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Metodologia

do Ensino
de Matemática
1. Considerações Iniciais Sobre o Ensino
de Matemática 4
Objetivos Gerais do Ensino da Matemática 8

2. Alguns Períodos Importantes na Evolução


do Ensino de Matemática 11

3. Recursos Metodológicos 19
Resolução de Problemas 19
História da Matemática 21
História da Geometria 22
História da Álgebra 26
Jogos 29
Traverse 31
Dominó das Quatro Cores 33
Tecnologias na Área Educacional 34
Robótica Educacional 39
Novas Tecnologias Educacionais 43
Objetos de Aprendizagem 46

4. Os Conteúdos nos Ensinos Fundamental e Médio 48


Matemática no Ensino Fundamental 48
Números e Operações 49
Espaço e Forma 50
Grandezas e Medidas 50
Competências e Habilidades a Serem Desenvolvidas
em Matemática no Ensino Médio 51
Tratamento da Informação 52

5. Referências Bibliográficas 59

02
03
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

1. Considerações Iniciais Sobre o Ensino de Mate-


mática

Fonte: Escolas Disruptivas1

O ensino da Matemática no Bra-


sil, que nos seus primórdios se
restringia ao contar, passou por di-
to das ações, passando do enciclope-
dismo ao tecnicismo, da matemática
moderna a um misto de formalismo
versas mudanças, na tentativa de su- e tecnicismo.
prir uma demanda social, como no Deste modo, o Ministério da
caso da massificação do ensino pri- Educação e Cultura lançou em 1997
mário no processo de industrializa- os Parâmetros Curriculares Nacio-
ção; e na busca de modernização nais (PCNs) e os Parâmetros Curri-
junto aos avanços advindos das di- culares nacionais do Ensino Médio
versas áreas de conhecimento, como (PCNEm). Estes documentos auxi-
a psicologia e a filosofia, o que resul- liam no ensino de diversas discipli-
tou em alterações no direcionamen-

1 Retirado em https://escolasdisruptivas.com.br/escolas-do-seculo-xxi/ensino-da-matematica-como-facili-
tar-o-aprendizado-dos-alunos/

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METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

nas no Ensino Fundamental, funcio- culturais como meio para


nando como um norteador em nos- construir progressivamente a
sas disciplinas. noção de identidade nacional e
pessoal, além de um sentimen-
Encontramos a disciplina de
to de pertinência ao País;
Matemática no volume 3 dos PCNs,
 Conhecer e valorizar a plurali-
em que inicia mostrando os objeti- dade do patrimônio sociocul-
vos gerais deste grau, com a finali- tural brasileiro, bem como as-
dade que o aluno consiga no Ensino pectos socioculturais de outros
Fundamental: povos e nações, posicionando-
 Compreender a cidadania di- se contra qualquer discrimina-
ante da participação social e ção baseada em diferenças cul-
política, assim como exercício turais, de classe social, de
dos direitos e deveres políti- crenças, de sexo, de etnia ou
cos, civil e social, adotando no outras características indivi-
dia-a-dia, atitudes de solidari- duais e sociais;
edade, cooperação e repúdio  Perceber-se integrante, de-
às injustiças, respeitando o ou- pendente e agente transforma-
tro e exigindo para si o mesmo dor do ambiente, identifican-
respeito; do seus elementos e as intera-
ções entre eles, contribuindo
Um comentário que aqui se faz ativamente para a melhoria do
meio ambiente;
necessário é sobre a importância de
 Desenvolver o conhecimento
debates em sala de aula, que devem ajustado de si, e o sentimento
existir para estimular os alunos. A de confiança em suas capaci-
confecção de cartazes sobre o tema dades afetiva, física, cognitiva,
na própria sala de aula, que é uma ética, estética, de inter-relação
atividade lúdica e com garantia de pessoal e de inserção social,
sucesso e, o assunto deve se estender para agir com perseverança na
busca de conhecimento e no
a todas as disciplinas.
exercício da cidadania;
Outros objetivos:  Conhecer e cuidar do próprio
 Posicionar-se de maneira crí- corpo, valorizando e adotando
tica, responsável e construtiva hábitos saudáveis como um
nas diferentes situações soci- dos aspectos básicos da quali-
ais, utilizando o diálogo como dade de vida e agindo com res-
forma de mediar conflitos e de ponsabilidade em relação à
tomar decisões coletivas; sua saúde e à saúde coletiva;
 Conhecer características fun-  Utilizar as diferentes lingua-
damentais do Brasil nas di- gens - verbal, matemática, grá-
mensões sociais, materiais e fica, plástica e corporal - como

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METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

meio para produzir, expressar Estamos diante de um quadro


e comunicar suas ideias, inter- enfrentado pela autora, e por muitos
pretar e usufruir das produ- professores de Matemática. E, para
ções culturais, em contextos
isso, é importante refletirmos sobre
públicos e privados, atenden-
do a diferentes intenções e si- a ação de cada dia, e como podemos
tuações de comunicação; melhorar nossa didática no ensino
 Saber utilizar diferentes fontes de Matemática.
de informação e recursos tec- Um dos aspectos que os PCNs
nológicos para adquirir e cons- aborda é que A Matemática precisa
truir conhecimentos; estar ao alcance de todos e a demo-
 Questionar a realidade, for- cratização do seu ensino deve ser
mulando-se problemas e tra-
meta prioritária do trabalho docen-
tando de resolvê-los, utilizan-
do para isso o pensamento ló- te. E, ao seguir este enfoque é que os
gico, a criatividade, a intuição, professores se decepcionam por
a capacidade de análise crítica, querer ensinar e não conseguir de-
selecionando procedimentos e vido ao desinteresse dos alunos.
verificando sua adequação. O interesse destes alunos pode
estar ligado a algum dos conteúdos
Mesmo diante dos objetivos a da Matemática. Nem os professores
serem alcançados no Ensino Funda- de Matemática gostaram de todas as
mental, e a vontade de fazer os alu- disciplinas de suas graduações como
nos se entusiasmarem com a disci- Álgebra Linear, Análise e Equações
plina e, querendo vencer em cada Diferenciais Aplicadas; portanto os
desafio da sala de aula, ainda nos de- alunos podem não diferir muito des-
paramos com situações difíceis de sa situação.
resolver. A questão é fazê-los gostar de
Existem alunos que dificultam pelo menos algum dos conteúdos
nossa maneira de lecionar, devido à para que fique mais fácil para sua
indisciplina, e sabemos que precisa- aprendizagem e, seguindo outro as-
mos cumprir o conteúdo, e para pio- pecto do PCNs: A atividade matemá-
rar, estes só prestam atenção quan- tica escolar não é olhar para coisas
do não é para fazer alguma tarefa re- prontas e definitivas, mas a constru-
lativa ao conteúdo. Ao oferecer jogos ção e a apropriação de um conheci-
de Matemática em sala, jogam me- mento pelo aluno, que se servirá de-
canicamente, mas no momento de le para compreender e transformar
formalizar o conteúdo não corres- sua realidade. Tendo em vista a ex-
pondem ao que pedimos.

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METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

periência de uma aluna que fazia Li- comunicação tem grande im-
portância e deve ser estimu-
cenciatura em Matemática, e já era
lada, levando-se o aluno a falar
professora em uma sala de filhos de e a escrever sobre Matemática,
agricultores que gostavam somente a trabalhar com representações
gráficas, desenhos, constru-
de assuntos ligados ao plantio. Ela ções, a aprender como organi-
propôs aos alunos fazer um planeja- zar e tratar dados‖.
mento através de tabelas e, através
disso analisar o índice de vendas, O que este aspecto está abor-
prejuízos e ganhos no mês. Os alu- dando é a importância da Estatística
nos fizeram isso e ensinaram aos no ensino de Matemática e as várias
pais, com a finalidade de aplicarem aplicações que ela desenvolve.
em seus rendimentos. Algumas experiências frus-
Há muitos conteúdos da Mate- trantes na docência é escutarmos
mática que podem interessar aos dos alunos a famosa frase Quem in-
alunos, a questão é conhecer o que ventou a Matemática? ou Eu vou
interessa ao estudante. A impressão matar quem inventou a Matemática
que temos que a resposta é NADA. somos abordados por questões que
Mas, espero que a nossa impressão mostram a indignação sobre o as-
esteja equivocada, pois eles não co- sunto, e percebe-se que eles não es-
nhecem todos os conteúdos para sa- tão vendo significado naquele con-
ber que não gostam de Matemática. teúdo, como se a Matemática tenha
É a mesma coisa que posso pergun- sido inventada e hoje só estamos
tar ao leitor: Gosta de badmint? Se vendo o que foi criado, sem que seja
você ainda não conhece este jogo avisado que ainda continuam as pes-
que é uma modalidade dos Jogos Pa- quisas na área e novos conhecimen-
namericanos, você nem tem a ideia tos continuam a ser desenvolvidos.
de como é. É só experimentando pa- E mais uma vez os PCNs po-
ra saber... e Matemática também. dem nos nortear sobre esta situação:
Observe outro aspecto do PCNs:
O conhecimento matemático
No ensino da Matemática, des- deve ser apresentado aos alu-
tacam-se dois aspectos básicos: nos como historicamente cons-
um consiste em relacionar ob- truído e em permanente evolu-
servações do mundo real com ção. O contexto histórico possi-
representações (esquemas, ta- bilita ver a Matemática em sua
belas, figuras); outro consiste prática filosófica, científica e
em relacionar essas representa- social e contribui para a com-
ções com princípios e conceitos preensão do lugar que ela tem
matemáticos. Nesse processo, a no mundo.

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METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

Nessas situações, voltamos a mundo à sua volta e perceber o


refletir sobre nossas ações, e a recor- caráter de jogo intelectual, ca-
rer a recursos didáticos para que, racterístico da Matemática,
como aspecto que estimula o
voltando ao objetivo principal deste
interesse, a curiosidade, o es-
capítulo, fazer o aluno a interessar- pírito de investigação e o de-
se por algum dos conteúdos, e tenta- senvolvimento da capacidade
mos os... para resolver problemas;
 Fazer observações sistemáti-
Recursos didáticos como jogos, cas de aspectos quantitativos e
livros, vídeos, calculadoras, qualitativos, do ponto de vista
computadores e outros materi- do conhecimento, e estabele-
ais têm um papel importante no
processo de ensino e aprendiza-
cer o maior número possível
gem. Contudo, eles precisam de relações entre eles, utilizan-
estar integrados a situações que do para isso o conhecimento
levem ao exercício da análise e matemático (aritmético, geo-
da reflexão, em última instân- métrico, métrico, algébrico,
cia, a base da atividade mate- estatístico, combinatório, pro-
mática. (BRASIL, 1998)
babilístico); selecionar, orga-
nizar e produzir informações
Existem muitas atividades lú- relevantes, para interpretá-las
dicas e os jogos despertam muito in- e avaliá-las criticamente;
teresse nos alunos, dedicaremos  Resolver situações-problema,
uma parte da unidade para mostrar sabendo validar estratégias e
alguns tipos de jogos em diversos ní- resultados, desenvolvendo
veis. formas de raciocínio e proces-
sos, como dedução, indução,
intuição, analogia, estimativa,
Objetivos Gerais do Ensino e utilizando conceitos e proce-
da Matemática dimentos matemáticos, bem
como instrumentos tecnológi-
Nos Parâmetros Curriculares cos disponíveis;
Nacionais há alguns objetivos gerais  Comunicar-se matematica-
mente, ou seja, descrever, re-
que orientam o ensino fundamental.
presentar e apresentar resulta-
Aqui veremos que alguns destes ob- dos com precisão e argumen-
jetivos continuam no ensino médio e tar sobre suas conjecturas, fa-
superior, como: zendo uso da linguagem oral e
 Identificar os conhecimentos estabelecendo relações entre
matemáticos como meios para ela e diferentes representações
compreender e transformar o matemáticas;

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METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

 Estabelecer conexões entre te-


mas matemáticos de diferen-
tes campos e entre esses temas
e conhecimentos de outras
áreas curriculares;
 Sentir-se seguro da própria ca-
pacidade de construir conheci-
mentos matemáticos, desen-
volvendo a autoestima e a per-
severança na busca de solu-
ções.

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METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

2. Alguns Períodos Importantes na Evolução do En-


sino de Matemática

Fonte: Educando com Psicologia2

E ntender o que acontece no en-


sino de Matemática atualmente
é importantíssimo para os profissio-
de reformulação curricular no
final do século XIX o desenvol-
vimento da formação de profes-
sores secundários atribuído à
nais da área para o entendimento da iniciativa das universidades eu-
ropeias.
real situação atual do ensino.
De acordo com Schubring, No início do século XX, ocor-
1999, (apud Lorenzato & Fiorentini, reu movimento supracitado na Ale-
2001): manha sob a liderança do matemá-
tico Felix Klein. Outro fator impor-
a Matemática foi a primeira das
disciplinas escolares a deflagrar tante foi o envolvimento de psicólo-
um movimento internacional gos americanos e europeus ao reali-

2 Retirado em https://educandocompsicologia.com/

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METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

zarem pesquisas sobre o modo como acesso privilegiada para o pensa-


as crianças aprendiam a Matemá- mento científico e tecnológico.
tica. Mas, as pesquisas voltadas para Dessa forma, o conteúdo a ser
o ensino de Matemática deram um ensinado era aquele concebido como
salto significativo a partir do Movi- lógico, compreendido a partir das
mento da Matemática Moderna, estruturas, e conferia um papel fun-
ocorrido em meados da década de damental à linguagem matemática.
60. Este movimento surgiu de um Os formuladores dos currículos des-
lado motivado pela Guerra Fria, en- sa época insistiam na necessidade de
tre Rússia e Estados Unidos e, de ou- uma reforma pedagógica, incluindo
tro, como resposta à constatação a pesquisa de materiais novos e mé-
após a 2º Guerra Mundial, de uma todos de ensino renovados, fato que
considerável defasagem entre o pro- desencadeou a preocupação com a
gresso científico-tecnológico e o cur- Didática da Matemática, intensifi-
rículo escolar, então vigente. cando a pesquisa nessa área.
Em 1958, a Sociedade norte- Ao olhar sob este aspecto, é
americana de Matemática, por importante refletir que apesar das
exemplo, optou por direcionar suas reformas iniciadas desde a década
pesquisas ao desenvolvimento de de 60 ainda temos um ensino mar-
um novo currículo escolar para a cado pela técnica de mostrar como
disciplina. Surgiram então vários se faz o problema, os alunos, então,
grupos de pesquisa envolvendo ma- memorizam a forma, e repetem o
temáticos, educadores e psicólogos, procedimento nas futuras tarefas.
como o School Mathematics Study Atualmente, ainda encontramos au-
Group, que se notabilizou pela pu- las baseadas na memorização de fór-
blicação de livros didáticos e pela mulas e repetição de formas de fazer
disseminação do ideário modernista o problema. E como modificar isso?
para além das fronteiras norte-ame- No Brasil, a Matemática Mo-
ricanas, atingindo também o Brasil derna foi veiculada principalmente
(Lorenzato & Fiorentini, 2001). pelos livros didáticos que teve, e ain-
A Matemática Moderna nas- da tem grande influência na prática
ceu como um movimento educacio- docente. O movimento Matemática
nal inscrito numa política de moder- Moderna teve seu refluxo a partir da
nização econômica, e foi posta na li- constatação da inadequação de al-
nha de frente por se considerar que, guns de seus princípios e das distor-
juntamente com a área de Ciências ções ocorridas na sua implantação.
Naturais, constituía-se uma via de

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METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

O movimento continuou durante al- ensino fundamental, elemen-


gumas décadas e a partir de 1980, o tos de estatística, probabilida-
documento apresentado pelo Natio- de e combinatória, para aten-
der à demanda social que in-
nal Council of Teachers of Mathe-
dica a necessidade de abordar
matics (NCTM), dos Estados Uni- tais assuntos;
dos, apresentou recomendações pa-  Necessidade de levar os alunos
ra o ensino de Matemática Agenda a compreenderem a importân-
para Ação, o qual enfocava a resolu- cia do uso da tecnologia e a
ção de problemas como metodologia acompanharem sua perma-
do ensino da Matemática nos anos nente renovação.
80. Também a compreensão da rele-
vância de aspectos sociais, antropo- Porém, mesmo com ideias pa-
lógicos, linguísticos, na aprendiza- ra fortalecer a prática docente, ainda
gem da Matemática, imprimiu no- temos muitos problemas em sala de
vos rumos às discussões curricula- aula. Tais problemas podem ocorrer
res. Essas ideias influenciaram as re- devido à formação dos professores,
formas que ocorreram mundialmen- no tocante ao direcionamento de
te, a partir de então foram desenvol- suas aulas baseadas somente em li-
vidos os seguintes focos no ensino de vros didáticos e não acreditem que
Matemática: os conteúdos são veículo para o de-
senvolvimento de ideias fundamen-
 Direcionamento do ensino
fundamental para a aquisição tais (como as de proporcionalidade,
de competências básicas ne- equivalência, etc.) e devam ser sele-
cessárias ao cidadão e não ape- cionados levando em conta sua po-
nas voltadas para a preparação tencialidade quer para instrumenta-
de estudos posteriores; ção para a vida, quer para o desen-
 Importância do desempenho volvimento do raciocínio.
de um papel ativo do aluno na
Nos PCNs, encontramos o se-
construção do seu conheci-
mento; guinte alerta:
 Ênfase na resolução de proble-
mas, na exploração da Mate- Quanto à organização dos con-
teúdos, é possível observar uma
mática a partir dos problemas
forma excessivamente hierar-
vividos no cotidiano e encon- quizada de fazê-lo. É uma orga-
trados nas várias disciplinas; nização, dominada pela ideia de
 Importância de se trabalhar pré-requisito, cujo único crité-
com um amplo espectro de rio é a definição da estrutura ló-
conteúdos, incluindo- se, já no gica da Matemática, que des-
considera em parte as possibili-

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METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

dades de aprendizagem dos da experiência pessoal. E trazer o co-


alunos. Nessa visão, a aprendi-
tidiano do aluno em sala não é tarefa
zagem ocorre como se os conte-
údos se articulassem como elos fácil, deve-se pesquisar para enten-
de uma corrente, encarada cada der o mundo em que ele está viven-
um como pré-requisito para o
que vai sucedê-lo.
do.
Notamos, então, que existem
Sabemos, no entanto, que te- problemas antigos e também novos,
mos uma lista de conteúdos a cum- a serem enfrentados em sala de aula
prir, e que o tempo é curto, além de são antigos e novos, tarefa que re-
existir uma apostila obrigatória. Por quer operacionalização efetiva das
tudo isso, a mudança de ordem de intenções anunciadas nas diretrizes
conteúdos se torna complicado E, curriculares dos anos 80 e início dos
também lembrando que, o tempo é 90, e a inclusão de novos elementos
restrito e que irá atrasar a apostila. à pauta de discussões.
Mas, temos a autonomia de poder Não é apenas o currículo que
despertar o interesse dos alunos so- aflige a nossa prática, nem apenas a
bre outros temas que permeiam a nossa formação. As preocupações
apostila. E, se a situação é esta, po- atuais atingem um patamar inesgo-
demos trabalhar entre o despertar tável de questões sobre ensino, por
do interesse dos alunos em outros exemplo, a pluralidade de etnias
assuntos, independente do conteúdo existente no Brasil, que dá origem a
imposto pela apostila. diferentes modos de vida, valores,
Então, que tal dar uma escapa- crenças e conhecimentos, e que se
dinha da ementa com uma finali- apresenta à nossa carreira como um
dade séria de despertar outros inte- desafio interessante.
resses nos alunos? O papel que a Matemática de-
O conhecimento prévio deve- sempenha na formação básica do ci-
ria ser uma das maiores preocupa- dadão brasileiro deveria ser um dos
ções docentes, porém, na maioria principais focos em nossa aula. Falar
das vezes, subestimam-se os concei- em formação básica para a cidada-
tos desenvolvidos no decorrer da ati- nia significa falar da inserção das
vidade prática do aluno, de suas in- pessoas no mundo do trabalho, das
terações sociais imediatas, e parte- relações sociais e da cultura, no âm-
se para o tratamento escolar, de for- bito da sociedade brasileira.
ma esquemática, privando os alunos Uma maneira interessante de
da riqueza de conteúdo proveniente fazê-los pensar sobre a cidadania, é

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METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

a atividade de recortar as figuras que de seu raciocínio, de sua capacidade


envolvem uma realidade ruim e uma expressiva, de sua sensibilidade es-
realidade boa em revistas e jornais. tética e de sua imaginação.
Neste instante conheceremos o que Diante das reformulações vis-
é ruim para o aluno, e assim, pode- tas no ensino de Matemática, chega-
mos trabalhar os direitos e deveres mos à época atual. Época de difícil
dos alunos, mostrando novas pers- (mas não impossível) alcance dos
pectiva a ele no intuito de melhorar objetivos do ensino desta disciplina.
sua vida, falando do trabalho que se Época também que podemos fazer
pode exercer para modificar sua re- nossas aulas baseadas em projetos
alidade. que envolvam temas atuais, como
Novas competências deman- sugere os PCNs.
dam novos conhecimentos: o mun- Os projetos proporcionam
do do trabalho requer pessoas pre- contextos que geram a necessidade e
paradas para utilizar diferentes tec- a possibilidade de organizar os con-
nologias e linguagens (que vão além teúdos, de forma a lhes conferir sig-
da comunicação oral e escrita), ins- nificado. É importante identificar
talando novos ritmos de produção, que tipos de projetos exploram pro-
de assimilação rápida de informa- blemas cuja abordagem pressupõe a
ções, resolvendo e propondo proble- intervenção da Matemática.
mas em equipe. Os temas a serem tratados são:
Para tanto, o ensino de Mate-  Ética - trabalhar a atitude dos
mática prestará sua contribuição à alunos em determinados te-
medida que forem exploradas meto- mas como política, preconcei-
dologias que priorizem a criação de to, vida solidária, etc.
 Orientação Sexual - mostrar
estratégias, a comprovação, a justifi-
num mesmo patamar os pa-
cativa, a argumentação, o espírito péis desempenhados por ho-
crítico, e favoreçam a criatividade, o mens e mulheres na constru-
trabalho coletivo, a iniciativa pes- ção da sociedade contemporâ-
soal e a autonomia advinda do de- nea, onde ainda encontra bar-
senvolvimento da confiança na pró- reiras ancoradas em expectati-
pria capacidade de conhecer e en- vas Ao ensino de Matemática
cabe fornecer os mesmos ins-
frentar desafios.
trumentos de aprendizagem e
É importante destacar que a de desenvolvimento de apti-
Matemática deverá ser vista pelo dões a todos, valorizando a
aluno como um conhecimento que igualdade de oportunidades
pode favorecer o desenvolvimento

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METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

sociais para homens e mulhe- matemática pode auxiliar a en-


res. tender a construção do conhe-
 Meio Ambiente - é possível cimento matemático por todos
trabalhar interdisciplinar- os grupos.
mente o quanto a quantifica-
ção de aspectos envolvidos em O Programa Etnomatemática
problemas ambientais favo- contrapõe-se às orientações que des-
rece uma visão mais clara so- consideram qualquer relacionamen-
bre eles, auxiliando em deci-
to mais íntimo da Matemática com
sões, como a utilização de re-
cursos naturais, desperdício aspectos socioculturais e políticos o
(médias, áreas, volumes, pro- que a mantém intocável por fatores
porcionalidade, etc.) e proce- outros, a não ser sua própria dinâ-
dimentos matemáticos (for- mica interna. Do ponto de vista edu-
mulação de hipóteses, realiza- cacional, procura-se entender os
ção de cálculos, coleta, organi- processos de pensamento, os modos
zação e interpretação de dados
estatísticos, prática da argu- de explicar, de entender e de atuar
mentação, etc.). na realidade, dentro do contexto cul-
 Saúde - os dados estatísticos, tural do próprio indivíduo. A Etno-
permitem o estabelecimento matemática procura partir da reali-
de comparações e previsões, dade e chegar à ação pedagógica de
que contribuem para o autoco- maneira natural, mediante um enfo-
nhecimento. Possibilitam, que cognitivo com forte fundamen-
também o autocuidado e aju-
tação cultural.
dam a compreender aspectos
sociais relacionados a proble- Assim, se o intuito do pesqui-
mas de saúde. sador é conhecer a Matemática indí-
 Pluralidade Cultural - a cons- gena, ele conhece e propõe a troca de
trução e a utilização do conhe- conhecimento com a Matemática
cimento matemático não são ocidental, e se há este interesse, en-
feitas apenas por matemáti- tão as duas culturas ficam em con-
cos, cientistas ou engenheiros,
tato com os conhecimentos novos.
mas, de formas diferenciadas,
por todos os grupos sociocul- Há um respeito ao que o grupo quer
turais, que desenvolvem e uti- aprender.
lizam habilidades para contar, Segundo Monteiro (in Ribeiro,
localizar, medir, desenhar, re- 2004) a Etnomatemática é uma pro-
presentar, jogar e explicar, em posta educacional e filosófica com-
função de suas necessidades e prometida com grupos menos favo-
interesses. É aqui que a Etno-
recidos. Mas, há uma preocupação

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METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

com todos os grupos, como por


exemplo, o conhecimento matemá-
tico que os médicos cardiovascula-
res trazem consigo durante uma ci-
rurgia (Shockey, 2002)
Notamos, então, que é possível
enriquecer as aulas, despertando o
interesse de como é a Matemática de
diversas e diferentes etnias, como
por exemplo, a Matemática indí-
gena.
A Etnomatemática é uma no-
va forma de enxergar a Matemática,
podendo tornar-se uma metodolo-
gia alternativa se, o professor junto
aos alunos pesquisarem o conheci-
mento matemático de diferentes
grupos.
E, percebemos então, a evolu-
ção do ensino de Matemática em al-
guns períodos citados. É lógico que o
assunto não esgota neste momento,
há outros períodos tão importantes
quanto estes a serem discutidos.
Mas, os citados já nos levam a refle-
tir como o ensino de Matemática é
atualmente e como fazer para me-
lhorá-lo. Talvez o novo foco etnoma-
temático seja uma boa opção e/ou a
adoção de outros recursos metodo-
lógicos como mostra a unidade se-
guinte.

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METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

3. Recursos Metodológicos

Fonte: Nova Escola3

N esta unidade, estudaremos al-


guns recursos metodológicos
encontrados na literatura da área.
pois a questão é mais complexa:
conseguiremos melhorar o ensino
de Matemática. De qual forma?? Os
Também podemos encontrar suges- jogos despertam interesses nos alu-
tões de recursos para o fazer Mate- nos? Até que ponto este interesse faz
mática em sala de aula nos Parâme- com que os alunos aprendam alge-
tros Curriculares Nacionais. bricamente o conteúdo?
Estudaremos, então, alguns Questões como essas, fazem-
recursos como: Resolução de Pro- nos estudar tais recursos para que
blemas, História da Matemática, nas aplicações em sala de aula, pos-
Tecnologias Educacionais e Jogos, samos alcançar nossas metas.
sem colocar em questão se um jogo é
uma tecnologia educacional, ou Resolução de Problemas
mesmo se alguns jogos são proble-
mas que despertam no aluno o inte- Tradicionalmente, os proble-
resse em sua resolução Como tudo é mas não têm desempenhado seu
relativo, não nos ateremos a esse verdadeiro papel no ensino, pois, na
mérito: se o jogo é uma tecnologia, melhor das hipóteses, são utilizados

3 Retirado em https://novaescola.org.br/conteudo/2197/estrategias-didaticas-para-o-ensino-da-matematica

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METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

apenas como forma de aplicação de do da questão que lhe é posta


conhecimentos, adquiridos anteri- e, a estruturar a situação que
ormente pelos alunos. lhe é apresentada;
A prática mais frequente con-  Aproximações sucessivas ao
conceito são construídas para
siste em ensinar um conceito, proce-
resolver um certo tipo de pro-
dimento ou técnica e depois apre- blema; num outro momento, o
sentar um problema para avaliar se aluno utiliza o que aprendeu
os alunos são capazes de empregar o para resolver outros proble-
que lhes foi ensinado, o que mais pa- mas, o que exige transferên-
rece uma receita de bolo. Será que cias;
não podemos levar o aluno até a  O aluno não constrói um con-
ceito em resposta a um proble-
quadra de esportes da escola para vi-
ma, mas constrói um campo
sualizarem as formas geométricas? de conceitos que tomam senti-
Ou fazer uma roda no pátio da escola do num campo de problemas;
e discutir os problemas financeiros  A resolução de problemas é
que afetam o país? São habilidades uma orientação para a apren-
que a matemática pode desenvolver dizagem, pois proporciona o
também, apesar de saber que em al- contexto em que se pode apre-
ender conceitos, procedimen-
gum momento teremos que ensinar
tos e atitudes matemáticas.
a Fórmula de Bhaskara na resolução
de equação do segundo grau. Diante dos itens indicados nos
O saber matemático não se PCNs, há uma importante reflexão:
apresenta ao aluno como um siste- será fácil aplicar a resolução de pro-
ma de conceitos, que lhe permite re- blemas em nossas aulas, sem con-
solver um conjunto de problemas, fundir com aqueles problemas que
mas como um interminável discurso vem no final do capítulo e que os alu-
simbólico, abstrato e incompreensí- nos têm repugnação?
vel. Não é tão fácil, mas é possível
Ao colocar em foco a resolução se tivermos um entendimento sobre
de problemas, o que se defende é tal metodologia. O problema é:
uma proposta que poderia ser resu-
mida nos seguintes princípios: Um problema matemático é
uma situação que demanda a
 Situações em que os alunos
realização de uma sequência de
precisem desenvolver algum ações ou operações para obter
tipo de estratégia para resolvê- um resultado. Ou seja, a solu-
las; ção não está disponível de iní-
 Só há problema se o aluno for cio, no entanto é possível cons-
levado a interpretar o enuncia- truí-la (BRASIL, 1997, p. 44).

20
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

O aluno tem que se sentir de-  Oitenta;


safiado e, como tudo é relativo, pode  Noventa;
ser que o que é desafiante para um,  Noventa e um;
não é para outro, de acordo com o  Cento e quarto;
nível intelectual de conhecimento.  Oitocentos.
Resolver um problema pressu-
põe que o aluno: A primeira letra de cada pala-
 Elabore um ou vários procedi- vra está em negrito para o leitor vi-
mentos de resolução; sualizar que o número um começa
 Compare seus resultados com com uma Vogal e as três palavras se-
os de outros alunos; guintes começam com consoante e,
 Valide seus procedimentos. a próxima com vogal, então a se-
quência é:
Certa vez, houve uma gincana
em um colégio e, os alunos tinham VCCCVCCCVCCCV
que descobrir o motivo da formação
da seguinte sequência: Os alunos se entusiasmaram
por montarem suas próprias se-
1,2,3,4,11,13,15,19,80,90,91,104,80 quências e seus amigos descobri-
0 rem. Percebemos, então, o quanto é
necessário desenvolver habilidades
Percebemos as crianças ten- que permitam pôr em prova os re-
tando resolver esta sequência e des- sultados, testar seus efeitos, compa-
cobrir como foi formada. Aproveita- rar diferentes caminhos, para obter
mos então, para ensinar Progressão a solução.
Aritmética e Geométrica para os alu-
nos do ensino fundamental. Mas, de História da Matemática
nada adiantava resolver o enigma,
até que alguns alunos observaram A História da Matemática, me-
como se escreve os numerais: diante um processo de transposição
 Um; didática e, juntamente com outros
 Dois; recursos didáticos e metodológicos,
 Três; pode oferecer uma importante con-
 Quatro; tribuição ao processo de ensino e
 Onze; aprendizagem de Matemática.
 Treze; Em muitas situações, o re-
 Quinze; curso à História da Matemática pode
 Dezenove;
esclarecer ideias matemáticas que

21
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

estão sendo construídas pelo aluno, Documentos sobre as antigas civili-


especialmente para dar respostas a zações egípcia e babilônica compro-
alguns questionamentos e, desse vam bons conhecimentos do assun-
modo, contribuir para a constituição to, geralmente ligados à astrologia.
de um olhar mais crítico sobre os ob- Na Grécia, encontramos grandes
jetos de conhecimento. matemáticos: Arquimedes, Apolô-
Sabemos quais atividades os nio, Euclides, e algumas obras im-
alunos gostam de desenvolver, po- portantes como o resumo feito por
demos, então, fazê-los procurar o Proclo, que comenta os "Elementos"
site mais bonito e o mais feio sobre de Euclides, obra que data do século
História da Matemática, e, daí fala- V a.C., e refere-se a Tales de Mileto
rem sobre o assunto do site. Uma ex- como o introdutor da Geometria na
periência como esta fez com que os Grécia, por importação do Egito.
alunos dessem risada de suas explo- Pitágoras deu nome a um im-
rações na web. portante teorema sobre o triângulo-
Seminários também são utili- retângulo, que inaugurou um novo
zados para falar sobre História da conceito de demonstração matemá-
Matemática, confecção de cartazes tica. Mas, enquanto a escola pitagó-
na sala de aula é outra ideia que a rica do século VI a.C. constituía uma
autora sempre defende para entusi- espécie de seita filosófica, que envol-
asmar o aluno a estudar Matemática via sob mistério seus conhecimen-
enquanto desenvolve seu senso ar- tos, os "Elementos" de Euclides re-
tístico. presentam a introdução de um mé-
Abaixo veremos as Histórias todo consistente que contribui há
de alguns ramos da Matemática: mais de vinte séculos para o progres-
so das ciências. Trata-se do sistema
História da Geometria axiomático, que parte dos conceitos
e proposições admitidos sem de-
As origens da Geometria (do monstração (postulados ou axio-
grego medir a terra) parecem coinci- mas) para construir de maneira ló-
dir com as necessidades do dia-a- gica todo o restante. Assim, três con-
dia. Partilhar terras férteis às mar- ceitos fundamentais - o ponto, a reta
gens dos rios, construir casas, obser- e o círculo - e cinco postulados a eles
var e prever os movimentos dos as- servem de base para toda Geometria
tros, são algumas das muitas ativi- chamada euclidiana, útil até hoje,
dades humanas que sempre depen- apesar da existência de geometrias
deram de operações geométricas.

22
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

não-euclidianas baseadas em postu- que, unidos, secionam perpendicu-


lados diferentes (e contraditórios) larmente a outra reta, formando os
dos de Euclides. ângulos retos.
As primeiras unidades de me- O problema mais comum para
dida referiam-se, direta ou indireta- um construtor é traçar, por um pon-
mente, ao corpo humano: palmo, pé, to dado, uma reta perpendicular à
passo, braça entre outros. Mas, sa- outra. O processo anterior não resol-
bemos que tais medidas são relati- ve este problema, em que o vértice
vas, então por volta de 3500 a.C. - do ângulo reto já está pré-determi-
quando na Mesopotâmia e no Egito nado. Os antigos geômetras, o solu-
começaram a ser construídos os pri- cionavam por meio de três cordas,
meiros templos - seus projetistas ti- colocadas de modo a formar os lados
veram de encontrar unidades mais de um triângulo-retângulo. Essas
uniformes e precisas. Adotaram a cordas tinham comprimentos equi-
longitude das partes do corpo de um valentes a 3, 4 e 5 unidades, respec-
único homem (geralmente o rei) e tivamente. O teorema de Pitágoras
com essas medidas construíram ré- explica em todo triângulo- retângu-
guas de madeira e metal, ou cordas lo, a soma dos quadrados dos catetos
com nós, que foram as primeiras é igual ao quadrado da hipotenusa
medidas oficiais de comprimento. (lado oposto ao ângulo reto). Qual-
Tanto entre os sumérios, como quer trio de números, inteiros ou
entre os egípcios, os campos primiti- não, que respeitem tal relação defi-
vos tinham forma retangular. Tam- nem triângulos-retângulos, que já
bém os edifícios possuíam plantas na antiguidade foram padronizados
regulares, o que obrigava os arquite- na forma de esquadros.
tos a construírem muitos ângulos re- A respeito de medida de super-
tos (de 90º). Embora com bagagem fícies, encontramos na História a
intelectual reduzida, aqueles ho- responsabilidade dos sacerdotes,
mens já resolviam o problema como encarregados de arrecadar os im-
um desenhista de hoje. Por meio de postos sobre a terra e calcular a ex-
duas estacas cravadas na terra assi- tensão dos campos por meio de um
nalavam um segmento de reta. Em simples golpe de vista. Provavel-
seguida prendiam e esticavam cor- mente através da observação de tra-
das que funcionavam como compas- balhadores pavimentando com mo-
sos: dois arcos de circunferência se saicos quadrados uma superfície re-
cortam e determinam dois pontos tangular, algum sacerdote deve ter

23
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

notado que, para conhecer o total de Sabemos que, desde então,


mosaicos, bastava contar os de uma muitos terrenos passaram a seguir o
fileira e repetir esse número tantas contorno de um morro, ou o curso
vezes quantas fileiras houvesse. As- de um rio e algumas construções re-
sim, nasceu a fórmula da área do re- querem uma parede curva. Assim,
tângulo: multiplicar a base pela al- um novo problema se apresenta:
tura. como determinar o comprimento de
E na descoberta da área do tri- uma circunferência e a área de um
ângulo, os antigos fiscais seguiram círculo.
um raciocínio extremamente geo- Circunferência é a linha peri-
métrico. Era preciso tomar um qua- férica do círculo, sendo este uma su-
drado ou um retângulo e dividi-lo perfície. Porém, os antigos geôme-
em quadradinhos iguais. Suponha- tras observavam que, para demarcar
mos que o quadrado tenha 9 "casas" círculos, grandes ou pequenos, era
e o retângulo 12, esses números ex- necessário usar uma corda, longa ou
primem então a área dessas figuras. curta, e girá-la em torno de um pon-
Cortando o quadrado em duas par- to fixo, que era a estaca cravada no
tes iguais, segundo a linha diagonal, solo como centro da figura. O com-
aparecem dois triângulos iguais, primento dessa corda - conhecido
cuja área, naturalmente, é a metade hoje como raio - tinha algo a ver com
da área do quadrado. o comprimento da circunferência.
Quando se deparavam com Retirando a corda da estaca e colo-
uma superfície irregular da terra cando-a sobre a circunferência, para
(nem quadrada, nem triangular), os ver quantas vezes cabia nela, pude-
primeiros cartógrafos e agrimenso- ram comprovar que cabia um pouco
res apelavam para o artifício conhe- mais de seis vezes e um quarto.
cido como triangulação: começando Qualquer que fosse o tamanho da
num ângulo qualquer. Traçavam li- corda, o resultado era o mesmo. As-
nhas a todos os demais ângulos visí- sim, tiraram algumas conclusões:
veis do campo e, assim, este ficava  O comprimento de uma cir-
completamente dividido em porções cunferência é sempre cerca de
triangulares, cujas áreas somadas 6,28 vezes maior que o de seu
davam a área total. Este método - em raio;
 Para conhecer o comprimento
uso até hoje - produzia pequenos er-
de uma circunferência, basta
ros, quando o terreno não era plano averiguar o comprimento do
ou possuía bordos curvos. raio e multiplicá-lo por 6,28.

24
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

A história da Geometria ex- tornaram- no um pouco menos ine-


plica a área do círculo em aproxima- xato: 3,1416. Hoje, o símbolo π ("pi")
damente 2000 anos a.C., um escriba representa esse número irracional,
egípcio chamado Ahmes refletia di- já determinado com uma aproxima-
ante do desenho de um círculo, no ção de várias dezenas de casas deci-
qual havia traçado o respectivo raio. mais. Seu nome possui cerca de du-
Seu propósito era encontrar a área zentos anos, e foi tirado da primeira
da figura. Conta a tradição que Ah- sílaba da palavra peripheria, signifi-
mes solucionou o problema facil- cando circunferência.
mente: antes, pensou em determi- Por volta de 500 a.C., eram
nar a área de um quadrado e calcular fundadas na Grécia as primeiras
quantas vezes essa área caberia na universidades. Tales e seu discípulo
área do círculo. Que quadrado esco- Pitágoras reuniram todo o conheci-
lher? Um qualquer? Parecia razoá- mento do Egito, da Etúrria, da Babi-
vel tomar o que tivesse como lado o lônia, e mesmo da Índia, para desen-
próprio raio da figura. Assim fez, e volvê-los e aplicá-los à Matemática,
comprovou que o quadrado estava navegação e religião. A curiosidade
contido no círculo mais de 3 vezes e crescia e os livros sobre Geometria
menos de 4, ou aproximadamente, eram muito procurados. Um com-
três vezes e um sétimo (atualmente passo logo substituiu a corda e a es-
dizemos 3,14 vezes). taca para traçar círculos, e o novo
Concluiu então que, para saber instrumento foi incorporado ao ar-
a área de um círculo, basta calcular a senal dos geômetras. O conhecimen-
área de um quadrado construído so- to do Universo aumentava com rapi-
bre o raio e multiplicar a respectiva dez e a escola pitagórica chegou a
área por 3,14. afirmar que a Terra era esférica, e
não plana. Surgiam novas constru-
Figura 1. ções geométricas, e suas áreas e pe-
rímetros eram agora fáceis de calcu-
lar.
Uma dessas figuras foi deno-
minada polígono, do grego polygon,
que significa "muitos ângulos". Atu-
almente até rotas de navios e aviões
são traçadas por intermédio de
O número 3,14 é básico na Ge- avançados métodos de Geometria,
ometria e na Matemática. Os gregos

25
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

incorporados ao equipamento de ra- x 2 + 5x + 4 = 4 - 2x + 5 * 3


dar e outros aparelhos. Percebemos, x 2 + 7x + 4 = 4 + 5 *3
portanto, que desde os tempos da x 2 + 7x = 5*3
antiga Grécia, a Geometria sempre
foi uma ciência aplicada. Dos pro- Pode ser que a melhor tradu-
blemas que os gregos conseguiram ção fosse simplesmente "a ciência
solucionar, dois merecem referên- das equações". Ainda que original-
cia: o cálculo da distância de um ob- mente a palavra "álgebra" refira-se a
jeto a um observador e o cálculo da equações, ela possui um significado
altura de uma construção. muito mais amplo. Uma definição
satisfatória requer um enfoque em
História da Álgebra duas fases, uma vez que a divisão é
tanto cronológica como conceitual:
A palavra Álgebra é uma vari-
 Álgebra antiga (elementar) é o
ante latina da palavra de origem estudo das equações e méto-
árabe al-jabr (às vezes transliterada dos de resolvê-las.
al-jebr), usada no título de um livro,  Álgebra moderna (abstrata) é
Hisab al-jabr w'al-muqabalah, es- o estudo das estruturas mate-
crito em Bagdá por volta do ano 825, máticas tais como grupos,
pelo matemático árabe Mohammed anéis e corpos - para mencio-
ibn-Musa al Khowarizmi (Maomé, nar apenas algumas.
filho de Moisés, de Khowarizm).
A fase antiga (elementar), que
Este trabalho de Álgebra é com fre-
abrange, aproximadamente, o perí-
quência citado, abreviadamente,
odo de 1700 a.C. a 1700 d.C., carac-
como Al-jabr.
terizou-se pela invenção gradual do
Uma tradução literal do título
simbolismo e pela resolução de
completo do livro é a "ciência da res-
equações (em geral coeficientes nu-
tauração (ou reunião) e redução",
méricos) por vários métodos, apre-
mas matematicamente seria melhor
sentando progressos pouco impor-
"ciência da transposição e cancela-
tantes até a resolução "geral" das
mento" ou, conforme Boher, "a
equações cúbicas e quárticas e o ins-
transposição de termos subtraídos
pirado tratamento das equações po-
para o outro membro da equação" e
linomiais, em geral feito por Fran-
"o cancelamento de termos seme-
çois Viète, também conhecido por
lhantes (iguais) em membros opos-
Vieta (1540-1603).
tos da equação". Assim, dada a equa-
ção:

26
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

O desenvolvimento da notação ajuda a explicar a falta de sofistica-


algébrica evoluiu ao longo de três es- ção da álgebra egípcia. Os matemá-
tágios: o retórico (ou verbal), o sin- ticos europeus do século XVI tive-
copado (no qual eram usadas abre- ram de estender a noção indo-ará-
viações de palavras) e o simbólico. bica de número, antes de poderem
No último estágio, a notação passou avançar significativamente além dos
por várias modificações e mudanças, resultados babilônios de resolução
até tornar-se razoavelmente estável de equações.
ao tempo de Isaac Newton. É impor- A álgebra grega conforme foi
tante perceber que, mesmo hoje, não formulada pelos pitagóricos e por
há total uniformidade no uso de Euclides, era geométrica. Por exem-
símbolos. Como a álgebra provavel- plo, o que nós escrevemos como:
mente se originou na Babilônia, pa-
rece apropriado ilustrar o estilo re- (a+b) 2 = a 2 + 2ab + b 2
tórico com um exemplo daquela re-
gião. Era concebido pelos gregos em
A álgebra surgiu no Egito qua- termos do diagrama apresentado na
se ao mesmo tempo que na Babilô- Figura 1 e era curiosamente enunci-
nia; mas faltavam à álgebra egípcia ado por Euclides em Elementos, li-
os métodos sofisticados da álgebra vro II, proposição 4: Se uma linha
babilônica, bem como a variedade reta é dividida em duas partes quais-
de equações resolvidas, a julgar pelo quer, o quadrado sobre a linha toda
Papiro Moscou e o Papiro Rhind - é igual aos quadrados sobre as duas
documentos egípcios que datam de partes, junto com duas vezes o re-
cerca de 1850 a.C. e 1650 a.C., res- tângulo que as partes contém:
pectivamente, mas refletem méto- (a+b)2 = a 2 + 2ab + b 2
dos matemáticos de um período an- É bem provável que, para os
terior. Para equações lineares, os gregos da época de Euclides, o sím-
egípcios usavam um método de re- bolo a 2 representava realmente um
solução que consistia em uma esti- quadrado e não há dúvidas de que os
mativa inicial seguida de uma corre- pitagóricos conheciam bem a álge-
ção final - um método ao qual os eu- bra babilônica e, de fato, seguiam os
ropeus posteriormente deram o no- métodos-padrão babilônios de reso-
me de "regra da falsa posição". lução de equações. Euclides deixou
O sistema de numeração egíp- registrado esses resultados pitagóri-
cio, relativamente primitivo em cos. Para ilustrá-lo, observe o teore-
comparação com o dos babilônios,

27
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

ma correspondente ao problema ba- gregos capazes de contornar as fra-


bilônio considerado acima. ções, tratando-as como razões de in-
teiros, eles tinham dificuldades in-
Figura 2. superáveis com números como a raiz
quadrada de 2, por exemplo. Lem-
bramos o "escândalo lógico" dos pi-
tagóricos quando descobriram que a
diagonal de um quadrado unitário é
incomensurável com o lado (ou seja,
diagonal/lado é diferente da razão
Do livro VI. Dos Elementos, de dois inteiros).
temos a proposição 28 (uma versão Desse modo, o estrito rigor
simplificada): Dada uma linha reta matemático os forçou a usar um
AB [isto é, x+y=k], construir ao lon- conjunto de segmentos de reta como
go dessa linha um retângulo com domínio conveniente de elementos.
uma dada área [xy = P], admitindo Pois, ainda que raiz quadrada de 2
que o retângulo "fique aquém" em não possa ser expressa em termos de
AB por uma quantidade "preenchi- inteiros, ou suas razões, pode- se re-
da" por outro retângulo [o quadrado presentá-la como um segmento de
BF na Figura 2], semelhante a um reta que é, precisamente, a diagonal
dado retângulo [que aqui nós admi- do quadrado unitário.
timos ser qualquer quadrado]. É importante mencionar Apo-
lônio (225 a.C.), que aplicou méto-
Figura 3. dos geométricos ao estudo das sec-
ções cônicas. De fato, seu grande tra-
tado Secções cônicas contém geome-
tria analítica das cônicas.
A Matemática grega teve uma
parada notável em sua produção,
devido a um dos motivos como a
ocupação romana que tinha come-
çado, e não encorajava a erudição
matemática, ainda que estimulasse
alguns outros ramos da cultura gre-
Segundo se sabe, os gregos ti-
ga. Devido ao estilo pesado da álge-
nham uma certa dificuldade concei-
bra geométrica, esta não poderia so-
tual com frações e números irracio-
breviver somente na tradição escri-
nais. Mesmo sendo, os matemáticos

28
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

ta; necessitava de um meio de comu- e inserido ao conteúdo adequado re-


nicação vivo oral. Era possível seguir sulta em uma competição saudável e
o fluxo de ideias desde que um ins- despertadora de interesses.
trutor apontasse para diagramas e Nos PCNs, encontramos a de-
explicasse; mas as escolas de instru- finição: o jogo é uma atividade natu-
ção direta não sobreviveram. ral no desenvolvimento dos proces-
Na Europa, a renascença e o sos psicológicos básicos; supõe um
rápido florescimento da álgebra fo- fazer sem obrigação externa e im-
ram devidos aos seguintes fatores: posta, embora demande exigências,
 Facilidade de manipular tra- normas e controle Provavelmente, a
balhos numéricos através do situação mais produtiva do meio
sistema de numeração indo- acadêmico é a que envolve o jogo,
arábico, muito superior aos quer na aprendizagem de noções,
sistemas (tais como o romano)
quer como meios de favorecer os
que requeriam o uso do ábaco;
 Invenção da imprensa com ti- processos que intervêm no ato de
pos móveis, que acelerou a pa- aprender e não se ignora o aspecto
dronização do simbolismo me- afetivo que, por sua vez, se encontra
diante a melhoria das comuni- implícito no próprio ato de jogar.
cações, baseada em ampla dis- Uma vez que o elemento mais im-
tribuição; portante é o envolvimento do indiví-
 Ressurgimento da economia, duo que brinca.
sustentando a atividade inte-
lectual; e Pode-se dizer, com base nas
 A retomada do comércio e via- características que definem os jogos
gens, facilitando o intercâm- de regra, que o aspecto afetivo mani-
bio de ideias tanto quanto de festa-se na liberdade da sua prática.
bens. Prática esta, inserida num sistema
que a define por meio de regras, o
Cidades fortes no âmbito co- que é, no entanto, aceito espontane-
mercial surgiram primeiro na Itália, amente. Impõem-se um desafio,
e foi lá que o renascimento algébrico uma tarefa, uma dúvida, entretanto
na Europa efetivamente teve início. é o próprio sujeito quem propõe a si
mesmo resolvê-los (Silva & Kodoma,
Jogos 2004).
Para Miranda (2001):
Uma metodologia sempre fa-
vorável ao ensino de qualquer disci- Prazer e alegria não se disso-
plina é a inserção de jogos em aula, ciam jamais. O brincar é incon-
testavelmente uma fonte ines-
porém sempre com um objetivo real

29
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

gotável desses dois elementos. condições para jogar bem e ter


O jogo, o brinquedo e a brinca- um bom desempenho escolar.
deira sempre estiveram presen-
tes na vida do homem, dos mais
remotos tempos até os dias de
hoje, nas mais variadas mani- Um exemplo a ser mostrado é
festações (bélicas, filosóficas,
educacionais). O jogo pressu-
o jogo STOP, em que toda criança
põe uma regra, o brinquedo é o trabalha com conceitos de: NOME,
objeto manipulável e a brinca- CIDADE, COMIDA, COR, entre ou-
deira, nada mais é que o ato de
brincar com o brinquedo ou
tros, podendo variar entre várias op-
mesmo com o jogo. Jogar tam- ções, mas aqui podemos utilizar o
bém é brincar com o jogo. O jo- STOP ao nosso favor, com o chama-
go pode existir por meio do
brinquedo, se os brincantes lhe
do STOP MATEMÁTICO.
impuserem regras. Percebe-se, De acordo com a série é possí-
pois, que jogo, brinquedo e vel utilizar mais conteúdos.
brincadeira têm conceitos dis-
tintos, todavia estão imbrica- As regras são:
dos; e o lúdico abarca todos  Trabalhar em duplas, previa-
eles. mente escolhidas pelo profes-
sor;
Percebemos a participação ati-  As duplas têm que mostrar
va do sujeito sobre o seu saber é va- dois números que de acordo
lorizado por no mínimo dois moti- com cada operação resulta no
vos: número escolhido pelo profes-
sor ou por uma dupla;
 Fato de oferecer uma oportu-
 A pontuação é a mesma do
nidade para os estudantes es-
STOP TRADICIONAL, Dez
tabelecerem uma relação posi-
pontos para quem coloca os
tiva com a aquisição de conhe-
números inéditos, Cinco pon-
cimento, pois o conhecer passa
tos para empate e nenhum
a ser percebido como real pos-
ponto para quem não fez.
sibilidade.
 O professor ou outra dupla es-
 Valorizar a participação do su-
colhe um número e as duplas
jeito na construção do seu pró-
fazem as operações.
prio saber é a possibilidade de
desenvolver seu raciocínio. Os
jogos são instrumentos para Exemplo: O STOP a seguir foi
exercitar e estimular um agir- aplicado em uma 8ª série:
pensar com lógica e critério, O número: 25

30
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

Exemplo do STOP MATEMÁTICO

Adição Subtração Multiplicação Divisão Potenciação Radiciação

2+23 28-3 5*5 125/5 5^ 2 √225

Para crianças menores, os jo- ensino de Matemática (Silva & Ko-


gos podem ser ações que elas repe- doma, 2004; Fanti &Silva, 2004). E
tem sistematicamente, mas que pos- aqui destacaremos alguns jogos in-
suem um sentido funcional (jogos de teressantes:
exercício), isto é, são fontes de signi-
ficados e, portanto, possibilitam Traverse
compreensão, geram satisfação, for-
mam hábitos que se estruturam O jogo Traverse, cujos direitos
num sistema. Esta repetição funcio- autorais pertencem a Glacier Games
nal também deve estar presente na Company (EUA, 1991) é comerciali-
atividade escolar, pois é importante zado no Brasil, pela UNICEF. Como
no sentido de ajudar a criança a per- podemos notar Traverse parece com
ceber regularidades. a palavra atravessar, que, de acordo
Os jogos são também, instru- com o Dicionário Aurélio (1986, p.
mentos de entretenimento para os 197), atravessar significa: (...) passar
adultos, mesmo em bancos de uni- para o outro lado, transpor. Essa
versidades, vemos alunos jogando ação corresponde ao movimento das
truco. Percebemos, então, que ape- peças no tabuleiro.
sar de toda a formalidade do ensino Questões como: Para onde
superior existe um passatempo, ob- vou? Para onde devo olhar? Qual a
tido através de um jogo. E por que direção dos carros? Preciso andar
não aplicar na metodologia de uma rápido? são fundamentais para ga-
aula no ensino superior? rantir o sucesso do objetivo. Uma
O ensino de Probabilidade po- análise detalhada e coordenada tam-
de ser iniciado através do baralho. E, bém deve ser feita para jogar o Tra-
através disto, entender qual a proba- verse. Nesse jogo, as ações futuras
bilidade de sair um rei dentre as car- devem ser avaliadas a cada momen-
tas de um único jogo de baralho. to, uma vez que a relação entre as
Algumas pesquisas estão sen- peças modifica-se, depois que ocorre
do realizadas com intuito de obter uma jogada. Assim sendo, realizar
mais jogos que visem a melhoria do uma travessia exige muita atenção

31
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

para coordenar as partes que com- ção a um espaço vazio; ou com pas-
põem o todo (Silva & Kodoma, ses curtos ou longos (vide regras 4 e
2004). 5).
Descrição: O jogo é constituído de
um tabuleiro quadriculado de 10x10 4. Passes curtos: O jogador pode
cm e de 8 peças de cada cor (azuis, “pular” por cima de qualquer peça,
amarelas, vermelhas e verdes), sen- desde que esta seja vizinha à sua, e a
do: 2 triângulos, 2 losangos, 2 círcu- próxima casa, na direção da jogada,
los e 2 quadrados. Jogam de dois a possa ser ocupada. As peças “pula-
quatro parceiros. das‖ não são capturadas nem voltam
Objetivo: Mover todas as peças de ao início do tabuleiro, servindo ape-
sua fileira inicial para o lado oposto nas como trampolim para o salto
do tabuleiro (fileira de destino). (exceção feita ao círculo - vide regra
Regras: 7).
1. Cada jogador escolhe uma cor 5. Passes longos: O passe pode
e coloca suas peças de um lado do ta- ter longa distância, passando por ci-
buleiro (fileira inicial), na ordem ma de uma peça que não esteja adja-
que considerar conveniente, sem in- cente à sua, desde que haja simetria
cluir os cantos. entre os espaços vazios, antes e de-
2. As peças devem ser movidas pois da peça pulada. Mais uma casa
de acordo com seu formato (losan- que a peça do jogador ocupará ao fi-
gos e triângulos devem apontar sem- nal do passe.
pre para frente, o que facilita visua- 6. Séries de pulos: O jogador po-
lizar seus movimentos): derá fazer uma série de pulos conse-
 Quadrados: movem-se vertical cutivos, contanto que cada passe es-
e horizontalmente; teja de acordo com as regras do jogo.
 Losangos: têm movimentos 7. O círculo: se o jogador passar
diagonais para frente e para por cima do círculo de um adversá-
trás;
rio, deverá colocá-lo na fileira ini-
 Triângulos: movem-se nas di-
cial, para que recomece sua traves-
agonais somente para frente e
na vertical para trás; sia. Quando o jogador usar seu pró-
 Círculos: podem fazer movi- prio círculo como trampolim, o cír-
mentos em todas as direções. culo deve permanecer onde estava
(antes da jogada).
3. As peças podem ser movidas 8. Ao chegar à fileira de destino,
em um espaço de cada vez, em dire- as peças não podem mais voltar ao

32
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

tabuleiro nem serem movidas na  Fale sobre a importância de


própria fileira de chegada. cada uma das peças e seus mo-
9. O jogo termina quando um jo- vimentos.
gador conseguir chegar com suas oi-
to peças no lado oposto do tabuleiro. Dominó das Quatro Cores

De acordo com Guzmán


A questão do jogar Traverse,
(1991), (apud Silva & Kodoma,
não deve simplesmente ficar entre
2004) o problema que levou à cria-
os jogadores, mas o professor deve
ção do Jogo de Quatro Cores data de
ser questionador das ações dos joga-
1852, quando Francis Guthrie, re-
dores.
cém formado pela Universidade de
Para os autores, uma estraté-
Londres, percebeu que a maioria dos
gia para a introdução do jogo é: qua-
mapas encontrados em Atlas eram
tro jogadores que conhecem as re-
pintados com quatro cores, respei-
gras jogarão em local que permita o
tando-se o critério de não utilizar a
acompanhamento da partida por to-
mesma cor em territórios adjacen-
dos. Quem o apresenta, coloca-se di-
tes. Escreveu, então, para o irmão
ante do grupo de modo que todos
Frederick, ainda aluno da mesma
possam ver o tabuleiro. A colocação
universidade, pedindo uma de-
das peças e o desenrolar da partida.
monstração matemática deste teo-
É conveniente anunciar a proposta,
rema: quatro cores bastam para co-
no sentido de localizar o que é para
lorir qualquer mapa sem que as re-
ser observado: material, ações reali-
giões vizinhas tenham a mesma cor.
zadas e o objetivo do jogo. Deve-se
Frederick encaminhou o problema
sugerir aos observadores que te-
para o matemático Augustus de
nham lápis e papel em mãos para re-
Morgan, seu professor, que tentou,
gistrar tudo o que forem perceben-
em vão, demonstrar o teorema. Por
do. Joga-se uma partida até o final,
mais de um século, matemáticos e
e depois, então, podem ser feitos al-
outros estudiosos buscaram, sem
guns questionamentos, como por
sucesso, soluções para o desafio pro-
exemplo:
posto por Guthrie. Algumas teorias
 Como é o material que você
observou? Descreva-o e dese- tiveram aceitação por muitos anos,
nhe-o. mas foram superadas por outras
 Qual é o objetivo do jogo? mais abrangentes, não sendo ne-
 Faça uma lista das palavras nhuma delas suficiente para resolver
importantes para jogar o Tra- o problema. A solução, em princípio
verse.

33
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

satisfatória, foi dada por Keneth Ap- guir colocar uma peça dentro do
ple e Wolfgan Haken, professores da quadrado, de acordo com a regra.
Universidade de Illinois, em 1976, Atividade 2. Para iniciar, os joga-
depois de seis anos de intensas pes- dores (ou equipes) escolhem nove
quisas utilizando computador. Mas, peças cada um(a). À sua vez, só po-
como essa solução ainda é questio- derá colocar uma dentre as peças já
nada, as investigações continuam. selecionadas. O jogo prossegue até
Descrição: Seis peças retangu- que os jogadores (ou duplas) não
lares com lados medindo 3 cm e 9 possam mais colocar peças para for-
cm, sendo duas amarelas, duas azuis mar o quadrado. Na impossibilidade
e duas verdes; seis peças retangula- de continuar o jogo, ganha quem fi-
res de lados 3 cm e 6 cm, sendo duas car com o menor número de peças.
azuis, duas vermelhas e duas verdes; Atividade 3. Faça todos os quadra-
e, seis peças quadradas com lados dos possíveis usando 3 peças. Anote
medindo 3 cm, sendo três azuis, as soluções obtidas, e verifique se
duas vermelhas e uma amarela. uma delas pode ser obtida da outra
Objetivo: Construir um quadrado por simetria.
usando todas as peças. Atividade 4.
Regra: Peças de mesma cor não se a. Escolha uma peça como uni-
tocam, nem mesmo pelo vértice. dade e determine a área do quadra-
Observação: A proposta pode ser do obtido na atividade 3.
desenvolvida de modo cooperativo, b. Escolha outra peça (com for-
onde os jogadores buscam, juntos, a ma diferente da primeira) e refaça o
solução do problema, discutindo, item (a)
analisando as possibilidades e tro- c. Comparando os resultados ob-
cando ideias, ou também, na forma tidos, o que podemos concluir?
competitiva entre dois jogadores, ou
dois grupos de jogadores. Outros jogos são propostos em
Os mesmos autores propõem sala de aula, podemos sempre tentar
algumas atividades com o jogo: propor alguns jogos na sala para en-
Atividade 1. Cada jogador, ou du- tusiasmar nossos alunos e atingir-
pla, à sua vez, escolhe uma peça do mos nossas metas.
monte e a coloca sobre uma base
quadrada de 18 cm de lado (em qual- Tecnologias na Área Educacio-
quer posição - não precisa ser adja- nal
cente à última colocada). Perde o
Etimologicamente, tecnologia
jogo quem, em sua vez, não conse-
provém de técnica (do latim techné),

34
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

que quer dizer arte ou habilidade. Sabemos, também, que ainda


Assim, podemos falar que é uma ati- existem professores que não se sen-
vidade voltada para a prática. tem e condições de incorporar as
Vargas (apud Grinspun, 1999) Tecnologias da Informação em suas
propõe um significado para a tecno- práticas, tendem a encarar com des-
logia: (...) aplicação das teorias, mé- confiança e resistência a introdução
todos e processos científicos às téc- das novas Tecnologias da Informa-
nicas Segundo Grispun (1999): ção e comunicação.
Penteado (2000) defende que
O principal objetivo da tecnolo- para explorar o potencial educacio-
gia é aumentar a eficiência da
nal das Tecnologias Informáticas
atividade humana em todas as
esferas, incluindo a produção. (TI) é preciso haver mudanças na or-
Poderíamos dizer que a tecno- ganização da escola e, particular-
logia envolve um conjunto or-
ganizado e sistematizado de di-
mente, no trabalho do professor.
ferentes conhecimentos cientí- A autora citada acima estuda a
ficos, empíricos e até intuitivos eficiência da Informática na escola e
voltados para um processo de
aplicação na produção e na co-
suas consequências, nestas pesqui-
mercialização de bens e servi- sas concluiu que É necessário ajus-
ços. (pág. 49) tar e/ou eliminar práticas e regras já
existentes e concentrar esforços na
Ao se tratar de sala de aula, criação de situações novas. Quando
percebemos a necessidade da inser- se refere às tais situações novas diz
ção de novas tecnologias no meio às normas institucionais, o currícu-
educacional. Não podemos deixar de lo, a relação com os alunos, com os
considerar que o mimeógrafo já foi pais e professores.
uma grande tecnologia inovadora da A mesma autora verifica ain-
época, porém, hoje já ultrapassada. da que devam ocorrer mudanças
Não esqueçamos também da também quanto ao professor:
importância do desenvolvimento
passo-a-passo de uma fórmula na ...As mudanças envolvem desde
lousa, talvez (ainda) nada substitua questões operacionais – a orga-
esta metodologia em que o aluno ve- nização do espaço físico e a in-
tegração do velho com o novo–
rifica seu conhecimento algébrico até questões epistemológicas,
transformando-se em outra fórmula como z produção de novos sig-
generalizada. Mas, podemos inserir, nificados para o conteúdo a ser
ensinado. São mudanças que
se tivermos acesso, as tecnologias da afetam a zona de conforto da
informação. prática do professor e criam
uma zona de risco caracterizada

35
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

por baixo índice de certeza e geram na importância da tecnologia,


controle da situação de ensino.
afirmando que o computador é a so-
(pág. 23)
lução para os problemas educacio-
Não podemos mais negar que nais, e as posições contrárias à infor-
o computador faz parte da vida do mática questionam se essas tecnolo-
nosso aluno fora da sala de aula e, é gias não dificultariam a aprendiza-
necessário percebermos as mudan- gem dos alunos, na condição de me-
ças na sociedade devido a todo tipo ros repetidores de tarefas. Afirmam
de tecnologia. ainda, que os alunos não desenvol-
Encontramos nos PCNs, a se- veriam o raciocínio matemático, por
guinte orientação: As técnicas, em ser o mesmo realizado pelo compu-
suas diferentes formas e usos, cons- tador.
tituem um dos principais agentes de Os autores afirmam que o
transformação da sociedade, pelas computador, segundo Pierre Levy, é
implicações que exercem no cotidi- uma evolução das mídias, que passa-
ano das pessoas já existem muitas ram pelas fases de oralidade, pelo
escolas utilizando calculadora em papel-e-lápis até chegarem à infor-
suas aulas, já que este instrumento mática. Apontam, também, que
faz parte da realidade da população; existem dois caminhos que podem
Então, é preciso repensar so- ser utilizados pelos professores na
bre a utilização da calculadora em incorporação das tecnologias na au-
sala de aula, sempre levando em la de Matemática, o caminho em que
conta que é preciso fazer contas sem tudo é programável e o outro em que
calculadora, depois conferi-las na pode surgir novas situações que não
calculadora, pois nos concursos não estão sob o controle do professor,
podemos utilizá-la. A calculadora, mas juntos podem investigar e achar
no entanto, ela pode ser usada como a solução.
um instrumento motivador na reali- Apesar de muitos professores
zação de tarefas exploratórias e de preferirem a aula programada, de
investigação. modo a correr dentro do previsto,
Borba e Penteado (2001) têm sabe-se que podem ocorrer situa-
estudado esta tendência de incorpo- ções inesperadas, até mesmo na
ração tecnológica no ensino de Ma- mais perfeita programação.
temática e discutem que existem po- O computador pode ser usado
sições favoráveis e contrárias a essa como elemento de apoio para o en-
inserção. As posições favoráveis exa- sino (banco de dados, elementos vi-

36
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

suais), mas também como fonte de guagem com capacidade de proces-


aprendizagem, e como ferramenta sar listas e de permitir a criação de
para o desenvolvimento de habilida- novos procedimentos.
des. O trabalho com o computador Entretanto, nessa época o Lo-
pode ensinar ao aluno a aprender go não dispunha de capacidade grá-
com seus erros e a aprender junto fica, já que os computadores daquele
com seus colegas, trocando suas período não possuíam essa facili-
produções e comparando-as. dade. Por meio da sua utilização, e
Alguns softwares incorpora- de inúmeras pesquisas, Papert con-
dos à sala de aula, como: Cabri-Geo- seguiu dar àquele Logo uma nova
métre, Logo e Gerador de Gráficos roupagem e uma estrutura filosófi-
podem auxiliar muito o ensino. ca, sendo por isso considerado, até
Logo é uma linguagem de pro- hoje, o pai do Logo.
gramação que foi desenvolvida no A proposta do Logo é ensinar
Massachusetts Institute of Techno- pessoas de todas as idades como
logy (MIT), Boston, Estados Unidos, programar, além de ser um software
por um grupo de pesquisadores lide- que pode ser utilizado na parte de
rados pelo professor Seymour Pa- geometria e na parte da robótica.
pert. Como linguagem de programa- Apresenta características es-
ção, serve para nos comunicarmos pecialmente elaboradas para pro-
com o computador. E foi desenvolvi- gramar uma metodologia de ensino
do por volta de 1968. Conta-se que a baseada no computador (metodolo-
ideia surgiu durante um jantar em gia Logo) e para explorar aspectos
que estavam Seymour Papert, Wal- do processo de aprendizagem.
lace Feurzeig (diretor do grupo de O Logo tem, assim, duas raí-
Tecnologia Educacional da Bolt, Be- zes: uma computacional e outra filo-
ranek e Newman - BBN), Cynthia sófica. Do ponto de vista computaci-
Solomon (pesquisadora pertencente onal, as características do Logo que
à BBN) e Daniel Bobrow (na época, contribuem para que ele seja uma
estudante de pós-graduação do linguagem de programação de fácil
MIT). Nesse jantar alguém propôs a assimilação são: exploração de ativi-
criação de uma linguagem de pro- dades espaciais, fácil terminologia e
gramação que fosse bastante pode- a capacidade de se criar novos ter-
rosa e capaz de substituir o Basic. mos ou procedimentos. As ativida-
Dessa ideia nasceu Logo, uma lín- des permitem o contato quase que

37
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

imediato do aprendiz com o compu- do Logo é utilizar esses conceitos nas


tador. Essas atividades espaciais fa- atividades de comandar a tartaruga.
cilitam muito a compreensão da filo- No processo de comandar a tartaru-
sofia pedagógica do Logo por parte ga, para ir de um ponto a outro, es-
dos especialistas em computação. ses conceitos devem ser explicita-
Por outro lado, elas fazem com que dos. Isso fornece as condições para o
os aspectos computacionais, da lin- desenvolvimento de conceitos espa-
guagem de programação Logo, se- ciais, numéricos, geométricos, uma
jam acessíveis aos especialistas em vez que a criança pode exercitá-los,
educação. depurá-los e utilizá-los em diferen-
Com as atividades espaciais, a tes situações.
proposta é utilizar esses conceitos Os domínios de aplicação do
nas atividades de comandar uma Logo estão em permanente desen-
tartaruga mecânica a se mover no volvimento, com o objetivo de atrair
espaço ou atividades de desenhar na um maior número de usuários e mo-
tela do computador (atividades grá- tivar os alunos a usar o computador
ficas). Isso se deve ao fato de essas para elaborar as mais diferentes ati-
atividades envolverem conceitos es- vidades. Entretanto, o objetivo não
paciais adquiridos nos primórdios deve ser concentrado no produto
da nossa infância, quando começa- que o aluno desenvolve, mas na filo-
mos a engatinhar. sofia de uso do computador e como
Entretanto, esses conceitos ele está facilitando a assimilação de
permanecem no nível intuitivo. Por conceitos que permeiam as diversas
exemplo, a criança aprende, sem atividades. Portanto, através do pro-
grande dificuldade, a ir da sua casa cesso de ensino-aprendizagem reve-
até a padaria. Essa atividade é de- la-se o cerne do Logo.
senvolvida sem ela se dar conta de Abaixo, mostramos a tela do
que está usando conceitos como dis- MSW Logo, ao fazer um quadrado
tância, ângulo reto, para virar esqui- com os respectivos comandos para
nas. A proposta da atividade gráfica fazer um quadrado:

38
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

A tartaruga do Logo nesta ver- Os objetivos da Robótica Edu-


são é o triângulo que está de cabeça cacional são:
para baixo.  Desenvolver o raciocínio e a
lógica, na medida em que po-
Robótica Educacional demos trabalhar estruturas
mais sofisticadas do raciocínio
Robótica educacional, ou ro- e a lógica na construção de al-
bótica pedagógica, são termos utili- goritmos e programas para
zados para caracterizar ambientes controle dos mecanismos cria-
dos;
de aprendizagem que reúnem mate-
 Favorecer a interdisciplinari-
riais de sucata, ou kits de montagem, dade, pois ao serem estabeleci-
compostos por peças diversas, mo- das relações com o concreto,
tores e sensores controláveis por promovem-se desafios que en-
computador e softwares que permi- volvem conceitos relacionados
tam programar de alguma forma o às diversas áreas do conheci-
funcionamento dos modelos monta- mento como matemática, fí-
sica, eletricidade, eletrônica,
dos. Em ambientes de robótica edu-
mecânica, engenharia e arqui-
cacional, os alunos constroem siste- tetura, entre outras, durante a
mas compostos por modelos e pro- construção de maquetes;
gramas que os controlam, para que  Instaurar o planejamento,
eles funcionem de uma determinada uma vez que este é um requi-
forma.

39
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

sito básico para um melhor de- colocando à disposição dos alunos


sempenho na elaboração das recursos gráficos pouco comuns, e
atividades, envolvendo tam- usados quase que exclusivamente no
bém, uma clara organização
meio computacional.
das ideias dentro dos objetivos
a serem atingidos em cada Atualmente, com a dissemina-
projeto; ção dos recursos visuais e gráficos,
 Fomentar a pesquisa, onde presentes em praticamente todos os
pretendemos motivar o estudo softwares, o grafismo deixou de ser a
e a análise de máquinas e me- inovação do LOGO. Entretanto, a
canismos existentes visando metodologia de uso desta linguagem
reproduzir, em alguns traba- e a proposta pedagógica, que a partir
lhos, o seu funcionamento;
dela é possível implementar - a esté-
 Estimular a criatividade, tanto
no momento de concepção co- tica do Logo, ainda são consideradas
mo durante o processo de bastante revolucionárias e inovado-
construção de maquetes. Nes- ras, a ponto de serem consideradas
te momento, é relevante enfa- um grande desafio, mesmo para
tizar a importância do reapro- aquelas escolas pedagogicamente
veitamento de materiais. mais avançadas.
A estética do Logo consiste em
Segundo Papert (1991):
aprender, através do processo de en-
sinar o computador. Ensinar o com-
A linguagem Logo tem mais de
25 anos. Durante esse tempo putador exige que o aluno utilize
passou por diversas fases: foi conteúdos e estratégias no processo
concebida nos anos 60, gestada
de programar a resolução de um
nos anos 70, caminhou vacilan-
temente pelos anos 80, atingiu problema ou projeto.
a maioridade nos anos 90 e terá A análise da tarefa de progra-
sua real maturidade atingida na
mar o computador tem permitido
virada do século.
identificar diversos passos que o
Nesse período, tanto a lingua- usuário realiza, e que são de extrema
gem como a própria metodologia de importância na aquisição de novos
seu uso, passaram por modificações conhecimentos. Mostraremos os
e adaptações, acompanhando, as- passos a seguir:
sim, o desenvolvimento pedagógico 1º. A interação com o computa-
e computacional por que vimos pas- dor, através da programação, requer
sando nos últimos anos. a descrição de uma ideia, em termos
Quando foi desenvolvida ela de uma linguagem formal e precisa.
foi considerada bastante arrojada,

40
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

Essa descrição permite ao aluno re- É possível observar uma apli-


presentar e explicar o nível de com- cação da automação industrial em
preensão que possui sobre os dife- empresas que fabricam produtos to-
rentes aspectos envolvidos na reso- talmente diversos, desde montado-
lução de um problema. ras de carros e outros tipos de indús-
2º. O computador executa, fiel- trias metalúrgicas até fábricas de
mente, a descrição fornecida. O brinquedos, de papel, de bebidas, de
feedback, fiel e imediato, é desprovi- embalagens, produtoras de alimen-
do de qualquer afetividade que pos- tos, e inclusive empresas de serviços
sa haver entre o aluno e a máquina. como bancos, por exemplo. Tal foi o
O resultado obtido é fruto somente crescimento nas últimas décadas da
do que a ela foi solicitado. automação nas indústrias, e das pes-
3º. Este resultado obtido permite quisas nessa área, que hoje não é
ao aluno refletir sobre o que foi soli- exagerado afirmar, por exemplo,
citado ao computador. que a Engenharia Eletrônica se di-
vide em três grandes áreas: em Ele-
E se o resultado não corres- trônica Analógica (que inclui pro-
ponde ao que era esperado, o aluno cessamento de sinais) Tecnologia
deve depurar a ideia original através das Telecomunicações, Eletrônica
de conteúdo ou de estratégia. de Potência, etc., em Eletrônica Di-
O programa do computador gital, que inclui microeletrônica, mi-
nada mais é do que a descrição das croprocessadores, computadores,
ideias do aluno em termos de uma etc., e em Controle de sistemas, que
linguagem precisa e formal. A Robó- inclui, Automação e Robótica.
tica Educacional está sendo aplicada Mas o que é novidade no Bra-
em vários cursos superiores como sil, e que já tem alguns anos em ou-
Automação e Controle de Sistemas, tros países do mundo, é a implemen-
que constitui uma área que, cada vez tação de programas de ensino da Ro-
mais vai aumentando seu campo de bótica no nível técnico, e também no
estudo e aplicação. Efetivamente, ensino fundamental.
hoje em dia, é impensável uma in- Outras escolas utilizam sof-
dústria de manufatura que não es- twares mais simples, como a própria
teja total, ou parcialmente, automa- calculadora do disponível nos Aces-
tizada, mesmo que o nível de auto- sórios do Sistema Operacional
mação consista apenas no controle (Windows/ Linux) e o Excel no Of-
do ponto eletrônico dos funcioná- fice.
rios.

41
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

Em uma escola de Mococa-SP, Vamos utilizar a calculadora


a professora de Informática ensinou
a uma sala de alunos com idades en- com a tecla : E ao apertar a tecla
tre 10 e 17 anos utilizar algumas te- 2, aparecerá no visor -2.
clas da calculadora científica, como Encontramos vários softwares
mostramos a seguir: disponíveis na rede, em versão de-
mo. É possível, então, estudarmos
para aplicá-los em sala de aula. Um
deles, o gerador de gráficos (chama-
do Vrum Vrum) pode ser utilizado
para mostrar a utilização de gráficos
na locomoção do bichinho do sof-
tware, a noção de espaço, tempo e
velocidade, mostrando as relações
com a Física lecionada a partir da 8ª.
série.

A professora utilizou a te-


cla para ensinar potenciação: 2 ^3
=8 e não é igual a 6.
E, ao refletir sobre isso, ela
percebeu que os alunos pergunta-
vam sobre outras teclas, como:

Assim, ela iniciou a Trigono-


metria, através da história e, para os O aluno vê o movimento e tra-
alunos maiores formalizou a Trigo- ça o gráfico, verificando a correção
nometria, mostrando as relações en- na tecla SOLUÇÃO. Neste exemplo,
tre seno, cosseno e tangente. Utili- o aluno cometeu um erro ao traçar o
zou então a calculadora para falar gráfico, fazendo o tempo voltar. E
para estes sobre o temido logaritmo, aparece o seguinte lembrete:
que passou a não ser tão temido as-
sim.
Podemos também, ensinar
Números Inteiros através da calcu-
ladora, como ensinar que (-2) = 2?

42
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

O software torna-se engraça- LMS (Learning Management


do, pois o bichinho chamado Bugão, System): os LMS são sistemas, em
anda lentamente para que o aluno geral baseados na WEB, que se des-
visualize de onde ele partiu e até on- tinam ao gerenciamento eletrônico
de chegou. E, quando o aluno acha de cursos a distância. São variados
que o Bugão, ao mudar o sentido os recursos oferecidos, que podem ir
também podemos mudar o sentido de uma simples apresentação de pá-
de nossa reta (e voltar no tempo), ginas de conteúdos a completos sis-
aparece o lembrete de erro incrível. temas de gestão, incluindo serviços
É uma boa tecnologia para de secretaria e e-commerce.
aplicarmos em nossas aulas e fazer A forma de comercialização
as devidas relações com a Física. mais utilizada é a de licença anual
Tais softwares citados aqui são cujo custo pode ser em função do
incluídos no arsenal das tecnologias porte da instituição ou do número de
educacionais, mas não podemos dei- alunos que efetivamente utilizarem
xar de citar algumas novidades que o sistema.
estão surgindo nesta área. Os principais recursos comu-
mente encontrados em LMS são:
Novas Tecnologias Educacio- Gerenciamento do curso, Gerencia-
nais mento de Conteúdo, Disco Virtual,
Correio Eletrônico (e-mail), Mensa-
Não podemos terminar essa gem Instantânea, Sala de bate-papo
unidade sem mencionarmos a Edu- (chat room), Fórum de Discussão,
cação Virtual Interativa (EVI) e seus Quadro de avisos, Lousa Virtual: re-
recursos. Abaixo, se encontram as curso de comunicação síncrono no
principais classes de ferramentas e qual os usuários compartilham uma
recursos tecnológicos para Educa- tela que pode receber desenhos, tex-
ção Virtual Interativa (EVI). tos e outras mídias; o instrutor pode
O conceito de EVI engloba liberar a lousa virtual apenas para
qualquer aplicação de tecnologias visualização, ou permitir o compar-
interativas (como computação grá- tilhamento para a escrita, com um
fica, multimídia, realidade virtual e ou mais participantes; Compartilha-
Internet) na educação, independen- mento de recursos; Avaliação: recur-
te de ser presencial ou à distância. sos para gerenciamento da aplicação
Tori (2003) estudou sobre es- e correção de avaliações (testes de
sas novas tecnologias e as dividiu múltipla escolha ou dissertativas),
nos seguintes itens: com possibilidade de sorteio de

43
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

questões e de alternativas; progra- acessar a aula de casa, no seu com-


mação de horário para publicação, putador.
controle de tempos de realização, A lousa eletrônica substitui,
correção automática; cálculo e pu- em sala de aula, o tradicional quadro
blicação de médias, geração de esta- negro, possibilitando a digitalização
tísticas; e, até mesmo, feedback au- dos traçados, hoje realizados manu-
tomático personalizado ao aluno, almente pelo professor por meio de
em função de seu desempenho; Área uma caneta eletrônica, bem como a
de Apresentação do aluno: oferece interação com o computador, em
ao aluno, ou grupo de alunos, recur- substituição ao mouse, além da rea-
sos similares aos disponíveis ao pro- lização de anotações manuais sobre
fessor para publicação de conteúdo as imagens nela projetadas. Os dois
multimídia; objetos providos de alta tecnologia
Lousa Eletrônica: Alguns aspec- mais comumente empregados são:
tos de nossa carreira docente, como lousa digital (lousa branca constru-
poeira por todo lado, professor es- ída sobre uma superfície sensível,
pirrando e guerra de giz, começam a sobre a qual se pode, ou não, ser pro-
se tornar histórias do século passa- jetada a tela do computador, que
do, em alguns colégios do mundo e, captura o movimento de uma caneta
também, no Brasil, pois estão subs- eletrônica); dispositivo de ultrassom
tituindo o quadro-negro pela lousa (fixado sobre uma lousa branca co-
eletrônica: uma tela de computador, mum transforma-a em uma lousa
sensível ao toque. Com este novo re- digital).
curso tecnológico, é possível escre- Objetos projetados na tela po-
ver, assistir a animações e filmes, fa- dem ser movidos na lousa digital
zer desenhos, cortar e colar textos. sem perder definição, o que é impor-
Outro recurso disponível com esse tante para os alunos acompanharem
equipamento é o acesso à internet. um raciocínio lógico, por exemplo.
Além de tornar as aulas mais Pode-se escrever com o dedo e salvar
dinâmicas, a lousa interativa prende a palavra ou texto num arquivo es-
a atenção do aluno. A ferramenta pecífico, enquanto outro conteúdo é
pode auxiliar diversas disciplinas, salvo separadamente.
devido ao acesso a informações em Caderno eletrônico: O "caderno
tempo real, via internet. eletrônico" possibilita que o aluno
É possível, também, mover ob- faça anotações digitalmente, acesse
jetos sem perder definição, e isso fa- os materiais disponibilizados pelos
cilita o raciocínio do aluno, que pode professores e por colegas, acesse a

44
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

intranet da instituição e a Internet, aplicação de tecnologias avançadas


bem como todos os demais recursos de interface que possibilitam a imer-
de comunicação disponíveis a ele. são, navegação e interação do usuá-
Virtualmente, o caderno eletrônico rio em um ambiente tridimensional
se constitui de uma conta de acesso sintético gerado pelo computador
ao LMS da instituição, enquanto (Kubo; Tori & Kirner, 2002). Com
que, fisicamente, pode ser um com- essa tecnologia é possível a criação
putador desktop embutido na car- de laboratórios virtuais com rique-
teira do aluno, um notebook, conec- zas de detalhes, por meio dos quais
tado a um ponto de rede disponível podemos realizar experiências com
na sala de aula ou por conexão wire- alto grau de realismo. Em atividades
less, ou até mesmo um dispositivo presenciais podem ser utilizados
de mão (PDA). A disponibilização de equipamentos de realidade virtual
um data tablet, ou de um notebook, imersiva, que exigem equipamentos
que possibilite a escrita na própria caros, como capacetes, luvas ou sa-
tela, torna o caderno eletrônico ain- las de projeção do tipo CAVE. Para
da mais completo, por viabilizar a atividades remotas, utilizam-se os
digitalização de manuscritos. recursos de realidade virtual não
Biblioteca Virtual: Uma Bibliote- imersiva, que dispensam equipa-
ca Virtual simples pode ser constitu- mentos especiais e podem ser execu-
ída por uma base de dados acessada tados até mesmo em browsers de na-
remotamente, contendo o cadastro vegação. Estes laboratórios não se
do acervo físico da instituição, que desgastam, dispensam espaço físico
possibilite a busca e a reserva de tí- e podem ser utilizados para familia-
tulos. rização e demonstração, antes que o
Media Streaming: A distribuição aluno acesse o laboratório real, oti-
pela Internet de áudio, vídeo e ou- mizando assim o uso deste último.
tras mídias contínuas (dependentes Jogos Educativos: como já fala-
do tempo), por meio do envio, a par- mos, os jogos também são tecnolo-
tir de um servidor, e de um fluxo gias inovadoras na educação.
constante de dados que, depois de Ferramentas de Autoria: Ferra-
exibidos, são descartados pelo cli- mentas de autoria são programas
ente, é viabilizada pela tecnologia de destinados à produção de material
streaming. multimídia. Podem ser destinadas à
Laboratório Virtual: Tori simples produção de mídia (editores
(2003), que também pesquisou so- de imagem, de vídeo ou de áudio,
bre a realidade virtual envolve a por exemplo) ou para a criação de

45
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

cursos completos. Alguns LMS for- de aprendizagem, utilizados para re-


necem suas próprias ferramentas de ferência, e busca, de material peda-
autoria, mas a grande maioria faz gógico.
apenas a importação de materiais São os conteúdos potencial-
produzidos por programas especia- mente reutilizáveis, em formato di-
lizados. gital que vêm justificando o grande
interesse pela tecnologia de objetos
Objetos de Aprendizagem de aprendizagem, uma vez que o
custo de desenvolvimento de conte-
Segundo a norma IEEE 1484 údo virtual interativo é bastante ex-
(IEEE, 2002), apud Tori (2003) "um pressivo e, todos os esforços, no sen-
objeto de aprendizagem é definido tido de se padronizar formatos de
como qualquer entidade, digital ou armazenamento, e de referência, vi-
não, que possa ser usada para apren- sando-se a reutilização de materiais,
dizagem, educação ou treinamento". são bem- vindos.
O conceito de objeto de apren- Todas essas tecnologias po-
dizagem vem recebendo diversas de- dem ser utilizadas tanto na Educa-
nominações, tais como "learning ob- ção Presencial, quanto na Educação
ject", "instructional object", "educa- à Distância, como, em cursos que
tional object", "knowledge object", utilizam estas duas modalidades, a
"intelligent object", e "data object" chamada Educação Moderna (Tori,
(GIBBONS, 2002). Tem como obje- 2003).
tivo a decomposição de sistemas E assim, percebemos que exis-
educacionais em módulos relativa- tem muitas tecnologias para aperfei-
mente pequenos e potencialmente çoar nossas aulas de Matemática.
reutilizáveis. Esse objetivo pode ser Apesar desta unidade se encerrar
buscado por meio de diferentes ní- aqui, as tecnologias educacionais
veis de padronização, desde o for- são inúmeras e, precisamos sempre
mato de armazenamento de cada estar buscando melhorias em nossa
objeto até o protocolo de comunica- formação.
ção entre objetos. Devido à grande
diversidade de formatos de conteú-
dos multimídia, já disponíveis no
mercado, os esforços de padroniza-
ção têm se concentrado nos chama-
dos meta dados, que se constituem
de dados cadastrais sobre os objetos

46
47
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

4. Os Conteúdos nos Ensinos Fundamental e Médio

Fonte: Nova Escola4

Matemática no Ensino  O estudo dos números e das


Fundamental operações (no campo da Arit-
mética e da Álgebra);

A presentaremos aqui uma sele-


ção de conteúdos que devemos
contemplar no Ensino Fundamen-
 O estudo do espaço e das for-
mas (no campo da Geome-
tria); e
 O estudo das grandezas e das
tal, ou resgatar ao lecionarmos no medidas (que permite interli-
ensino superior, pois não é de se es- gações entre os campos da
tranhar se, durante sua carreira, um Aritmética, da Álgebra e da
aluno de algum curso superior não Geometria).
souber resolver uma equação de 2º.
Grau, ou mesmo de 1º. grau. Sem esquecer a importância
O Ensino Fundamental deve do olhar que permita ao cidadão tra-
contemplar: tar as informações que recebe coti-

4 Retirado em https://novaescola.org.br/

48
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

dianamente, aprendendo a lidar criadas em função de diferentes pro-


com dados estatísticos, tabelas e blemas que a humanidade teve que
gráficos, a raciocinar utilizando enfrentar, passando pelos números
ideias relativas à probabilidade, e à naturais, números inteiros positivos
combinatória, e aos desafios mate- e negativos, números racionais (com
máticos que podem despertar em representações fracionárias e deci-
nossos alunos um interesse maior: mais) e números irracionais. À me-
É o que notamos nos Parâme- dida que se deparar com situações-
tros Curriculares: problema envolvendo as operações
como adição, subtração, multiplica-
Embora nestes Parâmetros a ção, divisão, potenciação e radicia-
Lógica não se constitua como
ção, ele irá ampliando seu conceito
bloco de conteúdo a ser aborda-
do de forma sistemática no en- de número.
sino fundamental, alguns de Quem nunca se perguntou so-
seus princípios podem ser tra-
tados de forma integrada aos
bre os números negativos? Por que
demais conteúdos, desde as sé- menos vezes menos é igual a mais?
ries iniciais. Tais elementos, Ou por que - (-1) é +1? Ao pes-
construídos por meio de exem-
plos relativos a situações-pro-
quisar na Álgebra Booleana enten-
blema, ao serem explicitados, demos que este menos na frente do
podem ajudar a compreender parênteses tem significado de ~ (ne-
melhor as próprias situações.
gação), o que nega a próxima afir-
mativa. E ao negar o -1, teremos +1.
Muitos de nós ainda temos di-
E na divisão...por que -4: -2 =
ficuldades em desafios de matemá-
+2?
tica, e pode ser que por estes desa-
Neste caso, é mais simples
fios que os alunos se interessem E é
Imagine que tenho uma dívida total
por isso que podemos incorporar es-
de R$ 4,00, e que cada dívida é de
tes desafios à nossa formação (pri-
R$2,00. Quantas dívidas terei?
meiramente), e a partir daí em sala
Assim, a resposta é uma conta-
de aula desde o ensino fundamental.
gem, e estas só assumem resultados
Os blocos de conteúdos que
positivos.
deveremos cumprir no Ensino Fun-
Números negativos geram
damental são:
muitas dúvidas entre os alunos e de-
vem ser tratadas com um significa-
Números e Operações
do, como por exemplo, temperatu-
O aluno perceberá a existência ras abaixo de zero.
de diversas categorias numéricas

49
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

Espaço e Forma Grandezas e Medidas

Há alguns anos atrás, a GEO- Este bloco caracteriza-se por


METRIA era um campo de estudo sua forte relevância social, com evi-
nas universidades, pois os professo- dente caráter prático e utilitário. Na
res seguiam os livros didáticos dei- vida em sociedade, as grandezas e as
xavam a Geometria, que se encon- medidas estão presentes em quase
trava no final do livro, para ensinar todas as atividades realizadas. Desse
no final do ano letivo. modo, desempenham papel impor-
Este assunto era debatido pe- tante no currículo, pois mostram
los principais congressos do país e, claramente ao aluno a utilidade do
atualmente, os livros didáticos têm conhecimento matemático no coti-
apresentado muitos assuntos sobre diano.
este tema dentro de outros capítu- As atividades em que as no-
los. ções de grandezas e medidas são ex-
Nos PCNs, encontramos que: ploradas proporcionam melhor
compreensão de conceitos relativos
A Geometria é um campo fértil ao espaço e às formas. São contextos
para se trabalhar com situa-
muito ricos para o trabalho com os
ções-problema e é um tema pe-
lo qual os alunos costumam se significados dos números e das ope-
interessar naturalmente. O tra- rações, da ideia de proporcionalida-
balho com noções geométricas
contribui para a aprendizagem
de e escala, e de um campo fértil pa-
de números e medidas, pois es- ra uma abordagem histórica.
timula a criança a observar, Muitas das tecnologias educa-
perceber semelhanças e dife-
renças, identificar regularida-
cionais são vinculadas a softwares
des e vice-versa. (pág. 55) que demonstram resultados exce-
lentes. Mas, sabemos que nem sem-
E como foi citado, uma experi- pre o professor terá este recurso em
ência sempre positiva em algumas suas atividades docentes. Desse mo-
escolas, é a aprendizagem da Geo- do é importante mostrar que exis-
metria através do Logo. tem tecnologias educacionais que
O aluno aprende e aplica os não sejam eletrônicas, como por
comandos e inova com sua criativi- exemplo, medir a escola com uma
dade, fazendo outros desenhos e po- régua ou uma fita métrica.
dendo aprender programação ao ini- Experiências como dar na mão
ciar o ensino médio. do aluno um termômetro e fazê-los

50
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

medir a temperatura de alguma coi-  Utilizar corretamente os ins-


sa da escola pode incentivá-los ao trumentos de medição e de de-
espírito científico. senho.
Nossa preocupação é na Mate-  Identificar o problema (com-
preender enunciados, formu-
mática em todos os níveis, por isso
lar questões etc).
neste momento abordaremos as
 Procurar, selecionar e inter-
competências e habilidades a serem pretar informações relativas
desenvolvidas no ensino de Mate- ao problema.
mática do ensino médio.  Formular hipóteses e prever
resultados.
Competências e Habilidades a  Selecionar estratégias de reso-
Serem Desenvolvidas em Ma- lução de problemas.
temática no Ensino Médio  Interpretar e criticar resulta-
dos numa situação concreta.
Representação e comunica-  Distinguir e utilizar raciocí-
nios dedutivos e indutivos.
ção:
 Fazer e validar conjecturas,
 Ler e interpretar textos de Ma- experimentando, recorrendo a
temática. modelos, esboços, fatos co-
 Ler, interpretar eutilizar re- nhecidos, relações e proprie-
presentações matemáticas (ta- dades.
belas, gráficos, expressões  Discutir ideias e produzir ar-
etc). gumentos convincentes e con-
 Transcrever mensagens mate- textualização sócio- cultural
máticas, da linguagem cor-  Desenvolver a capacidade de
rente para linguagem simbó- utilizar a Matemática na inter-
lica (equações, gráficos, dia- pretação e intervenção no real.
gramas, fórmulas, tabelas etc.)
 Aplicar conhecimentos e mé-
e vice-versa.
todos matemáticos em situa-
 Exprimir-se com correção e ções reais, em especial em ou-
clareza, tanto na língua mater- tras áreas do conhecimento.
na, como na linguagem mate-
 Relacionar etapas da história
mática, usando a terminologia
da Matemática com a evolução
correta.
da humanidade.
 Produzir textos matemáticos
 Utilizar adequadamente calcu-
adequados.
ladoras e computador, reco-
 Utilizar adequadamente os re- nhecendo suas limitações e
cursos tecnológicos como ins- potencialidades.
trumentos de produção e de
comunicação.

51
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

E, por último (mas talvez em bilidade é uma evidência do raciocí-


primeiro lugar em importância) te- nio estatístico. Segundo Holmes
mos o tratamento da informação, (1980), os conhecimentos dessa área
que é tão importante para o ensino são utilizados em muitas profissões,
fundamental, quanto o médio e, es- e é indispensável nos fenômenos
pecificamente na área escolhida do complexos e no estudo de variáveis
ensino superior. relevantes do objeto definido.
A importância da coerência do
Tratamento da Informação raciocínio estatístico é demonstrada
também nos Parâmetros Curricula-
O entendimento de dados es- res Nacionais, os quais visam a Ma-
tatísticos atualmente é cada vez mais temática da vida presente na escola
necessário à compreensão do ambi- e recomendam a presença do pensa-
ente em que estão inseridos. Segun- mento estatístico.
do Barreto (1999), o interesse pelos Alguns autores (Garfield, 1995
métodos estatísticos estende-se às e 2002; Lovett & Greenhouse, 2000)
mais variadas áreas da ciência, em estudam o raciocínio estatístico,
que se devam obter conclusões, ou acreditando que este auxilia no de-
tomar decisões, fundamentadas em senvolvimento pessoal, fomentando
evidência experimental. um raciocínio crítico, baseado na va-
Muitos autores (Panaíno, loração da evidência objetiva e fa-
1997; Carvalho, 2001) reforçam a zendo controlar os próprios juízos,
importância da Estatística para re- além de interpretar os demais e
flexão e criticidade em relação à in- transformar os dados para resolver
formação estatística. Concordando, problemas de decisão e efetuar pre-
ainda, com Panaíno (1997, pág. 20), dições.
a Estatística é vista como: A vida acadêmica exige que es-
tas habilidades (tomar decisões ao
a habilidade que capacita os se-
res humanos a pensar em tomar analisar os dados) sejam intrínsecas
decisões com bases em dados a docentes e discentes. Assim, a pro-
obtidos não somente no pas-
cura constante pela metodologia de
sado, mas também no presente,
enquanto os outros animais coleta de dados, e análise destes, pa-
agem por instinto. ra futuras pesquisas, permite o
avanço da Ciência e da tecnologia.
Deste modo, percebe-se que a
O desenvolvimento da disci-
característica de tomar decisões leva
plina Estatística, em diversos cur-
o indivíduo a se tornar apto para tra-
sos, requer profissionais capacita-
balhar em muitos lugares, e esta ha-

52
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

dos na adequação específica do cur- de conteúdo, embora pudesse ser in-


so. Não se pode lecionar com as mes- corporado aos anteriores dos Parâ-
mas características nos cursos de metros Curriculares Nacionais. A fi-
Educação Física, Comunicação So- nalidade do destaque é evidenciar
cial e Matemática, por exemplo. Ca- sua importância, em função de seu
da um dos cursos requer uma habi- uso atual na sociedade.
lidade específica, e a Estatística au- Neste bloco, estão contidos es-
xiliará no entendimento de dados. tudos de noções de estatística, de
Mas também é importante o enten- probabilidade e de combinatória.
dimento do assunto. Por isso, a for- Com o objetivo de fazer com
mação do profissional, que lecionará que o aluno venha a construir proce-
Estatística nos diversos cursos, é ex- dimentos para coletar, organizar,
tremamente importante. comunicar e interpretar dados, utili-
Segundo Wodewotsky e Jaco- zando tabelas, gráficos e representa-
bini (2003), no ensino superior a Es- ções que aparecem frequentemente
tatística é ministrada em pratica- em seu dia-a-dia, destacamos o en-
mente todos os cursos, com ênfase sino de Estatística desde o ensino
na estatística descritiva e em ques- fundamental.
tões relacionadas com a inferência A análise combinatória faz
estatística. Vale ressaltar aqui que o com que o aluno trabalhe com situa-
ensino de Estatística é hoje obriga- ções-problema que envolvam com-
tório em quase todos os cursos de binações, arranjos, permutações e,
graduação das Universidades espa- especialmente, o princípio multipli-
lhadas pelo país, com pouquíssimas cativo da contagem.
exceções, como é o caso dos cursos Já a probabilidade tem como
de Graduação em Direito, Filosofia, finalidade que o aluno compreenda
História e Letras. que grande parte dos acontecimen-
Geralmente, os alunos têm tos do cotidiano são de natureza ale-
muita dificuldade na disciplina de atória, e que é possível identificar
Estatística no ensino superior e, por prováveis resultados desses aconte-
isso, deve-se repensar a sua forma cimentos.
de ensino, que já foi uma importante Sempre há a preocupação de
ferramenta e, se tornou uma área ci- desenvolver o raciocínio estatístico-
entífica. probabilístico em nossos alunos. A
A demanda social é que leva a reflexão sobre este assunto, ao pen-
destacar este tema como um bloco sar naquela sala de quase cinquenta

53
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

alunos, cuja maioria não quer apren- (ii) avaliar enfoques alternati-
vos, (iii) possuir a habilidade
der nada, pode nos desanimar e pen-
técnica para realizar suas análi-
sar que não vale a pena tentar novas ses e
metodologias para chegarmos à nos- (iv) saber interpretar seus re-
sultados, fazendo-os públicos
sa finalidade docente. Sobre este as- mediante uma comunicação
sunto, alguns autores nos incenti- efetiva.
vam com algumas ideias que per-
meiam o assunto. Ainda nessa linha de engajar o
Dante (1989) afirma que: uma aluno em problemas práticos, pode-
sala de aula de Matemática onde os mos citar Gnanadesikan et al (1997)
alunos, incentivados e orientados que afirmam que, para que os estu-
pelo professor, trabalhem de modo dantes possam adquirir um entendi-
ativo na aventura de buscar a solu- mento conceitual de Estatística Bá-
ção de um problema que os desafia é sica, o ensino desta disciplina deve
mais dinâmica e motivadora. Na deixar de ser através de aulas expo-
aprendizagem (do educando) ocorre sitivas, passando para o engajamen-
sempre a liberação da imaginação, to dos alunos em atividades diferen-
do fazer engenhoso, a partir das ciadas de ensino. Sua preocupação
construções de hipóteses. E esse se concentra na questão: Como fazer
processo criador do aluno deveria para que os alunos visualizem os
constituir-se em desafios à ação do conceitos importantes? Através de
professor em sala de aula. Desafios atividades especiais, o autor con-
desequilibrantes que exigem medi- cluiu que houve uma revigoração da
tações sobre a nossa prática. atitude do professor em sala de aula,
Confirmando esta ideia, An- onde foram discutidas grandes
derson (1987) acredita que: ideias, e onde foram desenvolvidos e
entendidos conceitos chave. Além
do estudo das atividades de- disso, através de materiais concre-
sempenhadas pelos estatísticos tos, os alunos reagiram muito posi-
emergem duas conclusões. Pri- tivamente. O autor ainda afirma
meiro: a Estatística...justifica-
se em última instância porque é que, as atividades, quando cuidado-
útil para resolver problemas samente selecionadas, podem focar
que estão fora dela. Segundo:
a atenção dos alunos em questões
nossa disciplina é ampla; ela dá
e recebe estímulos de muitas importantes, antes não valorizadas.
áreas diferentes. (...)O estatís- Segundo o mesmo autor, muitos alu-
tico tem que (i) combinar as
nos encontram motivações a partir
ideias de sua formação estatís-
tica e matemática com as gera- desse formato de aula agradável,
das por um problema concreto,

54
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

tornando-se mais atento em classe, Interpretação de Dados Esta-


claro que a situação ideal envolve tísticos: As atividades foram inicia-
aulas teóricas e sessões de laborató- das com a apresentação de transpa-
rio... rências com recortes de revistas e
Ensinar Estatística é uma das jornais contendo tabelas e gráficos
atividades mais interessantes em muito coloridos e chamativos, abor-
muitos depoimentos informais de dando temas de interesse da faixa
diversos docentes, devido a essa par- etária (10-12 anos) com objetivo de
ticipação dos alunos nas aulas. apresentar aos alunos o que são ta-
Ao lecionar de 5ª. a 8ª. séries belas e gráficos, diferenciando uns
do Ensino Fundamental, podemos dos outros.
pesquisar junto com os alunos a ma- Atividade Extraclasse: Os alunos
téria predileta, as atividades físicas pesquisaram em revistas e jornais
que praticam, o filme predileto, en- dados estatísticos na forma de tabe-
tre outros... las e/ou gráficos e a recortaram e co-
No Ensino Médio, além de laram em papel almaço, colocando
pesquisar os temas já citados, pode- na forma escrita a interpretação dos
mos falar sobre relacionamentos mesmos. Esta atividade foi entregue
amorosos (o que os alunos estão vi- ao professor na aula seguinte.
vendo), roupas que estão na moda, e Coleta de dados entre os alu-
deixar que os alunos pesquisem o nos: Esta atividade foi bastante mo-
tema que preferem, sempre com a tivadora para os alunos, pois devem
orientação do professor. ser coletados dados entre eles mes-
No ensino superior, é possível mos, tais como: idade, sexo, número
direcionar o tema para o curso lecio- de irmãos, número do calçado, etc.
nado. Após isso feito, o professor, com a
Gonçalves et al (1999) desen- participação da turma construiu as
volveram uma pesquisa e aplicaram tabelas, chamando a atenção para
em sala de aula para verificar a par- algumas normas estatísticas que de-
ticipação dos alunos ao aprender Es- viam ser levadas em conta. Os alu-
tatística fazendo pesquisas de acor- nos copiaram no caderno todas as
do com um determinado tema. tabelas.
A proposta para o aprendizado Representação Gráfica: O pro-
da Estatística no Ensino Fundamen- fessor construiu, no quadro, o grá-
tal teve como base as atividades des- fico em coluna, da tabela das idades
critas abaixo: dos alunos da turma, elaborado na

55
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

atividade anterior. São devidamente gráficos, interpretação dos resulta-


salientadas algumas normas que de- dos, conclusão e avaliação da meto-
verão ser seguidas, tais como a pro- dologia.
porcionalidade do gráfico, a cons- Apresentação dos resultados:
trução de escalas, etc. Os alunos As equipes apresentaram para os co-
construíram no papel quadriculado legas os resultados de seus traba-
os mesmos gráficos. E entregaram lhos, na forma oral.
para o professor. Gonçalves et al (1999) obser-
Planejamento da pesquisa: Nes- varam que todas as equipes atingi-
te momento os alunos foram moti- ram plenamente os objetivos no que
vados a planejarem sua própria pes- diz respeito à elaboração do protoco-
quisa. É solicitado que se reúnam lo de pesquisa. Na avaliação global,
em equipes de até quatro alunos ca- percebe-se que, de uma forma geral,
da uma, para combinarem sobre um a metodologia foi positiva. Desta-
tema a ser abordado, com questões cam que não foi levado em conta a
sobre idade e sexo dos entrevistados, Conclusão na avaliação das ativida-
para que possam perceber alguma des desenvolvidas pelos alunos, con-
característica de sua amostra e para forme se propunha inicialmente,
que possam trabalhar com algum pois entendeu-se que os alunos, do
dado quantitativo (idade). Cada ele- referido nível, não possuíam condi-
mento da equipe entrevistou cinco ções para tal abstração, sendo que a
pessoas, atividade de interpretação das tabe-
Coleta dos dados: Após a coleta las e gráficos foi desenvolvida com
de dados, o prazo para a tabulação êxito, indicando que os alunos pos-
dos dados foi de 2 semanas. suem grande capacidade de inter-
Tabulação dos dados obtidos: pretação. Este fato foi observado,
Após a coleta dos dados, os alunos também, em gráficos de abordagem
levaram o trabalho para a sala de da economia brasileira, que são, em
aula e, em equipes, fizeram a tabula- geral, de interesse da população
ção dos mesmos. Construíram as ta- adulta.
belas em papel almaço e gráficos em Como outra qualquer ativida-
papel quadriculado e colaram no al- de em sala de aula, apareceram algu-
maço, elaborando o relatório da pes- mas dificuldades mostradas pelos
quisa, que continha: tema da pes- pesquisadores, no que diz respeito à
quisa, equipe pesquisadora, tabelas, colocação de títulos nos eixos dos

56
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

gráficos, na proporção dos gráficos,


falta de total nas tabelas, a interpre-
tação de maioria com o significado
de mais frequente, elaboração de in-
terpretação e conclusão.
Os pesquisadores acreditam
que:

muitas vezes se desconhece o


potencial de nosso alunado e,
neste tipo de atividade, com a
liberdade que ele recebe, ele
deixa aflorar o pesquisador, o
ser crítico que existe dentro de-
le. Por outro lado, pode-se ob-
servar o outro lado deste qua-
dro, pois a próxima atividade a
ser realizada com os alunos de-
veria ser em um laboratório de
informática, para que eles pu-
dessem construir tudo o que fi-
zeram, a parte de texto, as tabe-
las e os gráficos, para o compu-
tador, se preparando melhor
para o futuro. Neste caso, tem-
se dois problemas nas escolas
públicas: primeiro, não pos-
suem equipamentos suficientes
e, segundo, caso possuíssem,
seus professores não estariam
suficientemente capacitados
para este tipo de trabalho. As-
sim, observando esta necessi-
dade de treinamento, surgiu a
outra etapa prevista nesta pes-
quisa, que é de capacitar os pro-
fessores, tanto no que diz res-
peito à metodologia de ensino
de Estatística, quanto ao uso da
informática para o ensino da
mesma.

Um exemplo como este pode


nos estimular para aplicarmos, em
outros conteúdos, a mesma tecnolo-
gia.

57
58
58
METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA

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