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LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE

LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM


2ª Edição

A.'.R.'.L.'.S.'.M.'. FRATERNIDADE E PAZ Nº 4


Jurisdicionada ao Gr.'. Or.'. da Franco Maç.'. Mista do Sul do Brasil
Ao Or.'. de Pelotas, Abril de 2014 E.'.V.'., 6014 V.'.L.'.
Este livro é dedicado a todos os homens e mulheres que,
empenhados no trabalho desinteressado em prol da
humanidade, compreenderam que só por meio do
autoconhecimento e do aprimoramento de si próprio,
poder-se-á realizar o destino luminoso do Homem, qual
seja, realizar-se como Ser Divino.

PROFANO: AFASTA-TE DESTE LIVRO! SE TUA


CURIOSIDADE LEVOU-TE A CONSEGUI-LO,
LEMBRA-TE QUE APENAS AQUELES
PREPARADOS PODEM DELE CONSEGUIR
CONHECIMENTO E AJUDA. O PROFANO SÓ
PODERÁ ENCONTRAR AQUI A SUA PERDIÇÃO!
Estandarte da A.'.R.'.L.'.S.'.M.'. Fraternidade e Paz Nº 4
Fundada em 22 de Setembro de 2012
Jurisdicionada ao Gr.'. Or.'. da Franco Maç.'. Mista do Sul do Brasil
LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

SAUDAÇÕES FRATERNAIS QUERIDO IRMÃO

S.'. F.'. U.'.

Hoje ingressas nas fileiras da Franco-Maçonaria, tornando-te membro desta Ordem tão
antiga e sobre a qual muito o mundo profano fala, com misto de respeito, preconceito e mistério.
Neste momento os Obreiros da Aug.'. e Resp.'. Loj.'. Simb.'. Mist.'. Fraternidade e Paz Nº 4 dão-te
as boas-vindas à nossa Oficina, representados pela pessoa de seu Venerável Mestre.
Começas agora uma nova vida, como Aprendiz Maçom, gestado que fostes dentro da
Tumba, Ovo ou Útero que é a Câmara de Reflexões, durante a Iniciação ao Grau de Aprendiz.
Como dizem os Evangelhos, “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na
terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.” (João 12:24). Deixastes para trás tua
vida mundana, para a qual morrestes, para renascer um novo homem comprometido com os
elevados ideais éticos da Maçonaria Universal.
Teu caminho dentro de nossa Ordem é longo e deve ser pautado pela Vontade e Sigilo, como
diz o lema: “Saber, querer, ousar e calar”. Terás ao teu lado o Venerável Mestre, responsável que é
pela Instrução de todos os Obreiros da Loja, assim como a orientação do Irmão 2º Vigilante,
responsável pela Instrução dos Aprendizes. Ao Irmão 2º Vigilante deverás reportar-te em caso de
qualquer dúvida e a ele, quando findo o tempo de estudo como Aprendiz Maçom, deverás solicitar
aumento de salário. Teus três anos de idade representam a tua inexperiência na nossa Augusta
Ordem, assim como o tempo simbólico que deves esperar para pedir aumento de salário. Ao
Aprendiz não é dado o direito da fala, pois ele humildemente deve primeiro estudar e prepara-se
para sua Exaltação ao Grau de Mestre Maçom, quando então terá plenamente desenvolvido o poder
do Verbo.
Percebe querido Irmão que a escolha do nome de nossa Oficina, Fraternidade e Paz, já
encerra para ti a primeira Instrução, qual seja, a busca pela fraternidade dentro de nossa Egrégora, o
trabalho caritativo e a luta pela paz para a humanidade, a Glória do Grande Arquiteto do Universo.
Este livro, de uso exclusivo dos membros de nossa Oficina, pretende ser um manual de
consulta e será fonte de conhecimento e instrução para ti nesta tua caminhada como Aprendiz
Maçom. Estuda-o com vigor, afinco e dedicação. Tenha em mente sempre o lema maior de nossa
Ordem: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Trabalhamos pela liberdade e pela igualdade de
direitos de todos os homens, buscando a justiça social, para construir uma Grande Fraternidade
Universal.

Tr.'. e Frat.'. Abr.'.

Ven.'. Mestr.'.
Aug.'. e Resp.'. Loj.'. Simb.'. Mist.'. Fraternidade e Paz Nº 4

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 11
GLOSSÁRIO DE ABREVIATURAS MAÇÔNICAS.......................................................... 13
O QUE É A MAÇONARIA?................................................................................................... 15
UMA PROPOSTA DE INSTRUÇÃO MAÇÔNICA............................................................ 18
MOVIMENTAÇÃO E POSTURA EM LOJA...................................................................... 19
BATERIA, ACLAMAÇÃO, TOQUE E PALAVRA............................................................. 20
TROLHAMENTO................................................................................................................... 21
TERMINOLOGIA MAÇÔNICA........................................................................................... 22
HISTÓRIA, LEGISLAÇÃO E ÉTICA MAÇÔNICA.............................................. 23
HISTÓRIA DA FRANCO-MAÇONARIA............................................................................ 25
O ORDENAMENTO LEGAL MAÇÔNICO - ÉTICA E MORAL.................................... 29
AS VIRTUDES MORAIS....................................................................................................... 31
A MAÇONARIA MISTA NO RIO GRANDE DO SUL....................................................... 32
SIMBÓLICA MAÇÔNICA............................................................................................... 35
SÍMBOLO, ALEGORIA E SIMBOLISMO.......................................................................... 37
A INICIAÇÃO......................................................................................................................... 38
A CÂMARA DE REFLEXÕES.............................................................................................. 40
AS VIAGENS DO APRENDIZ.............................................................................................. 42
O SINAL DE APRENDIZ....................................................................................................... 46
AS FERRAMENTAS DO APRENDIZ.................................................................................. 47
O AVENTAL DO APRENDIZ................................................................................................ 49
O DELTA LUMINOSO........................................................................................................... 50
OS CARGOS EM LOJA......................................................................................................... 52
OS TRÊS PILARES................................................................................................................ 54
A CORDA DE 81 NÓS............................................................................................................ 55
O PAINEL DO GRAU DE APRENDIZ................................................................................. 57
GEOMETRIA SAGRADA..................................................................................................... 58
O SIGNIFICADO DO TEMPLO MAÇÔNICO................................................................... 60
A CABALA JUDAICA............................................................................................................ 63
LEITURA COMPLEMENTAR....................................................................................... 67
A TÁBUA DE ESMERALDA................................................................................................. 69

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

O DISCURSO DE PIMANDRO............................................................................................. 70
DUAS ORAÇÕES PARA ALQUIMISTAS........................................................................... 74
LEITURAS RECOMENDADAS........................................................................................... 75

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

INTRODUÇÃO

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

GLOSSÁRIO DE ABREVIATURAS MAÇÔNICAS

A.'.G.'.D.'.G.'.A.'.D.'.U.'. - A Glória do Grande Arquiteto do Universo


A.'.R.'.L.'.S.'.M.'. - Augusta e Respeitável Loja Simbólica Mista
AApr.'. - Aprendizes
Apr.'. - Aprendiz
Apr.'. M.'. - Aprendiz Maçom
Aug.'. e Resp.'. Loj.'. Simb.'. Mist.'. - Augusta e Respeitável Loja Simbólica Mista
Bal.'. - Balaústre
Cad.'. de Un.'. - Cadeia de União
CCol.'. - Colunas
CComp.'. - Companheiros
Chan.'. - Chanceler
Cob.'. - Cobridor
Cob.'. Ext.'. - Cobridor Externo
Cob.'. Int.'. - Cobridor Interno
Col.'. - Coluna
Col.'. do N.'. - Coluna do Norte
Col.'. do S.'. - Coluna do Sul
Comp.'. - Companheiro
Comp.'. M.'. - Companheiro Maçom
DDiac.'. - Diáconos
Diac.'. - Diácono
E.'.V.'. - Era Vulgar
Exp.'. - Experto
G.'.A.'.D.'.U.'. - Grande Arquiteto do Universo
G.'. do T.'. - Guarda do Templo
Gr.'. - Grau
Gr.'. Mestr.'. - Grão Mestre
Gr.'. Or.'. - Grande Oriente
Hosp.'. - Hospitaleiro
IInstr.'. - Instruções
IIr.'. - Irmãos
IIrm.'. - Irmãos
Inic.'. - Iniciação
Instr.'. - Instrução
Ir.'. - Irmão
Irm.'. - Irmão
L.'. da L.'. - Livro da Lei
Loj.'. - Loja
M.'.I.'.C.'.T.'.M.'.R.'. - Meus Irmãos Como Tal Me Reconhecem
M.'.M.'. - Mestre Maçom
Mest.'. de CCer.'. - Mestre de Cerimônias
Mestr.'. - Mestre
Mestr.'. de Harm.'. - Mestre de Harmonia
MM.'.MM.'. - Mestres Maçons
MMestr.'. - Mestres
Obr.'. - Obreiro

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

Ofic.'. - Oficina
OObr.'. - Obreiros
Or.'. - Oriente; Ordem; Orador
Orad.'. - Orador
Pal.'. de P.'. - Palavra de Passe
Pal.'. S.'. - Palavra Sagrada
Pran.'. Tr.'. - Prancha Traçada
S.'.F.'.B.'. - Sabedoria, Força, Beleza
S.'.F.'.U.'. - Saúde, Força, União
Sac.'. de PProp.'. e IInform.'. - Saco de Propostas e Informações
Sec.'. - Secretário
Secr.'. - Secretário
T.'. A.'. - Três Anos
T.'. e P.'. - Toque e Palavra
T.'.F.'.A.'. - Tríplice e Fraternal Abraço
Temp.'. - Templo
Tes.'. - Tesoureiro
Tr.'. de Ben.'. - Tronco de Beneficiência
Tr.'. de Solid.'. - Tronco de Solidariedade
Tr.'. e Frat.'. Abr.'. - Tríplice e Fraternal Abraço
Trab.'. - Trabalho
TTrab.'. - Trabalhos
V.'.S.'.P.'.T.'.V.'.T.'. - Vos Saúda Por Três Vezes Três
Ven.'. - Venerável
Ven.'. Mestr.'. - Venerável Mestre
Vig.'. - Vigilante
V.'.L.'. - Ano da Verdadeira Luz
VVig.'. - Vigilantes

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

O QUE É A MAÇONARIA?

Uma das características marcantes do Homem é o desejo pelo aperfeiçoamento pessoal,


tanto espiritual quanto cultural. Junto com esta tendência surge também o desejo de ser útil à
coletividade. Isso provoca naturalmente a busca por alguma associação ou sociedade iniciática.
Sentem-se as pessoas naturalmente atraídas pelos aspectos simbólicos presentes na Maçonaria, e
também pelo trabalho filantrópico feito por ela. No entanto, devemos advertir que a Maçonaria não
é simplesmente uma sociedade filantrópica, nem uma sociedade esotérica e mística. A Maçonaria
reveste-se de características próprias que a diferenciam do trabalho feito por outras sociedades
fraternais.
O nome da Maçonaria deriva, provavelmente, do francês “Maçonnerie”, que denota uma
construção qualquer, feita por um pedreiro, o “Maçom”, pedreiro-livre, o construtor que trabalha
para edificar a construção. Segundo uma antiga ordenança, “A Maçonaria é uma instituição
universal ... Todos os maçons constituem uma e a mesma família e dão-se o tratamento de irmãos,
sendo iguais perante a lei … A Maçonaria estende a todos os homens os laços fraternais que unem
os maçons sobre a superfície do globo”. Assim, a Maçonaria rompe com quaisquer concepções de
fronteiras e nacionalidades, acreditando que todos os homens são irmãos, independente de serem ou
não maçons.
A Maçonaria é uma organização apolítica, não envolvendo-se em assuntos políticos ou
religiosos, como diz a Constituição de Anderson: “Portanto, quaisquer pendências ou querelas
acerca de religião, cidadania ou política não devem ser conduzidas para dentro das portas das
Lojas”. Ela é uma fraternidade adogmática, iniciática e simbólica que fundamenta-se em tradições
místicas e esotéricas, resgatando e restaurando o simbolismo das Escolas de Mistérios da
antiguidade. A Maçonaria dedica-se, discreta e sigilosamente, ao desenvolvimento cultural, moral e
espiritual da humanidade. Ela é uma fraternidade universal, cujo método de aprendizado faz um
ênfase no estudo pessoal e no auto-aprimoramento, buscando a evolução do Homem enquanto Ser
Espiritual, junto com uma melhoria da sociedade, por meio de envolvimento em atividades
educacionais, culturais e filantrópicas.
A Maçonaria investiga o mundo e o Homem por meio da razão, na busca da VERDADE.
Como diz a máxima maçônica: “MAGMA EST VERITAS ET PRAEVALABIT” (“A Verdade é
superior e ela prevalecerá”).
A Maçonaria é definida, muito propriamente, como “um sistema de moral velado por
alegorias e ilustrado por símbolos”. As alegorias e símbolos são representações e explicações das
grandes questões filosóficas nas quais a humanidade sempre esteve envolvida: “De onde viemos?”;
“O que somos?”; “Qual o sentido da existência?”; “Para onde vamos?” etc. Assim, a Maçonaria é
Ciência em seu aspecto mais profundo e filosófico, partindo da premissa que Homem e Natureza
são uma única unidade, e buscando sua aplicação prática na ética humana e na evolução espiritual
da humanidade.
A Maçonaria não é uma Religião! Por que? Porque, diferente das religiões, embora faça seus
trabalhos A.'.G.'.D.'.G.'.A.'.D.'.U.'., não possui uma mensagem salvacionista. O Maçom faz o Bem
porque assim o quer, independente de alguma recompensa ou castigo futuro. Devemos nos lembrar
o que nos fala a filosofia, que sem Deus não há o Bom e o Bem. Assim, independente da religião ou
credo do Maçom, exige-se dele que acredite no G.'.A.'.D.'.U.'. e na sobrevivência da Alma, que é
imortal.
Maçonaria é construir o Homem, como um edifício completo. O trabalho com a Pedra Bruta
é exatamente a auto-construção deste Homem como um Ser Espiritual completo. O Maçom tem o
compromisso de lutar pela justiça, pela paz e pela compreensão entre os povos.
A principal ferramenta e o método fundamental do Maçom para efetivar seu trabalho é a

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

razão. O Maçom luta contra a ignorância e a cegueira e rejeita o fanatismo estéril que a tudo destrói.
Ele conhece suas potencialidades e seus defeitos. Conhece-se profundamente, seguindo a máxima
inscrita por Sócrates no Templo de Delfos: “NOSCE TE IPSUM” (“Conhece-te a ti mesmo”). Ao
conhecer-se a si mesmo, o Homem, liberto das amarras da vaidade e do egoísmo, compreende o
Mundo, a Natureza e a função de todas as coisas, pois o Mundo é o reflexo do Homem. Este é o
verdadeiro Mestr.'. M.'., pleno de sabedoria e compreendendo os aspectos mais profundos da
criação, onde encontra Deus, o G.'.A.'.D.'.U.'.
A Maçonaria possui um terrível segredo, divino em sua origem, desconhecido pelos
profanos e perdido pelos que se dizem maçons. O Segredo Maçônico jaz oculto no interior do
próprio Homem. Ele não é um segredo tangível ou material, mas sim espiritual, iniciático e
construtivo. O Segredo Maçônico é a chave para decodificar o Universo e compreender a existência
humana. Um Segredo incomunicável por palavras, mas que foi objeto de busca por inúmeras
escolas de mistério da antiguidade, e que segue sendo o Santo Graal da Maçonaria Universal. Uma
vez que o maçom compreenda que ele próprio é a chave que decodifica todos os símbolos, percebe
que deve preparar-se para esta “revelação” dos símbolos. Assim, o maçom dedica-se à “arte de
construir”. Como dizem as escrituras: “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra
angular. ” (Salmos 118:22). Mas o que o maçom constrói não é outra coisa senão ele próprio,
tomando a matéria prima impura e tornando-a pura e adequada a essa construção.
Segundo o grande Maçom e Rosacruz Jorge Adoum (Mago Jefa): “Nenhum ser tem o direito
de chamar-se de 'Maçom' porque ser maçom é ser Super-Homem iluminado, que segue o caminho
da Verdade e da Virtude, fazendo delas carne de sua carne, sangue de seu sangue, vida de sua vida.”
Segue o grande escritor Maçom: “O grande objetivo da Maçonaria é o despertar do poder latente
que se acha em cada ser, e converter o homem em Deus consciente de sua divindade sem limitações
e dúvidas. O Maçom tem que trabalhar inteligentemente para o bem dos demais. Seu esforço tem
que ser dedicado ao progresso universal. Deve ajudar o Grande Arquiteto do Universo em sua
Obra.”
Ninguém conseguiu melhor que Fernando Pessoa definir o Segredo Maçônico em versos:

“O verdadeiro Segredo Maçônico...

É um segredo de vida
e não de ritual
e do que se lhe relaciona.
Os Graus Maçônicos comunicam àqueles que os recebem,
sabendo como recebe-los,
um certo espírito,
uma certa aceleração da vida
do entendimento
e da intuição,
que atua como uma espécie
de chave mágica dos próprios símbolos,
e dos símbolos
e rituais não maçônicos,
e da própria vida.
É um espírito,
um sopro posto na Alma,
e, por conseguinte,
pela sua natureza,

...incomunicável.”

A Maçonaria tem uma história profana e outra secreta, ou seja, um aspecto exterior e outro

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

interior. O aspecto exterior é para os profanos, o interior para os Verdadeiros INICIADOS que estão
capacitados a recebe-lo. A Maçonaria Mística (de misto, secreto ou mudo, mas também significando
sagrado) é essencialmente iniciática e cujo segredo não pode ser transmitido por palavras. A
PALAVRA PERDIDA é buscada pela humanidade desde os mais antigos tempos, e ela significa a
queda espiritual do Homem, representada na alegoria bíblica da expulsão de Adão e Eva do Paraíso.
A Palavra Perdida só pode ser reencontrada no mais profundo âmago do Homem, por isso ela não
pode ser dita ou transmitida. Sua mais próxima descrição é a PAZ INTERIOR.
A busca pela Palavra Perdida foi obra que envolveu todas as Escolas de Mistério e
Instituições Secretas do passado: China; Índia; Egito; Caldéia; Grécia (Escola Pitagórica e
Platônica); Cabala Judaica; Alquimia Medieval; Hermetismo Islâmico; Rosacrucianismo; e,
finalmente, a Maçonaria Oculta ou Mística.
O objetivo da Maçonaria é resgatar o Homem de seu estado caído, e leva-lo novamente ao
seu estado divino original, como diz a máxima maçônica: “O HOMEM É MUITO MAIS UM
DEUS CONVALESCENTE QUE UM BRUTO EM ASCENÇÃO”.
Segundo Jorge Adoum: “A Verdadeira Maçonaria e sua história respondem à pergunta que
preocupa a mente de todo ser que vem ao mundo, a que é a seguinte: ' De onde viemos?' … Do
NADA NÃO VEM NADA; e como eu existo? Logo, EU SOU eterno ... Então a história da
Maçonaria está no que diz São Paulo: 'Nele vivemos, nos movemos e temos o ser'. E no que diz
Maomé: 'Dele viemos e a Ele temos que voltar'. Ou no que diz Jesus: 'Vós estais em mim, eu em
vós e todos no Pai' … De onde viemos? De Deus, Onde Estamos? Em Deus. Aonde vamos? A
Deus.”
Como afirmou o Grande Sábio da Galiléia, sobre a Verdade que se oculta dentro de nosso
âmago: “EU SOU é o Caminho, a Verdade e a Vida.”

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

UMA PROPOSTA DE INSTRUÇÃO MAÇÔNICA

Uma instrução não deve condicionar, mas sim ser a base para questionamentos e a busca de
respostas, e oferecer os elementos que cada um seguirá segundo sua vocação e capacidades. A
Maçonaria não possui dogmas, deixando ao buscador a tarefa de fazer-se as perguntas certas e
procurar as respostas, tarefa na qual será orientado pelos IIrm.'. mais experientes. De acordo com
Huberto Rohden: “Ninguém pode educar alguém. Alguém só pode educar-se a si mesmo. A
verdadeira educação é essencialmente intransitiva, ou reflexiva, subjetiva.”
A Tradição da Maçonaria nos apresenta a alegoria fundamental do Gr.'. de Apr.'. M.'., qual
seja, que devemos TALHAR A PEDRA BRUTA, para edificar o Templo que somos nós mesmos
(veja Figura na página 45). Ao Apr.'. foi dada a LUZ, pois vivia nas trevas e não sabia. Recuperada
a visão espiritual na INICIAÇÃO, que é interna e pessoal, deve o Apr.'. trabalhar na Ofic.'.
A.'.G.'.D.'.G.'.A.'.D.'.U.'. e em favor de toda a humanidade.
A Instr.'. do Apr.'. M.'. deve cobrir quatro dimensões, quais sejam:

1. Legislação maçônica, ética e moral


2. Ritualística
3. Simbólica Maçônica
4. Maçonaria Mística e Hermética

No entanto, concentrar-nos-emos, neste livro, em apresentar legislação maçônica, ética e


moral, e a simbólica maçônica referente aos símbolos e alegorias relacionados com o Apr.'. M.'. e a
Inic.'. ao Gr.'. de Apr.'. Para aprofundamento nos assuntos relativos à legislação maçônica e
ritualística, indicamos a leitura e estudo do Regulamento Geral e do Rito de Aprendiz Maçom do
Gr.'. Or.'. da Franco Maç.'. Mista do Sul do Brasil. Ficam os demais assuntos reservados para serem
estudados em profundidade em outros TTrab.'. A Instr.'. dos AApr.'. da Loja é responsabilidade do
Irm.'. 2º Vig.'., a quem o Apr.'. deve reportar-se em qualquer dúvida.
Os objetivos da instrução do Apr.'. M.'. são: Promover o aprimoramento moral, social,
intelectual e cultural do Apr.'. pelo estudo dos princípios, doutrinas e objetivos da Ordem, e o
desenvolvimento das individualidades; promover o despertar, ou o desenvolvimento, do prazer da
leitura e da especulação; proporcionar ao Apr.'. a oportunidade de entender a si mesmo e ao mundo;
incentivar a execução organizada de atividades segundo uma estrutura lógica de pensamento;
incentivar o espírito de pesquisa, inquiridor e de procura da Verdade adogmaticamente; incentivar o
desenvolvimento de modos e meios de expressão; preparar o Apr.'. para o trabalho associativo.
Os elementos da Instr.'. do Apr.'. M.'. baseiam-se no Trab.'. sobre a Pedra Bruta. A Pedra
Bruta deve ser transformada em Pedra Cúbica (muitos textos maçônicos referem-se a ela como
Pedra Polida, no entanto, a expressão “Pedra Cúbica” é mais correta), e este é um trabalho de
auto-aperfeiçoamento. Para isso devemos nos desembaraçar de nossa imperfeições e caminhar para
a perfeição. O princípio fundamental da Franco-Maçonaria é a LEI DO AMOR que inclui a
TOLERÂNCIA e a FRATERNIDADE.
A Instr.'. dos AApr.'. da Loja são efetivadas por meio de TTrab.'. em Loja, que envolvem a
participação obrigatória nos rituais, para manter a regularidade maçônica, a apresentação de Peças
de Arquitetura, e o estudo de textos indicados (consulte a página 75).
A Instr.'. do Apr.'. M.'. está centrada no seu desenvolvimento individual, no fortalecimento
de sua disciplina, na compreensão do simbolismo maçônico do Gr.'. de Apr.'. e no desenvolvimento
de um comportamento ético e moral, adequando-o aos estudos posteriores, a serem feitos nos graus
de Comp.'. e Mestr.'.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

MOVIMENTAÇÃO E POSTURA EM LOJA

A postura corporal em Loja deve ser desenvolvida pelo Apr.'. Quando em pé, estando em
Ordem, deve o Maçom manter-se em perfeito alinhamento com as pernas retas e juntas e as costas
na vertical. Fica-se “em Ordem”, respondendo ao chamado do Ven.'. Mestr.'., “de pé e à Ordem
meus IIrm.'.” ou “a mim, meus IIrm.'.”, com a mão direita sobre a garganta e o braço direito na
horizontal, em perfeito esquadro com o corpo, a mão com o polegar afastado fazendo esquadro com
os outros dedos que ficam juntos, palma da mão para baixo, com o polegar apontado para a
garganta, o braço esquerdo solto ao lado do corpo. Os pés devem estar em esquadro, com os
calcanhares juntos. Descarrega-se o sinal movendo a mão direita até o ombro direito e baixando-se
em paralelo ao corpo até que a mão esteja solta no lado direito do corpo.
A postura sentada também deve ser objeto de atenção do Apr.'.:

a) Sentar-se usando o encosto da cadeira, para manter vertical a coluna vertebral (A Col.'. do Temp.'.
Humano);
b) Deixar cair naturalmente os ombros, mantendo os braços ao longo do corpo;
c) Colocar os antebraços e as mãos abertas (palmas para baixo) sobre os joelhos (não cruzar as
pernas!).

Para pedir a palavra, estando a palavra a disposição – Palavra ao Bem da Ordem (seguindo
o protocolo, primeiro no Norte, depois no Sul e finalmente no Or.'.), deve-se solicitar a palavra ao
Ven.'. Mestr.'., batendo com a mão direita no braço esquerdo, levantando, em seguida, o braço
direito a frente do corpo na horizontal. Depois de receber a palavra, em pé, inicia a fala com: “Ven.'.
Mestr.'. (faz o sinal), Irm.'. 1º Vig.'. (faz o sinal), Irm.'. 2º Vig.'. (faz o sinal), Caríssimos e Caros
IIrm.'. (faz o sinal)”. Dirigindo-se ao Ven.'. Mestr.'. diz-se: “Peço permissão para ficar a vontade
(após a permissão, desfaz o sinal e fala)”. Ao final da fala, encerra-se com: “Não tenho nada mais
a declarar (faz sinal e senta)” ou “foram cumpridas Vossas ordens” quando for o caso de estar-se
dirigindo ao Ven.'. Mestr.'. Ao Apr.'. M.'. é vedado fazer uso da palavra, quando da Palavra ao Bem
da Ordem, sendo isso permitido apenas aos MM.'. MM.'. O Apr.'. só fará uso da palavra na
apresentação de Peças de Arquitetura, quando então deverá ficar entre CCol.'.
Na marcha ritual de Apr.'., deve o Apr.'. M.'. esforçar-se por seguir as orientações que
serão dadas pelo Irm.'. 2º Vig.'., que corrigirá sua postura e a forma como deve ser corretamente
feita a marcha. A marcha do Apr.'. é feita com o pé esquerdo a frente, formando um esquadro com o
direito que fica atrás, arrasta para a frente o pé esquerdo, depois arrasta para junto dele o direito.
Este passo deve ser repetido três vezes.
Estando a Loja em sessão, até o encerramento da mesma, os únicos com permissão para
movimentarem-se em Loja são o Mestr.'. de CCer.'., os Diáconos e o Hospitaleiro, que o fazem
sempre circundando o Ocidente em sentido horário. Sempre que necessário a um Cargo da Loja
movimentar-se em sessão, deve faze-lo acompanhado pelo Mestr.'. de CCer.'. Na Entrada
Ritualística e no Cortejo de Saída devem ser observados o protocolo e a ordem com que as Luzes,
Dignitários e Oficiais entram e saem, sendo os AApr.'. MM.'. sempre os primeiros a entrar e os
últimos a sair, a exceção do G.'. do T.'.
Cobrir o Templo é protegê-lo de tal forma que pessoas que estão fora não saibam o que está
ocorrendo dentro dele. Eventualmente será solicitado aos AApr.'. que cubram o Templo,
significando que os AApr.'. devem retirar-se da sessão, por exemplo, quando em Loja de
Companheiro ou Loja de Mestre. O responsável pela cobertura do Templo é o Cob.'. Ext.'.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

BATERIA, ACLAMAÇÃO, TOQUE E PALAVRA

Em resposta ao chamado do Ven.'. Mestr.'., “a mim meus IIrm.'., pelo Sinal, pela Bateria e
pela Aclamação”, os membros da Loja devem executar o Sinal, a Bateria e a Aclamação. A Bateria
do G.'. de Apr.'. é feita com três palmas ou pancadas de igual duração, (!!!). A Aclamação usual,
usada no Rito Escocês Antigo e Aceito, é feita entoando-se, com voz forte, “Huzzé, Huzzé, Huzzé”,
mantendo a mão direita sobre a garganta, com o polegar afastado formando um esquadro com os
outros dedos, e o braço direito na horizontal em esquadro com o corpo, como no sinal de Apr.'.
Segundo alguns estudiosos, “Huzzé”, palavra originada do árabe, Huzza, significando “Viva”, é uma
antiga saudação que era dirigida ao Rei da Inglaterra e da França. No Rito Francês ou Moderno é
usada a Aclamação “Vivat, Vivat, Semper Vivat”. Considera-se que a Aclamação é direcionada ao
G.'.A.'.D.'.U.'. para render-Lhe graças. Em uma visão mística, “Huzzé” é um espécie de mantra, que
deve ser direcionado no sentido do bem.
Os maçons se reconhecem mutuamente usando Sinais, Toques e Palavras. Quando em Loja,
o Toque de Apr.'. deve ser feito tomando-se reciprocamente a mão direita e aplicam-se, com o uso
do D.'. Pol.'., o Tr.'. T.'. sobre a falange do D.'. Ind.'. do interlocutor.
O reconhecimento mútuo entre maçons completa-se fornecendo-se a Pal.'. S.'. do Gr.'. de
Apr.'. M.'., B.'. Esta palavra significa simbolicamente força. A Pal.'. S.'. de Apr.'. deve ser
transmitida silabada, no ouvido esquerdo, pois o Apr.'. ainda não sabe ler e escrever.
O fato dos maçons reconhecerem-se usando Sinal, Toque e Palavra de Apr.'. denota
humildade e afirma que todos somos aprendizes, independente do Gr.'. em que estivermos.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

TROLHAMENTO

Trolhamento (ou telhamento) é o exame de proficiência aplicado, entre CCol.'., a um


visitante de uma Loja maçônica para garantir que seja realmente um maçom.

P: Sois Maçom?
R: M.'.I.'.C.'.T.'.M.'.R.'.

P: De onde vindes?
R: De uma Loja de São João justa e perfeita.

P: Que trazeis?
R: Amizade, paz e prosperidade a todos os irmãos.

P: Nada mais trazeis?


R: O Ven.'. de minha Loja V.'.S.'.P.'.T.'.V.'.T.'.

P: Que se faz em vossa Loja?


R: Edificam-se Templos a Virtude e cavam-se masmorras ao vício

P: Que vindes aqui fazer?


R: Vencer minhas paixões, submeter minha vontade e fazer novos progressos na Maçonaria,
estreitando os laços de fraternidade que nos unem como verdadeiros irmãos.

P: Que desejais?
R: Um lugar entre vos

Este vos é concedido, Irm.'. Mestr.'. de CCer.'., conduzi o(s) irmão(ãos) ao(s) lugar(es) que lhe(s)
compete(m).

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

TERMINOLOGIA MAÇÔNICA

Alfaias – São os adornos, joias e distintivos da Oficina que, nos Ritos e nas cerimônias,
servem para caracterizar virtudes, dignidades e funções.
Altos-Graus – São os graus acima do 3º grau simbólico da Maçonaria.
Aumento de Salário – É a promoção de grau que é concedida ao Irmão por antiguidade,
serviço ou talento.
Avental Maçônico – Peça de vestuário obrigatória para participar de sessão.
Balandrau – Uma túnica preta que é a vestimenta usada em Loja. Ela tem uma função de
implantar a igualdade em Loja, já que serão iguais o rico e o pobre, o homem e a mulher.
Franco-Maçonaria - Associação de Pedreiros Livres.
Grande Arquiteto do Universo – Refere-se ao Criador do mundo material, independente de
religião ou crença pessoal.
Grande Loja – Confederação composta de, no mínimo, três Lojas, que adotam o mesmo
Rito Maçônico.
Grande Oriente – Confederação composta de, no mínimo, três Lojas, podendo adotar mais
de um Rito Maçônico.
Grão Mestre – O chefe máximo de uma Obediência Maçônica ou Grande Loja.
Graus Simbólicos – São os primeiros três graus, os graus de uma Loja Simbólica: Aprendiz;
Companheiro; e Mestre.
Loja – Expressão que tem sua origem no inglês Lodge ou do Francês Loge, denotando
“cabana”, designando o prédio onde os pedreiros medievais reuniam-se para discussões e instruções
aos aprendizes. A Loja também pode ser denominada de “Oficina”. A expressão “Loja” pode tanto
denotar o local onde a Egrégora reúne-se, o Templo, quanto a própria Egrégora. Para que uma Loja
seja justa ela deve ter três Mestres Maçons, e para que seja perfeita deve ter sete.
Loja Simbólica ou Loja Azul - Desenvolve trabalhos nos graus simbólicos: Aprendiz;
Companheiro e Mestre. Também chamada de “maçonaria azul” ou “Loja de São João”.
Loja Filosófica - Desenvolve seus trabalhos nos Altos-Graus ou graus filosóficos,
usualmente do 4º ao 33º no Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA).
Luzes – As Luzes do Templo são o Venerável Mestre, o 1º Vigilante e o 2º Vigilante, que são
as autoridades na condução dos trabalhos. As três Luzes Emblemáticas da Maçonaria são o Livro da
Lei, o Compasso e o Esquadro.
Neófito – É o candidato que recém foi Iniciado e está recebendo suas primeiras IInstr.'.
Assim, o profano apresenta-se na Loja para a sua Iniciação como candidato e torna-se, ao final dela
um Neófito.
Obediência Maçônica - Federação de Lojas trabalhando os três primeiros graus - “corpo”
maçônico.
Ordem Maçônica - Constituída pelos Altos-Graus - “alma” maçônica.
Potência Maçônica – Organismo maçônico de caráter nacional, reconhecido e regular, que
congrega diversas Lojas. Consulte Grande Loja e Grande Oriente.
Rito - Conjunto de rituais que abrangem todos os eventos da vida maçônica. É um conjunto
sistemático de cerimônias e ensinamentos. Alguns dos principais Ritos usados na Maçonaria são:
Rito Escocês Antigo e Aceito; Rito Francês ou Moderno; Rito de York; Rito Adonhiramita; Rito de
Memphis-Misraim; Rito de Schröeder; etc. - “espírito” maçônico.
Supremo Conselho – Instituição Maçônica que congrega Lojas Filosóficas e regula a
outorga dos Altos Graus (graus filosóficos).
Venerável Mestre – Mestre Maçom que preside uma Loja Maçônica, eleito por seus pares.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

HISTÓRIA, LEGISLAÇÃO E ÉTICA MAÇÔNICA

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

HISTÓRIA DA FRANCO-MAÇONARIA

Ninguém sabe com certeza quando e como a Maçonaria foi formada. O mais antigo
documento que faz referência aos maçons é o manuscrito de Regius, impresso ao redor de 1390.
Existe algum consenso entre os estudiosos que ela surgiu a partir das guildas de pedreiros da Idade
Média que construíram as grandes catedrais e castelos medievais. Essas guildas ou corporações
tinham por objetivo defender os interesses econômicos e profissionais dos trabalhadores que dela
faziam parte. Essas organizações estabeleciam tratados em comum, embora suas diferenças
profissionais e geográficas.
Esses trabalhadores organizavam-se em “lojas” (em inglês “lodge”, que significa “cabana”)
que eram espaços onde podiam fazer suas reuniões. Evidências históricas sugerem que estas
oficinas antigas possuíam algum tipo de ritualística, mas não existem documentos históricos que
descrevam esses rituais. Alguns autores acreditam que os graus iniciais da Maçonaria (Aprendiz,
Companheiro e Mestre) sejam herdados das guildas medievais.
Segundo os estudiosos, as guildas operativas passaram, em algum momento, a aceitar a
admissão de membros não operativos ou especulativos, que acabaram desenvolvendo os ideais
morais e espirituais que caracterizam a Ordem, transformando-a em uma fraternidade liberal,
iniciática e simbólica. Esses novos membros ficaram conhecidos como “maçons aceitos”. Este fato
marca a passagem da Maçonaria Operativa para a fase Especulativa.
A Maçonaria sofreu influências diversas, uma das maiores delas dos Rosacruzes, cuja
Fraternidade foi fundada na Alemanha em 1604, tendo sido publicado seu primeiro Manifesto, o
Fama Fraternitatis, em 1614. Anteriormente, com a Ordem dos Templários tendo sido proscrita e
perseguida pela Igreja, muitos Cavaleiros Templários procuraram filiação na Maçonaria, trazendo
com eles seus ideais de Cavalaria. Mas a maioria dos estudiosos concorda que a grande influência
na Maçonaria veio do misticismo judaico, a Cabala. Segundo Leadbeater: “A tradição dos Mistérios
Judaicos é a que tem exercido maior influência em nossa Ordem, e por isso a maioria de nossas
cerimônias e s.'.s.'. se reveste agora de uma forma judaica.”
Entre os mais antigos manuscritos e documentos maçônicos (Old Charges) descrevendo os
deveres do Maçom, legislação maçônica e ritualística, podemos citar: As Constituições de York, de
926; o Poema de Regius, cujos primeiros exemplares circularam já no séc. 13; o Manuscrito de
Cooke, supostamente de 1490; o Manuscrito de Edinburgh Register House de 1696, um dos raros
documentos antigos descrevendo ritualística maçônica; e a Constituição de Anderson de 1723.
Em 1717, quatro lojas em Londres formaram a primeira Grande Loja da Inglaterra, evento
que marca o surgimento da Franco-Maçonaria moderna (Associação de Pedreiros Livres). Pouco
tempo depois, a Igreja condena a Maçonaria, iniciando a perseguição aos maçons, muitos dos quais
foram torturados e queimados nas fogueiras da Inquisição, o que exigiu que a Maçonaria passasse a
atuar em segredo.
Em 1751 surge uma Grande Loja rival em Londres, originalmente formada por maçons
irlandeses que afirmavam que a Grande Loja original havia feito inovações inaceitáveis na
Maçonaria. Eles chamaram a primeira Grande Loja de “os modernos” e chamaram a si próprios de
“os antigos”. As duas Grandes Lojas existiram concomitantemente por 63 anos, sem jamais
reconhecerem-se mutuamente. Finalmente, após quatro anos de negociações, as duas Grandes Lojas
da Inglaterra uniram-se em 1813 formando a Grande Loja Unida da Inglaterra.
A Franco-Maçonaria estabelece-se na França em 1725. A mais antiga obediência maçônica
no mundo é o Grande Oriente de França, fundado em 1728 e que se caracteriza por ser liberal e
adogmático. Foi exatamente a Maçonaria francesa a que mais influência teve na Maçonaria
brasileira. A França foi, nos séculos 18 e 19, o principal palco do esoterismo no mundo, com o

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

surgimento de diversas ordens esotéricas, rosacruzes, herméticas e cabalísticas. Obviamente isso


impactou profundamente a Maçonaria francesa.
Ao longo dos anos que se seguiram à fundação da primeira Grande Loja da Inglaterra, em
1717, a Maçonaria tornou-se popular e espalhou-se pela Europa e Estados Unidos da América, com
a fundação de diversas lojas. No Brasil, a Maçonaria teve início com a chegada de estrangeiros,
assim como com os brasileiros que retornavam de seus estudos na Europa, principalmente nas
universidades de Coimbra e Montpellier. Segundo alguns autores maçônicos relatam, em 1797
surgiu na Bahia a Loja denominada “Cavaleiros da Luz”. A primeira oficina regular reconhecida
pela Grande Loja da Inglaterra foi a Loja “Reunião”, fundada em 1801 no Rio de Janeiro. No Rio
Grande do Sul, a primeira Loja denomina-se “Filantropia e Liberdade”, fundada em 1831. Em
Pelotas, a Maçonaria teve início em 1843, com a fundação da Loja “Protetora da Orfandade”.
A Constituição de Anderson, publicada em 1723 sob os auspícios da Grande Loja da
Inglaterra, e as Landmarks de Albert Mackey, em número de 25, publicadas em 1858 num trabalho
intitulado “Foundations of the Masonic Law”, constituem-se em documentos que, se não tem a
unanimidade entre os estudiosos, marcam o estabelecimento e consolidação da Maçonaria Moderna
e da Legislação Maçônica como a conhecemos hoje. A expressão “Landmark” é retirada de
Provérbios 22:28: “Não removas os marcos antigos que puseram teus pais.” As Landmarks são
consideradas as mais antigas leis da Ordem, embora não hajam evidências históricas para
corroborar esta afirmação. Ao longo da história da Maçonaria, diversas propostas, com número
variável de Landmarks, foram apresentadas. Em 1889, H. B. Grant, de Kentucky, enumerou 54
Landmarks, em artigo publicado no “Masonic Home Journal”. Uma das propostas de Landmarks
mais conhecidas é a de Albert Pike (1809-1891), que possui apenas cinco Landmarks:

1º - A necessidade dos maçons reunirem-se em Lojas;


2º - O governo de cada Loja por um Venerável Mestre e dois Vigilantes;
3º - A crença no Grande Arquiteto do Universo e numa vida futura;
4º - A cobertura dos trabalhos da Loja;
5º - A proibição da divulgação dos segredos da Maçonaria, ou seja, o sigilo maçônico.

Uma das maiores polêmicas com relação à Constituição de Anderson a às Landmarks de


Mackey está na proibição da admissão de mulheres na Ordem. Isso está estabelecido no artigo 18º
da Constituição de Anderson e na 18ª Landmark de Mackey. No entanto, não há evidências da
antiguidade das Landmarks de Mackey ou das leis expressas na Constituição de Anderson. Além
disso, diversos estudiosos afirmam que não havia nenhum preconceito para a admissão de mulheres
nas antigas oficinas operativas da Idade Média. O próprio manuscrito de Regius cita as mulheres
como sendo membros regulares da Ordem: “And love together as sister and brother
In that honest craft to be perfect; And so each one shall teach the other, And love together as sister
and brother.”
Muitas Lojas ao longo da história da Maçonaria admitiram mulheres, mas foi a partir de
1893 com a formação da Ordem “Le Droit Humain” que as mulheres passaram a ser admitidas de
forma regular na Maçonaria. Entre os pioneiros na formulação da Maçonaria Mista estão o Dr.
George S. Martin, conselheiro e inspirador da Ordem “Le Droit Humain” e sua fundadora Maria S.
Deraismes. Nos dias de hoje está havendo um ressurgimento da Maçonaria Mista no Brasil e no
mundo.
Os ritos maçônicos são compostos por procedimentos ritualísticos. Eles são métodos para a
transmissão dos ensinamentos e para a organização das cerimônias maçônicas. No período de 300
anos da Maçonaria Moderna ocorreu o surgimento de inumeráveis ritos. Podemos citar entre os
mais difundidos: Rito Escocês Antigo e Aceito; Rito de York; Rito de Heredon; Rito de Memphis;

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

Rito de Schröder; Rito Adonhiramita; Rito Francês ou Moderno.


No Brasil, o Rito mais difundido é o Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA). O REAA é
anunciado em 1801, após a criação do primeiro Supremo Conselho em Charleston, nos Estados
Unidos da América. Um ano após isso, em 1802, é anunciada a criação do Supremo Conselho dos
Soberanos Grandes Inspetores Gerais, 33º grau do Rito Escocês Antigo e Aceito. Segundo os
historiadores, a chamada “Maçonaria Escocesa” surgiu na França em 1742 e em 1804 foi fundada a
“Grande Loja Escocesa da França do Rito Antigo e Aceito” em Paris, com 18 graus. O Rito
originalmente chamava-se “Rito Escocês Antigo”, e somente após a aceitação de Londres que ele
passou a se auto-denominar “Aceito”.

O REAA possui 33 graus, sendo os três primeiros os Graus Simbólicos, e os graus de 4º até
33º os Graus Filosóficos:

4º - Mestre Secreto 19º - Grande Sacerdote ou Sublime Escocês


5º - Mestre Perfeito 20º - Venerável Grão-Mestre ad-vitam
6º - Secretário Íntimo 21º - Noaquita ou Cavaleiro Prussiano
7º - Preboste e Juiz 22º - Príncipe do Líbano
8º - Intendente dos Edifícios 23º - Chefe dos Tabernáculos
9º - Mestre Eleito dos Nove 24º - Príncipe dos Tabernáculos
10º - Mestre Eleito dos Quinze 25º - Cavaleiro da Serpente de Aço
11º - Sublime Cavaleiro Eleito 26º - Príncipe da Graça
12º - Grande Mestre Arquiteto 27º - Grande Comendador do Templo
13º - Real Arquiteto 28º - Cavaleiro do Sol
14º - Grande Escocês 29º - Escocês de Santo Antonio
15º - Cavaleiro do Oriente ou da Espada 30º - Cavaleiro Kadosch
16º - Grande Príncipe de Jerusalém 31º - Grande Inquisidor Comendador
17º - Cavaleiro do Oriente e do Ocidente 32º - Príncipe do Real Segredo
18º - Soberano Príncipe Rosa-cruz 33º - Soberano Grande Inspetor Geral

O REAA é dividido em seções, que são apresentadas a seguir com suas cores:

Loja Simbólica (1º-3º) - AZUL


Loja de Perfeição (4º-14º) - VERDE
Capítulo Rosa-cruz (15º-18º) - VERMELHA
Conselho de Kadosch (19º-30º) - NEGRA
Supremo Conselho (31º-33º) - BRANCA

O Rito Francês surgiu após 1730, de uma forma não organizada, e a partir de 1755
começaram os esforços para a elaboração de um rito organizado. O Rito Francês foi finalmente
anunciado em Paris no ano de 1761 e proclamado em 1773 pelo Grande Oriente de França. O Rito
Francês compunha-se inicialmente apenas dos primeiros três graus, os graus simbólicos. No
entanto, o grande interesse pelos graus mais elevados, os graus filosóficos, provocou uma
proliferação de ritos. Preocupado com esta situação, o Grande Oriente de França buscou uma forma
de harmonizar e padronizar as diferentes doutrinas que vicejavam desordenadamente, influenciadas

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

pelos mais variados misticismos e esoterismos, particularmente o Rosacruz. Assim, em 1786 surgia
o Rito Francês de sete graus. Preocupado com a disseminação das mais variadas práticas
ritualísticas, é publicado o “Le Régulateur du Maçon” em 1801, que normatiza o rito.

Graus Filosóficos do Rito Francês


1ª Ordem – 4º Grau – Eleito
2ª Ordem – 5º Grau – Escocês
3ª Ordem – 6º Grau – Cavaleiro do Oriente ou da Espada
4ª Ordem – 7º Grau – Cavaleiro Rosa-Cruz

O rito mais difundido nos EUA é o Rito de York, fundado em 1797. Ele é o mais teísta dos
ritos maçônicos, sendo muito identificado com o protestantismo.
Até 1801, os ritos de Memphis e Misraim, a chamada Maçonaria Egípcia, desenvolveram-se
de forma independente. Em 1881, o herói dos dois mundos, Giuseppe Garibaldi, tornou-se o Grande
Hierofante de ambos os ritos. Finalmente, em 1890, diversas Lojas dos ritos de Memphis e Misraim
uniram-se fundando o Rito de Memphis-Misraim, um dos ritos mais esotéricos e ocultos da
Maçonaria.
Os diversos ritos possuem diferentes Altos-Graus, como é o caso do Rito Francês, que
possui apenas sete graus, mais a Quinta Ordem com os graus 8º e 9º, e o Rito de Memphis-Misraim
que possui 96 graus mais três graus administrativos. No entanto, existe um sistema de equivalências
de graus, de forma que o 96º de Memphis-Misraim e o 9º do Francês equivalem ao 33º do REAA.
Em todos os ritos, os primeiros três graus (1º-3º) são os mesmos, os Graus Simbólicos: Aprendiz,
Companheiro e Mestre.
A Maçonaria tem desenvolvido ao longo de sua história a fraternidade universal, um ênfase
no estudo pessoal, auto-aprimoramento e uma melhoria da sociedade por meio de envolvimento em
atividades filantrópicas, e disso resultou a fundação de diversas instituições paramaçônicas
dedicadas à filantropia, como é o caso do Rotary. A Maçonaria foi um veiculo que difundiu os
ideais do Iluminismo de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, defendendo a razão, a dignidade
humana e a liberdade individual.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

O ORDENAMENTO LEGAL MAÇÔNICO - ÉTICA E MORAL

A Maçonaria atual no Brasil é regulada por um notável complexo de leis, regulamentos,


instruções e resoluções, alguns de valor universal e internacional, outros de alcance nacional,
estadual e local. É importante a abordagem desse tema para que o Irm.'. Aprendiz tenha uma noção
mais clara e direta em relação a natureza e os fins da Maçonaria.
Fundamentalmente, a Maçonaria é dirigida no mundo inteiro por certo número de princípios
considerados básicos e universais, os quais ainda hoje são considerados como bases invioláveis da
nossa Ordem, estando por conseguinte abarcados nos assim chamados Landmarks, ou Antigos
Limites, ou Lindeiros, e na conhecida, e porque não, questionada Constituição de Anderson de
1723, reformada em 1737.
Em todas as leis, ordenações, constituições ou resoluções que possamos nos reportar, o que
aqui não seria o caso, posto que essa manifestação não busca ser um estudo jurídico-maçônico, e
sim uma abordagem sucinta acerca dos instrumentos regratórios que norteiam de modo geral o
funcionamento da Ordem, sempre identificaremos que independente da Potência, seja ela Masculina
ou Mista; seja qual for o Rito adotado, os trabalhos desenvolvidos estarão sempre pautados na
estrita observância aos preceitos abarcados na legislação pertinente.
Além dos vários instrumentos utilizados como referenciais a serem obedecidos e observados
por uma Potência Maçônica, há outras variáveis, estabelecidas pelas diferentes agremiações
maçônicas em cada nação e que formam a Constituição Maçônica do respectivo país. Tomando por
base a norma maior, cada potência formula seu Regulamento Geral, e a este Regulamento se
acrescenta a Lei Penal Maçônica e o Código Processual Maçônico, além do Regulamento Interno
que cada Loja deve instituir.
Seguindo nessa linha, ou seja, a estrita observância à norma legal e seu regramento, no
cerimonial a que são submetidos todos aqueles que buscam o ingresso na Ordem, tomam
conhecimento de minuciosas determinações e prescrições que se encontram nos respectivos Rituais,
conforme o Rito adotado pela Potência. Para cada grau e solenidade maçônica há rituais próprios.
Assim temos, por exemplo, o Ritual do Aprendiz; o Ritual do Companheiro; o Ritual do Mestre, e
assim por diante, o que nos permite sustentar que a Maçonaria Brasileira, independente de Potência
ou Rito, continua sendo orientada e regulada por preceitos insculpidos e emanados dos seguintes
instrumentos: Os antigos Landmarks; As Ordenanças Gerais de 1720; A Constituição de Anderson
de 1723; As Constituições, Estatutos e Regulamentos originariamente instituídos em 1786, e que até
hoje são tidos como referenciais sempre que o assunto “Legislação Maçônica” é posta em
confronto, e em ocasiões nas quais ritos e rituais são analisados e/ou estudados.
Terreno de difícil transito, mas que somos forçados a abordar versa sobre as confusas
circunstâncias que gravitam atualmente na Maçonaria Brasileira, especificamente no que concerne
os seguimentos dissidentes dentro da Ordem que muitas vezes originam uma certa divisão, com
discórdias e desconforto entre os Irmãos, fazendo com que situações sejam geradas, criando
dificuldade em distinguir entre uma organização de direito e outra de fato, quando o ideal seria que
a situação de fato coincidisse com a de direito. Nessas ocasiões, não raro, são levados ao Poder
Judiciário Maçônico, órgão legítimo para conhecer, examinar, processar, decidir e julgar em
primeira ou segunda instância, conforme a espécie, declaratória ou decisoriamente, as causas
administrativas e disciplinares de jurisdição contenciosa ou voluntária, ou que lhe forem atribuídas,
privativa ou facultativamente.
Percorridas todas as instâncias recursais previstas na Legislação Maçônicas, resta muitas
vezes a Justiça Comum que igualmente é instada a se pronunciar.
Tal como o Direito Profano, o Direito Maçônico é um complexo orgânico cujo conteúdo é
constituído pela soma de preceitos, regras e leis, com as respectivas sanções, que regem as relações

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

dos Obreiros, dentro da Sociedade Maçônica.


Assim temos muito claro que, como o Direito Profano, o Direito Maçônico pode ser escrito
ou consuetudinário. O primeiro é aquele que, originado do Poder Legislativo Maçônico, se encontra
nos textos, legalmente promulgados. O segundo, originado do Latim, diz respeito aos usos e
costumes que, na Maçonaria, como no mundo profano, não necessariamente carecem de escrita,
uma vez que a expressão “usos e costumes” faz parte da cultura de um povo, no nosso caso, do
Povo Maçônico.
Portanto, a Maçonaria e o Direito andam de mãos dadas. Não se nega naquela o que está
contido naquele. Se aquela prega a existência de um princípio criador, sob a denominação de
G.'.A.'.D.'.U.'.; aquele se funda em muitas de suas regras, tanto quando regula a conduta dos
indivíduos na sociedade, quanto a disciplina, em verdadeiros princípios que nos foram legados pelo
Criador. Se não houvesse a iluminação do G.'.A.'.D.'.U.'., as nossas leis por certo seriam bizarras,
desproporcionais e arrogantes. Tudo o que os nossos juristas e jurisconsultos fazem para enriquecer
o Direito, fornecendo subsídios aos nossos legisladores, advém da permissão intelectual do Criador
do Universo.
A Maçonaria sempre foi mencionada como sendo uma Fraternidade, e se considerarmos que
o substantivo fraternidade designa o parentesco de Irmãos, o amor ao próximo, a harmonia, a boa
amizade, a tolerância associada ao permanente diálogo, nos leva a concluir de que, na organização
designada genericamente como Maçonaria, ou Franco-Maçonaria, definida como fraterna, deve
prevalecer sempre a harmonia e reinar a união e a convivência fraternal, o que nos faz também
reconhecer que por ser fraternal, necessariamente deve ser uma instituição fundamentada na ética e
na moral. A ética, em sendo uma reflexão filosófica sobre a moralidade, ou seja, sobre as regras e
códigos morais que orientam a conduta humana, mais uma vez nos remete à legislação maçônica,
onde todos os instrumentos que servem para mensurar a conduta dos Obreiros ressaltam a
importância dos valores éticos e morais que deve nortear a conduta entre os Irmãos.
Porém, e não podemos negar, atitudes antiéticas ocorrem todos os dias, tanto na sociedade
civil, e porque não na instituição maçônica. A sociedade atual, graças ao esgarçamento de sua
estrutura familiar, e o avanço avassalador da imoralidade, é, hoje, altamente antiética, fazendo com
que a solidariedade e os referenciais de caráter sejam desprezados e desconsiderados. E é num
momento como o atual que a Maçonaria deveria dar o exemplo em suas Oficinas, no sentido de
enaltecer e sustentar a presença de seus Obreiros com estrita observância à prática constante e
rotineira na aplicação da moral e da ética. Afinal, ela afirma em todas as suas cartas Magnas, que:
“Pugna pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, por meio do cumprimento
inflexível do dever, da prática desinteressada da beneficência e da investigação constante da
verdade. Proclamando, ainda, que os homens são livres e iguais em direitos e que a tolerância
constitui o princípio cardeal nas relações humanas para que sejam respeitadas as convicções e a
dignidade de cada um”.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

AS VIRTUDES MORAIS

Um maçom deve ter sua vida pautada pelas virtudes mais elevadas: Generosidade,
desprendimento, prudência, temperança, justiça, paciência, serenidade, caridade, humildade, etc. O
Homem foi criado para fazer o bem, como diz Jolivet: “um bem excelente entre todos é a ordem
moral em virtude da qual todo ser dotado de razão é submetido ao seu Autor cuja perfeição suprema
ele reconhece e procura imitar, na medida de sua natureza e de suas possibilidades.”
O mundo material, mundo sensível ou mundo fenomênico, é o palco da existência, o mundo
da dualidade, a arena das paixões humanas. Sendo dual ou plural, submete à consciência humana a
possibilidade da escolha entre diversas opções, pois ao Homem foi dado o livre-arbítrio, que é a
origem do bem e do mal. Neste palco, o Maçom deve esforçar-se por ter uma vida reta. A retidão
tem como representação maçônica o Esquadro.
Deve o maçom cultivar as virtudes como o jardineiro que diariamente poda, aduba, rega e
prepara seus cultivos. Cada ato da vida do maçom deve refletir a sua inabalável intenção de ser
melhor a cada dia. Vivemos imersos em Deus, o que significa que cada ato, por mais simples que
seja, deve ser feito em sintonia com nossa natureza divina. Este trabalho sobre si próprio está
representado pela alegoria do Apr.'. M.'., ou seja, TALHAR A PEDRA BRUTA.
O Maçom deve saber agir com sabedoria e prudência. A prudência (conhecimento ou
sabedoria) é a sabedoria para reconhecer o bem e o bom, assim como os justos meios de atingi-lo.
Sobre a prudência, Thomas de Kempis, em Imitação de Cristo, afirma que “Não se há de dar crédito
a toda palavra nem a qualquer impressão, mas cautelosa e naturalmente se deve, diante de Deus,
ponderar as coisas ... Grande sabedoria é não ser precipitado nas ações, nem aferrado
obstinadamente à sua própria opinião ... Quanto mais humilde for cada um em si e mais sujeito a
Deus, tanto mais prudente será e calmo em tudo.” O Cinzel é a representação maçônica da
prudência, pois o cinzel direciona inteligentemente a força do malho na Pedra Bruta, de forma a
controlar o trabalho do Maçom.
O Maçom deve ser sempre justo. A justiça é a vontade de fornecer aos outros o que lhes é
devido. A justiça importa em igualdade e humildade. A humildade é a virtude que reflete a pureza
do coração que se submete aos desígnios de Deus, considerando todos os homens como iguais
perante o Criador.
Para efetuar seu trabalho, o Maçom deve possuir o dom da fortaleza. A fortaleza (ou força) é
a firmeza de atitude nas dificuldades. A fortaleza é derivada da VONTADE, a ferramenta do mago,
aquele que domina os elementos e a sua própria natureza. Sua representação maçônica é o malho,
que aplica os golpes sobre o cinzel.
Finalmente, o Maçom deve ser moderado. A temperança (ou moderação) é o domínio da
vontade sobre os instintos, a busca do equilíbrio. Temperança significa aplicar a vontade para
equilibrar as tendências opostas que habitam a natureza humana. Seu símbolo maçônico é o Nível,
por seu significado de igualdade e equilíbrio.
Cabe ao maçom seguir o conselho do Grande Sábio da Galileia: “Amarás o teu próximo
como a ti mesmo”; ou o que foi registrado pelo Grande Mestre da Arábia: “tratai com benevolência
vossos pais e parentes, os órfãos e os necessitados; falai ao próximo com doçura”. O maçom deve
ser generoso e benevolente com todos e dedicar-se à caridade, ajudando os necessitados.
A Maçonaria ensina a LEI DO AMOR, que denota FRATERNIDADE, IGUALDADE,
TOLERÂNCIA e CARIDADE.
O famoso maçom e escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe fornece uma forma
interessante de entender a ética e a moral maçônica: “Todo o nosso saber se reduz a isto: renunciar à
nossa existência para podermos existir.”

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

A MAÇONARIA MISTA NO RIO GRANDE DO SUL

Uma consulta a qualquer livro de autoria de maçons ditos tradicionais, revelará que a
maioria deles tem conhecimento da existência da Maçonaria Mista e Feminina. A diferença é que
insistem em sustentar que estas não são legalmente reconhecidas; que são espúrias, entre outras
desculpas. Todavia, muitos não perdem tempo e até reconhecem que estas vertentes da Maçonaria
tem hoje um nome próprio e ocupam um considerável e reconhecido espaço dentro da Instituição.
Não é novidade a participação da mulher nos Mistérios da antiguidade, genérica e
modernamente conhecidos como Ciências Ocultas, ou simplesmente Ocultismo. Sabemos, através
dos escritores ocultistas, que a mulher tomava parte em todos os trabalhos que se realizavam nos
Templos da antiga Grécia, do Egito, da Etiópia, e etc., onde eram previamente iniciadas nos
Mistérios. Na própria instituição Maçônica, se buscarmos na história veremos que a mulher já teve
participação efetiva. Todavia, quando a Maçonaria vestiu novas roupagens, e que até hoje sustenta
em parte de seus quadros, a mulher foi afastada dos Templos e, consequentemente, negado-lhe o
direito à iniciação, passando a Ordem Maçônica a ser privilégio unicamente dos homens. Porém,
essa exclusão injustificável da mulher, vedando-lhe o ingresso na Maçonaria, não poderia se
prolongar indefinidamente, posto que os fatos históricos da própria Ordem retratavam o contrário e
as verdades científico-filosóficas se impunham como argumento insofismável contra o erro
cometido ao se negar à mulher o direito à iniciação. Assim, nada mais justo e lógico que esse
errôneo entendimento, sustentado numa premissa eivada de parcialidade, preconceitos e convenções
retrógradas, fosse identificada por uma parcela de Irmãos que passaram a manifestar sua
contrariedade com tal situação e tomaram a iniciativa de buscar a alteração de tal comportamento.
Corria o ano de 1937 quando, no Rio Grande do Sul, efetivamente brotou a ideia, ainda que
enfrentando grande resistência de grupos contrários, de adotar-se na Maçonaria Brasileira o sistema
de iniciação maçônica independente de discriminação de sexo, conformando-se à lei cabalística do
“binário”, presente em toda a existência.
A caminhada foi longa e desgastante para os Irmãos que levantaram essa bandeira.
Desiludidos diante da incompreensão dos dirigentes da Ordem que antepunham pretensões e
sofismas à realidade instante e necessária, esses poucos mas valorosos Irmãos abandonaram
definitivamente a atividade da Maçonaria masculina; ao mesmo tempo que, com redobrado
interesse, voltaram a consagrar o propósito que estavam imbuídos, no caso, “a prática da Maçonaria
sem discriminação de sexo, obediente ao princípio universal da bipolaridade”. Durante o período
em que os Irmãos buscavam e reuniam elementos suficientes para efetivamente proceder a fundação
de Lojas Mistas perfeitamente regulares, muitas Oficinas chegaram a funcionar em várias cidades
do Estado, porém, ante as dificuldades impostas, em especial por parte do seguimento da Maçonaria
masculina, que mantinha-se firme no propósito de não manter Lojas de adoção, que era o mínimo
que necessitavam os Irmãos, e não aventavam sequer analisar a possibilidade de reconhecimento, a
maioria dessas Lojas, então em funcionamento, tinham suas colunas abatidas.
Com a insistência, dedicação, seriedade e perseverança dos Irmãos, esse período foi
superado, e, fruto de um quarto de século de luta e idealismo, transpondo todo o tipo de óbices,
obstáculos e incompreensões, no dia 12 de maio de 1961 foi realizada no Oriente de Santa
Maria/RS a reunião plenária definitiva, oportunidade que todos os Irmãos e Irmãs envolvidos
estabeleceram as condições básicas para a organização da Potência, sendo apresentados os
dispositivos necessários no tocante a Regulamento e Estatutos, declarando-se assim constituído o
“Grande Oriente Simbólico Misto Brasileiro”, em plena conformidade com as antigas Marcas,
expurgadas de comentários e interpretações incondizentes e antagônicas aos princípios e
fundamentos da Instituição Maçônica e das mais respeitáveis consuetudes iniciáticas e
administrativas da Maçonaria Universal, congregando-se, a partir daquele momento as Lojas Mistas

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

então existentes, que funcionavam até então anonimamente.


Na mesma ocasião foram providos os cargos eletivos, sendo escolhido como primeiro
Grão-Mestre o Ir.'. Pedro Pinto Soares Freire, a quem a Maçonaria Mista do Rio Grande do Sul
deve muito, posto ter sido ele o pilar de sustentação que orientou, conduziu e liderou todo o
processo que resultou no que hoje é esse seguimento da Ordem no nosso Estado. Por tal motivo,
todos aqueles que transitam na Maçonaria Mista, devem ter muito presente a figura, vida e a obra
do M.'.I.'.P.'. Ir.'. Pedro Freire, que dedicou boa parte da sua caminhada na luta pela inclusão da
mulher na Maçonaria em igualdade de condições com os homens. Cabe a nós, e àqueles que ora
estão ingressando na Ordem, valorizar, respeitar e entender o legado que nos foi deixado.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

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SIMBÓLICA MAÇÔNICA

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SÍMBOLO, ALEGORIA E SIMBOLISMO

A Maçonaria é conhecida por fazer largo uso de alegorias e símbolos em suas instruções.
Ensina-se que a Maçonaria é um sistema de moralidade velado por alegorias e ilustrado por
símbolos. O que isso significa? O que são símbolos e alegorias e qual a razão de seu uso pela
Maçonaria?
O homem é um ente simbólico. Toda a vida humana é regida e ilustrada por símbolos.
O símbolo é um sinal de reconhecimento de um objeto, um representação analógica
relacionada com o objeto em consideração. Por exemplo, quando alguém cruza por um amigo ou
conhecido e tira o chapéu, está fazendo uso de um símbolo de deferência e respeito.
A alegoria é uma forma de “falar de outro modo”, velando o conhecimento que está sendo
transmitido. Um exemplo é a alegoria do Gr.'. de Apr.'. M.'., ou seja, o talhar da Pedra Bruta.
Finalmente, o emblema é a representação de uma ideia simples, como por exemplo, o boi é
considerado um emblema da força.
O simbolismo trata do estudo dos símbolos, emblemas e das alegorias considerando todos os
sentidos que estão ligados a eles: sentido literal; sentido alegórico; sentido moral; etc. O simbolismo
é a chave para entender a Linguagem dos Mistérios.
Citando Brunetière, “O símbolo é imagem, é pensamento... Ele nos faz captar, entre o
mundo e nós, algumas destas afinidades secretas e dessas leis obscuras que podem muito bem ir
além do alcance da ciência, mas que nem por isso são menos certas. Todo símbolo é, nesse sentido,
uma espécie de revelação”. Sendo assim, o simbolismo para a Maçonaria, assim como nas Escolas
de Mistério da antiguidade, é um método de estudo e ensino profundo e científico, cujos objetos de
estudo são o Homem, a Natureza e a Divindade; uma verdadeira ciência que tem suas regras
precisas, derivadas do mundo dos arquétipos.
Tomemos como exemplo a Cruz. A Cruz é um símbolo antigo, anterior a cristandade, basta
lembrar a Cruz Suástica dos Hindus e a Cruz Ansata, usada no Antigo Egito. Para a cristandade é
um símbolo do amor de Deus pela humanidade, que sacrifica Seu próprio Filho. No entanto, em seu
sentido esotérico, a Cruz é um símbolo fálico. Sendo a vertical interpretada como o ativo,
masculino, e a horizontal como o passivo, feminino, fica evidente sua interpretação. Segundo H. P.
Blavatsky, “A cruz filosófica, as duas linhas traçadas em direções opostas, a horizontal e a
perpendicular, a altura e a largura, que a Divindade, que faz geometria, divide no ponto de
intersecção, e que forma o quaternário, tanto o mágico como o científico, ― quando inscrita no
quadrado perfeito é a base do Ocultista.”
H. P. Blavatsky menciona a diferença entre emblema e símbolo, e citando Kenneth
Mackenzie, afirma que o primeiro “compreende uma série de pensamentos maior que a do símbolo,
o qual se deve antes considerar como destinado a esclarecer uma só ideia especial.” Nesta citação,
Blavatsky não parece referir-se a emblema e símbolo, mas a alegoria e símbolo. É a partir da
existência do símbolo, como derivado do mundo dos arquétipos, que podemos chegar ao
esoterismo, a explicação profunda dos Ritos e Sabedoria presente na Maçonaria. O símbolo liga a
experiência humana individual à uma escala cósmica, expressando ideias universais.
De acordo com Albert Mackey, “A Maçonaria é um sistema de moralidade desenvolvido e
inculcado pela ciência do simbolismo. Este caráter peculiar de instituição simbólica e também a
adoção deste método genuíno de instrução pelo simbolismo, emprestam à Maçonaria a
incolumidade de sua identidade e é também a causa dela diferir de qualquer outra associação
inventada pelo engenho humano. É o que lhe confere a forma atrativa que lhe tem assegurado
sempre a fidelidade de seus discípulos e a sua própria perpetuidade.”

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

A INICIAÇÃO

A Iniciação é uma cerimônia tão antiga quanto a humanidade. Sabemos que as antigas
Escolas de Mistério adotavam esta forma de receber seus discípulos. Podemos encontrar cerimônias
semelhantes no Antigo Egito, na Grécia Clássica, na Roma Antiga, etc. Cada “Iniciação” tem suas
formas próprias e a Iniciação Maçônica baseia-se na “arte de construir”. Embora as alegorias destas
“Iniciações” sejam diferentes exteriormente, coincidem plenamente os símbolos e suas
interpretações, quando entendido seu sentido interno.
A cerimônia de recepção aos novos membros da Maçonaria contém, perfeitamente
apresentadas e manifestadas, as duas características fundamentais de nossa Instituição: a iniciática e
a simbólica.
A palavra “iniciação” deriva da palavra latina initiare, de initium, início ou começo,
significando “ir para dentro”, “penetrar no interior”, “ingressar no mundo interno”, pois a palavra
iniciação tem duplo sentido, o de começo e o de ingressar. A Iniciação é a porta que conduz ao
ingresso em um novo estado moral, na qual se inicia uma nova maneira de viver. Assim, a Iniciação
não é simplesmente um acontecimento material, um evento temporal, mas marca o ingresso do
iniciado em um novo estado de consciência. Por meio da Iniciação, ingressa o profano, que está nas
trevas, apegado à matéria, no mundo interno da LUZ, do Espírito que habita o interior do Homem.
A Iniciação é um NASCIMENTO ou RENASCIMENTO, uma transmutação do íntimo de nosso ser.
Na Masonic Encyclopedia de Mackey é dito que a palavra latina initia significa o primeiro
princípio da ciência.
Iniciar alguém, no sentido esotérico, é conferir-lhe conhecimentos que ele não poderia obter
sozinho, por meio do exercício de sua inteligência. A Iniciação não é um ato racional, mas antes
psicológico e espiritual. Os símbolos e a ritualística da Iniciação dirigem-se, não à inteligência
discursiva, mas à inteligência analógica, pois a linguagem da Iniciação é uma linguagem oculta, que
não pode ser revelada por meio de palavras. O símbolo tem um poder especial, pois os símbolos
formam a linguagem das Verdades Eternas, derivada do mundo dos arquétipos e superior à nossa
inteligência discursiva.
A Iniciação tem o poder de imprimir uma indelével influência magnética, espiritual, no
candidato, uma vibração nos planos psicológico, mental e astral, preparando o neófito para os
conhecimentos que irá adquirir em seus estudos posteriores, capacitando-o a sintonizar energias
sutis, cuja existência, após a Iniciação, estará capacitado a conhecer. A Iniciação tem a função de
despertar a visão psíquica no candidato por meio de símbolos, cuja linguagem é sagrada.
Segundo Huberto Rohden, “Por isso, o agir do iniciado é totalmente diferente do profano.
Não corre freneticamente atrás dos efeitos ilusórios, mas apodera-se tranqüilamente da causa real de
todas as coisas. Crea dentro de si mesmo uma espécie de 'centro de sucção' (desculpe a comparação
primitiva!), espécie de vácuo; em virtude dessa vacuidade estabelecida e mantida voluntariamente,
todas as plenitudes, mesmo as da vida presente, são 'sugadas' ou atraídas para esse homem. De
dentro do seu centro dinâmico e silencioso, domina ele todas as periferias. Ele é silenciosamente
poderoso, quando outros são ruidosamente fracos, embora se tenham em conta de fortes. Esse
homem sabe por experiência própria que 'todas as coisas são dadas de acréscimo' àquele que 'em
primeiro lugar busca o reino de Deus e sua justiça'. Isto ele não crê, isto ele sabe, porque vive cada
dia essa grande verdade.”

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

INICIAÇÃO

Fernando Pessoa

“Não dormes sob os ciprestes,


Pois não há sono no mundo.
....................................................
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro


Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.

Então Arcanjos da Estrada


Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda caverna,


Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
....................................................
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não 'stás morto, entre ciprestes.
....................................................
Neófito, não há morte.”

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A CÂMARA DE REFLEXÕES

A Câmara de Reflexões é um importante aspecto da Iniciação ao Grau de Apr.'. M.'., e seu


significado deve ser compreendido por todos os Maçons. Muitos estudiosos consideram a Câmara
de Reflexões a chave para entender a Iniciação de Apr.'., pois é nela que o profano irá refletir sobre
sua vida e sobre o início de sua caminhada em nossa Ordem. De acordo com G. Persigout, a palavra
“reflexões” deve estar no singular e não no plural, pois o profano não se entrega a “reflexões”, mas
faz uma reflexão no sentido de volta sobre si mesmo, já que está prestes a nascer novamente. A
Câmara é o símbolo do estado de consciência do profano que anda pelas trevas, e por isso nela se
encontram emblemas da morte. A Câmara é uma catacumba onde o profano morrerá para sua vida
pregressa e nascerá novamente como um Apr.'. M.'. Logo, a Câmara de Reflexões também é um
útero, e em certo sentido é o próprio corpo humano, a tumba do Ser Divino que habita no Homem.
Nessa Câmara o profano deve entrar despojado de seus metais, em um estado de pobreza e
simplicidade.
Num primeiro momento, pode parecer muito estranho que se queira iniciar um candidato em
uma Ordem Fraternal em um local tão cheio de símbolos da morte: crânio e ossos humanos, pão em
putrefação, etc. Além disso, pode causar espanto que símbolos da vida e da morte aparecem ao
mesmo tempo na Câmara de Reflexões. Devemos lembrar que todo nascer pressupõe um morrer.
Sabemos que para que uma planta possa nascer é necessário que a semente morra (ver João 12:24).
A Câmara tem um aspecto de uma gruta, ou de uma caverna sombria, por simbolizar o
centro da terra e, em última instância, a matéria, a tumba do Espírito. Na Câmara encontra-se um
pão e um copo de água. Eles representam o alimento necessário ao profano para que realize a sua
jornada durante a Iniciação. Nas religiões antigas, particularmente no Mitraísmo, uma refeição de
pão e água fazia parte do culto. O pão e o trigo estão ligados ao culto a Ísis e Deméter e, em muitas
religiões, representaram, e ainda representam, a carne do deus sacrificado. Segundo J. Boucher, o
pão e a água representam o alimento material e o espiritual. Muitos autores interpretam a Câmara de
Reflexões como sendo o Ovo no qual o germe desenvolve-se, e de onde o profano emergirá como
um Apr.'. M.'.
A Câmara reforça a ideia de que o candidato está no interior da terra apresentando o
emblema V.I.T.R.I.O.L. (Visita Interiora Terrae, Retificandoque, Invenies Occultum Lapidem), que
significa: “Visita o interior da terra e, retificando, encontrarás a Pedra Oculta”. A Pedra Oculta é
uma referência à Iniciação e ao posterior trabalho que o candidato executará como Apr.'. M.'. Ela
também é uma referência à Palavra Perdida e ao Segredo Oculto da Maçonaria, à Pedra dos
Filósofos e ao Santo Graal (na singular versão da lenda, descrita por Wolfram, em Parzival, o Graal
deixa de ser um cálice e torna-se uma pedra descida dos céus, e é uma pedra, que foi dada por Deus
a Adão, o primeiro homem, uma das relíquias mais importantes do Islã). Como na Câmara está
representada a terra, completam-se as quatro provas dos elementos (terra, ar, água e fogo) com as
três viagens do candidato durante a Iniciação.
A presença dos elementos Enxofre, Sal e Mercúrio na Câmara de Reflexões remete à
Ciência Alquímica, uma das fontes de inspiração para o simbolismo maçônico. Os três princípios
herméticos (alquímicos) são representados pelo Enxofre, Sal e Mercúrio. O Mercúrio (azougue) está
também representado pelo Galo, já que o Mercúrio e o Galo são símbolos intercambiáveis de
Hermes e da sabedoria. O Galo é um símbolo da coragem, da ousadia e da vigilância, como aparece
nas palavras exibidas na Câmara: “Vigilância e perseverança”. Isso indica que o candidato deve
estar atento aos significados dos símbolos estampados na Câmara, mas cujo entendimento só
poderá ser alcançado por meio da perseverança no estudo. Os antigos acreditavam que o Galo não
temia nem mesmo o Leão, sendo o Leão um símbolo alquímico do Sol e do Ouro. O Galo é o
anunciador da ressurreição, pois seu canto marca a hora do alvorecer, ou seja, a do triunfo da Luz

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

sobre as Trevas. Como anunciador do nascer do dia e da luz, ele exprime uma das propriedades do
azougue secreto. O Enxofre é um símbolo da energia ativa, positiva, masculina. O Mercúrio
representa a energia passiva, negativa, feminina. Sendo dois polos opostos são uma referência às
duas Colunas J.'. e B.'. do Templo Maçônico e aos dois primeiros graus da Maçonaria. Os três
princípios apresentam entre si uma relação dialética, sendo os dois opostos Enxofre e Mercúrio
conciliados e temperados pelo Sal, que é o elemento neutro. No ovo, o Mercúrio é a clara, o
Enxofre, a gema, e o Sal, a casca. A antiga alquimia dizia que, nos metais, o Enxofre é a alma, o
“fixo”, dando aos metais suas propriedades químicas, o Mercúrio, o corpo, o “volátil”, fornecendo
suas propriedades físicas.
Os ossos e o crânio, que figuram na Câmara, servem para lembrar o que somos e o que
seremos, como afirma a Bíblia: “tu és pó e ao pó tornarás” (Gênesis 3:19); cuja interpretação indica
a transitoriedade da vida humana, a futilidade das coisas materiais e uma rejeição da vaidade, mas
também remetem à Alquimia. O crânio e os ossos correspondem ao processo alquímico de
putrefação, um dos sete principais processos da alquimia filosófica:

1º passo: CALCINAÇÃO - transformação por ação do fogo;


2º passo: SUBLIMAÇÃO - o puro é separado do impuro;
3º passo: DISSOLUÇÃO - a quente dissolve gorduras; a frio dissolve sais, substâncias corrosivas e
corpos calcinados;
4º passo: PUTREFAÇÃO - o vivo morre e o que está morto ganha nova vida (Primeira Iniciação);
5º passo: DESTILAÇÃO - as águas, os líquidos e os óleos são sutilizados;
6º passo: COAGULAÇÃO - pelo fogo é fixa; a frio não o é; e
7º passo: TINTURA - o imperfeito torna-se perfeito. (Iniciação Final).

A putrefação é um processo em que o vivo morre e o que está morto renasce para uma nova
vida. Dentro do Ovo Filosófico, o candidato, mergulhado na escuridão de sua ignorância, irá
meditar sobre sua vida e irá nascer do Útero da Sabedoria para a Luz, tornando-se um Filho da Luz.
O crânio, com seu sorriso irônico e ar pensativo, simboliza o conhecimento daquele que enfrentou a
morte em busca da sabedoria que transcende este mundo.
Finalmente, a ampulheta é um símbolo do inexorável transcorrer do tempo e da brevidade da
vida humana. Constitui-se em um aviso ao futuro Maçom de que a vida dedicada apenas às coisas
mundanas será uma vida perdida. Deve o Maçom dedicar-se às causas nobres e ideais elevados.
Este compromisso com uma vida de ideais mais elevados fica completa com o preenchimento do
Testamento. Nele o candidato expressa sua intenção de morrer para as coisas mundanas e dedicar-se
às coisas espirituais. O Testamento não é exatamente um testamento civil, mas um testamento
filosófico, de compromisso com essas obrigações. Completa-se assim, para o neófito na Câmara, a
transição da vida profana para a vida Maçônica, por meio da introspecção e do reconhecimento da
instabilidade e transitoriedade da vida humana.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

AS VIAGENS DO APRENDIZ

As três viagens que o candidato empreende, durante a Inic.'. ao Gr.'. de Apr.'., um dos
momentos principais da Cerimônia, fazem-nos lembrar de um tema central da literatura antiga, as
viagens descritas nas grandes epopeias, como as de Jasão e Ulisses, e as aventuras vividas pelos
navegadores, como descrita por Camões em “Os Lusíadas”. Estas viagens evocam a aventura e a
busca do Conhecimento. O movimento circular na direção horária, que o candidato realiza em volta
do Altar dos Juramentos no Ocidente, acompanha o movimento do sol no Hemisfério Norte.
Caminhadas circulares são comuns na ritualística de diversas tradições religiosas, particularmente
no Judaísmo. A ideia geral das provas enfrentadas pelo candidato na Iniciação tem nítida filiação
com rituais antigos, e podemos verificar vestígios do enredo da Iniciação nos Mistérios de Baco, de
Mitra, de Ceres, de Cibele, etc.
O candidato à Iniciação apresenta-se para as provas desprovido de seus metais, em
simplicidade e pobreza. Ele está vendado, pois ainda é um profano e vive nas trevas. Seu braço e
peito esquerdo estão descobertos, perna e joelho direito desnudo e com o pé esquerdo descalço.
Antes de ser uma tentativa de ridicularizar o candidato, esta estranha forma de trajar-se tem um
significado simbólico relacionado com a Iniciação. Segundo Oswald Wirth, “a região do coração é
posta a descoberto como alusão à absoluta sinceridade do Recipiendário; a nudez do joelho pretende
que, ao dobrá-lo, ele entre diretamente em contato com um solo sagrado, que ele pisa, por sua vez,
com o pé descalço”.
Lembremos que foi com a perda de uma de suas sandálias que Jasão empreendeu a
conquista do Velo de Ouro. Estando com um pé calçado e outro descalço, as pisadas do candidato
durante suas viagens são desequilibradas e titubeantes, representando as dificuldades de sua
caminhada na vida iniciática.
Estando o peito desnudo, a atenção do Recipiendário é atraída para o coração, sede da
afetividade, significando que o candidato deve ter cuidado com arroubos sentimentais. O joelho
direito é aquele que se põe em terra durante a genuflexão, ato de submissão. Deste modo, estando
descoberto, o joelho torna-se sensível e isso incita o Recipiendário a realizar a genuflexão com
circunspecção. Estando com o pé esquerdo descalço, o Recipiendário é obrigado a apoiar-se mais
no pé direito, lado ativo e positivo do corpo, significando a preponderância da razão sobre o
sentimentalismo.
Para muitos povos antigos, a matéria é constituída por quatro elementos fundamentais: Ar;
Água; Fogo; e Terra. Estes são os elementos primordiais na Filosofia Grega. Estes quatro elementos
estão associados à Esfinge tetramorfa, que tem pés de Touro (Terra), corpo de Leão (Fogo), asas de
Águia - uma forma antiga do signo de Escorpião - (Água) e cabeça de Homem - o signo de Aquário,
o carregador de água – (Ar). Os elementos também podem ser associados ao deus Amon do Antigo
Egito, pois ele podia assumir a aparência de um touro, um leão, uma águia ou um anjo. Estes são os
seres da visão de Ezequiel: “E a semelhança dos seus rostos era como o rosto de homem; e do lado
direito todos os quatro tinham rosto de leão, e do lado esquerdo todos os quatro tinham rosto de boi;
e também tinham rosto de águia todos os quatro.” (Ezequiel 1:10). Eles são os quatro animais
descritos no livro do Apocalipse: “E havia diante do trono um como mar de vidro, semelhante ao
cristal. E no meio do trono, e ao redor do trono, quatro animais cheios de olhos, por diante e por
detrás. E o primeiro animal era semelhante a um leão, e o segundo animal semelhante a um bezerro,
e tinha o terceiro animal o rosto como de homem, e o quarto animal era semelhante a uma águia
voando.” (Apocalipse 4:6-7).

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

A Tabela seguinte apresenta as correlações das viagens e das provas com os quatro
elementos e outros aspectos:

Viagem 1ª Viagem 2ª Viagem 3ª Viagem


Prova Câmara de Reflexões Prova do Ar Prova da Água Prova do Fogo
Elemento Terra Ar Água Fogo
Atitude Calar Saber Ousar Querer
Ser (Ezequiel) Boi Homem Águia Leão
Signo Touro Aquário Escorpião Leão
Evangelista São Lucas São Mateus São João São Marcos
Arcanjo Uriel Gabriel Rafael Michael
Direções Norte Leste Oeste Sul
Estações Inverno Primavera Outono Verão
Qualidade Inércia, Sensualidade Pensamento Força, Paixão Vigor, Energia
Temperamento Linfático Nervoso Sanguíneo Bilioso

Da mesma forma, o Nome de Deus dos judeus, o Tetragrama, YHVH, possui quatro letras,
como os quatro elementos, no entanto uma delas é repetida. Muitos sistemas esotéricos consideram
a Terra um elemento derivado, não primordial. Os três elementos restantes são os que correspondem
às três provas feitas durante cada uma das três viagens do Apr.'.: a Prova do Ar; a Prova da Água; e
a Prova do Fogo. Muitos estudiosos afirmam que a permanência do candidato na Câmara de
Reflexões representa a prova associada ao elemento Terra, pois o simbolismo da Câmara de
Reflexões remete ao interior da terra, onde encontram-se os vermes e as sementes. Assim sendo,
alguns argumentam que deveriam ser consideradas quatro e não apenas três viagens, pois são quatro
elementos e quatro provas.
Após permanecer algum tempo na Câmara de Reflexões, onde deverá assinar seu
Testamento e alegoricamente morrer, o candidato enfrenta as três provas vendado, pois ainda é um
profano que vive nas trevas. Ainda não lhe foi dada a LUZ, quando então será um “Filho da Luz”.
Em preparação às provas que serão enfrentadas durante as três viagens, ao candidato é
oferecido o Cálice da Amargura, uma bebida inicialmente doce, que torna-se amarga. O Cálice da
Amargura significa que os prazeres e doçuras da vida, em excesso, acabam tornando-se
desagradáveis e amargos. Muitos autores maçônicos associam este Cálice com o Santo Graal, o
segredo mais sagrado da Cavalaria Mística e da Maçonaria. Em alguns ritos o Cálice da Amargura é
oferecido após as três viagens.

1. A Prova do Ar (1ª Viagem)

A 1ª Viagem é plena de dificuldades e perigos, feita em meio a ruídos variados,


representando temporais e ventos, símbolos das falsas crenças e das adversidades da existência.
Na Maçonaria, o Ar é tomado como o emblema da existência humana, do berço ao túmulo.
Logo, a Prova do Ar é a prova da existência humana, com todas as suas atribulações representadas
pelos sons perturbadores de trovões. Esta primeira viagem é acompanhada de obstáculos que devem
ser superados, por isso o candidato é levado a curvar-se e pular diversas vezes, conduzido pelo

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

Irm.'. Exp.'., desviando-se de obstáculos imaginários. Esta primeira é a mais conturbada de todas as
viagens, suas dificuldades representam as atribulações da vida e o sofrimento resultante das paixões
humanas. O candidato é incitado a vencer seu temor e com coragem enfrentar todos os desafios para
vencer a prova.

2. A Prova da Água (2ª Viagem)

A 2ª Viagem é muito mais tranquila que a primeira pois, a medida que aprendemos a superar
os obstáculos que surgem em nosso caminho, estes progressivamente desaparecem. A Água tem
função purificadora, sendo a prova uma espécie de batismo filosófico que lava toda a sujeira do
candidato. O Batismo de Água precede o Batismo de Fogo, preparando para o alicerçamento da
Verdade.

3. A Prova do Fogo (3ª Viagem)

A 3ª Viagem tem duas etapas. Na primeira o candidato apenas faz o percurso de olhos
vendados por um caminho sem obstáculos, representando a serenidade. Na segunda etapa o
candidato enfrenta a Prova do Fogo. Nesta prova o candidato enfrenta alegoricamente as paixões,
simbolizadas pelo Fogo, saindo-se vitorioso e purificado. Mas o Fogo também simboliza a própria
divindade, como a Sarça Ardente no alto do Monte Sinai, onde Moisés conversou com Deus. O
Fogo representa a Chispa Sagrada, Chama Interna, a Essência Espiritual ou Princípio Universal do
Ser, a Energia Primordial que habita o Homem e lhe confere o seu aspecto divino. O Fogo é o
purificador final, quando então o candidato está preparado para a vida maçônica.

As provas enfrentadas pelo candidato durante a Iniciação são atos simbólicos, sem
significado se consideradas apenas em sua exterioridade, e o candidato deve nelas participar em
espírito, caso contrário continuará sendo apenas um profano que, por curiosidade, delas tomou
conhecimento. Só assim ele emergirá das provas da Iniciação como um “nascido duas vezes”.
A Iniciação contém, nas quatro provas, o Enigma da Esfinge, pois o verdadeiro iniciado
deve: Saber com inteligência (Homem); Querer com ardor (Leão); Ousar com audácia (Águia); e
Calar-se com força (Touro).
O iniciado é aquele que desenvolveu suas capacidades ocultas, a compreensão que provem,
não da inteligência discursiva, o “inteligir”, mas do saber que é obtido pelo poder da intuição. Esta
intuição é o método para sintonizar nosso EU INTERIOR, EU SOU, o CRISTO INTERNO ou
CONSCIÊNCIA BÚDICA, nosso SER REAL ou CENTELHA DIVINA, que só pode ser alcançado
por meio da contemplação. Huberto Rohden reforça esta ideia ao dizer que: “Para além de todo o
'inteligir' está o 'intuir', que é uma vivência íntima; está o 'saber', que é um 'saborear' direto e
imediato. Em última análise, o homem só sabe aquilo que ele vive e o que ele é. Para essa vivência
íntima do espírito do Cristo necessitamos de um grande silêncio — silêncio material, mental e
emocional; e, mais do que isto, de uma profunda contemplação interior.”
Segundo Jorge Adoum: “EU SOU é a CHISPA DIVINA emanada da CHAMA SAGRADA.
É o FILHO do DIVINO PAI. É IMORTAL, ETERNO, INDESTRUTÍVEL, INVENCÍVEL. Possui
em Si os mesmos atributos do ABSOLUTO: PODER, SABEDORIA E REALIDADE.”
Aquele que, passando pela Iniciação e ingressando na Maçonaria, permitiu-se que a
Maçonaria ingresse em seu coração, psicologicamente impactado que foi pelos símbolos e
arquétipos presentes nas Provas da Iniciação, deve sempre lembrar das palavras de Jean Mourgues:
“Ninguém pode ser reconhecido como maçom enquanto continuar servo das suas paixões, escravo
das suas crenças e cego pelos bens deste mundo.”

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

Figura: A alegoria do Apr.'. M.'.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

O SINAL DE APRENDIZ

A compreensão do significado do sinal de Apr.'. é de suma importância para entender a


postura correta que o Apr.'. M.'. deve ter em Loja. Além disso, alguns autores encontram
significados místicos nesse sinal. O sinal de Apr.'., também conhecido como sinal gutural,
compreende dois gestos: o sinal de ordem e o sinal propriamente dito. “Colocar-se em ordem”,
respondendo ao chamado do Ven.'. Mestr.'., “de pé e à Ordem, meus IIrm.'.”, significa colocar a mão
direita estendida na altura da garganta, com os dedos da mão cerrados, formando um esquadro com
o dedo polegar que fica afastado e voltado na direção da garganta. A mão esquerda permanece
abaixada ao lado do corpo. O braço direito deve ficar perfeitamente na horizontal, formando o braço
e o antebraço um esquadro com o corpo. Ao mesmo tempo, os pés devem estar unidos pelos
calcanhares em esquadro. “Descarregar o sinal” consiste em mover a mão direita, na posição
descrita, levando-a até o ombro direito e depois faze-la voltar a posição normal ao longo do lado
direito do corpo.
O sinal de Apr.'. é feito para reafirmar o compromisso com a nossa Ordem, relembrando o
juramento feito, que diz: “Que eu prefiro ter a garganta cortada a revelar os segredos da
Maçonaria”. O sinal é feito sobre a garganta, pois essa é a sede da fala, o que significa que a
postura do Apr.'. é de silêncio sobre os segredos da Ordem. O Apr.'. não é ausente de fala, mas deve
treinar sua Vontade para o silêncio, pois sua fase de Apr.'. é uma preparação para o correto uso da
palavra e a maestria. O poder do Verbo não está ausente no Apr.'. M.'., mas cabe a ele aprender a
usa-lo corretamente. Assim, o Apr.'. deve cultivar o silêncio, abstendo-se de falar em Loja (quando
da Palavra ao Bem da Ordem). Quando em Ordem, o Apr.'. forma três esquadros, um com os dedos
da mão direita, outro com o braço e o antebraço e o último com os pés. Isso significa que o Apr.'.
deve ter uma vida reta, assentada sobre o emblema do esquadro. O braço, antebraço e peito formam
um triângulo, símbolo de perfeição e equilíbrio.
Muitos estudiosos argumentam que a mão sobre a garganta é uma referência ao signo
zodiacal de Touro, que rege a garganta. Touro é o símbolo da impulsividade passional, característica
da vida profana ainda presente no Apr.'. M.'. O trabalho do Apr.'. sobre si próprio deve transmutar
esta impulsividade, afastando-a de seus aspectos bestiais e dirigindo sua força para fins superiores,
colocando-a a serviço da humanidade. As emoções violentas, os desejos grosseiros são forças que,
apesar de negativas e destrutivas, podem ser canalizadas pela Vontade e pela Inteligência, para a
obtenção de qualidades como coragem, firmeza e amor.
Por outro lado, para alguns o sinal de Apr.'. também faz referência ao quinto chakra do
sistema da Ioga Indiana. Segundo este sistema esotérico, o corpo humano possui sete centros
energéticos sutis, ao longo de três canais chamados Ida, Pingala e Sushumna, chamados de
chakras: 1) Muladhara, associado ao ânus e aos órgãos genitais, e ao elemento terra, de cor
amarela; 2) Svadhisthana, acima dos órgãos genitais e atrás do corpo, elemento água, cor branca; 3)
Manipura, na altura do umbigo, fogo, cor vermelha; 4) Anahata, coração, ar, cor escura ou morena;
5) Vishuda, garganta, éter, cor branca; 6) Ajana, entre as duas sobrancelhas, todos os elementos, cor
lunar; e 7) Sahasrara, no alto da cabeça, todos os elementos, cor brilhante. Assim, o sinal de Apr.'.
corresponde ao chakra Vishuda e ao éter, o quinto elemento nos sistemas filosóficos antigos.
Segundo o Ioga Indiano, a abertura deste chakra forneceria ao iniciado o domínio sobre passado,
presente e futuro. Sua cor é o branco, que era a cor usada na túnica dos candidatos a iniciação na
Roma antiga (“branco” em latim é candida, daí se originando a palavra “candidato”). Finalmente,
na Cabala judaica, a garganta corresponde à Sefirá Daat, que é a síntese das Sefirót Chokmá e Biná,
associada à fala e correspondendo ao ponto em que a Vontade e a Inteligência começam a ser postos
em ação (a Cabala judaica será tema a ser abordado mais ao final deste livro).

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

AS FERRAMENTAS DO APRENDIZ

A compreensão do significado das ferramentas do Apr.'. M.'. é fundamental para que o


trabalho de Apr.'. seja bem sucedido. O Apr.'. é a Pedra Bruta que foi retirada da pedreira para ser
desbastada e transformada em Pedra Cúbica. O Apr.'. deve trabalhar constantemente sobre si
próprio para aperfeiçoar-se, assimilando novos conhecimentos e, por meio da disciplina,
aprendendo a subordinar a sua Vontade. Para realizar este trabalho ele deve usar as ferramentas do
Apr.'. As ferramentas do Apr.'. M.'. são: a Régua de 24 polegadas; o Esquadro; o Malho; e o Cinzel.
Cabe perguntar o porquê de ser a Régua de 24 polegadas uma ferramenta do Apr.'. M.'., já
que a Régua é o instrumento por excelência do Comp.'. No entanto, devemos considera-la também
uma ferramenta adequada ao trabalho do Apr.'., porque a Régua serve para medir e planejar o
trabalho com a Pedra Bruta. É com ela que o Apr.'. M.'. prepara-se para se tornar um Comp.'. A
palavra “régua” tem sua origem do Francês “règle”, significando regra ou lei. Isso nos lembra a
ideia do traçado reto e da medida, já que toda lei serve para medir e traçar o comportamento das
pessoas. As 24 polegadas da Régua representam as 24 horas do dia, significando que o Apr.'. deve
aprender a planejar seu tempo, e que deve estar constantemente alerta para o seu trabalho como
Maçom.
O Esquadro, diz Ragon, “é um instrumento cuja propriedade é tornar os corpos quadrados;
com ele seria impossível fazer um corpo redondo.” Ele é o símbolo da retidão e serve para
determinar ângulos retos. O Esquadro simboliza a equidade, a justiça e a retidão de caráter. Por isso
o Esquadro é a joia atribuída ao Ven.'. Mestr.'., pois cabe a ele a administração da Loja, que deve ser
executada com retidão e justiça. No Esquadro, os dois braços não tem o mesmo comprimento,
sendo ele feito na proporção de três por quatro, como os dois lados de um triângulo retângulo dos
pitagóricos. Para alguns estudiosos, o Esquadro simboliza, assim como a Cruz e a letra Tau grega, o
equilíbrio resultante do cruzamento do ativo com o passivo, do masculino com o feminino, do
positivo com o negativo. Na Cruz, a haste vertical é o masculino, ativo e a haste horizontal é o
feminino, passivo. No entanto, como o Esquadro apresenta uma dissimetria, ele não é um bom
símbolo para esse equilíbrio. Como o equilíbrio é um estado estático, o Esquadro, por sua falta de
simetria, representa um estado dinâmico. Apesar disso, a Cruz e o Quadrado podem ser formados
pela composição de 2 ou 4 esquadros. O Esquadro é uma referência à Matéria, a qual ele retifica e
torna reta. Sendo assim, o Esquadro é o polo passivo, associado a Matéria, enquanto que o
Compasso é o polo ativo, associado ao Espírito. Segundo a Cabala, o mundo é originado de uma
ruptura da ordem inicial, gerando o Caos (Tohu-Bohu) que, num segundo momento é reorganizado
nas Sefirót (emanações de Deus). Essa retificação da tessitura inicial da Criação está representada
pelo Esquadro. De forma semelhante, o Esquadro representa a ação do Homem sobre a Matéria e
sobre si mesmo. Pode-se perceber que o Esquadro é a letra Gama do Alfabeto Grego, a mesma letra
G.'. que é a representação do G.'.A.'.D.'.U.'. e da Geometria.
O Apr.'. M.'. trabalha também com o Malho e o Cinzel. Ambos servem para desbastar a
Pedra Bruta e transforma-la em Pedra Cúbica – o principal trabalho a ser desenvolvido pelo Apr.'. O
Malho é o instrumento que permite descarregar golpes, aplicando a força sobre o Cinzel. Por isso, o
Malho representa na Maçonaria a força moral e espiritual, a energia necessária para a execução do
trabalho. É o emblema da Vontade. Um Malho era o emblema do deus Thor dos nórdicos, o deus do
trovão e da força. O Apr.'. deve usar a força do Malho direcionada sobre o Cinzel, conforme o que
foi planejado usando a Régua de 24 polegadas. O Cinzel possui o poder de cortar e dar forma. O
Cinzel direciona a força do Malho sobre a Pedra para que o trabalho seja bem sucedido. Assim, o
Cinzel representa a inteligência necessária para o trabalho e o livre-arbítrio, pois dependendo da
forma como o Obreiro direciona com o Cinzel os golpes do Malho, diferentes resultados serão
obtidos. O Malho e o Cinzel representam, assim como o Compasso e o Esquadro, o ativo e o

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

passivo. A forma do Malho é a Tau grega, uma forma de Cruz. Da mesma forma que o Esquadro, o
Nível e o Prumo, o Malho é uma insígnia do Ven.'. e dos dois VVig.'.
O Nível é a insígnia do 1º Vig.'. Ele é o instrumento usado para determinar a horizontal.
Como representa uma horizontal, é um símbolo do passivo e do feminino, uma das polaridades
universais. Segundo Ragon, por determinar uma linha horizontal, o Nível é o símbolo da igualdade
social, base do direito natural.
A Perpendicular ou o Fio de Prumo é a insígnia do 2º Vig.'. Ele é o instrumento usado para
determinar a vertical. Como representa uma vertical, é um símbolo do ativo e do masculino.
Segundo Gédalge, o Fio de Prumo “é o emblema da busca – em profundidade – da verdade, do
aprumo, do equilíbrio”.
Mas, por que o Nível é a ferramenta do 1º Vig.'. e a Perpendicular a do 2º Vig.'.?
Pode parecer estranho que o instrumento passivo, o Nível, seja atribuído ao 1º Vig.'. e um
instrumento ativo, a Perpendicular, seja atribuído ao 2º Vig.'. No entanto, como o Nível contém uma
Cruz, ele contém em si ambos, o masculino e o feminino, sendo uma ferramenta mais completa que
a Perpendicular. O Apr.'. deve, ao final de seu período de três anos de trabalho, compreender o
significado da Perpendicular, a reta vertical na qual o Homem ascende para níveis superiores. Ao
final desse período de trabalho, ele deve passar da Perpendicular ao Nível, comprovando que
cumpriu seu período de trabalho, e tornando-se um Comp.'. O Nível simbolicamente nos ensina que
devemos pautar nossa vida pelo equilíbrio. Esse equilíbrio é representado na Cruz que aparece no
Nível.

Figura: O Nível

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

O AVENTAL DO APRENDIZ

O Apr.'. M.'. recebe do Ven.'. Mestr.'., ao final da Iniciação, o avental que deverá ser sempre
usado por ele em seu Trab.'. Maçônico. O avental é a única peça de vestimenta cujo uso é
obrigatório ao Maçom, e sem ele o Maçom não está maçonicamente trajado. O avental é o símbolo
distintivo do Maçom e sua adoção vem desde o tempo da Maçonaria Operativa.
O avental é um símbolo do trabalho e da atividade profissional e seu uso é disseminado em
diversos ramos da atividade produtiva. Seu uso pelos operativos para proteger a roupa durante o
trabalho mudou com sua adoção pela Maçonaria Especulativa, quando então revestiu-se de uma
natureza simbólica. Cada grau maçônico implica em um avental específico, com cor e adornos que
denotam o grau do Maçom que o usa.
A cor do avental do Apr.'. é branca, representando a pureza e inocência do Apr.'. M.'. Nas
Escolas de Mistério da Roma antiga os candidatos apresentavam-se para a Iniciação usando uma
túnica branca, com o mesmo significado simbólico de pureza. A palavra latina Candida traduz-se
por “branco”, e por isso o profano que se apresenta para a Iniciação é chamado de candidato. O
avental do Apr.'. M.'. não apresenta nenhum adorno.
O avental é feito de lã de cordeiro, significando a pureza e referenciando o Cordeiro de
Deus, o símbolo do Salvador que sacrifica-se pelo bem da humanidade.
O avental é retangular, tendo acima uma abeta triangular que deve ser mantida levantada.
Uma explicação esotérica sobre a abeta levantada é que os antigos acreditavam que o centro das
emoções humanas localizava-se no epigástrio, sendo a abeta levantada uma proteção para o Apr.'.
em seus TTrab.'., porque ele ainda não está preparado para dominar suas paixões.
O avental cobre a região sexual e o plexo solar, as regiões do corpo que se relacionam com a
sensualidade, e as paixões e emoções humanas. Sendo assim, o avental sugere o domínio destas
paixões.
O retângulo é associado ao mundo material e o triângulo ao mundo espiritual. Assim, o fato
da abeta estar levantada no avental denota que o Apr.'. não recebeu completamente o influxo
espiritual em sua vida, pois ainda não se cruzaram o material e o espiritual.
De acordo com W. L. Wilmshurst, “Lembrai-vos de que usais o Avental, primeiro com a
abeta levantada, sendo assim uma insígnia de cinco ângulos, indicando os cinco sentidos, por meio
dos quais entramos em relações com o mundo material que circunda nossos 'cinco pontos de
fidelidade' ou 'perfeição', mas indicando também pela porção triangular em cima, em conjunção
com a porção quadrangular embaixo, que a natureza do homem é uma dualidade de alma e corpo. O
trilateral emblema no alto adicionado ao quadrilateral emblema formam ambos o sete, que é o
número perfeito, pois está escrito numa antiga doutrina hebraica, à qual a Maçonaria está
intimamente aliada: 'Deus abençoou e amou o número sete mais que todas as coisas sob o Seu
trono', pelo que significa que o homem, sétuplo ser, é a mais dileta das obras do Criador. Daí
também que a Loja, para ser perfeita, requeira sete irmãos como oficiais principais.”

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

O DELTA LUMINOSO

O Delta Luminoso, localizado no Oriente, atrás do Altar e do Trono (Sólio) do Ven.'. ou no


Dossel sobre o Altar, é um Triângulo que tem ao centro o Olho Onividente, Olho da Previdência ou
Olho Que Tudo Vê. O Delta é assim chamado pois a letra Delta do Alfabeto Grego tem a forma de
um triângulo. A compreensão do significado do Delta Luminoso é um dos objetivos do período de
trabalho do Apr.'.
Devemos explicar o significado do Triângulo no Delta Luminoso. O Triângulo é o menor
polígono que se pode construir. Ele contém o misterioso número Três, formado por dois opostos e
por um conciliador, que formam em seu conjunto um equilíbrio. Assim, o Triângulo é um símbolo
do equilíbrio. Por isso o Três é considerado um número perfeito. O Triângulo que melhor adapta-se
a esse simbolismo é o triângulo equilátero, pois ele possui três lados iguais. No entanto, J. Boucher
acredita que o triângulo mais adequado é o triângulo isósceles, com a base mais longa que os outros
dois lados, pois é uma representação mais fiel da estabilidade. Em nossa Ordem, o Triângulo é
associado ao mundo espiritual, em contraste com o Quadrado que é associado ao mundo material.
Um outro triângulo importante na Maçonaria é o triângulo pitagórico que aparece no Esquadro e na
joia do Ven.'. Mestr.'.
O Número Três aparece ao longo da tradição antiga sempre com um significado dialético:
dois elementos opostos em conflito, tese—antítese; e um conciliador, síntese. Basta consultar a
Cabala judaica, onde ele é associado às três Colunas da Árvore da Vida, às letras Álef, Mêm e Shin,
e aos elementos Ar, Água e Fogo. A Água se opõe ao Fogo, pois a Água apaga o Fogo e o Fogo
ferve a Água. O Ar é o elemento conciliador, equilibrador, porque ele esfria a Água, impedindo que
ela evapore, e sopra a Água para longe do Fogo, impedindo que ele apague. Além disso, a alegoria
cabalística descreve a Criação como sendo a emanação, a partir de Deus, de uma Essência, Luz ou
Abundância Divina que preencheu determinados Vasos no mundo primitivo de Tohu-Bohu. Esses
Vasos não eram equilibrados, e acabaram se partindo, originando uma crise na estrutura original da
Criação (Caos). Esses Vasos foram retificados na forma das Sefirót. Sobre a Criação, os sábios
judeus afirmam que Deus criou o mundo equilibrando Misericórdia e Justiça, os dois lados opostos
da Árvore da Vida. Na tradição Taoista, os opostos em equilíbrio são chamados de Yin e Yang. A
psicologia Sufi (misticismo islâmico) diz que no campo de batalha chamado Qalb (Coração), dois
combatentes disputam o poder sobre a pessoa, sendo estes os opostos em conflito: Nafs (egoismo) e
Ruh (Espírito). Essa ideia aparece também na filosofia indiana, que define três propriedades da
natureza, chamadas de Gunas. Os três Gunas são: Sattwa (neutro); Rajas (ativo, positivo); e Tamas
(passivo, negativo). O número Três é uma referência à Trindade cristã e ao Trimurti Hindu
(Brahma, Shiva e Vishnu; o Criador, o Destruidor e o Mantenedor). Ele representa os três Princípios
da Criação: o Um, a Unidade emanada do Zero (Deus antes de auto-manifestar-se); o Dois, a
Dualidade de nosso mundo; e o Três que equilibra ambos.
O Olho inserido dentro do Delta Luminoso, chamado de Olho Onividente, serve para
afirmar que o Grande Arquiteto do Universo, que é Deus, é Onisciente, Onividente e Onipresente,
por isso o Delta Luminoso deve ser posto em uma posição no Oriente que não fique jamais oculto e
que possa ser visto de qualquer canto do Templo Interno, de forma a representar a permanente
presença de Deus. O Olho é apresentado cercado por um brilho, símbolo da visão espiritual. As
diversas tradições religiosas afirmam a existência de seres não físicos: Anjos; Serafins; demônios;
devas; jins; e outros mais. A visão espiritual que o Olho Onividente representa poderia significar o
contato com estes seres, que não podem ser vistos pelo olho físico. No antigo Egito, um olho era
associado ao deus Hórus. O olho de Hórus representava proteção, coragem e poder. Segundo a
lenda, o olho esquerdo de Hórus representava a Lua, e o olho direito de Hórus, o Sol. Assim
também, o Delta Luminoso é ladeado no Or.'. pelo Sol e pela Lua. O Olho, dentro do Delta

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

Luminoso, representa, no plano físico, o Sol visível, de onde emana a luz e a vida; no plano
intermediário, o Sol espiritual, o Verbo, o Logos, o poder criador; e no plano espiritual ou divino, o
G.'.A.'.D.'.U.'. O Olho Onividente remete-nos a Presença de Deus no mundo e no Homem.
Existem variações do Delta Luminoso, por exemplo, substituindo-se o Olho Onividente pela
letra G.'. ou pela letra hebraica Iud. A letra G.'. é a primeira letra do G.'.A.'.D.'.U.'. e da palavra
“Geometria”. A letra Iud é a primeira letra do Nome de Deus dos antigos Hebreus, YHVH, que
representa a manifestação transcendente de Deus e é a síntese das dez Sefirót.

Figura: Delta Luminoso

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

OS CARGOS EM LOJA

Os cargos administrativos em Loja são formados pelas três Luzes, os Dignitários e os


Oficiais:

I. LUZES

1. Venerável Mestre

Ele é a primeira Luz, o M.'. M.'. que preside a Loja e a ilumina com sua Sabedoria. Ele deve
ser reto e justo para que possa liderar a Loja. Por isso sua joia é o Esquadro, símbolo da retidão. O
Ven.'. Mestr.'. é a Vontade da Loja. Seu planeta é Júpiter, que representa a Sabedoria. Ele também
está associado com Minerva, deusa das artes e da sabedoria. Por estar no Oriente, o Ven.'. Mestr.'. é
associado ao sol nascente.

2. 1º Vigilante

A segunda Luz da Loja, e primeiro substituto do Ven.'. Mestr.'. em seus impedimentos. Ele é
o responsável pela Instr.'. dos CComp.'. e sua joia é o Nível. Ele é quem paga salário aos Obreiros,
que é a força e manutenção de sua existência. O 1º Vig.'. relaciona-se ao planeta Marte, que era o
senhor da guerra dos gregos, e ao semideus Hércules, ambos representando a Força. Ele senta-se no
Oeste, sendo assim associado ao sol poente.

3. 2º Vigilante

Completa, junto com o Ven.'. Mestr.'. e o 1º Vig.'. o que se chama de “as Três Pequenas
Luzes da Oficina”, sendo o segundo substituto do Ven.'. Mestr.'. O 2º Vig.'. é o responsável pela
Instr.'. dos AApr.'. e sua joia é o Prumo. Ele faz repousar os Obreiros e fiscaliza-os em seu trabalho.
Seu planeta é Vênus, deusa da fertilidade e do amor, representando a Beleza. Por sentar-se ao Sul, o
2º Vig.'. é associado ao sol em seu meridiano.

II. DIGNITÁRIOS

1. Orador

O Orad.'. é o guardião das Leis Maçônicas e responsável por faze-las cumprir dentro da
Loja. Ele é o defensor do Direito e da Justiça, ou seja, é o “Ministério Público Maçônico” dentro da
Loja. Sua joia é um Livro Aberto, que representa a Lei. O Orad.'. é associado à Inteligência.

2. Secretário

O Secr.'. é o responsável pela memória da Loja. Sob sua responsabilidade ficam os livros e a
correspondência da Loja. Por isso, em sua joia, figuram duas penas cruzadas, indicando o registro
do passado e do presente. O Secr.'. é associado à Sabedoria.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

3. Tesoureiro

O Tes.'. é o cargo administrativo responsável pelas finanças da Loja. Em sua joia figuram
duas chaves cruzadas, indicando que ele é o depositário das reservas monetárias da Loja e as
manipula.

III. OFICIAIS

1. Chanceler

Ele possui a guarda do Timbre e do Selo da Loja e tem a seu cargo a manutenção do Livro
de Frequência da Loja. Sua joia ilustra um Timbre. Em alguns ritos ele é considerado um
Dignitário.

2. Mestre de Cerimônias

É o executor da ritualística, sendo o cargo responsável pela movimentação em Loja. Sua


movimentação é sempre em sentido horário, o sentido do movimento do Sol no Hemisfério Norte.
Ele faz paralelo com o deus Mercúrio da mitologia, o deus mensageiro, e o Sol que caminha
diariamente no céu. A sua joia é a Régua que representa o aperfeiçoamento moral e o Infinito, já que
a linha reta não tem começo e nem fim.

3. Hospitaleiro

Sua joia é uma sacola, pois ele coleta os óbolos da Beneficência.

4. Experto

Sua joia é um punhal, já que o Irm.'. Experto representa o castigo da justiça. Ele é aquele
que guia o profano durante a Iniciação ao Gr.'. de Apr.'. M.'.

5. Cobridor/Guarda do Templo

A joia do Cob.'. é formada por duas espadas cruzadas. O Cob.'. é o responsável por garantir a
segurança do Templo e é o elo de ligação da Loja com o mundo profano, por isso sua posição em
Loja é ao lado do Portal na Parede do Ocidente.

6. Diáconos

Os dois Diáconos são os auxiliares do ritual no REAA. O 1º Diac.'. transmite as ordens do


Ven.'. Mestr.'. ao 1º Vig.'. e o 2º Diac.'. faz o mesmo do 1º Vig.'. para o 2º Vig.'. Sua joia é uma
pomba, simbolizando o papel de mensageiro que o Diácono se investe.

Além disso, a Loja possui Joias Fixas e Joias Móveis.


As Joias Fixas ou Imóveis da Loja são: A Prancheta da Loja (Prancha de Traçar), que fica
junto ao Ven.'. Mestr.'. e relaciona-se ao M.'.M.'.; A Pedra Cúbica, que fica junto ao 1º Vig.'. e
relaciona-se ao Comp.'. M.'.; e a Pedra Bruta, que fica junto ao 2º Vig.'. e relaciona-se ao Apr.'. M.'.
As Joias Móveis são: o Esquadro; o Nível; e o Prumo.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

OS TRÊS PILARES

Segundo o REAA, três Pilares devem circundar o Altar dos Juramentos no centro do
Ocidente, formando a figura de um triângulo. O grande autor maçônico Ragon diz que “o nome dos
três pilares, sustentáculos misteriosos de nossos Templos são Sabedoria (para inventar), Força (para
dirigir) e Beleza (para adornar).” Segundo o mesmo autor, o simbolismo dos três Pilares é idêntico
aos das duas Colunas J.'. e B.'. do Templo, sendo que ele aplica também a elas os epítetos de
Sabedoria e Força.
Estabelecem-se as seguintes correlações com os três Pilares:

Pilares Sabedoria Força Beleza


Lugar Oriente Norte Sul
Princípios Ativo Passivo Neutro
Cargos em Loja Venerável 1º Vigilante 2º Vigilante
Homem Espírito Alma Corpo
Trindade Pai Filho Espírito Santo
Trimurti Brahma Shiva Vishnu
Deuses Greco-romanos Minerva Hércules Vênus
Sefirót (Cabala) Chokmá Gueburá Tiferet
Arquitetura Jônica Dórica Coríntia

Jules Boucher discorda das atribuições das Sefirót da Cabala aos Pilares, substituindo Tiferet
por Chesed. Para ele as Colunas J.'. e B.'. devem ser atribuidas às Sefirót Netsach e Hod.
Cada um dos Pilares representa também uma das três principais ordens da arquitetura grega:
a dórica; a jônica; e a coríntia.

Figura: Ordens da Arquitetura Grega

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

A CORDA DE 81 NÓS

A Corda de 81 Nós é a corda que circunda o interior do Templo Maçônico, simbolizando


esotericamente a união e a fraternidade que deve existir entre todos os maçons da face da Terra. O
significado do símbolo é idêntico ao da Corrente, que aparece com frequência em monumentos e
túmulos maçônicos.
As três romãs, a Orla Dentada e a Cadeia de União também têm o mesmo significado de
união entre os maçons. A Cadeia de União é um recurso de natureza espiritual que é a melhor forma
de representação da união existente entre os maçons. No simbolismo da romã, sua casca dura e
resistente, representa a Loja em si, o Templo material que obriga os OObr.'. reunidos. As sementes
representam os OObr.'. É a pele interna da romã que mantém as sementes unidas, representando o
sigilo maçônico. Mas o que mantém a estrutura da romã são as próprias sementes, os OObr.'. da
Loja.
Os maçons operativos empregavam cordas com nós amarrados a distâncias iguais, para
efetuar medições das distâncias no canteiro de obras e para achar o esquadro da fundação de uma
obra. O Painel dos maçons operativos apresentava uma corda de 3, 5, 7 ou 12 nós.
Uma das possíveis origens do número de nós usados na corda nos dias de hoje é datada de
23 de agosto de 1773, por ocasião da instituição da primeira palavra se mestral em cadeia da união,
quando, na casa “Folie-Titon” em Paris, tomou posse Louis Phillipe de Orleans, como Grão-mestre
da Ordem Maçônica na França. Naquela solenidade estavam presentes 81 irmãos, e a decoração da
abóbada celeste apresentava 81 estrelas.
Os nós são distribuídos de forma a que quarenta fiquem a direita do Templo, quarenta a
esquerda e o nó mediano sobre o Dossel do Venerável Mestre no Oriente. O número quarenta é
sugestivo, pois é um número que aparece com frequência na Bíblia: os quarenta dias do Dilúvio de
Noé; os quarenta dias que Moisés ficou no Monte Horeb no Sinai; os quarenta anos que os Hebreus
vagaram no deserto; os quarenta dias que Jesus jejuou no deserto; os quarenta dias que Jesus
permaneceu na Terra depois da ressureição.
O número 81 é o quadrado de 9, e o número 9 é o quadrado de 3, número misterioso e
perfeito para a Maçonaria. Segundo Ragon, 81 é o número associado à adoração dos anjos.
Os nós da corda tem o formato de um 8 deitado, o símbolo do infinito, representando assim,
cada um deles, o G.'.A.'.D.'.U.'.
A Corda de 81 Nós forma uma proteção astral, um círculo mágico, em torno da Loja,
protegendo os trabalhos que ali estão sendo feitos de influências maléficas.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

Figura: O Painel do Grau de Aprendiz

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O PAINEL DO GRAU DE APRENDIZ

O Painel de Aprendiz é a representação de uma Loja Maçônica ideal, com todos os


conhecimentos, símbolos e ferramentas que lhe são peculiares. O Painel é o Quadro que é
apresentado à Loja na ocasião da abertura dos trabalhos, existindo um para cada um dos três graus
simbólicos. Ele afirma e enfatiza a simbologia que orienta o trabalho da Loja.
O Painel de Aprendiz ilustra o Templo (referenciando tanto o Templo Maçônico, quanto o
Templo de Salomão), os degraus de acesso ao Oriente, o Piso Mosaico, as Colunas J.'. e B.'., a
Corda de 81 Nós, que representa a união de todos os maçons distribuídos na orla terrestre, o sol,
representação da luz direta que vivifica – símbolo do masculino, a lua, representando a luz refletida
– símbolo do feminino, a Prancha de Traçar, símbolo associado ao Ven.'. Mestr.'., usado para
planejar uma obra, a Pedra Bruta, a Pedra Cúbica e as ferramentas da Loja (Esquadro, Compasso,
Prumo, Nível, Malho e Cinzel). Sobre a Porta do Templo aparece um triângulo que representa o
Delta Luminoso.
No Painel ainda aparecem as três janelas simbólicas da Loja (que não existem no Templo
real), localizadas no Oriente (sol nascente, Ven.'. Mestr.'.), Meio-dia (sol meridiano, 2º Vig.'.) e
Ocidente (sol poente, 1º Vig.'.).
O Painel explora os elementos presentes no Templo Maçônico e as ferramentas usadas em
Loja de Aprendiz, servindo como mecanismo de ilustração que relembra aos Irmãos em sessão do
significado da simbologia presente na Loja de Aprendiz.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

GEOMETRIA SAGRADA

A Geometria é a quinta das Sete Ciências ou Artes Liberais do Mundo Antigo. A Geometria
é o conhecimento das dimensões e proporções dos corpos. Para a Maçonaria ela assume um papel
central, pois a alegoria fundamental de nossa Ordem é a da “arte de construir”, e o construtor deve
planejar sua obra usando a matemática e a geometria.
Na verdade, a letra G.'., símbolo da Maçonaria, é uma referência ao G.'.A.'.D.'.U.'. e à
Geometria. A Maçonaria considera Deus como o Grande Geômetra. Para a sabedoria antiga, Deus
cria o mundo por meio dos números abstratos e das figuras geométricas.
A Cabala nos ensina que a criação divina inicia com a manifestação das Sefirót, entidades
abstratas que são a ligação entre Deus e Sua criação. De acordo com Lazarus Goldsmith, as Sefirót
são “os números abstratos os quais são algo e nada ao mesmo tempo”. Os números a que ele se
refere não são os números da matemática, mas representam os mais elevados princípios da
manifestação da atividade de Deus.
A Geometria fornece ao Iniciado a MEDIDA de todas as coisas, que é a sua própria Medida,
ou como diz Protágoras, “O Homem é a Medida de todas as coisas, dos seres vivos que existem e
das não-entidades que não existem.”
Entre as figuras geométricas e sólidos, os de maior interesse de estudo para o Apr.'. M.'. são:
o Círculo; o Triângulo; o Quadrado; o Hexágono; o Octaedro; o Icosaedro e o Cubo.
O Círculo é uma das mais antigas formas usadas pelo homem em suas construções. Ele é a
única figura geométrica que não possui nenhum ângulo, representando o completamento e a
totalidade. O Círculo contém, circunscrita, a medida do homem, como no famoso desenho de
Leonardo da Vinci. A Pedra dos Filósofos, a súmula de todas as coisas e a chave para o
conhecimento, é representada por esta figura, com a qual, usando um Compasso, podemos
descrever todas as outras figuras geométricas.
O Triângulo é uma forma perfeita, pois é o polígono com o menor número de lados. O
Triângulo simboliza o misterioso Número Três. Denota uma relação dialética tese─antítese─síntese.
Na Maçonaria é um emblema do Mundo Espiritual, em oposição ao Quadrado, emblema do Mundo
Material. Por sua forma piramidal, o triângulo equilátero, assim como a própria pirâmide, é um
emblema do Fogo. O triângulo retângulo ou pitagórico é um emblema idêntico ao esquadro, o
símbolo do Ven.'. Mestr.'.
O Quadrado representa o microcosmo e é um emblema da estabilidade do mundo. Foi a
figura geométrica escolhida pelos antigos egípcios para a base de suas Pirâmides. Se dividido em
quatro quadrados iguais, forma a figura de uma Cruz circunscrita nele. Tomando-se estas quatro
direções, as quatro direções cardeais, e adicionando-se as quatro formadas pelas diagonais do
Quadrado, os “quatro cantos do mundo”, constrói-se a divisão óctupla do espaço, venerada pelos
budistas.
O Hexágono é uma figura natural produzida pela divisão da circunferência de um círculo
por meio de seu raio. É uma figura que aparece com frequência na Natureza. Um exemplo é o favo
das abelhas, tendo a propriedade de otimizar o uso de material para sua construção, contendo mais
mel que qualquer outra figura geométrica. No Hexágono pode ser inscrita a figura do Hexagrama, a
estrela de seis pontas, conhecida como Selo de Salomão.
O Hexagrama é formado por dois triângulos equiláteros que se interpenetram, um apontando
para cima, outro para baixo, representando os princípios opostos ativo─passivo,
masculino─feminino, positivo─negativo. O Esquadro sobreposto ao Compasso, símbolo da
Maçonaria, forma exatamente esta figura.
O Octaedro, poliedro de oito faces, é o sólido platônico formado por oito triângulos
equiláteros. Era, para os platônicos, um emblema do Ar. Já o Icosaedro, poliedro convexo de vinte

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

faces, é um emblema do elemento Água. Finalmente, o Cubo é a figura sólida formada por seis
faces, oito vértices e doze arestas iguais que, para os platônicos, representa o elemento Terra.

Figura: Hexagrama ou Selo de Salomão

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O SIGNIFICADO DO TEMPLO MAÇÔNICO

O Templo Maçônico inspira-se no Templo que Salomão construiu em Jerusalém e onde era
guardada a Arca da Aliança e outras relíquias do Judaísmo. O Templo tem o formato de um
quadrado oblongo ou quadrilongo, ou seja, um retângulo com dois lados paralelos sendo maiores
que os outros dois lados. O Templo Maçônico é dividido em três partes: Sala dos Passos Perdidos;
Átrio; e Templo Interno. O Templo Interno é dividido em duas partes: Oriente; e Ocidente. As
dimensões do Templo devem ser tais que o Oriente seja um quadrado e que o Ocidente tenha como
comprimento uma vez e meia a sua largura.
“Templo” é uma palavra derivada do latim tempus (tempo). Todos os Templos, dedicados ao
G.'.A.'.D.'.U.'., que as civilizações antigas construíram, foram feitos com o propósito de
representarem ao mesmo tempo o Homem e o Universo. E assim também é com o Templo
Maçônico. Os Templos em todas as eras sempre foram alegorias do próprio corpo físico do Homem.
Para entender isso, basta ver no Templo Maçônico, assim como nos Templos dos antigos,
nas Escolas de Mistérios da Grécia, Egito e Roma, onde suas dimensões, forma e proporções de
suas medidas são idênticas às do corpo humano. Sabemos que a Câmara do Rei localizava-se bem
ao centro da Grande Pirâmide, representando o coração. A entrada do candidato à Iniciação Egípcia,
na Câmara do Rei, era uma metáfora para a entrada no coração, sede da emoção e residência da
Alma Imortal. Quando nos dias de hoje o Maçom entra no Templo Maçônico, repete o simbolismo
de entrar dentro de si próprio, por meio da oração e meditação, para encontrar-se com o reflexo da
Divindade que habita dentro do Homem. Ambos, o Homem (microcosmo) e o Universo
(macrocosmo) estão representados no Templo Maçônico, já que o preceito hermético diz que “assim
em cima como embaixo.” Isso significa que o corpo humano é a contraparte do Universo.
Devemos refletir sobre a necessidade que os homens têm de representar estas ideias no
Templo. Desde que a Alma do Homem caiu na matéria e deixou-se aprisionar nela, as ideias
abstratas do mundo espiritual lhe são difíceis de compreender, e ele tem a necessidade de
representar concretamente suas aspirações espirituais e seu desejo de retornar ao estado natural de
contato com o mundo espiritual. Para os antigos, o corpo humano é o recipiente dentro do qual jaz a
Chama Sagrada, o Espírito Divino que anima ao Homem, por isso ele é sagrado. Desse fato deriva a
importância que os antigos atribuíam à representação alegórica do Homem no Templo. O Iniciado,
ou Filho da Luz, compreende que seu corpo é o Templo de Deus, assim como o Universo inteiro.
Por isso a Bíblia diz: “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em
vós?” (1 Coríntios 3:16). O Alcorão diz que “Deus está mais perto de ti que a tua artéria jugular"
(Alcorão 50:16).
As similaridades e paralelos entre o corpo humano e o Templo Maçônico são bastante
evidentes. A disposição do Templo Maçônico atribui ao Or.'. e ao Ven.'. a posição da cabeça, sede
do pensamento e da vontade, já que é o Ven.'. o responsável por toda a administração da Loja e pela
instrução dos IIr.'. da Loja. Os AApr.'. e CComp.'., posicionados ao Norte (Setentrião) e ao Sul do
Templo, correspondem aos braços que são os responsáveis por executar as obras, assim como os
Obreiros da Loja. No Ocidente, as duas Colunas J.'. e B.'. correspondem às pernas e aos pés,
responsáveis pela sustentação do Templo e do corpo humano. Assim, basta imaginar a alegoria do
Templo como sendo um homem deitado de costas sobre o Templo, tendo a cabeça sobre o Altar do
Ven.'., os braços direito ao Sul e esquerdo ao Norte, os pés ao Ocidente. O Ocidente representa o
peito ou tronco, sede da emoção e por isso ai ficam os MM.'. MM.'. (na Câmara do Meio). Ao
centro do Ocidente, onde encontra-se o Piso Mosaico, os três Pilares (Sabedoria, Força e Beleza)
com velas e o Altar dos Juramentos, corresponde ao coração, o lugar onde brilha a Luz Divina.
As doze colunas que ladeavam o Templo de Salomão em Jerusalém, e que ladeiam também
o Templo Maçônico, dentro do Templo Interno, correspondem às doze constelações e às doze partes

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ou órgãos do Homem: Áries domina a cabeça; Touro, a garganta e o pescoço; Gêmeos, os pulmões
e os braços; Câncer, o estômago; Leão, o coração; Virgem, os intestinos; Libra, os rins; Escorpião,
os órgãos sexuais; Sagitário, os quadris e os músculos; Capricórnio, os joelhos; Aquários, os
tornozelos; e Peixes, os pés. As doze constelações são também uma referência ao Universo
(macrocosmo). Devemos observar que o sentido horário usado em todas as viagens dos AApr.'.
representa o movimento do Sol no céu no hemisfério norte. O fato dos AApr.'. ficarem no Norte
(Setentrião) deve-se ao fato que no hemisfério norte, a luz do Sol é mais intensa na direção do sul e
mais fraca na direção do norte. Os antigos sempre cultuaram o Sol, fonte de Vida e reflexo do Sol
Espiritual, atribuindo ao norte a escuridão e o mal. A Bíblia diz que “do norte se derramará o mal
sobre todos os habitantes da terra” (Jeremias 1:14). Assim, escolheu-se no Templo Maçônico o
Norte para ser o lugar onde ficam os AApr.'. porque esses ainda não estão preparados para a Luz
maior ao Sul (meio-dia), onde ficam os CComp.'.
Disposição similar aparece também nos Templos das religiões e nos Templos dos antigos
com os mesmos significados. Basta ver as grandes catedrais cristãs da Europa, onde o altar
corresponde também à cabeça, a nave central ao tronco do corpo humano e as naves colaterais aos
braços de um homem deitado em cruz. Os egípcios antigos sabiam muito bem que a Grande
Pirâmide era ao mesmo tempo uma alegoria do corpo físico do Homem e de todo o Universo. O
mesmo ocorre com a Kaaba em Meca, centro de peregrinação dos muçulmanos. Kaaba quer dizer
“cubo”, e um cubo tem seis faces, representando as seis direções do espaço físico, e doze arestas,
representando as doze constelações no Universo. Significado semelhante tem também a Arca da
Aliança na tradição hebraica. Na tradição religiosa dos antigos Hebreus, o Templo, durante a
peregrinação no deserto, era móvel, chamado de Tabernáculo, sendo uma alegoria para o Homem,
peregrino neste mundo, e cercado pelas doze tribos (as doze constelações). Tanto o Tabernáculo
quanto o Templo de Salomão tinham três partes: Vestíbulo (em hebraico: ulam); Santuário (em
hebraico: kodesh); e Sanctum Sanctorum (Santo dos Santos; em hebraico: devir) – essa última uma
sala perfeitamente cúbica com 11m de lado. Cada um deles representa um dos três aspectos do
Homem: Corpo físico, Alma Vivente e Espírito. Esta mesma divisão encontra-se no Templo
Maçônico: Sala dos Passos Perdidos; Átrio; e Templo Interno.
O significado disso é que o verdadeiro Sanctum Sanctorum encontra-se no interior do
Homem, em sua Alma Imortal, na Luz Divina que habita no Homem e é o reflexo de Deus em nós,
porque o Homem foi feito “a imagem e semelhança de Deus” (Gênesis 1:26-27). O Coração é
considerado como o local onde jaz o Verbo Divino e é por isso que diversas tradições religiosas
consideram que Deus habita em nosso coração. Basta ver a insistência da Igreja Católica no culto ao
Sagrado Coração de Jesus e ao Sagrado Coração de Maria. Sri Ramana Maharshi, sábio vedântico
da Escola Advaita diz que “o ego (a mente) cria o abismo, o coração o cruza.” O coração é o farol
de onde vem a Luz que nos guia e ilumina, e é por isso que no Templo Maçônico os Pilares, com
velas a iluminar, são postos no centro do Ocidente.
Quando o candidato a Apr.'. M.'. entra no Templo, adentra alegoricamente ao seu próprio
interior em busca da Luz Divina, o Verbo que se fez carne (veja João 1:1-14). Porém, estando
vendado, simboliza que o novato ainda não está preparado para receber esta Luz, devendo antes
passar pelas provas para que se mostre preparado para recebe-la. Na Iniciação Egípcia, o candidato
também adentrava a Grande Pirâmide com o mesmo objetivo, e passava também por provas. A
porta estreita de entrada na Câmara do Rei é a mesma porta de que falam os Evangelhos: “porque
estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida” (Mateus 7:14). Para entrar na
Câmara do Rei da Grande Pirâmide do Egito por esta porta baixa, o candidato devia inclinar-se,
como faz hoje o candidato na Iniciação de Apr.'. M.'., dobrando-se a si mesmo e conduzindo-se ao
mundo interno. A seguir, na Iniciação Egípcia, o candidato deveria ser purificado pelos elementos: a
prova do ar; a prova da água; e a prova do fogo. O mesmo que ocorre hoje em nossa Ordem.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

Semelhantes elementos podem ser também identificados nos Mistérios da Grécia, do Egito e da
Roma antiga.
O Templo Interno tem formato semelhante aos da Arca de Noé e da Arca da Aliança, assim
como ao Argha dos Hindus, símbolos fálicos, pois representam o poder gerador, o Útero. Dentro da
Arca de Noé eram guardadas as sementes da vida, e foi em torno da Arca da Aliança que o Rei Davi
dançou nu perante as filhas de Israel (veja 2 Samuel 6:12-22), numa reedição judaica dos festivais
dedicados a Baco. Assim, representam as Arcas o poder criador de Deus refletido no Homem e na
Natureza, a sobrevivência da vida, e a supremacia do espírito sobre a matéria.
A Abóbada Celeste tem função tanto decorativa quanto simbólica. Não devemos esperar que
haja concordância entre a Abóbada Celeste no Plano do Teto, como descrita nas regulamentações do
Rito, e o plano celeste real. Como bem citado pelo Irm.'. Adair Paulo Modena, Carl Sagan, em
Cosmos, já afirmava que os homens são “filhos das estrelas”. Afirma o Irm.'. Adair “que o teto
estrelado das lojas escocesas é uma reminiscência do Antigo Egito que cultuou sobremodo tal
conhecimento, acolhido e normatizado no texto inicial do ritual.” Para os povos antigos, os astros
do céu exercem influência sobre o mundo. Sabemos que as estações do ano e as colheitas são
determinadas pelos astros, como o sol e a lua, e é a lua que dá estabilidade ao nosso planeta.
É importante também compreender o significado do Pavimento Mosaico do Templo
Maçônico. Devemos perceber que, ao inverso do mundo espiritual que é uno, nosso mundo físico
caracteriza-se pela pluralidade. Toda a pluralidade da criação de Deus deriva da Unidade Divina,
quando a dualidade emerge da Unidade. A dualidade é uma Lei deste mundo e rege a vida do
Homem: Quente—frio; masculino—feminino; ativo—passivo; bem—mal; vida—morte; e assim
por diante. Esta dualidade da vida humana está expressa no Pavimento Mosaico do Templo e nas
Colunas J.'. e B.'. A primeira Coluna tem como significado “estabilidade” e a segunda “força”. Isso
significa que a utilidade das Colunas é sustentar e tornar o Templo estável. Estas colunas são
também a representação simbólica da sustentação do corpo humano.
Mas não seria mais correto que a sustentação do corpo humano fosse representada apenas
por uma coluna, já que a fisiologia do corpo físico apresenta uma única coluna vertebral?
Sabemos que na tradição mística da Índia, considera-se que a coluna vertebral é ladeada por
dois canais que se enroscam ao longo de todas as vértebras, chamados de Ida e Pingala. As duas
colunas J.'. e B.'. podem ser referências a estes canais sutis que conduzem a energia psíquica ao
longo do corpo. Outra explicação dada sobre este assunto, diz que estas duas colunas são o reflexo
das colunas de nuvens, durante o dia, e de fogo, durante a noite, que guiavam os hebreus no deserto
(Êxodo 13:21-22). Esta também é uma referência às duas provas da água e do fogo. Na Árvore da
Vida da Cabala judaica (tema de outra instrução de grau), os dois VVig.'. e as Colunas J.'. e B.'.
correspondem às Sefirót Netsach (Vitória) e Hod (Esplendor). Assim, as Colunas J.'. e B.'. e os dois
VVig.'. correspondem às colunas direita e esquerda da Árvore da Vida, associadas à Água e ao
Fogo.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

A CABALA JUDAICA

Assim como nossa civilização fez grandes progressos materiais e científicos, as civilizações
antigas obtiveram grandes progressos na compreensão do mundo espiritual. Embora estas
civilizações tenham desaparecido, parte deste conhecimento foi passado para as gerações que a eles
se seguiram, chegando até nós. No mundo ocidental, estes conhecimentos chegaram a nós
principalmente por meio do povo judeu. Estes conhecimentos foram sistematizados na Cabala, que
é a tradição mística do Judaísmo. O estudo da Cabala é muito importante para o Apr.'. M.'. pois,
segundo diversos estudiosos, os graus simbólicos da Maçonaria foram parcialmente baseados na
Cabala judaica.
Um dos mais importantes fundamentos da Cabala judaica é a existência de uma Realidade
Absoluta, eterna, incriada e autocontida, onde toda a criação tem sua raiz, e que os cabalistas judeus
chamam Ain Sóf. Dessa Raiz sem Raiz emana a manifestação divina, que é representada por uma
hierarquia abstrata chamada de Árvore da Vida. A Árvore da Vida é formada por dez entidades
abstratas e espirituais chamadas de Sefirót (singular: Sefirá): Keter (Coroa); Chokmá (Sabedoria);
Biná (Inteligência); Chesed (Misericórdia); Gueburá (Coragem, Força); Tiferet (Beleza); Netsach
(Vitória); Hod (Glória); Yesod (Fundação); e Malkut (Reino). A Árvore da Vida é uma
representação simbólica de Adão Kadmon, O Homem Celestial, a que a Bíblia se refere quando diz
que Deus fez o Homem a Sua imagem e semelhança (Gênesis 1:26). As dez Sefirót representam
uma restrição dos infinitos atributos de Deus a apenas dez atributos que são considerados números
arquetípicos. A relação entre as Sefirót e os números indica que os princípios metafísicos da criação
são especialmente caracterizados por seus valores numéricos. As dez Sefirót estão sintetizadas no
Nome de Deus, YHVH. A Cabala ensina que toda a Criação se origina das permutações das letras
do Nome de Deus.
Observe que a Árvore da Vida da Cabala apresenta-se invertida, com as raízes no alto e as
folhas na parte baixa, da mesma forma que a figueira-de-bengala mencionada no Capítulo 15 do
Bhagavad-gita, livro sagrado dos Hindus, como sendo uma árvore do conhecimento.
A estrutura da Árvore da Vida possui três colunas, onde se distribuem as Sefirót. A coluna da
direita é masculina, ativa, associada à Misericórdia e à Água e a da esquerda é feminina, passiva,
associada à Justiça e ao Fogo. Ambas estão em oposição e conflito, já que a Misericórdia se opõe à
Justiça rigorosa. A coluna do meio é harmonizadora, neutra, associada à Temperança e ao Ar, e é
considerada a conciliadora das duas primeiras. Isso forma uma estrutura dialética, onde os dois
opostos, tese—antítese, são conciliados pelo terceiro elemento, síntese. As três colunas da Árvore
da Vida são associadas a Sabedoria (coluna direita), Força (coluna esquerda) e Beleza (coluna do
meio).
A tríade Misericórdia—Justiça—Temperança ou Água—Fogo—Ar faz paralelo com as
letras hebraicas Mêm—Shin—Álef, associadas às colunas na mesma ordem (Mêm é associada à
coluna da direita, Shin à da esquerda e Álef à coluna do meio). A Cabala associa o lado direito da
Árvore da Vida ao Sul, Misericórdia e Bem, e o lado esquerdo ao Norte, Justiça e Mal. Em nossa
Ordem, interpretamos de forma semelhante os lados Norte e Sul do Templo Maçônico, já que o
Norte (Setentrião) é o lado “escuro”, pois a luz maior fica ao Sul. Sobre isso, a Bíblia diz que “do
norte se derramará o mal sobre todos os habitantes da terra” (Jeremias 1:14). Esta relação
conflituosa entre os lados opostos da Árvore da Vida é a chave para entender o mundo físico.
O equilíbrio entre elementos opostos, que são conciliados por um terceiro elemento, é a
origem e caracterização dos fenômenos do mundo (coincidentia oppositorum). Essa ideia aparece
também na filosofia indiana, que define três propriedades da natureza, chamadas de Gunas. Os três
Gunas são: Sattwa (neutro); Rajas (ativo, positivo); e Tamas (passivo, negativo). As três colunas da
Árvore da Vida podem ser comparadas a Ida, Shushumna e Pingala, os canais do sistema da ioga

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

indiana que conduzem a energia sutil dentro do corpo humano.


Sabemos que o número 3 é considerado pela Maçonaria um número misterioso. Ele contém
a unidade, que representa Deus e a dualidade, que representa o mundo, já que 1+2=3. O três encerra
dentro dele dois elementos que se opõem e um elemento que lhes concilia. Ele forma na geometria
o triângulo, o menor e mais perfeito polígono. O três está representado no Templo Maçônico pelo
Delta que adorna o Or.'.
Sobre a distribuição das Sefirót na Árvore da Vida, as Sefirót que ficam na coluna direita
são: Chokmá; Chesed; e Netsach. As da coluna esquerda são: Biná; Gueburá; e Hod. As
remanescentes ficam na coluna do meio: Keter; Tiferet; Yesod; e Malkut. . Eventualmente a Sefirá
Keter, por ser elevada demais, não é contada entre as Sefirót. Nesse caso, é contada uma
pseudo-Sefirá chamada Daat (Conhecimento), de forma a permanecerem exatamente dez Sefirót.
Cada uma das seguintes tríades de Sefirót (uma da coluna direita que se opõe a da coluna esquerda e
uma da coluna do meio que as concilia) tem uma relação dialética tese—antítese—síntese: Chokmá
—Biná—Daat; Chesed—Gueburá—Tiferet; e Netsach—Hod—Yesod. Nessa estrutura, as Sefirót
estão conectadas por 22 canais que são associados às 22 letras do alfabeto hebraico. Os canais são:
elementos de sustentação do mundo (veja Provérbios 9:1); dutos para a circulação da Essência ou
Abundância divina (veja Salmos 133:2); e caminhos de ascensão na Árvore da Vida (veja Gênesis
28:12).
Keter é a primeira e a mais elevada das Sefirót, associada à Vontade divina, sendo uma
Sefirá incompreensível, pois a Vontade divina está acima da compreensão humana. A tríade
Chokmá—Biná—Daat é associada aos aspectos mais elevados do pensamento divino, sendo
Chokmá associado à Sabedoria, acumulação de informações, e Biná à Inteligência, que é a
capacidade de manipular informações. Daat (Conhecimento) representa a confluência de ambas,
sendo onde o pensamento começa a ser posto em ação. A segunda tríade, Chesed—Gueburá—
Tiferet, compõe o aspecto psicológico e emocional da alma e a última tríade, Netsach—Hod—
Yesod, é a conexão da totalidade das Sefirót com a última Sefirá, Malkut. Por isso, Chokmá e Biná
são associados à cabeça do Homem, Daat, que fica logo abaixo, é associado à garganta, Chesed e
Gueburá são associados aos braços direito e esquerdo, respectivamente, Tiferet é associado ao
coração, Netsach e Hod às pernas e Yesod ao órgão sexual masculino. Finalmente, Malkut
representa a mulher e é chamada de Noiva ou Princesa. Essa última Sefirá é a que fica mais
próxima do mundo material que é a sua sombra.
A Árvore da Vida pode ser associada ao Templo Maçônico da seguinte forma: A primeira
tríade de Sefirót é associada ao Ven.'. e aos Dignitários, pois são eles os responsáveis pela
Administração da Loja e a instrução dos IIr.'. em Loja. O Orad.'. é associado à Biná – inteligência,
intuição e raciocínio, já que ele é responsável pela instrução e manutenção da Lei na Loja, enquanto
que o Secr.'. é associado a Chokmá – sabedoria e memória, porque ele é responsável por registrar as
informações da Loja; As Sefirót Chesed e Gueburá são os braços, os Obreiros da Loja, Chesed é
associado ao Sul e aos CComp.'. e Gueburá ao Norte a aos AApr.'.; Tiferet é o peito e o coração da
Loja, o Ocidente e o Metr.'. de CCer.'.; Netsach e Hod são as pernas e os pés, associados aos VVig.'.
e às Colunas J.'. e B.'.; Yesod é associado ao Cob.'. Int.'. e Malkut ao Cob.'. Ext.'. e ao próprio
Templo como um todo (externamente) pois é o mais externo e o mais próximo do mundo profano.
No centro do Templo encontram-se as três Colunas: Sabedoria; Força; e Beleza; que
correspondem às Sefirót Chokmá, Gueburá e Tiferet, cada uma delas encontrando-se em uma das
Colunas da Árvore da Vida.
A Cabala ensina a existência de um aspecto Não Manifestado de Deus. Ain, Ain Sóf e Ain
Sóf Or são as três Raízes Negativas da Árvore da Vida. A Luz Infinita Não Manifestada é Ain
(Negatividade). Ain Sóf (O Ilimitado) é o Vaso que contém Ain. A Luz Infinita Manifestada que
resulta da união de Ain e Ain Sóf chama-se Ain Sóf Or. Os estados de Existência Negativa não

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

podem ser definidos pois escapam a compreensão humana. No entanto, a Existência Negativa é a
Raiz, o Substrato da Existência Positiva e da Vida. Assim, segundo a Cabala judaica, Deus
apresenta-se por meio de dois aspectos principais: o Deus Não Manifestado, deus absconditus
(aspecto transcendente de Deus); e o Deus em Suas Manifestações (aspecto imanente de Deus).
As Raízes Negativas da Árvore da Vida são a origem e fundamento do mundo material, que
é sua sombra. Para os cabalistas judeus, fazendo uso de uma metáfora sobre uma condição
vaporosa, o mundo material, sensível ou fenomênico, é considerado uma ilusão transitória. Apenas
o Mundo Espiritual, Divino e Imutável é real, correspondendo à Existência Negativa. O conceito de
ilusão da Cabala é semelhante ao conceito hindu de maya.
Durante os três anos, em recordação às três viagens, o Apr.'. M.'. deve compreender a
unidade, a dualidade e a trindade. Esses são os três primeiros números e que encerram um mistério.
O Um é a Unidade do Todo. Antes do Um existia apenas o Zero (Deus antes de auto-manifestar-se).
No princípio, o Um manifestou-se. Uma vez que o Um tenha se manifestado, a Unidade inicial
imediatamente torna-se Dualidade e aparece o número Dois que é o mundo: macho e fêmea; luz e
trevas; positivo e negativo; e assim por diante. No céu esta dualidade está expressa no Sol, que é
positivo e na Lua que é negativa. No Templo Maçônico esta dualidade está expressa no Pavimento
Mosaico. Manifestada a Dualidade, tese—antítese, imediatamente produz-se a síntese, que é o
número Três, princípio perfeito porque é equilibrado.
O Nome de Deus é a síntese das dez Sefirót. Na Torá, o livro sagrado dos Hebreus, Deus é
referenciado por meio de diversos nomes, sendo os principais: El; Eloah; Elohim; e YHVH. Esse
último, conhecido como Tetragrama, é considerado como o mais sagrado e misterioso. Ele é
formado pelas letras hebraicas Iud—Hei—Váv—Hei, sendo impronunciável. Esse Nome está
associado ao aspecto transcendente de Deus. A Cabala ensina que a manifestação divina divide-se
em quatro mundos: Atsilut (Mundo Arquetípico); Briá (Mundo da Criação); Yetsirá (Mundo da
Formação); e Assiá (Mundo da Ação). Cada um desses quatro mundos é associado a uma das quatro
letras do Tetragrama. Iud é a letra associada à Chokmá, tendo a forma de uma vírgula. É dito que o
ponto que encima a letra Iud pode ser associado à Keter, a mais elevada das Sefirót, o ponto inicial
da criação divina. O primeiro Hei é associado à Biná. O Váv é associado às Sefirót Chesed,
Gueburá, Tiferet, Netsach, Hod e Yesod. Finalmente, o segundo Hei, a última letra do Nome
YHVH, é associada à Malkut. A Cabala ensina que as permutações das letras do Nome de Deus são
as responsáveis por toda a Criação, e práticas místicas dos judeus usam a vocalização destas letras
em diversas combinações como uma prática meditativa. Interessante também observar o paralelo
que existe entre as quatro letras do Nome de Deus e os quatro elementos dos antigos: Ar; Água;
Fogo; e Terra. Como a última letra do Nome está repetida, os cabalistas afirmam que isso significa
que o elemento Terra não é um elemento primordial, mas sim um elemento derivado.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

Figura: A Árvore da Vida e as Sefirót

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

LEITURA COMPLEMENTAR

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

A TÁBUA DE ESMERALDA DE HERMES TRISMEGISTUS

1. Verdadeiramente, sem dúvida, certo e muito confiável:

2. O que está Abaixo corresponde ao que está Acima, e o que está Acima corresponde ao que está
Abaixo, para realizar os milagres da Entidade Única.

3. E assim como todas as coisas vem da Entidade Única, através da mediação de sua Mente Única,
assim também todas as coisas criadas se originam desta Entidade Única por transformação.

4. Seu pai é o Sol. Sua mãe é a Lua. O Vento carrega-o em seu ventre. Sua enfermeira é a Terra. A
origem de todas as perfeições do mundo está aqui. Seu poder é pleno, se é convertido na Terra.

5. Separe a Terra do Fogo, o sutil do grosseiro, suavemente e com grande criatividade. Ele ergue-se
da Terra para o Céu, e desce novamente para a Terra, recebendo a força de ambas as coisas, superior
e inferior. Desta forma, você obterá a glória do mundo e toda a obscuridade se afastará de você.

6. Esta é a força, fortaleza com todo poder, que superará toda coisa sutil e penetrará toda coisa
sólida.

7. Desta forma o mundo foi criado.

8. Disto surgirão muitas admiráveis adaptações, cujos meios estão aqui descritos.

9. Desta forma eu me chamo Hermes, o Três Vezes Grande, tendo as três partes da filosofia
universal.

10. O que eu disse sobre a Obra do Sol está completo.

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LIVRO DE INSTRUÇÕES DO APRENDIZ MAÇOM

O DISCURSO DE PIMANDRO DE HERMES TRISMEGISTUS

1. Todas as coisas que são, são móveis; somente as coisas que não são, são imóveis.

2. Todo Corpo é mutável.

3. Nem todo Corpo é dissolúvel.

4. Alguns Corpos são dissolúveis.

5. Toda coisa viva não é mortal.

6. Nem toda a coisa viva é imortal.

7. Tudo que é dissolúvel é também corrompível.

8. Aquilo que permanece parado sempre é imutável.

9. Aquilo que é imutável é eterno.

10. Aquilo que é sempre feito é sempre corrompível.

11. Aquilo que é feito somente uma vez, nunca é corrompível, nem tornase qualquer outra coisa.

12. Primeiro, Deus; em segundo lugar, o Mundo; em terceiro, Homem.

13. O Mundo para o Homem, o Homem para Deus.

14. Da Alma, a parte que é Sensível é mortal, mas a que é Racional é imortal.

15. Toda essência é imortal.

16. Toda essência é imutável.

17. Toda coisa que é, é dobrado.

18. Nenhuma das coisas que é, permanece.

19. Nem todas as coisas são movidas pela Alma, mas toda coisa que é, é movida pela Alma.

20. Toda coisa que sofre é Sensível, toda coisa que é Sensível sofre.

21. Toda coisa que é triste também se alegra, e é uma Criatura viva mortal.

22. Nem toda coisa que alegra é também triste, mas é uma coisa viva eterna.

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23. Nem todo Corpo é doente; todo Corpo que é doente é dissolúvel.

24. A mente em Deus.

25. Razão no Homem.

26. Razão na Mente.

27. A Mente está vazia de sofrimento.

28. Nenhuma coisa é um Corpo verdadeiro.

29. Tudo que é incorpóreo, está liberto da Mentira.

30. Toda coisa que é feita é corrompível.

31. Nenhum bem sobre a Terra, nenhum mal nos Céus.

32. Deus é bem, o Homem é mal.

33. Bem é voluntário, ou de seu próprio acordo.

34. Mal é involuntário ou contra seus desejos.

35. Os deuses escolhem coisas boas, como coisas boas.

36. Tempo é uma coisa divina.

37. Lei é Humana.

38. Malícia é o alimento do Mundo.

39. Tempo é a corrupção do Homem.

40. Qualquer coisa no Céu é inalterável.

41. Todas as coisas sobre a Terra são alteráveis.

42. Nada no Céu é servo, nada sobre a Terra é livre.

43. Nada é desconhecido no Céu, nada é conhecido sobre a Terra.

44. As coisas sobre a Terra não se comunicam com as coisas no Céu.

45. Todas as coisas no Céu são incensuráveis, todas as coisas sobre a Terra são sujeitas a
Repreensão.

46. O que é imortal, não é mortal; o que é mortal não é imortal.

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47. O que é plantado, nem sempre é gerado; mas o que é gerado, sempre é plantado.

48. Para os Corpos dissolvíveis, existem dois Tempos, um de plantar para gerar, e outro de gerar
para morrer.

49. Para um Corpo maduro, o tempo é somente para a Geração.

50. Corpos dissolúveis aumentam e diminuem.

51. Matéria dissolúvel é alterada em contrários; para saber, Corrupção e Geração, mas matéria
Eterna o é em si própria, e como ela própria.

52. A Geração do Homem é Corrupção, a Corrupção do Homem é o início da Geração.

53. Aquilo que gera ou pari outro, é ele próprio um gerado ou parido por outro.

54. Das coisas que são, algumas são em Corpos, algumas em suas Ideias.

55. Qualquer coisa que pertence à operação ou ao trabalho, estão em um Corpo.

56. Aquilo que é imortal, não partilha nada com aquilo que é mortal.

57. Aquilo que é mortal, não vai para um Corpo imortal, mas aquilo que é imortal, vai para aquilo
que é mortal.

58. Operações ou Trabalhos não são transportados para cima, mas descem para baixo.

59. As coisas sobre a Terra não geram benefício para o Céu, mas todas as coisas no Céu beneficiam
e ajudam as coisas sobre a Terra.

60. O Céu é um receptáculo capaz e adequado para os Corpos definitivos, a Terra dos Corpos
corrompíveis.

61. A Terra é bestial, o Céu é racional.

62. Estas coisas que estão no Céu são sujeitas e postas abaixo dele, mas as coisas da Terra, são
postas sobre ela.

63. O Céu é o primeiro Elemento.

64. Providência é a Ordem Divina.

65. Necessidade é o Ministério ou Servo da Providência.

66. Fortuna é a produção ou efeito daquilo que é sem Ordem; o Ídolo da operação, uma fantasia
mentirosa ou opinião.

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67. O que é Deus? O imutável e inalterável Bem.

68. O que é o Homem? O mutável Mal.

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DUAS ORAÇÕES PARA ALQUIMISTAS DE KARL VON ECKARTSHAUSEN

I.
1. Luz Suprema, que é arte do Divino na Natureza e habita em suas partes mais íntimas como no
céu, santificado sejam tuas qualidades e leis!

2. Onde quer que tu estejas, tudo é levado à perfeição; pode o reino do teu conhecimento tornar-se
sujeito a ti.

3. Que a nossa vontade, em todo o nosso trabalho seja apenas teu, auto-movente Poder da Luz ! E
como em toda a Natureza tu realizas todas as coisas, por isso realiza todas as coisas em nosso
trabalho também.

4. Dê-nos do orvalho do céu e a gordura da terra, os frutos do Sol e da Lua a partir da Árvore da
Vida.

5. E perdoa-nos todos os erros que cometemos no nosso trabalho sem o conhecimento de ti, à
medida que procuramos converter dos seus erros aqueles que ofenderam os nossos ensinamentos. E
deixe-nos não para a nossa própria escuridão e nossa ciência, mas livrai-nos de todo o mal através
da perfeição da tua obra, Amen.

II.
Salve, pura auto-movente Fonte, Oh Forma, pura para receber a Luz! A Luz de todas as coisas se
une a ti sozinha.

Mais bendita és tu entre todas as formas receptivas, e bendito é o fruto que tu concebeu, a Essência
da Luz unida com substância quente.

Forma pura, Mãe do Ser mais perfeito, levante-te até a Luz para nós, agora em que nós labutamos e
na hora em que terminar o trabalho!

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LEITURAS RECOMENDADAS

ADOUM, Jorge, Grau do Aprendiz e Seus Mistérios, Editora Pensamento-Cultrix, São Paulo, 2012.
BOEHME, Jacob, A Revelação do Grande Mistério Divino, Polar Editorial e Comercial, São Paulo.
BOUCHER, Jules, A Simbólica Maçônica, Editora Pensamento-Cultrix, São Paulo, 1979.
CAMPANI, Carlos A. P. Fundamentos da Cabala: Sêfer Yetsirá, Edição revisada e ampliada,
Editora Universitária, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2011.
CASTELLANI, José, As Origens Históricas da Mística Maçônica, Editora Landmark, São Paulo,
2011.
DESCARTES, René, Discurso do Método, LP&M Editora, 2005.
GRANDE ORIENTE DA FRANCO MAÇONARIA MISTA DO SUL DO BRASIL, Regulamento
Geral, Porto Alegre, 2013.
GRANDE ORIENTE DA FRANCO MAÇONARIA MISTA DO SUL DO BRASIL, Ritual do
Aprendiz Maçom: Gr.'. 1, Porto Alegre, 2013.
LEADBEATER, C. W. Pequena História da Maçonaria, Editora Pensamento-Cultrix, São Paulo,
2012.
LORENZ, F. V. Cabala: A tradição esotérica do ocidente, Editora Pensamento-Cultrix, São Paulo.
MACNULTY, W. K. A Maçonaria: Símbolos, segredos, significado, Editora Martins Fontes, 2012.
PLATÃO, Fédon, Coleção Os Pensadores, Nova Cultural.
PLOTINO, Tratados das Enéadas, Polar Editorial e Comercial, São Paulo, 2002.
ROHDEN, Huberto, O Sermão da Montanha, Ed. Martin Claret, 2000.

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