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REVISTA CIENTÍFICA

ISSN Impresso: 1982-422X | ISSN Eletrônico: 2236-1774


Volume 12, Número 2, 2017
INFORMAÇÕES GERAIS
A revista Acta Tecnológica é uma publicação oficial de divulgação
científica e tecnológica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Maranhão e se destina a divulgar os conhecimentos técnicos, científicos
e culturais produzidos nesta e demais instituições da rede de ensino básico,
técnico, tecnológico e superior.
A missão da Acta Tecnológica é publicar artigos científicos, revisões
bibliográficas, relatos de casos, resumos de teses e dissertações, notas técnicas e
outros referentes às áreas de Ciências Agrárias, Ciência e Tecnologia de Alimentos,
Ciências Biológicas, Meio Ambiente, Educação, Letras e Artes, Ciências Sociais e
Ensino das Ciências e Matemática, contribuindo para a divulgação e promoção
de debates sobre temas de interesse estratégico para o desenvolvimento científico
e tecnológico regional e nacional.
A Acta Tecnológica tem periodicidade semestral, podendo, no entanto,
ser publicadas edições especiais.
A Equipe Editorial é composta por editores, um corpo de assessores
científicos e uma equipe de apoio nas áreas de revisão textual, normalização,
design editorial e tecnologia da informação.

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A exatidão das informações, os conceitos e opiniões emitidos nos resumos e textos
completos são de exclusiva responsabilidade dos autores.

I59 ACTA Tecnológica / Instituto Federal de Educação,


Ciência e Tecnologia do Maranhão, v.12, n.2, jul-dez. 2017.
São Luís: IFMA - Pró-reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e
Inovação.

Semestral
ISSN Impresso: 1982-422X | ISSN Eletrônico: 2236-1774
1. Ciências Agrárias 2. Tecnologia de Alimentos 3. Educação
4. Meio Ambiente.
I. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
II. Título.
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Instituto Federal de Educação, Editora Chefe
Ciência e Tecnologia do Maranhão Flávia Arruda de Sousa

Reitor Conselho Editorial


Francisco Roberto Brandão Ferreira Stefan Hubertus Dorner
Gedeon Silva Reis
Pró-reitora de Pesquisa, Glayde Maria Carvalho Veras
Pós-graduação e Inovação Dihego Silva Bonfim
Natilene Mesquita Brito Flávia Arruda de Sousa
Leonardo Baltazar Cantanhede
Presidente da Editora IFMA
Gedeon Silva Reis Revisão de Texto
Flávia Alexandra Pereira Pinto
Kerllen Miryan Portela de Paiva Norato
Rita de Cássia Bastos Cirqueira Costa
Triciane Rabelo dos Santos

Revisão de Língua Estrangeira (Inglês)


Claudia Cristina Colins Pereira
Maycon Cesar Pereira Wernz

Design Editorial
Luís Cláudio de Melo Brito Rocha

Tecnologia da Informação
José Maria Ramos dos Reis

Documentação e Normalização
Michelle Silva Pinto
EDITORIAL
A Acta Tecnológica é uma revista do Instituto Federal do Maranhão que publica e divul-
ga pesquisas realizadas em educação, em ciência e em tecnologia. O lançamento de um
exemplar de uma revista científica é sempre salutar dentro do meio acadêmico, pois di-
vulga resultados de pesquisas e desenvolvimento tecnológico nas mais variadas áreas do
conhecimento e assim, cumprimos nossa finalidade de promover resultados de pesquisas
realizadas e desenvolvidas dentro da academia.
Neste volume 2 do ano 2017 publicamos os artigos O uso da fita de fibra de carbono
como reforço estrutural na construção civil e Ensaio de corrosão em placa de aço carbono
comum e galvanizado para determinação da taxa de corrosão atmosférica na cidade de
São Luís. Ambos os artigos propõem melhorias na área de construção e materiais, um dos
principais focos da nossa revista.
Os artigos Uso de reator UASB tratando água residuária da suinocultura, Caracterização
e uso das farinhas de abatedouros de aves em dietas para peixes, Ajuste de equações vo-
lumétricas para diferentes seccionamentos de tora em uma floresta sob manejo florestal
comunitário, Crescimento de plantas de alface cultivadas em substratos orgânicos, no
município de Codó/MA e Eficiência no uso de nutrientes em solos tropicais propensos à
coesão. Estas pesquisas procuram o aumento da produtividade na área das Ciências Agrá-
rias e, ao mesmo tempo, a preservação da sustentabilidade ambiental.
A área de ensino é representada pelos artigos Natureza da ciência: análise das concepções
dos licenciandos em ciências biológicas, O ensino de ciências no contexto de inclusão de
alunos com deficiência visual e Perspectivas de educação ambiental nos livros didáticos
da educação infantil, que tratam de temas tão atuais e importantes como a inclusão social
e da educação infantil, bases para qualquer sistema educativo.
Acreditamos que a seleção destes artigos representa um conjunto de contribuições cientí-
ficas importantes e atualizadas e que possam incentivar a produção de novos artigos para
a nossa revista.
Agradecemos a todos que colaboraram com esta edição e colocamo-nos à disposição, sem-
pre com o intuito de fazer uma revista cada vez melhor.

Boa leitura!

Stefan Hubertus Dorner


Editor da Revista Acta Tecnológica
SUMÁRIO
Perspectivas de educação ambiental nos livros didáticos da educação infantil.... 11
Maria das Dores Cardoso Frazão e Joelina Maria da Silva Santos;
O ensino de ciências no contexto de inclusão de alunos com deficiência visual:
uma experiência de formação inicial inclusiva.............................................. 31
Allan Sampaio Godinho, Alexandre Oliveira Holste, Karyne Louise Brito Fonseca, Regiana
Sousa Silva e Kiany Sirley Brandão Cavalcante;
Natureza da ciência: análise das concepções dos licenciandos em ciências
biológicas....................................................................................................... 47
José Francisco da Conceição Cruz e Daniel Silas Veras;
Figura 3: Número de respostas insatisfatórias no instrumento de coleta de dados. 55
Eficiência no uso de nutrientes em solos tropicais propensos à coesão: alterna-
tivas de manejo................................................................................................. 61
Rafael Mendes de Sousa, Mariléia Barros Furtado, Diôgo Ribeiro de Araújo, Conceição de
Maria Batista de Oliveira e Rones dos Santos Castro;
Crescimento de plantas de alface cultivadas em substratos orgânicos, no mu-
nicípio de Codó, Maranhão.............................................................................. 73
Josielta Alves dos Santos, Wady Lima Castro Júnior, Alex Jhonne Barbosa Carvalho,
Antonio Marcos da Conceição Lima e Gutierres Nelson Silva;
Ajuste de equações volumétricas para diferentes seccionamentos de tora em
uma floresta sob manejo florestal comunitário .............................................. 85
Raiane Cardoso da Silva, Lia de Oliveira Melo, Lucas Cunha Ximenes e Renato Bezerra a
Silva Ribeiro;
Caracterização e uso das farinhas de abatedouros de aves em dietas para
peixes....................................................................................................... 103
Juliano Kelvin dos Santos Henriques, Rômulo Batista Rodrigues e Rafael Lazzari;
Uso de reator uasb tratando água residuária da suinocultura...................... 117
Aruani Letícia da Silva Tomoto, Ana Carolina Monteiro Landgraf, Lucas Eduardo Ferreira
da Silva, Eudes José Arantes e Thiago Morais de Castro;
Ensaio de corrosão em placa de aço carbono comum e galvanizado para deter-
minação da taxa de corrosão atmosférica na cidade de São Luís................. 129
Fernando Célio monte Freire filho, Gabriel Alves Cantanhede, Edson Hiroharo Vieira Togawa,
Vallena Maria Macêdo Rezende, Renata Medeiros Lobo Müllere Claudemir Gomes de Santana;
O uso da fita de fibra de carbono como reforço estrutural na construção civil:
conhecimento, uso e divulgação.................................................................... 137
Leonardo Victor Pereira Wanderley, Alynne Lopes Salgueiro, Wandesson Marques de Sou-
sa Gomes e Valdívio Rodrigues Cerqueira;
Recebido em 06/09/2017; Aceito em 02/03/2018; Publicado na web em 04/06/2018

Perspectivas de educação ambiental nos


livros didáticos da educação infantil
Maria das Dores Cardoso Frazão1;
Joelina Maria da Silva Santos2;

11
1 Especialista em Educação Ambiental e Gestão Participativa de Recursos Hídricos; Doutoranda em Educação pela Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (Unisinos); Licenciada em Pedagogia.

2 Doutora em Linguística e Língua Portuguesa - UNESP; Mestre em Pedagogia Profissional, CUBA; Graduada em Letras e Artes pela UFPA
- Belém; professora efetiva do IFMA - Campus São Luís -Monte Castelo.

RESUMO
A Educação Ambiental é um tema presente na sociedade, e o meio acadêmico é um dos
espaços privilegiados de discussões, de pesquisas e de proposições que melhoram as rela-
ções dos seres humanos com o meio ambiente. Nessa perspectiva, elegeu-se como temá-
tica de pesquisa as ações propostas nos livros didáticos da Educação Infantil relacionadas
à Educação Ambiental. O objetivo geral foi analisar como o respeito ao meio ambiente, a
sustentabilidade do planeta e da vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos
naturais, consubstanciam-se no livro didático utilizado pelo docente da Educação Infan-
til, em consonância com o que orientam as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
Infantil de 2009. Para isso, analisaram-se oito livros utilizados por professoras desse nível
de ensino da Rede Municipal de São Luís - MA. Os resultados apontam limites nas respec-
tivas ações. Por isso, sugerem-se procedimentos estratégicos e metodológicos para ampliar
a atuação docente.

Palavras-chave: Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais. Atuação docente.

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Perspectives of environmental
education in the textbooks of early
childhood education
ABSTRACT
12
Environmental Education is a present theme in society, and the academic environment is one
of the privileged spaces for discussions, research and propositions that improve human beings’
relations with the environment. In this perspective, the proposed actions in the textbooks of Early
Childhood Education related to Environment were chosen as a research theme. And the general
objective was to analyze how the respect for the environment, the sustainability of the planet
and the life on Earth, as well as the non-waste of natural resources, consubstantiate themselves
in the textbook used by the preschool teacher in line with what guide the National Curriculum
Guidelines for Early Childhood Education in 2009. For this, eight books used by preschool tea-
chers in the municipal schools of São Luís - MA, were analyzed. The results point to limits in the
respective actions. Therefore, continuing and methodological training for teachers are suggested
to increase the teaching performance.

Keywords: Education. National Curriculum Guidelines. Teaching Performance.

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


1 INTRODUÇÃO lidade da vida na Terra, assim como o não
desperdício dos recursos naturais.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Educação Infantil foram instituídas pela O documento em apreço motivou o inte-
Resolução nº 5, de 17 de dezembro 20093, resse em: Como proceder para conhecer o
e se articulam com as Diretrizes Curricula- modo que os livros didáticos apresentam
res Nacionais para a Educação Básica. Entre ações para atingir as finalidades e objetivos
suas finalidades estão a de orientar a elabo- das Diretrizes, no que se refere ao respeito 13
ração, o planejamento, a execução e a ava- ao meio ambiente, a sustentabilidade do
liação das propostas pedagógicas e curricu- planeta, da vida na Terra, bem como o não
lares para a Educação Infantil. desperdício dos recursos naturais?
Dentre os princípios que deverão orientar as Sendo assim, parte-se do seguinte objetivo
propostas pedagógicas para a Educação In- geral: analisar como o respeito ao meio am-
fantil, o primeiro deles está disposto no Art. biente, a sustentabilidade do planeta e da
6º, que diz respeito ao princípio Ético: da au- vida na Terra, assim como o não desperdí-
tonomia, da responsabilidade, da solidarie-
cio dos recursos naturais, consubstanciam-
dade e do respeito ao bem comum, ao meio
-se no livro didático utilizado pelo docente
ambiente e às diferentes culturas, identida-
da Educação Infantil.
des e singularidades. (BRASIL, 2009).
O texto organiza-se cinco partes: Introdu-
Para isso, a proposta pedagógica deve ga-
ção, Fundamentação, Metodologia, Resul-
rantir que as instituições de Educação In-
tados e Discussão e Considerações Finais.
fantil cumpram sua função sociopolítica e
A pesquisa mostrou que há necessidade de
pedagógica, construindo novas formas de
mais discussões sobre o papel da educação
sociabilidade e subjetividade, comprometi-
ambiental nos livros didáticos, bem como,
das com a sustentabilidade do planeta.
de investimentos na formação de educado-
Além disso, as práticas pedagógicas devem
res ambientais na Educação Infantil.
garantir experiências que promovam a inte-
ração, o cuidado, a preservação e o conhe-
2 FUNDAMENTAÇÃO
cimento da biodiversidade e da sustentabi-
TEÓRICA
3 Devido aos limites do presente texto, não há como mencionar
outras Diretrizes que orientam o trabalho pedagógico na
A Educação ambiental é um assunto de in-
Educação Básica. Por isso, das várias Diretrizes, selecionamos
teresse da sociedade, sobretudo porque a
apenas, a Resolução n. 5, de 22 de junho de 2012, que
define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação sobrevivência das próximas gerações será
Escolar Indígena, e no que tange à Educação Infantil, elas
recomendam que as escolas indígenas devem elaborar materiais assegurada por ações responsáveis com o
didáticos específicos e de apoio pedagógico, garantindo a
incorporação de aspectos socioculturais indígenas significativos
meio ambiente. Nesse sentido, a educação
e contextualizados. Quanto à sustentabilidade socioambiental, ambiental tem papel importante na forma-
recomendam que devem orientar todo processo educativo
definido no projeto político-pedagógico. (BRASIL, 2012) ção de um pensamento crítico que saiba se

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posicionar em relação à utilização dos recur- Sendo assim, a EA, de acordo com o esque-
sos naturais e ao respeito ao meio ambiente. ma, pretende:

A Educação Ambiental (EA) envolve os aspec-


tos biológicos da vida, garantindo a preser-
vação de determinadas espécies de animais
e vegetais e dos recursos naturais. Por outro
14 lado, quando se afirma e se define a educação
ambiental como educação política, afirma-se
o que deve ser considerado, principalmente
na análise das relações políticas, econômicas,
sociais e culturais entre a humanidade e a na-
tureza e as relações entre os seres humanos,
objetivando a superação dos mecanismos de Fonte: Adaptado de Dias (2004, p.110)

controle e de dominação, que impedem a Partindo-se do esquema, pode-se refletir


participação livre, consciente e democrática que a EA é uma prática complexa e requer
de todos. (REIGOTA, 2009) participação de toda sociedade. Nesse senti-
do, Reigota (2009) apresenta alguns de seus
Desse modo, a sociedade é convidada a parti-
elementos, um deles é a dimensão política,
cipar, propor e buscar soluções e alternativas
na medida em que ela reivindica e prepara
que permitam a convivência voltada para o
os cidadãos para construir uma sociedade
bem comum. Sabe-se que a educação envol-
com justiça social, cidadanias nacional e
ve a formação de pessoas, com finalidades
planetária, autogestão e ética nas relações
e objetivos. Entretanto formar para trans-
sociais e com a natureza. Outro elemento
formação requer paciência, pois a educação
diz respeito à ética na vida cotidiana, quan-
acontece ao longo da vida. Essa é a perspec- do se enfatiza a necessidade de respeito a
tiva da Educação Ambiental construir um todas as formas de vida.
pensamento reflexivo sobre a vida na Terra.
Nota-se que estes elementos estão presentes
Ao longo da história, houve diferentes concep- nas orientações das Diretrizes Curriculares
ções sobre Educação Ambiental. A esse respei- Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI,
to, Dias (2004, p.100) apresenta um esquema 2009), quando apontam como papel das
sobre o que se pretende com a EA. Conforme instituições de educação infantil o desen-
seus posicionamentos, a Educação Ambiental volvimento do respeito ao meio ambiente e
deve ser “um processo por meio do qual as comprometimento com a sustentabilidade
pessoas apreendam como funciona o ambien- do planeta.
te, como dependemos dele, como o afetamos Ao instituir orientações para as instituições
e promovemos sua sustentabilidade”. de educação infantil, sob essa perspectiva,

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observa-se um avanço na elaboração de O Brasil é um dos países que têm se enga-
propostas para essa etapa da educação, pois jado em discutir a problemática ambiental,
é nesse momento da vida que a criança se propondo soluções, promovendo eventos,
insere na educação básica, podendo, assim, formando educadores, desenvolvendo e so-
construir um pensamento reflexivo sobre cializando pesquisas. Por isso, é importante
sua participação na formação da cidadania atentar para a constituição da EA no país.
local e global. No Quadro 1, Carvalho (2009) apresenta
15
A fim de superar essa dicotomia, as DCNEI uma síntese das principais políticas públi-
(2009) recomendam que as propostas peda- cas para EA no Brasil.
gógicas devem organizar-se em dois eixos, ou Quadro 1: Principais políticas públicas para
seja, das interações e das brincadeiras para ga- Educação Ambiental no Brasil
rantir experiências que incentivem a curiosi-
dade, a exploração, o encantamento, o ques- Ano Ação
tionamento, a indagação e o conhecimento 1984 Criação do Programa Nacional de
das crianças em relação ao mundo físico e Educação Ambiental (Pronea).
social, ao tempo e à natureza e que promo- 1988 Inclusão da EA como direito de
vam a interação, o cuidado, a preservação e o todos e dever do Estado na Cons-
conhecimento da biodiversidade e da susten- tituição.
tabilidade da vida na Terra, assim como o não 1992 Criação dos Núcleos de EA pelo
desperdício dos recursos naturais. Instituto Brasileiro do Meio Am-
biente e dos Recursos Naturais Re-
Percebe-se, então, que a Educação Infantil
nováveis (IBAMA) e dos Centros
deve promover a desconstrução do mode-
de Educação Ambiental pelo Mi-
lo de humanidade que separa o ser huma-
nistério da Educação (MEC).
no da natureza. Nesse sentido, (REIGOTA,
2009) acrescenta que a EA crítica está im- 1994 Criação do Programa Nacional de
pregnada da utopia de mudar radicalmente EA (Pronea) pelo MEC e pelo Mi-
as relações entre a humanidade e a nature- nistério do Meio Ambiente (MMA).
za. Segundo Carvalho (2009), a EA emerge 1997 Elaboração dos Parâmetros Curri-
da preocupação da sociedade com o futuro culares definidos pela Secretaria de
da vida e com a qualidade da existência das Ensino Fundamental do MEC, em
presentes e futuras gerações. que “meio ambiente” é incluído
Em face disso, é oportuno considerar-se que como um dos temas transversais.
1999 Aprovação da Política Nacional de
a criança não é uma tábula rasa onde se-
EA pela Lei 9.795.
rão impressas as experiências, mas um ser
2001 Implementação do Programa Pa-
biológico, social, histórico e cultural, e a
râmetros em Ação: meio ambiente
educação tem o papel de formar a natureza
na escola pelo MEC.
humana do indivíduo.

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2002 Regulamentação da Política Na- a solução dos problemas sociais que atin-
cional de EA (Lei 9.795) pelo De- giam o povo brasileiro. Depois, chega-se à
creto 4.281. conclusão de que as questões ambientais
2003 Criação do Órgão Gestor da Polí- não eram antagônicas às questões sociais,
tica Nacional de EA reunido pelo o que culminou na compreensão da pro-
MEC e MMA. blemática socioambiental. A respeito da
2006 O Governo Federal criou o Progra- constituição do campo da EA brasileira, as
16
ma Nacional de Formação de Edu- autoras concluem que a educação ambien-
cadores Ambientais (ProFEA). tal apresenta influência dos movimentos
Fonte: Carvalho (2009), Nery-Silva (2015) socioambientais, possuindo características
que remetem a tais movimentos.
A EA, na esfera governamental brasilei-
ra, desenvolveu-se, segundo Souza e Salvi Nesse sentido, é importante destacar o pa-
(2012), sobretudo por meio de ações das pel da instituição escolar, pois esta procura
agências estatais de meio ambiente e não responder às demandas formativas ao lon-
do sistema educacional. Hoje, ela é prati- go do tempo e espaço. Atualmente, a esco-
cada em diferentes espaços desde espaços la exerce papel fundamental na sociedade,
empresariais, zoológicos, unidades de con- não se concebe uma sociedade sem escola,
servação, espaço escolar e outros. embora já se tenha pensado assim. Sabe-se
que a educação perpassa todas as esferas da
As autoras advertem que a EA brasileira não
sociedade, mas a escola que tem exercido
é marcada por consenso, mas por diferentes
papel preponderante de educar novas gera-
concepções, variadas correntes, tendências
ções. Nesse bojo, ela não pode se omitir de
e identidades. Nesse sentido, “tais correntes
participar da problemática ambiental.
possuem entre si diferença de interesses e
A esse respeito, Pelegrini e Vlach (2011)
de concepções sobre sociedade, meio am-
consideram que, diante dos inúmeros de-
biente, natureza, educação, em posições
safios que se apresentam aos docentes de
políticas e filosóficas diversas e, portanto, se
todos os níveis de ensino, a EA talvez este-
expressam na prática de diferentes formas”
ja entre os mais complexos. Eles acrescen-
(SOUZA; SALVI, 2012, p. 114).
tam que muitos debates acerca da questão
As pesquisadoras acima afirmam que a EA ambiental não têm chegado à escola, por
tem características próprias, as quais con- vezes, limitam-se à explicação sobre a di-
tribuíram para que houvesse um distancia- nâmica dos ciclos biogeoquímicos e dos
mento e aproximações entre movimentos ecossistemas apresentados sob a perspecti-
sociais e movimentos ambientais. Na dé- va biológica, bem como a simples descrição
cada de 1980, eles apresentavam debates dos impactos ambientais promovidos pela
dissociados, pois consideravam as questões ação humana, embora produzam efeitos
ambientais burguesas e o que importava era na sensibilização dos discentes a respeito

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dos sintomas da crise ambiental. Porém, se 1, de 7 de abril de 1999, por ampliar a no-
mostram pouco eficazes na operacionaliza- ção de currículo, concepção sobre criança,
ção de mudanças estruturais na ordem eco- contudo, ainda é omissa em muitas ques-
nômica, social e política. tões, entre as quais a relação da criança com
o meio ambiente.
A partir do exposto, pretende-se discutir as
ações propostas pelos livros didáticos para Na década de 1990, surgiram formulações
atingir as finalidades e os objetivos das sobre a educação infantil que passam a en- 17
Diretrizes, no que se refere ao respeito ao fatizar a inseparabilidade dos aspectos do
meio ambiente, a sustentabilidade do pla- cuidado e da educação da criança pequena.
neta, a sustentabilidade da vida na Terra, Nessa década, além da promulgação das Di-
bem como o não desperdício dos recursos retrizes Curriculares da Educação Infantil,
naturais, antes, porém, discutiremos a orga- são elaborados os Referenciais Curriculares
nização da Educação Infantil. Nacionais - RCNEI, que servem de guia para
o trabalho docente em creches e pré-escolas.
2.1 Sobre a Educação Infantil
O RCNEI é composto por três volumes, o
A Educação Infantil atinge crianças na
primeiro denominado Introdução; o volu-
idade de 0 a 5 anos, que são atendidas em
me 2 denomina-se Formação pessoal e so-
creches e pré-escolas, embora aquelas que
cial; e o volume 3 denominado Conheci-
completam 6 anos após 31 de março, de-
mento de mundo. Este último contém seis
vam ser também matriculadas nesta etapa.
documentos referentes aos eixos de traba-
As DCNEI (2009) apresentam definições
lho orientados para a construção de dife-
importantes para a Educação Infantil, pois:
rentes linguagens pelas crianças e para as
É a primeira etapa da Educação Bási-
relações que estabelecem com os objetos de
ca, oferecida em creches e pré-escolas
conhecimento: Movimento, Música, Artes
[...] O currículo da Educação Infantil
é concebido como um conjunto de Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Nature-
práticas que buscam articular as ex- za e Sociedade e Matemática (SILVA, 2012).
periências e os saberes das crianças Apesar de as Diretrizes Curriculares de 2009
com os conhecimentos que fazem estarem em vigor, entretanto, alguns livros
parte do patrimônio cultural, artísti- didáticos em circulação ainda se organizam
co, ambiental, científico e tecnológi-
segundo propõem os RCNEI.
co, de modo a promover o desenvol-
vimento integral de crianças de 0 a 5 2.2 A materialidade das obras: a ação
anos de idade. (BRASIL, 2009).
metodológica
Especialistas da área reconhecem que as Di- O livro didático permanece como princi-
retrizes avançam em relação às Diretrizes pal instrumento utilizado pelos professores
Curriculares Nacionais para a Educação In- para o planejamento de suas aulas. De acor-
fantil, estabelecidas pela Resolução CEB nº do com Gatti Jr. (2005), ele desempenha pa-

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


pel central no cotidiano escolar dos alunos, no exercício profissional dos educadores dos
diferentes níveis, além de ser o produto mais vendido pelas editoras nacionais.

Partindo-se do questionamento inicial: até que ponto os livros didáticos da educação in-
fantil contemplam as finalidades e objetivos das Diretrizes no que se refere ao respeito, ao
meio ambiente, a sustentabilidade do planeta, a sustentabilidade da vida na Terra, bem
como o não desperdício dos recursos naturais?
18
Dessa maneira, para o diagnóstico da pesquisa, selecionou-se 8 livros que estão em circu-
lação na rede municipal de educação de São Luís/MA, a saber:

Livro 1

Quadro 2: Estrutura do livro.

Título do Ano Edição Editora Local Número Faixa Número de


livro de páginas etária capítulos
Bem-me-quer 2009 1ª FAPI Belo Horizonte 96 4-5 anos 10
- Minas Gerais

Fonte: A autora (2017).

Quadro 3: Sobre os autores.

Nome Formação/atuação Mensagem aos professores


Solange Valadares e Não consta As autoras deixam como mensagem principal que o
Rogéria Araújo papel do (a) professor (a) é incentivar as crianças a dia-
logar, refletir, valorizar, diferenças, conviver com as ou-
tras pessoas. E um aspecto que chama atenção diz res-
peito a responsabilidade compartilhada com o mundo.

Fonte: A autora (2017).

Quadro 4: Conteúdo do livro.

Temáticas desenvolvidas Sugestões de atividades relacionadas ao meio ambiente


Quem sou eu/ A minha No item datas comemorativas, as autoras apontam duas datas im-
família/ Onde eu moro ?/ portantes relacionadas ao meio ambiente: Dia do Meio Ambiente
Eu na minha escola/Profis- (5 de junho) e Dia da Árvore (21 de setembro). Apenas na primeira
sões/Meios de transporte/ as autoras deixam a seguinte mensagem: “Converse com as crian-
Trânsito/ O tempo/ Meios ças sobre o que podemos fazer para proteger nosso planeta: não
de comunicação/ Datas co- desperdiçar água, não jogar lixo na rua, reciclar o lixo; economizar
memorativas. energia, etc.” (VALADARES & ARAÚJO, 2009).

Fonte: A autora (2017).

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Livro 2

Quadro 5: Estrutura do livro.

Título do Ano Edição Editora Local Número Faixa Número de


livro de páginas etária capítulos
Fofurinha: 3 2010 1ª FAPI Belo Horizonte 144 3e4 O livro orga-
e 4 anos - Minas Gerais anos niza-se em 4
projetos.
19
Fonte: A autora (2017).

Quadro 6: Sobre o autor.

Nome Formação/atuação Mensagem aos professores


Solange Valadares e Não consta Na obra constam instrumentos para promover o de-
Erika Valadares senvolvimento integral da criança de 3 a 4 anos de
idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectu-
al e social.

Fonte: A autora (2017).

Quadro 7: Conteúdo do livro.

Temáticas desenvolvidas Sugestões de atividades relacionadas ao meio ambiente


Os projetos pedagógicos No projeto “Água”, as autoras definiram alguns objetivos: Reconhe-
desenvolvidos são “Cores cer as necessidades dos seres vivos em relação à água, trabalhar os
e alegria”, “Circo”, “Água”, hábitos de higiene. Sugerem algumas atividades para Linguagem
“Alimentação” oral e escrita: explorar livros, revistas, gravuras e textos sobre a água.
Para Natureza e Sociedade sugerem realizar rodas informativas e
falar sobre as utilidades da água, observar um globo terrestre para
comparar a quantidade de água e quantidade de terra, conversar
sobre os hábitos necessários para a preservação da água, evitando
o desperdício. Para Matemática, sugerem marcar no calendário da
sala: 22 de março, Dia Mundial da Água.

Fonte: A autora (2017).

Livro 3

Quadro 8: Estrutura do livro.

Título do Ano Edição Editora Local Número Faixa Número de


livro de páginas etária capítulos
Aprendendo 2010 1ª Rideel São Paulo 124 Maternal 7
com histórias

Fonte: A autora (2017).

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Quadro 9: Sobre os autores.

Nome Formação/atuação Mensagem aos professores


Kelly Cláudia Não consta De acordo com a nota de apresentação, os contos
Gonçalves de fada resgatam a leitura e estimulam a fantasia, a
imaginação. Sendo assim, as mensagens contidas nas
histórias como bondade, coragem e afeto ajudam na
formação da criança. Logo, à medida que se contam
20 as histórias, as crianças elaboram suas próprias ideias,
resolvendo conflitos e diferenciando o bem do mal.
Fonte: A autora (2017).

Quadro 10: Conteúdo do livro.

Temáticas desenvolvidas Sugestões de atividades relacionadas ao meio ambiente


A autora organiza o livro em sete Nos contos, a autora desenvolve atividades relacionadas à pai-
contos tradicionais “Branca de sagem, conhecimento dos seres vivos, alimentos saudáveis.
Neve”, “Chapeuzinho Vermelho”,
“Os três porquinhos”, “Pinóquio”,
“A Bela Adormecida”, “João e Ma-
ria”, “A Bela e a Fera”, por meio
delas são trabalhadas a Linguagem
oral e escrita, Matemática, Artes,
Movimento, Construção de si, Res-
peito ao próximo.
Fonte: A autora (2017).

Livro 4

Quadro 11: Estrutura do livro.


Título do Ano Edição Editora Local Número Faixa Número de
livro de páginas etária capítulos
Descobrir e 2011 Não Edições Fortaleza 168 4-5 anos 8 unidades, qua-
aprender. Edu- consta IPDH - Ceará tro delas divididas
cação Infantil na área de Socie-
dade e as demais
para Natureza.
Fonte: A autora (2017).

Quadro 12: Sobre os autores.

Nome Formação/atuação Mensagem aos professores


Alessandra Monteiro Licenciada em Letras, Especialista em En- A coleção composta de seis
sino da Língua Portuguesa, experiência na volumes foi elaborada com o
Educação Infantil e no Ensino Fundamental. objetivo de propiciar o desen-
volvimento global da criança.

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Cláudia Marcos Licenciada em Pedagogia, Especialista em
Pedagogia, autora de livros didáticos para
a Educação Infantil, experiência na Educa-
ção Infantil e Ensino Fundamental, psico-
pedagoga clínica.
Mércia Valéria Cam- Graduada em Pedagogia, Especialista em
pos Figueiredo Psicopedagogia, experiência na Educação
Infantil e Ensino Fundamental.
Nukácia Meyre Silva Graduada em Letras, Mestre em Linguística 21
Araújo e Doutora em Educação, Professora da Uni-
versidade Estadual do Ceará.
Fonte: A autora (2017).

Quadro 13: Conteúdo do livro.

Temáticas desenvolvidas Sugestões de atividades relacionadas ao meio ambiente


As temáticas analisadas recaem so- As autoras sugerem atividades que levem as crianças conhe-
bre o Eixo Natureza, são elas: “De cerem a natureza, começando pelo homem/mulher, com
bem com a vida”, “É o bicho”, “Cui- o conhecimento do corpo. Em seguida, apresentam vários
dando do planeta”, “As plantas”. animais, depois as plantas, os rios, recomendações sobre
cuidado para não desperdiçar água, atitudes corretas para
com o meio ambiente, como separação dos materiais reci-
cláveis, incentivam plantar. As autoras sugerem atividades
de pintura, desenho, leitura.
Fonte: A autora (2017).

Livro 5

Quadro 14: Estrutura do livro.


Título do Ano Edição Editora Local Número Faixa Número de
livro de páginas etária capítulos
Doce Maternal 2013 2ª, vol. 2 Claranto Uberlândia - 128 3a4 37
Minas Gerais anos
Fonte: A autora (2017).

Quadro 15: Sobre os autores.

Nome Formação/atuação Mensagem aos professores


Adriana Felisbino Não consta Na nota de apresentação, a coleção parte de uma “pro-
posta criativa e interdisciplinar que explora o ambiente
prazeroso da sala do Maternal, numa perspectiva lúdi-
ca, em harmonia com o faz de conta, a conscientização
ambiental, os valores humanos, as datas comemorati-
vas, os conhecimentos gerais, a oralidade e a escrita.”
(FELISBINO, 2013, p. 3). Nota-se a preocupação explí-
cita com a questão ambiental.
Fonte: A autora (2017).

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Quadro 16: Conteúdo do livro.

Temáticas desenvolvidas Sugestões de atividades relacionadas ao meio ambiente


Na primeira parte, a autora A autora sugere algumas atividades aos professores. A primeira
orienta o trabalho com datas co- delas relacionadas ao Dia do Planeta Terra. São elas:
memorativas. Em seguida, sobre
Cantar a música Planeta, planetinha. Depois conversar sobre a
os conhecimentos gerais, orali-
importância de cuidar do planeta.
dade e escrita, valores humanos
22 e matemática. Propor um passeio pela escola à procura de recursos naturais.
Realizar passeata no Dia do Planeta Terra.
Incentivar o plantio de algumas espécies de plantas.
A segunda data comemorativa refere-se ao Dia Mundial do
Meio Ambiente. A autora sugere que se pode repetir as ativida-
des realizadas por ocasião do Dia do Planeta Terra. Além disso,
durante a semana deve-se criar uma rotina de atividades como
aguar plantas da escola, dar comida aos animais, observar as
torneiras para manterem-se fechadas, cuidar para que o lixo
seja jogado fora adequadamente.

Fonte: A autora (2017).

Livro 6

Quadro 17: Estrutura do livro.

Título do Número Faixa Número de


Ano Edição Editora Local
livro de páginas etária capítulos
Doce Maternal 2013 2ª, vol. 3 Claranto Uberlândia - 128 3 a 4 anos 37
Minas Gerais

Fonte: A autora (2017).

Quadro 18: Sobre os autores.

Nome Formação/atuação Mensagem aos professores


Adriana Felisbino Não consta Na nota de apresentação, a coleção parte de uma
“proposta criativa e interdisciplinar que explora
o ambiente prazeroso da sala do Maternal, numa
perspectiva lúdica, em harmonia com o faz de
conta, a conscientização ambiental, os valores
humanos, as datas comemorativas, os conheci-
mentos gerais, a oralidade e a escrita.” (FELISBI-
NO, 2013, p. 3). Nota-se a preocupação explícita
com a questão ambiental.

Fonte: A autora (2017).

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Quadro 19: Conteúdo do livro.

Temáticas desenvolvidas Sugestões de atividades relacionadas ao meio ambiente


Na primeira parte, a autora orienta A autora sugere algumas atividades aos professores. A pri-
o trabalho com datas comemorati- meira delas relacionadas ao Dia da Árvore. São elas:
vas. Em seguida, sobre os conheci-
Abraçar as árvores da escola, fazer carinho, criar desenhos
mentos gerais, oralidade e escrita,
para homenageá-las.
valores humanos e matemática.
Confeccionar uma árvore coletiva gigante em que todos par-
ticipem. 23

Levar as crianças até um local da cidade em que haja uma


boa variedade de árvores para que observem a riqueza de
suas espécies.
Organizar um jogral com a música “Árvore”.
Fonte: A autora (2017).

Livro 7

Quadro 20: Estrutura do livro.


Título do Ano Edição Editora Local Número Faixa Número de
livro de páginas etária capítulos
Doce Maternal 2013 2ª, vol. 4 Claranto Uberlândia - 128 3 a 4 anos 37
Minas Gerais
Fonte: A autora (2017).

Quadro 21: Sobre os autores.

Nome Formação/atuação Mensagem aos professores


Adriana Felisbino Não consta Na nota de apresentação, a coleção parte de uma “pro-
posta criativa e interdisciplinar que explora o ambiente
prazeroso da sala do Maternal, numa perspectiva lúdica,
em harmonia com o faz de conta, a conscientização am-
biental, os valores humanos, as datas comemorativas, os
conhecimentos gerais, a oralidade e a escrita.” (FELISBI-
NO, 2013, p. 3). Nota-se a preocupação explícita com a
questão ambiental.
Fonte: A autora (2017).

Quadro 22: Conteúdo do livro.

Temáticas desenvolvidas Sugestões de atividades relacionadas ao meio ambiente


Na primeira parte, a autora orienta No último volume do ano, a autora propõe atividades para as
o trabalho com datas comemorati- seguintes datas comemorativas: Dia das Crianças, Professores,
vas. Em seguida, sobre os conheci- Bandeira, Família, Natal e Reveillon. Porém, há poucas ações
mentos gerais, oralidade e escrita, voltadas ao meio ambiente, uma delas sugere-se uma oficina
valores humanos e matemática. de sucata no Dia das Crianças e uma outra oficina de brinque-
dos de sucata no Dia da Família.
Fonte: A autora (2017).

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Livro 8

Quadro 23: Estrutura do livro.

Título do Ano Edição Editora Local Número Faixa Número de capítu-


livro de páginas etária los
C o l e ç ã o 2013 2ª Rideel São Paulo 128 3 anos O livro organiza-se
amarelinha em duas partes. A pri-
[3 anos] meira delas Natureza
24
apresenta 9 capítulos.
A segunda Sociedade
10 capítulos.

Fonte: A autora (2017).

Quadro 24: Sobre os autores.

Nome Formação/atuação Mensagem aos professores


Rose Elaine Sgroglia Pedagoga e Psicóloga, O livro objetiva “suprimir a maioria das ne-
Machado com especialização em cessidades que temos durante o nosso dia a
Psicopedagogia. Coorde- dia”. (MACHADO, 2013, s/p). A autora asse-
nadora pedagógica e psi- gura que ele foi elaborado com base nos Re-
copedagoga. ferenciais Curriculares Nacionais para a Edu-
cação Infantil. Cada caixa contém um livro
de Linguagem Oral e Escrita, Matemática, Na-
tureza e Sociedade, Educação Física e o livro
do professor. O livro é acompanhado de um
CD. Ela almeja contribuir para um desenvol-
vimento feliz das crianças.

Fonte: A autora (2017).

Quadro 25: Conteúdo do livro.

Sugestões de atividades relacionadas ao meio


Temáticas desenvolvidas
ambiente
Na primeira parte “Natureza”, a autora apre- Na primeira parte, a autora enfatiza o conheci-
senta as seguintes temáticas: Nosso corpo, mento do meio ambiente, por meio da música,
higiene, ambientes, seres vivos, as plantas, as atividades de pintura, recorte e colagem.
frutas, os alimentos, a água, meio ambiente.
Na segunda parte “Sociedade”, ela apresenta
os seguintes temas: eu, meu nome, meus brin-
quedos preferidos, família, minha casa, de-
pendências da casa, a escola, o trânsito, meios
de transporte, datas comemorativas.

Fonte: A autora (2017).

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


2.3 Metodologia para a Educação Infantil. Identificaram-se
O corpus documental é formado pelo con- as seguintes editoras: FAPI, Rideel, Edições
junto de oito livros didáticos. Elege-se o livro IPDH, Claranto. Destas, a Rideel editou duas
didático por ser o principal recurso utilizado obras, a Claranto uma coleção de três volu-
pelos professores para planejamento de suas mes, a FAPI publicou dois livros e as Edições
aulas. Cabe ressaltar que os livros foram ce-
IPDH, um livro. Das editoras, apenas uma
didos por uma professora da Rede Municipal
pertence à região Nordeste do Brasil, as de-
de São Luís, que os utiliza em seu planeja- 25
mais se localizam no Sudeste. Os livros são
mento, e por informação verbal da Superin-
organizados em Projetos, unidades e capítu-
tendência de Educação Infantil da Rede, sou-
bemos que não se adotam livros didáticos los onde se distribuem os assuntos. O núme-
nessa etapa da Educação Básica em São Luís. ro de páginas é, em média, entre 90 a 128.
Apenas um dos livros está na segunda edi-
Como metodologia, optou-se pela análi-
ção. Sobre a formação das autoras, em ape-
se documental. É uma pesquisa de caráter
nas dois livros consta que uma é formada
bibliográfico, que buscou mapear as con-
cepções de educação ambiental nos livros em Letras e a outra é Pedagoga e Psicóloga.
didáticos. Nessa premissa, utilizam-se, para Quanto às temáticas relacionadas ao meio
revisão de literatura e compreensão da te- ambiente, preponderam aquelas relaciona-
mática, alguns autores como Pelegrini e das às datas comemorativas: Dia do Meio
Vlach (2011), Carvalho (2009), Reigota
Ambiente, Dia da Árvore, Dia do Planeta.
(2009), Dias (2004).
Aparecem também a valorização da água,
Para tal propósito, tem-se como objetivos escolha da alimentação saudável, respeito
específicos: analisar as diversas literaturas aos animais, cuidado com o lixo. As ativi-
que tratam do tema; identificar a materia-
dades sugeridas são aulas passeio, pintura,
lidade dos livros selecionados, bem como
recorte e colagem, plantio, música, jograis.
os discursos a respeito de meio ambiente,
Quanto às orientações dirigidas aos profes-
sustentabilidade e não desperdício de re-
sores, percebe-se a necessidade de ampliar a
cursos naturais; e, por fim, sugerir algumas
discussão sobre a importância da educação
possibilidades de estratégias metodológicas
aos professores da Educação Infantil, que ambiental na formação da criança. Apenas
assegurem ao aluno o desenvolvimento de o livro Doce Maternal objetiva desenvolver
experiências que respeitem o meio ambien- a conscientização ambiental.
te e o não desperdício de recursos naturais. Por constatar alguns limites nos livros em
apreço, apresentam-se, na próxima seção,
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO algumas sugestões para os professores. A
Foram analisados oito livros editados entre primeira delas, no âmbito da formação con-
2009 e 2013, período em que já estavam em tinuada, e a outra para serem desenvolvidas
vigor as Diretrizes Curriculares Nacionais com os alunos.

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


3.1 Possibilidades de estratégias metodo- preender o que se passa em volta. Para isso,
lógicas para o trabalho docente na sugere-se como atividade a chamada “leitura
Educação Infantil da paisagem”. Conforme orientações abaixo:
A educação é uma prática social perma-
Metodologia
nente, mas a escola exerce papel essencial
na formação do ser humano. Nesse senti- Na saída a campo, o objetivo é observar a
do, Carvalho (2009, p. 156) explica que a heterogeneidade histórica, cultural, econô-
26
prática educativa é um processo que tem mica e ambiental, identificando, separando
como horizonte formar o sujeito humano e descrevendo a região na qual determina-
enquanto ser social e historicamente situ- do espaço se insere.
ado. Logo, a formação do indivíduo só faz
Reunir um grupo de professores para con-
sentido se pensada em relação ao mundo
versar com outros habitantes sobre a região,
em que ele vive e pelo qual é responsável.
para o levantamento de informações.
Sendo assim, entende-se o quanto é impor-
Compartilhar no grupo as informações reco-
tante o desenvolvimento da EA na escola,
em especial na Educação Infantil, pois esta lhidas. É o momento da sistematização dos

é a primeira etapa da Educação Básica. Mas dados, confecção de mapas com suas diferen-
a formação não deve se restringir ao aluno, tes unidades ambientais, históricas e culturais.
deve contemplar a todos que compõem a b) Pesquisando a memória do ambiente
instituição educativa. Por isso, as sugestões
Propor uma pesquisa que vise recuperar a
que seguem destinam-se tanto aos professo-
história natural e social do lugar onde atua
res, quanto aos alunos.
o educador.
3.2 A formação continuada
Metodologia:
Com base nos estudos de Carvalho (2009),
elencam-se algumas sugestões de formação Escutar histórias dos mais velhos sobre
continuada, a saber: como era o lugar no passado.

a) A leitura da paisagem Pesquisar na história escrita as transforma-


ções sociais e ambientais ali ocorridas desde
Segundo a autora, “ler” o meio ambiente é
apreender um conjunto de relações sociais as primeiras ocupações na região.

e processos naturais, captando as dinâmi- Investigar os modos de vida que conviveram


cas de interação entre as dimensões cultu- ali em tempos passados e deixaram alguma
rais, sociais e naturais na configuração de marca na paisagem e nos costumes do lugar.
uma determinada realidade socioambiental.
Para chegar a isso, não basta observar passi- 3.3 Sugestões de atividades para os do-
vamente o entorno, mas é importante certa centes desenvolverem com os alunos
educação do olhar, aprender a “ler” e com- No portal do Ministério da Educação - Edu-

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


cação Ambiental4, há publicações destina- mações e conhecimentos que fundamen-
das aos professores que apresentam resul- tem as práticas educativas, os docentes
tados de pesquisas, textos, sugestões para encontrarão caminhos de educação am-
construção de viveiros, horta e outros. Ou- biental. Sobretudo, oportunizarão às crian-
tros sites que apresentam orientações para ças um encontro com elas mesmas, com a
o trabalho docente são Horta Viva5. Ao vi- natureza e com o outro na construção de
sitar o endereço, o professor encontra infor- convivência respeitosa e solidária.
27
mações sobre:

• Música: o álbum Pantanal, da série “Pai- 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS


sagens Sonoras do Planeta”, gravado e A questão investigada foi: De que modo os
produzido pelo ecologista acústico Beto livros didáticos apresentam ações para atin-
Bertolini (HORTA VIVA, 2017). O CD gir às finalidades e objetivos das Diretrizes
apresenta um registro de 38 ambiências Curriculares Nacionais para a Educação In-
sonoras, compondo um retrato eco acús- fantil, no que se refere ao respeito ao meio
tico da maior planície alagada do Planeta. ambiente, a sustentabilidade do planeta, da
• Livros paradidáticos: O Jardim de cada vida na Terra, bem como o não desperdício
um, de Nye Ribeiro, da Editora Papi- dos recursos naturais?
rus. (HORTA VIVA, 2017). O livro pre- Nessa perspectiva, foram selecionados oito
tende desenvolver a ideia de confiança livros didáticos, dessa etapa de ensino, a
no mistério da natureza, respeitando fim de proceder a investigação proposta.
suas leis naturais e seus ciclos de vida e Em seguida, realizou-se a revisão de lite-
morte; refletir e trabalhar com a noção ratura acerca da história da educação am-
de cuidado; vivenciar situações de paz, biental e educação infantil no Brasil. Para
confiança e autoestima; desenvolver a organização dos dados, foram elaborados
consciência da necessidade de ecologia três modelos de quadros: o primeiro para
interna e externa - são alguns dos obje- conhecer a estrutura dos livros, o segundo
tivos propostos pela própria autora no com informações sobre autoras das obras e
trabalho com os leitores. o terceiro com os conteúdos dos livros.
Além disso, o professor encontra informa- A análise demonstrou que os livros didáti-
ções sobre eventos, sites, vídeos, livros para cos não atendem, de modo abrangente, o
download, textos, artigos, projetos didáti- que requerem as Diretrizes Curriculares Na-
cos. E em breve, disponibilizará teses e ou- cionais para a Educação Infantil no que diz
tros textos acadêmicos. respeito às questões ambientais. As ações
Ao se buscar nesses sites e em outros infor- propostas pelas autoras dos livros são ín-
fimas em face do que orienta o documento.
4 http://mec.gov.br/sef/ambiental

5 http://hortaviva.com.br Os limites apresentados pelas autoras dos

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


livros dizem respeito à ausência de propostas que tratem da sustentabilidade do planeta,
da vida na Terra, bem como o não desperdício dos recursos naturais. As várias proposições
das autoras restringem-se ao conhecimento da biodiversidade, mas carece de iniciativas
que ampliem as práticas pedagógicas.

Nesse sentido, faz-se necessário incluir, nos cursos de formação de professores, disciplinas
que contemplem a educação ambiental, e que os livros didáticos da Educação Infantil se-
jam alvo de estudo para demonstrar seus limites no que diz respeito à questão ambiental.
28
Infelizmente, o critério de escolha do livro didático não leva em consideração, em sua
maioria, as análises feitas pelos docentes que trabalharão com o livro.

Muitas pesquisas já foram realizadas sobre livro didático no Brasil. Ao acessar o portal de
Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -
CAPES para o termo livro didático e educação ambiental, estão disponíveis na Área de
Educação cerca de 42.418 pesquisas. Nesse sentido, esperamos que esta pesquisa contri-
bua com o campo da educação ambiental.

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


REFERÊNCIAS
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (1999). Disponível
em <http://portal.mec.gov.br/programa-curriculo-em-movimento-sp1312968422/legisla-
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________. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009). Dispo-


nível em: <http://portal.mec.gov.br/programa-curriculo-em-movimento-sp-1312968422/
legislacao>. Acesso em: 21 out.2016. 29

_______. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Edu-


cação Básica. (2012). Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
docman&view=download&alias=13448-diretrizes-curiculares-nacionais-2013-pdf&Ite-
mid=30192> Acesso em: 10 jul. 2017

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lógico. São Paulo: Cortez, 2009.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2004.

GATTI JR., Décio. Entre políticas de estado e práticas escolares: uma história do livro didá-
tico no Brasil. In: BASTOS, Maria Helena Câmara; STEPHANOU, Maria (orgs). Histórias e
memórias da educação no Brasil, v. III: século XX. Petrópolis: Vozes, 2005.

HORTA VIVA. Minha teca: livros paradidáticos. Disponível em: <http://www.hortaviva.


com.br/midiateca/bg_livros2/index.asp>. Acesso em: 19 jan. 2017.

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<http://portal.mec.gov.br/pnaes/194-secretarias-112877938/secad-educacao-continuada-
-223369541/13639-educacao-ambiental-publicacoes>. Acesso em: 19 jan. 2017

NERY-SILVA, Ana Clara. Educação ambiental e políticas públicas nas dissertações e


teses de educação ambiental no Brasil. 2015, 189 f. Dissertação (Mestrado em Educa-
ção). Programa de Pós-Graduação em EducaçãoUniversidade Estadual Paulista, Instituto
de Biociências de Rio Claro. Rio Claro, 2015

PELEGRINI, Djalma Ferreira & VLACH, Vânia Rúbia Farias. As múltiplas dimensões da
educação ambiental: por uma ampliação da abordagem. Revista Sociedade e Natureza,
Uberlândia, ano 23, n. 2, maio/agosto, 2011.

REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2009.

SILVA, Janaina Cassiano. Projetos pedagógicos e os documentos oficiais do Ministério da


Educação (MEC). In: ARCE, Alessandra; JACOMELI, Mara Regina Martins (orgs). Educa-
ção Infantil versus educação escolar?: entre a (dês) escolarização e a precarização do
trabalho pedagógico nas salas de aula. Campinas: Autores Associados, 2012. pp. 81-106.

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


SOUZA, Daniele Cristina de & SALVI Rosana Figueiredo. A pesquisa em educação am-
biental: um panorama sobre sua construção. Revista Ensaio, Belo Horizonte, v. 14, n. 3,
setembro/dezembro, 2012.

30

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Recebido em 10/08/2017; Aceito em 27/03/2018; Publicado na web em 04/06/2018

O ensino de ciências no contexto de


inclusão de alunos com deficiência
visual: uma experiência de formação
inicial inclusiva
31
Allan Sampaio Godinho1;
Alexandre Oliveira Holste2;
Karyne Louise Brito Fonseca3;
Regiana Sousa Silva4;
Kiany Sirley Brandão Cavalcante5

1 Estudante do Curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal do Maranhão - IFMA. E-mail: allan.sampaio@acad.ifma.edu.br;

2 Estudante do Curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal do Maranhão - IFMA. E-mail: aleholste@gmail.com;

3 Estudante do Curso de Engenharia Civil do Instituto Federal do Maranhão - IFMA. E-mail: karyne.fonseca@acad.ifma.du.br.

4 Professora de Educação Inclusiva do Magistério Superior do Instituto Federal do Maranhão - IFMA. E-mail: regiana@ifma.edu.br;

5 Professora de Elementos de Ciências do do Instituto Federal do Maranhão - IFMA. Líder do Grupo de Pesquisa Biomassa.
E-mail: kiany@ifma.edu.br;

RESUMO
O presente trabalho, de caráter intervencionista, aborda um relato de experiências no
ensino de Ciências inclusivo sobre Luz e Ondas para alunos com deficiência visual. Uma
proposta metodológica desenvolvida durante a disciplina de Elementos de Ciências II
do segundo período no curso de Licenciatura em Química do IFMA, Campus São Luís /
Monte Castelo, permitindo espaços e momentos estruturados na trilogia freiriana ação-
-reflexão-ação acerca da prática docente. Os futuros professores foram instigados a desen-
volver material didático e planejar aulas alternativas, primando os aspectos pedagógicos
inclusivos com ênfase em estímulos sensoriais. Durante a intervenção didática no Centro
de Ensino São José Operário, a qualidade do retorno motivacional e cognitivo dos alunos
corroborou com os dados coletados pelos questionários. A proposta metodológica inclusi-
va favoreceu uma aprendizagem de forma equânime, promovendo igualmente condições
de desenvolvimento, participação e interação dos alunos em sala de aula e beneficiou aos
futuros professores um espaço de aquisição de saberes específicos e de constituição da
identidade profissional.

Palavras-chave: Ensino Inclusivo. Formação de professores. Luz. Ondas. Intervenção didática.

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


The teaching of sciences in the context
of inclusion of students with visual
deficiency: an experience of inclusive
initial training
32
ABSTRACT
The present work, of an interventionist nature, deals with an account of experiences in inclusive
science teaching about Light and Waves for students with visual impairment. A methodological
proposal developed during the discipline of Elements of Science II of the second period in the cou-
rse of Licentiate in Chemistry of IFMA, São Luís / Monte Castelo campus, allowing spaces and
moments structured in the action-reflection-action Freirian trilogy about the teaching practice.
The future teachers were instigated to develop didactic material and to plan alternative class,
emphasizing the inclusive pedagogical aspects with emphasis in sensorial stimuli. During the
didactic intervention in the São José Operário Teaching Center, the quality of the motivational
and cognitive return of the students corroborated with the data collected by the questionnaires.
The inclusive methodological proposal favored learning in an equitable manner, also promoting
conditions for the development, participation and interaction of students in the classroom, and
benefited future teachers a space for acquiring specific knowledge and the constitution of profes-
sional identity.

Keywords: Inclusive Teaching. Teacher training. Light. Waves. Didactic intervention.

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


1 INTRODUÇÃO estudantes com deficiência, desenvolvendo
metodologias inclusivas capazes de adequar
A educação inclusiva no Brasil vem ga-
o aluno ao ambiente escolar (LIMA, 2002).
nhando espaço, desde 1996, com a Lei de
Desde o surgimento do movimento
Diretrizes e Bases da Educação Nacional de
da inclusão, tem-se levantado um
nº 9.394 que certifica o direito ao atendi-
interessante debate acerca de se a in-
mento especializado aos estudantes com clusão supõe uma ruptura a respeito
necessidades educacionais especiais (BRA- dos pressupostos da integração esco- 33
SIL, 1996). Contudo, a escola brasileira atu- lar, ou se entre ambos pode-se esta-
al ainda não é considerada inclusiva. belecer um laço contínuo. Não resta
dúvida de que a inclusão funde suas
A inclusão escolar é de natureza processual
raízes no movimento da integração
e requer mudanças de concepções e com- escolar e no REI (Regular Education
portamentos. Embora o direito à matrícula Iniciative). Não obstante, ainda que
seja garantido a todo e qualquer indivíduo, exista um continuum entre eles, a
ela não assegura o desenvolvimento signi- educação inclusiva apresenta ten-

ficativo de todos os alunos de forma equâ- dências alternativas que ampliam e


fazem avançar a atenção à diversida-
nime, com condições iguais de desenvolvi-
de do alunado, dada as fortes críticas
mento e participação (CARNEIRO, 2015).
relacionadas com o processo inte-
Com o aumento de estudantes com neces- grador (SÁNCHEZ, 2005, p. 14)
sidades especiais matriculados nas escolas,
Vale ressaltar que, entre alguns elementos
exige-se, além de uma boa estrutura física e
que demarcam o diferencial entre os mo-
de recursos tecnológicos e pedagógicos ade-
vimentos acima referidos, quais sejam o da
quados, a formação de 2012 p.36 recursos
inclusão e o da integração, há de se com-
humanos capacitados/qualificados, ou seja,
preender que este último implica em uma
professores que, refletindo sobre a sua prá-
ampla e profunda reforma no sistema esco-
tica, possam inovar a cada dia para tornar a
lar para ser capaz de acolher sem distinção
sala de aula regular verdadeiramente inclu-
todos os alunos, garantindo-lhes a apren-
siva (MARTIN et. al., 2006).
dizagem. Isto implica, entre outras deman-
Nesta perspectiva, a legislação brasileira das, em mudanças nas práticas educativas
prevê que instituições de ensino superior dos professores nas salas de aula regulares,
capacitem os futuros docentes durante a o que é diferente do proposto no Paradig-
formação, orientando-os para o ensino de ma da Integração. Neste, a busca ilusória
pessoas com necessidades especiais (RO- de alcançar a constituição de salas de aulas
DRIGUES, 2012). Igualmente, é importante homogêneas, implicou na ideia e na prática
que o educador compreenda o fator sócio- de que, para fazer parte da sala de aula, o
-histórico da exclusão e o da proposta de in- aluno sujeito da Educação Especial deveria
clusão, a fim de saber como se aproximar de estar preparado. Mittler (2003) corrobora

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


com este entendimento, no momento em Educação (SEDUC), o Centro oferece cursos,
que critica veementemente este paradigma como Braille e Soroban, para instruir pesso-
e revela que: as com deficiência visual e professores que
[...] neste caso “o aluno deve adap- trabalham com esse público. O Atendimen-
tar-se à escola e não há necessaria- to Educacional Especializado (AEE), tem a
mente uma perspectiva de mudança competência de assistir de forma comple-
de que a escola mudará para acolher mentar ou suplementar os alunos no con-
34 uma diversidade cada vez maior de traturno da sala de aula regular, apoiando e
alunos.” Com essa citação fica claro
favorecendo o aprimoramento da prática do
que a integração fere um dos princi-
professor que trabalha nesse espaço.
pais pressupostos da educação inclu-
siva, que é o de transformar a escola, Contudo, compreende-se que educar na di-
de provocar nela uma ampla revisão versidade requer competências em assistên-
de suas práticas, de forma a garantir cia às necessidades educacionais especiais
a todos o acesso democrático a um
aliadas ao uso de metodologias compatíveis
espaço que deve promover o respei-
que valorizam as diferenças e o professor
to à diversidade humana (MITTLER,
2003, p.34).
da sala de aula regular precisa estar capa-
citado para isso. Essas competências não
Na perspectiva inclusiva, portanto, é a es-
são adquiridas em instantes, o que requer,
cola e, particularmente, a sala de aula que
ao longo da formação inicial e em proces-
precisa mudar. E o professor precisa estar
so contínuo, a reflexão permanente sobre
consciente disso.
a Educação Especial/Inclusiva enquanto
Para dar suporte ao trabalho do professor e modalidade de ensino que perpassa todos
visando cumprir o seu papel, o Estado deve os níveis. Assim, reconhece-se, a partir da
assegurar aos estudantes com deficiência Portaria Ministerial nº 1793/1994 (BRASIL,
um atendimento especializado, preferen- 1994), que os currículos de formação de
cialmente na rede regular de ensino, con- professores devem complementar discipli-
forme dispõe no art. 54, inciso III da Lei nº nas específicas, recomendando-se a partir
8.069/1990 (BRASIL, 1990). Assim, no Ma- do Art. 1º, a inclusão da disciplina “Aspec-
ranhão, foi criado em 2001, o Centro de tos ético-político-educacionais da normali-
Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual do zação e integração da pessoa portadora de
Maranhão (CAP) que visa a um atendimen- necessidades especiais”, prioritariamente,
to especializado aos alunos matriculados no nos cursos de Pedagogia, Psicologia e em
ensino médio e no ensino fundamental do todas as Licenciaturas. E mais recente, já
ensino regular, como forma de superar a ca- numa perspectiva inclusiva, a presença da
rência de recursos e profissionais especializa- disciplina específica sobre Educação Inclu-
dos nas escolas regulares. Em parceria com siva, em atendimento à Resolução CNE/
o MEC e ações da Secretaria de Estado da CEB nº 02/2001 que institui as Diretrizes

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Nacionais para a Educação Especial na Edu- Elementos de Ciências II do curso de Licen-
cação Básica (BRASIL, 2001). ciatura em Química do IFMA, Campus São

A construção do perfil do professor inclusi- Luís/Monte Castelo. Um relato para divul-

vo e a qualidade do ensino serão aprimora- gar as experiências e competências docentes


das na formação continuada, pois “o pro- adquiridas pelos licenciandos do 2º período
cesso formativo não se esgota no momento durante uma mobilidade acadêmica que
inicial, sendo a formação continuada perce- permitiu espaços e momentos estruturados
35
bida como um dos fatores imprescindíveis na trilogia freiriana ação-reflexão-ação acer-
para que os profissionais de educação pos- ca do ensino de Ciências sobre Luz e Ondas
sam atuar” (MARTINS, 2012 p. 36). para alunos com deficiência visual.

Compreende-se que futuros professores


(ainda na formação inicial e preferencial-
2 MATERIAIS E MÉTODOS
mente ao longo do curso) devem desenvol- No IFMA Campus São Luís / Monte Castelo,
ver habilidades e competências sobre me- os cursos de licenciatura, em atendimento à
diação pedagógica no processo de ensino Portaria Ministerial nº 1793/1994, possuem
para alunos com necessidades especiais e como componente curricular, a disciplina
que a complexidade e abrangência sobre o de Educação Especial. Nessa, os alunos são
assunto é incapaz de ser restrita a uma ou levados a compreender os fundamentos te-
duas disciplinas (PIMENTEL, 2012). Nessa órico-científicos que abrangem as práticas
perspectiva, faz-se necessário que os alunos educativas voltadas para os sujeitos da Edu-
sejam levados a uma reflexão que perpasse cação Especial; utilizando como elemento
todos os períodos ao longo do curso. Além norteador os princípios de equidade e da
disso, a parceria entre a instituição forma- diversidade no processo de organização e
dora e a escola básica também contribui desenvolvimento de práticas pedagógicas
para uma formação próxima à realidade da em uma perspectiva de inclusão. Da mesma
escola inclusiva. forma, a disciplina Libras, em atendimento
Tendo em vista as contribuições formativas à Lei nº 10.436/2002, passou a ser oferta-
acadêmicas que agregam saberes à prática da pelo Departamento de Letras como op-
docente, destaca-se a importância das inter- tativa e, mais tarde, com as reformulações
venções pedagógicas no ambiente escolar dos Projetos Pedagógicos de Cursos, como
capazes de difundir conhecimentos e com- obrigatória. Tal disciplina objetiva reconhe-
petências associados durante toda a expe- cer e utilizar a Libras como a língua natural
riência. O presente trabalho trata-se de um dos surdos, compreendendo sua evolução
relato de experiência no qual se descreve e histórica até o processo de oficialização em
discute uma proposta metodológica inclu- nosso país, bem como sua importância para
siva na formação inicial de professores de o desenvolvimento cognitivo, emocional e
Ciências, originado durante a disciplina de social desses sujeitos.

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O curso de Licenciatura em Química do O estudo descritivo, de natureza qualitativa,
Campus oferta no 2º período a disciplina na modalidade de relato de experiência, foi
de Elementos de Ciências II, que aborda os estruturado na trilogia freiriana ação1-refle-
conteúdos do quarto ciclo do ensino funda- xão-ação2 (ARAÚJO FREIRE, 2001; LOPES e
mental (correspondente ao 8º e 9º anos), ex- TAVARES, 2014) junto à prática pedagógica
plorando as questões metodológicas, princi-
especificamente conexa à formação de pro-
palmente as atividades multidisciplinares e
36 fessores de Ciências, na qual os licenciandos
transdisciplinares, por meio de temas gera-
foram capazes de refletir sobre a sua própria
dores no desenvolvimento das atividades di-
prática a partir de uma aula simulada e pos-
dáticas de acordo com o preconizado pelos
teriormente, em uma aula de campo.
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's).
Os licenciandos, com o auxílio de duas
Contudo, compreendendo que, na forma-
ção inicial, as competências relativas às ne- professoras-pesquisadoras, uma da área de
cessidades educacionais especiais podem Química e responsável pela disciplina de
ser discutidas, refletidas e desenvolvidas em Elementos de Ciências II e outra da área de
qualquer período do curso de graduação em Educação Especial e formação de professo-
seus diferentes componentes curriculares, o res, sistematizaram e executaram a propos-
presente trabalho, de caráter qualitativo e ta em cinco momentos pedagógicos.
intervencionista6 foi desenvolvido durante
O primeiro momento consistiu no plane-
a disciplina de Elementos de Ciências II do
jamento e elaboração de uma atividade de
2º período do curso de Licenciatura em Quí-
ensino de Ciências sobre Luz e Ondas, pri-
mica do IFMA Campus São Luís/Monte Cas-
mando por aspectos pedagógicos inclusivos,
telo e aplicada em uma escola da rede Esta-
dual de Ensino, o Centro de Ensino São José com ênfase em estímulos sensoriais. A aula

Operário, localizada no município de São foi planejada objetivando a aprendizagem


Luís-MA. Foram sujeitos participantes desta de alunos videntes e alunos com deficiên-
experiência: 2 graduandos e 35 alunos do 1º cia visual sobre Espectro eletromagnético,
ano do ensino médio da referida escola. Raio de luz, Fontes de luz (luz primária e luz
secundária), Reflexão, Absorção, Refração e
6 Construída coletivamente mediante reflexões e ações decorrentes
do projeto de doutorado "Educação Especial Inclusiva na Dispersão da luz, sendo estes conteúdos li-
Formação Continuada de Docentes das Licenciaturas de
Ciências: (des) construção de concepções e práticas.", o qual vremente escolhidos pelos licenciandos.
vem estudando a formação de professores formadores dos
Cursos de Licenciatura em Química, Biologia e Física com
vistas a formação de professores de ciências para inclusão
Para auxiliar a metodologia de ensino, foi
do público alvo da Educação Especial. Tem-se constituído
desenvolvido um material didático com-
como um espaço dialógico entre professores formadores,
proporcionando a discussão sobre os pressupostos da Educação posto por lâmpada, ondas e carro que per-
Especial e Inclusiva e reflexões sobre suas práticas educativas,
no sentido de redimensioná-las, mediante a compreensão de mitisse estabelecer, principalmente, inte-
que todo professor formador é (co)responsável pela formação de
professores de Ciências inclusivos. rações não visuais. Foram construídos em

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tamanhos adequados tanto para os alunos Figura 1: Proposta metodológica inclusiva so-
videntes quanto para alunos com deficiên- bre Luz e Onda (a) aula simulada na instituição
cia visual. A lâmpada foi construída em alto formadora (b) intervenção na escola regular
relevo, produzida em uma folha de isopor,
a qual simulou a emissão de luz. Foi confec-
cionado um carro de isopor, tendo a função
de representar a fonte de luz secundária. Na 37
representação das ondas eletromagnéticas,
foi utilizado um barbante para dar forma à
onda. Três ondas de frequências diferentes
foram utilizadas a fim de sinalizar as cores
vermelho, verde e violeta. Sabendo que a
(a)
luz é uma onda eletromagnética dentro de
uma faixa de frequência, mais precisamen-
te no espectro visível que varia de 4,0x1014
Hz até 7,5x1014 Hz (GODOY; OGO, 2010)
e que cada cor compreende uma faixa de
frequência específica, foi realizada uma ati-
vidade prática avaliativa oral.

O segundo momento (ação1) compreende


a execução da aula simulada, realizada ain-
da na sala de aula da instituição formadora (b)
sob a supervisão da professora da disciplina Fonte: Autores.
de Elementos de Ciências II, com a parti-
Nesta etapa, a análise dos efeitos da meto-
cipação de 22 alunos, todos videntes. An-
dologia proposta remeteu-se à qualidade do
tes da exposição do material didático, uma material didático desenvolvido e a mediação
graduanda foi convidada a usar uma ven- didática dos futuros professores em forma-
da nos olhos para reconhecer os objetos de ção. Após esta análise, os graduandos refle-
estudo através do tato (Figura 1a). Durante tiram sobre sua prática pedagógica inclusiva
a exploração do material didático, a aluna (reflexão da ação) promovendo a reflexão e
(vendada/cega) deveria realizar a contagem a (re)elaboração da sua própria prática.
de crista a crista, para assim identificar a Na terceira etapa (reflexão), os licenciandos,
quantidade de oscilações em período e, em após aula simulada foram levados a discutir
seguida, multiplicar por 10 . Ao final, a
14
e pensar, juntamente com os demais alunos
aluna descobriria a cor do carro. matriculados na disciplina, sobre a proposta

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metodológica inclusiva e sobre a prática do- rio na instituição formadora, apresentando
cente. Esses podiam se manifestar livremen- os dados obtidos com a aplicação dos ques-
te, trazendo suas questões e inquietações tionários e das observações, um resgate das
em torno do processo vivenciado. As profes- contribuições desta prática pedagógica à
soras, nesse contexto, motivaram reflexões formação dos futuros professores na pers-
em torno das cores utilizadas, da adequa- pectiva da educação inclusiva.
ção das texturas, da linguagem utilizada e
38 do tempo propício para o aprendiz iniciar a 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
manipulação dos recursos (logo no início da
aula, após a explicação teórica, etc). 3.1 Ensino inclusivo sobre Luz e Ondas:
a vivência no processo formativo
A quarta etapa (ação2) correspondeu a uma
Para a construção da aula sobre LUZ E ON-
intervenção pedagógica em uma sala de
DAS realizada inicialmente na instituição
aula regular sob a supervisão do professor
formadora, foi necessário refletir sobre uma
de Física da escola, responsável pelo ho-
metodologia capaz de abranger toda diver-
rário a ser utilizado pelos graduandos. Os
sidade da sala de aula, bem como alunos
graduandos ministraram uma aula em uma
cegos e videntes. Da mesma forma, foi pen-
das turmas do 1º ano do ensino médio com
sada uma temática que fosse de fácil com-
a participação de 35 alunos, dentre eles um
preensão para os alunos. Por conseguinte,
aluno cego. A ação foi previamente autori-
isso se refletiu na produção do material
zada pela direção da escola, mediante uma
didático desenvolvido pelos graduandos,
carta de apresentação do projeto e assinatu-
onde todo material foi construído em alto
ra do termo de aceite.
relevo, desenhado e pintado para facilita-
Ainda na escola, após a intervenção, foi ção da aprendizagem. Durante toda cons-
aplicado um questionário com 10 questões, trução dos materiais, foi discutido também
contendo 5 perguntas discursivas sobre o a forma do diálogo com os alunos, desde
conteúdo estudado e 5 questões referentes a dicção das palavras até a troca de pala-
à metodologia proposta. Além do questio- vras que remetessem à visão por outras que
nário, a análise dos efeitos da metodologia não causassem constrangimento aos alunos
proposta também remeteu às atitudes dos com deficiência visual.
alunos participantes a partir do seu enten-
Neste sentido, vale referendar o que Silva e
dimento sobre o assunto em estudo. Parti-
Sales (2017) colocam quando afirmam que:
cularmente, a análise da aprendizagem do
aluno cego deu-se durante toda etapa da [...] compreendemos que, para que

intervenção como forma de complementar cresça em termos de aprendizagem


e desenvolvimento, não basta o alu-
a avaliação via entrevista oral.
no com DV estar na sala de aula:
Por fim, o último momento compreendeu a ele precisa de um ambiente rico em
apresentação dos resultados da intervenção estímulos, de condições que possi-
na sala de aula regular, na forma de seminá- bilitem a maximização de seu refe-

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rencial particular. O professor é, na 3.2 Intervenção didática inclusiva
escola, o mediador por excelência Reconhecendo o ambiente escolar como
dos conhecimentos e, portanto, tem
lócus de formação docente, a aplicação da
de estar capacitado para desenvolver
aula simulada (anteriormente planejada,
metodologias e recursos adaptados
aplicada, avaliada e refletida), em uma es-
para a realidade de seu aluno e que
favoreçam sua inclusão escolar. (SIL- cola regular inclusiva, foi uma forma de
VA e SALES, 2017, p.90) oportunizar um espaço de construção de
39
mudanças na prática pedagógica e no cur-
Após observações e reflexões da aula simu-
rículo. Uma forma de abrir caminhos para
lada, os licenciandos refletiram sobre a efe-
que esses futuros professores construam sua
tividade dos materiais construídos.
identidade profissional, pois os educadores,
A reflexão da ação auxiliou na adequação
enquanto formadores e mediadores de co-
do processo de ensino, da metodologia e da
nhecimentos, devem redefinir seus papéis
avaliação da aprendizagem no que concerne
diante da inclusão de forma a atender as
às práticas inclusivas. A participante volun-
necessidades educativas dos alunos, públi-
tária da aula simulada com olhos vendados
co alvo da educação especial.
esclareceu algumas percepções sobre a ex-
periência, como por exemplo, a facilidade Durante a visita à escola, pôde-se observar
na compreensão dos conceitos a partir do uma estrutura acessível para alunos defi-
material didático explorado através do tato. cientes, desde a presença de corredores com
rampas até a utilização de um elevador para
Em geral, constatou-se uma compreensão
cadeirantes. Além disso, a escola detinha um
significativa da graduanda vendada e da
corpo de pedagogos e psicólogos no auxílio
turma vidente, inferindo a efetividade do
desses alunos com deficiência. Observou-se
material para a percepção através do tato.
também que os professores da instituição
Igualmente, viu-se a necessidade da fala
pausada e explicativa como forma de faci- preocupavam-se em desenvolver metodo-
litação da aprendizagem dos alunos. O que logias inclusivas no ensino desses discentes.
reafirma que é necessário o uso de novas Após análises referentes ao questionário
formas de exercer a prática educacional de aplicado com os alunos videntes e o aluno
Ciências, seja no interior da sala de aula na cego, pôde-se constatar que os mesmos não
instituição formadora ou na escola de ensi- possuíam conhecimento sobre o conteúdo
no regular, seja nas proposições formativas que seria lecionado. Assim, os graduandos
dos sistemas de ensino. providenciaram uma aula simples, explica-
Após observações e reflexões resultantes da tiva e de fácil compreensão, tanto para o
aula simulada, os futuros professores de Ci- aluno cego quanto para os alunos videntes.
ências afirmaram que se sentiam mais pre- Da mesma forma, o questionário possibili-
parados para realizar a intervenção na esco- tou a coleta de informações essenciais para
la de ensino regular. a intervenção, tais como: o aluno com defi-

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ciência visual vinha de outra escola na qual se referem ao processo de inclusão do aluno
o professor não utilizava metodologias in- com deficiência visual e afirmam que esta:
clusivas. Assim como o fato de que o aluno [...] somente acontece quando o prin-
é cego de nascença e utiliza o Sistema braile cípio da equidade, enquanto o tra-
para leitura e escrita. tamento diferenciado aos diferentes

3.3 Atividade enquanto ambiente de para se alcançar a igualdade, materia-


aprendizagem liza-se por meio da realização de ati-
40 vidades diversificadas que promovam
A qualidade do retorno motivacional e
a interação entre os alunos e a utiliza-
cognitivo fornecido pelos alunos durante
ção de recursos adaptados. (COSTA,
o tratamento pedagógico a eles aplicado, SILVA e FERNANDES, 2017, p. 219)
configura o aspecto qualitativo da análise
Especificamente sobre o enunciado proferi-
dos dados obtidos na referida investigação.
do pelo aluno com deficiência visual, des-
Durante a intervenção, houve várias dúvi-
tacamos que, na perspectiva vygotskiana,
das que foram sendo esclarecidas pelos gra-
é no processo de interação do sujeito com
duandos. Isso mostrou um grande interesse
o outro e com o meio que se concretiza a
por parte da turma sobre o tema abordado.
aprendizagem, mediante um processo no
Além disso, o aluno cego mostrou interesse
na aula e demonstrou isso nos questioná- qual o uso da linguagem enquanto via de

rios, onde respondeu várias perguntas. acesso ao pensamento promove a internali-


zação do conhecimento e o avanço no de-
De acordo com o resultado do questioná-
senvolvimento do aprendiz.
rio pós-aula, constatou-se um aprendizado
significativo dos alunos e ainda que os mes- É, portanto, no favorecimento de situações
mos gostaram da aula ministrada, o que interativas em sala de aula que o aluno com
pode ser referendado a partir dos enuncia- condições limitadas pela visão mobiliza
dos que seguem abaixo. suas funções cognitivas e os sentidos rema-
nescentes – olfato, tato e audição – a fim de
Eu gostei da aula porque houve uma troca de
que trabalhem no sentido de processar os
ideias e opiniões que enriqueceram meus co-
estímulos do mundo exterior.
nhecimentos. (aluno 1)
Além disso, o fato de o aluno com defici-
Eu gostei da aula pelas demonstrações com os ência visual afirmar que se sentiu “mais
isopores, das luzes e das ondas. (aluno 2) importante” por ter tido a oportunidade de
interagir com os colegas e sentir-se acolhi-
Eu gostei porque foi uma aula onde todos pu-
do por eles, remonta à importância que a
deram interagir e onde eu me senti importante.
acessibilidade atitudinal e os aspectos emo-
(aluno com deficiência visual)
cionais têm no processo de aprendizagem,
Neste sentido, resgata-se a reflexão que Cos- uma vez que desfocam o olhar sobre a li-
ta, Silva e Fernandes (2017) trazem quando mitação biológica existente em função da

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redução ou ausência da visão para as poten- para o aluno com deficiência visual, mas
cialidades e habilidades que este aluno pos- favoreceu a aprendizagem também dos de-
sui. Silva, neste sentido, nos esclarece: mais alunos, promovendo igualmente uma
É evidente que quem aprende é uma maior interação dos alunos em sala de aula.
pessoa, um sujeito considerado em
As pesquisas elaboradas por Fernandes e
toda a sua globalidade, de forma
Healy (2010) indicam o potencial do tato
que no processo de aprendizagem
ativo no processo de ensino/aprendizagem 41
que vive, e os resultados obtidos, in-
fluenciam não só a capacidade cog- de alunos com deficiência visual. Para a
nitiva, mas também, a elaboração educação de alunos cegos, os materiais em
de uma imagem pessoal. Em outras alto relevo são uma estratégia significativa
palavras, todo sujeito que aprende para estes alunos. É importante frisar que
também elabora uma apresentação
os materiais em alto relevo são muito im-
da própria situação de aprendiza-
portantes para a aprendizagem de alunos
gem, com nuanças afetivas. (SILVA,
2008, p.129)
videntes, visto que, estimulam o tato, a
imaginação, a percepção e outros aspectos
Foram selecionadas algumas respostas dos
que colaboram para a compreensão da aula.
alunos sobre questões do conteúdo, nas
Com base nestes fundamentos, o conteúdo
quais demonstraram compreensão do co-
de Luz e Ondas foi todo apresentado com
nhecimento trabalhado, como seguem:
imagens em alto relevo, servindo tanto
A luz é uma onda eletromagnética e possui para os videntes quanto para os alunos com
comprimento de onda visível ao olho. (aluno 1) deficiência visual.

Luz primária transmite luz própria e luz secun- 3.4 Vivência pedagógica
dária transmite a luz vinda da fonte primária, (ação-reflexão-ação)
ou seja, não possui luz própria. (aluno 2) O processo formativo vivenciado pelos gra-
duandos e estabelecido mediante a adequa-
Reflexão - quando a luz atinge uma superfície
da relação teoria e prática proporcionou aos
e volta para seu ponto de origem. Refração -
mesmos reflexões sobre a inclusão escolar
quando a luz passa para outro lado e sofre des-
de alunos com deficiência e gerou a com-
vio. (Aluno com deficiência visual)
preensão de que já não é possível pensar
De acordo com as respostas dos alunos, na formação inicial de professores para as
65% dos alunos consideraram a aula inte- demandas da atualidade sem que se consi-
ressante, 29% muito interessante e 6% ra- dere a realidade da inclusão dos sujeitos da
zoavelmente interessante. Educação Especial.

Parece relevante destacar que o uso de re- Através dessa vivência pedagógica pode-se per-
cursos alternativos não implicou, neste con- ceber o quanto uma metodologia inclusiva é
texto, em melhoria de aprendizagem apenas imprescindível para uma sala de aula composta

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por alunos deficientes. Outrossim, a estrutura [...] notamos a fundamental impor-

da instituição também é imprescindível, assim tância da formação docente para o


trabalho pedagógico adequado, tra-
como as metodologias adotadas pelo professor.
balho este que passa pelo entendi-
Como iniciante em licenciatura em Química
mento do papel da igualdade e da di-
tal experiência foi de grande valor para minha ferença nos contextos educacionais
formação como futuro docente, pois conheci um inclusivos, bem como da diversida-
pouco dos parâmetros que norteiam a educação de em suas mais variadas nuances.
42
inclusiva bem como funciona sua efetivação (CAMARGO, 2016, p.34)

dentro das instituições de ensino. Além disso, Acredita-se que será a partir de vivências
pode-se observar o quanto alunos com defici- que desafiem o professor em formação a
ência são inteligentes e que podem participar pensar e a exercer o magistério de forma
das aulas através de metodologias inclusivas, inclusiva, que se poderão vislumbrar mu-
as quais integram o aluno ao ambiente escolar danças no cotidiano das salas de educação
junto com outros alunos. (graduando 1) básica, tornando-as espaços de aprendiza-
gem na diversidade. Embora essa formação
A prática pedagógica vivenciada permitiu-me
não seja condição suficiente para garantir o
compreender a realidade escolar e seu papel
efetivo processo de inclusão escolar, esta é
quanto uma escola inclusiva. Pode-se inferir o
condição necessária sem a qual, nem mes-
quanto o desenvolvimento de metodologias in-
mo as melhores estruturas e recursos pode-
clusivas são essenciais na melhor relação entre
rão garantir esse processo, uma vez que é ao
ensino-aprendizado no ambiente escolar com
professor que compete o papel de orienta-
alunos com deficiência. Tais metodologias pos-
dor e mediador do processo de aprendiza-
sibilitam dar a esses alunos autonomia para
gem na sala de aula.
construir seus conhecimentos. Quanto a nossa
formação, é de suma importância os graduan-
4 CONCLUSÃO
dos em licenciatura terem essa prática pedagó-
gica e um olhar inclusivo no desenvolvimento Em virtude das observações e reflexões dos
de suas metodologias. (graduando 2) graduandos envolvidos nesta pesquisa, re-
ferenda-se a importância de oportunizar
Esta formação inicial deve implicar em mu- aos professores em formação vivências que
danças de concepções que possam gerar, os mobilizem a pensar de forma inclusiva,
nas práticas destes futuros professores, ati- considerando a necessidade de desenvolver
tudes e procedimentos que garantam o di- metodologias e construir recursos adequa-
reito a todos os seus alunos de estarem na dos às diferentes demandas apresentadas
sala de aula de Ciências para aprenderem pelos alunos em salas de aula inclusivas.
com qualidade e dignidade, sendo respei- Além disso, ficou evidente que são práticas
tados em suas diferenças. Camargo (2016) desta natureza como a aqui apresentada
assim se posiciona: que ajudam no desenvolvimento do aluno

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e também desconstroem os estereótipos de que o educando com deficiência visual não
está apto a participar das atividades propostas em sala de aula. Da mesma forma, institui-
ções de ensino superior devem capacitar os futuros professores a lidar com esses alunos, a
fim de prepará-los para receber esses discentes.

Outrossim, vale destacar que a proposta da disciplina Elementos de Ciência II aqui apre-
sentada foi possível dado o envolvimento da professora em espaços de discussão e refle-
xão proporcionados pelo projeto de doutorado “Educação Especial Inclusiva na Formação
43
Continuada de Docentes das Licenciaturas de Ciências: (des)construção de concepções e
práticas". Tal vivência possibilitou à professora da referida disciplina repensar a sua pró-
pria prática como professora formadora, no sentido de poder contribuir para a formação
inicial de seus alunos para a inclusão.

Considerando-se que a proposta referenda o caráter inclusivo da educação de alunos com


deficiência visual, uma dificuldade encontrada na efetivação deste trabalho foi localizar
escolas municipais e estaduais as quais tivessem alunos com esta deficiência regularmente
matriculados, visto que a presença de uma escola especial no município faz com que ain-
da se perpetue na educação o paradigma da integração.

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REFERÊNCIAS
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44 ______. Lei n. 8.069. Estatuto da Criança e do Adolescente. 1990. Brasília, DF. Disponí-
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CARNEIRO, R. U. C. Educação inclusiva: desafios da construção de um novo paradigma.


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ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Recebido em 07/09/2017; Aceito em 06/04/2018; Publicado na web em 04/06/2018

Natureza da ciência: análise das concepções


dos licenciandos em ciências biológicas
José Francisco da Conceição Cruz1;
Daniel Silas Veras2;

1 Graduado em Ciências Biológicas. Instituto Federal do Maranhão - Campus Caxias. E-mail: chiquinho81@hotmail.com; 47
2 Grupo de pesquisa em Ciências Aplicadas. Instituto Federal do Maranhão - Campus Caxias. E-mail: daniel.veras@ifma.edu.br;

RESUMO
Nos últimos anos e especialmente a partir da segunda metade do século XX, a natureza
da ciência tem sido objeto de estudo entre pesquisadores das mais variadas áreas do co-
nhecimento, tanto no âmbito internacional como nacional, mostrando que professores e
alunos possuem concepções equivocadas sobre a temática. Portanto, esta pesquisa anali-
sou as concepções dos alunos de licenciatura em ciências biológicas do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - IFMA, Campus Caxias, sobre a natureza
da ciência. Os dados foram coletados através da aplicação do questionário VNOS-C (do
inglês, Views of the Nature of Science, Form C; Visões da Natureza da Ciência - Modelo
C), elaborado e validado por Lederman e colaboradores (2002). A mesma desenvolveu-se
através de um estudo de caso e uma abordagem quali-quantitativa, onde primeiramente
fez-se uma análise das respostas dos alunos de acordo com categorias preestabelecidas
e criadas por El-Hani et al. (2004), inferindo valores de 0 para respostas insatisfatórias,
0,5 para respostas parcialmente satisfatórias e 1,0 para respostas satisfatórias, em seguida
aplicou-se um test t comparando as médias das turmas envolvidas na pesquisa. O estudo
mostrou que os alunos apresentam diversas concepções, e tanto na turma A (5º período)
como na turma B (3º período), os alunos possuem visões inadequadas sobre a natureza da
ciência. No entanto, alunos da turma A (5º período), apresentam concepções mais consis-
tentes quando aplicado o teste t com probabilidade de 5%.

Termos para indexação: Alunos. Conhecimento Científico. Ensino. Biologia.

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ABSTRACT
In the last years and especially from the second half of the twentieth century, the nature of science
has been the subject of analysis among researchers from the most diversified knowledge fields, at
both international and national levels, showing that teachers and students have misconceptions
about the subject. Therefore, this research has analyzed the conceptions of undergraduate students
48 in biological sciences of the Federal Institute of Education, Science and Technology of Maranhão -
IFMA, Campus Caxias, about the nature of science. The data were collected through the application
of the VNOS-C questionnaire (Views of the Nature of Science, Form C - Model C), elaborated and
validated by Lederman et al. (2002). It was developed through a case study and a qualitative-
quantitative approach, in which an analysis of the students’ answers was made according to pre-
established categories created by El-Hani et al. (2004), inferring values of
​​ 0.0 for unsatisfactory
answers, 0.5 for partially satisfactory answers and 1.0 for satisfactory answers, then a t-test was
applied comparing the averages of the groups involved in the research. The study has shown that
the students have presented different conceptions, and both class A (5th period) and class B (3rd
period), students have inadequate views about the nature of science. However, class A students
(5th period) present more consistent conceptions when applied the test t with probability of 5%.

Keywords: Students. Scientific knowledge. Teaching. Biology.

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1 INTRODUÇÃO acantonada no campo separado e estanque
da sociologia da ciência, passou a ocupar
Ao longo da história, a ciência firmou-se
papel relevante na reflexão epistemológica.
como responsável pela produção do conhe-
cimento, rompendo com a visão mítica e Neste contexto de mudanças e incremento
religiosa, que durante muitos séculos pre- de novas tecnologias, alunos e professores
ponderou com explicações que remetiam precisam se adequar a uma nova realidade,
ao sobrenatural para os fenômenos obser- e entender a ciência como produtora de ver-
49
vados. Para Santos (2004), o conhecimento dades relativas, precisam ainda de um olhar
científico é hoje a forma oficialmente privi- mais acurado num sentido amplo, onde a
legiada de conhecimento e sua importância mesma vê-se como produto das relações so-
para a vida das sociedades contemporâneas ciais, com especificidades e características
não oferece contestação. Historicamente a de um determinado espaço de tempo no
ciência foi caracterizada por seus próprios qual ela está inserida. Desta forma, entender
métodos de produção do conhecimento, a natureza da ciência é primordial, uma vez
bem como suas correntes filosóficas e assim, que esta possui diferentes olhares e concep-
durante muito tempo, a ciência foi marca- ções, muitas vezes refutadas, mas que possui
da por ideias positivistas e tida como dona um valor, que serve de alicerce para novos
da verdade absoluta. Bacherlad (1971) en- olhares acerca dos fenômenos da natureza.
fatiza que a ciência apresentava-se de for- Observa-se uma diversidade de publicações
ma única, através da vivência do próprio em todo o globo, sobre o ensino de ciências
contexto, organizada por uma razão uni- e a natureza da ciência no intuito de diag-
versal e estável, tendo como produto final nosticar suas possíveis deficiências e tentar
os anseios da sociedade. minimizá-las. Estas revelam diferentes con-

Então, no século XX, com mudanças nas cepções que tanto professores como alunos

mais variadas esferas da sociedade, as teo- têm acerca desta temática, fazendo com que

rias positivistas e neo-posivistas passam a os objetivos educacionais, não sejam atingi-

ser bombardeadas por novas ideias, onde dos de modo satisfatório, então se faz neces-

autores como Popper (1972), e outros trou- sário abordagens que permitam formar con-

xeram novas teorias que marcaram gran- cepções mais adequadas que possibilitem a

des mudanças no campo científico. Estas formação de indivíduos com consciência

mudanças refletem um novo olhar, onde crítica e interessados pela pesquisa cientí-

o modelo de produção do conhecimento fica (DUDU, 2014; DURBANO, 2012; MI-


RANDA, et al. 2008; EL-HANI et al. 2004).
requer uma adequação aos anseios de uma
nova sociedade que emergia. Santos (2008) Compreender a natureza da ciência é fun-
enfatiza que a análise das condições sociais, damental na formação de alunos e profes-
dos contextos culturais, dos modelos orga- sores mais críticos, integrados com o mun-
nizacionais da investigação científica, antes do e a realidade em que vivem. Por isso,

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a defesa pela incorporação de discussões pois mais do que técnica a metodologia é
sobre a natureza da ciência no ensino tem a articulação da teoria, da realidade e dos
sido uma constante em diversos âmbitos da pensamentos sobre a realidade. Para abor-
educação, desde as políticas governamen- dagem quantitativa foi utilizado um teste
tais até as pesquisas acadêmicas. Neste ca- t para amostras independentes, para isso
minho, tem se destacado a importância da verificou-se se os dados atendiam aos pres-
História e Filosofia da Ciência como uma supostos de normalidade e de homogenei-
50
das maneiras de promover uma melhor dade das variâncias, o teste foi realizado no
compreensão sobre a natureza da ciência ambiente estatístico R (R core team, 2015).
à medida que seus estudos historiográficos
Os dados dessa pesquisa foram coletados
trazem elementos que subsidiam discussões
com a aplicação do questionário aberto
acerca da gênese do conhecimento cientí-
VNOS-C, com alunos do curso superior
fico e os fatores internos e externos que a
em licenciatura em ciências biológicas do
influenciam (MOURA, 2014).
IFMA, Campus Caxias, com alunos do 5º pe-
Portanto, esta pesquisa teve por objetivo ríodo (turma A) e 3º período (turma B). Os
identificar as concepções dos alunos de li- quais possuem faixa etária de 18 a 50 anos,
cenciatura em ciências biológicas do Institu- tem como características básicas a baixa e
to Federal de Educação, Ciência e Tecnologia média renda residem em sua maioria na ci-
do Maranhão IFMA - Campus Caxias, sobre dade de Caxias, sendo a maioria oriunda de
a natureza da ciência, além de realizar uma escolas públicas ou particulares na modali-
comparação para inferir se existe diferença dade regular. Foram aplicados 20 questio-
de visões sobre a natureza da ciência entre nários com duas turmas (dez alunos cada)
alunos de diferentes períodos do curso. e a partir de uma análise qualitativa gerou-
-se categorias que receberam escores para
2 METODOLOGIA viabilizar a comparação entre as médias
de ambas as turmas, buscando uma possí-
Para alcançar os objetivos, a pesquisa teve
vel diferença quanto ao grau de adequação
um delineamento exploratório, este tipo
da concepção dos alunos sobre a natureza
de pesquisa busca proporcionar uma maior
da ciência. O questionário VNOS-C (do in-
aproximação do pesquisador com o obje-
glês, Views of the Nature of Science, Form
to de estudo (GIL, 2010). Foi utilizada uma
C; Visões da Natureza da Ciência – Mode-
abordagem quali-quantitativa para as aná-
lo C), elaborado e validado por Lederman
lises dos dados. Na abordagem qualitati-
e colaboradores (2002), foi utilizado nesta
va foram selecionadas palavras e/ou frases
pesquisa a partir da tradução e adaptação
nas quais fossem coerentes com categorias
realizada por El-Hani et al. (2004).
elaboradas por El-Hani et al. (2004). Para
Minayo (2010), a abordagem qualitati- Em seguida, fez-se uso da abordagem quan-
va é a mais adequada para tal pretensão, titativa onde se aplicou valores às respostas

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dos alunos com: 0 para respostas insatisfatórias; 0,5 para respostas parcialmente satisfató-
rias e 1,0 para respostas consideradas satisfatória, isto com base na definição de aspectos
consensuais para cada pergunta de acordo com a literatura que trata sobre o tema de na-
tureza da ciência, e categorias criadas por El-Hani et al. (2004). Para Goldenberg (2004),
a utilização destas abordagens qualitativa e quantitativa permite um entrelaçamento das
conclusões, para uma maior confiabilidade dos dados, pois há uma relação estrita entre
aspectos quantitativos e a vivência da realidade no cotidiano.
51
O Quadro 1 indica as perguntas pertinentes ao questionário VNOS-C, bem como categori-
zação de El-Hani et al. (2004) que foi utilizada como base para inferir valores às respostas
e posteriormente aplicar uma nota a cada aluno, contudo verifica-se que na questão de
número 8 não houve nenhuma categoria estabelecida.

Quadro 1: Perguntas e categorias estabelecida por El-Hani et al. (2004).


Questionários VNOS-C. Categorização pré-estabelecida por El-Hani et
al. (2004).

1. Na sua visão, o que é ciência? A ciência é entendida como uma tentativa de


estudar, investigar, compreender e/ou explicar
os fenômenos naturais.

2. O que torna a ciência (ou uma disciplina Respostas que admitiram a diferença entre mo-
científica como a física, a biologia etc.) diferen- dos diversos de conhecer o mundo foram con-
te de outras formas de investigação (por exem- sideradas satisfatórias.
plo, religião, filosofia)?
3. O que é um experimento? Definição de experimentos como séries de ob-
servações feitas de maneira controlada.

4. O desenvolvimento do conhecimento cientí- Respostas que reconheciam a existência de mé-


fico requer experimentos? todos não experimentais cientificamente váli-
dos foram consideradas satisfatórias.

5. Livros-texto de ciência frequentemente re- Consideradas satisfatórias respostas nas quais


presentam o átomo como um núcleo central os alunos evitavam a reificação de modelos,
composto de prótons (partículas carregadas enquanto respostas que confundiam modelos
positivamente) e nêutrons (partículas neutras), e realidade foram consideradas insatisfatórias.
com elétrons (partículas carregadas negativa-
mente) orbitando ao redor daquele núcleo.
Qual o grau de certeza que os cientistas têm
acerca da estrutura do átomo? Que evidência
específica, ou tipos de evidência, você pensa
que os cientistas utilizaram para determinar
com que um átomo se parece?

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6. Você acha que há diferença entre uma teoria Foram consideradas satisfatórias respostas nas
científica e uma lei científica? quais leis e teorias foram diferenciadas pelo pa-
pel que cumprem no conhecimento científico,
a) Se sim, explique por que. Dê um exemplo
respectivamente, de descrever relações regulares
para defender sua posição.
entre fenômenos naturais e fornecer explicações
b) Se não, explique por que. Dê um exemplo para a ocorrência dos fenômenos, usualmente
para defender sua posição. por meio da elucidação de mecanismos subja-
centes a estes.
52

7. Após os cientistas terem desenvolvido uma Dois aspectos que foram analisados separada-
teoria científica (por exemplo, a teoria atômi- mente. No caso da pergunta sobre se há mu-
ca, a teoria da evolução), a teoria pode trans- dança teórica e por que tal mudança ocorre, as
formar-se? respostas foram julgadas satisfatórias quando
admitiam a possibilidade de mudança teórica e
a) Se você acredita que as teorias científicas não
a explicavam com base no surgimento de novas
mudam, explique por que. Defenda sua respos-
teorias e na obtenção de novas evidências. A
ta com exemplos.
pergunta sobre as razões pelas quais vale a pena
b) Se você acredita que as teorias científicas de aprender teorias científicas, mesmo sendo estas
fato mudam: (b1) Explique por que as teorias mutáveis, dificilmente resultava em respostas
mudam. insatisfatórias.
(b2) Explique por que nós nos preocupamos em
aprender teorias científicas, considerando que
as teorias que aprendemos poderão mudar. De-
fenda sua resposta com exemplos.

8. Livros-texto de ciências definem uma espécie Não houve categoria estabelecida.


como um grupo de organismos que comparti-
lham características similares e podem cruzar
uns com os outros produzindo filhos férteis.
Qual o grau de certeza que os cientistas têm
acerca de sua caracterização do que é uma es-
pécie?
Que evidência específica você pensa que os
cientistas utilizaram para determinar o que é
uma espécie?

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9. Acredita-se que há cerca de 65 milhões de anos Foram consideradas satisfatórias respostas nas
os dinossauros se extinguiram. Entre as hipóteses quais os alunos atribuíam as diferentes conclu-
formuladas pelos cientistas para explicar a extin- sões ao fato de que o mesmo conjunto de da-
ção, duas gozam de maior apoio. A primeira, for- dos pode ser visto, interpretado ou explicado de
mulada por um grupo de cientistas, sugere que um formas diferentes, a depender das teorias em-
imenso meteorito atingiu a Terra há 65 milhões de pregadas pelos cientistas ou do enfoque dado à
anos e acarretou uma série de eventos que causou pesquisa.
a extinção. A segunda hipótese, formulada por um
outro grupo de cientistas, sugere que grandes e 53
violentas erupções vulcânicas foram responsáveis
pela extinção. Como essas conclusões diferentes
são possíveis se os cientistas de ambos os grupos
tiveram acesso a e utilizaram o mesmo conjunto
de dados para obter suas conclusões?
10. Os cientistas realizam experimentos/investiga- Foram consideradas insatisfatórias respostas
ções científicas quando estão tentando encontrar que não atribuíam qualquer papel a ambas, ou
respostas para as questões que eles propuseram. Os limitavam seu papel de maneira excessiva.
cientistas usam sua criatividade e imaginação du-
rante suas investigações?
a) Se sim, então em que estágios das investigações
você acredita que os cientistas utilizam sua imagi-
nação e criatividade: projeto e planejamento; cole-
ta de dados; após a coleta de dados? Por favor, ex-
plique por que os cientistas usam a imaginação e a
criatividade. Forneça exemplos se for apropriado.
b) Se você acredita que cientistas não usam a imagi-
nação e a criatividade, por favor, explique por que.
Forneça exemplos se for apropriado.
11. Algumas pessoas afirmam que a ciência é Consideramos satisfatórias, no caso da questão
impregnada por valores sociais e culturais. Isto 11, tanto respostas que destacavam a natureza
é, a ciência reflete os valores sociais e políticos, universal do conhecimento científico quanto
as suposições filosóficas e as normas intelectuais respostas que enfatizavam a influência de fato-
da cultura na qual ela é praticada. Outras pes- res sociais e culturais sobre a atividade científi-
soas afirmam que a ciência é universal. Isto é, a ca, desde que suficientemente claras.
ciência transcende as fronteiras nacionais e cul-
turais e não é afetada por valores sociais, políti-
cos e filosóficos e pelas normas intelectuais da
cultura na qual ela é praticada.
a) Se você acredita que a ciência reflete valores
sociais e culturais, explique por que e como. De-
fenda sua resposta com exemplos.
b) Se você acredita que a ciência é universal,
explique por que e como. Defenda sua resposta
com exemplos.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A presente pesquisa corrobora com outros estudos sobre a natureza da ciência, ratificando
o que autores como: El - Hani et al. (2004), Norman Lederman e colaboradores (2002)
entre outros mostraram, isto é, que não só o meio acadêmico, mas uma grande parcela da
sociedade possui uma visão inadequada sobre a natureza da ciência. Esse fato indica que
alguns professores possuem diversas concepções, tanto adequadas como ingênuas sobre a
natureza da ciência (MIRANDA et al, 2008), situação que pode ser extrapolada para outros
54
profissionais e pessoas comuns da sociedade.
Observa-se que os alunos da turma A e turma B apresentam respostas inconsistentes e di-
ferentes como mostra as figuras 1, 2 e 3 (respostas satisfatórias, parcialmente satisfatórias
e insatisfatórias) fornecidas, respectivamente, para cada questão do questionário VNOS-C.

Figura 1: Número de respostas satisfatórias no instrumento de coleta de dados.

A figura 1 mostra o número de respostas consideradas satisfatórias dos alunos da turma A


e turma B, onde se observa que nas questões 1, 6 e 9 a turma A, obteve um maior número
de respostas satisfatórias sobre a turma B, enquanto que nas questões 2, 7 e 10 houve um
emparelhamento nas respostas de ambas as turmas, e na questão 11 a turma B, conseguiu
um maior número de respostas satisfatórias, já nas questões 3, 4, 5 e 8 não houve nenhu-
ma resposta considerada satisfatória em ambas as turmas.

Figura 2: Número de respostas parcialmente satisfatórias no instrumento de coleta de dados.

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A figura 2 indica o número de alunos que responderam as questões de forma parcialmente
satisfatórias, pode-se observar na primeira questão que a turma B apresentou uma visão
mais próxima do esperado sobre o conhecimento científico, enquanto na questão oito
nenhuma das turmas foi capaz de responder, já nas demais questões a turma A apresentou
melhor desempenho quando comparado com a turma B.

55

Figura 3: Número de respostas insatisfatórias no instrumento de coleta de dados.

A figura 3 mostra a quantidade de alunos ca. Entender e definir este tipo de questão é
que deram respostas insatisfatórias ao ques- fundamental para se compreender a nature-
tionário VNOS-C e observa se nas questões za da ciência, e a forma como é colocada em
2, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10 e 11 a quantidade de questão quando se “chama a atenção para a
respostas insatisfatórias na turma B foram existência do que parece ser uma distinção
maiores que a turma A, e apenas na questão bastante direta entre alguns estados de coi-
1 o número de alunos da turma A (5ºperí- sas e julgamentos a respeito daquele estado
odo) foi maior que a turma B. Na questão de coisas feitos por indivíduos ou grupos”
8, ambas as turmas se equiparam nas res- (CHALMERS, 1993, p. 135). Um aluno deu
postas. A análise das figuras 1, 2 e 3 mostra a seguinte resposta para a questão acima
que, há uma diferença entre o número de “É uma doutrina que visa trabalhar com
alunos da turma A e B que responderam o ideias de exatidão. E que através dela novas
questionário VNOS-C, inferindo que as res- descobertas que podem de certo modo in-
postas destes, não satisfaz os anseios das fluenciar a sociedade” demonstrando assim
categorias norteadoras já pré-estabelecidas de forma clara uma concepção inadequada
por El-Hani et al. (2004), e que os discen- sobre a definição de ciência.
tes de ambas as turmas não possuem uma
Quando se perguntou sobre o que diferencia
visão coerente com as definições esperadas.
a ciência de outras formas de conhecimen-
Quanto à compreensão do conceito de ci- to na turma A dois alunos responderam de
ência, ambas as turmas apresentaram uma acordo com a categoria estabelecida seguin-
deficiência epistemológica sobre a temáti- do o mesmo padrão na turma B, ou seja, que

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há sim uma diferença, e estas são inquestio- bem como sua fundamentação é o que vai
náveis, pois historicamente a ciência solidi- diferenciar e para isto se faz necessário um
ficou-se como uma forma de conhecimento suporte que o ratifique e isto se dá através
e seu alto status se deve pela explicação dos de informações controladas e verificáveis
fatos e ao desenvolvimento de métodos que para um melhor conhecimento dos fenô-
garantem uma maior confiabilidade e clare- menos ou objetos estudados.
za, no entanto, esta não é única quando se
56 Ao se perguntar sobre o grau de certeza que
trata de explicar os fenômenos, existem ou-
os cientistas têm acerca da estrutura do
tras formas de tornar o mundo inteligível.
átomo? Que evidência específica, ou tipos
(GERHARDT; SILVEIRA, 2009)
de evidência, você pensa que os cientistas
Quanto à definição de experimento, os alu- utilizaram para determinar com que um
nos de ambas as turmas não responderam átomo se parece? Apenas um discente da
de acordo com a categoria o que mostra turma A deu uma resposta parcialmente sa-
o não conhecimento dos alunos sobre a tisfatória e nenhum aluno da turma B res-
importância do experimento na pesquisa pondeu de forma que se aproximasse da ca-
científica, Gerhardt e Silveira, (2009, p. 36), tegoria. Entende-se que o conhecimento do
dizem que “a elaboração de instrumentos átomo na realidade é uma teoria e a mesma
para a coleta de dados deve ser submetida permanecerá até o momento em que novas
a testes para assegurar sua eficácia em me- interpretações possam surgir destituindo-a
dir aquilo que a pesquisa se propõe a me- ou mesmo confirmando, portanto é uma
dir”. Segue exemplo quando um discente interpretação construída a partir do pesqui-
respondeu da seguinte forma: “É quando sador. (LAVILLE; DIONNE, 1999)
queremos saber mais sobre alguma coisa,
Na sexta questão, perguntou-se se há uma
tipo o que acontece se misturarmos algo, aí
diferença entre teoria científica e lei cien-
teremos um resultado”. Esta resposta reflete
tífica, metade da turma A respondeu satis-
a concepção dos alunos acerca da pergun-
fatoriamente inferindo diferenças, quando
ta acima, inferindo a deficiência de uma
se refere à turma B, uma resposta coeren-
resposta sistematizada acerca das etapas da
te com a categoria. Oliva (2010) corrobora
produção da pesquisa científica.
definindo uma teoria científica como um
Na quarta questão, perguntou-se se o de- conjunto de enunciados integrados que
senvolvimento do conhecimento científico subsistem entre eles relações organizadas
requer experimentos. Apenas um aluno da de consequência e, em se tratando de ci-
turma A respondeu de forma que se aproxi- ência empírica, relações de correspondên-
masse da categoria, enquanto todos os alu- cia com a “realidade” (estados de coisas)
nos e toda a turma B não souberam respon- com vistas a descrever com fidedignidade,
der. Prodanov e Freitas (2013) entende que um leque de explicações seguras ao mesmo
a rigorosidade do conhecimento científico, tempo fazendo previsões confiáveis.

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Quando se perguntou se uma teoria científi- A décima primeira questão pergunta se a ci-
ca pode se transformar, doi alunos de ambas ência reflete os valores sociais e políticos de
as turmas responderam de forma satisfató- uma sociedade ou se a ciência é universal;
ria, partindo do pressuposto que as mudan- três alunos da turma B responderam de for-
ças acontecem a todo o momento, o conhe- ma satisfatória, enquanto que apenas um
cimento também sofre mudanças a partir da aluno da Turma A respondeu satisfatoria-
formulação de novos pressupostos teóricos. mente. Silva (2014) diz que os valores po-
57
Quando se indagou sobre as definições en- dem também inspirar hipóteses de investi-
contradas nos livros e textos de ciências de- gação que tornam a ciência mais plural e
finindo uma espécie como um grupo de or- mais sensível aos desenvolvimentos sociais
ganismos que compartilham características e, por conseguinte, mais atenta a uma revi-
similares e podem cruzar uns com os outros são de pressuposições tradicionais.
produzindo filhos férteis. Qual o grau de Verifica-se através da análise qualitativa das
certeza e que evidências os cientistas utili- respostas dos alunos do curso de licenciatu-
zam para inferir tal definição, tanto o aluno ra em ciências biológicas do IFMA, Campus
da turma A como o da turma B não soube Caxias, que os mesmos apresentam visões
responder, contudo para esta pergunta não equivocadas sobre a natureza da ciência. As
houve uma categoria estabelecida por El-Ha- respostas mostram que a maioria dos alu-
ni et al. (2004), e como os alunos não res- nos pesquisados não tem afinidade com o
ponderam, não houve necessidade de criar conteúdo epistemológico. Tanto a turma A
uma categoria para este questionamento. quanto a turma B não apresenta uma visão
A nona questão, refere-se à como as con- holística de modo que satisfaça as defini-
clusões podem ser diferentes sobre um de- ções voltadas para a natureza da ciência.
terminado objeto e/ou acontecimento, se Ambas seguem um padrão de concepções
cientistas de grupos distintos tem acesso às errôneas que corroboram com conclusões
mesmas bases de dados. Apenas um aluno de outros pesquisadores sobre a temática.
da turma A respondeu de forma satisfatória. No entanto, é preciso salientar que quan-
Quando questionados se os cientistas utili- do comparado às respostas dos alunos de
zam sua imaginação e criatividade durante ambas as turmas, verifica-se uma diferença
suas investigações e experimentos, dois dos de concepções, tanto na análise qualitativa
alunos de ambas as turmas deram uma res- quanto na análise quantitativa.
posta satisfatória. É inegável que o conheci- Ao comparar as médias de acertos entre a
mento científico, e, portanto, a ciência são turma A (5ºperíodo) e a turma B (3ºperío-
produtos de atividades humanas, o pesqui- do), observou-se que a turma do 5º período
sador encontra-se impregnado de pensa- obteve 1,35 pontos de acertos acima da tur-
mentos construídos através de suas relações ma do 3º período, indicando uma diferença
em sociedade (LAVILLE; DIONNE, 1999). estatística significativa (t= 2,159; p=0,044).

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Portanto se aceita a hipótese de que há diferença nas visões dos alunos sobre a natureza da
ciência quando comparado as médias destes e que embora em nível global apresentem con-
cepções inadequadas, alunos com mais tempo de curso apresentam uma melhor compreen-
são, isso pode ocorrer em decorrência do maior contato com conteúdos científicos que levam
a questões epistemológicas próprias dessa área do conhecimento (EL-HANI et al., 2004).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
58
A pesquisa mostrou que os alunos do curso de licenciatura em ciências biológicas do Ins-
tituto Federal do Maranhão, IFMA-Campus Caxias apresentam concepções inadequadas
sobre a natureza da ciência, corroborando com os dados obtidos por outras investigações
desse mesmo fenômeno, que apontam que essas visões equivocadas estão tanto dentro
da academia quanto fora dela, sendo construídas durante a formação devido à ênfase
dada no conteúdo em detrimento dos meios de como são obtidos esses conhecimentos.
Ao comparar o desempenho no questionário observou-se que os alunos da turma A (5º
período) tiveram um desempenho melhor que os da turma B (3º período), o que implica
dizer que alunos com maior tempo de curso tiveram um melhor desempenho, apresen-
tando uma melhor compreensão devido a um maior contato com conteúdos científicos.
Nesse sentido, a Licenciatura em Ciências Biológicas pode ser a promotora na construção
adequada sobre a natureza da ciência, se durante a fomação for dado ênfase na lógica do
método científico para resolução dos problemas ligados as ciências da natureza.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao professor Mestre Joniery Rubim de Sousa pela contribuição na elaboração
do abstract do presente trabalho.

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Recebido em 07/10/2017; Aceito em 05/02/2018; Publicado na web em 04/06/2018

Eficiência no uso de nutrientes em


solos tropicais propensos à coesão:
alternativas de manejo
Rafael Mendes de Sousa1;
Mariléia Barros Furtado2; 61
Diôgo Ribeiro de Araújo ; 3

Conceição de Maria Batista de Oliveira4;

1 Mestrando em Agroecologia da Universidade Estadual do Maranhão; rafaelmendes_sousa@hotmail.com;

2 Professora do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Maranhão; marileiafurtado@hotmail.com;

3 Bacharel em Agronomia, Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Maranhão; dhiogo_na0@hotmail.com;

4 Mestranda em Produção Vegetal da Universidade Federal do Espírito Santo; conceicaoolivery@gmail.com;

Rones dos Santos Castro5;

RESUMO
Os solos representativos do trópico úmido brasileiro são, no geral, intemperizados e frá-
geis, com grande propensão à coesão. As condições ambientais desse tipo de solo favo-
recem a rápida degradação da matéria orgânica e lixiviação de nutrientes. Dessa forma,
técnicas com o objetivo de aumentar a eficiência no uso de nutrientes devem ser utiliza-
das para melhorar a produtividade dos agrossistemas tropicais. Diversos estudos têm de-
monstrado os benefícios do sistema de cultivo em aléias sobre as propriedades químicas e
físicas do solo. Entretanto, ainda são escassos os estudos que avaliam o uso de tecnologias
complementares sob a melhoria das características do solo, visando aumentar a eficiência
no uso de nutrientes no plantio direto na palha de leguminosas arbóreas. É possível que
tais tecnologias aumentem a eficiência do sistema no que diz respeito à melhoria nutricio-
nal dos cultivos anuais, mediante o fornecimento de condições adequadas de solo e pelo
aumento do carbono orgânico, constituindo-se como opções apropriadas para o manejo
sustentável em solos tropicais.

Palavras-chave: Fertilidade. Leguminosas. Sustentabilidade.

5 Doutorando em Agroecologia da Universidade Estadual do Maranhão; ronescastro.Ica@gmail.com;

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Efficiency in the use of nutrients in
tropical soils proposed to cohesion:
alternative management
ABSTRACT
62
Representative soils of the Brazilian humid tropics are generally weathered and fragile, with
great propensity for cohesion. The environmental conditions of this type of soil favor the rapid
degradation of organic matter and leaching of nutrients. Thus, techniques aimed at increasing
nutrient use efficiency should be used to improve the productivity of tropical agri systems.
Several studies have demonstrated the benefits of the cropping system in alleys on the chemical
and physical properties of the soil. However, there are still few studies that evaluate the use of
complementary technologies under the improvement of the soil characteristics in order to increase
the efficiency in the use of nutrients in no-tillage in tree legume straw. It is possible that such
technologies increase the efficiency of the system regarding the nutritional improvement of annual
crops by providing adequate soil conditions and increasing organic carbon, and are appropriate
options for sustainable management in tropical soils.

Keywords: Fertility. Legumes. Sustainability.

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1 INTRODUÇÃO ficial e erosão, as quais são comuns nestas
regiões. (MUSYOCA et al., 2017).
Os solos tropicais, no geral, apresentam
grande propensão à coesão, o que acaba O aumento da disponibilidade de nutrien-
dificultando o crescimento das raízes, ab- tes pode ser obtido por meio do manejo da

sorção e adequado aproveitamento dos nu- matéria orgânica do solo. Esta, por sua vez,
aumenta a capacidade de troca de cátions,
trientes. Tratam-se de solos arenosos, com
melhora a retenção de umidade, reduz a
baixo teor de matéria orgânica, baixo pH 63
densidade do solo, estabiliza a temperatura
e baixa capacidade de retenção de cátions.
e favorece o desenvolvimento dos microor-
(MOURA et al., 2012). Esses solos são carac-
ganismos do solo. Existem diversas tecnolo-
terizados como de baixa fertilidade natural,
gias que podem ser usadas para o manejo da
devendo, portanto, ser manejados de for-
matéria orgânica. (COELHO et al., 2016).
ma cuidadosa e específica.
Como exemplo dessas tecnologias, tem-se
O manejo sustentável destes solos requer
o sistema de cultivo em aleias, que é carac-
técnicas diferenciadas devido às suas carac-
terizado como o plantio de leguminosas ar-
terísticas e as condições ambientais predo-
bóreas de diferentes qualidades de resíduos.
minantes. Os trópicos caracterizam-se pela
Seus ramos são periodicamente cortados e
intensa incidência de radiação solar, eleva-
depositados sobre o solo, promovendo a
da pluviosidade, altas temperaturas e eleva-
sua cobertura e reciclagem de nutrientes.
das taxas de evapotranspiração. Essas con-
Entre as ruas de leguminosas são conduzi-
dições podem dificultar tanto o bom uso de
dos os cultivos anuais, que são beneficiados
nutrientes, quanto o aumento da produti-
pelos efeitos positivos dos resíduos deposi-
vidade. Assim sendo, torna-se necessário tados no solo. Entretanto, devido às con-
aumentar a eficiência no uso dos nutrientes dições regionais, manejos adicionais a este
para melhorar a sustentabilidade agrícola sistema são requeridos para aumentar a sua
dos trópicos. (MOURA et al., 2013). eficiência e os benefícios ao solo. (OLIVEI-
A eficiência no uso de nutrientes pode ser RA et al., 2016).
definida como a produtividade obtida por O uso combinado de técnicas de adubação
unidade de fertilizante aplicado. (MOU- verde pode ser válido para um adequado
RA et al., 2012). Esta definição baseia-se manejo da matéria orgânica. Nesse sentido,
em produzir mais em uma menor área, de o cultivo de espécies leguminosas herbáce-
modo que aumente a eficiência do sistema. as, muitas das quais apresentam potencial
Para tanto, nas condições tropicais, é pre- forrageiro, também é uma alternativa para
ciso manejar o solo de modo a aumentar a aumentar a eficiência no uso dos nutrien-
disponibilidade de nutrientes por meio da tes. (XAVIER et al., 2016). Estas legumino-
maior retenção de cátions e da redução das sas contribuem para uma densa cobertura
perdas por lixiviação, escorrimento super- do solo, protegendo-o contra os efeitos da

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erosão e da maior incidência de plantas in- Existem dois processos principais que são
vasoras. Além disso, são plantas fixadoras responsáveis pela baixa disponibilidade de
de nitrogênio, que podem contribuir na re- nutrientes no trópico úmido. Primeiro, a li-
dução dos custos de manejo da adubação xiviação dos nutrientes que é causada pelo
e a possibilidade de produzirem concentra- intenso movimento da água ao longo do per-
ção de biomassa significativa, melhorando fil e, segundo, a coesão do solo que quando
o aporte de carbono e, a eficiência do siste-
64
seco dificulta o crescimento das raízes e a ab-
ma. (CHAVES et al., 2016).
sorção de nutrientes, o que culmina em bai-
Objetivou-se, com esta revisão de literatura, xa produtividade. (AGUIAR et al., 2010 b).
fazer um levantamento de informações sobre
Assim, para aumentar a produtividade des-
alternativas existentes para o manejo do solo
ses solos é necessário incrementar o conteú-
que possam aumentar a eficiência no uso dos
do de carbono via aplicação de resíduos or-
nutrientes nos solos coesos de baixa fertilida-
gânicos. A importância do carbono orgânico
de natural das regiões tropicais úmidas.
do solo tem sido muito relatada na literatu-
ra. (BHARALI et al., 2016; DAS et al., 2016;
2 SOLO E CLIMA TROPICAL
OMARI et al., 2016; FORTE et al., 2017). A
Os solos tropicais caracterizam-se, sobretu-
sua manutenção é vital para a continuidade
do, como solos antigos, com mineralogia
da produção e sustentabilidade dos sistemas
composta principalmente por Caulinita
agrícolas a longo prazo, e o manejo da ma-
e Gibsita. Tratam-se de solos intemperi-
téria orgânica em condições tropicais exerce
zados, com baixo pH, baixa concentração
de óxidos de ferro e de matéria orgânica. um papel chave no aumento do carbono or-
Estes solos, em sua maioria, podem apre- gânico do solo. (DAS et al., 2016).
sentar grande plasticidade em relação à co- A matéria orgânica desempenha efeitos
esão, tornando-se adensados quando secos. positivos sobre a estrutura do solo, pois o
(MOURA et al., 2012). Portanto, estes solos aumento do seu conteúdo também poten-
possuem uma baixa fertilidade natural, o
cializa a atividade biológica, contribuindo
que dificulta o seu manejo.
para uma maior estabilidade dos agregados.
Muitos fatores ambientais típicos do trópi- (ZHU et al., 2016), além de aumentar a ca-
co úmido, tais como umidade, disponibili- pacidade de retenção de cátions do solo, es-
dade de oxigênio e de nutrientes no solo e tabilizar a temperatura, manter a umidade,
também altas temperaturas, aceleram a de-
dentre outros benefícios.
composição da matéria orgânica, tornando
difícil o manejo destes solos prejudicando a Fungo et al., (2016) reportam que a aduba-
sua fertilidade. (MOURA et al., 2013). Dessa ção verde com materiais mais recalcitrantes
forma, o próprio clima dificulta a prática da pode promover no solo efeitos mais dura-
agricultura nestes solos. douros e que a umidade do solo, bem como

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


as substâncias extraídas de plantas e a fau- Figura 2: Gliricidia sepium é um exemplo
na influenciam a estrutura do solo e a for- de leguminosa arbórea de alta qualidade de
mação de agregados. resíduos:

Nesse sentido, o plantio direto pode ser


visto como uma alternativa válida de uso
do solo devendo-se, entretanto, considerar
também a qualidade dos resíduos adicio- 65
nados. Quando estes resíduos apresentam
baixa relação C: N, e baixa concentração de
lignina e polifenóis (resíduos de alta quali-
dade), são mineralizados rapidamente, ao Fonte: Autores.

passo que os resíduos mais recalcitrantes, Moura et al., (2009) constataram que a cober-
com elevada relação C: N e altas concen- tura com resíduos de leguminosa melhorou
trações de lignina e polifenóis (resíduos de significativamente a camada superior (pri-
baixa qualidade), são mineralizados lenta- meiros 10 cm) de um solo coeso, por meio
mente, sendo mais indicados para a manu- do aumento do volume de solo adequado
tenção da cobertura do solo. Desta forma, para o crescimento das raízes. Este efeito
a cobertura do solo e a reciclagem de nu- pode estar associado à melhoria na retenção
trientes são importantes para o manejo dos de umidade e penetração das raízes, sendo
solos de muitas regiões tropicais, os quais demonstrado pelo maior desenvolvimento
requerem combinações adequadas de legu- do sistema radicular na camada superficial.
minosas. (AGUIAR et al., 2010 a). As Figu- Em condições tropicais a decomposição dos
ras 1 e 2 mostram leguminosas de baixa e resíduos de alta qualidade das leguminosas
alta qualidade de resíduos. arbóreas pode promover um suprimento
Figura 1: Acácia mangium é um exemplo adequado de N e K. Assim, a combinação
de leguminosa arbórea de baixa qualidade de espécies em sistema de cultivo em aleias,
de resíduos: que fornece resíduos de baixa e alta qualida-
de, pode representar uma estratégia eficiente
no aumento do crescimento radicular e no
fornecimento de macronutrientes ao longo
do ciclo da cultura. (AGUIAR et al., 2010 a).

3 A IMPORTÂNCIA DO USO
DOS NUTRIENTES
O aumento da produtividade depende do
Fonte: Autores. balanço apropriado entre a liberação dos

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nutrientes e o desenvolvimento radicular to, relacionado diretamente ao desenvolvi-
e, portanto, a assimilação adequada de nu- mento vegetal.
trientes. Para alcançar ganhos em produti-
O potássio, por sua vez, apesar de não de-
vidade em sistema de cultivo em aléias, a
sempenhar um papel estrutural ou funcio-
combinação de fertilizantes sintéticos com
nal na célula, exerce funções fisiológicas
resíduos vegetais incrementa a produtivi-
fundamentais, tais como o estabelecimento
dade (MOURA et al., 2012).
66 de gradientes osmóticos na célula vegetal
O uso excessivo de fertilizantes pode favo- e entre os compartimentos subcelulares.
recer a lixiviação dos nutrientes, causan- (JÁKLI et al., 2016).
do a poluição do meio ambiente sem que
Wei et al., (2013) observaram um aumento
ocorra o desejado aumento de produtivida-
na concentração de potássio na parte aérea
de. Por outro lado, a aplicação insuficiente
e na raiz de cultivares de trigo tolerantes
de adubos pode resultar em baixo desem-
à seca, quando adubadas com potássio, o
penho produtivo. (ADAMS & SHIN, 2014).
que pode ser explicado pela maior disponi-
No manejo da adubação é fundamental
bilidade deste macronutriente às raízes das
considerar, de forma especial, os nutrientes
plantas, permitindo a sua absorção, com-
com maior mobilidade no perfil, como é o
provada por sua presença no tecido vegetal.
caso do nitrogênio e potássio, os quais são
altamente efêmeros nos solos tropicais, em A demanda por potássio aumenta ao longo do
virtude da fraca adsorção de amônio (NH4) crescimento, sendo consideravelmente inten-
e de K e da não adsorção do nitrato. sa quando as plantas atingem a maturidade,
devido ao requerimento para a reprodução,
O nitrogênio é um componente chave dos
exportando grandes concentrações para a for-
nucleotídeos e aminoácidos que compõem
mação de grãos. (CLEMENTE et al., 2013).
as proteínas. Sua ausência limita o cresci-
mento e produção das plantas, sendo que a A disponibilidade de potássio varia com as
adição deste macronutriente, quando bem características do solo, sendo afetada gran-
gerida, aumenta de forma significativa, o demente por suas propriedades físico-quí-
desempenho das culturas. (ROBERTSON micas. Também as interações entre planta
&VITOUSEK, 2009). e solo e as atividades dos micróbios afetam
a fixação e liberação de potássio no solo.
As plantas absorvem nitrogênio principal-
(ZORB et al., 2013).
mente sob a forma de amônio (NH4) e ni-
trato (NO3-), os quais, sendo móveis, per-
dem-se facilmente nestes solos. (SUN et al., 4 EFICIÊNCIA NO USO DE
2017). A eficiência na utilização do nitrogê-
NUTRIENTES (EUN)
nio torna-se importante, também, devido A Eficiência no Uso de Nutrientes (EUN) é
ao papel desse nutriente na fotossíntese, um importante fator para o manejo bem-
como componente da clorofila e, portan- -sucedido dos solos suscetíveis à coesão e

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


sujeitos à lixiviação, que são comuns no A adequada reciclagem de nutrientes pode
trópico úmido. (MOURA et al., 2013). Esta prolongar os efeitos da adubação e cala-
eficiência pode ser definida como a produ- gem no sistema de cultivo em aleias (Figura
tividade alcançada por unidade de fertili- 1). O suprimento de nutrientes adequado
zante aplicado. (MOURA et al., 2012). ao crescimento vegetal, conseguido por
uma eficiente decomposição de resíduos e
Essa variável pode ser determinada a partir
consequente liberação de nutrientes é pri-
do uso combinado de diferentes metodolo- mordial na fase de crescimento do cultivo. 67
gias. Para a quantificação do N total é co- (MOURA et al., 2010). A Figura 4 mostra a
mum o uso do método Kjedahl descrito por cobertura do solo com resíduos de legumi-
Tedesco (1995), baseado em digestão sulfú- nosas no sistema de cultivo em aleias.
rica, no qual o nitrogênio é determinado
Figura 3: Destilador de nitrogênio utiliza-
por titulação com H2SO4 a 0,05 N. Para a
do na metodologia Kjeldahl (à esquerda) e
determinação de P, K, Ca e Mg, é utilizada a milho crescendo em sistema de cultivo em
digestão nítrico perclórica, sendo estes ma- aléias (à direita):
cronutrientes dosados por Espectrometria
de Emissão Óptica. A partir destas metodo-
logias é possível calcular a remobilização
e eficiência do uso dos nutrientes. (SILVA,
2016). A Figura 3 mostra um destilador de
nitrogênio que corresponde a um equipa-
mento chave para determinação do N total.

As práticas de cobertura do solo e recicla-


gem de nutrientes são cruciais para o ade-
quado manejo dos solos de estrutura frágil,
os quais são bastante representativos de
muitas regiões dos trópicos e que devem ser
manejados mediante a combinação ótima
de resíduos de plantas, sendo comum o uso
de leguminosas. (AGUIAR et al., 2010 b).

As condições do solo apresentam correla-


ção positiva com a eficiência no uso dos
nutrientes. A capacidade de enraizamento
no perfil afeta o potencial de absorção dos
nutrientes e este potencial pode ser melho-
rado pelo uso dos resíduos vegetais nos sis-
temas de cultivo em aleias. (MOURA et al.,
2010; AGUIAR et al., 2010 b). Fonte: Autores.

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Figura 4: Cobertura do solo com resíduos de leguminosas em sistema de cultivo em aleias:

68

Fonte: Autores.

É fundamental considerar, de maneira cuidadosa, a disponibilidade de potássio para al-


cançar sistemas agrícolas verdadeiramente produtivos e sustentáveis nas condições do
trópico úmido. Para tanto, o manejo dos resíduos vegetais através do balanço de materiais
de alta e baixa qualidade, representa uma direção para aumentar a eficiência no uso dos
nutrientes (MOURA et al., 2010).

5 TÉCNICAS PARA AUMENTAR A EUN


Alguns estudos mostram a relação positiva existente entre o aumento do carbono or-
gânico do solo e as concentrações de NO3 e NH4, o que mostra que a melhoria do solo
mediante a adubação orgânica contribui, também, para o aumento da disponibilidade de
nitrogênio para as plantas. (HU et al., 2016).

Uma alternativa para aumentar a EUN é a utilização da gessagem em solos tropicais. O uso
combinado de gesso e material vegetal de leguminosas melhora a eficiência de recupera-
ção do fósforo comparado ao uso isolado dessas técnicas. Incrementando o crescimento
radicular, a aplicação de gesso torna a planta mais hábil à absorção do fósforo disponível
no solo. (MOURA et al., 2016).

O gesso é pouco solúvel no solo e sua solubilidade declina com o aumento do pH, por-
tanto, é fundamental manter umidade no solo após a sua aplicação para que este alcance
maiores profundidades (KHAN et al., 2011). Apesar disso, o gesso mostra-se útil para au-
mentar a capacidade de enraizamento das plantas, devido ao fato de proporcionar melho-
res condições de solo (Figura 2).

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Figura 5: Aplicação manual de gesso agrí- vendo melhorias nas características quími-
cola em sistema agroflorestal no Maranhão: cas e físicas do solo e tornando-o adequado
ao cultivo. (FORTE et al., 2017).

Bharali et al. (2017) constataram que as al-


terações inorgânicas e orgânicas aumenta-
ram significativamente o carbono orgânico
do solo, inferindo que diferentes práticas
69
de manejo na agricultura podem influen-
ciar a labilidade do carbono, e que o uso
de práticas combinadas de manejo pode ser
eficaz para o aumento do seu conteúdo.
Fonte: Autores.

O uso equilibrado de nutrientes minerais,


6 CONCLUSÃO
por meio de fertilizantes sintéticos, associa-
Considerando a predominância de solos
dos a adubos orgânicos diversos, resíduos
estruturalmente frágeis e pobres em nu-
industriais e restos de colheita, são formas
trientes e as condições ambientais, a utili-
eficientes de reduzir a queda da matéria or-
zação de sistemas conservacionistas, como
gânica do solo e a destruição de suas proprie-
o plantio direto em sistema de cultivo em
dades químicas e físicas (Das et al., 2016), po-
aleias, tem sido uma alternativa importan-
dendo, dessa maneira, contribuir para o uso
te para aumentar a eficiência no uso dos
eficiente dos nutrientes nestas condições.
nutrientes nas regiões tropicais.
A qualidade dos materiais orgânicos refle-
O sistema de cultivo em aleias, por si só, não
te-se no conteúdo de carbono, nitrogênio,
é capaz de suportar uma agricultura susten-
lignina, polifenóis e celulose presentes. Es-
tável nos trópicos úmidos devido às baixas
tes indicadores de qualidade estão relacio-
concentrações de nutrientes, como o P e
nados à velocidade de mineralização dos
Mg, no resíduo das leguminosas arbóreas
materiais. A relação carbono - nitrogênio
convencionalmente utilizadas. Dessa forma,
(C:N) deve ser considerada na escolha e
técnicas de manejo complementares, como
manejo do material a ser utilizado. (OMARI
a adubação verde com leguminosas herbá-
et al., 2016).
ceas e a utilização de fertilizantes minerais e
Alternativas de manejo, como adubação or-
sintéticos, podem ser valiosas para aumen-
gânica através de compostagem e adubação
tar a produtividade no trópico úmido.
verde, podem ser eficientes para manter
níveis significativos de carbono orgânico
em camadas superficiais do solo, poden-
do manter a sustentabilidade agrícola por
meio da reciclagem de nutrientes, promo-

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


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ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Recebido em 15/09/2017; Aceito em 20/02/2018; Publicado na web em 04/06/2018

Crescimento de plantas de alface


cultivadas em substratos orgânicos, no
município de Codó, Maranhão
Josielta Alves dos Santos1;
Wady Lima Castro Júnior2; 73
Alex Jhonne Barbosa Carvalho ; 3

Antonio Marcos da Conceição Lima4;


Gutierres Nelson Silva5;

1 Bacharel em Agronomia pelo Instituto Federal do Maranhão - IFMA. E-mail: josielta.alves@gmail.com;

2 Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão - IFMA. E-mail: wadycastro@ifma.edu.br;

3 Bacharel em Agronomia pelo Instituto Federal do Maranhão - IFMA. E-mail: alex.jbc@ifma.edu.br;

4 Graduando em Licenciatura em Química pelo Instituto Federal do Maranhão - IFMA. E-mail: zootec21@gmail.com;

5 Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão - IFMA. E-mail: gutierres.silva@ifma.edu.br;

RESUMO
Objetivou-se, neste estudo, analisar a produção da alface americana (Lactuca sativa) com
cultivo submetido a diferentes substratos. O delineamento foi em blocos ao acaso cons-
tituído por cinco fontes de nutrientes, sendo EB: esterco bovino + terra preta; EC: esterco
caprino + terra preta; EA: esterco de aves + terra preta; TB: terra preta (tratamento padrão)
e AQ: terra preta + adubação química. Cada tratamento foi constituído por quatro repeti-
ções, totalizando vinte parcelas. Cada parcela apresentou as seguintes dimensões: 1,20 m
de largura por 1,50 m de comprimento. Os dados foram submetidos à análise de variân-
cia, utilizando-se o teste F a 5% de probabilidade, seguido de comparação de médias por
meio dos testes Tukey e Dunnet a 5% de probabilidade. O tratamento que proporcionou
maiores médias com relação à altura de plantas, número de folhas e comprimento de
folha foi a EA, seguido da EB e EC, respectivamente. O tratamento com substrato terra
preta + esterco de aves proporciona melhores resultados de desenvolvimento vegetativo
da alface do tipo americana, no município de Codó/ MA. Desta forma é indicado como
uma alternativa para produção de alface.

Palavras-chave: Substratos alternativos. Lactuca sativa. Produtividade.

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Growth of lettuce plants cultivated in
organic substrates, in the municipality
of Codó/ MA
ABSTRACT
74
The objective of this study was to analyze the production of American lettuce (Lactuca sativa) with
cultivation submitted to different substrates. The design was a randomized block design with five
nutrient sources: EB: cattle manure + black soil; EC: goat manure + black earth; EA: bird manure
+ black earth; TB: black soil (standard treatment) and AQ: black soil + chemical fertilization.
Each treatment consisted of four replications, totaling twenty plots. Each plot had the following
dimensions: 1.20 m wide and 1.50 m long. Data were submitted to analysis of variance, using
the F test at 5% of probability, followed by means comparison using the Tukey and Dunnet tests
at 5% probability. The treatment yielded higher averages in relation to plant height, leaf number
and leaf length for EA, followed by EB and EC, respectively. Treatment with black soil substrate +
poultry manure provides better vegetative development results of American type lettuce, not Codó
municipality, MA, in this way and indicated as an alternative for surface production.

Keywords: Alternative substrates. Lactuca sativa. Productivity.

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


1 INTRODUÇÃO ra da alface é considerada uma hortaliça
exigente em nutrientes, mesmo absorven-
A alface (Lactuca sativa L.) é uma das horta-
do pequenas quantidades, se comparadas
liças mais plantadas e consumidas no país,
a outras culturas, sendo que o nitrogênio,
sendo uma das mais cultivadas em hor-
cálcio e potássio os elementos minerais
tas domésticas. (HENZ e SUINAGA, 2009;
mais absorvidos pela cultura.
SEDIYAMA et al., 2016). Grande parte da
sua produção é proveniente de pequenos Tendo-se em vista os custos inerentes à nu-
75
produtores fundamentados no sistema de trição da cultura da alface, faz-se necessário

agricultura familiar (BONELA et al., 2015), buscar substratos alternativos que propor-
cionem produtividades elevadas a baixo
o que lhe confere grande importância eco-
custo de produção.
nômica e social. (COSTA et al., 2012).
A adubação dos solos é um fator indis-
Esta cultura tem grande importância na ali-
pensável à manutenção da fertilidade e à
mentação humana ao se destacar como fonte
constante obtenção do aumento das sa-
de vitaminas e sais minerais, e também por
fras. Visando um melhor aproveitamento
ser uma hortaliça de fácil aquisição e de bai-
dos resíduos disponíveis nas propriedades
xo custo ao consumidor. (ZIECH et al., 2014).
rurais e a redução de uso de insumos quí-
Com a expansão de redes fast-food em todo o
micos, a utilização de substratos orgânicos
país, houve um consequente aumento na de-
pode ser uma alternativa viável e mais sus-
manda dessa hortaliça. (SALA e COSTA, 2008).
tentável. (COSTA et al., 2014).
A alface é uma planta de clima frio, poden-
Muitos estudos vêm sendo realizados com
do tolerar geadas de menor intensidade.
a cultura da alface, avaliando seu desem-
Seu ciclo é anual, encerrando sua fase ve-
penho em diferentes formas de cultivos,
getativa quando as folhas atingem o maior
como a adubação orgânica e sob diferentes
desenvolvimento. Esta cultura por ser uma
cultivares. (COSTA et al., 2012; FREITAS et
cultura de ciclo curto e crescimento rápido
al., 2013; SOUZA et al., 2016; BRITO et al.,
é muito exigente às condições edafoclimá-
2017). No estado do Maranhão, há estudos
ticas para que haja um incremento à mas-
relacionados a esta cultura no que diz res-
sa fresca. A alface é muito exigente quanto
peito à produção sustentável, a exemplo das
às características químicas e físicas do solo,
pesquisas feitas por Silva e França (2014).
sendo assim, a fertilização constitui a práti-
Entretanto, não há informações a respeito
ca agrícola mais onerosa e de maior retor-
sobre diferentes fontes de nutrientes para a
no. (OLIVEIRA et al., 2009).
cultura da alface nesse Estado. Assim, saber
A qualidade final da alface é resultado de a fonte de nutriente que promova maior
diversos fatores, dentre estes destaca-se a produtividade da alface americana é impor-
dose de nutrientes fornecidos durante o tante tanto para o pequeno produtor como
cultivo. Segundo Sanchez (2007), a cultu- também para o grande produtor rural.

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Diante do exposto, objetivou-se, assim, com este estudo, avaliar o crescimento vegetativo
de alface americana, em diferentes tipos de substrato orgânicos no município de Codó, MA.

2 MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi conduzido com a cultura da alface (Lactuca sativa L.) cultivar americana Grandes
Lagos 659. O experimento foi realizado no Campo Experimental do Instituto Federal de Educa-
76 ção, Ciência e Tecnologia do Maranhão, Campus Codó, localizado no município de Codó, MA,
com coordenadas geográficas de 4º 26’ 51’’ S, 43º 52’ 57’’ O e com altitude de 48 m. (CASTRO
JÚNIOR et al., 2015).

O clima da região dos cocais maranhenses, na qual a área experimental está inserida é,
segundo a classificação de Köppen, do tipo Aw - megatérmico úmido e sub úmido de in-
verno seco.

O solo da área é classificado como Neossolo Quartzarênico. Para caracterização química


do solo foram realizadas coletas de amostras deformadas de solo nas profundidades de 0 a
20 cm, representando, assim, a profundidade efetiva do sistema radicular da maioria das
hortaliças. Na mesma ocasião, foi coletada amostra da terra preta e também encaminhada
para o Laboratório de solos da Universidade Estadual do Maranhão. Os valores encontra-
dos podem ser observados nas Tabela 1 e 2.

Tabela 1: Características químicas do solo:

Profundidade (cm) MO* pH P K Ca Mg Al + H


g.dm-1 CaCl2 (mg dm-3) (mmolc dm3)
0-0,20 10 5,1 2 3,7 29 9 16,0
* MO: Matéria orgânica.

Tabela 2: Características químicas da terra preta

Profundidade (cm) MO* pH P K Ca Mg Al + H


g.dm-1 CaCl2 (mg dm-3) (mmolc dm3)
0-0,20 19 5,5 52 4,3 56 16 36,0
* MO: Matéria orgânica.
Fonte: Autores.

As mudas foram produzidas em bandejas de polietileno contendo 288 células. Foram


utilizados como substratos terra-preta e esterco de bovino na proporção 2:2. As sementes
foram semeadas no dia 05 de janeiro de 2016, sendo depositadas 3 sementes por célula a
uma profundidade de 0,5 cm. Aos 12 dias após a emergência foi realizado o desbaste dei-
xando apenas uma planta por célula tida como vigorosa. O preparo dos canteiros deu-se

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


com a escolha do local, seguida de capina Para a variável altura de plantas, a medida
manual da vegetação espontânea. Após a foi tomada desde a base até o ápice da plan-
capina procedeu-se a aplicação dos adubos ta, utilizando-se uma régua milimetrada.
conforme cada tratamento. Com os cantei- Após esta etapa, foi realizada a contagem
ros adubados, aguardaram-se vinte e quatro do número de folhas de cada planta. Após a
horas para realizar o transplantio. Para pro- contagem das folhas, foi realizada a medida
teção dos canteiros, estes foram recobertos do comprimento das folhas de cada planta.
77
por palha de arroz. Para a contagem de folhas, foram considera-
O controle das plantas daninhas foi realiza- das folhas acima de 5,0cm de comprimento.
do de forma manual, sendo que o primeiro A variável comprimento de caule foi men-
desbaste ocorreu quinze dias após o trans- surada com o auxílio de uma régua milime-
plantio. As capinas foram realizadas em in- trada, levando-se em consideração desde
tervalos de 15 dias até a colheita. a base até a primeira inserção da primeira
Os tratamentos foram constituídos por cin- folha. Com o auxílio de um paquímetro,
co fontes de nutrientes: 1 - esterco bovino realizou-se a leitura do diâmetro de caule a
+ terra preta (EB); 2 - esterco caprino + terra uma altura de 0,5 cm de comprimento.
preta (EC); 3 - esterco de aves + terra pre- A massa fresca foi obtida a partir da pesa-
ta (EA); 4 - terra preta + adubação química
gem da parte aérea de cada planta. A de-
(AQ) e 5 - terra preta (TP), esse último foi
terminação de massa fresca foi mensurada
considerado tratamento padrão. Cada par-
com uma balança analítica, (tecnologia
cela apresentaram as seguintes dimensões:
UNIBLOC - Modelo AUW-220D) com capa-
1,20 m de largura por 1,50 m de compri-
cidade 220g e precisão 0,0001g, sendo, em
mento (1,8m²). O espaçamento utilizado
seguida, colocada em sacos de papel que fo-
foi de 0,30 m entre plantas e 0,30 m en-
ram levados à estufa a 70º C por 48 horas.
tre fileiras. Foram consideradas área útil as
plantas centrais, desconsiderando-se a bor- A variável massa seca de raízes foi obtida de
dadura da parcela. O sistema de irrigação forma semelhante ao da massa seca da parte
utilizado foi o de micro aspersão. aérea, sendo esta obtida um dia após a coleta
da parte aérea, com diferença apenas na tem-
As variáveis avaliadas foram: altura de plan-
peratura utilizada. Depois de serem retiradas
tas, número de folhas, comprimento médio
do solo, as raízes foram lavadas e colocadas
de folhas, comprimento médio de caule,
para secar. Em seguida, as raízes foram pesa-
diâmetro médio de caule, massa fresca da
das e levadas à estufa 105ºC por 24 horas.
parte aérea, massa seca da parte aérea, mas-
sa seca das raízes. O crescimento e acúmulo O experimento foi instalado no delineamen-
de massa seca das plantas foram avaliados to em blocos ao acaso (DBC), com quatro
aos 45 dias após o transplantio, cortando as repetições. Foram utilizados cinco tratamen-
plantas rentes ao solo. tos: EB, EC, EA, AQ e TP (tratamento padrão).

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Os dados foram submetidos à análise de variância. As médias foram comparadas utili-
zando o teste de Tukey a 5% de probabilidade. A comparação dos valores médios de cada
característica para os tratamentos (EB, EC, EA, AQ) foram comparados com o tratamento
padrão (TP) pelo teste Dunnett a 5% probabilidade.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
78 Observou-se pelo teste F, a 5% de probabilidade, que os diferentes substratos tiveram efei-
to significativo sobre as seguintes variáveis avaliadas (altura de plantas, número de folhas,
comprimento médio de folhas e diâmetro de caule, a exceção foi para o comprimento de
caule, onde não foi constatado diferença significativas entre os diferentes tipos de subs-
tratos (Tabela 3). Observa-se que o fator bloco não influenciou (P>0,05) em nenhuma das
características avaliadas. Ainda analisando a Tabela 3 é possível evidenciar que, em geral,
todos os coeficientes de variação (CV) estão dentro do padrão estabelecido na literatura.
(GOMES, 1990; FERREIRA, 1991).

Tabela 3: Quadrado médio dos parâmetros da planta: altura de plantas (AP); número de folhas
(NF); comprimento médio de folhas (CF); comprimento de caule (CC) e, diâmetro de caule:

QM
FV GL AP NF CF CC DC
BLOCOS 3 13,08958ns 13,52966ns 5,70512ns 0,09672ns 0,07591ns
TRATAMENTOS 4 298,44721** 182,36216** 64,13871** 0,08607ns 0,23888**
RESÍDUO 12 7,80324 6,50314 2,33331 0,09144 0,01664
CV(%) 11,51 16,96 10,72 27,52 22,31
** significativo ao nível de 1% de probabilidade pelo teste F, e ns não significativo pelo teste F; CV: coeficiente
de variação. Fonte: Autores

Para as variáveis comprimento de caule (CC) e diâmetro de caule (DC), os valores de coefi-
ciente de variação foram elevados e ultrapassaram os 20%. De acordo com Gomes (1990),
coeficientes de variação apresentando valores entre 20 e 30% são considerados altos, refletin-
do em baixa precisão experimental. Valores elevados de coeficiente de variação obtidos para
comprimento de caule podem ser explicados, uma vez que é altamente influenciado pelo
ambiente, devido temperatura e foto período elevados (SOUZA et al., 2008), pois a região
onde foi instalada a pesquisa (Codó, MA) apresenta clima do tipo equatorial, caracterizado
por período seco e com temperatura média anual de 35ºC. (IBGE, 2010; PONTE et al., 2011).

O tratamento com esterco de ave (EA), proporcionou valores médios estatisticamente su-
periores (P<0,05) em relação aos demais tratamentos, para todas as características, exceto
comprimento de caule (Tabela 4). Peixoto Filho et al. (2013) relacionam os incrementos
proporcionados pelo esterco de aves com a relação carbono nitrogênio (C/N) serem me-

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


tade dos demais substratos, sendo assim, apresenta uma mineralização mais rápida e, em
consequência, a maior disponibilização do nitrogênio para a cultura. Possivelmente, a
maior disponibilidade de nitrogênio no tratamento EA proporcionou maior desenvolvi-
mento vegetativo da cultura da alface. Bonela et al. (2015), ao estudarem a resposta de
cultivares de alface a diferentes fontes de matéria orgânica, verificaram que o substrato de
cama de frango apresentou menor relação C/N (8,65), quando comparados aos estercos
bovino (18,8) e suínos (9,57).
79
Tabela 4: Valores médios das características avaliadas: altura de plantas (AP); número de
folhas (NF); comprimento médio de folhas (CF); comprimento de caule (CC) e, diâmetro
de caule (DC).

Tratamento AP (cm) NF (Folhas planta-1) CF (cm) CC (cm) DC (cm)

EB 25,57 b* 15,70 b 15,87 ab 1,04 a 0,56 b


EC 24,75 b 14,37 b 14,52 b 1,22 a 0,43 bc
EA 35,33 a 23,83 a 18,01 a 1,27 a 0,89 a
TP 11,07 c 4,91 c 7,46 c 0,91 a 0,21 c
AQ 24,57 b 16,33 b 15,36 ab 1,03 a 0,55 b
*Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Fonte: Autores.

Outro resultado semelhante ao reportado nessa pesquisa foi relatado por Ziech et al.
(2014), que, estudando o cultivo de alface em diferentes manejos de cobertura do solo e
fontes de adubação, observaram maiores valores médios para número de folhas e diâme-
tro de caule, quando foi utilizado adubação com cama de aviário.

Em relação ao tratamento com terra preta (TP), em geral, esse tratamento apresentou
os menores valores médios (P<0,05) para todas as características avaliadas na cultura da
alface (Tabela 4). Isso se deve, provavelmente, a menor mineralização dos nutrientes nes-
te substrato, tendo, como consequência, menor desenvolvimento vegetativo da cultura
nessas condições.

Em relação ao comprimento de caule, não foi constatada diferença significativa entre os


tratamentos (P>0,05) (Tabela 4). É importante salientar que quanto menor o caule, melhor
será a qualidade de comercialização e resistência do material ao pendoamento. De acordo
com Luz et al. (2009), o comprimento do caule de plantas pode ser considerado um pa-
râmetro para verificar a sua resistência ao pendoamento. Segundo Fiorini et al. (2016), o
maior comprimento do caule de plantas de alface inviabiliza o produto comercial.

Para a variável diâmetro de caule (DC), os valores médios verificados nos tratamentos EA
e AQ apresentaram resultados superiores (P<0,05) ao valor médio do DC no tratamento

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


TP (padrão) pelo teste Dunnett (Tabela 5). Já as demais, características de crescimento
vegetativo da alface, não houve diferença significativa (P>0,05) dos tratamentos (EC, EA
e AQ) comparado ao tratamento padrão pelo teste Dunnett (Tabela 5). Desta forma, o uso
de esterco de ave como substrato na cultura da alface pode ser uma alternativa viável para
aumentar da produtividade dessa hortaliça.

Tabela 5: Valores médios das características avaliadas: altura de plantas (AP); número de

80
folhas (NF); comprimento médio de folhas (CF); comprimento de caule (CC) e, diâmetro
de caule (DC).

Tratamento AP (cm) NF (Folhas planta-1) CF (cm) CC (cm) DC (cm)


TP (padrão) 11,07 4,91 7,46 0,91 0,21
EC 24,75 14,37 14,52 1,22 0,43
EB 25,57 15,70 15,87 1,04 0,56
EA 35,33 23,83 18,01 1,27 0,89*
AQ 24,57 16,33 15,36 1,03 0,55*
Médias com * na coluna diferem do valor da terra preta (padrão) ao nível de 5% de probabilidade pelo teste
Dunnett. Fonte: Autores.

Observou-se, pelo teste F, a 5% de probabilidade, que os diferentes substratos tiveram efei-


to significativo sobre as características de massa fresca, massa seca da parte aérea e massa
seca de raiz (Tabela 6).

Tabela 6: Quadrado médio dos parâmetros da planta: massa fresca da parte aérea (MFPA),
massa seca da parte aérea (MSPA) e massa seca de raiz (MSR).

QM
FV GL MFPA MSPA MSR
BLOCOS 3 817,16ns 3,40ns 4,86ns
TRATAMENTOS 4 11628,30** 53,78** 21,35**
RESÍDUO 12 771,12 5,77 5,86
CV(%) 43,35 48,79 69,39
** significativo ao nível de 1% de probabilidade pelo teste F, e ns não significativo pelo teste F; CV: coeficiente
de variação. Fonte: Autores.

Em geral, o tratamento EA, proporcionou valores médios estatisticamente superiores


(P<0,05) em relação aos demais tratamentos, para as variáveis de massa fresca da parte
aérea, massa seca da parte aérea e massa seca de raiz (Tabela 7). Resultados similares foram
reportados por Tashima et al. (2015) que, ao trabalhar com a cama de frango peletizada
na cultura da alface, encontraram valores médios superiores de massa fresca da parte aérea
no tratamento com cama de frango. Ao trabalhar com doses de estercos de frango, bovi-
no e ovino, Peixoto Filho et al. (2013) também encontraram melhores resultados para a

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


produção de matéria fresca, matéria seca de plantas, e número de folhas com a utilização
de esterco de frango. Segundo esses mesmos autores, provavelmente a mineralização da
matéria orgânica tenha sido mais lenta nos tratamentos dos estercos bovino em relação
ao de frango, o que pode ter acarretado as maiores produções com o esterco de frango.

Tabela 7: Valores médios das características avaliadas: massa fresca da parte aérea (MFPA),
massa seca da parte aérea (MSPA) e massa seca de raiz (MSR):

MFPA MSPA MSR 81


Tratamento
g planta-1
EB 59,76 bc* 4,94 b 2,54 ab
EC 43,62 bc 3,18 b 3,50 ab
EA 152,38 a 10,82 a 7,14 a
TP 4,83 c 0,94 b 0,82 b
AQ 69,50 b 4,72 b 3,61 ab
MÉDIA 66,02 4,92 3,52
DMS 64,53 5,41 5,51
*Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Fonte: Autores

Para a variável massa fresca da parte aérea (MFPA), massa seca da parte aérea (MSPA) e
massa seca da raiz (MSR), os valores médios verificados nos tratamentos EA e AQ apresen-
taram resultados superiores (P<0,05) ao valor médio observados no tratamento TP (pa-
drão) pelo teste Dunnett (Tabela 8). Comportamento semelhante foi verificado por Costa
et al. (2012) que, avaliando diferentes substratos alternativos para produção de mudas de
alface, observaram que o uso de substrato a base de terra preta e húmus apresentou meno-
res valores médios de MFPA, MSPA e MRS, comparado aos demais tratamentos.

Tabela 8: Valores médios das características avaliadas: massa fresca da parte aérea (MFPA),
massa seca da parte aérea (MSPA) e massa seca de raiz (MSR).

MFPA MSPA MSR


Tratamento
g planta -1

TP (Padrão) 4,83 0,94 0,82


EB 59,76 4,94 2,54
EC 43,62 3,18 3,50
EA 152,38* 10,82* 7,14*
AQ 69,50* 4,72* 3,61*
Médias com * na coluna diferem do valor da terra preta (padrão) ao nível de 5% de probabilidade pelo teste
Dunnett. Fonte: Autores.

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Os resultados obtidos neste estudo confirmam que o uso de substrato a base de esterco de
aves pode aumentar a produção de alface americana, na região de Codó/MA, tornando-se,
assim, uma alternativa para os pequenos produtores da região.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desempenho do tratamento com substrato terra preta + esterco de aves proporcionou
82 melhor crescimento de plantas de alface do tipo americana, no município de Codó/MA,
sendo uma alternativa para produção de alface, supostamente devido à mineralização
mais rápida e a maior disponibilização do nitrogênio para a alface americana.

AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi fomentado pelo Departamento de Ensino do Instituto Federal de Educa-
ção, Ciência e Tecnologia do Maranhão.

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


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Recebido em 30/09/2017; Aceito em 18/01/2018; Publicado na web em 04/06/2018

Ajuste de equações volumétricas para


diferentes seccionamentos de tora
em uma floresta sob manejo florestal
comunitário
85
Raiane Cardoso da Silva1;
Lia de Oliveira Melo2;
Lucas Cunha Ximenes3;
Renato Bezerra da Silva4;

1 Graduada em Engenharia Florestal pelo Instituto de Biodiversidade e Florestas na Universidade Federal do Oeste do Pará,UFOPA;
E-mail: raiane_silva72@hotmail.com;

2 Professora do Instituto de Biodiversidade e Florestas da Universidade Federal do Oeste do Pará, UFOPA; E-mail:lcolivei@gmail.com;

3 Doutorando em Ciências Ambientais pela Universidade Federal do Oeste do Pará, UFOPA; E-mail: lucasximenesflorestal@gmail.com;

4 Professor orientador do Instituto de Biodiversidade e Florestas na Universidade Federal do Oeste do Pará, UFOPA; E-mail: @gmail.com.

RESUMO
Este trabalho objetivou ajustar equações de simples e dupla entrada para dois tipos de sec-
cionamentos de toras, e avaliar a precisão na estimativa volumétrica para uma floresta sob
manejo comunitário, na Flona do Tapajós, Belterra, Pará. Foram cubados, pelo método de
Smalian, 4.469 indivíduos com DAP maior que 50 cm, de 24 espécies comerciais. Os sec-
cionamentos testados foram: toras com variados comprimentos de secção e fuste comercial
(considerando todas as toras), e os volumes obtidos comparados por meio da Análise de
Variância. No ajuste volumétrico, foram utilizados três modelos de simples e três de dupla
entrada, sendo utilizados como critérios de seleção: Coeficiente de Determinação Ajusta-
do e Erro Padrão da Estimativa percentual, significância dos parâmetros, análise gráfica e
histograma dos resíduos. Houve diferença significativa entre os seccionamentos, sendo o
modelo ajustado de Spurr, pela equação V=0,612024+0,000045.(DAP².Hc), o que apresen-
tou maior precisão na estimava volumétrica. O uso de comprimentos variados de secção
de tora foi o mais adequado para o cálculo de volume real, pois possibilitou a manutenção
da rotina operacional e uso dos dados de romaneio no ajuste dos modelos volumétricos.

Palavras-chave: Análise de regressão. Floresta Nacional do Tapajós. Amazônia.

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Adjustment of volumetric equations
for different sections of logs in a forest
under community forest management
ABSTRACT
86
The aim of this work was to adjust equations of single and double entry for two types of sections of
logs and assess the accuracy of the estimated volume for a forest under community management,
in the Flona do Tapajós, Belterra, Pará. 4,469 individuals with DBH over than 50 cm and 24
commercial species were cubed by Smalian method. The tested sections were logs with varying
lengths of section and commercial stem (considering all the logs), and the obtained volumes were
compared by means of Analysis of Variance. Three models of simple and three of double entry
were used in adjusting volume as selection criteria: Adjusted Coefficient of Determination and
Standard Error of Estimate Percentage, significance of the parameters, graphical analysis and
histogram of waste. There was a significant difference between the sections, and the adjusted
model of Spurr by the equation V=0.612024+0.000045 (DAP².Hc) was the one that presented
the highest accuracy in estimated volume. The use of varying lengths of section of log was the
most suitable for the calculation of actual volume because it allowed the maintenance of the
operational routine and the use of packing data on adjustment of volumetric models.

Keywords: Regression analysis. Tapajós National Forest. Amazon.

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1 INTRODUÇÃO Newton, principalmente pela maior aplica-
bilidade de uso. (CAMPOS; LEITE, 2013).
As técnicas de manejo em florestas nativas,
voltadas para a exploração do recurso madei- O volume também pode ser diretamente
reiro, têm sido continuamente melhoradas estimado por meio de ajuste de equações
com objetivo de reduzir impactos causados e volumétricas, cujos parâmetros são deter-
aumentar a produtividade. (FIGUEIREDO et minados por análise de regressão. (SANTA-
al., 2007; THAINES et al., 2010). Nesse pro- NA; ENCINAS, 2004). O emprego dessa téc- 87
cesso, o conhecimento do volume de ma- nica constitui um dos procedimentos mais
deira estocada é fator importante na quan- eficientes na estimativa do volume em ár-
tificação de povoamentos e imprescindível vores em pé, a qual se dá pela correlação de
para a implementação de planos de manejo variáveis independentes de fácil mensura-
sustentáveis. (CABACINHA, 2003). ção na floresta, como diâmetro à altura do
peito (DAP) e altura comercial. (MACHA-
A estimativa de volume das árvores cons-
DO et al., 2002; LEITE e ANDRADE, 2003).
titui uma das principais finalidades dos le-
vantamentos florestais, importante para a No entanto, de acordo com Finger (2006),
avaliação da biomassa, do estoque comer- nas estimativas volumétricas, deve ser ob-
cial e no conhecimento do potencial flores- servada a influência de fatores como o
tal de uma região. (MACHADO et al., 2002; comprimento da seção da tora na cubagem,
THOMAS et al., 2006). o qual pode interferir nos resultados. Ape-
sar da eficiência de algumas equações, estas
Um sistema eficiente de quantificação do vo-
nem sempre se ajustam a todas as espécies
lume da madeira possibilita melhor planeja-
e condições das populações florestais, sen-
mento da exploração florestal, influenciando
do recomendável a realização de testes por
diretamente em procedimentos de vistoria e
meio de estatísticas adequadas, de modo a
fiscalização. (LEITE; RESENDE, 2010). Esse
identificar o modelo mais eficiente. (THO-
processo, no entanto, perpassa pela necessi-
MAS et al., 2006).
dade de métodos de estimativa de volume
adequados e precisos (THAINES et al., 2010), Logo, verifica-se a necessidade de avaliação
sendo utilizadas técnicas de cubagem de ár- do volume considerando a aplicabilidade
vores-amostra para estimar o volume comer- à diferentes seccionamentos e verificação
cial. (SANQUETTA; BALBINOT, 2004). de diferenças significativas entre métodos.
Dessa forma, garantindo a melhor precisão
De acordo com Machado e Figueiredo Filho
e o menor tempo na determinação do vo-
(2009), o volume pode ser determinado por
lume, implicando na diminuição de custos
meio de cubagem rigorosa, pela medição das
na mensuração florestal.
variáveis diâmetro e comprimento de seções
ao longo do tronco. Atualmente, os métodos Para espécies nativas da Amazônia, deve-se
mais empregados têm sido Smalian, Huber e atentar, ainda, para as legislações vigentes

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


que tratam sobre o manejo florestal e seus elevadas e precipitações distribuídas ao
procedimentos, entre eles, para o cálculo longo do ano (IBGE, 2012). Segundo a clas-
do volume das árvores em pé. Entre as leis sificação de Köppen, o clima da região é do
que regem a utilização dos recursos flores- tipo Ami (quente e úmido), com tempera-
tais está a Resolução CONAMA, nº 406 de tura média anual de 25,5°C, umidade rela-
02/02/2009 (BRASIL, 2009) e a Instrução tiva média em torno de 90%, e precipitação
Normativa nº 4 de 13/05/2011, da Secre- média anual de 1820 mm. O relevo exibe
88
taria de Estado de Meio Ambiente. Ambas topografia variando de suavemente ondu-
definem, a partir do segundo Plano Opera- lada a ondulada, apresentando como solo
cional Anual, a obrigatoriedade do cálcu- predominante o Latossolo Amarelo Distró-
lo do volume de árvores em pé mediante fico (IBAMA, 2004).
equação de volume desenvolvida especifi-
2.2 Coleta, Análise e Processamento dos
camente para planos de manejo florestais
Dados
sustentáveis. (SEMAS, 2011).
Foram utilizados dados de romaneio de
Dessa forma, os objetivos deste trabalho
4.469 árvores-amostra, de 24 espécies co-
foram ajustar equações de simples e dupla
merciais, distribuídas em classes de diâme-
entrada e avaliar a precisão da estimativa
tro variando de 50 cm a 180 cm (Tabela 1).
volumétrica quando aplicados a dois tipos
de seccionamentos de toras em uma flores-
ta sob manejo florestal comunitário.

2 METODOLOGIA
2.1 Localização e Caracterização da Área
de Estudo
Os dados utilizados na pesquisa foram
oriundos da Área de Manejo Florestal
(AMF) da Cooperativa Mista da Flona Ta-
pajós (COOMFLONA), Unidade de Produ-
ção Anual número dez (UPA 10). A área fica
localizada na Floresta Nacional do Tapajós,
ao longo do km 117 da BR 163, município
de Belterra, Pará.

A Floresta Nacional do Tapajós situa-se na


zona de Floresta Ombrófila Densa, carac-
terizando-se pelo domínio de árvores de
grande porte, sob regime de temperaturas

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Tabela 1: Relação de espécies e número de indivíduos por classe diamétrica utilizados para
ajuste dos modelos volumétricos em área de manejo florestal comunitário, na Flona Tapajós.

CENTRO DE CLASSE DE DAP (CM)



Nome comum Nome Científico 55 65 75 85 95 105 115 125 135 145 155 165 175 Total
Hymenolobium
1 Angelim Pedra 4 2 3 8 11 4 7 6 3 48
petraeum Ducke
Cedro
2 Cedrela odorata L. 4 3 4 2 1 1 15
Vermelho
Cedrelinga 89
3 Cedrorana 3 11 6 10 6 6 14 9 8 8 6 3 90
catenaeformis Ducke
Terminalia
4 Cuiarana 3 14 30 12 7 3 2 71
dichotoma G. Mey.
Dipteryx odorata
5 Cumarú 20 17 11 2 4 1 1 56
(Aubl.) Willd.
6 Cupiuba Goupia glaba Aulb. 18 38 21 18 2 1 98
Vatairea paraensis
7 Fava Amargosa 4 10 28 32 23 28 23 6 3 1 158
Ducke
8 Fava Pseudopiptadenia
Timborana psilostachya (Benth.) 3 21 32 12 7 1 76
G.P.Lewis & L.Rico
Cordia goeldiana
9 Freijo Cinza 3 18 22 6 1 1 51
Huber
Apuleia moralis
10 Garapeira 22 59 49 38 23 18 5 5 3 1 223
Spruce ex Benth.
Pouteria bilocularis
11 Goiabão 75 264 82 14 435
(H.Winkl.) Baehni
Handroanthus
12 Ipê Amarelo serratifolia (Vahl) 9 29 31 15 4 2 3 1 94
Nichols.
Handroanthus incana
13 Ipê Roxo 3 8 12 9 7 14 9 4 2 68
A.Gentry
Mezilaurus itauba
14 Itaúba (Meisn.) Taub. ex 10 20 24 12 12 3 1 82
Mez
Lecythis lurida
15 Jarana 10 76 134 66 27 10 3 1 327
(Miers) S.A.Mori
16 Jatobá Hymenaea courbaril L. 26 40 62 45 33 19 10 4 1 1 241
Hymenaea parvifolia
17 Jutai Mirim 18 46 80 55 25 4 228
Huber
Manilkara huberi
18 Maçaranduba 35 134 378 258 181 78 44 10 2 1120
(Ducke) Chevalier
Astronium lecointei
19 Muiracatiara 2 37 49 41 11 6 11 3 160
Ducke
Vochysia maxima
20 Quaruba 2 5 16 15 7 8 8 5 3 1 1 71
Ducke
Lecythis pisonis
21 Sapucaia 18 13 10 7 2 2 52
Cambess.
Sucupira Diplotropis purpurea
22 5 20 10 1 1 37
Amarela (Rich.) Amshoff
Bagassa guianensis
23 Tatajuba 9 44 35 22 24 12 1 1 148
Aubl.
Couratari guianensis
24 Tauari 7 58 114 134 109 33 41 17 4 1 1 1 520
Aubl.
Total 180 818 1230 862 606 293 237 127 48 34 18 12 4 4.469

Fonte: Autores.

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Para a determinação do volume real, foram utilizados dois tipos de seccionamento: o pri-
meiro considerou os tamanhos variados das toras, atribuindo cada tora como uma secção,
e o segundo considerou o comprimento do fuste comercial, obtido por meio do somatório
dos comprimentos das toras, atribuindo como secção a “árvore inteira”.

Para ambos os seccionamentos, o volume foi obtido pela aplicação da fórmula de Sma-
lian, conforme a seguinte equação geral:

90

Em que: V=volume da tora (m³); L=comprimento da tora (m); g1= área seccional da extre-
midade inferior da tora/árvore (m²); g2 = área seccional da extremidade superior da tora/
árvore (m²).

Os volumes obtidos pelos seccionamentos propostos foram comparados por meio da Aná-
lise de Variância (ANOVA) a 95% de probabilidade, utilizando o delineamento inteira-
mente casualizado.

2.3 Equações de Volume Testadas


A partir dos dados de volumes reais obtidos na cubagem, utilizou-se da análise de regres-
são para testar seis modelos florestais e selecionar o que melhor se ajusta quando aplica-
dos para toras e fuste comercial. Foram testados três modelos volumétricos de simples
entrada e três modelos de dupla entrada (Tabela 2).

Tabela 2: Modelos volumétricos testados para a estimativa do volume comercial, para


uma área de manejo florestal comunitário, na Floresta Nacional do Tapajós.

Nº Modelos Autores
1 V= β0 + β1.DAP²+ ɛ Koperzky-Gehrhardt
2 Ln V= β0 + β1. Ln (DAP) + ɛ Husch
3 V= β0 + β1.DAP + β2.DAP² Hohenald-Krenn
4 V = β0 + β1.(DAP².Hc) + ɛ Spurr (Variável combinada)
5 Ln(V) = β0 + β1. Ln (DAP) + β2.Ln (Hc) + ɛ Schumacher-Hall-logarítmizado
V = β0 + β1.D + β2.DAP² + β3.(DAP.Hc) + β4.(DAP².Hc) +
6 Meyer
β5.Hc + ɛ
V = volume comercial com casca, em m³; DAP = diâmetro medido a 1,30 m do solo, em cm; Hc = altura
comercial, em m; β0, β1, β2, β3, β4, β5 =parâmetros de regressão; Ln = logaritmo neperiano; e ɛ = erro
aleatório. Fonte: Autores.

2.4 Critérios de Seleção dos Modelos


Como critérios para a seleção dos modelos foram avaliados: Coeficiente de Determinação
Ajustado em porcentagem (R²Aj.%), Erro Padrão da Estimativa absoluto (Sy.x) e em por-

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


centagem (Sy.x%), significância dos coeficientes de cada modelo (valor-p), análise gráfica
dos resíduos (Res.%) e o histograma de frequência dos resíduos, visando verificar a exis-
tência de possíveis tendências na curva de ajuste.

Os ajustes dos modelos e análises estatísticas dos dados foram realizados em planilha ele-
trônica no Software Microsoft Excel versão 2010.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 91

3.1 Análise Volumétrica dos Seccionamentos


Os volumes médios e desvios para cada tipo de seccionamento aplicado foram de 8,14
m³ ± 5,24 m³, considerando as toras com diferentes tamanhos de secção, e de 8,78 m³ ±
5,96 m³ para o fuste comercial. De acordo com a Análise de Variância, os volumes obtidos
diferiram estatisticamente (Tabela 3).

Tabela 3: Resultado da Análise de Variância aplicado aos dois seccionamentos testados


para uma área de manejo florestal comunitário, na Floresta Nacional do Tapajós.

Fonte da variação SQ Gl MQ F Valor-P F crítico

Entre grupos 923,9791 1 923,9791 29,35394 6,19x10-8 3,8425


Dentro dos grupos 281280,1 8936 31,47718
Total 282204 8937
Fonte: Autores.

3.2 Equações de Volume para Toras


Considerando a diferença observada entre os seccionamentos, os resultados dos ajustes
para os modelos de simples e dupla entrada, aplicados à análise por toras, estão apresen-
tados na Tabela 4.

Na análise dos modelos de simples entrada (Koperzky-Gehrhardt, Hush, Hohenald-


-Krenn), observou-se pequena diferença nos valores do coeficiente de determinação ajus-
tado (R²aj.), os quais variaram de 73,60% a 78,63%.

Estes apresentaram precisão menor em comparação com os modelos de dupla entrada e


valores de erro padrão percentuais (Sy.x%) mostrando resultados elevados.

O modelo de Hohenald foi o que apresentou melhor estimativa, com maior precisão e
menor erro. No entanto, o modelo de Husch, mesmo estando na forma logarítmica, apre-
sentou tendenciosidade para estimativa volumétrica, com baixo valor de R²aj%. e erro
padrão mais elevado.

ACTA TECNOLÓGICA v.12, nº 2, 2017


Tabela 4: Parâmetros e estatísticas de precisão do ajuste de equações volumétricas aplica-
das às toras, para uma área de manejo florestal comunitário na Flona Tapajós.
Coeficientes
Modelos R² aj.(%) Sy.x (%)
β0 β1 β2 β3 β4 β5
Koperzki G. 78,54 24,97 -0,485514* 0,001137*
Husch 73,60 25,15 -7,309183* 2,097793*
Hohenald K. 78,63 24,91 1,728028* -0,049662* 0,001402*
Spurr 90,47 17,52 0,612024* 0,000045*
92 Schumacher H. 88,10 18,14 -8,684168* 1,811548* 0,866337*
Meyer 90,53 17,46 2,698121ns -0,039348ns 0,000210ns 0,000669ns 0,000042* -0,049958ns
βj = coeficientes dos modelos; R²aj.% = coeficiente de determinação ajustado em porcentagem; Sy.x% = Erro
padrão de estimativa em porcentagem *Coeficientes significativos; ns: não significativos (p>0,05). Fonte:
Autores.

Os modelos de dupla entrada (Spurr, Shu- dos bons em relação às características de


macher-Hall e Meyer) apresentaram preci- florestas naturais, também apareceram no
são na estimativa volumétrica, variando de erro padrão da estimativa. Isso demonstra,
88,10% a 90,53%, e menor erro em relação de modo geral, um desempenho estatístico
aos modelos de simples entrada (Tabela 4). eficiente dos modelos testados, devido ao
Nesse sentido, este resultado indica melhor bom grau de ajuste da variável dependente
eficiência nas estimativas, o que pode justi- em função das variáveis independentes.
ficar a importância da inclusão da variável O modelo de Meyer foi o que apresentou
altura na precisão dos ajustes. melhor ajuste, exibindo superioridade em
Pode-se observar que o modelo de Schu- relação aos demais, entretanto, apenas um
macher, na forma logarítmica, foi o que parâmetro foi significativo. Desta forma,
apresentou, dentre os modelos de dupla en- segundo Batista et al. (2004), no modelo
trada, menor precisão e maior erro. Consi- onde mais de um coeficiente β é não sig-
dera-se, assim, que as variáveis combinadas nificativo, ou seja, não difere de zero, pode
deste modelo apresentaram maior tenden- estar ocorrendo multicolinearidade.
ciosidade nas estimativas. Em se tratando da precisão de modelos, a
Segundo Higuchi et al. (2008a) e Higuchi multicolinearidade não é uma característica
et al. (2008b), para a volumetria de espécies aceitável e, portanto, o modelo de Spurr apre-
nativas, o padrão de modelos estatísticos sentou-se como a equação de dupla entrada
para apresentarem boas estimativas é R²aj. com maior precisão no ajuste, visto que não
> 90% e o Erro Padrão (Sy.x%) em torno de sofre instabilidade dos parâmetros estimados.
10%. Estes valores atestam a maior eficiên- Apesar das estatísticas apresentadas ante-
cia e a adequabilidade do modelo. riormente serem boas indicadores da qua-
Considerando esses parâmetros, as equa- lidade dos ajustes, a análise gráfica de resí-
ções de Spurr e Meyer apresentaram altos duos é fundamental, visto que erros podem
valores para o coeficiente de determina- ocorrer em determinados cenários e não se-
ção ajustado. Estes resultados, considera- rem detectados. (MIGUEL et al., 2015).

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Considerando os modelos de simples entrada, aplicados aos tamanhos de seção de tora
variados, a análise dos resíduos demonstrou distribuição dos pontos, em sua maior parte
concentrados em torno da reta do erro. Os resíduos, em sua maioria, não estão bem distri-
buídos em relação às classes diamétricas, estando agrupados entre 70 cm e 90 cm, e com
amplitude residual entre ± 100% (Figura 1).

É notória a tendência de subestimativa para as árvores de menores diâmetros, com resí-


duos alcançando valores de amplitude até cerca de 450%, visto que os modelos apresen- 93
taram elevados valores de erro padrão da estimativa.

Figura 1: Análise gráfica e histograma dos resíduos em função do DAP, para os modelos
de simples entrada, aplicado ao ajuste realizado para as toras:

Fonte: Autores.

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Analisando os modelos de dupla entrada, conforme observado na Figura 2, verifica-se que a
amplitude residual é significativamente menor que a apresentada nos modelos de simples
entrada. Os resíduos estão concentrados entre ±40% e com maior amplitude próxima a 160%.

A tendência dos modelos também foi de superestimativas, conforme observado nos histo-
gramas de resíduos, no entanto, a maior concentração está entre as classes ±10, demonstran-
do a importância de inclusão da variável altura na maior precisão dos ajustes volumétricos.

94 O modelo de Meyer foi o que apresentou maior inflação dos valores, observados, principal-
mente, entre 70 cm a 90 cm, o que pode estar relacionado aos parâmetros não significativos
observados o modelo. Logo, a melhor distribuição em torno da linha de regressão, propor-
cionando maior homogeneidade de variância e baixa amplitude residual, aliada ao menor
erro padrão, torna o modelo de Spurr como o mais preciso na estimativa volumétrica.

Figura 2: Análise gráfica e histograma dos resíduos em função do DAP para os modelos de
dupla entrada, aplicado ao ajuste realizado para as toras.

Fonte: Autores.

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3.3 Equações de Volume para Fuste Comercial
Os resultados dos ajustes dos modelos volumétricos aplicados ao fuste comercial apresen-
taram mesma tendência dos ajustes para toras, porém com precisões menores, conforme
observado na Tabela 5.

As equações de simples entrada apresentaram coeficiente de determinação ajustado va-


riando de 65,76% a 72,01% e erro padrão próximos a 30%, sendo também o modelo de
Hohenald o que exibiu melhor resultado. Observa-se, novamente, uma menor precisão 95
nos ajustes quando comparados aos modelos de dupla entrada, bem como quando apli-
cados utilizando diferentes tamanhos secções de tora.

Quanto aos modelos de dupla entrada, as equações de Spurr e Meyer apresentaram maior
precisão e menor erro padrão. O menor resultado para esta estatística também foi encon-
trado no modelo de Schumacher-Hall, sendo observado um erro maior em relação aos
dois métodos mencionados.

Baima et al. (2001) atribuíram o melhor ajuste das equações de dupla entrada ao fato do
diâmetro e da altura estarem altamente correlacionados com volume. Embora o mode-
lo de Meyer tenha apresentado o maior coeficiente de determinação ajustado, também
gerou muitos coeficientes não significativos, o que pode ser explicado pela presença da
multicolinearidade. (VALENTE et al., 2011)

Segundo Matos (1995), citado por Cabacinha (2003), quando tal correlação é elevada, a
eficiência dos parâmetros estimados é significativamente afetada, tornando-os instáveis.
A consequência disto é o aumento da variância da estimativa e, portanto, do erro padrão.

Tabela 5: Parâmetros e estatísticas de precisão do ajuste de equações volumétricas aplica-


das ao fuste comercial, para uma área de manejo florestal comunitário na Flona Tapajós.

Coeficientes
Modelos R² aj.(%) Sy.x(%)
β0 β1 β2 β3 β4 β5
Koperzky G. 71,83 29,56 -0,314432* 0,001193*
Husch 65,76 29,97 -6,922762* 2,025026*
Hohenld K. 72,01 29,47 2,956253* -0,073001* 0,001580*
Spurr 84,16 22,80 0,846560* 0,000047*
Shumacher H. 81,17 23,47 -8,384582* 1,745825* 0,886381*
Meyer 84,19 22,78 -0,813708ns 0,057809ns -0,000428ns -0,002404ns 0,000065* 0,067851ns
βj = coeficientes dos modelos; R²aj.% = coeficiente de determinação ajustado em porcentagem; Sy.x% = Erro
padrão de estimativa em porcentagem; *Coeficientes significativos; ns: não significativos (p>0,05). Fonte:
Autores.

A análise de distribuição dos resíduos, considerando o fuste comercial (Figura 3), mostra
um comportamento similar ao observado entre os modelos de simples entrada, quando
aplicados às toras, com a maioria dos resíduos distribuídos numa amplitude de variação

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entre ± 100% e, ainda, com uma tendência de superestimação dos valores nas classes de
diâmetro inferiores a 90 cm.

Figura 3: Análise gráfica e histograma dos resíduos em função do DAP para os modelos de
simples entrada, aplicado ao ajuste realizado para os fustes comerciais.

96

Fonte: Autores.

Ao avaliar o resultado para os modelos, é possível notar uma distribuição de resíduos


tendenciosa, com maior amplitude residual e valores ultrapassando 600%. Essa forte ten-
denciosidade de subestimativa também é observada no histograma de resíduo (Figura 3).

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Desse modo, esse resultado confirma o pior desempenho das equações para a estimativa
de volume, fato este relacionado à natureza de simples entrada.

Considerando a dispersão dos resíduos para os modelos de dupla entrada, verifica-se que
a maioria apresenta amplitude concentrada entre ±60%. Há uma tendência de inflacionar
os valores nas classes de diâmetro inferiores em todos os modelos, superestimando o vo-
lume e resíduos, alcançando amplitude de até cerca de 150% (Figura 4).

Nota-se, também, para o modelo de Meyer, uma maior tendência de superestimação para 97
diâmetros entre 70 e 90 cm, o que ocorre para os demais modelos, porém mantendo uma
distribuição mais uniforme ao longo dos diâmetros.

Figura 4: Análise gráfica e histograma dos resíduos em função do DAP para os modelos de
dupla entrada, aplicado ao ajuste realizado para os fustes comerciais.

Fonte: Autores.

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As equações de simples entrada são nor- Segundo Rolim et al. (2006), os modelos de
malmente aplicadas quando a correlação dupla entrada geralmente conseguem me-
entre o diâmetro e altura é muito forte, ou lhores resultados estatísticos que os mode-
seja, onde há bastante homogeneidade no los de simples entrada, em decorrência de
desenvolvimento de alturas das árvores. melhor representar as características da po-
(THIERSCH et al., 2006). Assim, o pior de- pulação amostrada, diâmetro e altura. Desse
sempenho dos modelos testados é confir- modo, dentre os seis modelos testados, con-
98 mado, devido a grande heterogeneidade do siderando a análise para toras e fuste comer-
povoamento estudado. cial (“árvore inteira”), os que melhor se ajus-
Segundo Machado et al. (2008), apenas a taram aos dados observados de volume para
variável DAP não explica, satisfatoriamen- a floresta foram: Hohenald-Krenn e Spurr.
te, a variação do volume, propiciando altos
Considerando que o modelo de Hohenald
valores para os resíduos. Esta constatação
é de simples entrada, ou seja, não utiliza a
está de acordo com a hipótese de Rolim
variável altura, seria o mais indicado quan-
et al. (2006), os quais afirmam que, diante
do houver a necessidade de otimizar as ati-
dessa situação, ajustes com menor precisão
vidades de campo. Logo, quando não for
são esperados, porque os modelos de sim-
possível medir a altura comercial ou quan-
ples entrada assumem que árvores de mes-
do este dado não estiver disponível, suge-
mo diâmetro têm a mesma altura, o que
não é verídico para florestas tropicais. re-se o emprego da equação V=1,728028+(-
0,049662.DAP)+(0,001402.DAP²). Portanto,
Assim, quando a variável independente for
dentre os de dupla entrada, o modelo de
apenas o DAP, a sugestão é o uso do mo-
Spurr, aplicado a toras com variados ta-
delo logarítmico de Hohenald, que, embo-
manhos de seção, foi confirmado como o
ra apresente um Erro padrão da estimativa
de melhor ajuste, por meio da equação V=
maior que 10%, seu coeficiente de determi-
0,612024+0,000045.(DAP².Hc). Esta foi se-
nação ajustado encontra-se próximo a 80%,
lecionada por apresentar resultados mais
permitindo a aceitação do modelo, visto ser
eficientes, apresentando maior coeficiente
a equação de simples entrada que apresen-
tou melhor precisão. de determinação, menor erro padrão e uma
boa distribuição de resíduos.
Após análise da distribuição residual, pode-
-se descrever que o modelo de Meyer, ape- O modelo tem sido muito difundido, o
sar de ter o menor erro padrão (Sy.x%), não que é atribuído à facilidade de ajustamen-
mostrou ajuste satisfatório, devido a grande to, com apenas uma variável combinada,
tendência em subestimar o volume. Tal ten- apresentando um menor esforço computa-
dência ainda pode ser vista para o modelo cional, e não sofreu problemas de multico-
de Spurr, que também apresentou subesti- linearidade. (CAMPOS; LEITE, 2013). Além
mação, no entanto, essa ocorreu de forma disso, considerando o melhor ajuste apre-
menos acentuada. sentado utilizando os variados tamanhos

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de secção, verifica-se a possibilidade de uso a equação de Spurr. Rolim et al. (2006), ao
dos dados de romaneio pelos manejadores elaborarem modelos volumétricos para a
no ajuste dos modelos e na estimativa do Floresta Nacional do Tapirapé-Aquirí, na
volume de árvores de unidades de produ- Serra dos Carajás (PA), indicaram, como
ção anual contíguas, sem a necessidade de mais adequado, o modelo de dupla entra-
uma coleta específica e alteração da rotina da de Schumacher-Hall, mas com possibili-
operacional da equipe de romaneio. dade de uso do modelo de simples entrada
Resultado semelhante foi encontrado por de Husch. Ribeiro et al. (2014), na FLONA 99

Baima et al. (2001), no qual o modelo volu- do Tapajós, obtiveram melhor ajuste para
métrico de dupla entrada, mais preciso para os modelos de dupla entrada, sendo sele-
a floresta tropical de terra firme em Mojú, cionadas as equações de Schumacher-Hall e
Pará, foi o de Spurr (R²aj. = 97%). Spurr logaritmizadas.

Barros e Silva Júnior (2009), que ajustaram Estas diferentes escolhas confirmam, por-
17 modelos volumétricos para uma Flores- tanto, a necessidade de se usar equações
ta Tropical Densa no município de Anapú, distintas e se desenvolver modelos específi-
oeste do Pará, também tiveram o modelo cos para áreas da Amazônia, devido às dife-
de Spurr como o melhor na estimativa vo- renças marcantes na floresta.
lumétrica, exibindo coeficiente de determi-
nação de 91%. Barreto et al. (2014) em estu- 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
dos na mesma região, obtiveram valores de As equações de dupla entrada apresentaram
R²aj. de 84% para a equação.
ajustes com maior precisão em relação às
Silva (2007) observou precisão de 93% para de simples entrada. O modelo Spurr, pela
o modelo de Spurr em estudos em área de equação V=0,612024+0,000045.(DAP².Hc),
Floresta Tropical Densa na região do rio apresentou melhor ajuste e precisão na es-
Arú, em Portel, estado do Pará. Thaines et timativa o volume para a área em estudo.
al. (2010) obtiveram resultados similares,
O uso do comprimento de tora com variados
com valores de R²aj. de 91%, para Floresta
Ombrófila Densa no estado do Amazonas. tamanhos de seção foi o mais adequado para
o cálculo de volume real. Além disso, possi-
É possível perceber que, no povoamento es-
bilitou a manutenção da rotina operacional
tudado, existe boa correlação entre o DAP e
e uso dos dados de romaneio no ajuste dos
a altura total, uma vez que o coeficiente de
modelos volumétricos na área estudada.
determinação ajustado apresentou valores
elevados para todas as equações. A introdu- Análises sobre o ajustamento de equações
ção da variável altura melhorou significati- volumétricas são importantes para estimar
vamente a precisão da estimativa de volume. o volume de madeira com maior precisão,
Considerando-se o trabalho de Baima et influenciando em maior rendimento, sim-
al. (2001), a equação escolhida de simples plicidade e confiabilidade na execução do
entrada foi a de Hush, e de dupla entrada manejo florestal sustentável.

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