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Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão

(Luiz Antônio Marcuschi)

A obra intitulada “ Análise de gêneros e Produção” está dividida em três partes e


o presente trabalho se detém na análise apenas da primeira parte “Processos de
Produção Textual”. O capítulo em análise está subdividido em tópicos onde o autor
discorre sobre o que é língua como objeto de estudo e de ensino; o que é texto e
linguística do texto; relaciona o texto, o discurso e os gêneros e enfoca a textualidade
apresentando e avaliando os critérios de textualização desenvolvidos por Breaugrande
& Dressler. O autor defende dentro de uma perspectiva cognitiva
sociointeracionista o ensino da língua materna através de textos, segundo ele “Todo uso
autêntico da língua é feito em textos produzidos por sujeitos históricos e sociais...” (p.
23). Neste trabalho, denominado muitas vezes de “curso” pelo autor, Marcuschi
posiciona-se a favor do texto como forma natural de acesso à língua. Ele destaca o papel
da escola no que concerne ao ensino da língua materna, visto que o aluno que se insere
na escola já sabe a língua. Então como e para quê ensinar a língua? Assim, ele aponta a
Linguística do texto como ponto de partida para um ensino/estudo da língua no contexto
dos seus usos, da compreensão, produção e análise textual. Porém, isso implica numa
formação linguística mais sólida por parte dos professores. Ele ainda destaca que a
gramática deve sim, ser ensinada/estudada desde que seja usada como ferramenta que
permita uma melhor atuação nos atos de comunicação. Como orientam os PCNs (2000)
Ensino Médio que “O estudo da gramática passa a ser uma estratégia para a
compreensão/interpretação/produção de textos...” (p. 18). Numa abordagem cognitiva
sociointerativa o autor ressalta que a função mais importante da língua é “... a de inserir
os indivíduos em contextos socio-históricos e permitir que se entendam.” (p.67).
Comparando a visão de Marcuschi com a de Koch (2009) em seu trabalho
“Desvendando os Segredos do Texto”, é possível observar que ambos tratam a língua
como um ‘lugar de interação’ e o sujeito é tratado como um ‘sujeito ativo’, aquele que
se determina na relação com o outro. O autor oferece uma visão panorâmica da
Linguística textual (L.T.) e seus objetivos de estudos que foram se definindo ao longo
dos anos. Expõe uma proposta de trabalho com o ensino da língua na perspectiva da
L.T. que, segundo o próprio “... assume uma importância decisiva no ensino de língua e
na montagem de manuais que buscam estudar textos” (p.75). Ele ainda destaca que a
L.T. não trata a língua como autônoma, mas, considera as situações reais de usos. Ele
expõe e amplia as definições de textos, entre elas Beaugrande (1981) em que o texto é
um “evento comunicativo” Marcuschi diz que o texto é uma “unidade máxima de
funcionamento da língua” e cita alguns problemas encontrados nas formas como o texto
é trabalhado nas escolas apontando algumas possíveis soluções. Segundo ele “Quando
se ensina alguém a lidar com textos (...). Ensinam-se operações discursivas de produção
de sentidos dentro de uma dada cultura...” (p.90). Marcuschi faz uma abordagem
exaustiva sobre o que é texto e textualidade cita o gênero como ‘uma ponte’ entre o
discurso e o texto e diz que o gênero influencia na seleção da linguagem no discurso
pretendido, embora não se detenha à classificação dos gêneros textuais ou um estudo
mais profundo sobre o assunto, deixando isso para os demais capítulos da obra.
Marcuschi mostra o texto e suas relações co-textuais e contextuais explicadas a partir
dos critérios de textualização desenvolvidos por Beaugrande & Dressler (1981).
Ele faz críticas e também esclarece as relações de importância exercidas por tais
critérios, deixando claro, neste sentido, que a textualidade depende muito mais de
aspectos cognitivos, históricos e sociais do que sintáticos ou ortográficos (estruturais).
Não podemos entender um texto considerando apenas a linguagem, apesar de, o
domínio da língua ser fundamental para tanto, contudo, ele defende que “... um texto se
dá numa complexa relação interativa entre a linguagem, a cultura e os sujeitos históricos
que operam nesse sentido.” (p. 93). Porém, o texto deve obedecer aos critérios de
textualização, a saber: coesão e coerência; situacionalidade; aceitabilidade;
intencionalidade; informatividade e intertextualidade; embora o autor não os tome como
princípios de formação textual e, sim, como critérios de acesso à construção de sentidos.
Ao longo deste capítulo Marcuschi cita vários trabalhos de autores e linguistas diversos,
teóricos ou não e algumas leituras imprescindíveis ao aprofundamento do assunto
abordado. Em um trabalho bem embasado ele instiga à investigação, motivando o leitor
a ampliar essa leitura que é indicada para todos os curiosos e amantes da língua,
estudantes, pesquisadores que se fascinam diante do fenômeno da linguagem. Embora
este capítulo não contenha um detalhamento de como podemos usar efetivamente o
texto como instrumento para o ensino da língua, o autor nos aponta novos caminhos aos
professores que desejam dar continuidade a sua formação e desenvolver melhor suas
atividades.

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