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Estudo do Fator de Modificação Nuclear em Colisões

entre Íons Pesados Relativı́sticos com Engenharia de


Eventos
Maria Monalisa de Melo Paulino

Instituto de Fı́sica da Universidade de São Paulo


7 de outubro de 2021

Resumo
Esse trabalho aborda análises da multiplicidade de algumas partı́culas por meio
de dados de colisões do detector ALICE, que pertence ao acelerador de partı́culas
Large Hadron Collider (LHC). Para tal, com o auxı́lio do programa Thermal-FIST,
que possibilita análises por meio do modelo Hadron-Ressonance Gas (HRG), eficiente
para descrever interações hadrônicas fortes, foi possı́vel obter relações de produção
de partı́culas, bem como relações entre a multiplicidade de determinados bárions e
mésons em função da evolução de determinados parâmetros termodinâmicos.

Sumário
1 Introdução 2

2 Objetivos 4

3 Métodos 5
3.1 Colisões de ı́ons pesados relativı́sticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
3.2 Modelos Termodinâmicos para colisões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
3.2.1 Modelo Gás Ideal de Ressonância de Hádrons (id-HRG) . . . . . . . 7
3.2.2 Modelo Gás de Ressonância de Hádrons com Volume Excluı́do Dia-
gonal (DEV-HRG) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

1
3.2.3 Modelo Gás de Ressonância de Hádrons com Volume Excluı́do Não
Diagonal (NDEV-HRG) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.2.4 Modelo Quantum van der Waals (QvdW-HRG) . . . . . . . . . . . 10
3.3 Thermal-FIST . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

4 Resultados e Análises 11
4.1 Bárions . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
4.2 Méson π ± . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
4.3 Méson K± . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
4.4 Méson D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

5 Conclusão 19

1 Introdução

Com o intuito de compreender a natureza da matéria, algumas colisões de altas energias


são realizadas em aceleradores de partı́culas, como o Large Hadron Collider (LHC) [1].
Essas colisões ocorrem entre ı́ons pesados relativı́sticos gerando condições extremas de
temperatura e pressão.

Figura 1: Esquemático do Large Hadron Collider e seus experimentos (maiores detectores)1 .

A interação predominante nessa escala fı́sica observada e analisada é por meio da força
forte, mediada por glúons e experimentada por quarks, os menores constituintes da matéria.
1
Astronoo - Astronomia, Astrofı́sica, Evolução e Ciências da Terra. LHC. Disponı́vel em: http://www.
astronoo.com/pt/artigos/lhc.html. Acessado em 27/08/2021

2
A teoria que abrange essas interações é a Cromodinâmica Quântica (Quantum Cromo
Dynamics – QCD), utilizada como parte da construção do Modelo Padrão de Partı́culas
Elementares.
Na QCD, os quarks e os gluons possuem um número quântico denominado carga cor
(vermelho, verde e azul), a qual está vinculada a força forte, assim como a carga elétrica
está vinculada a força eletromagnética. Os quarks, além da carga cor, possuem sabores
(up, down, strange, charm, bottom, e top).

Figura 2: Representação da carga cor2 .

As partı́culas formadas por quarks e glúons que interagem pela força forte, como prótons
e neutrôns, são denominadas de hádrons. Os hádrons podem ser ainda, divididos em duas
categorias, os mésons e os bárions. Os mésons são hádrons compostos por um quarks e um
anti-quark, já os bárions, são compostos por três quarks de cores diferentes.
Diferente da interação eletromagnética, na interação forte os intermediadores (glúons)
são também portadores da carga responsável pela interação (a carga cor), dessa forma,
a medida que tentamos afastar dois quarks os glúons passam a interagir com o campo
forte, de modo que a energia do sistema aumenta consideravelmente com a distância,
impossibilitando a separação completa dos dois quarks. Dá-se a esse mecanismo o nome
de confinamento.
2
Particle physics, Quark Gluon Color charge Gluon. Disponı́vel em: https://www.pngegg.com/en/
png-zhumf. Acessado em 27/08/2021

3
Figura 3: Diagrama referente ao confinamento entre um quark e um anti-quark [7].

Uma outra propriedade da QCD é possibilidade de se levar a matéria para uma fase
em que os quarks e glúons ficam livres, formando o Quark-Gluon Plasma (QGP). Porém,
essa fase apenas é obtida em condições extremas de temperatura e pressão.
Essas condições extremas podem ser obtidas em laboratórios que possuem aceleradores
de alta energia, como o Relativistic Heavy Ion Collider (RHIC) [2] e o já mencionado
Large Hadron Collider (LHC). Neles, são colididos frontalmente núcleos pesados como
ouro e chumbo em altas energias, podendo atingir 3.5 T eV 3 , e possibilitando a observação
da fase de QGP, considerado, como um novo estado da matéria.
Nessas colisões de ı́ons pesados, as centenas de prótons e nêutrons que se chocam, com
energias altı́ssimas, acredita-se que formam um sistema quente e denso denominado por
fireball 4 . A fireball se expande e se esfria de forma rápida, e então, entra-se em um estado
que formam hádrons que interagem entre si até o estado final de freeze-out, no qual as
interações cessam e informações são coletadas nos subdetectores presentes no aparato de
um dos detectores principais do acelerador da colisão. Nesse projeto, foram utilizados dados
do ALICE (um dos quatro grandes experimentos do LHC) de colisões entre Chumbo (Pb),
para analisar as interações entre hádrons a partir de modelos termodinâmicos e estatı́sticos
com o auxı́lio do programa Thermal-FIST [5].
Ainda é preciso compreender com mais clareza como ocorre essa transição de fase da
matéria hadrônica para o plasma de quarks e glúons.

2 Objetivos

O objetivo final desse projeto foi alterado no decorrer dos primeiros meses, de modo
a readequar o tempo disponı́vel, assim, o principal objetivo se tornou o de obter grandezas
termodinâmicas macroscópicas relacionadas ao estudo hadrônico de dados do ALICE da
3
Particle physics, Quark Gluon Color charge Gluon. Disponı́vel em: https://www.pngegg.com/en/
png-zhumf. Acessado em 20/08/2021
4
CERN Accelerating science. Heavy ions and quark-gluon plasma. Disponı́vel em: https://home.
cern/science/physics/heavy-ions-and-quark-gluon-plasma. Acessado em 20/08/2021

4
colisão de Pb-Pb, como temperatura, potenciais quı́micos, volume do sistema, entre outros.
Para isso, utiliza-se do programa Thermal-FIST.
Inicialmente foi necessário o entendimento e compreensão da teoria termodinâmica e
estatı́stica de fı́sica de altas energias, mais precisamente a teoria que descreve a transição de
fase hadrônica. Para isso, foi estudado diferentes artigos e principalmente o livro Phenome-
nology of Ultra-Relativistic Heavy-Ion Collisions do Wojciech Florkowski [6], nos primeiros
meses do projeto.
A segunda parte do projeto baseou-se na busca por entender o funcionamento es-
trutural do programa Thermal-FIST, iniciando com a leitura do artigo Thermal-FIST: A
package for heavy-ion collisions and hadronic equation of state [8] e posteriormente apro-
fundando para o objetivo final, o de desenvolver a aplicação dos modelos termodinâmicos
do programa, e obter resultados para análises comparativas aos dados experimentais.

3 Métodos

3.1 Colisões de ı́ons pesados relativı́sticos


Os aceleradores de partı́culas de altas energias, como o Large Hadron Collider (LHC),
permitem o estudo de questões que surgem sobre a matéria por meio da colisão de próton-
próton (p-p) ou colisões entre ı́ons pesados com energias altas, como Pb-Pb ou Au-Au. As
colisões entre ı́ons pesados com energias relativı́sticas permitem o estudo da matéria em
condições extremas, simulando o que ocorreu no estado primordial da matéria, logo após o
Big Bang e antes da formação dos núcleons, tornando possı́vel, assim, verificar as previsões
do Modelo Padrão e da Teoria da Cromodinâmica Quântica, como já mencionado.
Ao colidir ı́ons pesados em velocidades relativı́sticas é possı́vel comprimir e aquecer
seus núcleos de forma a sobrepor seus prótons e seus nêutrons, originando uma região de
alta densidade de energia, no qual um número relativamente alto de quarks e glúons livres
podem surgir por um tempo relativamente curto, formando o que se chama de Plasma de
Quarks e Glúons (QGP) [9].

5
Figura 4: A evolução no tempo em uma colisão de ı́ons pesados em energias relativı́sticas
[9].

O plasma quente e denso pode não estar inicialmente em equilı́brio térmico. Posteri-
ormente, com o equilı́brio térmico estabelecido, a evolução do sistema pode ser governada
pelas leis conhecidas da termodinâmica. A medida que o plasma se expande e se esfria,
ocorre a hadronização (formação de hádrons) e, em seguida, as interações cessam (freeze-
out). Vários estágios durante a colisão podem ser analisados por diferentes observáveis.
A maioria das partı́culas produzidas nas colisões nucleares de altas energias atingem o
freeze-out e possibilitam um estudo detalhado do sistema formado nessas colisões por meio
da estimativa da densidade de energia (ε), pressão e entropia, em função da temperatura
e do potencial quı́mico bariônico (µB ). Tais grandezas termodinâmicas podem ser obtidas
a partir da medição das distribuições de multiplicidade (Yields), de rapidez, de momento
transversal (pT ) e de densidade de energia transversal (dET /dy).
O experimento ALICE, um dos quatro grandes experimentos do LHC, foi projetado para
estudar colisões de ı́ons pesados relativı́sticos. Dessa forma, iremos utilizar nesse trabalho

dados obtidos nessas colisões, mais especificamente, dados de Pb-Pb com sN N = 2.76 T eV

e com sN N = 5.02 T eV e com centralidades de 0 − 5% e 0 − 10%. A centralidade de
uma colisão é definida em termos do parâmetro de impacto (distância perpendicular entre
os centros dos dois núcleos em colisão) e, essencialmente, indica o número de nucleons
participantes (Npart ).

3.2 Modelos Termodinâmicos para colisões


A temperatura em que ocorre a alteração da matéria hadrônica ao estado de QGP é
aproximadamente 150 M eV . Como na termodinâmica, a pressão e a temperatura não são
variáveis independentes, podemos estabelecer uma relação entre a densidade de energia e
a pressão, de modo que outras variáveis termodinâmicas, também possam ser analisadas
utilizando a teoria.

6
A termodinâmica possibilita obter grandezas como a densidade do número de partı́culas,
a entropia e a densidade de energia, a partir das relações a seguir
 
∂p
ni (T, µ) ≡ (1)
∂µi T
 
∂p
s(T, µ) ≡ (2)
∂T T
!
X
ε(T, µ) ≡ T s + µi ni − p (3)
i

O Gas de Ressonância Hadrônica (HRG), é um modelo que utiliza essas relações ter-
modinâmicas e que descreve bem a multiplicidade de partı́culas produzidas em colisões de
ı́ons pesados relativı́sticos. Também é utilizado para estimar coeficientes da QCD, bem
como parâmetros relacionados ao equilı́brio quı́mico próximo da temperatura de transição.
O modelo HRG e suas modificações constituem uma estrutura comumente empregada
na modelagem da equação de estado hadrônica de produção de partı́culas em colisões de ı́ons
pesados. Mesmo as versões mais simples do modelo HRG requerem considerações bem de-
talhadas, incluindo o decaimento por ressonância e a implementação de restrições quanto a
determinadas conservações ou não de cargas, pois podem acarretar no desequilı́brio quı́mico
do sistema.
O ajuste da multiplicidade de hádrons estáveis permite determinar os parâmetros
térmicos, correspondentes ao chamado estágio de chemical freeze-out (congelamento quı́mico)
da colisão.

3.2.1 Modelo Gás Ideal de Ressonância de Hádrons (id-HRG)


Na maioria dos casos, o modelo ideal do gás de ressonância de hadron (Id-HRG) é utilizado,
pois descreveu bem muitos dados experimentais de produção de hádrons de colisões de ı́ons
pesados. Foram alcançados com essa abordagem mais simples, uma ampla faixa de energia
de colisões, variando de energias moderadas, como no SchwerIonen-Sı́ncrotron (SIS) a
energias mais altas, como no LHC.
O modelo Id-HRG é uma escolha comum para descrever a fase confinada de baixa
temperatura da QCD, pois em temperaturas entre 100 M eV e 150 M eV , e em potencial
quı́mico zero, o modelo Id-HRG de fato parece reproduzir muitos observáveis da QCD de
rede. Esse modelo descreve a fase hadrônica por um gás ideal de pontos tratados como

7
hádrons. A pressão, então pode ser dada por
X
p(T, µ) = pid
i (T, µi ) (4)
i

em que pid
i (T, µi ) é a pressão de uma espécie i de hádron em um gás ideal de Fermi ou
Bose, descrito por
" ! #−1

p
k 4 dk k 2 + m2i − µi
Z
di
pid
i (T, µi ) = p exp + ηi (5)
6π 2 0 k 2 + m2i T
em que di é a degenerescência de spin, mi a massa do hádron de espécie i, k está
relacionado a energia do sistema e ηi possui o valor +1 para férmions, −1 para bósons e 0
na aproximação de Boltzmann.
Outras grandezas termodinâmicas podem ser calculadas da mesma forma nesse modelo,
ou seja, como uma soma sobre um gás ideal para todas as espécies de hádrons.
A densidade de partı́culas de hádrons do tipo i, pode ser dada pela relação a seguir;
além, de ser possı́vel obter experimentalmente por meio dos dados dos detectores.

∂pid
i (T, µi )
nid
i (T, µi ) = (6)
∂µi
E, a densidade de energia por
X
ε(T, µ) = εid
i (T, µi ) (7)
i
" ! #−1

p
2 2
k + mi − µi
Z
di
q
εid
i (T, µi ) = k 2 dk k 2 + m2i exp + ηi (8)
2π 2 0 T
Na formulação do Grand Canonical Ensemble (GCE) todas as cargas são conserva-
das: número bariônico (B = 0, ±1), carga elétrica (Q = 0, ±1, ±2), estranheza (S =
0, ±1, ±2, ±3) e charm (C = 0, ±1, ±2). E, o potencial quı́mico pode ser dado pela com-
binação

µi = Bi µB + Si µS + Qi µQ + Ci µC (9)
Entretanto, em diversas aplicações há desvios significativos com relação aos dados ob-
tidos do id-HRG, como esperado. Dessa forma, existem alguns outros modelos de correção
dentro do HRG Model. Um deles, se trata do HRG de Volume Excluı́do (EV), em que os

8
efeitos de interações hadrônicas repulsivas, entre hádrons, em curtas distâncias são intro-
duzidos. Outra versão é o Quantum Modelo van der Waals (QvdW), que permite incluir
tanto interações repulsivas, como atraentes, entre hádrons.

3.2.2 Modelo Gás de Ressonância de Hádrons com Volume Excluı́do Diagonal


(DEV-HRG)
Dentro do modelo de Volume Excluı́do (EV) existe uma subdivisão chamada de Diagonal
(DEV), no qual é levado em conta as correções de interações repulsivas para cada espécie de
hádrons. É atribuı́do um parâmetro vi aos hádrons de espécie i, comumente caracterizado
por um raio efetivo de hard-core (ri), em que vi = 16πri3 /3.
A correção do volume excluı́do é adicionada à equação transcendental da pressão do
sistema, que é resolvida de forma numérica no programa Thermal-FIST.
X
p(T, µ) = pid (T, µ∗i ), µ∗i = µi − vi p (10)
i

Esse modelo equilibra a atração pela presença de ressonância dos hádrons, e torna
possı́vel parametrizar o tamanho efetivo das partı́culas.

3.2.3 Modelo Gás de Ressonância de Hádrons com Volume Excluı́do Não Di-
agonal (NDEV-HRG)
No método DEV-HRG apenas é levado em conta as correções para cada espécie de hádrons.
No modelo Não Diagonal do Volume Excluı́do (NDEV-HRG) também é levado em conta
as correções para cada par de espécies. Assim, pode-se modelar, por exemplo, a repulsão
entre bárions ou entre bárion e anti-bárion.
O NDEV-HRG é caracterizado por um parâmetro de volume excluı́do, a matriz b̃.
X X
∗ ∗
p(T, µ) = pid
i (T, µ ), µi = µ i − b̃ij pj (11)
i j

Os parâmetros b̃ij podem ser escolhidos de forma arbitrária para cada par de espécies
de partı́culas. Uma possibilidade é considerar o caso clássico de um multi-componente gás
de esferas ”duras”, onde cada espécie é caracterizada por um hard-core de raio ri , e onde
b̃ij é dado por
2bij bii 2π
b̃ij = , com bij = (ri + rj )3 (12)
bii + bjj 3
Vale notar, que o NDE-HRG se reduz ou DEV-HRG no caso em que b̃ij = vi .

9
3.2.4 Modelo Quantum van der Waals (QvdW-HRG)
Nessa variante do modelo HRG, os parâmetros de interação atrativos e repulsivos podem
ser especificados para qualquer par de espécies. Além disso, o potencial quı́mico é calculado
de forma numérica. Nele, a função da pressão e o potencial quı́mico efetivo se tornam
X X

p(T, µ) = pid
i (T, µ i ) − aij ni nj (13)
i ij
X X
µ∗i + b̃ij p∗j − (aij + aji )nj = µi (14)
j j

em que aij corresponde às interações atrativas entre um par de hádrons.


O modelo QvdW-HRG permite a inclusão no modelo HRG das caracterı́sticas básicas
da matéria nuclear, em particular, a transição de fase lı́quido-gás nuclear e a criticidade
associada.

3.3 Thermal-FIST
O Thermal-FIST é um programa desenvolvido na linguagem C + + e projetado para o es-
tudo e análises de dados de hádrons, utilizando como base o modelo de Gás de Ressonância
de Hádrons (HRG). Basicamente, o programa realiza análises estatı́sticas sobre a produção
de partı́culas em colisões de ı́ons e a fenomenologia da equação do estado hadrônico. De
forma simplificada, o pacote extrai os parâmetros térmicos do rendimento de hádrons por
meio da minimização do χ2 .
O programa permite incluir flutuações e correlações de cargas conservadas, efeitos de
decaimentos, desequilı́brio quı́mico e inclui interações de van der Waals.
Os cálculos são possı́veis utilizando o Grand Canonical Ensemble, o Canonical Ensem-
ble, bem como a combinação entre eles sobre as cargas conservadas. O pacote presente no
programa possibilita a geração rápida de eventos térmicos, que geram em consequência,
multiplicidade de partı́culas (yields) de acordo com a quı́mica prevista pelo HRG-Model.
Os pacotes do Thermal-FIST contém uma biblioteca capaz de calcular os observáveis
HRG relevantes para a configuração selecionada. As configurações incluem uma lista de
partı́culas, que identifica as partı́culas de arquivos externos. Além disso, pode-se selecionar
um dos quatro sub-modelos do HRG (ideal, DEV, NDEV e QvdW). Quando necessário,
as equações transcedentais termodinâmicas são calculadas numericamente pelo método de
Boyden.

10
4 Resultados e Análises
Para os resultados a seguir foram utilizados dados do ALICE de Pb-Pb com centralidade

de 0 − 5% e com energia de sN N = 2.76 T eV . Inicialmente foram realizados ajustes para
obter os parâmetros térmicos disponı́veis para esse conjunto de dados. Dessa forma, obteve-
se a temperatura de freeze-out (T ), os potenciais quı́micos (µB ,µQ e µS ), os parâmetros
que regulam os desvios do equilı́brio quı́mico (γQ e γS ), o raio ao considerar um sistema
de hard-core (R) e o volume do sistema (V ). Os ajustes foram realizados para os quatro
modelos dentro do HRG-Model, para verificar se ocorriam variações e para compreender o
funcionamento de cada modelo.

11
(a) id-HRG (b) DEV-HRG

(c) NDEV-HRG (d) QvdW-HRG

Figura 5: Multiplicidade para as partı́culas disponı́veis no conjunto de dados do ALICE



Pb-Pb sN N = 2.76 T eV e 0 − 5% de centralidade.

Os parâmetros obtidos em cada modelo analisado para o conjunto de partı́culas dis-


ponı́veis no arquivo de dados encontram-se na Tabela 1 a seguir. Obteve-se para todos os
χ2 /dof valores semelhantes e pequenos, bem como temperaturas semelhantes (dentro de
três sigmas de incerteza) e próximas de 135 M eV , como esperado.

12
Tabela 1:
√ Parâmetros resultantes dos ajustes no Thermal-FIST utilizando os dados ALICE,
Pb-Pb, s = 2, 76 e 0 − 5% de centralidade.
Model χ2 /dof T [MeV] µB γQ γS
id-HRG 1, 21 (136, 11 ± 0, 37) (4, 9 ± 5, 2) (1, 64 ± 0, 02) 1, 970(39)
DEV-HRG 2, 47 (134, 49 ± 0, 49) (5, 8 ± 5, 6) (1, 6 ± 2, 3) 1, 97(4)
NDEV-HRG 1, 26 (138, 4 ± 2, 2) (5, 3 ± 5, 5) (1, 629 ± 0, 003) 1, 92(7)
QvdW-HRG 1, 63 (137, 4 ± 1, 9) (2, 2 ± 9, 7) (1, 634 ± 0, 008) 1, 88(7)

Também foi realizada a comparação entre os modelos variando-se a temperatura e ob-


servando os valores para o χ2 , já que todo o ajuste se baseia na minimização do χ2 para a
obtenção dos parâmetros termodinâmicos, Figura 6. Nota-se que há uma correspondência
entre os modelos Ideal-HRG e DEV-HRG, bem como entre os modelos NDEV-HRG e
QvdW-HRG, de forma que comportamento entre as curvas é idêntico e, em todos os mo-
delos nota-se a minimização por volta de 150 M eV . Essa diferença pode ser explicada
pelas correções, já explicadas, que NDEV e QvdW levam em consideração ao calcular as
equações de estado. No gráfico fica claro o decaimento do χ2 reduzido ao se aproximar da
temperatura de free-out. Observe que a interpretação fı́sica para o segundo mı́nimo pode
ser realizada por meio de cálculos da QCD de rede, os quais sugerem que a transição do
cross-over está acontecendo. Ou seja, é a região em que as temperaturas crı́ticas definidas
a partir de diferentes quantidades não são necessariamente iguais [10].

ALICE, Pb+Pb, s 1/2 =2.76 TeV, 0-5% centrality


NN
χ2/N

60 Ideal-HRG, χ 2 /N = 2.42225, T = (152.818 ± 2.13331) MeV

DEV-HRG, χ 2 /N = 2.50089, T = (152.638 ± 2.12245) MeV

50 NDEV-HRG, χ 2 /N = 2.35021, T = (154.703 ± 2.51051) MeV

QvdW-HRG, χ 2 /N = 2.35021, T = (154.703 ± 2.51047) MeV

40

30

20

10

100 150 200 250 300 350


T (MeV)

Figura 6: Comportamento do χ2 em função da temperatura para os quatro modelos ana-


lisados do HRG.

13
4.1 Bárions
Os prótons e anti-prótons são as partı́culas bariônicas mais leves produzidas, logo, espera-
se que a sua multiplicidade seja relativamente boa para se analisar. Dessa forma, o próximo
passo consistiu no estudo da multiplicidade de p e p̄ em função do potencial quı́mico
bariônico, em que é possı́vel observar que o número de bárions aumenta enquanto que o
número de anti-bárions diminui com o aumento do potencial quı́mico bariônico em todos
os modelos analisados (Figura 7).

ALICE Pb-Pb sNN =2.76 TeV, 0-5% centrality ALICE Pb-Pb sNN =2.76 TeV, 0-5% centrality
Yields

Yields
50 50

40 40
p p
p p
30 30

20 20

10 10

0 0

0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400 500 600
µ (MeV) µ (MeV)
B B

(a) id-HRG (b) DEV-HRG

ALICE Pb-Pb sNN =2.76 TeV, 0-5% centrality ALICE Pb-Pb sNN =2.76 TeV, 0-5% centrality
Yields

Yields

40 40

35 35
p p
p p
30 30

25 25

20 20

15 15

10 10

0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400 500 600
µ (MeV) µ (MeV)
B B

(c) NDEV-HRG (d) QvdW-HRG

Figura 7: Multiplicidade (Yields) de próton e anti-próton em função do potencial quı́mico


bariônico.

14
4.2 Méson π ±
Como os mésons π + e π − são abundantes no sistema (multiplicidade alta), estes também
foram analisados. Percebe-se que após aproximadamente 115 M eV há uma queda da
produção de pı́ons no sistema, nos três dos quadro modelos analisados. Entretanto, observa-
se no modelo DEV-HRG que há discrepâncias com os outros modelos. Como o DEV-HRG
leva em consideração as interações repulsivas hadrônicas de cada espécie e o modelo NDEV-
HRG além dessa interação também leva em consideração a repulsividade entre os hádrons,
uma explicação seria a não correção entre os pares de pı́ons que há no NDEV-HRG, modelo
que repetiu o comportamento dos gráficos de id-HRG e QvdW-HRG.

ALICE Pb-Pb sNN =2.76 TeV, 0-5% centrality ALICE Pb-Pb sNN =2.76 TeV, 0-5% centrality
Yields

Yields
800

780 π+ π+
800
π- π-
760

740 700

720
600
700

680
500
660

640 400

620
300
110 115 120 125 130 135 140 145 150 155 160 110 115 120 125 130 135 140 145 150 155 160
T (MeV) T (MeV)

(a) id-HRG (b) DEV-HRG

ALICE Pb-Pb sNN =2.76 TeV, 0-5% centrality ALICE Pb-Pb sNN =2.76 TeV, 0-5% centrality
Yields

Yields

800 800

780 780 π+
760 760 π-

740
π+ 740
π-
720 720

700 700

680 680

660 660

640 640

620 620

110 115 120 125 130 135 140 145 150 155 160 110 115 120 125 130 135 140 145 150 155 160
T (MeV) T (MeV)

(c) NDEV-HRG (d) QvdW-HRG

Figura 8: Multiplicidade (Yields) de π + e π − em função da temperatura de freeze-out.

15
4.3 Méson K±
Um méson interessante para estudo, é o káon (K), devido a sua estranheza; pois, sua
composição trata-se de um quark s e um antiquark s, além, de possuir spin nulo. Devido
a sua estranheza, é interessante analisar o seu comportamento em função do potencial
quı́mico vinculado a sua carga hadrônica, ou seja, o potencial quı́mico estranho (µS ).
Nota-se que a produção de K + aumenta com o aumento do potencial quı́mico estranho
e, a produção de K − diminui com o aumento do potencial quı́mico estranho, de modo a
manter a simetria do problema com relação a densidade de energia associada ao potencial
quı́mico.

16
ALICE Pb-Pb sNN =2.76 TeV, 0-5% centrality ALICE Pb-Pb sNN =2.76 TeV, 0-5% centrality
Yields

Yields
140
120
+
K 120
100 -
K 100
80 +
K
80 -
60 K
60
40
40
20
20
0

0 50 100 150 200 250 0 50 100 150 200 250


µ S (MeV) µ S (MeV)

(a) id-HRG (b) DEV-HRG

ALICE Pb-Pb sNN =2.76 TeV, 0-5% centrality ALICE Pb-Pb sNN =2.76 TeV, 0-5% centrality
Yields

Yields
140 140

120 120

100 100
+
K
80 - 80 +
K K
-
60 60 K

40 40

20 20

0 0

0 50 100 150 200 250 0 50 100 150 200 250


µ S (MeV) µ S (MeV)

(c) NDEV-HRG (d) QvdW-HRG

Figura 9: Multiplicidade (Yields) de K + e K − em função do potencial quı́mico estranho


µS .

4.4 Méson D
Devido a indisponibilidade de dados referente à multiplicidade de mésons D nas colisões
de Pb-Pb do ALICE, não foi possı́vel obter um arquivo com incertezas e valores precisos
nos experimentos. Entretanto, utilizando dados de multiplicidade disponı́veis na literatura
[12][13] de forma gráfica para colisões no ALICE, de Pb-Pb, de 5.02 T eV e de centralidade
0 − 10%, foi possı́vel obter o comportamento condizente com os experimentos, bem como o
ajuste dos mesmos e a análise da produção de mésons D com relação aos modelos térmicos
empregados no Thermal-FIST.

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(a) id-HRG (b) DEV-HRG

(c) NDEV-HRG (d) QvdW-HRG

Figura 10: Multiplicidade de mésons D obtida para os quadro modelos analisados em



vermelho em comparação com os dados do ALICE, Pb-Pb, sN N = 5.02 T eV e com
0 − 10% de centralidade em azul.

Como resultado dos ajustes obtivemos os parâmetros da Tabela 2 abaixo, no qual nota-
se um χ2 /dof de 2, 16 e uma temperatura de freeze-out de 157(4) M eV . Vale notar,
também, que os mésons D são formados unicamente por um quark charm ou por um anti-

18
quark charm, de forma que são os mésons mais leves. O valor relativamente alto para γC
com relação a γQ e a γS indica que há muito mais quarks charm do que o esperado pelas
equações da termodinâmica, pois eles são produzidos por meio de um mecanismo adicional
(espalhamento duro), externo à teoria da termodinâmica.

Tabela 2: Parâmetros resultantes do ajuste no Thermal-FIST utilizando os Mésons D.

χ2 /dof T [MeV] µB γQ γS γC
2, 16 157(4) 1, 03(15) 0, 97(6) 0, 98(8) 47(13)

5 Conclusão
Os resultados obtidos para a produção de partı́culas após a colisão de ı́ons pesados
relativı́sticos do ALICE, utilizando os modelos termodinâmicos disponı́veis no Thermal-
FIST, demonstram que o modelo de Gás de Ressonância de Hádrons (HRG), de fato,
se aproxima muito bem dos valores detectados no experimento (ver Figura 5), o que já
era esperado devido ao uso desse modelo no estudo desse tipo de colisão há alguns anos.
Ademais, ainda há dentro do modelo de HRG, divisões que permitem considerar ou não
determinadas interações, a partir disso, alguns resultados diferentes são possı́veis de se
observar com relação a evolução de alguns parâmetros termodinâmicos, como temperatura
(Figura 8) e potencial quı́mico relativo a carga conservada (Figura 7 e 9).
Partindo dos resultados para o modelo HRG sobre os dados, pode-se obter os estudos
referentes ao comportamento de bárions e mésons ao longo da evolução dos parâmetros
termodinâmicos, além disso, pode-se acrescentar o estudo relativo ao méson D, um méson
extremamente leve e, cujos modelos, se ajustaram perfeitamente aos dados (ver Figura 10
e Tabela 2).
Dessa forma, chega-se a conclusão, que o programa Thermal-FIST e os modelos termo-
dinâmicos utilizados por ele descrevem bem o comportamento da produção de partı́culas
durante uma colisão de ı́ons pesados relativı́sticos para as configurações utilizadas nesse
trabalho. Além disso, os modelos possibilitam o estudo da evolução da multiplicidade das
partı́culas com relação a alguns parâmetros térmicos, como temperatura, potencial quı́mico
relativo a carga conservada da constituição da partı́cula ou anti-partı́cula.
Entretanto, vale ressaltar que ainda tem-se que estudar diversas configurações possı́veis
nesse programa utilizado para chegar a uma conclusão final sobre a abrangência desses
modelos, como por exemplo, analisar outras centralidades e outras energias de colisão,
além das que foram abordadas neste trabalho.

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Referências
[1] CERN Accelerating science. The Large Hadron Collider (LHC). Disponı́vel em:
<https://home.cern/topics/large-hadron-collider>. Acesso em: 11 de ago. 2021.
[2] RHIC. Operated by Brookhaven National Laboratory, the Relativistic Heavy Ion Col-
lider is sponsored by the U.S. Department of Energy Office of Science, Office of Nuclear
Physics. Disponı́vel em: <https://www.bnl.gov/rhic/>. Acesso em: 11 de ago. 2021.
[3] Copyright 2020 CERN. CERN Accelerating science. Disponı́vel em:
<https://home.cern/>. Acesso em: 11 de ago. 2021.
[4] Copyright CERN 2008 - ALICE Collaboration. A Large Ion Collider Experiment.
<http://aliceinfo.cern.ch/Public/Welcome.html> Acesso em: 11 de ago. de 2021.
[5] Thermal-FIST. Thermal-FIST: Package for hadron resonance gas model applications.
Versão 1.3, V. Vovchenko, H. Stoecker, Comput. Phys. Commun. 244, 295 (2019).
[6] FLORKOWSKI, W.: Phenomenology of Ultra-Relativistic Heavv-Ion Collisions. World
Scientific Publishing Co. 2010
[7] THOMSON, M.: Modern Particle Physics. Hardcover – Illustrated, 5 September 2013.
[8] VOVCHENKO, V.; STOECKER, H. Thermal-fist: A package for heavy-ion collision-
sand hadronic equation of state.Comput. Phys. Commun., v. 244, p. 295–310, 2019.
[9] NAYAK, T. K. Heavy Ions: Results from the Large Hadron Collider.Pramana,v.
79, p. 719–735. 15 p, Jan 2012. Comments: Proceedings of Lepton-Photon 2011Con-
ference, to be published in Pramana, Journal of Physics. 15 pages. Disponı́vel
em:¡http://cds.cern.ch/record/1418314¿.
[10] Borsányi, S., Fodor, Z., Hoelbling, C. et al. Is there still any T c mystery in lattice
QCD? Results with physical masses in the continuum limit III. J. High Energ. Phys.
2010, 73 (2010).
[11] V. Vovchenko and H. Stöcker, J. Phys. G 44, no.5, 055103 (2017) doi:10.1088/1361-
6471/aa6409 [arXiv:1512.08046 [hep-ph]].
[12] LETESSIER, J.; RAFELSKI, J.: Hadrons and Quark–Gluon Plasma. Cambridge Mo-
nographs, 2002.
[13] LETESSIER, J. et al.: Hadron production and quark-gluon plasma hadronization in

Pb-Pb collisions at sN N = 2.76 TeV. Em: Physical Review C 88, 034907, 2013.

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