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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DR.

JUIZ DE DIREITO DA 5º VARA


CRIMINAL DA COMARCA DE GOIÂNIA- GO

Recorrente: Ministério Público do Estado De Goiás


Recorridos: JOCLÉCIO SENHORILSON E OVILMAR CARREIRO
Autos do processo nº 20190003240

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por meio de sua


promotoria de justiça desta comarca seu, no uso de suas atribuições legais, não se
conformando, data vênia, com a respeitável decisão de fls. 00/00, proferida pelo Juiz
de Direito da 5ª vara criminal da comarca de Goiânia- GO, que nos autos da ação penal
nº. 20190003240, favorável aos réus rejeitaram em partes a denuncia e, em
consequência, julgou conter vícios na apuração dos crimes impostos aos réus,
imputando-lhes apenas o crime de furto qualificado vem, respeitosamente, perante
Vossa Excelência, com fundamento legal no artigo 581, inciso I, do Código de Processo
Penal, inconformado com a Decisão proferida nos presentes autos, em favor dos réus
pelo crime apontado na inicial acusatória, no processo nº. 20190003240, interpor o
presente Recurso em Sentido Estrito – art. 581, inciso I, CPP.

Requer o recebimento e o processamento do recurso ora interposto,


com a juntada das razões anexas, bem como que se proceda ao juízo de retratação
previsto no artigo 589 do Código de Processo Penal, pleiteando que seja recebida a
denúncia em remessa por translado em toda a sua estrutura para também seja
imputado os acusados o crime previsto na Lei de Drogas, em conjunto com o crime de
furto qualificado que foi imputado aos réus, conforme as razoes adiantes
apresentadas.
Assim não sendo, requer o processamento e o encaminhamento do
recurso com as razões inclusas ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado, cumprindo o
que rege os princípios do devido processo legal e da ampla defesa.

Neste termo,
Pede deferimento,
Goiânia, 03 de outubro de 2021.

MP

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE, DO EGRÉGIO TRIBUNAL


DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS.

Recorrente: Ministério Público do Estado de Goiás


Recorridos: JOCLÉCIO SENHORILSON E OVILMAR CARREIRO
Autos do processo nº 20190003240
Egrégio Tribunal, Colenda Câmara.

Exmo. Sr. Des. Relator,

Exmos. Srs. Desembargadores da colenda Câmara,

Digno Sr. Procurador de Justiça.


O Ministério Público de Goiás, já devidamente qualificado nos autos do
processo nº 20190003240, vem respeitosamente, perante a Vossa Excelência, por
meio de seu representante que ao final subscreve apresentar RAZÕES RECURSAIS EM
SENTIDO ESTRITO com cabimento de interposição previsto no Art.581, I, CPP, pelos
motivos de fatos e fundamentos jurídicos a seguir:

Trata-se de RESE interposto em face da r. decisão que rejeitou em parte a


denúncia em face dos aqui recorridos, quanto ao ilícito de tráfico de drogas, como
previsto no art. 33, da Lei de Drogas, com o que este Recorrente não se conforma e,
desde logo, requer a anulação ou a reforma para o integral recebimento da denúncia
em face dos Recorridos, também quanto ao imputado tráfico de drogas, porque
incursos nas sanções do artigo 33, caput, da Lei n.º 11.343/06, e artigo 155, §4º,
incisos I e IV, do Código Penal.

1. DOS FATOS

Colenda Câmara Criminal trata-se de recurso em sentido estrito em face da


referida decisão em que o Ministério Publico manifesta o interesse em recorrer da
referida decisão, onde os acusados foram abordados em via pública por policiais
militares, uma vez que preenchiam as características fornecidas pelas vítimas da
subtração, ocasião em que localizaram parte dos bens subtraídos no interior do
veículo. Não satisfeitos, os policiais militares se dirigiram à residência de um dos
autuados, JOCLÉCIO, local em que localizaram as doze porções de maconha.
Acontece que no momento do recebimento da denúncia, o juiz
simplesmente não acatou o crime referente á lei de drogas, recebendo a denuncia
apenas no tocante ao furto qualificado.

2. DOS PRESUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE:


Cabimento: O rol de hipóteses de cabimento do recurso em sentido estrito está
descrito no artigo 581 do Código de Processo Penal. O prazo para sua
interposição é de 5 dias, contados da intimação da decisão, salvo no caso de
decisão que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir, em que o prazo será
de 20 dias.

3. DO MÉRITO RECURSAL – MOTIVOS PARA ANULAÇÃO OU REFORMA.

Quanto ao mérito das razões recursais, manifesta o Ministério Público sua


irresignação com a decisão do Magistrado a quo, pois em que pese o Juízo da 5ª Vara
Criminal ter afirmado, em sua decisão, a inexistência de justa causa para permitir o
processamento da denúncia quanto ao crime de tráfico de drogas, sustentando o
argumento de que a ação da Polícia Militar foi exercida sem competência, ao realizar o
papel de Polícia Judiciária, uma vez que prolongou a abordagem e deu início a uma
investigação, já que se dirigiu à residência do recorrido, para buscar os produtos fruto
de roubo e ingressou na mesma sem autorização judicial, o Recorrente discorda de tal
entendimento.

Malgrado o fundamento utilizado pelo digno Juiz a quo, a respeitável decisão por
ele proferida merece reforma.

Como se observa dos elementos de informação colacionado aos autos, os


policiais militares, após receberem informações de que os autores dos furtos
praticados nas residências das vítimas estavam em um veículo..., de cor..., modelo...,
passaram a diligenciar e lograram êxito em localizar o referido carro.

Durante a abordagem dos recorridos foi encontrada em poder dos acusados


produtos fruto de roubo e em seguida, os policiais fizeram a busca veicular, logrando
êxito em apreender, no interior do carro, um simulacro de arma de fogo, tipo revólver,
uma mochila preta contendo o videogame da marca Playstation, com cabos, furtado
da vítima.

Ainda na abordagem, os militares perceberam que do veículo exalava um forte


cheiro de maconha, motivo pelo qual indagaram aos recorridos se havia droga no
interior do veículo, tendo eles negado, em diligência à casa do acusado onde
encontraram as drogas e balança de precisão.

Válido mencionar que, o crime de tráfico de drogas é de natureza permanente,


cuja consumação se protrai no tempo, logo, a prisão em flagrante poderá ocorrer a
qualquer tempo, enquanto a droga estiver acondicionada na residência, para difusão
ilícita.

Sobre o assunto, é o entendimento do Egrégio Tribunal de


Justiça do Estado de Goiás:

APELAÇÃO CRIMINAL. AMEAÇA. TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS.


POSSE IRREGULAR DE MUNIÇÃO DE ARMA DE FOGO. (1)
PRELIMINAR DE NULIDADE DA PROVA (DENÚNCIA ANÔNIMA
E VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO). NULIDADE NÃO VERIFICADA. 1.
Não há falar-se em nulidade da prova iniciada por denúncia
anônima, posto que na esfera criminal as investigações e
diligências policiais podem ser deflagradas a partir de denúncia
anônima, inexistindo ilegalidade quando a autoridade policial,
ao tomar conhecimento da possível prática de delitos, realiza
diligências na busca da verdade real, adotando outras medidas
sumárias, visando comprovar a veracidade dos fatos, como
ocorrido no caso em apreço. De igual modo, inexiste violação
de domicílio a macular a PROVA PRODUZIDA, SE O ACUSADO,
ORA APELANTE, ENCONTRAVA-SE EM SITUAÇÃO DE
FLAGRANTE AO SER DETIDO. REGISTRE-SE QUE O TRÁFICO DE
ENTORPECENTES E POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO,
POR SEREM CRIMES PERMANENTES, PROTRAI A SUA
CONSUMAÇÃO NO TEMPO, PERSISTINDO A SITUAÇÃO DE
FLAGRÂNCIA ENQUANTO A DROGA E ARMA SE MANTIVEREM
SOB O PODER DO AGENTE. (2) ABSOLVIÇÃO DO CRIME DE
TRÁFICO E POSSE DE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO.
FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO.
IMPOSSIBILIDADE. Impõe-se referendar o édito condenatório
quando o substrato probatório harmônico amealhado aos
autos, composto pelos elementos informativos e,
posteriormente, jurisdicionalizados, demonstra, de forma clara,
a materialidade e a autoria dos crimes de tráfico ilícito de
drogas e posse irregular de arma de fogo. REDUÇÃO DO VALOR
DA PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA. Considerando que a pena
corpórea foi aplicada próximo ao mínimo legal, e a pena
substitutiva de prestação pecuniária deve ser proporcional à
condição econômica do acusado, bem como guardar
congruência com a pena privativa de liberdade, vislumbro que
restou exacerbada a prestação pecuniária substitutiva da pena
aplicada, devendo ser redimensionada. RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO. (TJGO, APELACAO CRIMINAL 68081-
42.2017.8.09.0175, Rel. DES. CARMECY ROSA MARIA ALVES DE
OLIVEIRA, 2A CAMARA CRIMINAL, julgado em 18/10/2018,
DJe 2624 de 08/11/2018).

Ora, nas infrações penais permanentes, a entrada no domicílio pode se dar a


qualquer momento, sendo desnecessário mandado judicial de busca e apreensão.

Não caracteriza violação de domicílio o ingresso em residência, ainda que não


autorizado, a qualquer hora do dia e da noite, para efetuar prisão em flagrante de
crime permanente sobre o qual pairam indicativos seguros de sua prática. ” 

Acórdão 1290791, 07443800320208070000, Relator: JESUINO


RISSATO, Terceira Turma Criminal, data de julgamento: 8/10/2020,
publicado no PJe: 18/10/2020.

“Assim”, embora a Defesa alegue que a prova obtida deve ser


declarada nula, ante a ausência de justificativa suficiente para a
entrada dos policiais no domicílio do ora apelante, a tese não
prospera, porquanto foram vários os fatores a indicar que era grande
a possibilidade de haver entorpecentes estocados no local, o que,
cumpre destacar, acabou se confirmando.

Vale lembrar que, no caso, foi imputado ao apelante o cometimento


do crime de tráfico de drogas (artigo 33, "caput", da Lei 11.343/06),
na modalidade “ter em depósito”, o qual é classificado como crime
permanente, cujo estado de flagrância se protrai no tempo sendo,
portanto, desnecessária autorização ou mesmo apresentação de
prévio mandado de busca e apreensão para que se ingresse no
domicílio, seja durante o dia, seja durante a noite (HC 273.141),
daquele que se encontra cometendo o delito.
É este o entendimento de Renato Brasileiro:

O art. 33 da Lei de Drogas prevê algumas condutas que são


permanentes, como, por exemplo, a de expor à venda, ter em
depósito, transportar, trazer consigo e guardar. Essa natureza
permanente de algumas modalidades do tráfico de drogas traz
consigo algumas consequências, a saber:

(1) Prisão em flagrante: enquanto não cessar a permanência, o


agente encontra-se em situação de flagrância, ensejando, assim, a
efetivação de sua prisão em flagrante, independentemente de prévia
autorização judicial. Nos exatos termos do art. 303 do CPP, “nas
infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito
enquanto não cessar a permanência”;

(2) Violação domiciliar independentemente de prévia autorização


judicial: em seu art. 5, XI, a própria Constituição Federal autoriza a
violação ao domicílio nos casos de flagrante delito, seja durante o
dia, seja durante a noite, e independentemente de prévia autorização
judicial. Em relação aos crimes permanentes, entende-se o agente em
flagrante delito enquanto não cessar a permanência. Logo, estando o
agente em situação de flagrância no interior de sua casa, será
possível a violação ao domicílio mesmo sem mandado judicial. (LIMA,
Renato Brasileiro de Legislação Criminal Especial Comentada. Salvador:
Juspodivm, 2017. Página 1.008) (grifos nossos).

Em resumo, no caso em comento, os policiais vislumbraram uma grande


movimentação defronte à residência do acusado, localizada numa área de alta
incidência do tráfico de drogas, e, ao se aproximarem, as pessoas que ali estavam
correram para o interior da casa, sendo que um deles, ao ser revistado do lado de fora,
estava na posse de uma porção de cocaína, enquanto parte dos suspeitos não
obedeceu à ordem para sair do imóvel. Somado tudo isso, impõe-se a conclusão de
que, efetivamente, se justificava a suspeita, por parte dos castrenses, de que poderia
haver mais entorpecentes no interior do imóvel ocupado pelo apelante, o que, é de
salientar, acabou se concretizando.

Noutras palavras, a dinâmica do ingresso dos policiais na residência do ora


apelante permite concluir que, de fato, HAVIAM FUNDADAS RAZÕES para que fosse
tomada a medida extrema, não se podendo falar em nulidade das provas obtidas pelos
policiais responsáveis pelo flagrante, em especial no que tange à apreensão das
drogas, dinheiro e demais objetos, tudo encontrado no interior da residência do
acusado.

Acórdão 1265797, 07207850620198070001, Relator: SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS,


Segunda Turma Criminal, data de julgamento: 16/7/2020, publicado no Pje:
27/7/2020.

4-DOS PEDIDOS

Ante o exposto, o Ministério Público manifesta pelo conhecimento e


provimento do presente Recurso em Sentido Estrito, para que seja recebida e
processada na íntegra a denúncia oferecida em desfavor de JOCLÉCIO SENHORILSON E
OVILMAR CARREIRO, imputando aos réus não só o crime de Furto, mas também o
crime de trafico de drogas. E que seja encaminhado os autos ao juízo competente de
acordo com o art.419 CPP.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Goiânia, 03 de outubro de 2021.
Promotor de justiça

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