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O HOMEM DOS RATOS

“O homem dos ratos” é um caso clínico atendido por Freud em 1907 de neurose
obsessiva. Esse nome deriva de uma ideia de tortura que o paciente ouvira durante seu
serviço militar, onde ratos penetravam no reto de um indivíduo. Essa narrativa causou
intenso sofrimento ao paciente e apontou para algo que podia ser encontrado em vários
temas trazidos por este.

Ao começar a análise, o paciente Ernest Lanzer tem diversas queixas relacionadas a


sintomas obsessivos onde a figura paterna, já falecida, e uma dama de interesse do
indivíduo poderiam sofrer algo terrível as quais ele seria o responsável. O paciente
relata suas primeiras experiências sexuais, remontando aos seus quatro ou cinco anos de
idade quando tocou a genitália da governanta. Suscitou-se a partir de então uma
curiosidade de ver mulheres nuas. Aos seis anos, Ernest diz que “sofria de ereções”. De
acordo com a indicação de Freud, a ambivalência está presente na vida do paciente
ainda quando criança onde um desejo erótico se contrapunha, compulsivamente, a um
medo, um afeto aflitivo. Dessa maneira, o desejo deveria ser evitado.

Em um segundo momento, o paciente relata um evento fundamental para a procura de


Freud: a perda de seus óculos e a comunicação por telégrafo ao seu oculista, em Viena,
solicitando a reposição. Sua narrativa é confusa e demonstra enorme sofrimento ao
paciente. Este jurou reembolsar o dinheiro ao tenente e imaginava que se não o fizesse,
coisas ruins aconteceriam às pessoas que amava – seu pai falecido e a dama desejada. A
partir daí, arquitetou-se um esquema em que para devolver o dinheiro para quem de
direito, deveria enviá-lo ao tenente "X", que entregaria a senhora do correio e que esta
deveria entregar ao tenente “Y” na frente do tenente “X”, que por fim devolveria ao
tenente “X”. Dessa maneira, o paciente neurótico retoma em suas relações a estrutura
básica construída durante a infância e que faz referência a constelação familiar.

Nesse sentido, o processo neurótico tem seu registro na atividade de pensamento devido
às formações de compromisso sustentadas pelas representações obsedantes. Assim, o
conflito se instala entre o ego e o superego, este último tornando-se extremamente
severo nas suas reivindicações morais, como herdeiro do complexo edípico.
No decorrer dos estudos, Freud percebe que “as ideias obsessivas são, invariavelmente,
auto-acusações transformadas, que reemergiram do recalcamento e que sempre se
relacionam com algum ato sexual praticado com prazer na infância” (FREUD, 1896b,
169). Ao recalcar e substituir as lembranças desse prazer precoce, o sujeito produz
sintomas primários de defesa (conscienciosidade, vergonha e autodesconfiança).
Em seguida, a defesa fracassa e ocorre o retorno das lembranças recalcadas de modo
distorcido, pois o que alcança a consciência é uma “formação de compromisso entre as
representações recalcadas e as recalcadoras” (FREUD, 1896b, p.170).
As queixas e sintomas que fizeram com que o Homem dos Ratos fosse buscar
atendimento psicanalítico consistiam em proibições, medo que algo trágico ocorresse
com pessoas queridas, além de impulsos compulsivos e auto - agressivos. Desde o
início do processo analítico, a sexualidade ocupou papel central, com destaque para
desejos e experiências prazerosas infantis. Tal prazer precoce e ativo desencadeou,
posteriormente, uma defesa que se manifestou na forma de medo. Desejo e medo
obsessivos já eram intimamente associados desde sua infância e participavam dos
sintomas e medidas de proteção que o paciente adotava.

REFERÊNCIAS
FREUD, S. Observações adicionais sobre as neuropsicoses de defesa (1896b) In:
Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, vol. 3. Rio de Janeiro:
Imago, 1996.
FREUD, S. (1909) Notas sobre um caso de neurose obsessiva, Edição Standard
Brasileira das obras completas de Sigmund Freud (E.S.B.), v. X, Rio de Janeiro, Imago,
1996

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