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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Direito Processual Penal

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Catarina Fernandes
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CAPÍTULO I- INTRODUÇÃO

1. A “ciência total do direito penal” e o direito processual penal.

Ao contrário de outros ramos do direito, o direito penal concretiza-se através do processo penal. Não há
notícia que alguém tenha sido condenado numa pena ou numa medida de segurança sem ser no âmbito do
processo penal. O processo penal é indispensável para averiguarmos a notícia de um crime - ver se há crime;
quem o praticou; provado o crime, aplicar a pena ou medida de segurança. Este é, desde logo, um dos traços
diferenciadores entre processo penal e processo civil porque hoje, cada vez mais, o direito civil é um direito
que se pode realizar à margem de um processo. (Ex: casamento, sucessão)
O DPP insere-se na chamada “ciência global ou total do direito penal”, uma expressão de Von Liszt. Neste,
integramos o direito penal sem sentido amplo, a criminologia e a política criminal. No Direito Penal em sentido
amplo podemos incluir:
a) Direito penal (substantivo) à Cabe dizer quando há crime e quais as suas consequências jurídicas.
b) Direito de execução de penas e medidas de segurança (executivo) à Regulamentação jurídica da
execução da pena e da medida de segurança decretada na sentença condenatória proferida em
processo penal.
c) Direito processual penal (adjectivo) à Regulamentação jurídica do modo como se investiga a prática
de um crime e se determina o seu agente, em ordem à aplicação de uma sanção penal ou à resolução
do conflito jurídico-penal de forma desviada da tramitação comum.

1.1.O direito processual penal, o direito penal e o direito penal executivo.

É verdade que o processo penal é uma condição necessária/obrigatória de concretização do direito penal.
Não podemos, porém, dizer que o Direito Processual Penal é um direito meramente instrumental ao Direito
Penal, não havendo aqui qualquer relação de instrumentalidade entre ambos. Ao invés, devemos afirmar uma
relação mútua de complementaridade funcional que nos permita concebê-los como participantes de uma
mesma unidade. Isto quer dizer que há soluções do DP que se repercutem no DPP; e que há soluções do DPP
que são ditadas pelo DP.
Quanto à influência que o Direito Penal tem no Direito Processual Penal, veja-se, desde logo, o caso da
declaração de inimputabilidade por anomalia psíquica, que supõe o estabelecimento de uma relação entre a
anomalia psíquica do agente e o facto concreto praticado pelo agente (art. 20º CP 1 ). A questão da
imputabilidade é posta e decidida no próprio processo do facto, como qualquer outra questão atinente à
culpa, havendo um tratamento unitário dos casos que levam à aplicação de uma pena e dos que levam,
eventualmente, à imposição de uma medida de segurança. (Veja-se o art. 1º/a - que nos diz que "crime" para
efeitos de aplicação do CPP significa o conjunto de pressupostos de que depende a aplicação de uma pena ou
de uma MS, sendo um conceito muito diferente do que é utilizado no

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Foi com o Código de Eduardo Correia - 1982 - que se introduziu o art. 20º CP na sua formulação actual; antes falava-
se de um incidente de alienação mental - se no âmbito do processo se suspeitasse que o agente poderia vir a ser
considerado inimputável, o PP suspendia-se, abrindo-se um incidente à margem do facto, perguntando-se à pessoa se
no

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momento da prática do crime tinha ou não alguma alienação mental que a impossibilitasse de avaliar a ilicitude do facto ou
de se determinar de acordo com essa avaliação.

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direito penal substantivo - crime como facto ilícito, típico e culposo - e 368º CPP, segundo o qual o tribunal, já
no final do julgamento, decide a questão da culpabilidade.)
Na mesma linha, refira-se o princípio da socialização e a exigência de que a decisão condenatória seja
fundamentada, não tendo a questão da determinação da pena a ver com a "arte de julgar do juiz" – ver art.
40º/1 e art. 71º/3 CP. Estas duas normas levaram a que à determinação da pena ou medida de segurança fosse
conferido um relevo específico na tramitação do processo penal. Veja-se:
• Art. 160º CPP, que prevê a perícia sobre a personalidade do agente, que serve nomeadamente
para a avaliação da personalidade e da perigosidade do agente, nomeadamente para a decisão
sobre a determinação da sanção.
• Art. 368º CPP e 369º CPP, que distinguem a questão da culpabilidade com a questão da
determinação da sanção.
• Art. 370º CPP, ao permitir que o tribunal possa solicitar a realização de um relatório social, em
qualquer altura do julgamento, se o considerar necessário à correcta determinação da sanção.
• Art. 371º CPP, no qual se prevê a possibilidade de reabertura da audiência do julgamento para
ser produzida mais prova para ser determinada correctamente a sanção.
• Art. 375º CPP, por conter exigências específicas de fundamentação relativamente à sentença
condenatória.

A influência do Direito Processual Penal no Direito Penal é também evidente. Mostra-se na doutrina da
culpa, por via da verificação de dificuldades de natureza processual em provar um “poder agir de outra
maneira”. E também no princípio da subsidiariedade da intervenção penal, por força da exigência processual
de não sobrecarregar os tribunais penais com todo o tipo de questões, sendo criadas soluções desviadas do
processamento normal, de que são exemplo o art. 280º e 281º CPP e a solução de mediação permitida pela
lei 21/2007, de 12 de Junho.
Essa relação de complementaridade funcional entre o DPP e o DP é hoje muito nítida em certos domínios
da criminalidade. O surgimento do chamado “direito penal secundário”, criminalizando condutas atinentes
tem levado a um tratamento processual penal diferenciado com concretização quer em normas especiais do
próprio CPP, quer em legislação extravagante. Veja-se o caso da Lei 101/2001, de acções encobertas (agentes
infiltrados), ou a Lei 5/2002, Lei da criminalidade organizada e económicofinanceira – que estabelece um
regime especial de recolha de prova e quebra do segredo profissional. Por seu turno, dificuldades de natureza
processual penal terão contribuindo para uma antecipação da tutela penal e para o seguimento de novas
incriminações. Vejam-se nos crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual – arts. 176º/4, 176º-A,
171º/5, 172º/4, 173º/3, 372º-374º CP2. Outro exemplo é o da criminalização do enriquecimento ilícito ou
injustificado. A necessidade de criminalizar esta prática advém do processo penal, porque no seu
corrupção activa ou passiva, com a diferença de que não é necessário fazer a prova de um acto concreto, bastando fazer
prova de que houve um recebimento indevido de vantagens.

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Antes, os crimes de corrupção pressupunham sempre que se fizesse a prova do acto que esteve na base desse
comportamento de corrupção activa ou passiva. O importante era identificar o acto que justificava esse fenómeno. A
prática mostrou que no processo penal nem sempre era fácil identificarmos o acto concreto que estava na origem do
fenómeno. Hoje, o art. 372º CP - recebimento indevido de vantagens - prevê um crime com muitas parecenças com a

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âmbito não se conseguia fazer prova da prática de determinados crimes. Um dos problemas do crime é que
se presume que a décalage patrimonial por ele prevista é indicadora de crime. É em face do falhanço do
sistema de administração da justiça penal que se cria um tipo legal de crime sem bem jurídico a proteger - o
que levou o TC a pronunciar-se sobre a sua inconstitucionalidade.

Às vezes esta relação de complementaridade funcional é tão intensa que há dificuldades em dizer qual a
natureza jurídica de determinados institutos - queixa (art. 113º a 116º CP e 49º a 51º CPP) e acusação particular
(art. 117º CP e 50º-51º CPP). Estes dois institutos têm natureza substantiva, adjectiva ou mista? A questão é
pertinente para efeitos de aplicação da lei no tempo (art. 2º CP e 5º CPP – A Lei Processual Penal é de aplicação
imediata ao contrário da lei penal.) e integração de lacunas (art. 1º CP e 4º CPP – o CPP admite a integração
de lacunas pro recurso a analogia, ao contrário do DP).

Quanto às relações entre o DPP e o Direito de Execução das Penas e MS, podemos destacar que neste
direito são identificáveis normas de natureza adjectiva – respeitantes ao efeito executivo da sentença e ao
procedimento geral de execução, quer contidas no CPP, quer no CEP – e normas de natureza substantiva
atinentes à determinação prática do conteúdo da sentença condenatória, ou seja, à realização concreta da
sanção imposta nesta decisão, contidas quer no CP, quer no CEP. Assim, duas notas:
I) Há normas de processo penal que têm a ver com a execução das penas e dasmedidas de segurança,
mas ainda assim mantêm natureza processual penal. (Art. 467º CPP e ss.)
II) As normas do direito de execução das penas e das medidas de segurança, podemser de natureza
substantiva ou adjectiva. Estas normas adjectivas não são normas de direito processual penal, mas tão só
normas adjectivas no âmbito do direito de execução de penas e medidas de segurança.
Face a isto, tem-se colocado a questão de saber se a garantia de defesa que é o direito ao recurso se
estende ao momento em que está a ser executada a pena de prisão. O TC tem decidido no sentido de já não
ser aplicável o disposto no art. 32º/1 CRP, sem prejuízo de se dever equacionar a questão da recorribilidade a
partir do art.
20º CRP. (ver Ac. TC 752/2014)

1.2.O direito processual penal, a criminologia e a política criminal.

Atentando nas relações entre processo penal e criminologia, são muito importantes os estudos
criminológicos que nos mostram que há efectivamente um processo de selecção da delinquência- mostrando-
nos que há uma grande discrepância entre os crimes que são efectivamente cometidos e os crimes que
efectivamente chegam a julgamento, e entre estes e aqueles que conduzem a condenação em pena ou MS
(«efeito de funil»).
BECKER afirma que criminoso não é aquele que comete crimes, mas aquele a quem o estigma é aplicado
com sucesso. A criminologia aponta ainda vantagens na não descoberta e no não sancionamento de todos os
crimes. A perseguição total de todo e qualquer crime poderia mesmo questionar o valor da norma que o
tipifica, o que aponta para margens positivas de oportunidade quanto à promoção processual.
O Processo Penal colhe ainda ensinamentos dos estudos criminológicos que demonstram os efeitos
estigmatizantes ou vitimizadores de determinados momentos ou práticas no decurso do

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processo. São ainda muito relevantes os estudos criminológicos que distinguem a pequena criminalidade da
criminalidade grave, que são «duas realidades claramente distintas quanto à sua explicação criminológica, ao
grau de danosidade social e ao alarme colectivo que provocam», procedendo-se a esta distinção nos arts. 280º,
281º (valem só para a pequena e média criminalidade) e 344º CPP (a confissão tem efeitos distintos consoante
seja feita no âmbito da pequena e média criminalidade e nos casos em que é feita no âmbito da criminalidade
grave) e na delimitação dos processos especiais
– sumário e sumaríssimo.
A questão hoje é a de saber se devemos fazer distinções ao nível da criminalidade mais grave. O art.
1º/i/j/l/n CPP refere-se a tipos especiais de criminalidade dentro da criminalidade grave, existindo artigos
especiais do CPP que têm soluções diferentes hoje para este tipo de criminalidade. Será que é assim que deve
ser ou não? É uma questão muito sensível, porque estas distinções visam sempre privilegiar a descoberta da
verdade material e realização da justiça em detrimento da finalidade de protecção dos direitos fundamentais3.
Passámos de um direito penal de “duas velocidades” para o surgimento de uma “terceira velocidade”
potencialmente perigosa e indesejável.

No que diz respeito às relações entre o Processo Penal e a Política Criminal, fundando-se esta no
mandamento da necessidade de tutela de bens jurídicos e reintegração do agente na sociedade, devemos
defender a celeridade do processo, dar adequado relevo à determinação da sanção, garantir que o arguido e
a vítima participem na administração da justiça penal, criando um espaço de soluções processuais de consenso
(e não de negociação!).
Tal como nos diz FERNANDA PALMA, o DPP deve ser uma instância racionalizadora de distinção dos casos
segundo critérios razoáveis de justiça e uma antecipação dos fins reparadores das penas. Vejam-se, neste
sentido, os arts. 280º e 281º CPP que mostram que do ponto de vista processual, a intervenção do direito
penal em sentido amplo deve ser uma intervenção subsidiária.

2. As finalidades do processo penal.

Ao processo penal são apontadas três finalidades essenciais:


1)Realização da justiça e descoberta da verdade material, finalidades que são autónomas entre si. A
verdade material é aquela que não se basta com uma “verdade formal ou dos articulados”, mas que pode
dizer-se uma “verdade dos factos” – a procura de saber quem, onde, como, porquê, quando…
2)Protecção perante o estado dos direitos fundamentais das pessoas envolvidas no processo penal –
e aqui estamos a falar de direitos do arguido, mas também de terceiros.
infiltrados, que viola claramente o art. 126º CPP por se tratar de um meio enganoso de prova, tal como defende COSTA
ANDRADE em “As proibições da prova em processo penal”.

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Neste sentido, falava-nos JACOBS do "Direito penal do inimigo" que defendia que o Direito Penal do "vale tudo",
quase não olhando a meios para atingir os fins; já no "Direito Penal dos cidadãos", protegem-se os seus direitos. A partir
do conceito podemos delimitar os casos em que se podem justificar diferenciações ao nível do direito penal e do direito
processual penal consoante o tipo de criminalidade. Essa diferenciação é importante para evitar a contaminação que
hoje é crescente. Veja-se o aumento de casos em que se permite a intervenção de agentes

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3)Restabelecimento da paz jurídica comunitária e do arguido que é posta em causa quando se pratica
o crime.
Estas finalidades não são, porém, integralmente harmonizáveis, sendo antes de concluir pelo seu
carácter irremediavelmente antinómico e antitético.
A finalidade de realização da justiça e da descoberta da verdade material pode conflituar:
• Com a finalidade de protecção perante o Estado dos direitos fundamentais das pessoas à Veja-se o
caso das buscas domiciliárias e das escutas telefónicas como meios probatórios, as quais podem
envolver até terceiros e não apenas os arguidos, e a admissibilidade de medidas de coacção, como a
prisão preventiva. (art. 177º e 202º CPP)
• Com a finalidade de restabelecimento da paz jurídica à Quando se preveja, depois do trânsito em
julgado da decisão, a revisão da sentença ou se admita a reabertura da fase de inquérito. (art. 279º e
449º CPP)

A protecção perante o Estado de direitos fundamentais das pessoas pode conflituar com:
• A finalidade de realização da justiça e descoberta da verdade material à Quando se proíbam
certos meios de prova e quando se proíba a valoração do silêncio do arguido quanto aos factos
que lhe sejam imputados (art. 126º e 61º/1/d, 343º/1, 345º/1 CPP)
• A finalidade de restabelecimento da paz jurídica à Quando se admita, já depois do trânsito em
julgado da decisão, a revisão da sentença condenatória de alguém já entretanto falecido (art.
449º/4 CPP e 127º, 128º CP)

A finalidade de restabelecimento da paz jurídica (constitucionalmente protegida no art.


32º/2 CRP) pode conflituar com:
• A finalidade de realização da justiça e descoberta da verdade material à Quando à decisão
final se ligue o efeito de caso julgado e, consequentemente, o efeito de irrecorribilidade da
decisão.
• A finalidade de protecção perante o Estado de direitos fundamentais das pessoas à Quando
se sujeite o arguido a prisão preventiva, restringindo o seu direito à liberdade, por haver
perigo, em razão da natureza e das circunstâncias do crime ou da personalidade do arguido,
de que este perturbe gravemente a ordem e tranquilidade públicas (art. 204º/c CPP).

De acordo com FIGUEIREDO DIAS, a solução possível para ultrapassar esta antinomia é tentar fazer uma
concordância prática entre estas finalidades conflituantes de modo a que de cada uma se salve, em cada
situação, o máximo conteúdo possível, optimizando os ganhos e minimizando as perdas axiológicas e
funcionais, com o limite intocável da dignidade da pessoa humana: a dignidade da pessoa humana é um valor
absoluto relativamente ao qual nenhuma transacção é possível. Como tal, não pode ceder perante qualquer
outro direito ou interesse. Esse é o grande desafio do processo penal democrático.
A mútua compressão das finalidades em conflito por forma a atribuir a cada uma delas a máxima
eficácia possível é notória p.e. no art. 191º e s e 349º e ss. CPP e ainda no art. 171º e ss. CPP. Ver ainda o art.
126º CPP.

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Exemplos de compatibilização:
▪ Prisão preventiva coloca em causa o direito fundamental a liberdade e da presunção de inocência do
sujeito. A prisão preventiva deve existir em nome da descoberta da verdade material e da realização da justiça.
Como harmonizar as finalidades conflituantes? Devemos reservar a competência de decretar a prisão
preventiva a um juiz e criando requisitos e pressupostos exactos na aplicação da prisão preventiva. É assim que
na prática se faz a harmonização.

▪ Escutas telefónicas que afectam o direito à inviolabilidade das comunicações. Como se faz a
harmonização? Reservando a sua competência ao juiz, determinando que só há escutas telefónicas na fase de
inquérito; determinando o catálogo de crimes que permitem as escutas telefónicas e fazendo deste meio um
meio excepcional.

▪A jurisprudência do TC – Ac TC 607/2003 - veio a analisar a seguinte questão: foi ordenada uma busca
domiciliária a um dos arguidos (violando-se direitos fundamentais em nome da realização da justiça e da
descoberta da verdade material) e a questão que se colocou foi a de saber se tudo o que é obtido através da
busca podem ser valoradas ou se há limites de valoração relativamente a certos meios de prova obtidos através
dessa busca. Aqui o caso foi de saber se havendo uma busca legal devidamente autorizada, se podia ser
valorado um diário que foi encontrado nessa busca. Ora, um diário é algo extremamente pessoal e íntimo. Será
que o diário poderia ser valorado como os outros meios de prova que foram encontrados? O TC disse que (1)
estando em causa um diário, não se pode valorar o conteúdo do diário sem mais. Para aceder ao seu conteúdo
é preciso que se justifique o acesso ao conteúdo do diário; (2) o mesmo vale se nós quisermos valorar um diário
para sujeitar
alguém a prisão preventiva, porque aí ainda se coloca em causa a presunção de inocência do arguido.
Em nome da realização da justiça o TC não disse que NUNCA pode ser valorado o diário, mas note-se
que alertou para a impossibilidade de afectar os direitos fundamentais do sujeito.

3. A conformação jurídico-constitucional do processo penal.

Como afirma ROXIN, o DPP é o sismógrafo da Constituição de um Estado, dependendo a estrutura e a


caracterização do processo penal das orientações políticas típicas historicamente afirmadas. É o verdadeiro
direito constitucional aplicado, numa dupla dimensão:
(1)Os fundamentos do DPP são simultaneamente os alicerces constitucionais do Estado;
(2)A concreta regulamentação de singulares problemas processuais deve ser conformada jurídico-
constitucionalmente.
Encontramos assim uma pluralidade de normas relevantes em matéria de processo penal na CRP: arts.
27º/3/4/5, 28º, 29º, 31º, 32º, 34º/2/3, 130º, 163º/c, 157º/2/3, 196º/1, 207º/1, 219º/1/2, 20º/, 29º, 206º,
202º, 203º, 215º, 216º, 219º, 272º CRP.
O DPP é ainda direito constitucional aplicado de outro ponto de vista: a conformação do processo penal
traduz-se muitas vezes em restrições a DLG’s de arguidos ou terceiros, que envolve todo o regime
constitucional de restrição dos DLG’s – art. 17º e 18º CRP.
A jurisprudência constitucional, quer em sede de fiscalização abstracta, preventiva e sucessiva, quer em
sede de fiscalização concreta de normas processuais penais aplicadas pelos tribunais das decisões recorridas
é muito rica nesta matéria.
Dispondo o art. 12º/2 CRP de que as pessoas colectivas gozam dos direitos e estão sujeitas aos deveres
compatíveis com a sua natureza, é cada vez mais pertinente, dada a previsão e aumento da sua
responsabilidade criminal (art. 11º CP), a questão de saber quais os direitos

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constitucionalmente consagrados com relevo em matéria de processo penal, cujo gozo é compatível com a
sua natureza. Algo que terá sempre de ter em conta a sua natureza pública ou privada.
O TC considerou, no seu Ac. TC 216/2010, que as pessoas colectivas gozam do direito de acesso ao
direito e aos tribunais do art. 20º CRP, sem que deles decorra o direito à protecção jurídica por parte de
pessoas colectivas com fins lucrativos. Também é compatível o direito ao sigilo da correspondência do art.
34º/1 CRP; em matéria de buscas domiciliárias que a protecção constitucional do domicílio do art. 34º/2 CRP
vale só para as pessoas singulares, não estando por isso na competência reservada do juiz ordenar a busca
que aí se realize. (Ac. TC 596/2008)

4. A estrutura do processo penal português.


Quando falamos em estruturas de processo penal, falamos fundamentalmente em dois modelos ditos
puros:
A) Modelo acusatório
• Origem: Está ligado a estados de direito democrático liberal – época do Iluminismo. Nos sistemas anglo-
saxónicos, já existia desde a Magna Charta. Alguns autores referem mesmo a antiguidade clássica como
o período em que surgiram muitas das suas notas caracterizadoras.
• Finalidade: Assegurar os direitos fundamentais do individuo. O iluminismo permitiu ver os indivíduos
como grandezas individuais e, por isso, dotadas de direitos próprios que devem ser respeitados.
• Natureza do processo: O processo é visto como uma disputa entre o Estado e o indivíduo indiciado. A
verdade que se obtém é meramente formal, emergente de regras de repartição do ónus da prova, com
respeito ao princípio da igualdade de armas e princípio do dispositivo. Valia ainda o princípio da auto-
responsabilidade provatória das partes, tendo cada uma das partes a responsabilidade de acarretar as
provas para o processo – por isso, privilegiava-se aqui uma verdade formal.
• Papel do arguido: O arguido tem o estatuto de sujeito processual que tem como finalidade a protecção
dos direitos das pessoas, procurando-se que este tivesse o
mesmo estatuto processual que o acusador. Verifica-se uma transmutação do princípio civil da igualdade de
armas para o direito processual penal.
• Papel do juiz: Vigora aqui o princípio da acusação - há uma cisão entre a entidade que investiga e que
julga a causa (em nome da imparcialidade e objectividade da decisão jurisdicional, o MP investiga e acusa
e depois o julgamento cabe ao juiz). Para além disso, o juiz de julgamento é um juiz passivo, que não tem
uma actuação intensa no processo. Limita-se à tarefa de analisar as provas que lhe são trazidas e julgar.

B) Modelo inquisitório
• Origem: Está ligado a regimes autoritários e ditatoriais, embora já tenha surgido na Idade Média
com a Inquisição.
• Finalidade: Neste modelo domina o interessa estadual, de tal modo que se privilegia a finalidade
de descoberta da verdade (material?) e realização da justiça.
• Natureza do processo: Era um processo escrito, com carácter secreto. No quadro desse processo,
privilegiava-se a obtenção da verdade através de meios como a confissão (rainha das provas),
admitindo-se inclusivamente a prática da tortura para a ela chegar.

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• Papel do arguido: O arguido é visto como o objecto do processo penal, colocando-se em segundo
plano a protecção dos seus direitos. Ex: a confissão é o principal meio de prova, ainda que se
utilizem métodos proibidos para a obter, como a tortura. Não lhe eram concedidos direitos
processuais autónomos de defesa.
• Papel do juiz: As funções de investigação, de acusação e de julgamento cabem a uma mesma
entidade - ao juiz – que se encontrava dependente do poder político.

Isto não impede a existência de estruturas de natureza mista, como a inquisitória mitigada ou
moderna.
O CPP que antecedeu o actual (1929) é um exemplo característico do regime ditatorial e autoritário
que tivemos em Portugal a partir de 1926. Este é o "Código da Ditadura", com o gosto e marcas do regime
totalitário, revelando a forma como se desenvolviam relações entre o Estado e o indivíduo na perseguição do
crime e dos criminosos. Este Código era só formalmente acusatório, mas materialmente inquisitório, porque
o juiz que procedia ao julgamento era o mesmo que realizava a investigação da causa, embora fosse o MP a
deduzir a acusação.
Em 1945 houve alguma abertura política na sequência do fim da segunda guerra mundial, e o processo
penal tornou-se um pouco mais liberal, subtraindo-se ao juiz a competência de realização da instrução
preparatória e entregando-a ao MP. Note-se, porém, que este era governamentalizado e não controlado
judicialmente, atentando-se muitas vezes contra os direitos fundamentais das pessoas. Foi com a "Primavera
Marcelista" que se promoveu a fiscalização judicial da actividade instrutória do MP e das polícias, por via da
criação da figura do juiz de instrução - um verdadeiro juiz das liberdades-, tendo havido também uma melhoria
da posição processual do arguido nas fases anteriores ao julgamento. Com o 25 de Abril de 1974 e a CRP de
1976, abre-se um período conducente a reforma do processo penal tendo em vista o processo penal de um
Estado de direito democrático.
Tendo em vista o processo penal de um Estado de direito democrático (art. 2º CRP), o CPP de 1987 foi
estruturado de maneira a permitir a concordância prática das finalidades do processo penal, segundo um
modelo acusatório, integrado por um princípio subsidiário de investigação (art. 32º/5 CRP). Este caracteriza-
se por:
• Modelo basicamente acusatório: Vale o princípio da acusação, segundo o qual a entidade que
investiga e acusa (MP) é distinta da entidade que julga (juiz), com repartição de funções entre
magistraturas distintas, procurando alcançar o desiderato da máxima acusatoriedade processual. Este
princípio, apesar de ser característica fundamental de uma estrutura acusatória, não esgota o que se
entende por estrutura acusatória, por isso se diz que princípio da acusação e estrutura acusatória não
são a mesma coisa. Haverá, pois, que evidenciar outras características desta estrutura como seja:
o Prossecução de três finalidades primárias de igual relevância e com carácter conflituante;
o Princípio do contraditório, consagrado no art. 32º/5/2ª parte CRP, ainda que a consagração
deste princípio não permita que o processo penal português seja um processo de partes.
Porquê? O processo penal português não é um processo de partes, desde logo, porque o MP
entre nós não assume a posição processual de mero acusador ou advogado do Estado; antes
está legalmente adstrito a critérios de estrita objectividade na busca da verdade material (art.
53º); por outro lado, também o

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arguido não é uma parte na medida em que a sua posição processual, por mais amplas que
sejam as garantias de defesa (art. 32º/1 CRP) está sempre numa posição não igualitária face
aos demais sujeitos porque o processo penal mais não é do que meio para o exercício do ius
puniendi do Estado sobre o arguido. (Ver art. 60º CPP)); o Participação constitutiva dos
sujeitos processuais na declaração do direito no caso concreto, o que se traduz no
reconhecimento de um leque alargado de sujeitos processuais, que contempla também o
arguido (art. 60º e 61º CPP), ou seja, pelo reconhecimento de participantes processuais com
uma participação constitutiva na declaração do direito do caso, com direitos (por vezes, que
surgem sob a forma de poderesdeveres) autónomos de conformação da concreta tramitação
do processo como um todo, em vista da sua decisão final. Não se pode, face à posição e
atribuições que o MP tem no processo, falar verdadeiramente de um processo de partes. Ver
art. 289º CPP.

• Princípio subsidiário de investigação a cargo do juiz: Indica que há um poder-dever do tribunal de


investigar os factos independentemente do contributo dos outros sujeitos processuais, criando as
bases da sua própria decisão. Esta afirmação é demonstrativa de que o juiz do processo penal não é
um juiz passivo e de que a verdade que se busca no processo é a verdade material. Este poderdever
de investigação assume duas características fundamentais sob pena de se subverter o princípio da
acusação: (1) É um poder subsidiário, porque o juiz não lança mão desse poder-dever de investigação
sempre e em primeira linha, mas apenas quando "se lhe afigure necessário à descoberta da verdade
e à boa decisão da causa" (art. 340º/1/2 e p.e. Art. 348º/5 CPP); (2) é um poder limitado ao objecto
do processo (e ao seu carácter indisponível), ou seja, o juiz só pode investigar os factos que compõem
o objecto do processo que é prima facie definido com a acusação (pode também ser modelado com a
pronúncia ou com a contestação, dependendo isto da tramitação que efectivamente ocorrer), sendo
esses os factos efectivamente submetidos a julgamento. Isto porque o arguido se defende dos factos
que está a ser acusado e não de outros, não se podendo alterar as "regras do jogo" ao longo do
processo e com o limite de se tratar sempre de uma prossecução processualmente válida, que garanta
a protecção dos direitos de pessoas (do arguido e de terceiros).

O art. 348º CPP espelha muito bem a estrutura do processo penal português, ao fixar as regras de
inquirição de testemunhas de acordo com um sistema de Cross Examination. De acordo com este artigo, as
testemunhas são inquiridas por quem as indica, dando-se depois a possibilidade à outra parte contra-
interrogar a testemunha. Note-se ainda que, não obstante não tenha consagração expressa na letra da CRP, o
TC fundamenta constitucionalmente o princípio da investigação e da verdade material.

CAPÍTULO II – DIREITO PROCESSUAL PENAL E A SUA APLICAÇÃO

1. Interpretação e integração da lei processual penal

A interpretação da lei processual não põe o intérprete perante problemas específicos de interpretação
da lei. Deve apenas assinalar-se que no processo interpretativo deverão sempre ser

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consideradas as finalidades do processo penal e que o princípio da interpretação conforme à Constituição tem
aqui o peso que lhe advém da denominada constituição processual penal. Ver art. 80º/3 LTC.
Sobre a integração de lacunas, dispõe o art. 4º CPP no sentido de se aplicarem por analogia, aos casos
omissos, as disposições do Código. Na impossibilidade desta aplicação observam-se as normas do processo
civil que se harmonizem com o processo penal, e na falta delas, aplicam-se os princípio do processo penal, que
têm uma dupla função: (1) controlo do recurso ao direito subsidiário; (2) função integradora, na falta das
outras fontes de integração de lacunas da lei processual penal.
Não obstante a admissibilidade do recurso à analogia, é de entender que o princípio da legalidade
criminal (29º/1 CRP) se estende, na medida imposta pelo seu conteúdo de sentido, o processo penal, já que a
este cabe assegurar ao arguido todas as garantias de defesa (art. 32º/1 CRP). Com a consequência de não ser
constitucionalmente a aplicação de normas por analogia sempre que tal aplicação venha a traduzir-se num
enfraquecimento da posição ou numa diminuição dos direitos processuais do arguido. Tal encontra-se
consagrado no AC. TC 324/2013, estendendo o principio da legalidade criminal ao processo penal.
Existia uma norma que dizia que "era irrecorrível, do Tribunal da Relação para o STJ, a sentença que
aplicasse pena não privativa da liberdade". O STJ lia esta norma como não sendo recorrível a decisão que
aplicasse pena não privativa de liberdade ou pena privativa de liberdade até 5 anos. Este era o caso nítido em
que o intérprete extravasou o sentido possível da letra da lei, que é o conteúdo básico do princípio da
legalidade. O TC julgou esta norma inconstitucional por violação do art. 29º CRP, em conjunto com o art. 32º/1
CRP.

2. Aplicação da lei processual penal no espaço

O art. 6º CPP estatuiu um princípio da territorialidade. O princípio do auxílio jurídico interestadual em


matéria penal que é identificável nesta matéria tem concretização em normas contidas no CPP no livro sobre
as relações com autoridades estrangeiras e entidades judiciárias internacionais. (Art. 229º e ss. CPP) Encontra-
se ainda em legislação extravagante como a lei de cooperação judiciária internacional em matéria penal (Lei
nº 144/99) e no diploma sobre o mandado de detenção europeu (Lei nº 65/2003).

3. Aplicação da lei processual penal quanto às pessoas

A Lei processual penal aplica-se a todas as pessoas, nacionais ou não, a quem seja aplicável o direito
penal português, estendendo-se mesmo a quem não é arguido em processo penal.
Isto sem prejuízo de haver isenções fundadas em preceitos de direito internacional - como no caso da
Convenção sobre as Relações Diplomáticas - porque hoje há imunidades pessoais de direito internacional para
garantir que certas pessoas com funções de representação do Estado no exterior possam desempenhá-las
livremente, sem que a sua eventual responsabilidade criminal perante a lei de outro país prejudique o normal
desenvolvimento das relações internacionais.
Há ainda limitações fundadas no direito constitucional português, que prevêem especialidades de
regime em razão das funções exercidas por certos sujeitos. Ver o caso do PR (art.

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130º/1/2/4 e 163º/c CRP), dos deputados (157º/2/3 CRP) e dos membros do governo (art. 163º/c e 196º/1
CRP).
Por exemplo, em relação do PR, quanto aos crimes praticados durante o mandato, mas fora do
exercício das suas funções, o processo só tem início depois de ele terminar o mandato. Se praticados os crimes
durante o mandato e no exercício das suas funções, serão julgados no decurso desse mesmo mandato pelo
STJ.

4. Aplicação da lei processual penal no tempo

A lei processual penal é de aplicação imediata, sem prejuízo da validade dos actos realizados na
vigência da lei anterior. (Art. 5º CPP) Presumindo-se melhor, aplicamos a lei nova aos processos pendentes,
ou seja, iniciados anteriormente à sua vigência.
O art. 5º CPP tem, porém duas ressalvas:
A) Quando a sua aplicabilidade imediata possa resultar em quebra da harmonia eunidade dos vários actos
do processo - se a lei nova introduzir muita novidade, é quase impossível aplicar a lei nova a um processo
já pendente. Foi esta ideia que esteve presente quando foi publicado o CPP de 1987: O legislador, no DL
que aprovou o Código optou por ter uma norma específica no sentido de dizer que o novo Código não se
aplicava aos processos pendentes.
B) Outra das excepções é que não se aplica a lei nova se da aplicação da lei resultarum agravamento sensível
e ainda evitável da situação processual do arguido, nomeadamente uma limitação do seu direito de
defesa. Esta limitação não se louva propriamente numa extensão do conteúdo de sentido do princípio da
aplicação da lei penal mais favorável (art. 29º/4 CRP), entendido este como princípio que encontra
justificação numa exigência de necessidade da sanção, mas antes no mandamento constitucional de
acordo com o qual o processo criminal assegura todas as garantias de defesa. (Art. 32º/1 CRP) Ora, daqui
decorre que a lei processual penal nova não se aplica de imediato, mantendo-se a vigente no momento
em que o processo foi iniciado, se da sua aplicação resultarem prejuízos para a defesa do arguido. Mas
atenção, porque a questão já não é assim se esta lei nova , em concreto, não se traduzir numa diminuição
dos direitos de defesa dos arguidos. Veja-se o caso da alteração dos prazos de recurso no decurso da
contagem desse prazo ou numa fase de instrução, em que a alteração é feita antes de contar esse prazo
para recorrer.

CAPÍTULO III – PARTICIPANTES E SUJEITOS PROCESSUAIS

Os participantes processuais praticam actos singulares, cujo conteúdo processual se esgota na própria
actividade. A prática desses actos não decorre de qualquer poder de conformação do processo como um todo,
tendo em vista a decisão final. Já os sujeitos processuais são titulares de direitos autónomos de conformação
da concreta tramitação do processo como um todo, em vista da sua decisão final. Ou seja, têm uma
participação constitutiva na declaração do direito do caso. Nesse sentido, os sujeitos processuais são o tribunal
(o juiz), o ministério publico, o arguido, o defensor e o assistente.
1. O tribunal (O juiz)

O Tribunal ou juiz tem o seu estatuto traçado na CRP, fundando-se nos princípios jurídico-
constitucionais do monopólio da função jurisdicional (reserva de juiz), da independência e do juiz natural ou
legal (arts. 27º/2; 34º/2; 202º/1/2; 203º; 32º/9 CRP e art. 6º CEDH).
Em relação ao princípio do monopólio da função jurisdicional podem dizer que cabe ao juiz a
aplicação e a declaração do direito do caso através de decisões com força de caso julgado. Os tribunais judiciais
são sempre os órgãos competentes para decidir as causas penais e aplicar penas e MS, administrando a justiça
em nome do povo e reprimindo a violação da legalidade democrática- art. 202º/1/2 CRP e art. 8º CPP.

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Este princípio é muito sensível nas fases que antecedem o julgamento, nomeadamente no inquérito,
cuja direcção cabe ao MP, precisamente por ser da competência reservada ao juiz o exercício de todas as
funções jurisdicional. Tal justifica que estas funções sejam da competência do juiz de instrução (art. 17º, 268º
e 269º CPP; ex: 215º/4 CPP), a quem a CRP reserva a prática de actos instrutórios que se prendem
directamente com os direitos fundamentais - art. 32º/4 CRP e 268º e 269º CPP.
Por referência ao art. 32º/5 e 219º/1 CRP, o juiz de instrução desempenha um papel duplo:
(1)exerce todas as funções jurisdicionais até à remessa do processo para julgamento;
(2) compete- lhe proceder à instrução e decidir quanto à pronúncia (art. 17º CPP).
Há muito tempo, discutiu-se se actos não expressamente previstos pelo legislador para o juiz, podiam
ser realizados pelo MP, mais propriamente no âmbito das análises dos perfis genéticos. Afectando direitos
fundamentais, o TC entendeu que esse acto é da competência de um juiz, sob pena de violação deste princípio
do monopólio do poder jurisdicional.
No que toca ao princípio da independência judicial, este significa independência face aos demais
poderes do Estado (princípio da separação dos poderes), de quaisquer grupos da vida pública, da
administração judicial e dos outros tribunais e implica exigência de imparcialidade. Exige que a promoção
processual ocorra segundo os ditames do princípio da acusação - separação da entidade que investiga e acusa
e aquela que depois irá julgar; o juiz da instrução também não pode ser o mesmo que realizará o julgamento,
tudo como forma de garantir a objectividade e imparcialidade da decisão judicial - e haja uma previsão
suficientemente ampla de suspeições do juiz (impedimentos, recusas e escusas).
1)O art. 39º e 40º CPP prevêem, de forma expressa e taxativa, causas de suspeição do juiz -
impedimentos - fundadas em relações pessoais, em intervenção no processo ou em relações de parentesco,
de afinidade ou análogo ás dos cônjuges.
2)Criou-se ainda uma clausula geral de suspeição, para os casos não previstos na lei, que a intervenção
de um juiz de um processo pode ser recusada, podendo também o próprio juiz pedir escusa, quando ocorrer
o risco de ser considerada suspeita, por existir motivo, sério e grave, adequado a gerar desconfiança sobre a
sua imparcialidade. (Art. 43º CPP) Estas recusas e escusas também valem para o MP.
à Escusas - é o próprio juiz que suscita por entender estar posta em
causa a sua imparcialidade. (Art. 43/4)
è Recusas - quando é um dos sujeitos processuais a suscitar o incidente (art. 43/3).
Ver art. 45º CPP quanto ao processo a seguir.

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Note-se ainda, que as fases pré-processuais, existentes no Brasil, em regra, são fases pouco amigas e
garantísticas dos direitos fundamentais, porque ainda não valem as garantias do processo penal, embora
devessem valer.
Relativamente à participação do juiz de julgamento em fases anteriores do processo, o CPP especifica
como causa de impedimento os casos do art. 40º/a/b/e CPP. Quanto a outros actos processuais isolados que
o juiz de instrução tenha praticado, ordenado ou autorizado, os sujeitos processuais interessados poderão
apenas requerer a recusa de um tal juiz se a participação anterior no processo estiver rodeada de
circunstâncias que possam gerar desconfiança sobre a imparcialidade do julgador.
Esta distinção está suportada nas funções que estão reservadas ao juiz de instrução até ao julgamento.
Enquanto juiz das liberdades, o juiz de instrução só deve estar impedido de participar no julgamento quando
a sua intervenção processual contenda com o objecto do processo. É manifestamente o que sucede com a
presidência do debate instrutórios, tendo em vista a decisão de pronúncia ou de não pronúncia e o que pode
suceder com a aplicação daquelas medidas de coacção, na medida em que um dos seus pressupostos é a
existência de fortes indícios de prática de crime doloso. MARIA JOÃO ANTUNES que, a causa do art. 40º/a CPP,
na parte que remete para o 202º CPP, não devia constar dos impedimentos em geral, devendo a análise ser
feita caso a caso quanto ás possibilidades do juiz de manter a imparcialidade e objectividade. O problema é
que hoje muitos juízes de instrução não actuam como juízes das liberdades, mas como verdadeiros juízes da
investigação.
Destaque-se ainda o Ac. TC 186/98 que declarou inconstitucional uma norma na parte em que permitia
a intervenção no julgamento do juiz que, na fase de inquérito, decretou e posteriormente manteve a prisão
preventiva do arguido, por violar o art. 32º/5 CRP.
Finalmente, falaremos do princípio do juiz natural ou legal - art. 32º/9 CRP. Deste princípio decorre
que cabe à lei definir a competência do tribunal ou do juiz, de harmonia com o art. 165º/1/p CRP, onde se
dispõe que é da exclusiva competência da AR, salvo autorização ao governo, legislar sobre competência dos
tribunais. Resulta ainda a proibição dos tribunais especiais ou de excepção ou da atribuição da competência a
um tribunal ou a um juiz distinto do que era competente segundo lei anterior.
Assim, garante-se a administração da justiça penal não sofra inferências de outros poderes por
manipulação das regras de competência. Segundo FIGUEIREDO DIAS, o princípio do juiz legal não obsta a que a
causa penal venha a ser apreciada por tribunal diferente do que para ela era competente ao tempo da prática
do facto que constitui o objecto do processo; só obsta a tal quando a atribuição da competência seja feita
através da criação de um juízo ad hoc, ou da definição individual da competência, ou do desaforamento
concreto de uma certa causa penal, por qualquer outra discriminatória que lese ou ponha em perigo o direitos
dos cidadãos a uma justiça penal independente e imparcial.
Estas normas de competência encontram-se, na sua maioria, no CPP e na LOSJ, dando resposta À
exigência de determinabilidade, ao princípio da fixação da competência, e à exigência de procedimentos
quanto à distribuição interna de processos.
Este princípio foi muito discutido entre nós na entrada em vigor do CPP. O art 16º do CPP diz-nos que
para crimes puníveis com pena de prisão até 5 anos é competente o tribunal singular. No nº3 do mesmo artigo
diz que se o MP entender que naquele caso a pena concreta não deve ser superior a 5 anos (não obstante de
ser punível com pena superior a 5), pode deduzir acusação

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pedindo que o sujeito seja julgado por um tribunal singular. (E o juiz não poderá aplicar pena superior a 5 anos)
O TC, relativamente a este 16º/3 CPP, foi questionado se este violava o princípio do juiz singular. O TC
reiteradamente entendeu que não fazia sentido invocar aqui a violação do princípio do juiz natural, optando
pela conformidade constitucional da norma. Em regra, a competência do tribunal é determinada com base na
pena abstracta; este nº3 apenas permitia uma determinação da competência com base na pena concreta
previsível.
Este princípio do juiz natural invocou-se com o Tribunal de Nuremberga, crimes por ter sido criado de
propósito, ad hoc, para julgamento de esses crimes, já depois de terem sido cometidos. Isso levou a criação
do TPI. Se houver crimes de guerra, esses crimes são julgados por um tribunal cuja competência foi
determinada previamente.

2. O Ministério Público

A magistratura do MP goza de estatuto próprio e de autonomia, sendo os seus agentes magistrados


hierarquicamente subordinados. (art. 219º CRP) A PGR é o órgão superior do MP, sendo presidida pelo
Procurador-Geral da República, na legitimação do qual convergem as vontades políticos do PR e do Governo
(art. 220º e 133º/m CRP) Assim, os procuradores respondem perante o imediato superior hierárquico, quer
do ponto de vista disciplinar, quer processual (mecanismo da intervenção hierárquica - art. 278º CPP) e podem
ainda receber recomendações de membros superiores da hierarquia.
A ligação ao Governo em geral tem a ver, exclusivamente, com a circunstância de esta magistratura
participar na execução de uma política criminal que não é por si definida, mas antes pelos órgãos de soberania,
nomeadamente através da definição de objectivos, prioridades e orientações em matéria de prevenção da
criminalidade, etc… É de afirmar que a magistratura do MP é totalmente autónoma, verdadeiramente
independente face ao poder político, uma vez que não está sujeita a quaisquer instruções do poder executivo
relativamente à investigação, à promoção, à condução ou à conclusão de qualquer processo penal concreto.
(art. 2º/1 EMP) Note-se que antigamente, o MP era governamentalizado, sendo que, não há muito tempo,
existiam instruções genéricas do Governo ao MP.
O MP é um órgão de administração da justiça – uma autoridade judiciária – a par do juiz e do juiz de
instrução (art. 1º, 54º/b CPP), ao qual cabe exercer a acção penal orientado pelo princípio da legalidade (art.
219º/1 CRP), no sentido de a promoção processual não poder ser comandada pela sua discricionariedade livre,
devendo antes ser comandada pela sua discricionariedade vinculada – obediência à lei, juízos de valor legais
e aos programas politico-criminais democraticamente definidos e aos quais o MP deve obediência e pelos
quais tem de prestar contas.
A sua principal tarefa está consagrada no art. 53º/1 CPP. A sua intervenção processual obedece a critérios
de estrita objectividade, deduzindo ou não acusação em função do que tiver investigado “à charge e à
décharge”. Deve, pois, investigar integralmente o caso, não apenas procurando levar a cabo as diligências de
apuramento dos factos com vista à acusação, mas também aqueles que possam concorrer a uma decisão de
não-acusação. A autonomia de que goza o MP caracterizase pela exclusiva sujeição dos magistrados ás
directivas, ordens e instruções previstas no EMP (art. 2º/2)
Fica, assim, prejudicada a caracterização do processo penal como um processo de partes, bem como fica
arredado o apelo a um princípio de igualdade de armas entre a acusação e a defesa. Nos termos do art. 53º/2/d
e 401º/1/a CPP, cabe ao MP interpor recursos, ainda que no exclusivo interesse da defesa. O TC veio
nomeadamente a afirmar que este tem interesse e legitimidade em recorrer de quaisquer decisões mesmo
que lhe sejam favoráveis e assim concordantes com a posição anteriormente assumida no processo (Ac. TC
5/94) Compete-lhe ainda:
• Receber as queixas, as participações, e apreciar o seguimento a dar-lhes (art. 53º/3/a, 241º, 245º
e 247º CPP);
• Dirigir o inquérito (art. 53º/3/b CPP)

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• Deduzir a acusação e sustentá-la efectivamente na instrução e no julgamento, sem prejuízo de


esta intervenção processual dever obedecer a critérios de estrita objectividade (art. 53º/1/3/c,
283º, 285º/3, 302º/4 e 360º/1 CPP)
• Promover a execução de penas e das medidas de segurança (art. 53º/3/e e 469º CPP)

Note-se ainda que, nos termos do art. 263º/1 CPP, o MP é coadjuvado ou assistido pelos órgãos de
polícia criminal, sendo realizadas por estes muitas tarefas materiais da investigação. Falamos de uma relação
de dependência funcional com autonomia técnica: A direcção do inquérito cabe exclusivamente ao MP (art.
263º/1/1ª parte CPP), mas a realização de muitas das tarefas investigatórias é realizada pelos órgãos de polícia
criminal por via de uma delegação de competências (art. 270º CPP - delegação funcional); os órgãos de polícia
criminal têm autonomia técnica os estratégica para a realização dos actos de investigação criminal que exigem
políticas, estratégias e meios próprios das polícias e para os quais os magistrados do MP não têm formação
específica ( com autonomia técnica ).
Dada a necessária imparcialidade do MP, as suspeições que referimos para os juízes, valem também
para o MP. Podemos, depois disto, concluir que o MP é um sujeito processual.

3. O arguido e o suspeito.

Desde o momento em que uma pessoa adquire a qualidade de arguido é-lhe assegurado o exercício de
direitos e de deveres processuais, sem prejuízo da aplicação de medidas de coacção e de garantia patrimonial
e da efectivação de diligências probatórias, nos termos especificados na lei – art. 60º CPP, que vai ao encontro
de um processo penal de estrutura acusatório, no qual o arguido assume o papel de sujeito processual. O CPP
tem normas específicas sobre o momento e o modo de constituição do arguido.
O art. 57º CPP diz que assume a qualidade de arguido todo aquele contra quem for deduzida acusação ou
requerida instrução num processo penal (Situação-regra), o que significa que a fase de inquérito pode
decorrer contra um agente indeterminado ou contra um mero suspeito – a pessoa relativamente à qual exista
indício de que cometeu um crime ou que nele participou, na definição que é dada no art. 1º/e CPP. Esta regra
do art. 57º CPP tem tantas excepções que, na realidade, se torna uma verdadeira excepção.
Ao distinguir arguido de suspeito, a lei processual penal supõe que à constituição de arguido se liga o
reconhecimento do estatuto de sujeito processual (art. 58º/2/4, 60º e 61º CPP), por contraposição ao de mero
participante processual (como o suspeito).
Materialmente, a constituição

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de arguido significa que foi ultrapassada a mera existência de um indício de que a pessoa visada cometeu um
crime.
O art. 59º/2 CPP (Aquisição voluntária da condição de arguido) confere ao sujeito o direito de ser
constituído arguido, a seu pedido, sempre que estiverem a ser efectuadas diligências que pessoalmente o
afectem. Deste modo, o sujeito vê reconhecidos os direitos processuais do arguido. Pela mesma razão, o CPP
prevê outros casos de constituição obrigatória de arguido antes de ser deduzida a acusação ou de ser
requerida a instrução: art. 272º/1 CPP, 58º/1/a/b/c/d CPP e 59º/1 CPP. (Aquisição obrigatória da condição de
arguido)
De um ponto de vista material, a constituição de arguido durante o inquérito tem, de facto, também o
significado de ter sido ultrapassada a mera existência de indício de que a pessoa visada cometeu um crime ou
que nele participou, havendo já uma suspeita fundada na prática de um crime.

Ora, a constituição de arguido é uma garantia dada àquela que vê dirigir-se contra si um processo penal,
sendo devidamente formalizada no decurso da tramitação processual. Opera-se nos termos do art. 58º/2 a 5
e 59º/2/3 CPP. A não constituição de arguidos nos casos em que seja obrigatória (58º/1 e 272º CPP) constitui
nulidade, dependente de arguição, segundo o disposto no art. 120º/2/d CPP, por se tratar de acto legalmente
obrigatório.
A constituição de arguido é uma garantia por dela decorrer para o arguido o estatuto de sujeito processual
durante o decurso do processo penal (art. 57º/2 CPP). Trata-se de uma posição processual que lhe permite
uma participação constitutiva na declaração do direito do caso concreto, através da concessão de direitos
processuais autónomos, legalmente definidos (art. 60º e 61º CPP). Daqui retiramos que o arguido não surge
como mero objecto do processo, mas sim como sujeito. Traduz-se em três vectores fundamentais:
Direito de defesa (32º/1 CRP) constitui uma categoria aberta à qual devem ser imputados, desde
logo: o Os direitos reconhecidos ao arguido em cumprimento do princípio do contraditório:
61º/1/a/b/g, 194º/4 271º/1, 332º/1, 361º/1 CPP. Permite este direito ao arguido se pronunciar e
contrariar todos os testemunhos e meios de prova. o O direito de ser informado dos factos que
lhe são imputados antes de prestar declarações perante qualquer entidade; de constituir
advogado ou solicitar a nomeação de um defensor, ser informado dos direitos que lhe assistem,
recorrer das decisões que lhe são desfavoráveis (art. 61º/1/c/e/f/h/i/2, 143º/4, 332º/1, 358º/1,
359º/1, 399º, 409º/1 CPP) e ainda o direito de requerer instrução (287º/1/a CPP). Ver ainda art.
13º e 51º CPP.
o É assim que se entende a tramitação processual dos crimes que levam à aplicação de uma
medida de segurança. (art. 1º/a e 64º/1/c CPP). A obrigatoriedade da assistência do
defensor garante a protecção efectiva dos direitos e garantias processuais do arguido,
uma vez que a medida de segurança é aplicada depois de se ter logrado uma certeza
processualmente válida quanto ás questões de facto e de culpa.
• Princípio da presunção de inocência até ao trânsito em julgado da sentença de condenação
(em outros países, a presunção de inocência cessa antes) tem uma incidência

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directa no estatuto processual do arguido. (ver art. 32º/2 CRP e 6º/2 CEDH e 48º/1 CDFUE) Este
princípio tem essa incidência directa na parte em que este comporta a possibilidade do arguido
ser sujeito à aplicação de medidas de coacção e de garantia patrimonial só quando estas se
mostrem comunitariamente suportáveis face à possibilidade de estarem a ser aplicadas a um
inocente. Ainda se destaca na parte em que este permite que o arguido seja sujeito a diligências
de prova, constituindo as suas declarações quer um meio de prova, quer um meio de defesa (art.
60º, 61º,/3/c, 140º CPP). Desta presunção decorre que, não obstante esta sujeição, o tribunal
deve dar como provados os factos favoráveis ao arguido, quando fica aquém da dúvida razoável,
apesar de toda a prova produzida. É com este contudo que se afirma o princípio do in dúbio pro
reo. Daqui decorre ainda uma exigência de respeito pela decisão de vontade do arguido.
• Princípio do respeito pela decisão de vontade do arguido, constitucionalmente fundado no
princípio da presunção da inocência, na proibição das provas obtidas mediante tortura,
abusiva intromissão na vida privada, no domicílio, na correspondência, nas telecomunicações
e na exigência de um processo equitativo (32º/2/8 e 20º/4 CRP), tem especial incidência na
posição processual deste sujeito, enquanto objecto de diligências provatórias. (art. 60º,
61º/3/c CPP). O arguido está protegido por um estatuto fundado no respeito incondicional
pela sua decisão de vontade, p.e. (59º/2, 61º/1/d, 125º, 126º, 132º,/2, 141º/4/a/b, 143º/1/2,
144º/1, 343º/1,
344º, 345º CPP) o Admitindo-se apenas as provas não proibidas por lei.
o Reconhecendo-se o direito à não auto-incriminação
Lança interrogações quanto ao seu âmbito de aplicação. O Ac. TC 155/2007
entendeu que o direito à não incriminação não abrange o uso, em processo penal, de
elementos que se tenham obtido do arguido por meio de poderes coercivos, mas que existam
independentemente da vontade do sujeito, como é o caso da colheita de saliva para efeitos
de realização de análises de ADN. Levanta ainda a questão de saber se se admitem as provas
emprestadas, produzidas fora do âmbito do processo penal. Valerá este direito para as
pessoas colectivas? o Reconhecendo o direito ao silêncio quanto às declarações relativas a
factos que lhe são imputados e aos seus antecedentes criminais
o Direito a não facultar meios de prova.

Para além dos deveres em matéria de aplicação de medidas de coacção e de garantia patrimonial e de
efectivação das diligências probatórias, que o podem mesmo sujeitar a exames previstos nos arts. 171º e 172º
CPP, o art. 61º CPP faz ainda recair sobre o arguido outros deveres:
• Dever de comparecer;
• Dever de responder com verdade as perguntas sobre a sua identidade;
• Dever de prestar termo de identidade e residência, logo que assuma a condição de arguido.
Isto permite, nomeadamente que o sujeito comece a ser notificado por carta postal simples.

4. O defensor.

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O defensor em processo penal tem o estatuto de sujeito processual. O direito de escolher defensor e de
ser por ele assistidos em todos os actos do processo constitui uma das garantias de defesa do arguido que o
processo criminal assegura, de acordo com o disposto no art. 32º/3 CRP, que dispõe os casos em que s sua
participação é obrigatória. O art. 20º/1 CRP complementa a norma anterior ao determinar que a justiça não
pode ser denegada por insuficiência de médios económicos, o que é assegurado pela lei 34/2004.
Ao defensor não deve caber uma mera representação dos interesses do arguido, mas antes o papel de
órgão da administração da justiça que actua no exclusivo interesse da defesa. Por isso há actos em que a
assistência do defensor é obrigatória, tornando-se autêntico sujeito processual que actua com ou sem o
consentimento do arguido assegurando o respeito pelas suas garantias de defesa.
A disposição geral quanto à obrigatoriedade de assistência do defensor é o art. 64º/1 CPP. A não
comparência de defensor nos casos em que a lei exigir a respectiva comparência constitui nulidade insanável.
(art. 119º/c CPP). A assistência obrigatória do defensor, muito particularmente quando o arguido seja
representado, para todos os efeitos possíveis pelo defensor (art. 334º/4 CPP), autoriza- nos a concluir que este
também participa de forma constitutiva na declaração do direito do caso.
Segundo o art. 63º CPP, o defensor exerce os direitos que a lei reconhece ao arguido, salvo os que ela
reservar pessoalmente a este, como p.e. o art. 333º/2, 361º/1 CPP.
O defensor poderá ser um advogado ou um defensor nomeado ou oficioso podendo o arguido, neste caso,
constituir advogado em qualquer altura do processo, nos termos do art. 62º/1 CPP. Diferentemente do que
sucedia antes, hoje exige-se que a defesa seja técnica. (330º/1 CPP) Vários artigos nos demonstram que a
constituição de advogado ou a nomeação de um defensor constitui uma garantia de defesa do arguido: art.
61º/1/f CPP, 143º/4 CPP, 179º/2 e 187º/5 CPP. Para o TC, assistência abrange não apenas a simples presença
física do defensor aos actos do processo, mas o direito do arguido de comunicar com ele.

Em suma:
• Defensor constituído à Constituição de mandatário forense por via de procuração junta aos
autos, cabendo ao arguido o pagamento dos honorários.
• Defensor nomeado à Tratam-se de advogados que estão inscritos nas listas do patrocínio ou
apoio judiciário, sendo nomeados pela OA a pedido da autoridade judiciária. Aqui o instrumento
que legitima o mandato é a nomeação oficiosa. A pessoa que não nomeou defensor terá que pagar
as custas do processo e as contas ao seu patrono oficioso, salvo se requerer apoio judiciário junto
da Segurança Social: para pagamento das custas do processo; para pagamento dos honorários do
advogado; para pagamento em prestações das custas do processo.

5. Assistente e ofendido.

O assistente é um verdadeiro sujeito processual, sendo aquele que se considera ofendido com a infracção
penal – o titular dos interesses que a lei quis especialmente proteger com a incriminação, nas palavras do art.
68º/1/a CPP. Ao distinguir assistente de ofendido, a lei supõe que à constituição de assistente se liga o
reconhecimento do estatuto de sujeito processual (art. 68º/1/a e 69º CPP), por contraposição ao de mero
participante processual. A constituição de assistente é uma

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forma de proteger os interesses das vítimas da prática de crimes, previsto no próprio art. 32º/7 CRP.
Quem se pode constituir assistente? Segundo o art. 68º CPP, podem constituirse assistentes além do
ofendido maior de 16 anos, as outras pessoas e entidades a quem leis especiais conferem esse direito. (ver
art. nº1; 113º e 117º CP). A alínea e) do nº1 alarga o âmbito dos que podem constituir-se assistentes, em razão
da natureza e da relevância dos bens jurídicos protegidos por estas incriminações, em matéria de violações do
direito internacional humanitário, crimes dos arts. 335º, 368º, 369º, 372º a 377º, 382º CP, e ainda crimes de
responsabilidade de titular de cargo político e crimes contra a economia. Nela está prevista a chamada acção
popular penal. É, porém, discutível se o catálogo apresentado no Código não devia prever mais crimes em
relação aos quais pode qualquer pessoa constituir-se assistente.
Qualquer pessoa, desde que maior de 16 anos de idade, pode exercer o seu direito de cidadania de
contribuir de forma constitutiva para a declaração do direito do caso. Naturalmente, com todas as
responsabilidades ao nível do processo que daí advêm, nomeadamente a de guardar segredo quando o
inquérito seja subtraído à regra da publicidade (art. 86º e 89º CPP).
A circunstância de não ser identificável um titular individual dos interesses que a lei especialmente protege
com a incriminação não deve obstar a que uma pessoa individual se constitua assistente se em relação a ela
se puder dizer que a incriminação também protege os seus interesses. (ex: art. 365º CP)
Há legislação avulta que prevê mesmo que associações e fundações participem no processo como
assistentes, sendo de concluir que a constituição de assistente é estimulada pelo legislador.

Como é que um sujeito se constitui assistente? Através de requerimento dirigido ao juiz (art.
68º/4 CPP) em que:
(1) Invoca a titularidade do direito nos termos do art. 68º/1 CPP
(2)Apresenta o comprovativo de pagamento da taxa de justiça devida (uma unidade de conta definida por
portaria governamental: 102 euros).
(3)Tem ainda que constituir mandatário - art. 70º CPP.

O que pode fazer o assistente? O assistente é admitido a intervir no processo como colaborador do
MP, a cuja actividade subordina a sua intervenção no processo, sendo sempre representado por um advogado
(art. 69º/1 e 70º/1 CPP). Compete-lhe: art. 69º/2, 284º, 285º, 401º/1/b CPP. Esta possibilidade dada ao
assistente de participar de forma constitutiva na declaração do direito do caso está ainda presente na
legitimidade para requerer a abertura da instrução (art. 287º/1/b CPP), no requisito da sua concordância para
haver suspensão provisória do processo (art. 281º/1/a CPP) e na possibilidade que lhe é reconhecida de
requerer ao MP a aplicação deste instituto.
P.e. o acórdão TC 5/2011 veio a dizer que “em processo por crime público ou semipúblico, o assistente
que não deduziu acusação autónoma nem aderiu à acusação pública pode recorrer da decisão de não
pronuncia, em instrução requerida pelo arguido, e da sentença absolutória, mesmo não havendo recurso do
MP”.
Quando é que um sujeito se constitui assistente? De acordo com o art.
68º/3 CPP, o assistente pode intervir em qualquer altura do processo, aceitando-o no estado em que se
encontrar desde que requeria ao juiz até cinco dias antes do início do debate instrutório ou da audiência do

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julgamento; no prazo estabelecido para deduzir acusação nos termos do art. 284º CPP ou para requerer a
abertura da instrução; ou no prazo para interposição de recurso da sentença. Este último foi aditado em 2015,
sendo que MARIA JOÃO ANTUNES duvida da bondade da alteração legislativa, sendo mais de acordo com este
estatuto de sujeito processual ficar como limite temporal a audiência do julgamento. O prazo para interposição
de recurso da sentença é tardio para que o assistente participe constitutivamente na declaração do direito do
caso. Há ainda uma excepção aplicável aos crimes particulares: neste caso, o prazo é muito curto, sendo
aplicável o nº2 do 68º CPP - é um crime dependente de queixa, tendo o sujeito 10 dias após a queixa para se
constituir assistente obrigatoriamente, sob pena de extinção do processo.

Note-se ainda que antigamente só se utilizava a palavra vítima em dois artigos do Código, quando
fosse necessário recorrer a essa categoria criminológica. Na versão vigente, por via das alterações em 2015, a
vítima surge também como participante processual enquanto tal, na acepção geral do conceito. (ex: 281º/7,
292º/2, 212º/4 CPP) É muito lamentável a introdução do art. 67º-A CPP que reconhece à vítima o direito de
participação activa no processo penal, bem como o direito de colaborar com as autoridades policiais ou
judiciárias competentes, prestando informações ou facultando provas que se revelem necessárias à
descoberta da verdade e à boa decisão da causa. Com isto perde a categorização criminológica e a distinção
ao nível processual dos vários papeis que a vítima pode desempenhar no processo penal (ofendido, assistente
ou lesado). Estamos ante um discurso do “politicamente correcto”.
Podíamos eventualmente pensar que a razão de fundo desta nova categoria seria o facto de que tem
custos a um sujeito constituir-se assistente, permitindo-se à vítima participar no processo sem pagar a taxa de
justiça, em contraposição. Porém, é totalmente infundada esta ideia, á que a Lei de apoio judiciário permite
garantir ao cesso à justiça a todos os cidadãos, independentemente da sua situação económicofinanceira.
Note-se ainda que não podemos focar o direito penal na defesa da vítima, mas sim na tutela dos bens jurídicos.

6. Partes civis.

Na “acção civil”, correspondente ao pedido de indemnização de perdas e danos emergente da prática do


crime, intervém o lesado. Este é aquele que sofreu danos ocasionados pelo crime, ainda que se não tenha
constituído ou não possa constituir-se assistente, o que é significativo da autonomia das figuras. O lesado
pode, de facto, não ser o ofendido na prática do crime, do mesmo modo que o pedido de indemnização de
persas e danos pode ser deduzido contra pessoas com responsabilidade meramente civil. O demandado pode,
pois, não ter também a posição de arguido (art. 73º e 74º CPP). O lesado e a pessoa com responsabilidade civil
(arguido, seguradora, produtor, etc…) são as partes civis que intervêm no processo penal.
A indemnização por perdas e danos emergentes de crime é regulada pelo art. 129º CP, que remete para a
lei civil. Porém, o pedido correspondente é deduzido pelo lesado no processo penal respectivo, segundo um
princípio da adesão, por razão de celeridade processual e para evitar oposição de julgados – art. 71º, 72º, 74º
CPP. A acção de indemnização conserva a sua especificidade de verdadeira acção civil, respeitando,
nomeadamente, o princípio do pedido, o que faz das partes civis sujeitos da acção civil, não da penal – 72º,
73º, 74º, 77º, 400º/3 CPP).
Pode concluir-se que as partes civis se podem considerar sujeitos do processo penal num sentido
eminentemente formal. Já de um ponto de vista material são sujeitos da acção civil que aderem ao processo
penal e que como acção civil permanece até ao fim. Isto, desde logo, porque a sua intervenção no processo e
o respectivo exercício de poderes de conformação processual (art. 401º CPP) restringe-se ao âmbito da
questão civil enxertada ao processo penal por força do princípio da adesão.
Ora, o princípio da adesão só pode ser quebrado quando estivermos num dos casos do art. 72º CPP. Só
por força de razões ponderosas é que é quebrado o princípio do pedido, sem que se ponha em causa a
natureza civil da quantia arbitrada oficiosamente nos termos do art. 82º-A CPP – veja-se ainda arts. 393º e
394º CPP.

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Como sujeitos que são da acção civil, a intervenção processual das partes civis restringe-se à sustentação
e prova da questão civil (74º/2/3 CPP).Veja-se ainda o art. 227º e 228º CPP que prevêem meios de garantia
patrimonial que não perdem a natureza processual penal, ainda que utilizados no âmbito de uma relação de
natureza civil.

7. Órgãos de polícia criminal.

Estão definidos no art. 1º/c/d CPP. Emprega-se aqui, como defende FARIA COSTA, uma técnica de duplo
reenvio, porque o CPP reenvia-nos sempre, internamente, para a definição formal constante daquelas alíneas
do art. 1º CPP e, externamente, para a as leis orgânicas e estatutárias das várias polícias. Daquelas alíneas
avulta que o CPP não atribui competências processuais especificamente a uma qualquer polícia, resultando
antes que o estatuto de órgão e de autoridade de polícia criminal e as respectivas competências decorrem da
lei, nomeadamente da Lei 49/2008 e leis próprias daqueles órgãos e autoridades.
São, de acordo com o art. 3º/1 da Lei 49/2008, órgãos de competência genérica: a PJ, GNR, PSP; são órgãos
de competência específica: o SEF, ASAE, SAT, IGAMAOT.
Estes actuam no processo sob a direcção e autoridades judiciárias e na sua dependência funcional,
competindo-lhe coadjuva-las com vista à realização das finalidades do processo (art. 55º/1, 56º, 263º, 270º,
288º/1 e 290º/2 CPP). Segue-se um modelo que concilia a autonomia orgânica destes órgãos, no sentido de
persistir a sua dependência organizatória, administrativa e disciplinar perante o poder executivo, com a
dependência funcional em relação ás autoridades judiciárias (art. 1º/b CPP).
Esta dependência funcional faz dos órgãos de polícia criminal meros participantes processuais; e isto sem
prejuízo de as investigações e os actos delegados de autoridades judiciárias serem realizados por funcionários
designados pelas autoridades de polícia criminal competentes para o efeito, no âmbito da autonomia técnica
e da autonomia táctica necessárias ao eficaz exercício dessas atribuições.
A estes está ainda deferida legalmente a prática de certos actos, mesmo por iniciativa própria. Está-lhes
reservada uma área de competência própria, apesar da sua posição processual de participantes processuais e
ainda que tais actos dependam depois de validação da autoridade judiciária.
Compete-lhes: art. 55º/1, 58º/2, 171º/4, 174º/5, 177º/3, 178º/4, 196º/1, 241º, 243º, 248º a 253º, 257º/2
CPP. Alguns actos que integram a área de competência própria dos órgãos de polícia criminal estão reservados
às autoridades de polícia criminal como o do art. 257º/2; bem como lhe
foram reservados actos que dependem de delegação da autoridade judiciária, como o do art. 270º/3 CPP.

CAPÍTULO IV – A TRAMITAÇÃO DO PROCESSO PENAL COMUM – A FASE DE


INQUÉRITO

A tramitação do processo penal comum é tendencialmente unitária. É unitária, porque é sempre


integrada pelas fases obrigatórias de inquérito (art. 262º e ss CPP) e de julgamento (art. 311º e ss. CPP) e pela
fase facultativa de instrução (art. 286º e ss. CPP). É tendencialmente unitária na medida em que, consoante a
natureza, a gravidade do crime ou a maior ou menor facilidade de apreciação e valoração da prova por parte
do tribunal, assim é competente para julgar o tribunal do júri, o tribunal colectivo ou o tribunal singular. (arts.
13º, 14º e 16º CPP).
As diversas fases do processo comum obedecem a um conjunto de princípios gerais: princípios de
promoção processual, prossecução processual, da prova e da forma. Na fase de inquérito avultam os princípios
gerais de promoção processual (princípios da oficialidade, legalidade e da acusação) e de prossecução
processual (princípios da investigação, contraditório, suficiência e concentração).

1. Princípios da promoção processual.


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1.1. O princípio da oficialidade.

Segundo este princípio, a iniciativa de investigar a prática de uma infracção e a decisão de a submeter
a julgamento cabe a uma entidade pública estadual – Ministério Público (art. 219º CRP). Não cabe, portanto,
a uma entidade particular, designadamente ao ofendido ou a outras pessoas.
O princípio da oficialidade responde, pois, a uma questão de competência: tratase de saber a quem
compete a iniciativa de investigar a prática de uma infracção e a decisão de a submeter ou não a julgamento.
Sendo o direito penal um direito de protecção de bens jurídicos fundamentais, o processo penal assume-se
como um assunto da comunidade jurídica, pelo que se afirma o princípio do monopólio estadual da justiça
penal (art. 9º/b, 27º/2, 202º/1/2 CRP). Assim, cabe ao Estado a promoção do processo penal
independentemente da actuação dos particulares. O princípio da oficialidade desdobra-se em dois momentos:
1)É a uma entidade pública que cabe a iniciativa de investigar a prática de uma infracção. (Art. 48º
CPP)
2)É a uma entidade pública que cabe a decisão de submeter ou não a julgamento. (276º/1 CPP)

O princípio da oficialidade é acolhido por vários artigos: 219º/1 CRP, 48º, 241º, 53º/2/a, 276º/1,
119º/b CPP.
A regra de que relativamente aos crimes públicos cabe ao MP promover o processo penal (art. 48º,
53º/2/a e 276º/1 CPP) comporta desvios que se traduzem em limitações e excepções ao princípio da
oficialidade: limitações decorrentes da existência de crimes semipúblicos; excepções derivadas da existência
de crimes particulares.
• Crimes Semipúblicos
Crimes cujo procedimento criminal depende de queixa (art. 143º/2, 178º/3, 113º CP e 49º CPP).
Constituem uma limitação ao princípio da oficialidade, na medida em que é necessário que o ofendido ou
outras pessoas dêem conhecimento do facto ao MP para que este promova o processo. Constituem apenas
uma limitação ao princípio, uma vez que cabe depois ao MP, ao encerrar o inquérito, arquivá-lo ou deduzir
acusação (art. 276º/1 CPP). Sem prejuízo de o titular do direito de queixa poder desistir da mesma até à
publicação da sentença de primeira instância, desde que não haja oposição do arguido, a quem é dada desta
forma a possibilidade de afirmar a sua inocência perante um tribunal (art. 116º/2 CP e 51º CPP). De um outro
ângulo, pode afirmar-se que, desta forma, previne-se uma forma lavrada de roubo do conflito.
Como sabemos e um crime é público ou semipúblico? Se o legislador nada disser quanto a esta
questão, o crime tem natureza pública; se o legislador disser no tipo legal de crime ou noutra disposição
comum que o procedimento criminal depende de queixa, temos um crime semipúblico.

• Crimes particulares
Crimes cujo procedimento criminal depende de acusação particular (art. 188º e 207º CP). Estes
constituem uma excepção ao princípio da oficialidade, na medida em que é necessário que o ofendido ou
outras pessoas (art. 113º e 117º CP) se (1) queixem, (2) se constituam assistentes e (3) deduzam acusação
particular (arts. 50º/1, 246º/4, 68º/1/b e 285º/1 CPP).
Constituem uma excepção, por um lado, porque a abertura do inquérito por parte do MP está
dependente da apresentação de queixa do ofendido e da constituição deste como assistente; e por outro,
porque, no final do inquérito, cabe ao assistente deduzir a acusação ou não. Ao MP caberá apenas acusar pelos
mesmos factos, por parte deles ou por outros que não importem uma alteração substancial daqueles (art.
50º/2, 285º/4 CPP). Sem prejuízo de o titular do direito de acusação particular (art. 113º e 117º CPP) pode
desistir da mesma até à publicação da sentença de primeira instância, desde que não haja oposição do arguido,
a quem é dada desta forma a possibilidade de afirmar a sua inocência perante um tribunal. Previne-se uma
forma lavrada de roubo do conflito. Note-se que a regra é que a constituição de assistente é facultativa no
processo penal, exceptuando-se quando o crime seja particular, caso em que será obrigatória.

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Assim, concluímos que nos crimes semipúblicos e particulares pode haver desistência da queixa e/ou
da acusação particular até à publicação da sentença de primeira instância (arts. 116º/2 e 117º CP). Esta
possibilidade não existe em relação aos crimes públicos em relação aos quais vale inteiramente o princípio da
oficialidade pelo que não dependem da iniciativa particular. Por esse motivo, a propósito destes crimes,
convoca-se o princípio da imutabilidade da acusação pública.
Note-se ainda o disposto no art. 116º/4 CP, que permite que, em caso de crime cometido contra menor
e feita a queixa pelo seu representante legal, não desejando o primeiro a continuação do processo, pode ele
pedir para que se ponha termo ao processo. Repare-se que não se fala aqui de desistência de queixa, porque
ele não exerceu qualquer direito de queixa; trata-se pois de uma mera possibilidade de oposição à continuação
do processo.

Denúncia vs. Queixa

Se o crime for público, falamos de denúncia; caso seja semipúblico ou particular, devemos falar em
queixa, sendo o sujeito advertido de que tem de se constituir assistente (art. 68º CPP). Costuma, pois dizer-se
que todas as queixas são denúncias, mas nem todas as denúncias são queixas.
Há três parâmetros de distinção de ambas:
A) Natureza do crime: a queixa vale para os crimes semipúblicos e particulares. Já a denúncia vale para os
crimes públicos.
B) Legitimidade : Só quem for titular do direito à queixa pode apresentar uma queixa (art. 113º CP). A
denúncia pode ser feita por qualquer pessoa, com natureza facultativa - 244º CPP. Apesar de esta ser a
regra, há casos em que a denúncia é obrigatória - 242º CPP.
C) Prazo : Só a queixa é que está sujeita a prazo de 6 meses a contar do conhecimento do facto e dos seus
autores (art. 115º CP). A denúncia não está sujeita a qualquer prazo.

Particularidades do regime da queixa: Quem tem, em principio, a titularidade ao direito de queixa é o


ofendido - que é o titular dos interesses que a lei especialmente quis proteger com a incriminação, ou seja, o
portador do bem jurídico protegido pela norma.
Em caso de morte do ofendido, aplicamos o nº2 e 3 CP. Se o ofendido for menor, aplicamos o nº4 e 6
CP (ver art. 115º/2 CP - prazo de 2 anos e meio para exercer o direito de queixa).
Não obstante o procedimento criminal depender de queixa ou de acusação particular, o MP poderá
dar início ao procedimento no prazo de 6 meses a contar da data em que tiver tido conhecimento do facto e
dos seus autores, sempre que o interesses do ofendido o aconselhar e este for menor ou não possua o
discernimento para entender o alcance o significado do exercício do direito de queixa ou de acusação
particular, substituindo-se ao titular deste direito; ou quando o direito de queixa ou acusação particular não
possa ser exercido porque a sua titularidade caberia apenas ao agente do crime. (art. 11º/5/a e 117º CP).
Nestes chamados, crimes semipúblicos atípicos, para acautelar que o exercício do direito de queixa e de
acusação particular prossiga de facto os interesses da vítima, o ofendido poderá sempre exercer tal direito,
se o mesmo não tiver sido exercido ou se não tiver sido dado início ao procedimento, a partir da data em que
passe a ter capacidade para o seu exercício (16 anos), de acordo com o disposto no art. 113º/6 e 117º CP. Isto
tem muito relevo nos crimes de coacção sexual e violação.
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O Ac STJ 1/2011 veio fixar jurisprudência no sentido de que em procedimento dependente de acusação
particular, o direito à constituição como assistente fica precludido se não for apresentado requerimento para
esse efeito, no prazo fixado no nº2 do art. 68º CPP.

Quais as razões para estas limitações e excepções?


1) Certas infracções não é comunitariamente exigível a existência de um processo penal se o
ofendido assim o entender. (p.e. 143º CP)
2) A promoção processual pode ser prejudicial para os interesses da vítima dignos de concertação,
porque se relacionam directamente com a intimidade da vida privada ou familiar. (P.e. 156º CP)
3) A promoção processual pode ser prejudicial para os interesses da vítima também por ao mal do
crime vir a acrescer o mal do processo, gerando um fenómeno de vitimização
secundária. (p.e. 164º CP) O processo penal tem evoluído no sentido de diminuir o mal do
processo com o intuito de não dissuadir o ofendido da apresentação da queixa. Vejam-se os
seguintes exemplos.
a. 87º/3 CPP
b. 271º, 294º, 355º e 356º/2/a CPP
c. 349º e 352º CPP
d. Art. 4º Lei 45/2004
e. Art. 11º, 17º, 18º e 20º do Estatuto da vítima. (Lei 130/2015)
4) Desta forma, alcança-se o efeito desejável de descriminalização real de certos comportamentos
(art. 173º CP), nomeadamente quando há dúvidas quanto à legitimidade da incriminação.
5) Razões atinentes ao processo penal – quando entre o agente da prática do crime, o ofendido e
quem possa ser chamado ao processo na qualidade de testemunha intercedam relações de
proximidade, a produção de prova dos factos imputados pode ser particularmente difícil. P.e.
134º/1 CPP

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A opção por natureza pública ou não do crime tem sofrido alterações em matéria de violência
doméstica e de crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual de menores, porque nem sempre o não
exercício do direito à queixa correspondia à protecção dos interesses da vítima do crime (p.e. porque os crimes
eram cometidos no seio familiar). Subsiste a questão de saber se a opção pela natureza pública desses crimes
é a adequado do ponto de vista dos interesses da vítima. A possibilidade de haver suspensão provisória do
processo, mediante requerimento livre e esclarecido da vítima, ou tendo em conta o interessa da vítima, é
sintoma claro das dúvidas que surgem no momento de optar pela natureza pública ou semi-pública de tais
crimes. (art. 281º/7/8 CPP e 178º/4 CP) Quanto aos crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual do
menor, algumas notas:
1) O procedimento criminal dos crimes contra a autodeterminação sexual depende de queixa, salvo se
forem levados a cabo frente a menores. (Sendo portanto semipúblicos; excepto quando forem
levados a cabo com menores (menos de 18 anos), tendo natureza pública, nesse caso)
2) Em 1995, estava consagrada uma solução melhor: os crimes de violência doméstica e contra a
liberdade e autodeterminação sexual dos menores eram crimes semipúblicos, mas dizia-se quem o
MP podia dar início ao procedimento sempre que o interesse da vítima o impusesse. Por exemplo, se
os representantes legais do menor não apresentassem queixa, não atentando aos interesses da
vítima, mas aos seus interesses, o MP podia dar início ao processo no interesse da vítima.
3) Através de uma lei de 08/2015, em matéria de crimes sexuais contra adultos, verificou-se uma
alteração: quando o crime for de coacção sexual ou violação, o procedimento criminal depende de
queixa, mas o MP pode dar início ao mesmo no prazo de 6 meses em que tiver conhecimento do
facto, sempre que o interesse da vítima o aconselhe. (178º/2 CP). Deixará o crime de ser semipúblico?
E se a vítima quiser, pode parar o procedimento? Conclui-se que esta alteração legislativa foi marcada
por razões políticas.
4) Note-se ainda que foram sendo criados mecanismos para favorecer a realização da queixa: por
exemplo, a possibilidade de declarações para memória futura, quem são produzidas na
fase de inquérito, com os mesmos requisitos que são realizadas as declarações na audiência do
julgamento (Art. 271º CPP). Isto terá a vantagem de que a vítima não precisará de voltar à audiência
do julgamento. Ajudam a acautelar prejuízos às vítimas e ajuda a não desmotivar as vítimas a realizar
a queixa.

1.2. Princípio da legalidade.


O princípio da legalidade, sendo também relativo à promoção processual, responde a questão diversa
que consiste em saber se o MP na sua actuação é livre de decidir se abre ou não o inquérito e se é livre de no
final do inquérito decidir se deduz ou não acusação. A resposta é negativa, ou seja, o MP está vinculado a
critérios de legalidade quanto à promoção processual. Assim, por força do princípio da legalidade, como
princípio da promoção processual, o MP está obrigado a promover o processo sempre que adquirir a notícia
do crime a deduzir acusação sempre que recolher indícios suficientes da prática do crime e de quem foi o seu
agente, havendo consequentemente a exclusão de um juízo de oportunidade quer sobre a decisão de iniciar
o processo quer sobre a de submeter a causa a julgamento. Este não se confunde com o princípio da legalidade
do processo previsto no art. 2º CPP. O seu fundamento constitucional é o art 13º - princípio da igualdade – e
219º - legalidade como princípio orientador da actividade do MP.
A exclusão da ponderação de razões de oportunidade de qualquer ordem põe a justiça penal a coberto
de suspeitas e de tentações de parcialidade e de arbítrio, ligando-se por esta via ao princípio da igualdade na
administração da justiça penal (art. 13º CRP)
Este princípio, que decorre dos arts. 219º/1 CRP, 262º/2 e 283º/1 CPP, decompõe-se em dois
momentos:

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1) Sempre que adquire notícia de um crime (art. 241º CPP), o MP está obrigado a abrir o inquérito.
(Art. 262º/2 CPP - "dever de investigar", Pedro Caeiro) Quais as excepções previstas no CPP
quanto ao primeiro momento do princípio da legalidade?
1)No caso dos crimes semipúblicos e particulares, a aquisição da notícia do crime não
basta para a abertura do inquérito, mas após a queixa (crimes semipúblicos - art. 49º CPP)
ou após a queixa e a constituição de assistente (crimes particulares - art. 50º CPP), o MP está
também obrigado a abrir inquérito.
2)Regime das denúncias anónimas - art. 246º/6/7/8 CPP. Esta só determina a abertura
de inquérito caso se verifiquem as condições previstas no nº6, representando assim este
artigo uma excepção ao art. 262º/2 CPP.
2)Sempre que tiver recolhido indícios suficientes da prática do crime e de quem foi o seu agente, o MP
está obrigado a deduzir acusação (art. 283º/1 CPP - "dever de acusar", Pedro Caeiro) O nº2 deste artigo prevê
o critério legal da suficiência indiciária que se traduz num juízo de prognose de que o sujeito tem mais
probabilidades de ser condenado do que de ser absolvido.

O cumprimento do dever de promover o processo sempre que adquirir notícia do crime e de deduzir
acusação sempre que recolher indícios suficientes da prática do mesmo e de quem foi o seu agente é
controlado por via do requerimento de abertura de instrução, dando ao juiz a possibilidade de controlar
judicialmente a decisão tomada no final do inquérito (art. 286º e 287º CPP – só abrange o controlo do 2º
momento!) e da intervenção hierárquica (art. 278º CPP – só abrange o controlo do 2º momento). A este
controlo judicial e hierárquico no âmbito do processo penal poderá ainda acrescer responsabilidade disciplinar
por violação de deveres profissionais, a analisar pelo CSMP (arts. 162º

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e 163º EMP – abrange ambos os momentos) ou mesmo responsabilidade penal (369º CP – ANA PAIS entende
que a letra do preceito levanta dúvidas quanto à possibilidade de com ele se controlar o 1º momento deste
princípio, embora seja certo que o 2º momento é controlável por esta via). Além de que valerá sempre a
circunstancia de se tratar de uma magistratura hierarquicamente subordinada e a possibilidade de controlo
público, na medida em que o PGR é nomeado e exonerado pelo PR, sob proposta do governo (art. 219º/4,
220º/3 e 133º/m CRP)

Uma das consequências do princípio da legalidade é o princípio da imutabilidade da acusação pública,


de acordo com o qual não pode haver renúncia ou desistência da acusação que o MP tenha deduzido. Isto
contende naturalmente com o segundo momento do princípio da legalidade quanto à promoção processual.
Há indícios, tem que acusar; depois de acusar, não pode desistir nem renunciar da acusação.
Uma outra consequência é a previsão de casos de denúncia obrigatória para as entidades policiais,
quanto a todos os crimes de que tomarem conhecimento e para os funcionários na acepção do art. 386º CP,
o que abrange também os que a lei equipara a funcionários, quanto a crimes de que tomarem conhecimento
no exercício das suas funções, e por causa delas. (arts. 242º, 245º, 246º, 248º CPP) Quanto aos funcionários e
equiparados pode gerar-se um conflito entre o dever de denuncia legalmente estabelecido no art. 242º CPP e
o dever de guardar segredo profissional. Deve resolver- se o conflito por uma ponderação, caso a caso, entre
o bem jurídico que a incriminação tutela e o bem jurídico protegido com o regime legal do segredo profissional.
(finalidade de descoberta da verdade material vs. Finalidade de protecção dos direitos fundamentais) Qual a
relação disto com o princípio da legalidade? Só temos a certeza que há investigação sobre os factos quando
conjuntamente se prevê denúncia obrigatória dos crimes e ainda um princípio de legalidade quanto à
promoção processual, que cria o dever de investigar.
Em lugar paralelo, no decurso do processo penal, o tribunal pode decidir que haja prestação de
testemunho, com quebra de segredo profissional, por parte de funcionário que é chamado na qualidade de
testemunha: art. 135º CPP.
A denúncia já é facultativa para qualquer pessoa que tiver notícia de um crime (art. 244º CP). Esta
regra, á apresentada a uma autoridade judiciária ou aos órgãos de polícia criminal, podendo ser feita
verbalmente ou por escrito, não estando sujeita a formalidades especiais (art. 245º e 246º CPP). Se o crime
tiver natureza semi-pública ou particular, a denúncia assume a forma de queixa e tem de ser apresentada pelo
titular do direito de queixa ou de acusação particular (art. 244º, 246º, 49º e 50º CPP e 113º e 117º CP) esta
ideia de que o co-cidadão não deve ser polícia do outro tem desvios crescentes: arts. 268º/5 CPP, 372º/2, 374º
e 374º-B CP, programas de compliance.

São identificáveis algumas limitações ao princípio da legalidade. Não se pode afirmar, porém, que há
consagração do princípio da oportunidade, quando há renúncia à aplicação da pena por via processual. No
plano material e teleológico, o que está em causa é uma solução de continuidade entre a legalidade e a
oportunidade, mediatizada por uma relação de comunicabilidade entre o direito penal substantivo e o direito
penal.
Os arts. 280º a 282º CPP, enquanto mecanismos de diversão (simples no arquivamento em caso de
dispensa de pena e com intervenção na suspensão provisória do processo) permitem uma solução desviada,
divertida, do processamento normal, traduzem-se num certo sentido, numa

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limitação ao princípio da legalidade na medida em que constituem uma alternativa à dedução da acusação.
Não obstante terem sido recolhidos indícios suficientes de se ter verificado crime, e de quem foi o seu
agente, o MP, em vez de proferir despacho de acusação, arquiva o processo nos termos do art. 280º ou
suspende-o provisoriamente de acordo com o disposto no art. 281º CPP. Trata-se de uma alternativa ao
despacho de acusação para os casos que a lei expressamente prevê e segundo pressupostos legalmente
fixados, dando expressão a um certo coeficiente de oportunidade, ainda que não afastem o princípio da
legalidade – nomeadamente aplicando-se unicamente à pequena e média criminalidade, evitando a
estigmatização do arguido e procurando uma menor intervenção ou solução fora do sistema formal de
controlo e de aplicação da justiça penal. Na medida em que o sistema se orienta por finalidades preventivas
de punição e aceita o carácter unilateral do princípio da culpa, trata-se, pois, de uma obediência à lei. Note-se
que ambas são soluções consensuais porque dependem de um acordo entre os vários sujeitos processuais:
embora num o consenso seja limitado e no outro alargado.
Note-se que o art. 281º CPP se traduz numa suspensão provisória o processo, com imposição ao
arguido de injunções ou regras de conduta. É um instituto parecido com a suspensão da execução da pena,
mas não é uma pena. Desde logo, porque esta só existe se o arguido estiver de acordo e da concordância do
assistente - há um consenso alargado entre o MP, juiz de instrução, arguido e assistente.
Já não obedecerão propriamente à teleologia e enquadramento político criminal o nº 7 e 8 do art.
281º CPP, por se tratar de uma forma de atenuar a natureza pública dos crimes de violência doméstica e contra
a liberdade e autodeterminação sexual de menor, estritamente em função dos interesses da vítima. Segundo
o nº8, a vítima (rectius, o ofendido) determina a suspensão provisória do processo desde que se verifiquem os
pressupostos das alíneas b) e c) do nº1. O legislador reconheceu o “mal do processo” em certos casos,
admitindo que a causa não seja submetida a julgamento. Isto demonstra a má consciência do legislador e
merece o nosso reparo porque a suspensão provisório do processo era um instituto para a pequena e média
criminalidade, estendendo-se a sua aplicação a estes crimes cujas penas podem ser graves. Para mais, este
instituto não foi pensado para proteger as vítimas - mas sim os arguidos - e aqui é em nome dos interesses das
vítimas que vamos suspender provisoriamente o processo de acordo com a lei actual.
Por outro lado, de acordo com o nº9, o pressuposto da concordância do assistente é dispensado no
caso concreto aí explanado. Este é um exemplo em que se adopta uma solução tendo em vista um fenómeno
concreto à margem das características essenciais do instituto da suspensão, designadamente a que o faz
depender da concordância do sujeito processual que é o assistente. Num caso em que, além do mais, poderá
até haver já assistente constituído.
Na legislação extravagante podemos apontar art. 9º da Lei 36/94, inscrevendo-se ai uma solução no
âmbito do direito premial.
O regime de mediação da Lei 21/2007 traduz-se também numa limitação ao princípio ao princípio da
legalidade, na medida em que o MP remete o processo para mediação, em qualquer momento do inquérito,
se tiverem sido recolhidos indícios de se ter verificado crime e de que o arguido foi o seu agente (art. 3º) Não
se tratando de uma alternativa à acusação, ma vez que a remessa se basta com a existência de indícios,
podendo ocorrer em qualquer momento do inquérito. A um enquadramento politico criminal que é comum
aos casos de arquivamento em caso de

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dispensa de pena e de suspensão provisória do processo junta-se o propósito do conflito jurídico- penal ter
sido resolvido com a intervenção de um terceiro - o mediador, art. 4º.

1.3. Princípio da acusação.

O princípio da acusação determina que a entidade que investiga e acusa deve ser distinta da que julga,
o que é uma das características marcantes do processo penal de estrutura acusatória. A separação entre
entidades garante a objectividade e a imparcialidade da decisão judicial. A adopção deste princípio é imposta
pelo art. 32º/5 CRP e está legalmente consagrado nos arts. 48º, 241º, 262º, 263º, 276º CPP (MP) e ainda 8º,
13º, 14º, 16º, 311º, 339º, 358º e 359º CPP (juiz).
É ainda em nome deste princípio que a fase de instrução é da competência de um juiz de instrução, o
qual fica impedido de intervir no julgamento relativo a processo em que tiver presidido a debate instrutório.
(art. 40º/b CPP) Ainda que o juiz de instrução esteja vinculado ao tema que lhe é proposto na acusação e no
requerimento para a abertura da instrução (art. 303º CPP), a decisão que venha a tomar a final contende
directamente com o objecto do processo, passando a pronúncia a delimitar e a fixar os poderes de cognição
do juiz de julgamento (art. 358º e 359º CPP).
Entre nós, o princípio da acusação também significa que esta repartição de tarefas no decurso do
processo penal se faz entre magistraturas distintas – a do MP e a judicial. Do ponto de vista do cumprimento
do princípio da acusação é indiferente que a fase de investigação e acusação caiba ao MP ou ao juiz de
instrução, já que ambos não se confundem com o juiz de julgamento. O enquadramento do princípio nas
normas constitucionais já aponta para uma repartição de funções entre magistraturas distintas. Ante uma
acusação de inconstitucionalidade do CPP, por burla de etiquetas, defendida por VITAL MOREIRA (para o autor,
a investigação devia caber ao juiz de instrução e não ao MP), e com base nos arts. 202º/1/2, 219º e 220º CRP,
FIGUEIREDO DIAS retira que resulta como consequência inevitável que a estrutura acusatória que o processo
penal assume por imperativo constitucional se realiza por divisão de funções processuais entre o juiz ou
tribunal por um lado e o MP do outro e não por qualquer outra forma, nomeadamente por divisão entre o juiz
de julgamento e o juiz de instrução.
Este princípio é ainda uma das principais garantias de defesa do processo penal. Quais as
consequências deste princípio?
1) O tribunal a quem caiba o julgamento não pode, por sua iniciativa, começar uma investigação, competindo
ao MP abrir o inquérito, dirigi-lo e proceder ao seu encerramento. (art. 241º e 262º/2, 263º/1 e 276º/1
CPP)
1) Implica ainda que a dedução da acusação pelo MP ou pelo assistente, anteceda o julgamento, podendo
haver casos em que este seja antecedido por um despacho de pronúncia, proferido, em todo o caso por
um juiz distinto do juiz de julgamento. A acusação (ou a pronúncia) delimita e fixa o objecto do processo,
e consequentemente os poderes de cognição do tribunal e extensão do caso julgado. A este efeito de
vinculação temática do tribunal ligam-se:
1) O princípio da identidade, segundo o qual o objecto do processo deve ser conhecido e julgado na sua
totalidade;
2) O princípio da consunção, segundo o qual decorre que mesmo quando não tenha sido condenado e
julgado na sua totalidade deve considerar irrepetivelmente decidido. Muito importante em casos de
continuação criminosa.
3) O princípio da unidade, segundo o qual o MP deduz acusação e presume-se que o juiz conheça tudo
o que dela consta.

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O princípio da acusação liga-se ainda de forma directa e imediata ao exercício efectivo do direito de defesa
por parte do arguido. Este sujeito processual tem a garantia de não ser surpreendido com novos factos na
audiência de julgamento, podendo aí exercer de forma cabal o direito a contraditar os factos que lhe são
imputados na acusação. Assim se explica que, para os devidos efeitos, se considere a alteração substancial dos
factos aquela que tiver por efeito a imputação ao arguido de um crime diverso, mas também a que tiver por
efeito a agravação dos limites máximos das sanções aplicáveis. (art. 1º/f CPP) A alteração do objecto do
processo também não se confunde com a alteração da qualificação jurídica dos factos.

P.e. Alguém é acusado de homicídio qualificado. Em julgamento não se provam os factos que levaram
o MP a considerar a prática de um crime de homicídio qualificado, mas apenas de homicídio simples. Há uma
alteração dos factos, porque os factos dados como provados não coincidem com os da acusação - mas o juiz
pode
jl h i ídi i l ã há lt ã d bj t d
2. Princípios gerais da prossecução processual.

São os princípios da investigação, do contraditório, da suficiência e da concentração. Só explicaremos


os do contraditório e da suficiência, deixando os outros para mais tarde.

2.1. Princípio do contraditório.

Este princípio determina que toda a prossecução processual deve ocorrer de forma a fazer ressaltar
quer as razões da acusação, quer as razões da defesa. Daqui decorre um dever de ouvir qual sujeito do
processo penal ou mero participante processual quando deva tomar-se qualquer decisão que pessoalmente o
afecte. À participação processual penal permitida por este princípio corresponde um verdadeiro direito de
audiência, isto é, de participação constitutiva na declaração de direito do caso.
Quando perspectiva da parte do arguido, este princípio é uma das garantias de defesa que o processo
criminal lhe deve assegurar (art. 32º/1 CRP). Quando considerado como princípio geral da prossecução
processual, este princípio surge como princípio característico do processo penal de estrutura acusatória (art.
32º/5/1ª parte CRP), intimamente conexionado com a finalidade processual penal de protecção de direitos
fundamentais das pessoas.
O princípio está constitucionalmente consagrado no art. 32º/5 CRP e ainda nos arts. 327º, 321º/3,
323º/g, 341º, 348º/4, 360º/1/2 CPP (audiência do julgamento); e arts. 298º, 289º/1/2, 301º/2 e 302º CPP (fase
instrutória – discussão perante o juiz de forma oral e contraditória, sobre se do decurso do inquérito e da
instrução resultam indícios de facto e elementos de direito suficientes para justificar a submissão do arguido
a julgamento).

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Este princípio integra o estatuto processual do arguido (art. 61º/a/b/g CPP e, p.e. 194º/4) Integra ainda
o estatuto processual do assistente, ao qual compete intervir no inquérito e na instrução, oferecendo provas
e requerendo as diligências que se afigurarem necessárias (arts. 69º/2/a CPP).
Não obstante a CRP subordinar apenas a audiência de julgamento ao princípio do contraditório, não
tendo por isso que valer da mesma forma em todas as fases do processo, o que é facto é que encontra
expressão logo na de inquérito, nomeadamente pior via do estatuto processual do arguido e do assistente,
ainda que esta fase possa estar sujeito a segredo de justiça, nos termos do disposto nos arts. 86º/2/3 CPP.
A compatibilização entre o segredo de justiça e o princípio do contraditório é uma das características
que se pode apontar ao processo penal português. Ao contrário do que se possa pensar, o princípio do
contraditório não deve ficar arredado quando o processo penal seja secreto. A regra hoje é que o processo
penal é público desde o início, embora na fase de inquérito possa haver segredo. Ainda que o processo seja
secreto, o CPP continua a reconhecer ao arguido o direito ao contraditório.

2.2. Princípio da suficiência.

Segundo o princípio da eficiência, o processo penal é promovido independentemente de qualquer


outro e nele se resolvem todas as questões que interessarem à decisão da causa. Nele se resolvem
nomeadamente as questões prejudiciais em processo penal, aquelas que constituem um antecedentes jurídico
concreto da questão principal, que são autónomas quanto ao objecto e à natureza, podendo dar origem a um
processo independente, e que são necessárias à resolução da questão principal de natureza penal. Está
previsto no art. 7º/1 CPP e justifica-se pelas exigências de concentração do processo penal no tempo e com a
certeza de que a resolução penal da questão principal nem sempre aproveitará o tratamento, em sede própria,
da questão não penal.
Há boas razões para não se adoptar a via de devolução obrigatória da questão prejudicial ao tribunal
competente, mas também são invocáveis argumentos para não haver uma regra absoluta de conhecimento
obrigatório, tendo em conta a especialidade e a complexidade da questão – por isso existe o nº2 do art. 7º.
(ver ac. STJ 18/04/2007) Quanto aos detalhes da suspensão, ver o nº 3 e 4 do CPP. Isto sem prejuízo de a
questão prejudicial acabar por vir a ser decidida no processo penal, se não for resolvida no prazo definido ou
se a acção não for proposta no prazo máximo de um mês, por se tornar preponderante o interesse da
concentração temporal (arts. 7º/3/4 e 328º CPP). A devolução de uma questão prejudicial a juízo não penal é
uma causa de suspensão da prescrição do procedimento criminal (art. 120º/1/a CP), o que aponta no sentido
de haver limites temporais para a suspensão.

P.e. Um crime de fraude fiscal. Só há crime de fraude fiscal - declarar rendimentos inferiores aos
rendimentos que efectivamente o sujeito tem - a partir de certo valor. Até esse valor existirá apenas uma
contraordenação. Ora, neste processo penal pode ser importante ao tribunal penal que necessite de recorrer
a outro tribunal para saber qual o valor em falta e saber se se ultrapassou o valor a partir do qual se t i d f d
fis l
As questões de constitucionalidade não são propriamente questões prejudiciais, isto é, não estamos
no âmbito do princípio da suficiência, atendendo às especificidades do controlo de constitucionalidade
português. (cfr. Arts. 204º, 221º, 280º CRP e 69º, 70º/1/a/b/g e 72º LOSJ; ver ainda Ac. TC 195/2010)

3. A fase do inquérito.

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É a fase da investigação por excelência, sendo uma fase obrigatória, cuja falta comporta nulidade
insanável (art. 118º/1 e 119º/d CPP).

3.1. Abertura.

O inquérito inicia-se com a aquisição da notícia do crime por parte do MP, que a adquire por
conhecimento próprio, por intermédio dos órgãos de polícia criminal ou mediante denúncia. (arts. 241º e 245º
CPP), devendo tal notícia obedecer aos requisitos de forma e conteúdo do art. 246º/1/2/3 CPP.
Por força do princípio da legalidade da promoção processual, a aquisição da notícia do crime dá
sempre lugar à abertura de inquérito, ressalvadas as excepções previstas no CPP – 262º/2 CPP. Enquadram-se
aí os casos em que não serve uma qualquer forma de aquisição da notícia do crime pra dar início ao inquérito:
arts. 49º CPP; 50º, 68º/2, 246º/4 CPP; 246º/5 CPP.
A exigência de à notícia de um crime corresponder a abertura de inquérito, que é uma fase do processo
penal, é significativa do propósito político criminal de não haver margem para um pré- inquérito ou inquérito
preliminar, no âmbito do qual poderia ocorrer a prática de actos de natureza processual penal sem a devida
harmonização de finalidade que são apontadas ao processo penal, nomeadamente com o menosprezo da
protecção dos direitos fundamentais das pessoas. Apesar disso, a confusão crescente entre prevenção e
repressão criminal, que é perceptível na legislação extravagante, faz-nos recear pela existência na prática
desta realidade. Ver exemplos da lei 36/94 e DL 81/95. Repare-se ainda que isto não impede que exista um
primeiro juízo sobre a validade e a subsistência da denúncia que chega as autoridades - há uma selecção prévia
daquilo que depois pode dar origem a um processo-crime.
Impende sobre os órgãos de polícia criminal o dever de transmitir ao MP a notícia do crime de que
tiveram conhecimento próprio ou que lhes tenha sido denunciado, ainda que se trate de notícia
manifestamente infundada. (art. 248º/1/2 CPP). Em geral, a denúncia do crime é obrigatória para todas as
entidades policiais, quanto a todos o crimes de que tomarem conhecimento, bem como para os funcionários
na acepção do art. 386º CP, quanto a todos os crimes de que tomarem conhecimento o exercício das suas
funções e por causa delas, o que está de acordo com o princípio da legalidade quanto à promoção processual.
O art. 242º/3 vai no sentido de a denúncia ser obrigatória, mesmo quando o procedimento dependa de queixa
ou acusação particular.
O CPP dispõe sobre a denúncia anónima, à qual se aplicam os arts. 246º/5 CPP, 365º CP e 164º/2 CPP.
Quando não determinar a abertura do inquérito, o MP promoverá a destruição da denúncia (art. 246º/7 CPP),
ou procederá de acordo com o nº 6 se não for este o caso e o
procedimento criminal depender de queixa ou acusação particular. A denúncia anónima também dá lugar a
um inquérito se a própria denuncia constituir crime - denúncia caluniosa.

3.2. Finalidade, direcção e actos do MP.

A finalidade do inquérito consta do art. 262º/1 CPP e traduz-se na investigação da existência de um


crime, determinar os seus agentes e responsabilidade deles e descobrir e recolher as provas. O teor da
disposição legal coincide com a definição de investigação criminal da Lei 49/2008, o que está de acordo com
a configuração do inquérito como fase de investigação do processo penal comum.
A direcção da fase de inquérito cabe ao MP, cujas intervenções processuais devem obedecer a um
critério de estrita objectividade. Dirige o inquérito assistido pelos órgãos de policia criminal que actuam sob a
sua directa orientação e na sua dependência funcional e aos quais pode conferir o encargo de procederem a
diligências e investigações relativas ao inquérito, podendo mesmo a delegação ser por despacho de natureza
genérica que indique os tipos de crime ou os limites das penas aplicáveis aos crimes em investigação (art. 53º,
55º, 56º, 263º e 270º CPP) Para a protecção das finalidades do inquérito, o MP pratica os actos e assegura os
meios de prova necessários, com duas restrições:

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1) Há actos que têm que ser praticados, ordenados ou autorizados pelo juiz de instrução, por se tratar de
actos instrutórios que se prendem directamente com direitos fundamentais, cabendo a este juiz exercer
as funções jurisdicionais até à remessa do processo para julgamento (art. 32º/4 CRP e 17º CPP) P.e.
medidas de coacção, buscas, etc… O juiz intervém como juiz das liberdades e não da investigação, sendo
a sua intervenção feita sempre a requerimento. Além destes actos, há ainda um conjunto de outros actos
cuja prática a lei expressamente reserva ao juiz ou faz depende de ordem ou autorização sua: arts.
68º/3/4, 215º/3/4 e 218º/2 CPP, 271º CPP. Esta regra garante a repartição de funções entre magistraturas
distintas e garante a possibilidade de a fase de instrução ser verdadeiramente um mecanismo de
comprovação judicial da decisão de deduzir acusação ou de arquivar o inquérito em ordem a submeter a
causa a julgamento. Garante o controlo desta decisão por parte do juiz de instrução sem pré-juízos. (Cfr.
Ac TC nº 155/2007, quanto à colheita coactiva de vestígios biológicos do arguido, que tem que ser
autorizada por um juiz.)
2) Note-se ainda que os órgãos de polícia criminal podem ter uma delegação genérica para a realização de
actos no processo – são os despachos de delegação genérica de competência. Porém, há actos que não
podem ser delegados nos órgãos de polícia criminal, como é o caso dos do nº2 do art. 270º CPP, e actos
que só podem ser delegados nas autoridades de polícia criminal, como é o caso do nº3.

3.3. Encerramento.

Está previsto no art. 276º/1 CPP. O prazo máximo da duração do inquérito é determinado em função
de haver ou não arguidos presos ou sob obrigação de permanência da habitação, casos em que são mais curtos
(nº1). Além desse critério base, o legislador lança mão de outros critérios como o tipo de crime, a sua natureza
e gravidade (nº2/a e 3/a) e da especial complexidade do procedimento (nº2/b/c e 3/b/c) De acordo com o
276º/4 CPP, o prazo conta-se a partir do momento em que o inquérito tiver passado a correr contra pessoa
determinada ou em que se tiver verificado a constituição de arguido. Num caso e noutro, passam a poder ter
lugar actos processuais que poderão contender com direitos fundamentais daquela pessoa ou do arguido.
Como efeito, pode haver constituição de arguido durante o inquérito, não obstante o momento regra ser o da
dedução de acusação ou o de ser requerida a instrução, sendo certo eu um dos casos em que é obrigatório
interrogar a pessoa como arguido é o de correr inquérito contra pessoa determinada em relação à qual haja
suspeita fundada na prática de crime.

A existência de prazos máximos de duração do inquérito põe a questão de saber se estamos em face
de prazos meramente ordenadores ou antes perante um caso de vinculatividade dos prazos do inquérito.
A solução dada pelo art. 276º/6/7/8 CPP não nos permite afirmar que estes prazos são compulsórios,
tendo o MP que obrigatoriamente arquivar ou acusar. MARIA JOÃO ANTUNES considera que tal permite
acautelar a dedução de acusações infundadas com prejuízos para a posição processual de alguém que poderia
ser acusado de forma precipitada da prática de um crime. Apesar disso, isto também não pode significar que
não haja limites impostos pela finalidade processual de restabelecimento da paz jurídica do arguido. Limites
que são impostos pela norma constitucional do art. 32º/2/parte final CRP. Em sentido contrário, CLAUDIA
SANTOS defende que já que, uma vez arquivado o processo, há sempre possibilidade de reabrir o inquérito,
deve entender-se que os prazos são obrigatórios e não podem ser ultrapassados.

3.3.1.Despacho de arquivamento.

O arquivamento do inquérito, por despacho do MP devidamente fundamentado (art. 97º/3 a 5 CPP),


tem vários fundamentos possíveis:
• Foi recolhida prova bastante de se não ter verificado crime;
• Foi recolhida prova bastante de o arguido não ter cometido crime a qualquer título;

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• Não foram obtidos indícios suficientes da verificação do crime ou de quem foram os seus
agentes;
• É legalmente inamissível o procedimento porque, por exemplo, está prescrito o procedimento
criminal (art. 118º a 121º CP) ou quando não foi exercido atempadamente o direito de queixa.

Nos crimes particulares, poderá ainda ter lugar uma decisão de arquivamento do inquérito se o
assistente não deduziu acusação particular. Porém, nada obsta a que o MP arquive ainda o procedimento se
for legalmente inadmissível o procedimento, p.e. quando se tenha extinguido o direito à queixa (art. 115º e
117º CP).
Esgotado o prazo em que já não pode ter lugar a intervenção hierárquica prevista no art. 278º CPP, o
inquérito pode ser reaberto nos termos do art. 277º/1/2 e 279º CPP. O princípio da legalidade da promoção
processual faz desta possibilidade de reabertura do inquérito um dever para o MP. A harmonização das
finalidades do processo penal de realização da justiça e descoberta da verdade material e o restabelecimento
da paz jurídica do arguido impõe que só se admitam os
elementos de prova novos que invalidem os fundamentos do arquivamento. A eficácia processual definitiva
do despacho de arquivamento mantém sob reserva da cláusula rebus sic standibus.

3.3.2.Despacho de acusação.

Se, durante o inquérito, tiverem sido recolhidos indícios suficientes de se ter verificado o crime e de
quem foi o seu agente, o MP deduz acusação contra este (princípio da legalidade quanto à promoção
processual), considerando-se suficientes os indícios sempre que deles resultar uma possibilidade razoável de
ao arguido vir a ser aplicada, por força deles, em julgamento, uma pena ou uma medida de segurança (art.
283º/1/2 CPP). Isto é, sempre que seja mais provável a condenação que a absolvição do agente , o que envolve
um juízo sobre a existência de provas a produzir e a examinar na audiência do julgamento, uma vez que, em
regra, valem para o efeito de formação da convicção do tribunal.
O despacho de acusação deve conter tudo o que está disposto no art. 283º/3 CPP, sob pena de
nulidade (118º/1 e 120º CPP – a nulidade só existe nos casos expressamente previstos na lei, sendo este um
deles.). Isto justifica-se por três razões:
(1)Este define e fixa o objecto do processo.
(2)Supõe um juízo no sentido de resultar provável a condenação do sujeito em julgamento.
(3)Só uma acusação com certo conteúdo permite o exercício do contraditório quanto aos factos
imputados ao arguido, à qualificação jurídica dos mesmos e à sanção que previsivelmente lhes
possa vir a ser imposta, estando aqui directamente implicado um exercício efectivo do direito de
defesa do arguido.

Deduzida acusação nos termos do art. 283º CPP e notificado o assistente, este sujeito processual pode
lançar mão do disposto nos arts. 284º/1/2/b, art. 1º/f e 311º/2/b CPP. Trata-se em todo o caso de uma
acusação subsidiária que pode até limitar-se a uma mera adesão à acusação do MP, segundo a alínea a) do
art. 284º/2 CPP. Pode o assistente acusar pelos mesmos factos que acusou o MP; por parte deles; por novos
factos, mas nunca por factos que alterem substancialmente os factos descritos na acusação do MP, isto é, não
pode alterar o objecto do processo. Este direito é significativo do estatuto de sujeito processual do assistente.
Se o processo for por crime particular, cabe ao assistente deduzir a acusação nos termos do art.
285º/1/2 CPP. Se o assistente se decidir pela não acusação, o MP procederá, por despacho, ao arquivamento
do inquérito. Se se decidir pela acusação particular, esta deverá ter o conteúdo de acusação pública, sob pena
de nulidade (art. 285º/3 CPP), aplicando-se-lhe ainda o disposto no art. 303º e 358º e 359º CPP.
Paralelamente ao que sucede com o assistente nos crimes públicos e semipúblicos, o MP tem a
faculdade de aderir total ou parcialmente à acusação particular – arts. 285º/4, 311º/2/b CPP. Esta
circunstancia tem um significado indiscutível, tanto mais quanto o assistente pode acusar ainda que lhe tenha

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sido indicado que não foram recolhidos indícios suficientes da verificação do crime. O acompanhamento
daquela acusação tem as consequências processuais previstas no art. 310º/1 CPP: a decisão instrutória é
irrecorrível se pronunciar o arguido pelos factos constantes da acusação do MP formulada nos termos do art.
385º/4 CPP.
3.3.3.Alternativas ao despacho de acusação.

O arquivamento em caso de dispensa de pena – art. 280º CPP – verifica-se por dois tipos de razões:
cumprimento das exigências de prevenção geral e, essencialmente, especial positivas (razões substantivas) e
razões de economia e celeridade processual (razões processuais). No fundo procura- se pôr-se fim ao processo
numa fase inicial. Quanto aos requisitos, há que distinguir duas fases:
1) Quando este é aplicado no final do inquérito, sendo promovido pelo MP à 280º/1 CPP. Depende:
• Da existência de indícios suficientes de se ter verificado o crime e de quem foi o seu
agente;
• De se tratar de crime relativamente ao qual se encontre expressamente prevista na lei
penal a possibilidade de dispensa de pena (art. 74º CP);
• De se verificarem os pressupostos da dispensa de pena;
• Da concordância do juiz de instrução. Esta concordância faz com que a decisão não seja
susceptível de impugnação a decisão de arquivamento, nomeadamente por uma certa
proibição de venire contra factum proprium. No limite poderia dizer- se que o assistente
nunca é ouvido e por isso devia poder impugnar aesta decisão. Ora, estamos no seio do
direito penal, onde não podemos sobrevalorizar os interesses privados em detrimento
dos interesses públicos que apontam claramente para esta solução de irrecorribilidade.
2) Quando este é aplicado na instrução, sendo promovido pelo juiz de instrução. à 280º/2 CPP. Os
requisitos são os mesmos, excepto que se exige a concordância do MP e do arguido. Note- se que aqui
se exige a concordância do arguido porque, tendo sido deduzida acusação, este pode querer provar a
sua inocência por via do processo. Tinha sentido prever esta exigência neste segundo caso e não no
anterior quando o inquérito era secreto e o processo só se tornava público após a acusação. Hoje, nos
termos do art. 86º CPP, o processo é todo ele, em regra, público, sendo de questionar se também no
primeiro caso não devíamos exigir o consentimento do arguido, com a mesma finalidade aqui
apresentada.

Ainda em alternativa ao despacho de acusação, o MP pode determinar, com a concordância do juiz de


instrução, a suspensão provisória do processo mediante a imposição de injunções (imposições de conteúdo
positivo) e regras de conduta (imposições de conteúdo negativo) prevista no art. 281º CPP. (Ac. TC 7/87
pronunciouse pela inconstitucionalidade da norma que atribuía ao MP competência para a suspensão do
processo mediante a imposição de injunções e regras de conduta previstas na lei, sem a intervenção de um
juiz, por violação dos arts. 206º e 32º/4 CRP. Anos mais tarde aceitou-se que fosse o MP a decidir a suspensão
do processo nos mesmos termos, desde que com concordância do juiz de instrução.)
São pressupostos deste mecanismo de diversão com intervenção:
(1)Existência de indícios suficientes de se ter verificado o crime e de quem foi o seu agente.
(2)Crime punível com pena de prisão não superior a 5 anos ou pena não privativa da liberdade.
(3)A concordância do arguido e do assistente;
(4)Ausência de condenação anterior por crime da mesma natureza.
(5)A ausência de aplicação de suspensão provisória do processo por crime da mesma natureza;

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(6)Não haver lugar a medida de segurança de internamento


(7)Ausência de um grau de culpa elevado;
(8)Ser de prever que o cumprimento das injunções e regras de conduta responda suficientemente às
exigências de prevenção que no caso se façam sentir.
(9)Dependa da concordância do juiz de instrução (cuja decisão não é passível de recurso), justificando
que a decisão de suspensão não seja susceptível de impugnação, tanto mais que há um consenso
que é alargado a outros sujeitos processuais.

As injunções e regras de conduta que são oponíveis ao arguido, cumulativa ou separadamente, estão
exemplificadas no art. 281º/2 CPP, impondo-se os limites do nº4 – dignidade do arguido. Estas injunções não
têm a natureza de sanção penal ou de pena. Antes se inscrevem na linha de medidas que visam alertar o
arguido para a validade da ordem jurídica e despertar nele o sentimento de fidelidade ao direito, sem qualquer
necessidade de comprovação da culpa e dependendo sempre da concordância do arguido. COSTA ANDRADE
alerta que nestes casos o sujeito continua debaixo da presunção de inocência, devendo orientar-se essas
regras e injunções de forma privilegiada ou exclusivamente para fins de prevenção.
Quanto à sua duração, aplicamos o art. 282º CPP – até dois anos, sendo que é o juiz que, dentro desse
prazo, decide o prazo tendo em consideração a gravidade do facto e as regras de conduta ou injunções que
decidir aplicar. Se o arguido não cumprir as injunções e regras de conduta ou cometer crime da mesma
natureza pelo qual venha a ser condenado, o processo prosseguirá, com a dedução da acusação, em
cumprimento do princípio da legalidade da promoção processual, sendo tal uma forma de prevenir o roubo
do conflito. Se ele cumprir as regras de conduta e as injunções, o processo é arquivado.
Também este instituto pode ser aplicado em duas diferentes fases do processo:
• No final do inquérito (281º CPP)
• Em sede de instrução (307º/2 CPP)

Ver Ac. STJ 16/2009 que fixou jurisprudência no sentido de ser irrecorrível o despacho de não
concordância do juiz de instrução em relação à determinação do MP visando a suspensão provisória do
processo. Esta decisão do juiz não é propriamente uma decisão de mérito, porque o juiz vai limitar-se a analisar
se estão verificados ou não os pressupostos; para além do mais, sem o seu acordo não há suspensão provisória
do processo, seguindo-se todos os demais actos processuais onde os vários sujeitos vão poder fazer valer a sua
posição, nomeadamente podendo recorrer dessas decisões que posteriormente venham a ser tomadas
Em caso de crime por violência doméstica não agravado pelo resultado ou crime contra a liberdade e
autodeterminação sexual de menor não agravado pelo resultado, aplicamos as especificidades previstas no
art. 281º/7/8, 282º/5 CPP e 178º/3/4 CP. No caso do crime de violência doméstica e dos crimes sexuais contra
menores, a suspensão provisória do processo não partilha das mesmas ideias que subjazem ao instituto
originariamente previsto no art. 281º CPP. Na verdade, a suspensão provisória do processo propriamente dita
é um instituto que confere especial atenção aos interesses do arguido, nomeadamente pretende-se evitar a
sua dessocialização. Pelo contrário, estes dois casos especiais têm em conta em primeira linha os interesses
da vítima. A simplificação dos requisitos nos nº 7 e 8 do art. 281º CPP relaciona-se directamente com a opção
dolegislador nos sentido da natureza pública destes crimes. Nestes casos, a suspensão provisória do processo
surge como uma "válvula de escape do sistema" perante a actual natureza pública dos crimes em questão. É
por este motivo que alguns autores já afirmaram que nestes casos a suspensão provisória do processo
funciona como um sucedâneo da desistência de queixa. É a maneira de o legislador reconhecer que às vezes
o interesse dos ofendidos vai no sentido contrário da abertura do procedimento criminal.
Há ainda especificidades no caso concreto do art. 281º/9 CPP. No caso dos furtos praticados em
estabelecimento comercial com as características previstas no artigo 207º/2 CP, está em causa um crime de
natureza particular pelo que a iniciativa processual, nos termos do art. 50º CPP, cabe ao ofendido constituído
assistente. Contudo, por força da alteração de 2013 ao CPP, o aditamento deste nº9 ao art. 281º CPP faz com

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que se dispense o acordo do assistente, o que na prática conduz a que o processo possa solucionar-se pela via
alternativa da suspensão provisória do processo, mesmo contra a vontade desse assistente.

Nada obstará a que se recorra a estes institutos quando o procedimento depender de queixa ou de
acusação particular. Os crimes particulares e semipúblicos justificam-se por se entender que o valor da
autonomia do ofendido condiciona legitimamente a prossecução processual, mas a prossecução processual
não pode ser ela mesma condicionada pela privada percepção do interesse do ofendido.
Ora, nos crimes semipúblicos a questão não se coloca verdadeiramente, sendo óbvio que o MP pode
sempre utilizar estes meios do art. 280º ou 281º CP, já que é ele que decide, no fim do inquérito, se acusa ou
não, podendo lançar mão destes meios em alternativa à acusação.
Nos crimes particulares, a questão só se colocará se o assistente deduzir acusação. Neste caso, nada
parece obstar à suspensão provisória do processo uma vez que é seu pressuposto a concordância do
assistente. MARIA JOÃO ANTUNES entende ainda que, embora a concordância do assistente não seja
pressuposto de arquivamento em caso de dispensa de pena, se deve defender a sua aplicabilidade quando o
procedimento dependa de acusação particular.
Além de isso se justificar politico-criminalmente, há que considerar que, não obstante a acusação
particular poder ser deduzida sem terem sido deduzidos indícios suficientes da prática do crime, tal não
significa propriamente que o assistente tem como que o direito de submeter a causa a julgamento. A
justificação deste tipo de crimes a alheia a estas justificações, além de que a acusação nos termos do art. 285º
CPP poderá sempre corresponder a um despacho de não pronúncia se, entretanto, a instrução for requerida
pelo arguido; o tribunal poderá sempre pronunciar-se sobre nulidades e outras questões prévias ou incidentais
que obstem à apreciação do mérito da causa de que possa logo conhecer (art. 311º/1 CPP); o tribunal poderá
sempre, se a instrução não for requerida, proferir despacho no sentido de rejeitar a acusação particular, se a
considerar manifestamente infundada (art. 311º/2/a CPP). Em suma, deduzir acusação particular não significa
que o arguido seja submetido a julgamento por decisão incontrolável do assistente, não existindo uma
disponibilidade total do processo por parte deste.

Excurso: porque antes não eram muito usados estes mecanismos de diversão que contribuem para a
celeridade processual e evitam a estigmatização do sujeito, sendo muito utilizados hoje em dia para pôr fim a
processos?
1) O processo suspenso não contava como findo (mas como pendente), prejudicando as estatísticas e
avaliação do magistrado. Hoje contam como processos findos.
2) As suspensões deviam ser comunicadas à PGR para colocar numa base de dados e os magistrados não
queriam mostrar-se às figuras mais altas da hierarquia.
3) Dá mais trabalho suspender provisoriamente um processo do que acusar, dada a necessidade de criar esse
consenso alargado.

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3.3.4.Controlo da decisão de arquivar ou acusar.

Há dois mecanismos de controlo da decisão de deduzir acusação ou de arquivar o inquérito: o controlo judicial
por via da fase facultativa da instrução, nos termos do art. 286º/1, e a intervenção hierárquica prevista no art.
278º CPP – são ambos corolários do principio da legalidade da promoção processual.
A intervenção hierárquica é um mecanismo próprio de uma magistratura hierarquizada como a do
MP. É limitado por um lado e subsidiário por outro: serve para controlar apenas a decisão de arquivar o
inquérito e só pode ser accionado a partir do momento em que a já não possa ser requerida a abertura da
instrução; ou no prazo em que esta possa ser requerida, se o assistente e o denunciante com a faculdade de
se constituir assistente optarem por não requerer a abertura de uma nova fase – nesta última hipótese, surge
como verdadeiro meio alternativo ao controlo judicial da decisão de arquivar o inquérito através da abertura
da instrução (Ac. 3/2015 STJ)
É o superior hierárquico do magistrado do MP que tinha arquivado esta fase processual quem pode
determinar, por sua iniciativa ou a requerimento dos sujeitos acima indicados que seja formulada acusação
ou que as investigações prossigam, indicando neste caso as diligências a efectuar e o respectivo prazo. Esta
competência, que pode ser exercida por iniciativa própria, garante o controlo de todas as decisões de
arquivamento do inquérito.

CAPÍTULO V- A TRAMITAÇÃO DO PROCESSO PENAL COMUM – FASE DE


INSTRUÇÃO

É uma fase eventual do processo penal comum que não tem lugar nas formas de processo especiais –
art. 286º/2/3 CPP.

1. Abertura.

Esta fase facultativa do processo penal comum é aberta a requerimento do arguido ou do assistente,
segundo o art. 287º/1 CPP, o que é uma manifestação de que ambos têm o estatuto de sujeito processual.
• A) Pode ser requerida pelo arguido, relativamente a factos pelos quais o MP ou o assistente, em
caso de procedimento dependente de acusação particular, tiverem deduzido acusação. Notificado
o despacho de acusação, poderá o arguido requerer a abertura de instrução no prazo legalmente
fixado (art. 287º/1 a 6 CPP).
• B) A instrução é requerida pelo assistente relativamente a factos pelos quais o MP não tiver
deduzido acusação, se o procedimento não depender de acusação particular. Esta limitação tem
a ver com a circunstância de, neste caso, ser o assistente quem decide se há ou não dedução de
acusação (art. 285º/1 CPP) Não tendo sido deduzida acusação por sua decisão, não faria sentido
que o assistente pudesse requerer a instrução para ser
comprovada judicialmente a não submissão da causa a julgamento. Neste caso, o arquivamento
do inquérito por parte do MP é da exclusiva responsabilidade deste. (art. 48º, 50º, 285º, 287º CPP)

Já fará sentido se, tendo deduzido acusação, o MP tenha arquivado o inquérito, por erro, ou se tiver
proferido despacho de arquivamento sem ter notificado o assistente nos termos do art. 285º CPP. Nestes
casos, notificado do despacho de arquivamento, o assistente poderá requerer a abertura de instrução no
prazo de 20 dias, além de poder requerer a intervenção hierárquica. (art. 113º, 287º/1 a 6 e 278º CPP)

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Em suma, a ressalva do art. 287º/1/b CPP só vale para os casos em que a decisão de não acusação é
da responsabilidade do assistente, como quando este não deduz acusação particular, sendo arquivado o
processo por ser legalmente inadmissível o procedimento. A razão de ser desta ressalva exclui todos os casos
em que o MP arquive o inquérito sem que o assistente tenha sido notificado para deduzir acusação particular.
Entendimento contrário, em que subsistisse apenas a intervenção hierárquica, levaria à perda,
injustificada, do mecanismo de controlo judicial da decisão final de arquivar o inquérito, vulnerando o princípio
da legalidade da promoção processual e o modelo legal e constitucional de repartição de funções entre as
duas magistraturas.
Nestas hipóteses, o assistente tem de poder requerer a abertura da instrução, com a finalidade de ser
comprovada judicialmente a decisão de arquivar o inquérito (art. 286º/1 e 287º/1/b CPP), equivalendo a
apresentação do requerimento à dedução de acusação particular (art. 285º/3 e 287º/3 CPP).
O assistente poderá ainda requerer a abertura da instrução quando o MP tiver proferido um despacho
de acusação do qual constem decisões parcelares de não acusação por determinados factos. O assistente
pode, nos termos do art. 284º CPP acusar por factos diferentes dos factos constantes da acusação do MP, mas
com a limitação de não importarem uma alteração substancial destes. Neste caso, poderá, quanto a eles,
requerer a abertura da instrução, para controlo judicial da decisão de não os submeter a julgamento.

O prazo para requerer a abertura da instrução é, em regra, de 20 dias (ver arts. 113º e 287º/1 a 6 CPP).
A parte final do nº2 justifica-se por estar em causa a imputação ao arguido de factos que justificarão a
submissão da causa a julgamento e afixação consequente dos poderes de cognição do juiz de instrução (art.
288º/4 e 303º CPP).
O prazo de 20 dias para o assistente requerer a abertura de instrução nos termos do art. 287º/1/b CPP
conta-se sempre e só a partir da notificação do despacho de arquivamento proferido pelo magistrado do MP
titular do inquérito ou quem o substitua. (Ac. 3/2015 STJ)

2. Finalidade.

Nos termos do art. 286º/1 CPP, visa a comprovação judicial da decisão de deduzir acusação ou arquivar o
inquérito em ordem a submeter a causa ou não a julgamento. Tão só isto e não também da causa como o MP
levou a cabo a investigação. A instrução não é um instrumento de sindicância da actuação do MP ao longo do
inquérito, mas antes e tão-só uma fase destinada a comprovar o acerto da decisão de acusar ou de arquivar
tomada pelo MP.
Abona no sentido da finalidade apontada, o carácter facultativo desta fase (286º/2 CPP). A instrução só
existirá se o arguido ou assistente a requererem pelo seu interesse em contrariar o sentido da decisão tomada
pelo MP no final do inquérito. Vai ainda ao encontro desta finalidade o disposto no art. 309º CPP, que pretende
a maior acusatoriedade possível - se durante a instrução, o juiz chegar a factos novos que alterem
substancialmente os descritos na acusação, ele não pode pronunciar por esses factos novos. No fundo, a
instrução não é um suplemento autónomo da investigação, ainda que as recentes alterações ao CPP
contrariem essa posição:
1) A regra, sem excepções da publicidade da fase de instrução (art. 86º CPP) 2) A contrariedade
dos actos de instrução (art. 289º/2 CPP) 3) O disposto no art. 303º/3/4 CPP.
4) A equiparação do regime da alteração da qualificação jurídica dos factos descritos na acusação ou no
requerimento de e para a abertura da instrução ao regime que vale na fase de julgamento (art. 303º/5
e 358º/3 CPP) Desfigurou-se assim a instrução como uma fase tão só de controlo da decisão de acusar
ou arquivar o inquérito.

A configuração da fase de instrução como mecanismo de controlo da decisão de deduzir acusação ou de


arquivar o inquérito foi questionada lofo em sede de fiscalização preventiva da constitucionalidade de normas
do decreto que aprovou o CPP. O
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TC pronunciou-se no sentido da não inconstitucionalidade no Ac. 7/87. Pedia-se essencialmente o controlo


face aos arts. 32º/4 e 224º CRP, argumentando-se que as diligências processuais que a lei incluía sob a
designação de inquérito eram, materialmente, instrutórias.
FIGUEIREDO DIAS entendia porém, sem sentido contrário, que o sentido jurídico processual do termo
instrução não está inscrito em qualquer lei natural ou natureza das coisas, que permite decidir logo a partir
dela o que é e o que não é instrução. Entendia ainda que o carácter facultativo da instrução adequa-se
perfeitamente à natureza de direito das pessoas e de garantia de direito penal, consistente na prática de actos
materialmente judiciais. Por fim, reconhece que a competência do MP para exercer a acção penal deve-se à
estrutura acusatória que o nosso PP assume por imperativo constitucional, que se realiza por haver uma
profunda divisão de funções processuais entre o juiz e o MP e não por qualquer outra forma.

3. Direcção e conteúdo.

A fase de instrução é dirigida por um juiz - juiz de instrução. (art. 288º/1 e 290º/1 CPP) Tal como
acontece na fase de inquérito, a direcção da instrução por parte do juiz é coadjuvada pelos órgãos de policia
criminal, que actuam na sua dependência funcional. (arts. 288º/1, 290º/2, 292º/2, 55º/1 e 56º CPP) Há várias
razões para nem todos os actos poderem ser delegados. Por um lado, estão em causa actos especialmente
relevantes para a formação da livre convicção do juiz e que até já poderão ter sido praticados anteriormente
pelos órgãos de polícia criminal no inquérito; por outro lado, actos da competência reservada das autoridades
judiciárias.
Segundo art. 288º/4 CPP, o juiz investiga autonomamente o caso submetido a instrução, embora
com as limitações do requerimento de abertura desta fase, o qual contém as razões de facto e de direito de
discordância relativamente á acusação ou não acusação e com os limites dos arts. 303º e 309º CPP. Neste
sentido, a instrução é um suplemento de investigação autónomo, em concretização do princípio da
investigação, de onde decorre que o juiz de instrução não está limitado aos contributos da acusação e da
defesa.
A instrução é formada pelo conjunto de actos de instrução que o juiz entenda dever levar a cabo e,
obrigatoriamente, por um debate instrutório (art. 289º CPP) Os actos de instrução são levados a cabo nos
termos do art. 291º/2 CPP, sendo que o juiz praticará os actos que considerar úteis (arts. 288º/4 e 291º CPP).
Ver ainda o 289º/2 CPP eu é de louvar por refer~encia ao princípio do contraditório, mas acaba por desvirtuar
a finalidade que o art. 286º/1 CPP aponta à fase de instrução, aproximando-a da fase de julgamento. Isso não
devia ser assim, porque a instrução serve tão-só para decidir se a causa deve ser submetida a julgamento.
Os actos da instrução não são obrigatórios (art. 297º CPP), nomeadamente quando se requeria a fase
invocando apenas razões de direito ou no caso do requerimento que, invocando apenas razões de direito,
tenha em vista a aplicação do disposto no 280º e 281º CPP. (307º/2 CPP)
Já o debate instrutório é obrigatório sob pena de nulidade (120º/2/d CPP), tendo como finalidade
permitir uma discussão perante o juiz, por forma oral e contraditória, sobre se, no decurso do inquérito e da
instrução, resultam indícios de facto e elementos de direito suficientes para justificar a submissão do arguido
a julgamento, podendo nele participar o MP, o arguido, o defensor, o assistente e seu advogado, mas não as
partes civis (art. 289º/1, 298º, 301º/2, 302º CPP)

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4. Encerramento.

A instrução encerra-se através da prolação de um despacho de pronúncia ou de não pronúncia. (art.


207º/1 e 308º/1 CPP) A circunstancia de ter sido requerida apenas por um dos arguidos não prejudicar o dever
do juiz retirar da instrução as consequências legalmente impostas a todos os arguidos, de acordo com o art.
307º/4 CPP.
Em razão do princípio da máxima acusatoriedade possível, do efeito de vinculação temática do caso e da
tutela dos direitos de defesa do arguido, este não pode ser pronunciado por factos que constituem alteração
substancial dos descritos na acusação do MP ou do assistente (art. 283º a 285º CPP) ou no requerimento para
abertura de instrução (art. 287º/1/b/2 CPP), de acordo com o estatuído pelo art. 303º/3 e 1º/f CPP. À violação
desta proibição corresponde mesmo a nulidade da decisão instrutória (arts. 118º/1, 309º/1 e 310º/3 CPP).
Confrontar com atenção arts. 303º/1/3/4 CPP.
O nº 5 do art. 303º CPP estende este regime aos casos em que o juiz altera a qualificação jurídica dos factos
descritos na acusação ou no requerimento. Independentemente da questão de saber se deve haver liberdade
do juiz quanto à qualificação jurídica dos factos, o que é facto é que este é mais um ponto em que a instrução
se aproxima do julgamento (art. 358º/3 CPP). Porém, sem qualquer justificação. O direito de defesa do
arguido, invocado para a solução dada na fase de julgamento, não justifica que aquela alteração tenha o
mesmo regime da alteração não substancial dos factos quando a fase em que questão é a da instrução, porque
o arguido poderá sempre defender-se em sede de julgamento da nova qualificação jurídica dos factos que
conste do despacho de pronúncia. Na versão primitiva, o juiz de instrução tinha liberdade total quanto à
qualificação jurídica dos factos, o que era mais adequado.
Como alternativa ao despacho de pronuncia, o juiz de instrução poderá arquivar o processo nos termos
do art. 280º CPP ou suspender provisoriamente o processo de acordo com o disposto no art.

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307º/2 CPP. Note-se a diferença colocada pelo art. 280º/2 CPP, justificado pelo facto de entretanto ter sido
deduzida acusação, não podendo o conflito ser roubado, sem mais, ao arguido.

5. Irrecorribilidade.

O princípio geral quanto a recursos encontra-se no art. 399º CPP. As decisões judiciais proferidas na
fase de instrução (despachos) são em regra recorríveis, sendo o recurso interposto para a relação (art. 427º
CPP). Algumas notas:
• Prevê-se a irrecorribilidade do despacho que indefere os actos requeridos que o juiz entenda
não interessarem à instrução ou servirem apenas para protelar o andamento do processo,
dele cabendo apenas reclamação, bem como a irrecorribilidade do despacho que decida esta
impugnação (art. 291º/1/2 CPP). Isto graças à finalidade da instrução.
• O art. 310º/1/1ª parte justifica-se quanto aos crimes públicos e semipúblicos por haver
concordância entre o MP e o juiz de instrução quanto à decisão de submeter a causa a
julgamento. Em caso de procedimento dependente de acusação particular, é equivalente a
esta situação, aquela em que o MP junta a sua acusação à do assistente, nos termos daquele
art. 285º/4, pelo que também não é recorrível o despacho que pronunciar pelos factos
constantes desta acusação. Isto já não valerá, por se tratar de mera acusação particular
quando a acusação do assistente deduzida ao abrigo do art. 285º CPP, não for acompanhada
pela do MP. Neste caso, o despacho de pronúncia já é recorrível. Esta específica situação de
irrecorribilidade funda-se numa ideia de celeridade e economia processual por forma a evitar
que o recurso desta decisão interlocutória funcione como expediente dilatório. Tem como
fundamento a existência de duas decisões no mesmo sentido proferidas por duas
magistraturas distintas.
• Também será recorrível o despacho quando exista divergência entre o juízo do MP e o juiz de
instrução.
• A decisão instrutória também é recorrível quando o MP arquiva o inquérito e o juiz de
instrução profere despacho de não pronúncia. Ainda que exista concordância das duas
magistraturas neste caso, a irrecorribilidade obstaria a que o juiz da causa apreciasse da
bondade daquela decisão. Apesar disto, nada parece impedir que se possa e deva defender a
irrecorribilidade também neste caso ao abrigo do art. 310º/1 com fundamento na
concordância das duas magistraturas. Não serão obstáculos a tal posição a alegação do direito
de acesso aos tribunais por parte do assistente, nem tão pouco o princípio do juiz natural.
(arts. 20º/1 e 32º/9 CRP) No fundo, se assim não fosse se assim não fosse o sujeito processual
afectado não teria outra fase processual para fazer valer a sua pretensão processual.
• A irrecorribilidade prevista no art. 310º CPP abrange também a parte em que esta decisão
aprecie nulidades ou outras questões prévias ou incidentais, o que se justifica por o juiz de
julgamento poder sempre excluir provas proibidas e pronunciar-se sobre as nulidades e outras
questões prévias ou incidentais que obstem à apreciação do mérito da causa (art. 310º/2 e
311º/1 e 338º/1 CPP)

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CAPÍTULO VI – MEIOS PROCESSUAIS

1. Meios processuais.

Adquirida a notícia do crime e aberto o inquérito tem lugar o conjunto de diligências que visam investigar
a existência de um crime, determinar os seus agentes e a responsabilidade deles e descobrir a recolher as
provas, em ordem à decisão sobre a acusação. Já na fase de julgamento, valem apenas as provas que tiverem
sido produzidas ou examinadas em audiência, para o efeito da formação da convicção do tribunal quanto à
existência de um crime, quanto à determinação dos seus agentes e a responsabilidade deles e quanto à
determinação da sanção. É aqui que ganham relevo os meios processuais: os meios de obtenção de prova e
os meios de prova; as medidas cautelares e de polícia; as medidas de coacção e as medidas de garantia
patrimonial.
É uma matéria sensível à questão da reserva de juiz e à reserva de competência da autoridade judiciária e à
harmonização das finalidades do processo penal, muito particularmente a realização da justiça e descoberta
da verdade material e a protecção dos direitos fundamentais. É também aqui que se jogam soluções
processuais diferenciadas tendo em conta a gravidade e natureza dos crimes envolvidos – Cfr. Artº 1º/i/j/l/m
CPP. Normalmente, ao traçar um regime para esta criminalidade, o legislador tende a desvalorizar a finalidade
de protecção dos direitos fundamentais e privilegiar a descoberta da verdade material e realização da justiça.
O relevo desta matéria ainda se reflecte na legislação extravagante: Lei 101/2001, de 25 de Agosto (acções
encobertas), Lei 5/2002, de 11 de Janeiro (criminalidade organizada e económicofinanceira), e Lei 109/2009
(recolha de prova digital).

2. Meios de obtenção da prova e meios de prova.

O art. 124º CPP determina o que se entende por objecto de prova. O CPP distingue meios de obtenção da
prova e meios de prova, entendendo que é por via dos primeiros que se obtêm os segundos a partir dos quais
se forma a convicção das autoridades judiciárias.
Segundo GERMANO MARQUES DA SILVA, os meios de obtenção da prova distinguem-se dos meios de prova
numa dupla perspectiva:
• Lógica à Os meios de prova caracterizam-se pela sua aptidão para serem por si mesmos fontes
de convencimento, ao contrário do que sucede com os meios de obtenção da prova, que apenas
possibilitam a obtenção daqueles meios.
• Técnico-operativa à Os meios de obtenção da prova caracterizam-se pelo modo e também pelo
momento da sua aplicação no processo, em regra nas fases preliminares, sobretudo no inquérito.
Normalmente são modos de investigação para obtenção de meios de prova, e é por isso que o
modo de sua obtenção é particularmente relevante.
Esta distinção já esteve mais clara no CPP. Hoje a lei tem um entendimento censurável nesta matéria,
nomeadamente entendendo que a transcrição das escutas fazem deste meio de obtenção de prova um meio
de prova documental que valerá em julgamento para o efeito de formação da convicção do tribunal. Este
entendimento é perigoso, tornando muito mais apetecível a utilização deste meio altamente violento para os
direitos fundamentais do arguido e até de terceiros.
2.1. Meios de obtenção da prova.

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O CPP prevê como meios de obtenção da prova os exames, as revistas, as buscas, as apreensões e as
escutas telefónicas. (arts. 171º a 190º CPP)

É por meio de exames das pessoas, dos lugares e das coisas que se cumprem as finalidades previstas
no art. 171º/1 CPP. Os exames podem ter lugar por iniciativa própria dos órgãos de polícia criminal (art. 55º/2,
171º/4, 173º, 249º/2/a CPP), sem prejuízo de aos exames susceptíveis de ofender o pudor nas pessoas só
poder assistir a autoridade judiciária competente. (art. 172º/3, 270º/2/c e 290º/2 CPP); é da competência da
autoridade judiciária compelir alguém que pretenda eximir-se ou obstar a qualquer exame devido ou facultar
coisa que deva ser examinada (art. 172º/1, 60º, 61º/3/d CPP). Muitas destas actividades justificam-se pelo
perigo na demora e os danos que tal poderia trazer à investigação se se tivesse que obter sempre autorização
de um juiz.
Já é da competência reservada de um juiz o exame que envolva as características físicas ou psíquica
de uma pessoa que não haja prestado o consentimento (172º/2, 269º/1/b CPP), como é o caso dos exames
que envolvam análises de sangue ou perfis de ADN. (porque contende com o direito de reserva de intimidade
da vida privada)
Hoje coloca-se a questão de saber se estes exames podem ser mandados fazer a uma vítima do crime,
isto é, alguém que não seja suspeito ou arguido em processo penal (sendo um verdadeiro terceiro).

As revistas têm como objecto as pessoas e as finalidades do art. 174º/1 CPP. São autorizadas ou
ordenadas por despacho da autoridade judiciária competente, devendo esta, sempre que possível, presidir à
diligência (art. 174º/3 CPP). Ver ainda art. 174º/5 e 6 e 118º/1 CPP. No caso do art. 251º CPP, a realização da
revista é, sob pena de nulidade, imediatamente comunicada ao juiz de instrução e por ele apreciada em ordem
à sua validade. Na primeira hipótese deste artigo (alínea a) estamos verdadeiramente perante uma medida
cautelar que se integra na competência que a lei defere aos órgãos de polícia criminal para a prática de actos
cautelares necessários e urgentes para assegurar os meios de prova (249º/1 CPP); na outra hipótese (alínea
b), o que há aqui é a denominada revista de segurança, que se estende mesmo a quem não seja suspeito (art.
1º/e CPP), sendo de duvidar da sua previsão no CPP.

As buscas têm como objecto os locais e finalidades do art. 174º/2 CPP. São autorizadas ou ordenadas
por despacho da autoridade judiciária competente, devendo esta, sempre que possível, presidir à diligência
(art. 174º/3 CPP). O seu regime é igual ao regime da revista.
A protecção constitucional da inviolabilidade do domicílio, que vai ao ponto de reservar ao juiz a
competência para ordenar a entrada no domicílio dos cidadãos contra a sua vontade, e a protecção da reserva
da vida privada e familiar (art. 26º71, 34º/1/2/3 CRP), introduzem especificidades no regime da busca
domiciliária (art.
177º CPP).
A busca em casa habitada ou numa sua dependência fechada só pode ser ordenada ou autorizada pelo
juiz (art. 177º/1 e 269º/1/c CPP) Já podem ser ordenadas pelo MP ou efectuadas pelos órgãos de polícia
criminal, os casso previstos no art. 177º/3 CPP. Veja-se ainda o nº4.
É a CRP que estatui que ninguém pode entrar durante a noite no domicílio de qualquer pessoa sem o
seu consentimento (art. 34º/2 CRP). O legislador define este período como o que decorre das 21 as 7 da
manhã. É também a CRP que ressalva as situações de flagrante delito ou, mediante autorização judicial. Os
casos de criminalidade especialmente violenta ou altamente organizada, incluindo o terrorismo e o tráfico de
pessoas, de armas e de estupefacientes. Veja-se o

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disposto na lei sobre esta matéria: art. 177º/2 e art. 1º/i/j/l/m CPP. Cfr ainda 177º/3/b CPP. Concluímos que
é em situações excepcionais de perigo na demora, que a polícia pode entrar no domicílio sem haver
autorização prévia de um juiz, embora este deva, após a comunicação que lhe é feita, validar o procedimento
realizado sem autorização. Pode esta validação ser implícita ou tem que ser explícita? MARIA JOÃO ANTUNES
manifesta as suas dúvidas quanto à possibilidade de serem realizadas validações implícitas. Não nos podemos
bastar com uma garantia de juiz meramente formal, devendo esta ser material, percebendo o juiz os contornos
do processo e fundamentando a decisão que toma. A validação deve ainda ser feita por referência ao
momento em que os actos foram praticados e sem ter em consideração os resultados, p.e. se as buscas foram
proveitosas ou não. Lamentavelmente, não é isso que acontece em regra no nosso direito.
A busca em escritório de advogado ou consultório médico é, sob pena de nulidade, presidida
pessoalmente pelo juiz, podendo estar presente o presidente do conselho local da AO ou da OM ou um seu
delegado (arts. 177º/5/6 e 118º/1 e 268º/1/c CPP). Como à protecção do domínio profissional se junta a
protecção do segredo profissional, a lei exige que o juiz não se limite a ordenar ou a autorizar a busca,
determinando que seja por ele presidida pessoalmente.
Um dos problemas que se afiguram em matéria de jurisprudência constitucional é a delimitação do
conceito constitucional de domicílio: os segmentos habitacionais dos grupos e autocaravanas de pessoas
nómadas fazem parte do conceito (Ac nº 452/89); o quarto arrendado por um estudante é seu domicílio, não
bastando o consentimento do senhorio para nele entrar (Ac nº 507/94 e Ac 126/2013); A natureza intima ou
privada dos actos praticados em certo local não implica a sua qualificação como domicilio (Ac 364/2006); a
protecção do domicílio inclui ainda os anexos, garagens; em casos de cotitularidade, ambos hão-de dar o seu
consentimento, p.e. quando se trate de buscas ao domicílio de um casal. O TC tem ainda entendido que a
reserva da vida privada não se estende as pessoas colectivas.
As apreensões estão previstas no art. 178º/1 CPP. São autorizadas, ordenadas ou validadas por
despacho da autoridade judiciária (pelo MP na fase de inquérito e pelo juiz nas outras fases), sem prejuízo de
poderem ser efectuadas pelos órgãos de polícia criminal no decurso de revistas e buscas e quando haja
urgência ou perigo na demora, nos termos do art. 249º/2/c CPP, caso em que terão de ser validadas pela
autoridade judiciária, no prazo máximo de 72 horas. (art. 178º/3/4/5 CPP). As apreensões podem ser
autorizadas, ordenadas ou validadas também pelo MP, sem prejuízo, porém, de os titulares de bens ou direitos
objecto de apreensão poderem requerer a um juiz – ao juiz de instrução – a modificação ou revogação da
medida, uma vez que este meio de obtenção da prova contende com o direito de propriedade do arguido ou
até de terceiro (art. 178º/6 CPP).
Considerando o teor do art. 178º CPP, é de concluir que a apreensão não é propriamente apenas um
meio de obtenção da prova. Tem também em vista a conservação de objectos, produtos e vantagens da prática
do crime, cujo destino final é a perda a favor do Estado (art. 109º a 111º CP). É o que resulta ainda do art. 186º
CPP, quando se autonomia a apreensão para efeito de prova dos casos em que os objectos apreendidos são
declarados perdidos a favor do Estado ou passam a ser objecto de arresto preventivo – nessa medida surge
como medida de garantia processual da perda das vantagens e objectos que derivam da prática do crime.
Podemos, pois, falar de uma natureza híbrida: com uma finalidade processual probatória (obter e conservar
as provas) e uma finalidade processual substantiva (garantir aa perda dos objectos que as encarnam a favor
do estado).

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MARIA JOÃO ANTUNES entende que não é necessário reserva de juiz quando este meio seja usado como
meio de obtenção de prova, porque a CRP não tutela especificamente a propriedade de bens adquiridos
através da prática de um crime. Já quando surja exclusivamente como medida de garantia processual, se
justificará a reserva de juiz.
É o art. 34º/1 e 4 CRP que estatui que o sigilo da correspondência é inviolável. Esta protecção, acrescida
do art. 26º CRP, introduzem especificidades no regime legal da apreensão de correspondência. (art. 179º CPP)
Sob pena de nulidade, é matéria reservada de juiz autorizar ou ordenar a apreensão, mesmo nas
estações de correios e de telecomunicações, de cartas, encomendas, valores, telegramas ou qualquer outra
correspondência. (ver art. 179º/1, 118º/1 CPP e ainda 179º/3, 252º, 268º/1/d, 269º/1/d CPP). A apreensão
em escritório de advogado, em consultório médico e em estabelecimento bancário, ao envolver o segredo
profissional, é feita nos termos especiais dos arts. 180º e 181º e 268º/1/c CPP. Por outro lado, o CPP proíbe,
sob pena de nulidade, a apreensão e qualquer outra forma de controlo da correspondência entre o arguido e
o seu defensor, salvo se o juiz tiver fundadas razões para crer que aquela constitui objecto ou elemento de
um crime (art. 179º/2 e 118º/1 CPP).

As escutas telefónicas estão previstas no art. 187º/1 CPP e 34º/4 CRP. Só podem ser autorizadas por
despacho fundamentado do juiz de instrução e mediante requerimento do MP, o dominus da fase processual
em que podem ter lugar (arts. 187º/1 e 269º/1/e CPP). A natureza marcadamente subsidiária e excepcional
este meio de obtenção de prova, subordinado aos denominados crimes do catálogo, a competência reservada
do juiz de instrução e a cominação de nulidade em casos de inobservância dos seus requisitos e condições (art.
190º e 118º/1 CPP) relevam da intenção de harmonizar a finalidade de harmonização de justiça e descoberta
da verdade material com a protecção dos direitos fundamentais sacrificados na escuta telefónica. Estão em
causa os direitos do arguido, mas também direitos de terceiros, que são atingidos por via de uma investigação
oculta, onde se inclui um conjunto diversificado e heterogéneo de meios de obtenção de conhecimentos, em
que os agente de investigação se intrometem nos processos de comunicação privada das pessoas investigadas,
que não têm conhecimento do facto. Por causa disto, continuam a agir, a interagir e a comunicar de forma
espontânea e inocente, dizendo e fazendo coisas de conteúdo e sentido directamente autoincriminatório.
Uma autoincriminação de que não têm consciência.
O seu regime legal estende-se às conversações ou comunicações transmitidas por qualquer meio
técnico diferente do telefone, como correio electrónico e até à intercepção entre presentes – escuta ambiental
(art. 189º/1 e 190º CPP). Alguns dos aspectos do regime legal das escutas estende- se agora de forma expressa
à obtenção e junção aos autos de dados sobre a localização celular o de registos da realização e conversações
ou comunicações (art. 189º/2 e 190º e 252º-A CPP).
Em suma, só há escutas telefónicas durante o inquérito:
2) Se houver razões para crer que a diligência é indispensável para a descoberta da verdade material e
realização da justiça e que a prova seria muito difícil de obter de outra forma;
3) A requerimento do MP e havendo despacho fundamentado do juiz de instrução.
4) Só é utilizado em última instância quando não se consiga levar a cabo as suas finalidades por outros
meios menos lesivos dos direitos fundamentais do arguido e de terceiro.

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Há várias questões que têm sido discutidas quanto a esta matéria:


• Qual o valor dos conhecimento fortuitos nas escutas, p.e. o conhecimento de outros crimes? O
que se entende é que só podemos valorar conhecimentos fortuitos se o crime que se vier a
descobrir seja ele próprio um crime do catálogo relativamente aos quais eu podia ordenar escutas.
• As escutas, como método oculto de investigação, não devem poder ser utilizadas como meio de
prova, nomeadamente porque podem esvaziar de sentido o direito ao silêncio do arguido.
• Pode o juiz de instrução, que autoriza uma escuta, mandar destruir aquilo que não seja relevante
para a investigação criminal ou devem estas informações manter-se no processo para que o
arguido as possa utilizar no exercício do seu direito de defesa? O TC entendeu que não era
inconstitucional a norma segundo a qual o juiz de instrução podia mandar destruir as escutas não
relevantes para a investigação. MARIA JOÃO ANTUNES, que votou a favor desta decisão por
entender que era bom destruir tudo o que não era relevante ao processo dado o grau de
danosidade das escutas para quem é escutado e para terceiros, tem hoje opinião diferente,
porque entende que o MP nem sempre actua como devia, mas sim como parte; e o juiz de
instrução não surge hoje tanto como juiz das liberdades; além de que as escutas não são apenas
um meio de obtenção de prova, mas também um meio de prova, podendo condenar-se alguém
hoje com base em escutas.
• O TC apreciou a norma do art. 187º/1 CPP quando interpretada no sentido de que o conteúdo
abrange o acesso à facturação detalhada e à localização celular (Ac 486/2009), tendo-se
pronunciado pela sua conformidade constitucional face ao art. 34º/4 CRP. Nesta matéria destaca-
se ainda o Ac. 403/2015.

2.2. Meios de prova

O CPP prevê, como meios de prova, a prova testemunhal, as declarações do arguido, as declarações do
assistente, as declarações das partes civis, a prova por acareação, a prova por reconhecimento, a
reconstituição do facto, a prova pericial e a prova documental. (arts. 128º a 170º CPP).

A prova testemunhal tem como objecto os factos de que a testemunha tenha conhecimento directo e que
constituam objecto de prova. Em regra, não serve como meio de prova o depoimento indirecto que resultar
do que se ouviu dizer a pessoas determinadas e não é admissível como depoimento a reprodução de vozes
públicas ou convicções pessoais (arts. 124º, 128º, 129º e 130º CPP). A testemunha poderá também ser
inquirida sobre os factos relativos à personalidade e ao carácter do arguido, bem como às suas condições
pessoais e conduta anterior, tendo em vista a determinação da pena ou MS, a prova de elementos
constitutivos do crime – como a culpa do agente – ou a aplicação de medida de coacção ou de garantia
patrimonial – 128º/2 CPP. A prova testemunhal é garantida protegendo a testemunha contra formas de
ameaça, pressão ou intimidação, nomeadamente em casos de terrorismo e criminalidade altamente violente
– Lei nº 93/99 e DL nº 190/2003.
De acordo com os artigos 91º/1/3/4, 131º/1, 132º/1/2 CPP e 360º CP, a testemunha tem o dever de
testemunhar e de responder com verdade às perguntas que lhe forem feitas, sob pena de incorrer

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em responsabilidade penal, sem prejuízo de não ser obrigada a responder a perguntas quando alegar que das
respostas resulta a sua responsabilidade penal, podendo mesmo pedir a sua constituição como arguido (59º/2
CPP). O privilégio da não autoincriminação, muito embora tenha muito em comum com o direito ao silêncio
do arguido, distingue-se deste pela razão fundamental de o segundo pressupor que o arguido seja perguntado
sobre factos que lhe são imputados no contexto de um processo penal.
O art 134º CPP explica-se pela existência de relações de certo tipo entre a testemunha e o arguido,
justificando-se assim esta recusa de depoimento. Impendendo sobre a testemunha um dever de verdade e
podendo o seu depoimento responsabilizar criminalmente o arguido, compreende-se que o legislador preveja
este desvio ao dever de testemunhar. (Estas pessoas antes eram chamadas de declarantes)
O art. 135º CPP prevê, em nome da tutela do segredo profissional, que certos sujeitos guardem segredo,
podendo escusar-se a depor sobre factos por ele abrangidos. Um tribunal pode, porém, decidir a prestação de
testemunho com quebra do segredo profissional, ressalvado o segredo religioso que é inquebrantável, sempre
que esta se mostre justificada, segundo o princípio da prevalência do interesse preponderante,
nomeadamente tendo em conta a imprescindibilidade do depoimento para a descoberta da verdade material,
a gravidade do crime e necessidade de protecção dos bens jurídicos. Ainda por razões atinentes ao segredo, o
legislador prevê especificidades nos arts. 136º e 137º quanto a este ponto. Relativamente às declarações do
arguido importa distinguir:

a) As que se reportam à sua identidade

Tem o arguido o dever de responder e de responder com verdade às perguntas feitas por entidade
competente, sob pena de incorrer em responsabilidade penal (art.
61º/3/b, 141º/3 e 342º CPP e 259º/2 CP)

b) As que se reportam aos seus antecedentes criminais

O regime anterior valia também para o caso em que o sujeito era questionado pelos seus antecedentes
criminais. A evolução legislativa conduziu a que o arguido não tenha o dever de responder a perguntas sobre
estes antecedentes, o que não significa que eles tenham deixado de poder ser considerados, nomeadamente
por via de perguntas que continuam a poder ser dirigidas ao arguido (art. 140º/2 CPP) e por intermédio do
conteúdo do certificado de registo criminal do arguido (art. 8º/2/a da Lei 37/2015).
De resto, nem outra opção é consentida por um direito penal que pressupõe o conhecimento dos
antecedentes criminais do arguido (e não propriamente porque o conhecimento desses antecedentes pode
afectar a imparcialidade do tribunal, como muitos alegam), por exemplo, para a determinação da medida
concreta da pena, reincidência, PRI. A solução de eliminar o dever de o arguido responder a perguntas sobre
os antecedentes criminais, que não elimina a possibilidade de sobres eles perguntar e de o arguido sobre eles
se calar exercendo o direito ao silêncio, têm justificação na medida em que as respostas dadas podem relevar
ao nível da sua responsabilidade criminal e da
determinação da sanção. (O Ac. TC 695/95 considerou que regime contrário violava o principio das garantias
de defesa do arguido – art. 32º CRP)

c) As que se reportam aos factos imputados

O arguido pode assumir um de três comportamentos processuais, com toda a liberdade:


• Negar tais factos à O arguido pode negar, no todo ou em parte, os factos que lhe são imputados,
quando perguntado sobre eles. Por isso, não é responsabilizado criminalmente quando prestar
declarações falsas sobre tais factos, não devendo, de resto, prestar juramento em caso algum (art.
140º/3 CPP). Não se trata de um reconhecimento de um direito à mentira, mas tão só de que é
inexigível ao arguido o cumprimento do dever de verdade, não impendendo sobre ele qualquer

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dever de colaboração com a administração da justiça penal. As declarações do arguido constituem


meio de prova autónoma da prova testemunhal, não podendo ele ser visto como testemunha de
causa própria. Note-se que não podemos dizer que há um direito a mentir como causa justificativa
da falsidade, mas apenas um ideia de inexigibilidade ao arguido de que responda com verdade.
• Confessar os factos à O arguido pode confessar os factos que lhe são imputados, quando
inquirido sobre eles. (344º CPP) O CPP admite a confissão do arguido, dando-lhe relevo, ao
contrário do que acontecia antes quando a confissão desacompanhada de quaisquer outros
elementos de prova não valia como corpo do delito, havendo aqui uma regra legal de valoração
da prova. Esta solução era justificada por dois argumentos: (1) evitar-se o incentivo da obtenção
da prova mediante métodos proibidos de prova; (2) evitar as autoincriminações falsas, muitas
vezes ligadas a perturbações psíquicas.
Ora, os efeitos da confissão e a sua ligação ao princípio da livre apreciação da prova dependem,
fundamentalmente, do carácter livre da confissão, da circunstância de ser ou não integral e sem
reservas e ainda da gravidade do crime confessado (art. 344º CPP). Por outro lado, a confissão é
uma conduta posterior ao facto que relevará enquanto factor da medida da pena – 71º/1/2/e CP.
Esta solução releva um tratamento diferenciado da pequena e media criminalidade, em relação
à criminalidade grave, e a intenção de criar espaços processuais de consenso. Sem descurar que
assim se evita a cerimónia degradante que é o julgamento, passando- se directamente às
alegações orais, sem mais produção de prova.
Aos perigos anteriormente apontados à confissão contrapomos que esta regra de valoração
da prova não impediu que fossem utilizados no passado métodos proibidos da prova. Por outro
lado, existe hoje uma dependência funcional entre as autoridades judiciárias e os órgãos de polícia
criminal, que actuam sob direcção do juiz, do juiz de instrução e MP (art. 56º CPP), que dá
garantias de observância do princípio da legalidade da prova contido no art. 125º CPP, cominando-
se a nulidade e a proibição de valoração da proa obtida através de métodos proibidos (art. 118º/3
e 126º CPP). Além de que o juiz poderá sempre suspeitar do carácter livre da confissão afastando
o perigo das auto- incriminações falsas. (344º/3/b CPP).
A confissão é muito usada, porque o comportamento processual do arguido é um factor de
medida da pena, podendo ser atenuada a pena a aplicar com base nesta; para
além de reduzir as custas do processo; e dispensar o tribunal de produzir outros meios de prova.

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Remeter-se ao silêncio à O princípio do respeito pela decisão de vontade do arguido implica que
lhe seja reconhecido o direito ao silêncio. É uma das garantias de defesa que o processo criminal
assegura ao arguido presumido inocente até ao trânsito em julgado da sentença de condenação
(31º/1/2 CRP). Este direito, cujo exercício pode ser total ou parcial, está expressamente
consagrado nos arts. 61º/1/c, 343º/1 e 345º/1 CPP, estabelecendo os dois últimos uma proibição
de valoração contra o arguido: o silêncio não o pode desfavorecer, não podendo ser valorado
como indicio ou presunção de culpa, nem tão pouco valorado, uma vez provada a culpa, para o
efeito de determinação da medida concreta da pena ou escolha da pena (70º e 71º/2/e CP). Coisa
diferente é o arguido ser desfavorecido de um ponto de vista fáctico quando o silêncio não
permita o conhecimento de aspectos que poderiam até ser positivamente relevantes na óptica da
sua responsabilização penal ou da determinação da pena.
Lamentavelmente, existem hoje um conjunto de sentenças judiciais que valoram
negativamente o silêncio na determinação da medida concreta da pena a aplicar e, se assim é, o
silêncio deixou de ser um direito. Note-se que o silêncio do arguido é uma “moeda com duas
faces”: ao falar, o arguido pode estar a ajudar aos factos que lhe são imputados; mas se não falar
pode estar a omitir factos relevantes que podiam até beneficia-lo. Por isso, muitas vezes o arguido
só confessa os factos nas suas últimas palavras - direito à última palavra.

Por fim, quanto às declarações do assistente ou partes civis – 145º CPP.

3. Medidas cautelares e de polícia.

As medidas cautelares e de polícia são medidas para as quais são competentes os órgãos de policia criminal
ou as autoridades de policia criminal – art. 1º/c/d e 55º/2 CPP.
Cabe aos primeiros a comunicação ao MP da notícia do crime de que tenham conhecimento próprio ou
que lhes tenha disso denunciado, sendo este um caso de denúncia obrigatória, ainda que a noticia seja
manifestamente infundada, uma vez que para a aquisição desta notícia é competente aquela magistratura
(art. 241º, 248º/1/2, 242º/1/a CPP)
Cabe-lhes ainda tomar providências cautelares quanto aos meios de prova, mesmo antes de receberem ordem
da autoridade judiciária competente para procederem a investigações, praticando os actos cautelares
necessários e urgentes para assegurar os meios de prova, nomeadamente proceder a exames de vestígios do
crime, assegurando a manutenção do estado de coisas e dos lugares; colher informações das pessoas que
facilitem a descoberta dos agentes do crime e a sua reconstituição, etc… (art. 249º/1/2 CPP) Através da tomada
destas medidas, visa-se acautelar a obtenção de meios de prova que, de outra forma, poderiam
irremediavelmente perder-se, provocando danos irreparáveis na obtenção das finalidades do processo. E isto
quer devido à natureza perecível de certos meios de prova, quer ainda dado o carácter urgente dos actos a
praticar. Justifica-se, nestes casos, uma intromissão nos DLG's das pessoas porque se tivéssemos que esperar
a autorização ou ordem do juiz, poder-seiam perder meios de prova. Harmonizamos assim duas finalidades
conflituantes do processo penal.

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Uma das medidas é a identificação do sujeito – 250º CPP. Trata-se de uma identificação coactiva com
natureza puramente instrumental (ver números 1 a 6). Outra medida é o pedido de informações (nº8). O TC
já se pronunciou sobre a inconstitucionalidade de normas que autorizem que uma pessoa insuspeita da prática
de um crime e em local não frequentado habitualmente por delinquentes pudesse ser sujeita a identificação
policial, com base na invocação de razões de segurança interna, através de procedimento insusceptível de o
vir a privar da sua liberdade, por um período até seis horas. Tratam-se de medidas excepcionais que só servem
para certos casos e certos sujeitos.
Estão ainda previstas como medidas cautelares, não dependentes da prévia autorização da autoridade
judiciária, a revista de suspeitos em caso de fuga iminente ou de detenção e a busca no lugar em que se
encontrarem, salvo tratando-se de busca domiciliária, sempre que os órgãos de polícia criminal tiverem razão
para crer que neles se ocultam objectos relacionados com o crime, susceptíveis de servirem a prova e que de
outra forma poderiam perder-se (art. 251º/1/a CPP).
Esta ainda prevista, como medida de polícia, não dependente da prévia autorização da autoridade
judiciária, a revista das pessoas que tenham de participar ou pretendam assistir a qualquer acto processual
ou que, na qualidade de suspeitos devam ser conduzidos a posto policial, sempre que houver razões para crer
que ocultam armas ou outros objectos com os quais possam praticar actos de violência (art. 251º/1/b CPP).
Por fim, quanto à apreensão de correspondência, os órgãos de polícia criminal hão-de transmiti-la intacta
ao juiz que tiver autorizado ou ordenado a diligência. (art. 252º/1 e 268º/1/d e 269º/1/d CPP e 34º/1/4 CRP).
Sem prejuízo de o juiz poder autorizar a sua abertura imediata depois de informado de que há razões para
crer que as encomendas ou valores fechados podem conter informações úteis à investigação de um crime ou
conduzir à sua descoberta que poderiam perder-se em caso de demora; e de os órgãos de polícia criminal
poderem mesmo ordenar a suspensão de remessa de qualquer correspondência nas estações de correios e
telecomunicações, sendo a correspondência remetida ao destinatário se, no prazo de quarenta e oito horas,
a ordem não for convalidada por despacho fundamentado do juiz (art. 252º/2/3 CPP)

4. Detenção.

É um meio processual privativo da liberdade constitucionalmente previsto (art. 27º/3/a/b/f CRP). Tem em
vista:
• A apreensão de um detido a julgamento sob a forma sumária (art. 254º/1/a e 381º e ss. CPP)
• A apresentação do detido ao juiz competente para primeiro interrogatório judicial (art. 254º/1/a
e 2 e art. 141º CPP)
• Para apresentação do detido ao juiz competente para aplicação ou execução de uma medida de
coacção (art. 254º/1/a e 194º CPP)
• Para assegurar a presença imediata ou, não sendo possível, no mais curto prazo, do detido perante
a autoridade judiciária em acto processual (art. 254º/1/b e 116º/2 CPP) Neste caso o detido pode
também ser um terceiro, por exemplo, uma testemunha, o que faz da detenção um meio
processual que não é privativo do suspeito ou do arguido.
No caso do art. 254º/1/a, a detenção tem o prazo máximo de 48 horas (ver art. 28º/1 CRP); no caso do art.
254º/1/b CPP, 24 horas é o prazo máximo desta.
Uma questão que se tem colocado é a de saber qual o sentido do estabelecimento deste prazo máximo
de 48 horas. O TC pronunciou-se no sentido de que há um prazo máximo de prisão administrativa de 48 horas.
Assim, o interrogatório judicial poderá iniciar-se além deste limite; iniciar-se dentro dele e terminar depois das
48 horas; iniciar-se e terminar dentro deste período, mas haver decisão de apreciação da detenção além das
48 horas. (Ac. TC 589/2006)
Assim, parece não haver limite temporal para uma privação da liberdade em relação à qual não há ainda
garantia de que respeita o regime constitucional de restrição do direito à liberdade, nomeadamente a
exigência de necessidade. Por outro lado, como a privação da liberdade além das 48 horas não corresponde à

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aplicação de uma medida de coacção legalmente prevista nem tão pouco se enquadra nos casos em que é
legalmente admissível a detenção, põe-se a questão de identificar a lei que permite a restrição ao direito.
MARIA JOÃO ANTUNES duvida, pois, da legalidade da detenção além das 48 horas, nomeadamente por não se
identificar qual a situação jurídica do sujeito detido. Note-se ainda que a detenção deve ser o último recurso
a utilizar e deve ser usado dentro destes limites legais, evitando privações da liberdade do sujeito para lá do
admissível legalmente.
Quanto à questão de saber quem pode deter um cidadão, importa distinguir:
• Detenção em flagrante delito (256º CPP) à Aplica-se o disposto no art. 255º/1/2 CPP. Com uma
limitação e uma excepção: 255º/3 CPP e 113º CRP e 255º/4 e 250º CPP. Note-se que pode ser
feita por qualquer pessoa, desde que não esteja presente uma outra entidade e a detenção tem
que ser destinada a entregar a pessoa directamente ás autoridades.
• Detenção fora de flagrante delito à 257º CPP, sendo que a lei reserva expressamente este acto
ao juiz, uma vez que pode haver detenção de qualquer pessoa independentemente da qualidade
de suspeito ou se arguido (257º/1, 255º/1/b CPP e 27º/3/f CRP) Excepcionalmente, a detenção
pode ser efectuada por mandado do MP nos casos do art. 257º/1 CPP. De forma ainda mais
excepcional, as autoridades de polícia criminal podem ordenar a detenção, por iniciativa própria
nos casos do art. 1º/d e 257º/2 CPP.

A circunstância de a detenção constituir um acto material de captura que priva o detido do direito à
liberdade por um certo período de tempo (art. 27º/1 CRP) justifica um regime jurídico existente, determinado
pela ponderação incontornável entre este direito fundamental e a finalidade de realização da justiça e
descoberta da verdade material. Daí a exigência constitucional e legal de apreciação/validação judicial da
detenção no prazo máximo de 48 horas (art. 28º/1 e 254º/1/a CPP); as exigências legalmente estabelecidas
quanto aos mandados de detenção com cominação de nulidade em caso de inobservância (art. 258º CPP); o
dever que impende sobre qualquer entidade policial que tiver procedido à detenção de a comunicar de
imediato o juiz ou ao MP (art. 259º CPP); o poder – dever previsto no art. 261º CPP; que possa ser accionada
a providência de habeas corpus em virtude de detenção ilegal (art. 31º CRP e 220º CPP).
5. Medidas de coacção.

De acordo com o art. 60º CPP, recai sobre o arguido o dever de se sujeitar a medidas de coacção
especificadas na lei e ordenadas por entidade competente (art. 61º/3/d CPP). Mais que sujeito do processo,
ele pode ainda ser objecto do processo nesta medida.
A posição processual do arguido está enformada em dois vectores fundamentais, no que toca à aplicação
destas medidas:
1) Direito de defesa (art. 32º/1 CRP)
2) Princípio da presunção de inocência (32º/2 CRP).
A aplicação de medidas de coacção traduz-se sempre numa restrição à liberdade que é tida como
necessária para salvaguardar direitos ou interesses constitucionalmente protegidos (art. 27º/1 e 18º/2 CRP),
nomeadamente a realização da justiça e descoberta da verdade material e o restabelecimento da paz jurídica
comunitária posta em causa com a prática do crime.
Aquele direito e aquele princípio constituem critério decisivo na tarefa de operar a concordância prática
entre finalidades conflituantes de processo penal, derivando um regime especialmente exigente quanto aos
princípios e condições de aplicação das medidas de segurança, acarretando, a sua violação, a revogação
imediata da medida de coacção imposta (212º/1/a CPP). Não se segue o regime geral das nulidades e a
inobservância das disposições da lei do processo penal, sem prejuízo de alterações legislativas posteriores à
versão primitiva do Código terem introduzido alguma incoerência nesta matéria, ao cominarem
expressamente a nulidade em matéria de aplicação de medidas de coacção (194º/1/6 CPP).

5.1. Princípios de aplicação.

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Princípio da legalidade
Só podem ser aplicadas as medidas de coacção previstas na lei, porque só esta pode restringir direitos,
liberdades e garantias (art. 61º/3/d e 191º/1/parte final CPP e 18º/2/3 CRP. São medidas de coacção: o Termo
de identidade de residência (196º CPP)
o Caução (art. 197º CPP) É uma medida de coacção que evita o perigo de fuga, afectando a
situação económico financeira do sujeito que sabe que se cumprir os éteres processuais
poderá ver devolvida quantia paga. o Obrigação de apresentação periódica (198º CPP)
o Suspensão do exercício de profissão, função, de actividade e de direitos
(art. 199º CPP) o Proibição e imposição de condutas (art. 200º
CPP)
o Obrigação de permanência na habitação (art. 201º CPP), que se harmoniza com a
utilização e meios técnicos de controlo à distância – Lei 33/2010.
o Prisão preventiva (art. 202º CPP)
Questão pertinente será saber se o termo de identidade e residência é, em bom rigor, uma medida de
coacção.
o Diferentemente do que sucede com as demais, o art. 61º/3/c CPP especifica como dever
especial que recai sobre o arguido o de prestar termo de identidade e residência;
o Os arts. 194º/1, 196º/1 e 268º/b CPP não reservam ao juiz a sua aplicação, podendo
também ser aplicado pelo MP e órgãos de polícia criminal;
o O art. 194º/6 não estabelece qualquer dever de fundamentação da decisão quando se
aplique o termo de identidade e residência;
o Os arts. 196º/1 e 204º CPP excluem esta medida do âmbito do princípio da necessidade,
uma vez que a sua aplicação depende somente da circunstancia de ter lugar a constituição
de arguido;
o O art. 216º/1/e CPP não determina a extinção do termo de identidade e residência com o
trânsito em julgado da sentença condenatória, extinguindo-se somente com a extinção
da pena.

• Princípio da judicialidade.

Este significa que só o juiz pode aplicar medidas de coacção. Este tem uma excepção, que é o caso de
aplicação de termo de identidade e residência, para o qual são ainda responsáveis, a autoridade judiciária e
órgãos de polícia criminal. Assim:
è Fase de inquérito - juiz de instrução (194 e 268), a requerimento do MP. è Fase de instrução -
juiz de instrução, a requerimento do MP ou por iniciativa própria.
è Fase de julgamento - juiz de julgamento, a requerimento do MP ou por iniciativa própria.

• Princípio da necessidade

As medidas de coacção só podem ser aplicadas em função das exigências processuais de natureza
cautelar. Só em função deste tipo de exigências é que a liberdade das pessoas pode ser limitada, total ou
parcialmente (art. 191º/1 e 193º/1 CPP), legitimando-se desta forma a sujeição do arguido a uma medida de
coacção, sempre por referência ao caso concreto e ao momento em que ocorre a sua aplicação. (art. 204º
CPP) Por isto é, desde logo, não espanta a possibilidade de que seja aplicada uma medida de coacção ao sujeito
e depois ele venha a ser absolvido em sede de julgamento.

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Na medida em que a sujeição de uma medida de coacção tem que ser comunitariamente suportável
face à possibilidade de estar a ser aplicada a um inocente, justificando-se por razões processuais de natureza
cautelar, os requisitos gerais constantes do art. 204º CPP devem ser interpretados estritamente à luz das
finalidades de realização da justiça e da justiça material (al. a e
b) e restabelecimento da paz jurídica comunitária posta em causa com a prática do crime (al. c). Nesta matéria
é indispensável a distinção entre exigências processuais de natureza cautelar – aquelas que legitimam a
imposição duma medida de coacção a alguém que se presume inocente – e exigências de punição – aquelas
que legitimam a condenação em pena de alguém que é declarado culpado.
Não pode, pois, aplicar-se uma medida de coacção com base na culpa do agente, exigências de
prevenção ou protecção do ofendido, sem prejuízo do art. 217º/3 CPP.
• Princípio da adequação

Está no art. 193º/1/2ª parte CPP, exigindo-se que as medidas de coacção a aplicar em concreto sejam
adequadas às exigências cautelares que o caso requerer e servindo de critério para a escolha da medida a
aplicar dentro das previstas. (art. 193º/2, 201º/1 e 202º/1 CPP). É ainda uma exigência de adequação que
preside ao internamento previsto no art. 202º/2 CPP. O tratamento médico-psiquiátrico pode ser mesmo a
forma de evitar a prática de novos crimes, podendo ser coactivamente imposto por via de internamento.

• Princípio da proporcionalidade

Está previsto no art. 193º/1/parte final CPP, devendo as medidas de coacção ser proporcionais à
gravidade do crime às sanções que previsivelmente venham a ser aplicadas, dando- se seguimento ao princípio
da proporcionalidade em sentido amplo. Decorre desde logo do disposto no art. 27º/3/b CPP. Por seu turno
também o legislador faz depender as medidas mais gravosas da existência de fortes indícios de prática de
crime doloso e da gravidade da pena aplicável ao crime. Ver ainda arts. 197º/1, 198º, 199º, 200º, 201º, 202º
CPP. P.e. a caução é aplicável a crimes puníveis com pena de prisão, sendo, pois, desproporcionada a sua
aplicação se o crime for apenas punível com pena de multa.
É ainda uma exigência de proporcionalidade que está presente na norma segundo a qual a execução
das medidas de coacção não deve prejudicar o exercício de direitos fundamentais que não forem
incompatíveis com as exigências cautelares que o caso requerer (art. 193º/4 CPP). Isto tem particular elevo
nos casos de prisão preventiva, valendo para a execução desta o disposto no art. 123º CE e 221º a 225º REP.

• Princípio da subsidiariedade

Vale para as medidas de coacção mais gravosas, de tal modo que estas só poderão ser aplicadas
quando as outras medidas se revelarem, no caso, inadequadas ou insuficientes (arts. 193º/2, 201º/1 e 202º/2
CPP). Expressa-se aqui o principio politico-criminal da privação da liberdade como ultima ratio da politica
criminal, bem como a preferência legal quanto à obrigação de permanência na habitação. Quanto à prisão
preventiva, este princípio tem valor acrescido, o que é verificado com o disposto no art. 193º/3 CPP.
É, aliás, o art. 28º/2 CRP que determina que a prisão preventiva tem natureza excepcional. Ela só pode
ser aplicada quando todas as demais sejam afastadas por inadequação ou insuficiência, face às exigências
processuais de natureza cautelar que se façam sentir no caso. Torna-se, por isso, redundante o disposto no
art. 193º/3 CPP, podendo até retirar-se daqui, contra o disposto naquela norma constitucional, que a
obrigação de permanência na habitação é uma medida de coacção de substituição da prisão preventiva.

• Princípio da precariedade

As medidas de coacção são imediatamente revogadas sempre que se verificar terem deixado de
subsistir as circunstâncias que justificaram a sua aplicação e substituídas por outra menos grave ou por uma

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forma menos gravosa da sua execução se se verificar uma atenuação das circunstâncias cautelares que a
determinaram (art. 212º/1/b e 3 CPP e 28º/2 CRP). Este é uma implicação dos princípios da necessidade e da
adequação. A revogação e substituição têm lugar oficiosamente ou a requerimento do MP ou do arguido –
212º/4 CPP.
Como são as medidas de coacção mais gravosas, o art. 213º CPP prevê algumas especificidades para o
caso de prisão preventiva e obrigação de permanência na habitação, sem prejuízo de também ser aplicável a
estes o disposto no art. 212º CPP, conforme jurisprudência fixada no AC. 3/96, de 24 de Janeiro. Da
interpretação conjunta dos dois artigos resulta por um lado que o juiz pode, a todo o tempo, revogar ou
substituir a decisão de aplicação da prisão preventiva e OPH, seja oficiosamente, seja a requerimento do MP
ou do arguido; e por outro, que o juiz deve reexaminar, oficiosamente, no prazo máximo de 3 meses a contar
da data da aplicação da medida ou do último reexame, os pressupostos da prisão preventiva ou da OPH,
decidindo se é para mentar ou se deve antes ser substituída ou revogada.
A jurisprudência da maioria dos tribunais determina ainda que o reexame dos pressupostos da prisão
preventiva e da OPH não deve conduzir a uma alteração da medida de coacção imposta se não tiver havido,
entretanto, uma alteração das circunstâncias. Esta jurisprudência desconsidera que o sentido do reexame dos
pressupostos de aplicação destas medidas de coacção é precisamente o de reabrir, de três em três meses,
discussão ampla sobre tais pressupostos, visando garantir que é comunitariamente suportável a medida face
à possibilidade de estar a ser aplicada a um inocente.
Deste principio fundado em exigências processuais de natureza estritamente cautelar resulta ainda a
exigência no sentido de ser estabelecido um prazo máximo de duração, atendendo para tal à fase processual
em causa, mas também a natureza do crime e complexidade do procedimento – 215º/1 e 218º/1 CPP; 215º,
218º/2/3 CPP e 28º/4 CRP.
No direito vigente vale ainda, quanto à prisão preventiva, o critério da dupla condenação em 1ª
instância e em sede de recurso ordinário – 215º/6 CPP – sendo duvidosa a sua consonância com o princípio da
proporcionalidade.
O Ac. 4/2015 veio a afirmar que não são aplicáveis às medidas do art. 218º/1 CPP as elevações de
prazo do art. 216º/2/3/5 CPP.
Deste princípio resulta, por fim, a extinção imediata das medidas de coacção quando são prolatadas
decisões processuais que infirmem a existência de exigências processuais de natureza cautelar. É o caso da
decisão de arquivamento do inquérito; despacho de não pronúncia; decisão de rejeição da acusação por ser
manifestamente infundada; da sentença de absolvição, mesmo que tenha sido interposto recurso; sentença
condenatória já transitada em julgado (214º CPP).

5.2. Condições de aplicação.

• Prévia constituição como arguido da pessoa que for objecto da medida de coação (arts. 58º/1/b e
192º/1, 60º/2 e 61º/3/d CPP)

Visa excluir o mero suspeito e é uma garantia quanto ao conhecimento dos direitos e deveres
processuais que a assunção dessa qualidade implica e que são inerentes ao estatuto do arguido enquanto
sujeito processual (art. 57º/3, 58º/2/4 CPP).

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• Audição prévia do arguido

Trata-se de uma audição do arguido pelo tribunal ou pelo juiz de instrução sempre que eles devam tomar
qualquer decisão que pessoalmente o afecte. E que portanto precede a aplicação da medida de coação,
ressalvando-se apenas os casos de impossibilidade devidamente fundamentada, o que supõe que tenham sido
esgotadas as diligências susceptíveis de assegurar a audição deste (art. 61º/1/b, 194º/4, 209º, 254º/1/a CPP). A
audição do arguido é uma condição da aplicação da medida de coacção, pelo que deve ser imediatamente
revogada, por despacho do juiz, a medida que seja aplicada fora desta condição prevista pela lei.
Á audição aplica-se o disposto no art. 141º/4 CPP. Deste modo poderá o arguido contraditar tais factos
e elementos, exercendo o direito de defesa de forma efectiva, tendo a garantia de que não podem ser
considerados para fundamentar a aplicação da medida de coacção quaisquer factos ou elementos do processo
que não lhe tenham sido comunicados durante aquela audição (art. 194º/7 CPP). A remissão para o 141º/4
serve apenas para definir o objecto da audição. Cfr. ainda 194º/4/8 CPP.

• A aplicação deve ser determinada por um juiz por via de despacho.

Trata-se de uma concretização do art. 32º/4 CRP. É um acto da competência reservada de um juiz de
instrução, no inquérito e na instrução, e do juiz do julgamento, nesta fase do processo (art. 194º/1, 268º/1/b
CPP). Uma das razões para dizer que o termo de identidade e residência, em bom rigor, não é uma medida de
coacção é justamente porque pode ser aplicada pelo MP e até pelos órgãos de polícia criminal, ao contrário
da regra aqui analisada.
Quanto à iniciativa, aplica-se o art. 194º/1 CPP, que afasta a aplicação do art. 268º/2 CPP, não sendo,
pois, legalmente admissível a sujeição do arguido a medida de coacção a requerimento do assistente ou de
autoridade de polícia criminal em caso de urgência ou perigo de demora. o Na fase de inquérito, a aplicação
de medida de coacção ocorre se for requerida pelo MP que é o dominus desta fase processual (32º/4/5, 219º
CP e art. 8º, 9º e 53º/2/b, 262º e 311º CPP) Esta decisão partilhada por magistraturas distintas é também uma
garantia para o arguido que é privado de liberdade, na sequência da imposição da medida de coacção.

Na medida em que cabe ao MP abrir, dirigir e encerrar o inquérito, intervindo o juiz de instrução como
guardião dos direitos fundamentais dos cidadãos e não como juiz investigador, o coerente seria o juiz dever
respeitar o pedido feito pelo MP no que toca à medida de coacção que seja requerida em função das exigências
processuais de natureza cautelar que se façam sentir no caso. Abonam neste sentido ainda os princípios da
necessidade, adequação, proporcionalidade, porque só o dominus do inquérito está em condições de avaliar
as condições de natureza cautelar do caso, conhecendo a gravidade do crime imputado, as sanções que
poderão vir a aplicar-se; para além de que a aplicação de uma medida de coacção diferente poder pôr em
causa o desenrolar do plano de investigação traçado por quem dirige a investigação. Não é, porém, esta a
solução prevista na lei: 194º/2/3 CPP.
Segundo a Exposição de motivos, o nº2 justifica-se, autorizando a aplicação de uma medida de coacção
diferente, ainda que mais grave, uma vez que o MP não detém uma posição de monopólio quanto à
ponderação dos valores indicados na alínea a) e c) e da sua protecção. Já o nº3

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justifica-se porque o MP, enquanto titular da investigação, é a autoridade judiciária mais bem posicionada
para avaliar a repercussão que as medidas de coacção podem provocar nas situações da alínea b), podendo,
pois, aplicar-se medida de coacção diferente, desde que menos grave.
Desta Exposição deve ser dito que em nada ela contribui para justificar a alteração legislativa,
nomeadamente no que toca a uma diferenciação de regime fundada nos requisitos gerais de aplicação das
medidas de coacção. Esta solução ignora a natureza estritamente cautelar das medidas de coacção, os
princípios gerais que presidem à sua aplicação, o modelo de repartição de funções traçado e o papel do juiz
como juiz das liberdades. Além de que o segundo argumento apresentado é totalmente incoerente com a
solução que depois o legislador apresentou, que admite que se mude a medida a aplicar. Em aberto fica a
questão de saber se pode haver aplicação de medida de coacção mais grave do que a requerida pelo MP
quando o requerimento se funde na alínea b do art. 204º e numa das outras. Nesse caso, ANA PAIS entende
que devemos aplicar o nº3.

O despacho do juiz é obrigatoriamente notificado ao arguido, dele devendo constar a advertência das
consequências do incumprimento das obrigações impostas e a motivação da decisão (art. 27º/4, 205º/1 CRP,
97º/6 e 164º/6/9 CPP) A motivação da decisão é condição do exercício do direito de defesa, devendo resultar
dela o respeito pelos princípios que regem esta matéria como corolários que são do princípio da presunção de
inocência até ao trânsito em julgado da sentença de condenação.
Tratando-se de medidas de proibição e imposição de condutas, OPH e prisão preventiva, deve constar
da motivação e enunciação dos elementos do processo que permitam concluir pela existência de fortes
indícios da prática de crime doloso (existindo dois níveis de ponderação da proporcionalidade). Não se
confundindo com “indícios suficientes da prática do crime”, o significado de “fortes indícios” deve variar
consoante a fase processual em que nos encontremos:
(1)Na fase de inquérito temos fortes indícios se pudermos concluir naquele momento que é mais
provável que seja deduzida a acusação do que o arquivamento do processo.
(2) Na fase da instrução, fortes indícios significa que provavelmente o arguido vai ser pronunciado.
(3)Na audiência de julgamento, fortes indícios significam que há grande probabilidade de que o sujeito
vai ser condenado.
Quando se decide a aplicação de medida de coacção podem ainda não ser
mobilizáveis os mesmos elementos probatórios ou de esclarecimento, e portanto de convicção, que já estarão
ao dispor do MP e do juiz de instrução, quando se decidem ou não pela acusação ou pela pronúncia do arguido.
Por isso, mas só por isso, o que seria insuficiente para a acusação ou para a pronúncia pode ser bastante para
dar como verificado o pressuposto “fortes indícios da prática do crime”.
Ainda relativamente a este tipo de medidas de coacção, deve constar do despacho que as demais
medidas se revelaram inadequadas ou insuficientes do ponto
de vista das exigências processuais de natureza cautelar à Princípio da subsidiariedade. (art. 193º/2/3, 201º/1
e 202º/1 CPP e 28º/2 CRP)
O dever de motivação estende-se às decisões de manutenção, substituição ou revogação das medidas
de coacção, valendo a disposição geral segundo a qual os actos decisórios são sempre fundamentos (art. 97º/5,
212º e 213º CPP). Assim, de acordo com MARIA JOÃO ANTUNES, esta natureza subsidiária da prisão preventiva
impõe um dever acrescido de fundamentação : por um

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lado, da decisão que a aplicar devem constar as razões dessa aplicação, com especificação das circunstâncias
concretas que sustentam a exigência cautelar verificada no caso (tal como para qualquer outra medida de
coacção); por outro lado, é necessário que do despacho de aplicação conste também as razões da inadequação
ou insuficiência das outras medidas de coacção (193º/2), em especial, da medida de obrigação de permanência
na habitação
É pertinente equacionar se a fundamentação do despacho judicial que aplica a medida de coacção
pode ser feita por remissão para a promoção do MP. Deve analisarse a questão tendo em conta os arts. 32º/4,
205º/1 e 202º/2 CRP. Ora, o juiz deve, ele próprio, subjectivizar a fundamentação e a medida, não podendo
remeter-se, pura e simplesmente, à fundamentação apresentada pelo MP, sob pena de estarmos ante uma
fundamentação meramente formal e intuitiva e não material e racionalizada.

5.3. Modos de impugnação.

O CPP prevê dois meios de impugnação de decisões que sujeitem o arguido a medida de coacção: o recurso
e a providência ao habeas corpus.
Quanto ao recurso de agravo para o Tribunal da Relação, está nos arts. 219º/1 e
427º CPP. É de entender que também é recorrível a decisão judicial que não aplique a medida de coacção
requerida, que a revogue ou que a declare extinta, face à redacção vigente do art. 219º e do princípio geral da
recorribilidade das decisões (art. 399º CPP), devendo entender-se que aquele prazo de 30 dias não vale para
estas hipóteses. (ver Ac. STJ 16/2014).
O recurso que seja interposto do despacho de reexame que mantenha a obrigação de permanência na
habitação ou a prisão preventiva não determina a inutilidade superveniente do que tenha sido interposto de
decisão prévia que haja aplicado ou mantida a medida em causa (art. 213º/5 CPP) A não ser assim, tal
corresponderia à não recorribilidade da decisão prévia que houvesse aplicado ou mantido a obrigação de
permanência na habitação ou a prisão preventiva.
Justifica-se, por isso, que também não haja inutilidade superveniente do recurso interposto de decisão
prévia que tenha aplicado ou mantido aquelas duas medidas de coacção, quando seja interposto recurso de
decisão que mantenha a prisão preventiva ou a OPH ao abrigo do art. 212º CPP e não em sede de reexame. Já
é defensável, porém, que haja inutilidade superveniente quando estão em causa as outras medidas de
coacção. Relativamente a elas, porque menos gravosas, não vale da mesma forma a norma constitucional
segundo a qual o processo criminal assegura o recurso enquanto garantia de defesa (art. 32º/1 CRP).

Relativamente à medida de coacção mais gravosa, há ainda a providência de habeas corpus. Ver art. 31º
CRP e 220º e 222º CPP. O legislador deixou claro que não existe relação de litispendência ou de caso julgado
entre o recurso que seja interposto e a providência de habeas corpus, independentemente dos respectivos
fundamentos. (art. 219º/2 CPP) Esta norma não fechou, porém, a discussão em torno dos fundamentos de
uma e de outra forma de reagir contra uma privação de liberdade que se considere ilegal.
O habeas corpus tem a vantagem de poder ser requerido por qualquer cidadão no gozo dos seus direitos
políticos e o pedido é decidido no prazo curto de 8 dias. Ver ainda 222º/2 CPP.
6. Medidas de garantia patrimonial

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O art. 227º e 228º prevêem a caução económica e o arresto preventivo.


A caução económica não se confunde, desde logo, com a caução do art. 197º CPP. Quanto ao arresto
preventivo, pode ser decretado em duas modalidades: enquanto medida de garantia patrimonial autónoma e
enquanto medida de garantia patrimonial subsidiária de caução económica. Em ambas as modalidades é uma
medida de natureza processual penal, sem prejuízo de ser decretado nos termos da lei de processo civil (o que
não implica que se esqueçam as especificidades do processo penal, tal como muitos tribunais têm entendido
em interpretações contra legem desta remissão – “Não há um cheque em branco para o processo civil que
venha a dispensar a constituição de arguido do sujeito ou que o contraditório se faça a posteriori (393º/1 CPC)
e não antes da aplicação da medida. Essa interpretação dificilmente é compatível com a imposição
constitucional no sentido de o processo criminal assegurar todas as garantias de defesa, a partir de uma
estruturação acusatória com respeito pelo princípio do contraditório (art. 32º/1/2/5 CRP). Porém, nos casos
regulados pela lei civil (129º CP), quando o arresto seja requerido com fundamento no disposto no art. 227º/2
CPP é equacionável, no plano do direito a constituir, a solução da não audiência do visado.”). Note-se que esta
figura se distingue do arresto repressivo dos arts. 337º/3/4 CPP e do arresto previsto no art. 10º da lei 5/2002.
Ambas as medidas servem para acautelar o fundado receio de que faltem ou diminuam substancialmente
as garantias de pagamento da pena pecuniária, das custas do processo ou de qualquer outra dívida para com
o Estado relacionada com o crime, bem como para acautelar o fundado receio de que faltem ou diminuam
substancialmente as garantias de pagamento de indemnização ou de outras obrigações civis derivadas do
crime (art. 227º CPP). O regime das medidas de garantia patrimonial tem muito em comum com o das medidas
de coacção, não obstante as exigências processuais de natureza cautelar que as justificam terem natureza
distinta.
è Também estão sujeitas ao princípio da legalidade (art. 191º/1, 227º e 228º CPP), da necessidade
(191º/1, 193º/1 e 227º/1/2/4 CPP), princípio da adequação (193º/1 CPP), pelo princípio da
proporcionalidade (art. 193º/1 e 227º/1/2 CPP). Por se tratar de uma medida de garantia patrimonial
mais gravosa, para o arresto preventivo vale ainda o princípio da subsidiariedade (arts. 228º/1/5 CPP).
è Depende de um conjunto de condições:
o Constituição prévia de arguido (58º/1/b e 192º/1 CPP), com a ressalva da possibilidade de o
visado ser apenas civilmente responsável. Em face do princípio da adesão, o lesado pode
deduzir em processo penal pedido de indemnização civil contra pessoa com responsabilidade
meramente civil e requerer a aplicação de uma medida de garantia patrimonial em relação a
este (art. 71º, 73º/1 e 227º/ CPP).
o Audiência prévia do visado, com a ressalva dos casos de impossibilidade devidamente
fundamentada (61º/1/b, 194º/4 CPP e 32º/5 CRP)
o Está reservada ao juiz a aplicação das medidas de garantia patrimonial. (194º/1 e 268º/1/b
CPP) Na fase do inquérito, a medida é aplicada, por despacho do juiz, a requerimento do MP
(227º/1/3 CPP) ou do lesado (227º/2 CPP). Nas demais fases, é aplicada, por despacho do juiz,
a requerimento do MP ou do lesado, consoante aos casos (227º/1/2 CPP) ou oficiosamente,
ouvido o MP se for de recear que faltem ou diminuam substancialmente as garantias de
pagamento de pena pecuniária, custas
ou outra dívida com o Estado. Valendo o princípio do pedido relativamente à

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indemnização de perdas e danos emergente da prática do crime (art. 71º e ss. CPP e 129º CP),
o juiz não pode aplicar a medida de garantia patrimonial, com fundamento no227º/2 CPP, se
a mesma não for requerida pelo lesado.
o O despacho judicial há-de ser fundamentado sob pena de nulidade nos termos do art. 194º/6
CPP.

CAPÍTULO VII – A TRAMITAÇÃO DO PROCESSO PENAL COMUM – A FASE DE JULGAMENTO

1. Tribunal competente para o julgamento.

A fase do julgamento é da competência de tribunais de diferente espécie por referência à sua composição:
do tribunal singular (1 juiz), tribunal colectivo (3 juízes) e tribunal de júri (3 juízes do tribunal colectivo e 4
jurados). Cfr arts. 13º, 14º e 16º CPP. Quebra-se aqui a tramitação unitária do processo penal comum.
É o artigo 207º/1 CRP que prevê a participação do povo no julgamento dos crimes graves, nos casos em
que a lei fixar, nomeadamente quando a acusação ou a defesa o requeiram, ressalvados os crimes de
terrorismo e os de criminalidade altamente violenta dada a sua natureza, entendendo-se que juízes leigos
poderiam não reunir as condições que garantem a capacidade para administrar a justiça, em face do grau de
ameaça ou de intimidação que o julgamento de tais casos poderia comportar. Por outro lado, não é razoável
que um cidadão seja chamado a exercer uma função que se pode tornar particularmente espinhosa em razão
da natureza dos crimes em julgamento.
O regime do tribunal de júri está previsto no DL nº 387-A/87, sendo que os jurados intervêm na decisão
das questões da culpabilidade e da determinação da sanção quer no que toca a matéria de facto, quer no que
se refere a matéria de direito, sendo as deliberações tomadas por maioria simples de votos (art. 348º/5,
365º/2/3/4/5 e 369º CPP). Os jurados hão-de constar dos cadernos eleitorais e há categorias de sujeitos que
não podem ser jurados. Note-se apenas que o TC tem afirmado que o conceito de criminalidade altamente
organizada não tem de coincidir necessariamente com o que se extrai do art. 1º/m CPP. (ver Ac. 450/2008 e
460/2011) A questão hoje está em saber se a exclusão da intervenção deste tribunal quanto a crimes de
responsabilidade de titulares de cargos políticos se enquadra na liberdade de conformação do legislador ou
se decorre antes do próprio art. 207º CRP, no sentido de a garantia da intervenção do júri não abranger tais
crimes, constitucionalmente credenciados no art. 117º.
A repartição da competência pelos diferentes tribunais assenta na gravidade do crime, na natureza do
mesmo e na maior ou menos facilidade de apreciação e valoração da prova por parte do tribunal. O CPP estatui
que na determinação da pena abstractamente aplicável são levadas em conta todas as circunstâncias que
possam elevar o máximo legal da pena a aplicar no processo.
Assim:
è Compete ao tribunal singular julgar os processos que respeitarem a crimes cuja pena máxima,
abstractamente aplicável, seja igual ou inferior a 5 anos de prisão (16º/2/b CPP) ou que
respeitarem a crimes contra a autoridade pública (16º/2/a CPP e 347º a 358º CP). A apreciação e
a valoração da prova estão especialmente facilitadas, pelo que até cabem na competência do
tribunal singular crimes puníveis com pena de prisão superior a 5 anos. (350º/1 e 354º CP).

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o A Lei 20/2013, determinou que o tribunal passou a julgar outros crimes puníveis com pena
de prisão superior a 5 anos, em caso de julgamento em processo sumário (16º/2/c e 381º
CPP) O TC declarou a inconstitucionalidade da norma do art. 381º/1 CPP na interpretação
segundo a qual o processo sumário aí previsto é aplicável a crimes cuja pena máxima
abstractamente aplicável é superior a 5 anos de prisão (AC 174/2014). Uma lei em 2016
deu cumprimento a esta jurisprudência.
o A este é também cometida uma competência residual, ao ser competente para julgar os
processo que por lei não couberem na competência dos tribunais de outra espécie. Tal
sucederá se o processo respeitar a crime punível com pena de multa autónoma (p.e.
366º/2 CP).
o É ainda competente para julgar os processo por crimes cuja pena máxima, abstractamente
aplicável, seja superior a 5 anos de prisão, mesmo em caso de concurso de infracções,
quando o MP, na acusação ou em requerimento, quando seja superveniente o
conhecimento do concurso, entender que não deve ser aplicada, em concreto, pena de
prisão superior a 5 anos, não podendo o tribunal, neste caso, aplicar pena de prisão
superior a este montante – art. 16º/3/4 e 14º/2/b CPP). Trata-se de uma regra de
determinação da competência do tribunal de julgamento por referência à pena
concretamente aplicável e tão só uma regra deste tipo.
Quando o MP faz uso deste art. 16º/3 CPP pode o juiz de instrução suspender
provisoriamente o processo ao abrigo do art. 307º/2 CPP? A PGR tem entendido
que o art. 16º/3 não altera a distinção qualitativa entre pequena e média
criminalidade e criminalidade grave, que se reflecte na medida de pena
abstractamente aplicável ao crime justificada por razões de protecção do bem
jurídico.
E quais as implicações da confissão livre, integral e sem reservas do arguido
quanto aos factos que lhe são imputados, quando o MP faça uso deste artigo? Em
todo o caso, o juiz poderá sempre decidir que não deve ter lugar a produção da
prova quanto aos factos confessados, bastando-se com a confissão do arguido.
è Compete ao tribunal colectivo julgar os processos que, não havendo sido julgados pelo tribunal
singular (art. 16º/2/a/3 CPP), respeitarem a crimes cuja pena máxima, abstractamente aplicável,
seja superior a 5 anos de prisão, e, no caso de concurso, quando a soma só limite máximo
correspondente a cada crime for superior a 5 anos de prisão. (art. 14º/2/b CPP e 77º/2 CP). Veja-
se a ressalva do art. 13º/2 CPP. Compete ainda ao tribunal colectivo julgar os crimes previstos no
art. 14º/1, remetendo para os arts. 240º, 243º a 245º; 308º e 316º a 343º CP; 8º a 18º da Lei
31/2004. Cfr. 14º/2/a CPP.
è Compete ao tribunal de júri julgar os processos do art. 16º/1/2 CPP. Em ambos os casos, o tribunal
de júri só intervém a requerimento irretractável do MP, do assistente ou do arguido (art.
13º/1/2/5 CPP) Poucos casos se resolvem no nosso país com recurso a tribunal de júri. Ver
limitação do art. 207º CRP.
2. Actos preliminares.

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Os actos preliminares estão previstos nos arts. 311º, 312º e 313º CPP. O saneamento do processo tem
lugar em dois planos: no das nulidades e outras questões prévias ou incidentais e no da acusação deduzida.
Cfr. arts. 311º/1/2/3, 283º, 284º, 285º e 286º CPP. O nº3 do art. 311º veio deixar claro que não é
processualmente admissível uma rejeição da acusação por manifesta insuficiência de prova indiciária, em
nome de uma estrutura processual acusatória, em que a partilha das funções de investigação, de acusação e
de julgamento é feita entre magistraturas distintas, em obediência à Constituição.

3. Princípios gerais.

Na fase de julgamento relevam de forma particular certos princípios gerais relativos à prossecução
processual, quanto à prova, e quanto à forma. Em relação a todos eles, não deixa de estar presente que, em
regra, não valem em julgamento, nomeadamente para o efeito da formação da convicção do tribunal,
quaisquer provas que não tiverem sido produzidas ou examinadas em audiência (art. 355º/1 CPP).

3.1. Princípio da investigação.

Sem prejuízo de valer também na fase de instrução (art. 289º/1 e 290º/1 CPP), este princípio tem
consagração expressa em um dos artigos da audiência de julgamento – 340º/1 CPP. Este princípio da verdade
material, que é relativo simultaneamente à prossecução processual e à prova, é um principio segundo o qual
o tribunal investiga o facto sujeito ou a sujeitar a julgamento, independentemente dos contributos da
acusação e da defesa, construindo autonomamente as bases da sua decisão. A ele se opõe o princípio do
dispositivo ou da verdade formal, de acordo com o qual as partes processuais disporão do processo, cabendo-
lhe a elas e só a eles carrear para o processo os factos e as provas correspondentes, segundo um princípio de
autorresponsabilidade probatória.
O juiz tem, pois, o ónus de investigar e esclarecer oficiosamente o facto submetido ou a submeter a
julgamento. O que é compatível quer com o princípio da legalidade da prova, quer com o princípio da
acusação. Este princípio encontra-se ainda nos arts. 154º/1, 164º/2, 174º/3, 288º/4, 289º/1, 290º/1, 348º/5
e 354º CPP. Estes artigos evidenciam a natureza marcadamente subsidiária do princípio da investigação
enquanto princípio que integra a estrutura acusatória do processo penal português. Cfr. art. 348º/5 CPP.

3.2. Princípio da legalidade da prova.

Está previsto no art. 125º CPP. As provas proibidas por lei são as do art. 32º/8 CRP, sendo que o art.
126º/1/2/3 CPP refere-se aos métodos proibidos de prova. Actualmente tem-se colocado a questão da
admissibilidade do método P-300. O Ac. 155/2007 TC julgou inconstitucional, por violação do art. 32º/4 CRP,
a norma do art. 126º/1/2/a/c e 3 do CPP, quanto interpretada em termos de considerar válida a prova obtida
através de colheita coactiva de vestígios biológicos de um arguido, para determinação do seu perfil genético,
sem autorização do juiz e tendo o arguido manifestado a sua expressa recusa em colaborar ou permitir tal
colheira.
Por força do estatuído na CRP (art. 32º/8) e no CPP (art. 126º/1 e 3 e 118º/1), o desrespeito pelo princípio
da legalidade da prova tem como consequência a nulidade das provas através de métodos proibidos, não
podendo as mesmas ser utilizadas. À sanção da nulidade acresce a proibição de valoração da prova obtida
através de métodos de prova proibidos, dispondo expressamente o art. 118º/3 CPP nesse sentido. Cfr. ainda
449º/1/3 CPP.
Põe-se aqui a questão relativa à extensão da proibição de valoração da prova obtida através de métodos
proibidos à prova que é obtida de forma mediata ou consequencial. Esta problemática do efeito-à-distância
da proibição e valoração da prova foi já objecto da jurisprudência constitucional. (Ac 198/2004)

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Há que distinguir, porém, as proibições de prova das meras regras de produção da prova. Sendo certo, por
outro lado, que são identificáveis proibições de valoração de prova, sem que a lei comine também a sanção
da nulidade.
Enquanto a proibição da prova é a prescrição de um limite à descoberta da verdade – na forma de
proibição de temas de prova (art. 137º), de proibição de métodos de prova (art. 126º CPP), proibição de meio
de prova (art. 134º/2 CPP) e de proibição de protocolos de leitura (art. 356º CPP)
– as regras de produção da prova visam apenas disciplinar o procedimento exterior de realização da prova na
diversidade dos seus meios e métodos. (341º CPP)
Segundo COSTA ANDRADE integrará o âmbito das proibições de prova e não o das meras regras de produção
de prova, o dever de informação e advertência sobre o direito ao silêncio que assiste o arguido quanto aos
factos que lhe são imputados (art. 58º/2/4, 61º/1/d/h, 141º/4, 143º/2, 343º/1 CPP) Pondo abertamente em
causa o estatuto do arguido como sujeito do processo, frustrando nomeadamente o dogma de que a
participação activa do arguido na descobertas da verdade deve passar pela liberdade, a omissão do
esclarecimento e advertência deve desencadear a sanção da proibição da valoração. (58º/5 CPP) à proibição
de valoração da prova obtida sem cumprimento daquele dever de informação e advertência não se junta,
porém, a cominação da nulidade.

3.3. Princípio da livre apreciação da prova.

Está em causa saber se a apreciação da prova deve ter na sua base regras legais que predeterminem
o valor a atribuir-lhe (princípio da prova legal) ou se deve assentar antes na sua livre valoração pela entidade
competente (princípio da prova livre ou da livre apreciação da prova). É este o princípio que está no art. 127º
CPP, entendendo-se que o valor de cada meio de prova não é definível a priori. Muito embora o princípio da
livre apreciação da prova tenha um relevo especial na fase de julgamento (355º/1 CPP), o princípio vale
também para outras entidades, como o juiz de instrução e o MP, sendo um princípio geral de direito penal
com incidência no decurso de todo o processo. Livre apreciação da prova não significa, porém, valoração da
prova arbitrária, tendo que a convicção do julgador ser justificável e motivada (374º/2 e 379º CPP)
Este princípio significa, negativamente, a ausência de critérios legais que predeterminem o valor da prova
e positivamente que as entidades a quem caiba valorar a prova o façam de acordo com o dever de perseguir
a realização da justiça e a descoberta da verdade material, numa apreciação que terá de ser sempre
objectivável, motivável e susceptível de controlo, evitando um total subjectivismo ou livre arbítrio da sua
parte. (Cfr. arts. 97º/5, 365º/3, 374º/2, 375º/1, 379º/1/a, 425º/4 e 410º/2 – sendo que o conhecimento destes
vícios do 410º/2 CPP é oficioso pelo tribunal de recurso.

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O princípio da livre apreciação da prova não vale, porém, sem quaisquer limitações.
a) Quanto à prova testemunhal, em regra, não são identificáveis quaisquer limitações ao princípio,
podendo mesmo dizer-se que este é o seu campo de eleição (128º CPP). São apreciadas de acordo com
as regras da experiência e a livre convicção da entidade competente para as colher. O mesmo não
acontece quanto:
a. Aos depoimentos indirectos – 129º CP – que não podem servir como meio de prova,
estabelecendo-se uma proibição de valoração da prova. O juiz poderá, porém, chamar a
pessoa a quem se ouviu, sendo que só em casos excepcionais poderá valorar o depoimento
indirecto. Já haverá uma proibição de valoração absoluta se quem depõe se recusar ou não
estiver em condições de indicar a pessoa ou a fonte através das quais tomou conhecimento
dos factos.
b. Vozes públicas e convicções pessoais – 130º CPP – não são admissíveiscomo depoimento.
b) No que se refere às declarações do arguido sobre os factos que lhe são imputados e seus
antecedentes criminais :
a. Se o arguido negar os factos que lhe são imputados, vale por inteiro o princípio da livre
apreciação da prova.
b. Se o arguido confessar de forma parcial ou com reservas os factos que lhesão imputados ou
se confessar de forma integral e sem reservas, quando se verificar algum dos casos do art.
344º/3/4 CPP, vale o princípio da livre apreciação da prova.
c. O princípio da livre apreciação da prova já não valerá em caso deconfissão livre, integral e sem
reservas do arguido, por crime punível com pena de prisão até 5 anos, uma vez que lhe
correspondem os efeitos do art. 344º/2 CPP. Em bom rigor, porém, continua a valer. Na
verdade, o valor que a lei atribui aqui ás declarações do arguido abrange somente os casos
em que a confissão também é livre (344º/3/b CPP), valendo integralmente o princípio da livre
apreciação da prova quando o juiz aprecia o carácter livre da confissão.
d. Quanto ao silencio do arguido, há uma verdadeira limitação à livreapreciação pela entidade
competente, na medida em que, de acordo com ela, o silêncio nunca pode desfavorecer o
arguido (art. 61º/1/d, 141º/4/a, 342º, 343º/1, 345º/1 CPP) Trata-se do exercício do direito à
não auto incriminação, um direito com protecção constitucional (32º/1/2 CRP) assumido pela
lei no art. 141º/4/b CPP.
c) No âmbito da prova pericial, há uma verdadeira limitação ao princípio da livre apreciação. (163º/1 CPP)
O julgador não é hoje, pois, o perito dos peritos. Sem prejuízo de continuar a caber ao julgador o juízo
jurídico e de manter a sua liberdade de apreciação no que se refere à base de facto pressuposta pelo
perito, podendo contrariar tal base e desta forma retirar validade ao juízo do perito.
d) Quanto à prova documental, vale o princípio da livre apreciação da prova. (169º e 170º CPP)

3.4. Princípio in dubio pro reo.

É o princípio específico de processo penal de acordo com o qual o tribunal deve dar como provados os
factos favoráveis ao arguido, quando fica aquém da dúvida razoável, apesar de toda a prova produzida. Como,
por força do princípio da investigação, o tribunal tem o poder dever de

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investigar o facto sujeito a julgamento, independentemente dos contributos da acusação e da defesa,


construindo autonomamente as bases da sua decisão, a dúvida que diquem aquém da razoável deverá ser
valorada de forma favorável ao arguido, tanto mais que este se presume inocente até ao trânsito em julgado
da sentença de condenação (o princípio da presunção da inocência afasta do processo penal a questão do
princípio da auto-responsabilidade probatória das partes que vale no processo civil).
Produzida a prova (art. 340º e 341º CPP), o tribunal deve apreciá-la nos termos do art. 127º CPP, podendo
concluir uma de três coisas:
• Foi produzida prova dos factos imputados ao arguido, dando-se estes como provados.
• Não se produziu prova de tais factos, sendo dados como não provados.
• Apesar da prova produzida, ficou aquém da dúvida razoável, caso em que dá como provados os
favoráveis ao arguido.
Este encontra fundamento constitucional no art. 32º/2 CRP. Da presunção de inocência do arguido só pode
decorrer que se dêem como provados os factos favoráveis ao arguido, decidindo o tribunal como se tivesse
feito prova dos factos, caso fique aquém da dúvida razoável.
O princípio vale para toda a matéria de facto, quer para a relativa ao crime, quer para a atinente à sanção
que lhe corresponde, mas já não para a matéria de direito (p.e. interpretação de noma jurídica ou questão de
direito). Isto não obsta a que o tribunal de recurso conheça da violação do princípio quando o recurso
interposto seja apenas de revista. A violação deste princípio integra matéria de direito, como qualquer outra
violação de um princípio jurídico, pelo que está no âmbito dos poderes de cognição do STJ – 434º CPP.
Muito embora já esteja afastada a jurisprudência de acordo com a qual o princípio do in dubio pro reo é
um princípio natural de prova, imposto pela lógica, pelo senso e pela probidade processual, e porque de
princípio de prova se trata, é estranho à competência do STJ, enquanto tribunal de revista, a jurisprudência
actual não deixa de ser ainda muito limitativa (Ac. STJ 19/01/2011; 8/01/2014; 27/02/2014).
Este princípio mostra ainda como, no processo penal, se pode pôr em causa a finalidade de realização da
justiça e descoberta da verdade material para prosseguir a finalidade de protecção dos direitos, liberdades e
garantias dos sujeitos processuais. E isso justifica-se porque “pode o sistema aguentar melhor a absolvição de
um sujeito culpado, do que a condenação de um inocente”.

3.5. Princípio da publicidade.

Este implica a assistência pelo público, em geral, à realização de certos actos processuais, nomeadamente
à audiência de julgamento, à narração dos actos processuais ou à reprodução dos seus termos pelos meios de
comunicação social e à consulta do auto e à obtenção de cópias, extractos e certidões de quaisquer partes do
processo.
A publicidade do processo justifica-se tendo em vista um exercício objectivo, independente e imparcial da
justiça penal, as garantias de defesa do arguido e a aproximação dos cidadãos à administração da justiça penal,
com ganhos evidentes no plano do controlo dessa mesma administração e no da reafirmação da validade da
norma violada com a prática do crime.
Este princípio está consagrado no art. 206º CRP e 86º a 90º e 321º CPP. Indo além do constitucionalmente
imposto, no regime legal vigente vale a regra da publicidade do processo penal (86º/1/6 CPP). Este princípio
tem, porém, limitações, nomeadamente as decorrentes do art. 206º e

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20º/3 CRP. No CPP de 1987 optava-se mesmo pela vigência do segredo de justiça até à decisão instrutória ou
até ao momento em que esta já não pudesse ser requerida. Assim acautelava-se o êxito da investigação da
notícia do crime, especialmente quanto à aquisição e à conservação da prova e tutelava-se de forma efectiva
o direito à presunção de inocência de forma a garantir ao arguido o direito ao com nome e reputação.
No direito vigente, na fase de inquérito, pode ser proferido despacho de sujeição do processo a segredo
de justiça nos termos do art. 86º/2/3 CPP. Ver ainda o nº4 e nº5. O TC entendeu que o nº3 do art. 86º CPP não
é inconstitucional na parte em que sujeita à validação, pelo juiz de instrução, a determinação do MP em aplicar
ao processo, durante a fase de inquérito, o segredo de justiça. MARIA JOÃO ANTUNES entende que isso viola o
modelo constitucional de repartição de funções entre as duas magistraturas quando a validação tenha lugar
em nome dos interesses da investigação.
O segredo de justiça implica as proibições do art. 86º/8, bem como a prevista no art. 89º/1 CPP, quando a
isso o MP se opuser, fundamentadamente, por tal poder prejudicar a investigação ou os direitos dos
participantes processuais ou das vítimas.
O segredo vincula todos os sujeitos e participantes processuais (86º/8 CPP), enquanto durar o inquérito,
fazendo incorrer em responsabilidade criminal quem o infrinja, por prática de crime de violação do segredo
de justiça (371º/1 CP). Apesar disso, veja-se o art. 89º/6 CPP.
Além desta limitação ao princípio da publicidade, durante a fase de inquérito, o CPP prevê outras em geral
– p.e. art. 86º/7 CPP, 87º/2/3 e 321º CPP; 87º/3 CPP; 371º/5 CPP; 88º/2/3 CPP.
Como a regra é a publicidade do processo, a decisão de exclusão ou de restrição da publicidade da
audiência é, sempre que possível, precedida de audição contraditória dos sujeitos processuais interessados,
devendo constar da acta da audiência (321º e 362º/1/e CPP); o juiz tem o dever de fundamentar o despacho
em que decide a exclusão ou restrição da publicidade de um acto processual (art. 87º/1/2, 97º/5 CPP); este
despacho deve ser revogado logo que cessem os motivos que lhe deram causa (art. 87º/2/parte final CPP); a
exclusão da publicidade não abrange, em caso algum, a leitura da sentença (art. 87º/5 CPP).

3.6. Princípio da oralidade e imediação.

Tem a ver com a forma de atingir a decisão – os actos processuais devem processarse sob forma oral,
devendo a decisão ser proferida tendo por base uma audiência oral. O princípio da oralidade tem ligações
claras com o princípio da imediação, na medida em que este tem que ver coma relação de proximidade
comunicante que deve ser estabelecida entre o tribunal e os sujeitos e participantes processuais, por não ser
apenas relevante o que se diz, mas também como se diz para o efeito de formação da convicção do julgador.
O juiz deve tomar contacto imediato com os elementos da prova através de uma percepção que se quer directa
e pessoal.
Mas estes princípios não se confundem porque a imediação supõe um contacto mais imediato com os
meios de prova em geral. Ambos os princípios estão intimamente ligados ao princípio da acusação,
contraditório, livre apreciação da prova, investigação, estrutura acusatória do processo penal…
Estão consagrados no art. 96º/1 CPP. A consagração do princípio da oralidade em nada colide com a
documentação das declarações prestadas oralmente na audiência (art. 363º e 364º CPP). Estas são sempre
documentadas na acta, sob pena de nulidade, que deve ser arguida ante o tribunal de 1ª

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instância, em requerimento autónomo, no prazo geral de 10 dias a contar da data da sessão da audiência em
que tiver ocorrido a omissão da documentação das declarações orais, acrescido do período de tempo que
mediar entre o requerimento da cópia da gravação, acompanhado do necessário suporte técnico, e a efectiva
satisfação desse pedido pelo funcionário nos termos do art. 101º/3 CPP, sob pena de dever considerar-se
sanada.
O CPP de 2007, estabelece a regra da documentação, independentemente da composição do tribunal do
julgamento, o que tem relevo, directo e imediato, em matéria de fundamentação da decisão e de recurso em
matéria de facto (art. 374º/2, 412º/2/3 CPP) Ver ainda art. 364º/2 CPP.
A forma oral e imediata de atingir a decisão judicial final em muito promove a boa decisão da causa, muito
especificamente porque permite o contacto imediato com o arguido, com relevo para a matéria dos factos
que lhe são imputados e para o conhecimento da sua personalidade. Sofre, porém, algumas limitações, como
as decorrentes dos arts. 355º/2, 356º e 357º CPP. Atentar ainda aqui o Ac 90/2013 e 24/2016 TC.
Em 2013, alterou-se a redacção do art. 357º/1/b CPP, alargando-se manifestamente os casos em que as
declarações do arguido podem ser reproduzidas ou lidas em audiência do julgamento. Com a exigência, porém,
de terem sido prestadas com assistência do defensor e de o arguido ter sido informado das consequência de
uma tal prestação, em alternativa ao exercício do direito ao silêncio. Passaram também a valer as declarações
prestadas perante o MP e caiu a exigência de se verificar a existência de contradições e discrepâncias sensíveis
entre as declarações prestadas antes e as feitas em audiência que não pudessem ser esclarecidas de outro
modo.

3.7. Princípio da concentração.

Aponta para uma prossecução processual unitária e continuada de todos os termos e actos do processo,
quer de um ponto de vista espacial, quer de um ponto de vista temporal. O princípio ganha uma especial
autonomia na fase de julgamento, na audiência, estando directamente relacionado com os princípios da
oralidade e da imediação que apontam para a concentração espacial da audiência do julgamento, devendo
esta decorrer em um mesmo local, bem como para a concentração temporal, devendo esta, uma vez iniciada,
decorrer sem interrupções e adiamentos.
É este o sentido do art. 328º/1 CPP, apesar do disposto no nº2. E as interrupções e os adimentos quando
a simples interrupção não for suficiente para remover o obstáculo, motivados por razões processuais como:
333º/1 e 334º/3 CPP; 7º CPP; 328º/3 CPP; 67º/3 CPP; 328º-A/3 CPP; 333º/1 e 334º/3 CPP. A este propósito
veja-se o disposto no art. 328º/3/4/5/6 CPP.
Embora se estabeleça a regra dos 30 dias, o que encontra justificação na preservação das vantagens
associadas ao princípio da imediação, prevê-se um tratamento especial para os casos do art. 328º/6/7 CPP.
Com este regime substituiu-se o anterior que acautelava de facto as vantagens do princípio da imediação da
prova. Na redacção actual, ao permitir sempre a continuação da audiência, não prevendo que a prova já
produzida possa perder eficácia, parece fazer tábua rasa do entendimento de que só a concentração temporal
permite acautelar as vantagens decorrentes de uma relação de proximidade comunicante entre o tribunal e
os sujeitos e participantes processuais. O que não é ultrapassável pela aplicação do art. 263º CPP. É, porém,
distinto o entendimento espelhado na exposição de motivos da alteração legislativa: no contexto tecnológico,
entendia-se desajustada a sanção da perda de eficácia da prova pela ultrapassagem do prazo legal de 30 dias
para continuação a audiência do julgamento, sendo certo que se considera que a eliminação desta

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sanção não contende com a manutenção plena dos princípios da concentrarão da audiência e da imediação.

4. Alteração dos factos e alteração da qualificação jurídica.

Da estruturação do processo penal segundo modelo acusatório, decorre para o tribunal de julgamento a
sua vinculação temática: à acusação do MP e do assistente (se o procedimento depender de acusação
particular), se o processo tiver sido remetido para julgamento sem ter havido instrução; ao despacho de
pronúncia, se esta fase tiver sido requerida.

É fundamental, desde logo, qualificar a alteração dos factos, entretanto ocorrida, como substancial ou
não. Retiramos isso da alínea f) do art. 1º CPP. Assim, a alteração é substancial, por via da mera agravação dos
limites máximos das sanções aplicáveis – tendo em vista o direito de defesa do arguido – independentemente
de a alteração dos factos ter por efeito a imputação de um crime diverso.
Saber se a alteração dos factos tem por efeito a imputação ao arguido de um crime diverso é algo que
conduz o intérprete à problemática do objecto do processo, no sentido de que este objecto se fixa com a
dedução da acusação ou de pronúncia, delimitando a extensão do caso julgado. Ora, o objecto deve manter-
se o mesmo desde que é fixado e até ao trânsito em julgado da decisão; o objecto do processo deve ser
conhecido e julgado na sua totalidade; ainda que não tenha sido conhecido e julgado na sua totalidade, dever
ter-se por conhecido e julgado, estendendo-se-lhe o efeito de caso julgado.
Crime diverso não significa que há alteração substancial se apenas houver a imputação de um outro tipo
legal de crime. A imputação de um crime diverso significa que os novos factos conhecidos pelo tribunal vão
além do objecto do processo fixado pela acusação ou pela pronúncia, o que envolve a questão de saber o que
é, afinal, o objecto do processo. Há muitas posições doutrinais desta questão: Eduardo Correia, Cavaleiro de
Ferreira, Castanheira Neves, Figueiredo Dias, Germano Marques da Silva.
Assim, se houver uma alteração não substancial dos factos descritos na acusação ou na pronúncia, com
relevo para a decisão da causa e que não seja derivada de factos alegados pela defesa, tal alteração tem de
ser comunicada pelo arguido nos termos do art. 1º/f, 358º/1/2 e 424º/3 CPP) Ver ainda 379º/1/b CPP e Ac. TC
1/2015.
Se houver uma alteração substancial dos factos descritos na acusação ou na pronúncia, esta não pode
ser tomada em conta pelo tribunal para o efeito de condenação no processo em curso, sob pena de nulidade
da sentença (art. 1º/f, 359º/1, 379º/1/b CPP). Ressalvam-se as situações do nº 3 e 4 do art. 359º CPP. Há aqui
uma entorse ao princípio da acusação no sentido de ser a mesma entidade, o juiz de julgamento, a investigar,
acusar e julgar. Tal ocorre em nome da celeridade e da economia processuais, legitimando-se pela
concordância daqueles sujeitos processuais e, em geral, em uma ideia de abertura a soluções consensuais.
O art. 359º/1 CPP diz que, na falta daquele acordo e não podendo haver condenação no processo em curso
por factos que alterem substancialmente os descritos na acusação ou na pronúncia, a instância não é extinta.
Decorre do nº2 que a comunicação ao MP desta alteração vale como denúncia, para que proceda pelos novos
factos, apenas se estes forem autonomizáveis em relação ao objecto do processo. O que acarreta, o
prosseguimento do julgamento nos outros casos,
com sacrifício dos factos novos não autonomizáveis. Esta solução representa um sacrifício intolerável das
finalidades do processo penal de descoberta da verdade material e realização da justiça e não deixa de desafiar
o mandamento de esgotante apreciação de toda a matéria tipicamente ilícita submetida à cognição do tribunal
num certo processo penal, que se faz decorrer da norma constitucional do art. 29º/5 CRP. O TC pronunciou-
se já pela não inconstitucionalidade desta norma.

É distinta da questão da alteração dos factos, a questão da alteração da qualificação jurídica dos factos.
E é distinta desde logo porque se sabe de antemão que a discussão da causa tem por objecto os factos alegados
pela acusação e pela defesa e os que resultarem da prova produzida na audiência, bem como todas as soluções

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jurídicas, independentemente da qualificação jurídica dos factos resultante da acusação ou da pronúncia (art.
339º/4 CPP).
Há alteração da qualificação jurídica dos factos quando os factos se mantêm, alterando-se a sua
qualificação jurídica. Neste caso, os factos mantêm-se exactamente os mesmos descritos na acusação ou na
pronúncia, alterando-se apenas a sua qualificação jurídica. Sobre a alteração da qualificação jurídica, devemos
atentar no art. 358º/3 CPP. Remetendo para o nº1 o legislador equiparou o regime da alteração da
qualificação jurídica dos factos ao regime da alteração não substancial dos factos, com a diferença de a
inobservância do nº3 não acarretar a nulidade da sentença. Se a alteração da qualificação jurídica se puser em
sede de recurso, também é dada ao arguido a possibilidade de defesa, nos termos do art. 424º/3 CPP. (O Ac.
STJ 3/2008 vai no sentido de a inobservância daquele nº3 acarretar a nulidade da sentença)
O regime da alteração da qualificação jurídica dos factos descritos na acusação ou na pronúncia é
claramente tributário do entendimento de que o arguido tem o direito de se defender dos factos que lhe são
imputados, bem como da qualificação jurídica dos mesmos, ganhando aqui espaço a distinção entre
autodefesa, relativamente aos primeiros, e defesa técnica, quando à segunda.
O Ac. STJ 11/2013 fixou jurisprudência no sentido de a alteração, em audiência, de discussão e julgamento,
da qualificação jurídica dos factos constantes da acusação, ou da pronúncia, não pode ocorrer sem que haja
produção da prova, de harmonia com o disposto no art. 358º/1/3 CPP.

5. A presença do arguido na audiência de julgamento.

A finalidade do processo de realização da justiça e descoberta da verdade material e protecção dos direitos
do arguido ditam a regra da presença do arguido na audiência do julgamento, fazendo desta presença um
dever que sobre ele impende (art. 61º/1/a e 332º/1 CPP). A presença física do arguido na audiência é imposta
pela realização do direito de defesa e princípios do contraditório, imediação, verdade material, sendo imposto
pela própria causa pública e não por um mero interesse do arguido.
O AC TC 394/89 decidiu mesmo julgar inconstitucional a norma do art. 394º/3 CJM que previa o julgamento
na ausência do réu por violação do disposto no art. 32º/1/5 e 1º CRP.
Face a este entendimento doutrinal e jurisprudencial, o CPP de 1987 estabeleceu a regra da
obrigatoriedade da presença do arguido na audiência do julgamento, com poucos desvios, criando
consequências quando o arguido faltasse a este acto processual e pelo mecanismo da declaração da
contumácia. O tempo veio a mostrar que a posta não foi ganha e hoje, embora se estabeleça a

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obrigatoriedade da presença do arguido na audiência do julgamento no art. 332º/1, o regime é muito distinto
do anterior.
O arguido pode ser julgado na ausência se, tendo sido regularmente notificado, não estiver presente,
depois de o presidente tomar as medidas necessárias e legalmente admissíveis para obter a sua comparência
nos termos do art. 333º/1/7, 116º/2, 254º/1/b CPP e 32º CRP.
Considera-se regularmente notificado do despacho que designa dia para a audiência (313º CPP), o arguido
que o tenha sido mediante contacto pessoal ou mediante via postar registada (113º/1/a/b, por remissão do
nº3). Porém, se o arguido tiver prestado TIR, considera-se regularmente notificado mediante via postal simples
(113º/1/c, por remissão do nº3; 61º/3/c e 196º CPP). Por esta via e porque a autoridade judiciária ou o órgão
de polícia criminal sujeitam a TIR todo aquele que for constituído arguido (196º/1 CPP), garante-se facilmente
a regularidade da notificação do despacho que designa dia para o julgamento, possibilitando o arguido de ser
julgado sem estar presente. E o que releva é a regularidade da notificação, não distinguindo, para este efeito,
os casos de falta justificada ou injustificada (art. 116º e 117º CPP).
Sem prejuízo de a audiência ser adiada, se o tribunal considerar que é absolutamente indispensável para
a descoberta da verdade material a presença do arguido desde o inicio da audiência (333º/1 CPP) Ver ainda o
nº 2 e 3 e 117º/6 CPP. Cfr ainda Ac STJ 9/2012.
O arguido pode também ser julgado na ausência, a seu requerimento ou com o seu consentimento,
sempre que se verificar alguma das circunstâncias do art. 333º/4 e 334º/2/3 CPP.
A audiência de julgamento pode ainda ter lugar sem a presença do arguido, se ao caso couber processo
sumaríssimo mas o procedimento tiver sido reenviado para a forma comum e o arguido não puder ser
notificado do despacho que designa dia para a audiência ou faltar a esta injustificadamente, nos termos do
art. 117º, 334º/1/3 e 398º CPP.
A tutela do direito de defesa do arguido impõe que quando este seja julgado na ausência haja assistência
obrigatória do defensor (64º/1/h, 333º/7, 334º/4 CPP) Quando ao prazo de interposição de recurso, nesse
caso, ver arts. 333º/5/6/7, 334º/6/7/8 CPP.
Fora dos casos de audiência na ausência especialmente previstos no art. 334º/1 CPP, o arguido é notificado
por editais para se apresentar em juízo num prazo de 30 dias, sob pena de ser declarado contumaz, se não for
possível notifica-lo mediante contacto pessoal ou via postal registada ou executar a detenção ou a prisão
preventiva referida nos arts. 116º/2 e 254º CPP. A segunda parte do 116º/2 só terá sentido se entendermos
que aí não valem os requisitos do art. 204º CPP – nesta hipótese a medida de coacção é necessária em função
da exigência processual de assegurar a presença do arguido na audiência do julgamento.
Assim: se o arguido não for notificado regularmente do despacho que designa dia para a audiência – não
o podendo ser pela forma expedita da via postal simples se não tiver prestado TIR – e se a sua presença não
puder ser assegurada através da detenção ou prisão preventiva, será declarado contumaz – art. 337º/6 CPP e
art. 14º a 18 Lei 37/2015.

A declaração de contumácia é um mecanismo de desmotivação da falta do arguido à audiência de


julgamento, por via dos efeitos previstos no art. 337º/1/2/3 CPP, além de implicar para o arguido a passagem
imediata de mandado de detenção. Pretende-se que quem se subtrai dolosamente ao exercício da justiça
penal se apresente a julgamento, perante os efeitos daquela declaração, legalmente previstos. Esta caduca
logo que o arguido se apresente ou seja detido, sendo

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logo sujeito a TIR, momento a partir do qual poderá passar a ser notificado por via postar simples e ter-se por
regularmente notificado. (art. 196º, 313º/3, 333º/1, 336º/1/2, 337º/1 CPP).
Se o processo tiver prosseguido sem a acusação ter sido notificada ao arguido, de acordo com o disposto
no art. 283º/5 CPP, procede-se à notificação em falta, lofo que o arguido se apresente ou seja detido, abrindo-
se o prazo para requerer a abertura da instrução nos termos do art. 287º/1/a CPP (336º/3 CPP).

6. A sentença.

A sentença é o último acto do julgamento, seguindo-se imediatamente ao encerramos da discussão (art.


361º/2, 365º/1 CPP). Esta é encerrada findas as alegações orais e produzidas as últimas declarações do
arguido, caso queira declarar a bem da defesa (art. 360º e 361º CPP).
Este acto decisório que conhece a final do objecto do processo toma a forma de sentença quando proferida
pelo tribunal singular ou de acórdão quando proferido pelo tribunal colectivo ou pelo tribunal de júri (art.
97º/1/a/2 CPP). Podem ser decisões condenatórias ou absolutórias (art. 374º/3, 375º/3 e 376º/3 CPP).
Relativamente à sentença são autonomizáveis os seguintes momentos: deliberação e votação, elaboração e
assinatura, leitura.
O tribunal tem de decidir suas questões essenciais: a questão da culpabilidade (art. 368º CPP), que tem a
ver com a responsabilidade penal do arguido; e a questão da determinação da sanção (art. 369º CPP). Ver
ainda arts. 369º/2 e 371º CPP.
O tribunal pode sempre solicitar a elaboração de um relatório social nos termos do art. 370º/1 CPP. Não
obstante o aqui previsto, o tribunal poderá sempre considerar que ainda é necessário produzir prova
suplementar, aplicando-se o 371º/2/5.
A elaboração da sentença ou do acórdão deve obedecer ao disposto no art. 374º CPP, de acordo com o
qual a decisão tem três partes essenciais: relatório, fundamentação e dispositivo. A falta destes elementos
determina a nulidade da sentença nos termos do art. 379º/1/a CPP.
A fundamentação da sentença é relevante em vários planos: no do convencimento do arguido e dos
membros da comunidade jurídica relativamente à bondade da decisão; no do processo de deliberação do
tribunal; e no da controlabilidade da decisão em sede de recurso, ainda que este seja apenas de revista.

CAPÍTULO VIII – IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES – RECLAMAÇÃO E RECURSO

1. Impugnação das decisões – reclamação e recurso.

As decisões judiciais, que têm a forma de despacho, sentença ou acórdão (art. 97º/1/2 CPP), são passíveis
de impugnação, por via de reclamação ou de recurso. É por via de reclamação que é impugnado o despacho
referido no art. 291º/1/2, 405º, 417º/6/7/8 CPP.
O recurso em processo penal é uma garantia de defesa do arguido (32º/1 CRP, não sendo este artigo usado
para aferir a constitucionalidade das normas relativas ao direito ao recurso do MP e assistente, para os quais
vale o art. 20º e 219º CRP). Por isso é constitucionalmente admissível que a matéria de recursos seja regulada
de forma distinta para o arguido e para o MP e assistente, sem violação do princípio da igualdade.
O CPP divide os recursos em ordinários e extraordinários. Os primeiros são de sentenças ainda não
transitadas em julgado; os segundos de sentenças já transitadas em julgado (visa harmonizar a

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finalidade de restabelecimento de paz jurídica comunitária e da paz jurídica do arguido com a finalidade de
realização a justiça e descoberta da verdade material).

2. Recursos ordinários.

São da competência do tribunal da relação ou do STJ, segundo os arts. 11º/4/b, 12º/3/b e 427º e 432º
CPP. Atento o disposto nestes últimos, é de concluir que é propósito do legislador circunscrever a competência
do STJ a casos de maior gravidade – o que é patente no art. 400º/1/d/e/f e 432º/1/c CPP. Por outro lado, este
é um tribunal com competência reservada em matéria de direito – sendo tradicionalmente um tribunal de
revista (art. 434º CPP).

2.1. Princípios.

Princípio geral da recorribilidade das decisões: é permitido recorrer dos acórdãos, das sentenças e dos
despachos cuja irrecorribilidade não estiver prevista na lei (art. 399º CPP). São irrecorríveis: art. 400º, 36º/2,
89º/2, 291º/2, 310º/1/2 CPP.
É ainda entendimento do TC que a CRP não exige duplo grau de jurisdição relativamente a todas as
decisões proferidas em processo penal. O direito de recorrer impõe-se somente quanto a decisões
condenatórias e relativamente ás que tenham a ver com a situação do arguido, face à privação ou restrição de
liberdade ou de quaisquer outros direitos fundamentais deste sujeito processual.

Princípio da proibição da reformatio in pejus : Previsto no art. 409º/1 CPP. O nº2 determina que os dias
de multa não podem ser modificados para piro, mas pode ser agravado o quantitativo diário da multa, por tal
ser imposto pela necessidade e garantir a eficácia político-criminal desta pena. Este deve ser visto como um
princípio geral em matéria de recursos em processo penal, que se estende a recursos ordinários e
extraordinários – 443º/3 e 463º/2 CPP.
Este funda-se numa das garantias de defesa que o processo penal deve assegurar ao arguido – o recurso
(art. 32º/1 CRP). Se à interposição do recurso pelo arguido, pelo MP no interesse deste ou pelo arguido e pelo
MP no interesse do primeiro pudesse seguir-se a modificação da sanção para pior, tal constituiria um contra
motivo sério para o recorrente. O risco de ver a sanção agravada, na sua espécie ou medida, poderia
desincentivá-lo a recorrer.

Princípio da tramitação unitária dos recursos: os recursos são tramitados segundo um regime que tende
a ser comum, independentemente do tribunal para onde se recorre e respectivos poderes de cognição. Estão
aqui abrangidas as matérias relativas aos fundamentos do recurso, interposição, motivação, notificação,
admissão, etc… (art. 410º a 426º-A CPP)

Princípio do duplo grau de recurso: De acordo com este princípio, ainda é admissível recurso de decisão
proferida em recurso, com a consequência de haver um triplo grau de jurispdição, ainda que restrito a matéria
de direito. O CP de 1987 havia introduzido pelo princípio do grau único de recurso, através de uma divisão
horizontal de competências entre as relações e o supremo. O TC tem entendido que não é constitucionalmente
imposto o duplo grau de recurso em processo penal.
Este princípio sofre extensas limitações no direito vigente, devendo acentuar-se que a tendência do
legislador tem sido a de restringir sucessivamente o triplo grau de jurisdição, reservando o STJ

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para os casos de maior gravidade. O legislador combinou, por exemplo, o princípio da dupla conforme, com o
critério da gravidade da pena abstracta correspondente ao crime; num momento posterior combinou aquele
princípio com o critério da gravidade da pena aplicada, o que acarretou o alargamento do âmbito das decisões
irrecorríveis
(400º/2/d/e/f CPP); mais tarde ainda segundo o critério da pena aplicada, alargou os casos de irrecorribilidade
aos acórdãos proferidos, em recurso, pelas relações que apliquem pena de prisão não superior a 5 anos (art.
400º/1/e CPP). Pode duvidar-se, pois, que a regra seja a do duplo grau de recurso, defendendo-se com algumas
excepções, que o princípio regra é o princípio do grau único de recurso.
De acordo com o art. 400º/1 CPP, não há duplo grau de recurso:
1) Dos acórdãos proferidos pelas relações que não conheçam, a final, do objecto do processo (alínea c))
P.e. em caso de recurso interposto do despacho de aplicação de medida de coacção, do que declara a
especial complexidade do procedimento ou do que não pronuncia o arguido (art. 194º, 219º/1,
215º/3/4 e 308º CPP) Não se aplica isto a decisão do TR que se pronuncie pela primeira vez sobre a
especial complexidade do processo.
2) De acórdãos absolutórios proferidos, em recurso, pelas relações, excepto no caso de decisão
condenatória em 1ª instância em pena de prisão superior a 5 anos – (alínea d)). Assenta esta regra na
natureza absolutória do acórdão proferido em recurso combinado com o sentido das decisões e a
gravidade e espécie de pena aplicada em 1ª instância.
a. O acórdão absolutório da relação não será recorrível se confirmar decisãoabsolutória da 1ª
instância ou se esta decisão for de condenação em pena não privativa da liberdade ou em
pena de prisão inferior a 5 anos.
b. É recorrível se a decisão condenatória da 1ª instância tiver sido em penade prisão superior a
5 anos.
3) Dos acórdãos proferidos, em recurso, pelas relações que apliquem pena não privativa de liberdade ou
pena de prisão não superior a 5 anos (alínea e)). O critério da irrecorribilidade alicerça-se na espécie
e na gravidade da pena aplicada pelo tribunal de recurso, independentemente da natureza absolutória
ou condenatória da decisão de 1ª instância.
a. Será esta norma conforme ao art. 31º/1 CRP na parte que veda ao arguidoa possibilidade de
recurso nos casos em que o acórdão condenatório na instância de recurso foi antecedido por
uma decisão absolutória de 1ª instância? O TC decidiu no sentido da inconstitucionalidade da
norma. (Ac. 412/2015)
4) Dos acórdãos condenatórios proferidos, em recurso, pelas relações que confirmem decisão de 1ª
instância e que apliquem pena de prisão não superior a 8 anos – alínea f). O critério da irrecorribilidade
funda-se na concordância de sentido das duas decisões e na gravidade da pena concretamente
aplicável ao arguido no tribunal de recurso. Ainda que a concretamente aplicada seja a
correspondente a pena única do concurso. Este critério tem contra ele o facto de, no momento da
condenação. O arguido não saber se lhe é ou não acessível o duplo grau de recurso, ressalvados os
casos em que o crime corresponda pena de prisão com limite mínimo superior a 8 anos. O que tem
repercussões no direito de defesa do arguido, do ponto de vista da estratégia de defesa. A
imprevisibilidade que o novo regime comporta não deixará, pois, de afectar a estratégia do eventual
interessado na interposição de recurso para o supremo e poderá co-envolver o risco de a Relação ser
tentada a aplicar uma pena tal que inviabilize o recurso para a instância superior e assim o reexame
da sua própria decisão.

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As alíneas d), e) e f) do 400º/1 CPP determinam a inadmissibilidade do recurso em função da natureza ou


da gravidade da pena aplicada, sem qualquer alusão aos casos em que a sanção aplicada seja a medida de
segurança de internamento ou a suspensão da execução do internamento. De harmonia com o princípio geral
da recorribilidade (art. 399º CPP) e em face do disposto no art. 400º CPP, +e de concluir pelo duplo grau de
jurisdição sempre que o acórdão da relação seja condenatório, ou seja, sempre que aplique uma daquelas
sanções (art. 376º/3 CPP). Independentemente de a condenação ser em medida de segurança não privativa
da liberdade, sem limite mínimo de duração ou com determinado limite máximo de duração e até da natureza
absolutória ou condenatória da decisão de 1ª instância. Por outras palavras: por força das disposições
conjugadas dos artigos 399º e 400º CPP é de concluir que só é irrecorrível o acórdão absolutória da relação,
ou seja, aquele em que ao inimputável não é aplicada uma qualquer medida de segurança (art. 376º/3 CPP).
Duvidamos do fundamento desta opção político-criminal, devendo- se, na verdade ao esquecimento do
tratamento da questão.
O critério vigente também contende com os casos de condenação em PRI, por nestes casos não se poder
propriamente identificar a pena aplicada ao agente. E notese, não será defensável atender à pena que
concretamente caberia ao crime porque o agente pode estar privada da liberdade para lá desse prazo. Ora, na
medida em que o princípio da legalidade criminal se estende, na medida imposta pelo seu conteúdo de
sentido, ao processo penal, é de concluir que em caso de condenação em PRI não há qualquer restrição à
admissibilidade de recurso em duplo grau.
Este critério da gravidade da pena aplicada ao crime tem ainda repercussões relativamente ás decisões
em que o arguido é uma pessoa colectiva ou equiparada, determinando a irrecorribilidade tanto do acórdão
absolutório como do acórdão condenatório.

2.2. Poderes de cognição.

Os poderes de cognição do tribunal de recurso variam consoante este seja interposto junto do tribunal da
relação ou do STJ. O art. 428º CPP estabelece que as relações conhecem de facto de d direito; o art. 424º CPP
estatui que o recurso interposto para o STJ visa exclusivamente o reexame em matéria de direito. Para a
relação pode ser interposto um recurso de apelação; para o STJ interpõe-se um recurso de revista.
Não obstante esta repartição, para a relação pode haver recurso que vise exclusivamente matéria de
direito. Assim, e independentemente do tribunal recorrido ser singular, colectivo ou de júri, o recurso
interpõe-se para a relação, ainda que vise exclusivamente o reexame de matéria de direito se a pena aplicada
em 1ª instância não for superior a 5 anos. (art. 427º e 432º/1 CPP). A competência do STJ está reservada para
os casos de maior gravidade.
O recurso para o STJ, não obstante ser de revista, visando exclusivamente o reexame de matéria de direito,
por ter como fundamentos o disposto no art. 410º/2 CPP. O que faz do recurso interposto para o STJ um
recurso de revista ampliada ou alargada aos vícios atinentes à matéria de facto previstos nesta disposição
legal. Este recurso pode ser interposto mesmo em segundo grau de acórdão de tribunal da relação, graças ao
disposto dos arts. 410º/2 e 434º CPP.
O duplo grau de recurso estende-se hoje também ás decisões proferidas pelo tribunal e júri. Pode apelar-
se primeiro para a relação e recorrer depois, em matéria de direito, para o STJ. Ora, a extensão deste princípio
ao tribunal de júri questiona-nos hoje sobre a conformidade constitucional de alguns pontos do regime legal
com o art.
207º CRP, colocando-se a questão devido à

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modificabilidade da matéria de facto por um tribunal de recurso cuja composição não é integrada pro jurados.
Ora, a garantia constitucional do julgamento pelo júri, enquanto esta significa que a última palavra em matéria
de facto cabe ao júri, não é respeitada quando um tribunal e recurso, composto exclusivamente por juízes de
direito, modifique, para além do previsto no art. 410º/2 CPP, a matéria de facto fixada também pelo júri
quando proferiu a sua primeira palavra.

3. Recursos extraordinários.

O CPP prevê dois recursos extraordinários: o de fixação de jurisprudência (art. 437º e ss. CPP) e o de revisão
(art. 449º e ss. CPP).
O recurso de fixação de jurisprudência é da competência do pleno de secções criminais do STJ (art. 11º/3/c
e 437º/1 CPP). Tem lugar nos termos do art. 437º/1/2/3 CPP. O recurso é interposto no acórdão proferido em
último lugar para o pleno de secções criminais do STJ, por meio de requerimento, sendo que o Ac. 5/2006 STJ
determinou que o recorrente não tem de indicar o sentido em que deve fixar-se jurisprudência (art. 442º/2
CPP).
A decisão que resolver o conflito tem eficácia somente no processo em que o recurso foi interposto e nos
processos suja tramitação tiver sido suspensa nos termos do art. 441º/2 CPP, cabendo ao tribunal de recurso
rever a decisão recorrida ou reenviar o processo. Não constitui, pois, jurisprudência obrigatória para os
tribunais judiciais (art. 445º/1/2/3 CPP). Cfr art. 445º/3 e 446º/1/2 CPP.
O conhecimento do pedido de recurso de revisão compete às secções criminais do STJ (art. 11º/4/d, 455º,
456º e 457º CPP) Muito embora a CRP acautele a injustiça da condenação (29º/6 CRP), o legislador previu no
art. 449º um conjunto alargado de fundamentos para este recurso. Segundo as alíneas a) e b), do art. 449º é
admissível a revisão de sentença transitada em julgado, condenatória ou absolutória nos casos aí previstos.
Ao conhecimento do pedido de revisão corresponderá uma decisão de negação ou de autorização da mesma.
Neste caso, há reenvio do processo ao tribunal de categoria e composição idênticas às do tribunal que proferiu
a decisão a rever que se encontrar mais próximo (art. 455º/2, 456º e 457º CPP). Reafirmamos que só vale este
em casos de condenação e não de absolvição.

Excurso – Pequeno esquema em matéria de recursos ordinários:

Devemos resolver esta questão começando por determinar qual o tribunal competente em primeira instância:
A) Tribunal singular
O recurso será sempre para o Tribunal da Relação, podendo ser de apelação ou revista consoante a matéria que se
esta a recorrer. (427º e 437º/a contrario sensu CPP)
B)Tribunal Colectivo ou de Júri
1)Recurso em matéria de facto à Interpõe-se para o Tribunal da Relação (art. 427º e 428º CPP)
2)Recurso em matéria de direito e está em causa decisão que aplicou pena não privativa a liberdade ou pena de
prisão igual ou inferior a 5 anos à Recurso de revista para o Tribunal da Relação. (427º e 432º/a contrario sensu CPP)
3)Recurso em matéria de direito, mas que aplicou pena de prisão superior a 5 anos à
Recurso de revista para o STJ directamente e por isso se chama recurso per saltum. (432º/1/c

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