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ENGENHARIA CIVIL -_PUC MINAS

NOTAS DE AULA DA DISCIPLINA INSTALAÇÕES ELÉTRICAS PREDIAIS

Assunto: SPDA - SISTEMA DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS


ATMOSFÉRICAS
Referências: Consultar no SGA a bibliografia indicada para a disciplina.
Preparado por: Prof. Fernando Villamarim Data: Abril 2015

INTRODUÇÃO

O Brasil é um país com alta incidência de descargas atmosféricas. Um SPDA - Sistema


de Proteção Contra Descargas Atmosféricas procura aumentar a proteção de pessoas,
edificações e instalações diversas contra uma descarga atmosférica ou, usando uma
expressão mais popular, contra a queda de um raio.
Contudo, nenhum SPDA garante proteção total contra a queda de um raio dentro de sua
área de abrangência, ou seja, dentro da área considerada protegida, especialmente no
caso de equipamentos eletrônicos, seja por ação direta ou indireta do raio. Sendo
impraticável a proteção total contra raios, a norma NBR 5419-2005 - Proteção de
Estruturas contra Descargas Atmosféricas apresenta medidas que podem ser tomadas
para minimizar seus efeitos. Outras referências importantes são as normas IEC 1024-
1/90 - Protection of Structures Against Ligthing e NBR 5410 - Instalações Elétricas de
Baixa tensão.
Nuvens são massas enormes cheias de moléculas de água e gases. Colisões entre as
moléculas ionizam seus átomos constituintes e faz com que uma nuvem acumule cargas
elétricas positivas e negativas em grandes quantidades. Isto origina potenciais elétricos
de milhões de volts entre nuvens e o solo, dentro das próprias nuvens e entre elas.
Quando uma nuvem de chuva, que é mais pesada, se aproxima do solo, o campo elétrico
estabelecido entre as duas partes se torna muito mais intenso. O isolamento
proporcionado pelo ar pode não suportar esta condição e sofrer uma ruptura quase
instantânea, que se manifesta através da ocorrência de um raio.
Descargas atmosféricas ocorrem entre a nuvem e o solo, do solo para a nuvem, dentro
de nuvens e entre nuvens. Descargas atmosféricas podem ocorrer também com tempo
seco, especialmente em chaminés e outras estruturas aquecidas, pois o calor favorece a
ionização do ar e facilita o estabelecimento de um percurso para a descarga. Descargas
atmosféricas que atingem o solo podem ser ascendentes (solo-nuvem) ou descendentes
(nuvem-solo).
A potência envolvida em uma descarga atmosférica é muito elevada. A tensão entre
uma nuvem e a superfície da Terra pode atingir dezenas de megavolts. A corrente
elétrica durante uma descarga atinge dezenas de quiloamperes no pico (ou valor de
crista), mas apresenta curta duração, da ordem de algumas dezenas de milisegundos.
Então, apesar de a potência ser alta, a energia em jogo é relativamente baixa. Este fato,
associado com a incerteza sobre o ponto de queda e o elevado custo das instalações, faz
com que a captação da energia contida em um raio ainda não seja compensadora.
Contudo, a energia envolvida em uma descarga é suficiente para causar danos físicos e
elétricos apreciáveis no ponto de queda e nas proximidades.
Além dos danos causados por um raio no ponto de impacto, a elevada corrente
circulante entre a nuvem e o solo origina um campo eletromagnético de alta intensidade,
cuja expansão é capaz de induzir tensões perigosas em circuitos elétricos e estruturas
metálicas, provocar choques nas pessoas e causar danos nos equipamentos localizados
nas proximidades. O campo pode ser detectado e causar interferências a grandes
distâncias.
Os raios originados por nuvens carregadas negativamente são os mais comuns. Neles, o
raio em si é precedido por uma descarga descendente, chamada de líder. A medida que
abre caminho com saltos em geral de 10m se deslocando em direção ao chão, o líder
provoca a acumulação de cargas positivas de valor crescente no solo. O campo elétrico
se torna muito intenso, dando origem a um ou mais líderes ascendentes que partem na
direção ao líder descendente. O encontro entre o líder descendente e um líder
ascendente estabelece o caminho de condução de corrente por onde de fato ocorrerá a
descarga principal. A polaridade das cargas elétricas envolvidas pode ser negativa (a
mais comum), ou positiva (a mais intensa).
O raio atinge o solo ou uma estrutura no ponto onde partiu o líder ascendente que
estabeleceu o caminho mais favorável, ou seja, onde o campo era mais intenso. Isto
ocorre nas pontas ou quinas de estruturas, sendo o motivo pelo qual os pára-raios e
centelhadores em geral são construídos com pontas afinadas. O raio pode cair na lateral
de um prédio mais baixo do que os prédios vizinhos, caso as condições sejam mais
favoráveis neste local para originar um campo de maior intensidade. O trajeto de um
raio não é necessariamente vertical, podendo atingir a lateral de uma estrutura mesmo
existindo um captor, ou pára-raios, no seu topo.
Um SPDA é basicamente constituído por um captor, cabo de descida e conjunto de
aterramento. A função de um SPDA é, na verdade, a de elevar a altura das cargas
presentes no solo e aproximá-las das nuvens. Isto intensifica o campo elétrico e favorece
a ocorrência da descarga elétrica em um local que foi preparado para recebê-la,
facilitando a condução das cargas para a terra, onde elas podem se dissipar. É melhor
favorecer a descarga em um sistema controlado do que deixar que ela ocorra em
estruturas que não estejam protegidas.
A NBR 5419 proporciona orientação sobre a necessidade ou não de se instalar um
sistema SPDA. A norma apresenta tabelas com fatores de importância levando em
conta o tipo de ocupação (uso) das estruturas (casas, escolas, prédios, torres, etc.), o tipo
de construção (aço, concreto armado, alvenaria, madeira, etc.), o conteúdo (subestações,
indústrias, hospitais, etc.), a localização (cidades, áreas abertas, etc.) e a topografia do
local (colina, planície, etc.). As tabelas 1 até 5, disponíveis na NBR 5419, listam os
fatores de importância e atribuem um peso a cada um deles.
Tabela 1 - Tipo de Ocupação
Item Tipo de Ocupação Fator A
1 Casas e estruturas equivalentes 0,3
2 Casa e estruturas equivalentes com antena externa 0,7
3 Fábricas, oficinas e laboratórios 1
4 Prédio de escritórios, hotéis, apartamentos, garagens 1,2
Locais de afluência de público (igrejas, lojas, estádios, estações, aeroportos,
5 1,3
parque de exposições)
6 Escolas, hospitais e estruturas múltiplas 1,7
Obs.: Para uso de antenas externas no item 2, ver anexo da norma.
Tabela 2 - Tipo de Construção
Item Tipo de Construção Fator B
1 Estruturas de aço com cobertura não metálica 0,2
2 Estrutura de concreto armado com cobertura não metálica 0,4
3 Estrutura de aço ou de concreto armado com cobertura metálica 0,8
Estrutura de alvenaria ou concreto simples, com qualquer cobertura, exceto
4 1
metálica ou de palha
Estrutura de madeira o revestida de madeira, com qualquer cobertura exceto
5 1,4
metálica ou de palha
6 Estrutura de madeira, alvenaria ou concreto simples, com cobertura metálica 1,7
7 Qualquer cobertura com teto de palha 2
Obs.: Estruturas de metal aparente contínuas até o solo não são incluídas nesta tabela, pois requerem apenas o aterramento.

Tabela 3 - Valor do Conteúdo e Efeitos Indiretos


Item Contudo e Efeitos Fator C
Residências comuns, escritórios, oficinas e fábricas que não contenham objetos
1 0,3
de valor ou susceptíveis a danos
Estruturas/instalações industriais e agrícolas contendo materiais/objetos
2 0.8
susceptíveis a danos
3 Subestações, usinas à gás, centrais telefônicas, emissoras de rádio/TV 1
Indústrias estratégicas, prédios/monumentos históricos, museus/galerias de arte
4 1,3
e outras estruturas com valor especial
Escolas, hospitais, creches e locais de afluência de público (estações,
5 1,7
aeroportos, etc.)
Obs.: Estruturas/ instalações de alto valor no item 2 podem incluir material inflamável e/ou danos causados em consequência de
incêndios. Data centers e call centers podem ser incluídos no item 3.

Tabela 4 - Localização da Estrutura


Item Localização Fator D
Instalação em uma grande área contendo estruturas ou árvores de mesma altura
1 0,4
ou mais altas (nas cidades, por exemplo)
2 Instalação em uma área com poucas estruturas ou árvores de altura similar 1
Estrutura completamente isolada ou no mínimo duas vezes maior do que
3 2
estruturas ou árvores próximas (prédios em cidades do interior)

Tabela 5 - Topografia e Altura da Estrutura


Item Topografia Fator E
1 Planície, vargem 0,3
2 Colinas e morros 1
3 Serras entre 300m e 900m 1,3
4 Montanhas acima de 900m 1,7

Com as informações acima, pode-se estimar a incidência média anual de raios, Nd:
Nd = Ae x Ng x 10-6 / ano (1)
onde:
Ae = área de atração da estrutura,
calculada conforme a Figura 1,
em m2, sendo:

Ae = (l · w) + (2l · h) + 2h · w) + π· h2,
onde h = altura da estrutura
Ng = 0,04 x (Td)1,25 (raios/km2/ano)
Td = valor obtido no mapa
isoceráunico em número de
dias de trovoadas por ano,
conforme a NBR 5419. Para
Belo Horizonte, pode-se
Fig. 1 - Zona de Cobertura
assumir Td = 60

Pode-se avaliar agora a frequência admissível de danos, Ndc, permitindo estimar o risco
geral e a necessidade de instalação de um SPDA:

Ndc = Nd · A · B · C · D · E (2)
onde:
Nd, A, B C D e E são os fatores determinados através das tabelas 1 até 5.
Em função dos resultados obtidos para Ndc, teremos:

• Ndc ≥ 10-3, é necessário instalar um SPDA


• Ndc ≤ 10-5, a estrutura dispensa a instalação de um SPDA
• 10-5 ≤ Ndc ≤ 10-3, o risco deve ser melhor avaliado em vista dos efeitos diretos
e indiretos da queda de raios e do custo-benefício de se
instalar um SPDA.
Para Ndc menores do que 10-5, o risco é menor do que 1/100.000, sendo considerado
pequeno e estatisticamente aceitável. As estruturas devem ser classificadas para se
determinar o nível de proteção requerido, conforme a Tabela 6.
Como métodos de proteção, podem ser usados captores (ou pára-raios) tipo Franklin,
um projeto do tipo gaiola de Faraday, ou combinação deles. Em todos os métodos,
destaca-se a importância da correta instalação de cabos de descida e da realização de um
bom conjunto de aterramento.

O SISTEMA SPDA

O projeto de um SPDA completo deve abranger:


- Um sistema externo, consistindo de captores, cabos de descida e aterramento por
métodos convencionais.
- Um sistema alternativo de aterramento, baseado em eletrodos específicos, eletrodos de
fundação, malhas de aterramento e equalização de potencial.
- Um sistema interno de proteção adicional, para reduzir os efeitos elétricos (transientes
acoplados nas linhas de energia) e magnéticos (indução em circuitos) dentro do
volume a ser protegido. Estes assuntos serão abordados em outra apresentação.

Tabela 6 - Níveis de Proteção


Classificação Tipo Efeito Nível de
da Estrutura da Estrutura das Descargas Proteção
Perda de isolamento, incêndio,
Residências III
danos materiais.
Risco direto de incêndio. Tensão
Estabelecimentos de passo perigosa para pessoas e
III ou IV
Agropecuários animais. Riscos indiretos por
falta de energia.
Danos elétricos. Pânico. Falha no
Teatros, escolas, áreas
sistema de alarme contra II
Estruturas esportivas, shoppings
incêndio.
Comuns
Perda de dados, falha de
Bancos e correlatos II
equipamentos e comunicação
Hospitais, prisões, casas de Pânico, dificuldade de remoção,
II
repouso risco de vida
Perda de produção, perdas
Indústrias III
pequenas até inaceitáveis.
Museus e sítios Perda de patrimônio
II
arqueológicos insubstituível.
Interrupção inaceitável de
Estruturas
Usinas, subestações, centros serviços públicos. Riscos
com Risco I
de comunicação, indústrias indiretos à vizinhança por
Confinado
incêndio.
Estruturas Refinarias, postos de
Riscos de incêndios e explosões
com Risco combustível, fábricas de
na instalação e para seus I
para os fogos e indústrias de
arredores.
Arredores armamento
Estruturas
com Risco Indústrias e laboratórios Riscos de incêndios, falhas na
I
para o Meio químicos, usinas nucleares operação, escapamento de gases.
Ambiente
Obs.: Equipamentos para TI - Tecnologia da Informação podem ser instalados em todos os tipos de estruturas, mas é impraticável
sua proteção total contra raios. Ver as recomendações da NBR 5410 sobre este assunto.

Tipos de Captores
Os sistemas externos podem usar um dos seguintes captores, ou combinação deles:
- Captor Franklin
- Captor Franklin com Método Eletrogeométrico
- Gaiola de Faraday
Captor tipo Franklin
É o método clássico de proteção, usado desde o século 19. Atualmente é considerado
como sendo um caso particular do método eletrogeométrico. O ângulo de proteção ou
de abrangência do pára-raios depende da altura do mesmo, sendo o volume de proteção
definido por um cone de ângulo α e raio r. Consultar a Tabela 7 e a Figura 2.
Tabela 7 - Método Franklin - Altura do Captor e Ângulo de Proteção
Altura da Construção em Metros
Nível de R(m)
20 30 40 60 (ver obs.)
Proteção h(m)
Ângulo de Proteção α (em graus)
I 20 25 Não é permitido usar o método de Franklin
II 30 35 25 Idem
III 45 45 35 25 Idem
IV 60 55 45 35 25
Obs.: Para estruturas acima de 60 metros, aplica-se o método de gaiola de Faraday. A altura h é considerada com relação ao solo.

Volumes de Proteção - Métodos


de Franklin e Eletrogeométrico
h = altura do captor (m)

α = ângulo de proteção (Franklin)


R = raio da esfera rolante
(eletrogeométrico) em
metros
r = h x tg α (raio do cone de
proteção, em metros)

Fig. 2 - O Volume de Proteção


A Figura 3 ilustra a instalação do captor tipo Franklin. Notar os dois condutores de
descida, um de cada lado, para reduzir a resistência do conjunto e distribuir a corrente.

Método Eletrogeométrico com Captor tipo Franklin

É um método útil para grandes estruturas ou estruturas complexas, com variações


arquitetônicas. A Figura 4 ilustra o volume de proteção do SPDA usando o método
eletrogeométrico com captor Franklin montado em mastro. Imagina-se uma esfera
fictícia de raio R correspondente a distância de atração das descargas atmosféricas
deslocando-se ao lado e sobre a estrutura. As partes da estrutura não tocadas pela esfera
estarão protegidas. A área A, a ser considerada, deve ser determinada conforme
mostrado na Figura 1.
A distância R entre o ponto de partida do raio líder ascendente e a ponta do líder
descendente é o parâmetro usado para posicionar o captor Franklin. Sua medida é dada
por:

R = (2 ⋅ icrista ) + 30(1 − e icrista ) (3)

onde R é dado em metros e icrista é o valor de pico máximo estimado da corrente


instantânea, em kA, conforme a Tabela 8.
Fig. 3 - Instalação do Captor
(Adaptada de Domingos L. L. Filho, Projetos de Instalações Elétricas Prediais, Érica 12ª edição).

Fig. 4 - Volumes para o Método Eletrogeométrico


Obs.: Figura adaptada de Norberto Nery, Instalações Elétricas Princípios e Aplicações, Érica, 2ª edição.
Tabela 8 - Método Eletrogeométrico - Valor de R em Função da Corrente
Corrente de
Nível de Proteção Distância R (m)
Crista (kA)
I 20 3,7
II 30 6,1
III 45 10,6
IV 60 16,5

Quando a altura h da estrutura protegida for menor do que R, o volume de proteção é


delimitado por uma reta de altura R e um arco de raio R cujo centro é o captor.
Consultar a Figura 4. Na junção da reta com o arco, os pontos P, traçamos outro arco
que vai do solo ao topo do captor. O volume de proteção é definido pela rotação da área
A em torno do captor.
Quando a altura h for maior do que R, caso de estruturas de grande altura, o
procedimento para se determinar o volume de proteção é similar ao descrito acima.
Sendo a altura eficaz do captor h > R, podem ocorrer descargas laterais.

Método da Gaiola de Faraday

Quando não é viável adotar um captor montado em torre ou mastro que assegure o
volume de proteção desejado, o método de gaiola de Faraday pode ser adotado. O
método consiste em instalar, na cobertura da estrutura, pequenos captores verticais
interligados por uma malha fechada de condutores de cobre (preferencial) ou de
alumínio (com maior bitola), ligados na terra através de pontos de descida e sistema de
aterramento adequado.
Um SPDA em gaiola oferece a vantagem de apresentar menores níveis de intensidade
de campo eletromagnético no interior do volume protegido, o que reduz os efeitos
indiretos de uma descarga causados por indução. Contudo, seu maior custo de
instalação o torna mais adequado para ambientes de grande circulação de pessoas, de
maior responsabilidade ou de alto grau de risco. A figura 5 ilustra o método.

Fig. 5 - Uso da Gaiola de Faraday


A Tabela 9 especifica as espessuras mínimas dos componentes do SPDA conforme as
recomendações da NBR 5419.
Tabela 9 - Espessuras Mínimas dos Componentes do SPDA (mm)
Captores
Material Descidas Aterramento
NPQ NPF PPF
Aço Galvanizado 4 2,5 0,5 0,5 4
Cobre 5 2,5 0,5 0,5 0,5
Alumínio 7 2,5 0,5 0,5 -
Aço inox 4 2,5 0,5 0,5 5
NPQ: Não gera ponto quente
NPF: Não perfura
PPF: Pode perfurar

O Condutor de Descida
É a parte do SPDA responsável pela condução da corrente elétrica originada durante
uma descarga atmosférica, recebida no captor, até ao sistema de aterramento. O trajeto
deve ser o mais simples e direto possível. A Tabela 10 especifica as espessuras mínimas
dos componentes do SPDA, incluindo o condutor de descida.
Tabela 10 - Seções Mínimas dos Materiais do SPDA (em mm2)
Captor e Anéis Condutor de Condutor de Eletrodo de
Material
Intermediários Descida (<20m) Descida (>20m) Aterramento
Cobre 35 16 35 50
Alumínio 70 25 70 -----
Aço
50 50 50 80
Galvanizado

O espaçamento médio ao se empregar mais de um condutor de descida deve estar em


conformidade com a Tabela 11:
Tabela 11 - Espaçamento entre os Condutores de Descida
Espaçamento
Nível de Proteção
Médio em Metros
I 10
II 15
III 20
IV 25

O número de condutores de descida N depende da edificação. Podemos usar as


expressões abaixo para determinar N. Sempre que N for fracionário, adota-se o número
inteiro imediatamente superior.
- N = (A + 100) / 300
onde A é a área coberta em m2.
- N = h /20
onde h é a altura da edificação e metros. Deve-se providenciar uma descida para os
primeiros 20 metros e outra para cada 20 metros ou fração adicional.
- N = P +10 / 60
onde P é o perímetro da edificação. Deve-se providenciar uma descida para os
primeiros 50 metros e duas descidas a cada 60 metros ou fração.
Se em um projeto for realizada uma estimativa usando os três métodos de cálculo de
N, recomenda-se adotar o maior valor encontrado. Se a distância entre as descidas for
menor do que 15m em vista do perímetro da edificação, o número de descidas pode
ser reduzido até um mínimo de duas mantendo, porem, o afastamento máximo entre
elas de 15 metros.

Considerações Práticas Sobre o Condutor de Descida:

- Por questões de segurança pessoal e proteção contra danos mecânicos, o condutor de


descida não pode ficar exposto junto ao solo, devendo ser embutido em um eletroduto
de PVC reforçado com altura de 2 metros acima do piso.
- Devem ser usados no mínimo dois condutores de descida, para estabelecer trajetos
paralelos e assim reduzir a resistência ao longo do percurso da corrente de descarga.
- Evitar curvas que possam constituir meia espira de uma bobina e facilitar induções.
- A bitola mínima deve estar conforme as seções mínimas da Tabela 9.
- As armações de aço podem ser usadas como descidas naturais, mas a continuidade
elétrica deve ser garantida por meio de solda, fitas metálicas, arame recozido ou barras
de reforço de aço galvanizado a fogo (Re-Bar). No mínimo 50% dos cruzamentos
devem ser firmemente interligados entre si para garantir a continuidade.
- As barras horizontais das vigas externas devem ser soldadas ou sobrepostas em no
mínimo 20 vezes seu diâmetro, devendo ser ainda firmemente amarradas com arame
recozido para se garantir a equipotencialização da estrutura.
- Nas estruturas com altura superior a 20 metros, devem ser usados condutores de
equipotencialização a cada 20 metros interligando em anel os condutores de descida.
O primeiro anel deve ficar no nível do solo. O objetivo é o de garantir melhor
distribuição de correntes e evitar centelhamentos perigosos para a estrutura.
- Para testar o isolamento de condutores de descida suportados por isoladores, usar um
Megger.
- Por questão de segurança, a distância mínima de condutores de descida para portas,
janelas e outros acessos deve ser de 0,5m.
- Os condutores não podem ser emendados. A união deve ser realizada usando solda
exotérmica ou um conector de cobre.
- Mesmo no caso de estruturas até 20 metros, recomenda-se usar condutores de descida
de 35mm2.
- Junto a cada eletrodo de aterramento deve ser prevista uma caixa para inspeção do
contato cabo-eletrodo. Esta caixa é também chamada de caixa de medição. Ela
permite que seja realizada a medição da resistência de aterramento para fins de
comissionamento e manutenção periódica do SPDA.
- No caso de estruturas que usam concreto pré-moldado, tal como no campus do
Barreiro da PUC Minas, as vigas devem ser interligadas entre si usando-se condutores
de 50mm2 instalados externamente e conectados nas suas ferragens por meio de uma
chapa de interligação.

O Sistema de Aterramento

Todas as edificações devem possuir uma infra-estrutura de aterramento. Podem ser


usadas as seguintes opções:
- Malha metálica enterrada formando um anel, construída com fitas ou condutores de
cobre em todo o perímetro da edificação, complementada com hastes verticais de
aterramento e sistemas radiais, quando necessário.
- As ferragens das armações de concreto (aterramento natural)
- Hastes de cobre ou copperweld enterradas verticalmente ou inclinadas
Eletrodos de Aterramento

O tipo de eletrodo, as dimensões e a quantidade dependem do projeto e das


características do solo. A norma NBR 5419 estabelece o valor máximo de 10Ω para a
resistência de aterramento em qualquer época do ano. No caso de aterramentos de
edificações ou áreas onde existam inflamáveis ou risco de explosão, assim como no
caso de subestações elétricas, a resistência deve ser menor do que 1Ω. A Tabela 12
estabelece os requisitos mínimos recomendados para os eletrodos de aterramento.
Tabela 12 - Eletrodos - Requisitos Mínimos
Material de Dimensões Posição de Profundidade
Tipo de Eletrodo
Construção Mínimas Montagem Mínima
Chapas Cobre 2mm x 0,25m2 Horizontal 0,5m
Tubos Cobre 25mm x 2,4m Vertical Cravado
Haste Copperweld Aço 2,4 até 3m x 5/8” Vertical Cravado
Haste Zincada Aço 2,4 até 3m x 3mm Vertical Cravado
Fitas Cobre 25 x 2mm x 10m Horizontal 0,5m
Cabos/Cordoalhas Cobre 50mm2 Horizontal 0,5m
Obs.: Copperweld é marca registrada, tratando-se de uma haste/tubo de aço com camada de cobre de no mínino 250µm de espessura.
Tubos e hastes podem ter montagem inclinada.

Um aterramento eficiente pode ser construído com um eletrodo de cobre com bitola de
no mínimo 50mm2, fechado em anel em torno da edificação, afastado 1m e enterrado de
forma horizontal a 50cm de profundidade.

Considerações Práticas Sobre o Aterramento

- A distância mínima entre os eletrodos de aterramento deve ser de 3m.


- Afastar eletrodos e condutores das fundações no mínimo por 1m.
- A profundidade mínima de instalação deve ser de 0,5m.
- Os eletrodos de aterramento devem permanecer acessíveis por meio de caixas de
inspeção/teste.
- Usar o número de eletrodos que seja suficiente para fazer com que a resistência de
aterramento seja menor do que 10Ω. O aparelho usado para medir a resistência de
aterramento é o Terrômetro, podendo também ser usado um micro-ohmímetro.
- Recomenda-se usar 3 eletrodos de aterramento espaçados entre si por 3m, mesmo se a
condutividade do solo local for boa o suficiente para permitir o uso de apenas um
eletrodo.
- No caso de uso de chapas, tubos, cabos ou cordoalhas de aterramento, o comprimento
mínimo deve ser de 5m.

Resistência de Aterramento

A constituição do solo, o material usado (hastes, fitas) e a disposição do sistema de


aterramento (eletrodo único, malha) têm grande influência na resistência final do
sistema de aterramento. Em seguida podem ser encontrados alguns procedimentos para
estimar a resistência de sistemas aterramento considerando uma resistividade de solo ρ
uniforme. A Tabela 13 fornece uma estimativa de ρ, dado em ohms x metro.
Na Tabela 13, os valores de ρ para o calcário revelam um dos motivos para o grande
número de raios que caem em Neves, Venda Nova, Pedro Leopoldo, São José da Lapa e
Lagoa Santa, na grande BH. O solo nesta região é pouco dissipativo, facilitando a
concentração de cargas e a maior incidência de raios. O mesmo ocorre nas serras ao
redor de Belo Horizonte, por causa do minério de ferro. O ferro é um metal bom
condutor, mas não o seu minério.
Tabela 13 - Resistividade de Solos
Tipo de Solo Resistividade ρ (Ω · m)
Alagadiço < 30
Arável, aterro compacto e úmido 50
Argila plástica 50
Areia argilosa 50 até 500
Areia silicosa 200 até 3000
Saibro, aterros grosseiros 500
Rochas impermeáveis 3.000
Calcário mole 100 até 400
Calcário compacto 1.000 até 5.000
Obs.: Conforme Júlio Niskier, Manual de Instalações Elétricas, LTC.

A resistência de aterramento de uma instalação é obtida por meio de medições de CC.


Porém, as correntes circulantes no sistema de aterramento durante uma descarga
atmosférica possuem componentes que abrangem uma ampla faixa de freqüências.
Desta forma, a resistência de aterramento R em si não tem na verdade muito significado
durante uma descarga. Seria melhor considerar a impedância de aterramento Z de uma
instalação como uma medida mais representativa da limitação ou oposição que o
sistema de aterramento irá oferecer à circulação das elevadas correntes de descarga.
Então, Raterramento é diferente de Zaterramento. O problema é que é muito difícil determinar a
impedância de aterramento e estabelecer um valor médio para ela considerando a ampla
faixa de frequências envolvidas. Assim, procuramos projetar um sistema de aterramento
adequado visando alcançar a menor resistência R medida sob condições de CC, na
esperança de obter para ele uma baixa impedância Z no momento da descarga.
Terrômetros disponíveis no mercado operam com sinal de teste de 1kHz, o que melhor
do que testar a resistência de aterramento usando corrente contínua, tal como acontece
quando se usa um micro-ohmímetro.
De qualquer forma, a medição periódica da resistência de aterramento permite
acompanhar ao longo do tempo as variações que possam ocorrer no sistema de
aterramento e no comportamento do solo local em função do envelhecimento das
instalações e das possíveis variações que podem ocorrer na natureza do solo local.

Estimativas para a Resistência de Aterramento

A resistência de aterramento R de alguns sistemas típicos, dada em ohms, pode ser


estimada do seguinte modo:

Haste de Aterramento Simples:

Instalação simples conforme a Figura 6.

R = ρ / L (Ω)
onde

ρ = resistividade do solo, em Ω · m
L = comprimento da haste, em
metros
Fig. 6 - Haste Única

Exemplo: Se usarmos uma haste de 3m x 5/8” cravada em um aterro compacto,


teremos R ≈ 17,7Ω. Precisaremos usar mais hastes até obter R < 10Ω.

Hastes de Aterramento Múltiplas:

Instalação em linha ou com outra


disposição, conforme a Figura 7.
Para n hastes alinhadas, podemos
usar:

Rn = k x Rinicial (Ω)
onde k é obtido na tabela abaixo.
Fig. 7 - Múltiplas hastes

n 1 2 3 4 5 6 7 8 9
k 1 0,56 0,40 0,32 0,26 0,23 0,20 0,18 0,16
Obs.: Tabela conforme J. Niskier, A. J. Macintyre, Instalações Elétricas, 5ª edição, LTC.

No exemplo acima, usando k = 3 (três hastes ), teremos R ≈ 7Ω.


Malhas Fechadas

A resistência do arranjo da Figura 8 pode


ser estimada por:

ρ π ρ
R= + (Ω)
4 A L
onde
A = área total de abrangência da
malha, em m2
L = extensão total de cabo enterrado,
Fig. 8 - Malha de Aterramento
em metros

Chapas Metálicas

A resistência de uma chapa como a da


Figura 9 pode ser estimada por:

R = 0,8 ρ / P (Ω)
onde
P = perímetro da placa, em metros. Fig. 9 - Chapa de Aterramento

Aterramento em Cruz

Trata-se de um arranjo muito usado em torres de telecomunicações, conforme a Figura


10. A resistência de aterramento é dada por:

ρ  4L 
R= 1 + ln  (Ω)
4πL  a 

onde
L= braços de comprimento L,
em metros
a = raio do condutor, em metros

Fig. 10 - Aterramento em Cruz para Torres


PROJETO BÁSICO DE UM SISTEMA DE PROTEÇÃO - EXEMPLO

Considerando as plantas simplificadas mostradas na Figura 11, vamos fazer o projeto


básico de um SPDA para a edificação.

Fig. 11 - Edificação para Exemplo

Especificações básicas

- Prédio de apartamentos, estrutura de concreto armado, destinado a uso como


residência comum, localizado em Belo Horizonte no bairro da Serra. Considerar 60
dias de descargas por ano.

1) Necessidade do SPDA:

Usando a equação (2):

Ndc = Nd x A x B x C x D x E
A, B, C, D e E são os fatores obtidos nas tabelas 1 até 5.
onde A, B, C, D e E são os fatores obtidos nas tabelas 1 até 5.
Conforme a equação (1):
Nd = Ae x Ng x 10-6
onde:

Ae = (l · w) + (2l · h) + (2h · w) + π· h2
= (12 x 15) + 2 x 12 x 44) + (2 x 44 x 15) + (3,1416 x 442) = 8.638m2
Ng = 0,04 x (Td)1,25 = 0,04 x 601,25 = 6,64 raios atingem a terra/km2/ano
Logo:
Nd = 8.638 x 6,64 x 10-6 = 57,36 x 10-3
Ndc = 57,36 x 1,2 x 0,4 x 0,3 x 0,4 x 1 x 10-3 ≈ 3,3 x 10-3
O valor Ndc > 10-3 indica a necessidade de instalação de um SPDA.
2) O tipo de edificação requer Nível de Proteção III, conforme a Tabela 6. Como a
altura da edificação é de 44m, usaremos um captor tipo Franklin e três malhas de
equipotencialização, uma no nível das fundações, outra localizada a 20 metros de
altura e uma terceira no topo do edifício.
3) Para proteger antenas, usaremos um captor Franklin sobre a caixa-d´água. Para
proteger a cobertura, usaremos uma gaiola de Faraday com a malha possuindo 20
quadrados de 3 x 3m em anel, sendo os condutores de descida do captor ligados na
malha e, através dela, nas ferragens do concreto armado.
4) As ferragens do concreto armado serão usadas como condutores naturais de descida,
sendo fechadas em anel no solo, na altura de 20m e no topo do edifício para
servirem com anel de equipotencialização. O espaçamento entre os condutores
naturais de descida estarão separados por menos do que 20m, atendendo ao
recomendado na Tabela 10.
5) O perímetro da edificação é P = (12 +15) x 2 = 60m. O número de condutores de
descida deverá ser de Nc = P / 20 = 60/20 = 3. Usaremos as quatro ferragens das
colunas das extremidades do prédio como condutores naturais de descida.
6) O limites da zona de proteção proporcionada pelo captor Franklin podem ser
estimados da seguinte forma:
- Para que o projeto se mantenha em conformidade com os requisitos da Tabela 7,
o mastro do pára-raio deveria ter no máximo 2m de comprimento para que
tenhamos, no limite, h = 46m. Um mastro de 2m é suficiente para antenas
parabólicas de TV via satélite, mas pode não ser suficiente para antenas tipo yagi
ou pé-de-galinha para TV aberta, por exemplo.
- Se usarmos um mastro de 3m para o captor, então a altura do captor ao solo será
de h = 40m + 4m + 3m = 47m.
- A distância do captor à borda da estrutura é de (2m + 4m) = 6m

- Conforme a Tabela 7, para Nível III e altura h = 47m, o ângulo α do cone de


proteção deveria ser, no limite máximo, de 25°.
- Usando a Figura 11, temos:
tg α = tg 25° = (2 + 4) / (L + 4), onde L = 8,9m
7) Para que o ângulo do cone de proteção do projeto permaneça dentro do
recomendado, o mastro do captor deveria ter ≈ 9m. Se for usado, a altura h será de
(40+4+9) = 53m, o que violaria a Tabela 7.
8) Então, vamos manter o mastro de 3m fixado por um conjunto de montagem
instalado na altura de 1,5m e estaiado em três pontos. O captor montado no mastro
de 3m será adequado para proteger as antenas e as bordas/quinas da caixa-d´água,
mas não o edifício como um todo.
9) As bordas e quinas da cobertura serão protegidas por malha formando uma gaiola,
que será interligada na armação de aço do prédio e nos dois cabos de descida que
serão usados no captor. A malha da cobertura poderá ser feita usando condutores de
cobre de 35mm2, ou então com barras chatas de alumínio se houver dificuldades
com o acabamento/aspectos arquitetônicos do edifício. Em qualquer caso, o
espaçamento da malha deverá ser de 4m. A malha deverá ser interligada na armação
de aço em 4 pontos, juntos das quinas, e formar um sistema em anel para
equipotencialização no topo do prédio.
10) A armação de aço do prédio será usada como condutor natural de descida do SPDA,
com emendas realizadas com Re-Bars.
11) Na altura de 20m, a armação de aço deverá ser interligada em anel usando
condutores de cobre de 50mm2 ou anel de cintamento com barra chata de alumínio
para formar, nesta altura, um eletrodo de equipotencialização embutido no concreto,
ou então aparente, podendo ser pintado neste último caso na cor do prédio ou
receber um acabamento adequado.
12) No nível do solo, a armação de aço deverá ser interligada usando condutores de
cobre de 50mm2 afastados 1m da fundação, para garantir um anel de
equipotencialização. O anel será interligado em 4 hastes de aterramento, instaladas
em caixas de inspeção/testes. Se a medição de resistência de aterramento indicar
valor acima de 10Ω, deverão ser usadas maior número de hastes de aterramento,
conforme for necessário. A figura 12 ilustra o sistema.

Fig. 12 - Equipotencialização e Aterramento de Topo e Solo

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