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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO


DIRETORIA DE ENSINO E INSTRUÇÃO
ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA
CURSO DE INSTRUTOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA l/00

A IMPORTÂNCIA DO TESTE DE APTIDÃO FÍSICA


PARA ACESSO AO CURSO E À TROPA DE
CONTROLE DE DISTÚRBIOS CIVIS DO 3º BPChq

Trabalho exigido para a obtenção de


Licenciatura em Educação Física.

Monografia elaborada pelo


1º Ten PM Claudio Rogério Ulhôa Cintra

São Paulo -2003


2

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO


DIRETORIA DE ENSINO E INSTRUÇÃO
ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA
CURSO DE INSTRUTOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA l/00

A IMPORTÂNCIA DO TESTE DE APTIDÃO FÍSICA


PARA ACESSO AO CURSO E À TROPA DE
CONTROLE DE DISTÚRBIOS CIVIS DO 3º BPChq

Trabalho exigido para a obtenção de


Licenciatura em Educação Física.

Autor: 1º Ten PM Claudio Rogério Ulhôa Cintra


Orientador: Cap PM Sérgio Ricardo Morette

São Paulo -2003


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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Claudete e Geraldo,


que me ensinaram o caminho a trilhar, e
sempre me apoiaram no sentido da retidão.
4

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, que me permitiu a vida, a chance de errar e de poder


aprender.

A minha namorada Eliane, pela sua compreensão, paciência e horas que


dispendeu em conhecimentos de informática no auxílio deste trabalho.

Ao meu irmão, pelo companheirismo de sempre.

Ao Cap PM Sérgio Ricardo, meu orientador, e ao Ten Forner, pelos


aconselhamentos a este trabalho.

Aos Ten PM Friano, Ten PM Rolim, e Ten PM Flávio Gomes, amigos que
muito auxiliaram em propostas e correções.

Ao Sgt PM Wandir, que com seus conhecimentos, muito elucidou e


estimulou o desejo do saber.

Ao TCel PM Antonio Carlos, pelas propostas e disponibilização de fontes de


pesquisa.

Ao Cap PM Neves, pelo entusiasmo na cooperação, atenção despendida e


disponibilização de meios e informações.
5

Ao Cap PM Souza, pelos vários aconselhamentos e propostas de trabalho e


seleção.

Ao Sgt PM Camboim e aos demais Sargentos, Cabos e Soldados das 1ª e 2ª


Companhias do 3º BPChq, sem os quais não seria possível a análise e conclusões
deste trabalho.

Aos meus mestres, em especial o Prof. Edman Altheman, os quais me


ensinaram a pesquisar.

Ao Ten PM Vanzeli, pelos auxílios em informática.

Ao Cel PM Máximo, a quem devo a oportunidade de poder efetuar este


curso.

E a todos que, direta ou indiretamente contribuíram para a conclusão do


curso de Educação Física.
6

LISTA DE FIGURAS e GRÁFICOS

Figura 01 Braço 23

Figura 02 Musculatura do ombro 25

Figura 03 Musculatura do ombro, costas e pescoço 26

Gráfico 01 Escudeiro/Lesões 48

Gráfico 02 Granadeiro Atirador 49

Gráfico 03 Granadeiro Lançador 50

Gráfico 04 Comandante de Grupo 51

Gráfico 05 Outras funções 52

Gráfico 06 Lesões em 94 indivíduos 53

Gráfico 07 Fatores considerados desgastantes em curso 54

Gráfico 08 Serviços desgastantes 55

Gráfico 09 Auxílio médico 56

Figura 04 Trapézio, deltóide, iliocostal e outros 60

Figura 05 Trapézio 61

Figura 06 Trapézio (parte superior) e deltóide 62

Figura 07 Levantamento terra 63

Figura 08 Puxada horizontal com barra 64


7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10
1 FATORES DE SOBRECARGA 14
1.1 Equipamentos 14
1.1.1 Fardamento 14
1.1.2 Cinturão 14
1.1.3 Coturno 14
1.1.4 Capacete 15
1.1.5 Coletes 15
1.1.6 Escudos 15
1.1.7 Cassetete 16
1.1.8 Máscara contra gases 16
1.1.9 Joelheira/Caneleira 16
1.1.10 Comunicações 17
1.1.10.1 Rádios 17
1.1.10.2 Megafone 17
1.2 Armamento 17
1.2.1 Lançador "Federal" (“Thru-flight”) 17
1.2.2 Carabina Rossi mod. 67 Puma 17
1.2.3 Submetralhadora 9mm 18
1.2.4 Espingarda de calibre 12 18
1.2.5 Caixa de choque 18
1.2.6 Também devem ser previstos 18
1.3 Viaturas de Controle de Distúrbios Civis 19
1.3.1 Microônibus 19
1.3.2 Viaturas "espinha de peixe" 19
1.3.3 Carro de Controle de Distúrbios Civis (CCDC) “CENTURION” 19
1.3.4 Caminhão lonado 20
2 MUSCULATURA ENVOLVIDA 22
2.1 Musculatura dos membros superiores 23
2.1.1 Elevação, sustentação e descensão do escudo 23
2.2 Golpe de cassete 24
2.3 Musculatura do tronco 25
2.4 Musculatura dos membros inferiores 27
3 PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO FÍSICO 28
28
8

3.2 Princípio da Adaptação 29


3.3 Princípio da sobrecarga 29
3.4 Princípio da especificidade 31
3.5 Princípio da interdependência volume-intensidade 32
4 QUALIDADES FÍSICAS ENVOLVIDAS NAS AÇÕES DE 34
CHOQUE
4.1 Resistência física 34
4.2 Resistência aeróbia 35
4.3 Resistência anaeróbia 37
4.4 Resistência muscular localizada 38
4.5 Força dinâmica 40
4.6 Força explosiva 41
4.7 Força estática 43
5 A SOBRECARGA DOS EQUIPAMENTOS E ARMAMENTOS, E OS 44
RESULTADOS PROVOCADOS NOS POLICIAIS MILITARES
5.1 Dispêndio de energia – comparativo a partir do calçado. 44
6 EXERCÍCIOS PROPOSTOS 57
6.1 Corrida de 4.000 metros 57
6.2 Corrida de 40 segundos 57
6.3 Subida no cabo vertical 58
6.4 Teste de flexão de abdome 58
6.5 Teste para os músculos de sustentação da cabeça e parte superior dos 59
ombros
CONCLUSÃO 66
BIBLIOGRAFIAS 70
ANEXO QUESTIONÁRIO DISTRIBUÍDO ÀS 1ª E 2ª 72
COMPANHIAS
GLOSSÁRIO 74
9

RESUMO

Esta monografia visa identificar alguns aspectos que, entre outros,


demonstrem a importância de existir um método de seleção que restrinja o acesso e
permita a qualificação do policial militar que tenha por intenção frequentar o curso
ou trabalhar nas 1ª ou 2ª Companhias do 3º BPChq, que atuam na missão de
Controle de Distúrbios Civis, na PMESP. Tal seleção, que observa as qualidades
físicas básicas do candidato, baseia-se em identificar os melhores preparados para
tais atividades, calcada em características físicas específicas e na necessidade de o
policial ter que carregar junto ao seu corpo, ou levar consigo aos locais em que
tenha necessidade de atuar contra os grupos que estejam perturbando a ordem
pública, grande quantidade de equipamentos de proteção e defesa, o que resulta em
suportar sobrecarga durante toda a atuação, tendo em vista as atribuições
específicas de tal tropa, e aplicação dos gestos motores específicos, que resultam
em emprego diferenciado de grupos musculares (em relação aos gestos motores das
demais modalidades de policiamento), que determinam em desgaste físico
diferenciado e lesões específicas, os quais são agravados pelo treinamento e
emprego real, caso o policial não possua sua estrutura músculo-tendínea bem
preparada para suportar as “agressões” provocadas pelas atividades ao seu corpo.
Tal trabalho foi construído por pesquisas bibliográficas, consulta aos policiais
militares da tropa a qual se destina este trabalho, e considerações pessoais do autor
e de outros policiais, afetos à modalidade de policiamento, e identificou ainda
outros problemas que podem ser objeto de estudo de outras obras.
10

INTRODUÇÃO

Durante um Curso de Controle de Distúrbios Civis, realizado no 3º Batalhão


de Polícia de Choque, foram identificados alguns problemas (ou deficiências)
referentes ao preparo físico dos policiais (no caso oficiais) nele matriculados;
problemas estes decorrentes da falta de preparo físico individual para suportar os
exercícios aplicados e para resistir ao peso dos equipamentos necessários à
segurança individual e coletiva.

Constatou-se esse despreparo também nas atividades rotineiras como correr


com o equipamento de proteção individual: capacete de CDC, colete de proteção
balística, cotoveleiras, caneleiras, cinto para o equipamento, vestimenta apropriada,
o escudo de proteção balística, entre outros, este último pesando cerca de 09 quilos,
que em alguns momentos já era motivo de desgaste ou incapacidade para uma
minoria, quer pelo desgaste físico ao qual os alunos do curso eram submetidos,
quer pelo estresse psicológico decorrente do ritmo e da pressão instituída ao curso,
quer por lesões anteriores ou advindas de exercícios de atividade física praticados
em momentos anteriores, já no próprio curso, devido à falta de um conjunto
músculo-articular preparado para tais atividades de sobrecarga.

No Curso de CDC a motivação inicial era a busca de conhecimentos e de


técnicas que pudessem ser empregadas na prática da atividade de policiamento.
Esta motivação é normal no aluno voluntário, mas consideremos que um policial
militar por algum motivo, que não sua voluntariedade, fosse movimentado para
uma das duas Companhias de Choque que tem como missão o Controle de
11

Distúrbios Civis, e com a falta de motivação não cumpra bem o seu dever,
colocando-se em risco de acidente ou morte não só sua vida, mas a integridade de
seu pelotão ou Companhia, a integridade de terceiros ou ainda vir a expor
negativamente o nome da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Tem-se então dois fatores que comprometem não apenas o indivíduo, mas a
célula una, que não pode se dividir, que é o pelotão de choque em formação e a
Instituição Policial Militar: 1º) o elemento humano motivado, mas em condições
físicas inadequadas ao serviço, 2º) o elemento humano desmotivado ou que não
pretende atuar na missão e/ou, ainda que motivado, não reúna condições para
atuação, como seria o caso de um policial militar que fosse transferido para a
Unidade Operacional (UOp), mas que não possuí essas condições físicas mínimas
para a atuação no cumprimento da missão.

Esta situação foi tratada junto a este signatário pela primeira vez ao final do
CCDC, onde, em contato informal com oficiais do 3º BPChq, a maioria deles
docentes desse curso, e alguns alunos foi efetuada avaliação informal do
aproveitamento do curso e colocada em pauta a situação vivida pelo policial militar
que não está em condições de realizar o curso ou de trabalhar na tropa de Controle
de Distúrbios Civis devido à sua condição física inadequada para a atividade fim.

O problema estudado neste trabalho é a falta de padronização na seleção dos


policiais militares que atuarão em ocorrências de Controle de Distúrbios Civis.
Visa o êxito da missão, a uniformidade, não a estética, mas na formação corporal
do policial militar; evitando lesões aos policiais militares despreparados
fisicamente; atuar minimizando as insuficiências dos policiais militares na atuação
12

por falta de condicionamento físico; evitar o fracasso da missão; e evitar que o


pelotão entre em colapso por deficiência de um policial militar que não reúna as
condições mínimas para a atuação específica de Controle de Distúrbios Civis, das
1ª e 2ª Companhias do 3º Batalhão de Polícia de Choque, da Polícia Militar do
Estado de São Paulo.

A delimitação restringe-se aos policiais militares e, ainda, aos policiais e


militares encaminhados pelo Comando de Operações Terrestres – CoTer - do
Estado Maior do Exército Brasileiro - EMEB), que almejam o ingresso no Curso de
Controle de Distúrbios Civis e à tropa de Controle de Distúrbios Civis

A hipótese levantada que, selecionado o policial militar, pode-se concluir


que este terá as condições físicas necessárias para suportar a carga de equipamentos
de proteção individual e a de proteção coletiva, bem como o armamento, e ainda
assim poderia acompanhar o demais policiais militares em seus trabalhos de
condicionamento físico, orientados pela Unidade Operacional e, portanto, resultaria
no desempenho esperado da missão atribuída, sem causar prejuízos ao policial
militar, ao pelotão de Controle de Distúrbios Civis, e ao Estado.

O objetivo deste trabalho:por meio da identificação dos principais grupos


musculares empregados nos gestos motores específicos e da determinação das
principais lesões decorrentes das repetições e da sobrecarga de equipamentos,
poder propor exercícios ou atividades que determinem as qualidades físicas
necessárias à seleção do policial militar, para o bom desempenho de suas funções
no pelotão de Controle de Distúrbios Civis, evitando lesões, e identificando o
policial militar melhor preparado entre os demais que se habilitem à tal missão.
13

A justificativa para esta pesquisa é a ausência de padrão de seleção e,


mesmo, de seleção; uma vez que qualquer policial militar consegue acesso à
Subunidade via Relação de Prioridade de Transferência (RPT) ou que seja
movimentado à Subunidade por outras razões que não sua vontade expressa ou a do
3º BPChq.

A metodologia empregada baseia-se em pesquisas bibliográficas e


documental e pesquisa por meio de questionário, com a finalidade de constatar a
situação atual, e o enfoque hipotético-dedutivo com técnicas de análise de
conteúdo.
14

CAPÍTULO 1

FATORES DE SOBRECARGA

O pelotão de choque é composto basicamente por 26 homens, divididos em


variadas funções, a cada uma cabendo o fardamento, o equipamento de proteção
individual e equipamento/armamento específico.

1.1 EQUIPAMENTOS

1.1.1 Fardamento

É de algodão, com acolchoamento em algumas partes, e com mangas longas


para proteção do policial.

1.1.2 Cinturão

De “nylon” trançado, fixado sobre o fardamento, com a finalidade de


carregar outros equipamentos (coldre, revólver ou pistola, porta-carregador,
carregadores sobressalentes, algemas, luva de látex, faca, cantil de 1 litro para água,
espargidor, carregador sobressalente para submetralhadora).

1.1.3 Coturno

De couro, tecido e solado de borracha;


15

1.1.4 Capacete

Construído de material composto de fibra de vidro e resina termofixas, o que


proporciona alta resistência à penetração de objetos e tem alta capacidade de
absorção de impactos. A face é protegida por uma viseira basculante de
policarbonato de alta resistência e transparência superior a 85%. Suporta uma
energia de impacto de no mínimo 6 kg com absorção de 94% da mesma. O peso
médio é de 1,2 kg.

Como acessório o capacete possui uma capa de aramida protegida por


“nylon” impermeável. Seu peso é aproximadamente 700 g.

1.1.5 Coletes

São coletes fabricados a partir de placas laminadas de aramida, com a


finalidade de proporcionar proteção balística contra projéteis de arma de fogo
provenientes de armas curtas.

1.1.6 Escudos

Podem ser de dois tipos de material:

a) escudos de policarbonato transparente:

São construídos com uma chapa de policarbonato transparente, retangular e


recurvada no sentido longitudinal para dentro. Tem altura de 90 cm e pesa 3 Kg.
16

b) (balísticos):

São montados em placas de amianto e fibra de vidro, por essa razão , além de
resistirem aos impactos normais, resistem a projéteis de arma de fogo. Possuem
viseira de plástico de alto impacto com transparência superior a 70%. Tem altura de
1 m e pesa 9 Kg.

1.1.7 Cassetete

Feito de borracha dura com fio de aço flexível em seu interior. Mede cerca
de 58 cm.

1.1.8 Máscara contra gás

A máscara contra gás permite a permanência do homem em atmosfera


contaminada, sem que inspire ar contaminado. É o principal meio de proteção
individual, tanto em ambiente químico, quanto biológico ou radioativo. Protege o
aparelho respiratório, principal porta de entrada dos agentes químicos para o
organismo, e os olhos, também altamente sensíveis aos agentes.

1.1.9 Joelheira/caneleira

Conjunto de material plástico resinado, destinado a ser fixado à perna/joelho


para propiciar proteção a essas regiões, contra materiais arremessados ou choque
contra objetos.
17

1.1.10 Comunicação
Os meios de comunicação utilizados em CDC são:

1.1.10.1 Rádios (estações móvel e portátil);

1.1.10.2 Megafone.

1.2 Armamento

1.2.1 Lançador "Federal" (“Thru-flight”)

Arma de procedência norte mericana, construída com liga de alta resistência


o que lhe confere pouco peso e grande durabilidade. Destinado a cartuchos com
agente lacrimogêneo ou anti-motim, no calibre 38.1 mm, a que são propelidos a
distâncias maiores de que as granadas manuais ou para lançar por sobre muros e
multidões.

1.2.2 Carabina Rossi mod. 67 Puma

No calibre .38 SPL/.357 “Magnum”, com capacidade para 10 tiros, com


comprimento total de 94,9 cm e peso de 2.800 g.
18

1.2.3 Submetralhadora 9mm

Metralhadora “Beretta” M-972, no calibre 9mm “Parabellum”, com


capacidade para 30 ou 40 cartuchos e peso, com carregador com 40 cartuchos, de
3,92 kg.

1.2.4 Espingarda calibre 12

Capacidade para 08 cartuchos, com comprimento de cano de 19 polegadas.

1.2.5 Caixa de choque

É uma caixa de madeira medindo aproximadamente 70 x 110 x 20 cm onde


são acondicionados os materiais e munições de um determinado pelotão de choque,
e conterá:

a) munição química e armamento sobressalente;


b) algemas;
c) munição convencional;
d) espargidores;
e) outros materiais e equipamentos de pequeno porte.

1.2.6 Também devem ser previstos:

a) holofotes, lanternas ou outros artefatos de iluminação;


b) cordas e cabos de aço;
19

c) concertinas, cavaletes, travessões, cones e cavalos de frisa;


d) máquinas filmadoras e fotográficas.

1.3 VIATURAS DE CONTROLE DE DISTÚRBIOS CIVIS

As principais viaturas de CDC utilizadas pela PMESP são:

1.3.1 Microônibus

Pequeno ônibus, com capacidade para 26 passageiros, que foram adaptados


com grades protetoras nas janelas para transporte do pelotão de choque.

1.3.2 Viaturas "espinha de peixe"

Utilizada pelo 2º BPChq. São caminhões que possuem, em seu sentido


longitudinal, dois bancos de madeira com capacidade para acomodar um pelotão de
choque, além do respectivo equipamento sob os mesmos.

1.3.3 Carro de Controle de Distúrbios Civis (CCDC) “centurion”

Possui resistência balística até o calibre 9mm “parabellum”, com


capacidade para 21 homens, possui 2 portas na frente, 1 atrás e 2 de emergência, 2
escotilhas no teto, 20 seteiras, grades cobrindo as partes envidraçadas, escada
externa, sistema de ar condicionado e de ventilação/exaustão, sistema de
20

suprimento de ar comprimido respirável, sistema hidráulico de jato d'água,


reservatório de água sistema hidráulico contra incêndio, sistema de som, rádio
transmissor/receptor, armários e prateleiras, máscaras contra gases. Seus
inconvenientes se encontram no espaço reduzido entre os homens, em não
comportar o pelotão completo (26 homens), e pelo calor excessivo.

1.3.4 Caminhão lonado

Veículo do tipo caminhão comum, com carroceria de madeira, coberta por


lona, com quatro bancos no sentido longitudinal, possibilitando o
acondicionamento do material sob os bancos e entre eles, sob os pés dos policiais.

Seus grandes inconvenientes se concentram primeiramente na distância


entre o solo e o piso da carroceria, causando relativa lentidão no embarque e
desembarque da tropa, e provocando principalmente dores e lesões devido à
sobrecarga do material (equipamento individual, escudo, cassetete, capacete, sacola
de munição química, armamento de proteção coletiva, cantil, solado rígido da bota,
e outros) incidindo sobre o corpo do policial e causando de início incômodo e,
posteriormente as referidas lesões, na coluna cervical, na cintura escapular, no
punho esquerdo, na coluna torácica e lombar, na articulação do joelho, e na
articulação do tornozelo, principalmente, por torções no momento da queda ao
solo.

Outro grande inconveniente do caminhão é o tipo de assento na carroceria,


quando se trata de grandes distâncias de deslocamento, devido à pouca segurança
da tropa em caso de acidente automobilístico, e o seu desconforto (o que contribui
21

para o desgaste, prejudicando a execução da missão); e devido às vibrações


transferidas da carroceria do caminhão diretamente à coluna e musculatura auxiliar
(gerando lombalgias).
22

CAPÍTULO 2
MUSCULATURA ENVOLVIDA

Seguindo os estudos do Tenente PM Carlos Henrique Forner, em seu


trabalho monográfico para a conclusão do Curso de Instrutor de Educação Física da
Polícia Militar, sob o tema Treinamento Físico Específico Para a Tropa de
Controle de Distúrbios Civis, FORNER (2.000, p. 20), passa-se a adota-lo como
referencia e seguir as orientações nele citadas, em que se, analisa a posição básica
defensiva do escudeiro e o movimento de golpe com o uso do cassetete, pois na
unidade indivisível que é o pelotão de choque, estas são as funções básicas e
primordiais de defesa e de proteção dos componentes da célula única.

Segundo FORNER (op. cit.), a posição básica defensiva do escudeiro é


extremamente utilizada em todos os tipos de operações e consiste em posição
ântero-posterior, com ligeira flexão dos membros inferiores, que funciona como um
firme apoio contra eventuais objetos ou pessoas que possam ser atirados ou
projetados contra a tropa de choque, sendo que a perna posicionada atrás sofre uma
pequena rotação externa.

O membro superior esquerdo sustenta o escudo, protegendo a porção inferior


da face, o tronco, a genitália e grande parte das coxas.

O membro superior direito, por sua vez, apoia o escudo em sua porção direita
e à metade de sua altura com a extremidade do cassete, conferindo dessa forma
23

maior estabilidade e firmeza ao escudo quando em contato com objetos ou


manifestantes.

2.1 Musculatura dos Membros Superiores

2.1.1 Elevação, Sustentação e Descensão do Escudo

Nessa posição o músculo bíceps trabalha na elevação e sustentação do


escudo.

Além dele merecem destaque nesta função, os seguintes músculos: o tríceps,


na estabilização; o braquial e o braquiorradial, pertencentes ao braço; os flexores do
punho, localizados na porção do antebraço; os flexores profundos e superficiais dos
dedos e o adutor do polegar, que se encontram nas mãos; o deltóide, relacionado ao
ombro; os feixes superiores do trapézio, presentes na região das costas; e o feixe
clavicular do peitoral maior, posicionado na extremidade superior do tórax.
Figura 01 – Músculos dos membros superiores

Fonte: DELAVIER (2000, p.01)


24

O músculo bíceps também atua no trabalho de descida do escudo, por meio


de uma contração excêntrica.

No braço direito, que empunha o cassetete com a missão de estabilizar o


escudo, trabalham também o músculo bíceps, na sustentação do mesmo; o tríceps,
na estabilização; o braquial e o braquiorradial, pertencentes ao braço; os flexores do
punho, localizados na porção do antebraço; os flexores profundos e superficiais dos
dedos e o adutor do polegar, que se encontram nas mãos; o deltóide, relacionado ao
ombro; os feixes superiores do trapézio, presentes na região das costas; e o feixe
clavicular do peitoral maior, posicionado na extremidade superior do tórax, todos
em menor intensidade que a porção muscular esquerda que sustenta o escudo.

2.2 Golpe de Cassetete

O movimento de potência caracterizado pela elevação e golpe do membro


superior direito, portando o cassetete, deve-se à atuação do músculo tríceps,
pertencente ao braço; do músculo anconeu e flexores do punho, localizados no
antebraço; e aos flexores profundos e superficiais dos dedos e adutor do polegar,
localizados na mão.

Atuam secundariamente o serrátil anterior; o grande dorsal; o redondo maior


e o trapézio, localizados nas costas; e o deltóide, responsável pela movimentação
do ombro; além do peitoral maior, localizado no tórax.
25

Figura 02 – Músculos do ombro

Fonte: DELAVIER (2000, p. 35)

2.3 Musculatura do Tronco

Quanto à estabilização do tronco, visto que o mesmo tende a inclinar-se para


a frente devido ao peso do escudo, e lateralmente, como forma de compensação por
esforço unilateral, devido à sobrecarga, onde os responsáveis são os músculos
latíssimo do dorso, redondo maior, paravertebrais, e iliocostal do lombo.
26

Figura 03 – Músculos dos ombros, pescoço e costas

Fonte: DELAVIER (2000, p. 71)


27

2.4 Musculatura dos Membros Inferiores

A sustentação do corpo, sobrecarregado pelos equipamentos e indumentária,


é função dos membros inferiores e do grupo muscular formado pelo glúteo
máximo, médio e tensor da fáscia lata.

O músculo quadríceps, principalmente o reto da coxa, destaca-se no membro


inferior deslocado para a frente.

Quanto ao membro inferior posicionado à retaguarda, há uma exigência dos


seguintes músculos: o quadríceps, na sustentação; o semitendinoso, o
semimembranoso e o grácil, na estabilização, todos presentes na coxa; e o
gastrocnêmio e o sóleo, componentes do tríceps sural, localizado na perna.
28

CAPÍTULO 3
PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO
FÍSICO

3.1 Princípio da Individualidade Biológica

O princípio da individualidade biológica pode ser definido, segundo


TUBINO apud FORNER (op. cit., p. 28), como “o fenômeno que explica a
variabilidade entre elementos iguais da mesma espécie, o que faz com que não
existam pessoas iguais entre si”.

ZATSIORSKY (1999, p. 31), simplesmente afirma que “todas as pessoas


são diferentes”.

TUBINO (1984, p. 100) destaca que os testes são os melhores indicadores


para revelar as possibilidades e as necessidades individuais dos atletas, visto que,
além da mensuração dos resultados, possibilitam uma avaliação do treinamento até
então empregado.

ZATSIORSKY (ob. cit., p. 31), ressalta que as rotinas de treinamento de


atletas bem-sucedidos não devem ser imitadas integralmente: “apenas as idéias
gerais são válidas para os programas de treinamento, e não todo o protocolo, e
elas deveriam ser entendidas e empregadas com criatividade”.
29

3.2 Princípio da Adaptação

SEYLE, apud DANTAS (1998, p. 45), caracteriza os estresses como


estímulos fortes, que seriam capazes de provocar, respectivamente, adaptações ou
danos no organismo.

A definição de estresse ou Síndrome da Adaptação Geral (SAG) consiste,


portanto, na reação orgânica aos estímulos, os quais são denominados agentes
estressantes.

DANTAS (op. cit., p. 44), afirma que todos os estímulos sofridos pelo corpo
humano provocam uma reação do organismo, o que dá ensejo a uma resposta
diretamente proporcional à intensidade do estímulo.

DANTAS (op. cit., p. 45), divide a Síndrome da Adaptação Geral em três


fases:

a) 1ª fase: fase da excitação – leva a uma reação de alarme;


b) 2ª fase: fase de resistência – provoca uma adaptação;
c) 3ª fase: fase de exaustão – provoca danos temporários ou permanentes ao
organismo.

3.3 Princípio da Sobrecarga

Após uma carga de trabalho, ocorre uma recuperação do organismo, visando


restabelecer a homeostase (incluindo a reposição de reservas energéticas em nível
muscular) em curto período de tempo (de 3 a 5 minutos após o exercício). Contudo,
30

em nível orgânico a reposição total só ocorrerá com repouso prolongado


(adequado) e alimentação suficiente.

HEGEDUS, citado por DANTAS (op. cit., p. 47), define-a como assimilação
compensatória, sendo composta por um período de assimilação compensatória, que
seria compostas de um período de recuperação, no qual seriam recompostas as
energias consumidas, e de um período de restauração ampliada, onde seria
assimilada uma dose superior de energia.

Existe proporção entre a intensidade e o tempo necessário para a recuperação


do trabalho realizado, sendo o organismo preparado para se compensar quase que
totalmente em cerca de 4 horas de repouso, em que a carga de esforço, não sendo
muito intensa, prepara-se para novo esforço e desgaste mais fortes que os
anteriores.

Se a carga for muito forte, ocorrerá a exaustão, não ocorrendo a assimilação


compensatória, nem a recuperação metabólica em espaço de tempo normal.

Se a aplicação de cargas não for em nível crescente, só ocorrerá a


recuperação ampliada no primeiro período de recuperação, deixando de ocorrer
progresso nos demais períodos, e ocorrendo também a assimilação da carga por
parte do organismo, havendo discreta regressão na capacidade física.

O mesmo HEGEDUS, citado por TUBINO (op. cit., p.105), afirma que “os
diferentes estímulos produzem diferentes desgastes, que são repostos após o
término do trabalho”, esclarecendo que após o estresse físico, o organismo
31

recupera-se com o intuito de restabelecer a homeostase e se preparar para posterior


necessidade de emprego.

Segundo o mesmo DANTAS (op. cit., p. 48) o fenômeno da assimilação


compensatória (ou supercompensação) é o que permite a aplicação progressiva do
princípio da sobrecarga.

3.4 Princípio da Especificidade

Segundo ZATSIORSKY (op. cit., p. 26), especificidade é uma questão de


transferência de treinamento, exemplificando da seguinte forma:

“Imagine um grupo de jovens atletas que


treinou um certo período de tempo com um exercício, o
exercício A, agachamento com barra. Finalmente a
performance deles melhorou. Vamos supor que o ganho é o
mesmo para todos os atletas, assim, digamos 20 Kg. O que irá
acontecer com o desempenho destes atletas em outros
exercícios, como no salto vertical, na corrida de velocidade,
ou mesmo na natação com o estilo livre (exercícios B,C, D)?
Nós poderíamos predizer que o resultado desses exercícios irá
melhorar em graus diferentes. O ganho de performance
poderia ser substancial no salto vertical relativamente
pequeno na corrida de velocidade e próximo a zero na
natação. Em outras palavras, a transferência dos resultados
do treinamento do exercício A para os exercícios B, C e D é
variável.”

Segundo DANTAS (op. cit., p. 53), consiste na designação das cargas e


formas de trabalho de acordo com a qualidade física que se pretende atingir.
Caracteriza-se também pela preocupação em adequar o treino de determinado
32

segmento corporal ao sistema energético predominante e ao gesto motor exigido


para a execução da atividade.

Destaca também a importância da solicitação, durante os treinos, dos


mesmos grupos musculares que serão utilizados na execução das atividades, além
da estimulação dos padrões de movimentos necessários para a consecução do
desempenho.

3.5 Princípio da Interdependência Volume-Intensidade

DANTAS (op. cit., p. 50), afirma que as qualidades físicas exigidas em um


curto espaço de tempo requerem ênfase nos trabalhos de intensidade em detrimento
da quantidade de treinamento, ao passo que as qualidades físicas de emprego
prolongado determinam uma preocupação fundamental com a quantidade de treino.
A ênfase no volume de cargas desempenha, também, um papel de base para
resultados futuros.

KASHLAKOV, apud TUBINO (op. cit., p. 110), estabeleceu relações de


aumento na capacidade física de atletas com maiores quantidades de trabalho
(volume) e, também, com aumentos substânciais na intensidade dos estímulos de
treinamento.

A variação na utilização do volume ou da intensidade, como características


predominantes e não isoladas, depende da fase de treinamento.

O organismo, quando submetido a um trabalho muito intenso, só poderá


executá-lo em um curto espaço de tempo; porém, se o trabalho exigir longa
33

duração, as cargas utilizadas devem ser, necessariamente, moderadas. Daí a


importância do conhecimento da qualidade física visada, pois qualquer incremento
no volume de treinamento provocará modificações nos padrões de intensidade e
vice-versa.
34

CAPÍTULO 4
QUALIDADES FÍSICAS ENVOLVIDAS NAS AÇÕES
DE CHOQUE

Portanto, para que se possa identificar qual policial reúne condições para o
serviço especializado, deve-se expô-lo a testes físicos para poder mensurar seu
rendimento.

4.1 Resistência Física

MORETTE; GONÇALVES (1995, p. 12) afirmam que, quando a resistência


cede lugar à fadiga em função do trabalho muscular, vários elementos que
influenciam o rendimento diminuem, tais como a força, a sensação de tempo, a
coordenação neuro-muscular, a velocidade de movimento, o tempo de reação e a
capacidade de atenção. A resistência do organismo ao cansaço é diferente nas
diversas atividades físicas, dependendo de sua intensidade e duração.

Segundo BARBANTI apud MORETTE; GONÇALVES (op. cit., p. 12 ), é


a capacidade de resistência ao cansaço, em outras palavras, executar pelo maior
tempo possível determinada atividade sem diminuir a qualidade do serviço. Ela não
é só uma característica motora, mas também de caráter. Sua qualidade é
determinada pelo sistema cárdio-respiratório, pelo sistema nervoso, pelo
metabolismo e pelo organismo como um todo, pela coordenação de movimentos, e
pelos componentes psíquicos. Concluindo, a resistência física depende da
capacidade do corpo de resistir contra o cansaço físico, emocional e sensorial.
35

Em função disso se encontra diferentes categorias de resistências, entre elas


as mais utilizadas:

a) resistência aeróbia;
b) resistência anaeróbia;
c) resistência muscular localizada.

4.2 Resistência Aeróbia

Para BARBANTI apud MORETTE; GONÇALVES (op. cit., p. 13), é a


qualidade que permite resistir à fadiga nos esforços de longa duração e intensidade
moderada, sendo que esse esforço deve durar mais de 3 minutos, solicitar de 1/6 a
1/7 da musculatura esquelética com carga superior a 30% da capacidade orgânica
de uma pessoa, quando a frequência cardíaca atinge valores superiores a 130
batimentos por minuto.

Segundo MATSUDO apud MORETTE; GONÇALVES (op. cit., p. 13),


sabe-se também que a energia fornecida para a manutenção da atividade é
primordialmente da oxidação de nutrientes.

Trabalhos de longa duração, como revista em estabelecimentos prisionais e


reintegração de posse, quando realizados em condições que não envolvam conflito,
empregam a capacidade aeróbia, através da capacidade cardio-respiratória, um dos
fatores que justifica a necessidade de seleção desse tipo de profissional
especializado.
36

TUBINO (op. cit., p.194), a define como “a qualidade física que permite a
um atleta sustentar por um longo período de tempo uma atividade física
relativamente generalizada em condições aeróbicas (...)”.

As variáveis fisiológicas que atuam diretamente no treinamento da resistência


aeróbica são:

a) Desenvolvimento da capacidade funcional do coração;


b) Melhoria do transporte de oxigênio pelo aparelho circulatório e uma
consequente situação de boas condições para as trocas gasosas;
c) O aumento da capacidade das fibras musculares de oxidar carboidratos e
ácidos graxos;
d) Melhoria na capacidade de absorção de oxigênio;
e) Redução na frequência cardíaca no repouso e no esforço;
f) Diminuição do tempo de recuperação pós-esforço.

QUIRION, METHOT, citados por TUBINO (op. cit., p. 195), afirmam que a
frequência entre 120 e 150 batimentos cardíacos por minuto, otimiza o transporte
de oxigênio pelo corpo humano e, genericamente, permite um melhor equilíbrio
fisiológico.

GHORAYEB; BARROS NETO (1999, p. 42), destacam que os exercícios de


força também influenciam na resistência aeróbia por meio do aumento do limiar
anaeróbio (máxima fase estável do exercício aeróbio), pois a maior capacidade
contrátil das fibras musculares tipo I, em razão dos trabalhos de hipertrofia, permite
37

a realização dos esforços aeróbios com um envolvimento menor de fibras


musculares.

4.3 Resistência Anaeróbia

Para BARBANTI apud MORETTE; GONÇALVES (op. cit., p. 17), é a


capacidade de realizar um esforço em intensidade elevada, durante o maior tempo
possível, até 3 minutos, com atuação de grande número de massa muscular, a
exemplo:

- As corridas de 400 a 1500 metros, onde se encontram os maiores débitos de


oxigênio, a mais alta concentração de ácido lático e o mais baixo valor de PH no
sangue.

TUBINO (op. cit., p. 201), define a resistência anaeróbia como sendo a


“qualidade física que permite ao atleta sustentar, o maior tempo possível, uma
atividade física em condições anaeróbias, isto é, numa situação de débito de
oxigênio”.

DANTAS (op. cit., p.125), destaca que a intensidade da carga, quando


próximo dos limites máximos do organismo e em circunstâncias que demandem a
execução da tarefa por um lapso temporal razoável, exige do organismo a ressíntese
do ATP por meio do sistema anaeróbico alático.

McARDLE; KATCH; KATCH (1996, p. 119), salientam que no


metabolismo anaeróbio lático ocorre a formação do ácido lático como produto final
da glicólise anaeróbia, explicando que ocorre uma insuficiência no fornecimento de
38

oxigênio ou que as demandas energéticas ultrapassam a capacidade do músculo de


ressíntese do ATP por via aeróbia.

O desenvolvimento da resistência anaeróbia lática permite a realização da


performance ao indivíduo treinado por algum tempo a mais, e é percebido quando o
exercício é executado em intensidade alta, mas não máxima.

Para o caso da tropa estudada, nela é manifestada a resistência anaeróbia por


ocasião de intervenções repressivas, com confronto direto com o perturbador da
ordem pública, em ocorrências que solicitem seu condicionamento físico, bem
como seu treinamento, o qual é efetuado diariamente.

4.4 Resistência Muscular Localizada

A execução da missão, considerando o emprego operacional da tropa já seria


o suficiente para abordar este tema, mas o que justifica um policial lesionado não
em decorrência da ação, mas devido a não estar preparado para suportar seu
armamento e equipamento, os quais servem inclusive para dar-lhe proteção?

Cabe ressaltar que não interessa somente que o policial possa suportar a
carga de peso de seu equipamento, ele deve suportá-la, pelo tempo que a ação
determinar, (e muitas das ações se estendem por períodos prolongados), e mesmo
assim encerrar a missão com saúde e disposição para suas atividades rotineiras.

TUBINO (op. cit, pp. 206-207), define a resistência muscular localizada, que
pode evitar esses problemas de saúde devido a sobrecarga de equipamento e
mesmo o cansaço físico, como “a qualidade física que permite a um atleta realizar
39

num maior tempo possível a repetição de um determinado movimento com a


mesma eficiência”.

E ainda, WEINECK (1999, p. 135), explica a resistência muscular geral,


ocorrendo nas condições em que mais de 1/6 da musculatura esquelética total
execute sobrecarga não específica e generalizada. Contudo, como cada policial da
tropa de choque tem papel específico dentro do pelotão de choque, trataremos da
resistência muscular localizada.

DANTAS (op. cit., p. 172), define que a resistência muscular localizada


permite que o músculo execute “um grande número de contrações, sem perder a
amplitude do movimento, a frequência, a velocidade e a força de execução”.

TUBINO (op. cit., p. 209), explica ainda que existem vários tipos de fadiga: a
sendo a periférica circulatória, a periférica neuromotriz e a fadiga nervosa. A fadiga
periférica circulatória, que é a melhor caracterizada no emprego do homem do
pelotão de choque quando parado e sobretudo suportando o escudo de proteção, ou
demais sobrecargas de equipamento, é identificada por uma vasoconstrição local;
pelo aumento de trabalho (entenda-se também sua continuidade); pela diminuição
do armazenamento de sangue; e pelo aumento de detritos metabólicos e
consequente não eliminação. A fadiga periférica neuromotriz ocorre pela excessiva
ação das placas motoras. A fadiga nervosa é causada pelo excesso de trabalho
cortical. E explica ainda que o desenvolvimento da resistência muscular localizada
resulta nas seguintes vantagens:

a)capacidade para a execução de um número elevado de repetições dos


gestos específicos;
40

b)melhor elasticidade dos vasos sanguíneos;


c)melhor capilarização dos músculos treinados;
d) melhor utilização de energia;
e)acumulação mais lenta de metabólitos nos músculos, e;
f) maiores possibilidades para um trabalho posterior de desenvolvimento
de qualquer tipo de força.

4.5 Força Dinâmica

Segundo TUBINO (op. cit., p. 185), é a força dos músculos nos membros
em movimento ou então suportando o peso do corpo em movimentos repetidos
durante um período de tempo. É a força em movimento também chamada de força
máxima, força pura ou força isotônica.

ZATSIORSKY (op. cit., p. 50), diz que pode ser também “a habilidade de
se opor a uma resistência externa através de esforço muscular”.

Por GHORAYEB; BARROS NETO (op. cit., p. 35), é “a capacidade de


gerar tensão nos músculos esqueléticos”.

DANTAS (op. cit., p. 167), explica que “o aumento da força será obtido
fundamentalmente pelo aumento da secção transversa do músculo”, por meio da
hipertrofia muscular. E, que, “no início do trabalho o ganho de força ocorrerá,
principalmente, graças às adaptações neuromusculares que permitirão uma
melhor sincronização da atividade das fibras musculares e sua mobilização”
indicam o desenvolvimento do grupo muscular, no qual um maior número de fibras
concorrerá para o desempenho muscular.
41

4.6 Força Explosiva

Uma das qualidades físicas mais importante, também conhecida por


potência, que TUBINO (op. cit., p. 188), define como “tipo de força que pode ser
aplicada pela capacidade de exercer o máximo de energia num ato explosivo”, e
explica que “em lutas, e nos desportos coletivos, os movimentos explosivos
praticamente caracterizam os grandes atletas" só não sendo característica dos
corredores e nadadores de longas distâncias como qualidade prioritária.

E que GHORAYEB; BARROS NETO (op. cit., p. 35), chamam de “ a


capacidade de realizar trabalho na unidade de tempo”.

WEINECK (op. cit., p. 229), explica que é a capacidade de desenvolver uma


força num curto intervalo de tempo, onde o aumento da força por unidade de tempo
ocupa o primeiro plano.

Em alguns movimentos, a força explosiva pode manifestar-se de acordo com


a velocidade, com a força e com a resistência, sendo executadas com o máximo de
velocidade.

YEREMIN, citado por TUBINO (op. cit., p. 189), demonstra em estudos que
no trabalho de força explosiva, esta qualidade física aumenta progressivamente até
o momento em que diminui a velocidade de movimento, devendo ser executada
com a maior velocidade possível, como é de se esperar que seja o movimento
descendente do cassetete de borracha utilizado pela tropa de choque.
42

A força explosiva pode ser medida indiretamente, em teste de campo, por


provas que abrangem o número de repetições que o atleta consegue executar em
situações de força explosiva, num determinado e reduzido tempo. Ex.: número de
flexões que um atleta suspenso numa barra fixa consegue executar durante 5, 10, ou
15 segundos, segundo TUBINO (op. cit., p. 190).

Segundo FORNER (op. cit., p. 51), as situações que exigem a força


explosiva no cotidiano da tropa de choque não são tão diversificadas como são as
mobilizações de resistência muscular localizada, ou de força dinâmica.

A corrida de carga de cassetetes (em se tratando da corrida) se realizada com


uma velocidade intensa, caracteriza a potência muscular dos membros inferiores
por envolver os fatores força, velocidade e resistência. Mas há grande preocupação
quando do deslocamento da tropa com a uniformidade da linha de escudeiros, o que
não permite velocidades máximas, determinando uma movimentação mais
cadenciada.

O golpe de cassetete, ao comando operacional correspondente, o qual se


constitui de um movimento, é predominantemente um ato de força explosiva.

Outros movimentos de força explosiva podem ser identificados na operação


de choque, como o movimento defensivo de elevação de escudos, que são
executados de forma abrupta, e o lançamento de granadas por ação manual.
43

4.7 Força Estática

Segundo DANTAS (op. cit., p. 172), força estática, que é o determinada pela
contração isométrica, acontece sem que ocorra movimento.

Cita ainda que é a qualidade física “que explica o fato de haver força
produzindo calor, mas não ocorrendo produção de trabalho em forma de
movimento”.

Sendo que os trabalhos isométricos desenvolvem diretamente a força


estática.

KUZNIECOV, citado por TUBINO (op. cit., p. 188), distingue dois tipos de
tensões estáticas: a primeira trata de tensões ativas em que não existe o fenômeno
da distensão muscular, e outra sendo as tensões passivas, nas quais as forças
externas atuam sobre o músculo em esforço na forma de distensão.

Pode-se mensurar a força estática pelo tempo que a pessoa pode se manter
numa situação de contração isométrica, suportando determinada carga. Podem ser
alterados a carga e o tempo de sustentação, entendendo então que a carga suportada
e o tempo de manutenção da força são as variáveis que determinam a contração
isométrica.
44

CAPÍTULO 5
A SOBRECARGA DOS EQUIPAMENTOS E
ARMAMENTOS, E OS RESULTADOS
PROVOCADOS NOS POLICIAIS MILITARES

5.1 Dispêndio de Energia – Comparativo a Partir do Calçado

McARDLE; KATCH; KATCH, (1996, p. 165), propiciam parâmetros de


comparação dos efeitos da sobrecarga dos calçados na atividade física, com os
demais equipamentos dos policiais militares da tropa de Controle de Distúrbios
Civis.

“O custo energético da caminhada e da corrida


aumenta muito ao calçar botas, em comparação com sapatos
especiais para corrida. O simples acréscimo de 100 g. adicionais
em cada sapato induz um aumento de 1% na captação de oxigênio
durante uma corrida moderada. São claras as implicações desses
achados para os desempenho dos sapatos de corrida, das botas
para as grandes marchas ou alpinismo e das botas de trabalho,
necessárias tradicionalmente em certas profissões tipo mineração,
atividades florestais, e para bombeiros e militares – pequenas
mudanças no peso do calçado produzem grandes modificações na
economia da locomoção. As propriedades de acolchoamento dos
calçados também afetam a economia do movimento. Um calçado
para corrida com um solado mais macio reduziria o custo em
45

oxigênio da corrida a uma velocidade moderada em cerca de 2,4%,


em comparação com um calçado semelhante, porém com um
sistema de acolchoamento mais duro, apesar de o par de calçados
com o solado mais macio ser 31g. mais pesado”.

Uma grande vantagem propiciada, contudo pela bota é a proteção que


oferece contra torções, choque contra obstáculos, não entrada de materiais sólidos,
proteção contra animais, etc.

Contudo o que interessa não são os fatores específicos resultantes do peso


das botas, mas sim a relação que se pode traçar comparando com o peso de todo o
equipamento/armamento em operações, onde o policial deve permanecer em pé,
sustentar o peso do equipamento, suportar o equipamento em posição, andar,
correr, transpor, saltar, atuar de forma específica, subir e descer do caminhão de
transporte, e ainda continuar apto para nova ação se assim se fizer necessário e,
portanto vislumbra-se que um policial sedentário ou que não reúna condições
físicas gerais para trabalhar nessas missões, pode ter maior propensão a adquirir
lesões em sua estrutura física.

De forma a comprovar se essa afirmativa condizia com a realidade, foi


confeccionado um questionário devido não existirem registros estatísticos no
Centro Médico (CM) da Polícia Militar do Estado de São Paulo, e na Unidade
Integrada de Saúde (UIS) do “Regimento Montado 09 de Julho” – Cavalaria, local
onde os policiais da tropa de Controle de Distúrbios Civis são encaminhados em
caso de atendimento médico. Esses registros poderiam informar de forma clara,
entre outras pesquisas, quais as lesões mais comuns devido à sobrecarga de
equipamento.
46

Esse questionário, que foi distribuído às duas Companhias que executam


Controle de Distúrbios Civis do 3º BPChq, sendo respondido por 94 praças de
Polícia Militar dos pelotões, que informaram sobre as lesões que sofreram no
decorrer de suas atividades, provenientes da sobrecarga de equipamento durante o
período em que são lotados na Companhia de Controle de Distúrbios Civis, sendo
ainda que outros resultados foram identificados, conduzindo a outras conclusões.

As informações colhidas foram tabuladas e serão aqui apresentadas com o


intuito de analisarmos as causas prováveis das lesões, e o que pode ser efetuado
para sua profilaxia, dentro do escopo deste trabalho, resultando em saúde para o
policial, e melhor aproveitamento do indivíduo no decorrer da missão e na
contagem de dias disponíveis em serviço do policial.

Contudo, quando da consulta direta aos policiais militares, foi identificado


que nas lesões citadas por eles, somente 12,8 % dos policias militares procura o
atendimento médico correspondente, deixando a esclarecer pelas informações
prestadas por eles, que não o fazem por vários motivos:

a) Por não haver UIS que atenda a área de Choque próximo à sua
Companhia;
b) Por considerar que seu comandante e/ou demais policiais militares doe
seu pelotão o conceituem como “fraco”, ou que esteja se esquivando do
serviço operacional;
c) Por falta de conscientização do problema do qual está acometido;
d) Por desconhecer que esse problema inicial possa desencadear inúmeros
outros problemas ou disfunções; ou outros motivos.
47

O questionário identificou ainda outras deficiências referentes ao


equipamento (ergonomia e proteção inadequada) que poderão ser objeto de estudos
posteriores, específicos, tendo em vista refletirem na saúde e satisfação do policial
militar, em seu rendimento, no sucesso da missão e em economia ao Estado.

Para a análise das informações, os componentes das Companhias foram


analisados em suas funções específicas dentro do pelotão (escudeiros, granadeiros
lançadores, granadeiros atiradores, comandante de grupo, auxiliar do comandante
de pelotão, motorista e o segurança) quanto às lesões apresentadas, como se pode
verificar a seguir.
48

ESCUDEIRO-LESÕES

Percentual de 68 indivíduos

45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Joelho Ombro Coluna Coluna Punho
Cervical Lombar
49

GRANADEIRO ATIRADOR

Percentual de 8 indivíduos

105
90
75
60
45
30
15
0
Joelho Coluna Coluna Ombro Punho Dedos
Lombar Cervical
50

GRANADEIRO LANÇADOR

Percentual de 6 indivíduos

70
60
50
40
30
20
10
0
Joelho Ombro Coluna Coluna Pescoço Tornozelo
Cervical Lombar
51

COMANDANTE DE GRUPO

4 indivíduos

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Joelho Ombro Coluna Cervical Coluna Lombar
52

OUTRAS FUNÇÕES

120%
0%

80% 50%

50% 100%

40%
50%

0%

SEGURANÇA AUXILIAR MOTORISTA

JOELHO PUNHO
53

LESÕES DE 94 INDÍVIDUOS

55
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0

ro ito h o al ar ço ho ril os eça elo


b b n i c b o el d d z
O
m Cú Pu
erv om esc Jo Qua De Cab no
l . C ol.
L P
Tor Lesões de 94
Co C indivíduos
54

FATORES DESGASTANTES EM CURSO


94 indivíduos

Correr equipado falta de resistência física


formação em companhia embarque/desembarque
fogo/castelinho

30%

20%

10%

0%
55

SERVIÇOS DESGASTANTES
94 indivíduos

Revista Presídio Reintegração de posse


Tomada de Presídio Rebelado Ficar parado
Aguardar Planejamento Treinamento noturno

30%

20%

10%

0%
56

AUXÍLIO MÉDICO

Percentual de 94 indivíduos

100

80

60

40

20

0
SIM NÃO
57

CAPÍTULO 6
EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Seguindo os estudos dos então tenentes de Polícia Militar, Sérgio Ricardo


Morette, e Valter Luís Gonçalves, no ano de 1995, no trabalho denominado Teste
de Aptidão Física Para Ingresso nas Companhias de Operações Especiais e
Táticas Especiais da PMESP, passa-se a discorrer sobre alguns testes que têm por
finalidade avaliar as qualidades físicas necessárias para o emprego nas Companhias
de Controle de Distúrbios Civis, e dos gestos motores específicos.

6.1 Corrida de 4.000 Metros

Tem por finalidade medir a resistência aeróbia do indivíduo.

O avaliado deverá percorrer a distância de 4.000 metros no menor período


de tempo possível.

6.2 Corrida de 40 Segundos

Tem por finalidade avaliar a resistência anaeróbia (tanto a lática quanto a


alática).

O policial deverá percorrer a maior distância possível em 40 segundos.


58

6.3 Subida no Cabo Vertical

Tem por finalidade avaliar a força muscular dos membros superiores e


músculos da cintura escapular, junto a resistência muscular localizada.

Deve ser utilizada uma corda de sisal de 3,8 cm de diâmetro, demarcada de


50 em 50 cm, que será fixada em estrutura fixa que permita que esta permaneça na
vertical, e não podendo conter nós ou objetos unidos a ela.

O avaliado só poderá fazer uso dos membros superiores e, se utilizar os


membros inferiores, terá sua execução interrompida e as marcas alcançadas
desconsideradas.

6.4 Teste de Flexão de Abdome

Tem por finalidade avaliar a força da musculatura abdominal, juntamente


com a resistência muscular localizada através da flexão dos músculos do abdome,
do quadril, os oblíquos do abdome.

O avaliado deve efetuar o maior número de contrações abdominais no


período de 1 minuto, estando em decúbito dorsal e com as articulações dos joelhos
flexionadas e os pés no chão, devendo efetuar a contração do conjunto de músculos
abdominais até que o tronco toque a coxa, e após retornando à posição original,
sendo as flexões efetuadas sem auxílio dos membros superiores, estando os
mesmos dispostos junto à cabeça.

Deverá ser disposto um colchonete sobre o solo.


59

6.5 Teste Para os Músculos de Sustentação da Cabeça e Parte Superior dos


Ombros

Quanto à proposta de teste que avalie a resistência e a força dos músculos


que sustenta a cabeça (esternocleidomastóideo, esplênio da cabeça e semi-espinhal
da cabeça), os da parte superior das costas (trapézio) e do ombro (deltóide), e no
pescoço (escaleno e iliocostal do pescoço) – ver figura abaixo, de forma a selecionar os
policiais militares que tivessem esses músculos fortalecidos (treinados),
minimizando o risco de lesionar a região, poder-se-ia propor o teste da puxada
vertical com barra (mãos separadas ou juntas), o levantamento terra ou a puxada
horizontal com barra e mãos em pronação, contudo, esses testes/exercícios são
executados em razão da carga que cada indivíduo pode suportar em uma repetição
máxima, o que dificultaria a determinação da reprodutibilidade do teste pelo caráter
de seleção de carga para cada indivíduo.
60

Figura 04 – Trapézio, deltóide, iliocostal e outros

Fonte: DELAVIER, (2000, p. 71)


61

Figura 05 - Trapézio

Fonte:DELAVIER, (2000, p. 74)


62

Figura 06 – Trapézio (parte superior) e deltóide


Fonte: DELAVIER (2000, p. 38)

Figura 07 – Levantamento terra


63

Fonte: DELAVIER (2000, p. 71)

Figura 08 – Puxada horizontal com barra, mãos em pronação


64

Fonte: DELAVIER (2000, p. 38)

Portanto, analisando o número de lesões na região na coluna cervical, pode-


se sugerir ao menos alguns exercícios para o reforço da musculatura em questão,
não só para a seleção, mas também para o policial militar que já trabalha com
equipamentos de Controle de Distúrbios Civis, como por exemplo:
65

a) Com auxílio de toalha de rosto segura pelas extremidades mais longas,


forçar a cabeça em sentido contrário ao do tracionamento da toalha, em
movimentos repetitivos ou em isometria, para cima, para baixo, para a
direita e para a esquerda;

b) O mesmo pode ser efetuado com elástico fixado à parede;

CONCLUSÃO
66

Diante dos fatores apresentados é muito perceptível que os componentes


atuais da tropa de Controle de Distúrbios Civis, pelas lesões excessivas de caráter
músculo-tendíneas que apresentam, ou perderam as capacidades de força e
resistência necessárias para o trabalho específico das 1ª e 2ª Companhias do 3º
BPChq, ou nunca as possuíram nos níveis adequados, e por isso estão expostos à
enfermidades e em condições de permitir o fracasso da missão e o
comprometimento de homens e da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Para suprir essa deficiência, uma das alternativas é realizar a seleção dos
policiais militares que atuarão em ocorrências de Controle de Distúrbios Civis,
propiciando condições de padronização as quais minimizem as insuficiências dos
indivíduos e posteriores lesões por falta de condicionamento e estrutura física
adequada, sendo essa a importância destes levantamentos.

Outra alternativa sugerida é a de implantar o Trabalho de Treinamento


Físico Específico Para a Tropa de Controle de Distúrbios Civis, já citado neste
trabalho, e proposto pelo Ten PM Forner com o objetivo de provocar alterações
orgânico-fisiológicas por meio do desenvolvimento do sistema cárdio-respiratório,
e do aparelho muscular.

Essas duas alternativas podem propiciar as condições físicas necessárias


para suportar a carga de equipamentos de proteção, bem como do armamento, além
de aumentar os níveis de resistência ao cansaço, possibilitando que o indivíduo
acompanhe os demais policiais militares nas atividades de condicionamento, de
técnicas e táticas específicas, otimizando as chances de sucesso na missão, evitando
os prejuízos ao policial militar, ao pelotão de Controle de Distúrbios Civis, e ao
Estado.
67

Este trabalho permitiu ainda a coleta de informações sobre as lesões mais


freqüentes e decorrentes da sobrecarga de equipamentos necessários. Esse tipo de,
controle não tem se verificado, perdendo-se assim a oportunidade de estimular a
prevenção e o reconhecimento das causas.

Como sugestão para estudos posteriores e melhorias nesse sentido, pode-se


lembrar os altos índices de lesões na articulação dos joelhos e um número menor de
incidência de lesões na articulação dos tornozelos.

Para as lesões de joelho, parece pouco provável que o peso excessivo de


equipamentos o fator de sua origem, sendo mais prováveis os fatores indicados
pelos próprios policiais ao responderem ao questionário proposto: o embarque
(com posições do joelho em ângulo menor que 90 graus – o que tende a causar
lesões) na alta carroceria. E o desembarque pela mesma altura, conduz o policial
militar a saltar com todo seu equipamento, este é um fator bastante provável da
origem das lesões: no momento em que o indivíduo toca o solo. Nesse momento o
caráter da missão obriga o policial militar a portar inclusive o escudo balístico, hoje
não mais com 9Kg, mas exercendo mesmo assim grande sobrecarga).

Com relação à altura do veículo e à sobrecarga de equipamentos, pode-se


citar os altos índices de lesões de coluna cervical, o que faz a presumir que o fator
aparente possa ser o peso do capacete de choque, que aumenta com a aceleração no
momento da projeção do corpo desde o alto da carroceria até o solo.

Sem abandonar o problema da altura da carroceria, deve-se manter alguma


atenção às torções da articulação de tornozelo no momento em que o policial
militar toca o solo com ligeiro desvio, ou se cai em solo em desnível. Se a lesão for
68

em grau mais acentuado, esse policial não reunirá mais condições de ação, e
retirará outros policiais de suas atribuições na formação defensiva do pelotão de
choque.

Esses três fatores, sem abordar outros (a vibração da carroceria, os bancos


de madeira e sem encosto, produzem no policial um quadro de lombalgias e ainda
de desgaste quando se trata de longos deslocamentos), já pode conduzir a um
estudo futuro de análise sobre qual o veículo adequado (sem esquecer a
importância do fator psicológico, o segundo na prioridade de emprego dos meios)
para o transporte da tropa, ou de trabalhos de condicionamento físico em caráter
preventivo das lesões decorrentes do emprego de equipamentos em sobrecarga.

Os testes propostos para a seleção dos policiais militares, referentes aos


gestos motores específicos e preocupando-se evitar as lesões que vieram ao
conhecimento durante o transcorrer desta pesquisa e referente, ainda, à adequação
do homem à função, como forma de ter o policial melhor preparado tanto para a
missão quanto para a preparação para a missão, quando do treinamento técnico,
tático e de condicionamento físico.

Conclusão, a proposta deste trabalho buscou demonstrar a importância da


padronização que visa a seleção do elemento humano que tenha os pré-requisitos
para suportar as condições de treinamento e da missão à que se destina, apontou
também a prevenção para minimizar as condições de desgaste e que provocam
lesões no decorrer de seu emprego, fatores que visam propiciar o bem-estar da
equipe e colaboram para concluir com êxito a missão determinada.
69

BIBLIOGRAFIAS

Apostila de Controle de Distúrbios Civis -3º BPChq –2002


70

DANTAS, Estélio H. M. - A prática da Preparação Física. RJ: Editora Shape, 4ª.


Edição, 1998;

DELAVIER Frédéric - Guia dos Movimentos de Musculação - Abordagem


anatômica – 2002 . 3ª edição - Ed. Manole.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda - Dicionário Aurélio Escolar da Língua


Portuguesa. RJ: Editora Nova Fronteira, 1ª. Edição, 1988;

McARDLE, William D.; KATCH Frank I.; KATCH Victor L. – Fisiologia do


Exercício -Energia, Nutrição e Desempenho Humano – Baltimore. 4ª edição. 1996
– Ed. Guanabara/Koogan

MASCARENHAS DE SOUZA - Wanderley. Gerenciamento de crises: Negociação


e atuação de Grupos Especiais de Polícia na solução de eventos críticos. SP.CAO-
II/95, 1995;

MORETTE Sérgio Ricardo; GONÇALVES Valter Luís – SP – Agosto de 1995 -


Teste de aptidão Física para ingresso nas companhias de Operações e Táticas
Especiais da PMESP.
Mc.Minn, R. M. H.; Hutchings, R. T.; Pegington, J.; e Abrahams, P. H.. Atlas
Colorido de Anatomia Humana. 2001- 3ª Ed. Ed. Manole LTDA.

POSSEBOM, Francisco - Manual de elaboração de monografia da CAES. SP:


Seção de Publicação de Aprendizagem, 1999;

RODRIGUES, Antonio Carlos - Rebelião em Estabelecimento Prisional –


Procedimento Operacional Padrão. SP. CSP/02, 2002;

SANTOS, Leônidas Pantaleão - Treinamento de Força Tática para o Emprego em


Anormalidade nos Estabelecimentos Prisionais do CPI-1. SP: CAO/00, 2000.

TORTORA, Gerard J. - Corpo Humano: Fundamentos de Anatomia e Fisiologia. 4ª


Edição. Porto Alegre: Artmed Editora, 2000

TUBINO, Manoel José Gomes - Metodologia Científica do Treinamento


Desportivo. SP: Ibrasa Ltda, 11ª Edição, 1993;
71

WEINECK, Jürgen - Treinamento Ideal: instrução técnica sobre o desenvolvimento


fisiológico, incluindo considerações específicas de treinamento infantil e juvenil.
9ª. Edição.SP: Edição Manole, 1999;

ANEXO

QUESTIONÁRIO DISTRIBUÍDO ÀS 1ª E 2ª
COMPANHIAS
72

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO


ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA POLÍCIA MILITAR

QUESTIONÁRIO SOBRE LESÕES E DIFICULDADES APRESENTADAS PELOS POLICIAIS


MILITARES NA ÁREA DE CONTROLE DE DISTÚRBIOS CIVIS

Estas informações visam subsidiar um trabalho monográfico para o Curso de Instrutor de


Educação Física, que tem por objetivo a proposta de seleção dos novos policiais para os cursos e
para as Companhias de CDC, resultando, portanto, no aprimoramento da missão.
Não é necessária a identificação.

1.Qual sua função no pelotão, idade e tempo de serviço em Companhia de CDC ?

2.Você já apresentou algum tipo de lesão decorrente do uso de equipamento de CDC ? Em caso
afirmativo, assinale o local.
___ ombro ___ coluna cervical ___ joelho
___ cúbito (cotovelo) ___ coluna lombar ___ quadril
___ punho ___ pescoço ___ dedos
outros__________________ _______________________ _______________________

3. Durante curso, treinamento ou operações de que participou, quais as dificuldades que sofreu,
relacionado ao equipamento, do ponto de vista do condicionamento físico, desde a retirada do
mesmo até sua devolução?
___ dor ___cansaço localizado ___ cansaço geral
___ falta de força___ falta de resistência outras___________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________

4. Essa lesão perdurou ou foi curada com atendimento médico?

5.Qual o tipo de operação mais desgastante?

6.Em curso de CDC, cite quais as atividades em que percebe maior grau de dificuldade
apresentado pelos alunos.

7.Cite as considerações que possam auxiliar este trabalho, com seus conhecimentos operacionais
ou técnicos.
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GLOSSÁRIO

ACIDO LÁTICO: O produto final da glicólise anaeróbia. Provoca inibição


do aparelho contrátil e de atividade enzimática quando em alta concentração;
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ALÁTICO: Quando não ocorre a produção de ácido lático devido ao


pequeno, mas intenso período de solicitação muscular;

“Apud”: sinônimo de citado por;

CIEF: Curso de Instrutor de Educação Física;

CoTer: Comando de Operações Terrestres;

DISTÚRBIO CIVIL: Inquietações ou tensões civis que tomam forma de


manifestação. Situações que surgem dentro do país, decorrentes de atos de
violência ou desordem e prejudiciais à manutenção da lei e da ordem;

EMEB: Estado Maior do Exército Brasileiro;

FADIGA: Capacidade de trabalho diminuída, geralmente abaixo dos limites


fisiológicos verdadeiros. Provenientes de esforços de longa duração ou exercícios
intensos;

GLICÓLISE: Série de reações químicas sofridas pela molécula de glicose, ao


adentrar a célula, para ser utilizada como energia;
“Ob. cit.” : sinônimo de obra já citada anteriormente;

PRAÇA: Indivíduo que na hierarquia militar, se situa abaixo do aspirante-a-


oficial;
75

PMESP: Polícia Militar do Estado de São Paulo;

RPT: Relação de Prioridade de Transferência;

SAG: Síndrome de Adaptação Geral;

SUBUNIDADE: sinônimo de Companhia;

TAF: Teste de Aptidão Física;

UNIDADE OPERACIONAL (UOp): Sinônimo de batalhão;

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