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“P
orque até no em 1964. tação do pensamento e da exterior.
lixão nasce Com temas como drogas, informação. Já em 1980 com a redemo-
flor” (Racionais sexo, rock n’ roll e muita polí- O cartunista Miguel Paiva cratização, a ditadura militar
MC’s). Após a instauração tica, o Pasquim foi publicado, começou a trabalhar no jornal já não era o único alvo do
da ditadura militar no Brasil, em sua primeira semana em seis meses após a sua primei- jornal. Mantido o humor de
um jornal floresceu em meio junho de 1969, com uma ra edição, fazia exatamente sempre, o Pasquim passou a
ao caos e confrontou o tiragem inicial de 20 mil exem- um ano desde a implantação criticar a corrupção, o capita-
governo através do humor, plares. Apesar de parecer do AI-5. “No período mais dra- lismo neoliberal, Collor e suas
levando a esperança de exagerado para um cenário mático da vida brasileira um políticas.
viver uma democracia para de jornalismo independente, o jornal de humor, transgressor Ainda que tenha parado
o povo brasileiro, que sofria jornal que era publicado toda nos costumes e na linguagem, de circular, mesmo após 50
com a restrição de sua semana, chegou em seu auge conseguiu sobreviver e criar anos da sua primeira edição,
liberdade, censura e uma com até 200 mil exemplares, uma relação de cumplicidade suas pautas continuam sendo
forte repressão aos que se em meados dos anos 1970. e apoio com o leitor como atuais e pertinentes para o
opusessem ao governo. Possuía um linguajar nunca se tinha visto antes”, estado atual da democracia
No meio desse cenário, coloquial e moderno, sem as lembra o cartunista. brasileira. E hoje, seus fun-
mais especificamente formalidades jornalísticas, e Mesmo com a perseguição dadores, jornalistas, cartu-
em 26 de junho de 1969, grandes entrevistas sem copi- política e quase toda equipe nistas e colunistas são peças
nasceu no Rio de Janeiro, O desque estampavam a primei- presa por conta de um cartum fundamentais no jornalismo
Pasquim. O jornal foi criado ra página de cada edição e com o quadro de Dom Pedro nacional.
pelos jornalistas Tarso de ainda era usada de base para I na independência gritando
Castro, Sérgio Cabral, Carlos Os rostos da ironia.
Prósperi, e pelos cartunistas
Claudius Ceccon e Jaguar Ao longo de sua trajetória,
(Sérgio Jaguaribe). A iniciativa o jornal, além de seus
para o seu surgimento seria fundadores já citados ainda
para substituir o tabloide de contou com nomes como
humor A Carapuça, após a Henfil, Paulo Caruso e
morte de seu responsável, outros que fizeram parte a
Sérgio Porto. gráfica do jornal, as famosas
Pasquim é um termo charges que tiveram grande
que de acordo com o repercussão na época.
dicionário, significa “jornal Além dos sarcasmos
sem repercussão, sem impressos, estes homens
importância, ou mal redigido”. levavam a vida na diversão,
A sugestão foi dada por o restante do jornal que conti- “Eu quero Mocotó”, o jornal por exemplo quando Sérgio
Jaguar como uma forma de nha ainda notas, quadrinhos, continuou com aqueles que Cabral no dia 31 de outubro
ironizar e caçoar das críticas reportagens, dicas, fotono- estavam livres como Martha de 1970 foi informado
que poderiam surgir com a velas e crônicas. As peças Alencar, Chico Jr, Henfil, que seria preso enquanto
circulação do jornal. Com pareciam conversas entre os Millôr e Miguel Paiva. Pre- palestrava em Campos (RJ),
isso, os cartunistas Ziraldo e jornalistas no bar Jangadeiros sos até fevereiro de 1971, a decidiu se entregar junto de
Fortuna, e os jornalistas Paulo em Ipanema, onde ocorreu o classe artística da época que Jaguar e Flávio Rangel, mas
Francis e Millôr Fernandes, início de tudo. também simpatizava com a antes pararam para tomar
juntaram-se ao grupo, Ainda sobre suas maté- corrente política, assumiu umas cervejas em um bar.
formando o time principal do rias polêmicas, o feminismo parte das editorias como Ficaram presos por 2 meses
semanário que iria tirar do também era uma de suas Antônio Callado, Chico Buar- mas não sofreram torturas,
sério muita gente. pautas. A polêmica entrevista que, Glauber Rocha, Rubem fizeram amizade com seus
com a atriz Leila Diniz e seus Fonseca e Carlos Drummond carcereiros, história contada
Informação, denúncia e 71 palavrões publicados com de Andrade. na reportagem do jornal folha
muito humor. apenas asteriscos em seus O Pasquim ainda fez uma de São Paulo no dia 24 de
Com o intuito de ir contra a lugares, deu entrada a uma grande participação na Cam- novembro de 2007.
cultura da época, o jornal já perseguição ainda maior dos panha pela Anistia, que pedia Ou então, quando muitas
começou com uma posição militares sobre a imprensa a volta dos exilados. O sema- das charges, tiras e suas
política forte: uma crítica forte brasileira. Na época, foi nário se tornou uma fonte de amadas reportagens escritas
e com bastante humor sobre instaurada a Lei da Imprensa, informações para aqueles que por Tarso Castro não
a Ditadura Militar instaurada que regularizava a manifes- foram obrigados a morar no passavam por revisão ou
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editadas. Não por escolha estratégica, mas apenas por Em 1991, quando o número 1072 ficou pronto e foi para as
preguiça e correria da redação. Foi Tarso quem decidiu com bancas Rabello decidiu que não continuariam.
quem seria a primeira entrevista, e na primeira publicação do Houve um desgaste natural do tempo, muitos nomes que
“Pasca” em 26 de junho de 1969, o colunista social Ibrahim fizeram o nome do Pasquim não faziam mais em suas páginas,
Sued deu o furo de que o general Médici seria o próximo além disso os impactos sufocaram o jornal, reduzindo suas
presidente, o terceiro da ditadura militar no Brasil. vendas e o isolando comercialmente. por mais que Jaguar
Embora todas essas histórias dos bastidores do jornal. tenha seguido publicando até 1991, a partir da metade dos
Ocorriam várias polêmicas envolvendo o palco dele, suas anos 1970, jamais teria a mesma força que alcançou em seus
charges e/ou matérias que eram bem ácidas e críticas eram primeiros anos.
frequentementes discutidas como o Cemitério dos Mortos- Entretanto, mesmo com todos os problemas, O Pasquim se
Vivos, charge do Henfil onde ele “enterrava” personalidades e tornou ícone no cenário do jornalismo brasileiro, pioneiro em
celebridades que, segundo ele, simpatizavam ou colaboraram muitos aspectos, é impossível passar pela história do jornalis-
de alguma forma com a ditadura, não se envolviam com a mo nacional sem mencionar o semanário.
política do país ou eram porta-vozes do conservadorismo. Ele
“enterrou” grandes nomes como Elis Regina, Roberto Carlos,
Clarice Lispector, Hebe Camargo, entre muitos outros.
Estes chargistas e jornalistas que transformaram e
anarquizaram a forma de se fazer jornalismo, com sarcasmo
e um humor ácido eles driblaram a censura e publicaram suas
matérias que enfeitiçaram o público com suas nuâncias de
sarcasmo e polêmicas ficando sempre na boca do povo. “O
Pasquim surge com duas vantagens: é um semanário com
autocrítica, planejado e executado só por jornalistas que se
consideram geniais e que, como os donos dos jornais não
conhecessem tal fato em termos financeiros, resolveram ser
empresários” afirma Tarso de Castro, um dos primeiros editores
do jornal que desenhou sua linha editorial.
O fim.