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ESTUDO DE CASO DE ALUNO COM DIAGNÓSTICO DE

TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM SEM OUTRA


ESPECIFICAÇÃO1

CASE STUDY OF A STUDENT WITH LEARNING DISORDER WITHOUT OTHER


ESPECIFICATIONS

Kellys Regina Rodio Saucedo2


Sidneia Lopes dos Santos3
Maria Ester Rodrigues4

Resumo: O presente artigo tem por objetivo Abstract: The purpose of this article is to
relatar um trabalho de observação de aluno report a study consisting in observing a
com diagnóstico de transtorno de student diagnosed with learning disorder, as
aprendizagem, como resultado de uma a result of a practice activity connected to
atividade prática vinculada a disciplina de the graduation course for the training of
graduação para formação de futuros future educationalists in educational
pedagogos em psicologia educacional e psychology and learning disorder, aiming at
problemas de aprendizagem, e subsídio dos better assist the students to identify learning
alunos na identificação de transtorno de disorders as well as to prepare a proposal of
aprendizagem e elaboração de uma proposta pedagogical intervention.
de intervenção pedagógica.
Keywords: Learning disorders with no
Palavras-Chave: Transtorno de additional specification, Education
aprendizagem sem outra especificação, Psychology, Teachers’ training.
psicologia da educação, formação de
professores.

profissionais da saúde e da educação buscam


Introdução precisar o diagnóstico de transtornos de
aprendizagem, bem como as formas de
Sabe-se hoje que um cérebro com intervenção. Entretanto, ainda existem
estrutura normal, boas condições funcionais grandes dificuldades para chegarmos às
e neuroquímica adequada, não é sempre respostas dos motivos do fracasso escolar,
garantia de um aprendizado normal. Muitos porque as causas estão relacionadas a um
conjunto complexo de fatores para além dos

1
Trabalho originalmente realizado como prática da disciplina Psicologia da Educação II, ofertada na grade
curricular da segunda série de um curso de Pedagogia de instituição pública de ensino da região oeste do PR, no
ano de 2011.
Paper originally written as a practice of Psychology of Education II, from the 2nd grade curriculum of Pedagogy
at a public college from West Paraná State, in 2011.
2
Acadêmica do curso de Pedagogia, Centro de Educação, Comunicação e Artes da Unioeste – Campus Cascavel
–PR e.mail: gildone@hotmail.it
Academician of Pedagogy course at Centro de Educação, Comunicação e Artes of Unioeste University –
Campus Cascavel – Paraná State
3
Acadêmica do curso de Pedagogia, Centro de Educação, Comunicação e Artes da Unioeste - Campus Cascavel
– PR e.mail: sydyneya1@gmail.com
Academician of Pedagogy course at Centro de Educação, Comunicação e Artes of Unioeste University –
Campus Cascavel – Paraná State
4
Professor Adjunto IV do Centro de Educação, Comunicação e Artes da Unioeste - Campus Cascavel - PR,
mariaester.rodrigues@gmail.com Professor at Centro de Educação, Comunicação e Artes of Unioeste University
– Campus Cascavel – Paraná State, mariaester.rodrigues@gmail.com

Espaço Plural • Ano XIII • Nº 26 • 1º Semestre 2012 • p. 110-121 • ISSN 1518-4196


ESTUDO DE CASO DE ALUNO COM DIAGNÓSTICO DE TRANSTORNO DE
APRENDIZAGEM SEM OUTRA ESPECIFICAÇÃO

problemas exclusivamente relacionados ao fundamental. Alguns alunos são rotulados


Sistema Nervoso Central, entre eles: como caso perdido; o que não é verdade,
questões psicológicas, sociais, ambientais, pois todos têm possibilidades de aprender
culturais, pedagógicas, metodológicas etc. mais e melhor, dadas as condições de
Em geral, “[...] as dificuldades ensino-aprendizagem necessárias,
acadêmicas apresentadas pelas crianças respeitadas as necessidades individuais.
tendem a ser atribuídas a elas próprias: Na observação do aluno, o professor
motivação [...], dificuldades para aprender a tem função destacada, pois é ele quem
ler e escrever, bem como manter atenção nas primeiro percebe e registra as dificuldades
atividades escolares”5. É fato que tais de aprendizagem do aluno bem como,
características individuais interferem no solicita a avaliação de profissionais
aprendizado, mas também as características especializados. O diagnóstico precoce do
da escola, a abordagem pedagógica e os transtorno de aprendizagem possibilita aos
métodos de avaliação, entre outras, podem professores e aos pais planejarem programas
influenciar o quadro descrito, gerando um de reforço escolar, intervenções clínica e
problema de aprendizagem ou mesmo pedagógica para superar as dificuldades e
maximizando/mantendo um problema pré promover o desenvolvimento escolar da
existente. criança6.
As condições de ensino fornecidas Bastos (2006) 7 e Smith & Strick
em muitas escolas e as estratégias de (2001)8 concordam que o aprendizado da
avaliação utilizadas estão longe do que leitura, da escrita e da matemática são
poderia ser considerado adequado. De fundamentais para a participação do
acordo com Pereira, Marinotti e Luna (2004) indivíduo na sociedade atual, assinalada pela
as escolas não estão preparadas para lidar competitividade e pelas crescentes
com as crianças que não acompanham o exigências em habilidades e competências.
mesmo ritmo das outras. Compreender e Bryant e Bradley9 definiram crianças
desenvolver novos métodos e instrumentos disléxicas como aquelas que apresentam
de ensino não significa sempre a obtenção problemas ao tentar ler e escrever, mesmo
de resultados positivos, porque as sendo inteligentes, rápidas e atentas. Tal
particularidades de cada indivíduo resultam definição não difere muito da convenção
em respostas diferentes aos procedimentos atual apresentada no Manual Diagnóstico e
de intervenção, tornando a questão mais Estatístico de Transtornos Mentais
complexa. (Associação Americana de Psiquiatria, DSM
No entanto, testar novos
procedimentos de ensino é fundamental,
6
uma vez que ensinar de modo diferente a um MORAIS, Antonio M. P. Distúrbios da
Aprendizagem: uma abordagem psicopedagógica. 12ª
aluno que não aprende de modo usual é Ed. São Paulo: Edicon, 2006.
7
BASTOS, José Alexandre. Discalculia: transtorno
específico da habilidade em matemática. In: ROTTA,
5
PEREIRA, Maria E.; MARINOTTI, Mirian e Newra, OHWEILER, Lygia e RIESGO, Rudimar dos
LUNA, Sergio V. “O compromisso do professor com S. Transtornos da Aprendizagem. Porto Alegre:
a aprendizagem do aluno: contribuições da Análise Artmed, 2006.
8
do Comportamento”. In: HUBNER, Maria Martha C SMITH, Corine; STRICK, Lisa. Dificuldades de
e MARINOTTI, Mirian (orgs.). Análise do Aprendizagem de A a Z. Porto Alegre: Artmed
Comportamento para a Educação: contribuições Editora, 2001.
9
recentes. 1ª Ed. Santo André: ESETec Editores BRYANT, P.E; BRADLEY, L. Problemas de
Associados, 2004, p. 307 leitura na criança. Porto Alegre: Artmed, 1987.

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PERSPECTIVAS

IV, 1994)10, na qual a inteligência pobre e os erros são frequentes, como a


preservada associada a dificuldades inversão de palavras e omissões na
excessivas para a idade, escolaridade são acentuação gráfica. Escrever não é uma
critérios de padronização do diagnóstico. atividade fácil, Mundó e Badia (2000) 12
O DSM IV define o transtorno da refletem sobre a mistura de ansiedade e
leitura por três critérios, quais sejam: entusiasmo causada por uma página em
Critério A - Existência de um rendimento da branco, exigindo a escrita. Para Mundó e
leitura, correção, velocidade ou Badia13, a concepção de Bakthin do uso da
compreensão, medida em testes expressão escrita envolve o diálogo, porque
padronizados e individualmente o texto é sempre a resposta para outros
administrados, substancialmente abaixo do textos e está inserido em um emaranhado
esperado para a idade cronológica, comunicativo. Quando alguém escreve
inteligência medida e escolaridade do dialoga.
indivíduo; Critério B - a perturbação Como mencionado por Bastos14
interfere significativamente no ambiente anteriormente, o aprendizado da leitura, da
escolar e nas atividades diárias; Critério C - escrita e da matemática são essenciais para o
na presença de déficit sensorial, as indivíduo (entre inúmeros outros autores).
dificuldades excedem aquelas habitualmente Gregori e Granell em Monereo e Solè, ao
associadas. estudarem estratégias para o ensino e a
As causas da dislexia, nome mais avaliação em matemática descobriram
antigo para transtorno de leitura, mas ainda pesquisas envolvendo diversos países.
em utilização, podem ser genéticas ou Neles “[...] mais de 50% dos alunos e
adquiridas e tem repercussão no alunas que terminam a escolaridade
comportamento do indivíduo, não sendo obrigatória não alcançam níveis de
raras as queixas de ansiedade, agressão, conhecimento básico que lhes permita, por
depressão, hiperatividade e/ou desatenção exemplo, achar a média de várias
indicadas pelos pais e professores nos magnitudes ou resolver problemas”15.
registros clínicos. Os estudos de Giacheti e Obviamente tal estatística não se refere à
Capellini11 enfatizam a possível origem existência de transtornos de aprendizagem
congênita do transtorno de leitura que, em massa, mas indicam problemas de
conforme já mencionado, acomete crianças aprendizagem provavelmente causados por
com potencial intelectual normal, sem outros determinantes como método de
déficits sensoriais, mas que não conseguem
12
adquirir ou desempenhar de modo MUNDÓ, Anna Camps e BADIA, Montserrat C.
“As estratégias de ensino-aprendizagem na escrita”.
satisfatório a leitura e mesmo a escrita. In: MONEREO, Carles e SOLÉ. Isabel. O
Quando a leitura é insuficiente, a assessoramento psicopedagógico: uma perspectiva
profissional e construtivista. Trad. Beatriz Affonso
escrita em decorrência também costuma ser
Neves. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
13
MUNDÓ, Anna Camps e BADIA, Montserrat C.,
10
Associação Americana de Psiquiatria. Manual op. cit., 2000.
14
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. BASTOS, José Alexandre. op. cit. 2006.
15
DSM IV. 4 ª ed. Washington, D.C., 1994. Disponível GREGORI, Elena B. e GRANELL, Carme G. “As
em: estratégias de ensino e de avaliação matemática”. In:
http://www.psicologia.pt/instrumentos/dsm_cid/dsm. MONEREO, Carles e SOLÈ, Isabel. O
php. Acesso em: 15 maio de 2012. assessoramento psicopedagógico: uma perspectiva
11
GIACHETI, C.M.; CAPELLINI, S.A. Distúrbios profissional e construtivista. Trad. Beatriz Affonso
de aprendizagem: avaliação e programas de Neves. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000, p.
remediação. São Paulo: Frontis, 2000. 289.

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APRENDIZAGEM SEM OUTRA ESPECIFICAÇÃO

ensino, formação de professores, presença Na análise dos Transtornos de


ou ausência de habilidades pré-requisito nos Aprendizagem presentes na revisão
alunos etc. bibliográfica efetuada, os autores são
De acordo com a Academia unânimes na defesa do diagnóstico e
Americana de Psiquiatria o transtorno de tratamento precoce, sendo fundamental a
aprendizagem de matemática é uma parceria entre os profissionais que atuam no
dificuldade em aprender matemática diagnóstico e tratamento da criança, pais e
caracterizada por falhas para aquisição de professores, para evitar situações que
proficiência a despeito da condição retardem o progresso ou gerem expectativas
emocional, da motivação e da inteligência. O maiores daquelas que a criança possa
Manual Diagnóstico e Estatístico de superar. Em alguns casos os alunos e mesmo
Transtornos Mentais16, conforme seus pais precisam de suporte psicológico18.
mencionado anteriormente, somente O presente trabalho tem como
caracteriza o transtorno combinado da objetivo principal o relato da observação de
leitura, da expressão escrita e da matemática um aluno, com o respectivo registro e
quando os resultados após aplicação de análise dos dados coletados, com vistas à
testes padronizados estão substancialmente identificação de aspectos contidos no
abaixo do esperado e interferem diagnóstico já efetuado por profissionais
significativamente no desempenho escolar especializados (Transtorno de
ou nas atividades da vida diária que Aprendizagem sem outra especificação) e
requerem habilidades de leitura, matemática elaboração de uma proposta intervenção
e escrita, tal como já mencionado para o pedagógico. Trata-se de um trabalho
transtorno de aprendizagem da leitura (com desenvolvido num contexto formativo de
especificação). formação de professores em psicologia da
O Transtorno de Aprendizagem Sem educação num curso de pedagogia em
Outra Especificação consiste no transtorno universidade pública do oeste do Paraná.
que não satisfaz os critérios para qualquer Tem ainda como foco visualizar como se
Transtorno de Aprendizagem Específico, apresenta um caso de Transtornos de
podendo incluir combinação de problemas Aprendizagem Sem Outra Especificação,
nas três áreas (leitura, matemática e incluindo problemas nas três áreas do
expressão escrita) que, juntos, interferem conhecimento: leitura, matemática e
substancialmente no rendimento escolar, expressão escrita, em função do diagnóstico
embora o desempenho nos testes de cada recebido oficialmente pelo aluno observado.
habilidade isolada não atenda os três
critérios já mencionados, especialmente o Metodologia
critério A, qual seja, que a dificuldade nas
três áreas esteja acentuadamente abaixo do O primeiro contato foi estabelecido
nível esperado para a idade cronológica, com a Direção da Escola Estadual por uma
inteligência medida e escolaridade
17
apropriada à idade do indivíduo . 18
Conforme os autores: ROTTA, Newra T. e
PEDROSO, Fleming Salvador. “Transtornos da
Linguagem”. In: ROTTA, Newra, OHWEILER,
Lygia e RIESGO, Rudimar dos S. Transtornos da
16
Associação Americana de Psiquiatria, DSM IV, Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2006;
1994. MUNDÓ e BADIA, op.cit., 2000; GREGORI e
17
Idem. GRANELL, op.cit., 2000; SMITH, op.cit., 2001.

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das acadêmicas que já havia trabalhado dados a respeito das dificuldades e


como professora na instituição. O fato de a problemas de comportamento e de
acadêmica ser conhecida dos alunos, dos relacionamento por parte do aluno.
funcionários e da equipe pedagógica, O caso acompanhado foi composto
facilitou a realização da pesquisa. por observação dirigida do aluno, de
A diretora disponibilizou a entrada materiais produzidos por esse, tais como:
das acadêmicas, comprometendo-se em cadernos, desenhos, além de observação e
cooperar com as atividades, conduzindo-as a registro em classe, análise do
classe e apresentando-as aos alunos, encaminhamento para avaliação e do
explicando serem alunas da universidade conteúdo avaliativo, preenchimento de
que realizariam uma atividade formativa e fichas de observação dirigida e realização de
colaborativa com a escola. entrevistas semiestruturadas com professores
O interesse pelo aluno surgiu das e equipe pedagógica.
próprias dificuldades da acadêmica, ex- As observações em sala de aula
professora, em trabalhar com o aluno em foram realizadas em oito sessões de 55
sala de aula, quando foi sua professora no (cinquenta e cinco) minutos. O aluno e o
ano anterior. Além disso, era de seu professor eram observados constantemente e
conhecimento a existência de as anotações cursivas envolviam os fatos
encaminhamento anterior do aluno para ocorridos em sala de aula, todos
avaliação psicopedagógica no CRAPE considerados de relevância para
(Centro Regional de Apoio Pedagógico compreensão das queixas anteriormente
Especializado). analisadas na ficha de acompanhamento.
O aluno denominado doravante Y,
repetente do 6º ano, estudava no período Resultados
vespertino em um Colégio Estadual de
Ensino Fundamental e Médio, localizado na O Relatório de Avaliação
região oeste de Cascavel – PR. Psicopedagógica, datado de 22 de fevereiro
No período de observação o aluno de 2011, informou o diagnóstico baseado
tinha 12 anos completos, sendo do sexo nos critérios do Manual Diagnóstico e
masculino, estatura, peso e nível Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-
socioeconômico baixo. Foram consultados IV, como sendo de Transtorno de
os registros individuais de acompanhamento Aprendizagem Sem Outra Especificação,
da equipe pedagógica e foram anotadas as com apresentação de defasagens nas três
falas dos professores a respeito dos alunos. principais áreas acadêmicas: leitura,
A observação do aluno aconteceu durante matemática e expressão escrita.
todo o mês de agosto do ano de dois mil e O aluno era e é atendido pela
onze, em dias alternados. professora da Sala de Recursos, mas
Após esse primeiro contato as apresentando baixa frequência. Os
acadêmicas entregaram uma ficha de professores entrevistados desconheciam o
acompanhamento para professores e equipe diagnóstico do aluno e muitos insistiram na
pedagógica19, com finalidade de colher tese de que o aluno não realizava as
atividades por ser relapso.
19
Maiores informações quaisquer dos instrumentos Pelos registros individuais de
utilizados na pesquisa podem ser obtidas pelo contato acompanhamento da equipe pedagógica
direto com os autores.

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anotamos queixas dos professores acerca de O plano de intervenção sugerido


dificuldades para ler, para escrever e pelas avaliadoras inclui matrícula do aluno
diversas passagens relatando atos agressivos em Sala de Recursos e a realização de
contra colegas. Psicoterapia, com solicitação de atendimento
O aluno é proveniente de escola por Psicóloga do CRAS. Entretanto, o plano
publica municipal, onde cursou de 1ª à 4ª foi realizado parcialmente, com a efetivação
série, entre 2006 e 2009. Não existem da matrícula em Sala de Recursos seguida de
registros de reprovação, avaliação ou comparecimento do aluno decrescente, além
participação em salas de apoio nesse período da não realização de atendimento
anterior. psicológico, pois o documento foi arquivado
Ingressou na atual escola em 2010, na secretaria da escola, aparentemente sem o
reprovando em 2011. No mês de setembro conhecimento da família e da equipe
de 2010 foi encaminhado para a primeira pedagógica.
avaliação psicopedagógica, realizada pelo Um fato curioso a ser relatado é que,
CRAPE (Centro Regional de Apoio apesar do diagnóstico oficial e da avaliação
Pedagógico Especializado). O processo dos professores as médias do aluno na escola
resultou em um documento emitido pela municipal variavam entre 6.0 e 8.2 pontos,
mesma instituição com data de 20 de tendo menor expressão avaliativa em língua
dezembro de 2010, encaminhando o aluno Y portuguesa e maior em matemática.
para atendimento psicológico no CRAS Em 2010 o aluno freqüentou a Sala
(Centro de Referência de Assistência de Apoio de Matemática, permanecendo
Social). nove meses no programa. O registro do
Posteriormente foi encaminhado para regente, do professor de apoio e da equipe
segunda avaliação, sendo que o Relatório de pedagógica informa o diagnóstico posterior
Avaliação Psicopedagógica, assinado por aos conteúdos trabalhados, considerando o
professora especializada e psicóloga, datado nível de conhecimento de um aluno
de 22 de fevereiro de 2011 informou o concluinte das séries iniciais (1ª a 4ª série),
diagnóstico referenciado em resultados entre eles: números e álgebra; grandezas e
acadêmicos e nos critérios do Manual medidas, geometria e tratamento de
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos informação; no qual consta apenas
Mentais – DSM-IV, com a seguinte apropriação parcial dos conteúdos. O
conclusão: relatório é datado de 22 de dezembro de
2010.
[...] o aluno apresenta características No início de 2011 o aluno iniciou a
compatíveis com Transtornos de Sala de Recursos, no contraturno. A
Aprendizagem Sem Outra Especificação,
isto é, apresenta problemas nas três áreas:
professora S. G. A. ao ser entrevistada
leitura, matemática e expressão escrita, explicou que havia assumido recentemente a
sendo que estas juntas estão interferindo turma e, portanto, teve pouco contato com o
de forma significativa no rendimento aluno. Porém, queixou-se da baixa
escolar20.
assiduidade deste, fato encontrado também
nos registros da Sala de Apoio21.

20 21
Relatório do Centro Regional de Apoio Pedagógico S.G.A. Professora da Sala de Recursos. Cascavel,
Especializado-CRAPE. Cascavel, NRE, 2011 (não 20 de junho de 2011. Entrevista cedida a SAUCEDO,
publicado). Kellys Regina Rodio (não publicado).

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A coordenadora pedagógica preguiçoso e desorganizado”, designações


informou que o aluno frequenta o Projeto que persistem mesmo agora com o
Eureka no mesmo horário do da Sala de diagnóstico, tenham sobrepujado a
Recursos. No ano anterior estabeleceu-se um verdadeira dificuldade do aluno. É como se
acordo entre coordenação pedagógica com a os sintomas falassem mais alto que a
coordenação do projeto: nos dias de apoio o problema, impedindo aos professores de
aluno era proibido de comparecer ao projeto, estabelecer um bom relacionamento com o
uma vez que prefere aquele às aulas de aluno, acentuando o comportamento de
apoio. A pedagoga da escola disse que, esquiva em realizar as tarefas por parte do
mesmo com o acordo, uma manhã ele foi até mesmo.
o projeto recusando-se a ir para a sala de A ficha de acompanhamento de
apoio na escola e, aparentemente num gesto 2010, além das dificuldades acadêmicas
de resistência, também não fez as atividades também traz problemas de comportamento,
alternativas sugeridas pela professora do como ocorrências constantes de agressão aos
projeto. colegas. O aluno, talvez pela baixa estatura
No primeiro semestre de 2010 a ficha (1,26m), atira objetos nos colegas em
de acompanhamento do aluno trouxe a resposta as provocações e insultos verbais.
seguinte descrição: “Indisciplinado. Não faz Apesar da existência de dois novos registros
atividades, é faltoso; frequentou Sala de no 1° semestre de 2011, as queixas de
Apoio poucas vezes, não consegue concluir agressão diminuíram. Um fator positivo
atividades.22 pode estar relacionado à nova situação do
Na mesma ficha existe o registro de aluno na sala, pois é repetente e em relação à
alguns professores reclamando da idade é o mais velho, também conhecendo
desorganização do caderno, ressaltando que os professores. No time de futebol do
ele “mistura” as atividades e as matérias. colégio ganhou destaque e lidera como
Ressaltamos uma observação da professora capitão.
de língua portuguesa sobre o aluno: “[...] De acordo com a professora de
muita dificuldade de leitura, escrita, Educação física o aluno Y não apresenta
inclusive expressão oral” 23, no mês de abril dificuldades em suas aulas práticas, mas por
de 2010. Entretanto, apesar de o registro vezes deixa incompletas as atividades
aparentemente verificar o problema, a teóricas, o que ela entende por “preguiça”.
providência foi tomada tardiamente, uma Mencionou que “Y” é o capitão do time e é
vez que nem indicação de apoio em língua ele quem forma os times e coordena os
portuguesa e nem o encaminhamento para jogos. O fato foi registrado durante as
avaliação aconteceram antes de setembro, observações em sala. O aluno conversou
quando constatada em conselho de classe a discretamente durante duas aulas seguidas
potencial reprovação do aluno. de matemática, com um colega. Ao ser
Há uma probabilidade grande de que interrogado por uma das observadoras sobre
o rótulo e o estigma de “[...] indisciplinado, o assunto, respondeu: “[...] o jogo do
intervalo”, se referindo à atividade lúdica
22
ESCOLA ESTADUAL M. Q. - E. F. M. Ficha de que desenvolve com os colegas. Nesse
Acompanhamento Individual do Aluno, 2010 (não ínterim, permaneceu alheio as explicações
publicado).
23
ESCOLA ESTADUAL M. Q. - E. F. M. Ficha de do professor e não copiou as atividades
Acompanhamento Individual do Aluno, 2010 (não
publicado).

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propostas, passando desapercebido pelo Alguns dos professores entrevistados,


professor. entre eles o de língua portuguesa, inglês e
A mãe nunca compareceu a escola e matemática, são unânimes em dizer que o
o pai, das vezes que se apresentou, em duas aluno é, segundo eles, preguiçoso, não tendo
ocasiões aparentava estar alcoolizado. O pai nenhuma dificuldade específica que o
explicou que a mãe não vive com as impeça de progredir. Questionados sobre o
crianças, deixou-o com os filhos pequenos e diagnóstico do CRAPE, também afirmaram
que Y tem uma irmã menor. Ele sai cedo unanimemente desconhecer o resultado.
para trabalhar e solicita a Y que siga para Sabiam apenas que freqüentava a Sala de
escola depois de haver entregue a irmã Recursos, mas não sabiam o motivo. Ao
menor aos cuidados dos monitores receberem a informação, dois deles
educacionais no CMEI (Centro Municipal de duvidaram dos resultados.
Educação Infantil). Justifica que volta tarde O aluno, durante as aulas, conversa
para casa e não sabe se o filho realmente bastante com os colegas que se sentam
freqüentou as aulas: “[...] eu mando vir, se próximos a ele, mas a posição inclinada
ele vem não sei, para mim é difícil tenho que sobre o caderno e a fala baixa faz com que
lavar, passar, cozinhar e trabalhar para passe despercebido em relação aos demais
cuidar dos dois”, diálogo informado pela alunos que transitam pela sala ou falam alto.
pedagoga em 2010. Seu destaque no futebol provoca reações de
Há alguns meses o pai casou-se admiração nos colegas. Quando Y está
novamente. Uma das observadoras, diante desenvolvendo uma atividade é
da informação, conversou com o aluno e este freqüentemente interpelado pelos demais
se referiu à nova figura familiar com o alunos que, inclusive, lhe oferecem objetos
termo: “boa-drasta”, revelando o aparente (papel, borracha de dinheiro) para atirar e
bom relacionamento com a madrasta e provocar desordem na classe, fato registrado
demonstrando interesse e alegria em falar durante as observações.
sobre o assunto. É importante dizer que nas A professora da Sala de Recursos
conversas anteriores houve oposição por analisou os desenhos de Y e notou que a
parte do aluno em relação às observadoras, figura humana é sempre ilustrada com os
parecendo delas “desconfiar”. braços escondidos. A escola não conseguiu
A ficha de acompanhamento escolar grandes avanços com o aluno e ou com a
não registra a intervenção sugerida no família dele; mesmo os professores que
Relatório de Avaliação Psicopedagógica dedicaram maior atenção, aproximando-se
quanto ao encaminhamento para psicóloga e do aluno, são pessimistas em relação à
psicoterapia, indicando que o pai existência de progresso no tocante ao
provavelmente desconhece esta necessidade. desempenho escolar e motivação. A
Os registros de comparecimento do pai estão professora de geografia S.F. registrou
relacionados aos problemas de verbalmente:
aprendizagem, ao comportamento do aluno e
as faltas freqüentes a Sala de Recursos. Em Quando você permanece em pé ao lado do
nenhum momento é mencionada a aluno, ele copia lentamente as atividades,
necessidade de psicoterapia como parte devido à necessidade de interagir com a
turma, preciso me afastar e, quando olho
integrante do plano de intervenção do Y deixou de lado o caderno e não
CRAPE. terminou a atividade. A insistência muitas

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vezes o faz resistir abandonando o escrita, dificultando o acompanhamento das


exercício, mesmo que seja sob a forma de
atividades curriculares.
elogios24.
O resultado do Relatório emitido
pelo CRAPE, assinado por duas aplicadoras
Em geral os professores que especializadas, registra parecer psicológico
obtiveram algum resultado com o aluno de que o aluno teria características
afirmaram ser necessário interagir compatíveis com a descrição do Manual
constantemente durante a aula, conferindo o Diagnóstico e Estatístico de Doenças
caderno, aproximando-se dele durante a Mentais – (AMERICAN PSYCHIATRIC
cópia de atividades, incentivando a ASSOCIATION, 1994)25, para Transtorno
participação oral e, mesmo assim encontram de Aprendizagem Sem Outra Especificação,
dificuldade, mas afirmam desconhecer a com resultados acadêmicos acentuadamente
causa. abaixo do esperado para seu nível mental e
Quanto ao foco de interesse do aluno escolaridade nas três áreas: leitura,
os professores não obtiveram êxito em matemática e expressão escrita. Em outras
descobrir, com exceção da professora de palavras, o laudo conclui por existência de
Educação Física, disciplina onde o aluno discrepância acentuada entre potencial
realiza todas as atividades práticas (exceto as intelectual e desempenho acadêmico.
teóricas). As atividades teóricas, de modo No entanto as notas do aluno variam
geral, não são realizadas a contento pelo de 6.0 a 8.2 o que, a rigor, não indica um
aluno em todas as disciplinas. desempenho acadêmico acentuadamente
abaixo do esperado. Nesse sentido
Discussão observamos ou uma discrepância entre
atendimento do critério A do DSM IV e o
Os resultados obtidos durante a desempenho escolar do aluno quando da
observação revelam um aluno com realização do diagnóstico; ou, ainda, como
defasagens acentuadas de aprendizagem, uma possível “benevolência” da escola e dos
comportamento não adaptado às regras professores ao fornecer notas ao aluno, que
escolares e ausência de hábitos de estudo. acabam por não indicar um desempenho real
Tal fato é observado na avaliação do acentuadamente abaixo do esperado,
CRAPE e na observação in loco do aluno e revelado especificamente pelas notas.
de seus materiais, como a organização do A defasagem gera no aluno ausência
caderno do aluno. de motivação em executar as tarefas e outras
De acordo com o laudo do CRAPE, o manifestações de desinteresse, apatia e
aspecto intelectual (nível de inteligência) desmotivação quanto às atividades escolares.
apresenta desempenho na média esperada Tais comportamentos, em geral, são
para sua idade e nível escolar, mas quanto às respostas às condições oferecidas no espaço
áreas de desenvolvimento dos conteúdos escolar aliada às características do aluno.
básicos de matemática e língua portuguesa Elaborar atividades diferenciadas e criar
são notórias as defasagens na expressão ambientes estimulantes de aprendizagem é

24 25
S.F. Professora de Geografia. Cascavel, 20 de AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION
junho de 2011. Entrevista cedida a SAUCEDO, (1994). Diagnostic and statistical manual of mental
Kellys Regina Rodio (não publicada). health disorders (4th ed). Washington DC: Author.

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ESTUDO DE CASO DE ALUNO COM DIAGNÓSTICO DE TRANSTORNO DE
APRENDIZAGEM SEM OUTRA ESPECIFICAÇÃO

função dos professores, segundo autores fator limitador da promoção de hábitos de


como Pereira, Marinotti e Luna26. estudos adequados. Isso pode ter ampliado
As dificuldades em se adequar às as dificuldades do aluno e, muito
regras escolares são menos recorrentes nas provavelmente, apresenta influência no
aulas de Educação Física realizadas na seguimento das regras escolares, já que ele
quadra. O interesse pela prática de esportes, mesmo as define em casa, pelo fato do pai
gerado pela sua habilidade nas mesmas, em permanecer fora do dia todo.
específico o futebol, são pontos fortes do A pesquisadora Jaíde Regra27 explica
aluno. Nessas aulas os colegas respondem ser comum em queixas acerca de
bem a liderança do aluno Y, como a dificuldades relacionadas ao rendimento
aceitação das divisões de time sugeridas por escolar a constatação de hábitos inadequados
ele. de estudo. Considera ainda ser difícil obter
O bom relacionamento com os bons resultados quando os alunos não
colegas nem sempre é mantido na sala. apresentam um conjunto de pré-requisitos
Quando existe um conflito a reação do aluno comportamentais como a prévia aquisição de
é atirar objetos, o que pode ser justificável hábitos de estudo, sendo necessário ensinar
pela sua baixa estatura, o que dificultaria o aluno tais pré-requisitos, geralmente
confrontos físicos diretos. As queixas de proporcionados pela família, tais como
desentendimento com os colegas reduziram- hábitos de estudo, limites, aprendizado de
se substancialmente após reprovação. Uma “seguir regras” e iniciar ou completar o
das possibilidades para a redução de tais processo formal da responsabilidade de
queixas é a diferença de idade entre o aluno estudar adequadamente, para só assim
observado e os colegas, bem como a atingir o objetivo de bom rendimento
aprovação do grupo em relação à suas escolar.
habilidades esportivas, que o definiu por A atitude de esquiva do aluno frente
capitão do time. às atividades acadêmicas fixou o rótulo de
Na área familiar pouco se sabe sobre indisciplinado – registrado na ficha do aluno
a mãe biológica. Em relação ao tempo de – pelos professores e atrasou o diagnóstico
separação, por exemplo, não existem precoce, findando na reprovação. O fracasso
registros na ficha e, apesar de morar próxima escolar aumentou a desmotivação, o
dos filhos não mantém vínculo ou comportamento de fuga/esquiva diante dos
relacionamento com os mesmos. O pai estudos e resultou na manutenção da
demonstrou preocupação com o filho e, frequência dos comportamentos
segundo a direção escolar é excessivamente inadequados, dificultando o relacionamento
exigente, delegando ao menino obrigações professor-aluno. O caráter aversivo dos
de adulto como a mencionada estudos foi mantido pelo insucesso escolar.
responsabilidade pela irmã mais jovem. Para encaminhar um plano de
A falta da figura materna e a rotina intervenção seria preciso identificar os
do pai que o dificulta acompanhar comportamentos pré-requisito ou auxiliares
diariamente o filho, além da na prevenção e no tratamento das ações
responsabilidade pelos cuidados da irmã
27
pequena e de si mesmo podem ter sido um REGRA, Jaíde A. G. Aprender a estudar. In:
HUBNER, Maria Martha C e MARINOTTI, Mirian
(orgs.). Análise do Comportamento para a Educação:
26
PEREIRA, Maria E.; MARINOTTI, Mirian e contribuições recentes. 1ª Ed. Santo André: ESETec
LUNA, Sergio V., op. cit., 2004. Editores Associados, 2004.

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DOSSIÊ FORMAÇÃO DOCENTE NAS LICENCIATURAS: CONTRIBUIÇÕES E
PERSPECTIVAS

definidas como inapropriadas ao ambiente papel do professor na política de inclusão.


escolar. Um exemplo é o comportamento de Quanto maior for à relevância dos problemas
seguir regras, que deve ser ensinado em que o aluno traz para a escola, mais elevada
tenra idade. Quando isso não acontece deve se torna a função que a escola tem e do
ser meta prioritária no plano de intervenção ensino para superar seus déficits e os dos
terapêutico e pedagógico28. seus alunos30.
É importante o olhar diferenciado
para o aluno uma vez que a desaprovação e Sugestão de intervenção
as queixas de indisciplina e desinteresse,
além do julgamento de alguém com As especialistas responsáveis pela
potencial para fazer, mas se recusa a execução da Avaliação Psicopedagógica
executar, somente reforçaram os elaboraram, conforme já mencionado, um
comportamentos de esquiva do aluno e a plano de intervenção. No período de
ausência de motivação para estudar. observação, concluímos que o plano foi
A prática de esportes e a participação seguido parcialmente, por razões
no Projeto Eureka, atividades nas quais o desconhecidas.
aluno é bem sucedido, são fortes elementos a A proposta inicial, nesse caso, é para
serem considerados pelos professores que retomada e/ou encaminhamento das
poderão delas se utilizar para abordar temas sugestões indicadas, ou seja, a convocação
que despertem o interesse do aluno para as do responsável para informar a necessidade
outras disciplinas, além da Educação Física. do tratamento psicológico, e de que já se
É compreensível que alguns professores dispõe de Carta de Apresentação do Aluno
tenham dificuldades em trabalhar com endereçada ao CRAS no arquivo da
alunos que apresentem dificuldades secretaria escolar.
específicas de aprendizagem e de A escola, além disso, deve insistir na
comportamento. frequência do aluno à Sala de Recursos. A
O professor regularmente elabora seu possibilidade de um diálogo com a
plano de trabalho desconhecendo ou coordenadora do Projeto Eureka, como fez a
desconsiderando as dificuldades individuais pedagoga no ano anterior, pode inibir as
dos alunos e “[...] a escola organiza toda a faltas e melhorar a assiduidade do aluno.
atividade pedagógica, desde a elaboração do Sugerimos, ainda, a aproximação
currículo até o processo de avaliação, com com a madrasta do aluno, uma vez que ele se
base em um padrão de aluno típico das mostrou disponível a nova integrante da
camadas médias (...)”29. Além do família. O auxílio da psicoterapia e a
procedimento pedagógico, outros fatores de colaboração dos familiares contribuirão para
ordem burocrática, obviamente, podem a instalação do comportamento de seguir
engessar o sistema de ensino, como a própria regras e a aquisição de hábitos de estudo
imposição de que o plano de ensino seja adequados.
proposto antes de conhecer os alunos com os É bom lembrar a responsabilidade da
quais se irá trabalhar. escola quanto ao encaminhamento para
A mola propulsora para o avanço e o ajuda e orientação da família. A escola deve
desafio da profissão, é a compreensão do implantar um plano de estabelecimento de

28
REGRA, Jaíde A. G., op.cit., 2004.
29 30
REGRA, Jaíde A. G., op.cit., 2004, p. 15. REGRA, Jaíde A. G., op.cit., 2004.

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ESTUDO DE CASO DE ALUNO COM DIAGNÓSTICO DE TRANSTORNO DE
APRENDIZAGEM SEM OUTRA ESPECIFICAÇÃO

limites e de realização de tarefas condizentes


com as possibilidades do aluno, segundo sua
capacidade de atenção e, respeitando os
níveis de complexidade condizente com o
desenvolvimento do aluno31.
Um acervo bibliográfico já havia
sido disponibilizado pelas pedagogas da
escola, abordando temas como dislexia,
déficit de atenção e dificuldades de
aprendizagem; sendo assim, separamos mais
dois textos relevantes para inclusão no
acervo, um sobre o compromisso do
professor com a aprendizagem do aluno e o
outro sobre a importância de desenvolver
nas crianças hábitos de estudo adequados.
Foi apresentada, portanto, uma bibliografia
suplementar para compor a biblioteca
pedagógica sobre o transtorno de
aprendizagem diagnosticado no aluno.
Aos professores insistimos no
fornecimento ao aluno de reforço positivo e
na atenção individualizada, com aplicação
de conteúdos relacionados, sempre que
possível, à prática esportiva e elogiando
mesmo os pequenos progressos do aluno.
Também sugerimos a elaboração de provas e
atividades diferenciadas, considerando as
sérias defasagens em leitura, escrita e
matemática, apresentadas pelo aluno.

Artigo recebido em 12/07/2012


Artigo aceito em 17/10/2012

31
RODRIGUES, Maria E.; JUNGES, Marilene e
RIQUETTI, Izabel C. Observação e
acompanhamento de aluno com dificuldades de
aprendizagem e problemas de comportamento: O
caso G. Trabalho apresentado e publicado nos Anais
do II Simpósio Nacional de Educação e XXI Semana
Pedagogia, 2010.

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