Resumo
As fundações dentro do conjunto de estruturas que compõem uma edificação,
podem ser consideradas matrizes tamanha sua importância. Este trabalho trata-se
de um descritivo do estado atual da ciência na área de fundações em estacas, bem
como um comparativo entre métodos de dimensionamento bastante difundidos na
construção civil. A revisão bibliográfica, apresentada no segundo capítulo, reflete
acerca da história, definições, normatização e conceitos básicos para início dos
estudos sobre as fundações. O terceiro capítulo foi destinado ao estudo dos
métodos de dimensionamento semi-empíricos de estacas, Aoki e Velloso (1975) e
Décourt e Quaresma (1978), que serão os principais objetos do comparativo de
resultados apontados na memória de cálculos. O capítulo quatro apresenta os dados
utilizados para o desenvolvimento do trabalho, captados do solo de um terreno rural
de Uberlândia-MG, através de sondagem a percussão Standard Penetration Test
(SPT), bem como a descrição dos conceitos, técnicas, procedimentos e
equipamentos utilizados nesse teste. Na sequência, no capítulo cinco, foram
expostos os resultados obtidos para dimensionamento de estacas escavadas,
apontando as principais diferenças nos métodos, finalmente, mostrando o
conservadorismo a favor da segurança no Método de Aoki e Velloso.
1. Introdução
A fundação de uma edificação, independentemente da sua tipologia, rasa ou
profunda, exerce uma das funções mais importantes dentro do conjunto estrutural
por transmitir as cargas recebidas da superestrutura (lajes, vigas e pilares) para o
solo ou rocha. Dentre os tipos de fundações usualmente utilizadas no Brasil, estão
destacadas as fundações superficiais, sendo elas os blocos e as sapatas, e as
profundas, representadas pelas estacas, tubulões e caixões. O segundo modelo
geralmente é utilizado em obras em que as fundações rasas não são uma opção
viável, ou seja, possuem cargas solicitantes elevadas e/ou solos superficiais de
baixa resistência, número de golpes SPT maior ou igual a 8 em profundidades
superiores a 2 metros (CAMARGO, J.V; NAPOLE, M.; FONSECA, F. B. 2005).
O foco do presente trabalho são as fundações profundas, em especial as estacas
escavadas. As fundações profundas ou indiretas são aquelas em que todas as
ações de cargas da superestrutura são transmitidas ao solo por meio da resistência
de ponta, resistência lateral, ou ambas (REBELLO, Y. C. P 2008). Além da
capacidade de carga deve ser observado o recalque nas fundações, pois o mesmo
determina a deformação do solo quando solicitado por cargas elevadas. Essas
mudanças geométricas provocam alterações no solo que permitem seu
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2. Referencial Teórico
Segundo Azeredo (1977), as fundações são os elementos estruturais destinados a
transmitir ao terreno as cargas de uma estrutura e são constituídas pelos elementos
estruturais do edifício que se localizam abaixo do solo. Ou seja, são elementos cuja
função é suportar com segurança as cargas provenientes do edifício.
Dada a interação entre solo e estrutura, convém afirmar que os principais itens a
serem considerados para que se tenha uma fundação segura e que exerça sua
função conforme projeto, são: capacidade de resistência para suporte das tensões
geradas pelos esforços solicitantes, bem como, rigidez do solo para sustentação
sem deformações e recalques excessivos (REBELLO, Y. C. P. 2008).
A fundação de uma edificação não é o item mais oneroso de uma obra podendo o
seu custo variar entre 3% e 7% do custo total do empreendimento. Apesar disso,
3
Já as sapatas são projetadas com menores alturas, o que faz com que haja
necessidade de uma armadura de cálculo. Elas podem ter altura constante ou
variável de acordo com a Figura 2.
4
Para Alonso (1983), esse tipo de fundação é vantajoso quando a área ocupada pela
fundação abranger, no máximo, de 50% a 70% da área disponível, ressaltando que
não se deve executar tal tipo de fundação para solos provenientes de aterros que
não receberam a devida compactação, argilas moles, areias fofas e onde haja
existência de água.
2.3 Estacas
As estacas, conforme mencionado no item anterior, são fundações profundas e se
caracterizam como elementos estruturais esbeltos, que são implantados no solo por
meio de cravação (concreto, metálica ou madeira) ou perfuração do solo com
concretagem posteriormente. Desta forma, são classificadas como estacas cravadas
ou escavadas.
Atualmente, no cenário brasileiro, as estacas são as fundações mais utilizadas tendo
em vista a eficiência, custo e que nesse tipo de fundação não há descida do operário
em nenhuma etapa construtiva.
Sua execução é vantajosa, pois seus equipamentos são leves e de fácil manuseio,
podendo ser usado em locais de difícil alcance de outros equipamentos tais como:
espaços confinados, topografia desfavorável e em edificações já existentes.
Também tem a seu favor o fato de não produzir vibrações elevadas, podendo ser
utilizada quando as edificações vizinhas são precárias e possuir baixo custo para
implantação (REBELLO, Y. C. P. 2008).
As estacas tipo Strauss não são recomendadas para aplicação abaixo do nível da
água e em solos saturados, devido a inviabilidade da secagem da mesma para se
execução da concretagem. Alguns problemas executivos comuns nesse tipo de
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2.4 Normatização
O projeto, construção, inspeção e manutenção em todos os tipos de sistemas de
fundações devem seguir normas desenvolvidas por órgãos nacionais e
internacionais. Essas normas visam à durabilidade das obras, segurança dos
usuários e trabalhadores, sustentabilidade e economia de recursos.
A principal norma brasileira que visa regulamentar os projetos de estruturas de
concreto em geral é a ABNT NBR 6118:2014. Outras normas regulamentadoras que
devem ser consideradas nos projetos são: ABNT NBR 6122:2010, esta especifica
para fundações, ABNT NBR 8681:2003 e ABNT NBR 6123:1988.
Para normatização das sondagens e estudos de solos são utilizadas as normas
ABNT NBR 8036:1979, ABNT NBR 6484:2001 e ABNT NBR 6502:1995.
Como pode ser observado, existe uma gama de normas e fatores que devem ser
levados em consideração no desenvolvimento de projetos e execução de fundações.
Essa normatização é de extrema importância por se tratar de elementos estruturais
que oferecem riscos para segurança das pessoas, sendo assim, é responsabilidade
do projetista e de todos os envolvidos conhecer todos esses fatores implicantes e
seguir paulatinamente todas as especificações e recomendações.
P R=P p + Pl ( Equação 1)
Em que:
Pr: É a capacidade total de carga da estaca (kN ou tf);
P p: Resistência da ponta (kN ou tf);
Pl:Resistência lateral devido ao atrito (kN ou tf);
P p=r p × A p ( Equação 2)
Em que:
P p: Resistência da ponta (kN);
r p : Capacidade de carga do solo na ponta (kN/m²);
A p : É a área da seção transversal da ponta da estaca (m²);
A Equação 3, utiliza-se de ensaios de CPT para que seja possível seu cálculo,
portanto fazer o cálculo através da sondagem é necessário fazer uma correlação
para encontrar o valor de r p através da Equação 3:
K ×NP
r p= ( Equação3)
F1
11
Em que:
K: É o a correlação entre resistência e o tipo de solo, que pode ser observada na
Tabela 1 e é dado em MN/m²;
N P: É o SPT na ponta da estaca, valor adimensional que pode ser observado na
Tabela 2;
F1: É o coeficiente do tipo da estaca, valor adimensional que pode ser observado na
Tabela 2;
K α (%)
Tipo de solo
(MN/m²)
1 areia 1,00 1,40
2 areia siltosa 0,80 2,00
3 areia silto-argilosa 0,70 2,40
4 areia argilosa 0,60 3,00
5 areia arilo-siltosa 0,50 2,80
6 silte 0,40 3,00
7 silte arenoso 0,55 2,60
8 silte areno-argiloso 0,45 2,80
9 silte argiloso 0,23 3,40
10 silte argilo-arenoso 0,25 3,00
11 argila 0,20 6,00
12 argila arenosa 0,35 3,20
13 argila areno-siltosa 0,30 3,70
14 argila siltosa 0,22 4,80
15 argila silto-arenosa 0,33 4,00
Coeficientes F1 e F2
Tipo de estaca F1 F2
1 Franki 2,50 5,00
2 Metálica 1,75 3,50
3 Pré-moldada 1,38 2,76
4 Escavada 3,00 6,00
5 Hélice continua 2,00 4,00
Em que:
U: É o perímetro da estaca (m);
Δ l: É a área lateral da estaca (m²);
r l : Capacidade de carga lateral da estaca para o valor de Δ l (kN/m²);
α × K × Nl
rl = ( Equação5)
F2
Em que:
Ca: É a cota de arrasamento da estaca;
Cp: É a cota da ponta da estaca;
Para dimensionamento tem-se apresentado pela ABNT NBR 6122:2010 que a carga
de ruptura mínima corresponde à metade do valor da capacidade de resistência
encontrada nos cálculos, ou seja, adota-se o valor 2 para coeficiente de segurança,
conforme a Equação 7, a baixo:
RU ≥2 × P p ( Equação7)
Q C =β ×q S × A e ×l+α × q P × A P ( Equação 8)
Em que:
q S : Resistência ao atrito (tf/m²);
q P : Resistência da ponta (tf/m²);
l: Comprimento da estaca (m);
Ae : Área lateral da estaca (m²);
A p : É a área da ponta da estaca (m²);
β e α: São coeficientes que dependem do tipo de estaca e do solo (Tabelas 3 e 4).
Tabela 3 - Coeficiente α
Fonte: AOKI N.; CINTRA J.C. (2010)
Tabela 4 - Coeficiente β
Fonte: AOKI N.; CINTRA J.C. (2010)
Nm
qS= +1( Equação 9)
3
Em que:
N m: É a média dos pontos SPT ao longo do comprimento l considerado para a
estaca, conforme a equação 10.
i
∑N
l
Nm= (tf /m²)(Equação 1 0)
l
Em que:
K :É um coeficiente que depende das características do solo e N é o SPT na ponta
da estaca. Na tabela 5 podem ser observados os valores para K.
Com a atualização da norma ABNT NBR 6122 a resistência de ponta passou a ser
minorada pelo coeficiente de redução igual a 12, portanto, é determinada por:
qp
q p 6122= (tf /m²)(Equação 1 2)
4
Figura 8 – Laudo de sondagem geotécnica utilizado como referência para aplicação dos cálculos
Fonte: MASTERSOLO (2019)
Em que:
σ adm: É a tensão admissível do solo (kgf/cm²);
N: É o número de golpes de SPT.
Portanto para argila arenosa, dado obtido no laudo de sondagem, Figura 13, a
tensão admissível é dada pela equação 16. Na tabela 6 podem ser observados os
valores de tensão admissível para o solo em questão.
Tensão
admissivel
Prof. Tipo de SPT σadm
(m) solo N (kgf/cm²)
0 Argila arenosa 0 0,0
1 Argila arenosa 2 0,3
2 Argila arenosa 2 0,3
3 Argila arenosa 2 0,3
4 Argila arenosa 2 0,3
5 Argila arenosa 2 0,3
6 Argila arenosa 2 0,3
7 Argila arenosa 3 0,4
8 Argila arenosa 8 1,1
9 Argila arenosa 7 0,9
10 Argila arenosa 7 0,9
11 Argila arenosa 6 0,8
12 Argila arenosa 11 1,5
13 Argila arenosa 12 1,6
14 Argila arenosa 12 1,6
15 Argila arenosa 14 1,9
16 Argila arenosa 18 2,4
17 Argila arenosa 27 3,6
18 Argila arenosa 31 4,1
19 Argila arenosa 37 4,9
20 Argila arenosa 40 5,3
21 Argila arenosa 41 5,5
22 Argila arenosa 43 5,7
Carga de ruptura
método Decourt
Prof. SPT Volume N comp N Tração
(m) N (m³) (tf) (tf)
0 0 0,00 0,00 0,0
1 2 0,07 1,33 0,5
2 2 0,14 2,29 1,0
3 2 0,21 3,26 1,5
4 2 0,28 4,22 2,0
5 2 0,35 5,19 2,5
6 2 0,42 6,16 3,0
7 3 0,49 7,33 3,5
8 8 0,57 9,37 4,1
9 7 0,64 10,41 4,8
10 7 0,71 11,71 5,4
11 6 0,78 12,86 6,1
12 11 0,85 15,21 6,9
13 12 0,92 16,95 7,7
14 12 0,99 18,61 8,6
15 14 1,06 20,73 9,5
16 18 1,13 23,36 10,5
17 27 1,20 27,12 11,6
18 31 1,27 30,22 12,8
AOKI E DÉCOURT E
DIFERENÇA
VELLOSO QUARESMA
Prof. SPT N1 N2 Δ=N1-N2
(m) N (tf) (tf) (tf)
0 0 0,00 0,00 0,00
1 2 1,00 1,33 -0,33
2 2 1,18 2,29 -1,12
3 2 1,35 3,26 -1,91
4 2 1,53 4,22 -2,70
5 2 1,70 5,19 -3,49
6 2 1,88 6,16 -4,28
7 3 2,56 7,33 -4,78
8 8 5,32 9,37 -4,05
9 7 5,52 10,41 -4,89
10 7 6,14 11,71 -5,57
11 6 6,25 12,86 -6,61
12 11 9,28 15,21 -5,93
13 12 10,75 16,95 -6,20
14 12 11,80 18,61 -6,80
15 14 13,86 20,73 -6,87
16 18 17,09 23,36 -6,27
17 27 23,17 27,12 -3,95
18 31 27,55 30,22 -2,68
Tabela 9 – Comparativo numérico entre dimensionamento pelos Métodos Aoki & Velloso e Décourt &
Quaresma
Fonte: Autora (2019)
19
Na Figura 10 pode ser observado o gráfico comparativo dos resultados obtidos nos
cálculos, em que é mostrada a curva do método Décourt & Quaresma acima da
curva do método de Aoki & Velloso.
AOKI E VELLOSO
Estudo comparativo DECOURT E
QUARESMA
35.00
Capacidade estaca escavada (tf)
30.00
25.00
20.00
15.00
10.00
5.00
0.00
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Profundidade da estaca (m)
Figura 10 – Gráfico comparativo entre métodos
Fonte: Autora (2019)
Com esses dados em mãos pode-se concluir que o método de Aoki & e Velloso é
mais favorável a segurança, porém se afasta bastante dos resultados encontrados
em testes de ruptura de estacas, portanto cabe ao projetista analisar cada situação
conforme suas particularidades para escolher o melhor método para o
dimensionamento.
6. Conclusão
Ao concluir esse estudo comparativo, tem-se que os resultados encontrados se
mostraram coerentes com a literatura difundida no meio acadêmico e que são de
suma importância em sua área de aplicação, o que permite incluí-lo as práticas
rotineiras da engenharia de fundações. Também, constata-se que é preciso um
estudo aprimorado antes da implantação da fundação de um edifício, pois é
necessário avaliar a viabilidade, tanto no quesito técnico quanto econômico dos
mesmos.
Neste presente trabalho foi realizada uma revisão bibliográfica para verificação do
estado da arte atual na área das fundações e, posteriormente, o estudo comparativo
entre os métodos Aoki & Velloso e Décourt & Quaresma, nas quais o trabalho se
fundamentou. Conforme o gráfico apresentado na Figura 15, pode ser observado o
conservadorismo a favor da segurança no método de Aoki & Velloso.
Foi observado que não existe um tipo de estaca ou fundação ideal em relação à
capacidade de carga, bem como não existe um método de dimensionamento ideal.
O estudo completo de cada caso deve ser realizado pelo projetista para escolha do
melhor sistema de fundações a ser implantando e como o mesmo deverá ser
dimensionado.
A realização do Trabalho de Conclusão de Curso teve um papel fundamental na
formação acadêmica da aluna do curso de pós-graduação em Engenharia Civil,
porque possibilitou a aplicação dos conhecimentos teóricos adquiridos em sala de
20
Referencial teórico
AOKI N., CINTRA J.C. (2010). Fundações por Estacas: Projeto Geotécnico. Editora
Oficina de Textos, São Paulo, 96 p.
VELLOSO, D. A.; LOPES, F.R. Fundações Profundas. São Paulo: Oficina de Textos.
2Ed. 2002 COPPE/UFRJ.
APÊNDICES