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DIREITO
Guanambi - BA
2021
TAINARA MORAIS CARNEIRO
Guanambi - BA
2021
SUMÁRIO
Retirada da sentença proferida pela corte, segue a ementa2 do caso a ser analisado:
1
Graduanda do curdo de Direito. Centro Universitário FG – UNIFG.
Endereço eletrônico: e-mail: naracarneirot1@gmail.com
2
Trecho da Decisão localizada em:
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2016/09/c5be67d768a9e6f774020ea22d4062d4.pdf
4
Convenção Americana de Direitos Humanos, também chamada de Pacto de San José da Costa
Rica.
A análise do presente caso decorreu de petição apresentada em 6 de maio de 2003 pelas
organizações Justiça Global, Rede Nacional de Advogados e Advogados Populares (RENAP)
e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), devido ao homicídio do Sr. Sétimo
Garibaldi, ocorrido em 27 de novembro de 1998, durante uma operação extrajudicial de despejo
de famílias de trabalhadores sem terra que ocupavam uma fazenda no município de Querência
do Norte, Estado do Paraná.
A sentença narra que cerca de cinquenta famílias vinculadas ao MST estavam
acampadas no local, quando um grupo com cerca de vinte homens, encapuzados e armados,
chegaram efetuando disparos e ordenando aos trabalhadores que deixassem suas barracas e se
dirigissem ao centro do acampamento, permanecendo deitados no chão.
Nesse contexto, quando o Sr. Garibaldi saiu de sua barraca, foi ferido na coxa por um
projétil de arma de fogo, não resistindo ao ferimento e vindo a óbito por hemorragia. Foi então
aberto um inquérito policial para apuração dos crimes de homicídio, porte ilegal de arma por
parte do administrador da Fazenda e de formação de quadrilha ou bando.
Sem chegar a uma solução amigável, a Comissão, conforme previsto no artigo 50 da
Convenção, elaborou um relatório com recomendações para o Estado brasileiro, com prazo de
dois meses para comunicar as ações implementadas. Contudo, diante da omissão, a Comissão
submeteu o caso à jurisdição da Corte para que declarasse a violação dos direitos à vida,
integridade pessoal, garantias judiciais e proteção judicial, com medidas de reparação.
Por fim, a Corte decidiu pela responsabilidade do Estado brasileiro, e, como forma de
reparação, determinou que o Estado deveria divulgar no Diário Oficial e em jornais de ampla
circulação, por um ano, a parte resolutiva da sentença, assim como sua íntegra, além de
indenizar a família por danos morais e materiais.
Os Estados americanos signatários da referida Convenção pactuaram direitos e deveres,
dentre eles, em especial, os das garantias judiciais e a proteção judicial. Assim, o presente
estudo visa analisar a violação desses direitos no caso de Sétimo Garibaldi, o qual foi submetido
à Corte Interamericana de Direitos Humanos contra a República Federativa do Brasil.
Preliminarmente, ressalta-se que não há antagonismo entre os sistemas global e regional.
Ao contrário, nas palavras de Piovesan (2008, p. 31), “ao adotar o valor da primazia da pessoa
humana, estes sistemas se complementam, interagindo com o sistema nacional de proteção, a
fim de proporcionar a maior efetividade possível na tutela e promoção de direitos
fundamentais”, o que significa dizer que são complementares.
6
Dessa forma, frente aos instrumentos internacionais de proteção, cabe a quem sofreu a
violação eleger o mecanismo mais favorável, haja vista que direitos idênticos são tutelados por
dois ou mais instrumentos de alcance global ou regional, ou, de alcance geral ou especial, sendo
que os diversos sistemas de proteção de direitos humanos interagem em benefício dos
indivíduos protegidos (PIOVESAN, 2006).
Nesse sentido, no que tange à tramitação do caso em análise perante a Corte, a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos havia acentuado que o Brasil deveria adotar medidas
eficazes visando evitar o aumento de grupos armados que pratiquem desocupações clandestinas
violentas, o que ressalta a importância do sistema interamericano de proteção dos direitos
humanos.
3 CONTEXTO HISTÓRICO
Comissão Pastoral da Terra que a situação agravou-se durante os anos de 1995 a 2002, quando
foi estabelecida uma política repressiva contra os trabalhadores pelo governo estadual.
No mencionado período, a Secretaria de Segurança do estado iniciou uma série de
despejos em acampamentos de famílias sem terra, onde fazendeiros intimidavam os
trabalhadores rurais empregando grupos armados e pressionavam o governo do Paraná para que
fizesse despejos de famílias sem terra; em diversas operações de despejo violentas, foram
identificados, atuando em conluio com a força pública, pistoleiros particulares, contratados
pelos proprietários das terras objeto do despejo.
4 DO PROCEDIMENTO
Paraná, bem como ter proporcionado aos familiares uma adequada indenização civil.
No que tange ao processo na Corte, o Brasil interpôs contestação requerendo como
preliminares: O reconhecimento da incompetência ratione temporis da Corte para examinar
supostas violações ocorridas antes do reconhecimento da jurisdição contenciosa pelo Brasil; a
inadmissibilidade de petições dos representantes das vítimas; a exclusão, da análise do mérito,
do suposto descumprimento do artigo 28 da Convenção; e a declaração de incompetência da
Corte em razão do não esgotamento dos recursos internos. Quanto ao mérito, alegou que nada
indicava que os procedimentos de investigação houvessem sido conduzidos de forma a
contrariar dispositivos do Pacto de San Jose da Costa Rica.
Contudo, a corte decidiu, por unanimidade, que era parcialmente admissível a exceção
preliminar de competência ratione temporis, rejeitando as demais exceções preliminares
interpostas e declarando que o Estado violou os direitos às garantias judiciais e à proteção
judicial reconhecidos nos artigos 8.1 e 25.1 da Convenção Americana.
Ademais, verifica-se a necessidade de analisar se o julgado em apreciação seguiu os
trâmites processuais de maneira regular, quais sejam, conforme a Convenção: O oferecimento
da denúncia ou petição, que é encaminhada com vistas a determinar o cumprimento dos
requisitos indispensáveis para iniciar sua tramitação; Se devidamente cumpridos, é realizado o
envio ao Estado para fins de resposta.
Decorrido o período de intercâmbio de informações sobre a denúncia ou petição, a
Comissão decide acerca da admissibilidade. Dessa forma, se a denúncia é aceita, passa a ser um
caso, momento no qual a comissão chama as partes para estabelecer acordo e procurar uma
solução amistosa. Não havendo essa solução, a Comissão decide o mérito.
Sendo caracterizada a violação de direitos humanos, são emitidas e transmitidas
recomendações ao Estado para que se cumpra dentro do estabelecido prazo. Havendo o
cumprimento, dar-se-á o caso por finalizado. Caso contrário, a Comissão pode remeter o caso
à Corte ou decidir por sua publicação no relatório anual.
Outrossim, é perceptível que o caso em tela seguiu todos os trâmites previstos na CADH,
conforme artigos 48, 49, 50 e 51 da seção 4, tendo sido realizados todos os procedimentos
necessários. Na Corte, o procedimento também seguiu o que prevê o CADH nos artigos 66, 67,
68 e 69 da seção 3.
6 EFEITOS DA DECISÃO
Em suma, a sentença do presente caso expõe que a responsabilidade estatal pode ser
realmente empregada por um organismo regional internacional e produzir seus devidos efeitos
na sociedade, tendo, por sua vez, um caráter punitivo e pedagógico, no qual, além de punir o
Estado pelo ato omissivo ou comissivo, também desestimula a reiterar tais práticas, o que serve
de modelo para outros Estados, alcançando assim, todos os seus objetivos.
Entretanto, obstáculos são encontrados na implementação das decisões da Corte. Podem
ser citados a falta de cumprimento pelos agentes públicos ao não realizarem a adequada
investigação dos fatos e não punirem os responsáveis; e ainda o desconhecimento da população
acerca da jurisprudência interamericana de direitos humanos.
11
REFERÊNCIAS
CORTE IDH, Corte Interamericana de Direitos Humanos. Caso Garibaldi versus Brasil.
Exceções Preliminares, Mérito, Reparações e Custas. Sentença 07 de setembro de 2009.
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2016/09/c5be67d768a9e6f774020ea22d4062d4.pdf. Acesso em: 29 de março
de 2021.