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Estudo do Fator de Modificação Nuclear em Colisões entre Íons Pesados

Relativı́sticos com Engenharia de Eventos

Maria Monalisa de Melo Paulino


Marcelo Gameiro Munhoz
Departamento de Fı́sica Nuclear, IFUSP
maria.paulino@usp.br, munhoz@if.usp.br

Objetivo por um gás ideal de pontos tratados como


hádrons. A pressão, pode ser dada por
Com o intuito de compreender a natu-
reza da matéria, algumas colisões de al- X
p(T, µ) = pid
i (T, µi ) (1)
tas energias são realizadas em acelerado-
i
res de partı́culas. Essas colisões ocor-
rem entre ı́ons pesados relativı́sticos ge- em que pidi (T, µi ) é a pressão de uma
rando condições extremas de temperatura e espécie i de hádron em um gás ideal de
pressão. As centenas de prótons e nêutrons Fermi ou Bose.
que se chocam, com energias altı́ssimas, A densidade de partı́culas de hádrons do
formam um sistema quente e denso de- tipo i, pode ser dada pela relação a se-
nominado por fireball e, a medida que o guir; além de ser possı́vel obter experimen-
plasma se expande e se esfria, ocorre a talmente por meio dos dados dos detectores.
hadronização (formação de hádrons) e, em
seguida, as interações cessam (freeze-out). ∂pid
i (T, µi )
nid
i (T, µi ) = (2)
Com o equilı́brio térmico estabelecido, a ∂µi
evolução do sistema pode ser governada pe-
las leis conhecidas da termodinâmica. Além disso, na formulação do Grand Ca-
nonical Ensemble (GCE) todas as cargas
Esse trabalho consiste na análise da
são conservadas: número bariônico (B =
produção de partı́culas em colisões entre
0, ±1), carga elétrica (Q = 0, ±1, ±2), es-
ı́ons pesados a energias relativı́sticas utili-
tranheza (S = 0, ±1, ±2, ±3) e charm (C =
zando os dados coletados pelo experimento
0, ±1, ±2). E, o potencial quı́mico pode ser
ALICE do LHC.
dado pela combinação µi = Bi µB + Si µS +
Métodos e Procedimentos Qi µQ + Ci µC .
Em diversas aplicações há desvios signifi-
O Gas de Ressonância Hadrônica (HRG) cativos com relação aos dados obtidos do id-
utilizado como base do programa Thermal- HRG, como esperado. Dessa forma, existem
FIST, é um modelo que utiliza essas alguns outros modelos de correção dentro do
relações termodinâmicas e que descreve HRG Model.
bem a multiplicidade de partı́culas produ- No modelo de Volume Excluı́do (EV) é le-
zidas em colisões de ı́ons pesados rela- vado em conta as correções de interações
tivı́sticos. Também é utilizado para estimar repulsivas para cada espécie de hádrons. É
coeficientes da QCD, bem como parâmetros atribuı́do um parâmetro vi aos hádrons de
relacionados ao equilı́brio quı́mico próximo espécie i, comumente caracterizado por um
da temperatura de transição. raio efetivo de hard-core (ri), em que vi =
O modelo Ideal do Gas de Ressonância 16πri3 /3.
Hadrônica (Id-HRG) é uma escolha comum Esse modelo equilibra a atração pela
para descrever a fase confinada de baixa presença de ressonância dos hádrons, e
temperatura da QCD, pois em temperaturas torna possı́vel parametrizar o tamanho efe-
entre 100 M eV e 150 M eV , e em poten- tivo das partı́culas. A correção do volume ex-
cial quı́mico zero, o modelo parece reprodu- cluı́do é adicionada à equação transcenden-
zir muitos observáveis da QCD de rede. tal da pressão do sistema, que é resolvida de
Esse modelo descreve a fase hadrônica forma numérica no programa Thermal-FIST.
forma, foram adicionados dados de multiplici-
X dade para os mésons D e em seguida refeito
p(T, µ) = pid (T, µ∗i ), µ∗i = µi − vi p (3) os mesmos ajustes (Figura 2).
i

No modelo Não Diagonal do Volume


Excluı́do (NDEV-HRG) também é levado
em conta as correções para cada par de
espécies. Assim, pode-se modelar, por
exemplo, a repulsão entre bárions ou entre
bárion e anti-bárion.
O NDEV-HRG é caracterizado por um
parâmetro de volume excluı́do, a matriz b̃.

Figura 1: Ajuste sobre os dados sem mésons D utili-


X X

p(T, µ) = pid
i (T, µ ), µ∗i = µi − b̃ij pj zando o modelo NDEV-HRG. Parâmetros na Tabela 1.
i j
(4) Tabela 1: Parâmetros resultantes dos ajustes no
No Modelo Quantum van der Waals Thermal-FIST.
(QvdW-HRG), os parâmetros de interação
atrativos e repulsivos podem ser especifica- Model χ2 /dof T [MeV] µB [MeV] γQ γS γC

dos para qualquer par de espécies. Além id-HRG 3, 8 158(5) (−3 ± 11) 0, 96(6) 1, 04(10) (50 ± 37)
DEV-HRG 3, 9 158(5) (−3 ± 11) 0, 96(6) 1, 03(10) (50 ± 37)
disso, o potencial quı́mico é calculado de NDEV-HRG 3, 8 164(8) (−3 ± 11) 0, 90(7) 0, 95(12) (50 ± 34)
QvdW-HRG 3, 8 164(8) (−3 ± 11) 0, 90(7) 0, 95(12) (50 ± 34)
forma numérica. Nele, a função da pressão
e o potencial quı́mico efetivo se tornam
em que T é a temperatura de freeze-
X X out, µB o potencial quı́mico bariônico e γi

p(T, µ) = pid
i (T, µi ) − aij ni nj (5) os parâmetros que regulam os desvios do
i ij equilı́brio quı́mico.

X X
µ∗i + b̃ij p∗j − (aij + aji )nj = µi (6)
j j

em que aij corresponde às interações


atrativas entre um par de hádrons.
As análises são possı́veis pois a maioria
das partı́culas produzidas atingem o freeze-
out e possibilitam um estudo das proprieda-
des termodinâmicas macroscópicas do sis-
tema, que podem ser obtidas a partir da
Figura 2: Ajuste sobre os dados com mésons D uti-
medição das distribuições de multiplicidade. lizando o modelo NDEV-HRG. T = 164, 3 ± 4, 9 TeV,
χ2RED = 4, 4 e γC = (26, 12 ± 6, 7).
Resultados
Foram obtidos ajustes nas quatro versões Conclusões
do HRG para os dados de multiplicidades Os modelos termodinâmicos emprega-
de √cada partı́cula em colisões de energia dos descrevem bem o comportamento
de s = 5.02 TeV e 0 − 10% de centrali- da produção de partı́culas durante uma
dade (Figura 1). Os mésons D são formados colisão de ı́ons pesados relativı́sticos para
unicamente por um quark charm ou por um as configurações utilizadas nesse traba-
anti-quark charm e são produzidos por meio lho. Além disso, os modelos possibilitam
de um mecanismo adicional (espalhamento o estudo da evolução da produção de
duro), externo à teoria da termodinâmica, de partı́culas com relação a vários parâmetros
forma que é importante realizar o estudo sob térmicos macroscópicos, como temperatura
as condições dos modelos utilizados. Dessa de freeze-out e potencial quı́mico.

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