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Biologia
volume
2
Biologia dos
organismos
MANUAL DO PROFESSOR
3a edição
Capítulo
Sistemática e
1 classificação biológica
Desvendando o parentesco evolutivo
Evidências fósseis, anatômicas e moleculares permitem aos
cientistas descobrir relações de parentesco entre os seres vivos,
mesmo que a adaptação tenha levado a grandes mudanças
O reconhecimento da grande na aparência. Peixes-bois, por exemplo, são mais aparentados
variedade de seres vivos existentes aos elefantes do que às baleias e aos golfinhos.
levou os cientistas a desenvolver
um sistema para organizar e
compreender essa diversidade;
Passos de uma história evolutiva
esse sistema é a classificação Evidências fósseis sugerem que os sirênios, grupo ao qual
biológica, ou taxonomia. pertence o peixe-boi, tenham sido os primeiros mamíferos
Este capítulo apresenta os a se adaptarem à vida no ambiente aquático.
princípios fundamentais da
classificação biológica, que faz
parte da Sistemática, o ramo
da Biologia cujo objetivo maior
é descobrir as relações de
parentesco evolutivo entre as
espécies biológicas atuais e as
que viveram no passado. Pezosiren portelli,, um sirênio extinto que viveu há cerca
de 50 milhões de anos, era quadrúpede e tinha as
1.1 Fundamentos da pernas posteriores bem desenvolvidas, com um estilo
classificação biológica de vida anfíbio semelhante ao dos hipopótamos atuais.
16
O peixe-boi-marinho
(T. manatus) tem unhas e
pode viver tanto em água
salgada quanto em água doce.
O peixe-boi-da-amazônia
(T. inunguis) não tem unhas
e vive apenas na bacia do
Os peixes-bois rio Amazonas.
comunicam-se
por meio de sons,
como as baleias Por causa da caça intensiva pela
e os golfinhos. carne, couro e gordura, as duas
espécies brasileiras de peixe-boi
estão em risco de extinção.
Para pensar
Parentesco evolutivo Hyracoidea
Os grupos atuais
Paenungulata A denominação “peixe-boi”, dada
evolutivamente mais
Sirenia aos sirênios, não parece muito
próximos aos sirênios
adequada quando se consideram
são os proboscídeos
as características desse animal e a
(elefantes) e os hiracoídeos,
Tethytheria
relação de parentesco com outros
pequenos mamíferos
Proboscidea
animais. Em sua opinião, qual nome
africanos do tamanho
seria mais apropriado a esse grande
de coelhos.
mamífero aquático? Por quê?
(epíteto específico).
❱❱ Conceitos principais
• classificação biológica
• táxon
Inseto Quelicerado Crustáceo
• nomenclatura binomial
Unidade A • A diversidade biológica
A classificação de Aristóteles
O filósofo grego Aristóteles (348-323 a.C.) foi pioneiro em classificar os seres vivos. Em um
de seus trabalhos, ele demonstra uma visão avançada da classificação biológica ao destacar a
importância da organização corporal dos animais como critério para dividi-los em grupos, ideia
que só foi retomada mais de 2 mil anos depois, por Lineu.
Aristóteles argumentava, por exemplo, que baleias e golfinhos, apesar de viverem em am-
biente aquático e apresentarem semelhanças com os peixes, diferiam notadamente destes na
organização de seus corpos, nisso assemelhando-se aos mamíferos, junto aos quais deveriam
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fabio Colombini
André Seale/Pulsar
Palê Zuppani/Pulsar
R-P/Kino
André Seale/Pulsar
André Seale/Pulsar
20
Uma das regras da nomenclatura binomial determina que os nomes científicos dos organismos
sejam escritos em latim (ou devem ser latinizados). A primeira letra do epíteto genérico deve ser
sempre maiúscula e a do epíteto específico, minúscula.
Além disso, o nome científico sempre deve ser destacado no texto em que aparece, seja pela
impressão em itálico ou grifado. Confira esses critérios nos nomes científicos escritos anterior-
mente e sempre que aparecerem no livro.
Na nomenclatura binomial, o epíteto genérico é sempre um substantivo e o epíteto específico é
geralmente um adjetivo, que qualifica o gênero. Por isso, de acordo com as regras nomenclaturais, Capítulo 1 • Sistemática e classificação biológica
podemos escrever o nome genérico sozinho, desde que seguido de uma abreviatura padronizada.
Por exemplo, para nos referirmos a um animal do gênero Canis sem especificar se é lobo, coiote
etc., apenas acrescentamos a abreviatura “sp.” após o nome do gênero. Veja na frase: “O que se
pode dizer, pelos rastros do animal, é que se trata de um Canis sp.”. Para nos referirmos simulta-
neamente a várias espécies do gênero Canis, acrescentamos a abreviatura “spp.” após o nome
do gênero. Veja na frase: “Os Canis spp. possuem dieta essencialmente carnívora”.
Ao contrário do gênero, o epíteto específico não pode ser escrito sozinho. Por exemplo, o nome
científico de uma mosca escura comum em nossas casas é Musca domestica; entretanto, se es-
crevermos domestica isoladamente não identificaremos aquela mosca, pois existem (ou podem
existir), em outros gêneros, espécies com esse mesmo epíteto específico. Alguns exemplos de
espécies que compartilham o epíteto específico domestica são: Curcuma domestica (cúrcuma),
uma planta da qual se extrai um corante utilizado em culinária; Nandina domestica, um tipo de
bambu; Monodelphis domestica, um pequeno mamífero marsupial encontrado em florestas tro-
picais da América do Sul.
21
SA Team/Foto Natura/Minden/Latinstock
A C
Haroldo Palo Jr./Kino
2 Categorias taxonômicas
Unidade A • A diversidade biológica
Durante anos Lineu trabalhou na elaboração de um sistema rigoroso para classificar plantas,
animais e minerais, aprimorando-o gradativamente e desenvolvendo o sistema de nomenclatura.
Foi apenas na décima e última edição de seu livro Systema Naturae, publicada em 1758, que ele
apresentou a proposta detalhada de nomenclatura binomial que acabamos de ver.
Lineu elegeu a espécie como o táxon mais básico de sua classificação. Como já mencionamos,
para ele espécie era um grupo de indivíduos dotados de certas características estruturais típicas,
ausentes em outros grupos. O táxon imediatamente superior à espécie, em termos hierárquicos,
foi chamado de gênero. Este, portanto, reúne espécies que apresentam certas semelhanças.
Seguindo a linha de criar táxons cada vez mais abrangentes, Lineu reuniu gêneros semelhantes
em uma categoria denominada ordem; ordens semelhantes em classe, e classes semelhantes
em reino. Posteriormente, foram criados outros táxons, como família (entre gênero e ordem),
tribo (entre família e gênero) e filo (entre classe e reino).
22 (As imagens desta página não apresentam proporção entre si.)
SPL/Latinstock
A
lista inglês Charles Darwin, em 1859, seu colega, Thomas Henry Huxley,
também um naturalista inglês, questionou-o quanto ao título e propósito
da obra: “Mas, em primeiro lugar, o que é uma espécie?”.
Darwin, apesar do título de seu livro, não estava realmente preocupa-
do com a definição precisa de espécie, por considerá-la desnecessária
para demonstrar que a evolução era responsável pela diversidade da
vida. Ele escreveu: “Nenhuma definição de espécie conseguiu, ainda, sa-
tisfazer a todos os naturalistas, embora todos eles saibam vagamente
o que se quer dizer quando se fala em espécie”.
Essas palavras de Darwin continuam válidas, mesmo tendo sido es-
critas há mais de 150 anos. Não se tem, até hoje, uma definição única
Bruni Meya/AKG/Latinstock
e geral para espécie biológica. Muitos chegam a discutir se existem B
realmente espécies na natureza ou se elas não seriam apenas criações
arbitrárias dos biólogos, em sua tarefa de conceituar e organizar o co-
nhecimento. Outros defendem que o conceito de espécie é importante,
mas tem necessariamente de ser operacional, isto é, permitir a distinção
inequívoca de cada espécie biológica.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Maurício Simonetti/Pulsar
A B C
Figura 1.6 O cruzamento entre uma égua (Equus caballus) (A) e um jumento (Equus asinus) (B) gera a mula
(C), um híbrido estéril. Se o cruzamento for entre um cavalo e uma jumenta, nasce o híbrido conhecido
como bardoto, também estéril, que apresenta mais semelhanças com a jumenta do que com o cavalo.
A B
Christian Charisius/Reuters/Latinstock
A B
DIVERSIFICAÇÃO
GÊNICA
ISOLAMENTO
GEOGRÁFICO
Unidade A • A diversidade biológica
DIVERSIFICAÇÃO
GÊNICA
Espécie B
Figura 1.9 Esquema ilustrativo da formação de duas novas espécies por diversificação de
uma espécie ancestral. O isolamento geográfico bloqueia a troca de genes entre dois grupos
populacionais dessa espécie, permitindo sua diferenciação gênica. A adaptação a cada ambiente
acentua as diferenças. O último passo da diversificação é o isolamento reprodutivo.
26
princípios básicos biológica forneceu as bases científicas para este ramo da Biologia.
da elaboração de Sem uma base teórica consistente, a classificação dos seres vivos não
árvores filogenéticas diferiria muito de qualquer outro sistema de classificação. Por exemplo,
e cladogramas, colecionadores de selos classificam os exemplares de suas coleções de
reconhecendo-os como acordo com diversos critérios, agrupando-os em diferentes categorias,
formas de representar como: personalidades, esportes, natureza etc. Estas podem ser subdivi-
as relações de didas em categorias menores, como o ano de emissão do selo e assim
parentesco entre por diante.
os seres vivos.
O que torna científica a classificação biológica moderna, diferenciando-a
❱❱ Conceitos principais substancialmente de outras classificações, é que ela se baseia na teoria
da evolução. O que se procura na classificação biológica é utilizar caracte-
• clado
rísticas que reflitam o grau de parentesco evolutivo entre os grupos.
• filogenia
• especiação Por causa disso, há uma tendência de abandonar as categorias
• Sistemática taxonômicas da classificação tradicional uma vez que, em diferentes
• biodiversidade grupos, não há correspondência entre os táxons. Por exemplo, os táxons
• órgãos homólogos que os estudiosos de mamíferos costumam chamar de família não cor-
• divergência evolutiva respondem, em termos evolutivos, aos que os entomólogos associam
• órgãos análogos a famílias.
• convergência evolutiva
Capítulo 1 • Sistemática e classificação biológica
Em lugar das categorias tradicionais, muitos sistematas têm preferido
• cladística utilizar o termo clado, ou clade, para designar um grupo de espécies cons-
• cladograma tituído por uma espécie ancestral e todos os seus descendentes.
Para a teoria evolucionista, as semelhanças e diferenças entre os
seres vivos resultam de suas histórias evolutivas. Duas espécies que se
diversificaram mais recentemente de uma espécie ancestral tendem a ter
mais semelhanças entre si do que com espécies cujo grau de parentesco
evolutivo é mais antigo. Por exemplo, nossos laços de parentesco com
um canário remontam a mais de 250 milhões de anos atrás, quando, a
partir de linhagens reptilianas, os ancestrais das aves e dos mamíferos
se diversificaram. Por outro lado, nosso parentesco com um chimpanzé é
bem mais próximo no tempo evolutivo: acredita-se que tivemos ancestrais
comuns há aproximadamente 5 milhões de anos, quando, a partir de uma
espécie de primata, surgiram os ancestrais dos chimpanzés e dos seres
humanos. As semelhanças e diferenças entre seres humanos, chimpanzés
e canários refletem esses graus de parentesco.
27
Em uma árvore filogenética, a divisão de um ramo em dois indica que uma espécie ancestral,
naquela etapa do processo, separou-se em duas novas espécies, ou seja, ocorreu especiação.
Cada espécie atual representa a ponta de um ramo da árvore filogenética; se “descermos” por
um ramo dessa árvore encontraremos o ponto em que ele se une ao ramo vizinho (um “nó”); esse
ponto indica o ancestral mais recente que as duas espécies têm em comum. (Fig. 1.11)
Espécies atuais
adilson secco
C D F G C D F G
B
Escala do tempo
Unidade A • A diversidade biológica
Ancestralidade
Figura 1.11 À esquerda, árvore filogenética em que as espécies atuais C e D descendem da espécie
ancestral B, e as espécies atuais F e G descendem da espécie ancestral E. Note que o aparecimento
das espécies C e D foi posterior ao aparecimento de F e G. As quatro espécies atuais têm em
comum a ancestral A. À direita, a maneira mais comum de representar a árvore filogenética, em que
o ancestral está representado simplesmente pelo ponto de bifurcação.
28
adilson secco
ESPÉCIE
FAMÍLIA
Perissodactyla
Artiodactyla
CLASSE
Mammalia
Figura 1.12 Relações de parentesco e classificação de alguns animais da ordem Perissodactyla, uma das muitas
ordens incluídas na classe dos mamíferos (Mammalia). (Imagens sem escala.) (Dados taxonômicos baseados em Tree
of life. Disponível em: http://tolweb.org/Eutheria/15997 – acesso em: mar. 2010.)
Imagebroker/Alamy/Other Images
A C Urso- Urso- Urso- Panda- Panda-
-pardo -malaio -andino -gigante -vermelho Racum Cachorro
adilson secco
0
20
B 80
2 Sistemática moderna
Até agora, apresentamos um panorama geral da história da taxonomia e de como se desen-
volveram seus princípios gerais. Discutimos também algumas das diferentes abordagens dos
Unidade A • A diversidade biológica
Homologias e analogias
Um dos grandes desafios do biólogo sistemata é identificar nos organismos aspectos impor-
tantes para a classificação, sejam eles morfológicos, funcionais, cromossômicos ou moleculares.
A ideia é encontrar padrões de semelhança entre diferentes espécies, partindo do seguinte prin-
cípio: espécies que compartilham estruturas correspondentes herdaram-nas de um ancestral
comum que tiveram no passado.
Essas características comuns entre espécies, herdadas da mesma ancestralidade, são cha-
madas de homologias. Dizer que duas estruturas são homólogas implica dizer que as espécies
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Úmero Falanges
Rádio Carpos
Braço e mão
humanos Ulna Metacarpos
Carpos Falanges
Rádio
Úmero
Nadadeira de
Rádio Metacarpos
Asa de
morcego Úmero
Ulna
Falanges
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A C
jurandir ribeiro
B D
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Sistemática filogenética
No começo dos anos 1950, o entomologista alemão Willi Hennig (1913-1976) desenvolveu o
que ele chamou de Sistemática filogenética e que mais tarde se popularizou com o nome de
cladística. Sua proposta era um método de classificação das espécies baseado estritamente
na ancestralidade evolutiva.
A Sistemática filogenética distingue-se de outros sistemas taxonômicos porque seu foco
está na evolução, e não na simples semelhança entre espécies. Além disso, a cladística prioriza,
sempre que possível, a objetividade proporcionada pela análise quantitativa dos dados sobre
Capítulo 1 • Sistemática e classificação biológica
os seres vivos.
A proposição fundamental da cladística pode ser enunciada nos seguintes termos: se uma
novidade evolutiva surgiu e se fixou em uma espécie, todas as espécies descendentes dela
herdarão essa novidade. Entende-se por novidade evolutiva uma característica que não estava
presente nos ancestrais daquela espécie, tendo surgido nela por modificações hereditárias
(mutações) de uma característica ancestral.
A partir da aceitação dessa proposição, pode-se inferir que um conjunto de espécies que
compartilham uma novidade evolutiva descende da espécie ancestral em que essa novidade
surgiu e constitui um clado. Vejamos um exemplo.
A maioria dos grupos de inseto tem dois pares de asas, mas há um grupo de espécies com
apenas um par: mosca, pernilongo, borrachudo. Nessas espécies, conhecidas como dípteros
(do grego di, duas, e pteron, asa), no lugar do segundo par de asas há um par de estruturas em
forma de clava, denominadas halteres ou balancins, que funcionam como órgãos de equilíbrio.
Há inúmeras evidências de que o par de halteres dos dípteros é uma condição modificada do
segundo par de asas que quase todos os outros insetos apresentam.
33
Photoresearchers/Latinstock
A B
Halter
Asa do
primeiro par
Halter
A cladística tem por objetivo reunir em um mesmo grupo apenas organismos que comparti-
lham uma história evolutiva comum. No exemplo que acabamos de ver, os insetos dotados de
apenas um par de asas compartilham uma história evolutiva comum, ou seja, descendem de uma
mesma espécie ancestral na qual ocorreu a novidade compartilhada por elas: a transformação
do segundo par de asas em halteres. É isso que justifica a reunião de todos os dípteros em um
mesmo clado, no caso, na ordem Diptera.
Cladogramas
Atualmente, a cladística é considerada um dos melhores métodos para estudos filogenéti-
cos porque permite formular hipóteses explícitas e testáveis das relações de parentesco entre
seres vivos.
A cladística expressa suas hipóteses pela construção de cladogramas (do grego clados,
Unidade A • A diversidade biológica
ramo, divisão), que são representações gráficas em forma de árvore nas quais são mostradas
as relações evolutivas entre grupos de seres vivos.
Os cladogramas são semelhantes às árvores filogenéticas, porém construídos segundo os
princípios da cladística. Um desses princípios é que as espécies surgem sempre pela divisão
em duas de uma espécie ancestral. Quando os cladogramas apresentam três ou mais ramos
originando-se de um mesmo ponto, o que é denominado politomias, significa que há hipóteses
ainda não resolvidas sobre a origem desses ramos.
Idealmente, uma espécie ancestral origina duas espécies descendentes e a espécie antiga
desaparece. Cada “nó” do cladograma representa, assim, o processo de cladogênese que originou
os dois novos ramos. A partir desse ponto, os dois novos grupos passam a apresentar as carac-
terísticas derivadas, ou apomorfias. Grupos de espécies que apresentam um ancestral comum
exclusivo são denominados de monofiléticos. (Fig. 1.18)
34 (As imagens desta página não apresentam proporção entre si.)
adilson secco
Característica
derivada do grupo D
Tempo evolutivo
Ancestral
comum
Ramos Característica primitiva exclusivo dos
do grupo ancestral grupos D e E
Passado
Cada nó representa a
diversificação por cladogênese e o
ancestral comum dos ramos acima
CLASSES
adilson secco
Reptilia Mammalia
SUBCLASSE
Archossauria Figura 1.19 Alguns
sistematas, com base
na análise cladística,
propõem mudanças na
Dinossauros filogenia e na classificação
Tartarugas Lagartos Cobras Crocodilos (extintos) Aves Mamíferos dos seres vivos. A classe
Aves, como aparece na
classificação tradicional,
deixaria de existir e as
35
ORANGOTANGOS
CAMUNDONGOS
VELHO MUNDO
família Pongidae, juntamente com gorilas e orangotangos. Aná-
MACACOS DO
CHIMPANZÉS
lises recentes mostraram 96% de semelhança entre o DNA de
HUMANA
GORILAS
ESPÉCIE
chimpanzés e o DNA de seres humanos. Baseando-se na análise
desses dados, alguns cientistas concluíram que a diversificação
que resultou na separação evolutiva entre os chimpanzés e a
adilson secco
5,1 6 0,8 nossa espécie teria ocorrido há “apenas” 5,1 milhões de anos.
maa*
Essas são algumas das justificativas usadas pelos cientistas
que defendem o remanejamento dos chimpanzés para nossa
6,3 6 0,6 Homo
maa família. (Fig. 1.20)
13,8 6 0,8 MACACOS Enquanto muitos cientistas discordam da inclusão de
maa AFRICANOS nossos “primos” chimpanzés no gênero humano (seriam eles
chamados de Homo troglodytes?), outros chegam mesmo a
sugerir que mudemos de família, classificando nossa espécie
MACACOS
ANTROPOIDES na família Pongidae, junto com os grandes macacos (seríamos
25,3 6 1,4
maa nós chamados Pan sapiens?). Como se pode ver, a Sistemática
promete-nos ainda grandes surpresas.
SÍMIOS
Figura 1.20 Filogenia adaptada de um artigo da revista de divulgação
científica New Scientist, de maio de 2003, que mostra as estimativas
Seção 1.3
Os reinos de seres vivos
❱❱ Habilidades 1 As diferentes classificações
sugeridas
O conhecimento científico está em constante construção e a todo
CC Caracterizar cada um dos momento novas descobertas levam os cientistas a reavaliar hipóteses e
reinos de seres vivos – teorias consagradas. Na classificação dos seres vivos, como acabamos de
Monera, Protoctista, Fungi, ver, não é diferente, e há opiniões divergentes entre os cientistas sobre
Plantae e Animalia – questões aparentemente tão básicas como: “Quantos reinos de seres vivos
quanto a: tipo de célula devemos considerar: três, cinco ou oito? Ou mais?”.
(procariótica ou eucariótica);
número de células A polêmica é saudável e absolutamente necessária ao desenvolvi-
(unicelular ou multicelular); mento científico. Por isso, não se espante ao descobrir que, em certos
nutrição (autotrófica assuntos, não há consenso entre os cientistas, evidenciando que ainda
ou heterotrófica). há muito a descobrir e avançar até que as divergências sejam superadas
ou diminuídas.
Unidade A • A diversidade biológica
CC Compreender e explicar
por que os vírus não são Para a Sistemática filogenética, o problema central é estabelecer uma
incluídos em nenhum desses classificação que reflita as relações de parentesco evolutivo entre os gru-
reinos de seres vivos. pos de seres vivos. Entretanto, a absoluta maioria das espécies extintas
não deixou registros fósseis, de modo que nossos conhecimentos sobre
❱❱ Conceitos principais a história evolutiva são muito incompletos.
• Monera Além disso, só recentemente foram desenvolvidas técnicas que permi-
• Protoctista tem compreender melhor a diversidade dos seres vivos, principalmente em
• Fungi seus aspectos microscópicos, genéticos e bioquímicos. São justamente
• Plantae esses avanços que têm permitido estabelecer novas relações entre as
• Animalia espécies atuais, acarretando a necessidade de mudanças nos sistemas de
classificação, para levá-los a expressar melhor a história da vida na Terra.
36
Domínios
Em três
Bacteria Archaea Eukarya
domínios
Reinos
Em cinco
Monera Animalia Fungi Plantae Protoctista
reinos
Em seis
Bacteria Archaea Animalia Fungi Plantae Protoctista
reinos
Em oito
Bacteria Archaea Animalia Fungi Plantae Archaezoa Protozoa Chromista
reinos
37
Reino Monera
O reino Monera reúne os seres procarióticos, cuja principal característica é possuírem células
sem separação física entre o material nuclear e o citoplasma.
Há algumas décadas, os biólogos descobriram que, entre os organismos procarióticos até
então denominados genericamente de bactérias, havia dois grupos bem distintos e pouco rela-
cionados filogeneticamente. Eles foram então denominados eubactérias (do grego eu, verdadeiro)
e arqueobactérias (do grego archaio, antigo).
Reino Protoctista
Alguns biólogos criticam a existência do reino Protoctista (antigamente chamado Protista),
considerando-o uma categoria artificial por incluir organismos com origens evolutivas diferentes.
Eles defendem a separação dos protoctistas em diversos reinos, definidos por várias apomorfias,
o que também é motivo de grande controvérsia: enquanto alguns admitem que quatro reinos se-
riam suficientes, outros sugerem um número bem maior, em torno de doze ou mais. (Fig. 1.21)
adilson secco
38
Reino Fungi
O reino Fungi inclui os fungos, seres eucarióticos, unicelulares ou multicelulares com corpo
formado por filamentos (hifas). Eles assemelham-se às algas na organização e na reprodução,
mas diferem delas por serem heterotróficos.
Em alguns sistemas de classificação mais antigos, os fungos eram incluídos no reino Plantae;
depois passaram ao reino Protista (atualmente chamado Protoctista), e hoje são classificados
em um reino próprio.
Reino Plantae
O reino Plantae reúne as plantas, seres eucarióticos, multicelulares e autotróficos fo-
tossintetizantes. As plantas têm células diferenciadas e tecidos corporais bem definidos.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Musgos, samambaias, pinheiros e plantas frutíferas são os principais grupos que compõem o
reino Plantae.
A apomorfia que caracteriza o reino Plantae é a presença de embriões multicelulares sólidos
que, durante o desenvolvimento, retiram alimento diretamente da planta genitora. Portanto, as
algas multicelulares são excluídas do reino das plantas justamente por não formarem embriões
desse tipo, cujo desenvolvimento depende da planta-mãe.
Reino Animalia
O reino Animalia reúne os animais, seres eucarióticos, multicelulares e heterotróficos. Esse
grupo inclui uma grande variedade de organismos, desde animais simples, como as esponjas,
até animais complexos, como os cordados, grupo ao qual pertencemos.
A apomorfia que caracteriza os animais é o estágio embrionário denominado blástula, uma
esfera celular oca. O desenvolvimento da blástula origina a gástrula, a fase embrionária em
que são “esboçados” os tecidos do novo ser.
39
40
fotossintetizantes que apresentam, durante o d) reino, classe, divisão, família, ordem, gênero,
desenvolvimento embrionário, estágio de blástula espécie.
(uma esfera celular oca)?
e) reino, divisão, família, classe, ordem, gênero,
18. A que reino pertencem organismos uni ou multice- espécie.
lulares, sem clorofila, dos quais os cogumelos são
representantes? Nota: a categoria divisão, utilizada em certas clas-
sificações botânicas, corresponde a filo.
19. Que reino agrupa os organismos genericamente
chamados de algas e protozoários?
3. (Ufes) Têm maior grau de semelhança entre si dois
20. Os vírus não são incluídos em nenhum dos seis
organismos que estão colocados dentro de uma das
reinos de seres vivos porque são
seguintes categorias taxonômicas:
a) acelulares.
b) eucarióticos. a) classe.
c) parasitas. b) divisão.
d) procarióticos. c) família.
d) gênero.
21. Um organismo unicelular, eucariótico e heterotró-
fico pode ser um(a) e) ordem.
a) alga.
b) bactéria. 4. (Unesp) Três populações de insetos, X, Y e Z, habi-
tantes de uma mesma região e pertencentes a uma
c) fungo.
mesma espécie, foram isoladas geograficamente.
d) planta.
1. (UEA-AM) Sobre a classificação dos seres vivos, é d) X e Z continuaram a pertencer à mesma espécie
correto afirmar: e Y tornou-se uma espécie diferente.
a) O reino Monera é representado por seres pluri- e) X e Y continuaram a pertencer à mesma espécie
celulares destituídos de parede celular. e Z tornou-se uma espécie diferente.
41
5. (Fuvest-SP) Um pesquisador estudou uma célula ao c) uma família contendo um gênero monotípico e
microscópio eletrônico, verificando a ausência de dois gêneros com várias espécies.
núcleo e de compartimentos membranosos. Com d) um gênero contendo três espécies diferentes e
base nessas observações, ele concluiu que a célula pertencentes a famílias distintas.
pertence a
e) um gênero contendo onze subespécies diferen-
a) uma bactéria. d) um fungo. tes, mas pertencentes à mesma família.
b) uma planta. e) um vírus.
c) um animal. 8. (ENC-MEC) Uma ilha oceânica, rica em vegetação,
foi invadida por representantes de um vertebra-
6. (UFRGS-RS) Os cinco cladogramas das alternativas do herbívoro, que se adaptaram muito bem às
ilustram relações filogenéticas entre os táxons hi- condições encontradas e povoaram toda a ilha.
potéticos 1, 2, 3, 4 e 5. Quatro desses cladogramas Esta, após certo tempo, foi dividida em duas por
apresentam uma mesma hipótese filogenética. um fenômeno geológico. Os animais continuaram
vivendo bem e se reproduzindo em cada uma das
Determine a alternativa que contém o cladograma
novas ilhas mas, depois de muitos anos, verificou-
ilustrações: adilson secco
3 4 5 1 2 c) especiação.
3
b) 3 4
4 5
5 1
1 2
2
d) seleção natural.
e) radiação adaptativa.
3 4 5 1 2 Questões discursivas
c) 3
3 4
4 5
5 1
1 2
2
adilson secco
42
Capítulo
2
Vírus e bactérias
Micrografia de partículas do vírus
da “gripe suína” (linhagem H1N1) ao
microscópio eletrônico de transmissão
(colorizada artificialmente; aumento
×
q 420.000 ). Essa linhagem contém
uma mistura de material genético de
vírus de gripe de porcos, aves e seres
humanos, sendo capaz de se transmitir
Vírus e bactérias são seres diretamente entre as pessoas.
microscópicos, muitos deles
causadores de doenças. Os
primeiros são seres acelulares,
isto é, não apresentam estrutura
celular; as bactérias, por sua
vez, são seres unicelulares,
cuja célula é procariótica,
estruturalmente mais simples
que as células eucarióticas de
todos os outros seres vivos.
Neste capítulo estudaremos os
vírus, com ênfase nos causadores
CDC/SPL/LATINSTOCK
de gripe e da aids, e as bactérias,
tanto as que causam doenças
como algumas outras espécies
aliadas da humanidade.
2.1 Vírus
Os vírus diferem dos outros seres
vivos porque são acelulares. Vírus são
parasitas intracelulares obrigatórios,
dependendo de células vivas para se
reproduzir. O estudo dos vírus tem
importância econômica e médica,
uma vez que eles causam diversas
doenças em plantas e animais,
inclusive na espécie humana.
2.2 Bactérias
Bactérias são seres unicelulares
procarióticos: a célula bacteriana
não apresenta núcleo nem organelas
membranosas citoplasmáticas. Embora
umas poucas espécies causem doenças
em animais, a maioria das bactérias
desempenha papel fundamental no
equilíbrio ecológico do planeta.
43
é a maneira de o vírus
se multiplicar.
❱❱ Conceitos principais
• vírus
• infecção viral
• virose
• capsídio
• envelope viral
• vírion
• bacteriófago
• HIV
• vírus de gripe
• zoonose viral
• epidemia
• endemia Figura 2.1 A gripe aviária — popularmente conhecida como “gripe do frango” — é uma virose
• pandemia animal que causa prejuízos consideráveis aos países asiáticos e europeus. Muitos países
foram obrigados a sacrificar e incinerar parte de suas criações de aves na tentativa de
erradicar esse vírus. (Jacarta, Indonésia, 2007.)
44
adilson secco
RNA
Envelope
Cabeça
membranoso DNA
Capsídio DNA
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Capsídio Cauda
RNA
Capsídios
Fibras
Hazel Appleton, Centre for Infec-
tions/Health Protection Agency/
Science Photo Library/Latinstock
Figura 2.2 Representação esquemática de alguns vírus, com parte do capsídio removida para mostrar o ácido nucleico
em seu interior. (Imagens sem escala, cores-fantasia.) Na parte inferior, micrografias desses mesmos vírus ao
microscópio eletrônico de transmissão (colorizadas artificialmente).
adilson secco
NUCLEICO ENVELOPE VIRAL
A B C
CITOPLASMA
Capsídio
Capsídio Capsídio
Unidade B • Vírus, bactérias, algas, protozoários e fungos
Ácido
nucleico
Ácido nucleico viral
viral Ácido nucleico
viral
Figura 2.3 Os vírus podem penetrar na célula hospedeira basicamente de três maneiras: A. injetando apenas
o ácido nucleico, como os bacteriófagos; B. por fusão do envelope viral à membrana plasmática, como o HIV;
C. por endocitose, como o vírus da gripe. (Imagens sem escala, cores-fantasia.)
46
No interior da célula bacteriana, o DNA do fago inicia sua multiplicação, produzindo dezenas
de cópias idênticas ao DNA original. Ao mesmo tempo, o DNA viral comanda a síntese de molé-
culas de RNAm, utilizando para isso os sistemas enzimáticos e a energia da própria bactéria.
O metabolismo bacteriano passa, então, a ser totalmente comandado pelo genoma do
fago. Moléculas de RNAm viral são traduzidas em proteínas, algumas das quais inibem o
funcionamento do cromossomo bacteriano e o picotam em pequenos fragmentos. Outras
proteínas passam a constituir dezenas de cabeças e caudas, que se associam a moléculas
de DNA viral, originando fagos completos. Uma enzima codificada no genoma viral, chamada
de lisozima, é produzida pela bactéria na fase final da infecção, degradando os componentes
da parede bacteriana.
47
adilson secco
1 Adesão Capsídio
O vírion adere à Detalhe Cabeça
célula hospedeira
Parede
bacteriana
Bainha
Cromossomo
bacteriano
Fibra da Cauda
cauda
Placa basal
2 Penetração Fixador
O vírion perfura a Parede
célula hospedeira e bacteriana
injeta seu DNA Detalh Citoplasma da célula hospedeira
e Membrana
plasmática
Eixo da cauda
DNA sendo
expelido
4 Maturação
Novos vírions são
montados na célula
hospedeira
DNA
Unidade B • Vírus, bactérias, algas, protozoários e fungos
5 Liberação
A célula hospedeira
rompe-se e os novos
vírions são liberados
Cauda
Capsídio
Fibras
da cauda
Figura 2.5 Ciclo reprodutivo do bacteriófago T4. Observe, nos estágios 1 e 2, mais à direita, os detalhes ampliados do
fago aderido à bactéria. No círculo, na parte inferior direita da figura, esquema das etapas de montagem de um vírion
completo. (Imagens sem escala, cores-fantasia.) (Baseado em Tortora, G. J. e cols., 1995.)
48
Glicoproteína
humana. Analise a figura seguindo as explicações no texto.
Envelope (Imagens sem escala, cores-fantasia.)
Integrase
Capsídio
Liberação de
1212 novos vírions
Genoma
viral
Transcriptase
VÍRION reversa
Integração
de proteínas
2 Fusão do envelope viral
à membrana celular virais na
membrana
Formação do celular
envelope ao
11
3 Desintegração redor do capsídio
do capsídio e
liberação do RNA 9 Quebra da
e enzimas virais cadeia
polipeptídica
Capítulo 2 • Vírus e bactérias
6 DNA viral
Receptor
5 Entrada do integrando-se ao
celular
DNA viral cromossomo
(proteína CD4) 8 Síntese de polipeptídios
no núcleo Integrase 7 Transcrição de
RNA viral a partir virais a partir do RNA viral
do DNA integrado
Cromossomo da ao cromossomo
CITOPLASMA NÚCLEO célula hospedeira
49
adilson secco
Partículas
virais recém-
-liberadas
Espículas
MEIO EXTRACELULAR
Receptores
Adesão do celulares do vírus
vírus aos
receptores da
membrana
plasmática
Formação
do capsídio
ENDOCITOSE
Formação do
Unidade B • Vírus, bactérias, algas, protozoários e fungos
envelope viral
Endossomo
Síntese das Empacotamento
proteínas virais do RNA
Liberação do genômico viral
conteúdo da Saída dos RNAm
partícula viral do núcleo
CÉLULA HUMANA
Saída do
RNA
genômico
viral do
núcleo
Síntese de Síntese de RNA� (RNA
RNA� genômico viral)
Entrada do NÚCLEO
RNA viral
no núcleo RNA RNA mensageiro
genômico viral viral
CITOPLASMA
(cadeias RNA�) (cadeias RNA�)
Figura 2.7 Etapas da multiplicação de um vírus de gripe em uma célula humana. Analise a figura a partir do lado
esquerdo superior, acompanhando o desenvolvimento do vírus dentro da célula até a formação de novos vírus.
Releia as explicações no texto acompanhando as informações na figura. (Imagens sem escala, cores-fantasia.)
50
adilson secco
(neuraminidase)
51
6 No Brasil, o Ministério da Saúde atua preventi- tentando identificar rapidamente os novos vírus que
vamente contra a gripe, ministrando à população, surgem. Se são identificados logo, é possível produzir
preferencialmente aos maiores de 60 anos de idade, vacinas e imunizar grande parte da população antes
Figura 2.9 Cartaz da campanha de vacinação contra a gripe. mias de gripe, o ambiente é perigosamente favorável
à recombinação entre vírus de animais domésticos e
de humanos, devido à criação de marrecos junto com
7 Variedades muito perigosas do vírus da gripe porcos. Como estes últimos podem ser infectados
surgem esporadicamente por meio de recombinação tanto por vírus de aves quanto por vírus humanos,
genética. Como os vírus têm oito moléculas de RNA é possível ocorrer recombinação do material gené-
diferentes em seu genoma, se uma célula é infectada tico de ambos os vírus em suas células, tendo como
simultaneamente por dois tipos diferentes de vírus, resultado a produção de novos tipos virais. O vírus
podem se formar partículas virais com combinações de H1N1, responsável pela chamada “gripe suína”, que
moléculas de RNA das duas variedades, não reconhe- teve início no México em 2009, pode ter surgido da
cidas pelo sistema imunitário humano. Nesses casos, maneira relatada. (Fig. 2.10)
o vírus recombinante pode se reproduzir rapidamente 11 Recentes estudos genéticos da hemaglutinina do
e se espalhar pela população, causando pandemias de vírus da gripe aviária asiática mostraram que uma
gripe. única mutação já seria capaz de permitir ao vírus se
8 A Organização Mundial de Saúde mantém vigilân- ligar a receptores humanos e, assim, ser transmitido
cia rigorosa e permanente sobre os surtos de gripe, de pessoa para pessoa.
52
GUIA DE LEITURA
1. Leia o primeiro parágrafo, que aponta o agente que teve um surto rápido no país em 2009, é
causador da gripe exemplificando com três causada por qual tipo de vírus?
grandes pandemias dessa doença. Para saber o 5. Leia o quinto parágrafo. Ele se refere a dois fe-
significado exato do termo “pandemia”, consulte nômenos: ao desenvolvimento de imunidade na
o item 3 da Seção 2.1 deste capítulo. Anote as população, após um surto de gripe, e ao apare-
épocas dessas pandemias de gripe em seu cader- cimento de novos surtos de gripe. Como o texto
no, deixando um espaço ao lado para adicionar, explica cada um deles?
como será solicitado adiante, a informação sobre
6. No sexto parágrafo, menciona-se uma importan-
os tipos de vírus específicos responsáveis por
te providência do Ministério da Saúde brasileiro
cada uma.
para prevenir a gripe (observe também a Figura
2. No segundo parágrafo, aparece o conceito de 2.9). Que providência é essa? Você já conhecia
“vírion”. Relembre-o no item 1 da Seção 2.1. O esse programa governamental? Algum de seus
que significa dizer que os vírions de gripe são parentes ou conhecidos já tomou essa vacina?
“envelopados”?
7. Leia os parágrafos 7 e 8 e responda: a) como se ex-
3. Leia o terceiro parágrafo, que fala de dois im- plica o aparecimento de novas variedades de gripe
Capítulo 2 • Vírus e bactérias
53
Epidemia e endemia
Em termos populacionais, as doenças infecciosas podem existir na condição de epidemias ou
de endemias. Fala-se em epidemia quando ocorre um aumento súbito no número de casos de uma
doença em uma população. Fala-se em endemia quando uma doença se mantém praticamente
constante numa determinada região. Costuma-se também utilizar o termo pandemia para se
referir a uma doença que atinge mais de um continente, em uma onda epidêmica que pode se
prolongar por vários anos. Surto é uma forma particular de epidemia, em que todos os casos es-
tão relacionados entre si. Uma mesma doença pode ser endêmica em uma população, epidêmica
em outra e não existir em uma terceira. Diversos fatores são responsáveis por esse quadro, que
depende tanto das condições ambientais quanto do nível sociocultural das populações.
54
Seção 2.2
Bactérias
❱❱ Habilidades
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
55
A
Ilustrações: jurandir ribeiro
Ribossomos
Plasmídios
Nucleoide
Cotovelo
Parede
celular
Fímbrias
Figura 2.12 A. Representação esquemática de uma célula bacteriana parcialmente cortada para mostrar
seu interior. B. Detalhe da base de um flagelo. C. Representação do deslocamento de uma bactéria
impulsionada pelos flagelos. (Imagens sem escala, cores-fantasia.) (Baseado em Campbell, N. A. e cols.,
1999.) D. Micrografia da bactéria Proteus mirabilis, ao microscópio eletrônico de transmissão, mostrando
seus inúmeros flagelos (colorizada artificialmente; aumento . 6.0003).
Certas bactérias têm uma cobertura de aspecto mucoide externamente à parede celular, a cha-
Unidade B • Vírus, bactérias, algas, protozoários e fungos
mada cápsula bacteriana. A composição da cápsula varia nas diferentes espécies de bactéria; ela
pode ser formada por polissacarídios, por proteínas ou por ambos. Esses componentes são produ-
zidos no interior da célula e secretados para fora, onde se agregam à região externa da parede.
Em certas espécies de bactéria causadoras de doenças, a cápsula dificulta sua fagocitose e
destruição pelos glóbulos brancos, permitindo ao microrganismo driblar essa linha de defesa de
nosso sistema imunitário. Por exemplo, somente as linhagens capsuladas da bactéria Streptococcus
pneumoniae causam pneumonia; linhagens sem cápsula (o que ocorre como consequência de muta-
ção genética) são incapazes de causar a doença, pois, assim que penetram no corpo do hospedeiro,
são prontamente fagocitadas pelos glóbulos brancos. O mesmo ocorre com o Bacillus anthracis,
o causador do antraz: somente linhagens capsuladas desse bacilo provocam a doença.
Chlamydia trachomatis
levi ciobotarin
(coco)
Rhizobium leguminosarum
Figura 2.13 Representação
Diplococcus pneumoniae (bacilo)
esquemática de bactérias de
diferentes formas e tipos de (diplococo) Desulfovibrio desulfuricans
agrupamentos. (Imagens sem escala, (vibrião)
cores-fantasia.) De A a E, micrografias
que mostram diferentes espécies de
bactérias causadoras de infecções ao Streptococcus hemolyticus Treponema pallidum
microscópio eletrônico (colorizadas (estreptococo) (espirilo)
artificialmente). A. Streptococcus
pneumoniae, causador de um tipo de
pneumonia (aumento . 6.5003).
B. Chlamydia trachomatis, agente Aquaspirillum
causador de doenças sexualmente magnetotacticum
transmissíveis (aumento . 15.0003). (espirilo)
C. Haemophylus influenzae, causador
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
D E
O estudo das bactérias mostrou grande variedade de formas de nutrição. Quanto a essa
característica, as bactérias podem ser separadas em dois grandes grupos: autotróficas e he-
terotróficas. As bactérias autotróficas são as que obtêm átomos de carbono — matéria-prima
básica para fabricar moléculas orgânicas — diretamente de moléculas de gás carbônico (CO2). Já
as bactérias heterotróficas obtêm átomos de carbono a partir de moléculas orgânicas.
As bactérias autotróficas mais conhecidas são fotossintetizantes; elas produzem as subs-
tâncias orgânicas que lhes servem de alimento, utilizando gás carbônico (CO2) como fonte de
carbono e luz como fonte de energia. Essas bactérias podem ser divididas em dois grupos, que
diferem quanto ao tipo de fotossíntese que realizam; em um dos grupos estão as proclorófitas
e as cianobactérias, no outro, as sulfobactérias.
57
Phototake/Alamy/Other Images
A B
58
Sob certas condições ambientais, como a falta de nutrientes essenciais ou de água, al-
gumas espécies de bactéria, destacadamente as dos gêneros Clostridium e Bacillus, formam
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
estruturas denominadas endósporos (do grego endos, dentro). Um endósporo resulta da de-
sidratação da célula bacteriana e da formação de uma parede grossa e resistente em torno
do citoplasma desidratado. Nessas condições, o endósporo é capaz de permanecer anos com
a atividade metabólica totalmente suspensa, resistindo ao calor intenso, à falta de água e a
outras condições adversas.
6
acetona etc. Nos grandes centros urbanos, as bacté- a utilização de bactérias do gênero Pseudomonas na
rias ganham cada vez mais destaque como agentes descontaminação de ambientes poluídos por pes-
decompositores da matéria orgânica dos esgotos ticidas ou por petróleo. Pseudomonas spp. e outras
domésticos e do lixo. bactérias semelhantes oxidam diversos compostos
4 O potencial biotecnológico das bactérias cresceu orgânicos nocivos, transformando-os em substâncias
nas últimas décadas devido ao desenvolvimento da inócuas ao ambiente. Atualmente as pesquisas têm
tecnologia do DNA recombinante, também chamada se voltado para o estudo genético dessas bactérias, a
de Engenharia Genética. Essa tecnologia consiste fim de modificar seus genes e aumentar sua eficiência
em um conjunto de técnicas que permite modificar como despoluidoras.
59
GUIA DE LEITURA
Unidade B • Vírus, bactérias, algas, protozoários e fungos
1. Leia o primeiro e o segundo parágrafos e res- 5. Leia o sétimo, o oitavo e o nono parágrafos, no
ponda: o que é biotecnologia? Baseando-se item Bactérias e doenças. Caracterize: a) bacté-
nos exemplos, pense em como essa prática é rias patogênicas; b) infecção bacteriana; c) locais
antiga. do corpo afetados e causas da doença.
2. No terceiro parágrafo fala-se em modernas bio- 6. Leia o parágrafo 10 e caracterize “bactérias
tecnologias que empregam bactérias. Comente oportunistas”.
brevemente o exemplo que mais lhe despertou 7. Nos parágrafos 11 e 12 comenta-se sobre a
interesse. principal forma de tratamento de infecções
3. Leia o quarto parágrafo, que comenta como bacterianas. Qual é ela? Explique brevemente.
a Engenharia Genética permitiu desenvolver 8. Leia o décimo terceiro parágrafo, que se refere
tecnologias utilizando bactérias. Resuma as a uma importante forma de prevenir doenças
principais ideias do parágrafo. bacterianas. Qual é ela? Explique brevemente.
4. Leia o quinto e o sexto parágrafos, referen- 9. O último parágrafo comenta sobre outra importan-
tes à biorremediação. Defina o termo e exem- te forma de prevenir infecções, tanto bacterianas
plifique. quanto virais. Qual é ela? Explique brevemente.
60
A descoberta das primeiras diferenças entre os dois tipos de seres procarióticos levou à criação
de um novo grupo para reunir as espécies com características consideradas primitivas. O novo
grupo foi denominado Archaeobacteria (do grego archeos, antigo), enquanto as demais bactérias
passaram a ser reunidas no grupo Eubacteria (do grego eu, verdadeiro).
Estudos posteriores mostraram que esses dois tipos de seres procarióticos eram ainda mais
diferentes do que se imaginava. Isso levou à eliminação do termo bactéria do nome do grupo mais
primitivo, que passou a ser denominado simplesmente Archaea (arqueas). Com isso desapareceu
a necessidade do prefixo “eu” para designar as bactérias verdadeiras, e elas passaram a integrar
o grupo Bacteria (bactérias).
No sistema de classificação em cinco reinos, arqueas e bactérias ocupam sub-reinos distintos
no reino Monera. Entretanto, propostas recentes de classificação sugerem que esses grupos
sejam ainda mais separados, o que refletiria melhor a história evolutiva da vida na Terra. Nessas
propostas, haveria uma categoria taxonômica acima dos reinos, o domínio. Os seres vivos seriam,
então, separados em três grandes domínios: Bacteria, Archaea e Eukarya. O domínio Bacteria
reuniria as bactérias; o domínio Archaea reuniria as arqueas; o domínio Eukarya reuniria os
protoctistas, os fungos, as plantas e os animais, constituídos por células eucarióticas.
Informações recentes mostram que as arqueas são evolutivamente mais relacionadas aos
organismos eucarióticos do que às bactérias. Isso significa que, nos primórdios da vida na Terra,
um grupo de organismos primitivos separou-se em duas linhagens, uma das quais deu origem às
bactérias atuais. Em um segundo momento, a outra linhagem também se diversificou em duas:
uma deu origem às arqueas e a outra, aos seres eucarióticos.
1 Doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) são 2 Algumas DSTs são difíceis de curar, mas em todos
Capítulo 2 • Vírus e bactérias
causadas por agentes diversos, transmitidos de pessoa os casos há tratamentos que podem evitar a progres-
a pessoa por meio de atividades sexuais. Esses agentes são da doença. Outras DSTs são curáveis, desde que
podem ser vírus, bactérias, fungos, protozoários e até se procure rapidamente ajuda médica.
mesmo artrópodes, como o causador da pediculose 3 As doenças sexualmente transmissíveis consti-
pubiana (popularmente conhecido por “chato”). Com tuem um dos grandes problemas mundiais de saúde
exceção desta última e de algumas viroses, todas pública. É direito e dever de todo cidadão manter-se
as doenças sexualmente transmissíveis podem ser informado sobre essas e outras doenças transmissí-
prevenidas pela utilização da camisinha durante as veis, de modo a agir preventivamente em benefício
relações sexuais. de sua própria saúde e a de toda a sociedade.
61
Membrana
plasmática
Unidade B • Vírus, bactérias, algas, protozoários e fungos
Citoplasma
Partícula viral
livre
Figura 2.16
Micrografias
ao microscópio
eletrônico de
transmissão
mostrando etapas
da liberação do
HIV por uma
célula hospedeira
(colorizadas
artificialmente;
aumento .
200.0003).
62
9 Embora ainda não haja cura para a aids, os tratamen- devem ser ingeridos, com acompanhamento médico,
tos quimioterápicos, denominados terapias antirretrovi- tão logo os sintomas se manifestem. É importante que
rais, evoluíram muito. O uso combinado de diversas drogas o homem, ao perceber os sintomas iniciais da doença,
antivirais, os chamados “coquetéis antivirais”, compostos abstenha-se imediatamente de relações sexuais e infor-
de inibidores da síntese de ácidos nucleicos e de enzimas me suas parceiras ou parceiros sobre o problema, para
importantes para a formação das partículas virais, tem que eles também iniciem o tratamento com antibióticos.
conseguido prolongar a vida de muitos doentes. Esse alerta, aliás, é válido para qualquer tipo de DST.
Cancro mole Herpes genital
10 Cancro mole (também chamado cancro venéreo 15 O herpes genital é uma DST causada pelo herpes-
simples ou “cavalo”) é uma DST causada pela bactéria -vírus tipo 2 ou HSV-2 (do inglês, Herpes simplex virus
Haemophilus ducreyi, transmitida exclusivamente type 2)*. Os sintomas são lesões nos órgãos genitais,
por via sexual. Caracteriza-se por lesões, geralmente no início caracterizadas por bolhas cheias de líquido
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dolorosas, nos órgãos genitais, sendo mais frequente que, depois, se transformam em pequenas feridas.
no homem. O período de incubação da bactéria, du- O período de incubação da doença é de 3 a 14 dias,
rante o qual os sintomas ainda não se manifestam, no caso de ser a primeira infecção. Em muitos casos,
geralmente é de três a cinco dias, mas pode durar até o herpes é recorrente, isto é, volta a atacar a pessoa
duas semanas. O tratamento é feito com antibióticos aparentemente curada.
e a pessoa deve abster-se de relações sexuais até estar 16 O tratamento consiste em limpar as lesões com
12 O tratamento consiste em remover as lesões con- mente por “mula”) é uma DST causada pela bactéria
dilomatosas (com o uso de substâncias químicas ou Chlamydia trachomatis, que se transmite exclusi-
com cirurgia), mas ainda não se sabe como eliminar vamente por via sexual. Os sintomas iniciais são
o vírus do organismo. Por causa disso, costuma haver pequenas bolhas ou feridas nos órgãos genitais, que
recorrências depois da infecção primária. geralmente desaparecem logo. Mais tarde, após um
período de incubação entre 3 e 30 dias, ocorre grande
Gonorreia inchaço nos linfonodos das virilhas (bubão inguinal),
Capítulo 2 • Vírus e bactérias
**O HSV-1 é um vírus que ataca geralmente a mucosa da boca e não é transmitido por contato sexual.
63
GUIA DE LEITURA
1. Leia o primeiro parágrafo e responda: o que são 5. No sexto parágrafo são caracterizadas as pes-
doenças sexualmente transmissíveis? Se lembrar,
Unidade B • Vírus, bactérias, algas, protozoários e fungos
64
na infância e chega a atingir 90% da população dos países erradicação da doença no mundo.
desenvolvidos, mas apenas 15% apresentam os sintomas, na
forma de lesões nas bordas dos lábios. O DNA viral permanece II. Doenças virais associadas
em estado latente no gânglio do nervo trigêmeo que inerva ao sistema nervoso
a face. O vírus pode ser reativado, infectando células da pele
e provocando as lesões típicas do herpes. Essas recorrências Poliomielite
estão associadas a situações traumáticas, como exposição É causada por Enterovirus, um vírus não envelopado com
excessiva à luz ultravioleta do sol, estresse emocional e RNA de cadeia simples. O vírus multiplica-se inicialmente
variações hormonais do ciclo menstrual. Adquire-se o vírus em células da garganta e do intestino delgado invadindo,
por contato com pessoas ou com objetos contaminados, por em seguida, as tonsilas, os linfonodos do pescoço e o íleo (a
isso deve-se evitar contato íntimo com pessoas durante as porção terminal do intestino delgado). Em geral, a infecção
recorrências da infecção. Pomadas contendo inibidores da regride e, na maioria dos casos, é assintomática ou produz
síntese de DNA viral podem aliviar os sintomas. sintomas leves como dor de cabeça, dor de garganta, febre
e náusea, confundindo-se com meningite branda ou com
Rubéola
gripe. Se a infecção persistir, o que ocorre em cerca de 1% dos
É causada por Rubivirus, um vírus envelopado com RNA de casos, os vírus caem na circulação sanguínea e penetram no
cadeia simples. Os sintomas são muito leves e podem passar sistema nervoso central. Ali eles infectam preferencialmente
despercebidos; em geral ocorrem febre branda e pequenas as células nervosas motoras que formam as raízes dorsais dos
manchas vermelhas na pele. A infecção durante a gravidez nervos espinais, matando-as e provocando paralisia e atrofia
produz, em 35% dos casos, a síndrome da rubéola contagiosa, dos músculos por elas inervados. A doença pode causar a
caracterizada por sérios danos ao feto em desenvolvimento, morte se forem atingidos nervos que controlam os músculos
incluindo surdez, catarata, má-formação cardíaca, retardo do sistema respiratório. Adquire-se o vírus por ingestão de
mental e mesmo a morte. É importante detectar mulheres água e alimentos contaminados com fezes de portadores;
sem imunidade contra a rubéola; em alguns países, os testes há indícios de que o vírus também pode ser transmitido
sanguíneos requeridos para obtenção de licença para casa- pela saliva. Não há tratamento. A vacina é muito eficiente
mento incluem o teste para rubéola. Mulheres não imunes e sua aplicação sistemática e generalizada está levando à
que desejam engravidar devem se vacinar; a vacinação du- erradicação da doença.
rante a gravidez deve ser evitada, pois pode provocar danos
ao feto. Adquire-se o vírus pelas vias respiratórias, por meio Raiva
de gotículas de saliva expelidas por pessoas portadoras do É causada por Lyssavirus, um vírus envelopado com RNA
Capítulo 2 • Vírus e bactérias
vírus. Não há tratamento. A vacina é aplicada na infância de cadeia simples. O vírus multiplica-se inicialmente em
juntamente com as vacinas contra sarampo e caxumba na células musculares e do tecido conjuntivo, onde permanece
forma da vacina tríplice viral. por dias ou meses. Em seguida, entra nos nervos periféricos,
deslocando-se por eles até o sistema nervoso central, onde
Sarampo causa encefalite. Quando o vírus penetra em áreas ricas em
É causado por Morbillivirus, um vírus envelopado com RNA de fibras nervosas, como o rosto ou as mãos, o período de incu-
cadeia simples. A infecção tem início na parte superior das bação pode ser bem curto e a doença é mais perigosa, pois
vias respiratórias e, após um período de incubação de 10 a não há como combater o vírus após sua entrada no sistema
12 dias, aparecem sintomas semelhantes aos do resfriado nervoso. Quando este é atingido, alternam-se períodos de
comum: dor de garganta, dor de cabeça e tosse. Logo depois agitação e de calma. Nessa fase são frequentes os espasmos
aparecem erupções na pele, começando na face e espalhan- dos músculos da boca e da faringe, que ocorrem quando o
do-se pelo tronco e pelas extremidades. O sarampo é uma animal ou a pessoa afetada tentam inalar ar ou beber água.
65
A simples visão de água ou o pensar nela desencadeia os es- contaminados; nas matas, outras espécies de mosquito trans-
pasmos, daí a doença ser conhecida também como hidrofobia. mitem a doença; os reservatórios naturais são macacos. Não
A raiva é sempre fatal em questão de dias. O vírus presente há tratamento específico para a febre amarela. A vacinação,
na saliva do animal infectado é transmitido por mordida ou com a forma atenuada do vírus, confere imunidade efetiva
pelo contato com ferimentos expostos. Antes que atinja o com poucos efeitos adversos. A doença pode ser controlada
sistema nervoso, a doença pode ser evitada com a injeção e eventualmente erradicada pelo combate aos mosquitos
de anticorpos antivirais (soro) ou mesmo com vacinação pós- vetores. Devem-se eliminar os criadouros de mosquitos, como
-exposição ao vírus. Pessoas mordidas por um animal (ou se a foi mencionado no caso da dengue.
saliva deste entrar em contato com algum ferimento exposto)
devem lavar o local ferido com água limpa e sabão, manter Mononucleose
o animal sob observação rigorosa e procurar imediatamente É causada por Lymphocryptovirus (vírus Epstein-Barr), um
um serviço de assistência médica. vírus envelopado com DNA de cadeia dupla. O vírus Epstein-
-Barr é um dos mais comuns, ocorrendo em todo o mundo.
III. Doenças virais associadas aos sistemas Nos países desenvolvidos, onde há estatísticas a respeito,
cardiovascular e linfático cerca de 95% das pessoas com idade entre 35 e 40 anos já
foram infectadas por esse vírus. Crianças tornam-se susce-
Dengue tíveis à infecção pelo vírus assim que desaparece a proteção
por anticorpos maternos presentes em seu sangue por oca-
É causada por Flavivirus (arbovírus), um tipo de vírus enve-
sião do nascimento. Quando a pessoa se infecta durante a
lopado com RNA de cadeia simples. São conhecidas quatro
infância não ocorrem sintomas específicos e as indisposições
variedades do vírus, três das quais ocorrem no Brasil. Se uma
causadas pelo vírus são confundidas com doenças infantis
pessoa for infectada por uma das formas não adquire imuni-
sem importância. Quando a infecção ocorre na adolescência
dade para as outras. A dengue, também conhecida como febre
uma vez que essa substância pode aumentar as hemorragias. tém oito moléculas de RNA de cadeia simples. Os sintomas
A doença pode ser controlada e eventualmente erradicada são calafrios, febre, dor de cabeça e dores musculares gene-
com eliminação dos mosquitos vetores. Uma medida é im- ralizadas. A recuperação costuma ocorrer em poucos dias,
pedir o acesso do mosquito a qualquer tipo de água parada mas pessoas idosas e crianças, bem como as debilitadas por
onde ele possa depositar seus ovos e suas larvas venham a se doenças crônicas, correm o risco de desenvolver pneumonia
desenvolver; devem-se cobrir caixas-d’água e eliminar pneus, viral ou bacteriana, otites, sinusites, entre outras doenças.
vasos e utensílios onde haja risco de acumular água da chuva, Essas complicações, dependendo da gravidade, podem causar
servindo de criadouro aos mosquitos transmissores. até a morte da pessoa. A contaminação dá-se por meio de
gotículas de saliva contendo o vírus, que penetram pelas vias
Febre amarela respiratórias. A droga antiviral amantadina parece reduzir
É causada por Flavivirus (arbovírus), um vírus envelopado significativamente os sintomas se administrada apropria-
com RNA de cadeia simples. O vírus infecta inicialmente cé- damente. A vacinação de idosos tem sido bastante eficiente,
lulas dos linfonodos, espalhando-se em seguida pelo fígado, reduzindo significativamente a taxa de mortes.
baço, rins e coração. No início da infecção os sintomas são
febre, calafrios, dor de cabeça, dor nas costas e, em seguida, Resfriado comum
náusea e vômito. Com a lesão do fígado, pigmentos biliares Cerca de 50% dos resfriados são causados pelo Rhinovirus, um
(bilirrubina) são liberados no sangue e se depositam na vírus não envelopado com RNA de cadeia simples. Entre 15%
pele e nas membranas mucosas, levando a pessoa a ad- e 20% são causados por Coronavirus, um vírus envelopado
quirir uma tonalidade amarelada (icterícia); daí o nome da de RNA com cadeia simples. Os demais casos devem-se a
doença. A febre amarela é uma doença ainda endêmica na vírus diversos. Os vírus infectam células da mucosa nasal,
América Central, nas regiões tropicais da América do Sul e na produzindo sintomas como espirros, aumento de secreção
África. O vírus é transmitido por mosquitos Aedes aegypti das vias respiratórias e congestão nasal. A infecção pode
66
um gato, muito apreciado como quitute em certas regiões da dupla, envelopado. O DNA viral não se duplica diretamente;
China. Transmite-se de pessoa para pessoa pelo ar e também em sua replicação, é utilizada a enzima transcriptase reversa,
por objetos contaminados. Pode ser que se transmita também produzindo o DNA dos novos vírus a partir de RNA mensagei-
pela ingestão de alimentos ou água contaminados por fezes ro. Os sinais clínicos da infecção variam muito, mas cerca de
de doentes. Não há tratamento. Deve-se evitar contato com metade dos casos são assintomáticos. Os sintomas, quando
pessoas que apresentem os sintomas da infecção e os locais ocorrem, são: perda de apetite, febre baixa e dores nas juntas;
por elas frequentados. posteriormente, pode ocorrer icterícia. O vírus pode causar
hepatite crônica e câncer de fígado. A transmissão dá-se
V. Doenças virais associadas por transfusão de sangue ou contato com fluidos corporais
ao sistema digestório (saliva, leite e sêmen) contaminados. Não há tratamento,
mas como prevenção pode-se utilizar uma vacina produzida
Caxumba (parotidite epidêmica) por engenharia genética. Dentre as medidas preventivas
destacam-se: o uso de camisinha nas relações sexuais; o
É causada por Paramyxovirus, um vírus envelopado com não compartilhamento de objetos como lâminas de barbear,
RNA de cadeia simples. O vírus infecta, em geral, células das escovas de dente e seringas; a não utilização de agulhas de
glândulas salivares parótidas, provocando inchaço em um ou tatuagem e de equipamentos de piercing não devidamente
em ambos os lados da porção superior do pescoço, acompa- esterilizados; a utilização somente de sangue devidamente
nhado de febre e dor ao engolir. Entre 20% e 30% dos homens testado para transfusões.
infectados após a puberdade apresentam inflamação dos
testículos (orquite) que, em casos raros, provoca esterilidade. Hepatite C
Pode raramente provocar inflamação dos ovários. A transmis- É causada pelo vírus Hepatitis C (HCV), um vírus envelopado
são dá-se por meio de gotículas de saliva contendo os vírus, com RNA de cadeia simples. Os sintomas são leves ou subclí-
que penetram pelas vias respiratórias. Não há tratamento; nicos; 50% dos casos, porém, evoluem para hepatite crônica.
deve-se evitar o contato com pessoas doentes e com objetos A transmissão dá-se por transfusão de sangue contaminado;
utilizados por elas. A imunização é feita por vacina aplicada durante relações sexuais, quando há contato sanguíneo entre
na infância juntamente com as vacinas contra sarampo e os parceiros; de mãe contaminada para o feto por meio de
rubéola na forma da vacina tríplice viral. hemorragias placentárias. Muitos casos crônicos respondem
ao tratamento com interferon alfa, mas são frequentes as
Gastrenterite rotaviral
recaídas.
É causada por Rotavirus, um tipo de vírus não envelopado
que contém 11 moléculas de RNA de dupla cadeia no capsídio. Hepatite D
Capítulo 2 • Vírus e bactérias
Após um período de incubação de dois ou três dias, surgem os É causada pelo vírus da hepatite D, conhecido também como
sintomas: febre baixa, diarreia e vômito, que podem persistir vírus delta (HDV). Esse é um vírus que não consegue produzir
por cinco a oito dias. A infecção pelo rotavírus é a causa mais envoltório proteico e, por isso, está sempre associado ao
comum de diarreia severa em crianças, sendo responsável vírus da hepatite B (HBV), utilizando o capsídio deste para
por cerca de 600 mil mortes por ano, no mundo. Adquire-se sair da célula hospedeira e infectar outras células. Alguns o
a doença pela ingestão de alimentos ou água contaminados consideram um viroide e não um vírus. O HDV já foi detectado
por fezes contendo o vírus. A substituição do leite materno em diversas partes do mundo, sendo endêmico na região da
por mamadeira aumenta o risco de contaminação, princi- Amazônia. A pessoa nunca é infectada apenas pelo HDV,
palmente em populações carentes de saneamento básico. adquirindo esse vírus juntamente com o HBV ou se já estiver
Não há forma de combater a infecção; o único tratamento é contaminada por ele. Os sintomas são os da hepatite B. Não
a reidratação oral dos pacientes e, em casos graves, a reidra- há tratamento e as medidas preventivas são as mesmas que
tação intravenosa. se utilizam para a hepatite B.
67
Febre maculosa
Botulismo O agente causativo é Rickettsia rickettsii e os sintomas são fe-
É causado pela ingestão da toxina botulínica produzida por bre alta, dor de cabeça e vômito, além de manchas vermelhas
Clostridium botulinum, presente em alimentos industriali- no corpo devido a hemorragias subcutâneas provocadas pelo
zados mal processados (enlatados, conservas e embutidos ataque das bactérias aos vasos sanguíneos. A taxa de mortali-
como salsicha). O principal sintoma é paralisia muscular, dade é alta quando a infecção não é tratada adequadamente.
pois a toxina bloqueia a transmissão de impulsos nervosos. A bactéria é transmitida pela picada do carrapato-estrela
Pode ser fatal se não for tratada rapidamente, em decorrência (Dermacentor variabilis) contaminado. O carrapato adulto
da paralisia dos músculos responsáveis pela respiração. O ou suas ninfas, conhecidas como micuins, contaminam-se ao
tratamento é feito com soro antitoxina. sugar animais portadores da bactéria, como aves, mamíferos
domésticos e selvagens. Como prevenção devem-se evitar
Lepra ou hanseníase locais infestados pelo carrapato ou proteger-se adequada-
O agente causativo é Mycobacterium leprae, que se aloja em mente contra eles, além de combatê-los. O tratamento é feito
nervos sensitivos próximos à superfície do corpo, levando à com antibióticos específicos.
perda de sensibilidade e, por isso, são frequentes as lesões
na pele e nas extremidades afetadas. O contágio dá-se pelo Febre reumática
contato com secreções contaminadas de pessoas doentes; Desenvolve-se em decorrência de infecções por Streptococcus
as bactérias penetram no corpo através de pequenas lesões pyogenes e outros estreptococos. A ação da bactéria ainda é
na pele e mucosas. O tratamento é feito com antibióticos pouco conhecida, mas o resultado é uma reação de autoi-
específicos e a prevenção (ainda em testes), pela vacinação munidade, desencadeada pela infecção da garganta pelo
de pessoas que tenham contato íntimo com portadores. estreptococo. Afeta geralmente crianças e jovens entre 4 e
68
18 anos, podendo causar artrite e inflamação do coração, com de mortalidade é alta. A contaminação dá-se pela inalação ou
danos às valvas cardíacas. A contaminação dá-se pelas vias ingestão de grande quantidade de esporos, geralmente presen-
respiratórias, por inalação de partículas contaminadas por tes no solo. Como prevenção deve-se evitar contato com locais
saliva ou secreção nasal de portadores da bactéria. A aplicação contaminados, em geral pastos onde morreram animais com a
de antibióticos em pessoas com infecção de garganta pelo doença. O tratamento é feito com antibióticos específicos.
estreptococo é usada como prevenção.
Coqueluche
Gangrena gasosa Causada por Bordetella pertussis, afeta principalmente
Gangrena é a morte de tecidos pela interrupção do suprimen- crianças. Os primeiros sintomas assemelham-se aos de um
to sanguíneo, causada, por exemplo, por um ferimento. Subs- resfriado. Em seguida sobrevém uma fase de tosse intensa,
tâncias liberadas pelos tecidos mortos servem de alimento decorrente de as secreções bacterianas imobilizarem os cílios
a diversas bactérias, entre elas Clostridium perfringens, que da traqueia, impedindo a eliminação de muco. A tosse é a
produz gás e leva ao inchaço dos tecidos. Toxinas liberadas por tentativa do organismo de eliminar o muco acumulado nas
essa bactéria destroem progressivamente os tecidos e a doen- vias respiratórias. A recuperação é lenta e pode levar meses.
ça espalha-se; quando não tratada, é sempre letal. Adquire- A contaminação dá-se pela inalação de bactérias eliminadas
-se a bactéria por contaminação de ferimentos necrosados durante a tosse de pessoas infectadas. A prevenção é feita
com esporos bacterianos presentes no solo. Previne-se pela pela vacinação, aos dois meses de idade. O tratamento em-
limpeza adequada de ferimentos e tratamento preventivo prega antibióticos específicos.
com antibióticos específicos. Uma vez instalada a bactéria, é
necessária a remoção cirúrgica do tecido necrosado, muitas Difteria (ou crupe)
vezes por amputação do membro afetado. É causada pela bactéria Corynebacterium diphtheriae. Inicial-
mente ocorrem dor de garganta e febre, seguidas de mal-estar
Peste
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
69
70
1. Qual dos termos é utilizado para indicar que um vírus 13. Observe o diagrama a seguir, que representa um
só se multiplica no interior de uma célula viva? cladograma dos grandes grupos de seres vivos.
2. Como se denomina a porção de membrana plas-
BACTERIA ARCHAEA EUKARYA
mática que envolve certos tipos de vírus?
(Eubactérias) (Arqueobactérias) (Eucariotos)
3. Qual é a denominação do conjunto formado pelo
adilson secco
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
d) injetar na pessoa antibióticos específicos contra a) O nome científico da bactéria está escrito
doenças virais. de acordo com as normas da nomenclatura
científica?
10. Moléculas de DNA circulares que podem ou não es- b) Levando em conta o que foi apresentado no
tar presentes em células procarióticas e geralmente capítulo, você concorda com a afirmação “Bac-
contêm genes para resistência a antibióticos são téria boa é bactéria morta”? Suponha que você
denominadas desejasse enviar suas críticas e sugestões aos
a) clamídias. responsáveis pelo texto da clínica, a fim de
b) cromossomos. contribuir para melhorar a qualidade de seus
serviços. Escreva uma carta objetiva aos edi-
c) nucleoides. tores da página da clínica de gastrenterologia,
d) plasmídios. justificando suas sugestões.
71
4. (Uerj) A alternativa que apresenta uma propriedade caixa-d’água 248 1.689 1.014
comum a todos os vírus é recipiente natural,
Unidade B • Vírus, bactérias, algas, protozoários e fungos
5. (Fuvest-SP) Os bacteriófagos são constituídos por De acordo com essa pesquisa, o alvo inicial para a
uma molécula de DNA envolta em uma cápsula de redução mais rápida dos focos do mosquito vetor da
proteína. Existem diversas espécies, que diferem dengue nesse município deveria ser constituído por
entre si quanto ao DNA e às proteínas constituin- a) pneus e caixas-d’água.
tes da cápsula. Os cientistas conseguem construir b) tambores, tanques e depósitos de barro.
partículas virais ativas com DNA de uma espécie
c) vasos de plantas, poços e cisternas.
e cápsula de outra. Em um experimento, foi pro-
duzido um vírus contendo DNA do bacteriófago T2 d) materiais de construção e peças de carro.
e cápsula do bacteriófago T4. Pode-se prever que a e) garrafas, latas e plásticos.
descendência desse vírus terá
a) cápsula de T4 e DNA de T2. 9. (FUA-AM) Além do cromossomo, algumas bactérias
contêm um pequeno DNA circular extracromossô-
b) cápsula de T2 e DNA de T4.
mico denominado
c) cápsula e DNA, ambos de T2. a) Z DNA. d) DNA linear.
d) cápsula e DNA, ambos de T4. b) Plasmídio. e) P DNA.
e) mistura de cápsulas e DNA de T2 e de T4. c) B DNA.
72
adilson secco
Atualmente, fazem parte do calendário oficial: BCG
(tuberculose), hepatite B, poliomielite, Hib (menin- 27,2%
11,8%
gite), febre amarela (áreas endêmicas), tríplice viral Circulatórias
e tríplice bacteriana.” 11,5% 9,6%
Respiratórias
Folha de S.Paulo, p. C4, 27 ago. 2004. 4,5% Digestivas 4,7%
13,2%
2,7% Câncer
As vacinas tríplice viral e tríplice bacteriana são Causas externas 12,9%
2,6%
administradas para evitar, respectivamente, as
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2002
seguintes doenças:
(MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de informação sobre a Mortalidade – ENSP/Fiocruz)
a) rubéola, leptospirose e sífilis / gonorreia, saram-
po e tétano. No período considerado no diagrama, deixaram de ser
b) gripe, sarampo e coqueluche / botulismo, sífilis predominantes, como causas de morte, as doenças
e rubéola. a) infecto-parasitárias, eliminadas pelo êxodo
rural que ocorreu entre 1930 e 1940.
c) sarampo, difteria e cólera / tétano, rubéola e
coqueluche. b) infecto-parasitárias, reduzidas por maior
saneamento básico, vacinas e antibióticos.
d) gripe, herpes e coqueluche / cólera, botulismo e
sífilis. c) digestivas, combatidas pelas vacinas, vermífu-
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
80
O medicamento atua por inibição da síntese
proteica bacteriana. 70
Essa afirmação permite concluir que o antibiótico 60
adilson secco
não conseguem obter as proteínas que seriam O gráfico acima representa, de forma genérica, o que
produzidas pelas bactérias que parasitam. acontece com a quantidade de fármaco no organismo
humano ao longo do tempo.
e) interrompe a produção de proteína das bacté-
rias causadoras da doença, o que impede sua F. D. Fuchs e Cher I. Wannma. Farmacologia Clínica.
multiplicação pelo bloqueio de funções vitais. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1992. p. 40.
A meia-vida do antibiótico amoxicilina é de 1 hora.
13. (Enem) Algumas doenças que, durante várias Assim, se uma dose desse antibiótico for injetada às
12 h em um paciente, o percentual dessa dose que
décadas do século XX, foram responsáveis pelas
restará em seu organismo às 13 h 30 min será apro-
maiores percentagens das mortes no Brasil não
ximadamente de
são mais significativas neste início do século XXI.
a) 10%. d) 35%.
No entanto, aumentou o percentual de mortali-
dade devida a outras doenças, conforme se pode b) 15%. e) 50%.
observar no diagrama: c) 25%.
73
15. (Cesumar-PR) Doenças como a tuberculose, a aids Um resultado positivo no teste permite tratamen-
e a dengue têm sido motivo de preocupação para to precoce e é importante para que as mulheres
a população de modo geral. possam evitar a transmissão posterior do HPV. O
A tuberculose causou a morte de milhares de pes- gráfico a seguir mostra a incidência de três tipos
soas entre 1890 e 1930 e ainda continua contami- de câncer em mulheres de países ricos e pobres.
nando a população e preocupando as autoridades
médicas. Outro fato preocupante é que o microrga- 450
adilson secco
nismo causador da tuberculose já apresenta varie- Países ricos
74
Capítulo
Algas, protozoários
3 e fungos
Micrografia do protozoário ciliado parasita Trichodina
sp., ao microscópio eletrônico de varredura. Esse
organismo vive na pele, nas brânquias e em membranas
mucosas de peixes. Note sua forma discoide com
inúmeros cílios em uma das faces. (colorizada
artificialmente; aumento q 3.0003).
Eye of Science/Science
Photo Library/Latinstock
As primeiras classificações
dividiam o mundo vivo em animais
e vegetais, mas logo se descobriu
que muitos organismos não se
enquadravam nessas categorias.
Desde então, os cientistas
discutem a criação de novos
reinos para classificar mais
adequadamente os seres vivos.
Neste capítulo estudaremos
as principais características
de algas e protozoários
(reino Protoctista), e dos
fungos (reino Fungi).
3.1 Algas
O grupo das algas reúne seres
fotossintetizantes que vão desde
formas microscópicas até organismos
de grande porte, que lembram plantas.
3.2 Protozoários
Protozoários são seres unicelulares
heterotróficos de tamanho
microscópico. A maioria das
espécies é de vida livre; algumas
espécies habitam o interior do
corpo de animais, em muitos casos
provocando doenças.
3.3 Fungos
Fungos são seres heterotróficos,
unicelulares ou pluricelulares, que
vivem da decomposição de matéria
orgânica; juntamente com as
bactérias, são os maiores recicladores
da natureza. Algumas espécies
são parasitas e causam doenças
em plantas e animais.
75
• dinoflagelado
• maré vermelha
• carofícea
• zoosporia
• alternância de
gerações
• fitoplâncton
um polissacarídio
de silício)
Euglenophyta Carotenos Sem parede
Unicelular a, b Paramilo
(euglenoides) e xantofilas celular
Dinophyta Carotenos, peridina
Unicelular a, c Amido e óleos Celulose
(dinoflagelados) e diversas xantofilas
Celulose e
Charophyta Carotenos
Multicelular a, b Amido carbonato de
(carofíceas) e xantofilas
cálcio
Figura 3.2 Representantes de algas verdes (clorofíceas). A. Rocha submersa recoberta por Ulva
lactuca, alga verde multicelular macroscópica, comum no litoral do Brasil. B. Micrografia de alga
verde unicelular de água doce Micrasterias sp. ao microscópio óptico; cada organismo unicelular
é formado por duas semicélulas, unidas pela região central (aumento . 3003).
77
Norbert Wu/Minden/Latinstock
A B
78
plasmática com o meio. Isso confere a muitas espécies de diatomáceas um aspecto iridescente
e brilhante. A iridescência das carapaças silicosas, associada aos pigmentos presentes, dá a
essas algas diferentes colorações, que vão do dourado ao marrom-esverdeado.
As principais substâncias de reserva das diatomáceas são óleos, que em certas espécies con-
tribuem para facilitar a flutuação. Muitas diatomáceas flutuam nos mares e lagos, representando
parcela importante do fitoplâncton. Outras produzem um muco aderente e vivem presas à superfície
de organismos marinhos, como outras algas, moluscos, crustáceos, tartarugas, baleias etc.
Em certas regiões do fundo marinho as carapaças de diatomáceas acumularam-se ao longo
de milhares de anos, formando camadas rochosas compactas conhecidas como terras de dia-
tomáceas (ou diatomito). As terras de diatomáceas são utilizadas desde a Antiguidade como
material de construção, geralmente misturadas à cal. Alguns exemplos de obras construídas
com terras de diatomáceas e que ainda se conservam são os aquedutos de Roma, os portos de
Alexandria e o canal de Suez.
79
fabio coLombini
dotadas de carapaça C
de sílica (colorizada
artificialmente; aumento
1.1003). B. Casa feita
com tijolos de diatomito, no
Ceará. C. Tijolo recortado
de um depósito de
diatomito constituído por
carapaças compactadas
de diatomáceas.
de algas douradas
(crisofíceas) coloniais os organismos para a luz, o que é importante nas espécies que fazem fotossíntese.
do gênero Dinobryon A maioria dos euglenoides possui também uma estrutura intracelular denominada
(aumento 1403).
vacúolo contrátil, responsável pela eliminação periódica do excesso de água que
entra na célula por osmose. (Fig. 3.8)
invaginação
A
aLEX rakoSy, cuStom mEDicaL
Stock Photo/SciEncE Photo
Library/LatinStock
B
Película
ocelo
Vacúolo
contrátil
Núcleo
carLoS EStEvão Simonka
80
Flagelo
à multiplicação exagerada dessas algas perto do litoral.
Nessas situações, as substâncias tóxicas liberadas pe-
los dinoflagelados causam a morte de peixes e outros
Parede
animais marinhos, eventualmente podendo intoxicar celular
pessoas. (Fig. 3.9)
Ocelo
30 m
B
Figura 3.9 A. Representação esquemática de Noctiluca sp., que causa a bioluminescência marinha.
(Cores-fantasia.) B. Fenômeno da maré vermelha em Baja California, no México,
em 2000, provocado pelo aumento populacional explosivo de dinoflagelados.
81
Reprodução assexuada
Nas algas unicelulares, o mecanismo básico de reprodução é a divi-
são binária. Euglenoides, por exemplo, duplicam o núcleo e os flagelos e
EUGLENOIDE diatomácEa
Plasto
carlos estevão simonka
Valva
Unidade B • Vírus, bactérias, algas, protozoários e fungos
menor
Valva
maior
Vacúolo Núcleo
Figura 3.11
Representação
esquemática da divisão
binária de um euglenoide
e de uma diatomácea
(ao lado). Nesta última,
após a divisão, há
reconstituição sempre
da parte menor da
carapaça, de modo que Indivíduo
uma das diatomáceas- menor
-filhas sempre é
ligeiramente menor que
a outra. (Imagens sem
escala, cores-fantasia.)
82
A
levi ciobotarin
Zoósporo
Fixação e
desenvolvimento
do zoósporo
Formação dos
zoósporos Figura 3.12 A. Representação
esquemática da reprodução
assexuada da alga verde
filamentosa Ulothrix sp., que
forma células flageladas
chamadas zoósporos. (Imagens
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução sexuada
A reprodução sexuada das algas envolve, como nos outros seres eucarióticos, a fusão de dois
gametas haploides. A célula originada dessa fusão é o zigoto, diploide. Em alguma fase do ciclo
de vida ocorre meiose, processo que reduz à metade o número cromossômico das células-filhas.
Dada a diversidade das algas, há grande variedade de processos sexuais, dos quais veremos
apenas alguns exemplos.
Em algas unicelulares como Chlamydomonas sp., cada organismo comporta-se como um ga-
meta. Dois indivíduos sexualmente maduros, haploides, fundem-se e originam uma célula diploide
(zigoto) contida no interior de um envoltório, o zigósporo. A célula do zigósporo passa por meiose
e origina quatro células haploides. Depois de se libertar do envoltório, cada uma das células
haploides origina um novo organismo, que na maturidade poderá reproduzir-se assexuadamente
por meio de zoosporia ou repetir o ciclo sexuado. (Fig. 3.13)
União Fusão
A
levi ciobotarin
Pascal Goetgheluck/Science
sexual Photo Library/Latinstock
citoplasmática B
Capítulo 3 • Algas, protozoários e fungos
Fusão dos
Organismos adultos
núcleos e
haploides (n)
formação
do zigoto (2n)
Tubo de
conjugação
Filamento
feminino
Zigoto (2n)
R!
MEIOSE
Zigoto
Figura 3.14 A. Representação esquemática da reprodução sexuada por conjugação na alga verde
Spirogyra sp. (Imagens sem escala, cores-fantasia.) B. Micrografia de filamentos de Spirogyra sp.
ao microscópio óptico (aumento . 5003). Note, no centro, células em conjugação.
Alternância de gerações
No ciclo de vida de muitas algas multicelulares alternam-se gerações de indivíduos haploides
(n) e diploides (2n), fenômeno denominado alternância de gerações.
A alga verde Ulva sp., por exemplo, apresenta dois tipos de talo, muito semelhantes na apa-
rência, mas formados ou por células diploides ou por células haploides. Talos diploides são cha-
Unidade B • Vírus, bactérias, algas, protozoários e fungos
mados de esporófitos; algumas de suas células se diferenciam e passam por meiose, originando
células haploides, os esporos. Estes se libertam do talo diploide que os originou e, ao encontrar
condições adequadas, germinam e produzem talos haploides, os gametófitos. Na maturidade,
algumas células do gametófito se diferenciam: seu núcleo multiplica-se por mitose, originando
dezenas de gametas haploides flagelados. Estes se libertam dos gametófitos e se fundem dois
a dois, produzindo zigotos diploides. O desenvolvimento do zigoto dá origem a um talo diploide,
que na maturidade repetirá o ciclo. (Fig. 3.15)
84
Andrew J. Martinez/
Photoresearchers/Latinstock
Gametófitos haploides B
Esporos haploides (13 cromossomos)
Células onde (13 cromossomos)
ocorreu meiose
R!
DETALHE DO
ESPORÓFITO
DETALHE DOS
GAMETÓFITOS
1
( do tamanho natural).
10
o2
Zooplâncton
(consumidores primários)
Fitoplâncton
(produtores)
Bactérias e fungos
(decompositores) Capítulo 3 • Algas, protozoários e fungos
Peixe
(consumidor
secundário)
tubarão
(consumidor
terciário)
Figura 3.16 A vida nos mares depende de seres fotossintetizantes do fitoplâncton. Além de servir de alimento, direta
ou indiretamente, para todos os organismos marinhos, bactérias fotossintetizantes e algas do fitoplâncton produzem,
por fotossíntese, grande parte do gás oxigênio da atmosfera terrestre. Os decompositores alimentam-se dos restos
de todos os outros seres vivos. (Imagens sem escala, cores-fantasia.)
85
imagEbrokEr/aLamy/othEr imagES
bioPhoto aSSociatES/
PhotorESEarchErS/LatinStock
A B
Lâmina
Estipe
apressório
fabio coLombini
espécie marinha comestível conhecida na culinária D
japonesa como kombu. O talo dessa alga tem
uma região ramificada especializada na fixação, e
lâminas achatadas que lembram folhas. À esquerda,
representação esquemática dessa alga. (Imagem sem
escala, cores-fantasia.) B. A alga marinha vermelha
Porphyra sp., chamada de nori pelos japoneses,
tem cor violeta-escuro. Depois de seca e prensada,
transforma-se em folhas com as quais se prepara o
sushi, prato típico da culinária japonesa (C e D).
Unidade B • Vírus, bactérias, algas, protozoários e fungos
mEDicaL-on-LinE/aLamy/othEr imagES
A B
Figura 3.18 A. Ágar purificado, extraído de algas vermelhas. B. Placas de Petri com gel de ágar
e nutrientes, utilizadas para o cultivo de bactérias. Os pontos claros sobre o gel da placa são
1
colônias de bactéria ( do tamanho natural).
3
86
87
A Núcleos
Ilustrações: carlos estevão simonka
M. I. Walker/Photoresearchers/
Latinstock
B
Vacúolo
contrátil
Carapaça
(testa)
Pseudópodes
Certas espécies de ameba vivem no corpo humano sem causar prejuízo, em uma relação que
os biólogos chamam de comensalismo. Exemplos de amebas comensais humanas são Entamoeba
gengivalis, que vive na boca, e Entamoeba coli, que vive no intestino. No entanto, a Entamoeba
Unidade B • Vírus, bactérias, algas, protozoários e fungos
88
Blickwinkel/Alamy/Other Images
Partícula A
capturada
Vacúolo
digestório
carlos estevão simonka
Vacúolo
contrátil
Steve Gschmeissner/
Science Photo Library/Latinstock
B
Núcleo
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Pseudópodes
filamentosos
(axópodes)
Figura 3.20 Representantes do filo Actinopoda. A ilustração mostra um heliozoário, em que o esqueleto interno
é recoberto por uma fina camada de citoplasma. Note os pseudópodes filamentosos (axópodes) capturando
alimento. (Imagem sem escala, cores-fantasia.) A. Micrografia do heliozoário de água doce Acanthocystis
turfacea ao microscópio óptico (aumento 5003). B. Micrografia do radiolário Acanthomera sp., que faz parte
do plâncton marinho, ao microscópio eletrônico de varredura (colorizada artificialmente; aumento . 4003).
por carapaças dos foraminíferos do gênero Nummulites, hoje extintos, mas muito comuns nos
mares há 100 milhões de anos. (Fig. 3.21)
A presença de determinados foraminíferos está
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89
conhecido por Flagellata, compreende os flagelados, protozoários que se locomovem por meio
de estruturas filamentosas em forma de chicote, os flagelos. Geralmente as espécies possuem
um ou dois flagelos, porém algumas podem apresentar dezenas deles.
Classificar os protozoários pela presença ou não de flagelo não é um bom critério para re-
fletir o parentesco evolutivo do grupo. Provavelmente, o flagelo surgiu de forma independente
em diversos grupos de organismos e não constitui uma apomorfia que define um grupo monofi-
lético. Em palavras mais simples, o flagelo não é uma novidade evolutiva exclusiva desse grupo
de protozoários, ocorrendo também em organismos classificados como algas (euglenoides e
dinoflagelados). Por isso, alguns sistemas modernos de classificação distribuem os protozoários
flagelados em diferentes filos e mesmo em reinos diferentes.
Flagelados podem viver no meio aquático, no mar e em água doce. Alguns têm vida livre, uti-
lizando os flagelos para nadar e capturar alimentos por fagocitose; outros são sésseis, vivem
fixados a um substrato e com o movimento do flagelo criam correntes líquidas, que atraem
partículas de alimento. Entre os flagelados livre-natantes encontrados em água doce podem-se
citar os gêneros Bodo e Streblomastix; entre os sésseis, destacam-se os coanoflagelados dos
gêneros Monosiga e Codosiga. Estes últimos apresentam em torno do flagelo uma espécie de
funil que auxilia a captura de alimento.
90
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A B
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 3.23 Micrografias ao microscópio óptico de representantes do filo Zoomastigophora. A. Trichonympha sp.,
flagelado que vive no intestino dos cupins, auxiliando-os na digestão da madeira (colorizada artificialmente; aumento
. 3103). B. Peranema trichophorum, flagelado de água doce em que a base do flagelo é rígida (aumento . 3203).
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A C
91
Reprodução assexuada
A maioria dos protozoários de vida livre reproduz-se assexuadamente por divisão binária.
A célula cresce até determinado tamanho e divide-se ao meio, originando dois novos indivíduos.
(Fig. 3.25)
carlos estevão simonka
1 Os protozoários parasitas causam diversas doenças pessoas. Entre as formas de prevenção destaca-se a
tar de sangue e de células do hospedeiro. Esses locais inchaço do fígado e do baço, lesões na pele e anemia
podem inflamar-se e romper-se, liberando sangue, são alguns dos sintomas da doença que, em certos
muco e milhares de amebas, muitas já na forma de casos, pode levar à morte. Os cães também são
cistos. Ao serem eliminados com as fezes, os cistos atacados por esse protozoário. A parasitose é trans-
podem contaminar água e alimentos (como verduras, mitida pela picada do mosquito Lutzomyia longipal-
por exemplo) e ser transmitidos a outras pessoas. pis, conhecido popularmente como mosquito-palha,
3 Apenas uma em cada dez pessoas infectadas por ou maruim.
E. histolytica apresenta sintomas da doença. Estes são 7 A leishmaniose tegumentar (ou úlcera de bauru)
geralmente brandos, como diarreias e dor de estômago; é uma doença parasitária de pele e mucosas causada
em casos mais graves, ocorrem diarreias com sangue pela Leishmania brasiliensis. Na pele, a doença ma-
e a pessoa pode tornar-se anêmica. A amebíase leva, nifesta-se pela formação de feridas ulcerosas, com
frequentemente, ao desenvolvimento de infecções bordas elevadas e fundo granuloso. Nas mucosas
secundárias bacterianas no intestino. Atualmente há (cavidade nasal, faringe ou laringe), a leishmaniose
medicamentos eficazes contra a amebíase, que devem destrói tecidos e, em casos graves, pode perfurar
ser ministrados após o diagnóstico da parasitose por meio o septo nasal e produzir lesões deformantes. A
de exame microscópico das fezes do doente. transmissão da leishmaniose tegumentar ocorre
4 Para prevenir a disseminação da amebíase são pela picada de mosquitos do gênero Lutzomyia
necessárias atitudes por parte do poder público e das (mosquito-palha).
92
Reprodução sexuada
Quase todas as espécies de protozoários apresentam processos sexuais. No tipo mais comum
de reprodução sexuada, dois indivíduos de sexos diferentes fundem-se e formam um zigoto, que
posteriormente passa por meiose e reconstitui novos indivíduos, geneticamente recombinados.
O paramécio apresenta um processo sexual elaborado, denominado conjugação, que, apesar de
não resultar diretamente em aumento do número de indivíduos, é tradicionalmente considerado
um tipo de reprodução sexuada, pois promove a recombinação genética entre indivíduos.
Nos esporozoários geralmente há alternância entre formas sexuadas e assexuadas. Muitas
espécies são capazes de produzir esporos resistentes, que infestam o hospedeiro. Os agentes
causadores da malária (gênero Plasmodium) são exemplos de protozoários com esse tipo de ciclo
reprodutivo, como veremos mais adiante.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Liberação da ameba
no intestino Hemácias
ingeridas pela
ameba
Núcleos
Formas vegetativas
multiplicam-se e lesam INTESTINO
ingestão de vasos sanguíneos
cistos de intestinais
ameba
LaVaR aS mÃoS com FERVER a áGUa LaVaR BEm NÃo dEFEcaR EVitaR coNtamiNaÇÃo
FREQUÊNcia a SER BEBida oS aLimENtoS ao aR LiVRE da áGUa doS PoÇoS
93
A B
Unidade B • Vírus, bactérias, algas, protozoários e fungos
PRotEGER
PoRtaS E
JaNELaS
com tELaS
anDy crumP, tDr, Who/SciEncE
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94
SincLair StammErS/SciEncE
Photo Library/LatinStock
B
A C
Núcleo
Flagelo
Figura 3.28 A. Barbeiro, ou chupança (Triatoma viticipes), inseto transmissor da doença de Chagas (aumento 1,53).
B. Representação esquemática do protozoário Trypanosoma cruzi, agente causador da doença de Chagas. (Imagem sem
escala, cores-fantasia.) C. Micrografia de um corte de coração humano ao microscópio óptico, mostrando um “ninho” do
protozoário Trypanosoma cruzi (área ovoide no centro da foto). Os protozoários são os pontos escuros; nessa fase de seu
ciclo de vida, não apresentam flagelos (aumento 1.0003).
A primeira providência, evidentemente, é evitar a dium (plasmódio) é um dos mais conhecidos por causar a
picada do barbeiro, o agente transmissor (ou vetor) malária, doença que já afligia os antigos egípcios há cerca
da doença. Como esses insetos se escondem nas de 5 mil anos e que ainda hoje produz cerca de 250 milhões
frestas das casas de barro ou de pau a pique, a cons- de novos casos por ano em todo o mundo. Calcula-se
trução de casas de alvenaria, sem esconderijos para que 900 mil morram anualmente devido a essa doença.
o barbeiro, ajuda a combater a doença de Chagas. No Brasil, a cada ano ocorrem cerca de 500 mil casos de
Outra medida preventiva importante é a instalação malária, quase todos restritos à região amazônica.
de cortinados de filó sobre as camas e de telas de 16 Há quatro espécies do gênero Plasmodium que cau-
proteção em portas e janelas. (Fig. 3.29) sam malária, todas transmitidas pela picada de fêmeas
Fezes
Local da
contaminadas com
picada
tripanossomos
Barbeiro transmissor
Fibras
(Triatoma infestans)
musculares
do coração
PRotEGER PoRtaS E
JaNELaS com tELaS iLuStraçõES: carLoS EStEvão Simonka
Ninho de
Capítulo 3 • Algas, protozoários e fungos
tripanossomos
Hemácias
UtiLiZaR iNSEticidaS
tripanossomo
no sangue
95
GUIA DE LEITURA
1. Leia o primeiro parágrafo, que conceitua proto- termo “forma de resistência”. O que ele significa?
Unidade B • Vírus, bactérias, algas, protozoários e fungos
96
do plasmódio Gametas
nas hemácias
Gametócito
Gameta
Hemácia Ruptura de hemácias
acompanhada de
febre
Fecundação
R!
Esporozoítos invadem Meiose
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Parede
USAR INSETICIDAS
O mosquito transmite estomacal
esporozoítos por meio de
sua secreção salivar
PREVENÇÃO DA MALÁRIA
a observação da Figura 3.28 e a leitura da legenda. 13. O parágrafo 17 refere-se à forma infestante do pro-
Resuma as informações apresentadas. tozoário que penetra no corpo e origina a malária.
9. Leia o parágrafo 11, que complementa informa- Qual é ela e onde se aloja depois de penetrar no
ções sobre a transmissão do Trypanosoma cruzi e organismo hospedeiro?
apresenta o conceito de “reservatório natural” do 14. Leia o parágrafo 18. Em que forma o plasmódio é li-
parasita. O que isso quer dizer? berado para o sangue da pessoa e onde se aloja?
Capítulo 3 • Algas, protozoários e fungos
10. Leia os parágrafos 12, 13 e 14, que relacionam os 15. Os parágrafos 19 e 20 explicam por que a malária
sintomas, tratamento e transmissão da doença de se caracteriza por apresentar picos de elevação da
Chagas. Analise a Figura 3.28, complementando as temperatura corporal, acompanhada de mal-estar.
informações do texto. Utilize-as para continuar o
Resuma essa explicação em um texto curto.
preenchimento de sua tabela.
11. Os parágrafos de 15 a 23 referem-se à malária. Leia 16. O parágrafo 21 contém informações que permitem
inicialmente o parágrafo 15 e calcule, com base ape- compreender como se completa o ciclo de vida do pa-
nas nos dados do parágrafo, com que porcentagem rasita. Resuma essas informações em um esquema.
o Brasil contribui nas mortes anuais do mundo 17. Os parágrafos 22 e 23 completam o quadro, apre-
devidas à malária. sentando formas de tratamento e de prevenção da
12. Leia o parágrafo 16 e responda: a) quais são as qua- malária. Analise a Figura 3.30, que apresenta o ciclo
tro espécies de protozoário causadoras de malária? de vida do protozoário causador da malária e formas
b) qual delas não ocorre no Brasil? Qual é o gênero do de prevenir a parasitose. Utilize essas informações
inseto transmissor? para concluir o preenchimento de sua tabela.
97
Fabio Colombini
R-P/Kino
A B C
Unidade B • Vírus, bactérias, algas, protozoários e fungos
adilson secco
de núcleos. Hifas septadas têm paredes cH2oH H HNcocH3 cH2oH
transversais regulares (septos) que delimitam
H oH cH2oH H oH
compartimentos celulares com um ou dois nú-
o HH o o H
cleos, dependendo do estágio do ciclo sexual oH H H oH H celulose
(veja o item sobre a reprodução dos fungos). H oH H H
H o HH o
Os septos são incompletos, apresentando um o o
orifício central, denominado poro septal, que cH2oH H oH cH2oH
põe em comunicação direta os citoplasmas
Figura 3.32 Quitina e celulose têm estruturas químicas
de células vizinhas. semelhantes; a principal diferença é que a quitina
A parede das hifas é formada basicamente contém o elemento nitrogênio em sua composição
(note os componentes da fórmula destacados em
pelo polissacarídio quitina. Curiosamente, essa roxo). As propriedades desses dois polissacarídios
substância também está presente no reino Ani- também são parecidas: ambos são resistentes,
mal, constituindo o esqueleto dos artrópodes flexíveis e insolúveis em água.
(crustáceos, insetos, aranhas etc.). (Fig. 3.32)
O emaranhado de hifas que constitui o micélio pode crescer indefinidamente, enquanto houver
alimento disponível e condições favoráveis. O crescimento das hifas ocorre apenas nas extremida-
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
des; nas regiões mais antigas, o conteúdo citoplasmático pode até mesmo desaparecer. Durante
o crescimento do fungo, a massa citoplasmática prolonga as hifas, fluindo para as extremidades
dos compartimentos em construção e, eventualmente, abandonando os mais antigos.
Nos processos de reprodução sexuada de muitas espécies de fungo, formam-se hifas especiais
que crescem em agrupamentos compactos, constituindo os corpos de frutificação, dos quais
cogumelos e orelhas-de-pau são os exemplos mais conhecidos. (Fig. 3.33)
Os fungos têm nutrição heterotrófica por absorção e utilizam grande variedade de fontes or-
gânicas como alimento. A maioria das espécies nutre-se de restos de outros organismos, sendo
chamadas de espécies sapróbias. Outras espécies nutrem-se de matéria orgânica viva e são
parasitas de animais e plantas, causando-lhes doenças.
Esporo Cogumelo
A B Septo
ilustrações: cecília iwashita
Hifa
Hifas compactadas
Poro septal
no cogumelo
Solo
Hifas septadas
monocarióticas
Núcleos Núcleo
Micélio
(conjunto de hifas)
C
Fabio Colombini
Hifa
cenocítica
Fabio Colombini
Figura 3.34 Fotografias de tomate e
de arroz com bolor. Bolores são fungos
sapróbios que decompõem materiais
orgânicos, sendo responsáveis pela
deterioração de diversos alimentos.
Há espécies de fungo que vivem em associações harmoniosas com outros organismos, trocando
benefícios, como em liquens e micorrizas. Os liquens são formados pela associação cooperativa de
fungos e algas, ou de fungos e cianobactérias. A “crosta” que forma o líquen contém três camadas:
as duas externas são constituídas pelas hifas do fungo unidas e compactadas; a mais interna é
formada pelas células das algas e por hifas do fungo frouxamente entrelaçadas. As hifas estão
intimamente associadas às células das algas, das quais extraem substâncias nutritivas.
Tradicionalmente, os biólogos têm considerado a associação entre fungos e algas no líquen
B
Hifas do fungo
100