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EDIÇÃO 2 OUTUBRO DE 2021

FREQUÊNCIA CAIÇARA
JORNALISMO LEVADO A SÉRIO

FOTOGRAFIA: AILTON MARTINS - PARANAPUÃ

Litoral concentra o maior número de indígenas de SP

POR AILTON MARTINS

Em 30 de junho de 2016, o ex-governador de São Paulo Geraldo A lei mexe também com as comunidades tradicionais do Vale do
Alckmin (PSDB) sancionou uma lei que permite a concessão de Ribeira, que concentram cinco das 24 áreas. Na divisa entre São
Parques Estaduais por 30 anos à iniciativa privada para Paulo e Paraná está o Parque Estadual da Ilha do Cardoso, criado
desenvolver atividades de turismo, exploração de madeira e em 1962, que abriga um centro de estudos em meio ambiente. Há
comercialização de subprodutos da floresta. Ao todo são 25 seis comunidades na ilha, uma delas indígena.
parques públicos que entraram no rol de concessão, muitos
desses parques são áreas tradicionais indígenas, quilombolas e
caiçaras. Dentre as áreas impactadas está o Parque Estadual do
Jaraguá, onde vivem os Guarani. Cantareira, Jaraguá, Serra do
Mar, Morro do Diabo, Ilha do Cardoso e Ilhabela.

A 18 quilômetros da capital paulista, três aldeias Guarani estão


espremidas entre as rodovias Anhanguera e dos Bandeirantes e o
Rodoanel Mário Covas. A menor área demarcada no país, com 657
hectares, é parte do que sobrou do avanço colonizador no século
16 no estado. Seus 583 habitantes, segundo a Fundação Nacional
do Índio (Funai), são descendentes de grupos indígenas que já
Fotografia: Ailton Martins - Nimbopürua -
habitavam a área e todo o país há 14 mil anos.
Tupi-Guarani (Ñandeva) da aldeia Piaçaguera de Peruíbe

FREQUÊNCIA CAIÇARA EDIÇÃO 2 - OUTUBRO DE 2021


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Fotografia: Ailton Martins - Manifestação, em 2015, organizada pela aldeia Paranapuã

PARANAPUÃ: LUTA PELA TERRA

A aldeia Paranapuã no município de São Vicente, Baixada "É um momento complicado pra luta, nós temos
Santista, situada dentro de uma área de parque, passa por algumas questões específiicas, como avançar no
um processo de reintegração de posse devido a uma ação reconhecimento da aldeia na cidade, e temos garantido
movida pelo Governo do Estado. A justiça, que foi uma abertura de diálogo, com secretarias, de apoios e
questionada pela União, determina a saída dos indígenas do projetos que fortalecem a comunidade, mas ainda
local. Na decisão, o juiz também cita possível degradação temos a situação da lei, da Justiça que não reconhece a
da área. Devido ao impasse, a comunidade não pode aldeia, e aí, o marco temporal e tudo mais, colocam a
promover projetos de subsistência, contudo, durante os 17 gente numa situação ainda mais difícil". Wera Mirim
anos de retomada tem consolidado sua força política no
território, conseguindo resistir aos cerceamentos e
avançado na luta pelo reconhecimento de sua existência na
própria cidade.

Em conversa sobre a luta que têm travado nestes 17 anos


lideranças da aldeia colocam que este é um momento bem
difícil para a defesa dos direitos indígenas, devido um
governo que ascendeu ao poder sem nenhum compromisso
com os povos originários, na realidade, suas ações são de Fotografia: Ailton Martins - aldeia Paranapuã
inviabilização de qualquer avanço na garantia da terra os
povos da floresta, sejam eles indígenas, caiçaras, ribeiros,
quilombolas, de terreiro...

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FOTOGRAFIA: AILTON MARTINS

MARCO TEMPORAL
O marco temporal defendido pela bancada ruralista, prevê "A terra, a Tekoá, né? É o lugar onde vivemos, não há lei que
uma série de modificações nos direitos territoriais possa nos impedir de viver. Somente por ser indigena já
garantidos aos povos indígenas na Constituição Federal de temos o direito de viver onde quisermos, e nosso lugar, que
1988, inviabilizando, na prática, a demarcação de terras a gente se sente bem, é a na mata, e aqui a gente defende e
indígenas e abrindo terras demarcadas para os mais busca proteger nossa cultura, cutural milenar, aí o Juruá faz
diversos empreendimentos econômicos, como agronegócio, lei sem ouvir a gente e nos proíbe de viver conforme nossas
mineração e construção de hidrelétricas, entre outras tradições, mas vamos resistir, porque a gente aprendeu com
medidas. Na avaliação da Assessoria Jurídica do Conselho os nossos antepassados que gente tem direito de viver onde
Missionário Índigena (CIMI), a própria forma da proposta é tiver rio e terra boa, e o povo indígena sempre respeitou e
inconstitucional, pois a Constituição Federal não pode ser protegeu a mata". Karai Didak
modificada por um projeto de lei. O parecer do relator do PL
490, deputado federal Arthur Maia (DEM-BA), foi aprovado
por 41 votos a 20 pela Comissão de Constituição e Justiça e
de Cidadania (CCJ) da Câmara Federal, em junho.

O projeto pode ser pautado pelo plenário da Casa. A


aprovação do PL 490 na CCJ ocorreu sem ouvir as centenas
de lideranças indígenas que se manifestaram há semanas
contra a medida e que, no dia anterior à aprovação, foram
violentamente reprimidas pelas polícias legislativa e militar.
De grande interesse do setor agropecuário, o julgamento do
Fotografia: Ailton Martins - Coral Mborai Mirim
marco temporal está suspenso no STF, (Supremo Tribunal
Federal) sem prazo para ser retomado, após um pedido do
ministro Alexandre de Moraes.

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FOTOGRAFIA: AILTON MARTINS

MARCO TEMPORAL X AGRONEGÓCIO

O presidente Jair Bolsonaro, no último dia 14 de outubro, É preciso também garantir a integridade das TIs. Mas com
na cidade Miracatu, em entrega de títulos de posse de terra as mudanças trazidas pelo novo governo, não está claro
discursou em apoio ao agronegócio e em apoio ao marco quem ficará com a responsabilidade de protegê-las, que
temporal, mantedo sua posição contrária aos direitos dos antes era da Funai. O órgão, que ficava subordinado ao
povos originários. Ministério da Justiça, agora passa a ser controlado pelo
Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, sob o
“Isso é o fim do agronegócio no Brasil. É a certeza de que comando de Damares Alves.
nós poderemos não ter mais a garantia alimentar, a certeza
de que a economia nossa, em grande parte calcada no Apesar de a Constituição Federal de 1988 representar uma
agronegócio, sofrerá um duro golpe” Jair Bolsonaro. mudança de paradigma na forma como a sociedade enxerga
a questão indígena, ao sair de um olhar colonialista e
Por que demarcar? adotar uma postura de respeito à identidade cultural desses
povos e ao direito originário sobre as terras que
O reconhecimento e a demarcação de Terras Indígenas é tradicionalmente ocupam, 30 anos depois eles continuam
fundamental para garantir a existência desses territórios. sofrendo ameaças. A mais recente, realizada pelo novo
Quanto mais o governo demora para demarcar uma área, governo de Jair Bolsonaro, diz respeito à responsabilidade
mais ela fica vulnerável à invasão de grileiros, madeireiros e pelas Terras Indígenas (TIs). Com a MP n.º 870/2019, o
garimpeiros. É o que acontece, por exemplo, com o povo Presidente transfere para o Ministério da Agricultura,
Munduruku, que há anos luta pela demarcação dos cerca de Pecuária e Abastecimento (Mapa) a identificação,
178 mil hectares da TI Sawre Muybu, no Pará. As atividades delimitação, reconhecimento e demarcação das Terras
ilegais na região estão destruindo a floresta e seus lugares Indígenas, esvaziando a Fundação Nacional do Índio
sagrados. (Funai).

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FOTOGRAFIA: AILTON MARTINS

Estima-se que a população indígena no Brasil no ano de Segundo a matéria da National Geographic, esse massacre
1500, quando os primeiros colonizadores chegaram, era também foi contado, no idioma karib, pelo sobrevivente
composta por 3 milhões de pessoas. Em 2010, essa durante uma audiência judicial do Ministério Público
população já havia diminuído para 817,9 mil pessoas. Os Federal (MPF) realizada na terra indígena (TI), em 28 de
dados são da Fundação Nacional do Índio (Funai). A fevereiro deste 2019. Após os indígenas serem atingidos
Ditadura militar no Brasil, instaurada em 1 de abril de 1964 pelo veneno, ficando paralisados e morrendo logo em
e que durou até 15 de março de 1985, sob comando de seguida, homens brancos invadiram a aldeia por terra,
sucessivos governos militares, quase dizimou os indígenas munidos de facas e revólveres. Houve também bombardeios
waimiri atroari. De 1974 a 1983, grandes obras na Amazônia em ataques aéreos, chacinas a tiros, esfaqueamentos,
serviram de pretexto para o genocídio desse e de outros decapitações e destruição de locais sagrados por parte dos
povos indígenas, por meio de bombardeios, chacinas e militares naquela reserva a partir de 1974. O objetivo do
destruição de locais sagrados, de acordo com reportagem governo era ocupar 2 milhões de quilômetros quadrados na
da National Geographic. Na segunda metade de 1974, o Amazônia. O genocídio dos waimiri atroari pela ditadura
povo kinja se reunia na aldeia Kramna Mudî para uma militar estendeu-se entre as décadas de 1960 e 1980,
celebração típica dos indígenas waimiri atroari, na margem durante três grandes projetos dentro desta terra indígena
do rio Alalaú. “Pelo meio-dia, um ronco de avião ou de (TI): a abertura da BR-174, a Manaus-Boa Vista; a construção
helicóptero se aproximou. O pessoal saiu da maloca para da hidrelétrica de Balbina; e a atuação de mineradoras e
ver. A criançada estava toda no pátio para ver. O avião garimpeiros interessados em explorar as jazidas em seu
derramou como que um pó. Todos menos um foram território.
atingidos e morreram”, escreveu o indigenista Egydio
Schwade, um dos fundadores do Conselho Indigenista A Comissão Nacional da Verdade estima que ao menos 8.350
Missionário. Quando os aldeados do Norte chegaram à indígenas tenham sido assassinados entre 1946 e 1988.
aldeia, depararam-se com ao menos 33 mortos.

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FOTOGRAFIA: AILTON MARTINS - DAMIANA, LIDERANÇA KAIOWÁ, MATO GROSSO DO SUL

INDÍGENAS DENUNCIAM BOLSONARO


POR GENOCÍDIO NO TRIBUNAL DE HAIA

A DENÚNCIA TAMBÉM PEDE A CONDENAÇÃO DO PRESIDENTE


POR OMISSÃO NA GESTÃO AMBIENTAL E ECOCÍDIO

"Lideranças de povos indígenas representadas pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)
apresentou no dia 9 de outubro de 2021, uma denúncia contra Jair Bolsonaro no Tribunal Penal
Internacional de Haia. A Apib acusa o presidente de cometer genocídio contra os indígenas brasileiros,
omissão na gestão ambiental e ecocídio – quando se comete crime contra o planeta ou o meio
ambiente. A informação é do jornal O Globo. Segundo a reportagem, o documento que será entregue
possui mais de 300 páginas com fatos e depoimentos que comprovariam a atuação criminosa de
Bolsonaro. A Apib sustenta que o atual presidente desmontou as estruturas de proteção ambiental e
demarcação de terras, desencadeando invasões, explorações ilegais, queimadas e desmatamentos.

“São fatos e depoimentos que comprovam o planejamento e a execução de uma política anti-indígena
explícita, sistemática e intencional encabeçada pelo presidente Jair Bolsonaro”, destaca um trecho da
denúncia que será entregue ao Tribunal. O documento ainda reúne ações do governo federal e todas as
declarações do presidente desde 2019 que, segundo a Apib, incentivaram diretamente a invasão, o
garimpo e a exploração de terras indígenas. O relatório da Apib destaca seis etnias diretamente
afetadas pela política genocida: o povo Munduruku, os Yanomami, os Tikuna, os Guarani-Mbya, os
Kaingang e os Guarani Kaiowá". Fonte: Carta Capital

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FOTOGRAFIA: AILTON MARTINS

CPI da Pandemia decide retirar


crime de genocídio de indígenas do relatório final
O grupo de senadores que coordena os trabalhos da CPI da
O capítulo dedicado ao genocídio dos indígenas era o 7º do
Pandemia, conhecido como G7, decidiu na noite de terça-feira (19) relatório que foi divulgado. “O genocídio não era consenso. Não
de outubro retirar o crime de genocídio contra os indígenas do havia consenso de ninguém. Entre juristas não havia consenso”,
relatório final do senador Renan Calheiros (MDB-AL). Segundo disse o presidente da CPI. Outro detalhe debatido envolve o
disse aos jornalistas o senador Rogério Carvalho (PT-SE), esta senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ).
acusação já está inserida dentro da categoria “crimes contra a
humanidade”. Os senadores decidiram que ele deixa de responder por advocacia
administrativa, mas seguem as acusações de “fake news” e
Em conversa com os jornalistas, o presidente da CPI, Omar Aziz “incitação ao crime”. O texto final da CPI deve indiciar cerca de 70
(PSD-AM) confirmou a retirada da acusação. “A questão pacificada pessoas e 2 empresas. Entre os nomes, o relator manteve um
é a questão do genocídio que foi retirada. Acho que é uma boa número amplo de acusações contra o presidente Jair Bolsonaro,
atitude. O senador Renan Calheiros ouviu argumentação de todos. seus filhos Carlos, Flavio e Eduardo Bolsonaro, além de ministros
Ficou muito claro”, disse Aziz aos jornalistas . O vice-presidente da como o da Controladoria-Geral da União, Wagner Rosário, o do
CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ao lado do relator Renan Trabalho Onyx Lorenzoni e da Defesa Walter Braga Netto, também
Calheiros, também afirmou que será retirado o crime de dos ex-ministros da Saúde Eduardo Pazuello e da Relações
“homicídio” , para dar lugar para “epidemia resultando em Exteriores, Ernesto Araújo. O relatório foi redigido por Renan no
morte”.“Nós optamos pelo tipo penal de epidemia com resultado fim de semana, após críticas dos membros do G7 sobre os
morte, que eleva a pena do responsável por esse crime de 20 para vazamentos de trechos do texto antes de os próprios senadores
30 anos”, afirmou Randolfe. terem acesso a ele. “Resumidamente, nós iremos unificados para
votar o relatório do senador Renan Calheiros. Isso é o mais
Os senadores se reuniram na noite desta terça-feira na casa do importante para o Brasil saber’, afimou Omar Aziz ao sair da
senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), em Brasília, para discutir o reunião.
relatório de Renan antes da leitura do texto, na próxima quarta-
feira (20). Segundo Randolfe, a tendência é nesta quarta seja feita *(Com informações de Basília Rodrigues, da CNN)
apenas a leitura do texto final.

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FOTOGRAFIA: AILTON MARTINS

Trabalhador artesanal de tapioca: o desafio de gerar renda


em meio uma crise econômica e sanitária

POR AILTON MARTINS

“Eu‌ ‌acordo‌,‌ ‌vou‌ ‌ao‌ ‌mercado,‌ ‌faço‌ ‌café‌ ‌pras‌ O apartamento possui 52m2, comercializar tapioca. Inicialmente foi
‌crianças,‌ ‌elas‌ ‌se‌ ‌preparam‌ ‌pra‌ ‌ escola,‌ compartimentado: sala, cozinha, banheiro uma forma de gerar renda, enquanto não
‌minha‌ ‌companheira‌ ‌sai‌ ‌pra‌ ‌trabalhar.‌ ‌Vou‌ e área externa com tanque, além de espaço encontrasse um emprego fixo, porém, à
‌preparando‌ ‌o‌ ‌material, ralo o ‌coco,‌ ‌ao‌ de moradia, e é também o local onde ele medida que o tempo foi passando — em
mesmo‌ ‌tempo‌ ‌que‌ ‌faço‌ ‌o‌ ‌almoço.‌ ‌De‌ ‌tarde‌ produz artesanalmente cocada, quebra- meio aos serviços paralelos que
‌quando‌‌fica‌‌pronto ‌coloco‌‌tudo‌‌na‌‌cargueira‌ queixo e tapioca para comercializar pelas conseguia — a produção foi se tornando
(bicicleta) ‌e‌ ‌saio‌ ‌por‌ ‌volta‌ das‌ ‌14h,‌ ‌para‌ ruas de Santos, cidade vizinha que a sua principal fonte de sustento.
‌vender.‌ Somente‌ ‌volto‌ ‌pra‌ ‌casa‌ ‌quando‌ segundo ele, tem construído nos últimos
‌vendo‌ ‌tudo.‌ Durante a‌ ‌pandemia ‌eu‌ ‌fiquei‌ anos uma clientela consolidada. “Minha carreira profissional foi bem
‌preocupado,‌ ‌meu‌ ‌trabalho‌ ‌é‌ ‌na‌ ‌rua,‌ ‌aí‌ ‌tudo‌ diversificada, comecei a trabalhar na
ficou ‌fechado‌, ‌e‌ ‌sem‌ ‌apoio ‌ficou‌ ‌bem‌ ‌difícil, “Já conheço muita gente, as pessoas já me antiga Mesquita, transportadora atual
tá melhorando, mas tem dias que volto com conhecem, sabe, tem quem me manda zap Santos Brasil, de 1997 até 2001, depois
produto pra casa, a gente tá vivendo um perguntando se vou passar. Eu tenho meio na Tecondi, por pouco menos de um ano,
momento bem difícil, né?”‌‌ que um itinerário, não é uma regra, mas depois Usiminas, Wilson Sons, nas obras
locais por onde passo diariamente e as do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) o
Henrique Assis tem 39 anos, reside no pessoas me conhecem e compram”. último".
Jóquei Clube em São Vicente, litoral de São
Paulo com a companheira duas filhas e um Há 16 anos vivendo da venda de tapioca,
filho, num Conjunto Habitacional construído Assis já trabalhou em diversos empregos
pela Companhia de Desenvolvimento diferentes, e foi durante um período em
Habitacional e Urbano (CDHU). que esteve desempregado que com apoio
de um amigo começou a produzir e

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FOTOGRAFIA: AILTON MARTINS

Comecei a trabalhar com 14 anos, aí teve um momento que Decide não falar do assunto, percebo que há um ponto
fiquei sem trabalho, e um amigo disse: tem uma cargueira sensível em sua história, e que ele não sente-se à vontade
aí, bora fazer tapioca e vender, eu sai a primeira vez, e vendi em abordar, respeito e o deixo continuar.
só uma, não tinha ainda o jeito, mas aí fui aprendendo,
necessidade mesmo.” “No Sul, estávamos com a avó da parte do meu outro
irmão… não dava certo, fugimos, ficamos na rua, fomos
Henrique conta que em 2015 fez um curso de soldador, mas parar num abrigo como disse, voltamos e ficamos aqui na
nunca exerceu a profissão. Natural de Guarujá, entre os seis Baixada, até eu fugir de novo e encontrar minha outra avó
e sete anos de idade foi abrigado por questões familiares que morava no México 70, é isso, estudei, fui trabalhar e
com seu irmão na antiga Casa de Estar da Avenida fazer minha vida, vou fazer curso de elétrica agora, a vida
Conselheiro Nébias, passando também pela Casa do Trem não para, a gente podia ficar aqui conversando muito, já vivi
Bélico (antigo Centro de Convivência) e pelo Educandário muitas coisas […] eu vi aquela peça “Arrumadinho” do
Santista, em Santos, até ser acolhido por uma das avós na pessoal da Vila do Teatro, pensei muito sobre, muitas coisas
cidade de Joinville em Santa Catarina, onde ficou apenas naquela peça eu já vi acontecer, a violência de sair pra
alguns meses, quando decidiu fugir tentando retornar à trabalhar e ter os produtos apreendidos, o ganha pão,
Baixada Santista, porém retornando com seu irmão mexeu comigo aquela peça”.
novamente num abrigo.
PANDEMIA
“Eu e meu irmão ficamos rodando por aí, o meu irmão já até
tinha uma família o esperando pra adoção, mas a gente Durante o período de confinamento social, um dos
conseguiu voltar, o Judiciário, Conselheiro Tutelar, não sei momentos mais difíceis que atravessou com sua família,
bem, localizou minha família, e voltamos pra cá, mas havia relata que os impactos econômicos foram duros e
problema de alcoolismo na minha família” reverberam até hoje.

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FOTOGRAFIA: AILTON MARTINS

“Não foi fácil, ainda não é, são três crianças, e de repente a apartamento com a sua família, vivia numa submoradia
gente teve que ficar em casa, eu sem poder vender e minha (palafita) na favela México 70, na Vila Margarida, também
companheira, diarista, não pôde trabalhar, e as contas em São Vicente, numa área irregular ocupada há mais de
continuaram a chegar, o auxílio ajudou um pouco, mas foi cinquenta anos, lá viveu até ser removido em 2017 para o
difícil, os primeiros meses tivemos que contar com ajuda, a Conjunto Habitacional Primavera/Penedo, que para ele não
patroa dela ajudou, o Camará com cesta, e tinha a escola, passa de um programa de entrega de carnê de prestações
remota, né? A gente não tem computador, um celular só de trinta anos, isto é, um projeto habitacional cheio de
para as crianças, aulas no mesmo horário, e a gente não contradições que desconsidera as condições econômicas
tem como ensinar umas coisas, sem contar o tempo […] o das famílias realocadas, com isso, a maioria das famílias
Estado abandonou a gente. Aqui no prédio muitas pessoas vendem o apartamento e retornam à viver em situações
passaram pelo mesmo que eu e a minha família, acho que precárias.
até pior, as contas aqui nos prédios são altas, mas a gente
segue, tô voltando a vender, mas tenho visto muitos “Com menos de um mil reais você não vive aqui. É muita
comércios fecharem, é complicado pensar em proteção sem conta. Gás encanado, IPTU, condomínio, a energia elétrica é
ter o que comer […] é um absurdo como os governos nos muito alta, por isso muitas pessoas decidem vender. Uma
trataram, foi descaso”. família que não tem trabalho fixo, e mesmo que tenha, a
maioria que veio do México 70 pra cá, ganha um salário
Durante 1h hora de entrevista, Assis responde com calma as mínimo, ou um pouco mais, aí você decide: ou paga as
perguntas, ponderado e bastante crítico em relação a forma contas ou come. Eu aqui me viro, minha companheira
como o Estado assegurou a população durante a pandemia trabalha de diarista, a gente se vira, eu faço minha coisas, e
e aponta que os programas sociais do governo são corro sair pra vender, sem hora pra voltar, tenho que
problemáticos, principalmente o de moradia voltado à vender, tem dias que volto com dinheiro, tem dias que não,
população de baixa renda, explica que antes de viver no e assim vou indo, mas vou te falar, é bem complicado viver

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FOTOGRAFIA: AILTON MARTINS

aqui, muitas contas, muitas pessoas num espaço pequeno, Questiono sobre o seu trabalho, como ele o entende, afinal,
ai fica somente quem consegue garantir alguma renda, tipo existe uma parcela da sociedade que compreende os
quem ganha uns três salário mínimos, mas quem está trabalhadores autônomos como “não trabalhadores”,
ganhando isso, hoje? Não é a maioria da população pobre contudo, a maioria entra na informalidade pela própria
mesmo, aquela que realmente precisa… essa tá ferrada. Lá necessidade. Há, inclusive, atualmente a narrativa do
fora, tá tudo bem, mas a realidade é que nos abandonaram “empreendedorismo”, algo que mascara uma série de
aqui com um monte de problemas, estou te falando por problemas sociais e mazelas que o trabalhador informal —
cima, só, tem tanta coisa errada na construção desses também precarizado — perpassa.
prédios, por exemplo, a estrutura já esta rachando, tem
quatro anos só, problemas que não acabam”. “Esse meu trabalho, por exemplo, só porque não é de
carteira assinada, tem gente que acha que eu não gosto de
Henrique Assis é um trabalhador autônomo, decido, trabalhar, e eu trabalho desde a hora que acordo até a hora
perguntar sobre a Previdência Social, se ele contribui e que eu durmo, é trabalho mesmo, muito mais que outros de
pensa na aposentadoria. Responde que sim, e que tem carteira assinado, não sou empresário não, eu faço por
preocupação com o futuro, apesar das mudanças na necessidade, pra sobreviver, e tem quem me olha de forma
legislação. “É assim”, afirma, o “brasileiro pobre trabalha a preconceituosa, além disso, tem outras coisas que gostaria
vida inteira e ainda é chamado de
vagabundo, de fazer, estudar mais, parar pra ler um livro com calma,
desconsiderado, muitas vezes até humilhado, morre sem o você viu a fachada da entrada dos conjuntos? Foi eu quem
direito de se aposentar… eu e minha companheira estamos pintei, eu gosto de arte, queria aprender mais, eu crio jogos
pagando por fora, mas a gente sabe que é difícil, mas não em madeira também, os móveis na minha casa fui eu quem
pagar pode ser ainda pior”. construiu boa parte, mas não tenho tempo… eu só
trabalho, e parece que não, é assim, o trabalhador
autônomo não é bem visto.”

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FOTOGRAFIA: AILTON MARTINS

Apesar dos problemas, que não são poucos, Assis fala sobre “Viver é uma luta diária, infelizmente como já disse, a gente
a sua vida, a sua luta diária e de sua família de modo está abandonado, o Estado, esses governos não estão nem
otimista, (acrescentaria que com um olhar politizado aí pra população pobre, quando a gente terminar aqui, a
incorporado pela dura vivência cotidiana) e enquanto segue entrevista, já to um pouco atrasado, vou sair pra vender e
a entrevista ele se mantém atento ao WhatsApp, pois não tenho horário pra voltar, mas agradeço a oportunidade
solicitou um Uber para levar as crianças a casa de um de poder falar um pouco, a gente está num mundo onde as
parente e diz: pessoas não se ouvem… às vezes só parar pra ouvir um
pouco o outro, ajuda… não há explicação para tanto
“Aqui é assim, tenho que cuidar deles, minha companheira abandono… por mais esforçado que sejamos, as nossas
sai pra trabalhar, eu fico preparando material enquanto dificuldades são maiores. Eu tento comprar um celular há
também preparo o almoço deles e ajudo nas questões da anos, hoje eu tenho um porque achei na rua”.
escola, e olha que é complicado, há coisas da escola que
não dá pra dar conta, ensino remoto não funciona, até Sem mais perguntas, agradeço pela entrevista que termina
tenho sinal de Wifi aqui em casa, mas é um celular pra três. com ele pedalando a sua cargueira e seguindo para mais um
Hoje eles vão sair, e to separando uns dias no feriado pra dia de trabalho, de longe acena e aos poucos o vejo
viajar com minha companheira, a gente precisa viver desaparecer no pátio do conjunto habitacional. Desligo a
também, não só sobreviver.” câmera.

Brinca com o filho e as filhas, fala dos gatos que tem em Contato de Assis: 13 99149-5495
casa e que são como gente da família também, logo
precisam de cuidados. Ao apresentar a cozinha argumenta
que o espaço é pequeno, mas improvisado, nele estão a
lavanderia, a dispensa e a oficina artesanal.

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Faca
Tem uma faca no meu pescoço. Eu, sigo marcada com uma faca
Mas, (Que ainda não consegui tirar)
Ela não está apontada Do pescoço.
Não Eu já achei
Que havia nascido
Ela está no meu pescoço Para inundar as ruas
De poesia
Eu a sinto gelada E resistência
Pontuda Mas descobri que
Cheia de insinuações Sendo mulher
Desejos de sangue Preciso ter o corpo inteiro
Desejos de voz Para aguentar
E resistir
Tem uma faca no meu pescoço A tanta porrada.
E a maldita faca no pescoço
Que ainda não cortou
A casca dura e frágil Maria Fernanda Portolani, poeta, jornalista e
educadora popular.

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Mulheres de sangue

O sangue escorrendo pela perna,


encharcando um miolo de pão.
É o tiro no peito durante a patrulha,
é o corpo do teu filho estendido no chão.

As mulheres são suor, lágrimas e sangue


que escorre de ventres encarcerados,
passa pelos estupros culposos
retorna na violência dos amados.

É tiro, porrada e bomba,


já dizia o velho ditado
Nós mulheres não temos escolha
a não ser tentar conter o sangue desalmado.

Natascha Cohan, poeta, psicóloga e militante.

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FOTOGRAFIA: AILTON MARTINS

Militantes de esquerda reconstroem busto de Lamarca retirado


ilegalmente por Ricardo Salles
POR AILTON MARTINS

Aconteceu no dia 17 de outubro um ato simbólico no Sem mais perguntas, agradeço pela entrevista que termina
Parque Estadual Rio Turvo, em Cajati, interior de São Paulo, com ele pedalando a sua cargueira e seguindo para mais um

em memória a Carlos Lamarca, guerrilheiro assassinado dia de trabalho, de longe acena e aos poucos o vejo
pela ditadura militar há 50 anos. Organizado por diversas desaparecer no pátio do conjunto habitacional. Desligo a
organizações de esquerda, para além de um ato de câmera.
protesto, o objetivo foi recolocar o busto de Lamarca no
local, onde em 2017, o original foi retirado ilegalmente por 50 anos do assassinato de Lamarca: O capitão do exército
ordem de Ricardo Salles. A ação arbitrária de Salles foi que desafiou a ditadura militar
denunciada pelo Ministério Público de São Paulo e aceita
pela juíza da 1º Vara Criminal de Jacupiranga (SP), o Lamarca é uma das personalidades ligadas às Forças
tornando réu em ação penal por crime contra o Armadas que ainda incomoda o campo conservador no país,
ordenamento urbano e patrimônio cultural. O caso ainda pois foi o capitão do Exército que decidiu desafiar o regime
tramita na Justiça. de exceção, insurgindo-se contra ele; organizando um
levante armado em defesa da soberania nacional, e de um
A data escolhida para o manifesto foi exatamente no modelo de sociedade socialista, num momento da história
aniversário de morte de Lamarca, assassinado no interior da brasileira conhecido como “tempos de chumbo”, onde
Bahia pela ditadura militar brasileira. De acordo com os assassinatos, torturas e desaparecimentos forçados eram
organizadores, recolocar o busto é essencialmente promovidos pelos militares contra quem ousasse os
importante para preservar a memória de um lutador do contrariar e, diante disso, logo foi se tornando um dos
povo brasileiro; um militar que decidiu de forma radical maiores nomes da resistência, conhecido também como o
organizar um levante armado contra o regime que “capitão vermelho”, apoiador de Brizola e próximo de
instalava-se no Brasil naquele período, e espalhava-se pela comunistas revolucionários como Carlos Marighella.
América Latina sob o comando dos Estados Unidos.

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FOTOGRAFIA: AILTON MARTINS

Para Gilson Amaro, um dos organizadores e militante do “Lamarca ousou lutar, Lamarca ousou vencer, Lamarca
coletivo Anticapitalista, a defesa da memória de Lamarca é inspira” Deputado federal Glauber Braga (PSol-RJ)
uma tarefa prioritária e está inserida num campo de batalha
pela disputa da narrativa histórica, “nós não podemos cair “Por mais que Jair Bolsonaro tente, […] o legado de
numa lógica de pragmatismo político, uma lógica de ações Lamarca sobrevive” Deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-
que não tragam uma luta fundamental dos socialistas, da SP)
luta pela liberdade”. Já para Carla Clemente, também da
organização e do coletivo anticapitalista, “lutadores como
Lamarca são inspirações, um exemplo de luta, e mal sabem
eles que lutadores como Lamarca são sementes, e nós
estamos aqui como símbolo de levar esse legado da luta
[…] pra frente”.

Estiveram presentes também no ato a deputada federal


Sâmia Bomfim (Psol-SP), o deputado federal Glauber Braga
(PSol-RJ), o deputado estadual Carlos Gianazzi (Psol) e o
deputado José Américo (PT-SP).

¨Carlos Lamarca é um herói nacional, por tudo que ele


representa, ele tem um histórico admirável” Deputado
estadual Carlos Gianazzi (Psol)

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Histórico
“Inaugurada em 2012, a estátua foi uma decisão do sincero, eu nunca pensei que fossem chegar ao nível a que
Conselho do Parque, integrado por membros do poder chegaram. Isso é muito baixo”, revolta-se. “Isso é tão
público e da comunidade. Um deles é o presidente do pequeno… Eles vão mexer com um busto!”. Para ele, a ação
Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Adilson Vieira Alves. “A do ex-secretário não foi nada mais do que uma “jogada de
intenção quando se levantou essa proposta era ele ser mais marketing”. “Ele fez isso pra aparecer. Pra poder aparecer
um atrativo para visitação. Aqui no parque tem a própria como de direita.”
cachoeira, com o nome de Noiva do Capitão, e tem uma
cachoeira menor que tem o nome de cachoeira do Lamarca, Sem anúncio no Diário Oficial, a retirada do busto e do
que foi onde eles ficaram na época da guerrilha.” Os painel – este custou aos cofres públicos cerca de R$ 12 mil –
recursos vieram da construção de um pedágio da rodovia foram justificados por Ricardo Salles por meio de nota ao
BR-116. O valor total da construção do museu foi de R$ 640 site Direto da Ciência: “Narrar fatos é uma coisa. Erguer
mil. “O mais interessante é que ele é o terceiro secretário bustos com dinheiro público e em parque público é bem
que visitou o núcleo e os dois anteriores não se importaram, diferente. Marighella [sic] foi um guerrilheiro, desertor e
nem o Xico Graziano nem o Pedro Ubiratan.” responsável pela morte de inúmeras pessoas. A presença
desse busto no local é inadmissível”. À coluna de Mônica
No dia da inauguração, alguns dos ex-integrantes da Bergamo, na Folha, o secretário disse: “Parque não é lugar
guerrilha foram participar das fotos oficiais. “Tem uma foto para ter busto de herói ideológico de nenhum lado”.
com os companheiros, o sargento Darcy Rodrigues também
foi lá, eu fui convidado por um camarada que trabalhava na A filha de Lamarca, Claudia Pavan Lamarca, chamou o ato
secretaria do Meio Ambiente”, relembra José Araújo de “autoritário”. “Resta a figura minimizada e patética do
Nóbrega, o sargento Nóbrega, um dos militares que se homem, travando uma ‘luta’ irracional com um fragmento
juntaram a Lamarca para treinamentos na região. “Pra ser de rocha e metal inerte. A cena, mais do que grotesca e
medieval, traduz o medo que a figura do Lamarca ainda
provoca nos representantes da direita”. ” (fonte)

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De acordo com os organizadores o ato também foi um disparador de uma série de ações que irão
ocorrer até que o busto seja recolocado oficialmente no parque, e Ricardo Salles responda pelo crime
que cometeu de dano ao patrimônio público.

O busto reconstruído enquanto não retornar ao parque percorrerá o país junto as organizações que
promoverão o debate sobre o direito a verdade e a memória. Segundo elas o campo de batalha
também é sobre a disputa de narrativa histórica.

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PRINT

CPI da Covid entrega relatório final em meio a polêmica

O relatório da CPI da Covid no Senado entregue no dia



O documento ainda não é oficial, mas é tido como a
20 de outubro de 2021 "É o resultado de mais de seis "espinha dorsal" do documento que deverá ser
meses de trabalho, centenas de horas de depoimentos
publicado nesta quarta. Ele prevê o indiciamento de
e milhares de documentos que tenta esclarecer a 71 pessoas e duas empresas. Entre os indiciamentos
resposta do governo brasileiro à epidemia de covid-19 sugeridos por Renan estão o do presidente Jair
que já matou mais de 600 mil pessoas no Brasil. Mas Bolsonaro, do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello,
mesmo antes de ser entregue, o documento já vem o ex-secretário executivo da pasta Élcio Franco, além
causado polêmica". de ministros, empresários e outros políticos.
Bolsonaro é apontado como responsável por 11
No cerne das discussões estão divergências no grupo crimes, entre eles homicídio qualificado, genocídio e
majoritário da CPI, conhecido como "G7", formado por crimes contra a humanidade. Fonte: BBCNewsBrasil
parlamentares independentes e de oposição ao
governo: Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Randolfe
Rodrigues (Rede-AP), Tasso Jereissati (PSDB-CE),
Omar Aziz (PSD-AM), Eduardo Braga (MDB-AM), Otto
Alencar (PSD-BA) e Humberto Costa (PT-PE). O relator
da comissão, Renan Calheiros, elaborou um relatório
preliminar com 1.178 páginas que já foi entregue
aos integrantes do G7.

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FOLHA DE DOURADOS

Há provas para condenação de Bolsonaro em Haia,


diz ex-juíza da Corte

Sylvia Steiner afirma que política de infecção em massa


configura crime contra a humanidade

Sylvia Steiner, juíza brasileira que atuou no Tribunal Penal incitação ao desrespeito às medidas sanitárias estão muito
Internacional em Haia (2003-2016), diz haver “prova bem demonstrados. Essas são condutas que estão muito
abundante” para a condenação do presidente Jair bem demonstradas. A prova é abundante, até porque as
Bolsonaro (sem partido) na Corte. O relatório final da CPI pessoas do governo nunca tiveram muito cuidado em não
(Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid deve ser se expor”
encaminhado ao Tribunal. Em entrevista ao jornal O Estado
de São Paulo, publicada neste domingo (26.set.2021), diz. Steiner afirma ainda que o parecer da CPI está muito
Steiner afirma que a investigação da CPI também deve ser bem documentado e que a comissão é assessorada pelo
suficiente para que um processo de impeachment seja setor jurídico, que “vai acrescentar novas perspectivas a
aberto contra Bolsonaro. esses fatos apurados mais recentemente”. A juíza explica
que as denúncias anteriores feitas em Haia contra
Steiner faz parte de um grupo que enviou à comissão um Bolsonaro eram de problemas de má gestão e ignorância, o
parecer com crimes que teriam sido cometidos pelo que não é crime. Agora, “houve realmente um projeto, uma
presidente durante a pandemia. São eles: de política propositada de gerar aquilo que vulgarmente se
responsabilidade pela violação de garantias individuais; de chama de imunidade de rebanho. Sendo uma política, é um
epidemia; de infração de medida sanitária preventiva; elemento de contexto de crime contra a humanidade”
charlatanismo; incitação ao crime; prevaricação; crimes
contra a humanidade. “O crime de causar epidemia e Fonte: Poder 360

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Reforma previdenciária é aprovada em Vereador Fábio Duarte (Podemos) se recusou a


primeira discussão no legislativo santista utilizar máscara, ao receber servidores públicos

Após seguidas tentativas de barrar a aprovoção da reforma Servidores que pleiteavam apoio de vereadores na Câmara

da previdênca na câmara de Santos, servidores públicos Municipal, um dia antes da votação foram surpreendidos
municipais presenciaram a aprovação no dia 28 de com a posição negacionista do vereador Fábio Duarte
setembro do projeto de lei complementar (PLC) que altera (Podemos) que ao ser questionado sobre o uso de máscara
as regras das aposentadorias. De acordo com o Sindicato se recusou a utilizar, mesmo dentro de um espaço público
dos Servidores de Santos (SindServ) o PLC dificultará o onde é obrigatório o uso da proteção facial. O vereador
acesso à aposentadoria dos servidores, elevando a idade também reagiu à fala de um servidor que disse que cerca de
600 mil óbitos já ocorreram no país, portanto, a importância
mínima, e diminuindo os ganhos para os atuais e futuros
da proteção pra evitar a contaminação e a proliferação.
aposentados e pensionistas.
Indignado e de forma agressiva o vereador disse se por
acaso as mortes eram culpa do presidente Jair Bolsonaro? O
Entre as mudanças propostas pelo PLC, estão a idade
servidor respondeu que ninguém estava falando do
mínima de 62 anos para mulheres, que atualmente é de 55 -
presidente Bolsonaro, mas o vereador não satisfeito
e a idade mínima de 65 para homens - que atualmente é de
continuou dizendo que ele sim, e seguiu rebatendo até
60. Além disso, também será necessário ter pelo menos 25
decidir dar as costas aos servidores e entrar de volta ao seu
anos de contribuição, com dez anos de serviço público e
gabinete, ignorando mais uma vez o pedido de uma
cinco anos no cargo.
servidora que lhe solicitou o uso da máscara.

O PLC foi encaminhado ao Legislativo pelo prefeito de


Santos, Rogério Santos (PSDB). O Sindicato afirma que, na
última sexta-feira (24), o chefe do Executivo municipal
chegou a se reunir com o sindicato e representantes da
categoria, mas se recusou a abrir o diálogo.

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citação dos autores.

A primeira matéria que pretendemos produzir por meio do


financiamento será sobre os impactos da pandemia na vida Textos: Ailton Martins e Maria Fernanda

da população de baixa renda nas cidades de Santos e de Revisão: Maria Fernanda Portolani

São Vicente, em especial as populações residentes de Diagramação: Ailton Martins

ocupações em áreas irregulares. Foto poesia 1. Ornella Rodrigues


Foto poesia 2. Natasha Cohan

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