconselhando fiéis, mas também ditando ordens de
bons costumes, moralizantes, que podemos analisar como formas de controle social.
Ângelo, como já dito, é viso como um ideal de imigrante, trabalhador ambicioso.
Quando este começa a conquistar uma posição social de prestígio, o padre o convida
para administrar a igreja, pedindo para que este também construa uma nova, de pedras
ou tijolos, pois já que a colônia estava evoluindo, a casa de deus também deveria
demonstrar isso. Porém, quando Teresa foge, Ângelo começa a ser mal visto pelo padre,
que retira o convite, e diz aos fieis para que se afastem de Ângelo, já que este continua a
morar com Pierina, mulher de Massimo. Ou seja, podemos analisar o poder da igreja no
meio social, e como aqueles seres sociais lidavam com as imposições feitas por esta.

A figura da mulher imigrante no filme também deve ser ressaltada. Em uma das
cenas, um senhor comenta que a mulher deve ser boa no serviço, não importando seu
tipo físico, desde que esta seja boa para o trabalho. Além disso, é claro, deveria ser boa
em parir filhos pois, estes poderiam ajudar nos afazeres da terra e da casa. O ideal da
mulher “trabalhadeira” e boa pra casar é capaz de nos fazer refletir, novamente, sobre o
ideal do imigrante trabalhador. A mulher imigrante, pontuada na história muitas vezes
como pilar da vida privada, era sobrecarregada, pois além de trabalhar na roça, eram
estas que ainda cuidavam da casa, das crianças, da comida, enfim, tanto dos afazeres
domésticos quanto rurais.

Após serem abandonados por seus pares, Angelo e Pierina passam a prosperar
cada vez mais, expandindo seus negócios, ao fim do filme estes se tornam donos de
negócios na cidade, se mudando também para a mesma, atingindo assim, o objetivo
central do ideal do colono imigrante, conseguir prosperar no novo mundo.

Concluo esta pequena análise fílmica ressaltando a importância do uso


cinematográfico como fonte histórica, tendo em mente seus desafios e limites, assim

3
História da vida privada no Brasil./ Vários autores/ Alvim, Zuleica. A vida privada dos pobres no campo.
Página: 261
como qualquer outro documento histórico. A partir disso, podemos concluir que, ao
analisar o discurso imagético utilizado pelos produtores para o desenvolvimento do
filme, estes, utilizaram os recursos disponíveis para ressaltar situações e dar um
significado a estas.

Você também pode gostar