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Material Teórico
As Teorias Antropológicas da Cultura
Revisão Técnica:
Prof. Ms. Edson Alencar Silva
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
As Teorias Antropológicas da Cultura
• As Teorias da Cultura
• Sistemas Adaptativos e Teorias Idealistas
• Difusionismo
• Funcionalismo
• Os Problemas do Relativismo
• Estruturalismo
• Antropologia Interpretativa
• Antropologia Crítica ou Pós-Moderna
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Nesta unidade, nos debruçaremos sobre as principais teorias que
permitem compreender a dimensão cultural da vida humana;
· Compreender como se formam e se transformam distintas cultura;
· Compreender as práticas culturais que nos cercam em nosso cotidiano;
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE As Teorias Antropológicas da Cultura
As Teorias da Cultura
As teorias antropológicas servem de ferramentas para a aplicação do estudo em
Antropologia, ciência social cujo objetivo é o estudo do Homem e de suas obras.
Nesse contexto, as teorias antropológicas servem diretamente à compreensão das
diversas formas de manifestação cultural em distintas organizações sociais humanas.
1. Novo mundo é um dos nomes dados ao hemisfério ocidental, mais especificamente ao continente americano. O
termo tem suas origens no final do século XV, em razão da descoberta da América por Cristóvão Colombo.
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Igual importância teve o “Difusio-
nismo”, que buscava a explicação do
desenvolvimento cultural a partir do
processo de difusão de elementos cul-
turais de um sistema para outro. Essa
corrente teórica se dividiu em duas: a
corrente britânica e a alemã. Na britâ-
nica, acreditava-se que haveria apenas
um centro cultural, que seria o Egito. Já
a corrente alemã propunha que existi-
riam mais círculos difusores de cultura.
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UNIDADE As Teorias Antropológicas da Cultura
Evolucionismo Cultural
Com o incremento das navegações no séc. XVIII, resultado do avanço do
comércio ultramarino, o transporte de produtos agrícolas e riquezas minerais entre
territórios coloniais na América, África e Ásia e a Europa, a civilização europeia
pode ter maior contato com povos que até então desconhecia, conhecendo assim
práticas religiosas, hábitos cotidianos e comportamentos sociais completamente
diversos dos seus.
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Figura 3 – Exploradores europeus
Fonte: iStock/Getty Images
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Utilizando esses critérios, o cruzamento inter-racial, a miscigenação, levaria à
degeneração das espécies, enquanto sua perpetuação seria garantida pela valoriza-
ção das raças2 “puras”, ou seja, intocadas pela miscigenação.
2. Vale ressaltar que na atualidade a palavra raça caiu em desuso na comunidade científica quando correspondente aos
diferentes grupos humanos. A ideia de etnia é um conceito diferente da noção social de raça, usada até a metade do
século XX, e abrange mais aspectos culturais.
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UNIDADE As Teorias Antropológicas da Cultura
Difusionismo
O difusionismo se desenvolveu, na An-
tropologia, como uma violenta resposta aos
pressupostos teóricos do evolucionismo.
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O conceito de áreas culturais, uni-
dades geográficas identificadas como
polos difusores de elementos culturais,
é produto da influência que a escola
britânica exerceu sobre o pensamento
antropológico nos Estados Unidos.
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UNIDADE As Teorias Antropológicas da Cultura
Não que estudos comparativos não pudessem ser feitos entre distintas cultu-
ras, ou mesmo que não se pudesse identificar uma origem comum para ambas.
O que Boas propunha era um processo indutivo que identificasse as relações
que possibilitariam a comparação, para o então estabelecimento das conexões
históricas pertinentes.
Para Boas, o mesmo fenômeno tem sentidos variados em cada cultura. Sendo
assim, o fato de ocorrências semelhantes serem identificadas em distintas culturas
não constitui prova de uma origem comum.
Consequentemente, não havendo uma única origem cultural, não se pode falar
em cultura, senão em culturas. Ou seja, cada cultura teria sua própria história; não
uma cultura humana universal e originária, como pressupunham os evolucionistas
e até mesmo parte dos difusionistas.
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Figura 9 – Múmia do período Inca
Fonte: iStock/Getty Images
Funcionalismo
Uma das mudanças mais significativas para a determinação do fracasso
explicativo do evolucionismo foi o abandono dos relatos de cronistas viajantes e
congêneres como base informativa para estudos antropológicos e a adoção de
métodos de pesquisa de campo.
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Para empreender esses estudos, o antropólogo necessitaria de um rigoroso
procedimento metodológico. Dada a complexidade dos objetos da antropologia,
a importação pura e simples dos métodos das ciências da natureza e das ciências
formais não resolveria, seria necessário criar novos métodos para as nascentes
Ciências Humanas.
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Os Problemas do Relativismo
Comparativamente ao evolucionismo, o funcionalismo permitiu a adoção de
uma postura diversa daquela de superioridade entre o estudioso e a cultura estudada.
O desdobramento dessa postura consiste no relativismo, que por sua vez distancia
o investigador dos questionamentos valorativos sobre os nativos, que passam a ser
meros comunicadores de suas práticas culturais.
Normas e valores, para os relativistas, não devem ser objeto de nenhuma ordem
de questionamento e a postura do antropólogo em campo, portanto, é a de mero
coletor e analista de informações.
3. Casamento entre indivíduos pertencentes a grupos étnicos – raciais distintos. Ex.: quando um índio se casa com um
português, isso é um exemplo de casamento exogâmico. Essa alusão até melhora o entendimento de atos mais duros,
como o estupro, por exemplo. Identificando e não justificando.
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Figura 11 – Representação de apedrejamento por adultério
Fonte: iranian.com
Ainda hoje essa postura consiste num problema: parte dos cientistas humanos
defendem se tratar, as práticas de violência acima descritas, como práticas culturais.
Sendo assim, qualquer tentativa de universalização de valores (incluindo a liberdade,
a igualdade, o direito à vida e à inviolabilidade do corpo) seria um atentado contra
a autonomia cultural. Outra parte significativa, defende que alguns valores devam
ser universalizados.
Ocorre que, da mesma forma, sociedades que historicamente foram compreen-
didas como civilizadas também são portadoras de culturas violentas e que atentam
contra direitos básicos. Vide o histórico de guerras religiosas, intolerância, torturas,
execuções em fogueiras e enforcamentos que atravessa a história do cristianismo
na Europa. Vide a violência com que negros são tratados pela polícia nos Estados
Unidos hoje, citando só alguns, para não nos demorarmos nas incontáveis pos-
sibilidades de exemplos que demonstram que culturas de ódio e intolerância são
também fenômenos universais.
Importante pergunta a ser feita é: reconhecido o direito à autonomia cultural e a
necessidade de se relativizar valores, não seria necessário universalizar a liberdade,
a igualdade, o direito à vida e à inviolabilidade do corpo?
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Estruturalismo
O antropólogo, professor e filósofo francês
Claude Levi-Strauss (1908-2009) foi o fundador
da chamada Antropologia Estrutural, corrente que
se conformou a partir de seus estudos sobre os
povos indígenas do Brasil. Durante o período em
que aqui permaneceu, integrou a missão francesa
que teve como objetivo estruturar as áreas de
Ciências Humanas da recém-criada Universidade
de São Paulo, no período que se estendeu
de 1935 a 1939. Durante esses quatro anos,
estudando aspectos sobre a língua, costumes e
lendas de povos indígenas, coletou os dados que
permitiram criar uma nova teoria antropológica,
elaborada e apresentada entre o final da década Figura 12 – Claude Levi-Strauss
de 1940 e início de 1950. Fonte: Wikimedia Commons
O impacto de sua teoria foi responsável por uma “revolução intelectual” e que
consistiu na aplicação do método estruturalista ao conjunto dos fatos humanos
de natureza simbólica. Isso possibilitou ao antropólogo estudar o “pensamento
selvagem”, e não o “pensamento do selvagem”. Não se trata de mero jogo de
palavras ou de uma mudança insignificante, senão na subversão completa do
enfoque das pesquisas antropológicas realizadas até ali. Ou seja, Lévi-Strauss deixou
de fazer a distinção do funcionamento mental entre os povos primitivos e os povos
europeus, para afirmar que o “pensamento selvagem” poderia ser encontrado em
cada um de nós.
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Sem se preocupar com as diferenças, os estudos
de Lévi-Strauss colaboraram na relativização entre
povos e culturas, estreitando seus laços pela via da
aceitação do diverso exatamente porque, para ele, as
diferenças entre os povos não constituíam o objeto
central de interesse antropológico.
Antropologia Interpretativa
A chamada Antropologia Interpretativa é também conhecida por Antropologia
Hermenêutica. As suas origens são recentes e rementem aos estudos empreendidos
pelo antropólogo estadunidense Clifford Geertz (1926-2006). Uma das novidades
mais interessantes dessa vertente é a maneira como direciona o olhar para as
culturas estudadas, buscando percebê-las como textos. Textos esses que devem ser
lidos e interpretados.
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As bases teóricas de Geertz estão fincadas nas ideias de Max Weber (1864-
1920), sociólogo alemão, que acreditava que o ser humano está amarrado em teias
de significado. Em suas palavras o autor diz o seguinte:
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Antropologia Crítica ou Pós-Moderna
Ainda em pleno desenvolvimento, a corrente antropológica denominada como
crítica ou pós-moderna surge nos anos 1980 como uma forma de contraposição
das ideias vigentes dentro da Antropologia, tanto em suas linhas mais gerais, quanto
nas questões de cunho metodológico. Essa corrente foi fortemente influenciada
pelo pensador francês Michel Foucault, justamente por criticar os polos de poder
verificados na Antropologia.
No debate proporcionado por essa vertente, surge uma crítica aguda ao discurso
científico antropológico. Emerge daí a ideia de que a realidade é uma interpretação
e que essa interpretação é subjetiva, ou seja, caberia ao próprio pesquisador dar a
sua interpretação da realidade estudada. Com isso se quer dizer que a Antropologia
seria uma interpretação de outras tantas interpretações. Outra ideia marcante
é a busca por estudar o discurso contido em estudos já realizados, isso trouxe
uma possibilidade de que se pudesse entender como a Antropologia formava os
seus quadros dentro dos ditos países (Europa, EUA), revelando com isso a teia de
discursos e posições defendidas.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
O nascimento da Antropologia Americana e o Difusionismo
O nascimento da Antropologia Americana e o Difusionismo: Franz Boas como
protagonista. Está disponível no site Nações do Mundo, disponível no link:
https://goo.gl/DZwF3e
Difusionismo e Evolucionismo
FONSECA, Dilaze Mirela; PACHECO, Marina Rute. Difusionismo e Evolucionismo.
Texto presente no site, disponível no link:
https://goo.gl/6sCRVy
História e Etnologia
SCHWARCZ, Lilia K. Moritz. História e Etnologia: Lévi-Strauss e os embates em
região de fronteira. Texto está no portal Scielo, disponível no link
https://goo.gl/ucxdG6
Filmes
Queimada
dir.: Gillo Pontecorvo, Itália / França, drama, colorido, 1969.
Dança com lobos
dir.: Hector Babenco, EUA, drama, colorido, 1991.
Brincando nos campos do senhor
dir.: Kevin Costner, EUA, drama, colorido, 1990.
O Último dos Moicanos
dir.: Michael Mann, EUA, drama, colorido, 1992.
1900: Homo Sapiens
dir.: Peter Cohen, Suécia, drama, colorido, 1999.
O povo brasileiro
dir.: Isa Grinspum Ferraz, Nrasil, documentário, colorido, 2000.
Filmes antropológicos
Filmes antropológicos na plataforma VIMEO desenvolvidos pela pesquisadora e
professora Rose Satiko Hikiji do departamento de Antropologia da USP:
https://goo.gl/ro6IZu
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Referências
ARENDT, Hanna. La crise de la culture: Huit exercices de pensée politique,
tradução do inglês sob a direcção de Patrick Lévy. Paris: Gallimard, 1972
DURING, Simon (Ed.). The cultural studies reader. London: Routledge, 2007.
ELIOT, T.S. Notas para a definição de Cultura. Lisboa: Século XXI, 1996.
ELLIOT, Hugh. Herbert Spencer. London: Constable and Company, Ltd., 1917
FRANCIS, Mark. Herbert Spencer and the Invention of Modern Life. Newcastle:
Acumen Publishing, 2007.
HALL, Stuart; GAY, Paul du. Questions of cultural identity. London: s/ed., 1996
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