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1
Continuarei acrescentando material, além de corrigir possı́veis erros ou imperfeições. Por isso
sugiro que o improvável leitor não imprima o texto. Quando for estudá-lo dê uma olhada no
meu site se já há uma versão mais atualizada. Sugestões ou correções, por favor as envie para
mendes.lg@gmail.com
2
Professor Adjunto do Departamento de Matemática da UFRGS
3
Última atualização: 09/05/2012
Índice
Capı́tulo
R 26.2 Integração de funções racionais 373
−1
1. R (ax + bx + c) dx 373
αx+β
2. dx 375
R ax2 +bx+c1
3. Ax3 +Bx2 +Cx+D
dx 377
4. Frações
R parciais em geral 380
1
5. (1+x2 )n
dx, n ≥ 2 383
6. Exemplos 384
7. Exercı́cios 387
Capı́tulo 41. Equações com pontos não-singulares: Airy, Hermite e Legendre 643
1. Solução explı́cita da Airy 643
2. Solução explı́cita da Hermite 645
3. Solução explı́cita da Legendre em torno de x = 0 647
4. Polinômios de Legendre e expansão em série do potencial gravitacional 649
5. Ortogonalidade dos polinômios de Legendre 650
Capı́tulo 42. Equação com ponto singular: Hipergeométrica de Gauss 653
1. Integral elı́ptica como série hipergeométrica 656
Capı́tulo 43. Equação com ponto singular: a Equação de Bessel 659
1. A definição original de Bessel 659
2. Zeros de funções de Bessel 661
3. Ortogonalidade das funções de Bessel 664
Capı́tulo 44. Equações com pontos singulares do tipo regular 667
1. A Equação de Euler e sua redução a coeficientes constantes 667
2. Solução direta da equação de Euler 670
3. Definições gerais e exemplos de pontos singulares regulares 672
4. Inı́cio do Método de Frobenius 673
5. Soluções explı́citas de algumas equações Bessel 676
6. A Equação de Bessel com ν = 13 e a solução da equação de Airy 679
7. Equação hipergeométrica com c 6∈ Z 680
Capı́tulo 45. Equações de Riccati 681
1. Soluções de Riccati segundo Daniel Bernoulli 682
2. Assı́ntotas verticais de soluções de equações de Riccati 687
3. Soluções das Riccati segundo Euler 688
4. A Equação de Bessel com ν = 41 e a solução da Riccati y ′ = x2 + y 2 691
5. Exercı́cios 691
Introdução
1. O que é o Cálculo
O Cálculo Diferencial e Integral ou, simplesmente o Cálculo, é a matemática que
está na base da ciência de hoje.
As ciências mais desenvolvidas como Fı́sica e Quı́mica não podem expressar seus
conceitos sem fazerem uso do Cálculo. Também a Economia e a Biologia cada vez
mais são matematizadas através do Cálculo.
O Cálculo foi fundamental na revolução cientı́fica dos séculos XVII e XVIII e de
lá para cá não cessou de produzir resultados e aplicações.
O Cálculo é uma teoria matemática, ou seja, um modo unificado de se ver uma
série de fatos matemáticos.
Na matemática, quando surge uma nova teoria, ao invés de se eliminar os resul-
tados das teorias anteriores, o que a nova teoria faz é:
Isso só ocorre em matemática: em outras ciências uma nova teoria pode tornar
obsoleta e errada a teoria anterior.
Por exemplo, a determinação exata da Área de certas regiões, que com métodos
elementares exigiu o gênio de Arquimedes, com o Cálculo vira uma continha de rotina.
Mas através do Cálculo aparecem fatos novos e intrigantes sobre Áreas, como o fato
de regiões ilimitadas poderem ter Área finita.
Além de nos permitir provar tudo que já ouvimos falar de matemática no colégio,
o Cálculo vai nos transformar em verdadeiros McGivers, ou seja, aquele personagem
que com quase nada de recursos faz horrores de coisas, como aparelhos, armas, etc, e
suas missões. Através do Cálculo , só com as quatro operações +, −, x vamos poder
no Capı́tulo 30 aproximar com a precisão que quisermos:
2. Sobre o Curso
Um alerta: este curso trata de matemática superior. Em várias universidades,
inclusive a nossa, há uma a tentativa de se ensinar o Cálculo como se fosse uma
continuação do Ensino Médio, seu ensino sendo feito através de tabelas, regrinhas,
macetes.
Se refletimos um pouco, vemos que em alguns cursos como Farmácia, Economia,
Biologia, o Cálculo é uma das poucas disciplinas de matemática que terão na univer-
sidade. Desse modo, imitando o Ensino Médio, se cursaria um Curso Superior sem
ter contato com a Matemática Superior. A formação cientı́fica desses cursos ficaria
prejudicada e de fato não poderiam chamar-se cursos universitários.
Por isso neste Curso sempre que for possı́vel (exceto quando a explicação for
técnica demais) vamos tentar dar justificações matemáticas corretas, sem apelar para
a credulidade do estudante e argumentos de autoridade, do tipo acreditem em mim.
Os argumentos que damos são concatenações de idéias simples, mas às vezes ex-
igem um certo fôlego do leitor para acompanhá-lo do começo ao fim. Esse treino de
concentração certamente irá colaborar na formação técnico-cientı́fica do estudante.
Numa primeira leitura, o estudante pode ler o enunciado dos Teoremas e Afirmações,
sem ler todas as demonstrações. Mas de fato, só se entende completamente um fato
matemático quando se entende a sua demonstração.
Por último, é muito importante que o estudante pense nos exercı́cios propostos em
cada Capı́tulo. Mesmo que não responda todos, ao tentar fazer exercı́cios o conteúdo
vai sendo assimilado concretamente. E se o aluno não consegue fazer quase que
nenhum exercı́cio, então precisa voltar a refletir no conteúdo dado.
Alguns têm solução bastante detalhada, apresentada no Capı́tulo 52. Mas que só
devem ser lidas após muito trabalho pessoal do aluno.
Ao longo do livro aparecem problemas da prestigiada W. L. Putnam Mathematical
Competition, que ocorre anualmente desde sua Primeira Edição em 1938. Vão apare-
cendo à medida que desenvolvemos material suficiente para poder resolvê-los. Nessa
competição aparecem problemas difı́ceis, mas tratei de selecionar alguns simples e
acessı́veis.
Minhas fontes foram o site:
http://amc.maa.org/a-activities/a7-problems/putnamindex.shtml
(onde estão as Competições de 1985-2009) e o livro The W. L. Putnam Mathemat-
ical Competition, Problems and solutions, 1938-1964., Math. Association of America.
Esses problemas devem ser pensados pelo leitor e só depois do leitor apresentar a
sua resposta, do seu jeito de ver o problema, é que pode ler as respostas. Foi assim
que eu fiz: eu resolvi sozinho cada um dos que apresento, e minhas respostas não têm
a pretensão de serem as mais elegantes possı́veis.
Lembro o que um professor muito bom me disse: Só se aprende matemática re-
solvendo problemas !
5. Livros-texto e Referências
Livros ruins de Cálculo há vários, de cuyos nombres no quiero acordarme.
Bastante razoável o livro do G. Thomas, disponı́vel na biblioteca em várias edições.
Curto, direto e bom preço: R. Silverman, Essential Calculus with applications,
Dover.
Para mim um dos melhores livros de Cálculo é o de Michael Spivak, Calculus
(edições em espanhol e ingles na biblioteca da UFRGS). Aprende-se muito nesse livro
e me foi úil em alguns momentos na hora em que se fez necessário a precisão que falta
em outros livros. Claro que é bastante difı́cil como primeiro livro de Cálculo, mas o
esforço de ler qualquer seção dele é sempre recompensado.
Na Primeira Parte usei coisas que aprendi:
• no enciclopédico livro de R. Courant e F. John, Introduction to Calculus and
Analysis, Interscience, 1965.
• no curso de Elon Lima Curso de Análise, Projeto Euclides, SBM.
• no clássico E. T. Whittaker e G. Watson, A course of modern Analysis,
Cambridge, reimpressão de 1996.
• no belo livro de C.H. Edwards, The historical development of the Calculus,
Springer, 1979.
• no livro de S. Chandrasekhar, Newton’s Principia for the common reader,
Oxford University Press , 1995.
6. PROGRAMAS ÚTEIS 18
As referências usadas no Apêndice sobre a Lei de Kleiber, Capı́tulo 34, estão dadas
lá.
6. Programas úteis
Programas como o Maple podem ser um grande auxiliar para o estudo: para
conferir contas, plotar curvas, etc, mas só serão úteis se o estudante tentar fazer
sozinho e depois usar os programas para checar seus resultados.
Para usuários do Windows existe o programa grátis WXMaxima, que você baixa
em instantes no site:
http://sourceforge.net/projects/maxima/files/Maxima-Windows/
5.21.1-Windows/maxima-5.21.1.exe/download
Esse programa faz tudo: resolve equações algébricas e diferenciais, deriva, integra,
faz gráficos, etc.
O Maple é programa análogo pago.
Também existe um site, http://www.wolframalpha.com, onde se pode fazer online
gráficos, integrais, limites e derivadas, o que é útil quando se está estudando fora de
casa.
Agradecimentos:
• se f (x) assume somente valores Reais, onde f (x) se anula, onde é positiva
ou negativa,
• se e onde f (x) cresce ou decresce à medida que x cresce,
• se f (x) se aproxima de um certo valor quando x cresce muito,
• se e onde f (x) tem valor máximo ou mı́nimo,
• no caso de y = f (x) ≥ 0, qual a área sob seu gráfico e acima do eixo dos x,
• se dado y pudermos descobrir qual x gerou y = f (x),
curva no plano.
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
-2 -1 0 1 2
x
Mas é claro que conhecemos fenômenos z = F (x, y) que dependem de dois fatores
e para descrever esse fenômeno precisariamos de gráficos que formam superfı́cies no
espaço, ao invés de curvas no plano. E em geral os fenômenos dependem de vários
parâmetros (em quı́mica, por exemplo, quantidades de reagentes, pressão, ph, etc).
2. Função
Uma função é uma regra que associa a cada ponto1 de um conjunto (o domı́nio
da função) um ponto de um outro conjunto fixado (o contra-domı́nio). Dito de outro
modo, uma reta vertical traçada passando por um ponto do domı́nio de uma função
y = f (x) corta seu gráfico exatamente em 1 ponto. Por isso, por exemplo, um cı́rculo
não é gráfico de uma função y = f (x).
O subconjunto do contradomı́nio formado por pontos que são efetivamente valores
da função formam a imagem da função. Por exemplo,
f : R → R, f (x) = x2
tem como domı́nio e contradomı́nio os números Reais, mas sua imagem são apenas
os Reais não-negativos2.
Quando dizemos que f : I → J é sobrejetiva isto quer dizer que não somente
a imagem f (I) verifica f (I) ⊂ J, mas que de fato verifica f (I) = J. Ou seja, que
efetivamente todo ponto de J foi atingido pela f . Por exemplo, f (x) = x2 só é
sobrejetiva vista como função f : R → R≥0 .
É importante notar na definição de função que só há um valor associado a cada
ponto do domı́nio. Se houver ambiguidade na atribuição do valor então dizemos que a
função não está bem-definida naquele ponto. Por exemplo, quando perguntamos qual
é a raı́z quadrada de 9 há uma ambiguidade: pode ser que tomemos a raı́z positiva 3
ou a raı́z negativa −3.
Não confunda a definição de função com outra, a de função injetiva: uma função
é injetiva quando não associa o mesmo valor a dois pontos distintos de seu domı́nio.
Por exemplo, f : [0, 3] → R, f (x) = x2 é injetiva mas f : [−3, 3] → R, f (x) = x2 não
é injetiva.
1Para mim os números Reais formam um reta, portanto uso número ou ponto indistintamente.
2Várias vezes no curso usaremos isso: o quadrado de um número Real nunca é negativo
4. DIFERENTES DOMÍNIOS DE FUNÇÕES 24
3.3. O que é a Área sob um gráfico ? Podemos usar o gráfico de uma função
para definir outra. Por exemplo, tomo a diagonal y = x como gráfico e me pergunto
pela Área do triângulo determinado pela origem, o eixo horizontal e um segmento
vertical de (x, 0) até (x, x). À medida que x avança no eixo dos x, a Área do triângulo
obtido aumenta e poderı́amos tentar descrever como essa Área depende de x isso num
outro gráfico.
Na definição do Logaritmo Natural, faremos exatamente isso, mas a área em
questão será delimitada sob o gráfico de 1/x e não sob y = x.
x=1 x
Figura: Área sob um o gráfico, de x = 1 até x.
Precisaremos saber primeiro, o que é a Área sob um gráfico curvado como 1/x.
Isso que foge do que sabemos do Ensino Médio, que são áreas de regiões elementares
como triângulos, quadrados, trapézios, setores circulares, etc. Só entenderemos isso
plenamente na Parte 2 do curso, com o conceito de Integral.
Mas é claro que em certas situações os domı́nios também podem ser a união de
vários intervalos (como se verá por exemplo na Seção 2.3 do Capı́tulo 6), somente os
números Racionais Q ⊂ R, etc.
y=4
x=2
Outro modo de ver o que acontece é que, enquanto seu domı́nio R é feito de um
só pedaço, sua imagem f (R) = R≤0 ∪ R≥4 é feito de dois pedaços: a função rasga seu
domı́nio em dois pedaços.
Esses gráficos são úteis para modelar matematicamente comportamentos explo-
sivos: uma explosão quı́mica, o comportamento de um animal à medida que aumenta
o stress, etc. Mas em cursos de Cálculo veremos gráficos que não tem essas variações
dramáticas de valores.
0
-2 -1 0 1 2
x
-2
-4
-6
0,8
0,6
0,4
0,2
0
1 1,5 2 2,5 3
x
CAPÍTULO 2. ALGUNS DOS OBJETIVOS DO CÁLCULO 27
1
0,8
0,6
0,4
0,2
Claro que há funções que não são nem crescentes nem decrescentes, ou sejam, que
oscilam.
0,8
0,6
0,4
0,2
0
-0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6
x
Um exemplo importante é o que já demos de uma função f que mede a Área
sob um gráfico de uma outra função positiva. É natural que f seja uma função
estritamente crescente, pois à medida que vamos para a direita no eixo x há mais
área sob o gráfico. Logo é natural que seja injetiva e tenha então uma inversa f −1 .
Volto nesse ponto, com f o Logaritmo Natural e f −1 a Exponencial.
8. MÁXIMOS E MÍNIMOS 28
Saber que uma função é crescente pode ser um fato extremamente relevante do
ponto de vista cientı́fico: por exemplo, um dos princı́pios fı́sicos mais fundamentais
é que a função Entropia é uma função crescente, ou seja, que as coisas têm uma
tendência a se desorganizar. É essa Entropia crecente que está na base da nossa
distinção entre passado, presente e futuro.
8. Máximos e mı́nimos
Uma das grandes utilidades do Cálculo é encontrar pontos onde uma função atinge
seu máximo ou mı́nimo. Ou seja, o Cálculo serve para minimar ou maximizar: rendi-
mento de um processo, custos, gastos, etc, desde que o problema seja formulado
matematicamente.
Vamos definir um máximo local (analogamente um mı́nimo local).
Definição 8.1. Seja f : I → R e x ∈ I. Dizemos que x é máximo local se existe
algum intervalo
(−ǫ + x, x + ǫ)
centrado em x, tal que
∀x ∈ I ∩ (−ǫ + x, x + ǫ), f (x) ≤ f (x).
Já x é dito ser um máximo global de f : I → R se
∀x ∈ I, f (x) ≤ f (x).
É a mesma diferença que há entre ser o cara que corre mais rápido no clube do
bairro e ser o cara que corre mais rápido no mundo !
4,2
3,8
3,6
3,4
3,2
Chamo a atenção de que há funções que simplesmente não tem máximo, como já
vimos no caso de f : (0, 5] → R, f (x) = x1 .
E existem as que não tem mı́nimo: por ex. f : R≥1 → R, f (x) = x1 .
De fato, se tomo n ∈ R≥1 , temos f (n) = n1 , que já sabemos fica tão próximo
quanto quisermos de 0, sem nunca atingir zero. Isso diz que f vai sempre diminuindo
um valor, não tendo portanto um ponto de seu domı́nio onde um valor mı́nimo fosse
atingido.
Dá vontade de dizer algo sobre o papel do 0 neste exemplo f : R≥1 → R, f (x) = x1 .
O 0 realmente nunca é atingido pela função mas de certo modo demarca, delimita o
conjunto imagem
f (R≥1 ) = (0, 1].
0 é o que se costuma chamar uma cota inferior do conjunto imagem f (R≥1 ), isto é,
∀y ∈ f (R≥1 ), 0 ≤ y.
E mais ainda, qualquer número maior que zero não é cota inferior de f (R≥1 ), pois
1
n
∈ f (R≥1 ) se aproxima o que quisermos de zero. Portanto 0 é a maior cota inferior
de f (R≥1 ), que se chama o Ínfimo desse conjunto.
9. Exercı́cios
Exercı́cio 9.1. Determine em que intervalos as funções a seguir são negativas ou
positivas e onde estão seus zeros:
vi) x2 − x
vii) x2 − 5x + 6
viii) x3 − x2
Exercı́cio 9.2. Dê exemplos de frases do dia a dia que são verdade, mas cujas
recı́procas não são verdade.
Exercı́cio 9.3. Negue as seguintes frases:
i) dado qualquer polı́tico, existe um valor de suborno tal que por esse valor ele se
corrompe.
ii) dada uma distância qualquer, existe um tempo tal que a partir daquele tempo
o asteróide dista da terra menos que a distância dada.
Exercı́cio 9.4. Imagine alguns exemplos, qualitativamente, sem precisar dar explici-
tamente a regra f (x), de funções:
i) positivas e crescentes,
ii) negativas e crescentes,
iii) negativas e decrescentes,
iv) negativas e decrescentes,
v) com mı́nimo local, mas sem mı́nimo global
vi) com máximo local e máximo global diferentes.
9. EXERCÍCIOS 30
com os sinais.
CAPı́TULO 3
As funções definidas nos Reais e tomando valores Reais são importantes pelas
aplicações ao mundo fı́sico. Por exemplo, se um Engenheiro me diz que a laje da peça
onde estou vai cair em 5 minutos eu certamente saio correndo √ da sala. Mas se um
Matemático me disser que a laje vai cair no tempo 5 · I := 5 −1, que fazer ?
Essa utilidade dos Reais, por corresponder à linha do tempo (passado = número
negativo, presente = 0, futuro = número positvo), tem como ônus o fato que as
funções Reais nem sempre estão definidas.
Veremos duas restrições, uma sobre quocientes e outra sobre a raı́z quadrada.
A primeira afeta não só os Reais, mas qualquer sistema de números. A segunda,
da Raı́z, é tı́pica dos números que podem ser ordenados.
1. Os Reais como sistema de números: não dividirás por zero !
Todo professor passa aulas e aulas repetindo que não se pode dividir por zero.
E infelizmente muitos alunos de Cálculo dividem por zero, pois confundem o fato
de um número ser pequeno com um número ser zero !
Mas a final, por quê não se pode dividir por zero ? No que podemos nos apoiar
para provar que não existe o número 10 ?
Nos bastará algumas das propriedades mais gerais dos R (por sinal compartilhadas
com outros sistemas de númros, como Q ou C), que são:
• existe um elemento neutro aditivo, 0, tal que 0 + x = x, ∀x ∈ R.
• ∀x ∈ R existe o inverso aditivo −x tal que x + (−x) = 0.
• existe um elemento neutro multiplicativo, 1, tal que 1 · x = x, ∀x ∈ R.
• ∀x ∈ R, x 6= 0, existe o inverso multiplicativo x1 tal que x · x1 = 1.
• 1 6= 0
• as operações de soma e produto são distributivas, associativas e comutativas.
De posse dessas propriedades, que são assumidas como verdades, posso provar :
Afirmação 1.1.
i) −x = −1 · x, ∀x ∈ R,
ii) 0 · x = 0, ∀x ∈ R.
⇔ x − x = 1 · x − 1 · x ⇔ x − x = x − 1 · x ⇔ −x = −1 · x.
De ii):
0·x=0 ⇔ (1 − 1) · x = 0 ⇔
⇔ x−1·x=0 ⇔ x − x = 0,
e este último fato é verdade: x = x.
De iii):
Suponhamos por absurdo que exista o número 01 .
Então 0 · 10 = 1, pois o sentido de x1 é ser o inverso multiplicativo de x.
Mas o item ii) dá que:
1
0 · = 0.
0
Logo 0 = 1: contradição.
De ii):
Se x = 0 então x · x = 0, pelo item ii) da Afirmação 1.1.
Se x > 0 então x · x > 0 (Pr. 2).
Se, por outro lado, x < 0 então −x > 0 (Pr. 0).
E então x · x = (−x) · (−x) > 0 (Pr. 3 e 2).
De iii): √
Suponha agora por absurdo que y := x ∈ R para x < 0.
Então y 2 ≥ 0 pelo item ii).
Mas então chegamos em
√
0 ≤ y 2 = ( x)2 = x < 0,
em contradição com o Princı́pio 0.
Demonstração.
i) Dados x, y, z, w ∈ R com
x≥y e z ≥ w,
podemos traduzir isso em:
(x − y) ≥ 0 e (z − w) ≥ 0.
Queremos provar que
x + z ≥ y + w,
que se traduz em
(x + z) − (y + w) ≥ 0,
ou, o que diz o mesmo:
(x − y) + (z − w) ≥ 0.
Isso é o que queremos. Para termos isso, podemos usar o Princı́pio 1, pois então com
esse princı́pio:
(x − y) ≥ 0 e (z − w) ≥ 0 ⇒ (x − y) + (z − w) ≥ 0.
ii) Temos que x > 0. Caso y = z então x · y = x · z. Por isso supomos que y > z,
ou seja, y − z > 0.
Queremos provar que x · y > x · z, ou seja, que
x · y − x · z > 0,
o que é o mesmo que dizer que
x · (y − z) > 0.
Isso é o que queremos. Então podemos usar o Princı́pio 2, que dá:
x>0 e y−z >0 ⇒ x · (y − z) > 0.
iii) Temos agora −x > 0 pelo Princı́pio 0. Caso y = z então x · y = x · z.
Por isso supomos y > z, ou seja, y − z > 0. Então o Princı́pio 2 dá:
(−x) · (y − z) > 0,
ou seja
−x · y + x · z > 0,
ou seja,
x · y − x · z < 0,
que é o que buscávamos provar:
x · y < x · z.
iv) Temos x > 0 e suponhamos por absurdo que x1 < 0.
Então − x1 > 0 e pelo Princı́pio 2:
1
x · (− ) > 0.
x
1
Mas x · (− x ) = −1. Logo obtemos −1 > 0 ou seja 1 < 0, que contradiz o Princı́pio 0.
v) Seja x > 1. Suponhamos por absurdo que x1 ≥ 1.
Se x1 = 1 então chegamos na contradição: 1 = x.
CAPÍTULO 3. PROPRIEDADE BÁSICAS DOS NÚMEROS REAIS 35
1
Se x
> 1 então multiplicando esta desigualdade por x > 1 > 0, temos
1
x· > x·1
x
(pelo item ii) já provado).
Como x · x1 = 1 pela própria definição de x1 e como x · 1 pela definição do neutro
1, obtemos
1 > x,
que contradiz x > 1.
Deixo para o leitor a prova das propriedades vi-xii, onde pode usar as propriedades
i) - v) que já foram provadas.
1,5
0,5
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
x
4. INTERVALOS E SUAS UTILIDADES 36
1,5
0,5
1 1
y= x
em vermelho, y = x2
em verde, para x ∈ [ 32 , 2]
= ( a, x + (x − a) ).
Ora supusemos estar na situação em que x − a ≤ b − x, logo:
(a, x + (x − a)) ⊆ (a, x + (b − x)) = (a, b),
portanto:
(−δ0 + x, x + δ0 ) ⊆ (a, b)
como querı́amos.
5. Metamorfoses de cúbicas
Nesta Seção resolvi descrever curvas interessantes usando apenas propriedades
básicas do Reais, como regra dos sinais, desigualdades, módulo, etc. que já justifi-
camos acima neste mesmo Capı́tulo.
Tudo o que vem a seguir nesta Seção é baseado em que não há raı́z quadrada Real
de um número Real negativo.
Começemos com o conhecido cı́rculo y 2 + x2 = r 2 de raio r > 0. Observe que:
√
• podemos tomar o gráfico √ de y = r 2 − x2 para descrever o semicı́rculo su-
2 2
perior (ou tomar y = − r − x para o inferior).
• se r 2 − x2 > 0 há duas escolhas de raı́zes, positiva e negativa, e quando x = r
ou x = −r essas duas escolhas colapsam numa só, que é y = 0.
• Onde r 2 − x2√< 0 deixamos de trabalhar sobre os Reais, pois os valores asso-
ciados a y = r 2 − x2 passam para o terreno dos números Complexos.6Como
só tratamos neste Curso de funções a valores Reais, não existem pontos do
cı́rculo cuja coordenada x verifique r 2 − x2 < 0.
Por último, observe que mudando o valor de r muda o raio do cı́rculo, portanto
podemos pensar em y 2 + x2 = r 2 como sendo uma famı́lia de cı́rculos em que cada
elemento fica determinando pelo r. Veja a Figura:
6Há uma versão magnı́fica do Cálculo sobre os números complexos !
5. METAMORFOSES DE CÚBICAS 40
0,5
y 0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
-0,5
-1
Bom, mas tratar de cı́rculos é covardia, pois temos sua imagem impressa na nossa
mente desde a infância.
Que tal tratarmos de alguma curva que não tenha sua imagem impressa na nossa
mente ? E ademaias, que tal tratarmos logo de uma famı́lia delas ?
Considere a familia de curvas dada por:
y 2 − x3 − r · x = 0, r 6= 0.
Vamos analisar separadamente o que acontece quando r > 0 e quando r < 0.
Caso r > 0:
Temos
y 2 = x3 + r x ⇔ y 2 = x · (x2 + r).
Como x2 + r ≥ r > 0, o sinal de x · (x2 + r) só depende do de x. Logo
• se x > 0 temos duas opções
p p
y = x · (x2 + r) ou y = − x · (x2 + r).
Ou seja, a curva não é um gráfico, ela tem uma parte no eixo y > 0 e uma
parte no eixo −y. Há√uma simetria relativa ao eixo dos x.
• ainda se x > 0, |y| = x3 + rx observo que fica tão grande quanto quisermos.
De fato, se dou o valor 7 K >> 1:
√3
x ≥ K 2 ⇒ x3 ≥ K 2 ⇒
√
⇒ x3 + rx ≥ K 2 ⇒ |y| = x3 + rx ≥ K.
p p
• essas duas escolhas y = x · (x2 + r) ou y = − x · (x2 + r) colapsam numa
só se x = 0, pois então y = 0.
• se x < 0 a(s) coordenada(s) y deixa de ser um número Real, ou seja, para
nós deixa de existir.
7O sinal >> 1 quer dizer bem maior que 1
CAPÍTULO 3. PROPRIEDADE BÁSICAS DOS NÚMEROS REAIS 41
y 0
0 0,4 0,8 1,2 1,6
x
-1
-2
-3
Caso r < 0
Agora
y 2 = x · (x2 + r),
e (x2 + r) pode ser positivo, negativo ou positivo. Por isso o estudo do sinal de
x · (x2 + r)
é mais delicado.
Note que
√ √
x2 + r > 0 ⇔ x2 > −r > 0 ⇔ x2 > −r.
Só que √
x2 = |x|
e portanto temos √
x2 + r > 0 ⇔ |x| > −r.
√ √ √
Se x > 0, |x| >√ −r quer dizer x > −r mas se x < 0 isso quer dizer −x > −r,
ou seja x < − −r.
Em suma: √ √
x2 + r > 0 ⇔ x < − −r ou x > −r.
Então
• se x > 0 √
x · (x2 + r) ≥ 0 ⇔ x ≥ −r,
e teremos
√ duas opções de raı́zes para determinar y. Que colapsam para y = 0
se x = −r.
• se x ≤ 0, só teremos x · (x2 + r) ≥ 0 se (x2 + r) ≤ 0. Ou seja,
√
− −r ≤ x ≤ 0.
Nessa faixa de valores
√ de x teremos duas opções de y, que colapsam em y = 0
se x = 0 ou x = − −r.
8Na Figura traçada há mais informação do que a que justificamos. Somente na Seção 5 do
Capı́tulo 15 é que teremos esses dados.
5. METAMORFOSES DE CÚBICAS 42
y 0
-1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2
x
-1
-2
Por último, note que se |r| vai ficando pequeno, então os pontos
√ √
(− −r, 0), (0, 0) e ( −r, 0)
vão se aproximando. Note que as ovais da parte negativa vão diminuindo de tamanho
quando |r| vai diminuindo.
Imagine r vindo de valores positivos, que vão ficando bem próximos de zero, pulam
o valor zero, e passam a assumir então valores negativos.
É como se de um continente fosse expelida uma ilhota, que vai ficando maior e
mais distante do continente: as quatro figuras a seguir tentam mostrar isso.
y 0
0 0,4 0,8 1,2 1,6
x
-1
-2
-3
CAPÍTULO 3. PROPRIEDADE BÁSICAS DOS NÚMEROS REAIS 43
Figura: A curva y 2 − x3 − x = 0.
y 0
0 0,5 1 1,5 2
x
-1
-2
-3
y 0
-0,5 0 0,5 1 1,5 2
x
-1
-2
y 0
-1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2
x
-1
-2
Figura: A curva y 2 − x3 + x = 0.
5. METAMORFOSES DE CÚBICAS 44
y 0
0 0,4 0,8 1,2 1,6
x
-1
-2
-3
y 0
0,5 1 1,5 2 2,5
x
-2
-4
y 0
0,5 1 1,5 2 2,5
x
-2
-4
A curvas y 2 − x3 = 0, y 2 − x3 + 8 = 0 e y 2 − x3 + 1 = 0.
6. EXERCÍCIOS 46
y 0
0,5 1 1,5 2 2,5
x
-2
-4
A curvas y 2 − x3 = 0, y 2 − x3 + 8 = 0, y 2 − x3 + 1 = 0 e y 2 − x3 + 0.5 = 0.
Será que agora o leitor consegue inferir a forma de y 2 − x3 = 0 ?
6. Exercı́cios
Exercı́cio 6.1. (resolvido)
Prove, ao invés de apenas assumir, que vale:
x · x = (−x) · (−x), ∀x ∈ R.
Exercı́cio 6.2. (resolvido)
Para quais valores de x:
i) −3x + 2 > 0 ?
ii) x2 − x > 0 ?
iii) 3x2 − 2x − 1 > 0 ?
iii) 3x + 2 > 2x − 8 ?
iv) |x − 6| < 2 ?
v) |x + 7| < 1 ?
Exercı́cio 6.3. (resolvido)
Prove que para quaisquer números Reais e △:
| + △| ≤ || + |△|.
Exercı́cio 6.4. Como são os gráfico das funções (com domı́nio ∀x ∈ R):
i) y = |x|,
ii) y = −| x|,
iii) y = |x − 5|,
iv) y = |x| + |x − 1| + |x − 2| ?
CAPı́TULO 4
1. Sequências
Neste Curso será importante a situação em que o domı́nio de uma função será o
conjunto dos números Naturais N = {1, 2, 3, ...}. Nesse caso
f :N→R
é chamada de sequência.
A imagem de uma tal f é uma lista de números Reais. Como cada ponto de sua
imagem é do tipo f (n) é comum denotá-lo por xn e a sequência toda por (xn )n .
Exemplo 1: Uma sequência não tão boba é f : N → R dada por f (n) = 2n, cuja
imagem são os números Pares.
Exemplo 2:
Uma sequência fundamental para todo o Curso é
1
f : N → R, f (n) = .
n
No que segue, dizer que N é um conjunto ilimitado em R é dizer que sempre há
um número Natural maior que qualquer número Real que for dado.
Demonstração.
Uma equivalência é uma implicação em dois sentidos: ⇔.
Prova do sentido ⇒: Obviamente 1/n nunca é igual a 0: caso pensássemos o
contrário para algum n0 , obterı́amos de n10 = 0 e multiplicando por n0 obtemos que
0 = 1: absurdo.
A distância entre f (n) = 1/n e 0 é dada por |1/n − 0| = 1/n. Suponha que nos
foi dado um número positivo muito pequeno ǫ0 > 0. Queremos confirmar que
1/n < ǫ0
47
2. LIMITES DE SEQUÊNCIAS 48
que lê-se assim: zero é o limite da sequência 1/n ou a sequência tende a zero
Veremos adiante que há sequências que tendem de diversas maneiras diferentes
a pontos, algumas vão decrescendo em valores como a (xn )n = 1/n, outras vão
crescendo como −1/n, outras vão oscilando e assim por diante, mas o que é importante
é que:
• elas entram em qualquer cerca estabelecida em torno de seu limite, desde
que se espere o tempo nǫ suficiente e
• depois de lá entrarem não mais saem.
Veremos também que podemos combinar sequências simples (cujo limite podemos
intuir facilmente) para criar sequências complicadas, das quais não é possı́vel ter uma
intuição de seu limite (exceto alguém com poderes para-normais ...). Mesmo assim
poderemos matematicamente determinar esses limites.
2. Limites de sequências
O conceito de limite é o conceito fundamental do Cálculo, de onde surgem out-
ras noções importantes como continuidade, derivada e integral. Por isso este é um
Capı́tulo um pouco mais extenso.
CAPÍTULO 4. SEQUÊNCIAS E SEUS LIMITES 49
Imagine uma máquina, um sistema ou um processo tal que para um certo input
x dá um certo output f (x). Agora imagine que para um input parecido x + h (com
h pequeno) dá um output parecido: f (x + h) = f (x) + δ, com δ pequeno.
Apesar de ser uma situação plausı́vel, da qual temos muitos exemplos no dia a dia,
também sabemos que há exemplos da situação oposta, em que, apesar de x + h ∼ x
temos f (x + h) muito diferente de f (x). Essas duas possibilidades são tı́picas de
processos contı́nuos e descontı́nuos, respectivamente.
O objetivo deste capı́tulo é definir essas noções precisamente, pois nelas se apoiam
os dois conceitos centrais do Curso: Derivada e Integral.
Então:
1) A sequência soma (xn + zn )n tem
lim (xn + zn ) = L1 + L2 .
n→+∞
6) Se L2 6= 0, então:
• i) a partir de um certo n, zn 6= 0 e
• ii) limn→+∞ xznn = LL21 .
7) Suponha adicionalmente que a partir de um certo n, xn ≤ L1 e que, para uma
sequência qualquer qn , a partir de um certo n temos
xn ≤ qn ≤ L1 .
Então
lim qn = lim xn = L1 .
n→+∞ n→+∞
o que dá
1 1 2 ǫ · L22
| − |< · = ǫ.
zn L2 |L2 |2 2
Sobre 7): de fato, após esquecermos um certo número de termos das sequências,
temos
| qn − L1 | ≤ |xn − L1 |
e |xn − L1 | se faz tão pequeno quanto quisermos.
Chamo a atenção para uma propriedade, que provamos como parte do item 6), e
que será bastante útil:
4. Exercı́cios
Exercı́cio 4.1. Exemplifique com sequências (xn )n bem simples a diferença entre as
seguintes frases:
i) a partir de um certo tempo n a sequência xn dista de L menos que um ǫ > 0 e
ii) existem tempos n arbitrariamente grandes tais que xn dista de L menos que
um ǫ > 0.
1
Exercı́cio 4.2. Para as sequências (xn )n abaixo e para a função y = f (x) = x2
, diga
o formato da sequência ( f (xn ) )n :
i) xn = √1n ,
ii) xn = n1 ,
iii) xn = n2 .
4. EXERCÍCIOS 54
Exercı́cio 4.3.
Explique se existem ou não os limites das seguintes sequências:
i) xn := 5 n,
ii) xn := (−1)n 5,
iii) xn := (−1)n (5 + n1 ),
iv) xn := (−1)n n5
v) xn := (−1)n n1 .
vi) xn = n1 + n2 + n3 ,
vii) xn = n1 · n2 · n3 .
Exercı́cio 4.4.
No dia-a-dia sabemos que todo gremista gosta de azul, mas nem todos que gostam
de azul são gremistas.
Tratando-se agora de sequências xn e zn , dê exemplos onde não existem
lim xn ou lim zn
n→+∞ n→+∞
temos
lim f (xn ) = L.
n→+∞
• O leitor verá mais tarde que às vezes x não está no domı́nio das funções, ou
seja, que não faz sentido perguntar por quanto a função vale nele, mas que,
como x está arbitrariamente próximo do domı́nio dessas funções, podemos
perguntar quanto a função vale em pontos do domı́nio cada vez mais próximos
dele.
• o valor f (x) pode ser bem diferente de limx→x f (x). Por isso tomamos
sequências xn contidas em I \ {x} (ou seja, que não valem nunca x).
57
1. OPERAÇÕES ELEMENTARES COM LIMITES DE FUNÇÕES 58
Então:
1) A função soma f + g tem
lim (f + g)(x) = L1 + L2 .
x→x
4) Suponha uma função q(x) com o mesmo domı́nio da f (x) tal que |q(x)| ≤ K,
∀x. Suponha adicionalmente que L1 = 0. Então
lim ( f (x) · q(x) ) = 0.
x→x
Demonstração.
Prova do Item 1): Queremos saber se
lim ( f (xn ) + g(xn ) ) = L1 + L2 ,
n→+∞
Ora, pelo item 1) do Teorema 3.1, aplicado às sequências f (xn ) e g(xn ), concluimos
que limn→+∞ ( f (xn ) + g(xn ) ) = L1 + L2 .
A prova de outros itens fica para o leitor, bastando combinar a Definição 0.1 com
alguns itens do Teorema 3.1, bem como com a Afirmacao 3.1.
se ∀ǫ > existe δ > 0 tal que se 0 < |x − x| < δ então |f (x) − L| < ǫ.
Observações:
• pense em ǫ > 0 como um número pequeno, que impõe o desafio de se encon-
trar o δ > 0 suficiente para termos |f (x) − L| < ǫ, desde que 0 < |x − x| < δ.
• o sı́mbolo ∀ǫ > 0 (para todo ǫ > 0) diz que ǫ será feito tão pequeno quanto
quisermos,
• veremos logo abaixo que o δ depende do ǫ, da natureza da f e também, em
geral, de cada ponto x.
• a cláusula 0 < |x − x| existe para que possamos ter funções com f (x) 6= L =
limx→x f (x).
Um pouco mais sobre o último item: suponha que temos uma f com f (x) bem
diferente dos valores f (x), para x próximos de x porém diferentes de x. Por exemplo
suponha que |f (x) − L| ≥ 1 , embora |f (x) − L| < ǫ é pequeno se x 6= x, mas x
próximo de x. Então |x − x| = 0 < δ, ∀δ > 0 e no entanto |f (x) − L| ≥ 1. Por isso na
Definição 2.1 estamos interessados apenas em controlar os valores f (x) para x 6= x.
Vejamos agora que essa nova Definição 2.1 tem o mesmo conteúdo da Definição
0.1 do Capı́tulo 4, mesmo que a princı́pio não pareçam o mesmo.
Afirmação 2.1. A Definição 2.1 é equivalente à Definição 0.1 do Capı́tulo 4.
Demonstração. (da Afirmação 2.1)
Provar a equivalência de duas definições é mostrar que uma implica a outra e
vice-versa.
Suponha por um momento a Definição 0.1 e por absurdo negue a Definição 2.1.
Então existe um ǫ0 > 0 especial tal que ∀δ > 0 existe um xδ com
0 < |xδ − x| < δ, mas |f (xδ ) − L| ≥ ǫ0 .
2. A DEFINIÇÃO USUAL COM ǫ E δ 60
Já que vale para todo δ > tomo-os da forma δ(n) := n1 . Então concluo que os
xδ(n) formam uma sequência de I \ {x} que tende a x, pois
1
0 < |xδ(n) − x| <
n
e já sabemos que os n1 ficam tão pequenos quanto quisermos. Com essa sequência
(xδ(n) )n no domı́nio da f , formo outra sequência f (xδ(n) ) na imagem da f , que não
tende a L já que
|f (xδ(n) ) − L| ≥ ǫ0 , ∀n,
ou seja, não se aproxima do número L mais que ǫ0 . Isso contradiz a Definição 0.1.
Agora suponha Definição 2.1 e vamos obter a informação dada pela Definição 0.1.
Considere qualquer sequência xn de I \ {x} que tenda a x: queremos saber então
se é verdade que f (xn ) tende a L. Ou seja, se dado ǫ > 0 existe nǫ ∈ N tal que
∀n ≥ nǫ temos |f (xn ) − L| < ǫ.
O que sei pela Definição 2.1 é que existe um δ > 0 tal que:
0 < |x − x| < δ ⇒ |f (x) − L| < ǫ.
Então tomo esse δ > 0 e, para ele, tomo um nδ ∈ N tal que:
∀n ≥ nδ ⇒ 0 < |xn − x| < δ
(o que funciona pois xn tende a x).
Logo |f (xn ) − L| < ǫ pois os xn entraram na região adequada em torno de x, que
é (−δ + x, x + δ).
A Figura ilustra:
L+ ε
f (x_n)
L− ε
x_n
x −δ x x +δ
Lembrando que o δ = δ(ǫ), pois depende de ǫ, obtivemos o que querı́amos, já que
|f (xn ) − L| < ǫ a partir de um certo tempo nδ(ǫ) .
Exemplos:
CAPÍTULO 5. LIMITES DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM INTERVALOS 61
2ε
2ε
2ε
Deixo para o leitor verificar a equivalência dessas duas Definições 3.1 e 3.2.
Analogamente se define limx→−∞ f (x) = L ∈ R.
Geometricamente, as Definições 3.1 ou 3.2 se ilustram na Figura a seguir, em que
o gráfico se aproxima da altura L cada vez mais:
0,98
0,96
0,94
0,92
4 ) Suponha uma função q(x) com o mesmo domı́nio da f (x) tal que |q(x)| ≤ K,
∀x. Suponha adicionalmente que L1 = 0. Então
lim ( f (x) · q(x) ) = 0.
x→+∞
6) Se L2 = 6 0, então:
i) se x é suficientemente grande então g(x) 6= 0 e
Demonstração.
Prova do item 1): Quero saber se a sequência soma f (xn ) + g(xn ) tende a L1 + L2 ,
se a sequência xn tem limn→+∞ xn = +∞. Mas por hipótese f (xn ) tende a L1 e
g(xn ) tende a L2 . Logo pelo item 1) do Teorema 3.1 aplicado às sequências f (xn ) e
g(xn ) obtemos que f (xn ) + g(xn ) tende a L1 + L2 .
Os outros itens se demonstram da mesma maneira.
Exemplos:
3)
C 1
lim = C · lim =C ·0=0
x→+∞ x x→+∞ x
5)
1 1
lim (C + ) = C + lim =C +0=C
x→+∞ x x→+∞ x
6)
C1 x C1
lim = ,
x→+∞ C2 x + C3 C2
onde C1 , C2 , C3 são constantes não nulas. De fato, primeiro observe que se x se faz
tão grande quanto quisermos, em particular x > 0. Logo posso escrever:
C1 x x C1 C1
lim = lim C
= lim
x→+∞ C2 x + C3 x→+∞ x (C2 +
x
3
) x→+∞ (C2 + Cx3 )
e agora uso o Teorema 3.1 e os Exemplos anteriores , concluindo que
C1 C1
lim C
= .
x→+∞ (C2 + 3 )
x
C 2
1,8
1,6
1,4
1,2
0,8
0,6
2x2 +x+4
Figura: Gráfico de x2 +3x+7
com x ∈ [0, 200].
8)
Se m < n, am 6= 0, bn 6= 0:
am xm + am−1 xm−1 + . . . + a0
lim = 0.
x→+∞ bn xn + bn−1 xn−1 + . . . + b0
CAPÍTULO 5. LIMITES DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM INTERVALOS 65
De fato,
am−1
xm · (am + x
+ . . . + xam0 )
lim =
x→+∞ xm · xn−m · (bn + bn−1
x
+ . . . + xb0n )
am−1
1 (am + x
+ . . . + xam0 ) am
= lim bn−1
=0· = 0,
x→+∞ xn−m (bn + + . . . + xb0n ) bn
x
usando o Teorema 3.1.
Ilustro este Exemplo 8) na Figura a seguir, com am = a2 = 20 e bn = b3 = 0.01.
Escolhi o coeficiente b3 = 0.01 bem pequeno em relação ao a2 = 20 de propósito,
para indicar que não adianta, pois a longo prazo o grau 3 do denominador é mais
importante.
8000
6000
4000
2000
0
5 10 15 20 25 30
x
20x2 +30x+40
Figura: Gráfico de (0.01)x3
, para x ∈ [1, 30]
Estes dois Exemplos 7) e 8) ilustram o seguinte princı́pio: a longo prazo o que im-
porta são os graus mais altos dos polinômios envolvidos num quociente de polinômios.
0,4
0,3
0,2
0,1
0
20 40 60 80 100 120
x
-0,1
-0,2
sin(x)
Figura: O gráfico de x
para x ∈ [2, 130]
4. QUANDO A PARTE É DO MESMO TAMANHO DO TODO 66
Nesta Seção proponho explicar o seguinte Teorema, que parece um total absurdo:
Afirmação 4.1. A reta inteira de números Reais tem tantos pontos quanto o intervalo
aberto (−1, 1).
Em primeiro lugar preciso lembrar o que significa dois conjuntos terem o mesmo
número de elementos. O exemplo que mais gosto, para explicar essa noção, li num
um livro de Tarski.
Imagine num garçom colocando, para cada cliente, um garfo e uma faca ao lado
do prato. Ao final da tarefa, ele têm a seguinte conversa com o cozinheiro:
• cozinheiro: para preparar a refeição, gostaria de saber quantos clientes temos
hoje.
• garçom: não contei, não sei.
• cozinheiro: mas você não estava pondo os garfos e facas para cada um deles
?
• garçom: sim, mas só o que tenho certeza é que há tantos garfos quanto facas
à mesa.
• cozinheiro: mas como você pode ter certeza disso, sem saber quantos garfos
e facas você pôs, já que não contou ?
• garçom: ora, é fácil, sei que há tantos garfos quanto facas porque para cada
faca colocada, coloquei um garfo, e não mais de um garfo.
A moral dessa história é a seguinte: dois conjuntos têm o mesmo número de
elementos quando há uma função f sobrejetora (nenhuma faca sem garfo) e injetora
(não mais de um garfo) entre eles. Apesar de que não saibamos exatamente quantos
elementos os conjuntos têm.
Um exemplo conhecido já por Galileu é que há tantos números Naturais N quanto
números Pares 2N: de fato, existe a bijeção
f : N → 2N, f (n) = 2n,
cuja inversa dá f −1 (2n) = n. Apesar disso 2N ⊂ N, por isso se diz que, nesse caso, a
parte é do tamanho do todo !
0,8
0,4
0
-4 -2 0 2 4
-0,4
-0,8x
0
-0,8
-0,40 0,4
0,8
x
-2
-4
Para terminar, chamo a atenção do leitor que f −1 : (−1, 1) → R faz uma espantosa
expansão do intervalo (−1, 1). A expansão feita por f −1 (y) depende sensivelmente
de y e aumenta cada vez mais à medida que y vai para os extremos do intervalo. Na
Parte 2 do Curso poderemos justificar e explicar melhor a seguinte Afirmação sobre
f −1 :
1
Afirmação 4.2. Se y ∈ [0, 1) então a taxa de expansão de f −1 é de (1−y)2
e a taxa
1
de expansão de f −1 (y) para y ∈ (−1, 0] é de (1+y)2.
5. Exercı́cios
Exercı́cio 5.1. A seguir dado ǫ > 0 determine δ > 0 (em função de ǫ) tal que
|x − x0 | < δ implique |f (x) − L| < ǫ:
b): x0 = 0, f (x) = x2 , L = 0,
0,5
x
0 10 20 30 40 50
0
-0,5
-1
A noção de Continuidade
Na Definição a seguir pediremos um pouco mais que o que foi exigido na Definição
0.1, pois vamos pedir que:
• x ∈ I (domı́nio da função) e que
• limx→x f (x) = f (x)
ou seja que o limite L da função coincida com f (x):
Definição 0.1. Uma função f : I → R é contı́nua em x ∈ I se toda sequência xn de
pontos de seu domı́nio com
lim xn = x
n→+∞
tenha também
lim f (xn ) = f (x).
n→+∞
Quando dissermos apenas que f é contı́nua estamos querendo dizer f que é contı́nua
em cada ponto de seu Domı́nio.
Observações:
• Quer dizer então que, se uma função é contı́nua em x, é porque ela manda
todas sequências contidas no Domı́nio I de f que se aproximam de x em
sequências no Contra-Domı́nio que se aproximam de f (x).
• Concluı́mos que, para não termos a continuidade de f em x ∈ I, tem
que haver pelo menos uma sequência xn de pontos de seu domı́nio com
limn→+∞ xn = x, mas para as qual limn→+∞ f (xn ) 6= f (x) .
Isso pode acontece ou porque simplesmente não existe esse limite ou,
mesmo existindo, pode ser que seja diferente de valor esperado f (x).
• Só faz sentido dizer que f é descontı́nua (não-contı́nua) em pontos x de seu
Domı́nio1
Exemplos de descontinuidades:
1- f : R → R definida condicionalmente por: f (x) = x se x ≤ 0 e por x + 4 se
x > 0. Nesse exemplo, sequências xn < 0 que tendem a zero tem f (xn ) tendendo a
0; mas sequências xn > 0 que tendem a zero tem f (xn ) tendendo a 4.
2- f : [0, 5] → R, definida condicionalmente por f (0) = 3 e f (x) = 1/x, se
x ∈ (0, 5]. Aqui, sequências de números positivos xn que tendam a 0 tem f (xn )
ficando tão grande quanto quisermos, ou seja se afastando de f (0) := 3.
1Ao contrário do que faz o Anton em seu livro de Cálculo, para quem f : R \ {0} → R é
descontı́nua em x = 0 !!!
71
1. OPERAÇÕES COM FUNÇÕES CONTÍNUAS 72
0,5
x
0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3
0
-0,5
-1
Então:
1) A função soma f + g é também contı́nua em X ou seja
lim (f + g)(x) = (f + g)(x).
x→x
5) Se g(x) 6= 0:
• i) se x é suficientemente próximo de x, então g(x) 6= 0 e
• ii) lim fg(x)
(x)
= fg(x)
(x)
.
L+ ε
L>0
L−ε
x
x −δ x +δ
Generalizando o exemplo x1 , defino uma função racional como o quociente PP12 (x) (x)
de dois polinômios. Resta saber, se adotamos esta definição, onde a função racional
está bem definida como função.
Vale o seguinte: se P1 (x) e P2 (x) não têm raı́zes comuns, então PP12 (x)
(x)
tem como
Domı́nio exatamente o conjunto
{ x ; P2 (x) 6= 0 }.
P1 (x)
E é uma função contı́nua.
P2 (x)
Porém, suponha que P1 (x) e P2 (x) têm alguma raı́z comum x, que é de ordem
m1 ≥ 1 para P1 (x) e de ordem m2 ≥ 1 para P2 (x). Então PP12 (x)
(x)
estará definida em x
se e somente se
m1 ≥ m2 .
Relembro essas noção de ordem ou multiplicidade de uma raı́z:
CAPÍTULO 6. A NOÇÃO DE CONTINUIDADE 75
2.3. Trigonométricas.
Considere agora um cı́rculo de raio 1.
Podemos usar o comprimento do arco do cı́rculo (medido no sentido antihorário
desde o eixo x > 0) como uma medida do ângulo central.
Assim um ângulo de 360 graus (antihorário, desde o eixo x > 0)) mede +2π (onde
π é tomado no sentido elementar de quociente entre o perı́metro e diâmetro de um
cı́rculo). Um ângulo de 90 graus antihorário mede +π/2, o de 180 antihorário mede
+π. É claro que há sempre uma ambiguidade de k · 2π nesse modo como medimos o
ângulo central.
A medida da projeção no eixo y (orientada como o eixo y) do arco de comprimento
θ é o seno do ângulo θ. Assim como a medida da projeção no eixo x (orientada como
o eixo x) do arco de comprimento θ é o cosseno do ângulo θ.
tan θ
senθ
θ
1 cos θ
0
-1-0,5
0 0,51
x
-2
-4
Nessa Figura, feita numericamente no computador, não pude pedir para o com-
putador trabalhar no intervalo ( −π , π ), pois os valores de tan explodem em módulo.
2 2
A restrição
−π π
tan : ( , )→R
2 2
tem uma inversa arctan : R → ( −π
2
, π2 ). Também é uma função estritamente crescente,
como já explicamos acima, mas seus valores não sobrepassam em módulo a π2 .
CAPÍTULO 6. A NOÇÃO DE CONTINUIDADE 77
1
0,5
0
-4 -2 -0,5 0 2 4
-1x
significa que tan(θ) fica tão negativo quanto quisermos desde que θ > − π2
decresça e se aproxime o suficiente de − π2 .
•
lim tan(θ) = ∞
θր π2
π
significa que tan(θ) fica tão positivo quanto quisermos desde que θ < 2
cresça
e se aproxime o suficiente de π2 .
3. CONTINUIDADE DA FUNÇÃO INVERSA 78
y = f(x)
0 a a+1 b
y = f^{−1} (x)
y = f(x)
0 a a+1 b
2Como esqueceu o Anton, na pag. 156, Teorema 2.6.2, da Oitava Edição do seu livro de Cálculo.
CAPÍTULO 6. A NOÇÃO DE CONTINUIDADE 79
Vamos dar agora algumas aplicações iniciais do T.V.I. Mais tarde ele será impor-
tante na prova do Teorema Fundamental do Cálculo, na Parte 2 do Curso.
Primeiro um tı́pico teorema bem geral, mas que não diz nada sobre a solução em
cada caso especı́fico:
Proposição 5.1. Dado qualquer f : [0, 1] → [0, 1] contı́nua, existe x ∈ [0, 1] tal que
f (x) = x.
Demonstração.
Observe que geometricamente o que queremos é saber se o gráfico de y = f (x)
corta o gráfico da diagonal y = x.
Se f (0) = 0 ou se f (1) = 1 então corta e acabou, não há nada mais a provar.
Portanto vamos supor que f (0) ∈ (0, 1] e que f (1) ∈ [0, 1), para termos algo a provar.
É razoável olhar a função diferença entre elas: f (x) − x. Por ser uma diferença de
duas funções contı́nuas, f (x) − x também é função contı́nua. Ademais, f (0) ∈ (0, 1]
e f (1) ∈ [0, 1) dizem que:
f (0) − 0 > 0 e f (1) − 1 < 0.
Pelo T.V.I. existe algum x ∈ (0, 1) tal que:
f (x) − x = 0,
como querı́amos.
Observe que há polinômios de grau par sem zeros Reais, como f (x) = x2 + 1.
Demonstração. Seja f o polinômio de grau 2n − 1:
f (x) := a2n−1 · x2n−1 + a2n−2 · x2n−2 + . . . + a1 · x + a0 , ai ∈ R, n∈N
Caso a2n+1 > 0:
Escrevo para x > 0:
a2n−2 a0
a2n−1 · x2n−1 + a2n−2 · x2n−2 + . . . + a1 · x + a0 = a2n−1 x2n−1 · (1 + + . . . 2n−1 ).
x x
Pelo Teorema 3.1 e pelos Exemplos que o seguem, temos que
a2n−2 a0
lim ( + . . . 2n−1 ) = 0.
x→+∞ x x
Portanto para x > 0 suficientemente grande temos que
a2n−2 a0
1+ + . . . 2n−1 > 0.
x x
Logo, para x > 0 suficientemente grande, o sinal de
a2n−2 a0
a2n−1 x2n−1 · (1 + + . . . 2n−1 )
x x
2n−1 2n−1
é o mesmo sinal de a2n−1 x , que é a2n−1 x > 0.
Argumentando do mesmo jeito para x → −∞, concluimos que o sinal de
a2n−2 a0
a2n−1 x2n−1 · (1 + + . . . 2n−1 )
x x
para x < 0 suficientemente grande é o mesmo sinal de a2n−1 x2n−1 , que nesses pontos
é a2n−1 x2n−1 < 0.
Então
f (x) = a2n−1 · x2n−1 + a2n−2 · x2n−2 + . . . + a1 · x + a0
assumiu valores negativos e positivos.
Pelo T.V.I. e pela continuidade do polinômio f (x), tem que haver um ponto onde
f (x) = 0.
Caso a2n+1 < 0: completamente análogo.
Esse teorema (e sua prova) não dão nenhuma pista de como achar concretamente
algum ponto x onde f (x) = 0.
Em dois trabalhos, de 1690 e 1691, Michel Rolle tentou estabelecer um método
para determinar concretamente esses zeros.
Ele o fez de um modo bem confuso, pois não tinha uma boa definição de Derivada,
mas seu nome ficou associado ao teorema que estabeleceremos mais adiante no Capı́tulo
10 e que nos permitirá criar métodos para encontrar raı́zes de polinômios (e de funções
mais gerais).
Um aplicação interessante do Teorema de Rolle e do T.V.I. será dada na Seção 5
do Capı́tulo 13, para provar a Regra de sinais de Descartes, que dá uma estimativa
do número de raı́zes Reais de um polinômio.
CAPÍTULO 6. A NOÇÃO DE CONTINUIDADE 81
Demonstração.
ii) obviamente implica i), pois:
f (x) = (x − x) · g(x) = 0.
A prova de que i) implica ii) será dividida em duas etapas.
A parte interessante é construir o g(x) que queremos em:
f (x) = (x − x) · g(x) + r,
onde r é uma constante.
Se tivermos feito isso, avaliaremos tudo em x:
0 = f (x) = (x − x) · g(x) + r = r,
para concluir que r = 0.
Para chegarmos na desejada expressão f (x) = (x−x)·g(x)+r, temos um algoritmo
a executar.
Para f (x) = an xn + an−1 xn−1 + . . . + a0 , faço
g1 (x) := an · xn−1
e subtraio
r1 (x) := f (x) − (x − x) · g1 (x).
O g1 (x) foi escolhido para que r1 (x) não tenha termo de grau n. Ou seja que esse
novo polinômio r1 (x) tem grau ≤ n − 1. Se por acaso r1 (x) ≡ 0 então
f (x) = (x − x) · g1 (x)
e já temos o que queremos, com r = 0 e g(x) := g1 (x).
Caso contrário r1 (x) = bk xk + bk−1 xk−1 + . . ., onde k ≤ n − 1; defino
xk−1
g2 (x) := ,
bk
e subtraio
r2 (x) := r1 (x) − (x − x) · g2 (x).
7. RAÍZES SIMPLES E FATORAÇÃO DE POLINÔMIOS 82
Pela definição do g2 (x) esse novo polinômio r2 (x) tem grau ≤ n − 2. Se dermos sorte
e r2 (x) ≡ 0 então
f (x) = (x − x) · [g1 (x) + g2 (x)],
e já temos o que queremos com r = 0 e g(x) = g1 (x) + g2 (x).
Caso contrário continuamos, considerando agora r2 (x) = cj xj + cj−1xj−1 + . . .,
onde j ≤ n − 2 e definindo g3 (x) e r3 (x) como fizemos antes.
O que importa é que o grau desse novo r3 (x) será ≤ n − 3. Ou seja, como vão
caindo os graus dos rk (x) a cada etapa, após no máximo n etapas chegaremos a um
rk (x) (k ≤ n) que ou bem é ≡ 0 ou bem tem grau zero, uma constante. Esse será o
r. E g(x) := g1 (x) + . . . + gk (x), k ≤ n.
r3 := r2 − x21 · (x − x1 ) =
= −1 + x31 = 0.
Portanto
g(x) := g1 (x) + g2 (x) + g3 (x) =
= x2 + x1 x + x21 ,
e a fatoração é
√ √
3 2 −1 − −1 3
x − 1 = (x − x1 ) · ( x + x1 x + x21 ), onde x1 := .
2
Note que:
(x − 1) · (x − x2 ) = x2 − (x2 + 1) x + x2 =
= x2 + x1 x + x21 ,
pois claramente
x2 + 1 = −x1 ,
e
x21 = x2 .
8. Possı́veis raı́zes Racionais de polinômios a coeficientes inteiros
Aproveito o tema das raı́zes de polinômios para lembrar o seguinte Teste, que
permite saber se pode haver raı́z Racional de um polinômio a coeficientes Inteiros:
Afirmação 8.1. Seja p(x) = ak · xk + ak−1 · xk−1 + . . . + a1 · x + a0 polinômio de grau
k ≥ 1 com coeficientes Inteiros:
ak , ak−1, . . . , a1 , a0 ∈ Z.
Suponha que p(x) tem alguma raı́z Racional, ou seja, da forma
m
x= ∈ Q, com m e n primos entre si.
n
Então m é divisor de a0 e n é divisor de ak .
Demonstração.
Suponho que:
m mk mk−1 m
p( ) = ak · k + ak−1 · k−1 + . . . + a1 · + a0 = 0.
n n n n
Então
mk mk−1 m
ak · k
+ ak−1 · k−1
+ . . . + a1 · = −a0
n n n
e multiplicando por nk :
ak · mk + n · ak−1 · mk−1 + . . . + a1 · nk−1 · m = −nk · a0
e daı́:
m · [ak · mk−1 + n · ak−1 · mk−2 + . . . + a1 · nk−1 ] = nk · (−a0 ).
Como
ak · mk−1 + n · ak−1 · mk−2 + . . . + a1 · nk−1 ∈ Z
temos que m é um divisor de nk · (−a0 ).
9. EXERCÍCIOS 84
9. Exercı́cios
Exercı́cio 9.1. Considere a função definida assim: f (x) = 0 se x é um número
racional e f (x) = 1 se x é um número irracional.
Exercı́cio 9.3. Dê um exemplo de f (x) descontı́nua em algum ponto mas tal que
f 2 (x) é contı́nua em todos os pontos.
Exercı́cio 9.4. (resolvido)
Prove que a função definida por f (x) = x · sin( x1 ), se x > 0 e f (0) = 0 é contı́nua.
Exercı́cio 9.5. Prove a Afirmação 1.1, que chamei de princı́pio de inércia das funções
contı́nuas.
Exercı́cio 9.6. Um aluno me disse que, para descobrir em quais intervalos um
polinômio y = f (x) de grau n é positivo ou negativo, ele faz o seguinte.
Ele primeiro descobre todas as raı́zes Reais x1 , x2 , . . . , xk , onde k ≤ n.
Depois considera os intervalos (−∞, x1 ), (x1 , x2 ), etc , (xk−1 , xk ), (xk , +∞). Então
para saber o sinal de f em cada intervalo desses, ele examina o sinal de f (x) em um
único x de cada intervalo.
CAPÍTULO 6. A NOÇÃO DE CONTINUIDADE 85
Exercı́cio 9.7. Dê um exemplo de uma função f positiva em um ponto x, mas tal
que f (xn ) = 0 em pontos xn que formam um sequência com limn→+∞ xn = x.
Exercı́cio 9.8. Encontre o domı́nio da função racional f (x) = x21−1 . Descreva o que
acontece com o módulo e o sinal de f quando x se aproxima pela esquerda e pela
direita dos pontos onde ela não está definida.
2,2
1,8
1,6
1,4
1,2
0,8
20 40 60 80 100
x
√
5·x2 +x
√
Figura: Gráfico de y = x+2
, x ∈ [1, 100], 5 ≈ 2.23.
ii) Prove que
√
5 · x2 + 2 √
lim =− 5
x→−∞ x+2
Exercı́cio 9.10. (resolvido) Um exemplo que não parece estar ligado a quocientes,
mas que se calcula introduzindo quocientes:
√ 1
lim ( x2 + x − x ) = .
x→+∞ 2
9. EXERCÍCIOS 86
0,5
0,48
0,46
0,44
0,42
20 40 60 80 100
x
√
Figura: Gráfico de y = x2 + x − x, x ∈ [1, 100].
Demonstração. De
y 1 = a · x1 + b e y 2 = a · x2 + b,
subtraindo-as, obtemos:
y 2 − y 1 = a · (x2 − x1 ),
de onde
y2 − y1
a= ,
x2 − x1
6 x1 ). E daı́ sai que:
(onde é crucial que x2 =
y − y1
b = y1 − ( 2 ) · x1 ,
x2 − x1
ou o que dá no mesmo:
y2 − y1
b = y2 − ( ) · x2 .
x2 − x1
87
1. EQUAÇÕES DE RETAS, COEFICIENTES ANGULAR E LINEAR 88
Note que esse número b é a altura em que a reta y = ax + b intersecta o eixo dos
y, que é dado por x = 0: de fato,
y = a · 0 + b = b.
Definição 1.1. Dados dois pontos distintos do plano (x1 , y 1 ) e (x2 , y 2 ) com coor-
denadas x1 6= x2 , definimos o coeficiente angular da reta ligando esses dois pontos
por:
y2 − y1 y − y2
= 1 .
x2 − x1 x1 − x2
Afirmação 1.2. O coeficiente angular é uma informação da reta, não dependendo
dos pontos particulares que usamos para calculá-lo.
Demonstração.
De fato, se tomo qualquer ponto (x3 , y 3 ) da reta y = a · x + b determinada por
(x1 , y 1 ) e (x2 , y 2 ), como y 3 = ax3 + b, então:
y3 − y1 (a · x3 + b) − (ax1 + b)
= = a,
x3 − x1 x3 − x1
e já vimos na Afirmação 1.1 que
y2 − y1
a= ,
x2 − x1
ou seja,
y3 − y1 y2 − y1
= .
x3 − x1 x2 − x1
Exemplos:
1)- a diagonal y = x tem coeficente angular 1 e a anti-diagonal y = −x tem
coeficiente angular −1.
2)- A reta horizontal y = b tem coeficiente angular 0, pois y = b = 0 · x + b.
CAPÍTULO 7. GEOMETRIA ANALÍTICA PLANA 89
Observações:
2. Ortogonalidade
Deve estar claro pelo que já explicamos que duas retas y = ax + b1 e y = ax + b2 ,
com b2 6= b1 , são de fato paralelas.
Agora gostaria de explicar que uma par de retas y = ax + b1 e y = − a1 x + b2 , com
a 6= 0, são ortogonais.
Posso me restringir a considerar retas pela origem: y = ax e y = − a1 x, pois
estas são translações verticais das retas anteriores, e portanto têm entre elas o mesmo
ângulo que as anteriores. Posso supor também que a > 0 (caso a < 0 então − a1 > 0
e poderia trabalhar com este coeficiente angular).
Se escrevo a = B A
, com A, B > 0, então − a1 = − BA
.
Agora considero 3 triângulos (ilustrados na Figura a seguir):
( A,B )
(−B , A )
∆3
∆1
∆2
(−B , 0) (0, 0) ( A, 0 ) x
Observe que ∆1 e ∆2 são triângulos retângulos e que a reta que contém a hipotenusa
de ∆1 é y = ax , enquanto que a reta que contém a hipotenusa de ∆2 é a reta y = − a1 x.
√
Então por Pitágoras as hipotenusas de ∆1 e de ∆2 valem o mesmo: A2 + B 2 .
Por outro lado o comprimento do segmento de reta ligando (−B, A) a (A, B) vale,
por definição:
p √
(B − A)2 + (A − (−B))2 = 2A2 + 2B 2 .
Lembro agora que é válida a recı́proca do Teorema de Pitágoras (coisa pouco lembrada
no Ensino Médio), ou seja, se um lado maior de um triângulo é soma de quadrados de
outros dois lados menores, então o triângulo é retângulo no ângulo oposto ao maior
lado. Logo o triângulo ∆3 tem que ter ângulo reto em α, por ter um lado cuja medida
é λ2 + λ2 .
Logo y = ax e y = −1 a
x são de fato ortogonais, pois α é reto.
Demonstração.
Vamos provar para pontos do Cı́rculo com coordenada y > 0 (para os outros é
análogo). √
Tome um ponto no do Cı́rculo de raio r > 0, de coordenadas (x, + r 2 − x2 ), onde
x ∈ [−r, r]. √
Queremos ver se os coeficiente angular a√da reta ligando (x, + r 2 − x2 ) a (r, 0) e
o coeficiente angular a′ da reta ligando (x, + r 2 − x2 ) a (−r, 0) satisfazem a condição
que expressa a ortognalidade:
a′ · a = −1.
Mas √ √
′ r 2 − x2 − 0 r 2 − x2
a = = ,
x − (−r) x+r
√
r 2 −x2
enquanto que a = x−r
e portanto:
√ √
′ r 2 − x2 r 2 − x2 r 2 − x2
a ·a= · = 2 = −1.
(x + r) (x − r) x − r2
1,5
0,5
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
1,5
0,5
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Demonstração.
Não perdemos muita generalidade se supusermos que o triângulo tem vértices:
(0, 0), (1, 0) e (A, B), B 6= 0,
pois isso se obtém escolhendo um sistema de coordenadas cartesiano adequado.
Os lados do triângulo fazem parte de três retas, das quais obviamente a primeira
é
l1 : y = 0.
CAPÍTULO 7. GEOMETRIA ANALÍTICA PLANA 93
ou coordenadas
x − a(b − y) x − a(b − y)
Q=( 2
, a·( ) + b ), se a 6= 0.
a +1 a2 + 1
A altura que sai de (A, B) e vai ortogonal até o lado l1 : y = 0 é portanto:
h1 : x = A.
A altura que sai de (0, 0) é:
h3 : y = 0, se A = 1,
pois nesse caso l3 : x = 1. Ou
A−1
h3 = − · x, se A 6= 1,
B
pois no caso geral
B B
l3 : y= ·x− .
A−1 A−1
A intersecção h1 ∩ h3 é portanto:
(1, 0), se A = 1
ou
A · (A − 1)
(A, − ), se A 6= 1.
B
Em qualquer caso,
A · (A − 1)
H = ( A, − ) = h1 ∩ h2 .
B
Afirmo que
H ∈ h2 ,
onde h2 é a altura que sai de (1, 0) e chega ortogonal a l2 .
Se l2 : x = 0 (quando A = 0) então
h2 : y=0
B
obviamente passa por H. E se l2 : y = A
· x (no caso A 6= 0) então:
A A
h2 : y = − ·x+ .
B B
Nesse caso também H ∈ h2 .
Esse ponto de encontro das três alturas é o Ortocentro.
Quando H = B ?
Quando
A+1 B A(A − 1)
A= e =− .
3 3 B
Que é exatamente quando:
1 3
A= e B2 = ,
2 4
que diz que se trata de triângulo equilátero, como já vimos.
CAPÍTULO 7. GEOMETRIA ANALÍTICA PLANA 97
2 1 1 A(A − 1) 1 2
BC := ( A − )2 + ( + B) =
3 6 2B 6
10A2 B 2 − 10AB 2 + B 2 + 9A4 − 18A3 + 9A2 + B 4
= .
36B 2
ou seja
2 2
HB = 4 · BC ,
como querı́amos.
Observação 1:
Observe que temos a equação explı́cita e portanto podemos determinar casos onde
a reta de Euler é horizontal. Que ocorrem para pontos da forma
p
P = ( A, ± 3A(1 − A) ).
4. A EQUAÇÃO DA RETA DE EULER 98
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
√
Figura: A reta de Euler é horizontal para pontos da forma P = ( 32 , 3
6
).
Observação 2:
É natural termos curiosidade por qual seria o gráfico da função z = z(A, B), B 6= 0
dada por
z = 10A2 B 2 − 10AB 2 + B 2 + 9A4 − 18A3 + 9A2 + B 4 ,
pois vimos z = 0 está associado a um ponto muito especial no plano formado pelos
parâmetros (A, B): o ponto
√
1 3
( , ) ∼ (0.5, 0.8).
2 2
A Figura a seguir mostra uma parte dessa superfı́cie, com A ∈ [0, 1] e B ∈ [0.1, 1.3]
(na figura o eixo x é o dos A e o eixo y é o dos B).
0 1
1,2 0,8
1 0,6
0,8
y 0,6 0,4 x
0,4 0,2
0,2 0
CAPÍTULO 7. GEOMETRIA ANALÍTICA PLANA 99
Mas não se vê muita coisa. Já as próximas duas Figuras são perfis da superfı́cie,
e elas sim ilustram bem que um ponto próximo de (0.5, 0.8) é o mı́nimo dessa função
z = z(A, B) (na figura o eixo x é o dos A e o eixo y é o dos B).
0
1 0,8 0,6 0,4 0,2 1 ,2
0,8
00,2
0,4
0,6
x
y
0 1
0
0,8 x
0,6
0,4
0,2
1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2
y
mesmas abcissas e oordenadas que a f , ou seja, vamos ver ao mesmo tempo y = f (x)
e y = g(x).
Agora ligamos com uma reta r o ponto (A, B) := (x, f (x)) do gráfico de y = f (x)
com o ponto (B, A) do gráfico de y = g(x). Então o coeficiente angular dessa reta é:
A−B
a := = −1.
B−A
Ou seja que a reta r que os liga tem a mesma inclinação da anti-diagonal, a = −1,
ou seja, r é ortogonal à diagonal y = x. A equação dessa r é pelo que vimos na
Afirmação 1.3:
r : y = −x + (A + B).
E r corta a diagonal y = x no ponto cuja abcissa satisfaz:
x = −x + (A + B),
A+B
ou seja x = 2
, ou seja, no ponto com coordenadas ( A+B
2
, A+B
2
). E (A, B) e (B, A)
A+B A+B
são equidistantes de ( 2 , 2 ).
Concluı́mos que a diagonal y = x funciona como um espelho para os gráficos de
y = f (x) e y = g(x):
O gráfico da f −1 referido ao mesmo sistema (x, y) é um reflexão na diagonal do
gráfico da y = f (x)
y=x
(B,A)
r
y= f^{−1}(x)
(A,B)
y= f(x)
Exemplo 6.1. Consider y = Cx2 uma parábola e tome P = (x, Cx2 ), com x > 0.
Comos os Cı́rculos com centro (c, 0) tem equação:
y 2 + (x − c)2 = r 2 ,
queremos encontrar uma raı́z dupla x de:
(Cx2 )2 + (x − c)2 − r 2 = 0,
ou seja queremos encontrar uma fatoração:
(Cx2 )2 + (x − c)2 − r 2 = (x − x)2 q(x)
onde q(x) é um polinômio de grau 2.
Ou seja queremos encontrar uma fatoração do tipo:
(Cx2 )2 + (x − c)2 − r 2 = (x − x)2 · (a2 x2 + a1 x + a0 ).
6. O MÉTODO DE DESCARTES PARA AS TANGENTES A UM GRÁFICO 102
y 1
0
0 1 2 3 4 5
x
-1
-2
Ora, para passarmos ro raio do cı́rculo para a tangente basta tomar a reta ortog-
1
onal. E o coeficiente angular ortogonal ao anterior − 2xC é:
2Cx.
Logo a reta tangente ao gráfico em P vem dada por:
y − Cx2
= 2Cx ⇔ y = (2Cx) x + (Cx2 − 2Cx2 ).
x−x
Exemplo 6.2. Considere y = Cx3 e tome P = (x, Cx2 ), com x > 0. Queremos uma
raı́z dupla de:
(Cx3 )2 + (x − c)2 − r 2 = 0,
ou seja queremos encontrar uma fatoração:
(Cx3 )2 + (x − c)2 − r 2 = (x − x)2 q(x)
onde q(x) agora é um polinômio de grau 4.
Ou seja queremos encontrar uma fatoração do tipo:
(Cx3 )2 + (x − c)2 − r 2 = (x − x)2 · (a4 x4 + a3 x3 + a2 x2 + a1 x + a0 ).
Expandindo ambos os lados, formam-se dois polinômios de grau 6, à esquerda e à
direita. Comparando como fizemos antes os coeficientes de cada monômio, fazemos
surgir equações, que vão sendo resolvidas uma a uma, produzindo nesta ordem:
a4 = C 2 , a3 = 2xC 2 , a2 = 3x2 C 2 ,
a1 = 4x3 C 2 , a0 = 1 + 5x4 C 2 , c = x + 3x5 C 2 .
Logo o Cı́rculo cujo centro é o ponto
O = (c, 0) = (x + 3x5 C 2 , 0)
e que passa por P = (x, Cx3 ) tangencia o gráfico de y = Cx3 nesse ponto P .
1
y
0
0 1 2 3 4 5 6 7
x
-1
-2
-3
Solução:
Seja P = (a, a3 ). Então a 6= 0 pois de P = (0, 0) a reta tangente é horizontal e
não intersecta o gráfico noutro ponto Q 6= P .
A reta tangente em P tem equação:
y = 3a2 · x − 2a2
e Q = (x, x3 ) verifica a equação:
x3 = 3a2 · x − 2a2 ⇔ x3 − 3a2 · x + 2a2 = 0.
Ora, a é raı́z dupla essa equação, já que em P há tangência, logo:
x3 − 3a2 · x + 2a2 = (x − a)2 · p(x)
onde p(x) é de grau 1 e facilmente se vê, por divisão, que:
p(x) = x + 2a.
Ou seja, o ponto Q tem coordenadas Q = (−2a, −8a3 ).
A inclinação da reta tangente por Q é:
3 · (−2a)2 = 3 · (4a2 ) = 4 · (3a2 ),
ou seja, 4 vezes a inclinação em P .
8. Exercı́cios
Exercı́cio 8.1. Qual é o coeficiente angular da reta y = y(x) determinada pela
equação 3y + 4x − 27 = 0 ?
CAPÍTULO 7. GEOMETRIA ANALÍTICA PLANA 105
ii) determine a reta, na forma y = a · x + b, que passa por (1, 2) com coeficiente
angular 5.
Exercı́cio 8.3. (resolvido)
Tentei resolver o sistema de equações:
y − 5x − 2 = 0 e 2y − 10x − 1 = 0,
e fiz o seguinte: da primeira equação obtive y = 5x + 2 e substitui esse y na segunda,
obtendo:
2(5x + 2) − 10x − 1 = 3 = 0,
o que é um absurdo, pois 3 6= 0.
Você poderia explicar, com os conceitos deste Capı́tulo por quê chego nesse ab-
surdo?
Exercı́cio 8.4. Agora tentei resolver os sistemas de duas equações:
y − ax + 1 = 0 e y − x + 2 = 0
(sim são vários sistemas de duas equações pois a ∈ R pode ser mudado).
Da primeira obtive: y = ax − 1 e substituindo na segunda obtive:
(ax − 1) − x + 2 = x(a − 1) + 1 = 0.
i) Supondo a − 1 6= 0 continue a resolução dos sistemas.
ii) explique geometricamente qual o significado da condição a − 1 6= 0.
Exercı́cio 8.5. Um outro modo se pensar a questão de como determinar a reta
y = a · x + b passando por dois pontos P1 = (x1 , y1 ) e P2 = (x2 , y2 ) é resolver o
sistema:
y1 = a · x1 + b e y2 = a · x2 + b,
cujas incógnitas são a, b.
i) qual a condição sobre P1 = (x1 , y1 ) e P2 = (x2 , y2) para que o sistema tenha
solução única ? O que diz a chamada Regra de Cramer neste caso ?
Agora considere o problema de determinar qual a curva da forma
y 2 = x3 + b · x + a
passa pelos pontos P1 = (−3, 0) e P2 = (4, 0).
ii) qual o sistema de equações a ser resolvido ? É muito diferente do anterior ?
iii) qual a solução (a, b) ?
Exercı́cio 8.6. (resolvido)
Seja y = ax + b a equação de uma reta r e seja P = (A, B) 6∈ r.
i) Encontre o ponto Q na reta r tal que o segmento P Q é ortogonal a r em Q.
ii) pode acontecer que a coordenada x de Q seja A ? Exatamente em que situações
?
8. EXERCÍCIOS 106
0
0 0,5 1 1,5 2
x
-1
-2
É nesse ponto que se vê importância de podermos falar de algo como o h tender a
zero, sem precisar nunca ser zero: pois simplesmente não podemos dividir por h = 0
e precisamos calcular limh→0 ax1 ,h .
Atenção ! pois em geral pode não existir esse limite, como algo bem definido.
O exemplo mais simples é (que é uma função contı́nua !):
y = f (x) = |x| e x = 0.
De fato, se h > 0 e tende a zero, obtenho:
|0 + h| − |0| h
lim = lim =
h→0
h>0
h h→0
h>0
h
= lim 1 = 1,
h→0
h>0
e no entanto:
|0 + h| − |0| −h
lim = lim =
h→0
h<0
h h→0
h<0
h
= lim −1 = −1,
h→0
h<0
0,8
0,6
0,4
0,2
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
Definição 2.1. Quando há uma posição limite de secantes, ou seja, quando existe
f (x1 + h) − f (x1 )
a := lim ax1 ,h , onde ax1 ,h := ,
h→0 h
dizemos que existe a Reta Tangente ao gráfico de f em (x1 , f (x1 )). É a reta dada
por:
y = a · x + b, pondo a := lim ax1 ,h
h→0
e onde b fica determinado pela imposição de que essa reta passe por (x1 , f (x1 ).
É interessante que, embora as secantes não tenham muito a ver com o gráfico:
a tangente ao gráfico em um de seus ponto dá informação relevante sobre ele, ela
dá informação do formato do gráfico naquele ponto.
Dentre todas a retas passando por aquele ponto, a tangente ao gráfico é a mais
informativa do formato do gráfico.
Vamos dar uma justificação bem geométrica para o fato de que no gráfico do seno
existe uma reta tangente bem definida no ponto (0, 0): de fato sua equação é a mesma
da diagonal y = x.
Para isso começamos observando que:
3. A RETA TANGENTE AO SENO EM (0, 0) É A DIAGONAL 110
(1, tan θ )
( cos θ, sen θ)
θ
(1,0)
(0,0)
Das inclusões:
△ ⊂ s(θ) ⊂ ∆
obtemos:
A△ (θ) < As (θ) < A∆ (θ)
ou seja para 0 < θ < π/4:
sin(θ) θ tan(θ)
< < ,
2 2 2
que é o que queremos (se eliminamos o 1/2).
Por outro lado, se −π/4 < θ < 0 (isto é, θ é ângulo no sentido horário),
A△ (θ) < As (θ) < A∆ (θ)
2O Cálculo pode provar que a área de um disco de raio r é π · r2 , como o faremos nos Capı́tulos
sobre Integração. A Área de um setor de abertura θ (em radianos) no disco de raio r é
θ θ·r
· πr2 =
2π 2
.
CAPÍTULO 8. A TANGENTE AO GRÁFICO, SEGUNDO O CÁLCULO 111
agora significa (já que para cálculo de áreas tomo os módulos de números negativos):
− sin(θ) −θ − tan(θ)
< < ,
2 2 2
ou seja (multiplicando por −1):
tan(θ) θ sin(θ)
< <
2 2 2
o que queremos (eliminando o 1/2).
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
-3 -2 -1 0 1 2 3
x
sin(θ)
Figura: Gráfico de y = f (x) = θ
para 0 6= θ ∈ [−π, π] e f (0) = 0.
1,5
0,5
0
-1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5
x
-0,5
-1
-1,5
CAPÍTULO 8. A TANGENTE AO GRÁFICO, SEGUNDO O CÁLCULO 113
5. Exercı́cios
Exercı́cio 5.1. i) Determine os intervalos em que coeficientes angulares das secantes
da função f (−∞, 0) ∪ (0, +∞) → R, f (x) = 1/x são positivos ou negativos.
ii) Diga (ainda de modo bem intuitivo) o que acontece com esses coeficientes
angulares de secantes quando o ponto fixado x fica próximo de zero (separadamente
se x < 0 ou se x > 0) ou com módulo de x muito grande (x > 0 ou x < 0).
Exercı́cio 5.2. Calcule as equações y = ax + b das retas tangentes no ponto (1, 1)
dos gráficos de:
i): y = x2
ii): y = x3
iii): y = x4
5. EXERCÍCIOS 114
0,8
0,4
0
-3 -2 -1 0 1 2 3
x
-0,4
Mas essas funções a princı́pio não estão sequer definidas em x = 0 ! Explique com os
conceitos de limite e continuidade o que o programa fez.
Exercı́cio 5.4. (resolvido)
Usando que limx→0 sin(x)
x
= 1 e composições prove que:
sin(k · x)
lim = k, ∀k ∈ R \ {0}.
x→0 x
e
tan(j · x) j
lim = , ∀k, j ∈ R \ {0}.
x→0 sin(k · x) k
CAPı́TULO 9
A derivada
Observações:
• Não estamos dizendo que sempre exista f ′ (x), ao contrário, é uma bela pro-
priedade para uma f ter derivada f ′ (x). Quando dissermos apenas que f tem
Derivada (ou também, é Derivável ), estamos dizendo que ela tem Derivada
em cada ponto de seu domı́nio.
• após a definição de derivada, podemos redefinir a reta tangente ao gráfico
de y = f (x) no ponto (x, f (x)) como a reta que passa por esse ponto e tem
coeficiente angular f ′ (x). Essa reta se determina assim: pondo
y − f (x)
= f ′ (x)
x−x
obtenho:
y = f ′ (x) · x + (f (x) − f ′ (x)x).
1Essa notação lembra ade I. Newton, mas o outro criador do Cálculo, G. Leibniz usava a notação
df
dx (x), muito usada nos livros de Cálculo.
115
1. DEFINIÇÃO, PRIMEIRAS PROPRIEDADES E EXEMPLOS SIMPLES 116
Note o milagre que há numa derivada: o denominador da fração tende a zero e
mesmo assim a fração tende a um número definido. Isso certamente está ligado ao
fato de que o numerador tende a zero também, como vemos agora:
Teorema 1.1. Se existe o limite
f (x + h) − f (x)
lim ,
h→0 h
então:
• limh→0 ( f (x + h) − f (x) ) = 0
• limh→0 f (x + h) = f (x).
• f é contı́nua em x.
Demonstração.
Prova de i):
Fixe um ponto x qualquer do domı́nio da f . Parto de que existe
f (x + h) − f (x)
lim .
h→0 h
Então adaptando a nossa notação2 àquela do item 4) do Teorema 1.1, obtenho:
f (x + h) − f (x)
lim ( h · ) = 0.
h→0 h
Ou seja,
lim ( (f (x + h) − f (x)) = 0.
h→0
Prova de ii):
Dizer que limh→0 ( (f (x + h) − f (x)) = 0 é exatamente o mesmo que dizer
limh→0 f (x + h) = f (x).
Prova de iii): O iem ii) é a definição de continuidade da f em x.
A recı́proca desse Teorema é falsa, como o mostra f (x) = |x| que, apesar de
contı́nua em todo seu domı́nio, não tem derivada no x = 0. De fato, já vimos que:
|0 + h| − |0| |0 + h| − |0|
lim = −1, mas lim = 1.
hր0 h hց0 h
Existem funções contı́nuas bastante bizarras, sem derivada em nenhum ponto.
Tente imaginar (sem conseguir, é claro !) uma espécie de serrote com uma infinidade
de dentes, que entre dois dentes tem mais outro e assim por diante. Um exemplo é
construı́do no livro Calculus, de M. Spivak.
1): f1 (x) = 1:
1−1
f1′ (x) = lim = lim 0 = 0.
h→0 h h→0
0,8
0,6
0,4
0,2
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
0,5
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
-0,5
-1
3): Para f3 (x) = x2 , f3′ (x) = 2x: já fizemos essa conta na Seção 3 do Capı́tulo 8,
onde vimos a equação da tangente a esse gráfico.
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
-1
-2
(x + h)3 − x3 x3 + 3x2 h + 3x h2 + h3 − x3
f4′ (x) = lim = lim =
h→0 h h→0 h
h · (3x2 + 3x h + h2 )
= lim == lim (3x2 + 3x h + h2 ) = 3x2 ,
h→0 h h→0
pois o polinômio em h de grau ≤ 2 dado por 3x2 + 3xh + h2 é uma função contı́nua !
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
-1
h · (4x3 + 6x2 h + 4x h2 + h3 )
= lim
h→0 h
0
-1-0,50 0,5 1
x
-2
-4
a · f ′ (x) + b · g ′ (x) :=
Concluo então que só pode haver tangência dessas parábolas em algum ponto que
esteja na diagonal y = x.
Então esse ponto P := (x, x) verifica:
1
x = α · x2 + α · x +
24
de onde ponho α em evidência como:
1
x − 24
α= 2 .
x +x
Mas nesse P = (x, x), onde as curvas são tangentes, qual a inclinação possı́vel ?
Como Cα e Dα são simétricas em relação à diagonal, se a inclinação da reta
tangente à Cα em P é τ então a inclinação da reta tangente à Dα em P é τ1 . Como
há tangência das curvas, τ = τ1 o que dá τ = ±1.
Para Cα :
y ′(x) = 2 · α · x + α
logo
±1 = 2 · α · x + α
de onde
1 −1
α= ou α = .
2·x+1 2·x+1
Portanto temos duas possı́veis equações para x:
1
x − 24 1
=
x2 + x 2·x+1
ou
1
x − 24 −1
2
= .
x +x 2·x+1
Elas produzem duas equações quadráticas em x, que resolvo por Báskara. Uma tem
as soluções
1 −1
x= ou x =
4 6
e a outra √ √
−23 601 −23 601
x= + ou x = − .
72 72 72 72
Usando
1 −1
α= ou α =
2·x+1 2·x+1
em cada caso obtemos 4 valores possı́veis para α:
2 3
α1 := , α2 =
3 2
ou
−36 −36
α3 = √ , α4 = √ .
13 + 601 13 − 601
As Figuras a seguir ilustram as posições das parábolas Cα e Dα para esses 4 valores
α1 , α2 , α3 , α4 , bem como a reta diagonal:
4. PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N. 68, 1993 122
y 0
-2 -1 0 1 2
x
-1
-2
y 0
-2 -1 0 1 2
x
-1
-2
y 0
-2 -1 0 1 2
x
-1
-2
CAPÍTULO 9. A DERIVADA 123
0,5
x
-2 -1,5 -1 -0,5 0 0,5 1
0
-0,5y
-1
-1,5
-2
5. A segunda derivada
Um exemplo do dia-a-dia: pisando no acelerador do carro vemos o ponteiro do
velocı́metro mudar de posição, pois aumentamos a velocidade instantânea. Enquanto
que, pisando no freio do carro, desaceleramos o carro, diminuimos sua velocidade
instantânea.
Vamos usar o sı́mbolo da derivada
f ′ (x)
para denotar a velocidade instantânea em cada tempo x. O velocı́metro dá uma idéia
de quanto vale f ′ (x).
Note que antes tı́nhamos uma função f (x) que dava a posição em cada instante.
Agora estamos interessados em variar não a posição f (x) em cada instante, mas sim
a velocidade f ′ (x) em cada instante.
Então podemos perguntar agora quanto f ′ (x) variou num tempo determinado, ou
seja podemos falar da aceleração média:
f ′ (x2 ) − f ′ (x1 )
.
x2 − x1
Exemplo dessa grandeza no dia-a-dia: nas revistas especializadas em carros sempre
falam do carro que passa de zero a 100 km/h em tantos segundos.
Agora passando ao limite:
f ′ (x1 + h) − f ′ (x1 )
lim .
h→0 h
obtemos a aceleração instantânea no instante x1 . Um sı́mbolo para ela é:
f ′′ (x1 ) := (f ′ )′ (x1 )
e em geral, em cada instante x:
f ′′ (x) := (f ′ )′ (x)
Infelizmente nos carros de passeio normais não temos uma aparelho que meça isso,
um acelerômetro, para nos dizer qual a aceleração instantânea. Porém num escândalo
recente na Fórmula 1 se soube que se registra também os valores de aceleração em
6. EXERCÍCIOS 124
0,5
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
-0,5
-1
CAPÍTULO 9. A DERIVADA 125
m_f
x x+h ( h >0 )
1Af não precisa ser crescente nessa região, como parece sugerir a Figura; f precisa apenas valer
menos que f (x). Voltaremos nisso na Seção 4 deste Capı́tulo
CAPÍTULO 10. SINAL DA DERIVADA E CRESCIMENTO 129
m_f
x+h x ( h<0 )
O uso que Rolle fazia desse fato era para localizar zeros (raı́zes) de polinômios
apenas.
Ele pensava assim, sempre que houver duas raı́zes a e b sucessivas de um polinômio
p(x) de grau n tem que haver uma raı́z do polinômio p′ (x) situada no intervalo [a, b]
(veremos na Parte 2 que sempre a função Derivada de um polinômio é também um
polinômio). Mais ainda, como vimos já em alguns exemplos simples, o grau de p′ (x)
é n − 1. Logo pode ser mais fácil achar as raı́zes de p′ (x) que as do polinômio original
p(x). E aı́ teremos alguma informação sobre a possı́vel localização das raı́zes a e b de
p(x).
(obs.: Na Figura a seguir os eixos horizontal e vertical não estão na mesma escala)
10
0
-2 -1 0 1 2
x
-5
-10
Figura: Polinômio p(x) com 5 raı́zes Reais e p′ (x) com 4 raı́zes Reais.
0,5
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
-0,5
-1
Demonstração.
Seja p(x) a equação da reta passando por (a, f (a)) e (b, f (b)). Considere uma
nova função, a função diferença f − p dada por (f − p)(x) := f (x) − p(x).
Então f − p é contı́nua, pelo item 1) do Teorema 1.1. Pela derivada da soma
(Afirmação 3.1 Capı́tulo 9):
(f − p)′ (x) = f ′ (x) − p′ (x).
Agora noto que
(f − p)(a) = f (a) − p(a) = 0, e (f − p)(b) = f (b) − p(b) = 0,
e portanto estamos em condições de aplicar em (f − p) o Teorema de Rolle: portanto
existe algum x ∈ (a, b) onde
(f − p)′ (x) = 0,
ou seja onde
f ′ (x) = p′ (x).
2Atenção: muitos estudantes confundem o que diz o Teorema de Lagrange com o que diz a
definição da Derivada.
CAPÍTULO 10. SINAL DA DERIVADA E CRESCIMENTO 131
Por outro lado p(x) = a1 · x + a0 já que é um polinômio de grau ≤ 1 e sua derivada é
o coeficiente angular da reta: p′ (x) ≡ a1 e sabemos que
f (b) − f (a)
a1 = .
b−a
f (b)−f (a)
Portanto f ′ (x) = b−a
como querı́amos.
posição será f (x) < 0 ao Sul do posto policial e f (x) > 0 ao Norte do posto e seu
aumento significa ir mais para o Norte.
Quando ele estava pisando no freio, f ′′ (x) < 0, quando pisa no acelerador, f ′′ (x) >
0. Onde f ′′ (x) < 0, a velocidade f ′ (x) estava decrescendo, e quando f ′′ (x) > 0 a
função velocidade f ′ (x) deve voltar a crescer.
Um exemplo disso seria:
f (x) = x3 , f ′ (x) = 3x2 , f ′′ (x) = 6x.
10
0
-2 -1 0 1 2
x
-5
-10
E dele decorre o Teorema a seguir (que chamo de 0 por um dos mais básicos):
Teorema 2.2. (O Teorema 0 das Equações Diferenciais) Sejam f : I → R e g :
I → R deriváveis, com f ′ (x) = g ′(x), ∀x ∈ I, onde I é um intervalo. Então f (x) ≡
g(x) + C.
Ilustro esse Teorema através da seguinte Figura:
12
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
Demonstração.
Como já observamos, ∀x ∈ I, (f − g)′ = f ′ (x) − g ′(x). A hipótese dá então
que (f − g)′ (x) ≡ 0. Logo pelo Teorema 2.1, (f − g)(x) ≡ C (é constante) ; logo
f (x) ≡ g(x) + C.
Demonstração.
De i): por absurdo suponha que f não é crescente. Significa que existem x1 , x2 ∈ I
com x1 < x2 para os quais:
f (x1 ) > f (x2 ).
Mas então o Teorema do Valor Médio de Lagrange aplicado à restrição f : [x1 , x2 ] → R
dá que existe algum x ∈ (x1 , x2 ) com:
f (x2 ) − f (x1 )
f ′ (x) = < 0,
x2 − x1
contradizendo a hipótese de que f ′ (x) ≥ 0 ∀x ∈ I.
De ii): Se supomos por absurdo que f não é estritamente crescente, significa que
existem x1 , x2 ∈ I com x1 < x2 para os quais:
f (x1 ) ≥ f (x2 ).
Novamente o Teorema do Valor Médio de Lagrange aplicado a f : [x1 , x2 ] → R dá
que existe algum x ∈ (x1 , x2 ) com:
f (x2 ) − f (x1 )
f ′ (x) = ≤ 0,
x2 − x1
contradizendo a hipótese de que f ′ (x) > 0 ∀x ∈ I.
De iii) e iv): são completamente análogas, mutatis mutandis 6
Peço atenção agora, para que se evite uma confusão que aparece em algumas
exposições.
As hipóteses dos itens ii) e iv) do Teorema 3.1 pedem que o sinal da função
derivada seja positivo (ou negativo) em todo um intervalo aberto I.
Seria falso um enunciado assim:
(falso !) Seja f : (a, b) → R derivável com algum x ∈ (a, b) onde f ′ (x) > 0
(f ′ (x) < 0). Então existe um intervalo centrado em x onde a restrição da f é cres-
cente (decrescente).
Claro que isso pode até funcionar em alguns exemplos, mas um teorema tem que
funcionar sempre !
A Figura a seguir ilustra uma função f que existe, que é derivável com f ′ (0) > 0,
e que no entanto não é nem crescente nem decrescente em nenhum intervalo centrado
em x (a Figura não mostra isso muito bem, mas as oscilações continuam a existir até
a origem).
6Essa expressão latina quer dizer, desde que adaptando, mudando, o que for conveniente; no
nosso caso, sinais, desigualdades.
CAPÍTULO 10. SINAL DA DERIVADA E CRESCIMENTO 135
Deduzimos então, após o Teorema 3.1, que a derivada f ′ (x) muda de sinal tão
perto de x = 0 quanto quisermos.
0,08
0,04
0
-0,2 -0,1 0 0,1 0,2
x
-0,04
-0,08
f vale mais que f (0) em pontos x um pouco maiores que x = 0 e f vale menos
que f (0) em pontos x um pouco menores que x = 0
(é isso nós aprendemos na prova do Teorema de Rolle 1.1). Vamos destacar isso
como uma afirmação:
Demonstração.
Contida na demonstração do Teorema de Rolle.
De fato, se f ′ (x) fosse uma função contı́nua em x, então o princı́pio de inércia das
funções contı́nuas (Afirm. 1.1 do Capı́tulo 6) diria que f ′ (x) teria que ser positiva em
todo um intervalo centrado em x = 0.7
Conclusão: nem sempre vale f ′ (x) = limx→x f ′ (x). De fato nesse exemplo tratado
se pode mostrar que a igualdade f ′ (x) = limx→x f ′ (x) não vale porque o lado direito
limx→x f ′ (x) simplesmente não existe.
Mas temos:
Afirmação 5.1. Seja f : I → R onde I = (−δ + x, x + δ) é intervalo aberto centrado
em x.
Suponha que existe f ′ (x) ∀x ∈ I \ {x} e que existe:
lim f ′ (x) = L ∈ R.
x→x
6. Exercı́cios
Exercı́cio 6.1. A figura que exemplifica o T.V.M de Lagrange no texto é o gráfico de
y = x3 . Quando x ∈ [−1, 1] em quais pontos do gráfico a inclinação da reta tangente
é 1 ?
7Se costuma chamar uma função f de classe C 1 se f é derivável e se f ′ (x) ela mesma é uma
função contı́nua.
CAPÍTULO 10. SINAL DA DERIVADA E CRESCIMENTO 137
dos quais plotei apenas 7 representantes (b = 1, 1.2, 1.3, 4/3, 1.6, 1.8, 2):
x
-3 -2 -1 0 1 2 3 4
0
-5
-10
Como se vê são gráficos bem diferentes, à medida que mudamos o parâmetro b.
6. EXERCÍCIOS 138
Mas quando se faz um zoom na região x ∈ [0.3, 0.7] do domı́nio, os pedaços dos 7
gráficos de y = fb (x) se parecem muito:
2,5
1,5
0,5
0
0,4
0,5
0,6
0,7
x
Explique o que aconteceu quando fizemos o zoom, após confirmar que que os pontos
(−1, −1) e (2, 3) pertencem a esses gráficos todos, ∀b ∈ R).
Dica: Teorema Valor Médio de Lagrange.
CAPı́TULO 11
onde f ′ (x) é a função velocidade instantânea (e onde a f (x) de partida era a função
posição em cada instante).
Segundo a definição de derivada, o que fizemos lá foi derivar a função f ′ (x), ela
mesma já uma derivada da função f (x). Fizemos então uma segunda derivada:
f ′′ (x) := ( f ′ (x) )′ .
Sua definição então é essencialmente a mesma que demos para a derivada (que pas-
samos agora a chamar de primeira derivada), só que a matéria-prima para compôr os
quocientes incrementais não é uma função f (x) mas sim uma função f ′ (x).
Desse modo, posso enunciar:
Afirmação 2.1. Seja f : (a, b) → R derivável, tal que f ′ (x) também seja derivável.
• i): se f ′ (x) = 0 e f ′′ (x) > 0 então2 x é Mı́nimo local da f original.
• ii): se f ′ (x) = 0 e f ′′ (x) < 0 então x é Máximo local da f original.
Este teorema será generalizado na Afirmação 8.1, um critério da derivada n-ésima.
Demonstração. (da Afirmação 2.1)
De i): Pela Afirmação 4.1 do Capı́tulo 10, aplicada agora à função derivada f ′ (x),
temos que para x ∈ J centrado em x, f ′ (x) < 0 = f ′ (0) se x < x e 0 = f ′ (x) < f ′ (x)
se x < x.
Então recaı́mos exatamente no item i) da Afirmação 1.2. A conclusão portanto é
que x é Mı́nimo local.
Note que a princı́pio a função área depende tanto de x como de z. Mas a condição
c(x, z) = 10 me permite escrever z = 10−x 2
e a função área como dependendo só de
uma variável:
10 − x x2
A(x) = ( ) · x = 5x − .
2 2
O domı́nio natural de A(x) é I = (0, 10), pois a largura x tem que ser positiva, e ao
mesmo tempo a condição c(x, z) = 10 diz que, quando z se aproxima de zero, x se
aproxima de 10.
Mas considerar A(x) definida num domı́nio um pouco maior, o intervalo [0, 10],
que tem a vantagem de ser um intervalo limitado e fechado, onde podemos usar o
Teorema 4.2 de Bolzano-Weiersstras, já que A(x) claramente é contı́nua.
Esse Teorema garante que existe um ponto de Máximo global de A : [0, 10] → R.
Mas onde ? Não adianta só sabermos que há uma solução, queremos achá-la !
Certamente não será em x = 0 ou em x = 10, pois nesses pontos a Área fica zero,
já que não largura ou comprimento. Então esse ponto x buscado está em (0, 10), o
que é promissor, pois poderemos tentar usar a Afirmação 1.2.
Para isso precisamos examinar alguns candidatos.
Conforme a Afirmação 1.1, eles terão que ser pontos onde
A′ (x) = 0.
x2
Ora, isso significa para A(x) = 5x − 2
que:
5 − x = 0,
pelo que já sabemos das derivadas, ou seja, o ponto é x = 5.
Mas claramente A′ (x) = 5 − x > 0 se x < 5 e A′ (x) = 5 − x < 0 se 5 < x. Logo
o item ii) da Afirmação 1.2 diz que realmente x é um Máximo local e portanto o
Máximo global, já que não há outro candidato. A área máxima desses objetos então
será
25
A(5) = .
2
12
10
0
0 2 4 6 8 10
x
x2
Figura: O gráfico de A : [0, 10] → R, A(x) = 5x − 2
.
= (a2 + 1)x2 − 4x + 5.
Então essa f (x) = (a2 + 1)x2 − 4x + 5 tem derivada f ′ (x) = 2(a2 + 1)x − 4 e f ′ (x) = 0
exatamente em x = a22+1 , o mesmo ponto encontrado acima.
É claro que f ′ (x) < 0 para x < x = a22+1 e f ′ (x) > 0 para x > x = a22+1 . Portanto
pelo item i) da Afirmação 1.2 f tem mı́nimo local, que de fato é o global nesse ponto
x.
Agora vejamos um Exemplo mais interessante. Quero minimizar a distância entre
2
P = (0, 7) e os pontos da parábola y = x2 .
Usando a intuição geométrica vou buscar esse ponto Q de mı́nima distância entre
aqueles em que o segmento desde P é ortogonal à tangente da parábola em Q.
Então, já que conheço as inclinações das tangentes à parabola em (x, ax2 ) como
sendo 2( x2 ) = x, a ortogonalidade que busco é dada por:
x2
2
−7 −1
= ,
x−0 x
4A Afirmação 2.1 do Capı́tulo 16 justificará rigorosamente o uso do quadrado da distância, ao
invés da própria distância, nos problemas de máximos/mı́nimos.
CAPÍTULO 11. APLICAÇÕES DA PRIMEIRA E SEGUNDA DERIVADAS 143
ou seja,
x2
x·( − 6) = 0.
2
A solução x = 0, onde claramente há ortogonalidade, é nitidamente um ponto de
máximo local da distância
√ entre P = (0,
√ 7) e a parábola.
Mas as soluções x = 12 e x = − 12 corresponderão, como veremos a seguir, a
dois pontos de mı́nimos. A Figura a seguir mostra esses pontos de ortogonalidade.
5
x
-4 -2 0 2 4
0
-5
-10
-15
-20
Visto de outro modo, via a técnica do Cálculo, considero a função que é o quadrado
da distância entre P = (0, 7) e a parábola:
x2
(x − 0)2 + (y − 7)2 = x2 + ( − 7)2 =
2
x4
= − 6x2 + 49.
4
x4
A derivada de f (x) = 4
− 6x2 + 49 é
f ′ (x) = x3 − 12x = x(x2 − 12).
O zero da derivada em x = 0 corresponde a√um máximo local.
√
Verificamos agora que os pontos x = 12 e x = − 12 são mı́nimos locais (e
globais). √ √
Observe que se 0 < x < 12 temos x(x2 − 12) < 0, enquanto √que se x > 12
temos x(x2 − 12) > 0. Logo o item i) da Afirmação 1.2 diz que x = 12 é mı́nimo de
f. √ √
Agora se x < − 12 temos x(x2 − 12) > 0, enquanto que se − √ 12 < x < 0 temos
x(x2 − 12) > 0. Logo o item i) da Afirmação 1.2 diz que x = − 12 é mı́nimo de f .
Afirmação 4.1.
i) Se a distância entre um ponto P e o gráfico de y = f (x) tem valor mı́nimo
ou máximo local P F > 0, onde F = (x, f (x)), então a reta tangente ao gráfico de
y = f (x) em F é ortogonal à reta P F .
ii) Sejam um gráfico y = f (x) de uma f derivável e uma reta r que não intersecta
esse gráfico.
Seja F ponto do gráfico de y = f (x) tal que P F > 0 realiza um valor mı́nimo ou
máximo local da distância entre pontos do gráfico e a reta r. Então a reta tangente
ao gráfico de y = f (x) em F é paralela à reta r.
Demonstração.
De i):
Considere F = (x, f (x)) ponto que realiza valor minimo local ou valor máximo
local da distância até um certo P = (x0 , y0 ) que foi dado.
Considere o cı́rculo C de raio P F centrado em P (lembro que P F > 0):
2
C = { (x, y); (x − x0 )2 + (y − y0 )2 = P F }.
Vou fazer aqui a suposição5 de que, perto de F , também C seja gráfico de uma função
y = g(x); que de fato é:
q
2
y = g(x) = y0 + P F − (x − x0 )2 , ∀x ∈ (−δ + x, x + δ).
Veja a Figura:
Considere a função
φ(x) := f (x) − g(x), ∀x ∈ (−δ + x, x + δ).
Suponha por absurdo que a reta tangente ao gráfico de y = f (x) em F não seja
igual à reta tangente a C em F (esta sim sabemos que é ortogonal à reta P F ).
Por exemplo, suponha por absurdo que f ′ (x) > g ′ (x) (o caso < é completamente
análogo).
Então φ′ (x) = f ′ (x) − g ′(x) > 0.
5que exigiria mais justificação
CAPÍTULO 11. APLICAÇÕES DA PRIMEIRA E SEGUNDA DERIVADAS 145
Como φ(x) = 0, a Afirmação 4.1 do Capı́tulo 10 dá que, para um certo ǫ > 0:
Então
o que diz que F não é ponto de máximo local da distância de P = (x0 , y0) até o
gráfico de y = f (x).
E do mesmo modo, obteremos ∀x ∈ (x − ǫ, x):
p p 2
(f (x) − y0 )2 + (x − x0 )2 < (g(x) − y0 )2 + (x − x0 )2 = P F ,
o que diz que F não é ponto de mı́nimo local da distância até P = (xo , y0 ).
Essa contradição com a escolha de F termina a prova do item i).
Item ii):
Sejam R ∈ r e F = (x, f (x)) tais que RF realizam valor mı́nimo local ou valor
máximo local da distância até o gráfico de y = f (x) e r.
O raciocı́nio da prova do item i) aplicado a um cı́rculo centrado em R de raio
RF > 0 dirá que a reta tangente ao gráfico de y = f (x) em F é ortogonal à reta RF .
Veja a Figura:
Mas, por outro lado, o mesmo raciocı́nio agora aplicado a um cı́rculo agora cen-
trado em F de raio RF > 0 dirá que a reta r (que é sua própria reta tangente) é
ortogonal à reta RF . Veja a Ffigura:
5. CONCAVIDADES DOS GRÁFICOS 146
Um fato básico da geometria euclidiana diz que, se uma reta r1 é ortogonal a uma
reta r2 e r2 é ortogonal a uma reta r3 , então r1 e r3 são paralelas.
Portanto a reta tangente ao gráfico de y = f (x) em F é paralela a r.
2
x
-2 -1 0 1 2
0
-2
-4
-6
25
20
15
10
0
-3 -2 -1 0 1
x
-5
φ(x0 ) ≤ 0.
6Confira um exemplo disso na Figura anterior, com x ∼ −0.5 e x0 ∼ 1
CAPÍTULO 11. APLICAÇÕES DA PRIMEIRA E SEGUNDA DERIVADAS 149
Caso φ(x0 ) = 0:
Nesse caso, aplico o Teorema de Rolle a
φ : [x, x0 ] → R
e obtenho um ponto ξ ∈ (x, x0 ) onde φ′ (ξ) = 0.
Mas ξ > x e isso contradiz o fato que φ′ (x) é uma função estritamente crescente
(já que φ′′ (x) > 0), que partiu do valor φ′ (x) = 0.
Item ii)
Note que, por ser uma soma de quadrados,
y = f (x) = (x − x1 )2 + . . . + (x − xk )2 ≥ 0
e se para algum x0 ∈ R temos f (x0 ) = 0 então
(x0 − x1 )2 + . . . + (x0 − xk )2 = 0 ⇔ x0 = x1 = . . . = xk .
Portanto, se algum xi é diferente de algum outro xj , na lista que demos de x1 , . . . , xk ,
a equação quadrática em x:
y = f (x) = k · x2 − 2 · (x1 + . . . xk ) · x + (x21 + . . . + x2k ) = 0
não tem solução Real. Ou seja, se seu discriminante é negativo. Mas esse discrimi-
nante é:
(2 · (x1 + . . . xk ))2 − 4 · k · (x21 + . . . + x2k ) < 0,
ou seja,
(x1 + . . . xk )2 < k · (x21 + . . . + x2k ),
como querı́amos.
Então f (ξ) é uma parábola com concavidade para cima, já que
x21 + . . . + xk2 > 0
(se esse número fosse zero todos os pontos tem coordenada x igual a zero).
Portanto se procuramos por um mı́nimo de f basta procurarmos onde f ′ (ξ) = 0.
Mas:
f ′ (ξ) = 2(x21 + . . . + x2k ) · ξ − 2(x1 y1 + . . . + xk yk ),
e portanto f ′ (ξ) = 0 se dá em:
x1 y1 + · · · + xk yk
ξ= .
x21 + . . . + x2k
Ou seja a reta a ser escolhida é:
x1 y1 + · · · + xk yk
y=( ) · x.
x21 + . . . + x2k
O problema interessante em geral é quando a reta buscada forma y = ξx + τ não
precisa passsar pela origem.
Essa reta aproximará simultâneamente vários pontos, que podem ser resultado de
aferições de dados relevantes.
O Capı́tulo 34 tratará de uma reta que minimiza soma de quadrados de distâncias
verticais de pontos xi , yi de interesse na Biologia, e cujo coeficiente angular ξ é uni-
versal.
Exemplos:
• y = f (x) = x3 , que tem f ′′ (x) = 6x e ponto de inflexão em x = 0.
• em geral, y = f (x) = x2n+1 , ∀n ∈ N, têm inflexão em x = 0, já que
f ′′ (x) = 2n · (2n + 1) · x2n−1 .
1 4
• a função y = 4x 3 −x 3 é contı́nua em torno da origem, mas tem reta tangente
vertical na origem, ou seja não existe f ′ (0). Como
4(2 + x)
f ′′ (x) = − 5
x3
isso diz que f ′′ (x) > 0 para −2 < x < 0 e f ′′ (x) < 0 para x > 0, ou seja,
x = 0 é ponto de inflexão. Também f ′′ (x) < 0 para x < −2 e portanto
x = −2 é outro ponto de inflexão.
8. CRITÉRIO DA DERIVADA DE ORDEM N 152
2
x
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
0
-2
-4
-6
i) se f ′ (x) = f ′′ (x) = . . . = f (2n−1) (x) = 0 mas f (2n) (x) > 0 então x é ponto de
mı́nimo local.
ii) se f ′ (x) = f ′′ (x) = . . . = f (2n−1) (x) = 0 mas f (2n) (x) < 0 então x é ponto de
máximo local.
ii) se f ′ (x) = . . . = f (2n) (x) = 0 mas f (2n+1) (x) 6= 0 então x é ponto de inflexão.
Demonstração.
Item i):
A prova completa seria ∀n ∈ N e aı́ então a indução matemática seria exigida.
Por isso, para simplificar mas mesmo assim dar uma ı́déia da prova, me atenho ao
primeiro caso relevante, ou seja quando
n = 2.
Temos por hipótese:
f ′ (x) = f ′′ (x) = f ′′′ (x) = 0 mas f (iv) (x) > 0.
Como há derivadas de todas as ordens, a função f (iv) (x) é contı́nua em x, pois é até
mesmo derivável. Logo pelo princı́pio de inércia das funções contı́nuas, existe um
intervalo Ix = (−δ + x, x + +δ) centrado em x tal que
f (iv) (x) > 0, ∀x ∈ Ix .
Então no intervalo Ix a função f ′′′ (x) é uma função estritamente crescente. Como por
hipótese f ′′′ (x) = 0, concluimos que:
f ′′′ (x) < 0 em (−δ + x, x) e f ′′′ (x) > 0 em (x, x + δ).
Ou seja que a função f ′′ (x) é estritamente decrescente em (−δ + x, x) e f ′′ (x) é
estritamente crescente em (x, x + δ). Como f ′′ (x) = 0 isso diz que:
f ′′ (x) > 0 em (−δ + x, x) ∪ (x, x + δ).
Agora então f ′ (x) é estritamente crescente em (−δ +x, x)∪(x, x+δ). Como f ′ (x) = 0
temos que
f ′ (x) < 0 em (−δ + x, x) e f ′ (x) > 0 em (x, x + δ).
Por último isso diz que f é estritamente decrescente em (−δ + x, x) e f é estritamente
crescente em ((x, x + δ). Logo x é ponto de mı́nimo.
Item iii):
Temos por hipótese:
f ′ (x) = f ′′ (x) = f ′′′ (x) = f (iv) (x) = 0
mas f (v) (x) 6= 0. Por exemplo suponhamos
f (v) (x) > 0.
o caso negativo é análogo.
9. CONFECÇÃO DE GRÁFICOS DE POLINÔMIOS 154
Como há derivadas de todas as ordens, a função f (v) (x) é contı́nua em x, pois é
até mesmo derivável. Logo pelo princı́pio de inércia das funções contı́nuas, existe um
intervalo Ix = (−δ + x, x + +δ) centrado em x tal que
f (v) (x) > 0, ∀x ∈ Ix .
Então no intervalo Ix a função f (iv) (x) é uma função estritamente crescente. Como
por hipótese f (iv) (x) = 0, concluimos que:
f (iv) (x) < 0 em (−δ + x, x) e f (iv) (x) > 0 em (x, x + δ).
Ou seja que a função f ′′′ (x) é estritamente decrescente em (−δ + x, x) e f ′′′ (x) é
estritamente crescente em (x, x + δ). Como f ′′′ (x) = 0 isso diz que:
f ′′′ (x) > 0 em (−δ + x, x) ∪ (x, x + δ).
Agora então f ′′ (x) é estritamente crescente em (−δ+x, x)∪(x, x+δ). Como f ′′ (x) = 0
temos que
f ′′ (x) < 0 em (−δ + x, x) e f ′′ (x) > 0 em (x, x + δ).
Por definição, x é um ponto de inflexão.
0
-1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5
x
-4
-8
10. Exercı́cios
2
Exercı́cio 10.1. 3) Encontre o ponto do gráfico de y = x2 que minimiza a distância
até P = (2, 1) pelos metodos i): de buscar pontos de ortogonalidade com o gráfico e
ii): via mı́nimo da função quadrado da distância.
Exercı́cio 10.2. 4) As Figuras i) e ii) abaixo dão dois exemplos de funções derivadas
f ′ (x), apenas dadas qualitativamente. Encontre f (x) (qualitativamente) que sejam
compatı́veis com cada f ′ dada.
0
-3 -2 -1 0 1 2 3
x
-2
-4
-6
10. EXERCÍCIOS 156
15
10
5
x
-2 -1 0 1 2 3 4
0
-5
-10
-15
-20
80
40
0
-2 -1 0 1 2 3 4
x
-40
-80
Exercı́cio 10.4. Veja o gráfico a seguir como o gráfico de uma função derivada
y = f ′ (x).
i) Sobreponha a ele o gráfico de uma y = f (x) qualitativamente compatı́vel
(Atenção à relação entre zero/sinal de f ′ (x) e máximo, mı́nimo, crecimento, decresci-
mento da f ).
ii) faça com detalhe a região da f que corresponde ao máximo da f ′ (x).
1
x
-2 -1 0 1 2 3
0
-1
-2
-3
-4
x
-4 -2 0 2 4
0
-20
-40
-60
-80
-100
Sem fazer nenhuma conta mais, apenas raciocinando geometricamente, como deve
ser o gráfico de y = x3 + C · x2 ? (para C ≥ 1).
Exercı́cio 10.7. Dê um exemplo bem simples de uma f : [a, b] → R contı́nua tal
que f ′ (x) 6= 0 ∀x ∈ (a, b). Localize em seu exemplo onde estão o(s) máximo(s) e
mı́nimo(s).
Exercı́cio 10.8. Considere o ângulo formado no primeiro quadrante pelo eixo dos
y > 0 e a reta y = a · x, onde a > 0 será fixado.
Considere um ponto (A, B) nessa região (ou seja suponho B > a · A > 0).
10. EXERCÍCIOS 158
Qual a reta passando por (A, B) forma (no primeiro quadrante) um triângulo com
o eixo dos y > 0 e a reta y = ax de menor Área ?
Prove que a menor área é 2A · (B − Aa).
A figura ilustra três candidatas:
pz
tz
rz
Um aluno pensou assim sobre esse problema: já que o custo em função de x é
muito maior que em função de y, por que não usar o mı́nimo de x, ou seja, x = 1 e
y = 16, obtendo área de 16 e custo de 12 + 16 = 17 ?
Será que ele está certo ? Esse é mesmo o mı́nimo de custo ?
Exercı́cio 10.14. Explique com os conceitos do Cálculo que relação pode haver entre
os dois gráficos apresentados em cada uma das três Figuras que seguem.
ii) Que muda de uma Figura para a outra ? O que não muda ?
iii) destaque propriedades geométricas relevantes de cada Figura (mı́nimos/máximos,
inflexões, raı́zes, etc).
10
0
-2 -1 0 1 2
x
-5
-10
10
0
-2 -1 0 1 2
x
-5
10
0
-2 -1 0 1 2
x
-2
-4
Prove que existe uma reta que apenas tangencia o gráfico verde e que consegue
passar entre os dois gráficos sem intersectar o gráfico vermelho.
Dica: a Figura sugere uma reta, prove que ela satisfaz o que se pede.
Exercı́cio 10.18. (resolvido)
Seja f derivável (tantas vezes quanto quiser).
Suponha que y = f (x) está definida na semireta [0, +∞) e tem sempre f ′′ (x) < 0
(concavidade para baixo em todo seu domı́nio).
Suponha que em um certo x valem f (x) > 0 e f ′ (x) < 0.
Determine um K para o qual se pode garantir que f (x) = 0 em algum ponto
x ∈ [x, K].
CAPı́TULO 12
Hooke é sempre associado aos temas expostos na próxima Seção. Mas sua im-
portância cientı́fica vai muito além disso, como mostra o trecho da carta de Hooke
a Newton, de 1689, citado por James Gleick em Isaac Newton, uma biografia, Com-
panhia das Letras, p.132:
Resta agora conhecer as propriedades de uma linha curva [...] feita por uma
força atrativa central [...] em uma uma proporção duplicada em relação às distâncias
tomadas reciprocamente. Não duvido que por seu excelente método o senhor desco-
brirá [...]
1
0,5
0
0 1 2 3 4 5 6
-0,5 x
-1
Observe que:
161
1. O COSSENO COMO DERIVADA DO SENO 162
sin(θ0 + θ) − sin(θ0 )
sin′ (θ0 ) = lim =
θ→0 θ
sin(θ0 ) cos(θ) + cos(θ0 ) sin(θ) − sin(θ0 )
= lim .
θ→0 θ
Para poder continuar, agora vou usar o limite provado na Seção 3 do Capı́tulo 8:
sin(θ)
lim =1
θ→0 θ
e, ademais, um outro limite fundamental:
cos(θ) − 1
lim = 0,
θ→0 θ
cuja prova omito, mas que é no mesmo estilo.
Então as propriedades de limites de somas e produtos permitem que re-escreva o
de acima como:
(cos(θ) − 1) sin(θ)
sin′ (θ0 ) = lim [sin(θ0 ) · + cos(θ0 ) · ]=
θ→0 θ θ
(cos(θ) − 1) sin(θ)
= sin(θ0 ) · lim + cos(θ0 ) · lim =
θ→0 θ θ→0 θ
= sin(θ0 ) · 0 + cos(θ0 ) · 1 = cos(θ0 ),
como querı́amos.
Um complemento:
A Figura a seguir exibe os gráficos de
sin(θ)
f1 (θ) = , para θ 6= 0 e f1 (0) := 1
θ
CAPÍTULO 12. DERIVADAS DE SENO E COSSENO E AS LEIS DE HOOKE163
e de
cos(θ) − 1
f2 (θ) = , para θ 6= 0 e f2 (0) := 0
θ
(note que defino separadamente os valores para θ = 0, para que as funções resultantes
sejam contı́nuas).
0,8
0,4
0
-3 -2 -1 0 1 2 3
-0,4
x
Afirmação 1.2.
cos′ (θ) = − sin(θ), ∀θ ∈ R.
Demonstração. Seguindo as mesmas etapas da prova anterior, obtemos:
cos(θ0 + θ) − cos(θ0 )
cos′ (θ0 ) = lim =
θ→0 θ
cos(θ0 ) cos(θ) − sin(θ0 ) sin(θ) − cos(θ0 )
= lim =
θ→0 θ
(cos(θ) − 1) sin(θ)
= cos(θ0 ) · lim − sin(θ0 ) · lim =
θ→0 θ θ→0 θ
= cos(θ0 ) · 0 − sin(θ0 ) · 1 = − sin(θ0 ).
como querı́amos.
onde k > 0 é uma constante e f (x) é a posição do objeto (veja a Figura a seguir). O
sinal negativo significa que a força é no sentido oposto do deslocamento. Se ignora o
atrito entre o objeto e a superfı́cie nessa formulação da lei.
A Afirmação 2.1 será reforçada na Seção 8 do Capı́tulo 39, onde se mostrará, entre
outras coisas, que as funções f (x) = a·cos(k ·x)+b sin(k ·x) são as únicas a satisfazer:
f ′′ (x) = −k · f (x), k ∈ R.
= a · cos(x) + b · sin(x),
Na figura a seguir note que não só a posição f (0) é relevante, mas que também a
inclinação f ′ (0) determina o tipo de oscilação que haverá.
0
0 1 2 3 4 5 6
x
-1
-2
Claro que na realidade fı́sica sempre há algum atrito entre o objeto e a superfı́cie
e sabemos que com o tempo o objeto pára. Uma lei de Hooke mais realista levaria
em conta o atrito que surge com o deslocamento do objeto, ou seja, dependente da
velocidade f ′ (x) do objeto e seria do tipo
f ′′ (x) = −f (x) − kf ′ (x).
Na Figura a seguir ponho uma função satisfazendo f ′′ (x) = −f (x) ao lado de uma
função satisfazendo f ′′ (x) = −f (x)−0.1·f ′ (x). Uma função deste último tipo envolve
senos e cossenos e a função exponencial, que veremos mais adiante.
0,5
0
0 5 10 15 20 25 30 35
x
-0,5
-1
E se o atrito for maior, por exemplo, em f ′′ (x) = −f (x) − 0.3 · f ′ (x), então nesse
caso o objeto vai parar bem mais rápido, como na Figura a seguir:
0,5
0
0 5 10 15 20 25 30 35
x
-0,5
-1
Como podemos provar isso, se não podemos percorrer todos os Naturais ? Isso se
faz através do princı́pio de indução matemática.
Afirmação 1.1. ∀n ∈ N:
i) 1 + 2 + . . . + (n − 1) + n = (n+1)·n
2
.
ii) (1 + 2 + . . . + (n − 1) + n) = 1 + 23 + . . . + (n − 1)3 + n3 .
2 3
iii) 12 + 22 + . . . + n2 = n(n+1)(2n+1)
6
Demonstração.
2·1
Prova de i): Para n = 1 a fórmula diz simplesmente 1 = 2
o que é óbvio.
A hipótese de indução é
((n − 1) + 1) · (n − 1) n(n − 1)
1 + 2 + . . . + (n − 1) = = .
2 2
167
1. PRINCÍPIO DE INDUÇÃO MATEMÁTICA 168
De agora em diante temos que fazer algo para mostrar quanto vale 1 + 2 + . . . + (n −
1) + n. Ora
1 + 2 + . . . + (n − 1) + n = (1 + 2 + . . . + (n − 1)) + n =
n(n − 1) n(n − 1) + 2n
= +n= =
2 2
(n + 1) · n
= ,
2
como querı́amos.
Prova de ii): Para n = 1 a fórmula diz simplesmente que 12 = 13 o que é óbvio.
Faço a hipótese de indução:
(1 + 2 + . . . + (n − 2) + (n − 1))2 = 13 + 23 + . . . + (n − 2)3 + (n − 1)3 ,
e quero saber se vale também:
(1 + 2 + . . . + (n − 1) + n)2 = 13 + 23 + . . . + (n − 1)3 + n3 .
Agora vamos ter que fazer algo, trabalhar um pouco. Escrevo pelo binômio:
(1 + 2 + . . . + (n − 1) + n)2 = (1 + 2 + . . . + (n − 1))2 + 2 · (1 + 2 + . . . + (n − 1)) · n + n2
e para continuar uso a hipótese de indução:
(1 + 2 + . . . + (n − 1) + n)2 = 13 + 23 + . . . + (n − 1)3 + 2 · (1 + 2 + . . . + (n − 1)) · n + n2 .
Para terminar onde gostaria, preciso ver que
2 · (1 + 2 + . . . + (n − 1)) · n + n2 = n3 .
Mas posso usar a parte i) já provada para qualquer n, mesmo que da forma n − 1,
obtendo:
n · (n − 1)
(1 + 2 + . . . + (n − 1)) = ,
2
e portanto:
2 · (1 + 2 + . . . + (n − 1)) · n + n2 = (n · (n − 1)) · n + n2 =
= n3 ,
como precisávamos.
1(1+1)(2+1)
Prova de iii): para n = 1 a fórmula está correta 1 = 6
.
suponha válida até n − 1 e faço:
(n − 1)(n − 1 + 1)(2n − 2 + 1)
12 + 22 + . . . (n − 1)2 + n2 = + n2 =
6
3 2
2n − 3n + n
= + n2 =
6
2n3 − 3n2 + n + 6n2
= =
6
2n3 + 3n2 + n n(n + 1)(2n + 1)
= ,
6 6
como querı́amos.
CAPÍTULO 13. DERIVADA DO PRODUTO, INDUÇÃO E A DERIVADA DE
X N , N ∈ Z. 169
2. Derivada do Produto
Voltemos ao problema original: como derivar f (x) = xn ? Para n = 1 já sabemos
que a fórmula x′ = 1x0 está ok.
Gostariamos de supor a fórmula até n − 1 e prová-la então para n, de acordo com
o princı́pio de indução.
Mas quando escrevo xn e tento relacioná-lo com xn−1 só consigo imaginar a
seguinte relação:
xn = x · xn−1 .
Quando for derivar o lado esquerdo dessa expressão terei que derivar, no lado
direito, um produto de funções.
Como fazê-lo ? Certamente a derivada do produto não é o produto das derivadas,
pois (x2 )′ 6= x′ · x′ = 1 · 1.
Por isso precisamos de:
Teorema 2.1. Sejam f (x) e g(x) duas funções deriváveis com mesmo domı́nio de
definição. Então a função produto (f · g)(x) := f (x) · g(x) também é derivável e
(f · g)′ (x) := f ′ (x) · g(x) + f (x) · g ′ (x).
Demonstração.
Seja x e considere a definição de derivada:
f (x + h)g(x + h) − f (x)g(x)
(f · g)′ (x) = lim .
h→0 h
Agora vou fazer um truque, para fazer aparecer f ′ (x) e g ′ (x) nessa estória. Escrevo
f (x + h)g(x + h) − f (x)g(x) =
= f (x + h)g(x + h) −f (x)g(x + h) + f (x)g(x + h) −f (x)g(x) =
| {z }
0
= (f (x + h) − f (x)) · g(x + h) + f (x) · (g(x + h) − g(x)).
Portanto através deste truque obtemos que
(f (x + h) − f (x)) (g(x + h) − g(x))
(f · g)′ (x) = lim [ · g(x + h) + f (x) ].
h→0 h h
Mas limh→0 g(x + h) = g(x) pela continuidade de g e
f (x + h) − f (x) g(x + h) − g(x)
lim = f ′ (x) e lim = g ′ (x),
h→0 h h→0 h
portanto juntando isso (e lembrando que o produto de limites é o limite do produto):
(f · g)′ (x) = f ′ (x)g(x) + f (x)g ′ (x)
3. DERIVADAS DE X −N , ∀N ∈ N 170
= xn−1 + x · (n − 1) · xn−1−1 =
= xn−1 + (n − 1) · xn−1 =
= n · xn−1 .
3. Derivadas de x−n , ∀n ∈ N
Se define x−n := x1n , ∀n ∈ N, onde claramente x 6= 0.
Com essa definição se obtem:
1
x−n · xn = ·n=1
n
e portanto x−n · xn = xn−n .
Queremos derivar essas funções x−n , e novamente o faremos via a indução matemática.
Vimos a derivada de f (x) = x−1 = x1 , x 6= 0 diretamente pela definição, na Parte 1
deste Curso. Como um Exercı́cio, vejamos agora como re-obter a derivada de x−1 = x1
usando a regra da derivada do produto.
Escrevo a identidade para x 6= 0:
1 = x−1 · x
e derivo. Á esquerda na identidade obtenho 0 e à direita a regra do produto dá:
0 = (x−1 )′ · x + x−1 · 1,
ou seja (x−1 )′ = − x12 = −x−2 .
Ou seja, que vale (x−1 )′ = −1 · x−1−1 .
Suponha provada a fórmula até n − 1 > 1: ou seja, que a derivada de x−(n−1) é
−(n − 1) · x−(n−1)−1 = −(n − 1) · x−n .
Então escrevo x−n = x−(n−1) · x−1 e pela derivada do produto:
(x−n )′ = (x−(n−1) )′ · x−1 + x−(n−1) · (−x−2 ) =
ii) implica i) :
Procederemos por indução em k.
Se k = 0, ou seja, k + 1 = 1, já vimos no Teorema 7.1 do Capı́tulo 6 que
f (0) (x) := f (x) = 0 ⇒ f (x) = (x − x) · g(x),
onde o grau de g é n − 1.
Tentemos provar para k = m ≤ n − 1, supondo válido o resultado para todo
k ≤ m − 1.
Nossa hipótese será que
f (0) (x) = f (1) (x) = . . . = f (m) (x) = 0.
4. RAÍZES MÚLTIPLAS E FATORAÇÃO DE POLINÔMIOS 172
Em particular:
f (0) (x) = f (1) (x) = . . . = f (m−1) (x) = 0
e a hipótese de indução dá:
f (x) = (x − x)m · g(x)
para um polinômio g(x) de grau n − m. Precisamos ver que
g(x) = (x − x) · g(x)
para termos o resultado desejado:
f (x) = (x − x)m · [(x − x) · g(x)] = (x − x)m+1 · g(x).
Pensemos por absurdo, que
g(x) 6= (x − x) · g(x)
para todo g(x) de grau n − m − 1.
Pelo Teorema 7.1 do Capı́tulo 6 aplicado ao g(x):
g(x) 6= 0.
Mas como
f (x) = (x − x)m · g(x) = (x − x)k · g(x)
então a derivada f (m) (x) = f (k) (x) é uma soma onde cada parcela tem algum fator
dentre
(x − x)k , . . . , (x − x)2 , (x − x)
exceto uma última parcela que é do tipo C · g(x), C ∈ R \ {0}.
As parcelas todas que formam f (m) (x) = f (k) (x) se anulam x, exceto a parcela
que contém o fator C · g(x). Logo f (m) (x) 6= 0: contradição.
Portanto, como querı́amos:
g(x) = (x − x) · g(x).
Para entender o que acontece num entorno de uma raı́z múltipla x de um polinômio
y = p(x) temos:
Afirmação 4.1. Se x é uma raı́z de ordem exatamente 2n, n ∈ N, então (x, 0) é
ponto de máximo ou de mı́nimo local de y = p(x).
Se x é uma raı́z de ordem exatamente 2n + 1, n ∈ N, então (x, 0) é ponto de
inflexão de y = p(x).
Demonstração.
A suposição de que x é uma raı́z de ordem exatamente 2n, n ∈ N significa que:
f (x) = (x − x)2n · g(x),
onde g(x) é um polinômio a coeficientes Reais tal que
g(x) 6= 0.
Então, como vimos na Afirmação anterior,
p(x) = p′ (x) = p′′ (x) = . . . = p(2n−1) (x) = 0
CAPÍTULO 13. DERIVADA DO PRODUTO, INDUÇÃO E A DERIVADA DE
X N , N ∈ Z. 173
Claro que o número de raı́zes negativas de p(x) pode também ser estimado,
considerando-se a mesma Afirmação 5.1, mas aplicada agora para o novo polinômio:
q(x) := p(−x).
Caso a0 · an > 0:
pois an > 0, concuimos que cada vez que o eixo x > 0 é atravessado pelo
gráfico no ponto x1 no sentido do semi-plano y > 0 ao semiplano y < 0
deverá haver uma outra raı́z x2 em que o gráfico atravessa o eixo x > 0 no
sentido do semi-plano y < 0 ao semiplano y > 0. Então as raı́zes x1 e x2
contribuem juntas para ZP(p) com um número par, soma de dois ı́mpares.
Logo ZP(p) é par (incluindo o 0).
Caso a0 · an < 0:
pois an < 0, o T.V.I. nos garante que há alguma raı́z e portanto ZP(p) ≥ 1. O
mesmo tipo de argumento do Caso anterior agora dá que ZP(p) é ı́mpar.
a0 · aki 6= 0 e 1 ≤ k1 ≤ k2 ≤ . . . ≤ n.
Se divide o resto da prova em dois casos:
6. Exercı́cios
Exercı́cio 6.1. (resolvido)
Prove por indução: n! ≥ 2n−1 , ∀ n ≥ 2.
Exercı́cio 6.2. Derive o produto de três funções (deriváveis):
( f (x) · g(x) · h(x) )′
Exercı́cio 6.3. Produza 4 exemplos de polinômios p de grau 6 em que, no item ii)
da Afirmação 5:
ZP(p) = MS(p) − 2 · j,
o número j ∈ N vale j = 0, 1, 2, 3.
CAPı́TULO 14
0,5
0
0 1 2 3 4 5 6
-0,5 x
-1
0,5
0
0 0,5 1 1,5 2
x
-0,5
-1
Mas o que esta Figura não tem de quantitativamente correto é o fato de que para
que sin(3x) faça 3 vezes o que o seno usual faz quando x percorre [0, 2π], sin(3x) tem
que ser mais rápido que o seno usual. Ou seja, em cada ponto as inclinações das
tangentes de sin(3x) são maiores que as do seno usual. Quanto maiores? Exatamente
3 vezes maiores.
Por isso a derivada de sin(3x) quantitativamente correta não é cos(3x) mas sim:
sin(3x)′ = 3 cos(3x)
e mais em geral:
sin(nx)′ = n cos(nx)
0
0 0,5 1 1,5 2
x
-1
-2
-3
0,5
0
0 1 2 3 4 5 6
-0,5 x
-1
0,5
0
0 1 2 3 4 5 6
-0,5 x
-1
10
0
0123456
x
-5
-10
Por último, volto num limite calculado como Exercı́cio 5.4 do Capı́tulo 8:
sin(k · x)
lim = k.
x→0 x
Podemos olhá-lo do seguinte modo:
sin(k · x) − sin(k · 0)
lim =k
x→0 x
e reconhecemos então a definição da derivada da composta sin(k · x) em x = 0.
O Teorema a seguir generaliza essas observações:
Teorema 1.1. Sejam f : I → J e g : K → L funções definidas em intervalos, com
a imagem J de f contida no domı́nio K de g, J ⊂ K. Se f e g são seriváveis então
a função composta (g ◦ f ) : I → L, definida por (g ◦ f )(x) := g(f (x)) também é
derivável e ademais:
(g ◦ f )′ (x) = g ′ (f (x)) · f ′ (x).
A notação de Leibniz:
dy
A notação de G. Leibniz para a derivada de y = f (x) é dx . O valor de sua notação
fica claro quando escrevemos a regra da derivada da composta. Para y = f (x),
u = g(y) e u = g(f (x)):
du du dy
= · .
dx dy dx
O leitor verá, por exemplo no Capı́tulo 37, como é útil e confortável a notação de
Leibniz.
2. A derivada do quociente
Agora uma aplicação da regra da composta aos quocientes de funções:
Afirmação 2.1. Sejam f e g funções deriváveis com g nunca nula. Então
f (x) ′ f ′ (x) · g(x) − f (x) · g ′ (x)
( ) (x) = .
g(x) g 2(x)
Em particular:
1 g ′(x)
( )′ (x) = − 2 .
g g (x)
Demonstração.
Vou escrever primeiro
f (x) 1
= f (x) ·
g(x) g(x)
e derivar esse produto:
f (x) ′ 1 1 ′
( ) (x) = f ′ (x) · + f (x) · ( ) (x),
g(x) g(x) g(x)
1 1
Agora olho g(x)
como a composição de duas funções f1 (x) = g(x) e f2 (x) = x
= x−1 :
1
= (f2 ◦ f1 )(x).
g(x)
2. A DERIVADA DO QUOCIENTE 184
1
Já sabemos derivar f2 (x) = x
= x−1 , de fato: f2′ (x) = − x12 = −x−2 . Então a regra
da composta dá:
1 ′
( ) (x) = (f2 ◦ f1 )′ (x) =
g(x)
1
=− · g ′(x).
g 2 (x)
Junto tudo:
f (x) ′ 1 1 ′
( ) (x) = f ′ (x) · + f (x) · ( ) (x) =
g(x) g(x) g(x)
1 1
= f ′ (x) · + f (x) · (− 2 · g ′ (x)) =
g(x) g (x)
Exemplos:
• Funções racionais são quocientes de polinômios fg . Onde g não se anula, a
fórmula da Afirmação 2.1 nos diz como derivá-las.
sin(x)
• A tangente é um quociente de funções deriváveis tan(x) = cos(x) . Onde o
cosseno não se anula podemos derivá-la obtendo:
cos(x) · cos(x) − sin(x) · (− sin(x))
tan′ (x) = =
cos2 (x)
1
=
cos2 (x)
1
e com a nomenclatura conhecida sec(x) := cos(x)
o que temos é
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
-1
Figura: A função tangente (vermelho) e sua derivada (verde) restritas a (−1, 1).
x
2 4 6 8 10
0
-1
-2
4. CONFECÇÃO DE GRÁFICOS DE FUNÇÕES RACIONAIS 186
sin(x2 )
Já o comportamento de f (x) = x
quando x → 0 será tema do Exercı́cio 16.10
no Capı́tulo 22.
0,4
0,2
x
-10 -5 0 5 10
0
-0,2
-0,4
Exemplo:
CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 187
Como limxց1 f (x) = +∞ isso indica que x1 ≈ 3 é ponto de mı́nimo local da f (sem
usar qualquer teste).
Por outro lado como
lim f (x) = −∞
x→−∞
e limxր−1 f (x) = −∞, isso indica que x2 ≈ −3 é máximo local da f (sem usar
qualquer teste).
4. CONFECÇÃO DE GRÁFICOS DE FUNÇÕES RACIONAIS 188
18x(x2 + 3)
f ′′ (x) = .
(x2 − 1)3
x
-5 -4,5 -4 -3,5 -3 -2,5 -2 -1,5
-7
-8
-9
-10
-11
-12
x3 +8x
Figura: O gráfico de y = x2 −1
, x ∈ [−5, −1.5].
15
10
0
-0,8 -0,4 0 0,4 0,8
-5x
-10
-15
CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 189
x3 +8x
Figura: O gráfico de y = x2 −1
, x ∈ [−0.8, 0.8].
12
11
10
2 3 4 5 6 7
x
x3 +8x
Figura: O gráfico de y = x2 −1
, x ∈ [1.5, 5].
1 2 3 4 5
x
1
Figura: Em vermelho a diagonal, em verde y = x
0.1·x+2
amarelo y = 3·x−0.1 e em azul y = 0.1·x+4
9·x−0.1
.
Solução:
Minha solução não é das mais elegantes, pois é na força bruta. Farei o seguinte:
CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 191
x2 x2
• determinarei os pontos que são os extremos (x0 , 2m0 ) e (x1 , 2m1 ) de uma corda
x2
ortogonal ao gráfico em (x0 , 2m0 ),
• pensarei no quadrado do comprimento1 da corda:
x21 x2
(x1 − x0 )2 + ( − 0 )2
2m 2m
como uma função f (x0 ) de x0 .
• procurarei f ′ (x0 ) = 0 e depois verei se f ′′ (x0 ) > 0.
x2
A reta que passa por (x0 , 2m0 ) e é ortogonal ao gráfico da parábola dada tem
equação:
−m 2m2 + x20
y= ·x+ .
x0 2m
(posso supor x0 6= 0 pois a reta ortogonal ao gráfico pela origem é vertical e não
intersecta o gráfico da parábola em nenhum outro ponto).
Essa reta intersecta de novo a parábola em
2 · m2
x1 = −x0 − ,
x0
como se descobre resolvendo uma equação quadrática.
A expressão do quadrado da distância entre esses dois pontos admite um boa
simplificação:
x2 x2
φ(x0 ) := (x1 − x0 )2 + ( 1 − 0 )2 =
2m 2m
2
2m2 2 (x0 + 2m x0
)2 x2
= (2x0 + ) +( − 0 )2 =
x0 2m 2m
2 2 3
4(x0 + m )
= .
x40
Agora derivo φ(x0 ) como função de x0 , obtendo:
−8 · (x20 + m2 )2 · (−x20 + 2m2 )
φ′ (x0 ) = .
x50
Portanto φ′ (x0 ) = 0 para dois valores:
√
x = ± 2 · m.
Para ver que esses pontos são mı́nimos locais de φ(x0 ) (e portanto globais, por falta
de outros candidatos)
√ podemos analisar o sinal de φ′ (x0 ) à esquerda e à direita deles.
Para x = 2 · m: note que para x0 < x e próximo dele, temos
−x20 + m2 > 0
e portanto φ′ (x0 ) < 0; para x0√> x e próximo dele, temos φ′ (x0 ) > 0.
Analogamente para x = − 2m.
1 A Afirmação 2.1 do Capı́tulo 16 justificará essa troca do comprimento pelo quadrado do
comprimento. O que ganhamos nessa troca é não precisar derivar a raı́z quadrada
7. UMA FUNÇÃO COM DERIVADA, MAS SEM A SEGUNDA DERIVADA 192
Demonstração.
No Exercı́cio 6.4 do Capı́tulo 9 já vimos que f ′ (0) = 1.
Se x > 0 podemos usar a regra da derivada do quociente:
x ′ x · (x + 1)′ − x′ · (x + 1) 1
f (x)′ = [ ] = 2
=
x+1 (x + 1) (x + 1)2
e analogamente, se x < 0:
x 1
f (x)′ = [ ]′ = .
−x + 1 (−x + 1)2
Agora sobre f ′′ (x). Se existisse
f ′ (h) − f ′ (0)
f ′′ (0) := lim .
h→0 h
teriam que exister ambos lmites laterais
f ′ (h) − f ′ (0) f ′ (h) − f ′ (0)
lim e lim
hց0 h hր0 h
e ademais serem iguais !
Porém, já que f ′ (0) = 1:
1
f ′ (h) − f ′ (0) (h+1)2
−1
lim = lim =
hց0 h hց0 h
enquanto que
1
f ′ (h) − f ′ (0) (−h+1)2
−1
lim = lim =
hր0 h hր0 h
= lim (2 − h) = 2.
hր0
CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 193
x
-3 -2 -1 0 1 2 3
0
-1
-2
Primeiro noto que, se consigo passar uma vara de um certo tamanho para a sala
sem ter tocado o ponto C da Figura, então certamente passaria uma vara um pouco
maior, apoiando-me e pivotando em C.
Por isso, de agora em diante, posso pensar que me apoiarei em C, pivotando nesse
ponto.
A chave da resolução do problema é a seguinte: é notar que a restrição, o im-
pedimento, para se passar a vara está no mı́nimo da distância do segmento P1 P2 , à
medida que muda θ ∈ [0, π2 ]. Veja a Figura que segue:
P 2
l 2
d 2
θ C
d 1
P 1
l 1
5,06
5,04
5,02
′
Já a próxima figura dá a função P1 P2 (θ) no caso l1 = l2 = 1.2, em que θ0 =
arctan(1) = π4 ≈ e o valor máximo da vara é 3.394112550 (horizontal em verde).
3,56
3,52
3,48
3,44
3,4
8.2. Para um objeto retangular. Agora vamos para o caso em que a largura
não pode ser considerada zero, ou seja L > 0, quando o objeto é bi-dimensional.
A Figura a seguir dá a geometria da situação (note que paralelismo/ortogonalidade
de retas transportam o ângulo θ para dois triângulos retângulos):
P 2
θ
D2 − d2
d 2 l 2
d 1 C
P 1
D1− d1
θ
l 1
Note que
l1 l2
cos(θ) = e sin(θ) = ,
D1 D2
de onde:
l1 l2
D1 = (D1 − d1 ) + d1 = e D2 = (D2 − d2 ) + d2 = ,
cos(θ) sin(θ)
e portanto:
l1 L l2
L · tan(θ) + d1 = e + d2 = ,
cos(θ) tan(θ) sin(θ)
o que dá:
l1 l2 1
(d1 + d2 )(θ) = + − L · (tan(θ) + )=
cos(θ) sin(θ) tan(θ)
l1 l2 L
= + − .
cos(θ) sin(θ) sin(θ) · cos(θ)
Essa é a função que quero minimizar, pois seu mı́nimo é o impedimento, a obstrução
para que continue se movendo a face externa (relativa a C) do objeto retangular.
A sua derivada é:
l1 · sin3 (θ) − l2 · cos3 (θ) − L · (2 · cos2 (θ) − 1)
(d1 + d2 ) ′ (θ) = .
sin2 (θ) cos2 (θ)
Queremos saber onde (d1 + d2 ) ′ (θ) = 0, e no caso L > 0 devemos usar métodos
numéricos (aproximações). Os programas como Maple/ Xmaxima , etc a resolvem
numericamente.
Aparecem algumas soluções complexas e uma solução Real positiva.
Para concluir que θ0 é o ponto de mı́nimo, basta conferir que
lim (d1 + d2 )(θ) = +∞
θց0
CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 197
Como
l1
lim = l1
θ→0 cos(θ)
basta analisar
l2 L
lim − =
θ→0 sin(θ) sin(θ) · cos(θ)
1 L
= lim · (l2 − ).
θ→0 sin(θ) cos(θ)
Mas
L
lim =L
θ→0 cos(θ)
1 L 1
lim · (l2 − ) = lim = +∞.
θ→0 sin(θ) cos(θ) θ→0 sin(θ)
1
limπ (d1 + d2 )(θ) = limπ = +∞.
θր 2 θր 2 cos(θ)
Questão 1: haverá outro modo de resolver o problema com L > 0 em que a solução
(θ0 ) seja dada por um expressão exata ?
2,94
2,92
2,9
2,88
2,86
0,9 0,95 1 1,05 1,1 1,15 1,2
x
8.3. Área máxima do retângulo que dobra a esquina? Qual a área máxima
de uma figura retangular que consiga dobrar a esquina, no caso l1 = l2 = 1 ?
Se a figura é um quadrado de lado l é fácil de ver que l = 1 é o máximo, como na
Figura a seguir.
l
l
l
P 1
l
C
Agora continuo o lado da figura, de modo a obter triângulos como na figura que
segue:
P 2
θ
l r
l
1
l
P 1
l θ
C
Se encontramos um mı́nimo dessa função l(θ), para 0 < θ < π2 , esse será o imped-
imento a passar a figura retangular pela esquina, ou seja, dará o máximo da medida
l do retângulo (e com esse valor saberemos a área máxima da figura retangular).
Mas
sin(θ) − cos(θ)
l′ (θ) = .
1 + 2 · sin(θ) cos(θ)
Claramente, para 0 < θ < π2 :
π
l′ (θ) = 0 ⇔ sin(θ) = cos(θ) ⇔ θ = .
4
1
Como limθ→0 1+tan(θ) = 1, então
tan(θ) 1
lim l(θ) = lim = lim = 1,
θց0 θց0 sin(θ) θց0 cos(θ)
1
e como limθ→ π2 sin(θ)
= 1, então
tan θ
limπ l(θ) = limπ = 1.
θր 2 θր 2 1 + tan(θ)
Então
π 1
l( ) = √
4 2
é o mı́nimo global de l(θ). Veja a Figura:
0,9
0,85
0,8
0,75
Há cotas máximas para a área, mas não se obteve ainda explicitamente uma figura
da qual se possa dizer: é esta ! É conhecido na literatura como o problema do sofá.
8.4. O caso L ≈ 0, mas com uma parede suave. Retomo o caso em que
L ≈ 0 e ainda na situação bem simples em que l1 = l2 = 1.
Coloque a Figura de um corredor que dobra em ângulo reto num sistema de
coordenadas cartesianas (x, y) de modo que:
• o ponto C seja C = (1, 1),
• a parede vertical externa faça parte da reta x = 0,
• a vertical interna, de x = 1,
• a parede horizontal externa faça parte de y = 2 e
• a vertical interna, de y = 1.
Imagine agora que as paredes internas (vertical e horizontal) da Figura sejam
derrubadas e substituı́das por uma parede suave, curvada, que faça parte do gráfico
de:
ǫ
y = fǫ (x) := 1 − , x > 1,
1−x
onde sempre ǫ > 0.
A figura a seguir mostra o que acontece para três escolhas de ǫ:
ǫ
Gráficos de y = 1 − 1−x com ǫ = 1 (vermelho)
ǫ = 0.5 (verde), ǫ = 0.2 (amarelo), y = 1 em azul
ǫ
Diminuindo ǫ o gráfico de y = 1 − 1−x vai se apertando sobre a parede horizontal
interna (em azul y = 1): de fato, cada x > 1 fixado,
fǫ (x) > fǫ′ (x), se ǫ < ǫ′ .
E também é claro que, fixado qualquer ǫ > 0,
lim fǫ (x) = 1
x→+∞
Então
lim fǫ′ (x) = +∞,
xց1
o que mostra que os gráficos de fǫ vão ficando cada vez mais verticais próximos de
x = 1.
Você também pode escrever a partir de fǫ (x):
(y − 1) · (x − 1) = −ǫ,
o que mostra que quando ǫ → 0 obtemos2:
(y − 1) · (x − 1) = 0
que é a união de retas x = 1 e y = 1.
Ou seja que as paredes internas foram substituı́das por um curvada como na
Figura a seguir (fixado um ǫ) e que a medida que o ǫ fica pequeno mais vai ficando
próxima da parede interna original em formato de letra L.
2A curvatura κǫ desses gráficos e seu limite quando ǫ → 0 serão estudados na Seção 7 do Capı́tulo
28
CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 203
Meu candidato a ponto Cǫ será o ponto (xǫ , fǫ (xǫ )) do gráfico de y = fǫ (x) que
tem
l2 1
fǫ′ (xǫ ) = ( ) 3 = 1
l1
já que a solução do caso original era em
l2 1 π
θ0 = arctan(( ) 3 ) = arctan(1) = .
l1 4
E as retas que se apoiam na parede curvada serão as suas retas tangentes.
As soluções de fǫ′ (x) = 1 são
√
1 + ǫ1/2 e 1 − ǫ.
Fico apenas com √
xǫ := 1 + ǫ,
pois a outra solução está à esquerda da reta x = 1.
As retas tangentes de y = fǫ (x) num ponto geral (x, fǫ (x)) são:
ǫ x2 − 2(1 + ǫ) · x + 1 + ǫ
y= · x + .
(x − 1)2 (x − 1)2
e em particular em (xǫ , fǫ (xǫ )) a reta tangente é:
y = x − 2ǫ1/2 .
√
A intersecção de y = x − 2 ǫ com y = 2 é o ponto:
√
P2 := (2 + 2 ǫ, 2)
enquanto que a intersecção dela com x = 0 é:
√
P1 := (0, −2 ǫ).
A distância P1 P2 é (para l1 = l2 = 1):
q √ 2 √ 2 √ q √
mǫ := (2 + 2 ǫ) + (2 + 2 ǫ) = 2 · (2 + 2 ǫ)2 ,
e note que √
lim mǫ = 2 2 ≈ 2.828427124,
ǫ→0
o comprimento da diagonal do quadrado de lado 2, solução do caso original na figura
em forma de L.
Queremos ver se mǫ é o mı́nimo das distâncias P1 P2 onde P2 é a intersecção de
uma reta tangente genérica de y = fǫ (x) com y = 1 + l2 = 2 e P1 a intersecção da
reta tangente genérica com x = 0.
Ora,
2ǫx − ǫ − x2 + 2x − 1
P1 = (0, − ),
(x − 1)2
2ǫx − ǫ + x2 − 2x + 1
P2 = ( , 2),
ǫ
e s
(2ǫx − ǫ + x2 − 2x + 1)2 2ǫx − ǫ − x2 + 2x − 1 2
P1 P2 (x) = + (2 + ).
ǫ2 (x − 1)2
8. MÁXIMOS E MÍNIMOS: O PROBLEMA DO FRETEIRO 204
′
O numerador da fração3 que é P1 P2 (x) é dado pelo polinômio de grau 8 em x:
(ǫx5 − 5ǫx4 + 10ǫx3 − 10ǫx2 + 5ǫx − ǫ + x6 − 6x5 + 15x4 − 20x3 + 15x2 − 6x + 1 − ǫ3 x)·
·2 · (2ǫx − ǫ + x2 − 2x + 1),
√
e verifica-se que em x0 = 1 + ǫ:
′ √
P1 P2 (1 + ǫ) = 0
√
pois x0 = 1 + ǫ é raiz do fator de grau 5 em x:
ǫx5 − 5ǫx4 + 10ǫx3 − 10ǫx2 + 5ǫx − ǫ + x6 − 6x5 + 15x4 − 20x3 + 15x2 − 6x + 1 − ǫ3 x.
′′ √
Já a enorme fração que é P1 P2 (x) avaliada em x0 = 1 + ǫ vale:
√ √
2 2(2ǫ2 + 3 + 15ǫ + 11 ǫ + 9ǫ3/2 )
√ > 0.
ǫ(1 + ǫ)3
√
Logo x0 = 1 + ǫ é minimo local de P1 P2 (x).
Mas é bem claro que, para cada ǫ fixado:
lim P1 P2 (x) =
xց1
s
(2ǫx − ǫ + x2 − 2x + 1)2 2ǫx − ǫ − x2 + 2x − 1 2
= lim + (2 + ) = +∞
xց1 ǫ2 (x − 1)2
assim como
lim P1 P2 (x) =
x→+∞
s
(2ǫx − ǫ + x2 − 2x + 1)2 2ǫx − ǫ − x2 + 2x − 1 2
= lim + (2 + ) = +∞.
x→+∞ ǫ2 (x − 1)2
400
300
200
100
0
1,5 2 2,5 3 3,5 4
x
9. Exercı́cios
Exercı́cio 9.1. Usando a regra do quociente e definições/relações trigonométricas,
prove que
cot′ (x) = − csc2 (x),
1 1
onde cot(x) = tan(x) e csc(x) := sin(x) .
Também mostre que:
sec′ (x) = tan(x) sec(x),
1
onde sec(x) := cos(x)
.
Caso
p 2: se P é (−r, 0)
p ou P = (r, 0), então perto de P o cı́rculo é gráfico de x =
1 − y ou de x = − 1 − y 2 .
2
207
1. CURVAS VERSUS GRÁFICOS 208
−2y
⇔ x′ (y) = .
2x(y)
p p
E agora substituindo x(y) por 1 − y 2, se x > 0, ou por x = − 1 − y 2 se x < 0:
−2y −y
x′ (y) = =p , se x > 0,
2x(y) 1 − y2
ou
−2y y
x′ (y) = =p , se x < 0.
2x(y) 1 − y2
Isso que fizemos se chama derivação implı́cita. É útil mesmo quando não sabemos
a expressão explı́cita de y = y(x) ou de x = x(y).
Por exemplo, se nos damos uma curva no plano através de uma equação do tipo:
x2 y 2 − 3y 2 + y 4 − 8y + 2y 3 − 4 = 0
verificamos facilmente que (0, 2) é um ponto dessa curva.
Será que, num pequeno trecho perto de (0, 2) temos a curva dada como um gráfico
y = y(x) ? Ou seja, ∀x num intervalo aberto centrado em x = 0, será que
x2 y(x)2 − 3y(x)2 + y(x)4 − 8y(x) + 2y(x)3 − 4 = 0 ?.
Veremos que neste Exemplo esse é o caso (graças ao Teorema 2.1 a seguir).
Então supondo por um momento que sabemos que há um gráfico y = y(x) perto
de (0, 2) qual o valor de y ′ (x) em (x, y) = (0, 2) ?
Fazemos a derivada em x:
(x2 y(x)2 − 3y(x)2 + y(x)4 − 8y(x) + 2y(x)3 − 4)′ = 0 ⇔
2xy(x)2 + x2 2y(x)y ′(x) − 6y(x)y ′(x) + 4y(x)3y ′ (x) − 8y ′(x) + 6y(x)2y ′ (x) = 0
′ −2xy(x)2
⇔ y (x) = 2
x 2y(x) − 6y(x) + 4y(x)3 − 8 + 6y(x)2
que dá em (x, y) = (0, 2)
0
y ′ (0) =
= 0,
48
ou seja que o gráfico y = y(x) em torno de (x, y) = (0, 2) tem reta tangente horizontal
nesse ponto.
CAPÍTULO 15. DERIVADAS DE FUNÇÕES IMPLÍCITAS 209
• x′ (y) = − ∂F∂y
(x,y) .
∂x
Esse Teorema tem vários detalhes, que se vêem melhor nos Exemplos.
∂F (x,y)
Exemplo 2.1. No cı́rculo F (x, y) = x2 + y 2 − r 2 = 0 temos ∂y
= 2y 6= 0 se y 6= 0.
Nesse caso:
∂F (x,y)
2x
y ′(x) = − ∂F∂x
(x,y)
= − ,
2y(x)
∂y
como vimos antes.
Mas se P no cı́rculo tem y = 0 então P = (−r, 0) ou P = (r, 0) e nesse caso
∂F (x,y)
∂x
= 2x 6= 0. Então é preciso usar funções x = x(y) para descrever o cı́rculo
como gráfico.
O Teorema 2.1 tem sutilezas que ficam evidentes no Exemplo a seguir:
2háversões mais gerais desse enunciado, onde F é muito geral, sujeito apenas a certas exigências
de derivabilidade
3Não queremos ter conjuntos vazios como F (x, y) = x2 + y 2 + 3 = 0.
2. TEOREMA DA FUNÇÃO IMPLÍCITA 210
A Figura a seguir dá uma idéia da curva, que não por acaso se chama conchóide:
y 0
-4 -2 0 2 4
-1x
-2
CAPÍTULO 15. DERIVADAS DE FUNÇÕES IMPLÍCITAS 211
3x2
x3 + xy 2 − − y2 = 0
2
expõe outra sutileza do Teorema 2.1.
Note que essa curva tem sobre o eixo dos x exatamente dois pontos: (0, 0) e (0, 23 ).
Em (0, 32 ) temos (como o leitor pode verificar)
∂F (x, y) ∂F (x, y) 9
= 0, =
∂y ∂x 4
e o Teorema 2.1 diz que a curva F (x, y) = 0 se representa localmente como gráfico
x = x(y). Ademais calcula x′ ( 32 ) como
3 0
x′ ( ) = − 9 = 0,
2 (4)
y 0
1,1 1,2 1,3 1,4 1,5
x
-1
-2
-3
3. RETA TANGENTE DE CURVA E PLANO TANGENTE DE SUPERFÍCIE212
Podemos dar uma definição análoga quando ao invés de uma curva no plano (x, y)
tivermos uma superfı́cie no espaço (x, y, z), dada em forma implı́cita pela equação
F (x, y, z) = 0:
Definição 3.2.
Seja F (x, y, z) = 0 contendo o ponto (x, y, z).
Se ∂F
∂x
(x, y, z)) 6= 0 ou ∂F
∂y
(x, y, z) 6= 0 ou ∂F
∂y
(x, y, z) 6= 0, então seu plano tangente
em (x, y, z) é definido por:
∂F ∂F ∂F
(x, y, z) · (x − x) + (x, y, z) · (y − y) + (x, y, z) · (z − z) = 0.
∂x ∂y ∂z
Exemplos:
• por essa definição a esfera de raio 1 dada por x2 + y 2 + z 2 − 1 = 0 tem em
(0, 0, 1) o plano tangente
∂F
(0, 0, 1) · (z − 1) = 2 · (z − 1) = 0,
∂z
que é o mesmo que o plano horizontal z = 1 no espaço (x, y, z).
CAPÍTULO 15. DERIVADAS DE FUNÇÕES IMPLÍCITAS 213
De ii):
Pelo Teorema 2.1, F (x, y) localmente em torno de P é um gráfico de y = y(x),
com
∂F
−3x2 − b
y ′(x) = − ∂F
∂x
=− .
∂y
2y
Como b, x, y ∈ Q então y ′(x) avaliada em P = (x, y) é um número Racional, que
denoto aqui de A.
A equação da reta tangente é do tipo:
rP : y = Ax + B
onde o valor do coeficiente linear B se obtêm de:
y = Ax+ B ⇔ B = y − A x,
e portanto B também é um número Racional.
As coordenadas x dos pontos na intersecção F (x, y) ∩ rP são as soluções de:
F (x, y) = 0 e y = A x + B,
ou seja, soluções de
(A x + B)2 − x3 − b x − a = 0,
ou, equivalentemente,
−x3 + A2 x2 + (2AB − b) x + B 2 − a = 0.
Agora é o momento de lembrar que a coordenada x de P = (x, y) é uma raı́z dupla
ou tripla desse polinômio, já que rP é tangente à curva F (x, y) nesse ponto (tripla
seria o caso de um ponto de inflexão).
CAPÍTULO 15. DERIVADAS DE FUNÇÕES IMPLÍCITAS 215
No caso em que x é raı́z dupla exatamente, pelo Teorema 4.1 do Capı́tulo 13:
−x3 + A2 x2 + (2AB − b) x + B 2 − a = (x − x)2 · q(x).
onde o grau do polinômio q(x) é 3 − 2 = 1. Ademais os coeficientes de q(x) são
Racionais (Teorema 7.1, Capı́tulo 6 e Digressão).
Ou seja, q(x) = q1 x + q0 , com q0 , q1 ∈ Q e a raı́z de q(x) é
−q0
.
q1
O ponto Q 6= P buscado é portanto:
−q0 −q0
Q=( , A( ) + B ),
q1 q1
que nitidamente tem coordenadas Racionais.
Se P é ponto de inflexão, então Q = P , ou seja,
rP ∩ F (x, y) = {P, Q} = {P }.
100
50
y 0
-5 0 5 10 15 20
x
-50
-100
Vou implementar neste Exemplo o que a prova da Afirmação 4.1 nos ensinou (as
contas tediosas foram feita com o Maple).
4. TANGENTES, PONTOS RACIONAIS DE CÚBICAS E CÓDIGOS
SECRETOS 216
79 83
rP 1 : − x+ .
18 18
6889 517339
Q1 = ( ,− ) ∼ (21, −88).
324 5832
Ver a Figura:
100
50
y 0
-10 -5 0 5 10 15 20
x
-50
-100
44588977 4653507299
rQ 1 : − x+
6208068 72701712
3143435938720609 6994054838592555031151
Q2 = ( ,− ) ∼ (9, −1).
346860974633616 6460009551215289641664
100
50
y 0
-10 -5 0 5 10 15 20
x
-50
-100
y 0
-1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2
x
-1
-2
à curva y 2 − x3 − 1 = 0. Mas tem algo que não ficou plenamente justificado. Parece
na Figura que há 2 pontos de inflexão, em torno de x ∼ 0.8.
Vamos considerar ao invés daquela curva, outra bem parecida (mas mais adequada
para nossas contas):
F (x, y) = y 2 − x3 − 4x = 0.
A inflexão deve aparecer onde a segunda derivada y ′′ (x) muda de sinal, ou seja
onde y ′′ (x) = 0.
Só que já sabemos que aqui não se trata de um gráfico, mas apenas de uma curva.
Por isso precisamos da derivação implı́cita, só que agora para calcular a segunda
derivada.
Já sabemos que se y 6= 0:
∂F
′ ∂x 3x2 + 4
y (x) = − ∂F = .
∂y
2y
Então calculo
3x2 + 4 ′
y ′′ (x) = ( )
2y
pela regra do quociente, obtendo:
12x · y − (3x2 + 4) · 2y ′(x)
y ′′(x) = =
4y 2
CAPÍTULO 15. DERIVADAS DE FUNÇÕES IMPLÍCITAS 219
2
12x · y − (3x2 + 4) · 2( 3x2y+4 )
= =
4y 2
Ora,
12x(x3 + 4x) − 9x4 − 24x2 − 16 = 3x4 + 24x2 − 16,
y 0
-2 -1 0 1 2 3 4 5
x
-4
-8
6. Exercı́cios
Exercı́cio 6.1. (resolvido)
Considere F (x, y) = y 2 − x3 = 0. Considere o ponto (1, 1) dessa curva.
i) usando o Teorema 2.1 verifique que perto de (1, 1) essa curva é o gráfico de uma
função y = y(x).
ii) calcule a derivada da função do item i) em (1, 1).
iii) note que (1, −1) também está na curva F (x, y) = y 2 − x3 = 0 e portanto ela
não é globalmente um gráfico de y = y(x).
Exercı́cio 6.2. Considere a cúbica F (x, y) = y 2 − x3 − 4x = 0.
Um fato muito bonito é que esta curva só tem 3 pontos com coordenadas Racionais:
(0, 0), (2, 4) e (2, −4).
Suponha esse fato.
Por outro lado ∂F∂y (x,y)
= 2y não se anula em (2, 4) nem em (2, −4), o que nos dá
a oportunidade de usar o método das tangentes (Afirmação 4.1) para obter pontos
racionais a partir deles.
i) conclua sem fazer nenhuma conta que as retas tangentes a F (x, y) em (2, 4) e
em (2, −4) passam pela origem (0, 0).
ii) faça as contas e obtenha as equações dessas duas retas tangentes.
CAPı́TULO 16
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8
-0,2 x
-0,4
√
1. Derivada de y = x
√
Vejamos o que é a derivada
√ >0 de y = x de dois modos distintos, um pela definição
e outro lembrando que :R → R é a inversa de y = x2 : R>0 → R>0 .
>0
O Exercı́cio 6.10 usa de outro modo o que aprendemos na prova da Afirmação 2.1.
1 m −m
3. Derivada da “função”x n , de x n e de x n
1 1−n 1 1
= · x n = · x n −1 .
n n
m
Podemos agora derivar funções do tipo x n com m, n ∈ N usando as regras da
composta e da inversa, pois
m 1
x n = (x n )m .
1
Então pelo Teorema 1.1 (a regra da composta) e o que já sabemos para x n :
1 m′ 1 m−1 1 1
(x n ) = m · (x n ) ·( · x n −1 ) =
n
m m−1 1 m m −1
= · x n · x n −1 = ·xn
n n
m
Para podermos derivar funções do tipo x− n com m, n ∈ N podemos escrever
−m m
x n = 1mn e usar o que sabemos de quocientes e de x n :
x
m
1 ′ − m x n −1 m m 2m
( m ) = n 2m = − · x n −1− n =
xn xn n
m −m −1
− ·x n .
n
α ′ α−1
Qual o sentido de dizermos que em √ geral se f (x) = x então f (x) = αx ?
E se α 6∈ Q? Por exemplo α = 2 ou α = π? Após darmos um sentido a essa
expressão (e precisaremos da função exponencial para isso), será que essa função é
derivável ? Será que sua derivada também é α · xα−1 ? Voltaremos...
CAPÍTULO 16. FUNÇÕES INVERSAS E SUAS DERIVADAS 225
0,5
0
-1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5
x
-0,5
-1
1,5
0,5
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
-0,5
-1
-1,5
0,5
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
x
-0,5
-1
De i):
e portanto
1
arcsin′ (x) = √ ,
1 − x2
como querı́amos.
Quando tomo a > 0, então pela regra da derivada da composta:
x 1 1
arcsin′ ( ) = p · =
a 1 − ( xa )2 a
1 1 1
=√ p x 2
=√ .
a 2 1 − (a) a − x2
2
De ii):
Pelo Teorema 0.1:
1
arccos′ (x) = .
cos′ (arccos(x))
Mas já sabemos a derivada do cosseno, logo:
−1
arccos′ (x) = .
sin(arccos(x))
Exatamente como fizemos antes, a relação trigonométrica entre seno e cosseno e o
fato de que o seno restrito a [0, π] é ≥ 0, dão:
−1
arccos′ (x) = √ .
1 − x2
De iii):
origem e tem
1 1
lim √ = +∞, e lim √ = +∞.
xր1 1−x 2 xց1 1 − x2
Tudo isso se vê na figura abaixo, onde plotei o arcoseno e sua derivada, para
x ∈ [−0.95, 0.95] (não posso me aproximar demais de −1 ou de 1 se não o gráfico fica
muito alto !)
0
-0,8-0,4 0 0,4 0,8
x
-1
Essa figura é tão parecida (qualitativamente) com a que já vimos no Capı́tulo
anterior da função y = tan(x) e sua derivada que resolvi plotá-las juntas, para que o
leitor possa fazer comparações:
0
-0,8-0,4 0 0,4 0,8
x
-1
5. Derivada do arcotangente
Se x ∈ (− π2 , π2 ) então
1
tan′ (x) = > 0,
cos2 (x)
CAPÍTULO 16. FUNÇÕES INVERSAS E SUAS DERIVADAS 229
1
0,5
0
-3 -2 -1 0 1 2 3
-0,5
x
-1
Exemplo:
Para completar essa Seção, vou mostra neste Exemplo como informação qualita-
tiva pode servir para dar informação quantitativa !
Considere
x x
y = F (x) = − 2 arctan( ).
2 2
A pergunta é: em que pontos F (x) se anula, além do x = 0 ? Ou pelo menos, como
dar uma aproximação dessas raı́zes ? Nem pensar em tentar resolver explicitamente
F (x) = 0 ...
Já inicialmente é bom observar que F (x) é uma função ı́mpar, F (−x) = −F (x).
Portanto vamos pensar no eixo x > 0 apenas, depois fica fácil o eixo x < 0.
Note que
1 1 1 1 4
F ′ (x) = − 2 · · x 2 = − 2
2 2 1 + (2) 2 x +4
e esta última função teve seu gráfico esboçado na Seção 4 do Capı́tulo 14.
Vimos lá naquela Seção que F ′ (x) se anula, no eixo x > 0, em x = 2, que F ′ (x) < 0
em (0, 2) e que F ′ (x) > 0 em (2, +∞).
Então, como F (0) = 0, concluo que y = F (x) < 0 em (0, 2), assume um mı́nimo
em x = 2 e depois começa a crescer.
Como
x π
lim arctan( ) =
x+∞ 2 2
temos
lim F (x) = +∞.
x+∞
Ou seja, como F (x) é contı́nua, tem que voltar a se anular em algum ponto à direita
de x = 2.
Só que, para x > 0,
x x x π
F (x) = − 2 arctan( ) > − 2 · .
2 2 2 2
CAPÍTULO 16. FUNÇÕES INVERSAS E SUAS DERIVADAS 231
0
-10 -5 0 5 10
x
-4
-8
6. Exercı́cios
Exercı́cio 6.1. (resolvidos: iii, iv, v, xv.)
√
Derive usando regras de derivação de +, −, x, /, e a derivada da composta:
p
i) sin(x3 ), se sin(x3 ) > 0 ii) cos5 (x) + sin(x5 ),
1Com o método de Newton do Capı́tulo 18, começando com 6.3 obtive na quinta iteração x ∼
4.662244741
6. EXERCÍCIOS 232
x4 + x2 + 1
iii) sin3 (x3 ), iv) sin(x) cos(x), v) ,
3x4 + 4x2 + 1
√
vi) 1 − x2 , se |x| < 1, vii) sin(x3 ), viii) cos3 (x) + sin3 (x),
x7 − x2 − 1 x3 − x + 1
ix) , x) ,
x4 + 4x2 + 8 x4 − x3 + x2 − 1
2
xi) sin3 (x) − sin(x3 ), xii) , 0 < x,
x3
xiii) (sin(x) · cos2 (x))2 , xiv) (x + 3)100 , xv) (3x + 4)100 .
Exercı́cio 6.2. Determine o domı́nio de cada uma das quatro funções a seguir e em
que que pontos do domı́nio existe a derivada. Derive-as usando as regras de derivação
(produto, soma, composição, etc).
√
x 1
i) y = , ii) y = ,
x2 − 1 sin(x)
1
iii) y = tan(x) · sin(cos(x)), iv) y = x4 · x 4 .
Exercı́cio 6.3. No Capı́tulo 28 vamos definir
| f ′′ (x) |
κ(x) := 3
(1 + (f ′ (x))2 ) 2
como sendo a curvatura do gráfico de y = f (x) em cada ponto x.
Verifique que
i) κ(x) ≡ 0 para uma reta y = a · x + b e
ii) κ(x) ≡ 1r para a parte do cı́rculo x2 + y 2 = r 2 que fica no primeiro quadrante.
Exercı́cio 6.4. Suponha que você só conhece a reta tangente ao Cı́rculo como o
fizemos aqui neste curso de Cálculo, ou seja, como reta cujo coeficiente angular é
dado por uma derivada, etc.
Prove que essa reta tangente é ortogonal ao raio do Cı́rculo, ou seja, que coincide
com a definição do Ensino Médio (dica: basta considerar pontos do cı́rculo x2 +y 2 = 1
com coordenada y > 0).
Exercı́cio 6.5. Considere a função f : R>0 → [−1, 1] dada por f (x) = sin( x1 ).
i) derive-a pela regra da composta, ii) comprove que |f ′(x)| fica arbitrariamente
grande quando x tende a zero, iii) interprete geometricamente o resultado, sobre o
que acontece com o gráfico de f próximo à origem, iv) agora considere a função dada
por f (x) = x2 · sin( x1 ) (para x > 0). v) derive-a , vi) veja se o módulo da derivada
f ′ (x) fica arbitrariamente grande próximo à origem, ou não.
Exercı́cio 6.6. Considere a Figura a seguir, que dá o gráficos de f (x) = arctan(x)
1
(função inversa da tangente), de sua derivada f ′ (x) = 1+x 2 (assuma que sua derivada
CAPÍTULO 16. FUNÇÕES INVERSAS E SUAS DERIVADAS 233
0,5
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5
x
-0,5
1
Vemos que o gráfico de f ′ (x) = 1+x 2 tem um ponto de inflexão, ou seja, onde as
inclinações de suas tangentes tem um mı́nimo e depois vão aumentando, ficando cada
vez mais próximas de zero quando x >> 1. Dito de outro modo, um ponto onde a
segunda derivada f ′′ (x) = (f ′ (x)′ ) têm um mı́nimo.
Para encontrar onde é esse mı́nimo de f ′′ (x), calcule pela regra do quociente a
terceira derivada f ′′′ (x) e procure por seus zeros ! (Vão ser duas soluções, uma positiva
1
e outra negativa, pois o gráfico de f ′ (x) = 1+x 2 é simétrico em relação ao eixo dos y).
Taxas relacionadas
A questão é: como muda a câmera quando o objeto muda de posição ? Ou seja,
como x′ (t) e y ′ (t) e a posição do objeto em cada instante afetam θ′ (t) ?
Supondo para simplificar que
π
x(t) > 0, y(y) ≥ 0 e 0 ≤ θ(t) < ∀t,
2
então:
y(t)
θ(t) = arctan( ).
x(t)
Derivo em t, pela regra da composta:
y(t) 1 y(t) ′
θ′ (t) = arctan′ ( )= y(t)
·( ) (t) =
x(t) 1 + ( x(t) ) 2 x(t)
235
2. COMO VARIA UMA DISTÂNCIA 236
′
−y · x′ (t)
θ (t) = .
x(t)2 + y 2
• quando o objeto se move radialmente temos:
y ′ (t) y(t)
′
=
x (t) x(t)
e então:
θ′ (t) = 0.
• quando objeto se move num cı́rculo de raio r > 0 centrado na origem então:
y ′ (t) · x(t) − y(t) · x′ (t)
θ′ (t) = .
r2
Há vários modos de descrever esse movimento, por exemplo com:
(x(t), y(t)) = (r · cos(k · t) , r · sin(k · t)), k∈R
pois claramente x2 (t)+y 2(t) ≡ r 2 . Então nesse caso teremos, usando de novo
a regra da derivada da composta:
y ′ (t) · x(t) − y(t) · x′ (t)
θ′ (t) = = k, ∀t
r2
P1
c1
α
I
c2
P2
α
A C
H
Então Pitágoras se aplica em dois triângulos retângulos:
AB 2 = BH 2 + AH 2 e BC 2 = BH 2 + CH 2 .
De onde:
BC 2 − AB 2 = CH 2 − AH 2 .
Mas
CH = CA − AH
e portanto:
BC 2 − AB 2 = (CA2 − 2 · CA · AH + AH 2 ) − AH 2 = CA2 − 2 · CA · AH,
ou seja:
BC 2 = AB 2 + AC 2 − 2 · AC · AH.
Para terminar note que:
AH = AB · cos(α).
Observação:
Quando usar · entre vetores se trata desse produto. Mas. quando fizer, para
λ ∈ R, o produto λ · v trata-se então de multiplicar cada coordenada de v por λ.
Afirmação 3.2.
i):
De ii):
O item i) aplicado ao vetor diferença v1 − v2 :
||v1 − v2 ||2 = (v1 − v2 ) · (v1 − v2 ) = v1 · v1 + v2 · v2 − 2 · v1 · v2 =
= ||v1||2 + ||v2 ||2 − 2 · v1 · v2 ,
ou seja:
v1 · v2 = ||v1 − v2 ||2 − ||v1 ||2 − ||v2 ||2 .
Mas como mostra a figura a seguir posso aplicar a Lei dos cossenos para ter o
módulo de v1 − v2 :
v1 − v2
v2
v1
||v1 − v2 ||2 = ||v1 ||2 + ||v2 ||2 − 2 · ||v1 || cot ||v2 || · cos(θ),
de onde sai ii).
De iii):
O item ii) aplicado a um vetor unitário v2 dá
v1 · v2 = ||v1 || · cos(θ).
3. LEI DOS COSSENOS E PRODUTO ESCALAR DE VETORES 240
Então
(v1 · v2 ) · v2
está no eixo gerado por v2 e tem módulo:
||v1 || · | cos(θ)|.
v1 − (v1.v2).v2
(v1.v2) . v2
v2 θ
v1
que é ortogonal
p ao vetor posição P := (x(t), y(t)). O módulo do vetor posição é
||P || := x(t)2 + y(t)2 .
O produto escalar de vetores:
(−y(t), x(t)) y ′ (t) · x(t) − y(t) · x′ (t)
V · N = (x′ (t), y ′(t)) · p := p
x(t)2 + y(t)2 x(t)2 + y(t)2
dá a projeção do vetor V := (x′ (t), y ′(t)) na direção do vetor unitário N (item iii) da
Afirmação 3.2). Veja a figura a seguir:
CAPÍTULO 17. TAXAS RELACIONADAS 241
N
V
1Como salienta S. Chandrasekhar na página 142 do seu livro Newton’s Principia for the common
reader, Oxford University Press , 1995.
243
244
Se a tangente num ponto (x, f (x)) do gráfico for uma reta horizontal então
terı́amos que resolver a equação:
f (x) = f (x),
que é tão difı́l como o problema original em geral. Ou seja, o método pode parar se
f ′ (x) = 0.
Exemplos:
• Para a raı́z de
y = x5 − 2x4 + x3 + x2 + 1
em [−1, 1] começo com
x0 := 1
e obtenho
x1 = 0.
′
Mas f (0) = 0 e páro.
Nova tentativa, partindo agora de
x0 := 1/2,
obtenho
x1 := −0.7058823529, x2 := −0.8206076715,
x3 := −0.7982163995, x4 := −0.7970632182, x5 := −0.7970602776,
e a partir daı́ a calculadora não muda mais o resultado. Então essa é a
aproximação buscada da raı́z.
A Figura a seguir indica como é o gráfico do polinômio.
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
-1
-2
0,5
x
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
0
-0,5
-1
-1,5
-2
1. Princı́pio de Fermat
Suponhamos dois pontos P1 = (x1 , y 1 ) e P2 = (x2 , y 2 ) com coordenadas y > 0.
O problema é: Encontrar o ponto P = (x, 0) no eixo dos x que minimiza a soma
das distâncias P P1 + P P2 .
Não é uma perda de generalidade muito grande supôr que P1 = (0, 1) (basta
escolher sistema de coordenadas adequado).
Chamemos o ângulo 1) formado em P pelo eixo dos x e a reta P P1 de ângulo de
incidência; e de ângulo refletido o ângulo formado pelo eixo dos x e a reta P P2 .
Afirmação 1.1. (Princı́pio de Fermat)
• i) o ponto no eixo dos x que minimiza a soma de distâncias a P1 := (0, 1) e
a P2 := (x2 , y 2 ), com y 2 > 0, é
x
P = (x, 0) = ( 2 , 0).
1 + y2
• ii) os ângulos de incidência e refletido formados nesse P são iguais.
2,5
1,5
0,5
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
x
Do Item ii):
Calculo o coeficiente angular da reta P P1 :
1−0 (1 + y 2 )
a := x2 = − .
0 − 1+y x2
2
y2 − 0 1 + y2
a′ := x2 = ,
x2 − 1+y 2
x2
logo a′ = −a, ou seja, formam o mesmo ângulo (não-orientado) com a reta vertical.
Portanto também há igualdade de ângulos formados em P com a horizontal.
Suponha que no semiplano superior nos movimentamos com uma velocidade con-
stante v1 enquanto no semiplano inferir nos movimentamos com uma velocidade con-
stante v2 . E que queremos sair de P1 no semiplano superior, atingir P no eixo dos x
e daı́, no semiplano-inferior, ir até P2 , fazendo isso no menor tempo possı́vel. Como
escolher P ?
Esse problema está ainda relacionado com o princı́pio de Fermat, que em geral não
é simplesmente de minimar distância entre dois pontos, mas de minimizar o tempo
gasto para ir de um a outro ponto.
Na prática é o problema do salva-vidas, que, estando em P1 , tem correr pela
areia (com velocidade v1 ) e escolher o ponto P na praia de onde sair nadando (com
velocidade v2 < v1 ) até chegar em algum banhista P2 . Veja Exercı́cio 3.1 abaixo.
2É útil para essas contas tediosas usar algum programa como o Maple.
2. REFRAÇÃO, DISTÂNCIAS PONDERADAS E LEI DE SNELL 250
Claro que se vv21 = 1, a solução é seguir a reta que liga P1 a P2 . E se vv12 << 1,
o ponto P ficará cada vez mais próximo da projeção vertical de P2 no eixo dos x.
Porém a resposta não é tão clara se vv21 ∼ 1.
Como distância é o mesmo que velocidade multiplicada pelo tempo, podemos
pensar que no semiplano superior e inferior as medidas de distância são diferentes.
Como se tivéssemos diferentes réguas para medir distância: um certo trecho que mede
d no semiplano superior (onde sou mais rápido) dever ser considerado como medindo
k · d > d no semiplano-inferior, onde sou mais lento.
Podemos então reformular o problema do seguinte modo:
Como minimizar a soma das distâncias ponderadas
d1,k (x) := P P1 + k · P P2 ?
(onde P1 , P2 estão em semi-planos diferentes e P no eixo dos x)
Isso é o que acontece quando a luz passa de um meio para outro. Por exemplo, a
razão entre velocidade da luz no ar (v1 ) e na água (v2 ) é da ordem de
v2 1
= ,
v1 1.33
ou seja, devemos usar a soma de distâncias ponderadas 3:
d1,1.33 (x) := P P1 + 1.33 · P P2,
(onde P1 está no ar e P2 na água).
Suponha que P1 = (0, 1) e que por exemplo
P2 = (x2 , −1), x2 > 0.
Imitando o que fizemos na Seção anterior, vamos querer derivar d1,k (x) e saber onde
d1,k ′ (x) = 0.
Agora, derivando obtemos:
x (x − x2 )
d1,k ′ (x) = √ +k p =
+1 x2 (x − x2 )2 + 1
p √
x · (x − x2 )2 + 1 + k x2 + 1 · (x − x2 )
= √ p .
x2 + 1 · (x − x2 )2 + 1
Como
x (x − x2 )
d1,k ′′ (x) = ( √ )′ + (k p )′ =
2
x +1 2
(x − x2 ) + 1
1 k
2 3/2
+ 2 > 0,
(x + 1) (x2 − 2x2 x + x2 + 1)3/2
a solução de d1,k ′ (x) = 0 será um ponto de mı́nimo de d1,k .
Mas
p √
d1,k ′ (x) = 0 ⇔ x · (x − x2 )2 + 1 = k x2 + 1 · (x2 − x)
3O chamado optical path length- OPL é definido como o produto da distância usual pelo ı́ndice
de refração - suposto constante - do meio onde a luz se propaga. Então no nosso caso d1,1.33 (x) =
OPL( ar ) + OPL( água )
CAPÍTULO 19. O PRINCÍPIO DE FERMAT E A REFRAÇÃO DA LUZ 251
x
0 1 2 3 4
0
-1
-2
-3
6,5
5,5
4,5
3,5
0 1 2 3 4
x
Para terminar, é natural nos perguntarmos que acontece com a trajetória da luz
ao viajar por um meio com ı́ndice de refração variável. Qual o formato da trajetória
da luz, qual a sua equação ?
A resposta a esse tipo de pergunta depende de mais teoria matemática, por ex-
emplo do Cálculo de Variações.
3. Exercı́cios
Exercı́cio 3.1. (O Problema do salva-vidas)
Estando no ponto (8, 0), na areia da praia, o salva-vidas tem que sair correndo
para salvar alguém que se afoga no ponto B = (0, 5), dentro do mar. Veja a Figura.
5Esses valores de k foram calculados pelo estudante Rafael Kuch, a quem agradeço
CAPı́TULO 20
Afirmação 1.1. Seja o ponto (0, a) do eixo dos y com a > 0 e seja da (x) a distância
entre esse ponto e os pontos (x, x2 ) do gráfico da parábola y = x2 .
• i) se a > 21 então da (x) tem √
um máximo local em x = 0 e dois pontos de
2a−1
mı́nimo absoluto em x = ± √2 .
• ii) se a ≤ 12 então da (x) tem apenas um ponto de mı́nimo absoluto, em x = 0.
Ademais, se a = 14 então d 1 (x) = x2 + 14 .
4
1,4
1,2
0,8
0,6
0,4
0,2
-1 -0,5 0 0,5 1
x
Temos
p p
da (x) := (x − 0)2 + (x2 − a)2 = x2 + (x2 − a)2 ,
cujo domı́nio são todos os Reais.
Então máximos/mı́nimos são detectados por
x · (2x2 + 1 − 2a)
d′a (x) = p = 0.
x2 + (x2 − a)2
Ou seja, d′a (x) = 0 em
√
2a−1
• i) x = 0 e em mais dois pontos x = ± √
2
, desde que 2a − 1 > 0
• ii) apenas em x = 0, se 2a − 1 ≤ 0.
Podemos usar o Critério da primeira derivada para detectar máximos/mı́nimos
locais. Como claramente
lim da (x) = lim da (x) + ∞
x→+∞ x→−∞
Afirmação 2.2. No caso 0 < e < 1 da Afirmação 2.1, existe um novo sistema de
coordenadas (x, y) dado por
x=x−a e y=y
em que a equação vira:
x y
2
+ 2 =1
a b
e no qual as coordenadas do foco são
√
F = (− a2 − b2 , 0),
para
eρ p
a := > 0 e b := a2 · (1 − e2 ) > 0.
1−e
Ademais2: √
a2 − b2
e= .
a
1semi largura ortogonal
2Na
√
apostila c := a2 − b2 para elipses
CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 259
da elipse.
Note que:
• A elipse tem simetria tanto no eixo dos x como no eixo dos y. Daı́ se obtem
que
√ ela poderia ser definida também com base num √ segundo foco F2 :=
( a2 − b2 , 0) como o foi com base em F1 := F = (− a2 − b2 , 0). Haverá
uma segunda diretriz, cuja distância ao foco F2 é a mesma da primeira diretriz
a F1 .
r1 r2
b
F1 F2
ρ a a ρ
b
• Se na equação
x2 y 2
+ 2 =1
a2 b
3Na
√
apostila, c := a2 + b2 para hipérboles
2. DEFINIÇÃO UNIFICADA DAS CÔNICAS 260
Escolho como sistema cartesiano de coordenadas (x, y) aquele que tem origem em
P0 , eixo horizontal P0 F (orientado de R para F ) e eixo vertical a perpendicular a
P0 F por P0 .
Nesse sistema, P0 = (0, 0) e se ρ := P0 r > 0 a diretriz é
x = −ρ e F = (eρ, 0).
Ademais, pela sua Definição, qualquer ponto P = (x, y) da cônica verifica:
p p
(x − eρ)2 + y 2 = e · (x + ρ)2 ,
p p
pois P F = (x − eρ)2 + y 2 e P r = (x + ρ)2 . Portanto os pontos da cônica satis-
fazem:
(x − eρ)2 + y 2 = e2 · (x + ρ)2 ,
ou seja, após simplificar:
(1 − e2 ) · x2 − 2e(1 + e)ρ · x + y 2 = 0.
Caso e = 1:
Nesse caso a equação acima vira:
4ρ · x = y 2 ,
com F = (ρ, 0) e a diretriz vira x = −ρ.
para a cônica.
Portanto essa cônica intersecta a reta y = 0 em P0 = (0, 0) e em
P1 := (−2a, 0).
Considere o ponto médio do segmento P0 P1 :
C := (−a, 0).
r ’ r
ρ ρ
C
F ’ a a F
√
a2 − b2
e=
a
e para as hipérboles
√
a2 + b2
e= ,
a
4
2
y 0
-10 -5 0 5 10
-2x
-4
CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 265
√
9−1
Figura: Elipses de excentricidade igual a e = 3
4
2
y 0
-15 -10 -5 0 5 10 15
-2
-4x
√
9+1
Figura: Hipérboles de excentricidade igual a e = 3
1
Considere então a parábola y = Cx2 , com foco F := (0, 4C ) e reta diretriz hori-
1
zontal y = − 4C .
Dado um ponto P = (x, Cx2 ) qualquer de seu gráfico, denote p sua a projeção
vertical na reta diretriz:
1
p := (x, − ).
4C
Afirmação 3.2.
1 1
A reta rx que liga os pontos p = (x, − 4C ) e F = (0, 4C ) é ortogonal à reta tangente
2 2
Tx ao gráfico de y = Cx em P = (x, Cx ).
Ademais, rx e Tx se intersectam em Mx := ( x2 , 0), que é o ponto médio do segmento
de p e F .
Em suma, Tx é a reta mediatriz do segmento ligando p e F .
0
-4 -2 0 2 4
x
-2
-4
2
Fig: y = x4 , tangente y = x − 1 em P = (2, 1),
onde F = (0, 1), M = (1, 0) e p = (2, −1).
2
x
-4 -2 0 2 4
0
-2
-4
-6
-8
Demonstração.
Já sabemos que a reta tangente Tx tem equação:
y = (2Cx) · x − Cx2 .
E a reta rx ligando p e F tem coeficiente angular:
1
4C
− −1
4C −1
= ,
0−x 2Cx
logo rx e Tx são ortogonais.
1
Por passar por F = (0, 4C ) a equação de rx é:
−1 1
rx : y = ·x+ .
2Cx 4C
Avaliando ambas as equações de retas em Mx = ( x2 , 0) vemos que Tx e rx contêm
Mx = ( x2 , 0).
3. A PARÁBOLA E SUA PROPRIEDADE REFLETIVA 268
1
Ademais as coordenadas de Mx são média aritmética das coordenadas de (x, − 4C )
1
e (0, 4C ), logo Mx é ponto médio do segmento que os une.
F
P
Pelo que vimos acima, isso quer dizer que raios de luz que chegam verticalmente
1
devem refletir na parábola y = Cx2 e passar todos pelo ponto F = (0, 4C ) que por
isso merece o nome de foco, por concentrar a luz. Esse fato é usado em antenas,
microfones, espelhos de formato parabólico, para concentrar ondas, som, calor, luz
em um ponto, que é o Foco.
Como não posso plotar retas verticais, não pude fazer o Exemplo a seguir na
posição vertical. Tive que colocar na horizontal. E só pude usar metade da parábola,
para ter um gráfico. Então a Figura a seguir ilustra a concentração de 5 raios hori-
zontais refletidos no Foco:
CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 269
2,5
1,5
0,5
0
0 0,20,40,60,8 1
x
y2
Figura: Braço da parábola x = 4
refletindo 5 raios horizontais no Foco F = (1, 0).
Afirmação 4.1. Seja (x, y) ponto do gráfico de y = f (x) em que o gráfico não tem
inclinação zero.
Se uma reta vertical por esse ponto é refletida no gráfico de tal modo que o ângulo
de incidência que forma com a reta tangente é igual ao ângulo que a reta refletida
forma coma reta tangente, então a equação da reta refletida é:
f ′ (x)2 − 1 f ′(x)2 − 1
y=( ) · x + f (x) − ( ) · x.
2f ′(x) 2f ′ (x)
Demonstração.
Na figura a seguir em azul estão os ângulos de incidência e de reflexão, supostos
iguais (congruentes). A reta horizontal é h.
Também t e n são as retas tangente e normal. Dois ângulos retos dão indicados.
y = f(x)
Na figura a seguir veja: α = f ′ (x) o ângulo que a reta tangente t faz com o eixo
horizontal, β o ângulo que o raio refletido faz com o eixo horizontal, α1 o ângulo que
a normal faz com a vertical e α2 o ângulo que o raio refletido faz com a normal.
y = f(x)
α t
1
α2 β
α
h
Observe que esta Afirmação 5.1 dá um método prático para traçar uma elipse: fixe
dois pontos F1 e F2 , com dois pregos, e ligue-os por um cordão maior que a distância
F1 F2 . Com um lápis estique o cordão e agora mova o lápis, sempre mantendo o
barbante esticado, traçando pontos P . Você traçará uma elipse, pois F1 P + P F2 é
constante.
Demonstração. (da Afirmação 5.1)
Como notamos após a Definição 2.3, uma elipse pode ser definida com relação a
dois pares Foco/diretriz: F, r ou F ′ r ′ .
Para qualquer ponto P da elipse temos
PF = e · P r e P F ′ = e · P r′,
onde r, r ′ são as retas diretrizes.
5. A ELIPSE E SUA PROPRIEDADE REFLETIVA 272
r r’
F F’
ρ a a ρ
Logo
P F + P F ′ = e · r r′,
onde r r ′ é a distância entre essas duas retas (paralelas).
Ou seja, que P F + P F ′ ≡ C é constante para pontos na elipse.
Na descrição que demos, a excentricidade e da elipse verifica:
eρ
a=
1−e
ou seja, 2a − 2ae = 2eρ e portanto
2a = e · (2a + 2p).
Ora, como nos lembra a Figura acima:
2a + 2ρ = r r ′
é a distância entre as duas retas diretrizes da elipse. Logo
P F + P F ′ ≡ 2a.
A Afirmação 2.2 e a simetria no eixo x dão que as coordenadas dos focos são
F1 = (−c, 0) e F2 = (c, 0), onde
√
c = a2 − b2 .
Afirmação 5.2. Se uma reta só intersecta uma elipse num único ponto P , então
essa reta é a reta tangente à elipse em P .
Demonstração.
2 2
Considerarei apenas pontos da elipse xa2 + yb2 = 1 com coordenada y > 0, ou seja,
onde posso representar a elipse pelo gráfico de
r
x2
y = b · 1 − 2,
a
pois para os outros é análogo, usando outros gráficos
q do tipo y = y(x) ou x = x(y).
2
Uma reta y = A · x + B que passa por (x, b · 1 − xa2 ) tem equação:
r
x2
y = A x + (b · 1 − 2 − Ax).
a
x2 y2
Se a intersecto com a elipse a
+ = 1 obtemos:
b2
q
2
x2 (A x + b 1 − xa2 − Ax)2
+ − 1 = 0,
a2 b2
que é uma equação quadrática em x:
q
x 2
A2
1 −2A x 2 2 1− a2
A a2 x2 x2
2
( 2 + 2) · x + ( + ) · x + − 2 =0
b a b2 b b2 a
A2 1
(note que de fato é quadrática em x, pois b2 + a2 > 0).
O dicriminante desta função quadrática em x é:
q
2
4(−a A + a A x − 2a b 1 − xa2 Ax − b2 x2 )
4 2 2 2 2 2
,
b2 a4
e procuramos valores de A tais que, ∀x, anulem esse discriminante (pois isso dirá que
para esses valores de A há apenas 1 intersecção da reta com a elipse).
Ou seja, buscamos A que anulem o numerador
r
x2
−a4 A2 + a2 A2 x2 − 2a2 b 1 − 2 Ax − b2 x2 .
a
Uma conta tediosa prova que:
r
x2
−a4 A2 + a2 A2 x2 − 2a2 b 1 − 2 Ax − b2 x2 =
a
bx
= (−a4 + a2 x2 ) · ( A + q )2
2
a2 1 − xa2
e portanto
−b x
A= q
2
a2 1 − xa2
é o valor de A que anula o discriminante acima, ∀x.
5. A ELIPSE E SUA PROPRIEDADE REFLETIVA 274
onde r
x2
f (x) = b · .1−
a2
Logo a reta que só corta a elipse em P é de fato a sua reta tangente.
F2 ’
F1 F2
Considere a bissectriz desse ângulo (ou seja, uma semireta que o divide em dois
ângulos iguais, de valores α2 ).
Marque um ponto F2′ no ângulo externo, cuja distância até P seja a mesma de F2
(denote essas distâncias por P F2 = P F2′ ). Veja a Figura:
r
F2 ’
α/2
β
α/2
Q
F1 F2
CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 275
Tome qualquer ponto Q da reta r que contém essa bissectriz, Q 6= P . Já que o Q
não está alinhado com F1 e F2′ , temos:
F1 Q + QF2′ > F1 P + P F2′ =
= F1 P + P F2 .
Já que a elipse é o lugar dos pontos P com
F1 P + P F2 ≡ 2a
vemos que Q não está na elipse.
Ou seja que o único ponto da reta r que está na elipse é P .
A Afirmação 5.2 anterior garante então que r é a tangente por P .
Mas o ângulo β é oposto pelo vértice ao ângulo que mede α2 .
Ou seja que as semiretas ligando P aos focos determinam ângulos com reta tan-
gente que medem ambos α2 .
ρ ρ
F1 a a F2
Por definição
P F1 − P F2 = e · P r1 − e · P r2 .
= e · r1 r2
logo P F1 − P F2 ≡ C é constante.
6. A HIPÉRBOLE E O ANÁLOGO DA PROPRIEDADE REFLETIVA 276
Os segmentos de reta que ligam um ponto de uma hipérbole aos seus dois focos
ficam bissectados pela reta tangente naquele ponto.
3
2
1
y 0
-6 -4 -2 0 2 4 6
-1
x
-2
-3
2
Figura: a hipérbole x22 − y 2 = 1 e retas paralelas
às retas y = 21 · x e y = − 21 · x.
Demonstração. (Afirmação 6.2)
CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 277
2 2
Considero pontos da hipérbole xa2 − yb2 = 1 com coordenada y > 0, ou seja, onde
posso representar a hipérbole pelo gráfico de
r
x2
y =b· − 1.
a2
Quero intersectar com a hipérbole uma reta qualquer y = A · x + B que passa por
r
x2
P = (x, b · − 1),
a2
ou seja, uma reta da forma:
r
x2
y = A·x+b − 1 − Ax.
a2
Obtenho então de
q
2
x2 (A · x + b 1 − xa2 − Ax)2
− − 1 = 0,
a2 b2
a equação em x:
q q
x2 x2
1 A 2
2A x2 2 a2
− 1 A x 2 2
A x2 2 a2
− 1 Ax
2
( 2 − 2 )x +( 2 − )x− 2 − 2 + = 0.
a b b b a b b2
Essa equação deixa de ser uma equação quadrática em x quando
1 A2
− = 0.
a2 b2
Ou seja, as retas passando por P com coeficientes angulares
b
A=±
a
só cortam a hipérbole em P .
2
Quando a12 − Ab2 6= 0 e a equação é quadrática, para termos P como única inter-
secção da reta e da hipérbole precisamos ter a anulação do dicriminante da função
quadrática em x. Ou seja, buscamos a condição:
q
2
4(−a4 A2 + a2 A2 x2 − 2a2 b xa2 − 1 Ax + b2 x2 )
= 0,
b2 a4
onde procuramos por coeficientes angulares A tais que, ∀x, seja nulo esse discrimi-
nante.
Ou seja, queremos A que anule o numerador
r
x2
−a4 A2 + a2 A2 x2 − 2a2 b − 1 Ax + b2 x2 .
a2
Mas uma conta tediosa mostra que:
r
4 2 2 2 2 2 x2
−a A + a A x − 2a b − 1 Ax + b2 x2 =
a2
6. A HIPÉRBOLE E O ANÁLOGO DA PROPRIEDADE REFLETIVA 278
bx
= (−a4 + a2 x2 ) · ( A − q )2
x2
a2 a2
−1
e portanto
bx
A= q
x2
a2 a2
−1
é o valor de A que anula o discriminante acima, ∀x.
Por outro lado reconhecemos que
bx
q = f ′ (x),
x2
a2 a2
−1
onde r
x2
− 1.
f (x) = b ·
a2
Logo, se uma reta corta a hipérbole em um único P , então é a reta tangente em P
ou paralelas a y = ab · x ou y = − ab · x.
2 2
Afirmação 6.3. Quando |x| → ∞ os pontos da hiperbole xa2 − xy 2 = 1 se aproximam
das reta y = ab · x ou da reta y = − ab · x (chamadas de assı́ntotas).
fora as tangentes, as únicas retas que só cortam a hipérbole em 1 ponto são as
retas paralelas às assı́ntotas da hipérbole dada.
e claramente: r
a2
lim 1− = 1.
|x|→+∞ x2
b
Ou seja, quando |x| → ∞ o gráfico de f1 tende ao gráfico de y = a
· |x| enquanto que
o de f2 tende ao de y = − ab · |x| .
Afirmação 6.4. As semiretas que ligam um ponto P da hipérbole aos dois focos
F1 , F2 formam os mesmos ângulos (não-orientados) com a tangente à hipérbole em
P.
Demonstração.
Considere P um ponto da hipérbole. Como | P F1 − P F2 | ≡ C > 0 posso supor
que tomei P no ramo da hipérbole onde P F1 − P F2 ≡ C > 0 (seria análogo o outro
caso, trocando os papéis de F1 e F2 ).
F2 ’
α/2 α/2
F1 F2
Tome um ponto Q ∈ r, Q 6= P .
QF2′ = QF2
e portanto:
F2′ F1 > F1 Q − QF2 .
Por outro lado, já que o ponto F2′ está no segmento [F1 P ], temos:
F2′ F1 = P F1 − P F2′ =
= P F1 − P F2 .
Como este último valor é positivo, pela escolha de P ,
| P F1 − P F2 | = P F1 − P F2 ≡ C > 0
e
| P F1 − P F2 | > F1 Q − QF2 ≥ 0
nos faz concluir que Q não pertence à elipse.
Ou seja, que da reta r somente o ponto P está na elipse.
Vemos em seguida que r não é paralela a nenhuma das assı́ntotas da hipérbole.
Portanto, pela Afirmação 6.2, conclı́mos que r é a tangent à hipérbole no ponto P .
y 0
-4 -2 0 2 4
x
-2
-4
Afirmação 7.1.
• i ) todas as cônicas dessa famı́lia têm os mesmos Focos (k, 0) e (−k, 0). Se
λ − k 2 > 0 a cônica correspondente ao λ é uma elipse com excentricidade
√k . Se λ − k 2 < 0 a cônica correspondente ao λ é uma hipérbole com
λ
excentricidade √kλ .
7. FAMÍLIA DE CÔNICAS CO-FOCAIS ORTOGONAIS 282
• ii) em cada ponto (x, 0) do eixo dos x, diferente dos dois Focos (k, 0) e (−k, 0)
e da origem, só passa um elemento da famı́lia de cônicas. De fato, se |x| > k
então passa só uma elipse cujo parâmetro é λ = x2 e cuja excentricidade é
a
e = |x| < 1. E se |x| < k então só passa uma hipérbole cujo parâmetro é
2 a
λ = x e cuja excentricidade é e = |x| > 1.
• iii) em cada ponto (0, y) do eixo dos y, diferente da origem só passa uma
elipse da famı́lia, com parâmetro λ = k 2 + y 2 e excentricidade √ k
k 2 +y 2
• iv) em cada ponto (x, y) com x · y 6= 0 passam dois elementos da famı́lia,
uma elipse e uma hipérbole, e a intersecção é ortogonal7
Demonstração.
Do item i):
Basta aplicar a Afirmação 2.2 para encontrar os focos e a excentricidade. Note
que se λ − k 2 < 0 as hipérboles são:
x2 y2
− 2 = 1.
λ k −λ
De ii):
Dado o ponto (x, 0) a expressão:
x2 y2
+ = 1, k>0
λ λ − k2
produz a seguinte equação quadrática em λ:
λ2 − λ · (k 2 + x2 ) + k 2 · x2 = 0.
Se x2 − k 2 > 0 (ou seja, |x| > k) o discriminante dessa equação vira:
x2 − k 2
e obtemos duas soluções:
λ = x2 e λ = k 2
mas por hipótese excluı́mos λ − k 2 . Analogamente se x2 − k 2 < 0.
De iv):
Deixo para o leitor verificar que para cada ponto (x, y) com x · y 6= 0 passam duas
cônicas diferentes, uma com excentricidade > 1 e a outra < 1. A única coisa que
quero destacar é que os parâmetros λ1 , λ2 são as soluções da equação quadrática em
λ:
λ2 − λ · (k 2 + x2 + y 2 ) + x2 · k 2 = 0
7Quando duas curvas se intersectam, o ângulo que formam é medido com base no ângulo formado
por suas retas tangentes.
CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 283
que sai de
x2 y2
+ = 1.
λ λ − k2
Lembro que:
λ1 + λ2 = k 2 + x2 + y 2 e λ1 · λ2 = x2 · k 2 ,
já que
λ2 − λ · (k 2 + x2 + y 2 ) + x2 · k 2 = (λ − λ1 ) · (λ − λ2 ).
Nesses pontos (x, y) com x · y 6= 0, as duas curvas da famı́lia que passam pelo
ponto não são verticais, ou seja, localmente em torno de cada ponto as duas curvas
são gráficos da forma y = fλ1 (x) e y = fλ2 (x). De fato,
2 y2
∂( xλ + λ−k 2
− 1)
=0⇔y=0
∂y
e podemos usar o Teorema 2.1 do Capı́tulo 15.
Também por esse mesmo Teorema calculo:
( 2x
λ1
) −x λ1 − k 2
fλ′ 1 (x) =− = ·( ),
( λ12y
−k 2
) y λ1
enquanto que
−x λ2 − k 2
fλ′ 2 (x) = ·( ).
y λ2
Agora noto que termos a condição:
−1
fλ′ 1 (x) =
fλ′ 2 (x)
equivale a termos
(x2 + y 2) · λ1 · λ2 − x2 · k 2 · (λ1 + λ2 ) + x2 · k 4 = 0,
o que conseguimos que seja verdade se usamos:
λ1 · λ2 = x2 · k 2 e λ1 + λ2 = k 2 + x2 + y 2.
Ora,
−1
fλ′ 1 (x) =
fλ′ 2 (x)
é a condição de ortogonalidade, por isso cada par elipse-hipérbole que se encontra
num ponto é ortogonal.
8. Exercı́cios
Exercı́cio 8.1. 2
2
Chamamos uma hipérbole xa2 − yb2 = 1 de retangular se suas assı́ntotas são ortog-
onais entre si.
Qual a relação entre a e b que é necessária e suficiente para termos uma hipérbole
retangular ?
Exercı́cio 8.2. (resolvido)
Um planeta de move em trajetória elı́ptica, em que o Sol é um dos focos da elipse.
Observado a partir de um ponto (x, y) = (0, 0), o planeta está, num certo instante
t0 , na posição (x0 , y0 ), onde x0 > y0 > 0.
Ademais, sua coordenada x tem em t0 uma taxa de variação de −1 UA/s, enquanto
que sua coordenada y tem taxa de variação de 1 UA/s.
i) Determine a equação (padrão) da elipse que descreve sua trajetória.
ii) Determine as posições possı́veis do Sol.
iii) A distância do foco onde está o Sol até o vértice mais próximo é chamado de
perihélio do planeta. Determine-o.
CAPı́TULO 21
1Veremos mais adiante, quando tratarmos de integrais impróprias que, às vezes, a integração
consegue domar o infinito, tanto do tamanho do intervalo onde se integra, quanto dos valores da
função em [a, b].
285
2. QUAL FUNÇÃO DESCREVE AS ÁREAS SOB GRÁFICOS? 286
1
Figura: 12 retângulos sob o gráfico, de mesma largura ( 12 do intervalo).
1
Figura: 24 retângulos sob o gráfico, de mesma largura ( 24 do intervalo).
Nem precisam ser retângulos de mesma largura, como nas Figuras acima. Basta
que o máximo das larguras dos retângulos tenda a zero à medida que refinamos as
escolhas dos retângulos.
Isso parece ainda um pouco vago, mas na Seção 2 a seguir faremos alguns Exemplos
explı́citos, onde fazemos a partição da base ficar cada vez mais fina e obtemos, via um
limite, um valor bem determinando, que será a área. É possı́vel provar um teorema
geral do seguinte tipo:
Afirmação 1.1. (B. Riemann)2 Seja f : [a, b] → R, f (x) ≥ 0 contı́nua.
Esse número é por definição a Área sob o gráfico de f , de a até b, denotada por
Af,a (b).
Dado uma função y = f (x) não-negativa, fixado um ponto inicial a de seu domı́nio
definimos acima a área sob seu gráfico até b.
Vamos agora fixar a e mudar o nome de b, passando a chamar-se agora x para
significar que vamos variar o b.
Então a área sob o gráfico vira uma nova função Af,a (x), que para cada valor de
x dá um resultado de Área.
Qual é essa função A(x)? E que propriedades ela tem?
Certamente é uma função crescente, será que Af,a (x) é contı́nua? Será que ela é
derivável ?
Com o que sabemos do colégio, só consigo ver dois tipos de exemplos simples de
f , onde responderı́amos facilmente sobre Af,a (x):
2Observo desde já que se pode dar versões bem mais fortes desse teorema de Riemann.
CAPÍTULO 21. INTEGRAÇÃO E O PRIMEIRO TEOREMA FUNDAMENTAL
287
x x2
=C· · 2 · [12 + 22 + . . . (n − 1)2 ].
n n
No item iii) da Afirmação 1.1 vimos a fórmula:
n(n + 1)(2n + 1)
12 + 22 + . . . + n2 = , ∀n ∈ N,
6
que dá quando aplicada ao nosso n − 1:
(n − 1)(n − 1 + 1)(2(n − 1) + 1)
12 + 22 + . . . + (n − 1)2 = =
6
(n − 1)n(2n − 1)
= =
6
2n3 − 3n2 + n
= , ∀n ∈ N.
6
Ora, então a soma de áreas dos (n − 1) retângulos é de fato:
x x2 2n3 − 3n2 + n 2n3 − 3n2 + n
C· · 2· = Cx3 .
n n 6 6n3
Mas pelo que já vimos na Parte 1 (já que C e x não mudam com n):
2n3 − 3n2 + n Cx3
lim C · x3 · = .
n→+∞ 6n3 3
Cx3
Então é ACx2 ,0 (x) = 3
.
Mas pelo que já vimos na Parte 1 (já que C e x não mudam com n):
n4 − 2n3 + n2 Cx4
lim Cx3 · = .
n→+∞ 4n4 4
4
Então ACx3 ,0 (x) = Cx4 .
• Exemplo 5) Também podemos combinar dois Exemplos desses de acima, por
exemplo perguntar pela área sob o gráfico de
y = C1 x2 + C2 x3 , C1 , C2 ≥ 0,
de 0 até x. A soma de área de retângulos sob o gráfico será:
x x2 x3 x (n − 1)2 x2 (n − 1)3 x3
· (C1 2 + C2 3 ) + . . . + · (C1 + C 2 )=
n n n n n2 n3
x3 2 2 2 x4 3 3 3
= C1 · (1 + 2 + . . . + (n − 1) ) + C 2 4 · (1 + 2 + . . . + (n − 1) ),
n3 n
e pelo que vimos nos dois exemplos anteriores 3),4) (e pelo limite de somas):
x3 2 2 2 x4 3 3 3
lim C1 · (1 + 2 + . . . + (n − 1) ) + C 2 4 · (1 + 2 + . . . + (n − 1) ) =
n→+∞ n3 n
x3 x4
= C1
+ C2 .
3 4
Nos 5 Exemplos acima há, digamos assim, uma coincidência notável:
M_f
f (ξ)
m_f
Figura: A área sob o gráfico é igual à do retângulo de altura f (ξ), mf < f (ξ) < Mf
Demonstração.
Começo observando que, dado o h > 0, o valor Af,x (h) tem que estar entre:
mf · h ≤ Af,x (x + h) ≤ Mf · h
onde mf · h é a Área de uma retângulo com base h e altura mf (o mı́nimo de f em
[x, x + h]) e Mf · h é a Área de uma retângulo com base h e altura Mf (o máximo de
f em [x, x + h]).
Divido por h > 0:
Af,x (x + h)
mf ≤ ≤ Mf ,
h
A (x+h)
e portanto f,x h é um valor intermediário da f : [a, b] → R, um valor entre seu
mı́nimo e seu máximo.
Logo pelo T.V.I. existe ξ ∈ [x, x + h] tal que
Af,x (x + h)
= f (ξ),
h
logo Af,x (x + h) = f (ξ) · h.
O Teorema a seguir diz que sempre a derivada da função que mede áreas sob um
gráfico é a função original que dá o gráfico.
Também pode ser lido assim: a operação de derivar cancela o efeito da operação
de tomar área sob o gráfico:
Teorema 3.1. (Primeira versão)
Seja f : [a, b] → R contı́nua, f ≥ 0 e x ∈ [a, b). Então
A′f,a (x) = f (x).
CAPÍTULO 21. INTEGRAÇÃO E O PRIMEIRO TEOREMA FUNDAMENTAL
291
Demonstração.
Como essa ainda é uma versão light do Primeiro Teorema, me permito mostrar
apenas que a derivada à direita da Área é igual a f (x), ou seja, que fixado x ∈ [a, b]
vale:
Af,a (x + h) − Af,a (x)
lim = f (x)
hց0 h
Ora, pela aditividade da Área, para h > 0:
Af,a (x + h) = Af,a (x) + Af,x (x + h),
portanto
Af,a (x) + Af,x (x + h) − Af,a (x)
lim =
hց0 h
Af,x (x + h)
= lim .
h→0 h
Agora uso a Afirmação 3.1 acima, de que
Af,x (x + h) = f (ξ) · h,
onde ξ ∈ [x, x + h]. Então juntando tudo:
Af,x (x + h)
lim =
h→0 h
f (ξ) · h
lim =
h→0 h
= lim f (ξ).
h→0
Para terminar basta ver que
lim f (ξ) = f (x).
h→0
Ora, quando h tende a zero, ξ ∈ [x, x + h] tende a x.
Logo f (ξ) tende a f (x), porque f é contı́nua.
• ii) esse limite não depende do tipo particular de soma de Riemann, apenas
de que as normas das partiões de [a, b] tendam a zero.
Rb
• iii) se f ≥ 0 então a f (x)dx = Af,a (b).
Rb
• iv) se f < 0 então a f (x)dx = −Af,a (b), onde esta área Af,a (b) é compreen-
dida entre o eixo dos x e o gráfico.
CAPÍTULO 21. INTEGRAÇÃO E O PRIMEIRO TEOREMA FUNDAMENTAL
293
Rc
• v) c
f (x)dx = 0 para qualquer c ∈ [a, b].
Observações:
• Complementando os itens iii) e iv), se f tem valores positivos e negativos,
Rb
então a integral a f dx dá a área lı́quida da região compreendida entre o eixo
dos x e o gráfico da f .
Um exemplo importante R a disso é quando uma função f é ı́mpar (isto é,
f (x) = −f (−x)) que terá −a f (x)dx = 0.
Rb
Chamo a atenção que quando tivermos a f (x)dx = 0 isto não dirá em
geral que f ≡ 0. Por exemplo se tomo [a, b] = [0, 2π] e f (x) = sin(x), então
o fato que veremos a seguir:
Z 2π
sin(x)dx = 0
0
significa que a área sob o gráfico do seno, de [0, π], é a mesma área da região
sobre o gráfico, de [π, 2π].
• Se f e g são contı́nuas e definidas em [a, b] em geral:
Z b Z b Z b
f (x) · g(x)dx 6= f (x)dx · g(x)dx,
a a a
x3
o que se vê comparando áreas Ax2 ,0 (x) = com o produto de áreas Ax,0 (x) ·
3
x2 x2
Ax,0 (x) = 2 · 2 . Veremos mais tarde uma técnica para fazer as
Z b
f (x) · g(x)dx
a
chamada integração por partes.
Demonstração. (do Teorema 4.1)
Me contentarei com dar algumas idéias sobre cada item. Os detalhes se vêem em
cursos de Análise Matemática.
i), ii) e iii) são técnicas, e nos dão a liberdade na escolha das partições.
iv): óbvia se sabemos iii).
v): óbvia, pois posso pensar em no domı́nio [a′ , b′ ] := {c}.
5. TEOREMA DO VALOR MÉDIO DE INTEGRAIS 294
vi): decorre da liberdade que temos nas partições de [a, b] = [a, c] ∪ [c, b].
vii): pode ser tomado como uma definição.
viii): Decorre da desigualdade triangular que:
| (x1 − x0 ) · f (ξ0) + (x2 − x1 ) · f (ξ1 ) + . . . + (xn − xn−1 ) · f (ξn−1) | ≤
≤ | (x1 − x0 ) · f (ξ0) | + | (x2 − x1 ) · f (ξ1 ) | + . . . + | (xn − xn−1 ) · f (ξn−1) | =
= (x1 − x0 ) · |f (ξ0) | + (x2 − x1 ) · | f (ξ1) | + . . . + (xn − xn−1 ) · | f (ξn−1) |,
e reconhecemos que esta última expressão é uma soma de Riemann da função
| f (x) |.
Logo ao passar ao limite obtemos a desigualdade entre as integrais.
ix) Decorre de
(x1 − x0 ) · ( c1 f (ξ0) ± c2 g(x0 ) ) + . . . + (xn − xn−1 ) · ( c1 f (ξn−1) ± c2 g(xn−1 )) =
= c1 · [(x1 − x0 ) · f (ξ0 ) + . . . + (xn − xn−1 ) · f (ξn−1 )]±
± c2 · [(x1 − x0 ) · g(ξ0) + . . . + (xn − xn−1 ) · g(ξn−1)].
Esse valor f (ξ) que aparece na Afirmação 5.1 pode ser interpretado como uma
generalização da média aritmética de um número finito de valores da f :
f (ξ1 ) + . . . f (ξn )
.
n
Isso se justifica claramente se os pontos ξi forem escolhidos bem distribuı́dos no in-
tervalo [a, b]. Pois tomando partições de [a, b] do tipo:
(b − a) n(b − a)
x0 := a < x1 := a + < . . . < xn := a + = b,
n n
f (ξ1 )+...f (ξn )
afirmo que podemos ver n
como uma soma de Riemann da integral
Rb Z b
a
f (t)dt f (t)
= dt.
b−a a b−a
De fato, como
b−a
xi − xi−1 =
n
temos
1 1 f (ξ1 ) f (ξn )
+ . . . f (ξn ) · =
f (ξ1 ) · · (x1 − x0 ) + . . . + · (xn − xn−1 ).
n n b−a b−a
Rb f (t)
e supondo ξi ∈ [xi−1 , xi ] a expressão da direita é uma soma de Riemann de a b−a
dt.
que realmente depende de x. Note que usei t em f (t) dt para deixar x indicando o
ponto escolhido.
Teorema 6.1. (Primeiro Teorema fundamental do Cálculo)
Seja f : [a, b] → R contı́nua e x ∈ [a, b]. Então
Z x
( f (t)dt )′ (x) = f (x).
a
Observações:
Rx
• O Teorema diz que F (x) := a f (t)dt é uma primitiva de f , pois F ′ (x) =
f (x). Já sabemos que duas primitivas F1 , F2 da f definidas num mesmo inter-
valo
R x só diferem por uma constante
R F1 (x) ≡ F2 (x) + C. Então podemos usar
a
f (t)dt ou abreviadamente f dx como sı́mbolo para todas as primitivas de
f.
6. A INTEGRAL INDEFINIDA E O PRIMEIRO TEOREMA FUNDAMENTAL
296
Caso h > 0:
Como x + h > x ≥ a:
Z x+h Z x Z x+h
f (t)dt − f (t)dt = f (t)dt.
a a x
Então R x+h Rx
a
f (t)dt − a f (t)dt h · f (ξh )
lim = lim =
h→0 h h→0 h
= lim f (ξh ) = f (x),
h→0
por ser f contı́nua e por estarem ξh ∈ [x, x + h].
Caso h < 0:
Então Z x+h
f (t)dt = h · f (ξh ), ξh ∈ [x + h, x],
x
que é a mesma conclusão do caso h > 0, exceto que agora ξh está em [x + h, x].
O resto do argumento é igual ao do caso h > 0.
Demonstração.
R g(x)
Considere a
f (t)dt como uma composição F ◦ g onde
Z u
F (u) := f (t)dt.
a
Então pela derivada da composta:
(F (g(x))′ (x) = F ′ (g(x)) · g ′(x).
Mas pelo Primeiro Teorema do Cálculo:
F ′ (u) = f (u).
Agora façamos,
Z x
F2 : [−1, 1] → R, F2 (x) := F1 (t) dt.
−1
Pelo Primeiro Teorema fundamental, F2′ (x) = F1 (x) e F2′′ (x) = | x |. Logo F2 tem
primeira e segunda derivadas em todos os pontos de seu domı́nio, mas não terá F2′′′ (0).
E assim sucessivamente, podemos definir Fn , que vai bem até as derivadas de
ordem n, mas que não terá F (n+1) (0).
8. Exercı́cios
Exercı́cio 8.1. (resolvido)
O computador da as seguintes aproximações para:
π π
x1 := · (sin( ) + sin(π) ) = 1.570796327,
2 2
π π 2π
x2 := · (sin( ) + sin( ) + sin(π) ) = 1.813799365,
3 3 3
π π 2π 3π
x3 := · (sin( ) + sin( ) + sin( ) + sin(π) ) = 1.896118898,
4 4 4 4
π π 2π
x4 := · (sin( ) + sin( ) + . . . + sin(π) ) = 1.933765598.
5 5 5
i) qual uma possibilidade de termo geral da sequência xn da qual exibimos os
quatro primeiros termos ?
ii) Por quê os itens i) e ii) do Teorema 4.1 implicam que existe limn→∞ xn ?
Exercı́cio 8.2. Digo que g : I → R é uma função ı́mpar se g(x) = −g(−x) ∀x, −x ∈
I. E digo que é uma função par se g(x) = g(−x) ∀x, −x ∈ I.
Prove que:
i) Se f (x) é uma função ı́mpar, qualquer primitiva F (x) dela é uma função par.
ii) Se f (x) é uma função par, qualquer primitiva F (x) dela é uma função ı́mpar.
Dê exemplos onde f (x) é polinomial ou trigonométrica.
Exercı́cio 8.3. (resolvido)
i) Descreva a função F : [−1, 1] → R dada por
Z x
F (x) = | t |dt,
−1
onde | t | é o módulo.
Como é o gráfico de F (x) ?
Exercı́cio 8.4. Ao invés de ser 1 exercı́cio, este aqui serve de protótipo de uma
infinidade de exercı́cios.
R xuma função f : [a, b] → R contı́nua dada.
Suponha que você tem informação sobre
E considere a integral indefinida G(x) := a f (t)dt.
Suponha que te pedem pra encontrar máximos/mı́nimos de G(x).
Ataque o problema assim:
CAPÍTULO 21. INTEGRAÇÃO E O PRIMEIRO TEOREMA FUNDAMENTAL
299
Assim como vimos que há leis fı́sicas importantes modeladas a partir da pro-
priedade f ′′ (x) = −f (x) do seno e do cosseno, há processos muito importantes mod-
elados matematicamente pela relação:
f ′ (x) = f (x).
Essa relação entre a derivada e a função diz por exemplo que quanto mais f (x) fica
positivo mais aumenta sua velocidade. É a modelagem de algum processo que tem
um crescimento extraordinário.
301
1. EXISTE UMA FUNÇÃO F 6≡ 0 QUE SEJA IMUNE À DERIVAÇÃO ? 302
Por exemplo, f (x) pode ser uma população em um certo tempo, e que quanto
mais elementos tem mais cruzamentos efetua, aumentando a população, e assim por
diante. Ou por exemplo uma dı́vida, sobre a qual incidem juros que aumentam a
dı́vida e sobre ela mais juros incidem, assim por diante.
Pelo Primeiro Teorema Fundamental(Teorema 6.1, Capı́tulo 21) ln(x) tem a pro-
priedade de que
1
ln′ (x) = ,
x
o que precisávamos.
Sua inversa (como ln′ (x) = x1 > 0, o ln(x) é uma função estritamente crescente)
então será a função imune a derivações.
Observe que:
• ln(1) = 0
• se 1 < x então ln(x) = A 1 ,1 (x) > 0.
x
• se x < 1 então
Z x Z 1
1 1
dx = − dx
1 x x x
R1
e x x1 dx = A 1 ,x (1) > 0 é uma área. Logo ln(x) < 0 se 0 < x < 1.
x
• como ln′′ (x) = − x12 < 0 é uma função com concavidade para baixo.
• na Afirmação 6.1 veremos que limx→+∞ ln(x) = +∞ e que limxց0 ln(x) =
−∞.
A importância prática dos logaritmos é enorme, devido a algumas propriedades
básicas que veremos nas próximas Seções.
Denoto a função inversa do logaritmo natual, definida de R → R>0 , por exp(y):
exp(ln(x))) = x, ∀x ∈ R>0 .
ln(e) = ln(exp(1)) = 1.
A área sob o gráfico de x1 , desde 1 até 2, é menor que a área do quadrado de base
1 e altura 1. Logo
2 < e.
1
Considere agora a reta tangente ao gráfico de y = x
que passa pelo ponto (2, 12 ):
x
y = − + 1.
4
Ela passa por (1, 43 ) e por (3, 41 ). Então área sob o gráfico de x1 , desde 1 até 3, é maior
que a área do trapézio de base 2 formado pelos pontos (1, 43 ), (1, 0), (3, 0) e (3, 41 ).
Mas a área desse trapézio é a mesma do retângulo de base 2 e altura 12 (basta
pivotar no ponto (2, 21 ) a reta ligando (1, 43 ) e (3, 14 ), veja a Figura). Logo
e < 3.
2. PROPRIEDADES FUNDAMENTAIS DO LOGARITMO E DA
EXPONENCIAL 304
1
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
1 1,5 2 2,5 3
x
que é:
(−1) 1
φ′ (x) = x · + ≡ 0.
x2 x
De iii):
Análoga, derivando agora:
m m
φ(x) := ln(x n ) − · ln(x),
n
−m m m −1 m −1
φ′ (x) = x n · ·xn − · x ≡ 0.
n n
De iv): sai de ii) e iii), já provadas.
De v):
Usando que exp é inversa de ln e a propriedade i) obtemos:
= x1 · x2 = exp(y1 ) · exp(y2 ).
De vi):
Se aplicamos a v), já provada, para y1 = −y e y2 = y:
3. loga x , ∀a > 0 e ln | x |
Podemos definir:
ln(x)
Definição 3.1. Defino ∀x > 0 e a > 0, a 6= 1, loga (x) := ln(a)
0
0,40,81,21,6 2
x
-1
-2
x
-4 -2 0 2 4
0
-2
-4
-6
Figura: O gráfico de y = ln | x |.
10
0
-3 -2 -1 0 1
x
Demonstração.
De i):
ln(ax )
loga (ax ) := =
ln(a)
CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A
EXPONENCIAL 309
ln(ex·ln(a) )
= = x.
ln(a)
De ii): Pela definição e pela propriedade de ex :
5. xa e sua derivada, a ∈ R.
Para sermos coerentes com a Definição 4.1 vamos definir:
Definição 5.1. Para x > 0 e a um Real qualquer, defino
ln(a)
xa := ea ln(x) e logx (a) := ,
ln(x)
onde x 6= 1 na última definição.
Por exemplo, o gráfico de xπ é muito parecido com o de x3 , mas xπ só faz sentido
para x > 0:
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
x
Demonstração.
De i):
a
(xa )′ (x) := (ea ln(x) )′ = ea ln(x) · = a · xa−1 .
x
De ii):
ln(xa ) := ln(ea ln(x) ) = a · ln(x).
De iii): Basta concatenar definições:
ln(ea ln(x) )
logx (xa ) := logx (ea ln(x) ) := = a.
ln(x)
ln(x)
ii) lim =0 e lim x · ln(x) = 0
x→∞ x xց0
Demonstração.
De i): Por definição ln(x) para x > 1 é a área sob o gráfico de x1 , de x = 1 até x.
Precisamos mostrar que à medida que x cresce a área cresce ano quanto quisermos.
Dito de outro modo, precisamos mostrar que a área sob o gráfico de x1 à direita de
x = 1 é tão grande quanto quisermos, desde que avancemos para a direita o suficiente.
Note que posso tomar os retângulos justpostos
1 1 1
[1, 2] × [0, ] ∪ [2, 3] × [0, ] ∪ . . . ∪ [n − 1, n] × [0,
2 3 n
cuja soma de áreas é
1 1 1
+ + ...+ .
2 3 n
Agora vamos ver que essa soma se faz tão grande quanto quisermos, quando n cresce,
o que implica que a área sob o gráfico à direita de 1 fica tão grande quanto quisermos.
De fato, denote:
1 1 1
sn := + + . . . +
2 3 n
e portanto com essa notação:
1 1 1 1 1 1 1
s2n := + ( + ) + ( + + + ) + . . . +
2 | 3 {z 4 } | 5 6 {z 7 8 }
21 parcelas 22 parcelas
1 1 1
+ ( n−1 + n−1 + ... n).
|2 + 1 2 {z + 2 2 }
2n−1 parcelas
Olhando para o menor termo em cada grupo destacado, acima, vemos que
1 1 1 2n−1 1
s2n ≥ + 2 · 2 + 22 · 3 + . . . + n = n · .
2 2 2 2 2
n
Ora como limn→+∞ 2 = +∞ obtemos que limn→+∞ s2n = +∞ e portanto limn→+∞ sn =
+∞. Isso diz que 21 + 31 + . . . + n1 fica tão grande quanto eu quiser, se n crescer o
suficiente.
Para vermos o que acontece com
lim ln(x)
xց0
note que
1
lim ln(x) = lim ln( ) =
xց0 z→+∞ z
= lim − ln(z) = − lim ln(z) = −∞.
z→+∞ z→+∞
De ii):
Só com a definição de ln(x) é imediato que:
ln(x) < x − 1, ∀x > 1,
pois x − 1 é quanto vale a área do retângulo de altura 1 e base [1, x].
6. CRESCIMENTO LENTO DO LOGARITMO E RÁPIDO DA EXPONENCIAL
312
Note que:
ln(x) − ln(x) ln( x1 )
x · ln(x) = = = − .
( x1 ) ( −1
x
) ( 1
x
)
1
Se faço z := x
temos:
− ln(x) ln( x1 ) ln(z)
lim −1 = − lim 1 = − lim = 0,
xց0 (
x
) xց0 ( )
x
z→+∞ z
pelo que já sabemos de ii).
De iii):
Agora vamos ver que do ponto de vista de sua inversa temos o efeito contrário,
ou seja, que a exponencial cresce mais rápido que qualquer polinômio.
Como observamos acima, ln(x) < x − 1, se x > 1. Um tal x > 1 se escreve como
x = 1 + x com x > 0. Ou seja, obtenho:
ln(1 + x) < (1 + x) − 1 = x, se x > 0.
CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A
EXPONENCIAL 313
como querı́amos.
Demonstração.
Como
lim sn = L ∈ R,
n→+∞
então também vale:
lim sn−1 = L ∈ R.
n→+∞
Portanto pela propriedade do limite da diferença de duas sequências:
0 = lim (sn − sn−1 ) = lim an .
n→+∞ n→+∞
Solução:
Considere a função:
1 1
φ(x) := ln(1 + ) −
x 1+x
e note que
x+1 1 1
φ(x) = ln( )− = ln(x + 1) − ln(x) − .
x 1+x 1+x
Temos
lim φ(x) = +∞.
xց0
Portanto para x > 0 e pequeno vale φ(x) > 0.
Mas suponha por absurdo que para algum ponto x suficientemente grande aconteça
que
φ(x) ≤ 0.
CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A
EXPONENCIAL 315
Como:
1 1 1 ′ 1
φ′ (x) = − −( ) =− <0
1+x x 1+x x · (1 + x)2
se x > 0 então φ(x) é uma função estritamente decrescente.
Portanto
φ(x) < φ(x) ≤ 0, ∀x > x.
Mas
1 1
lim φ(x) = lim [ln(1 + ) − ] = 0,
x→+∞ x→+∞ x 1+x
portanto não pode acontecer que
φ(x) < φ(x) ≤ 0, ∀x > x
pois os valores φ(x) têm que se aproximar de zero tanto quanto quisermos.
Essa contradição prova que φ(x) > 0 ∀x > 0, como querı́amos.
9. A regra de L’Hôpital
O Teorema de L’Hôpital é apresentado em muitos textos de Cálculo logo no inı́cio
e sem absolutamente nenhuma justificação.
É um exemplo tı́pico de um tópico de Matemática Superior ensinado do pior modo
possı́vel.
Teno visto alunos justificarem limites absolutamente simples como:
x2 + 1
lim = 1,
x→ +∞ x2
através do L’Hôpital decorado.
Por isso resolvi explicar (como se aprende no Spivak) pelo menos as formulações
mais fundamentais dessa regra.
A utilidade da regra de L’Hôpital é dar um critério para decidir o que acontece
quando, num quociente, tanto o numerador quanto o denominador tendem a zero.
Ou, como se diz, quando há uma indeterminação do tipo 00 .
Afirmação 9.1. (versão , 00 , x ∈ R, L ∈ R)
Sejam1 f : I \ {x} → R e g : I \ {x} → R onde I é um intervalo centrado em x.
Suponha:
• limx→x f (x) = limx→x g(x) = 0
• f ′ (x) e g ′ (x) estão definidas em I \ {x} e g ′ (x) 6= 0 em I \ {x}.
′ (x)
• limx→x fg′ (x) = L ∈ R.
Então:
• g(x) 6= 0 em I \ {x} e
• limx→x fg(x)
(x)
= L ∈ R.
O mesmo vale se nas hipótese e conclusões trocamos os limites plenos por algum
limite lateral como x ց x ou x ր x.
1 Dizer que uma função está definida em I \ {x} não quer dizer que ela também não possa estar
definida em x. Mas apenas que só precisamos que ela esteja definida num certo entorno de x.
9. A REGRA DE L’HÔPITAL 316
Demonstração.
Se f ou g não estão definidas em x ou mesmo se o valor de alguma delas em x
não é zero, redefina-as em x como:
f (x) = g(x) = 0,
2
deixando-as inalteradas em I \ {x}.
Com essa (re-)definição em x, as funções f, g são contı́nuas em x, ademais de
serem contı́nuas em I \ {x}, já que aı́ são até deriváveis.
Considere h > 0 pequeno para que
(x, x + h) ⊂ (I \ {x})
e note que g(x) não pode se anular em nenhum ponto x ∈ (x, x + h): caso contrário,
terı́amos g(x) = g(x) = 0 e o Teorema de Rolle aplicado ao intervalo [x, x] diria que
existe algum
ξh ∈ (x, x) ⊂ (I \ {x})
onde g (ξh ) = 0, contrariando uma hipótese de que g ′ (x) 6= 0 em todo I \ {x}.
′
Mas então
f ′ (ϑx ) f (x)
L = lim ′ = lim .
xցx g (ϑx ) xցx g(x)
f (x)
Analogamente para mostrar que L = limxրx g(x)
.
Se examinamos as provas das duas Afirmações 9.1 e 9.2 vemos que valeriam
também se L = ∞. Nos referiremos a essas adaptações como versões 00 e L = ∞
do L ’Hopital.
Há também versões análogas, cuja prova exige algumas adaptações, para tratar
casos em que
lim |f (x)| = lim |g(x)| = +∞,
x→x x→x
∞
ou como se diz, em que a indeterminação é do tipo ∞ .
Exemplos:
• Com a Afirmação 9.2 aplicada n + 1-vezes obtemos:
xn n · xn−1
lim = lim = ... =
x→∞ ex x→∞ ex
9. A REGRA DE L’HÔPITAL 318
n! 0
= lim = lim = 0.
x→∞ ex x→∞ ex
x
• Considere a composição ee . Vejamos que ela cresce mais rápido que a
própria exponencial. Pela Afirmação 9.2 adaptada para a indeterminação
∞
∞
se obtêm:
ex ex 1
lim x = lim ex x = lim ex = 0.
x→∞ ee x→∞ e · e x→∞ e
• quando numa expressão que é uma soma, uma parcela tende a +∞ e a outra
tende a −∞ nitidamente há uma indeterminação, chamada ∞−∞. Vejamos
um exemplo em que essa indeterminação se reduz a outra do tipo 00 , que pode
ser considerada via aplicação de L’Hôpital por duas vezes. Considere:
1 1 ex − 1 − x
lim ( − x ) = lim =
xց0 x e −1 xց0 x · (ex − 1)
ex − 1
= lim =
xց0 ex − 1 + x · ex
ex 1
= lim x = .
xց0 e + ex + x · ex 2
• quando numa expressão que é um produto, um fator tende a ∞ e o outro
tende a 0 nitidamente há uma indeterminação, chamada ∞ · 0. Vejamos um
exemplo em que essa indeterminação se reduz a outra do tipo ∞∞
, que pode
ser considerada via L’Hôpital. Considere:
ln(x)
lim ln(x) · tan(x) = lim =
xց0 xց0 ( 1 )
tan(x)
( x1 ) − sin2 (x)
= lim 2
sec (x)
= lim =
xց0 (− tan 2 (x) )
xց0 x
− sin(x)
= lim · sin(x) = −1 · 0 = 0.
xց0 x
• note que não há indeterminação nenhuma se ambas parcelas de uma soma
tendem a +∞ ou se ambas tendem a −∞.
• também não há indeterminação se numa soma ou subtração uma parcela
tende a zero e a outra também. Pois, se ǫ1 > 0 e ǫ2 > 0 são pequenos temos
|ǫ1 ± ǫ2 | ≤ ǫ1 + ǫ2 que é pequeno também.
Veremos na Seção 13 exemplos difı́ceis que precisam da regra de L’Hôpital.
Mas às vezes, em exemplos relativamente simples, não é claro se é mellhor usá-la
ou fazer diretamente. Por exemplo3:
√ √
lim a · x2 + b · x − a · x, a, b > 0.
x→+∞
Diretamente: √ √
lim ( a · x2 + b · x − a · x) =
x→+∞
b b
= lim q √ = √ .
x→+∞
a+ b
+ a 2 · a
x
10. A função xx
A função y = f (x) = xx está definida por:
xx := ex·ln(x) , ∀x ∈ R.
Afirmação 10.1. Para todo x > 0:
• i) (xx )′ = (ln(x) + 1) · xx .
• ii) a concavidade do gráfico de xx é para cima
• iii) xx tem um mı́nimo global em e−1 .
• iv) limxց0 xx = 1
x
• v) limx→∞ xe x = 0; em particular, limx→+∞ xx = +∞.
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
x
Demonstração.
10. A FUNÇÃO X X 320
De i):
(xx )′ := (ex·ln(x) )′ (x) = ex ln(x) · (x · ln(x))′ = (ln(x) + 1) · xx .
De ii):
Basta notar que
1 x
(xx )′′ (x) = · x + (ln(x) + 1)2 · xx > 0, ∀x > 0.
x
De iii): Notar que:
(xx )′ = 0 ⇔ ln(x) + 1 = 0 ⇔ x = e−1
e usar ii).
De iv): Pela continuidade de ex :
lim x ln(x) = 0,
xց0
portanto
lim ex ln(x) = e0 = 1.
xց0
De v):
O item iii) da Afirmação 6.1 implica que limx→+∞ ex = +∞. E
ex ln(x) ≥ ex , se x ≥ e.
ex ∞
Portanto limx→∞ xx
é uma indeterminação ∞
. Uso então a Afirmação 9.2 adaptada
∞
para ∞ :
ex ex
lim = lim .
x→∞ xx x→∞ ex·ln(x) · (ln(x) + 1)
Mas:
ex ex
lim ≤ lim =
x→∞ ex·ln(x) · (ln(x) + 1) x→∞ ex · (ln(x) + 1)
1
= lim = 0,
x→∞ ln(x) + 1
onde a desigualdade vale desde que x ≥ e.
25
20
15
10
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
x
Solução:
Vou me ater apenas à pergunta, sem tentar descrever em mais detalhes a curva
definida por xy = y x , para x, y > 0.
Em primeiro lugar a curva em questão é:
F (x, y) = xy − y x := ex ln(y) − ey ln(x) = 0.
É imediato que a reta diagonal faz parte desa curva, pois sobre a diagonal temos:
xy − y x = xx − xx = 0.
Supondo o que foi dito, que a reta diagonal corta uma segunda componente, nesse(s)
ponto(s) de interseção(ões) deve valer
∂F ∂F
=0 e = 0,
∂x ∂y
pois o Teorema 2.1 do Capı́tulo 15 diz que se
∂F ∂F
6= 0 ou 6= 0
∂x ∂y
então a curva F = 0 é localmente um gráfico regular e portanto, em torno de cada
ponto da diagonal F = 0 é exatamente um pedaço da reta diagonal.
Ora,
∂F y
= ex ln(y) · ln(y) − ey ln(x) ·
∂x x
∂F x
= ex ln(y) · − ey ln(x) · ln(x)
∂y y
12. UM MODO DE APROXIMAR E POR NÚMEROS RACIONAIS 322
4Se pode provar, via o Cálculo, que e 6∈ Q, apesar de e poder ser aproximado por Racionais,
como diz esta afirmação
CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A
EXPONENCIAL 323
Tome o logaritmo:
1 1
ln((ex + x) x ) = · ln(ex + x)
x
e examine primeiro
ln(ex + x)
lim
xց0 x
0
como uma indeterminação 0 . Então:
ex +1
ln(ex + x) ( x )
lim = lim e +x = 2.
xց0 x xց0 1
Logo, tomando exponencial:
1
lim (ex + x) x = e2 .
xց0
• Note que não existem indeterminações do tipo 0∞ : de fato, suponha f (x) > 0
com limx→x f (x) = 0. Se ademais limx→x g(x) = −∞, então:
lim f (x)g(x) := lim eg(x)·ln(f (x)) = +∞,
x→x x→x
• v): suponha f (x) := f1a1 · . . . fnan , onde os expoentes ai são números Reais
quaiquer (suponha fi > 0 se for necessário). Então:
′ f1′ fn′
f (x) = f (x) · (a1 · + . . . + an · ).
f1 fn
Demonstração.
De i): Basta derivar o produto e simplificar:
(f1 · . . . · fn )′
=
(f1 · f2 · . . . · fn )
f1′ · f2 − f1 · f2′ f′ f′
= = 1 − 2.
f1 f2 f1 f2
De iv): análoga à de ii), só que derivando a composição f (x)a := ea·ln(x) .
De v): basta usar os itens anteriores, pois f é definida através de produto/quocientes
e expoentes.
Exemplos:
• Suponha que te pedem para derivar
sin2 (x) · x3
f (x) = .
e2x
Com o item v) da Afirmação 14.1 se obtém:
sin2 (x) · x3 cos(x) 3
f ′ (x) = ( 2x
) · (2 + − 2) =
e sin(x) x
0,8
0,6
0,4
0,2
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
Seria possı́vel uma função (diferente da função nula, obviamente) que tenha derivadas
de todas as ordens nulas em x = 0 ? Será que se todas as (infinitas !) derivadas são
nulas em x = 0 mesmo assim a função consegue decolar ?
Vamos ver que sim, usando o que aprendemos na Seção 6.
A função que consideraremos é:
−2 −1
f (x) = e−x = e x2 , se x 6= 0, e f (0) = 0.
Vou me contentar em mostrar que sua primeira e segunda derivada são zero na origem,
mas o leitor verá que o que uso para isso servirá em todas as derivadas.
CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A
EXPONENCIAL 327
Para calcularmos sua derivada fora da origem podemos usar a regra da derivada da
composta. Mas para calcular sua derivada em x = 0 vamos precisar usar a definiçãod
e derivada: −2
′ e−h − 0
f (0) = lim .
h→0 h
Ora isso é o mesmo que:
1
′ h
f (0) = lim 1
h→0 e h2
1
e mudando de notação com z = h é o mesmo que
z
f ′ (0) = lim z 2
z→∞ e
0,35
0,3
0,25
0,2
0,15
0,1
0,05
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
Mas note que parece que ela é zero em todo esse intervalo. Se diminuo o intervalo
ainda assim o gráfico dado pelo programa é enganador : parece que se anula ainda
em todo esse intervalo.
0,016
0,012
0,008
0,004
0
-0,4 -0,2 0 0,2 0,4
x
Por isso é sempre importante a teoria junto com o uso do computador pois sabemos
que a função
−2
f (x) = e−x , se x 6= 0, e f (0) = 0
só se anula em x = 0 !
Para terminar, um comentário.
Em geral, dada uma função f com todas as derivadas, onde f (x) = f (0) (x) é
derivada de ordem 0 e f (i) (x) é a de ordem i, a série:
+∞
X f (i) (0) i
x,
i=0
i!
é a chamada série de Taylor de f em x = 0 (continuo este tema na Seção 3 do
Capı́tulo 31)
No nosso caso como f (0) = f (i) (0) = 0, ∀i ∈ N, então a sua série de Taylor de f
em x = 0 é identicamente nula. Como cada série de Taylor converge em um intervalo
CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A
EXPONENCIAL 329
(pode se degenerar a um ponto) teremos que dizer que a série de Taylor de nossa f
achatada converge em toda a reta.
Mas no entanto essa série só coincide com o valor da f em x = 0 !
16. Exercı́cios
Exercı́cio 16.1. Derive:
√
i) ex ln(x) , ii) x2 ln(x2 ) + x, iii) ln( x2 + 1),
2
iv) ln(x2 + 1), v) x2 ln(x), se x > 0, vi)ex ln(x) , vii) ln(x4 ),
1
viii) ln( ), 0 < x ≤ 1, ix) ln(x6 + 4x2 ).
x
Exercı́cio 16.2. (resolvido)
O programa Maple plota y = ln(1+x) x
para x ∈ [−0.9, 2]:
2,5
1,5
sem se questionar sobre o que fazer em x = 0. Explique o que está acontecendo, com
os conceitos do Cálculo. Dica: Existe:
ln(1 + x)
lim ?
x→0 x
Quanto vale? Por quê ?
Exercı́cio 16.3. (resolvido)
Vimos dois fatos importantes do Cálculo:
ln(x)
lim ln(x) = +∞ mas lim = 0.
x→+∞ x→+∞ x
Ou seja que o logaritmo natural cresce, mas cresce mais lentamente que a própria
função y = x. A Figura mostra o gráfico de y = ln(x)
x
, para x ∈ [1, 10], onde se ve
ln(x)
que há um ponto de máximo, depois dele a função y = x vai caindo para cada vez
mais próximo do zero.
Determine o ponto de máximo de y = lnxx
.
0,35
0,3
0,25
0,2
0,15
0,1
0,05
0
2 4 6 8 10
x
16. EXERCÍCIOS 330
Ou seja, que a exponencial cresce e cresce mais rapidamente que qualquer polinômio
xn .
n
A Figura mostra o gráfico de y = xex , para n = 2, 3 e para x ∈ [0, 4], onde se vê
que que cada um deles tem um ponto de máximo, depois dele a função vai caindo
ficando cada vez mais próxima de zero.
Para cada n fixado, determine em que intervalos a função:
xn
f : [0, +∞) → R, f (x) = x
e
é crescente, em que intervalo é decrescente e qual seu ponto de máximo (as respostas
são em função de n).
1,2
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 1 2 3 4
x
ii) usando a filosofia do Cálculo, ou seja, de derivar uma função, ver que sua
derivada é zero, logo a função é constante e essa constante é zero.
2) Os gráficos a seguir são de funções f (x) = f (0) · e−x , para diferentes valores de
f (0).
i) Confira que esses gráficos nunca se intersectam, mesmo quando x fica muito
grande.
ii) mostre que em todos esses gráficos as inclinações tendem a zero quando x
cresce.
iii) Calcule em cada x qual é quociente das inclinações de dois desses gráficos.
2,5
1,5
0,5
0
0 1 2 3 4
x
Dica: aplique exponencial para transformar a diferença num quociente. Depois volte
na expresssão original tomando logaritmo natural.
sin(x2 )
Exercı́cio 16.10. Seja f : [0, +∞) → R dada por f (0) = 0 e por f (x) = x
se
x > 0.
Prove que:
x
0 1 2 3 4 5
0
-1
-2
0,5
x
-2 -1 0 1 2
0
-0,5
-1
-1,5
-2
1
x
0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4
0
-1
-2
-3
-4
Mas
ln(xy) := A 1 ,1 (xy), ln(x) := A 1 ,1 (x) e ln(y) := A 1 ,1 (y).
x x x
e portanto:
A 1 ,1 (y) = A 1 ,x (xy).
x x
1
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
1 1,5 2 2,5 3 3,5 4
x
1
Figura: As áreas sob x
entre 1 e 2 ou entre 2 e 4 são iguais !.
335
2. SEGUNDO TEOREMA FUNDAMENTAL DO CÁLCULO 336
Como se aprende no livro C.H. Edwards, The historical development of the Cal-
culus, Springer, 1979 esta propriedade
A 1 ,1 (y) = A 1 ,x (xy),
x x
foi observada por Gregory St. Vincent e A.A. Sarasa, antes do Cálculo.
Será que conseguimos verificar que
A 1 ,1 (y) = A 1 ,x (xy)
x x
Demonstração.
Tome uma F (x) com F ′ (x) = f (x) ∀x ∈ [a, b] (não importa como se achou).
CAPÍTULO 23. SEGUNDO TEOREMA FUNDAMENTAL E ÁREAS 337
R x Agora lembre que o Primeiro Teorema Fundamental 6.1 diz que a função G(x) :=
a
f (x)dx tem
G′ (x) = f (x), ∀x ∈ [a, b].
Então
F ′ (x) = G′ (x), ∀x ∈ [a, b],
o que diz que
F (x) = G(x) + C, ∀x ∈ [a, b],
pelo Teorema Fundamental das Equações diferenciais (ver Capı́tulo 7 da Parte 1 deste
Curso). em particular:
F (b) = G(b) + C.
Ra
Mas que constante C é essa ? Temos que G(a) = a f (x)dx = 0, logo
F (a) = 0 + C,
ou seja C = −F (a) e
F (b) = G(b) − F (a)
e portanto:
Z b
G(b) := f (x)dx = F (b) − F (a),
a
como querı́amos.
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
x
√
Figura: y = x2 , y = x e y = x, x ∈ [0, 1]
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
x
√
Figura: y = x3 , y = 3
x e y = x, x ∈ [0, 1]
Afirmação 3.1. Suponha f, g duas funções contı́nuas tais que no intervalo [a, b]
tenham:
f (x) ≥ g(x), ∀x ∈ [a, b].
Então a área da região, de x = a até x = b, abaixo do gráfico de f (x) mas acima
do gráfico de g(x) é dada por:
Z b
f (x) − g(x) dx.
a
Demonstração.
Suponhamos primeiramente o caso em que
g(x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b].
Então f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b], já que f (x) ≥ g(x).
Rb
Por um lado, a f (x) dx é a Área da região de x = a até x = b abaixo do gráfico
de f (x) e acima do eixo dos x, já que f (x) ≥ 0.
Rb
Enquanto que a g(x) dx é a Área da região de x = a até x = b abaixo do gráfico
de g(x) e acima do eixo dos x, já que g(x) ≥ 0.
Por uma propriedade da Integral:
Z b Z b Z b
f (x) − g(x) dx = f (x) dx − g(x) dx
a a a
Rb
e, como f (x) ≥ g(x), a f (x) − g(x) dx dá área da região de x = a até x = b, abaixo
do gráfico de f (x) mas acima do gráfico de g(x).
Agora, no caso geral, pode acontecer que g(x) < 0 para algum ponto no intervalo
[a, b].
Como g(x) é contı́nua, ela tem um valor mı́nimo global em [a, b]. Chame-o de
−C < 0. Então as novas funções
f (x) := f (x) + C e g(x) := g(x) + C
têm
g(x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b],
(se não fosse assim para algum x ∈ [a, b] então g(x) + C < 0 e g(x) < −C, con-
tradizendo a escolha de −C como mı́nimo da g) e
f (x) ≥ g(x), ∀x ∈ [a, b].
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
-1
-2
4. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N. 54, 1993. 340
Pelo que já vimos no primeiro caso da demonstração, agora aplicado a f , g, o valor
de
Z b
f (x) − g(x) dx
a
Z b
(f (x) + C) − (g(x) + C) dx =
a
Z b
= f (x) − g(x) dx, ,
a
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8
x
Agora
√ √
2· A 2· A
C = A · (√ √ √ ) + B · (√ √ √ )3 =
2 3 −B 2 3 −B
√ √ √
A3 · 2 3
= √ .
9 −B
No caso particular do Problema 1, onde A = 2 e B = −3 obtemos então
2 4
x= e C= .
3 9
Veja a Figura a seguir:
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8
x
Solução do Problema 3:
Como antes, a igualdade de áreas quer dizer:
Z x
sin(x) − C dx = 0.
0
= − cos(x) − Cx + 1.
CAPÍTULO 23. SEGUNDO TEOREMA FUNDAMENTAL E ÁREAS 343
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
x
depende somente do peso concentrado numa região mas da distância dela até 0 (por
isso é mais fácil abrir uma porta segurando pelo trinco do que junto da dobradiça).
Para um ponto x ∈ [0, r] com massa mx o momento em torno de 0 é definido
como:
mx · g · x.
É natural, num objeto do tipo [0, r], de densidade variável ρ(x), definir o momento
produzido pela gravidade por:
Z r
M := ρ(x) · g · x dx,
0
pois essa integral pode ser considerada limite de somas de Riemann do tipo:
n
X
ρ(xi ) · g · xi .
i=1
ou seja:
Rr
0
ρ(x) · x dx
x= Rb .
a
ρ(x) dx
Exemplos:
• Se a densidade ρ(x) ≡ ρ é constante para o objeto [0, r] então:
Rr r2
ρ · 0 xdx r
x= R r = 2 = ,
ρ · 0 dx r 2
r
que é o ponto médio de [0, r]. O Exercı́cio 7.2 mostra que x = 2
pode
acontecer mesmo se ρ(x) não é constante.
• Se defino ρ(x) := C · x então:
Rr
C · x2 dx 2
x = R0 b = · r,
C · x dx 3
a
0
0 0,5 1 1,5 2
-1 x
Demonstração.
As coordenadas x1 , x2 são as soluções de:
C · x2 − a · x1 − b = 0,
ou seja: √ √
a2 + 4Cb
a− a+ a2 + 4Cb
x1 = e .
2C 2C
O ponto P3 tem coordenada x3 que verifica
2 · C · (x3 ) = a,
ou seja,
a a
P3 = ( C · ( )2 ).
2C 2C
Note que então
x1 + x2 y1 + y2 a2 + 4 · b · C
x3 = e y3 = − .
2 2 4C
6. ARQUIMEDES E A PARÁBOLA: PROVA VERSUS HEURÍSTICA 346
A área do triângulo ∆P1 P2 P3 pode ser calculada como 21 ||D|| onde D é o determinante:
x1 y1 1
D = x2 y2 1
x3 y3 1
Esse determinante se calcula fácil, pois pela propriedade do determinante:
x1 y1 1
x1 y1 1
x2 y2 1 =
x 2 y 2 1 =
x3 y3 1 x3 − x +x y +y 1+1
1
2
2
y3 − 2 1 2
1− 2
x1 y1 1 3
a2 + 4 · b · C (a2 + 4Cb) 2
= 2
x y 2 1 = (x1 − x2 ) ·
=−
0 − a2 +4·b·C 0 4C 4C 2
4C
de onde:
3
1 (a2 + 4Cb) 2
||D|| = .
2 8C 2
Por outro lado a área compreendida entre a reta e a parábola é:
Z x2 3
2 (a2 + 4Cb) 2
(a · x + b − C · x ) dx = .
x1 6C 2
O que querı́amos.
Ele pensa numa figura plana como sendo um objeto de espessura negligenciável,
com densidade constante (vamos supor = 1), para o qual o peso é proporcional à
área. O intervalo [0, x] para ele é uma alavanca apoiada no (0, 0) que sofre o efeito
do peso do triângulo ∆. Sobre cada ponto x ∈ [0, x] há uma fatia (infinitamente fina)
do triângulo, de peso C · x · g. Dessa forma o momento relativo a (0, 0) produzindo
pelo peso da fatia acima de x ∈ [0, x] é:
x · (C · x · g).
x · (C · x · g) = 1 · (C · x2 · g)
Mas Arquimedes sabia que, quando se trata do efeito da gravidade, pode-se sub-
stituir ∆ todo por um ponto, pelo seu baricentro B.
Como vimos na Seção 4 do Capı́tulo 7, o baricentro se encontra a 32 da distância
entre o vértice e o ponto médio do lado oposto.
Como consequência do Teorema de Tales, a projeção vertical de B no intervalo
[0, x] é o ponto ( 2x
3
, 0): portanto podemos pensar que todo o peso do triângulo é
exercido nesse ponto, produzindo um momento relativo a (0, 0) da ordem de
2
· x · A∆ · g.
3
7. EXERCÍCIOS 348
O B
Pelo equilı́brio da alavanca [−1, 1] que já tinhamos obtido, concluimos que:
2x
1·A·g = · A∆ · g,
3
ou seja:
2
A = · x · A∆ ,
3
como querı́amos.
Vejamos ainda de outro modo a heurı́stica de Arquimedes.
A área do triângulo e a área da região sob a parábola são, na nossa linguagem:
Z x Z x
2
A := C · x dx e A∆ = C · x dx.
0 0
O que queremos entender é de onde saiu a conjectura:
Rx
C · x2 dx 2x
R0 x = .
0
C · x dx 3
Agora lembre, da Seção 5, que:
Rx
C · x2 dx
x = R0 x
0
C · x dx
é o centro de gravidade do objeto unidimensional [0, x] cuja função de densidade é
ρ(x) := C · x.
Essa função ρ(x) associaria a cada ponto no intervalo [0, 1] uma massa/peso corre-
spondente à altura do segmento vertical sobre x que faz parte do triângulo ∆.
Foi isso que Arquimedes fez !
7. Exercı́cios
Exercı́cio 7.1. O seguinte caso particular do Teorema de Arquimedes pode ser feito
sem dificuldade.
Seja um parábola y = Cx2 , C > 0 e a reta horizontal y = b, que a intersecta em
dois pontos P1 e P2 . Denote a origem por O = (0, 0). Então a área da região abaixo
da reta e acima da parábola é exatamente 43 da área do triângulo ∆P1 OP2 .
Exercı́cio 7.2. Considere um objeto 1-dimensional, que é um intervalo [0, r].
Suponha que sua densidade é dada por ρ(x) = r · x − x2 .
i) Mostre, calculando integrais, que o centro de gravidade x ainda é o ponto médio
r
2
.
CAPÍTULO 23. SEGUNDO TEOREMA FUNDAMENTAL E ÁREAS 349
ii) encontre uma explicação conceitual para i), que permitirá gerar outras funções
ρ(x) para as quais ainda x = r2 .
1,5
0,5
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
x
Interprete isso geometricamente, como sendo equivalente a uma igualdade entre duas
Áreas de duas regiões comprendidas
√ entre gráficos de certas funções.
Dica: podes ser útil saber que 5 ∼ 2.2.
0
0 0,5 1 1,5 2
x
1,5
0,5
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
x
0,2
0,15
0,1
0,05
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
x
0,2
0,15
0,1
0,05
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
x
iii) Explique o que acontece com os coeficientes angulares das retas de ii), quando
n cresce.
iv) Se vê que cada y = fn (x) tem um ponto de máximo em seu domı́nio [0, 1].
Determine-o (claro dependendo de n).
v) todas as fn valem o mesmo nos seus pontos de máximo, quanto ?
vi) Determine a área An da região sob o gráfico de y = fn (x) = xn − x2n , de x = 0
até x = 1.
vii) A quanto tendem essas áreas quando n aumenta? Ou seja, qual o
lim An ?
n→+∞
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
x
Vamos explicar agora uma técnica útil para encontrar primitivas de funções e
expressá-las concretamente como funções.
Lembro primeiro que criamos uma função completamente nova ao fazermos
Z x
1
ln(x) := dx.
1 x
Rx
Uma pergunta
Rx natural é: será criamos algo radicalmente novo se fazemos a ln(x)dx
ou essa a ln(x)dx se pode expressar através de funções conhecidas ?
Veremos que sim, se pode expressar através de funções conhecidas, de fato:
Z x
ln(x) dx = x ln(x) − x + C.
a
Verificamos facilmente que (x ln(x) − x + C)′ = ln(x).
Mas como chegamos numa primitiva dessas? Há alguma técnica ? O Teorema
a seguir dá uma técnica útil, embora à primeira vista não pareça, para encontrar
primitivas:
′ ′
Teorema R0.1. Sejam f e g definidas
Rx num intervalo,
R x com f′ e g funções contı́nuas.
x ′
Então a f (x) · g(x)dx = a f (x) · g(x)dx − a f (x) · g (x)dx.
Demonstraç
R ão.x
Note que ( a (f (x) · g(x))′dx)′ (x) = (f (x) · g(x))′(x) pelo Primeeiro Teorema Fun-
damentalRdo Cálculo.
x
Logo a (f (x) · g(x))′ dx = f (x) · g(x) + C pelo Teorema Fundamnal da Equações
Diferenciais.
Mas pela derivado do produto:
(f (x) · g(x))′ = f ′ (x) · g(x) + f (x) · g ′ (x).
Logo pelas propriedades aditivas da integral:
Z x Z x
′
(f (x) · g(x)) dx = (f ′ (x) · g(x) + f (x) · g ′(x))dx =
a a
Z x Z x
′
= f (x) · g(x)dx + f (x) · g ′(x)dx
a a
e portanto:
Z x Z x
′
f (x) · g(x)dx = f (x) · g(x) − f (x) · g ′(x)dx + C
a a
353
354
como querı́amos
= x ln(x) − x + C.
R
ii) x ln(x) dx:
Z Z
x2 x2 1
x ln(x) dx = ln(x) − dx =
| {z }
f ′g
|2 {z } 2 x
|{z}
fg f g′
x2 x2
= ln(x) − + C.
R 2 4
ln(x)
iii) x
dx:
Z Z
1 1
ln(x) dx = ln(x) ln(x) − ln(x) dx.
|x {z } | {z }
fg
| {z x}
f ′g f g′
Logo: Z
ln(x)
2· dx = ln2 (x) + C
x
ou seja
Z
ln(x) ln2 (x)
dx = + C,
x 2
R
( 21 · C é outra constante, mas que sigo chamando de C). iv) ln(x) x2
dx:
Z Z
1 −1 −1 1
2
ln(x) dx = ln(x) − dx =
x
| {z } x
| {z } x x
| {z }
f ′g fg f g′
Z
− ln(x) 1
= + dx =
x x2
− ln(x) 1
= − + C.
R x x
v) cos2 (x) dx:
Z Z
cos(x) cos(x) dx = sin(x) cos(x) − sin(x)(− sin(x)) dx =
| {z } | {z } | {z }
f ′g fg f g′
CAPÍTULO 24. INTEGRAÇÃO POR PARTES 355
Z
= sin(x) cos(x) + sin2 (x)dx =
Z
= sin(x) cos(x) + (1 − cos2 (x))dx =
Z
= sin(x) cos(x) + x + C − cos2 (x)dx.
Logo Z
2· cos2 (x)dx = sin(x) cos(x) + x + C
e portanto: Z
sin(x) cos(x) + x
cos2 (x)dx = + C.
2
R
vi) cos3 (x) dx:
Z Z
2 2
cos(x) cos (x) dx = sin(x) cos (x) − sin(x)(−2 cos(x) sin(x)) dx =
| {z } | {z } | {z }
f ′g fg f g′
Z
= sin(x) cos (x) + 2 sin2 (x) cos(x)dx =
2
Z
= sin(x) cos (x) + 2 (1 − cos2 (x)) · cos(x)dx =
2
Z Z
= sin(x) cos (x) + 2 cos(x)dx − 2 cos3 (x)dx.
2
Logo
Z Z
3 2
3· cos (x)dx = sin(x) cos (x) + 2 cos(x)dx = sin(x) cos2 (x) + 2 sin(x) + C,
e portanto: Z
sin(x) cos2 (x) + 2 sin(x)
cos3 (x)dx = + C.
3
R
vii) x2 cos(bx) dx:
Z Z
sin(bx) 2
2 sin(bx)
cos(bx)x dx = x − 2x dx =
| {z }
f ′g
| b{z } | b{z }
fg f g′
Z
sin(bx) 2 2
=x − sin(bx)x =
b b
Z
sin(bx) 2 2
x − sin(bx) · x dx =
b b | {z }
F ′G
Z
sin(bx) 2 2 cos(bx) cos(bx)
= x − [− · x− − · 1 dx =] =
b b| b{z } | b
{z }
FG F ′G
1. EXERCÍCIOS 356
sin(bx) 2 2 2
= x + 2 cos(bx) · x − 3 sin(bx) + C.
R b b b
viii) eax cos(bx) dx:
Z Z
ax sin(bx) ax sin(bx) ax
cos(bx)e dx = e − ae dx =
| {z } | b{z } | b {z }
f ′g
fg f g′
Z
sin(bx) ax a
= e − sin(bx)eax dx =
b b| {z }
F ′G
Z
sin(bx) ax a − cos(bx) ax − cos(bx) ax
= e − [ e − ae ].
b b | b{z } | b {z }
FG F G′
Logo Z
a2 sin(bx)eax a
(1 + 2 ) · cos(bx)eax dx = + 2 cos(bx)eax + C
b b b
e Z
ax 1 sin(bx)eax a
cos(bx)e dx = a2
( + 2 cos(bx)eax ) + C.
1 + b2 b b
1. Exercı́cios
Exercı́cio 1.1. Dê um argumento para provar que ∀n ∈ N:
Z π
t · cos(nt)dt = 0
−π
sem fazer contas !
Integrando por partes, prove que:
Z π
2·π
t · sin(nt) dt = (−1)n+1 · ,
−π n
Exercı́cio 1.2.
i) verifique que se x ∈ [0, π2 ] então
x ≥ x sin(x) ≥ 0.
ii) Usando integração por partes e o segundo teorema fundamental, calcule a área
da região compreendida entre os gráficos de y = x e de y = x sin(x) de x = 0 até
x = π2 , mostrada na figura a seguir:
1,6
1,2
0,8
0,4
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4
x
CAPÍTULO 24. INTEGRAÇÃO POR PARTES 357
Exercı́cio 1.3.
Se f ′ (x) = x2 · ln(x) e ademais f (e) = 0, qual é a f (x) ?
Exercı́cio 1.4. Prove que:
Z π Z π
2n
sin2n+1 (θ) dθ = · sin2n−1 (θ) dθ.
0 2n + 1 0
CAPı́TULO 25
359
360
onde F (u) é uma primitiva de f (u). Mas por outro lado, pela regra da composta:
(F (g(x)))′ = F ′ (g(x))g ′(x) = f (g(x))g ′(x)
ou seja que F (g(x)) é primitiva da função:
f (g(x))g ′(x).
Portanto se aplico o Segundo Teorema para calcular
Z b
f (g(x))g ′(x)dx
a
tenho Z b
f (g(x))g ′(x)du = F (g(b)) − F (g(a)).
a
Logo
Z g(b) Z b
f (u)du = f (g(x))g ′(x)dx.
g(a) a
Exemplo 0.1. Vamos provar aqui que a área sob o gráfico de 2 ln(x)
x
, de x = 1 até
x = e := exp(1) vale exatamente 1.
Ou seja, que Z e
2 ln(x)
dx = 1.
1 x
Faço u = ln(x), du = x1 dx e acerto os liitesd e integração:
Z e Z 1
2 ln(x) u2 u2
dx = 2 u du = 2 [ (1) − (0)] = 1.
1 x 0 2 2
u2
= +C =
2
sin2 (x)
= + C.
2
Se quisermos destacar os limites de integração então faremos:
Z b Z sin(b)
sin(x) · cos(x) dx = u du =
a sin(a)
un+1
= +C =
n+1
sinn+1 (x)
= + C.
n+1
Se atentamos aos limites de integração:
Z b Z sin(b)
n
sin (x) cos(x) dx = un du =
a sin(a)
Exemplo 0.5. Z
√
x3 · x − 5 dx, x − 5 > 0.
Faço
u = x − 5, du = dx
e escrevo x3 = (u + 5)3 . Daı́:
Z Z
√ 1
3
x · x − 5 dx = (u + 5)3 u 2 du =
Z
1
= (u3 + 15u2 + 75u + 125)u 2 du =
7 5 3 1
= u 2 + 15u 2 + 75u 2 + 125u 2 du =
2 9 30 7 5 250 3
= u 2 + u 2 + 30u 2 + u2 + C =
9 7 3
2 9 30 7 5 250 3
= (x − 5) 2 + (x − 5) 2 + 30(x − 5) 2 + (x − 5) 2 + C.
9 7 3
Exemplo 0.6. Z
1
√ √x dx, x > 0.
xe
Faço
√ 1
u = x, du = √ ,
2 x
logo Z Z
1
√ √x dx = e−u 2 du =
xe
1
= 2 (−e−u ) + C = −2 √x + C.
e
É claro que podemos inverter a questão e, supondo que sabemos a área de cı́rculos,
usar isso para calcular integrais.
Por exemplo, para r > 0 e r 2 − x4 > 0, vamos provar que
Z √r √
8
π = 2· r 2 − x4 · x dx.
r 0
Agora mostro que uma pequena adaptação do que fizemos para calcular a área do
cı́rculo nos dá a área de Elipses.
2 2
Considere a Elipse xa2 + yb2 = 1.
Vamos primeiro considerar 14 de sua área, que é a área sob o gráfico de y =
q
2
b2 (1 − xa2 ), com x ∈ [0, a].
Então quero calcular:
Z ar
x2
b2 (1 − 2 ) dx
0 a
e o farei com a substituição:
x = a sin(u), dx = a cos(u) du,
que nos dá:
Z r Z π
a q
x2 2
b2 (1 − 2 ) dx = b2 (1 − sin2 (u))a cos(u) du =
0 a 0
Z π
2
= ab cos2 (u) du.
0
Mas pelo que já vimos acima:
Z π
2 π
cos2 (u) du =
0 4
CAPÍTULO 25. INTEGRAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO 365
e portanto r
Z a
x2 π
b2 (1 − 2
) dx = ab .
0 a 4
2
x2
Logo a área toda da elipse + yb2 = 1 é πab.
a2
Quando b = a temos um cı́rculo x2 + y 2 = a2 , cuja área é πa2 .
R√
3. r 2 − x2 dx
Note que se
x
x = r sin(θ) e θ = arcsin( ),
r
então:
sin(θ) cos(θ) + θ 1 x x x
= · [ · cos(arcsin( )) + arcsin( )] =
2 2 r r r
√
1 x 2
r −x 2 x
= ·[ · + arcsin( )],
2 r r r
onde a última igualdade fica clara se usarmos a Figura a seguir:
r
x
2 2
r−x
e esta última integral sabemos fazê-la: seja pelo método por partes do Capı́tulo 24
ou usando a relação trigonométrica:
1 − cos(2θ)
sin2 (θ) = .
2
Sai então:
Z
x2 θ sin(2θ) θ sin(θ) cos(θ)
√ dx = 9 · ( − )+C =9·( − )+C =
9 − x2 2 4 2 2
√
arcsin( x3 ) 1 x 9 − x2
=9·( − · · ) + C.
2 2 3 3
Na integral a seguir, faço
x = sin(θ)
para ter:
Z Z
x3 sin3 (x)
√ dx = p cos(θ) dθ =
1 − x2 1 − sin2 (θ)
Z Z
3
= sin (θ) dθ = sin2 (θ) · sin(θ) dθ =
Z Z Z
2
= (1 − cos (θ)) · sin(θ) dθ = sin(θ) θ + cos2 (θ)) · (− sin(θ)) dθ =
cos3 (θ)
= − cos(θ) + +C =
3
3
1 (1 − x2 ) 2 √ 1 − x2
= −(1 − x2 ) 2 + = 1 − x2 · (−1 + ) + C.
3 3
Agora faremos a próxima integral com a substituição x = 3 · sin(θ):
Z Z
1 1
√ dx = p 3 cos(θ) dθ =
2
x · 9−x 2
9 sin (θ) · 9 − 9 sin2 (θ)
2
Z
1 1
= · dθ =
9 sin2 (θ)
Z
1
= · csc2 (θ) dθ =
9
√
1 1 9 − x2
= − · cot(θ) + C = − · + C.
9 9 x
CAPÍTULO 25. INTEGRAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO 367
1+ x2
x
As integrais do tipo Z
1
√ dx
1 + x2
são um bom exemplo da substituição:
x = tan(θ), dx = sec2 (θ) dθ.
2Apesar de que a substituição u = 1 + x2 e du = 2x dx dá o resultado imediatamente
6. MAIS EXEMPLOS DA SUBSTITUIÇÃO X = TAN(θ) 368
Como
q p π π
1 + tan2 (θ) = sec2 (θ) = sec(θ), se − <θ<
2 2
então Z Z
1 1
√ dx = sec2 (θ) du =
1+x2 sec(θ)
Z
= sec(θ) du.
Só que agora somos obrigados a saber fazer esta última integral.
Para isso vamos fazer uns pequenos malabarismos3:
Z Z
1
sec(u) du := du =
cos(u)
Z
1 + sin(u)
= du =
cos(u) (1 + sin(u))
Z
sin2 (u) + cos2 (u) + sin(u)
= du =
cos(u)(1 + sin(u))
Z
cos(u) sin(u)
= + du =
1 + sin(u) cos(u)
Z Z
cos(u) − sin(u)
= du − du ==
1 + sin(u) cos(u)
= ln | 1 + sin(u) | − ln | cos(u) | + C =
1 + sin(u)
= ln | |+C =
cos(u)
=: ln | sec(u) + tan(u) | + C.
Finalmente então podemos completar a integração anterior:
Z
1
√ dx = ln | sec(θ) + tan(θ) | + C =
1 + x2
√
= ln | sec(arctan(x)) + tan(arctan(x)) | + C = ln( x2 + 1 + x) + C.
Z Z
= sec(θ)dθ + sec(θ) · tan2 (θ) dθ =
Z Z
= sec(θ)dθ + sec(θ) · tan(θ) · tan(θ) dθ =
| {z } | {z }
g′ f
Z Z
= sec(θ)dθ + sec(θ) tan(θ) − sec(θ) sec2 (θ) dθ,
| {z } | {z } | {z } | {z }
g f g f′
portanto: Z Z
3 1
sec (θ)dθ = · [ sec(θ)dθ + sec(θ) · tan(θ)] + C.
2
R
Voltando ao que queremos, como θ = arctan( xr ) e como já temos sec(θ) dθ:
Z √ Z 2 Z
2 3 r
r 2 + x2 dx = r · sec (θ)dθ = · [ sec(θ)dθ + sec(θ) · tan(θ)] + C =
2
√ √
r2 x2 + r 2 x x2 + r 2 x
= · [ln( + )+ · ]+C =
2 √ r r r r
r 2 2
x +r 2 x 1 √
= · ln( + ) + · x x2 + r 2 + C.
2 r r 2
8. Substituição trigonométrica x = sec(θ)
Quando falamos em x = sec(θ) e θ = arcsec(x) vamos pensar que
π π
1 < |x| e θ ∈ [0, ) ∪ ( , π].
2 2
Onde ademais, se x > 1 então 0 < θ < π2 .
O primeiro uso desta substituição será, supondo x > 1 e r > 0:
Z
1
√ dx =
x · x2 − r 2
Z
1
= p r sec(θ) tan(θ)dθ =
r sec(θ) · r 2 sec2 (θ) − r 2
Z
1 1 1
= · dθ = · θ + C = arcsec(x) + C.
r r r
9. MAIS EXEMPLOS PARA A SUBSTITUIÇÃO X = SEC(θ). 370
x
x2 1
A integral a seguir
Z √
x2 − 9
dx =
x
com
x = 3 · sec(θ), dx = 3 · sec(θ) tan(θ) dθ,
vira: Z √ Z p
x2 − 9 9 sec2 (θ) − 9
dx = sec(θ) tan(θ) dθ =
x 3 sec(θ)
Z
= 3 · tan(θ) dθ =
Z
= 3 · (sec2 (θ) − 1) dθ =
= 3 · tan(θ) − 3 · θ + C =
CAPÍTULO 25. INTEGRAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO 371
√
x2 − 9 x
=3· − 3 · arcsec( ) + C.
3 3
R√
10. x2 − r 2 dx
A seguir |x| > r > 0. Faço a mudança x = r · sec(θ) e depois integro por partes:
Z √ Z
2 2 2
x − r dx = r · tan(θ) · sec(θ) tan(θ)dθ =
Z
= r · (tan(θ) sec(θ) − sec3 (θ) dθ).
2
12. Exercı́cios
R
Exercı́cio 12.1. Fizemos ln(x)
x
dx por partes.
Veja que, neste exemplo, é mais fácil fazer por substituição.
Calcule pelos dois métodos:
Z e3
ln(x)
dx.
e2 x
12. EXERCÍCIOS 372
R √
x
Exercı́cio 12.2. Para fazer e dx use uma substituição e depois uma integração
por partes.
Exercı́cio 12.3. Faça por substituição as integrais a seguir. Dica: O lado direito
das igualdades dá uma pista das substituições u = g(x) e du = g ′(x)dx adequadas.
Z Z
1
i) tan(x) dx = − · (− sin(x)) dx,
cos(x)
Z Z
1
ii) cot(x) dx = · cos(x) dx,
sin(x)
Z Z Z
1 sin(x) −1
iii) sec(x) tan(x) dx := dx = · (− sin(x)) dx
cos(x) cos(x) cos2 (x)
Z Z
1 1 1
iv) dx = · dx.
ln(x) x ln(x) x
Exercı́cio 12.4. Prove que ∀n ∈ N:
Z 1 Z π
2 n
(1 − x ) dx = (sin(θ))2n+1 dθ.
−1 0
CAPı́TULO 26
Não háR uma solução para o problema de como integrar quocientes em geral; por
exemplo, sin(x)
x
dx não pode ser expressa em termos de funções elementares.
A questão que vamos respoder nesta Seção é a de como integrar
Z
p(x)
dx
q(x)
onde p(x), q(x) são polinômios.
A técnica geral para integrar essa funções racionais (quocientes de polinômios)
é conhecida como integração por frações parciais (ou frações simples, elementares,
como alguns chamam).
Procederemos por etapas, começando com casos simples.
Mais adiante, na Seção 4, daremos enunciados gerais.
R
1. (ax2 + bx + c)−1 dx
• iii) b2 − 4ac < 0, ou seja, ax2 + bx + c tem duas raı́zes complexas conjugadas
(não tem raı́zes Reais).
No caso i):
Faço u = x − x, du = dx e
Z Z
1 1
2
dx = dx =
ax + bx + c (x − x)2
Z
1 −1 1
= du = + C = + C.
u2 u x−x
No caso ii):
373
R
1. (AX 2 + BX + C)−1 DX 374
1 1 A B
= = + ,
ax2 + bx + c (x − x1 ) · (x − x2 ) x − x1 x − x2
Z Z
1 1
=A· du + B · dv,
u v
onde u = x − x1 e v = x − x2 e daqui chegamos em:
Z
1
dx = A · ln |x − x1 | + B · ln |x − x2 | + C.
(x − x1 ) · (x − x2 )
1 A B
= + ,
(x − x1 ) · (x − x2 ) x − x1 x − x2
B = −A e − Ax2 + Ax1 = 1,
No caso iii):
Primeiro faço, já que a 6= 0:
Z Z Z
1 1 1 1
dx = b c
dx = · dx.
ax2 + bx + c a · (x2 + a x + a ) a x2 + ab x + c
a
CAPÍTULO 26. INTEGRAÇÃO DE FUNÇÕES RACIONAIS 375
Agora escrevo1:
b c b b2 c
x2 + x + = (x + )2 − 2 + =
a a 2a 4a a
b 2 4ac − b2
= (x + ) + .
2a 4a2
Então
Z Z
1 1 1
2
dx = · b 2 4ac−b2
dx.
ax + bx + c a (x + 2a
) + 4a2
Agora faço a substituição:
b
u=x+ e du = dx.
2a
Então (já que 4ac − b2 > 0):
Z Z
1 1 1
b 2 4ac−b2
dx = 4ac−b2
du =
(x + 2a
) + 4a2
a u2 + 4a2
1 1 u
= ·q · arctan( q ) + C,
a 4ac−b2 4ac−b2
4a2 4a2
R αx+β
2. ax2 +bx+c
dx
e a mudança
b
u= x+ e du = dx
2a
produz:
Z b
1 α(u − 2a
)+β
· 4ac−b2
du =
a u2 + 4a2
Z Z
1 u α·b 1
= · [α · 4ac−b2
du + (β − )· 2 du] = .
a +u2 4a2
2a + 4ac−b
4a2
u2
A integral mais à direita já sabemos resolvê-la com a função arcotangente:
Z
1 1 x
4ac−b 2 du = q · arctan( q ) + C.
u2 + 4a2 4ac−b2 4ac−b2
4a2 4a2
Já Z Z
u 1 2u
4ac−b2
du = · 2 du
+ u2 4a2
2 u2 + 4ac−b
4a2
e aı́ reconhecemos uma derivada logarı́tmica; logo:
Z
1 2u 1 2 4ac − b2
· 2 du = · ln(u + )+C =
2 u2 + 4ac−b
4a2
2 4a2
1 b 4ac − b2
· ln((x + )2 +
= ) + C.
2 2a 4a2
Juntando esses resultados concluı́mos o resultado.
Já no caso ii) discutido antes, em que há duas raı́zes reais distintas x1 6= x2 , ou
seja: Z Z
αx + β αx + β
dx = dx,
axa + bx + c (x − x1 ) · (x − x2 )
vou tentar escrever:
αx + β A B
= + ,
(x − x1 ) · (x − x2 ) (x − x1 ) (x − x2 )
para A e B bem escolhidos, pois daı́ em diante saberemos fazer :
Z
A B
+ dx
(x − x1 ) (x − x2 )
usando o logaritmo natural. Como
A B (A + B) · x + (−Ax2 − Bx1 )
+ = ,
(x − x1 ) (x − x2 ) (x − x1 ) · (x − x2 )
preciso ter:
α =A+B e β = −Ax2 − Bx1 ,
CAPÍTULO 26. INTEGRAÇÃO DE FUNÇÕES RACIONAIS 377
que dão:
αx1 + β
A= e B = α − A.
x1 − x2
Resta o caso em que:
Z Z
αx + β αx + β
dx = dx,
axa + bx + c (x − x)2
que dá:
Z Z Z
αx + β x 1
dx = α · dx + β · dx =
(x − x)2 (x − x)2 (x − x)2
Z Z
1 x 1
=α· [ + ] dx + β · dx =
x − x (x − x)2 (x − x)2
1 1
= α · ln ||x − x|| − αx · −β· + C.
x−x x−x
R 1
3. Ax3 +Bx2 +Cx+D
dx
1
x
-1 -0,5 0 0,5 1
0
-1
-2
-3
-4
Gostarı́amos de escrever :
1 c1 c2 c3
= + +
(x − x1 )(x − x2 )(x − x3 ) x − x1 x − x1 x − x3
pois então integrarı́amos usando a primitiva ln | |.
Somamos
c1 c2 c3
+ + =
x − x1 x − x1 x − x3
(c1 + c2 + c3 ) x2 − (c1 (x2 + x3 ) + c2 (x1 + x3 ) + c3 (x1 + x2 )) x
= +
(x − x1 )(x − x2 )(x − x3 )
c1 x x + c2 x1 x3 + c3 x1 x2
+ 2 3
(x − x1 )(x − x2 )(x − x3 )
e igualo seu numerador a 1, obtendo um sistema de três equações:
c1 + c2 + c3 = 0, c1 (x2 + x3 ) + c2 (x1 + x3 ) + c3 (x1 + x2 ) = 0,
c1 x2 x3 + c2 x1 x3 + c3 x1 x2 = 1.
Da primeira posso pôr c3 em função dos outros, da segunda posso por c2 em função
de c1
c1 (x3 − x1 )
c3 = −(c1 + c2 ), c2 = − ,
(x3 − x2 )
e substituindo na terceira determinamos o c1 .
Caso iv):
Aqui temos
Ax3 + Bx2 + Cx + D = (x − x1 ) · (ax2 + bx + c),
onde ax2 + bx + c não tem raı́zes Reais, apenas raı́zes complexas (conjugadas). Se
conhecemos x1 , também conhecemos a, b, c por divisão de polinômios.
Portanto no que segue considero conhecidos esses coeficientes a, b, c.
Seremos otimistas tentando escrever3, para c1 , c2 , c3 adequados:
1 c1 c2 x + c3
2
= + 2 .
(x − x1 ) · (ax + bx + c) x − x1 ax + bx + c
3Note que ∀c1 , c2 :
1 c1 c2
6= + 2 ,
(x − x1 ) · (ax2 + bx + c) x − x1 ax + bx + c
4. FRAÇÕES PARCIAIS EM GERAL 380
Como
c1 c2 x + c3 (ac1 + c2 )x2 + (bc1 − c2 x1 + c3 )x + (c1 c − c3 x1 )
+ 2 = ,
x − x1 ax + bx + c (x − x1 )(ax2 + bx + c)
temos que resolver as equações:
ac1 + c2 = 0, bc1 − c2 x1 + c3 = 0 e c1 c − c3 x1 = 1.
A primeira me permite escrever c2 = −ac1 e a segunda dá
c3 = −bc1 + x1 c2 = −bc1 − x1 ac1 .
Ou seja c3 é função de c1 . Substituido c3 na terceira equação
c1 c − c3 x1 = 1,
esta vira uma equação de grau um em c1 e descobrimos o valor de c1 .
Achados os c1 , c2 , c3 basta calcular
Z
c2 x + c3
dx,
ax2 + bx + c
(o que aprendemos no inı́cio da Seção 2) para termos então finalmente:
Z Z
1 c2 x + c3
3 2
dx = c1 · ln |x − x1 | + dx.
Ax + Bx + Cx + D ax2 + bx + c
4. Frações parciais em geral
Então:
Z Z
1 1 1 1 1
2 2
dx = − 2
− · ( 2
− 2 ) dx =
(x + 1) 2x · (1 + x ) 2 x x +1
1 1 1
=− 2
+ + · arctan(x) + C =
2x · (1 + x ) 2x 2
1 1 x
= · arctan(x) + · 2 + C.
2 2 x +1
6. Exemplos
Vimos alguns exemplos dessa escritura nas Seções anteriores, onde também se vê
que Ai,j , Bi,j e Ci,j são soluções de sistemas de equações que surgem ao se comparar
os coeficientes de polinômios.
Z −1
√ x+ 1 Z √ x+ 1
−1
2 2 2 2 2 2
= √ dx + √ dx =
2
x − 2x + 1 2
x − 2x + 1
Agora o problema se reduz a saber resolver:
Z
x
√ dx,
x2 − 2x + 1
Z
1
√ dx,
x2 − 2x + 1
√
(analogamente para o caso em que o denominador é x2 + 2x + 1). A última
é fácil, pois:
Z Z
1 1
√ dx = √ dx =
2
x − 2x + 1 (x − 22 )2 + 21
Z
1
= du
u2 + 21
e sabemos fazer esta com a função arcotangente.
Já Z Z
x x
√ dx = √ dx =
x2 − 2x + 1 (x − 22 )2 + 21
6. EXEMPLOS 386
Z √
u + 22
= du
u2 + 21
√
onde novamente fizemos u = x − 22 .
Ora,
Z √ Z Z √
u + 22 u 2
2
du = du + du =
u2 + 21 u2 + 21 u2 + 21
Z √ Z
1 1 2 1
= dv + · du,
2 v 2 u + 21
2
1
onde
R v = u2 + 2
e essas últimas já sabemos fazer.
x+2
• x6 +2x4 +x2 dx
Temos
x+2 x+2
=
x6 + 2x4 + x2 x2 · (x2 + 1)2
e queremos encontrar a escritura:
x+2 A B Cx + D Ex + F
2 2 2
= + 2+ 2 + 2 .
x · (x + 1) x x x +1 (x + 1)2
Somo o lado direito e obtenho:
(A + C)x5 + (B + D)x4 + (2A + C + E)x3 + (2B + D + F )x2 + Ax + B
,
x2 · (x2 + 1)2
que, ao ser igualada ao esquerdo, dá:
A = 1, B = 2, C = −1, D = −2, E = −1 e F = −2.
Portanto:
Z Z
x+2 1 2 x+2 x+2
dx = [ + − − ] dx =
x6 + 2x4 + x2 x x2 x2 + 1 (x2 + 1)2
Z Z Z
1 2 2
= dx + dx − dx−
x x2 x2 + 1
Z Z Z
x x 2
− dx − dx − dx.
x2 + 1 (x2 + 1)2 (x2 + 1)2
Dessas seis integrais por fazer, as primeiras quatro têm primitivas conhecidas
(a menos de somar uma constante C):
Z Z
1 2 −2
dx = ln |x|, 2
dx = ,
x x x
Z Z
2 x 1
= dx = 2 arctan(x) e dx = · ln(x2 + 1).
x2 + 1 x2 + 1 2
A quinta se faz com a substituição u = x2 + 1, du = 2x dx:
Z Z
x 1 1 −1 1
2 2
dx = · 2
du = · 2 + C.
(x + 1) 2 u 2 x +1
CAPÍTULO 26. INTEGRAÇÃO DE FUNÇÕES RACIONAIS 387
A última é Z
2 x
dx = arctan(x) + + C,
(x2 + 1)2 (x2 + 1)
pelo que vimos bem no final da Seção 4, no caso n = 2.
7. Exercı́cios
Exercı́cio 7.1. Pelo método das frações parciais faça:
Z
x2 + 30
dx
x3 + 11x2 + 30x
e Z
x2 + 24
dx.
x3 + 10x2 + 24x
CAPı́TULO 27
Integrais impróprias
1
Vimos na Afirmação 6.1 do Capı́tulo 22 que a área sob o gráfico de y = x
à direita
de x = 1 é infinita, ou em outras palavras:
lim ln(x) = +∞.
n→+∞
Demonstração.
De i):
A área sob o gráfico de y = x−k , de a > 0 até um certo x, é pelo Segundo Teorema
Fundamental:
Z x
1 1
x−k dx = ( x−k+1 )(x) − ( x−k+1 )(a), onde k 6= 1.
a −k + 1 −k + 1
A área de toda a região à direita de a > 0 é:
1 1
lim [ ( x−k+1 )(x) − ( x−k+1 )(a)) ] =
x→+∞ −k + 1 −k + 1
1 1 1 k−1
= lim [ + a ]=
x→+∞ (−k + 1) xk−1 k−1
1 k−1
= a ,
k−1
onde na última igualdade usei que k > 1.
389
390
1
Para a = 1 obtenho k−1
.
De ii):
Vou dar duas demonstrações: uma calculatória, outra completamente geométrica.
Na primeira fazemos uma integral:
Z 1 Z a
− k1 1
(1 − x) dx := lim (1 − x)− k dx =
0 aր1 0
1 1
−(1 − x)− k +1 (1 − x)− k +1
= lim [ (a) + (0)] =
aր1 − k1 + 1 − k1 + 1
1 1
= =1+ .
− k1 +1 k−1
1
x= 1− .
yk
R1 1
Então 0 (1 − x)− k dx é a área do quadrado de lado 1 somada com a área da região
à direita de y = 1 que fica sob o gráfico de x = 1 − y1k . Mas essa área é k−1
1
pelo item
i).
A Figura é apenas uma ilustração disso, pois não consegui usar as mesmas escalas
nos eixos (o quadrado aparece como um retângulo, em verde):
2,5
1,5
1
0 0,2 0,4 0,6 0,8
x
CAPÍTULO 27. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS 391
1
Figura: Ilustração para x = 1 − y2
, y ∈ [1, +∞)
0,8
0,6
0,4
0,2
1 1,5 2 2,5 3
x
1
Figura: Ilustração para y = x2
, x ∈ [1, +∞).
i):
Z +∞
1
e−kx · dx =
0 k
ii): Suponha f : [0, +∞] → R contı́nua, f (x) ≥ 0 e que existam a, C, M > 0 tais
que
f (x) ≤ C · eax , ∀x ≥ M,
então existe a integral imprópria
Z +∞
e−kx f (x)dx
0
para qualquer k > a.
Demonstração.
Temos Z Z
+∞ +∞
−kx
e dx := lim e−kx dx =
0 b→+∞ 0
CAPÍTULO 27. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS 393
Z +∞
e−kb 1 1
= lim + )= . (
b→+∞ 0 −kb k k
Para a segunda afirmação, escrevo para k > a:
Z +∞ Z M Z +∞
−kx −kx
e f (x)dx = e f (x)dx + e−kx f (x)dx
0 0 M
RM −kx
onde a primeira integral 0 e f (x)dx existe pois o integrando é uma função contı́nua.
Precisamos ver se existe
Z b
e−(k−a)M −kx
lim C· e f (x)dx.
b→+∞ M (k − a)
Primeiro observo que Z b
lim e−kx f (x)dx
b→+∞ M
não cresce arbitrariamente.
Ora, usando as hipóteses:
Z b Z b
−kx
lim e f (x)dx ≤ C · lim e−kx eax dx
b→+∞ M b→+∞ M
Z b
= C · lim e−(k−a)x dx =
b→+∞ M
−(k−a)b −(k−a)M
e e e−(k−a)M
= C · lim ( + )=C· .
b→+∞ −(k − a) (k − a) (k − a)
Rb −kx
Como M
e f (x)dx é uma função crescente de b (pois e−kx f (x) ≥ 0), então:
Z b
e−(k−a)M
e−kx f (x)dx ≤ C · , ∀b ≥ M.
M (k − a)
Isso garante1 que existe Z b
lim e−kx f (x)dx.
b→+∞ M
implica que
xp 1
x
< 2,
e x
CAPÍTULO 27. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS 395
A integral de 0 até K existe pois p > 0. Mas para vermos que existe também a
integral
Z +∞
e−x xp dx
K
é quando x ց 0.
Faço, para 0 < a < J, a integração por partes:
Z J p+1 p+1 Z J
−x p −J J −a a xp+1
e x dx = e −e + e−x dx
a p+1 p+1 a p+1
e observo que agora
Z J p+1 p+1 Z J
−x p −J J −a a xp+1
e x dx = e − lim [e + e−x dx]
0 p + 1 aց0 p+1 a p+1
e esses limites existem pois 0 < p + 1.
Demonstração.
Com a substituição:
x := − ln(u) ou seja u = e−x , du = −e−x dx,
temos Z Z Z
1 0 +∞
n n −x
(− ln(u)) du = x (−e ) dx = xn e−x dx = n!
0 +∞ 0
onde na última igualdade usei a Afirmação 2.2.
4. Exercı́cios
x −x
Exercı́cio 4.1. Defina cosh(x) := e +e
2
, o cosseno hiperbólico.
Para a > 0 e k > a, mostre que a Transformada de Laplace:
Z +∞
e−kx cosh(ax)dx
0
k
vale k 2 −a2
.
Exercı́cio 4.2. Mostre que:
Z +∞
1
dx = +∞,
2 ln(x)
apesar de que
1
lim = 0.
x→+∞ ln(x)
CAPı́TULO 28
1. O comprimento de um gráfico
Considere o gráfico de uma função f : [a, b] → R. Gostarı́amos nesta Seção de
definir e calcular o comprimento desse gráfico.
Na prática imagine uma curva feita de um material não-elástico, como um arame,
que queremos desentortar e calcular seu comprimento.
Considere uma partição
a = t0 < t1 < . . . < tn = b
do domı́nio [a, b] e considere o comprimento da poligonal inscrita no gráfico de f
formada de n segmentos:
p p
pn := (t1 − t0 )2 + (f (t1 ) − f (t0 ))2 + . . . + (tn − tn−1 )2 + (f (tn ) − f (tn−1 ))2 .
Ou seja,
s s
f (t1 ) − f (t0 ) 2 f (tn ) − f (tn−1 ) 2
pn = 1+( ) · (t1 − t0 ) + . . . + 1+( ) · (tn − tn−1 ).
t1 − t0 tn − tn−1
Se usamos em cada sub-intervalo [ti−1 , ti ] da partição o Teorema do Valor Médio
de Lagrange, então:
f (ti ) − f (ti−1 )
= f ′ (ξi ), ξi ∈ (ti−1 , ti ).
ti − ti−1
Então
p p
pn = 1 + (f ′ (ξ1 ))2 · (t1 − t0 ) + . . . + 1 + (f ′(ξn ))2 · (tn − tn−1 ).
Refinando a partição esperamos estar inscrevendo uma poligonal cujo tamanho
cada vez mais aproxima o tamanho do gráfico de f . A passagem ao limite n → +∞,
com a norma da partição de [a, b] tendendo a zero, sugere que definamos
Definição 1.1. Suponha um gráfico de f : [a, b] → R, com f derivável e f ′ (x) uma
função contı́nua.
O comprimento do gráfico de (a, f (a)) até (b, f (b)) será definido pela integral
Z bp
1 + f ′ (x)2 dx.
a
A primeira coisa que vemos nessa Definição 1.1 é que provavelmente em muitos
casos não será fácil calcular esse comprimento, pois dará uma integral complicada (às
vezes irredutı́veis a funções elementares).
397
1. O COMPRIMENTO DE UM GRÁFICO 398
Mas como f ′ (x) é contı́nua se vê que de qualquer forma existe a integral que dá
o comprimento.
Exemplos:
• No caso y = f (x) = A · x + B uma reta, nossa definição é apenas o conteúdo
do teorema de Pitágoras:
Z bp √
1 + f ′ (x)2 dx = 1 + A2 · (b − a) =
a
p p
= (b − a)2 + (A(b − a))2 = (b − a)2 + (Ab + B − Aa − B))2 .
• No caso y = x2 já não é tão evidente quanto mede seu gráfico:
Z bp Z b√
′ 2
1 + f (x) dx = 1 + 4x2 dx.
a a
Faço:
u = 2x, e du = 2dx
e Z Z 2b √
b √ 1
1+ 4x2
dx = · 1 + u2 du.
a 2 2a
√
Uma primitiva de 1 + u2 é
u√ 1 √
1 + u2 + ln(u + 1 + u2 ).
2 2
Logo:
Z b√
1 2b √ 1 √
1 + 4x2 dx = · [ · 1 + 4b2 + ln(2b + 1 + 4b2 )−
a 2 2 2
2a √ 1 √
− · 1 + 4a2 − ln(2a + 1 + 4a2 )].
2 2
Para a = 0, b = 1 isso dá:
1 √ 1 √
· [ 5 + ln(2 + 5)] ∼ 1.478942857
2 2
√
• Como o segmento de reta de (0, 0) a (1, 1) mede 2 ∼ 1.414213562, e como
3
x2 < x 2 < x, se x ∈ [0, 1],
3
é natural que o comprimento do gráfico de y = x 2 de x = 0 até x = 1 seja
um valor entre 1.414213562 e 1.478942857.
De fato,
Z bp Z 1r
3 1
1 + f ′ (x)2 dx = 1 + ( x 2 )2 dx =
a 0 2
Z 1r
9
= 1 + x dx =
0 4
Z 13 3
4 4 √ 4 2 13 2
= · u du = · · [( ) − 1] ∼
9 1 9 3 4
CAPÍTULO 28. A CURVATURA DOS GRÁFICOS 399
∼ 1.439709873
m
• Note no exemplo anterior que, se tivéssemos tomado uma função do tipo x n
com (m, n) 6= (3, 2), não seria muito claro o que fazer. Cairı́amos na integral:
Z 1r
m2 m
1 + 2 · x2( n −1) dx
0 n
que não tem uma expressão através de funções conhecidas se (m, n) são escol-
hidos genéricamente. Veremos mais integrais intratáveis na Seção seguinte.
Solução:
Essa
√ curva associa √ a cada valor de x > 0√dois valores possı́veis de y, a saber:
y = x3 e y = − x3 . No ramo onde y = x3 estão localizados os pontos onde
a retas tangentes têm inclinação positiva. E como estamos buscando o ponto onde
a inclinação é 1 (pois queremos
√ 45 graus) podemos pensar que perto desse ponto a
curva é o gráfico de y = x . 3
Note que:
x(t0 + h) − x(t0 ) y(t0 + h) − y(t0 )
Γ′ (t0 ) := ( lim , lim ,)=
h→0 h h→0 h
1
= lim · [ (x(t0 + h), y(t0 + h)) − (x(t0 ), y(t0 ))],
h
h→0
Γ(t0 ) = (x(t0 ), y(t0 )), Γ(t0 + h) = (x(t0 + h), y(t0 + h)) e Γ(t0 + h) − Γ(t0 ).
Γ ( t_0 + h )
Γ ( t_0 )
_
Γ ( t_0 + h ) Γ ( t_0 )
1
A próxima ilustra a posição limite de h
· (Γ(t0 + h) − Γ(t0 )), ou seja, Γ′ (t0 ).
Γ ( t_0 )
Γ ( t_0 )
Γ ( t_0 ) + Γ ( t_0 )
Γ ( t_0 )
Γ ( t_0 )
satisfaz uma equação diferencial e depois que tem um desenvolvimento em série in-
finita, cujos truncamentos darão portanto aproximações do comprimento da elipse,
que é, pela sua simetria:
r
a2
= 4 · b · E( 1 − 2 ).
b
é natural denotarmos
ds p
= 1 + (f ′ (x))2 .
dx
Essa grandeza será chamada velocidade do gráfico no instante x.
Note que sempre
ds
>0
dx
o que diz o comprimento do gráfico sempre é uma função estritamente crescente. E
ademais, isso diz que existe uma função inversa: x = x(s). Logo dado um compri-
mento desde f (a) = A determino univocamente x e daı́ um único ponto no gráfico.
Portanto existe uma função bem definida P = P (s) que descreve os pontos do gráfico.
Para curvas parametrizadas
Γ : R → R2 , (x(t), y(t)), t ∈ [a, b]
seu comprimento foi definido por:
Z bp
s := (x′ (t)2 + (y ′ (t))2 dx.
a
0
-2 -1 0 1 2
x
Note que esta Definição 6.2 é realmente é uma estensão da Definição 6.1, pois
quando t = x, temos x′ (x) ≡ 1 e x′′ (x) ≡ 0.
2ǫ · x3
lim 3 = 0,
xց0 (x4 + ǫ2 ) 2
Para buscarmos mı́nimo de κ(x) a derivamos:
−6 ǫ · x2 · (x4 − ǫ2 )
κ′ (x) = ,
(x4 + ǫ2 )5/2
e vemos que:
√
κ′ (x) > 0 se 0 < x < ǫ,
√
κ′ (x) = 0 se x = ǫ,
√
κ′ (x) < 0 se ǫ<x
√
o que diz nitidamente que x = ǫ é o ponto de máximo de k(x). Que nele vale:
√
√ 2
κ( ǫ) = √ .
2 ǫ
2,5
1,5
0,5
0
0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4
x
1 √1
Figura: O gráfico de y = x
(vermelho), sua κ(x) (verde) e o valor y = 2
em azul
√
Quando ǫ → 0 o ponto x = ǫ tende a x = 0, assim como todo o gráfico de
y = fǫ (x) = xǫ tende à união de retas x · y = 0, pois:
y·x =ǫ
ao longo do gráfico de y = fǫ (x).
E pelo item iv) da Afirmação 7.1:
√
lim κ( ǫ) = +∞
ǫց0
CAPÍTULO 28. A CURVATURA DOS GRÁFICOS 407
Séries convergentes
P+∞ P+∞
iii) sejam i=1 ai e i=1 bi com
0 < ai ≤ bi , ∀i ∈ N.
P+∞ P
Se i=1 bi converge também +∞ a converge.
P+∞ P+∞ i=1 i
Se i=1 ai diverge então i=1 bi diverge.
Demonstração.
A prova dos itens i) e ii) se discute em cursos de Análise matemática. A prova
não dá nenhuma pista em geral dePquanto vale esse limite, apenas que existe.
Já iii) segue de i): de fato, se +∞ i=1 bi converge então em particular fica limitada,
por exemplo ≤ K.
Mas então sn := a1 + . . . + an é uma sequência crescente, pois ai > 0, e limitada,
já que
+∞
X
a1 + . . . + an ≤ bi ≤ K.
i=1
P
Logo converge +∞ i=1Pai por i).
Agora, quando +∞ i=1 ai diverge então sn := a1 + . . . + an forma uma sequência
de
P+∞ números de tamanho tão grande quanto quisermos (caso contrário i) diria que
i=1 ai converge). Mas então
b1 + . . . + bn ≥ a1 + . . . + an
também forma
P uma sequência de números de tamanho tão grande quanto quisermos.
Portanto +∞i=1 bi diverge.
CAPÍTULO 29. SÉRIES CONVERGENTES 411
Prova de iii):
Do item i) já temos que
1 − r n+1
xn = , ∀n ∈ N
1−r
e do item ii) temos limn→+∞ r n = 0. Com as propriedades de limites de somas/produtos
obtemos:
1 − limn→+∞ r n 1
lim xn = = .
n→+∞ 1−r 1−r
Demonstração.
ai+1
No caso 1 > L := limi→+∞ ai
tomamos
1−L
ǫ := >0
2
e podemos supor, a partir de um certo i0 que
ai+1
∈ (−ǫ + L, L + ǫ), ∀i ≥ i0 ,
ai
ou seja,
ai+1
< r < 1 ∀i ≥ i0 .
ai
Então
ai0 +1 < r · ai0 , ai0 +2 < r · ai0 +1 < r 2 ai0
etc até que
ai0 +j < r j · ai0 , ∀j ∈ N.
P P+∞ j
Mas a série +∞i=1 r j
· ai 0 = ai 0 · i=1 r é uma série geométrica convergente, pois
r < 1. Então pelo item iii) do Teorema 1.1 a série
+∞
X
ai0 +j
j=1
converge.
No caso L > 1 se lida com a desigualdade
ai+1
1<r< , ∀i ≥ i0
ai
e analogamente o item iii) do Teorema 1.1 dará agora que
+∞
X
ai
i=1
diverge.
4. UM ARGUMENTO GEOMÉTRICO PARA A SÉRIE GEOMÉTRICA 414
Neste Capı́tulo mostro que o cálculo permite, através da iteração das operações
elementares +, −, /, x, obter aproximações com a precisão que se quiser de:
• funções fundamentais como arctan(x), ln(x), etc
√
• números como p (p primo), π, e = exp(1).
Ou seja, o Cálculo transforma a gente num McGiver , aquele personagem que
quase sem nenhum instrumento fabricava aparelhos incrı́veis em suas missões. Nós
só com as quatro operações faremos tudo (e aı́ a gente entende um pouco do que
acontece quando se usa uma calculadora cientı́fica ...).
Pensando bem, é curiosa a nomenclatura números Reais, pois esses números não
estão próximos da nossa realidade nem são dados de forma natural. Quem aparece no
dia-a-dia são os Naturais, os Inteiros e os Racionais, esses sim presentes nas operações
matemáticas mais simples do dia a dia.
Quando falamos números Reais estamos nos referindo a um conjunto de números
muito maior que o conjunto dos números Racionais (isso s eprova nos cursos de
Análise
√ Matemática). Apesar de que só saibamos citar um ou outro exemplo decor :
2, π, etc.
De fato quando Arquimedes se refere a π no seu trabalho A medida do cı́rculo,
ele o define como quociente entre o perı́metro e o diâmetro de um cı́rculo. Ele não
prova que π ∈ / Q, mas por outro lado dá um método para aproximá-lo tanto quanto
se quiser por números racionais. E seu método, √ que é geométrico, usa em certos
momentos aproximações de números como 3 por números Racionais.
Essa é uma visão muito interessante (como todas as do gênio Arquimedes) de que
números Reais são limites de sequências de números Racionais. Um ponto de vista
bastante útil e prático para as aplicações da matemática e ao mesmo tempo um ponto
de vista que, convenientemente adaptado produz um construção lógica dos Reais (um
pouco mais adiante volto nisto).
Que tal √
primeiro nos convercermos de que existem números Irracionais, por ex-
emplo, que 2 ∈ /Q? √
Suponha por absurdo que sim 2 = pq , onde p, q ∈ N com mdc(p, q) = 1 (máximo
√
divisor comum é um). Ou seja, uso por ex. por absurdo 2 = 1/3 ao invés de 2/6.
415
3. COMO TIRAR RAÍZ QUADRADA SÓ COM +, −, ×, / 416
2
Mas então obtenho: 2 = pq2 e portanto: 2 · q 2 = p2 . O número Natural p se escreve
como um produto de números primos, e nesse produto o fator 2 aparece um c k ≥ 0
de vezes. Por ex. no 12 = 22 · 3 o fator 2 aparece k = 2 vezes. Mas em p2 há 2k
fatores 2 e 2k é sempre um número Par. Por outro lado p2 = 2 · q 2 e na decomposiçao
do número 2 · q 2 em primos, o √ fator 2 aparece um número Ímpar de vezes. Essa
contradição surgiu de supor que 2 é racional. √
Se olharmos bem o argumento que demos para convencernos √ que 2∈
/ Q, notamos
que serviria para provar que qualquer número primo P tem P ∈ / Q.
√ √
Em particular, se A for um número Irracional como por exemplo 2 e se x for
Racional, então estamos dando um método para aproximar o número irracional pelos
números Racionais
1 A
xn := · (xn−1 + ).
2 xn−1
Demonstração.
Para começarmos a prova da Afirmação 3.1, argumentaremos através de uma
analogia.2
1Uma afirmação mais forte - e verdadeira - é de que de fato a sequência definida recursivamente
tem um limite L e esse limite é um número positivo.
2Rigorosamente trata-se de argumentar com uma subsequência da sequência toda
CAPÍTULO 30. APROXIMAÇÃO DE NÚMEROS E FUNÇÕES IMPORTANTES
417
Imagine uma fila de pessoas e que a fila se move para algum lugar. Então vemos
elemento n-ésimo caminhando em direção a esse lugar e o elemento (n − 1)-ésimo que
o segue para lá. Isso quer dizer em linguagem do dia a dia que:
Como sabemos, não se pode ver um buraco negro, pelo motivo de que ele atrai
até mesmo os raios de luz. Então como os astrônomos podem estar tão seguros de
que existem esses misteriosos objetos?
O que eles vêem são estrelas sendo sugadas para um certa região, onde se acumu-
lam milhares de estrelas, apertando-se cada vez mais numa pequena região do espaço.
Daı́ deduzem que ali há um buraco negro.
Voltando ao nosso tema, se um sequência de números xn tende a um número L,
então os seus termos vão se aproximando entre si :
Afirmação 4.1. Suponha limn→+∞ xn = L. Então dado ǫ > 0 existe um nǫ tal que
∀n1 ≥ nǫ e ∀n2 ≥ nǫ , |xn1 − xn2 | < ǫ.
Demonstração.
Pela definiçao de limn→+∞ xn = L, dado ǫ > 0, existe nǫ tal que ∀n ≥ nǫ temos
|xn − L| < 2ǫ .
Então ∀n1 , n2 ≥ nǫ temos (pela desigualdade triangular):
|xn1 − xn2 | = |xn1 − L + L − xn2 | ≤
ǫ ǫ
≤ |xn1 − L| + |xn2 − L| < + = ǫ.
2 2
Aplicando exponencial:
exp(1) = exp(ln(L)) = L,
ou seja concluı́mos que xn := (1 + n1 )n é uma sequência de Racionais tendendo ao e.
Vamos dar agora uma prova de que a sequência xn := (1 + n1 )n converge para um
número entre 2 e 3:
Afirmação 5.1. A sequência xn := (1 + n1 )n tem
1
lim (1 + )n = L, com 2 < L < 3.
n→+∞ n
Demonstração.
Basta verificar que que essa sequência é limitada superiormentemente por um
número menor que 3. Pois como é nitidamente crescente e x1 = 2, o Teorema 1.1
garantirá que ela converge.
Começo escrevendo pela fórmula do binômio:
n
1 n X n 1 j
(1 + ) = ( ) =
n j=0
j n
1 n(n − 1) 1 1
=1+n· + 2
+ ... + n.
n 2! n n
Agora vamos escrever essa soma de um jeito adequado ao que segue:
1
(1 + )n =
n
1 n(n − 1) 1 n(n − 1)(n − 2) . . . 2 1
=1+n· + 2
+ ...+ =
n 2! n n! nn
1 1 1 1 2 n−2
= 1 + 1 + (1 − ) + . . . + (1 − )(1 − ) . . . (1 − ).
2! n n! n n n
Agora vamos dar quotas superiores para cada parcela desta soma, obtendo:
1 1 1 1 2 n−2
1 + 1 + (1 − ) + . . . + (1 − )(1 − ) . . . (1 − )<
2! n n! n n n
1 1
< 1 + 1 + + ...+ .
2! n!
Para darmos novas cotas superiores a essa soma lembro um Exercı́cio de Indução:
n! ≥ 2n−1 ∀n ∈ N.
Então
1 1 1 1
1+1+ + ...+ ≤ 1 + 1 + . . . + n−1 .
2! n! 2 2
ou seja, que (1 + n1 )n é sempre estritamente menor que
1 1
1+1+ . . . + n−1 .
2 2
É nı́tido que esta última soma é o resultado de adicionar 1 a um pedaço da série
geométrica infinita:
1 1
1 + . . . + n−1 + . . . ,
2 2
CAPÍTULO 30. APROXIMAÇÃO DE NÚMEROS E FUNÇÕES IMPORTANTES
421
x120 = 2.707041491.
Se pode provar que a sequência x′n := 1 + 1/1! + 1/2! + . . . + 1/n! também tende
para e = exp(1).
Fiz as contas de n = 1 até n = 12 e já aqui o computador diz que cheguei no
limite, ou seja o erro entre e = exp(1) e x′12 está na décima-primeira casa decimal:
6. Arcotangente e cartografia
Nos mapas as curvas de nı́vel dão a informação de quanto variou a coordenada
vertical ∆y entre dois pontos e a escala do mapa te dá informação da variação da
coordenada horizontal ∆x.
∆y
Logo se obtém um valor tan(α) = ∆x e torna-se relevante calcular arctan(α).
Logo é importante sabermos calcular o arcotangente com a precisão que quisermos.
Mas o que a calculadora cientı́fica de fato faz, quando calcula essa função ?
E se eu tiver apenas uma calculadora que faz as 4 operações, será que consigo
calcular arctan(α) com a precisão que quiser ?
6. ARCOTANGENTE E CARTOGRAFIA 422
Vou explicar o que fazer, para dar o arctan(x) pelo menos para x ∈ (−1, 1), com
a ordem de precisão que se quiser, ou seja, com quantas casas quisermos depois da
vı́rgula, apenas fazendo repetidamente as 4 operações +, −, /, x.
Primeiro começo lembrando da fórmula (Seção 5 do Capı́tulo 16 ):
1
arctan′ (x) = , ∀x ∈ R.
1 + x2
Escrevendo:
1 1
2
= ,
1+x 1 − (−x2 )
podemos usar a Afirmação 2.1 na região x ∈ (−1, 1):
1
= 1 − x2 + x4 − x6 + . . . se |x| < 1.
1 + x2
Sabemos pelo Primeiro Teorema Fundamental que:
Z x
1
2
dt = arctan(x) − arctan(0) = arctan(x).
0 1+t
Agora vamos ser otimistas 3: vamos imaginar que podemos usar a propriedade
Z x Z x Z x
(f + g) dt = f dt + g dt
a a a
não apenas para a soma de duas funções f + g mas para a soma de uma infinidade
de funções.
Ou seja, com otimismo, asssumo que a integral de uma soma infinita de funções
é a soma infinita de integrais. Esse otimismo nos permitiria escrever:
Z x
x3 x5 x7
(1 − t2 + t4 − t6 + . . .) dt = x − + − + . . . , se |x| < 1.
0 3 5 7
O fascinante é que sim, podemos fazer isso ! pelo menos nessa situação especı́fica...
Ou seja, igualando o lado esquerdo com o direito:
x3 x5 x7
arctan(x) = x − + − + ..., se |x| < 1.
3 5 7
E é isso que a calculadora faz: ela trunca a soma
x3 x5 x7
x−
+ − + . . . , se |x| < 1
3 5 7
num grau suficientemente alto para termos a precisão desejada do arctan(x). E fazer
somas e produtos como os que aparecem em
x3 x5 x7
x− + − + . . . , se |x| < 1
3 5 7
é fácil para uma calculadora !
As Figuras a seguir comparam o gráfico real de arctan : (−1, 1) → R com os
3
gráficos dos truncamentos y = x : (−1, 1) → R, y = x − x3 : (−1, 1) → R e
3 5
x − x3 + x5 : (−1, 1) → R.
3Justificado na Afirmação 2.1 do Capı́tulo 31
CAPÍTULO 30. APROXIMAÇÃO DE NÚMEROS E FUNÇÕES IMPORTANTES
423
0,5
0
-0,8 -0,4 0 0,4 0,8
x
-0,5
-1
0,8
0,4
0
-0,8 -0,4 0 0,4 0,8
x
-0,4
-0,8
x3
Figura: O gráfico de y = arctan(x) (vermelho) e y = x − 3
(verde) para x ∈ [−0.99, 0.99].
0,8
0,4
0
-0,8 -0,4 0 0,4 0,8
x
-0,4
-0,8
x3 x5
Figura: O gráfico de y = arctan(x) (vermelho) e y = x − 3
+ 5
(verde)
para x ∈ [−0.99, 0.99].
de onde:
1 1 1
π = 4(1 − + − + . . .).
3 5 7
.
Essa aproximação de π, apesar de bonita, é lenta e é feita por falta e excesso, de
modo oscilante: de fato as somas parciais de ordem ı́mpar da soma são maiores que
π e decrescem:
1 1
s1 := 4 · 1 = 4, s3 := 4(1 − + ) = 3.466666667,
3 5
1 1 1 1
s5 = 4(1 −+ − + ) = 3.339682540, . . .
3 5 7 9
enquantos as somas parciais de ordem par são menores que π e crescem:
1 1 1 1
s2 := 4(1 − ) = 2.666666667, s4 := 4(1 − + − ) = 2.895238095,
3 3 5 7
1 1 1 1 1
s6 := 4(1 − + − + − ) = 2.976046176, . . .
3 5 7 9 11
Queremos provar que uma fila sn vai toda para algum lugar determinando quando
n cresce. Se mostro que as posições pares s2n a fila vão para o lugar L e se mostro
que as posições ı́mpares s2n+1 também vão para esse lugar L, então a fila toda vai.
É isso que queremos verificar, pois queremos mostrar que para
1 1 1
sn := 4(1 − + + . . . + (−1)n )
3 5 2n − 1
existe
lim sn = L.
n→+∞
8. Aproximações de logaritmos
Se |x| < 1 então 1 + x > 0 e posso tomar ln(1 + x). Pela regra da composta:
1
ln(1 + x) ′ = .
1+x
Agora escrevo:
1 1
=
1+x 1 − (−x)
e uso a Afirmação 2.1 para x ∈ (−1, 1):
1
= 1 − x + x2 − x3 + . . . , se |x| < 1.
1 − (−x)
O Teorema Fundamental do Cálculo dá:
Z x
1
dt = ln(1 + x) − ln(1 + 0) = ln(1 + x)
0 1+t
Vamos ser novamente otimistas novamente e supor que a integral de uma soma infinita
é uma soma infinita de integrais4, obtendo então:
Z x
x2 x3 x4
ln(1 + x) = (1 − t + t2 − t3 + . . .) dt = x − + − . . . , |x| < 1.
0 2 3 4
1
x
-0,8 -0,4 0 0,4 0,8
0
-1
-2
-3
-4
x
-0,8 -0,4 0 0,4 0,8
0
-1
-2
-3
-4
x2
Figura: O gráfico de y = ln(1 + x) (vermelho) e y = x − 2
(verde)
para x ∈ [−0.99, 0.99].
x
-0,8 -0,4 0 0,4 0,8
0
-1
-2
-3
-4
x2 x3
Figura: O gráfico de y = ln(1 + x) (vermelho) e y = x − 2
+ 3
(verde)
e se formos otimistas trocaremos a integral de uma soma infinita pela soma de infinitas
integrais (ver Afirmação 2.1 do Capı́tulo 31):
Z x
x2 x3
ln(1 − x) = (−1 − t − t2 − t3 − . . .) dt = −x − − ... |x| < 1.
0 2 3
1+x
z= , com |x| < 1.
1−x
Demonstração.
Dado z > 0 quero resolver em x a equação:
1+x
= z.
1−x
1+x
ln(z) = ln( ) = ln(1 + x) − ln(1 − x) z > 0, |x| < 1
1−x
x2 x3 x4 x2 x3
ln(z) = (x − + − . . .) − (−x − − . . .), |x| < 1.
2 3 4 2 3
x3 x5 z−1
ln(z) = 2(x + + + . . .), onde z > 0, x= , |x| < 1
3 5 z+1
11. EXERCÍCIOS 428
0
10 20 30 40 50
z
1. Séries numéricas
Um série infinita é uma soma infinita:
x1 + x2 + x3 + . . .
O sentido preciso dos três pontinhos é o seguinte: considere uma soma parcial de orde
n:
sn := x1 + x2 + . . . + xn .
Quando cresce o n os números sn forma eles mesmos uma sequência infinta (sn )n .
Então
x1 + x2 + x3 + . . . := lim sn ,
n→+∞
que pode existir ou não.
A Afirmação a seguir justifica alguns dos truques usados nas Seções anteriores:
Afirmação
P 1.1. P+∞
i) Se +∞i=1 xi converge e C ∈ R então i=1 C · xi também converge e
+∞
X +∞
X
C · xi = C · xi .
i=1 i=1
P P
ii) Se +∞
i=1 xi e +∞ yi são duas séries convergentes então também convergem
i=1P
P
as séries +∞
i=1 (xi + y i ) e +∞
i=1 (xi − yi ) e ademais:
+∞
X +∞
X +∞
X
(xi + yi ) = xi + yi ,
i=1 i=1 i=1
+∞
X +∞
X +∞
X
(xi − yi ) = xi − yi .
i=1 i=1 i=1
429
1. SÉRIES NUMÉRICAS 430
P
iii) Sejam xi > 0 e yi > 0. Se xi ≤ yi ∀i ∈ N e se +∞ i=1 yi converge então também
P+∞
coverge i=1 xi converge
P P+∞
iv) Se +∞i=1 |xi | converge então i=1 xi . A recı́proca não é verdadeira.
Demonstração.
P +∞
De i): Como i=1 xi converge, então existe
n
X
lim sn = L, onde sn := xi .
n→+∞
i=1
e portanto
+∞
X
lim C · sn = C · xi ,
n→+∞
i=1
como querı́amos.
De ii): P P
Denoto por sxn := ni=1 xi e syn := ni=1 yi . Temos por hipótese que existem
lim sxn = L1 e lim syn = L2 .
n→+∞ n→+∞
2. Séries de potências
Agora precisamos justificar que, sob certas condições, a integral de uma soma
infinita é a soma infinita de integrais. Por exemplo, o otimismo:
Z x
x2 x3
(−1 − t − t2 − t3 − . . .) dt = −x − − . . . |x| < 1,
0 2 3
que podemos reescrever, se preferirmos, numa nova notação:
Z xX+∞ +∞ Z x
X
i
−t dt = −ti dt =
0 i=0 i=0 0
+∞
X −xi+1
= , |x| < 1.
i=0
i+1
Esta última expressão é uma série infinita, mas que depende de cada x com |x| < 1
para dar um valor determinado.
Por isso se chama série infinita de funções, e pode ser pensada como uma fábrica
de séries de números, pois:
+∞
X −xi+1
x 7−→ ∈ R,
i=0
i+1
desde que |x| < 1.
Esse é só um exemplo, em geral uma série infinita de funções é algo do tipo:
+∞
X
fi (x)
i=0
e o principal problema é saber para quais x as séries numéricas
+∞
X
x 7−→ fi (x)
i=0
convergem.
No que segue nos limitaremos apenas a funções
fi (x) = ai xi
onde ai são números (chamadas séries de potências).
P
Afirmação 2.1. Suponha uma série de funções +∞ i
i=1 ai t tal que para um certo t =
x > 0 convirja a série numérica:
X+∞
|ai ||xi |.
i=1
Então:
• convergem também as séries
+∞
X +∞
X
i
|ai t | e ai ti , ∀t ∈ [−x, x].
i=1 i=1
2. SÉRIES DE POTÊNCIAS 432
• A função
+∞
X
f : [−x, x] → R, f (t) := ai ti
i=1
é integrável e
Z x X +∞ +∞ Z x +∞
i
X
i
X ai i+1
ai t dt = ai t dt = x .
0 i=1 i=1 0 i=1
i+1
Demonstração.
Temos para |t| ≤ x:
+∞
X +∞
X +∞
X
i i
|ai t | = |ai ||t | ≤ |ai |xi |
i=1 i=1 i=1
ou seja que
Z x n Z
X x
f (t) dt = lim ai ti dt,
0 n→+∞ 0
i=1
ou ainda (já que integral de soma finita é a soma finita de integrais) que
Z x Z x Xn
f (t) dt = lim ( ai ti ) dt.
0 n→+∞ 0 i=1
se faz tão pequeno quanto quisermos, se n cresce o suficiente. Posso tomar n tal que
+∞
X ǫ
|ai ||xi | < , onde x > 0.
i=n+1
x
Em conclusão: Z Z n
x x X
| f (t) dt − ( ai ti ) dt | ≤
0 0 i=1
Z +∞
x X
≤ |ai ||xi | dt ≤
0 i=n+1
Z x
ǫ ǫ
dt = · x = ǫ,
≤
0 x x
se n cresce o suficiente. Era o que querı́amos demonstrar.
3. SÉRIES DE TAYLOR E OS RESTOS DE LAGRANGE, CAUCHY E
INTEGRAL 434
Para usar a Afirmação anterior é preciso ter uma idéia de qual x tomar. Esse
intervalo
[−x, x]
onde a série converge é chamado de intervalo de convergência.
Para determinar x, para cada t faça1:
|ai+1 | · |t|i+1 |ai+1 | |ai+1 |
L(t) := lim i
= lim · |t| = |t| · lim
i→+∞ |ai | · |t| i→+∞ |ai | i→+∞ |ai |
e imponha que:
L(t) < 1.
P+∞ −i i
Por exemplo, para i=1 (i + 2 ) · t temos:
|ai+1 | |i + 2−i + 1 + 2−1 |
L(t) := |t| · lim = |t| · lim =
i→+∞ |ai | i→+∞ |i + 2−i |
1 + 2−1
= |t| · lim 1 + = |t|.
i→+∞ i + 2−i
Portanto uma escolha
0<x<1
P+∞ −i i
garante que a série i=1 (i + 2 ) · t converge ∀t ∈ [−x, x].
A seguinte Afirmação mostra em que medida f (x) é aproximada por seu polinômio
de Taylor. Há três modos de expressar a diferença entre f e seu polinômio de Taylor,
cada um com sua utilidade.
Afirmação 3.1. (Restos da expansão de Taylor)
Suponha que f tem derivadas de todas as ordens.
Nos itens a seguir trato do caso a < x, mas as conclusões são análogas se x < a,
agora com x < x < a.
ii): (Resto de Lagrange) Existe pelo menos um ponto x ∈ (a, x) tal que
f (n+1) (x)
f (x) = pn,f,a + · (x − a)n+1 .
(n + 1)!
1Háversões mais gerais em que nem precisamos que exista esse limite, mas por enquanto ficamos
com esta.
CAPÍTULO 31. SÉRIES NUMÉRICAS E DE FUNÇÕES 435
iii): (Resto de Cauchy) Existe pelo menos um ponto x ∈ (a, x) tal que
f (n+1) (x)
f (x) = pn,f,a + · (x − x)n · (x − a).
n!
iv): (Resto Integral):
Z x (n+1)
f (t)
f (x) = pn,f,a + · (x − t)n dt.
a n!
Demonstração.
De i):
Note que da definição pf,n,a (a) = f (a), (pf,n,a )′ (a) = f ′ (a) e assim, sucessivamente,
que
(pf,n,a )(i) (a) = f (i) (a), i = 0, . . . , n.
Por outro lado se
q(x) = a0 + a1 x + . . . + an xn
então q(a) = f (a) implica que a0 = f (a); q ′ (a) = f ′ (a) implica que a1 = f ′ (a);
q ′′ (a) = f ′′ (a) implica que
2 · a2 = f ′′ (a),
f ′′ (a)
ou seja, a2 = 2
e assim sucessivamente até
f (n)
an = .
n!
De ii)
Fixados a e x, considere2 a seguinte função de t:
φ : [a, x] → R,
f ′′ f (n)
(t) · (x − t)2 + . . . +
φ(t) := f (x) − [ f (t) + f ′ (t) · (x − t) + (t) · (x − t)n ].
2! n!
Temos claramente φ(x) = 0, mas em geral
φ(a) 6= 0
já que
φ(a) := f (x) − pn,f,a .
Se acontece que φ(a) = 0 então o Teorema de Rolle diz que existe x ∈ (a, x) com
φ′ (x) = 0. Mas
f ′′′ f ′′
φ′ (t) = −f ′ (t) − f ′′ (t) · (x − t) + f ′ (t) − (t) · (x − t)2 + 2 (t) · (x − t) + . . . +
2! 2!
(n+1) (n)
f f
− (t) · (x − t)n + n · (t) · (x − t)n−1 .
n! n!
Note como os termos aparecem repetidos, mas com sinais opostos. Portanto após
cancelamentos:
f (n+1)
φ′ (t) = − (t) · (x − t)n .
n!
2Se fosse x < a a função φ(t) seria definida do mesmo jeito, no domı́nio [x, a]
3. SÉRIES DE TAYLOR E OS RESTOS DE LAGRANGE, CAUCHY E
INTEGRAL 436
De iii):
Defina φ(t) como no item ii), para a qual sabemos que:
f (n+1)
(t) · (x − t)n .
φ′ (t) = −
n!
Agora aplique o Teorema do Valor Médio para ter algum x ∈ (a, x) tal que:
φ(x) − φ(a) ′ f (n+1)
= φ (x) = − (x) · (x − x)n .
x−a n!
Como φ(x) = 0 sempre obtemos
φ(a) f (n+1)
= (x) · (x − x)n
x−a n!
e portanto:
f (n+1)
φ(a) = (x) · (x − x)n · (x − a).
n!
Ora, φ(a) = f (x) − pn,f,a .
CAPÍTULO 31. SÉRIES NUMÉRICAS E DE FUNÇÕES 437
De iv):
Fazendo como no item i), temos
f (n+1)
φ′ (t) = − (t) · (x − t)n
n!
e o Teorema Fundamental do Cálculo dá:
Z x
f (n+1)
φ(x) − φ(a) = − (t) · (x − t)n dt.
a n!
Como φ(x) = 0, isso dá:
Z x
f (n+1)
φ(a) = f (x) − pn,f,a = (t) · (x − t)n dt.
a n!
Exemplos:
• Na Seção 6 vimos que
x3 x5 x7
arctan(x) = x − + − + . . . , se |x| < 1,
3 5 7
ou seja, de uma função que é igual à sua série de Taylor em a = 0, pois como
o leitor pode verificar:
(arctan(x))′ (0) = 1, (arctan(x))′′ (0) = 0, (arctan(x))′′′ (0) = −2,
(arctan(x))(4) (0) = 0, (arctan(x))(5) (0) = 24
etc. Ademais, naquela Seção plotamos alguns polinômios de Taylor dessa
função.
• Na Seção 8 vimos
x2 x3 x4
ln(1 + x) = x − + − ..., |x| < 1,
2 3 4
3. SÉRIES DE TAYLOR E OS RESTOS DE LAGRANGE, CAUCHY E
INTEGRAL 438
função que é igual sua série de Taylor em a = 0, pois como o leitor pode
verificar:
(ln(1 + x))′ (0) = 1, (ln(1 + x))′′ (0) = −1, (ln(1 + x))′′′ (0) = 2, (ln(1 + x))(4) (0) = −6,
etc. Também naquela Seção plotamos alguns polinômios de Taylor dessa
função.
• Como sin(0) = 0, sin′ (0) = cos(0) = 1, sin′′ (0) = − sin(0) = 0, sin′′′ (0) =
− cos(0) = −1 e em geral:
Logo
+∞
X (−1)i
sin(x) = · x2i+1 , ∀x ∈ R.
i=0
(2i + 1)!
• De modo completamente análogo se obtém
+∞
X (−1)i
cos(x) = · x2i , ∀x ∈ R.
i=0
2i!
Mas não está nada claro que essa série coincida com (1+x)r . Claro que se (1+x)r
tem um desenvolvimento em série infinita, então é esse. Mas falta ver que há esse
desenvolvimento.
Afirmação 4.1. Se r 6∈ N e se −1 < x < 1, então vale o desenvolvimento em série
infinita:
+∞
r
X r
(1 + x) = · xn ,
n=0
n
onde
r r · (r − 1) . . . (r − (n − 1))
:= .
n n!
Demonstração.
Nesse caso, se usássemos a mesma idéia do caso anterior, não saberı́amos o que
fazer na última etapa, pois agora:
1
> 1,
1+x
já que x < x < 0.
CAPÍTULO 31. SÉRIES NUMÉRICAS E DE FUNÇÕES 441
Precisei de uma dica do M. Spivak, Calculus, p. 675, para terminar esta prova. A
dica é combinar o o Lema 4.1 a seguir com o Resto de Cauchy (item iii da Afirmação
3.1).
Do seguinte modo. Tomo o resto de Cauchy:
f (k+1) (x)
· (x − x)k · x.
k!
Escrevo:
f (k+1) (x) r r−k−1 r−1
= (k + 1) · · (1 + x) =r· · (1 + x)r−k−1 ,
k! k+1 k
onde as igualdades sobre os sı́mbolos são fáceis de conferir.
Portanto:
f (k+1) (x) k r−1
| · (x − x) · x| = |r · · (1 + x)r−k−1 · (x − x)k · x| =
k! k
r−1 x−x k
= |r · ·( ) · (1 + x)r−1 · x| ≤
k 1+x
r−1
≤ |r · | · |x|k · M · |x|,
k
onde na desigualdade usei o Lema 4.1 a seguir.
O caso já justificado (0 < x < 1) nos deu pelo menos que:
r−1
lim | · xk | = 0, se |x| < 1.
k→+∞ k
Portanto:
r−1
lim |r · | · |x|k · M · |x| = 0
k→+∞ k
e o resto de Cauchy tende a zero.
Se r − 1 < 0 a função
ψ : [x, 0] → R>0 , ψ(x) := (1 + x)r−1
é decrescente, portanto seu máximo é ψ(x) = (1 + x)r−1 .
Por isso M := max{1, (1 + x)r−1 }.
Agora noto que:
(1 − xx )
0≤ ,
1+x
pois 0 < 1 + x e x ≤ x.
Para provar a segunda afirmação basta mostrar que:
(1 − xx )
≤1
1+x
pois o resto sai imediatamente.
Mas essa desigualdade é o mesmo que
x
1 − ≤ 1 + x,
x
já que 0 < 1 + x. E de fato:
x
− ≤ x ⇔ x · (x + 1) ≤ 0,
x
o que é verdade.
f (x) = f ′ (x) = 0
significa:
ax2 + bx + c = 0 e 2ax + b = 0.
−b
Da segunda equação temos x = 2a
e substituindo na primeira obtemos:
ab2 b2 b2 − 4ac
0= − + c =
4a2 2a 4a2
ou seja, obtemos que onde há raı́z dupla x é onde há a anulação do discriminante:
b2 − 4ac = 0.
f (x) = x3 + a1 x2 + a2 x + a3 , ai ∈ R.
20
10
x
-3 -2 -1 0 1 2
0
-10
-20
Demonstração.
Primeiro provemos que 4b3 + 27a2 = 0 é condição necessária para a existência de
raı́z múltipla.
Analisar as raı́zes Reais múltiplas de f (x) = x3 + bx + a é analisar x onde
f (x) = f ′ (x) = 0,
o que significa resolver o sistema:
x3 + bx + a = 0 3x2 + b = 0.
A segunda
b = −3x2
e substituindo na primeira obtemos:
−2x3 + a = 0
ou seja
a = 2x3 .
Então
b3 = −27x6 e a2 = 4x6
ou seja, que temos a anulação do seguinte discriminante:
4b3 + 27a2 = 0.
Agora vamos ver que a condição
4b3 + 27a2 = 0
nos permite encontrar as raı́zes de f (x) = x3 + bx + a e ainda determinar qual é a
raı́z múltipla.
Começo com a fórmula do binômio:
(v + u)3 = v 3 + 3v 2 u + 3vu2 + u3 =
= v 3 + u3 + 3uv(u + v).
Portanto posso escrever a identidade:
(v + u)3 − 3uv(v + u) − (u3 + v 3 ) ≡ 0.
Pensemos por um momento em x = v + u e busquemos v, u satisfazendo:
−3uv = b, e − (u3 + v 3 ) = a.
Se conseguimos estas duas últimas condições então
(v + u)3 − 3uv(v + u) − (u3 + v 3 ) ≡ 0
diria que x = v + u seria raı́z de
x3 + bx + a = 0.
Ora, a primeira condição:
−3uv = b,
dá (supondo u 6= 0)
−b
v=
3u
1. PREPARAÇÃO PARA A FÓRMULA DE CARDANO 448
Retomemos a prova da Afirmação 1.1 desde o começo, com a notação que lá
introduzimos, até o ponto em que obtivemos:
s r
3 −a a2 b3
u= ± + .
2 4 27
Escolho por exemplo1 : s r
3 −a a2 b3
u= + + .
2 4 27
Lá tı́nhamos a relação:
v 3 + u3 = −a,
portanto s r
3 −a a2 b3
v = −a − ( + + )=
2 4 27
s r
3 −a a2 b3
= − + .
2 4 27
E também naquela prova:
x=u+v =
s r s r
3 −a a2 b3 3 −a a2 b3
= + + + − +
2 4 27 2 4 27
3
é indicada como Raı́z de x + bx + a = 0.
Caso ∆ < 0:
Ora é fácil dar um exemplo de um polinômio x3 + bx + a com três óbvias raı́zes
Reais distintas para o qual:
∆ < 0.
Tome
x3 − 7x + 6
com raı́zes −3, 1, 2 para o qual
−100
∆= .
27
Então a expressão anterior para a Raı́z x é um pouco estranha, pois parece ser um
número Complexo não Real.
Este é o casus irreducibilis do tratado de Cardano, a Ars Magna.
Note que se ∆ < 0:
−a √ −a √
z := + ∆ e z := − ∆
2 2
são números complexos conjugados, não-Reais. Então chamemos x de x1 e notemos
que ele é a soma de um número complexo com seu conjugado:
√ √
3
x1 := 3 z + z =
1se pode checar que obterı́amos os mesmos resultados finais com a escolha −
CAPÍTULO 32. O DISCRIMINANTE DE POLINÔMIOS DE GRAU 3 451
√
3
√
3
= z+ z
e portanto x1 ∈ R.
Mas se pensamos na operação de extrair raı́z cúbica que produziu:
r
−a √
u= 3 + ∆
2
como operação sobre os complexos, então há de fato três raı́zes complexas diferentes.
Essa propriedade se origina do fato de que, sobre os complexos, há três raı́zes
distintas da unidade:
√ √
√3
√
3 −1 3 √ √3 −1 3 √
1 = 1, 1 = τ1 := + · −1 e 1 = τ1 := − · −1,
2 2 2 2
onde τ1 e τ1 são conjugados.
Então podemos tomar também
√
u = τ1 · 3 z
e devido à relação
−b
u·v =
∈R
3
somos obrigados a tomar: √
3
v = τ1 · z,
para termos outra raı́z Real x2 := u + v, já que2
x2 := u + v =
√ √3
= τ1 · 3 z + τ1 · z =
√ √
= τ1 3 z + τ1 3 z
que é um número Real.
A terceira opção é: √
u = τ1 · 3
z
e √
3
v = τ1 · z,
que produz:
√3
√
3
x3 := τ1 · z + τ1 · z.
No exemplo x3 − 7x + 6 as raı́zes obtidas são
x1 = 2, x2 = −3 e x3 = 1.
Caso ∆ > 0:
Nesse se pode mostrar que a única Raı́z Real é
r r
3 −a
√ −a √
x= + ∆+ 3 − ∆
2 2
2Lembre
√
3
√
que ∀z1 , z2 ∈ C, z1 + z2 = z1 + z2 e que z1 · z2 = z1 · z2 . A propriedade z = 3 z sai
de z 3 = z 3 .
3. O DISCRIMINANTE COMO CURVA 452
e que há mais duas Raı́zes complexas conjugadas, as raı́zes do polinômio quadrático:
αx2 + βx + γ
da fatoração
x3 + bx + c = (x − x) · αx2 + βx + γ.
-0,1
-0,2
-0,3
-0,4
-0,5
-0,6
-0,7
satifaz
4( −3t2 )3 + 27( 2t3 )2 ≡ 0.
Por isso γ(t) é chamada de parametrização de Γ : 4b3 + 27a2 = 0.
Ou seja:
40
20
0
-4 -2 0 2 4
x
-20
-40
60
40
20
x
-4 -2 0 2 4
0
-20
-40
-60
A curva discriminante Γ separa o plano (a, b) em duas regiões, uma onde 4b3 +
27a2 < 0, e que está acima da curva na Figura. Na figura a seguir escolhi 4 pontos
(a, b) nessa região e plotei as cúbicas y = x3 + bx + a resultantes:
4. A CURVA DISCRIMINANTE ENTRE AS CÚBICAS SINGULARES 454
100
50
0
-4 -2 0 2 4
x
-50
-100
A outra região do plano, determinada pela Γ, é onde 4b3 + 27a2 > 0, e que fica
abaixo da curva na Figura. Na figura a seguir escolhi 4 pontos (a, b) nessa região e
plotei as cúbicas y = x3 + bx + a resultantes:
800
400
0
-10 -5 0 5 10
x
-400
-800
y 0
-2 -1 0 1 2 3
x
-2
-4
-6
Figura: A curva y 2 − x3 + 3 x − 2 = 0.
y 0
2 2,4 2,8 3,2 3,6
x
-2
-4
-6
Demonstração.
Se f (x) = x3 + bx + a tem
(a, b) 6= (0, 0) e 4b3 + 27 a2 = 0,
então a Afirmação 1.1 diz que f (x) tem uma raı́z dupla e uma simples, bem como
que a raı́z simples é r
−a
x1 = 2 3
2
enquanto que a raı́z dupla é r
−a
x2 = − 3 .
2
Logo no caso i):
a > 0 ⇒ x1 < x2 ,
CAPÍTULO 32. O DISCRIMINANTE DE POLINÔMIOS DE GRAU 3 457
Caso ii): No caso a > 0 a verificação de que (x2 , 0) é ponto singular de y 2 = f (x)
é idêntica. O ponto (x1 , 0) não é singular para a curva, que tem tangente vertical
neste ponto.
Agora, neste caso, como x1 < x2 e
f (x) = (x − x1 ) · (x − x2 )2 ,
basta que x ≥ x1 para que estejam definidas nos Reais as raı́zes:
p p
y = (x − x2 )2 · (x − x1 ) ou y = − (x − x2 )2 · (x − x1 ).
As duas opções distintas de raı́zes se colapsam para o valor y = 0 em x = x1 . São
distintas raı́zes no intervalo (x1 , x2 ), pois nesse intervalo
(x − x2 )2 · (x − x1 ) > 0.
E voltam a se colapsar para o valor y = 0 em x = x2 . Para x > x2 há novamente
duas opções distintas de raı́zes para y. Por isso se forma o laço em (x2 , 0).
5. PARAMETRIZAÇÃO DOS PONTOS RACIONAIS DE CÚBICAS
SINGULARES 458
Por outro lado se ( pq11 , pq22, ) é um ponto de coordenadas Racionais dessa cúbica,
então pertence à reta:
p p
r(x) = · x − ,
q q
onde
p ( pq22 )
= p1 .
q ( q1 − 1)
Ou seja, todos os pontos com coordenadas racionais surgem por intersecção com as
retas por (1, 0) com coeficiente angular pq ∈ Q.
Já na cúbica:
y 2 − x3 + 3x + 2 = 0,
cuja singularidade (−1, 0) está separada do resto da cúbica, qualquer reta r passando
por (−1, 0) da forma:
p p p
r(x) = · x + , ∈Q
q q q
intersecta a cúbica no ponto:
2q 2 + p2 p · (3q 2 + p2 )
( , )
q2 q3
cujas coordenadas são Racionais (além é claro do (−1, 0)). E todos os pontos Racinais
da cúbica são assim obtidos, como vimos acima.
6. Cúbicas singulares aparecem como seções com o plano tangente
Imagine a cúbica de Billing
y 2 − x3 + 82 x = 0
como uma seção da superfı́cie
F (x, y, z) = z 2 + y 2 − x3 + 82 x = 0,
obtida ao cortá-la com o plano z = 0 do espaço (x, y, z).
O que dá a intersecção da superfı́cie com seu plano tangente no ponto (−1, 9, 0) ?
Afirmação 6.1. A intersecção da superfı́cie
z 2 + y 2 − x3 + 82 x = 0
com o plano tangente em (−1, 9, 0) é a curva no plano (x, z) dada por:
6241 2 6727 6889
z2 + ·x + ·x+ − x3 = 0.
324 162 324
A totalidade dos pontos dessa curva com coordenadas racionais é dada pelos pontos
6889q 2 + 324p2 p · (7213q 2 + 324p2
(x, z) = ( , ), p, q ∈ Z,
324q 2 324q 3
além do (−1, 0), que é uma singularidade isolada do resto da curva.
Também podem surgir por intersecção de superfı́cies cúbicas com seus planos
tangentes outros três tipo de curvas singulares:
• com laço, do tipo visto acima,
6. CÚBICAS SINGULARES APARECEM COMO SEÇÕES COM O PLANO
TANGENTE 460
• cuspidais como y 2 − x3 = 0 e
• união de três retas concorrentes, como y · x · (y − ax) = 0.
Cada reta
p p p
r(x) = ·x+ , ∈Q
q q q
intersecta essa curva no ponto de coordenadas racionais:
6889q 2 + 324p2 p · (7213q 2 + 324p2
(x, z) = ( , )
324q 2 324q 3
além do (−1, 0).
Como vimos no final da Seção anterior, todo ponto Racional se obtém inter-
sectando a cúbica com uma reta por (−1, 0) cujo coeficientes angular e linear são
Racionais.
100
50
y 0
-10 -5 0 5 10 15 20
x
-50
-100
40
20
z 0
-20
-40
40
020 y
-20
-40
-10 0 10 20 30
x
40
20
y 0
-20
-40
40
-10 0 10 20 3020
0
-20
-40
x z
contida no discriminante ∆ = 0.
Mas a imagem dessa aplicação é uma superfı́cie singular no sentido de que em
certos pontos dela não está bem determinado o plano tangente, pois há quinas, bicos,
etc. Pelo seu formato ela é conhecida como andorinha ou rabo da andorinha.
As Figuras a seguir dão duas imagens da andorinha:
3
2,5 0
-0,2
2
-0,4
1,5 -0,6
1 -0,8
-1
0,5
-1,2
0 -1,4
-4 -2 0 2 4
CAPÍTULO 33. DISCRIMINANTE DOS POLINÔMIOS DE GRAU 4 465
3
2,5
2
1,5
0,5
0
0 -0,2
-0,4
-4 -0,6
-2 -0,8
0 -1
-1,2
2 -1,4
4
3
Apêndice: O expoente 4 comanda a vida !
Questão 2: Quem tem a maior taxa de produção de calor por unidade de peso,
um homem ou um rato ?
Ou seja
B = τ5 · L2 e M = τ6 · L3 .
Pelo modelo de Rubner já se prevê que não pode aparecer de uma hora para outra
uma aranha - Godzilla. Ela se sufocaria antes de destruir qualquer coisa !
Agora o problema é definir a Reta que mais se ajusta a esses pontos, pois é dela
que trata a Lei de Kleiber.
Vamos mostrar apenas como obter um candidato a reta que minimiza a soma dos
quadrados das distâncias. a verificação completa depende de noções de Cálculo em
duas variáveis.
3
CAPÍTULO 34. APÊNDICE: O EXPOENTE 4
COMANDA A VIDA ! 469
O ponto (ξ0 , β0 ) que buscamos será um ponto de mı́nimo do gráfico de z = f (ξ, β),
portanto esperamos que ao intersectar essa superfı́cie com os planos ξ = ξ0 e com
β = β0 produzam gráficos de funções z = f (ξ, β0 e z = f (ξ0 , β) que tenham pontos
de mı́nimo.
Ou seja, esperamos que as derivadas de z = f (ξ, β0) e de z = f (ξ0 , β) sejam zero
em (ξ0 , β0 ). Ou seja, devemos parar a variável ξ e derivar em β e vice-versa, e buscar
pelos zeros dessas derivadas.
∂g
Quando paramos ξ = ξ0 e derivamos em β usamos o sı́mbolo ∂β . Quando paramos
∂g
β = β0 e derivamos em ξ usamos o sı́mbolo ∂ξ . Então
∂g
= 2(ξx1 + β − y 1 )x1 + 2(ξx2 + β) − y 2 )x2 + . . . 2(ξxk + β − y k )xk =
∂ξ
k
X k
X k
X
= 2 · (ξ ( x2i ) +β( xi ) − xi y i )
i=1 i=1 i=1
e
∂g
= 2(ξx1 + β − y 1 ) + 2(ξx2 + β) − y 2 ) + . . . 2(ξxk + β − y k ) =
∂β
k
X k
X
= 2(ξ ( xi ) + k · β − y i ).
i=1 i=1
4. A LEI EXPERIMENTAL DE KLEIBER 470
Fazendo
∂g ∂g
= =0
∂ξ ∂β
estamos criando um sistema não-homogêneo de duas equações lineares, com duas
incógnitas ξ, β:
k
X k
X k
X
ξ( x2i ) + β( xi ) = xi y i ,
i=1 i=1 i=1
k
X k
X
ξ( xi ) + k · β = yi.
i=1 i=1
Podemos usar a Regra de Cramer para resolvê-lo, pois o determinante formado com
os coeficientes do sistema é:
k
X k
X
2
k·( xi ) − ( xi )2 > 0,
i=1 i=1
Observo que 34 < 1 implica que há uma lentificação do metabolismo, à medida
que a massa corporal aumenta.
Evidências:
• M. Kleiber se baseia numa tabela de k = 26 pontos, com Massa M dada em
kg e B dado em kcal/dia.
• A tabela analisa mamı́feros. Começa com dados do camundongo, com (M, B) =
(0.021, 3.6), passa por exemplo pelo gato (M, B) = (3, 162) e vai até dados
da vaca (M, B) = (435, 8166).
• Usando sua tabela, se obtém (conferi !) a0 = 0.7497881511 ∼ 34 .
No livro de Dawkins (2004) a lei de Kleiber é aplicada em três grupos:
• organismos unicelulares,
• organismos de sangue frio e
• de sangue quente.
3
CAPÍTULO 34. APÊNDICE: O EXPOENTE 4
COMANDA A VIDA ! 471
Aı́ se vê que os coeficientes lineares b0 das retas de ajuste mudam bastante.
Além disso, Dawkins usa a lei de Kleiber para estudar outra correlação: massa
corporal versus massa cerebral.
10
2 4 6 8 10
x
(...) A Lei de Kleiber, seja para plantas, animais ou até mesmo no nı́vel do
transporte dentro de uma única célula, encontrou finalmente sua base racional. Ela
pode ser derivada da fı́sica e da geometria das redes de suprimento.(...)
No entanto, houve crı́ticas. Fora debates sobre as ”contas”que fizeram, criticou-se
6. O ARGUMENTO 472
• que há hipóteses fortes sobre a geometria dos sistema circulatório (algumas
retomaremos mais adiante)
• que o postulado de eficiência do sistema circulatório parece sugerir que a
Evolução já acabou, já estarı́amos otimamente adaptados ...
O artigo de Etienne, Apol e Olff, de 2006, esclarece quais as suposições de WBE,
destaca pontos obscuros de WBE e permite dar uma versão light de WBE.
Seguirei EAO, mas visando apenas explicar algumas das muitas idéias de WBE,
aquelas que dispensam a fı́sica dos fluidos.
6. O argumento
6.1. Hipótese 1. Hip. 1: Os sistemas circulatórios são árvores, onde:
• Cada ramo de ordem k pode ser considerado um cilindro, de comprimento
lk , cuja base é um disco de raio rk .
r _k
l _k
• Observe que
Nk N2
Nk = · ...· = νk−1 · . . . · ν1
Nk−1 1
6.2. Capilares.
• o processo de ramificação da aorta em artérias e depois arterı́olas continua
até ramos finais, chamados de capilares.
3
CAPÍTULO 34. APÊNDICE: O EXPOENTE 4
COMANDA A VIDA ! 473
• cuja ordem na ramificação será designada por C e cujo número total será
NC .
• Saiba que as paredes dos capilares são unicelulares ! 0 diâmetro externo de
um capilar é de 5 a 10 µ m (micrômetros, 10−6 m).
• Nos capilares se dão os processos fı́sicos como difusão, osmose, etc. Através
dos quais oxigênio / nutrientes passam para os tecidos enquanto gás carbônico/
dejetos passam para o sangue.
• esses dados dos capilares são praticamente universais.
• Se sabe que no ser humano há ≈ 20 bilhões de capilares.
• As hemáceas humanas tem 8 µ m de diâmetro. Para trafegarem pelos capi-
lares elas formam fila indiana !
• Para se ver o grau de ramificação do sistema circulatório, a aorta de uma
baleia pode chegar a 23 cm de diâmetro.
Nk+1
6.3. Relação com os Capilares. Como νk := Nk
, defino analogamente:
lk+1 rk+1
λk := e ρk := .
lk rk
Note que vale
rk+1 rC
rk · ρk · ρk+1 . . . · ρC−1 = rk · · ...· = rC ,
rk rC−1
Ou seja:
rC
rk = QC−1
i=k ρi
e exatamente do mesmo jeito se obtém:
lC NC
lk = QC−1 e Nk = QC−1
i=k λi i=k νi
Imagine cada ramo cheio de sangue ou de seiva (já pensamos em sistemas não-
pulsáteis ...)
Considere πrk2 · lk o volume de cada ramo de ordem k.
A soma de todos os volumes de ramos de nı́vel k é portanto:
NC · r 2 · lC
Vs,k := Nk · (πrk2 · lk ) = π QC−1 C 2 .
i=k νi ρi λi
é:
C
X 1
Vs = πNC · rC2 · lC · ( QC−1 ).
k=1 i=k νi ρ2i λi
6. O ARGUMENTO 474
l _k
= QC−1 1 =
k=1 i=k A i · E i
3
3
CAPÍTULO 34. APÊNDICE: O EXPOENTE 4
COMANDA A VIDA ! 475
1
C
X ( NNCk ) 3
= QC−1 1 =
k=1 i=k Ai · Ei3
C
1 X 1
= NC ·3
1 QC−1 1
k=1 Nk 3
i=k Ai · Ei3
o que prova a Afirmação. Portanto:
4
Vs = π NC · rC2 · lC · S1 = π NC3 · rC2 · lC · S2 .
Ou seja:
3
Vs 4
NC = ( 2 )
πrC · lC · S2
6.5. Hipótese 2. A hipótese a seguir faz mais sentido para sistemas circulatórios
não-pulsáteis. Mas tomemo-a para simplificar a exposição.
B = τ Q1 ,
onde a constante τ não depende da massa M.
Se pode mostrar que a incompressibilidade do fluido (sangue/seiva) implica:
Q1 = Nk Qk , ∀k = 1, . . . C,
onde Qk é fluxo em cada ramo de ordem k.
Logo:
B = τ NC QC
onde QC é o fluxo por cada capilar.
6.7. Hipótese 4. Aqui retomamos o que já dissemos antes sobre o caráter uni-
versal dos capilares:
6.10. Hipótese 6. A hipótese a seguir diz uma soma de volumes ao redor dos
vasos permanece constante em cada etapa da subdivisão:
Como mostra EAO, as Hipóteses 5 e 6 são fortes, poderiam ser enfraquecidas pois
em
C
X 1
S2 = Q 1 ,
1/3 C−1
k=1 Nk i=k Ai · Ei3
os Ai e Ei podem se compensar, mesmo que mudem a cada etapa.
3
CAPÍTULO 34. APÊNDICE: O EXPOENTE 4
COMANDA A VIDA ! 477
A hipótese a seguir diz que ou sempre há dicotomias, ou sempre tricotomias , etc:
C
X −(k−1)
= ν 3 =
k=1
−C
1−ν 3
= −1 .
1−ν 3
−1
(que existe pois ν 3 < 1). E vejamos se a função S2 = S2 (C) se aproxima rapidamente
de sua assı́ntota. Se isso acontecer, a conclusão será que a partir de uma certo C, S2
pouco muda com C.
Para ν = 2 obtemos y = S2 (C):
6. O ARGUMENTO 478
1
5 10 15 20 25 30 35
x
2,5
1,5
1
5 10 15 20
x
2,5
1,5
0,5
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
x
Demonstração.
Vamos provar diretamente o caso geral, onde nos damos o valor f (x).
Se k = 0 então a hipótese vira f ′ (x) ≡ 0. Já sabemos que nesse caso f (x) ≡ C e
portanto f (x) = f (x). Ou seja,
f (x) = f (x) · 1 = f (x) · e0 ,
como querı́amos.
481
2. A DEFINIÇÃO ORIGINAL DE NAPIER PARA O LOGARITMO 482
107
Nog(x1 x2 ) = 107 · ln( )=
x1 x2
= 107 (ln(107 ) − ln(x1 x2 )) =
= 107 ln(107) − 107 ln(x1 ) − 107 ln(x2 ) =
1 1
= 107 ln(107 ) + 107 ln( ) + 107 ln( ) =
x1 x2
1 1
= 107 ln(107 ) −2 · 107 ln(107 ) + 2 · 107 ln(107 ) +107 ln( ) + 107 ln( ) =
| {z } x1 x2
0
1 1
= −107 ln(107 ) + 107 ln(107 ) + 107 ln( ) + 107 ln(107) + 107 ln( ) =
x1 x2
7 7
10 10
= −107 ln(107 ) + 107 ln( ) + 107 ln( )=
x1 x2
= −107 ln(107 ) + Nog(x1 ) + Nog(x2 ).
3. DECAIMENTO RADIOATIVO E DATAÇÃO 484
f (x) = f (0)e−k x , ∀R
e também pelo que sabemos sobre a exponencial:
1Aprendi isso no livro de Richard Dawkins, A grande história da evolução- Na trilha de nossos
ancestrais, Companhia das Letras, 2009.
4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES COM COEFICIENTES
CONSTANTES 486
Note que a solução no caso mais geral, que é o iii), é uma soma (superposição) da
solução
g1 (x) = c1 · eAx , c1 ∈ R
da equação
g1′ (x) = A · g1 (x)
com a solução particular g2 (x) ≡ − B A
do problema que tratamos
g ′ (x) = A · g(x) + B.
CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 487
Por isso agora adoto uma nova constante C, que pode ser positiva se C = eC3 ou
neqativa se C = −eC3 e escrevo:
B
g(x) = CeAx − .
A
Para determinar C avalio tudo em x = 0:
B
g(0) = C − ,
A
e portanto:
B
C = g(0) + ,
A
o que dá
B B
g(x) = (g(0) + ) · eAx − .
A A
B
Agora volto à hipótese de que g(x) + A
6 0. Observe que se pomos C = 0 em
=
B
g(x) = CeAx −
A
temos
−B
g(x) ≡.
A
As observações sobre os limites de g(x) são imediatas das prpriedades da expo-
nencial.
7,4
7,2
6,8
6,6
0 1 2 3 4
x
Temos então
f ′ (x) = gx, se γ = 0,
ou
−gm −γ x gm
f ′ (x) = em + , se γ 6= 0.
γ γ
Agora vamos impor que f (0) = 0 pois queremos medir a distância percorrida no
tempo x > 0.
Se γ = 0 obtemos
g · x2
f (x) = .
2
Ma se γ 6= 0:
Z
−gm −γ t gm
f (x) = [ em + ] dt =
γ γ
−m −gm −γ x gm
= ( )e m + x+C
γ γ γ
−m gm
C= ( )
γ γ
e portanto:
gm2 −γ
x gm
f (x) = − · (1 − e m ) + · x.
γ2 γ
Seria muito interessante para um pára-quedista ter sua posição f (x) dada por uma
2
função linear. Note que a função f (x) acima se aproxima da reta y = gm γ
· x − gm
γ2
,
−γ
pois e m x → 0.
Os valores de γ se determinam experimentalmente. Por exemplo, para m = 10 kg
pode-se6 atribuir o valor γ = 2 kg
s
. A Figura a seguir compara a queda sem resistência
(γ = 0) com a queda com resistência ( γ = 2 kg s
).
1000
800
600
400
200
0
0 2 4 6 8 10 12 14
x
-200
g·x2 2 −γ
Fig.: Gráficos de y = 2
(vermelho) e y = − gm
γ2
· (1 − e m x ) + gm
γ
· x (azul) e
2
y= − gm
γ2
+ gm
γ
· x (verde), g = 9.8, m = 10, γ = 2.
7Se medı́ssemos a posição desde o solo, a energia total seria uma soma, não uma subtração
5. OBJETOS EM QUEDA-LIVRE VERTICAL 492
Como usaremos essa Afirmação para reparametrizar o gráfico ou curva pelo tempo
t de queda ?
8De novo a gravidade atua no sentido oposto ao crescimento da coordenada y(u) ≤ 0, por isso
o sinal + na grandeza Energia total
6. QUEDA AO LONGO DE UM GRÁFICO 494
6.0.1. Exemplo:
Vamos fazer um exemplo bem simples. Na Seção seguinte haverá uns mais inter-
essantes. Vamos aqui descrever a queda de (0, 0) até B = (b1 , b2 ) b1 6= 0 e b2 < 0 ao
longo de um segmento de reta. Para isso vamos parametrizar a reta que liga esses
pontos pelo tempo de queda.
O faremos de dois modos: um bem elementar, e o outro, como ensinamos acima,
que expressa o tempo t como uma integral.
A função de t que dá a posição a partir de A = (0, 0) é parecida com aquela da
2
queda-livre vertical: g · t2 (já que f ′ (0) = 0 e f (0) = 0 e a aceleração é constante
ao longo da semireta AB). Mas a diferença com aquele caso já estudado é que a
gravidade atua na semireta AB de acordo com a projeção de um vetor vertical de
módulo g nesta semireta; ou seja, com valor
g · sin(θ)
onde θ é o ângulo entre a semireta AB e uma reta horizontal. Ou seja, o efeito da
gravidade vira zero se θ = 0 e volta a ser máxima se θ = π2 .
CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 495
u5 u2 √ √
α: x(u) := √ , y(u) := − √
5
, u ∈ [0, 2· 5
π].
25 π2
Então
p √
x′ (u)2 + y ′ (u)2 25u6π 4/5 + 128
p = ,
2 · g · y(t(u)) 8π 6/5
x
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
0
-0,5
-1
-1,5
-2
Observe que α começa com inclinação vertical, o que aproveita bastante bem o
efeito da gravidade. Ademais note que só conseguimos fazer com que a integral não
tenha valor +∞ porque quando y(0) = 0 também dd us = 0.
A curva que considero a seguir é a ciclóide:
β(t) := ( πt − sin(πt) , cos(πt) − 1 ), t ∈ [0, 1]
que claramente sai de β(0) = A e chega em t0 = 1 em
β(1) = (π, −2) = B.
A figura a seguir compara o traço de α com o da ciclóide β:
-0,5
-1
-1,5
-2
0 0,001
0,002
0,003
0,004
0,005
0
-0,002
-0,004
-0,006
-0,008
-0,01
-0,012
0 0,0050,010,0150,02
0
-0,01
-0,02
-0,03
-0,04
-0,1
-0,2
-0,3
-0,4
CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 499
-0,2
-0,4
-0,6
-0,8
-1
-0,5
-1
-1,5
-0,5
-1
-1,5
-0,5
-1
-1,5
-2
8. BALÍSTICA E O SUPER MÁRIO 500
0 1 2 3 4
0
-0,5
-1
-1,5
-2
Problema da braquistócrona9:
Sejam dados dois pontos A, B num plano vertical. Se A e B não estão numa reta
vertical, encontrar qual a curva descrita por um corpo M que sai de A e chega em B
no menor tempo possı́vel, sob efeito apenas da gravidade.
É possı́vel provar, com recursos mais avançados dos que dispomos no momento,
que a curva que minimiza o tempo é uma ciclóide.
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5
1,6
1,2
0,8
0,4
0
0 2 4 6 8
x
Demonstração.
A velocidade v0 tem uma componente horizontal e uma vertical.
A horizontal é x′ (0) = v0 · cos(θ) e a vertical y ′ (0) = v0 · sin(θ).
Não há componente horizontal da força de gravidade. Portanto,10 se x(t) é a
coordenada horizontal da posição da bala:
x′′ (t) ≡ 0
o que dá:
x′ (t) ≡ C = x′ (0)
e portanto:
x(t) − x(0) = x′ (0) · t.
Como (x(0), y(0)) = (0, 0) temos:
x(t) = x′ (0) · t = v0 · cos(θ) · t, ∀t ≥ 0.
Mas a gravidade g afeta a componente vertical. De fato:
y ′′(t) = −g,
(onde o sinal vem da oposição entre o sentidos).
Logo
y ′ (t) − y ′ (0) = −g · t,
ou seja,
y ′(t) = y ′(0) − g · t,
e daı́ obtemos:
g · t2
y(t) − y(0) = y ′ (0) · t − .
2
Ou seja
g · t2
y(t) = v0 sin(θ) · t − .
2
10E se supõe que a bala não sofre resistência
CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 503
Substituindo
x(t) x
t= ′
= ′
x (0) x (0)
em
g · t2
y(t) = v0 sin(θ) · t −
2
obtemos a parábola
g
y=− · x2 + tan(θ) · x,
2· v02 2
· cos (θ)
que é a descrição da trajetória da bala.
Sabemos encontrar o ponto de máximo de uma parábola y = ax2 + bx + c, onde
a < 0. Esse ponto é x = −b 2a
. No caso da parábola acima obtemos:
0 = y ′(tM ) = y ′(0) − g · tM ,
portanto:
y ′(0)
tM = .
g
E o tempo tF > 0 no qual a bala atinge o alvo é obtido de igualar y(tF ) = 0 e resolver:
g · t2
0 = v0 sin(θ) · t −
2
cujas raı́zes são t = 0 e
2 · y ′(0)
tF = = 2 · tM .
g
A coordenada x do alvo atingido pode ser obtida ou avaliando x(t) em tF ou
vendo-se a intersecção da parábola acima com o eixo x. De ambos os modos obtêm-
se:
v 2 · sin(2 · θ)
x= 0 .
g
10. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N.14, 1954 504
0
0 2 4 6 8 10
Solução:
Denoto por fα (x) e fβ (x) duas curvas integrais distintas.
Vou tomar duas retas tangentes às curvas integrais fα (x) e fβ (x) por pontos
distintos da reta x = k:
(k, fα (k)) e (k, fβ (k)).
A primeira verifica:
y − fα (k)
= fα′ (k) = −p(k) · fα (k) + q(k)
x−k
CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 505
0
1 2 3 4 5 6
x
-2
-4
2
x
1 2 3 4 5 6
0
-2
-4
Demonstração.
De i):
Usaremos a mesma idéia da prova da Afirmação 4.1.
Primeiro noto que a função f ≡ 0 é solução e corresponde a tomar C = 0.
Podemos então supôr no que segue que f 6≡ 0.
Faremos a suposição a princı́pio mais forte11 de que:
∀x ∈ R, f (x) 6= 0.
Então posso fazer:
f ′ (x)
= a(x).
f (x)
Tomando primitivas (e colocando as constantes do lado direito):
Z
ln ||f (x)|| = a(x) dx + C1 .
Logo R R R
||f (x)|| = e a(x) dx+C1 = e a(x) dx · eC1 = C2 · e a(x) dx .
Pelo T.V.I. sabemos que ou bem f (x) > 0 ∀x ou bem f (x) < 0 ∀x.
Então: R R
f (x) = C2 · e a(x) dx ou f (x) = −C2 · e a(x) dx .
Em qualquer dos casos,
R
a(x) dx
f (x) = C · e , com C 6= 0.
Se tomo x0 no domı́nio da f , acima poderı́amos ter escrito:
Z x
ln ||f (x)|| − ln ||f (x0 )|| = a(t) dt,
x0
e daı́ terı́amos:
Rx Rx
a(t) dt+ln ||f (x0 )|| a(t) dt
||f (x)|| = e x0
= ||f (x0 )|| · e x0
.
Em qualquer dos casos (f (x) > 0 ∀x ou f (x) < 0 ∀x):
Rx
a(t) dt
f (x) = f (x0 ) · e x0
.
De ii):
Agora temos:
f ′ (x) = a(x) · f (x) + b(x)
e o leitor em seguida vê que a idéia da prova da Afirmação 4.1 já não funciona aqui:
ou seja, não aparece mais uma derivada logarı́tmica do lado esquerdo.
O que faremos é multiplicar toda a equação dada por um fator µ(x) adequada-
mente escolhido para que do lado esquerdo apareça a derivada de algo, apesar de que
esse algo nem sempre será o logaritmo.
Faço
f ′ (x) − a(x) · f (x) = b(x)
11Na verdade, através da Afirmação 3 do Capı́tulo 36 se mostra que são a mesma hipótese
11. SOLUÇÕES DAS EQUAÇÕES LINEARES GERAIS 508
e
µ(x) · f ′ (x) − µ(x) · a(x) = µ(x) · b(x).
Quero que valha:
µ(x) · f (x) − µ(x) · a(x) = ( µ(x) · f (x) )′
e para isso temos que ter:
µ′ (x) = −a(x) · µ(x),
já que:
( µ(x) · f (x) )′ = µ(x) · f ′ (x) + µ′ (x) · f (x).
Ora, o item i) nos diz quem são as soluções µ(x) de µ′ (x) = −a(x) · µ(x) e tomo uma
com C = 1: R
µ(x) = e − a(t) dt .
Portanto: R R
− a(t) dt
(e · f (x) )′ = e − a(t) dt
· b(x).
Tomando primitivas e passando a constante para a direita:
R
Z R
− a(t) dt
e · f (x) = e − a(t) dt · b(x) dx + C
e portanto: Z
R R R
a(t) dt − a(t) dt a(t) dt
f (x) = e · e · b(x) dx + C · e .
Logo obtemos
1 C C
n
· x2n + n = xn + n .
f (x) =
x x x
A determinação de C depende da escolha de um valor f (x0 ), pois C =
xn0 · (f (x0 ) − xn0 ).
0
1 2 3 4 5
x
-2
-4
0
2 4 6 8 10
x
-2
Esse tipo de equação é tratada pelo item i) da Afirmação 11.1: se g(x) > 0 e se
2x − 1 > 0, então R 2x
g(x) = eC · e 2x−1 dx .
Ora:
2x 1
=1+
2x − 1 2x − 1
e portanto (módulo constantes)
Z
2x ln(2x − 1)
dx = x + ,
2x − 1 2
de onde
ln(2x−1) √ 1
g(x) = ex+ 2 = ex · 2x − 1, para x > .
2
13. As equações de Bernoulli e sua redução a equações lineares
Jakob Bernoulli considerou uma classe de equações diferenciais extremamente
úteis, como veremos em aplicações no Capı́tulo 38. Mas as equações dessa vez são
não-lineares (pois envolvem o termo f (x)r ).
O que é incrı́vel é que elas podem ser transformadas em equações diferenciais
lineares. O truque é do grande Leibniz !
Repare que os casos r = 0, 1 na Afirmação 13.1 a seguir já estão resolvidos pela
Afirmação 11.1 acima.
Afirmação 13.1. Sejam a(x), b(x) contı́nuas, f (x) derivável com f ′ (x) contı́nua.
Suponha12
f ′ (x) = a(x) · f (x) + b(x) · f (x)r , r 6= 0, 1, r ∈ R.
Então
• g(x) := f 1−r (x) satisfaz a equação diferencial linear:
g ′ (x) = (1 − r) · a(x) · g(x) + (1 − r) · b(x)
e portanto ou f (x) ≡ 0 ou13
R
Z R R 1
(1−r)a(t)dt
f (x) = [ e · e (r−1)a(t)dt · (1 − r)b(x) dx + C · e (1−r)a(t)dt ] 1−r
Demonstração.
Mais uma vez, após considerar a situação em que f ≡ 0, trocaremos a condição
f 6≡ 0 pela condição a princı́pio mais forte14
f (x) 6= 0, ∀x.
Noto que se g(x) := f 1−r (x) , então:
g ′(x) (1 − r) · f −r (x) · f ′ (x)
= =
g(x) f 1−r (x)
12dependendo do r ∈ R pode ser necessário supôr que f (x) > 0 para que faça sentido f (x)r .
13Onde aparece r − 1 na fórmula a seguir ao invés de 1 − r está correto, não inverta ...
14Na verdade, através da Afirmação 3 do Capı́tulo 36 se mostra que são a mesma hipótese
14. EXERCÍCIOS 512
f ′ (x)
= (1 − r) · =
f (x)
(1 − r) · a(x)f (x) + (1 − r) · b(x)f r
= =
f (x)
= (1 − r) · a(x) + (1 − r) · b(x)f r−1 =
b(x)
= (1 − r) · a(x) + (1 − r) · ,
g(x)
e portanto multiplicando por g(x):
g ′(x) = (1 − r) · a(x)g(x) + (1 − r) · b(x).
Como já sabemos resolver esta equação pela Afirmação 11.1, temos g(x) e daı́ a f (x).
Um Exemplo:
y ′(x) = x · y(x) + y(x)2 ,
cuja solução portanto é:
2
Z
x2 x2
− x2
y = [−e · e 2 dx + C · e− 2 ]−1 , C ∈ R.
14. Exercı́cios
Exercı́cio 14.1. (resolvido)
A função representada a seguir é estritamente decrescente e tende a zero. No
entanto, afirmo que ela não pode representar a desintegração de nenhuma substância
radioativa, devido a aspecto (s) qualitativo (s) de seu gráfico.
Explique quê aspecto qualitativo é (são) esse(s), usando os conceitos e a teoria
desenvolvida neste Curso.
35
30
25
20
15
10
0 1 2 3 4
x
Exercı́cio 14.2. Quanto tempo tem que ter passado para que uma mostra de osso
tenha menos que 10−3 vezes a quantidade original de C14 ?
Exercı́cio 14.3. Em quanto tempo duplica uma dı́vida que cresce segundo a equação
f ′ (x) = 2 · f (x) ?
CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 513
0
0 2 4 6 8 10
y 0
-1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2
x
-1
-2
-3
y 0
-1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2
x
-1
-2
-3
y 0
-1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2
x
-1
-2
-3
y 0
-1 0 1 2
x
-1
-2
-3
Note que:
CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA
ORDEM 517
• para c ∈ {−4, −3, −2, −1} ou c ∈ {4, 3, 2, 1} há apenas mudanças quantita-
tivas nas curvas, ou seja, quando a curva muda um pouco mas tem o mesmo
aspecto geral.
• mas quando c ∈ {−1, 0, 1} as curvas correspondentes passam por mudanças
qualitativas importantes.
y 0
-1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2
x
-1
-2
-3
É possı́vel dar uma desenho qualitativo das curvas y = y(x) solução dessa equação
na Figura a seguir:
Os segmento verticais são pedaços das retas tangentes à curvas soluções. Por isso
pode ser chamado de campo de direções tangentes.
Como a equação y1 · y ′(x) = x pode ser escrita:
2
d ln |y(x)| d( x2 )|
=
dx dx
então
x2
ln |y(x)| = +c
2
de onde
x2 x2
|y(x)| = e 2 +c = C · e 2 , C>0
e
x2
y = y(x) = C · e 2 , C ∈ R \ {0}.
Só que na discussão que fizemos impusemos que
y 6= 0.
E com isso esquecemos a solução
y ≡ 0 de y ′(x) = x · y(x).
Como veremos na Afirmação 3.1 da próxima Seção, quando uma equação está na
forma normal
y ′ (x) = P (x, y)
e quando P (x, y) e ∂P
∂y
são funções contı́nuas no plano, como é o caso para
∂P
P (x, y) = x · y, = x,
∂y
há unicidade da solução por cada ponto. Em particular o gráfico de uma solução
y1 6≡ 0 não pode intersectar o eixo y ≡ 0, pois este é solução da mesma equação.
CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA
ORDEM 519
É uma equação não-linear (termo quadrático em y(x)) que pode ser reduzida a uma
equação linear de primeira ordem, o que é raro e surpreendente, como vimos na Seção
13.1 do Capı́tulo 35. Vimos lá que as soluções são
2
Z
x2 x2
− x2
y = [−e · e 2 dx + C · e− 2 ]−1 , C ∈ R.
Note que
x · y + y2 = k
O Exemplo
y ′(x) = x2 + y 2
é muito interessante. Aparenta ser mais fácil de tratar que o anterior. Mas não é !
Suas curvas isóclinas são sim imediatas, pois são cı́rculos ou a origem se k ≥ 0:
x2 + y 2 = k, k≥0
e feitas em detalhe dão uma boa idéia - qualitativa - das curvas que são soluções.
3. EXISTÊNCIA E UNICIDADE PARA Y ′ (X) = F (X, Y ) - MÉTODO DE
PICARD 520
Não vejo exemplo mais simples para mostrar a importância das hipóteses deste
Teorema, do que a equação:
y
y ′ (x) = .
x
Ela é separável
y ′(x) 1
= , sex · y 6= 0
y(x) x
e se resolve como:
ln ||y|| = ln ||x|| + C1
ou seja:
y = C2 x.
Pela origem há uma infinidade de soluções e pelo eixo dos y, onde x = 0, não
há soluções. Pois é ao longo de x = 0 que não há continuidade da função de duas
variáveis F (x, y) = xy .
e que valha
Z x Z x
lim b + F (t, yn−1 (t)) dt = b + F (t, y+∞ (t)) dt.
n→+∞ a a
• para que haja unicidade, ou seja, para que qualquer solução Y (x) com Y (a) =
b seja da forma Y = y+∞ também é preciso que ∂F∂y
seja contı́nua.
3. EXISTÊNCIA E UNICIDADE PARA Y ′ (X) = F (X, Y ) - MÉTODO DE
PICARD 522
Exemplo:
Quando F (x, y) é um polinômio é fácil implementar o método. Vou implementar
as primeiras etapas da recursão no
Caso 1): y ′ = −y 2 , y(1) = 1
′ 2
Caso 2): y = −x + y , y(0) = b.
No caso 1):
y0 ≡ 1, y1 = 2 − x,
10 1
y2 = − 4x + 2x2 − x3 ,
3 3
323 100 40 2 88 3 41 4 4 5 2 6 1
y3 = − x + x − x + x − x + x − x7 .
63 9 3 9 9 3 9 63
Ou seja, o método está nos dando uma aproximação (não muito rápida, infelizmente)
de:
1 1
y= = = 1 + (1 − x) + (1 − x)2 + (1 − x)3 + . . . para |1 − x| < 1
x 1 − (1 − x)
pois
1 + (1 − x) = 2 − x, 1 + (1 − x) + (1 − x)2 + (1 − x)3 = 4 − 6x + 4x2 − x3 ,
1 + (1 − x) + . . . + (1 − x)7 = 8 − 28x + 56x2 − 70x3 + 56x4 − 28x5 + 8x6 − x7 .
A figura a seguir ilustra:
0
0,5 1 1,5 2 2,5 3
x
-1
x
-2 -1 0 1 2 3 4
0
-2
-4
-6
x
-2 -1 0 1 2
0
-1
-2
-3
Exemplo:
De volta ao exemplo:
2y · y ′(x) = 3x2 − 1,
quando posto na forma padrão vira:
′ 3x2 − 1
y (x) = .
y
Se considero U = {(x, y); y > 0} (o semiplano superior), posso usar o Teorema 3.1 e
para cada ponto desse semiplano passa apenas uma solução y = y(x). Sabemos que
a equação é satisfeita pelas curvas y 2 = x3 − x + c, que não são gráficos, mas mas
restritas ao semiplano superior sim são gráficos do tipo y = y(x).
Ou seja, na Figura a seguir só devemos considerar a parte das curvas acima do
eixo horizontal.
y 0
-1 0 1 2
x
-1
-2
-3
Quando y = 0 aı́ não podemos usar o Teorema 3.1 e de fato, como vemos nessa
mesma figura, sobre o eixo dos x há:
• pontos onde as curvas são gráfico de x = x(y), não de y = y(x)
• pontos de onde saem mais de uma ramo de curva
y(x)0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
x
-1
-2
4. Equações separáveis
Note que nos últimos exemplos da Seção anterior, as equações são de tipo especiais,
pois:
y ′(x) = F (x, y)
nesses exemplos pode ser escrita como:
f (x)
y ′(x) = .
g(y)
No Exemplo anterior:
3x2 − 1
y ′ (x) =
2y
e neste
′
( −sin(x)
cos(x)
)
y (x) = .
( y+2
y
)
Uma equação desse tipo
f (x)
y ′ (x) =
g(y)
é chamada de separável.
Para resolver uma equação separável em geral, noto que pela regra da cadeia posso
escrever3:
d (G(y(x)) − F (x))
g(y) · y ′(x) − f (x) = = 0,
dx
3Ou seja, uma equação separável é sempre exata no sentido da próxima Seção 7
4. EQUAÇÕES SEPARÁVEIS 526
desde que
d G(y) d F (x)
= g(y) e = f (x).
dy dx
E portanto a solução geral é da forma:
G(y(x)) − F (x) = C.
temos:
G(y(x)) − F (x) = y 2 − x3 + x = C
e no segundo onde
cos(x) y+2 2
−f (x) = e g(y) = =1+
sin(x) y y
temos:
G(y(x)) − F (x) = y + 2 ln |y| + ln | sin(x)| = C.
Para x ∈ (0, π) ploto a seguir
y 0
0,5 1 1,5 2 2,5 3
x
-1
-2
A seguir faço a união x ∈ (−π, 0) ∪ (0, π) e uso ainda y ∈ (−2.2), o que já nos dá
uma idéia da periodicidade das soluções:
CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA
ORDEM 527
y 0
-3 -2 -1 0 1 2 3
x
-1
-2
5. A clepsidra
Considero aqui um exemplo de equação separável associado ao escomanto de um
lı́quido.
Imagine um recipiente em formato de superfı́cie de revolução em torno do eixo
dos y de um gráfico
x = f (y), y ∈ [0, y(0)]
onde y(0) é a altura do lı́quido que preenche o recipiente.
A chamada Lei de Torricelli diz que a velocidade com que o lı́quido sai pela base
do recipiente é proporcional à altura do lı́quido, da forma:
p u.m.
2g · y(t) .
t
onde g é a constante de aceleração gravitacional e u.m. é unidade de comprimento.
Se a abertura ba base tem área de A u.m.2 então a queda do volume V (t) do
lı́quido é de
dV p u.m.3
= −A · 2g · y(t) .
dt t
Seja V (y) o volume do lı́quido quando a altura é y. Esse é o volume do sólido de
revolução calculado integrando as fatias circulares horizontais:
Z y
V (y) = π · f (u)2 du.
0
Então pela regra da derivada da composta e pelo teorema fundamental:
dV dV dy
= · =
dt dy dt
6. EQUAÇÕES HOMOGÊNEAS 528
= π · f (y)2 · y ′ (t).
Então a altura em cada instante do lı́quido satisfaz a seguinte equação separável:
√
′ −A · 2g y
y (t) = .
π · f (y)2
Suponha agora que
√
x = f (y) = 4 y ou seja y = x4 .
Então a equação anterior vira:
√
′ A· 2g
y (t) ≡ − ,
π
que é constante.
Tomando
π
A= √ ,
A· 2g
temos
y(t) = y(0) − t
e portanto a altura y(t) serve como relógio para marcar o tempo ! Esses relógios de
água se chamam clepsidras.
6. Equações homogêneas
As equações
y ′(x) = F (x, y)
em que a função F tem a propriedade
F (x, y) = F (t · x, t · y), ∀t
são chamadas de4 homogêneas de grau 0.
Essas equações são resolvidas associando-se a elas uma equação separável.
Isso se faz do seguinte modo: tomando o t particular t = x1 posso dizer então que:
1 1 y
y ′(x) = F (x, y) = F ( · x, · y) = F (1, ) =: F (1, u),
x x x
chamando u := xy .
Temos u(x) = y(x) x
, ou seja,
u(x) · x = y(x)
e derivando:
u′ (x) · x + u(x) = y ′ (x) = F (1, u).
O que produz a equação separável nas variáveis u e x:
F (u) − u(x)
u′ (x) = .
x
Essas já sabemos resolver !
(A,B)
Por Exemplo:
ax + by + c
y ′(x) = , com x 6= 0 ea · e − d · b 6= 0.
dx + ey + f
Se c = f = 0 já estamos num caso de equação homogênea de grau 0, pois:
at · x + bt · y ax + by a + b · xy
= = .
dt · x + et · y dx + ey d + e · xy
Se c 6= 0 ou f 6= 0 faço as mudanças de coordenadas:
v =y−β e u=x−α
onde ainda resta escolher quais serão os números α, β, mas pelo menos já temos:
dv dy
= ,
du dx
pois pela regra da composta escrita na notação de Leibniz:
dv dv dy dx dy
= · · =1· · 1.
du dy dx du dx
Ou seja,
dv ax + by + c a · (u + α) + b · (v + β) + c
= = =
du dx + ey + f d · (u + α) + e · (v + β) + f
au + bv + c + a · α + b · β
=
du + ev + f + d · α + e · β
e aı́ vemos que precisamos escolher α, β para que tenhamos:
c + a · α + b · β = 0 e f + d · α + e · β = 0,
ou seja, precisamos resolver o sistema linear não homogêneo (já que c 6= 0 ou f 6= 0):
a · α + b · β = −c
d · α + e · β = −f
Pela regra de Cramer tudo que precisamos é a condição: a · e − d · b 6= 0.
Com as soluções α, β desse sistema conseguimos uma equação homogênea, que já
sabemos resolver.
7. Equações exatas
As equações separáveis e algumas outras equações diferenciais que vimos recaem
em situações do tipo:
d U(x, y(x))
=C
dx
e daı́ as resolvemos como U(x, y(x)) = C · x + D.
CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA
ORDEM 531
Definição 7.1. Uma equação y ′ (x) = F (x, y) é exata se pode ser escrita como:
F1 (x, y) · y ′(x) + F2 (x, y) = C
onde F1 (x, y), F2(x, y) são contı́nuas em U e verificam
d U(x, y(x))
F1 (x, y) · y ′(x) + F2 (x, y) =
dx
para alguma função U(x, y) definida em U, cujas derivadas parciais de primeira e
segunda ordem são contı́nuas.
Afirmação 7.1. Seja a equação
F1 (x, y) · y ′(x) + F2 (x, y) = C
com (x, y) numa região U do plano.
De i):
Se existe uma função U(x, y) para a qual na região U:
d U(x, y(x))
F1 (x, y) · y ′ (x) + F2 (x, y) = ,
dx
então isso quer dizer pela regra da composta que:
∂U(x, y(x)) ∂U(x, y(x))
= F1 (x, y) e = F2 (x, y).
∂y ∂x
7. EQUAÇÕES EXATAS 532
Ou seja, que a função U(x, y) definida em U que buscamos (contı́nua, derivável, etc)
seria essencialmente uma estensão dessa θ(x, y) a toda a regio U.
Mas se pode mostrar que essa estensão é impossı́vel, pelo fato de U ser uma região
em torno da origem: pense em um cı́rculo em torno da origem, como poderı́amos
medir ângulos quando damos voltas nesse cı́rculo ? Isso levaria a mais de um valor
de ângulo para cada ponto (θ + k · 2π, k ∈ Z) e portanto U(x, y) = θ(x, y) não seria
uma verdadeira função bem definida,
De iii):
A expressão
Z x Z y
U(x, y) := F2 (t, c) dt + F1 (x, t) dt
a c
faz sentido no retângulo [a, b] × [c, d] e cada integral existe pois F1 e F2 são funções
contı́nuas. R
x
Como a F2 (t, c) dt não depende de y,
Rx
∂( a F2 (t, c) dt)
= 0.
∂y
Pelo Primeiro Teorema Fundamental:
Ry
∂( c F1 (x, t) dt)
= F1 (x, y).
∂y
Portanto
∂U(x, y)
= F1 (x, y).
∂y
Queremos agora derivar U(x, y) em x e em y. Para isso algumas observações são
importantes.
Usando o Primeiro Teorema Fundamental sabemos que
Rx
∂( a F2 (t, c) dt)
= F2 (x, c).
∂x
Ry
Mas como derivar c F1 (x, t) dt em relação a x ? Ry
Note que x funciona como um parâmetro para as diferentes integrais c F1 (x, t) dt,
ou seja, há uma aplicação:
Z y
x ∈ [a, b] 7→ F1 (x, t) dt
c
= F2 (x, y)
como querı́amos.
que aparece no item iii) da Afirmação 7.1 é uma integral ao longo de uma linha
quebrada Γ.
De fato, fixado o ponto (x, y), então Γ pode ser parametrizada por
t ∈ [a, x] ∪ [c, y]
da seguinte forma:
Γ(t) = (t , c ), se t ∈ [a, x]
Γ(t) = ( x , t ), se t ∈ [c, y]
Confira que Γ(a) = (a, c), Γ(x) = (x, c) = Γ(c) e Γ(y) = (x, y).
A figura ilustra essa linha quebrada:
CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA
ORDEM 535
(x,y)
(a,c) (x,c)
Z x
:= [F1 (x(t), y(t)) · y ′ (t) + F2 (x(t), y(t)) · x′ (t)] dt+
a
Z y
+ [F1 (x(t), y(t)) · y ′ (t) + F2 (x(t), y(t)) · x′ (t)] dt =
c
Z x Z y
= F2 (t, c) dt + F1 (x, t) dt,
a c
como afirmamos.
Afirmação 8.1. Suponha que U é uma região do plano com a propriedade de que
quaisquer dois de seus pontos possam ser ligados por alguma curva parametrizada
derivável.
Se a equação
F1 (x, y) · y ′(x) + F2 (x, y) = C
independe da curva parametrizada Γ ⊂ U que liga (a, c) a (x, y). Ou seja, depende
apenas dos pontos iniciais e finais.
9. DERIVADA DA INTEGRAL EM RELAÇÃO AO PARÂMETRO -
FÓRMULAS DE LEIBNIZ 536
(x,y)
(a,c) (x,c)
Figura: A linha quebrada de antes e outra curva ligando (a, c) a (x, y).
Demonstração.
Z Z B
F1 (x, y)dy + F2 (x, y)dx := [F1 (x(t), y(t)) · y ′(t) + F2 (x(t), y(t)) · x′ (t)] dt =
Γ A
Z B
∂U(x(t), y(t)) ′ ∂U(x(t), y(t)) ′
= [ · y (t) + · x (t)] dt =
A ∂y ∂x
Z B
d U(x(t), y(x(t)))
= dt =
A dt
= U(B) − U(A),
onde após a definição, usamos que a equação é exata, depois a regra da derivada da
composta5, e por último usamos o Teorema Fundamental do Cálculo.
Demonstração.
Queremos provar que para cada x:
Z b
∂F ∂f (t, x)
(x) = (x) dt.
∂x a ∂x
Ou seja, queremos ver se
Z b
∂f (t, x) F (x + h) − F (x)
(x) dt = lim :=
a ∂x h→0 h
Rb Rb
a
f (t, x + h) dt − a f (t, x) dt
:= lim .
h→0 h
Para cada h posso escrever:
Rb Rb Z b
a
f (t, x + h) dt − a f (t, x) dt f (t, x + h) − f (t, x)
= dt
h a h
O que queremos saber é, finalmente, se dado ǫ > 0 existe δ (dependendo de ǫ e de x
possivelmente) tais que:
Z b Z b
f (t, x + h) − f (t, x) ∂f (t, x)
|h| < δ ⇒ | dt − (x) dt | < ǫ.
a h a ∂x
Vejamos como determinar esse δ. Temos
Z b Z b
f (t, x + h) − f (t, x) ∂f (t, x)
| dt − (x) dt | =
a h a ∂x
Z b
f (t, x + h) − f (t, x) ∂f (t, x)
=| ( − (x)) dt | ≤
a h ∂x
Z b
f (t, x + h) − f (t, x) ∂f (t, x)
≤ | − (x)| dt.
a h ∂x
O Teorema do Valor Médio de Lagrange no6 intervalo [x, x + h] dá que:
f (t, x + h) − f (t, x) ∂f (t, x)
= (x + τ · h), para algum 0 < τ < 1.
h ∂x
Portanto:
Z b Z b
f (t, x + h) − f (t, x) ∂f (t, x) ∂f (t, x) ∂f (t, x)
| − (x)| dt = | (x + τ · h) − (x)| dt.
a h ∂x a ∂x ∂x
Por hipótese
∂f (t, x)
: [a, b] × [c, d] → R
∂x
é contı́nua e
||(t, x + τ · h) − (t, x)|| ≤ |h|.
Portanto pela Afirmação 15.1 existe δ tal que
∂f (t, x) ∂f (t, x) ǫ
|h| < δ ⇒ | (x + τ · h) − (x)| <
∂x ∂x b−a
6para simplificar a exposição, me restrinjo a considerar h > 0, mas o caso h < 0 é análogo.
9. DERIVADA DA INTEGRAL EM RELAÇÃO AO PARÂMETRO -
FÓRMULAS DE LEIBNIZ 538
e portanto Z b
∂f (t, x) ∂f (t, x)
|h| < δ ⇒ | (x + τ · h) − (x)| dt < ǫ
a ∂x ∂x
como querı́amos.
Exemplo:
Seja: Z 1
x·t ex·t ex·t ex 1
F (x) := e dt = (1) − (0) = −
0 x x x x
e portanto
ex ex 1
F ′ (x) = − 2 + 2.
x x x
Por outro lado, Z Z 1
1
∂ ex·t
dt = ex·t · t dt
0 ∂x 0
e integrando por partes se obtêm:
Z 1 Z 1 x·t
x·t ex·t ex·t e
e · t dt = ( · t)(1) − ( · t)(0) − · 1 dt =
0 x x 0 x
ex ex 1
= − 2 + 2.
x x x
A Afirmação anterior 9.1 admite uma versão mais geral, que menciono agora, mas
que ainda não provo:
R b(x)
Afirmação 9.2. Seja F (x) := a(x) f (t, x) dt uma integral dependendo de um parâmetro
x ∈ [c, d] (intervalo fechado), onde os limites de integração a(x) e b(x) são funções
deriváveis de x.
Suponha que existe ∂f∂x
e que a função
∂f
: [a, b] × [c, d] → R
∂x
seja contı́nua (ver Def. 15.1).
Então:
Z b(x)
∂F db(x) da(x) ∂f (t, x)
= · f (t, x)|t=b(x) − · f (t, x)|t=a(x) + dt.
∂x dx dx a(x) ∂x
Por exemplo, se Z x
F (x) = et−x · t dt,
0
então, pondo a(x) ≡ 0 e b(x) = x, teremos pela Afirmação 9.2:
Z x
′ t−x t−x
F (x) = 1 · (e · t)t=x − 0 · (e · t)t=0 + (−et−x · t) dt =
0
CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA
ORDEM 539
Z x
= x− et−x · t dt.
0
Mas neste exemplo simples também se pode fazer a conta diretamente, pois:
Z x Z x
t−x −x
F (x) = e · t dt = e · et · t dt
0 0
de onde, pela regra do produto e pelo Teorema Fundamental:
Z x Z x
′ −x t −x x
F (x) = −e · e · t dt + e · e · x = x − et−x · t dt.
0 0
0,4
0,2
y(x) 0
1 2 3 4 5
x
-0,2
-0,4
x
1 2 3 4 5
0
-0,1
-0,2
-0,3
-0,4
-0,5
CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA
ORDEM 541
Exemplo:
Considero a equação:
n √
· x · y ′(x) + n x + y = 0, n ∈ N, n ≥ 2
n−1
para x 6= 0 e ademais x > 0 se n é par.
Essa equação não é exata. Multiplico-a por µ(x):
n √
· x · µ(x) · y ′ (x) + µ(x) · ( n x + y) = 0.
n−1
e quero ter:
n n
µ′ (x) · · x + µ(x) · = µ(x),
n−1 n−1
ou seja, para µ(x) 6= 0:
µ′ (x) 1 1
=− · .
µ(x) n x
Integrando e tomando exponencial obtenho:
1
−n 1
µ(x) = eln(x )
= x− n .
1
Então multiplicada por µ(x) = x− n a equação vira a nova equação exata:
n n−1 −1
· x n · y ′ (x) + 1 + x n · y = 0, n ∈ N, n ≥ 2
n−1
cuja solução geral é
Z x Z y
−n1 n n−1
U(x, y) = (1 + t · c) dt + · x n dt =
a c n−1
n n−1 n n−1 n n−1
= x+ · x n · c − C1 + ·x n ·y− ·x n ·c=
n−1 n−1 n−1
n n−1
= x+ · x n · y − C1 ,
n−1
ou seja, as soluções são:
n n−1
x+ · x n · y = C1 .
n−1
O Exercı́cio 16.1 no final do Capı́tulo consiste em encontrar fator integrante.
11. EQUAÇÕES IMPLÍCITAS, DISCRIMINANTES E ENVELOPES 542
e Z R
−a(x)dx
h(x) = − b(x) · e dx + C.
Portanto Z
R R
−a(x)dx −a(x)dx
U(x, y) = e ·y− b(x) · e dx ≡ C,
que também dá: Z
R R
a(x)dx
y=e · [ b(x) · e −a(x)dx dx + C].
0,5
x
-1 -0,5 0 0,5 1
0
-0,5
-1
-1,5
-2
-2,5
1,5
y 1
0,5
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
0,05
0,04
0,03
0,02
0,01
0
0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1
x
∂F (x, y) ∂F (x, y)
· (x − x) + · (y − y) = 0.
∂x ∂y
Da definição de vetor tangente Γ′ (t) = (x′ (t), y ′(t)) a uma curva parametrizada
Γ dada na Seção 3 do Capı́tulo 28 e das explicações que demos lá, segue que Γ é
tangente a F (x, y) = 0 quando:
Diremos que uma curva F (x, y) = 0 é não-singular se em cada ponto da curva es-
tiver definida sua reta tangente. Portanto isso equivale a que não aconteça a anulação
simultânea de ∂F∂x
(x,y)
e de ∂F∂y
(x,y)
em nenhum ponto da curva F (x, y) = 0.
Afirmação 11.1. Seja F (x, y, c) = 0 uma famı́lia de curvas com um parâmetro
c ∈ J, onde J é um intervalo. Suponha que para cada c a curva F (x, y, c) = 0 é
não-singular. Suponha que, ademais das derivadas ∂F (x,y,c)
∂x
e ∂F (x,y,c)
∂y
, esteja também
∂F (x,y,c)
definida a derivada ∂c
. Seja
Γ : I → R2 , Γ(t) = (x(t), y(t))
uma curva parametrizada, derivável, onde I é intervalo.
Suponha que para parâmetro c exista um valor bem determinado de t, chamado
de t(c), tal que Γ é tangente à curva F (x, y, c) = 0 no ponto Γ(t(c)). E suponha que
essa função t = t(c) seja derivável.
Então Γ está contida no envelope da famı́lia F (x, y, c) = 0.
Demonstração.
Como Γ(t(c)) é tangente à curva F (x, y, c) = 0 no ponto
Γ(t(c)) = (x(t(c)), y(t(c))) = (x(c), y(c)),
em particular temos:
F (x(c), y(c), c) ≡ 0, ∀c ∈ J.
Como t = t(c), x(t) e y(t) são deriváveis, então por composição x(t(c)) = x(c) e
y(t(c)) = y(c) também o são. Chamando
φ(c) = F (x(c), y(c), c) ≡ 0
obtemos derivando-a9:
0 ≡ φ′ (c) =
∂F (x(c), y(c), c) ′ ∂F (x(c), y(c), c) ′ ∂F (x(c), y(c), c)
= · x (c) + · y (c) + .
∂x ∂y ∂c
Segue do que vimos na seção 3 do Capı́tulo 15 que o fato de Γ ser tangente à
famı́lia em F (x, y, c) = 0 se escreve, para cada c, como:
∂F (x(c), y(c), c) ′ ∂F (x(c), y(c), c) ′
· x (c) + · y (c) ≡ 0.
∂x ∂y
Concluı́mos de 0 ≡ φ′ (c) que:
∂F (x(c), y(c), c)
0≡ .
∂c
Ou seja que Γ está contida na curva envelope, pois essa está definido por:
∂F (x, y, c)
F (x, y, c) = = 0.
∂c
9E usando uma versão da regra da composta para funções de mais de uma variável
12. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N. 5, 1942 548
c>0
∆
V
∆
c<0
Consegui depois fazer no Maple uma figura mais realista, porém restrita a peque-
nas regiões do plano, dessa famı́lia:
10
5
x
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
0
-5
-10
-15
13. EQUAÇÕES DE CLAIRAUT E DE LAGRANGE: ISÓCLINAS RETAS 550
15
10
0
-0,6 -0,5 -0,4 -0,3 -0,2 -0,1
x
-5
-10
A primeira figura é para x > e a segunda para x < 0, onde se vê parte da curva
envelope y = − 76 · x1 em vermelho.
Exemplo:
Suponhamos que a(p) = αp, α 6= 1 e que b(p) ≡ C1 . Neste caso simples,
db
p − a(p) = (1 − α)p e =0
dp
portanto
da db
dx dp dp
− ·x =
dp p − a(p) p − a(p)
se reduz a:
dx α
= · x.
dp (1 − α)p
logo: R α α
dp
x(p) = C2 · e (1−α)p = C2 · ||p|| (1−α)p
e
α
y(p) = α · C2 · ||p|| (1−α)p · p + C1 .
Se p > 0 temos
1
y(p) = α · C2 · p 1−α + C1 .
Como neste caso simples a equação original é linear:
dy dy y C1
y = αx · + C1 ⇔ − =−
dx dx αx αx
R 1 1
− αx dx
sabemos resolvê-la e obtemos, com o fator de integração ν(x) := e = x− α , se
x > 0, e temos:
1
y(x) = K · x α + C1 , x > 0.
Para chegarmos de
1
y(x) = K · x α + C1 , x > 0, K 6= 0
em
1
y(p) = α · C2 · p 1−α + C1 , p>0
basta notar que
dy K 1−α
p= = ·x α ,
dx α
ou seja,
α α
x=( · p) 1−α
K
e escolhermos
α 1−α
1
C2 = ( ) .
K
Exemplo:
CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA
ORDEM 553
p2 dy
y= · x + 2p, p=
2 dx
é uma equação de Lagrange.
2
As duas soluções p = 0, 2 de p − a(p) = p − p2 = 0 dão origem a duas soluções
retas da equação original:
y = 2x + 4 e y ≡ 0.
Se p 6= 0 e p 6= 2, então da equação de Lagrange obteremos, como explicado, a
equação diferencial linear:
dx p 2
− p 2 · x = 2 .
dp p −
2
p− p 2
R 2
dp
Usando o fator de integração µ(p) = e = (p−2)2 , obteremos a solução geral:
p−2
1
x(p) = · (4 ln(p2 ) − 4p + K), K ∈ R.
(p − 2)2
e daı́
p2
y(p) = · x(p) + 2p.
2
14. Transformação de Legendre, dualidade e resolução de equações
diferenciais
Considere uma função y = y(x) tal que sua derivada y ′ = y ′ (x) seja ela mesma
uma função inversı́vel.11
Denote a função inversa de y ′ = y ′(x) por x = x(y ′ ).
Defino
X := y ′(x)
e a transformação de Legendre de y = y(x) é a função Y (X) dada por
Y (X) := x · y ′ (x) − y(x) = X · x(X) − y(x(X)).
Afirmo que:
dY
Y ′ (X) := = x(X).
dX
De fato,
′ d(x · y ′ (x) − y(x)) (x(X) · X − y(x))
Y (X) = := =
dX dX
dx(X) dy(x) dx
= x(X) + ·X − · =
dX dx dX
dx(X) dx
= x(X) + ·X −X · = x(X).
dX dX
Agora afirmo que:
y(x) = X · Y ′ (X) − Y (X),
11Isso pode ser garantido se y ′′ (x) > 0 ∀x num Intervalo I, ou seja, se y(x) for convexa, pois
então y (x) é estritamente crescente em I e segue que y ′ (x) é inversı́vel.
′
14. TRANSFORMAÇÃO DE LEGENDRE, DUALIDADE E RESOLUÇÃO DE
EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 554
Exemplo:
Resolver:
(a2 · x + b2 · y + c2 ) · (y ′ )2 + (a1 · x + b1 · y + c1 ) · y ′ + a0 · x + b0 · y + c0 = 0,
onde ai , bi , ci ∈ R.
Solução: se faço as mudanças
y ′ = X, x = Y ′ (X), y = XY ′ (X) − Y,
12 Esses dois exemplos tirei de E. Kamke, Differentialgleichungen
CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA
ORDEM 555
que nada mais são que a transformação de Legendre, obtemos - basta expandir a
expressão obtida por composição e depois reunir os termos -
(A(X) + X · B(X)) · Y ′ (X) − B(X) · Y + C(X) = 0,
onde
A(X) := a2 X 2 + a1 X + a0 , B(X) := b2 X 2 + b1 X + b0 e C(X) := c2 X 2 + c1 X + c0 .
Ora, sabemos resolver esta equação diferencial linear de primeira ordem
B(X) C(X)
Y ′ (X) − ·Y = −
A(X) + X · B(X) A(X) + X · B(X)
via fator de integração
R B
− A+X·B dX
µ(X) = e .
Portanto teremos explicitamente:
R R
Z R
B
dX B
dX B C(X)
Y = Y (X) = K · e A+X·B −e A+X·B · e− A+X·B
dX
· dX.
A(X) + X · B(X)
E daı́ a solução geral x = Y ′ (X) e y = X · Y ′ (X) − Y (X) da equação original.
Exemplo:
Resolver:
x3 (y ′ )2 − 2x2 yy ′ + xy 2 − y ′ = 0.
Solução: Reescrevo-o como:
y ′ = x · (xy ′ − y)2 .
Com a transformação de Legendre
y ′ = X, x = Y ′ (X), Y (X) = xy ′ − y
essa equação vira a equação separada:
X = Y ′ (X) · Y (X)2 ,
que se resolve por:
X2 Y3
= + K, K ∈ R.
2 3
Ou seja,
3 1
Y (X) = ( X 2 + K) 3 .
2
Daı́ sai
x = Y ′ (X) y = X · Y ′ (X) − Y (X).
15. APÊNDICE: FUNÇÕES CONTÍNUAS DE DUAS VARIÁVEIS E
CONTINUIDADE UNIFORME 556
Note que essa definição pede que haja aproximação do valor F (x, y), não impor-
tando em que direção no plano nos aproximemos de (x, y),
A função
(x + y)2
z = F (x, y) := , se (x, y) 6= (0, 0) e F (0, 0) = K
x2 + y 2
não é contı́nua em (0, 0) para nenhuma escolha de K ∈ R.
De fato, escolha um K. Se nos aproximamos de (0, 0) pela reta y = x a função
vale nesses pontos:
4x2
z = F (x, x) := = 2, se x 6= 0 e F (0, 0) = K
2x2
enquanto que se nos aproximamos de (0, 0) pela reta y = −x a função vale nesses
pontos:
z = F (x, −x) := 0, se x 6= 0 e F (0, 0) = K.
Logo ou |F (x, x) − K| não fica pequeno ou |F (x, −x) − K| não fica pequeno.
Já um polinômio de duas variáveis
z = a00 + a10 x + a0,1 y + a11 xy + . . . ann xn y n
de grau 2n é um bom exemplo de função contı́nua no sentido da Definição 15.1.
No Capı́tulo 6 vimos que
1
f : (0, +∞) → R, f (x) =
x
é uma função contı́nua.
Mas o Exemplo 2) da Seção 2 do Capı́tulo 5 já tinha mostrado o que a Figura
indica: que vai ficando mais difı́cl encontrar o δ > 0 adequado à medida que x se
aproxima do 0 para que tenhamos:
1 1
|x − x| < δ ⇒ | − | < ǫ.
x x
CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA
ORDEM 557
2ε
2ε
2ε
A próxima afirmação dá uma resposta geral (sua prova é mais tı́pica dos cursos
de Análise):
Afirmação 15.1. Seja f um função em uma variável x ou em duas variáveis (x, y),
que é contı́nua em cada ponto de um intervalo fechado [a, b] ou de um retângulo
fechado [a, b] × [c, d].
Então a escolha de δ > 0 para que:
|x − x| < δ ⇒ |f (x) − f (x)| < ǫ,
ou para que
||(x, y) − (x, y)|| < δ ⇒ |f (x, y) − f (x, y)| < ǫ,
só depende de ǫ e não no ponto particular x ou (x, y).
16. EXERCÍCIOS 558
16. Exercı́cios
Exercı́cio 16.1. (resolvido)
Seja n ∈ N, com n ≥ 2 fixado.
Considere a equação diferencial:
((n + 1)xn−1 y n + n2 xn y n−1 ) · y ′ (x) + nxn−2 y n+1 + n(n + 1)xn−1 y n = 0
i) Encontre um fator integrante µ(x) para a equação.
ii) determine as curvas integrais.
CAPı́TULO 37
Curvas de Perseguição
Este capı́tulo consegue reunir temas distintos, que já tratamos, como equações
diferenciais separáveis, envelopes e cônicas. E dá uma aplicação prática, o que me
parece valioso. 1
1. O problema
Imagine um objeto P = P (t) que sai de
(0, y)
no eixo positivo dos y e que todo tempo persegue um outro objeto Q = Q(t) que se
desloca a partir da origem, no sentido do eixo dos x.
Perseguir aqui significa que todo tempo a reta tangente à curva descrita por P (t)
passa por Q(t).
A reta tangente faz então papel da visão do predador P (t), que está todo o tempo
fixada na presa Q(t).
Por isso o tema interessou A. Lotka, estudioso dos aspectos matemáticos da Ecolo-
gia, como veremos mais adiante neste Capı́tulo.
Se não colocamos nenhuma hipótese sobre as velocidades dos pontos o problema
é intratável, mas:
Afirmação 1.1. Imagine um predador P = P (t) que sai de
(0, y)
no eixo positivo dos y e que todo tempo persegue Q = Q(t) que se desloca a partir
da origem, no sentido do eixo dos x. Suponha que o vetor velocidade de P (t) tem
módulo constante v1 e que a velocidade de Q(t) é constante v2 .
i) Se r := vv12 < 1 então
y
• no tempo t = v1 ·(1−r2 ) o predador P (t) colide com a presa Q(t) no ponto do
ry
eixo dos x cuja coordenada é x = 1−r2
y
• o predador percorreu a distância 1−r2 .
• a curva descrita por P (t) tem equação
yr 1−r
y −r ry
x=− ·y + · y 1+r + .
2(1 − r) 2(1 + r) 1 − r2
1Aprendi essas coisas inicialmente com o livro The W. L. Putnam Mathematical Competition,
Problems and solutions, 1938-1964., Math. Association of America. e depois com artigos de A.
Bernhardt, Curves of pursuit, Scripta Mathematica, vol. 20, 1954, vol. 23, 1957 e vol. 24, 1959,
bem como com o de A. Lotka, Families of curves of pursuit, and their isochrones, The American
Mathematical Monthly, Vol. 35, No. 8 (Oct., 1928), pp. 421-424.
559
1. O PROBLEMA 560
v2
ii) Se r := v1
= 1 então
1
• o predador não alcança a presa, mas segue-a a uma distância que tende a y
quando t → +∞.
• a curva descrita pelo predador P (t) tem equação
y y y y y
x = − ln( ) + ( )2 − .
2 y 4 y 4
A figura a seguir ilustra um dia da caça e outro do caçador.
Cuide que o eixo dos y foi posto horizontalmente e as escalas não são as mesmas
para fica evidente o ponto de impacto.
20
15
10
0
0 1 2 3 4 5 6
y
1
Fig.: Com y = 6 e r = 2
a presa é apanhada em x = 4. Em verde a curva se r = 1.
Derivo-a em y obtendo:
dx d2 x dx dt
+y· 2 = − r · v1 · ,
dy dy dy dy
ou seja, s
2
d x dt dx 2
y· 2
= −r · v1 =r· ( ) + 1.
dy dy dy
Com a variável
dx
z :=
dy
o que temos então é a equação diferencial:
dz √
y· = r · z 2 + 1,
dy
que é separável:
1 dz r
√ − = 0.
z 2 + 1 dy y
A solução geral é: √
ln(z + z 2 + 1) − r · ln(y) = C1 ,
pois já vimos a primitiva
Z √
1
√ dz = ln(z + z 2 + 1)
z2 + 1
no Capı́tulo 25.
dx
A constante C1 fica determinada pela condição que em y = y temos z := dy
= 0:
−r · ln(y) = C1
ou seja a solução é:
√
ln(z + z 2 + 1) − r · ln(y) = −r · ln(y),
quer dizer: √
r · ln(y) − r · ln(y) = ln(z + z 2 + 1),
ou seja
y √
ln(( )r ) = ln(z + z 2 + 1)
y
e portanto:
y √
( )r = z + z 2 + 1.
y
Isso dá:
y
(( )r − z)2 = z 2 + 1
y
e daı́ isolo z:
1 y 1 y
z = − ( )−r + ( )r .
2 y 2 y
CAPÍTULO 37. CURVAS DE PERSEGUIÇÃO 563
dx
R
Como z = dy
então z dy = x + C e portanto, se
0 < r < 1,
então no item i) obtemos
y y y y
x + C2 = − · ( )1−r + · ( )1+r .
2 · (1 − r) y 2 · (1 + r) y
A constante C2 se determina com a condição de que quando x = 0 temos y = y:
y y r·y
C2 = − + =− .
2 · (1 − r) 2 · (1 + r) 1 − r2
Obtivemos então no caso 0 < r < 1 que
y y y y r·y
x=− · ( )1−r + · ( )1+r +
2 · (1 − r) y 2 · (1 + r) y 1 − r2
descreve o traço de γ, a trajetória do predador.
Tudo que fizemos acima era para y > 0. Mas quando y → 0 vemos que a coorde-
nada x(y) de γ verifica:
r·y
x(y) → ,
1 − r2
pois r < 1.
Por outro lado, como
dx 1 y 1 y
y· = y · (− ( )−r + ( )r ) =
dy 2 y 2 y
1 y 1−r 1 y 1+r
= − · −r + · r
2 y 2 y
dx
e como 0 < r < 1 vemos que y → 0 implica y · dy
→ 0, ou seja,
dx
x(y) − r · v1 · t(y) = y · → 0 quando y → 0.
dy
Já que a posição da presa em função do tempo é dada por
r · v1 · t(y),
o que vemos é que quando y → 0 também a posição da presa tende a
r·y
.
1 − r2
r·y
Logo o ponto no eixo dos x dado por 1−r2 é o ponto em que o predador pega a
presa.
O tempo transcorrido na caçada foi
y
.
v1 · (1 − r 2 )
O predador percorreu a distância
y y
v1 · 2
=
v1 · (1 − r ) 1 − r2
1. O PROBLEMA 564
A Afirmação a seguir reúne algumas observações que eu pude fazer após entender
a Afirmação 1.1:
Afirmação 1.2. Imagine um predador P = P (t) que sai de
(x, y), com x ≥ 0 e y > 0
e que todo tempo persegue Q = Q(t) que se desloca a partir da origem, no sentido do
eixo dos x. Suponha que o vetor velocidade de P (t) tem módulo constante v1 e que a
velocidade de Q(t) é constante v2 .
Se r := vv12 < 1 então
• o predador P (t) colide com a presa Q(t) no ponto do eixo dos x cuja coorde-
nada é
y Ay
− +x
2A · (1 − r) 2(1 + r)
onde r
x x
A = + ( )2 + 1.
y y
CAPÍTULO 37. CURVAS DE PERSEGUIÇÃO 565
0
0 1 2 3 4 5 6
y
Na figura a seguir faço um zoom da figura para ver as diferentes posições em que
apanham a presa:
3,6
3,2
2,8
2,4
Demonstração.
Basta repetir a prova da Afirmação 1.1 mas levando em conta como devem ser
determinadas as constantes de integração C1 e C2 .
A constante C1 fica determinada agora pela condição que em y = y temos
dx x
z := = ,
dy y
pois a reta tangente de γ deve passar pela origem.
E depois a constante C2 fica determinada por x = x quando y = y.
Desse jeito se chega, como antes, na equação da curva γ:
yr A · y −r y A·y
x=− · y 1−r + · y 1+r + − + x,
2A · (1 − r) 2(1 + r) 2A · (1 − r) 2(1 + r)
que tende a
y A·y
− +x
2A · (1 − r) 2(1 + r)
quando y → 0, pois 0 < r < 1.
Fixado y e deixando variável apenas a coordenada x temos uma função
y A(x) · y
d(x) := − + x,
2A · (1 − r) 2(1 + r)
onde r
x x
A(x) = + ( )2 + 1,
y y
que dá a posição de impacto no eixo dos x. Se minimizamos essa posição de impacto
no eixo dos x estaremos minimizando o tempo da caçada (pois esse tempo é igual à
posição no eixo x dividido por v2 , a velocidade da presa).
Um cálculo mecânico dá que d′ (x) se anula em:
y·r
x= √ ,
1 − r2
e que d′′ (x) nesse ponto é positiva. Esse mı́nimo local de fato é o ponto de mı́nimo
global de d(x).
y y
ρ s
Q r.s I
x x
Já multiplicando a primeira do sistema por cos(θ) e a segunda por sin(θ) e somando-as
obtenho:
dθ
ρ· = −r · sin(θ).
ds
Agora é só juntar essas duas equações obtidas e temos a equação diferencial:
dρ dθ
(1 − r · cos(θ)) · + r · sin(θ) · ρ · = 1 − r2.
ds ds
Reconhecemos aı́ uma equação diferencial exata:
d [ (1 − r · cos(θ)) · ρ]
= 1 − r2 .
ds
Integrando-a temos:
(1 − r · cos(θ)) · ρ = (1 − r 2 ) · s + C.
A constante C fica determinada quando impomos que para s = 0 (ou seja, estando
em I) a distância entre P e Q é ρ = 0. Ou seja, C = 0.
Portanto
(1 − r 2 ) · s (1 − r 2 ) · s
ρ= = .
1 − r · cos(θ) 1 + r · cos(π − θ)
Ora, para cada s fixado
(1 − r 2 ) · s
ρ=
1 + r · cos(π − θ)
é uma elipse com excentricidade 0 < r < 1 e com (1 − r 2 ) · s de semi-latus rectus (veja
a Afirmação 7.1 do Capı́tulo 39).
Lembre que naquela descrição o ângulo θ := π − θ é medido com o eixo polar (eixo
dos x > 0) e que o pólo do sistema polar (ρ, θ) é o foco da cônica.
A interpretação que Lotka dá é a seguinte (sempre supondo velocidades v1 , v2
constantes e r = vv21 ).
Suponha que a presa Q segue em direção ao refúgio I que dista dela r · s. Se um
predador P seguindo uma curva de perseguição qualquer avista Q, então P consegue
pegar Q antes que este se refugie se P está no interior da elipse
(1 − r 2 ) · s
ρ= .
1 + r · cos(π − θ)
Essa elipse descreve todos os pontos em que P , seguindo curvas de perseguição, pega
Q em I.
De acordo com a Afirmação 4.1 do Capı́tulo 20, a equação dessa retas refletidas
é:
f ′ (x)2 − 1 f ′ (x)2 − 1
y=( ) · x + f (x) − ( )·x=
2f ′ (x) 2f ′ (x)
a2 − x2 x2 − a2
= · x + a · ln(x) + .
2ax 2a
Isso se pode escrever também como:
F : y · (2ax) − (a2 − x2 ) · x = 2a2 x ln(x) − (a2 − x2 ) · x.
Como F é uma famı́lia de retas com parâmetro x, pode ser derivada em relação ao
parâmetro. Obtemos:
∂F
: 2a · y + 2x · x = 2a2 ln(x) + a2 + 3x2 .
∂x
Agora note que
∂F
F −x·
∂x
é
−(a2 − x2 ) · x = −2x · (a2 − x),
de onde
x = 2x.
Quando substituido em F , x = 2x dá:
x2 a
y = a ln(x) − + .
2a 2
Ou seja, a equação do envelope da famı́lia de retas F é:
x ( x )2 a
y = a ln( ) − 2 + ,
2 2a 2
ou seja, o envelope é:
x2 a
y = a ln(x) − + − a ln(2).
8a 2
Se reconhece aı́, trocando x por y, uma curva de perseguição do tipo do item ii)
da Afirmação 1.1.
A figura a seguir ilustra a situação, com a = 1, ou seja, y = f (x) = ln(x) (verde),
com 8 retas da famı́lia F e onde a curva envelope (em vermelho)
x2 1
y = ln(x) − + − ln(2)
8 2
persegue pontos no eixo vertical.
4. EXERCÍCIOS 570
0
1 2 3 4 5
x
-1
-2
-3
4. Exercı́cios
Exercı́cio 4.1. (resolvido)
3
Em 1687, Huygens observou que as curvas y = a · x 4 − x, para x ≥ 0, com a > 0
fixado, têm as seguintes propriedades:
a8
i) a área da região finita que fica entre seus gráficos e o eixo dos x tem área 14
.
ii) a tangente ao seu gráfico em (x, y) passa por (− x3 , x3 ), não importando qual o
a > fixado.
3
Prove i) e ii) e, ademais, esboce qualitativamente o gráfico de y = x 4 − x, para
a > 0. Ou seja, determine sinais e raı́zes, crescimento e decrescimento, concavidades
e se há assı́ntotas quando x → +∞.
3
A propriedade ii) diz então que as curvas y = a · x 4 − x são curvas de perseguição
dos pontos (− x3 , x3 ) que se movem na reta y = −x. O quociente entre as velocidades
não é constante neste exemplo.
CAPı́TULO 38
1. Cinética quı́mica
Esta Seção expõe trechos de Notas do Professor Mark Thompson.
Infelizmente não exponho tudo que há em suas notas. Detalhei um pouco mais
algumas contas e acrescentei uns gráficos.
de ordem 1. Essa lei mais complicada pode ser explicada analisando duas reações
elementares envolvidas na reação
2 O3 −→ 3 O2 .
São elas:
O3 ⇋ O2 + O e O + O3 −→ 2O2 .
A primeira delas é muito rápida e leva a um equilı́brio da forma:
[O3 ](t)
[O](t) = C · , C ∈ R>0
[O2 ](t)
enquanto que
O + O3 −→ 2O2
satifaz uma lei:
[O3 ]′ (t) = −k ′ · [O](t) · [O3 ](t).
Portanto
′ ′ [O3 ]2 (t) [O3 ]2 (t)
[O3 ] (t) = −k · C · = −k · .
[O2 ](t) [O2 ](t)
Existem muitas reações cuja cinética é plenamente conhecida, algumas com mecan-
ismos apenas razoavelmente estabelecidos e outras com mecanismos ainda discutidos
e pesquisados.
= (f (0) − a) · e−kx + a.
Mas f (0) = 0 e portanto: f (x) = a · (1 − e−kx ).
A + B −→ C + D
e satisfaz:
f ′ (x) = k · (a − f (x)) · (b − f (x)), k > 0.
Então:
a · b · (1 − ek(a−b)·x )
f (x) = .
b − a · ek(a−b)·x
Ademais,
1,5
0,5
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
x
Figura: Caso k = 1, a = 2, b = 3
CAPÍTULO 38. CINÉTICA QUÍMICA E CRESCIMENTO BACTERIANO 575
2,5
1,5
0,5
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
x
Figura: Caso k = 1, a = 4, b = 3
Demonstração.
Note que de f ′ (x) = k · (a − f (x)) · (b − f (x)) obtenho, dividindo:
f ′ (x)
=k
(a − f (x)) · (b − f (x))
Como já vimos no item ii) da Seção 1 do Capı́tulo 26:
Z
f ′ (x)
dx =
(a − f (x)) · (b − f (x))
Z
−1 f ′ (x) 1 f ′ (x)
= [ · + · ] dx =
a − b (a − f (x)) a − b (b − f (x))
Z Z
1 −f ′ (x) 1 −f ′ (x)
= · dx − · dx =
a − b (a − f (x)) a − b (b − f (x))
Z Z
1 1 1 1
= · du − · dv =
a−b u a−b v
1 1
= · ln(u) − · ln(v) =
a−b a−b
1 1
= · ln(a − f (x)) − · ln(b − f (x)).
a−b a−b
Por outro lado,
1 1
· ln(a − f (x)) − · ln(b − f (x)) = k · x + C.
a−b a−b
Mas se x = 0 temos f (0) = 0, o que dá:
ln(a) − ln(b)
C=
a−b
e portanto:
1
· ( ln(a − f (x)) + ln(b) − ln(b − f (x)) − ln(a) ) = k · x,
a−b
4. CRESCIMENTO BACTERIANO 576
que dá:
1 b · (a − f (x))
· ln( ) = k · x,
a−b a · (b − f (x))
ou seja,
b · (a − f (x))
ln( ) = (a − b) · k · x
a · (b − f (x))
e aplicando exponencial temos:
b · (a − f (x))
= ek·(a−b)·x .
a · (b − f (x))
Agora é só isolar f (x), provando assim a afirmação sobre o formato da f (x).
Se a > b então
lim ek(a−b)·x = +∞
x→+∞
e daı́:
ab
lim f (x) = = b.
x→+∞ a
No caso b > a temos
lim ek(a−b)·x = 0
x→+∞
e daı́:
ab
lim f (x) = = a.
x→+∞ b
4. Crescimento bacteriano
Quando uma quantidade de bactérias é posta num meio de cultivo adequado,
inicialmente sua a população cresce muito rápido.
Mas, ao longo do tempo, quando começam a aparecer detritos e começa a haver
competição por nutrientes há uma desaceleração do crescimento e a população tende
a um platô. Ou seja, ainda nascem e morrem indivı́duos mas a população fica mais
ou menos estável.
Obtemos a mesma descrição no caso das populações humanas em paı́ses desen-
volvidos, que inicialmente cresceram muito mas atualmente atingiram platôs.
O tipo de equações diferenciais simples que modela o crescimento bacteriano é a
seguinte:
f ′ (x) = r · f (x) − s · f 2 (x), r > 0, s > 0.
onde f (x) é a população em cada instante.
Note que para f (x) < 1 temos f 2 (x) < f (x) e a contribuição de −sf 2 (x) pode ser
pouco relevante, mas à medida que f (x) aumenta, essa parte quadrática da equação
se manifesta.
É claro que f (x) ≡ rs é solução de
r r
0 ≡ f ′ (x) = r · ( ) − s · ( )2 ≡ 0.
s s
Por isso afirmamos:
CAPÍTULO 38. CINÉTICA QUÍMICA E CRESCIMENTO BACTERIANO 577
r
0 < f (x) < , ∀x ∈ I
s
e satisfazendo ∀x ∈ I:
Então
f (0) · rs · er·x
f (x) = r ,
s
− f (0) · (1 − er·x )
a qual tem
r
lim f (x) = .
x→+∞ s
10
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
x
2
x
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
0
-2
-4
-6
Uma conta tediosa mostra que podemos re-escrever a função dada na Afirmação
4.1:
f (0) · rs · er·x
f (x) = r ,
s
− f (0) · (1 − er·x )
como
r
s r 1
f (x) = −r·x
, onde k := −1 + · .
1+k·e s f (0)
Este último tipo de função é chamada de função logı́stica. É usada nas mais
variadas áreas de conhecimento, da Biologia à Economia.
Demonstração. Note que esta equação
f ′ (x) = r · f (x) − s · f 2 (x), r, s > 0,
re-escrita como:
r
f ′ (x) = −s · (0 − f (x)) · ( − f (x))
s
é um caso particular da equação diferencial estudada na Seção 3:
f ′ (x) = k · (a − f (x)) · (b − f (x)),
pondo-se
r
k = −s, a=0 e b= .
s
Não podemos aplicar imediatamente a Afirmação 3.1 pois na prova daquela Afirmação
usamos f (0) = 0, coisa que não temos aqui.
Mas podemos reciclar aquela prova3, como segue.
De f ′ (x) = −s · (0 − f (x)) · ( rs − f (x)) obtenho, dividindo:
f ′ (x)
= −s.
(0 − f (x)) · ( rs − f (x))
3Note que a estamos resolvendo como equação separável.
CAPÍTULO 38. CINÉTICA QUÍMICA E CRESCIMENTO BACTERIANO 579
s s r
= − · ln(f (x)) + ln(( − f (x))),
r r s
que fazem sentido pois 0 < f (x) < rs .
Por outro lado,
s r
· [− ln(f (x)) + ln( − f (x))] = −s · x + C.
r s
Avaliando em x = 0, com f (0) > 0:
s r
C= · [− ln(f (0)) + ln( − f (0)) ]
r s
e portanto:
s r r
· [− ln(f (x)) + ln( − f (x)) + ln(f (0)) − ln( − f (0)) ] = −s · x
r s s
que dá:
f (0) · ( rs − f (x))
ln( ) = −r · x,
f (x) · ( rs − f (0))
ou seja:
f (x) · ( rs − f (0))
ln( ) = r · x.
f (0) · ( rs − f (x))
Aplicando exponencial temos:
f (x) · ( rs − f (0))
r = er·x
f (0) · ( s − f (x))
10
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
x
Demonstração.
Cada solução y = f (x) terá ponto de inflexão onde a sua derivada f ′ (x) tem um
valor máximo ou mı́nimo.
Mas
f′ = r · f − s · f2
e se pensamos f agora como uma variável usual4, podemos usar o sabemos sobre o
gráfico de
z = r · u − s · u2 ,
r
é uma parábola com concavidade para baixo, com ponto de máximo em u = 2·s .
Ou seja que os pontos de inflexão de todas as soluções ocorrem em pontos
r
(x, f (x)) = (x, ).
2·s
4A idéia que uso agora se aplicará a qualquer equação diferencial autônoma, ou seja, y(x)′ =
P (y(x)) onde P não depende explicitamente de x, só de y(x)
CAPÍTULO 38. CINÉTICA QUÍMICA E CRESCIMENTO BACTERIANO 581
Newton e a gravitação
Este Capı́tulo explicará alguns dos cálculos que Newton queria mostrar a Halley...
Além de seu interesse intrı́nseco, serve de motivação ao tema das equações difer-
enciais de segunda ordem.
′′ ′ x′ (t)
x (t) · x (t) ≡ −Gm0 ,
x(t)2
e portanto
(x′ (t))2 ′ 1 ′
[ ] ≡ Gm0 · [ ],
2 x(t)
ou seja
(x′ (t))2 Gm0 ′
[ − ] ≡0
2 x(t)
e
(x′ (t))2 Gm0
− ≡ C.
2 x(t)
Se o corpo foi largado com velocidade inicial
x′ (0) = 0,
então obtenho
Gm0
C=− ,
x(0)
e portanto s
Gm0 Gm0
x′ (t) = − 2 · ( + )
x(0) x(t)
(onde tomo a raı́z negativa poque o ponto P se aproximará da origem).
Como x′ (t) < 0, para t > 0, a função x(t) é estritamente decrescente.
Logo posso considerar a função inversa t = t(x). A fórmula da derivada da função
inversa dá:
1
t′ (x) = − q .
2 · ( Gm 0
x(0)
+ Gm0
x
)
Para calcular o tempo t de colisão entre P e a origem podemos fazer a integral
Z t
t−0= dt =
0
Z 0
= t′ (x) dx,
x(0)
pois assim estaremos calculando o tempo que trancorre para sairmos de x(0) > 0 e
chegarmos em x = 0 (a origem).
Ou seja,
Z x(0) Z x(0)
′ 1
t=− t (x) dx = q dx.
0 0 2 · ( Gm 0
x(0)
+ Gm0
x
)
Se somamos frações, simplificamos, e usamos que as constantes saem da integral,
obtemos:
Z x(0) r Z x(0) √
1 x(0) x
q dx = · p dx,
0 2 · ( Gm 0
+ Gm0
) 2GM 0 x(0) − x
x(0) x
up x(0) u
− x(0) − u2 + · arcsin( p ).
2 2 x(0)
Portanto: r Z √x(0)
x(0) u2
t=2 · p du =
2GM 0 x(0) − u2
r p q p
x(0) x(0) p x(0) x(0)
=2 · [− x(0) − ( x(0))2 + · arcsin( p )] =
2GM 2 2 x(0)
r
x(0) x(0) π
=2 · · =
2GM r 2 2
π x(0) 3
= ,
2 2GM
como querı́amos demonstrar.
Agora consideremos a situação em que x′ (0) > 0.
Determinemos a condição necessária e suficiente sobre x′ (0) > 0 para que o ponto
P escape da atração do ponto na origem e se afaste tanto quanto quisermos da origem.
Já vimos que:
(x′ (t))2 GM
− ≡ C,
2 x(t)
ou seja
(x′ (t))2 GM
0≤ ≡C+ .
2 x(t)
Mas, se há um escape onde x(t) → +∞, então GM x(t)
→ 0 e daı́:
0 ≤ C.
Portanto:
(x′ (0))2 GM
− ≡ C ≥ 0,
2 x(0)
de onde s
2GM
x′ (0) ≥ .
x(0)
O caso s
2GM
x′ (0) =
x(0)
CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 587
equivale a que
(x′ (t))2 GM
− ≡ 0,
2 x(t)
ou seja,
(x′ (t))2 GM
= .
2 x(t)
Portanto
√ 1
x′ (t) = 2GM p
x(t)
e p √
x(t) · x′ (t) = 2GM ,
que, integrando, dá:
2 3 √
x(t) 2 = 2GM · t + D, D ∈ R.
3
De onde:
3 √ 2
x(t) = ( · ( GM · t + D)) 3 .
2
Portanto
lim x(t) = +∞ mas lim x′ (t) = 0,
t→+∞ t→+∞
√ 1
pois x′ (t) = 32 ( 23 · ( GM · t + D))− 3 .
3. Nı́veis de energia
Na situação da Afirmação 2.1 vimos que
(x′ (t))2 GM
− ≡ C.
2 x(t)
Aprendemos na prova dessa Afirmação que o escape ocorre quando
(x′ (t))2 GM
− ≡C≥0
2 x(t)
e a colisão quando
(x′ (t))2 GM
− ≡ C < 0.
2 x(t)
Chamamos esses valores de C de nı́veis de energia.
No caso de colisão, a conservação de Energia Total implica que limx→0 x′ (t) = +∞,
Por isso as trajetórias de colisão são chamadas de singularidades do conjunto de
trajetórias possı́veis para um corpo que é atraı́do por outro de massa muito maior.
Se multiplicamos por 2 · x(t) obtemos das expressões anteriores:
(x′ (t))2 · x(t) − 2GM − C · x(t) ≡ 0.
Num plano (x, y) = (x(t), x′ (t)) essas curvas são as cúbicas:
y 2 · x − 2GM − C · x ≡ 0.
3. NÍVEIS DE ENERGIA 588
Elas são qualitativamente o seguinte (note que para C ≥ 0 são formadas de dois
ramos):
C>0
C<0
x
C=0
C>0
C<0
x
C=0
4. Órbitas planetárias
Na Seção anterior estudamos como se dá a colisão entre um corpo e outro de
massa muito maior, que o atrai de acordo com a lei de Newton.
Mas a situação mais interessante é quando o objeto de pequena massa (planeta,
satélite, cometa, etc) gravita em torno do de grande massa (estrela) sem colidir.
A princı́pio esta Seção usa dados do plano e de funções duas variáveis, portanto
seria mais natural num curso de Cálculo em duas variáveis, enquanto o nosso tem
sido em uma variável.
Mas ela é tão profundamente ligada à origem e ao objetivo do criador do Cálculo,
que se torna inevitável apresentá-la.
Vamos nos situar num plano onde suporemos que viaja o planeta em sua órbita,
para simplificar o problema.
De fato, a primeira etapa do problema geral é mostrar que, apesar de estar num
espaço 3-dimensional, a órbita do planeta é de fato plana. Ou seja, que cada planeta
não sai de uma fatia plana do espaço.
Para obter os resultados de Newton, começo lembrando que agora há duas coor-
denadas
P (t) = ( x(t) , y(t) ).
do planeta, que mudam com o tempo t.
Ademais a velocidade instantânea P ′ (t) será
P ′ (t) := ( x′ (t) , y ′(t) ),
como já explicamos na Seção 3 do Capı́tulo 28.
Enquanto que a aceleração instantânea será, pelo mesmo motivo,
P ′′ (t) := ( x′′ (t) , y ′′ (t) ).
a P (t).
A direção paralela a P (t) é dada pelo vetor de módulo 1:
1
( cos(θ(t)) , sin(θ(t)) ) = · P (t).
r(t)
3O
√
módulo de um vetor v = (a, b) do plano é ||v|| = a2 + b 2
CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 591
A hipótese sobre a direção radial da força de atração se expressa, pelo que vimos
na Seção 5, como:
r(t) · θ′′ (t) + 2 · r ′ (t) · θ′ (t) ≡ 0.
Ou seja,
( r(t)2 · θ′ (t) )′ (t) = 2 · r(t) · r ′ (t) · θ′ (t) + r(t)2 · θ′′ (t) =
= r(t) · (2r ′ (t) · θ′ (t) + r(t) · θ′′ (t)) ≡ 0,
e portanto
r(t)2 · θ′ (t) ≡ C.
Ademais,
r(0)2 · θ′ (0) = C 6= 0,
pois supusemos r(0) 6= 0 e θ′ (0) 6= 0.
Prova de ii):
5essas hipóteses dizem que o momento angular m · r(0)2 · θ′ (0) não é nulo, o que implicará,
conforme veremos na prova da Afirmação, que o objeto não vai seguir uma trajetória radial - caso
já estudado na Seção 2
CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 593
e também que
C2
r(t)2 · (θ′ (t))2 = .
r(t)2
Portanto
C2
x′ (t)2 + y ′ (t)2 = r ′ (t)2 + ,
r(t)2
que quando substituı́do na anterior dá:
2GM
x′ (t)2 + y ′ (t)2 − ≡ C3 .
r(t)
Se consideramos a velocidade inicial P ′ (0) concluı́mos que
2GM 2GM
x′ (t)2 + y ′(t)2 − = C3 = x′ (0)2 + y ′(0)2 − .
r(t) r(0)
Multiplicando por m2 , concluı́mos que é constante a grandeza:
m · ||P ′(t)||2 GMm
− .
2 r(t)
Afirmação 6.2.
Nas mesmas hipóteses da Afirmação 6.1 (anterior), a trajetória de P (t) = (r(t), θ(t))
pode ser descrita em coordenadas polares (r, θ) através de uma função r = r(θ).
De fato, precisamente:
C2
GM
r(θ) = √
m2 G2 M 2 +2mEC 2
1+ GM m
· cos(θ)
2 ′
onde m · C = m · r (t) · θ (t) é o momento angular e E = Ec + Ep é a energia total
da trajetória.
Então
1
r ′ (t) = [r(θ(t))]′ (t) = [ ]′ (t) =
u(θ(t))
1 du dθ
=− 2
· · =
u(θ) dθ dt
dθ du du
= −r 2 · · = −C · ,
dt dθ dθ
onde C é o momento angular. Coloquemos
du
r ′(t) = −C ·
dθ
e
C
r(t) · θ′ (t) = =C ·u
r(t)
na fórmula da energia cinética:
||P ′(t)||2 (r ′ (t)2 + r(t)2 θ′ (t)2 )
Ec := m · =m· =
2 2
( du )2 + u(θ)2
= mC 2 · dθ ,
2
ou seja,
du 2Ec
( )2 + u(θ)2 = .
dθ mC 2
Ora,
GMm
Ec = E − Ep = E + =
r
= E + GMm · u.
Logo
du 2
( )2 + u(θ)2 = (E + GMm · u(θ)).
dθ mC 2
Lembro que a energia total E é constante ao longo da trajetória, portanto a
derivada de E como função de θ é zero ao longo da trajetória. Logo, derivando em θ
a expressão anterior, temos:
du d2 u du 2GM du
2· · 2 + 2u(θ) = .
dθ dθ dθ C 2 dθ
Ou seja,
du d2 u GM
2· · [ 2 + u(θ) − 2 ] = 0.
dθ dθ C
Conforme provaremos na Afirmação 8.1 da Seção 8, todas as soluções da equação
diferencial
d2 u GM
2
+ u(θ) − 2 = 0
dθ C
são do tipo:
GM
u(θ) = 2 + A · cos(θ − q)
C
onde A e q são constantes arbitrárias.
Suponhamos por um momento isso.
6. GRANDEZAS CONSTANTES AO LONGO DAS TRAJETÓRIAS 596
Exemplo:
As órbitas dos planetas dos sistema Solar tem excentricidade muito pequena.
Mercúrio é o planeta do sistema solar cuja órbita tem a maior excentricidade, da
ordem de e = 0.205630. Seu semi-latus rectus é 5.54430 × 1010 m.
CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 599
4E10
2E10
-2E10
-4E10
l
Figura: Elipse r(θ) = 1+e cos(θ)
, e = 0.205630 e l = 5.54430 × 1010 (notação 5.5 E 10).
8. Oscilador harmônico
A Afirmação a seguir prova um fato que já usamos na prova da Afirmação 6.2,
além de reforçar o conteúdo da Afirmação 2.1 do Capı́tulo 12:
Afirmação 8.1.
i) Todas as soluções do problema
f ′′ (x) = −k 2 · f (x) + H, ∀x ∈ R
onde k, H ∈ R, são da forma
H
f (x) = a · cos(k · x) + b · sin(k · x) +
k2
onde a, b são constantes arbitrárias. Essas constantes ficam determinadas por a =
f (0) e b = f ′ (0).
ii) Ademais7,
a · cos(k · x) + b · sin(k · x) ≡ A · cos(k · x − q)
onde √ a
A= a2 + b2 e cos(q) = .
a2 + b2
Demonstração.
Se k = 0 tudo é muito fácil. Por isso suponho k 6= 0.
H
De i): Derivando duas vezes as funções a cos(k · x) + b · cos(k · x) + k2
se verifica
facilmente que elas satisfazem:
f ′′ (x) = −k 2 · f (x) + H, H ∈ R.
7Note que (A, q) funciona como coordenadas polares do vetor (a, b). Essas novas grandezas são
úteis pois dizem que a solução é um gráfico do cosseno expandido verticalmente por A (amplitude),
deslocado horizontalmente por q e com frequência modificada pelo fator k.
8. OSCILADOR HARMÔNICO 600
O que precisamos provar é que não há outros tipos de função satisfazendo essa
equação.
Considere uma misteriosa função f que satisfaça
f ′′ (x) = −k 2 · f (x) + H, H ∈R
bem como a função muito simples g(x) ≡ kH2 , que certamente também verifica essa
equação.
Então a nova função φ := f − g = f (x) − kH2 satisfaz o problema:
φ′′ (x) = −k 2 · φ(x).
Se conseguirmos provar que as únicas soluções de φ′′ (x) = −k 2 · φ(x) são da forma
a·cos(k·x)+b·sin(k·x), com a, b constantes arbitrárias, então nossa outrora misteriosa
função vira:
H
f (x) =: φ(x) + g(x) = a · cos(k · x) + b · sin(k · x) + 2 ,
k
que é o que queremos provar.
Portanto recaı́mos num problema levemente mais fácil:
φ′′ (x) = −k 2 · φ(x).
Nessa direção, vamos provar primeiro o seguinte:
Caso 1: se φ(x) satisfaz φ′′ (x) = −k 2 · φ(x) e ademais φ(0) = φ′ (0) = 0 então
φ(x) ≡ 0.
De fato, terı́amos:
φ′′ (x) + k 2 · φ(x) ≡ 0
e portanto
2φ′ (x) · [φ′′ (x) + k 2 · φ(x)] ≡ 0
ou seja,
[(φ′ (x))2 + (k 2 φ(x))2 ]′ ≡ 0
e portanto
(φ′ (x))2 + (k 2 φ(x))2 ≡ C.
Mas φ(0) = φ′ (0) = 0 dão que (φ′ (x))2 + (k · φ(x))2 ≡ 0 e isso implica que φ′ (x) ≡
φ(x) ≡ 0, como querı́amos.
Agora atacaremos o caso geral:
Caso 2: φ(x) satisfaz φ′′ (x) = −k 2 · φ(x) mas a := φ(0) e b := φ′ (0) são arbitrários.
Derivando duas vezes se vê que ψ(x) := a · cos(k · x) + b · sin(kx) satisfaz ψ ′′ (x) =
2
−k · ψ(x). Então
(φ − ψ)(x) := φ(x) − ψ(x)
satifaz
(φ − ψ)′′ (x) = −k 2 · (φ − ψ)(x).
Mas agora (φ − ψ)(0) = 0 e (φ − ψ)′ (0) = 0 e pelo Caso 1 aplicado à função (φ − ψ)(x)
concluo que φ − ψ ≡ 0, ou seja φ = a · cos(k · x) + b · sin(kx) como querı́amos.
De ii):
CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 601
Temos:
cos(k · x − q) = cos(k · x) · cos(−q) − sin(k · x) · sin(−q) =
= cos(k · x) · cos(q) + sin(k · x) · sin(q) =
a b
= cos(k · x) · √ + sin(k · x) · √ ,
2
a +b 2 a + b2
2
√
portanto com A = a2 + b2 sai o item ii).
r(θ)
∆θ 4
∆θ 2 ∆θ 3
∆θ 1
O
10. EM TORNO DA PROPOSIÇÃO XXX DO PRINCIPIA 602
H
P
A G S
H H’
Y
P
S’
A G S O
10. EM TORNO DA PROPOSIÇÃO XXX DO PRINCIPIA 604
Então:
2 2 2
P H = P H ′ + H ′ H = (P O − GH)2 + (AO − AG)2 =
2 2 2 2
= P O − 2P O · GH + AO − 2AO · AG + GH + AG .
Logo igualando e cancelando termos:
2 2
0 = P O − 2P O · GH + AO − 2AO · AG,
ou seja,
2 2
2P O · GH = P O + AO − 2AO · AG.
Como x = AO e y = P O, a equação
1
x= · y2
4a
permite escrever
1 2 1 2
AO = · PO = · PO ,
4AS 4 · 2 · AG
que dá
2
2 PO 1
2P O · GH = P O · [ 1 + − ]=
(4AS) 2 4
2
23 PO
= PO · [ + ]
4 (4AS)2
e dividindo por P O 6= 0:
2
3 PO
2 · GH = P O · [ + ]=
4 (4AS)2
3 AO
= PO · [ + ]
4 4AS
Multiplicando o queobtivemos por 64 · AS obtenho:
4 1
· GH · AS = · P O(AO + 3 · AS) =
3 6
1
= · P O(4 · AO − 3 · (AO − AS)) =
6
1
= · P O(4 · AO − 3 · OS) =
6
2
= · x(P ) · y(P ) − A(∆SOP ),
3
onde x(P ) e y(P ) são as coordenadas de P da parábola e A(∆SOP ) é a área do
triângulo. √ √
Agora notamos que a área sob o gráfico de y = 2 · a x, de x = 0 até x = x(P ),
é pelo Teorema Fundamental do Cálculo:
Z x
√ √ 4 √ 3
2 · a t dt = · a · x 2 =
0 3
2 √
= · x · 4ax =
3
CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 605
2
= · x(P ) · y(P ).
3
O segmento parabólico SOP é a região obtida ao retirar o triângulo ∆SOP da região
sob o gráfico da parábola de A até o ponto O. O que obtivemos acima é que a área
desse segmento parabólico SOP , denotada A(SOP ), é:
4 4a
A(SOP ) = · GH · AS = · GH.
3 3
Ou seja,
3
GH = A(SOP ).
4a
Ora, a posição de P = P (t) e H = H(t) depende do tempo t que descreve a trajetória,
portanto:
d GH(t) 3 d A( SOP (t) ) 3 C
= · ≡ ,
dt 4a dt 4a 2
onde na última equivalência usei o item i) da Afirmação 6.1, como foi interpretada
na Seção 9 anterior.
Só falta ver que o módulo da velocidade vA de P ao passar por A vale
C
vA = ,
a
para então terminarmos a demonstração.
Lembre da Afirmação 6.1 que
C ≡ r 2 (θ(t)) · θ′ (t),
ou seja
C = r 2 (θ(0)) · θ′ (0) = a2 · θ′ (0).
Como vimos na Seção 5, a velocidade P ′ (t) de P tem duas projeções: uma radial, de
módulo:
r ′ (θ(t))
e outra ortogonal, de módulo:
r(θ(t)) · θ′ (t).
Mas A = A(0) é o vértice da parábola, logo é um ponto de mı́nimo de r(θ(t)) e
portanto r ′ (θ(0)) = 0. Portanto se o tempo for medido a partir da posição A:
vA = r(0) · θ′ (0) = a · θ′ (0).
Logo:
C
vA = ,
a
como querı́amos.
11. A EQUAÇÃO DE KEPLER PARA O MOVIMENTO PLANETÁRIO
ELÍPTICO 606
ϕ θ
p A X
O F
Demonstração.
Suponha que o perihélio está em A, com coordenada X(A) = a > 0. Sabemos
que a coordenada de F é (X, Y ) = (e · a, 0), onde 0 < e < 1 é a excentricidade.
Sejam (r, θ) coordenadas polares com pólo no Foco A da elipse, onde se encontra
o Sol, com θ = 0 o perihélio A. Dado um ponto P 6= A da trajetória elı́ptica, denoto
CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 607
b a2 F OpQ
=·[ ·φ− ]=
a 2 2
b a2 (e · a) · (a · sin(φ))
= ·[ ·φ− ]
a 2 2
onde F = (e · a, 0).
Concluı́mos que
ab
C ·T = · [φ − e · sin(φ)].
2
e portanto
2C 2π
φ − e · sin(φ) = ·T = · T =: M.
ab T0
CAPı́TULO 40
1. Redução de ordem
Quando queremos resolver uma equação de grau 4 do tipo:
a · x4 + b · x2 + c = 0
obviamente fazemos z := x2 e descobrimos as raı́zes desta equação quadrática. Depois
voltamos na variável original x.
Do mesmo modo uma equação diferencial de segunda ordem
2
x′′ − · x′ = t
t
pede que façamos
z(t) := x′ (t)
e resolvamos primeiro a equação de primeira ordem:
2
z′ − · z = t
t
R
para depois obtermos x = z dt. Isso é uma redução de ordem.
Há um tipo de redução de ordem que se aplica a equações autônomas (onde a
variável independente não figura explicitamente) de segunda ordem. Por exemplo, a
equação da Seção 2 do Capı́tulo 39
1
x′′ = − 2
x
é uma equação autônoma.
Como a velocidade x′ (t) pode ser pensada como uma função da posição x podemos
introduzir a variável:
z := x′
e pensarmos em z = z(x).
Daı́ então (com a notação de Leibniz para a regra da cadeia):
dx′ dz dz dx dz
x′′ (t) = = = · =: ·z
dt dt dx dt dx
e a equação vira:
dz 1
· z = − 2.
dx x
Ou seja,
z2 1
= + C1
2 x
609
2. HOMOGÊNEAS, A COEFICIENTES CONSTANTES 610
e daı́ r
2
z=± + 2C1
x
ou seja, r
′ 2
x =± + 2C1 .
x
Por exemplo, com C1 = 0, continuamos com
p √
x(t) · x′ (t) = 2
de onde
2 3 √
· x(t) 2 = ± 2 · t + C2 ,
3
de onde obtemos x(t).
Esta idéia permite por exemplo resolver a equação a seguir, que é autônoma de
segunda ordem mas não-linear:
x′′ + (x′ )2 = x
vira
z′ · z + z2 = x
se fazemos como antes
dz
z = x′ e · z = x′′ .
dx
Supondo z 6= 0 e dividindo por z temos:
dz x
+z = ,
dx z
ou seja,
dz
= −z + x · z −1 ,
dx
que é uma equação de Bernoulli com expoente r = −1. Agora trata-se de resolver
esta equação (o que já sabemos fazer) e depois voltar na variável x de partida.
do qual uma instância já apareceu quando tratamos da Lei de Hooke com atrito no
Capı́tulo 12.
Afirmação 2.1. A solução geral de
f ′′ (x) + K · f ′ (x) + L · f (x) = 0, K, L ∈ R
fica determinada pela natureza das soluções r1 , r2 da equação quadrática:
r 2 + K · r + L = 0.
• Se há duas raı́zes Reais r1 , r2 ∈ R distintas, então a solução geral é
y = f (x) = a · er1 x + b · er2 x
que ficam determinados por
y ′(0) − r2 y(0)
a= e b = y(0) − a.
r1 − r2
• Se há uma raı́z dupla r1 = r2 ∈ R a solução geral é
K K
y = a · x · e− 2 ·x + b · e− 2 ·x ,
que ficam determinados por
K
b = y(0) e a = y(0) · + y ′ (0).
2
√ √
−K 4−K 2 −K 4−K 2
• Se r1 = 2
+I · 2
e r2 = 2
−I · 2
são Complexos, então a solução
geral é
√ √
−K
x 4L − K 2 −K
x 4L − K 2
y =a·e 2 · cos( · x) + b · e 2 · sin( · x).
2 2
que ficam determinados por
2y ′(0) + Ky(0)
a = y(0) e b = √ .
4L − K 2
x −x
Observação: Como as funções hiperbólicas são definidas por cosh(x) := e +e 2
e
x −x
sinh(x) := e −e 2
e como
ex = cosh(x) + sinh(x)
é possı́vel expressar o resultado dessa Afirmação usando as funções hiperbólicas.
A Figura a seguir compara, com as mesmas condições iniciais y(0) = 8 e y ′(0) = 10,
as diferentes soluções de
y ′′ + K · y ′ + y = 0,
onde K vale:
• K = 0 em vermelho,
• K = 1/2 em verde,
• K = 2 em amarelo e
• K = 3 em azul.
2. HOMOGÊNEAS, A COEFICIENTES CONSTANTES 612
10
x
0 2 4 6 8 10 12
0
-5
-10
Demonstração.
A idéia para resolver:
f ′′ (x) + K · f ′ (x) + L · f (x) = 0
é buscar soluções do tipo:
y = erx
onde a natureza da constante r é a essência do problema.
Ou seja, queremos que valha:
(erx )′′ + K · (erx )′ + L · erx = 0,
isto é,
erx · (r 2 + K · r + L) = 0.
Como erx 6= 0 precisamos que r satisfaça a equação caracterı́stica associada:
r2 + K · r + L = 0
cujas raı́zes são:
√ √
−K + ∆ −K − ∆
r1 := e r2 := , onde ∆ = K 2 − 4L.
2 2
CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 613
Se
∆ > 0 ⇔ K 2 > 4L
temos r1 , r2 ∈ R e r1 6= r2 , daı́:
y = f1 (x) = er1 x e y = f2 (x) = er2 x
são soluções, assim como qualquer combinação linear:
y = f (x) = a · er1 x + b · er2 x .
Agora as condições y(0) e y ′(0) permitem determinar a, b, pois:
y(0) = a + b e y ′(0) = r1 a + r2 b,
ou seja:
y ′(0) − r2 y(0)
a= e b = y(0) − a.
r1 − r2
O problema começa a complicar quando ∆ = 0 e quando ∆ < 0 (este último foi
o caso que apareceu no Capı́tulo 12 sobre as Leis de Hooke, onde usei K = 0.1 ou
K = 0.3 e L = 1).
Quando
∆ = 0 ⇔ K 2 = 4L
temos
K
r := r1 = r2 = − ;
2
Precisamos buscar outra solução, diferente (linearmente independente) da solução
K
y = f (x) = e− 2 ·x . A idéia é buscar soluções do tipo1:
K
y = g(x) · e− 2 ·x .
Ou seja, quero que:
K K K2 K
(g(x) · e− 2 ·x )′′ + K · (g(x) · e− 2 ·x )′ + · g(x) · e− 2 ·x = 0,
4
o que produz, depois de uma bonita simplificação,
K
e− 2 ·x · g ′′ (x) = 0,
ou seja,
g ′′(x) ≡ 0.
Então g(x) = ax + b e
K K K
y = (ax + b) · e− 2 ·x = a · x · e− 2 ·x + b · e− 2 ·x
são soluções.
As condições y(0) e y ′(0) determinam a, b:
K
b = y(0) e a = y(0) · + y ′ (0).
2
O caso mais bonito a meu ver é quando
∆ < 0 ⇔ K 2 < 4L
1Essa idéia será generalizada no Método de Redução de Ordem, de D’alembert, na Seção 11.
3. NÃO-HOMOGÊNEAS, LINEARES DE SEGUNDA ORDEM 614
pois então √ √
−K + I 4L − K 2 −K − I 4L − K 2
r1 = e r1 =
2 2
são números complexos (conjugados).
Defina como na Seção 5 do Capı́tulo 31
√ √
−K+I 4L−K 2 −K 4L−K 2
·x ·x I· ·x
y = F1 (x) = e 2 =e 2·e 2 =
√ √
−K 4L − K 2 4L − K 2
= e 2 x · (cos( · x) + I sin( · x))
2 2
e
√ √ √
−K−I 4L−K 2 −K 4L − K 2 4L − K 2
·x
y = F2 (x) = e 2 = e 2 x · (cos( · x) − I sin( · x)).
2 2
Agora se usa a observação de que as combinações lineares de soluções de
f ′′ (x) + K · f ′ (x) + L · f (x) = 0
são também soluções dessa equação diferencial.
Então, somando ou subtraindo as soluções Complexas F1 e F2 acima obtenho
soluções Reais: √
F1 + F2 −K
x 4L − K 2
f1 (x) = = e 2 · cos( · x)
2 2
e √
F1 − F2 −K 4L − K 2
f2 (x) = = e 2 x · sin( · x).
2I 2
Agora as condiçoes y(0) e y ′(0) determinam a, b em
√ √
−K
x 4L − K 2 −K
x 4L − K 2
y = a · e 2 · cos( · x) + b · e 2 · sin( · x).
2 2
pois √
′ K 4L − K 2
y(0) = a e y (0) = − a + b · ,
2 2
ou seja:
2y ′(0) + Ky(0)
a = y(0) e b = √ .
4L − K 2
e se
a · f1 (x) + b · f2 (x), a, b ∈ R
são soluções gerais do problema homogêneo
então:
a · f1 (x) + b · f2 (x) + φ1 (x)
é solução geral do não-homogêneo.
Demonstração.
Dada a φ1 (x), basta notar que se φ2 (x) é uma solução qualquer de
então
φ2 (x) − φx
é solução de
y ′′ (x) + P (x) · y(x) + Q(x) · y(x) = 0.
Bom, mas e como encontrar uma solução particular φ1 (x) do caso não-homogêneo
? As próximas Seções 4 e 7 tratam disso.
4. NÃO HOMOGÊNAS: MÉTODO DE LAGRANGE DE VARIAÇÃO DE
PARÂMETROS 616
Z
−f2 · g
a(x) = dx
f1 · f2′ − f2 · f1′
Z
f1 · g
b(x) = dx.
f1 · f2′ − f2 · f1′
Pode surgir uma dúvida: será que o determinante (chamado Wronskiano)
W (f1 , f2 ) := f1 · f2′ − f2 · f1′
não se anula em algum ponto ?
Se pode provar que não, se f1 e f2 são linearmente independentes.
Por exemplo, no caso em que L = 1, se voltamos na Seção 2 e calculamos esse
determinante, encontramos:
• para K = 0,
W(f1 , f2 ) = sin2 (x) + cos2 (x) ≡ 1
• para 0 < |K| < 2,
1 √
W(f1 , f2 ) = · e−Kx · 4 − K 2 6= 0
2
• para K = ±2,
W(f1 , f2 ) = −e±2x 6= 0
• para |K| > 2,
W(f1 , f2 ) = (r2 − r1 ) · e(r1 +r2 )·x 6= 0
b): f ′ (x) > 0 ∀x ∈ R implica que f (x) > 0 ∀x ∈ R ? Prove isso ou explique
como produzir contra-exemplos.
Solução:
A Seção anterior 4 nos explicou como achar as soluções explı́citas dessas equação.
Como as soluções do caso homogêneo f ′′ (x) − 2 · f ′ (x) + f (x) = 0 são
f (x) = a · x · ex + b · ex , a, b ∈ R,
e o determinante Wronskiano é −e2x , então a solução especial φ obtida por variação
de parâmetros é:
φ = a(x) · xex + b(x) · ex =
= 2x · x ex + x2 · ex = x2 · ex .
5. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N.58, 1987 618
e Z
12 · e−1000x
b(x) = dx = −10−6 · e4000x
−3000 · e−5000x
Ou seja:
y = Q(x) = a · e−1000x + b · e−4000x + 3 × 10−6 .
Impondo que Q(0) = 0 e Q′ (0) = 0 obtemos:
a = −4 × 10−6 e b = 10−6
e finalmente
y = −4 × 10−6 · e−1000x + 10−6 · e−4000x + 3 × 10−6
e portanto
lim Q(x) = 3 × 10−6 .
x→+∞
ln(2)
A seguir plotei esta solução. Note um ponto de inflexão em x = 1500
≈ 0.000462.
2,5E-6
2E-6
1,5E-6
1E-6
5E-7
0E0
0 0,0005 0,001 0,0015 0,002 0,0025 0,003
x
obtemos
L(C · x2 · eλ·x ) = 2 · C · eλ·x ,
e como quero:
L(C · x2 · eλ·x ) = A · eλ·x
concluo
A
C=
2
é o valor buscado para termos solução especial do problema não-homogêneo.
A mesma discussão se aplica ao caso mais geral, em que o problema não homogêneo
é:
L(f (x)) = f ′′ + p · f ′ + qf = A(x) · eλx ,
onde A(x) é polinômio de grau k.
Ou seja:
Afirmação 7.1. Se λ ∈ R não é raı́z de λ2 + p · λ + q = 0 encontraremos solução
especial do tipo:
g(x) · eλx ,
onde g(x) é polinômio de grau n, para o problema:
L(f (x)) = f ′′ + p · f ′ + q = A(x) · eλx ,
onde A(x) é também polinômio de grau n.
Se λ ∈ R é raı́z simples de λ2 + p · λ + q = 0 encontraremos solução do tipo:
g(x) · x · eλx .
Se λ ∈ R é raı́z dupla de λ2 + p · λ + q = 0 encontraremos solução do tipo:
g(x) · x2 · eλx .
Observe que o caso λ = 0 também está compreendido.
Demonstração.
A mesma discussão em Casos, só que agora não se trata de determinar 1 coeficiente
mas todos os coeficientes do polinômio g(x), que aparecem resolvendo um sistema de
equações lineares.
Exemplo 1:
y ′(t) = y(t) + z(t) e z ′ (t) = y(t) + z(t).
Então
y ′ (t) = z ′ (t)
e portanto, se t pertence a um Intervalo, temos:
z(t) = y(t) + C, C ∈ R.
A primeira equação dá então:
y ′ (t) = y(t) + z(t) = 2 · y(t) + C
CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 625
Exemplo 3:
Considere o sistema:
y ′ (t) = y(t) + z(t) + t e z ′ (t) = 4 · y(t) + z(t) + t + 4 · et .
Da primeira equação:
z(t) = y ′(t) − y(t) − t logo z ′ (t) = y ′′ (t) − y ′(t) − 1,
que posto na segunda dá:
y ′′ (t) − y ′ (t) − 1 = 4 · y(t) + [y ′(t) − y(t) − t] + t + 4 · et ,
ou seja,
y ′′(t) − 2 · y ′(t) − 3 · y(t) = 1 + 4 · et .
Aqui o melhor é separarmos em duas equações
y1′′ (t) − 2 · y1′ (t) − 3 · y1 (t) = 1
y2′′(t) − 2 · y2′ (t) − 3 · y2 (t) = 4 · et
e a solução buscada será da forma:
y(x) = y1 (x) + y2 (x).
9. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N.2, 1939 626
Ora, a equação
y1′′ (t) − 2 · y1′ (t) − 3 · y1 (t) = 1
tem uma solução particular constante:
1
φ1 (x) ≡ − ,
3
enquanto que a equação
y2′′(t) − 2 · y2′ (t) − 3 · y2 (t) = 4 · et
tem uma solução particular:
4
φ2 (x) = · et = −et ,
12 − 2 · 1 − 3
(seguindo a Seção 7, já que 1 não é raı́z de λ2 − 2 · λ − 3 = 0, cujas raı́zes são −1, 3).
Então a solução geral é:
1
y(t) = a · e−t + b · e3·t − − et .
3
Problema:
Resolver o sistema de equações:
x′ (t) = x(t) + y(t) − 3 e y ′ (t) = −2 · x(t) + 3 · y(t) + 1,
com as condições iniciais:
x(0) = y(0) = 0.
Solução:
A primeira equação dá:
y(t) = x′ (t) − x(t) + 3, logo y ′ (t) = x′′ (t) − x′ (t).
E a segunda dá
x′′ (t) − x′ (t) = −2 · x + 3 · [x′ (t) − x(t) + 3] + 1,
ou seja,
x′′ (t) − 4 · x′ (t) + 5 · x = 10.
Uma solução particular óbvia dessa equaão não-homogênea é a solução constante:
φ1 (x) ≡ 2.
E como a equação caracterı́stica λ2 − 4 · λ + 5 = 0 do problema homogêneo
x′′ (t) − 4 · x′ (t) + 5 · x = 0
tem raı́zes compexas conjugadas
√
λ = 2± −1,
CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 627
Demonstração.
Uso a notação y = f (x) a seguir ou y = y(x) no que segue.
Primeiro tomo por hipóteses:
Z p
Q′ (x) + 2P (x) · Q(x)
3 ≡C e z= Q(x) dx.
2 · Q(x) 2
10. HOMOGÊNEAS, NÃO-SINGULARES, COEFICIENTES VARIÁVEIS:
REDUÇÃO A CONSTANTES 628
Noto que
y = y(z),
dz
p
pois dx
= Q(x) > 0 garante que z(x) é uma função inversı́vel. Ou seja, x determina
z e também z determina x univocamente. Por isso posso dizer que y = y(z) = y(x(z))
e que y = y(x) = y(z(x)).
Posso também derivar a composta em x:
y = y(z(x)),
obtendo:
dy dy dz
(z(x)) = (z(x)) · =
dx dz dx
dy p
= · Q(x).
dz
E agora com a regra da composta e do produto:
d2 y d2 y dz dz dy d2 z
(z(x)) = ( (z(x)) · ) · + (z(x)) · =
d2 x d2 z dx dx dz d2 x
d2 y p p dy Q′ (x)
= 2 (z(x)) · Q(x) · Q(x) + (z(x)) · p
dz dz 2 Q(x)
d2 y dy Q′ (x)
= (z(x)) · Q + (z(x)) · p .
d2 z dz 2 Q(x)
Então se obtêm:
d2 y dy
0≡ 2
(z(x)) + P (x) · (z(x)) + Q(x) · y =
d x dx
2 ′
dy Q + 2P Q dy
= Q(x) · 2 + ( √ )· + Q · y(z)
dz 2 Q dz
e como Q(x) 6= 0 se chega em:
d2 y Q′ + 2P Q dy
0= 2 +( 3 )· + y(z)
dz 2Q 2 dz
que tem coeficiente constante pela hipótese.
Para provar a recı́proca, note que, se uma mudança z = z(x) levou
f ′′ (x) + P (x) · f ′ (x) + Q(x) · f (x) = 0
em
f ′′ (z) + αf ′(z) + βf (z), α, β ∈ R
então
d2 y dy
0= 2
(z(x)) + P (x) · (z(x)) + y =
dx dx
2 2
d y dz dy d z dy dz
= [ 2 · ( )2 + · 2 ] + P (x) · ( · ) + Q · y(z(x)) =
d z dx dz d x dz dx
2 2
dz dy d z dz dy
= ( )2 · 2 + [ 2 + P (x) ] · + Qy(z) =
dx dz d x dx dz
CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 629
dz 2
e dividindo por ( dx ) 6= 0 (pois é uma mudança de coordenadas) obtemos
d z 2dz
d2 y d2 x
+ P dx dy Q
0= 2 +( dz 2
)· + dz 2 y(z),
dz ( dx ) dz ( dx )
ou seja,
d2 z dz
d2 x
+ P dx Q
α= dz 2
e β= dz 2
> 0.
( dx ) ( dx )
De onde, s
dz Q d2 z Q′
= e = q ,
dx β d2 x 2β · Qβ
ou seja:
p Q′ + 2P Q
α· β= 3 .
2Q 2
Fazendo
A(x) = a′ (x)
obtemos a redução de ordem, pois temos agora de resolver a equação de primeira
ordem:
A′ (x) · y1 (x) + A(x) · [2 · y1′ (x) + P (x)y1 (x)] = 0,
ou seja, se y1 (x) 6= 0,
A′ (x) −[2 · y1′ (x) + P (x)y1 (x)] y ′ (x)
= = −2 1 − P (x)
A(x) y1 (x) y1 (x)
e portanto Z
−2
ln |A(x)| = ln(y1 (x) ) − P (x)dx
e R
−2 )
A(x) = ±eln(y1 (x) · e− P (x)dx
,
ou seja, R
e− P (x)dx
A(x) = .
y1 (x)2
onde, na prática, a constante de integração pode ser tomada C = 0, já que só queremos
uma solução. E obteremos a(x) através de mais uma integração:
Z
a(x) = A(x) dx
(novamente a constante de integração pode ser tomada C = 0, já que só queremos
uma solução).
Observo que se P (x) ou Q(x) não são contı́nuos não se pode garantir que as
soluções sejam todas funções limitadas. Uma equação importante que exemplifica
isso é a Equação de Legendre (explicitamente resolvida na Seção 3 do Capı́tulo 41),
que pode ser escrita como:
2x n(n + 1)
y ′′ + 2 · y′ − 2 = 0, n ∈ N
x −1 x −1
Se x ∈ (−1, 1) então há soluções do tipo a · y1 + b · y2 , com y1 e y2 independentes. Mas
se pode provar que as únicas soluções limitadas da equação definidas em [−1, 1] são
múltiplos de Pn , o chamado n-ésimo polinômio de Legendre.
Demonstração.
De i):
que está bem definida pois y(x) > 0. E noto que v(x) verifica9:
v ′ (x) = x + v(x)2 .
Então: Z x Z x
v(x) − v(x0 ) = t dt + v(t)2 dt ≥
x0 x0
Z x
≥ t dt.
x0
Como Z +∞
lim v(x) ≥ v(x0 ) + t dt = +∞,
x→+∞ x0
para algum x > x0 tem que valer:
v(x) > 0.
Então
y ′(x)
0 < v(x) = − e y(x) > 0
y(x)
implicam que y ′ (x) < 0 como querı́amos.
Estamos na situação em que, para x > x0 vale:
y(x) > 0, y ′ (x) < 0 e y ′′ (x) = −x · y(x) < 0 ∀x ∈ (x, +∞).
Então o Exercı́cio (resolvido) 10.18 do Capı́tulo 11 diz que y(x) voltará a se anular
em algum ponto à direita de x: contradição.
O que usamos na prova da Afirmação 13.1 se adapta para dar uma prova da
Afirmação mais geral:
Afirmação 13.2. Seja uma equação y ′′ + Q(x) · y = 0, ∀x ∈ R, onde Q(x) é uma
função contı́nua.
No que segue só considero soluções y(x) dessa equação que não são identicamente
nulas.
i) se Q(x) < 0 em I ⊂ R então y(x) tem no máximo um zero em I.
ii) se Q(x) > 0 em J ⊂ (0 + ∞) e se
Z +∞
Q(x) dx = +∞
0
então y(x) tem uma infinidade de zeros na semireta x > 0
iii) se Q(x) > 0 em J ⊂ (−∞, 0) e se
Z 0
Q(x) dx = +∞
−∞
Demonstração.
Os itens i) e ii) são provados exatamente do mesmo jeito que provamos a Afirmação
13.1, já que as propriedades da função y = x que usamos naquela prova também são
propriedades da função y = Q(x).
Mas o item ii) exige uma pequena adaptação.
Tomamos um x0 < 0 que seja menor que o menor zero de y(x) (por absurdo).
Podemos supôr que sempre y(x) > 0 à esquerda de x0 (análogo se for sempre
negativa)
Precisamos mostrar que há algum ponto x < x0 onde y ′(x) > 0. Feito isso, como
y ′′(x) = −Q(x) · y(x) < 0
à esquerda de x0 , então o gráfico é côncavo para baixo no intervalo à esquerda de x0
e uma adaptação imediata do Exercı́cio 10.18 do Capı́tulo 11 dirá que y(x) volta a se
anular à esquerda de x0 (absurdo).
Mas fazendo:
y ′ (x)
v(x) = − , para x < x0 ,
y(x)
v(x) verifica
v ′ (x) = Q(x) + v(x)2 .
Portanto para x < x0 < 0:
Z x0 Z x0
v(x0 ) − v(x) = Q(t) dt + v(t)2 dt ≥
x x
Z x0
≥ Q(t) dt.
x
Como Z x0
lim −v(x) ≥ −v(x0 ) + Q(t) dt = +∞,
x→−∞ −∞
para algum x < x0 tem que valer:
v(x) < 0.
Então
y ′(x)
0 > v(x) = − e y(x) > 0
y(x)
′
implicam que y (x) > 0 como querı́amos.
Problema:
Considere a função y = f (x) solução de
f ′′ (x) = (x3 + a · x) · f (x), a ∈ R,
14. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N. 15, 1955 636
Solução:
As condição f (0) = 1 já garante que y = f (x) não é identicamente nula.
Vou considerar três casos:
Caso 1): a = 0.
Neste caso
f ′′ (x) − x3 · f (x) = 0,
e Q(x) := −x3 < 0 em (0, +∞). Portanto a a Afirmação 13.2 garante que há no
máximo um zero à direita de K = 0. E também que há infinitos à esquerda de L = 0,
pois claramente
Z 0
−x3 dx = +∞
−∞
A Afirmação 13.2 mostra sua força quando combinada com a seguinte técnica para
eliminar o termo em y ′:
CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 637
e de fato
′′ P 2 (x) P ′(x)
v (x) + (Q(x) − − ) · v(x) = 0.
4 2
−1
R
Em particular, como e 2 · P (t) dt > 0, o estudo dos zeros de y(x) se reduz ao estudo
dos zeros de v(x), que poder ser feito pela Afirmação 13.2
Demonstração.
Se faço
y(x) = u(x) · v(x)
então:
0 = y ′′ (x) + P (x) · y ′ (x) + Q(x) · y(x) =
= (u′′ + 2u′ · v ′ + u · v ′′ ) + P (x) · (u′ · v + u · v ′ ) + Q(x) · (u · v) =
= u · v ′′ + (2 · u′ + P (x) · u) · v ′ (x) + (u′′ + P (x) · u′ + Q(x) · u) · v(x).
Como quero eliminar o termo em v ′ , quero que:
2 · u′ (x) + P (x) · u(x) = 0
ou seja, para u(x) 6= 0:
u′ (x) 1
= − · P (x)
u(x) 2
e R
1
u(x) = e− 2 P (t) dt
.
Logo, substituindo acima esse u(x):
1
R 1 P ′(x)
0 = e− 2 P (t) dt
· [v ′′ (x) + (Q(x) − P 2(x) − ) · v(x)]
4 2
e portanto
1 P ′ (x)
v ′′ (x) + (Q(x) − P 2 (x) − ) · v(x) = 0.
4 2
15. O TEOREMA DE COMPARAÇÃO DE STURM 638
Problema:
Seja y(x) uma solução de
√
y ′′(x) + (1 + x) · y(x) = 0, ∀x ≥ 0
com y(0) = 1 e y ′(0) = 0.
Prove que y(x) se anula exatamente uma vez em (0, π2 ). Determine também um
número K para que o zero x de y(x) verifique:
π
0<K<x< .
2
Solução:
Vou comparar √
y ′′ (x) + (1 + x) · y(x) = 0, x ≥ 0
com
w ′′ + w = 0,
√
pois para x > 0 temos 1 + x > 1.
Desta última equação tomo a solução w(x) = cos(x), para a qual sabemos que
w(0) = 1, w ′(0) = 0 e que seu primeiro zero é o ponto π2 , onde w ′( π2 ) = −1.
Considero:
y(x) · w ′ (x) − w(x) · y ′(x).
Então:
y(0) · w ′(0) − w(0) · y ′(0) = 0
π π π π π
y( ) · w ′ ( ) − w( ) · y ′( ) = −y( ).
2 2 2 2 2
π
Suponha por absurdo que y(x) não tem zero em (0, 2 ).
Então
π
−y( ) < 0.
2
Mas como fizemos na prova da Afirmação 15.1:
π π π π
0 > [y( ) · w ′ ( ) − w( ) · y ′ ( )] − [y(0) · w ′ (0) − w(0) · y ′ (0)] =
2 2 2 2
Z π Z π
2
′′ ′′
2 √
= (y(t)w (t) − w(t)y (t)] dt = y(t) · w(t) · t dt > 0,
0 0
uma contradição.
Seja então
π
0 < x0 <
2
um zero de y(x).
Para descobrir o número K < x0 , comparo a equação:
r
′′ π
v (x) + (1 + ) · v(x) = 0
2
16. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N. 22, 1961 640
com √
y ′′ (x) + (1 + x) · y(x) = 0,
π
pois para 0 ≤ x < 2
temos:
r
π √
1+ > 1 + x.
2
′′
pπ
A solução de v (x) + (1 + 2 ) · v(x) = 0 da forma
s r
π
v(x) = cos( 1 + · x)
2
tem
v(0) = 1 e v ′ (0) = 0.
Suponha por absurdo que seu primeiro zero
π 1
x := · q p ,
2 1+ π 2
verifica:
x0 < x.
Como
v(x0 ) · y ′(x0 ) − y(x0 ) · v ′ (x0 ) = v(x0 ) · y ′ (x0 ) < 0
e
v(0) · y ′(0) − y(0) · v ′ (0) = 0
obtenho
0 > [v(x0 ) · y ′(x0 ) − y(x0 ) · v ′ (x0 )] − [v(0) · y ′(0) − y(0) · v ′ (0)] =
Z x0 Z x0 r
′′ ′′ π √
= (v(t)y (t) − y(t)v (t)] dt = v(t) · y(t) · ( − t) dt > 0,
0 0 2
uma contradição.
Logo
π 1 π
0 < K := · q < x0 < .
2 1+ π
p 2
2
Falta ainda ver que só há esse zero x0 de y(x) em (K, π2 ).
Suponha por absudo que existe x′0 outro zero de y(x) em (K, π2 ).
Então a Afirmação 15.1 diz que há algum zero da solução v(x) de
r
′′ π
v (x) + (1 + ) · v(x) = 0
2
no intervalo:
(x0 , x′0 ) se x0 < x′0
ou
(x′0 , x0 ) se x′0 < x0 .
De qualquer forma, seria uma solução v(x) com algum zero entre K e π2 .
CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 641
ii) Considere
2 ′
y ′′ (x) + y (x) + q y(x) = 0, com q < 0
x
(ou seja, α = 0).
Dê a solução geral da equação correspondente
v ′′ (x) + Q(x) v(x) = 0
e daı́ obtenha a solução geral de
2 ′
y ′′ (x) + y (x) + q y(x) = 0.
x
CAPı́TULO 41
a0
a3k+1 = , k ∈ N.
(3 · 4)(6 · 7) . . . ((3k)(3k + 1))
a3k+2 = 0, k = 0, 1, 2, . . .
Portanto se obtém:
+∞ +∞
X x3k X x3k+1
y = a0 ·(1+ )+a1 ·(1+ )
k=1
(2 · 3)(5 · 6) . . . ((3k − 1)(3k)) k=1
(3 · 4)(6 · 7) . . . ((3k)(3k + 1))
|x3 |
lim = 0,
k→+∞ (3(k + 1) − 1)(3(k + 1)
f (x) := y(−x)
é solução de
f ′′ (x) − x · f (x) = 0, ∀x ∈ R,
Ou seja, a solução de uma equação é dada como reflexão no eixo dos y da solução
da outra.
Demonstração.
Se y ′′ (x) + x · y(x) = 0, ∀x ∈ R então em particular:
e que devem ser convergentes ∀x, pelo item ii) da Afirmação 12.1 do Capı́tulo 40.
Então, derivando termo a termo2:
+∞
X
′
y = i · ai · xi−1 ,
i=1
+∞
X
y ′′ = i · (i − 1) · ai · xi−2
i=2
e, supondo que resolve a equação, temos:
+∞
X +∞
X +∞
X
0= i · (i − 1) · ai · xi−2 − 2 · x · i · ai · xi−1 + q · ai · xi =
i=2 i=1 i=0
X
=: bi · xi .
i=0
onde
b0 = 2 · a2 + 2 · q · a0 , b1 = 2 · 3 · a3 − 2 · a1 + 2 · q · a1
b2 = 3 · 4 · a4 − 4 · a2 + 2 · q · a2 , b3 = 4 · 5 · a5 − 2 · 3 · a3 + 2 · q · a3
b4 = 5 · 6 · a6 − 2 · 4 · a4 + 2 · q · a4
etc (supondo que se possa reagrupar à vontade as parcelas). 10
Mas se pode mostrar que uma série é identicamente nula se e só se cada coeficiente
é nulo, quer dizer,
∀i, bi = 0.
O que cria as relações:
1−q
a2 = −q · a0 , a3 = · a1
3
2−q 2 · q · (2 − q)
a4 = · a2 = · a0
6 12
2 · (3 − q) 2 · (1 − q) · (3 − q)
a5 = · a3 = · a1
4·5 3·4·5
etc.
Uma análise mais cuidadosa permite mostrar que de fato as relações são:
2i · q · (q − 2) · (q − 4) . . . · (q − 2i + 2)
a2i = , se i ≥ 1,
(2i)!
2como se pode justificar
2. SOLUÇÃO EXPLÍCITA DA HERMITE 646
2i · q · (q − 1) · (q − 3) . . . · (q − 2i + 1)
a2i+1 = , se i ≥ 1.
(2i + 1)!
De novo supondo que se pode reagrupar termos à vontade, escrevo então o que
obtivemos como:
X X X
y= ai · xi = a2i · x2i + a2i+1 · x2i+1 .
i=0 i=0 i=0
dá
|a2(i+1) x2(i+1) | |2 · q · (q − 1) · . . . · (q − 2i)x2 |
lim = lim = 0,
i→+∞ |a2i x2i | i→+∞ |(2i + 2) · (2i + 1) · q · (q − 1) · . . . · (q − 2i + 1)|
2 · q · (q − 1) 3
= a0 · (1 − 2 · q · x2 + . . .) + a1 · (x − · x + . . .)
3
para pôr em evidência que há duas soluções independentes da equação cujas
combinações lineares dão a solução geral.
CAPÍTULO 41. EQUAÇÕES COM PONTOS NÃO-SINGULARES: AIRY,
HERMITE E LEGENDRE 647
n · (n + 1) − p(p + 1)
= · cn , ∀n ≥ 0,
(n + 2) · (n + 1)
que nos permitirão, dado c0 obter todos os ck com k pares4 e dado c1 obter todos os
cj com j ı́mpares (como descrito mais em detalhe abaixo).
E assim
+∞
X X X
y= cn · xn = c0 · ck xk + c1 · cj xj
n=0 k∈2N j∈2N+1
(p + 5) · (p − 4) (p + 3)(p − 2) (p + 1) · p
c6 = − · · · c0 ,
6·5 4·3 2·1
e assim por diante. P
Isso nos indica que se p ∈ 2N é um Natural par então a série k∈2N ck xk fica
truncada no grau p, ou seja, vira um polinômio Pp , e:
X
y = c0 · P p + c1 · cj xj .
j∈2N+1
P j
Enquanto que no caso em que p ∈ 2N +1 é um Natural ı́mpar é a série j∈2N+1 cj x
que fica truncada no grau p, ou seja, vira um polinômio Pp de grau p e
X
y = c0 · ck + c1 P p .
k∈2N
Esse polinômios Pp que são soluções da equação de Legendre são chamados polinômios
de Legendre e são muito importantes na resolução de Equações Parciais, por exem-
plo. Veremos na Seção 4 do Capı́tulo 48 que os polinômios de Legendre devem ser
considerados harmônicos esféricos.
o que é coerente com a escolha que se faz dos coeficientes dos Pn para que
Pn (1) = 1, ∀n ≥ 0.
Demonstração.
Sejam
λ1 := n1 · (n1 + 1), e λ2 := n2 · (n2 + 1)
e as equações de Legendre na forma:
((1 − x2 ) · Pn′ 1 (x))′ = −λ1 · Pn1
((1 − x2 ) · Pn′ 2 (x))′ = −λ2 · Pn2 .
De onde obtemos (por multiplicação e subtração dessa identidades)
Pn2 · ((1 − x2 ) · Pn′ 1 (x))′ − Pn1 · ((1 − x2 ) · Pn′ 2 (x))′ =
= (λ2 − λ1 ) · Pn1 · Pn2 .
Daı́, integrando o lado esquerdo (por partes):
Z
[Pn2 (x) · ((1 − x2 ) · Pn′ 1 (x))′ − Pn1 (x) · ((1 − x2 ) · Pn′ 2 (x))′ ] dx =
Z Z
= Pn2 (x) · ((1 − x ) · Pn1 (x)) dx − Pn1 (x) · ((1 − x2 ) · Pn′ 2 (x))′ dx =
2 ′ ′
Z
= Pn2 (x) · (1 − x ) · Pn1 (x) − Pn′ 2 (x) · (1 − x2 ) · Pn′ 1 −
2 ′
Z
−Pn1 (x) · (1 − x ) · Pn2 (x) + Pn′ 1 (x) · (1 − x2 ) · Pn′ 2 (x) dx =
2 ′
Por ponto singular x de uma equação entendo aquele ponto x onde o coeficiente
P (x) ou o coeficiente Q(x) da equação
y ′′ (x) + P (x) · y ′(x) + Q(x) · y(x) = 0
não pode ser expresso como série de potências convergente num entorno de x.
653
654
Demonstração.
Para provar i), uso o Teste da Razão para demonstrar a convergência em módulo:
[a]n+1 ·[b]n+1
( (n+1)! [c]n+1
· xn+1 ) (a + n) · (b + n)
| |=| · x|
( [a]n!n[c]
·[b]n
n
· xn ) n · (c + n)
e
(a + n) · (b + n)
lim | · x| = |x|.
n→+∞ n · (c + n)
Para provar1 o item ii), começo procurando soluções da forma:
+∞
X
y(x) = xr · an · xn .
n=0
P+∞
Ou seja, supomos que, para algum r, y = xr · n=0 an · xn é solução da equação
hipergeométrica de Gauss. Note que:
+∞
X +∞
X
y ′(x) = r · xr−1 · an · xn + xr · n · an · xn−1 =
n=0 n=1
e
+∞
X +∞
X
′′ r−2 n r−1
y (x) = r · (r − 1)x · an · x + r · x · n · an · xn−1 +
n=0 n=1
+∞
X +∞
X
+r · xr−1 · n · an · xn−1 + xr · n(n − 1) · an · xn−2 .
n=1 n=2
Pondo isso na equação:
x · (1 − x) · y ′′(x) + [c − (a + b + 1) · x] · y ′(x) − a · b · y(x) ≡ 0,
obtemos à esquerda uma expressão em x cujo coeficiente do termo xr−1 é:
r · (r − 1) + c · r.
Como cada coeficiente tem que se anular, então:
r · (r − 1) + c · r = r · (r − (1 − c)) = 0.
Então r = 0 ou r = 1 − c.
Caso r = 0:
Colocando como solução da equação a série:
+∞
X +∞
X
0 n
x · an · x = an · xn
n=0 n=0
1As idéias por detrás da prova desta segunda afirmação são parte do Método de Fobenius, que
trataremos no Capı́tulo 44
CAPÍTULO 42. EQUAÇÃO COM PONTO SINGULAR: HIPERGEOMÉTRICA
DE GAUSS 655
obtemos
(a1 c − ab a0 ) · x0 + (2a2 + 2a2 c − (a + b + 1)a1 − ab a1 ) · x1 +
+(−2a2 + 6a3 − 2(a + b + 1)a2 + 3ca3 − ab a2 ) · x2 + . . . ≡ 0,
portanto cada coeficiente se anula, e daı́ obtemos:
ab [a]1 · [b]1
a1 = a0 · =: a0 ·
c 1! · [c]1
a + b + 1 + ab (a + b + 1 + ab) ab
a2 = · a1 = a0 · · =
2(c + 1) 2(c + 1) c
a(a + 1)b(b + 1) [a]2 · [b]2
= a0 · =: a0 · ,
2c(c + 1) 2! · [c]2
2a + 2b + 4 + ab (a + 2)(b + 2) a(a + 1)b(b + 1)
a3 = · a2 = a0 · · =:
3(c + 2) 3(c + 2) 2c(c + 1)
[a]3 · [b]3
=: a0 · .
3! · [c]3
E assim por diante se obtém, por indução:
[a]n · [b]n
an = a0 · ,
3! · [c]n
portanto a solução é:
+∞ +∞
X X [a]n · [b]n
a0 · an · xn = a0 · (1 + · xn ).
n=0 n=1
n! [c]n
Isto completa a prova de ii).
Caso r = 1 − c:
Afirmação 1.1.
√
dE( x) 1 √ √
i) : = · (E( x) − K( x)).
dx 2x
√
d2 E( x) 1 √ √ √ √
ii) : 2
= 2 · (2E( x) − E( x) · x − 2K( x) + 2K( x) · x).
dx 4x (x − 1)
CAPÍTULO 42. EQUAÇÃO COM PONTO SINGULAR: HIPERGEOMÉTRICA
DE GAUSS 657
√
iii): a função y = E( x) satisfaz a equação hipergeométrica E 1 ,− 1 ,1 , a saber:
2 2
1
x(1 − x) · y ′′ + (1 − x) · y ′ + · y = 0.
4
Demonstração.
De i):
Trata-se de derivar em relação ao parâmetro x. Pela Afirmação 9.1:
√ Z π p
dE( x) 2 ∂ 1 − x · sin2 (t)
= dt =
dx 0 ∂x
Z π
2 − sin2 (t)
= p 2
dt =
0 2 1 − x · sin (t)
Z π p
2 1 − x · sin2 (t) 1
= ( − p ) dt =
0 2x 2x · 1 − x · sin2 (t)
1
=: · (E(x) − K(x)).
2x
De ii):
Uma conta do mesmo tipo da anterior, mas mais longa, mostra que vale ii).
De iii):
Agora é só simplificar:
√ √ √
d2 E( x) dE( x) E( x)
x(1 − x) · + (1 − x) · + =
dx2 dx 4
1 1−x E
= − · (2E − E · x − 2K + 2K · x)) + (E − K) + ≡ 0.
4x 2x 4
s1 = 6 · π, s2 ≈ 7.166666667 · π, s3 ≈ 6.996527778 · π,
s4 ≈ 7.051665381 · π, s5 ≈ 7.004760128 · π, s6 ≈ 7.027743702 · π
s7 ≈ 7.015453874 · π, s8 ≈ 7.022427864 · π, s9 ≈ 7.018296138 · π.
Uma aproximação proposta por S. Ramanujan, que mencionamos na Seção 4 do
Capı́tulo 28, é p
(3 · (a + b) − (a + 3b)(3a + b)) · π,
note que para a = 4 e b = 3 isso dá:
√
(21 − 195) · π ≈ 7.03575996 · π.
CAPı́TULO 43
Afirmação 1.1.
A função y(x) = Jν (x) satisfaz a equação
1 1
y ′′ (x) + · y ′ (x) + ν 2 · (1 − 2 ) · y(x) = 0, ν ∈ N.
x x
A mudança z := ν · x leva essa equação na equação:
′′ 1 ′ (z 2 − ν 2 )
y (z) + · y (z) + · y(z) = 0.
z z2
Definição 1.1. Mais geralmente, se define a equação de Bessel como:
1 (x2 − ν 2 )
y ′′(x) + · y ′ (x) + · y(z) = 0, onde ν ≥ 0, ν ∈ R
x x2
Por ponto singular x de uma equação entendo aquele ponto x onde o coeficiente
P (x) ou o coeficiente Q(x) da equação
y ′′ (x) + P (x) · y ′(x) + Q(x) · y(x) = 0
não pode ser expresso como série de potências convergente num entorno de x.
Por isso a Equação de Bessel tem ponto singular em x = 0
ν2
2
= −(ν − 2 ) · y(x),
x
como querı́amos.
Para a segunda afirmação, basta notar que:
dy dy dz dy d2 y d2 y 2
= · = ·ν e = 2 ·ν .
dx dz dx dz dx2 dz
Portanto a equação obtida se escreve como:
d2 y 1 dy 1
ν2 · [ 2 + · + (1 − 2 ) · y(z)] = 0.
dz z dz z
CAPÍTULO 43. EQUAÇÃO COM PONTO SINGULAR: A EQUAÇÃO DE
BESSEL 661
A Afirmação a seguir será útil para detectarmos algumas equações de Bessel ca-
mufladas:
Afirmação 1.2. A equação de Bessel
x2 · y ′′ (x) + x · y ′(x) + (x2 − ν 2 ) · y(x) = 0,
com as mudanças
x = a · ub e y(x) = v(u) · uc , onde a, b, c ∈ R
se transforma na equação:
d2 v dv
u2 2
+ (2c + 1) · u · + [a2 · b2 · u2b + c2 − ν 2 · b2 ] · v(u) = 0.
du du
Assumirei essa Afirmação. Provarei por enquanto apenas um caso bem particular
desta Afirmação na Afirmação 3.1 deste Capı́tulo.
iii): À medida que x cresce as soluções y(x) são aproximadas por funções do tipo:
1 1
a · √ · sin(x) + b · √ · cos(x), a, b ∈ R
x x
Demonstração.
De i):
De ii): Re-escreva
(1 + 4 · (x2 − ν 2 ))
v ′′ (x) + · v(x) = 0,
4x2
como
1 − 4ν 2
v ′′ (x) + (1 + ) · v(x) = 0.
4x2
1
Se ν = 2
então essa equação vira:
v ′′ (x) + v(x) = 0,
cujas soluções são a · sin(x) + b · cos(x). Como tı́nhamos no item i):
v(x)
y(x) = √
x
CAPÍTULO 43. EQUAÇÃO COM PONTO SINGULAR: A EQUAÇÃO DE
BESSEL 663
obtemos
a · sin(x) + b · cos(x)
y(x) = √ .
x
De iii):
Me contentarei por enquanto com uma explicação apenas heurı́stica: note que se
2
x >> 1 o termo 1−4ν
4x2
fica muito pequeno na equação
1 − 4ν 2
v ′′ (x) + (1 + ) · v(x) = 0;
4x2
essa equação se aproxima portanto da equação:
v ′′ (x) + v(x) = 0.
Se pode provar rigorosamente que para x >> 1:
a · sin(x) + b · cos(x)
y(x) ≈ √ .
x
O segundo item desta Afirmação está na raı́z da utilidade das funções de Bessel,
principalmente porque pela Afirmação 2.1 há uma infinidade de zeros λn , n ∈ N, de
cada solução da equação com ν fixado.
Essa lista infinita de funções, aparecerá nos modos normais de vibração de um
tambor, na Seção 3 do Capı́tulo 49.
Logo
d2 y(λ · x) 1 dy(λ · x) λ2 · x2 − ν 2
+ · + · y(λ · x) = 0
dx2 x dx x2
Isto prova o item i).
pelas escolhas de λ1 , λ2 .
Isso prova o item ii).
CAPı́TULO 44
Quando fazemos
√
z= q · ln(x)
obtemos
√ √
1−p+ (p−1)2 −4q 1−p− (p−1)2 −4q
·ln(x) ·ln(x)
y(x) = a · e 2 +b·e 2 =:
√ √
1−p+ (p−1)2 −4q 1−p− (p−1)2 −4q
=: a · x 2 +b·x 2
e noto que:
p p
1−p+ (p − 1)2 − 4q 1−p− (p − 1)2 − 4q
e
2 2
são raı́zes de
r 2 + (p − 1) · r + q = r · (r − 1) + p · r + q = 0.
Como o caso x < 0 é completamente análogo, fazendo-se uma mudança
de variável x = −x, está provado o primeiro item da Afirmação.
• se
1−p
r1 = r2 = √ = −1
2 q
as soluções são:
y(z) = a · z · e−z + b · e−z
que dão:
√ √ √
y(x) = a · q ln(x) · e− q ln(x) + b · e− q ln(x) =:
√ √ √
=: a · q · ln(x) · x− q + b · x− q
√
e noto que − q = 1−p 2
é a única raı́z de
r 2 + (p − 1) · r + q = r · (r − 1) + p · r + q = 0.
• o caso em que r1 , r2 são Complexos é análogo.
O Caso x < 0 é completamente análogo.
ou seja,
2 ′ 2
y ′′(t) − · y (t) + 2 · y(t) = 1.
t t
Ora,
2 ′ 2
y ′′ (t) − · y (t) + 2 · y(t) = 0
t t
é a equação de Euler:
t2 · y ′′ (t) − 2 · t · y ′(t) + 2 · y(t) = 0,
cuja equação indicial
r · (r − 1) − 2 · r + 2 = 0
tem raı́zes 2, 1. Logo a solução geral dessa Euler é, para t > 0:
a · t2 + b · t.
Como os coeficientes da equação
2 ′ 2
y ′′ (t) − · y (t) + 2 · y(t) = 1
t t
não são constantes, para encontrar uma solução particular φ1 (t) dela uso o método de
variação de parâmetros (Seção 4 do Capı́tulo 40). De acordo com aquele resultado,
podemos tomar
φ1 (t) = a(t) · t2 + b(t) · t
onde: Z Z
1
a(t) = dt e b(t) = − 1 dt,
t
e portanto (tomando como 0 as constantes de integração):
a(t) = ln(t) e b(t) = −t
e finalmente
y(t) = a · t2 + b · t + φ(t) = a · t2 + b · t + ln(t) · t2 − t · t =
= t2 · (a′ + ln(t)) + b · t, a′ , b ∈ R.
Então
L(xr ) = x2 · r · (r − 1) · xr−2 + p · x · r · xr−1 + q · xr =
= xr · [r · (r − 1) + p · r + q] = 0
e portanto r é raı́z da equação indicial:
r · (r − 1) + p · r + q = 0.
Há três casos a considerar, dos quais abordarei por enquanto apenas os dois primeiros.
Caso 1:) se r · (r − 1) + p · r + q = 0 tem duas raı́zes distintas:
r1 6= r2 ∈ R
então a solução geral é:
a · xr1 + b · xr2 , x > 0.
Caso 2:) se r · (r − 1) + p · r + q = 0 tem raı́z dupla.
Tomando essa raı́z r vemos que:
xr
é uma solução. Mas e como obter outra solução independente ?
Considero r como uma variável na expressão:
L(xr ) = xr · [r · (r − 1) + p · r + q]
e derivo-a em r (trocando depois a ordem de derivação em x e em r), obtendo à
esquerda :
∂L(xr ) ∂xr
= L( ) = L(xr · ln(x)),
∂r ∂r
já que
xr := er·ln(x) .
E à esquerda:
∂[xr · (r · (r − 1) + p · r + q)]
= r · xr−1 · (r · (r − 1) + p · r + q) + xr · (2 · r + p − 1).
∂r
Ou seja:
L(xr · ln(x)) = r · xr−1 · (r · (r − 1) + p · r + q) + xr · (2 · r + p − 1)
e quando avalio em r que é raı́z dupla da equação indicial, então anulo o lado direito:
L(xr · ln(x)) = 0
e concluo que
xr · ln(x)
é uma outra solução da equação de Euler, linearmente independente de xr .
Deixo a discussão do Caso de raı́zes complexas conjugadas para outra ocasião.
3. DEFINIÇÕES GERAIS E EXEMPLOS DE PONTOS SINGULARES
REGULARES 672
Isso motiva a seguinte definição (por simplicidade enunciada só para x = 0):
• Se a equação indicial:
r(r − 1) + p0 · r + q0 = 0
tem duas raı́zes distintas r1 , r2 ∈ R e se
r1 − r2 6∈ Z
então todas as soluções da equação são da forma:
X X
y = xr1 · an xn + xr2 · bn xn
n=0+∞ n=0+∞
P P
onde n=0+∞ an · xn e n=0+∞ bn · xn são séries de potências convergentes.
Demonstração. (Algumas idéias da Prova)
Nem vou discutir as questões de convergência das séries envolvidas, que suponho
convergem absolutamente.
Se começa buscando uma solução da forma
X
y = xr · cn xn , onde r ∈ R e x > 0,
n=0+∞
+∞ X
X n−1
r−2
=x · [ qn−k · ck + q0 · cn ] · xn .
n=0 k=0
P+∞
De y ′ = n=0 (r + n) · cn · xr+n−1 se obtém derivando termo a termo, para x > 0:
+∞
X
′′
y (x) = (r + n) · (r + n − 1) · cn · xr+n−2 =
n=0
+∞
X
r−2
=x · (r + n) · (r + n − 1) · cn · xn .
n=0
Colocando esses ingredientes todos juntos na equação:
y ′′ (x) + P (x) · y ′(x) + Q(x) · y(x) = 0
e fatorando xr−2 obtemos:
+∞
X Xn−1 n−1
X
{(r + n)(r + n − 1)cn + [ pn−k (r + k)ck + p0 (r + n)cn ] + [ qn−k ck + q0 cn ]} · xn =
n=0 k=0 k=0
+∞
X n−1
X
= {cn · [(r + n)(r + n − 1) + p0 (r + n) + q0 ] + ck · [pn−k (r + k) + qn−k ]} · xn = 0.
n=0 k=0
Isso significa o anulamento de todos os coeficientes dessa série de potências, cujos três
primeiros coeficientes são:
c0 · [r · (r − 1) + p0 · r + q0 ] = 0
c1 · [(r + 1) · r + p0 · (r + 1) + q0 ] + c0 · [p1 · r + q1 ] = 0,
c2 · [(r + 2)(r + 1) + p0 · (r + 2) + q0 ] + c1 · [p1 (r + 1) + q1 ] + c0 · [p2 r + q2 ] = 0
e assim por diante.
5. SOLUÇÕES EXPLÍCITAS DE ALGUMAS EQUAÇÕES BESSEL 676
P
Como c0 6= 0, o que concluimos é que se y = xr · n=0+∞ cn x
n
é uma solução
então r é uma raı́z da equação indicial:
r · (r − 1) + p0 · r + q0 = 0.
Escolhida uma raı́z r1 ∈ R da equação indicial e dado c0 vai-se obtendo por recorrência
os coeficientes cn , ∀n ≥ 1:
−c0 · [p1 · r1 + q1 ]
c1 = ,
[(r1 + 1) · r1 + p0 · (r1 + 1) + q0 ]
desde que
(r1 + 1) · r1 + p0 · (r1 + 1) + q0 6= 0,
ou seja , desde que r1 + 1 não seja raı́z d aequação indicial. E também, quando já for
conhecido c1 , teremos
−c1 · [p1 (r + 1) + q1 ] − c0 · [p2 r + q2 ]
c2 = ,
[(r + 2)(r + 1) + p0 · (r + 2) + q0 ]
desde que
(r + 2)(r + 1) + p0 · (r + 2) + q0 6= 0,
ou seja, desde r1 + 2 não seja raı́z da equação indicial.
E assim por diante.
Por isso as hipóteses de que há duas raı́zes distintas r1 , r2 da equação indicial e
de que
r1 − r2 6∈ Z
são suficientes para se obter duas soluções (independentes) da equação da forma:
X X
y = xr1 · an xn e y = xr2 · bn xn .
n=0+∞ n=0+∞
1
A função de Bessel de primeira ordem de ı́ndice ν = 3
é a série de Frobenius:
+∞
1
X c0
y = x3 · (−1)n · · x2n
n=0
22n · n! · ( 31 + 1) · . . . · ( 31 + n)
para a qual se escolhe um valor especı́fico para c0 .
E a função de Bessel de segunda ordem e de ı́ndice ν = 31 é aquela associada à
raı́z r2 = − 13 , obtida analogamente via as recorrências.
Em seguida se vê que isso que fizemos para ν = 13 se generaliza, e sempre
c1 = c3 = c5 = c2n−1 = 0, ∀n ∈ N,
enquanto que os de ı́ndices pares são dados por
c0
c2n = (−1)n · 2n , ∀n ∈ N.
2 · n! · (ν + 1) · . . . · (ν + n)
5. SOLUÇÕES EXPLÍCITAS DE ALGUMAS EQUAÇÕES BESSEL 678
+∞
X 1 x 2n
= (−1)n · 2
· ( ) =: J0 (x)
n=0
(n!) 2
Esta é a função de Bessel de primeira ordem e ı́ndice ν = 0, denotada por J0 (x).
A mesma situação quando ν = 1, onde a Afirmação 4.1 dá pelo menos uma série
de potências (com c0 = 211·1! = 12 ) :
+∞
X 1 1
y = x1 · (−1)n · · 2n · x2n =
n=0
2 2 · n! · (1 + 1) · . . . · (1 + n)
+∞
X 1 x
= (−1)n · · ( )2n+1 =: J1 (x)
n=0
n! · (1 + n)! 2
Esta é a função de Bessel de primeira ordem e ı́ndice ν = 1, denotada por J1 (x).
Demonstração.
Aplicando o Teste da Razão se vê em seguida que ambas séries convergem em
módulo ∀x ∈ R.
Daı́ podemos derivar termo a termo:
+∞ n 1 x 2n
dJ0 (x) X d( (−1) · (n!)2 · ( 2 ) )
= =
dx n=0
dx
+∞
X 1 x 2n−1 1
= (−1)n · 2
· 2n · ( ) · =
n=1
(n!) 2 2
+∞
X 1 x 2n−1
= (−1)n · ·( ) =
n=1
(n − 1)! · n! 2
+∞
X 1 x 2n+1
=− (−1)n · ·( ) =: −J1 (x),
n=0
(n)! · (n + 1)! 2
onde na última linha apenas mudei o ı́ndice que uso no somatório.
1
6. A Equação de Bessel com ν = 3
e a solução da equação de Airy
Apliquemos a Afirmação 1.2 do Capı́tulo 43 ao caso em que queremos transformar
a Equação de Bessel na equação:
d2 v
u2 + u3 · v(u) = 0.
du2
Note que esta equação redunda na equação de Airy:
d2 v
+ u · v(u) = 0.
du2
Ou seja, queremos que a, b, c verifiquem:
2c + 1 = 0, 2b = 3, a2 · b2 = 1 e c2 − ν 2 · b2 = 0,
que dão (se tomamos a > 0:
1 3 2 1
c=− , b= , a= e ν= .
2 2 3 3
Então concluimos que a solução da equação de Airy se expressa como combinação de
funções de Bessel de ı́ndice ν = 31 :
1 2 3 2 3
v(u) = u−c · y(a · ub ) = u 2 · [c1 · J 1 ( u 2 ) + c2 · J− 1 ( u 2 )].
3 3 3 3
7. EQUAÇÃO HIPERGEOMÉTRICA COM C 6∈ Z 680
Equações de Riccati
Bem mais difı́cil de justificar é o teorema de J. Liouville que diz que somente para
esses valores de n há soluções Liouvillianas.
De I):
Basta aplicar a regra da derivada da composta:
1 dv dv dy dx
2
· = y2 · ( · · )=
v du dy dx du
1 −n
= y 2 · 2 · (a · xn + b · y 2) · ((n + 1) · u) n+1 =
y
1 −n
= (a · xn + b · y 2 ) · x−n = a + b · 2 · ((n + 1) · u) n+1
v
de onde obtenho:
dv −n −n
= b · (n + 1) n+1 · u n+1 + a · v 2 .
du
De II):
1. SOLUÇÕES DE RICCATI SEGUNDO DANIEL BERNOULLI 684
Portanto r
b √
arctan( f (x)) = ab · x + C,
a
de onde r
a √
f (x) = · tan( ab · x + C)
b
Uso no que segue a notação
y = f (x).
Agora o item II) da Afirmação 1.2 diz que, a partir do caso n0 = 0
y′ = a + b · y2,
passo para o caso:
V ′ = a · U −4 + b · V 2 ,
ou seja, onde
4
n1 = −4 = − .
2·1−1
Tomando a = b = 1 isso significa que
V ′ = U −4 + V 2
tem solução Liouvilliana, já que y ′ = 1 + y 2 tem solução Liouvilliana y = y(x) e
V = V (U) = −U −2 · y(U −1 ) − U −1
é composição/produto/soma de Liouvillianas, logo V = V (U) é Liouvilliana, como
querı́amos provar.
4
Se tı́vesemos tomado a = 1 e b = (−3) 3 > 0 então usando o item II) da Afirmação
1.2 terı́amos chegado no caso:
4
V ′ = U −4 + (−3) 3 · V 2
com solução Liouvilliana:
4
V = V (U) = −U −2 · y(U −1 ) − (U · (−3) 3 )−1 .
E o item I) da Afirmação 1.2 diz que, recomeçando neste caso n1 = −4:
4
V ′ = U −4 + (−3) 3 · V 2
chego em:
4 4 4
y ′ = (−3) 3 · (−3)− 3 · x− 3 + y 2 =
4
= x− 3 + y 2 .
ou seja, onde agora
4
n2 = − .
2·1+1
4
A solução Liouvilliana V = V (U) de V ′ = U −4 + (−3) 3 · V 2 produz, usando I), a
solução Liouvilliana:
1 1
y(x) = − =− −1 .
V (U(x)) V ((−3 · x) 3 )
1. SOLUÇÕES DE RICCATI SEGUNDO DANIEL BERNOULLI 686
Recomeçando neste caso, o item II) da Afirmação 1.2 diz que obtenho em uma
solução Liouvilliana de (a notação mantém as mesmas variáveis x, y):
4 8
y ′ = x−(− 3 )−4 + y 2 = x− 3 + y 2
ou seja, chegamos no caso
8 4·2
n3 = − = − .
3 2·2−1
8
Recomeçando neste caso, y ′ = x− 3 + y 2 , o item I) da Afirmação 1.2 conduz ao
caso em que:
8
8 4·2
n4 = 8 3 =− =− ,
−3 + 1 5 2·2+1
a equação obtida é (a notação mantém as mesmas variáveis x, y):
−5 8 − 8
y ′ = ( )− 5 · x 5 + y 2 .
3
Isso ainda não é o que queremos, pois queremos soluções Liouvillianas de:
−8
y′ = x5
+ y2.
Como sabemos como mudam os coeficientes das equações em cada modificação de
tipo I ou II, se vê em seguida que partindo da equação:
−5 8 4
y ′ = ( ) 5 + (−3) 3 · y 2
3
aı́ chegarı́amos em
−8
y′ = x 5 + y2.
4
Fica claro o formato dos números n = − 2·m±1 .
Já o caso n = −2:
f ′ (x) = x−2 + f (x)2
tem que ser tratado separadamente, pois
4·m
− 6= −2, ∀m ∈ N.
2m ± 1
Após a mudança
z
y= ,
x
f ′ (x) = x−2 + f (x)2 vira uma equação separável:
z′ 1
3 1 2 = .
4
+ (z + 2 ) x
1
Para resolvê-la faço u := z + 2
e daı́:
Z
2 u u′
√ · arctan( √ ) = 3 2
=
3 3
4
+ u
2
Z
1
= = ln(x) + C
x
CAPÍTULO 45. EQUAÇÕES DE RICCATI 687
de onde se obtém: √ √
−1 3 tan( 23 · (ln(x) + C))
y= + · .
2x 2 x
3Essa observação de como passar de Riccati para linear de segunda ordem será generalizada no
Exercı́cio 5.1
3. SOLUÇÕES DAS RICCATI SEGUNDO EULER 688
De ii):
Suponha y1 , y2 soluções conhecidas e y3 ainda desconhecida. Pelo teorema de
existência e unicidade a função
y3 (x) − y1 (x)
w(x) :=
y3 (x) − y2 (x)
está bem definida (pois y3 6= y2 ), nunca se anula (pois y3 6= y1 ) e nunca vale 1 (pois
y1 6= y2 ).
Então
y2 (x) · w(x) − y1 (x) ′
y3′ (x) = ( ) (x) =
w(x) − 1
y2 (x) · w(x) − y1 (x) y2 (x) · w(x) − y1 (x) 2
= a0 (x) + a1 (x) · ( ) + a2 · ( ).
w(x) − 1 w(x) − 1
Usando que y1 (x) e y2 (x) são soluções aparecem simplificações que dão finalmente:
w ′(x)
= a2 (x) · (y1 (x) − y2 (x))
w(x)
ou seja R
a2 (x)·(y1 (x)−y2 (x)) dx
w(x) = C · e , C 6= 0.
De iii):
Usando o que aprendemos na prova do item ii) já sabemos que:
y3 (x) − y1 (x) R
= C1 · e a2 (x)·(y1 (x)−y2 (x)) dx , C1 6= 0
y3 (x) − y2 (x)
3. SOLUÇÕES DAS RICCATI SEGUNDO EULER 690
e, pelo mesmo motivo, que uma quarta solução teria que ser:
y4 (x) − y1 (x) R
= C2 · e a2 (x)·(y1 (x)−y2 (x)) dx , C2 6= 0, C2 6= C1 .
y4 (x) − y2 (x)
Portanto:
( yy44 (x)−y
(x)−y1 (x)
2 (x)
) C2
= =: C 6= 1.
( yy33 (x)−y
(x)−y1 (x)
2 (x)
) C1
Um Exemplo:
y ′(x) = 1 − y(x)2 .
y1 (x) ≡ −1 e y2 (x) ≡ 1.
1
Definindo v := y2 −y 1
≡ 21 como na prova do item ii) da Afirmação 3.1, vemos que
coerentemente com aquele item:
1
y2 = 1 = −1 + = −1 + 2.
v
Já o item iii) da Afirmação 3.1 nos diz que, definindo
R
2dt
w(x) := C · e = C · e2x+B
w(x) + 1 C · e2x+B + 1
y3 (x) = = .
w(x) − 1 C · e2x+B − 1
E o item iv) da Afirmação 3.1 nos diz que uma quarta solução é:
1 − y3 − D · (y3 + 1)
y4 (x) = , se D 6= 1, D 6= 0.
y3 − 1 − D · (y3 + 1)
e2x+1 + 1 3 · y3 (x) + 1
y3 (x) = e y4 (x) = .
e2x+1 − 1 y3 (x) + 3
CAPÍTULO 45. EQUAÇÕES DE RICCATI 691
1
4. A Equação de Bessel com ν = 4
e a solução da Riccati y ′ = x2 + y 2
Sabemos resolver a Equação de Bessel com ν = 14 e que duas soluções indepen-
dentes são denotadas por J 1 (x) e J− 1 (x), as chamadas funções de Bessel de primeira
4 4
e segunda ordem.
Com isso estaremos em condição de dizer explicitamente o que são as soluções da
equação de Riccati:
y ′ = x2 + y 2 .
Como já vimos (na prova da Afirmação 2.1) a mudança
g ′ (x)
y(x) = −
g(x)
leva a equação em
g ′′ (x) + x2 · g(x) = 0.
Se usamos a Afirmação 1.2, vemos que esta equação, ou equivalentemente:
x2 g ′′ (x) + x4 · g(x) = 0
provém de uma equação de Bessel com ν = 41 , pois se comparamos os expoentes e
ı́ndices vemos que:
2c + 1 = 0, 2b = 4, a2 · b2 = 1 e c2 − ν 2 · b2 = 0
ou seja, c = − 12 , b = 2 e a = 21 , se a > 0, e ν = 14 . Então
1 1 1
g(x) = x 2 · [c1 · J 1 ( x2 ) + c2 · J− 1 ( x2 )].
4 2 4 2
′ 2 2
Agora vemos que as soluções de y = x + y são:
1
(x 2 · [c1 · J 1 ( 12 x2 ) + c2 · J− 1 ( 21 x2 )])′
y(x) = − 1
4 4
.
x 2 · [c1 · J 1 ( 21 x2 ) + c2 · J− 1 ( 12 x2 )]
4 4
5. Exercı́cios
Exercı́cio 5.1. A mudança:
g ′ (x)
y(x) = −
a2 (x) · g(x)
leva a solução da equação de Riccati geral:
y ′ (x) = a0 (x) + a1 (x) · y(x) + a2 (x) · y 2(x)
numa solução da equação linear de segunda ordem:
a′ (x) a0 (x)
g ′′ (x) − ( 2 + a1 (x)) · g ′ (x) + · g(x) = 0.
a2 (x) a2 (x)
Parte 3
Séries de Fourier
1O importante é que haja uma periodicidade de f (x). Se o perı́odo p não for igual a 2π podemos
fazer uma mudança de variável:
2π
z= x,
p
pois agora ∆x = p dá ∆z = 2π.
2Em algum outro momento redigirei as estensões aos casos em que há descontinuidades da f .
Essas surgem naturalmente quando se reproduz uma função que é definida apenas [a, b] para toda a
reta dos R, fazendo-a periódica.
695
1. SÉRIES DE FOURIER E SEUS COEFICIENTES 696
e Z
1 L nπ
bn := f (t) · sin( · t) dt, n ∈ N
L −L L
• Nem sempre se consegue calcular esses coeficientes, que são integrais, us-
ando funções elementares. Nesse caso se dão aproximações numéricas dos
coeficientes.
Exemplo 1:
Suponha uma função f dada por f (x) = −1 no intervalo [−π, 0] e por f (x) = 1
no intervalo [0, π] Note que por ser uma função ı́mpar,
a0 = 0 e an = 0, ∀n ≥ 1.
Já Z π
1
bn := · f (t) · sin(n · t) dt =
π −π
Z π
2
= · sin(n · t) dt =
π 0
2 cos(n · π) cos(n · 0)
· [− + ],
π n n
4
ou seja, bn = 0 se n ∈ N é par e bn = nπ se n ∈ N é ı́mpar.
Então, restringindo o domı́nio da f ao intervalo (0, π) (onde há continuidade e
derivabilidade) posso afirmar, pelo Teorema de Fourier 3.1 a seguir, que
4 1 1
f (x) ≡ 1 =· (sin(πx) + sin(3π · x) + sin(5π · x) + . . .).
π 3 5
A Figura a seguir dá f ≡ 1 e truncamentos para n ı́mpar, de n = 1 até n = 11:
1,2
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
x
1. SÉRIES DE FOURIER E SEUS COEFICIENTES 698
Tomando x = 21 obtenho a série de Leibniz (que vimos por outro método na Seção
7 do Capı́tulo 30):
π 1 1 1
= 1 − + − + ...
4 3 5 7
Exemplo 2:
Considero f (x) = x no intervalo [−π, π] e sua série de Fourier. Como
Z π
1
a0 := · t dt = 0,
2π −π
como
Z π
1
an := t · cos(nt)dt = 0
π −π
por ter um integrando que é função ı́mpar e como, pelo Exercı́cio 1.1 do Capı́tulo 24,
Z
1 π 2
bn := t · sin(nt) dt = (−1)n+1 · ,
π −π n
1
x
-3 -2 -1 0 1 2 3
0
-1
-2
-3
CAPÍTULO 46. SÉRIES DE FOURIER 699
onde Z 2π
1
a0 := f (t) dt,
2π 0
Z
1 2π
an := f (t) cos(nt) dt, n ∈ N
π 0
e Z
1 2π
bn := f (t) sin(nt) dt, n ∈ N.
π 0
Demonstração.
Queremos controlar quanto vale
k
X
|f (x) − Sk (x)| := |f (x) − a0 − an · sin(nx) + bn · cos(nx)|,
n=1
à medida que k aumenta, pois queremos provar que, para cada x fixado,
lim |f (x) − Sk (x)| = 0.
k→+∞
3. CONVERGÊNCIA PONTUAL DA SÉRIE DE FOURIER 700
Ou seja que
Z 2π
1 1
φx (t) · sin((k + ) · t)|,
|f (x) − Sk (x)| = | ·
0 2π 2
R R
ou ainda que (usando o seno de uma soma e | | ≤ | |):
Z 2π Z 2π
1 t 1 t
|f (x) − Sk (x)| = | · φx (t) cos( ) · sin(kt) dt + · φx (t) sin( ) · cos(kt) dt|.
2π 0 2 2π 0 2
Para terminar a demonstração basta mostrar então que:
Z 2π
t
lim φx (t) cos( ) · sin(kt) dt = 0
k→+∞ 0 2
e que
Z 2π
t
lim φx (t) sin( ) · cos(kt) dt = 0.
k→+∞ 0 2
Vou provar algo mais forte na Afirmação 3.2 : que para cada x a série numérica
+∞ +∞ Z 2π
X
2
X t sin(kt)
ck := ( φx (t) cos( ) · √ dt)2
k=1 k=1 0 2 π
é convergente, pois isso implica3 que seu termo geral tende a zero:
Z 2π
2 t sin(kt)
0 = lim ck := lim ( φx (t) cos( ) · √ dt)2 ,
k→+∞ k→+∞ 0 2 π
o que claramente dá
Z 2π
t sin(kt)
0 = lim ck := lim φx (t) cos( ) · √ dt
k→+∞ k→+∞ 0 2 π
e portanto:
Z 2π
t
lim φx (t) cos( ) · sin(kt) dt
k→+∞ 0 2
(analogamente para a outra integral).
é convergente.
Demonstração.
Como c2k ≥ 0, as somas
sk := c21 + c22 + . . . + c2k
formam uma sequência crescente. O Teorema fundamental de sequências diz que para
sn convergir basta existir uma cota superior:
sk ≤ K, ∀k ∈ N.
Vamos mostrar quedefortcoef essa cota é:
Z 2π
t
K= ( φx (t) cos( ) )2 dt,
0 2
que existe pois a função φx (t) · cos( 2t ) é contı́nua.
Para aliviar a notação denoto:
t
φ := φx (t) · cos( ).
2
Começo observando que:
Z 2π k Z 2π
X sin(nt) sin(nt)
0≤ [φ − φ √ dt · √ ]2 dt
0 n=1 0
π π
já que o integrando é ≥ 0. R
2π
Mas, usando agora que 0 φ sin(nt)
√
π
dt são números, usando as propriedades lineares
da integral obtemos:
Z 2π k Z 2π
X sin(nt) sin(nt)
[φ − φ √ dt · √ ]2 dt =
0 n=1 0
π π
Z 2π k Z 2π k Z 2π
X sin(nt) sin(nt) X sin(nt) sin(nt)
= [φ − φ √ dt · √ ] · [φ − φ √ dt · √ ] dt =
0 n=1 0
π π n=1 0
π π
Z 2π k Z 2π
2 X sin(nt)
= φ dt − 2 · ( φ √ dt)2 +
0 n=1 0
π
Z
X 2π sin(nt) Z 2π Z 2π
sin(mt) sin(nt) sin(mt)
+ φ √ dt · φ √ dt · √ √ dt+
n6=m 0 π 0 π 0 π π
k Z 2π Z 2π
X sin(nt) sin(nt)2
+ ( φ √ dt)2 · .
n=1 0 π 0 π
Agora uso os itens iv) e vi) da Afirmação 3.5, que dizem que
Z 2π
sin(mt) · sin(nt) dt = 0 se m 6= n e m, n ∈ N,
0
e Z 2π
sin(nt)2
dt = 1 ∀n ∈ N.
0 π
CAPÍTULO 46. SÉRIES DE FOURIER 703
Portanto, do de acima:
Z 2π k Z 2π
2 X sin(nt)
0≤ φ dt − ( φ √ dt)2
0 n=1 0 π
e daı́
k Z 2π Z 2π
X sin(nt) 2
sk := ( φ √ dt)2 ≤ φ dt, ∀k ∈ N
n=1 0 π 0
como querı́amos.
Demonstraç
R ão. 2π
Faça em 0
f (t) cos(n · (x − t)) dt a substituição:
t := x − t, dt = −dt,
que dá:
Z 2π Z x−2π
f (t) cos(n · (x − t)) dt = f (x − t) cos(n · t) (−dt) =
0 x
Z x
= f (x − t) cos(n · t) dt =
x−2π
Z 2π
= f (x − t) cos(n · t) dt,
0
pois tanto f quanto o cosseno são periódicas de perı́odo 2π.
Afirmação 3.5.
Z π
i): cos(m · M) · cos(n · M) dM = 0 se m 6= n e m, n ∈ N,
−π
Z 2π
ii): cos(m · M) · cos(n · M) dM = 0 se m 6= n e m, n ∈ N,
0
Z π
iii): sin(m · M) · sin(n · M) dM = 0 se m 6= n e m, n ∈ N,
−π
Z 2π
iv): sin(m · M) · sin(n · M) dM = 0 se m 6= n e m, n ∈ N,
0
Z π
π
v): sin(m · M)2 dM = ∀m ∈ N
0 2
Z 2π
vi): sin(m · M)2 dM = π ∀m ∈ N
0
Z π
π
vii): cos(m · M)2 dM = ∀m ∈ N
0 2
Z 2π
viii): cos(m · M)2 dM = π ∀m ∈ N
0
Z 2π
ix): sin(m · M) · cos(n · M) dM = 0, ∀m, n ∈ N,
0
Z π
x): sin(m · M) · cos(n · M) dM = 0, ∀m, n ∈ N,
−π
Demonstração.
Basta que eu prove um item e o leitor poderá facilmente adaptar a prova para os
outros.
Por ex. o item
Z 2π
ix): sin(m · M) · cos(n · M) dM = 0, ∀m, n ∈ N.
0
Noto que:
sin(mM + nM) = sin(mM) · cos(nM) + cos(mM) · sin(nM),
e que
sin(mM − nM) = sin(mM) · cos(nM) − cos(mM) · sin(nM),
de onde, somando as duas expressões, obtenho:
1
sin(mM) · cos(nM) = · (sin(mM + nM) + sin(mM − nM)).
2
Então
Z 2π Z 2π Z 2π
1
sin(mM) · cos(nM)dM = · ( sin((m + n)M) dM + sin((m − n)M)dM).
0 2 0 0
CAPÍTULO 46. SÉRIES DE FOURIER 705
Se m = n então
Z 2π Z 2π
1
sin(m · M) · cos(n · M) dM = · sin(mM + nM) dM =
0 2 0
−1 1
= cos(mM + nM)(2π) + cos(mM + nM)(0) = 0.
2(m + n) 2(m + n)
Se m 6= n então Z 2π
sin(m · M) · cos(n · M) dM =
0
−1 1
( cos(mM + nM) − cos(mM − nM)))(2π))+
2(m + n) 2(m − n)
1 1
( cos(mM + nM) + cos(mM − nM))(0) = 0.
2(m + n) 2(m − n)
Agora vou demonstrar os itens 4 i), ii), iii), iv) e ix) e x) da Afirmação anterior
de um modo unificado.
O interesse desta nova prova é que nela não usa nenhuma propriedade trigonométrica
das funções, usa somente a equação diferencial satisfeita pelas funções e que têm todas
em comum o perı́odo 2π, já que têm perı́odos 2π n
ou 2π
m
, n, m ∈ N.
Noto que para cada n ∈ N as funções yn := sin(n · x) ou yn (x) := cos(n · x) dos
itens i), ii), iii), iv) e ix) satisfazem a equação:
yn′′ (x) = −n2 · yn (x).
Então para n 6= m ∈ N:
ym (x) · yn′′ (x) − yn (x) · ym
′′
(x) = (m2 − n2 ) · ym · yn
e a integração por partes do lado esquerdo dá:
Z
ym (x) · yn′′ (x) − yn (x) · ym
′′
(x) dx =
Z Z
′ ′ ′
= ym (x) · yn (x) − ym (x) · yn (x) dx − yn (x) · ym (x) + yn′ (x) · ym
′ ′
(x) dx =
= ym (x) · yn′ (x) − yn (x) · ym
′
(x).
′
Como ym (x), ym (x), yn (x), yn′ (x) têm perı́odo 2π:
(ym (x) · yn′ (x) − yn (x) · ym
′
(x))(π) − (ym (x) · yn′ (x) − yn (x) · ym
′
(x))(−π) = 0
e
(ym (x) · yn′ (x) − yn (x) · ym
′
(x))(2π) − (ym (x) · yn′ (x) − yn (x) · ym
′
(x))(0) = 0.
Então concluo, calculando a integral definida do lado direito, que
Z π Z 2π
2 2
(m − n ) · ym · yn = 0 e (m2 − n2 ) · ym · yn = 0;
0 0
4Do mesmo jeito que fiz na prova da ortogonalidade dos polinômios de Legendre na Afirmação
5.1 do Capı́tulo 41
4. SÉRIES DE FOURIER DE COS(R · SIN(X)) E DE SIN(R · SIN(X)), R ∈ R706
sin(r · sin(x)) = 2 · (J1 (r) · sin(x) + J3 (r) · cos(3x) + J5 (r) · cos(5x) + . . .),
onde Jn (x) são as funções de Bessel.
Demonstração.
Pela definição dada Seção 1, Capı́tulo 43 e por ser o cosseno uma função par,
podemos escrever:
Z π
1
Jn (r) = · cos(r sin(t) − n · t) dt.
π 0
Agora
Z π Z
1 1
· cos(r sin(t)−n·t) dt = · [cos(r sin(t))·cos(n·t)+sin(r sin(t))·cos(n·t)] dt =
π 0 π
Z π Z
1 1
= · cos(r sin(t)) · cos(n · t) dt + · sin(r sin(t)) · cos(n · t) dt.
π 0 π
Usando a simetria de sin(x) em torno de π2 e usando que cos( π2 −x) = − cos( π2 + x)
se obtem5 que:
Z π
1
Jn (r) = · cos(r sin(t)) · cos(n · t) dt, se n = 0, 2, 4, 6 . . .
π 0
enquanto que:
Z π
1
Jn (r) = · sin(r sin(t)) · sin(n · t) dt, se n = 0, 2, 4, 6 . . .
π 0
5verificar
CAPÍTULO 46. SÉRIES DE FOURIER 707
0,25
0,2
0,15
0,1
0,05
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
x
onde Z 2π
1
a0 := f (t) dt,
2π 0
Z
1 2π
an := f (t) cos(nt) dt, n ∈ N
π 0
e Z
1 2π
bn := f (t) sin(nt) dt, n ∈ N.
π 0
Ademais, para cada k, o tamanho:
k
X
| f (x) − (a0 + an · sin(nx) + bn · cos(nx)) |
n=1
Demonstração.
Nesta prova usarei algumas vezes a Afirmação 5.2 a seguir.
O primeiro uso dela será, pondo para cada x:
u := (an , bn ) v = (sin(nx), cos(nx)),
1
| an · sin(nx) + bn · cos(nx) | ≤ (an 2 + bn 2 ) 2 .
A etapa crucial da prova é mostrar que a série numérica:
+∞
X 1
(an 2 + bn 2 ) 2
n=1
converge6, pois daı́ tiraremos tudo: de fato, com isso em mãos, pelo Teorema de
Comparação se séries numéricas, para cada x há convergência em módulo:
+∞
X +∞
X 1
|a0 | + |an · sin(nx) + bn · cos(nx) | ≤ |a0 | + (an 2 + bn 2 ) 2 < +∞.
n=1 n=1
Como já sabemos pela Afirmação 3.1 que para cada x:
+∞
X
f (x) = a0 + an · sin(nx) + bn · cos(nx),
n=1
então:
k
X +∞
X
| f (x) − (a0 + an · sin(nx) + bn · cos(nx)) | = | an · sin(nx) + bn · cos(nx)| ≤
n=1 n=k+1
+∞
X
≤ | an · sin(nx) + bn · cos(nx)| ≤
n=k+1
+∞
X 1
≤ (an 2 + bn 2 ) 2 < ǫ
n=k+1
P 1
se k é suficientemente grande, se soubermos que a série +∞ n=1 (an 2 + bn 2 ) 2 converge.
P 2 21
Como o termo geral da série +∞ 2
n=1 (an + bn ) é positivo, basta mostrar que ∀k:
k
X 1
(an 2 + bn 2 ) 2 ≤ K
n=1
para alguma constante K a ser determinada.
Para encontrar esse K começo considerando a derivada f ′ (x).
Considero a série de Fourier de y = f ′ (x) que denoto
X
a′0 + n = 1+∞ a′n cos(nx) + b′n sin(nx).
Por hipótese essa função ainda é derivável mais uma vez, portanto há convergência
pontual para cada x:
X
f ′ (x) = a′0 + n = 1+∞ a′n cos(nx) + b′n sin(nx).
6Cuidado P+∞ 1
P+∞ 1
que n=1 n2 converge mas n=1 n não.
CAPÍTULO 46. SÉRIES DE FOURIER 709
E ademais, modificando um pouco a prova da Afirmação 3.2 se pode provar que para
qualquer k:
k Z 2π
a′0 2 X ′ 2 ′ 2 1
+ (an + bn ) ≤ · (f ′ (x))2 dx,
2 n=1
π 0
o que dá a convergência de
+∞
a′0 2 X ′ 2 2
+ (an + b′n ).
2 n=1
Agora noto que, integrando por partes:
Z
′ 1 2π ′
an := f (t) cos(nt) dt =
π 0
Z 2π
1
= · [f (2π) cos(n2π) − f (2π) cos(n2π) + f (t) sin(nt) · n dt] =
π 0
Z 2π
1
= · f (t) sin(nt) · n dt =: n · bn ,
π 0
já que f tem perı́do 2π.
E também que: Z 2π
′ 1
bn := · f ′ (t) sin(nt) · n dt =
π 0
Z 2π
1
= · [f (2π) cos(n2π) − f (2π) cos(n2π) − f (t) cos(nt) · n dt] =
π 0
=: −n · an .
Em suma,
(b′ )2 (a′ )2
∀n, (an )2 = n2 e (bn )2 = n2 ,
n n
Ou seja,
k k
X
2 2 21
X 1 1
((an ) + (bn ) ) = · ((a′n )2 + (b′n )2 ) 2
n=1 n=1
n
A Afirmação 5.2 a seguir, pondo em Rk os seguintes vetores
1 1 1
u := (1, . . . , ) v = ( ((a′1 )2 + (b′1 )2 ) 2 , . . . , ((a′k )2 + (b′k )2 ) 2 ),
k
dá a desigualdade
k k k
X 1 ′ 2 ′ 2 21
X 1 1 X ′ 2 1
· ((an ) + (bn ) ) ≤ ( 2
) 2 · ( (an ) + (b′n )2 ) 2 .
n=1
n n=1
n n=1
Ora, as séries
+∞
X 1
n=1
n2
e
+∞
a′0 2 X ′ 2 2
+ (an + b′n )
2 n=1
6. A SOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DE KEPLER VIA SÉRIE DE FOURIER E
FUNÇÕES DE BESSEL 710
Q
Y
ϕ θ
p A X
O F
Note que, mesmo que ainda não saibamos explicitamente o que é φ(M), podemos
afirmar que:
• a expressão φ(M) − M se anula em M = k · π, onde k = 0, 1, 2, 3 . . .;
• φ(M) − M é periódica em M de perı́odo 2 · π,
• φ(M) − M é uma função ı́mpar.
Isso motiva, de acordo com a Seção 2, a busca de uma expansão em série de
Fourier-senos dessa função:
Afirmação 6.1. Se φ = φ(M) é solução de M = φ − e · sin(φ), com 0 < e < 1 e se
+∞
X
φ(M) − M = bν · sin(ν · M).
ν=1
então os coeficientes verificam
1 2
bν = bν (e) = · · Jν (e), ∀ν ∈ N,
ν π
onde Z π
Jν (x) = cos(ν · (t − x · sin(t))) dt.
0
Demonstração.
Se tivéssemos essa expressão
+∞
X
φ(M) − M = bν · sin(ν · M)
ν=1
e se pudéssemos derivá-la em M termo a termo, obterı́amos:
+∞
dφ X
−1= ν · bν (e) · cos(ν · M).
dM ν=1
Agora, para cada ν0 fixado, multiplico termo a termo:
+∞
dφ X
cos(ν0 · M) · ( − 1) = ν · bν (e) · cos(ν · M) · cos(ν0 · M)
dM ν=1
e depois integro, termo a termo:
Z π +∞ Z π
dφ X
cos(ν0 · M) · ( − 1) dM = ν · bν (e) · cos(ν · M) · cos(ν0 · M) dM.
0 dM ν=1 0
Z π
2 dφ
= · cos(ν · M) · dM,
νπ 0 dM
onde a última igualdade sai de que:
Z π
sin(ν · M) sin(ν · M)
cos(ν · M) dM = (π) − (0) = 0.
0 ν ν
Mas como:
φ(0) = 0 e φ(π) = π
e como temos
M = φ − e · sin(φ),
e portanto
Z π
2
bν (e) = · cos(ν · (φ − e · sin(φ))) · dφ.
νπ 0
0
0 1 2 3 4 5 6
M
Também
∂y ∂y
(x21 + x32 ) · + =0
∂x2 ∂x1
é linear, embora
∂y ∂y
y· + =0
∂x2 ∂x1
não seja linear.
• Uma equação é apenas semi-linear se é linear nas derivadas de ordem máxima.
O exemplo anterior, apesar de não-linear, é semilinear. A semi-linearidade
já é uma informação importante, havendo técnicas para lidar com essas
equações.
• A linearidade da operação de tomar derivada faz com que uma equação linear
e homogênea defina um operador linear LF :
y 7→ LF (y).
Por exemplo, se F (x1 , x2 , y, ∂y
x1
∂y
, . . .) = 5 · ∂x 1
∂y
+ 3 · ∂x 2
= 0 e se a, b ∈ R, temos:
a · y1 + b · y2 7→ LF (a · y1 + b · y2 ) :=
∂(a · y1 + b · y2 ) ∂(a · y1 + b · y2 )
:= 5 · +3· =
∂x1 ∂x2
∂y1 ∂y ∂y2 ∂y2
= a · [5 · +3· ] + b · [5 · +3· ]=
∂x1 ∂x2 ∂x1 ∂x2
= a · LF (y1 ) + b · LF (y2 ).
Note que LF não seria linear se a equação F = 0 não fosse homogênea.
• O importante desta observação é que, quando a equação parcial F = 0 é
linear e homogênea, ou seja, LF é operador linear, então as soluções y1 , y2
de F = 0 podem ser superpostas como a· y1 + b· y2, produzindo outra solução.
• Na linguagem da álgebra linear, a superposição de soluções diz que LF = 0
define um subespaço linear (núcleo) do espaço de funções onde se pode aplicar
LF .
Ao contrário do que acontecia com as equações diferenciais ordinárias, o
espaço LF = 0 pode ser um espaço vetorial de dimensão infinita. A vasta
possibilidade de escolha de soluções está na base de três conceitos: P
• i) a idéia de buscar soluções que são somas infinitas de soluções +∞ n=1 an yn
(caso convirjam).
• ii) o processo de separação de variáveis, em que se restringe a busca de
soluções y(x1 , x2 , . . . , xn ) às da forma:
y(x1 , x2 , . . . , xn ) = y1 (x1 ) · y2 (x2 ) · . . . yn (xn ).
• iii) a necessidade de se impor condições iniciais ou de fronteira à solução
y(x1 , . . . , xn ) para poder ter unicidade de soluções. Por exemplo, se uma das
variáveis é temporal, t := xn , e se impõe condições iniciais
y(x1 , . . . , xn−1 , 0) = g(x1 , . . . , xn )
estamos num problema de Cauchy.
CAPÍTULO 47. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS PARCIAIS 717
Por isso, a equação diferencial (parcial, linear, de segunda ordem) que rege a
mudança da temperatura4 T = T (x, y, t) é a chamada Equação da Difusão do Calor :
∂2T ∂2T ∂T
α2 · ( 2
+ 2
)=
∂x ∂y ∂t
ou se T = T (x, y, z, t) é:
∂2T ∂2T ∂2T ∂T
α2 · ( 2
+ 2
+ 2
)= .
∂x ∂y ∂z ∂t
Esse coeficiente α2 é muito pequeno para a água e alto para o cobre, por exemplo.
Um exemplo. Para as funções f1 = −x2 − y 2 , f2 = x2 + y 2 e f3 = x2 − y 2 a origem
(0, 0) é ponto de máximo, mı́nimo e de séla, respectivamente. E os Laplacianos são
respectivamente :
∂ 2 f1 ∂ 2 f1 ∂ 2 f2 ∂ 2 f2 ∂ 2 f3 ∂ 2 f3
+ = −4, + = 4 + = 0.
∂x2 ∂y 2 ∂x2 ∂y 2 ∂x2 ∂y 2
Intuitivamente, a equação da difusão do calor diz que se o Laplaciano num ponto P é
negativo, então num entorno de P há menos calor que em P e portanto a temperatura
de P diminui; já se o Laplaciano num ponto P é positivo, então num entorno de P
há mais calor que em P e portanto a temperatura de P aumenta.
Quando se estabiliza a temperatura temos:
∂2T ∂2T
+ = 0.
∂x2 ∂y 2
ou
∂2T ∂2T ∂2T
+ + 2 =0
∂x2 ∂y 2 ∂z
e essas equações serão estudadas no Capı́tulo 48.
Problema 1 - homogêneo:
Considere um arame isolado do ambiente, exceto pelos extremos, com uma dis-
tribuição de temperatura f (x), x ∈ [0, L] no tempo t = 0. Imagine que começa a
sofrer resfriamento porque seus extremos são postos a 0 grau e assim mantidos ∀t > 0.
Por exemplo suponha que f (x) ≡ C 6= 0 no instante t = 0. Queremos determinar
T (x, t), a função temperatura no tempo t, onde
T (x, 0) = f (x) ≡ C > 0
e
T (0, t) ≡ 0 e T (L, t) ≡ 0, ∀t > 0.
É natural prever que ao longo do tempo cada ponto do arame tenderá a ter temper-
atura zero. Mas queremos determinar de modo quantitativamente exato como isso
acontece.
4bem como outros processos de difusão de gase, etc, em meios homogêneos
CAPÍTULO 47. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS PARCIAIS 721
Em resumo, as soluções de
d2 T1 (x) π 2 n2
+ · T1 (x) = 0, com T1 (0) = T1 (2π) = 0, T1 6≡ 0
dx2 L
são da forma:
π·n
Bn · sin( · x), n ∈ N, Bn ∈ R
L
Voltando à segunda equação, ficamos com:
dT2 (t) π 2 n2
+ α2 2 · T2 (t) = 0, T2 (t) 6≡ 0,
dt L
cujas soluções são
2 n2 π 2 ·t
An · e−α L2 , An ∈ R.
Afirmo que as somas finitas
N
X 2 n2 π 2 ·t π·n
Cn · e−α L2 · sin( · x),
n=1
L
é solução da equação.
Como:
+∞
X π·n
C ≡ f (x) = T (x, 0) = Cn · sin( · x),
n=1
L
reconhecemos os Cn como os coeficientes de uma série de Fourier de senos da função
constante f ≡ C, do Exemplo 1 da Seção 2 do Capı́tulo 46: Cn = 0 se n ∈ N é par e
Cn = 4C
nπ
se n ∈ N é ı́mpar.
Suponho para a figura a seguir o caso bem particular:
C ≡ 1, L=π e α = 1.
Na figura a seguir dou o truncamento até n = 11 de
+∞
4 X 1 2
T (x, t) = · · e−(2n−1) ·t · sin((2n − 1) · x)
π n=1 2n − 1
1 1 1 1 1
com t = , , , , ,1
40 30 10 6 2
CAPÍTULO 47. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS PARCIAIS 723
0.8
0.6
0.4
0.2
Problema 2 - não-homogêneo:
Uma situação mais geral: um arame isolado do ambiente, exceto pelos extremos,
com uma distribuição de temperatura f (x) ≡ C, x ∈ [0, L] no tempo t = 0, que
começa a sofrer resfriamento segundo:
∂ 2 T (x, t) ∂T (x, t)
α2 · 2
= .
∂x ∂t
Só que agora
T (0, t) ≡ c < C e T (L, t) ≡ 0, ∀t > 0.
Ou seja, a condição de fronteira não é mais homogênea.
O que fazer ? Pois agora a soma de soluções ∀n que fizemos no Problema 1 já
não é mais possı́vel. A idéia é reduzir este Problema 2 a um problema do tipo do
Problema 1, e usar aquela técnica.
Para isso considere
c
f (x) = − · x + c,
L
qu claramente satisfaz
d2 f (x)
f (0) = c, f (L) = 0, ≡0
dx2
e obviamente
df
,
dt
pois f (x) não depende de t.
Considere
ˆ t) := T (x, t) − f (x).
T (x,
4. PROBLEMAS DE ESFRIAMENTO UNIDIMENSIONAIS 724
0.8
0.6
0.4
0.2
x
CAPı́TULO 48
θ
y
Afirmação 1.1.
i): Seja y = f (x, y) com derivadas de segunda ordem contı́nuas1.
2 2
O Laplaciano ∂∂xf2 + ∂∂yf2 se escreve em cordenadas polares (r, θ) como:
1 ∂2f 1 ∂( r · ∂f
∂r
)
2 2
+ · .
r ∂θ r ∂r
ii): Seja y = f (x, y, z) com derivadas de segunda ordem contı́nuas.
1Para ∂2f ∂2f
que possamos usar ∂x∂y = ∂y∂x
725
1. LAPLACIANO EM COORDENADAS POLARES E ESFÉRICAS 726
De ii):
Contas mais longas, mas do mesmo estilo, agora usando que:
x = ρ sin(φ) cos(θ), y = ρ sin(φ) sin(θ) e z = ρ cos(φ).
este é o núcleo de Poisson no disco unitário e que facilmente se generaliza para discos
de raio R como
R2 − r 2
K(r, θ, φ, R) := 2 .
R + r 2 − 2rR cos(φ − θ)
Ou seja que, para expressarmos a solução do problema de distribuição estacionária
de calor no disco T (r, θ) basta fazermos a integral do produto da temperatura no bordo
com o núcleo de Poisson. Essa idéia se generaliza para outros domı́nios que não são
discos.
e
d2 T2 1 d2 T2 τ dT2
2
= 2 2
− 3 .
dτ 1 − τ dφ (1 − τ 2 ) 2 dφ
De onde se obtêm:
d2 T2 dT2
(1 − τ 2 ) · 2
− 2τ + n(n + 1)T2 =
dτ dτ
d2 T2 (φ) τ dT2 (φ)
= 2
+√ · + n(n + 1) · T2 (φ) = 0,
dφ 1−τ 2 dφ
nossa equação. Agora reconhecemos em
d2 T2 dT2
(1 − τ 2 ) · − 2τ + n(n + 1)T2 = 0
dτ 2 dτ
a equação de Legendre do Capı́tulo 41.
Como mais uma vez queremos que T2 (τ ) fique limitada para
−1 ≤ τ ≤ 1 ou seja 0 ≤ φ ≤ π,
então temos que tomar as soluções limitadas em [−1, 1] da Equação de Legendre
d2 T2 dT2
(1 − τ 2 ) · − 2τ + n(n + 1)T2 = 0,
dτ 2 dτ
ou seja, como se pode provar, :
T2 (τ ) = a · Pn (τ ) = a · Pn (cos(φ)),
onde Pn é o n-ésimo polinômio de Legendre. Isso para cada n = 0, 1, 2, 3, . . ., portanto
pelo que vimos encontramos soluções particulares da forma:
Tn = an · ρn · Pn (cos(φ)), an ∈ R.
Pela linearidade do Laplaciano, o que faz é somar essas soluções particulares Tn ,
mais propriamnte, se considera uma série infinita como candidata a solução:
+∞
X
T (ρ, φ) := an · ρn · Pn (cos(φ));
n=0
ou seja,
+∞
X
f (arccos(τ )) = an · Pn (τ ).
n=0
CAPÍTULO 48. O OPERADOR DE LAPLACE E AS EQUAÇÕES DO CALOR
E DA ONDA 735
Exemplo:
Considerei uma fatia da bola de raio 1, aquela quando θ = π2 , pois nesse caso:
π π
x = ρ sin(φ) cos( ) = 0, y = ρ sin(φ) sin( ) = ρ sin(φ) e z = ρ cos(φ),
2 2
a fatia obtida cortando com o plano x = 0 no espaço.
Variando agora φ de 0 a π estamos indo do pólo Norte ao Sul, pois z = ρ cos(φ).
Então pensei numa função f (φ) que dá a temperatura na superfı́cie que imite o
que acontece na temperatura do globo terrestre, em que há temperaturas negativas
no Norte e no Sul e com máximas em geral no equador, φ = π2 :
π2
f (φ) = 1 − (φ − ,
)
que tem:
π2 π
f (0) = f (π) = 1 − ≈ −1.4 e f ( ) = 1.
4 2
Fiz no Maple approximações numéricas dos coeficientes a0 , . . . , a6 e obtive
6
X
T (ρ, φ) ≈ an · ρn · Pn (cos(φ)) ≈
n=0
1 3
≈ 0.5325988995 − 0.8305268694 10−14 · ρ · cos(φ) − 1.111111111 · ρ2 · (− + cos(φ)2 )−
2 2
5 3 3 35 15
−0.1223884111 10−14·ρ3 ·( cos(φ)3 − cos(φ))−0.3200000000·ρ4·( + cos(φ)4 − cos(φ)2 )−
2 2 8 8 4
63 35 15
−0.3914846856 10−15 · ρ5 · ( cos(φ)5 − cos(φ)3 + cos(φ))−
8 4 8
5 231 315 105
−0.1509297052 · ρ6 · (− + cos(φ)6 − cos(φ)4 + cos(φ)2 ).
16 16 16 16
Também esta aproximação T (ρ, φ) dá que:
lim T (ρ, φ) ≈ 0.5325988995.
ρ→0
5. Exercı́cios
1
Exercı́cio 5.1. i) Seja U(x, y) = − √ um potencial gravitacional no plano (x, y)
x2 +y 2
de uma partı́cula com massa situada na origem . Mostre que no plano fora da origem:
1
∇U = 3 .
(x2 + y 2) 2
1
ii) Seja V (x, y, z) = − √ um potencial gravitacional no espaço (x, y, x) de
x2 +y 2 +z 2
uma partı́cula com massa situada na origem . Mostre que no espaço fora da origem
∇V ≡ 0.
CAPı́TULO 49
O lado esquerdo só depende de x e o direito só de t, portanto devem ser constantes e
iguais a λ ∈ R. Então
∂ 2 y1 (x)
− λ · y1 (x) = 0
∂x2
e
∂ 2 y2 (t)
− λ · k 2 · y2 (t) = 0.
∂t2
Para que a solução desta última equação seja periódica a única possibilidade é que
λ < 0. Então
√ √
y2 (t) = a · cos( −λk · t) + b · sin( −λk · t), a, b ∈ R.
Com λ < 0 as soluções de
∂ 2 y1 (x)
− λ · y1 (x) = 0
∂x2
são √ √
y1 (x) = c · cos( −λ · x) + d · sin( −λ · x), c, d ∈ R.
Mas quero que y(x, t) = y1 (x) · y2 (t) verifique y(0, t) ≡ 0 e para isso preciso que se
anule um coeficiente:
c = 0.
√
E para que y(L, t) = d · sin( −λ · L) ≡ 0 preciso que:
√
−λ · L = n · π, n ∈ N
ou seja,
√ n·π
−λ = , n∈N
L
e portanto:
n·π n·π n·π
d · sin( · x) · [a · cos( · k · t) + b · sin( · k · t)]
L L L
é uma solução que depende de n ∈ N fixado (chamdo um modo normal de vibração
da corda e quando n = 1 o modo fundamental ). Pela linearidade da equação o que se
faz é buscar somas dessas soluções, mas ∀n ∈ N:
+∞
X n·π n·π n·π
y(x, t) := sin( · x) · [an · cos( · k · t) + bn · sin( · k · t)]
n=1
L L L
onde as constantes dn foram absorvidas nas outras.
A determinação dos coeficientes an , bn depende de se fazer uso das condições ini-
ciais:
+∞
X n·π
y(x, 0) = an · sin( · x) = g(x)
n=1
L
e (por derivação termo a termo e posterior avaliação em t = 0):
+∞
∂y(x, 0) X n·π n·π
= bn · · k · sin( · x) = h(x).
∂t n=1
L L
Se vê então que os an e os
n·π
bn · ·k
L
CAPÍTULO 49. EQUAÇÃO DA ONDA E AS VIBRAÇÕES DE CORDAS E
MEMBRANAS 739
são os coeficientes de Fourier de g(x) e h(x) respectivamente. E esses nós já sabemos
como determinar.
1 ∂ 2 y ∂x 1 ∂ 2 y ∂t 1 ∂ 2 y ∂x 1 ∂ 2 y ∂t
= · 2· + · · − · · − · · =
2 ∂x ∂u 2 ∂t∂x ∂u 2k ∂x∂t ∂u 2k ∂t2 ∂u
1 ∂2y 1 ∂2y 1 ∂2y 1 ∂2y
= + − − = 0,
4 ∂x2 4k ∂t∂x 4k ∂x∂t 4k 2 ∂t2
onde na última igualdade usei que
∂2y ∂2y
=
∂t∂x ∂x∂t
se y(x, t) tiver derivadas de segunda ordem contı́nuas (Lema de Schwarz) e
∂ 2 y(x, t) 1 ∂ 2 y(x, t)
− · = 0.
∂x2 k2 ∂t2
Mas
∂y
∂2y ∂ ∂v
= =0
∂u∂v ∂u
∂y
quer dizer que ∂v
só depende de v:
∂y
= z(v).
∂v
E agora integrando em v obtenho:
Z
y(u, v) = z(v)dv + q(u) =: p(v) + q(u);
ou seja:
y(x(u, v), t(u, v)) = p(v) + q(u) = p(x − k · t) + q(x + k · t).
As condições iniciais para t = 0 dão:
y(x, 0) = p(x − k · 0) + q(x + k · 0) = p(x) + q(x) = g(x)
e
∂y(x, 0)
= p′ (x) · (−k) + q ′ (x) · (k) = k · (−p′ (x) + q ′ (x)) = h(x),
∂t
de onde
1
−p′ (x) + q ′ (x) = · h(x)
k
e daı́ integrando: Z x
1
−p(x) + q(x) = · h(ξ)dξ + C.
k 0
Junto com:
p(x) + q(x) = g(x)
obtemos um sistema de duas equações lineares, de onde:
Z x
1 1 C
q(x) = · g(x) + · h(ξ)dξ +
2 2k 0 2
e Z x
1 1 C
p(x) = · g(x) − · h(ξ)dξ − =
2 2k 0 2
Z 0
1 1 C
= · g(x) + · h(ξ)dξ − .
2 2k x 2
CAPÍTULO 49. EQUAÇÃO DA ONDA E AS VIBRAÇÕES DE CORDAS E
MEMBRANAS 741
Já que essas são as expressões de p(x) e q(x) ∀x então posso usá-las para p(x − k · t)
e q(x + k · t), de onde sai a fórmula clásssica (Fórmula de D’Alembert):
Z x+k·t
g(x − k · t) + g(x + k · t) 1
y(x, t) = p(x − k · t) + q(x + k · t) = + h(ξ) dξ.
2 2k x−k·t
2 ∂2R ∂R
r · 2 +r· + R · (−λ · r 2 − n2 ) = 0.
∂r ∂r
Em suma, concluo que:
√
R(r) = α · Jn ( −λr).
Agora intervém a exigência de que:
R(a) = 0
pois queremos que a borda circular do tambor fique fixa. Ou seja, já que α 6= 0:
√
Jn ( −λa) = 0
a=1
e portanto
√
−λ
é um zero da n-ésima função de Bessel de primeira ordem.
Já vimos na Seção 2 do Capı́tulo 43 que há uma infinidade de zeros para cada
n ∈ N fixado. E desses zeros se conhecem aproximações numéricas. E na Afirmação
3.1 vimos as relações de ortogonalidade entre funções de Bessel Jν (λx), para disitintos
λ.
Ou seja, para cada n fixado (n ∈ N ∪ {0}), há uma infinidade de pontos:
√
−λ =: λn,m , m ∈ N
ez = ez .
f : C → C.
0,5
y 0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
-0,5
-1
y 0
-2 -1 0 1 2
x
-1
-2
y 0
-2 -1 0 1 2
x
-1
-2
y 0
-1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2
x
-1
-2
y 0
-2 -1 0 1 2
x
-1
-2
y 0
-2 -1 0 1 2
x
-1
-2
y 0
-2 -1 0 1 2
x
-1
-2
CAPÍTULO 50. UM PORTAL PARA O CÁLCULO COMPLEXO 753
Afirmação 0.1.
Tome qualquer cı́rculo Cz0 ,r centrado em z0 ∈ C, de raio r.
i): Então Z Z
z · τz = 0 e z · nz = 0.
Cz0 ,r Cz0 ,r
ii): Então Z Z
z 2 · τz = 0 e z 2 · nz = 0.
Cz0 ,r Cz0 ,r
iii): Então: Z Z
ez · τz = 0 e ez · nz = 0.
Cz0 ,r Cz0 ,r
Demonstração.
De i):
Neste caso:
Z Z 2π
z · τz = −ar sin(t) − r 2 sin(t) cos(t) − br cos(t) − r 2 sin(t) cos(t) dt =
Cz0 ,r 0
Z 2π Z 2π Z 2π
2
= −ar sin(t) dt − br cos(t) dt − 2r sin(t) cos(t) dt = 0.
0 0 0
1onde o · no integrando é o produto escalar do vetor do plano representado por f (z) ∈ C com o
vetor tangente
2há a possibilidade de se tomar o sinal oposto nessa definição de vetor normal, mas escolhemos
este.
754
E Z Z 2π
z · nz = ar cos(t) + r 2 cos2 (t) − br sin(t) − r 2 sin2 (t) dt =
Cz0 ,r 0
Z 2π Z 2π Z 2π
2
= ar cos(t)dt − br sin(t)dt + r cos2 (t) − sin2 (t)dt =
0 0 0
Z 2π Z 2π Z 2π
2
= ar cos(t)dt − br sin(t)dt + r cos(2 t)dt = 0.
0 0 0
De ii):
Só para diminuir o tamanho da conta suponho que z0 = (0, 0).
Como:
z 2 = x2 − y 2 + I · 2xy = x2 − y 2 − I · 2xy,
então facilmente se obtem:
Z Z 2π
3
z 2 · τz = −r 3 cos2 (t) sin(t) − sin3 (t) dt = 0,
Cz0 ,r 0
3Dizemos que é fechada se γ(c) = γ(d) e dizemos que é sem autosintersecções se γ(t1 ) = γ(t2 )
somente se t1 = t2 ou t1 = c e t2 = d.
756
A Figura o ilustra:
0,5
y 0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
-0,5
-1
i): Tome qualquer cı́rculo Cz0 ,r centrado em z0 ∈ C, de raio r, tal que (0, 0) 6∈
Cz0 ,r . Então Z
1
· τz = 0.
Cz0 ,r z
ii): Se (0, 0) 6∈ Dz0 ,r , então
Z
1
· nz = 0.
Cz0 ,r z
CAPÍTULO 50. UM PORTAL PARA O CÁLCULO COMPLEXO 757
Demonstração.
Do item i):
1 z
Temos f (z) = z
= |z|2
e
Z
z
· τz =
Cz0 ,r |z|2
Z 2π
−ar sin(t) − r 2 sin(t) cos(t) + br cos(t) + r 2 sin(t) cos(t)
= dt =
0 a2 + b2 + r 2 + 2ar cos(t) + 2br sin(t)
Z 2π
−ar sin(t) + br cos(t)
= dt,
0 a2 + b2 + r 2 + 2ar cos(t) + 2br sin(t)
onde reconhecemos derivadas logarı́tmicas e portanto primitivas:
1
· ln |a2 + b2 + r 2 + 2ar cos(t) + 2br sin(t)| + C.
2
Do item ii):
z
Temos f (z) = |z|2
e
Z
f (z) · nz =
Cz0 ,r
Z 2π
ar cos(t) + r 2 cos2 (t) + br sin(t) + r 2 sin2 (t)
= dt =
0 a2 + b2 + r 2 + 2ar cos(t) + 2br sin(t)
Z 2π
r 2 + ar cos(t) + br sin(t)
= dt
0 a2 + b2 + r 2 + 2ar cos(t) + 2br sin(t)
Faz sentido considerar uma função ângulo
que dá o ângulo que z (como vetor com base na origem) forma com o eixo positivo dos
x, pois (0, 0) 6∈ Dz0 ,r . Ela é derivável e ademais |θ(z1 ) − θ(z2 )| < 2π para quaisquer
dois z1 , z2 ∈ Dz0 ,r
Veja a Figura:
758
z0
θ
θ
Do item iii):
Se z0 = (0, 0) então: Z
f (z) · nz =
C(0,0),r
Z 2π
r 2 · cos2 (t) + r 2 sin2 (t)
= dt = 2π,
0 r2
que indica que o ângulo determinado por (r, 0) está mal definido, pois a ele se soma
2π quando fazemos um giro completo no cı́rculo e voltamos em (r, 0).
CAPÍTULO 50. UM PORTAL PARA O CÁLCULO COMPLEXO 759
O que a Afirmação 0.2 indica, apesar de só tratar de cı́rculos, é que f (z) = 1z
é conservativo e que num pequeno entorno de cada ponto z0 ∈ C, z0 6= 0, não tem
fontes nem sumidouros.
Mas para a fonte z0 = 0 se define a potência do campo z1 como
Z
1
· nz = 2π
Cz0 ,r z
−1 −z
Note que se tomo agora o campo z
= |z|
, ilustrado a seguir:
0,5
y 0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
-0,5
-1
Se U não tem buracos (é simplesmente conexo), pelo Teorema de Green 4 temos:
Z Z
0 = h(z) · τγ := udx + vdy =
γ γ
Z
∂v ∂u
= − (
) dxdy
U ∂x ∂y
e Z Z
0 = h(z) · nγ := udy − vdx =
γ γ
Z
∂u ∂v
= ( + ) dxdy.
U ∂x ∂y
Ora, se acontecesse que
∂v ∂u
− 6= 0
∂x ∂y
ou se acontecesse que
∂u ∂v
+ 6= 0
∂x ∂y
então, pelo Princı́pio de Inércia das funções contı́nuas, essas funções seriam não-nulas
numa pequena região U. E para uma pequena curva γ cercando essa região terı́amos
por Green Z Z
h(z) · τγ 6= 0 ou h(z) · nγ 6= 0.
γ γ
Como isso não ocorre, pela nossa suposição, temos que concluir que valem:
∂v ∂u ∂u ∂v
− ≡0 e + ≡ 0,
∂x ∂y ∂x ∂y
ou seja,
∂v ∂u ∂u ∂v
≡ e =− .
∂x ∂y ∂x ∂y
Como já vimos, a Afirmação 0.1 sugere que os campos z, z 2 e ez são conservativos e
não têm fontes nem sumidouros. Portanto se denotamos por
u(z) + Iv(z)
as coordenadas de cada um desses três campos z, z 2 ou ez , temos que:
∂v ∂u ∂u ∂v
≡ e ≡− .
∂x ∂y ∂x ∂y
Portanto para as coordenadas
u(z) − I · v(z) = u(z) + I · (−v(z))
de cada um dos campos conjugados z, z 2 ou ez podemos escrever:
∂(−v) ∂u ∂u ∂(−v)
≡− e ≡ .
∂x ∂y ∂x ∂y
4Por enquanto o assumo, sem prová-lo
CAPÍTULO 50. UM PORTAL PARA O CÁLCULO COMPLEXO 761
Afirmação 2.1.
Z Z Z
f (z) dz = f (z) · τz + I · f (z) · nz .
Cz0 ,r Cz0 ,r Cz0 ,r
Demonstração.
Imediata após a Definição 2.1.
Afirmação 2.2.
i): Para qualquer cı́rculo Cz0 ,r :
Z Z
z dz = 0 e z 2 dz = 0,
Cz0 ,r Cz0 ,r
bem como: Z
ez dz = 0.
Cz0 ,r
ii): Se (0, 0) 6∈ Dz0 ,r , então
Z
1
dz = 0.
Cz0 ,r z
Mas se z0 = (0, 0) então Z
1
dz = 2π · I.
Cz0 ,r z
Demonstração.
Com a Afirmação 2.1 vemos que isso é exatamente o que dizem as Afirmações 0.1
e 0.2.
2. A INTEGRAL COMPLEXA E A IDÉIA DA PRIMITIVA COMPLEXA 762
O item i) da Afirmação 2.2 faz parecer que estamos criando funções inúteis, pois
suas integrais ao longo de cı́rculos são zero. Mas é o contrário, esta anulação é que
nos permitirá criar novas funções no plano para as quais valerá um tipo de teorema
fundamental do Cálculo.
De fato, suponha que não só em cı́rculos temos
Z
f (z) dz = 0
Cz0 ,r
mas façamos a suposição surpreendente de que em qualquer curva fechada sem auto-
intersecção γ tenhamos Z
f (z) dz = 0.
γ
Afirmo que, fixado um ponto z0 arbitrário no domı́nio da f , poderı́amos então
definir: Z z Z
G(z) := f (z)dz := f (z)dz
z0 Cz0 ,z
usando qualquer curva parametrizada (derivável) que sai de z0 e chega em z.
Em termos gerais, a idéia é que se tomo qualquer outra Cz′ 0 ,z que sai de z0 e chega
em z sem intersectar Cz0 ,z terı́amos:
Z Z
f (z)dz = f (z)dz,
Cz0 ,z Cz′ 0 ,z
pois Z Z
f (z)dz − f (z)dz =
Cz0 ,z Cz′ 0 ,z
Z Z
= f (z)dz + f (z)dz =
Cz0 ,z −Cz′ 0 ,z
Z Z
= f (z)dz = f (z)dz = 0,
Cz0 ,z −Cz′ 0 ,z γ
onde γ = Cz0 ,z − Cz′ 0 ,z é a curva fechada sem auto-intersecção que se forma ao irmos
de z0 a z por Cz0 ,z e retornarmos a z0 pela Cz′ 0 ,z .
Afirmação 2.3. i): Se para toda curva fechada sem auto-intersecção γ temos
Z
f (z) dz = 0
γ
então a função Z z
G(z) := f (z)dz
z0
está bem definida e G′ (z) = f (z). Ou seja, G(z) é uma primitiva Complexa de f (z).
∂V ∂U
= −I · ,
∂y ∂y
de onde
∂U ∂V ∂V ∂U
≡ e ≡− ,
∂x ∂y ∂x ∂y
que são as relações de Cauchy-Riemann.
Demonstração.
Por enquanto justifico apenas o item ii). Deixo i) para a Seção 1 do Capı́tulo 51.
f (z) − f (z)
G′ (z) = lim
z→z z−z
e esse limite pleno nos permite tomar qualquer direção de aproximação de z para z;
o que é exigido apenas é que:
||z − z|| → 0.
Então posso tomar por exemplo uma direção horizontal para aproxima z e obter:
para G(z) = U(z) + I · V (z) e z = a + Ib:
U(a + h + Ib) + I · V (a + h + Ib)
G′ (z) = lim =
h→0 h + I0
U(a + h, b) V (a + h, b)
= lim +I · =
h→0 h h
∂U ∂V
=: ( +I · )(z).
∂x ∂x
1
Ou posso tomar uma direção vertical de aproximação para z e obter, já que I
= −I:
U(a + I(b + h)) + I · V (a + I(b + h))
G′ (z) = lim =
h→0 Ih
−IU(a + I(b + h)) V (a + I(b + h))
= lim + =
h→0 h h
∂U ∂V
= (−I · + )(z).
∂y ∂y
Comparando as duas expressões:
∂V ∂U ∂U ∂V
G′ (z) = −I · = +I ·
∂y ∂y ∂x ∂x
obtemos:
∂U ∂V ∂V ∂U
≡ e ≡− .
∂x ∂y ∂x ∂y
3. CURVAS INTEGRAIS COMO PARTE IMAGINÁRIA DAS PRIMITIVAS
COMPLEXAS 764
i): as curvas dadas implicitamente por V (z) = C são curvas integrais do campo
vetorial definido por f (z).
De iii):
Queremos ver se há anulação do produto escalar:
∂U ∂U ∂V ∂V
( , )·( , ) ≡ 0.
∂x ∂y ∂x ∂y
Ora, pela duas relações de Cauchy-Riemann:
∂U ∂V ∂U ∂V ∂U ∂U ∂U ∂U
· + · = · (− )+ · ≡0
∂x ∂x ∂y ∂y ∂x ∂y ∂y ∂x
Foi assim que numa Seção 50 obtivemos as curvas integrais dos três campos f (z) =
ez . f (z) = z e f (z) = z 2 . Pois
Z Z Z
z z z2 z3
e dz = e + C, z dz = + C, e z 2 dz = +C
2 3
e suas partes imaginárias V (z) são respectivamente:
y 3 − 3x2 y
ex · sin(y), x·y e .
3
Já suas partes Reais U(z) são respectivamente:
x2 y 2 x3
ex · cos(y), − e − xy 2
2 2 3
Nas figuras a seguir coloco juntas as curvas ortogonais U(z) = C e V (z) = C
desses três exemplos:
y 0
-1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2
x
-1
-2
y 0
-2 -1 0 1 2
x
-1
-2
x2 y2
Fig.: Curvas ortogonais x · y = C e 2
− 2
= C.
y 0
-2 -1 0 1 2
x
-1
-2
x3
Fig.: Curvas ortogonais 3
− xy 2 = C e y 3 − 3x2 y = C.
πI
ez
E do mesmo modo se pode ver que ez manda a faixa horizontal 0 < y < 2π no
plano menos o semi-eixo dos x ≥ 0, bijetoramente.
Ou seja, para qualquer w = x + Iy no plano menos o semi-eixo dos x ≥ 0 faz
sentido a operação
w = x + I · y = |z| · ((cos(b) + I sin(b)) 7→ z = ln(|w|) + I · θ
onde θ é o ângulo entre 0 e 2π formado pelo vetor (x, y) com o eixo dos x > 0.
Essa operação
w = x + I · y = |w| · ((cos(b) + I sin(b)) 7→ z = ln(|w|) + I · θ
5. O TEOREMA FUNDAMENTAL DO CÁLCULO SOBRE OS COMPLEXOS768
onde θ é o ângulo entre 0 e 2π formado pelo vetor (x, y) com o eixo dos x > 0 será
chamada de o ramo do logaritmo natural Complexo com argumento θ entre 0 e 2π.
Também poderı́amos estabelecer que o argumento ficasse entre −π e π por exemplo
e terı́amos outro ramo do logaritmo natural Complexo.
Afirmação 4.1. Considere ln(w) o ramo logaritmo natural Complexo com argumento
θ entre 0 e 2π.
Suponha que existe a derivada complexa:
ln(w) − ln(w)
ln′ (w) := lim .
w→w w−w
Então
1
ln′ (w) = .
w
Demonstração.
Para w = x + I · y temos:
p
ln(w) := ln( x2 + y 2 ) + I · θ(x, y), onde 0 < θ < 2π.
Pelo que aprendemos na prova do item ii) da Afirmação 2.3,
p
∂ ln( x2 + y 2) ∂θ(x, y)
ln′ (w) = +I · =
∂x ∂x
1 2x −y
= · 2 + I · =
2 x + y2 x2 + y 2
x y
= 2 − I · ,
x + y2 x2 + y 2
(pelo que vimos na prova do item ii) da Afirmação 7.1 do Capı́tulo 36 e que já usamos
há pouco neste Capı́tulo).
Mas:
x y w 1
2 2
−I · 2 2
= 2
= ,
x +y x +y |w| w
como querı́amos.
En passant, aproveito para checar as relações de Cauchy-Riemann para as com-
ponentes do ramo do ln(w):
p
∂ ln( x2 + y 2) x ∂θ
= 2 2
= ,
∂x x +y ∂y
(pelo que vimos na prova do item ii) da Afirmação 7.1 do Capı́tulo 36) e
p
∂θ(x, y) −y ∂ ln( x2 + y 2 )
= 2 =− .
∂x x + y2 ∂y
6. Exercı́cios
Exercı́cio 6.1. Verifique que:
z1 · z2 = z1 · z2 , ∀z1 , z2 ∈ C
e que:
ez = ez .
Exercı́cio 6.2.
Considere a construção geométrica a seguir, ilustrada na Figura;
Tome z com 0 < |z| < 1. Considere a reta por (0, 0) e por z, denotada rz . Levante
uma perpendicular pz a rz passando por z. Por um dos pontos one pz intersecta o
cı́rculo trace a tangente tz ao cı́rculo.
pz
tz
rz
Considere o ponto tz ∩ rz .
i) Mostre que z1 = tz ∩ rz . Dica: semelhança de triângulos.
ii) para z com |z| > 1 inverta a construção, começando por traçar uma tangente
ao cı́rculo, etc. conclua que obterá também z1 .
CAPı́TULO 51
Os Teoremas Fundamentais
1. A primitiva Complexa
771
CAPı́TULO 52
Agora
x
y= ⇔ y · x2 + x − y = 0,
1 − x2
e precisamos resolver essa equação quadrática em x, para termos x = x(y).
Ora, por Báskara as soluções são:
p p
−1 + 1 − 4y (−y) −1 + 1 + 4y 2
x1 = = ,
2y 2y
p
−1 − 1 + 4y 2
x2 = .
2y
Precisamos ficar com a solução que seja positiva, pois por hipótese x ∈ (0, 1).
x
Como y = 1−x 2 > 0 e a solução positiva é:
p
−1 + 1 + 4y 2
x := x1 = .
2y
Ou seja, a candidata a função inversa é:
p
−1 + 1 + 4y 2
x= ,
2y
x
que faz sentido ∀y > 0 (mostraremos mais adiante que a imagem de y = 1−x 2 é de
1+x 2
−1 + 1−x 2
x = x.
2 ( 1−x2 )
0.2. Capı́tulo 3:
Exercı́cio 6.2:
ii) Primeiro noto que:
x2 − x > 0 ⇔ x · (x − 1) > 0 ⇔
x > 0 e x − 1 > 0 ou x < 0 e x − 1 < 0.
Ou seja, se x > 1 (mais forte que x > 0) ou se x < 0 (mais forte que x < 1).
Em suma, se x ∈ (−∞, 0) ∪ (1, +∞).
iii) As raı́zes de 3x2 − 2x − 1 = 0 são: x1 = − 31 e x2 = 1. Logo
1
3x2 − 2x − 1 = (x + ) · (x − 1).
3
Portanto preciso determinar onde o produto (x + 31 ) · (x − 1) é positivo.
Ou ambos fatores nesse produto são positivos ou ambos são negativos, ou seja:
1 1
x > − e x > 1 ou x < − e x < 1.
3 3
Tomando apenas as informações mais fortes:
1
x > 1 ou x < − ,
3
1
ou seja, x ∈ (−∞, − 3 ) ∪ (1, +∞).
Exercı́cio 6.3
Solução n. 1:
O que se quer provar é que:
+ △ ≤ | | + |△|, caso 0 ≤ + △,
ou que
−( + △) ≤ | | + |△|, caso + △ < 0.
Caso 0 ≤ + △: obviamente que valem
≤ | | e △ ≤ |△|,
e somando essas duas desigualdades obtemos o desejado:
+ △ ≤ | | + |△|.
Caso +△ < 0: então pelo menos um deles é negativo, por exemplo, suponhamos
que < 0. Por absurdo, suponha que
|| + |△| < −( + △).
CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 775
Como || = −, cancelamos esses termos na desigualdade anterior e obtemos então
que:
|△| < −△.
Se 0 < △ então chegamos no absurdo:
0 < △ =: |△| < −△ < 0.
Se △ ≤ 0 então −△ =: |△| < −△ é outro absurdo.
Logo
−( + △) ≤ || + |△|, caso ( + △) < 0.
Exercı́cio 4.5:
Não temos informação nenhuma sobre a sequência, exceto que seus termos são
negativos. Por isso o melhor é raciocinar por absurdo.
Suponha por absurdo que limn→+∞ xn = L > 0. Considere
ǫ := L = |L − 0|,
ou seja, a distância entre L e 0. Pela definição de limn→+∞ xn , dado esse ǫ tem que
haver um nǫ ∈ N tal que:
n > nǫ ⇒ |xn − L| < ǫ.
Mas coma escolha de ǫ := L isto quer dizer:
n > nǫ ⇒ |xn − L| < L,
ou seja, ou bem
xn − L < L, se 0 ≤ xn − L,
ou bem
−(xn − L) = L − xn < L, se xn − L < 0.
No primeiro caso, 0 < L ≤ xn e no segundo caso 0 = L − L < xn .
em ambos chegamos numa contradição com a hipótese xn < 0 ∀n.
Logo L ≤ 0.
776
0,04
x
-0,1 -0,05 0 0,05 0,1
0
-0,04
-0,08
Exercı́cio 9.9
CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 777
i):
q
√ x2 · (5 + x1 )
5· +xx2
lim = lim =
x→+∞ x+2 x→+∞ x · (1 + x2 )
q q
|x| · 5 + x1 5 + x1
= lim = lim =
x→+∞ x · (1 + 2 ) x→+∞ 1 + 2
x x
q
5 + limx→+∞ x1 √
= = 5,
1 + limx→+∞ x2
onde se usou a continuidade da raı́z quadrada e que x > 0.
ii):
q
√
2
5·x +2 x2 · (5 + x22 )
lim = lim =
x→−∞ x+2 x→−∞ x · (1 + x2 )
q q
|x| · 5 + x22 5 + x22
= lim = lim − =
x→−∞ x · (1 + 2 ) x→−∞ 1 + x2
x
q
5 + limx→−∞ x22 √
=− = − 5,
1 + limx→−∞ x2
onde se usou que x < 0.
Exercı́cio 9.10:
Fazemos aparecer quocientes:
√
√ √ x2 + x + x
lim ( x2 + x − x ) = lim ( x2 + x − x ) · [ √ ]=
x→+∞ x→+∞ x2 + x + x
x2 + x − x2 x
= lim √ = lim √ =
x→+∞ x2 + x + x x→+∞ x2 + x + x
x
x 1 1
= lim √ = lim q = .
x→+∞ 2
x +x+x x→+∞ x2
+ x +1 2
x x2 x2
Exercı́cio 9.12:
No Curso se mostrou que todo polinômio Real de grau ı́mpar tem alguma raı́z
Real.
Mas para esses polinômios o Teorema do Valor Intermediário mostra que há raı́z
no intervalo [−1, 0), já que
f (−1) := −1 − (ǫ1 + . . . + ǫn ) + 1 < 0,
f (0) = 1.
O problema aqui é mostrar que só há uma Raı́z Real para cada um desses
polinômios.
778
15
10
0
-2 -1 0 1 2
x
-5
-10
-15
0.6. Capı́tulo 7:
Exercı́cio 8.3:
Resolver o sistema
y − 5x − 2 = 0 e 2y − 10x − 1 = 0,
significa, geometricamente, intersectar as retas:
10x + 1 1
y = 5x + 2 e y = = 5x + .
2 2
Porém essas retas tem o mesmo coeficiente angular 5, logo são paralelas e distintas
(pois seus coeficientes lineares são distintos).
CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 779
Exercı́cio 8.6
i) Quero que o coeficiente angular a′ da reta contendo o segmento P Q seja
1
a′ = −
a
paera que haja ortogonalidade com a reta y = ax + b.
Ora então quero:
(ax + b) − B 1
a′ := =− .
x−A a
Isso produz uma equação:
(a2 + 1) x + a(b − B) − A = 0.
A solução é
A − a(b − B)
x= .
a2 + 1
Portanto
A − a(b − B) A − a(b − B)
Q=( 2
, a·( ) + b ).
a +1 a2 + 1
ii) Se temos x = A então :
A − a(b − B)
A=
a2 + 1
isso dá
a2 A + a(b − B) = 0.
Supondo por um momento a 6= 0, divido por ele e obtenho:
a A + (b − B) = 0,
ou seja, aA + b = B. Mas isso significa que P = (A, B) ∈ r.
A conclusão é que, se x = A, então
ou P = Q = (A, B) ou a = 0.
No caso a = 0 temos uma reta r horizontal e Q é a projeção vertical de P sobre essa
reta.
Exercı́cio 8.8:
y2
As coordenadas x dos pontos de intersecção da elipse x2 + b2
= 1 com a reta
y = −x + 5 são as soluções da equação quadrática em x:
(−x + 5)2
x2 + − 1 = 0,
b2
ou seja, soluções de:
(b2 + 1) · x2 − 10 · x − b2 + 25 = 0.
O discriminante dessa equação é:
∆ := 100 − 4 · (b2 + 1) · (25 − b2 ).
780
Esse discriminante se anula quando há uma raı́z dupla, ou seja há tangência. Portanto
quero:
100 − 4 · (b2 + 1) · (25 − b2 ) = 0 ⇔
⇔ 24 · b2 − b2 · b2 = 0 ⇔ b2 · (b2 − 24) = 0,
ou seja b2 = 24, já que b 6= 0
Exercı́cio 8.9:
De y = x1 obtenho x = y1 . Ou seja, quando postas no mesmo sistema de coorde-
nadas:
1
f (x) = f −1 (x) = .
x
−1
Uma função com a propriedade f = f é chamada de involução.
O gráfico da função inversa é sempre obtido da função original por reflexão na
diagonal. Como essas funções coincidem no item vi), então concluimos que a operação
de refletir o gráfico de y = x1 o faz recair emcima dele mesmo. Isso é a simetria em
relação à diagonal.
0.7. Capı́tulo 8:
Exercı́cio 5.4:
Note primeiro que a função h(x) dada por
sin(k · x)
se x 6= 0 e h(0) := 1,
k·x
é a composição h := f (g(x)) da função contı́nua
sin(x)
f (x) := , se x 6= 0 e f (0) := 1,
x
com a função contı́nua g(x) := k · x.
Logo h é contı́nua e portanto
sin(k · x)
lim = 1.
x→0 k·x
Mas então:
sin(k · x)
lim · k = k,
x→0 k·x
ou seja,
sin(k · x)
lim = k.
x→0 x
Para calcular
tan(j · x)
lim
x→0 sin(k · x)
escrevo, para x 6= 0:
tan(j · x) sin(j · x) j sin(j · x) k·x 1
:= = · · · .
sin(k · x) cos(j · x) · sin(k · x) k j·x sin(k · x) cos(j · x)
CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 781
Usando o que vimos acima (bem como limite de produto e inverso e a continuidade
do cosseno) o limite
tan(j · x)
lim
x→0 sin(k · x)
vira
j sin(j · x) k·x 1 j
· lim · lim · lim = .
k x→0 j · x x→0 sin(k · x) x→0 cos(j · x) k
0.8. Capı́tulo 9:
Exercı́cio 6.6:
Fixe x 6= 0. No que segue, se x < 0 tome x < 0 e se x > 0 tome x > 0.
Traço retas secantes ao gráfico de y = x1 ligando (x, x1 ) a cada (x, x1 ), cujo coeficente
angular é:
1 x−x
x
− x1 xx
ax := = =
x−x x−x
x−x 1 −1
= · = < 0,
(x − x) x x xx
(pois x e x têm o mesmo sinal).
As secantes são portanto retas de coeficiente angular ax <. Passando ao limite
quando x → x o que dá para prever é que a reta tangente terá coefciente angular
a ≤ 0.
Vejamos que de fato a < 0.
Pela definição de coeficiente angular da reta tangente, fixado x 6= 0:
f (x + h) − f (x)
a := f ′ (x) = lim =
h→0 h
1 1 x−(x+h)
x+h
− x (x+h) x
= lim = lim =
h→0 h h→0 h
−h −1
= lim = lim =
h→0 (x + h) x h h→0 (x + h) x
−1
= 2 <0
x
−1
(na última etapa uso que a função de h dada por (x+h) x
é contı́nua ! Logo seu limite
quando h → 0 é simplesmente seu valor em h = 0).
Exercı́cio 6.8:
Noto que
f (x + h) − f (x) f (x + (−h)) − f (x)
f ′ (x) := lim = lim ,
h→0 h h→0 (−h)
por ser um limite bi-lateral.
Então:
f (x + h) − f (x) f (x + (−h)) − f (x)
2 · f ′ (x) = lim + lim =
h→0 h h→0 (−h)
782
Nas Figuras a seguir não usei a mesma escala nos eixos x e y, por isso as figuras
são apenas qualitativamente corretas.
2
x
-1 -0,5 0 0,5 1
0
-2
-4
-6
-8
0
-1 -0,5 0 0,5 1 1,5
-2 x
-4
-6
784
15
10
0
-1 0 1 2 3
x
-5
-10
Figura: y = f3 (x) = −2x2 + x3 (verm.), f3′ (x) (verde), f3′′ (x) (amar.)
20
15
10
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
-5
Figura: y = f4 (x) = x4 − 2x2 (verm.), f4′ (x) (verde), f4′′ (x) (amar.)
CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 785
80
60
40
20
0
-1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2
x
-20
Figura: y = f5 (x) = 3x4 − 4x3 (verm.), f5′ (x) (verde), f5′′ (x) (amar.)
Esta última Figura merece um zoom perto da origem:
20
15
10
0
-0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6
x
-5
Exercı́cio 10.6:
Note que
x3 + C · x2 = −( (−x)3 − C(−x)2 ).
Ou seja que o gráfico de y = x3 +C ·x2 pode ser obtido refletindo o de y = x3 −C ·x2
primeiramente no eixo x (passar de x a −x) e, depois, refletindo no eixo y (passar de
y para −y).
786
100
50
0
-3 -2 -1 0 1 2 3
x
-50
-100
Exercı́cio 10.8
Um reta rλ por (A, B) tem equação:
y = λx − λA + B.
Note que λ 6= a pois λ = a daria paralelismo entre a reta rλ e y = ax. Pode acontecer
que λ ≤ 0. Mas se λ > 0 então λ < a, já que rλ precisa formar um triângulo no
primeiro quadrante. Ou seja,
B >a·A>λ·A
e portanto a intersecção de rλ e y = ax é o ponto do primeiro quadrante:
B − λA B − λA
( , a· )
a−λ a−λ
A intersecção de rλ com o eixo dos y > 0 é:
(B − λA, 0).
1
A área do triângulo formado pela origem e esses dois pontos é 2
· ||D|| onde
0 0 1
D= 0 B − λA 1
B−λA a · B−λA 1
a−λ a−λ
Exercı́cio 10.17:
Primeiro vou usar a intuição sugerida pela figura. A figura parece indicar que
a reta tangente a y = x3 em (1, 1) consegue passar entre os dois gráficos, apenas
tocando o gráfico verde. Como só consideramos x < 1 ela é uma boa candidata.
Ou seja, conjecturo que a reta
y = 3x − 2
tangencia o gráfico de y = x3 − 3x2 + 3x − 2 e passa entre os dois gráficos sem
intersectar o gráfico de y = x3 , desde que restrinjamos
x ∈ (−2, 1).
Como é a intersecção de y = 3x − 2 com y = x3 − 3x2 + 3x − 2 ?
Faço 3x − 2 = x3 − 3x2 + 3x − 2 e obtenho x3 − 3x2 = 0, ou seja
x2 · (x − 3) = 0.
Então a reta y = 3x−2 tangencia y = x3 −3x2 +3x−2 no ponto (0, −2) (e intersecta-a
também no ponto (3, 7), mas esse ponto não nos interessa).
E onde y = 3x − 2 intercecta y = x3 , além do ponto (1, 1) ? Faço:
x3 = 3x − 2,
ou seja, quero resolver x3 − 3x + 2 = 0. Se não vejo imediatamene as soluções, posso
pensar assim: como x = 1 é ponto de tangência, então:
x3 − 3x + 2 = (x − 1)2 · (ax + b)
−b
e o outro ponto será x = a
.
788
Exercı́cio 10.18:
Como o gráfico é côncavo para baixo em [0, +∞), ele fica por baixo da reta
tangente de qualquer de seus pontos.
Considero a reta tangente em (x, f (x)):
y = f ′ (x) · x + f (x) − f ′ (x) · x.
Essa reta intersecta o eixo dos x em
f ′ (x) · x − f (x) f (x)
x= ′
= x− ′ =: K,
f (x) f (x)
onde x < K pois 0 < − ff′(x)
(x)
.
Então f (x) tem que ficar negativa para x < K. Pelo T.V.I. tem que ter zero entre
x e K.
0.11. Capı́tulo 12:
0.12. Capı́tulo 13:
Exercı́cio 6.1:
Se n = 1 então claramente:
1! = 1 ≥ 20 = 1.
Supondo válida a desigualdade até n − 1 (n ≥ 2):
n! = n · (n − 1)! ≥ n · 2n−2 .
Ora,
2n−1
n · 2n−2 = n · =
2
n
= 2n−1 · ≥ 2n−1 ,
2
onde usei na última desigualdade que n ≥ 2.
0.13. Capı́tulo 14:
Suponha que sabemos:
sin(x + y) = sin(x) · cos(y) + cos(x) · sin(y),
Faço o seguinte: fixo y e olho a identidade acima apenas em x.
Derivo o lado esquerdo, pela regra da derivada da composta:
(sin(x + y))′ = cos(x + y) · 1,
e o lado direito:
(sin(x) · cos(y) + cos(x) · sin(y))′ = cos(x) · cos(y) + (− sin(x) · sin(y)) =
= cos(x) · cos(y) − sin(x) · sin(y).
CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 789
que equivale a :
1 − k 2 ≥ 1 − 2k 2 + k 4 ,
ou seja,
0 ≥ k 2 · (k 2 − 1).
Exercı́cio 8.3:
Se x < 0 então Z Z
x x
F (x) := | t | dt = −t dt =
−1 −1
−t2 −t2 −x2 1
=( )(x) − ( )(−1) = + .
2 2 2 2
Se x ≥ 0 podemos fazer:
Z x Z 0 Z x
F (x) = | t | dt = | t | dt + | t | dt =
−1 −1 0
Z x
1
= + t dt =
2 0
1 x2
= + .
2 2
Ou seja que a função F (x) obtida integrando o módulo tem uma descrição difer-
ente, dependendo se x < 0 ou x ≥ 0.
Note que pelo Primeiro Teorema Fundamental, F ′ (x) = | x |, logo não existe
′′
F (0).
Ou seja, que F (x) é menos suave em em x = 0 que f (x) = x3 + 21 .
A figura a seguir apresenta F (x) (vermelho) e f (x) = x3 + 12 (verde):
CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 793
1,5
0,5
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
-0,5
Exercı́cio 8.6:
Como arcsin′ (x) = √ 1
1−x2
então:
x√ 1
F ′ (x) = [1 − x2 ]′ + ( arcsin(x))′ =
2 2
1 √ x 1 1 1 1
=[ 1 − x2 + · √ · (−2x)] + √ =
2 2 2 1−x 2 2 1 − x2
794
1√ 1 1 1 1
= 1 − x2 − x2 √ + √ =
2 2 1 − x2 2 1 − x2
1√ 1 1 − x2
1 − x2 + √ =
2 2 1 − x2
√
= 1 − x2 .
Exercı́cio 16.2:
ln(1+x)
O programa Maple plota y = x
completando em x = 0 o valor
ln(1 + x)
lim =1
x→0 x
De fato posso escrever:
ln(1 + x) − 0 ln(1 + x) − ln(1)
lim = lim
x→0 x x→0 x
e esse último limite é nada mais nada menos que uma derivada:
ln(1 + x) − ln(1)
ln′ (1) := lim .
x→0 x
Ora ln′ (1) = 11 = 1.
Exercı́cio 16.13:
2
A função y = f (x) = e−x tem, pela regra da composta e pelo fato que (ex )′ = ex ,
derivada
2
f ′ (x) = e−x · (−2x).
lno f ′ (x) se anula apenas em x = 0 (pois exp não se anula nunca). Já a segunda
derivada é (pela regra do produto e da composta):
2
f ′′ (x) = (e−x · (−2x))′ =
2 2
= (e−x · (−2x))(−2x) + e−x (−2) =
2
= 2e−x (2x2 − 1).
q q
logo f ′′ (x) se anula em x = + 12 e x = − 12 .
Esses dois pontos são pontos de máximo/mı́nimo da f ′ (x) e pontos de inflexão da
f.
Exercı́cio 16.14:
Os pontos (x, y) da reta tangente ao gráfico de y = ln(x) no ponto (e, 1) são os
pontos que verificam:
y−1
= ln′ (e),
x−e
pois o valor da derivada ln′ (e) é por definição o coeficiente angular da reta tangente.
Mas ln′ (e) = 1e , lno
y−1 1
=
x−e e
CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 795
de onde
x
y−1 = −1
e
x
e portanto y = e , que é uma reta pela origem.
Por reflexão na diagonal se obtem o gráfico da função inversa exp(x).
E a reflexão na diagonal da reta y = xe é x = ye , ou seja, a reta y = ex. Essa é a
tangente ao gráfico de y = exp(x) em (1, e), como também se pode verificar a partir
de:
y−e
= exp′ (1) = exp(1) =: e.
x−1
Exercı́cio 16.15:
As primitivas de produto/quociente Não são o produto/quociente de primitivas.
Quando aparecem produtos é natural imaginar qu surgiram de se derivar composições
de funções.
vi): Por isso as primitivas de f (x) = 2x cos(x2 ) são
F (x) = sin(x2 ) + C.
x
vii): As primitivas de 2
cos(x2 ) são:
sin(x2 )
F (x) = + C.
4
2
viii): As primitivas de xex são
2
ex
2
e as de ex cos(ex ) são
sin(ex ) + C.
As primitivas de soma/subtração são a soma/subtração de primitivas.
x): Portanto as primitivas de f (x) = a0 xn + a1 xn−1 + . . . + an são
xn+1 xn
a0 + a1 + . . . + an x + C.
n+1 n
0.20. Capı́tulo q23: Exercı́cio q 7.1:
Temos P1 = (− C , b), P2 = ( Cb , b). A área de ∆P1 OP2 é
b
r 3
1 b b2
· (2 · )·b= 1.
2 C C2
Por outro lado a área da região abaixo da reta y = b e acima da parábola é a diferença:
r Z √b
b C
2· · b − √ C · x2 dx =
C − C b
q q
r b 3
b ( C) ( Cb )3
=2· ·b−C ·[ + ]=
C 3 3
3 3
b2 2 b2
=2· 1 − · 1 =
C2 3 C2
796
3
4 b2
= · 1.
3 C2
Exercı́cio 7.4: Os gráficos de y = 8x + 2 e de de y = x4 + 2. se intersectam em
pontos cujas coordenadas x verificam:
8x + 2 = x4 + 2 ⇔ 8x = x4 ⇔ x · (x3 − 8) = 0 ⇔ x = 0, 2.
Ou seja, nos pontos (0, 0) e (2, 18).
Para x ∈ [0, 2] vale que 8x + 2 ≥ x4 + 2, pois:
8x + 2 ≥ x4 + 2 ⇔ 8x ≥ x4 ⇔ 0 ≥ x · (x3 − 8)
e como x ≥ 0, basta ter 0 ≥ x3 − 8. Isso é verdade, já que 8 ≥ x3 sai de 2 ≥ x
elevando-se ao cubo.
A Figura a seguir dá uma idéia da pétala.
20
15
10
0 0,5 1 1,5 2
x
para x pequenos.
• Porém certamente a partir de um certo x deve acontecer que
x − x2 < x3 ,
devido ao expoente 3.
Para qual x ≥ 0 temos x − x2 = x3 ? Ou seja, onde x3 + x2 − x = 0 ? Nas soluções
de:
x (x2 + x − 1) = 0,
ou seja, em x = 0 ou na solução positiva de (x2 + x − 1), que é
√
−1 + 5
a := ∼ 0.6.
2
A partir desse a ∼ 0.6 vale x − x2 < x3 .
Então escrevo:
Z b Z a Z b
2 3 2 3
x − x − x dx = x − x − x dx + x − x2 − x3 dx
0 0 a
e portanto:
Z b
x − x2 − x3 dx = 0 ⇔
0
Z a Z b
2 3
⇔ x − x − x dx = − x − x2 − x3 dx.
0 a
Mas Z Z
b b
2 3
− x − x − x dx = −(x − x2 − x3 ) dx =
a a
Z b
= x3 − (x − x2 ) dx.
a
Em suma,
Z a Z b
2 3
x − x − x dx = x3 − (x − x2 ) dx.
0 a
Ora, Z a
(x − x2 ) − x3 dx
0
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8
x
Exercı́cio 7.8:
Para saber de onde até onde considerar a Área precisamos saber as abscissas dos
pontos onde os gráficos de y = x4 e de y = a se intersectam.
1 1
Ou seja, resolver x4 = a, o que dá x = −a 4 e x = a 4 .
1 1 5
Vamos subtrair da área do retângulo de base 2a 4 e altura a (que é 2a 4 a = 2a 4 )
a área sob o gráfico de x4 .
Esta última é dada pelo importante Teorema Fundamental do Cálculo. Na notação
do Curso:1 5
1 x5 1 x5 1 a4
Ax4 , −a 4 ( a ) = (a ) − (−a ) = 2
1 4 4 4
5 5 5
lno a área que buscamos é
5
5 a4 4 5
2a 4 − 2 = 2( a 4 ).
5 5
Como exigimos que seja
5 4 5
= 2( a 4 )
2 5
concluimos que
5 25
a4 =
16
4
25 5
e portanto a = ( 16 ) .
0.21. Capı́tulo 24:
Exercı́cio 1.4:
Faço integração por partes na terceira linha:
Z π Z π
2n−1
sin (θ) dθ = sin2n+1 (θ) · sin−2 (θ) dθ =
0 0
1
1Na
R a4 x5 x5
notação usual de integrais −a 4
1 x4 dx = 1
5 |a 4 − 1
5 |−a 4
CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 799
Z π
= sin2n+1 (θ) · csc2 (x) =
0 Z π
2n+1 2n+1
= − sin (π) cot(π) + sin (0) cot(0) − (2n + 1) sin2n (θ) cos(θ)(− cot(θ)) dθ =
Z π 0 Z π
2n−1 2
= (2n + 1) sin (θ) · cos (θ) dθ = (2n + 1) sin2n−1 (θ) · (1 − sin2 (θ)) dθ =
0 Z π 0 Z
π
2n−1
= (2n + 1) sin (θ) dθ − (2n + 1) sin2n+1 (θ) dθ,
0 0
de onde sai a afirmação.
0.22. Capı́tulo 25: Exercı́cio 12.4:
Basta usar a substituição x = cos(θ).
0.23. Capı́tulo 26:
0.24. Capı́tulo 27:
0.25. Capı́tulo 28:
0.26. Capı́tulo 30:
0.27. Capı́tulo 31:
0.28. Capı́tulo 32:
0.29. Capı́tulo 35:
Exercı́cio 14.1: O aspecto qualitativo do gráfico:
35
30
25
20
15
10
0 1 2 3 4
x
que faz com que não seja desintegração de nenhuma substância radioativa é a ex-
istência de um ponto de inflexão próximo de x = 3.
Como a desintegração segue a lei
f (x) = f (0) · e−kx ,
onde k > 0 depende de cada substância, então:
f ′ (x) = −k · f (0) · e−kx < 0, ∀x
e
f ′′ (x) = k 2 · f (0) · e−kx > 0, ∀x,
isso impede a existência de inflexões, já que f ′′ (x) > 0 não muda de sinal.
Exercı́cio 14.4:
800
Exercı́cio 14.6:
Sabemos que a solução da equação, com f (0) = 1 é f (x) = e−kx .
CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 801
0,6
0,4
0,2
0
0,28
0,32
0,36
0,4
0,44
x
-0,2
-0,4
Exercı́cio 14.10:
Como é uma equação linear, a solução geral é:
R 1
Z R −1
dx dx
y(x) = e 1+x · [C + (−x) · e 1+x dx].
Como 1 + x ≥ 1:
Z Z
x 1+x−1
y(x) = (1 + x) · [C − dx] = (1 + x) · [C − dx] =
1+x 1+x
Z
1
= (1 + x) · [C − (1 − ) dx] = (1 + x) · [C − x + ln(1 + x)].
1+x
E y(0) = 1 · [C − 0 + 0] = C.
Para ver que limx→+∞ y(x) = −∞, basta ver que
lim (−x + ln(1 + x)) = −∞.
x→+∞
Temos
3 a
lim a · x 4 − x = lim x · ( 1 − 1) = +∞ · (−1) = −∞,
x→+∞ x→+∞ x4
enquanto que
3a − 1
lim f ′ (x) = lim · x 4 − 1 = −1,
x→+∞ x→+∞ 4
ou seja que há uma assı́ntota oblı́qua de inclinação −1 para y = f (x).
5
Também f ′′ (x) = − 3a 16
x− 4 < 0 ∀x, ou seja que a função sempre é côncava para
baixo.
A área da região é:
Z a4
3 4a 4 x2 a8
a · x 4 − x = ( x 7 − )(a4 ) = .
0 7 2 14
A figura aseguir dá três exemplos, em vermelho, verde e amarelo, com a =
1, 1.3, 1.5 e onde
x x 1 1
(− , ) = (− , ).
3 3 3 3
0,6
0,4
0,2
0
-1 -0,20 1 2 3
-0,4 x
-0,6
ou seja,
(n − 1) · an = 0, ∀n ≥ 0.
Se n 6= 1, então an = 0. Se n = 1, então sobre a1 não há nenhuma condição.
Logo as soluções são y = a1 · x, que são retas pela origem.
A não-unicidade da solução segue do fato que se colocamos a equação em forma
padrão:
y
y ′ = =: P (x, y)
x
vemos que P (x, y) é descontı́nuo em x = 0.
Exercı́cio
P 17.2:
Se y = +∞ π n
n=0 an (x − 2 ) então
y ′′ + y = 0
dá
+∞ +∞
X π n−2 X π
n(n − 1)an (x − ) + an (x − )n = 0
n=2
2 n=0
2
e após pôr o ı́ndice k = n − 2 na primeira série e mantendo k = n na segunda:
+∞ +∞
X π X π
(k + 2)(k + 1)ak+2(x − )k + ak (x − )k = 0,
k=0
2 k=0
2
ou seja,
(k + 2)(k + 1)ak+2 + ak = 0, ∀k ≥ 0
e daı́ a recorrência:
ak
ak+2 = − .
(k + 2)(k + 1)
As condições iniciais y( π2 ) = 1 e y ′ ( π2 ) = 0 dão a0 = 1 e a1 = 0.
A recorrência em seguida dá:
a0 (−1)k
a2k = (−1)k ·
= , ∀k ≥ 0.
(2k)! (2k)!
Logo, chamando k de n novamente, temos como solução do problema:
+∞
X (−1)n π 2n
y= (x − ) .
n=0
(2n)! 2
Mas reconhecemos aı́ a série do cosseno aplicado em x − π2 .
Logo y = cos(x − π2 ) = sin(x).
Exercı́cio 17.3:
De i):
Basta calcular
v′x − v v′ v
y ′ (x) =2
= − 2,
x x x
′′ ′ ′ 2
v x−v v x − 2xv v ′′ v′ 2v
y ′′ (x) = 2
− 4
= − 2 2
+ 3
x x x x x
CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 805
e portanto:
2 ′ q v ′′ v′ 2v 2 v ′ v q v
0 = y ′′(x) + y (x) + α y(x) = − 2 2 + 3 + · ( − 2,) + α =
x x x x x x x x x x
′′
v q v
= + α ,
x x x
mas então
q
v ′′ + α v = 0.
x
De ii):
Como agora
v ′′ + qv = 0, q<0
então √ √
−qx
v = c1 e + c2 e− −qx
portanto √ √
−qx
e e− −qx
y = c1 + c2 .
x x