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PARTE UM
CORAÇÃO DE PASTOR:
READQUIRINDO O
PROPÓSITO PASTORAL
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SAINDO DA SALA
DO CONSELHO
M
oro no Texas. Quando me mudei do meio-oeste com a minha família
e cruzei o rio Vermelho há alguns anos, tive de aprender muitas coisas
novas e de maneira rápida. Tive de aprender uma série de novas ex-
pressões locais, um novo sotaque, novas gírias, entonações e jargões.
Também tive de aprender uma lição importante sobre o estilo texano de
conservar suas casas: “Aguar os fundamentos”. Como a maioria de vocês não
sabe o que é isso, cabe aqui uma pequena explicação. O solo no Texas, prin-
cipalmente na região de Dallas, tem a propriedade de se expandir e contrair
muito rapidamente – quase violentamente – conforme aumenta ou diminui
a umidade. Esse solo é tão instável que poucas casas (ou talvez nenhuma)
têm porão e todas as residências são construídas sobre lajes apropriadas.
Eu já havia visto solo ressecado e rachado durante as secas no meio-oeste,
mas nunca havia presenciado rachaduras de mais de um centímetro num
gramado apenas alguns dias depois de uma chuva de 130 milímetros! A não
ser que você mantenha o solo úmido ao redor dos fundamentos da casa,
essa expansão e contração racham as lajes e os resultados são desastrosos.
Os reparos podem ser extremamente caros, de modo que os proprietários
prudentes regam fielmente os fundamentos de suas casas.
A igreja do Senhor também tem um fundamento. A Palavra de Deus diz
em Efésios 2.19-20 que “... sois da família de Deus, edificados sobre o funda-
mento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra an-
gular”. Este livro foi escrito para preparar e treinar presbíteros, pois são eles
que recebem a importante tarefa de cuidar desses fundamentos. Eles devem
manter a igreja firmemente estabelecida na Palavra – do modo como os pro-
fetas e apóstolos, inspirados, a transmitiram – e cuidar para que nenhuma
rachadura enfraqueça as paredes e prejudique o santo templo no qual Deus
habita na terra. Trata-se de uma tarefa imprescindível, não só para preser-
var o que Deus já nos deu, mas também porque a igreja está sempre em
constrição: “... no qual também vós juntamente estais sendo edificados para
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intensa infecção espiritual no corpo febril de Cristo – que tem levado tantas
igrejas a se tornarem fracas, extenuadas e ineficientes – é resultado direto
dessa falta de compreensão da função do presbítero. Veremos que a Bíblia
atribui aos presbíteros de cada igreja local o enorme dever de proteger e
garantir a saúde do rebanho. Alguns de seus julgamentos mais assustadores
são proferidos a pastores que falham nessa atribuição. Se a igreja local deixa
de insistir que esse ensinamento bíblico seja obedecido, simplesmente por-
que os presbíteros não são profissionais pagos, essa igreja acabará sucum-
bindo aos ataques do Maligno.
O que leva as igrejas locais de hoje a trocar a função pastoral dos presbíte-
ros pelo trabalho de profissionais religiosos pagos? Trata-se de um problema
com raízes profundas. Analistas culturais da atualidade falam da transforma-
ção radical de nossa sociedade, que deixou de ser rural e agrícola para ser
uma sociedade de informação, na qual o envolvimento com o trabalho não é
mais prático, mas sim “administrativo”, em que o estilo de comunicação pes-
soal “cara a cara” deu lugar à comunicação por telefone, fax, modem, voice-
-mail e e-mail.¹ E as mudanças estão acontecendo em um ritmo cada vez mais
acelerado. Há duzentos anos, 95% da mão de obra nos Estados Unidos se
relacionavam à agricultura, sendo que hoje são menos do que 4%.² Contudo,
o grande impulso dessas mudanças tão radicais aconteceu nos últimos cin-
quenta anos e a maioria das transformações se deu nos últimos quinze anos,
ligadas diretamente ao desenvolvimento e crescimento extraordinários dos
computadores de uso pessoal. Não se engane achando que essas mudanças se
referem apenas ao modo como ganhamos nosso dinheiro ou como nos co-
municamos uns com os outros. Tais transformações afetam a maneira de nos
vermos como pessoas, de entendermos nosso propósito aqui na terra e a for-
ma como vivemos na presença de Deus e nos relacionamos com o nosso pró-
ximo. Essas mudanças também exercem uma influência sobre o modo como
vemos a igreja e, dentro da igreja, o modo como nos relacionamos uns com
os outros e exercitamos o amor cristão nos preocupando uns com os outros.
Como sociedade, nos tornamos extremamente individualistas e esse in-
dividualismo se infiltrou na igreja, chegando até o seu âmago. A religião
nos Estados Unidos se tornou uma parte da vida privada e, infelizmente,
perdeu qualquer influência relevante sobre a vida pública. É fascinante – e
triste – observar que, durante a década de 1980, pesquisadores relataram
que “a religião está em ascensão” e que a “moralidade está em declínio” (há
uma grande quantidade de informação sobre o assunto em livros como os
de Chuck Colson,³ nos relatórios das pesquisas de George Barna,4 ou no
estudo completo e excelente das convicções e práticas religiosas norte-ame-
ricanas Habits of Heart, do sociólogo Robert Bellah).5
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VERIFIQUE O SEU ALVO
N
as oportunidades que tive de instruir novos presbíteros, tentei lhes mos-
trar o que as Escrituras dizem sobre o caráter pastoral do trabalho para
o qual foram chamados. Quando faço isso, normalmente percebo uma
porção de olhos arregalados, bocas secas e uma expressão de pânico nos
rostos. Uma coisa é você ser eleito para um Conselho que se reúne uma ou
duas vezes por mês para falar, durante algumas horas, sobre problemas, pro-
gramações e outros assuntos da igreja. Outra coisa bem diferente é esperar
que você ofereça o cuidado pastoral bíblico a crentes não muito diferentes
de você – um grupo de pecadores frágeis que estão todos ali apenas pela
graça de Cristo. Quem está disposto a fazer isso?
A única maneira de um presbítero se manter firme diante de tão grande
responsabilidade é ter sempre em mente o propósito da sua missão. Ele deve
ter uma ideia clara do propósito de Deus ao instituir a função de presbítero.
Afinal, foi Deus quem levou o apóstolo Paulo e Barnabé a “[promoverem],
em cada igreja, a eleição de presbíteros” (At 14.23; Tt 1.5). Fica claro que
esse é o modo como ele quer cuidar do seu povo.
No entanto, na maioria das igrejas, quando um presbítero é ordenado
para sua função, ele se depara com uma série de tarefas que, na melhor
das hipóteses, são confusas e, na pior, não têm nenhuma relação com os
propósitos pastorais de Deus tanto para o presbítero como para a igreja.
Ele passa horas em reuniões, ouve os relatórios de pastores e de membros
responsáveis pelas programações, é nomeado para uma série de comissões
e, às vezes, convocado para trabalhar como relações públicas ou na captação
de recursos. Hoje em dia, é raro ele ser chamado para pastorear pessoas,
envolver-se de modo pessoal e profundo em suas lutas e alegrias.
Temo que isso seja pelo fato de confundirmos, com frequência, estilo de
ministério com propósito pastoral. Na verdade, essa confusão é tão comum
que, em muitas igrejas, esses diferentes estilos representam partidos político-
-eclesiásticos que, por sua vez, se transformam em blocos eleitorais dentro da
congregação. Considere os seguintes exemplos que são caricaturas, mas que
correspondem à minha experiência ao longo dos anos:
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