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3ª feira, 01 de abril de 2020

Lembranças de um jornalismo independente


O Pasquim: matéria traz a história, entrevista com
integrante e curiosidades sobre o jornal.

“P
orque até no em 1964. tação do pensamento e da exterior.
lixão nasce Com temas como drogas, informação. Já em 1980 com a redemo-
flor” (Racionais sexo, rock n’ roll e muita polí- O cartunista Miguel Paiva cratização, a ditadura militar
MC’s). Após a instauração tica, o Pasquim foi publicado, começou a trabalhar no jornal já não era o único alvo do
da ditadura militar no Brasil, em sua primeira semana em seis meses após a sua primei- jornal. Mantido o humor de
um jornal floresceu em meio junho de 1969, com uma ra edição, fazia exatamente sempre, o Pasquim passou a
ao caos e confrontou o tiragem inicial de 20 mil exem- um ano desde a implantação criticar a corrupção, o capita-
governo através do humor, plares. Apesar de parecer do AI-5. “No período mais dra- lismo neoliberal, Collor e suas
levando a esperança de exagerado para um cenário mático da vida brasileira um políticas.
viver uma democracia para de jornalismo independente, o jornal de humor, transgressor Ainda que tenha parado
o povo brasileiro, que sofria jornal que era publicado toda nos costumes e na linguagem, de circular, mesmo após 50
com a restrição de sua semana, chegou em seu auge conseguiu sobreviver e criar anos da sua primeira edição,
liberdade, censura e uma com até 200 mil exemplares, uma relação de cumplicidade suas pautas continuam sendo
forte repressão aos que se em meados dos anos 1970. e apoio com o leitor como atuais e pertinentes para o
opusessem ao governo. Possuía um linguajar nunca se tinha visto antes”, estado atual da democracia
No meio desse cenário, coloquial e moderno, sem as lembra o cartunista. brasileira. E hoje, seus fun-
mais especificamente formalidades jornalísticas, e Mesmo com a perseguição dadores, jornalistas, cartu-
em 26 de junho de 1969, grandes entrevistas sem copi- política e quase toda equipe nistas e colunistas são peças
nasceu no Rio de Janeiro, O desque estampavam a primei- presa por conta de um cartum fundamentais no jornalismo
Pasquim. O jornal foi criado ra página de cada edição e com o quadro de Dom Pedro nacional.
pelos jornalistas Tarso de ainda era usada de base para I na independência gritando
Castro, Sérgio Cabral, Carlos Os rostos da ironia.
Prósperi, e pelos cartunistas
Claudius Ceccon e Jaguar Ao longo de sua trajetória,
(Sérgio Jaguaribe). A iniciativa o jornal, além de seus
para o seu surgimento seria fundadores já citados ainda
para substituir o tabloide de contou com nomes como
humor A Carapuça, após a Henfil, Paulo Caruso e
morte de seu responsável, outros que fizeram parte a
Sérgio Porto. gráfica do jornal, as famosas
Pasquim é um termo charges que tiveram grande
que de acordo com o repercussão na época.
dicionário, significa “jornal Além dos sarcasmos
sem repercussão, sem impressos, estes homens
importância, ou mal redigido”. levavam a vida na diversão,
A sugestão foi dada por o restante do jornal que conti- “Eu quero Mocotó”, o jornal por exemplo quando Sérgio
Jaguar como uma forma de nha ainda notas, quadrinhos, continuou com aqueles que Cabral no dia 31 de outubro
ironizar e caçoar das críticas reportagens, dicas, fotono- estavam livres como Martha de 1970 foi informado
que poderiam surgir com a velas e crônicas. As peças Alencar, Chico Jr, Henfil, que seria preso enquanto
circulação do jornal. Com pareciam conversas entre os Millôr e Miguel Paiva. Pre- palestrava em Campos (RJ),
isso, os cartunistas Ziraldo e jornalistas no bar Jangadeiros sos até fevereiro de 1971, a decidiu se entregar junto de
Fortuna, e os jornalistas Paulo em Ipanema, onde ocorreu o classe artística da época que Jaguar e Flávio Rangel, mas
Francis e Millôr Fernandes, início de tudo. também simpatizava com a antes pararam para tomar
juntaram-se ao grupo, Ainda sobre suas maté- corrente política, assumiu umas cervejas em um bar.
formando o time principal do rias polêmicas, o feminismo parte das editorias como Ficaram presos por 2 meses
semanário que iria tirar do também era uma de suas Antônio Callado, Chico Buar- mas não sofreram torturas,
sério muita gente. pautas. A polêmica entrevista que, Glauber Rocha, Rubem fizeram amizade com seus
com a atriz Leila Diniz e seus Fonseca e Carlos Drummond carcereiros, história contada
Informação, denúncia e 71 palavrões publicados com de Andrade. na reportagem do jornal folha
muito humor. apenas asteriscos em seus O Pasquim ainda fez uma de São Paulo no dia 24 de
Com o intuito de ir contra a lugares, deu entrada a uma grande participação na Cam- novembro de 2007.
cultura da época, o jornal já perseguição ainda maior dos panha pela Anistia, que pedia Ou então, quando muitas
começou com uma posição militares sobre a imprensa a volta dos exilados. O sema- das charges, tiras e suas
política forte: uma crítica forte brasileira. Na época, foi nário se tornou uma fonte de amadas reportagens escritas
e com bastante humor sobre instaurada a Lei da Imprensa, informações para aqueles que por Tarso Castro não
a Ditadura Militar instaurada que regularizava a manifes- foram obrigados a morar no passavam por revisão ou
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editadas. Não por escolha estratégica, mas apenas por Em 1991, quando o número 1072 ficou pronto e foi para as
preguiça e correria da redação. Foi Tarso quem decidiu com bancas Rabello decidiu que não continuariam.
quem seria a primeira entrevista, e na primeira publicação do Houve um desgaste natural do tempo, muitos nomes que
“Pasca” em 26 de junho de 1969, o colunista social Ibrahim fizeram o nome do Pasquim não faziam mais em suas páginas,
Sued deu o furo de que o general Médici seria o próximo além disso os impactos sufocaram o jornal, reduzindo suas
presidente, o terceiro da ditadura militar no Brasil. vendas e o isolando comercialmente. por mais que Jaguar
Embora todas essas histórias dos bastidores do jornal. tenha seguido publicando até 1991, a partir da metade dos
Ocorriam várias polêmicas envolvendo o palco dele, suas anos 1970, jamais teria a mesma força que alcançou em seus
charges e/ou matérias que eram bem ácidas e críticas eram primeiros anos.
frequentementes discutidas como o Cemitério dos Mortos- Entretanto, mesmo com todos os problemas, O Pasquim se
Vivos, charge do Henfil onde ele “enterrava” personalidades e tornou ícone no cenário do jornalismo brasileiro, pioneiro em
celebridades que, segundo ele, simpatizavam ou colaboraram muitos aspectos, é impossível passar pela história do jornalis-
de alguma forma com a ditadura, não se envolviam com a mo nacional sem mencionar o semanário.
política do país ou eram porta-vozes do conservadorismo. Ele
“enterrou” grandes nomes como Elis Regina, Roberto Carlos,
Clarice Lispector, Hebe Camargo, entre muitos outros.
Estes chargistas e jornalistas que transformaram e
anarquizaram a forma de se fazer jornalismo, com sarcasmo
e um humor ácido eles driblaram a censura e publicaram suas
matérias que enfeitiçaram o público com suas nuâncias de
sarcasmo e polêmicas ficando sempre na boca do povo. “O
Pasquim surge com duas vantagens: é um semanário com
autocrítica, planejado e executado só por jornalistas que se
consideram geniais e que, como os donos dos jornais não
conhecessem tal fato em termos financeiros, resolveram ser
empresários” afirma Tarso de Castro, um dos primeiros editores
do jornal que desenhou sua linha editorial.

O fim.

Quando a censura começou a perseguir não só O Pasquim Redatores:


como todos que pregavam e viviam o livre pensamento e a li- Ana Clara Assis (201903081998)
berdade de expressão, foi através da genialidade de alguns dos Caio Martins (201902399021)
Esther Ferreira (201903300304)
maiores nomes do nosso humor e cartum que o jornal seguiu
Juliana Cunha (201901282635)
falando sobre tudo que queria falar.
Juliana Vieira (201903009758)
Na história do jornal, as finanças foram mal equilibradas, Letícia Ferreira (201903190657)
da mesma forma que entrava muito dinheiro, saia. o sucesso Márcia Teles (201902395727)
nunca foi sinônimo de estabilidade. Mariana Coimbra (201902379136)
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