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FICHA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA 4 1.

Mensagem
NOME:   N.º:   TURMA:   DATA:

GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

A
Leia o poema.

Segunda Parte: Mar Português


O Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou­‑te, e foste desvendando a espuma.

5 E a orla branca foi de ilha em continente,


Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu­‑se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou­‑te português.


10 Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu­‑se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir­‑se Portugal!

Fernando Pessoa, Mensagem — Poemas esotéricos,


edição crítica coordenada por José Augusto Seabra,
Madrid, Archivos/CSIC, 1993.

1 No verso que abre o poema, o eu poético afirma que a obra (algo de grandioso) nasce porque

o Homem, por vontade de Deus, a sonhou.
1.1 Explicite de que forma o primeiro verso contribui para evidenciar esta relação de causa e efeito entre
o divino e o humano.

2 Nos versos 2 a 8, o sujeito poético desenvolve a afirmação feita no verso inicial,



particularizando­‑a.
2.1 Explicite o desejo de Deus e a «obra» a que o sujeito poético se refere nestes versos, comprovando
com elementos do texto.

3 Interprete os dois últimos versos do poema: «Cumpriu­‑se o Mar, e o Império se desfez. / Senhor,

falta cumprir­‑se Portugal!»

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS  •  Português  •  12.o ano  •  Material fotocopiável  •  © Santillana 71


UNIDADE

B
1 A História trágico­‑marítima dá conta do lado negro e anti­‑heroico do império que Portugal construiu durante os
Descobrimentos.
Fernando Pessoa

Leia o excerto. Se necessário, consulte as notas.

Então, a 12 de setembro, o vento acalmou, para logo depois rondar ao sudoeste. Pouco tardou que
soprasse em fúria, zunindo nas enxárcias, turbilhonando nuvens, rendilhando espumas, açoitando no escuro
os vagalhões roncantes.
Alija! Alija! Alija carga! Alija! Alijaram tudo que na coberta havia, e debaixo da ponte. Como enfuriasse
5 ainda mais o tempo, trataram de alijar os mastaréus das gáveas, e todas as caixas que cada um trazia. Para

que não fosse isto pesado a alguém, foi a de Jorge de Albuquerque Coelho a primeira de todas que se
lançaram ao mar, na qual ele trazia os seus vestidos e outros objetos de importância.
E, parecendo que não bastava isto, arrojaram para as águas a artilharia, com muitas caixas que conti‑
nham açúcar, e numerosos fardos de algodão.
10 Um mar mais violento desmanchou o leme. Atravessou­‑se a nau aos escarcéus, e não foi possível
desviá­‑la para a fazer tornar a correr em popa.
Quase todos, então, se sentiram descoroçoar. Jorge de Albuquerque, vendo­‑os assim, começou a falar­
‑lhes para lhes dar ânimo, e ordenou a alguns que buscassem meio com que se pudesse enfim governar a
nau. Ajoelharam os outros, e pediram a Deus que os livrasse do perigo.
15 Já a este tempo, que seriam nove horas da manhã, o navio dos corsários se não avistava; — e os fran‑
ceses que estavam na Santo António vendo a tormenta desencadeada, o leme desmanchado, atravessada
a nau, o rumor que fazia toda a gente, — chegavam­‑se aos nossos em tom amigo e cumpriam tudo que
lhes eles mandavam, como se fossem cativos dos portugueses, e não os corsários e roubadores.
Dispôs­‑se então um bolso de vela para o porem em torno do castelo de proa, a ver se com isso arriba‑
20 ria a nau, e deixaria assim de se atravessar ao mar.

Às dez, escureceu por completo; parecia noite. O negro mar, em redor, todo se cobria de espumas
brancas; o estrondo era tanto — do mar e do vento — que uns aos outros se não ouviam.
Nisto, levanta­‑se de lá uma vaga altíssima, toda negra por baixo, coroada de espumas; e, dando na proa
com um borbotão do vento, galga sobre ela, a submerge, e arrasa. Estrondeando e partindo, leva o mastro
25 do traquete com a sua verga e enxárcia; leva a cevadeira, o castelo de proa, as âncoras; estilhaça a ponte, o

batel, o beque, arrebatando pessoas, mantimentos, pipas. Tudo se quebra e lá vai no escuro. A nau, até o
mastro grande, fica rasa e submersa, e mais de meia hora debaixo de água.

«As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho» (1565)»,


História trágico­‑marítima: narrativas de naufrágios da época das conquistas,
adaptação de António Sérgio, Lisboa, Livraria Sá da Costa, 1962.

NOTAS
enxárcia (linha 2) — conjunto dos cabos fixos que, para um e outro bordo, aguentam os mastros reais, descendo até às mesas
(pranchões presos na borda do navio, onde se entalham as chapas nas quais são colocadas as bigotas para amarrar as enxárcias).
alijar (linha 4) — lançar carga ao mar ou transferi­‑la para outra embarcação, para aliviar o peso do navio.
mastaréu (linha 5) — pequena haste de madeira com a qual são rematados os mastros.
escarcéu (linha 10) — grande onda do mar agitado.
castelo de proa (linha 19) — superstrutura na parte externa da proa.

4 É evidente, em «As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho (1565)», a função



edificante e didática da narrativa.
4.1 Comprove a veracidade desta afirmação, tendo em conta o excerto transcrito.

5 Considere a segunda frase do texto: «Pouco tardou que soprasse em fúria, zunindo nas enxárcias,

turbilhonando nuvens, rendilhando espumas, açoitando no escuro os vagalhões roncantes.»
(linhas 1 a 3).
5.1 Identifique os recursos expressivos presentes na frase, comentando o efeito produzido.

72 ENTRE NÓS E AS PALAVRAS  •  Português  •  12.o ano  •  Material fotocopiável  •  © Santillana


GRUPO II
1.4
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.

Mensagem
Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

Leia o texto.

Um «louco» que «quis grandeza qual a sorte a não dá». É assim que Fernando Pessoa descreve el­‑rei
D. Sebastião, o homem que, num laivo de loucura, decidiu compor um exército a partir da fina flor da
nobreza portuguesa e embarcar para o norte de África, numa missão suicida que custou a Portugal o chefe
de Estado e, subsequentemente, a independência. Estas palavras serão também as mais apropriadas para
5 descrever o D. Sebastião de Manoel de Oliveira, realizador centenário conhecido pelo uso da literatura por‑

tuguesa enquanto fonte primária dos seus filmes e que escolheu a peça El­‑rei D. Sebastião, de José Régio,
como ponto de partida para a sua longa­‑metragem O Quinto Império — ontem como hoje.
Fiel à estrutura da peça, o «Mestre» faz da palavra a principal condutora da história, e mesmo os atores
são, por vezes, dramaticamente teatrais. Com esse propósito, confina a ação a um espaço, o paço real, sendo
10 grande parte do tempo passado nos aposentos do rei. Assim, no seu estilo conhecidamente minimalista, é

através de uma câmara, por vezes estática, por vezes panorâmica, que seguimos o jovem monarca nas suas
passadas inquietas pelo palácio, entre o trono e a capela, aonde vai procurar a bênção divina para o seu
projeto militar. Se o enredo gira em redor das dúvidas, inseguranças e ambições megalómanas de D. Sebas‑
tião, ou seja, da sua vida interior, é lógico que a história se esconda no interior do palácio, espaço psicológico
15 que é a metáfora ideal para a prisão do «Desejado» às suas ânsias e à pressão colocada sobre os seus

ombros pelos «egrégios avós», representados nas estátuas que o olham fixamente na sala do trono.
Qual Hamlet de Shakespeare, O Quinto Império desenrola­‑se languidamente e sem pressas, arrastando­
‑se em palavras medidas e silêncios prolongados. Mas, se Hamlet é a tragédia da indecisão porque o prota‑
gonista é incapaz de atuar, a componente trágica de O Quinto Império está precisamente no conhecimento
20 prévio que o espectador tem de que o rei não só vai agir como vai falhar por completo nas suas aspirações.

Deste modo, o tom do filme é nostálgico, melancólico e agoirento. A desgraça iminente é anunciada em
sequências repletas de símbolos e imagens ominosos, como o momento em que a espada de D. Afonso
Henriques é lançada ao ar para aterrar com eco no chão, ou a sequência em que o rei adormece e desliza
cadeira abaixo, desaparecendo de cena perante a câmara estática e deixando o trono profeticamente vazio.
25 A fotografia de Sabine Lancelin traz as sombras e a solenidade a espaços iluminados apenas por velas e luz

natural, e a banda sonora de Carlos Paredes, com o ressoar triste das cordas da guitarra portuguesa,
relembra­‑nos que o conceito de Fado já era parte da mística lusitana ainda antes de poder ser identificado
com a música.
Ricardo Trêpa, neto do realizador e um dos seus atores­‑fetiche, dá um D. Sebastião convincente, de
30 rosto desassossegado e expressão ausente, como todos imaginamos. De lábios vermelhos e traços efemi‑

nados, o «Encoberto» é­‑nos apresentado como uma criança mimada, vítima de adulações exageradas e de
um discurso messiânico desde o berço, que o levam a acreditar ser o salvador da Pátria e um paladino do
cristianismo.
Mas mais do que um mapa psicológico de uma personagem­‑chave da nossa História, O Quinto Império
35 é um manifesto bastante atual contra doutrinas e ideais imperialistas que continuam a ser uma realidade,

ainda que disfarçados sob diversas formas, nas sociedades democráticas contemporâneas.
O «Mestre» não desilude. O Quinto Império é tanto uma denúncia intemporal dos males da classe polí‑
tica portuguesa — na Monarquia como na República, «ontem como hoje» — como uma carta de amor aos
valores culturais e aos mitos e lendas que constituem o imaginário do povo português. Humanizando um
40 homem que, para a maioria, é um herói de uma história que ficou por contar, Manoel de Oliveira força­‑nos

a questionar a nossa conceção do passado, bem como a imagem mental que construímos do nosso pre‑
sente.

Mariana Cruz, https://espalhafactos.com/2016/02/25/207999, publicado em 25 de fevereiro de 2016;


consultado em 22 de outubro de 2016 (com adaptações).

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UNIDADE

1
1
O filme O Quinto Império — ontem como hoje
( A) baseia­‑se em Mensagem, de Fernando Pessoa.
(B) inspira­‑se em Hamlet, de Shakespeare.
Fernando Pessoa

(C) parte de El­‑rei D. Sebastião, de José Régio.


(D) expressa a visão singular de Manoel de Oliveira relativamente à figura de D. Sebastião.

2 Segundo a autora do texto, o confinamento da ação ao paço real



( A) procura acentuar o protagonismo de D. Sebastião.
(B) decorre do estilo minimalista de Manoel de Oliveira.
(C) está de acordo com o gosto do realizador por espaços interiores.
(D) resulta da obra dramática em que o realizador se inspira.

3 O segundo período do terceiro parágrafo do texto (linhas 18 a 20), relativamente à frase anterior,

introduz uma ideia de
( A) causalidade.
(B) concessão.
(C) oposição.
(D) adição.

4 Nas expressões «passadas inquietas» (linha 12) e «rosto desassossegado» (linha 30), encontramos

( A) uma metonímia e uma metáfora, respetivamente.
(B) uma metáfora e uma sinédoque, respetivamente.
(C) duas metáforas.
(D) duas hipálages.

5 No contexto em que ocorre, a palavra «iminente» (linha 21) significa



( A) «que está mesmo para cair».
(B) «prestes a acontecer».
(C) «muito grande».
(D) «superior».

6 Em «deixando o trono profeticamente vazio» (linha 24), a forma verbal tem um valor aspetual

( A) durativo.
(B) perfetivo.
(C) iterativo.
(D) genérico.

7 Na linha 40, as duas ocorrências da palavra «que» correspondem a



( A) um pronome em ambos os casos.
(B) uma conjunção em ambos os casos.
(C) uma conjunção e um pronome, respetivamente.
(D) um pronome e uma conjunção, respetivamente.

8 Identifique a função sintática desempenhada pelo constituinte «neto do realizador



e um dos seus atores­‑fetiche» (linha 29).

9 Identifique o mecanismo de coesão textual decorrente do uso de «como» (linha 30).




10 Classifique a oração «ainda que disfarçados sob diversas formas» (linha 36).


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GRUPO III
1.4
Elabore um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas

Mensagem
palavras, em que apresente uma reflexão sobre a relevância e o futuro do patriotismo numa era de
globalização.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com,
pelo menos, um exemplo significativo.

Observações:
1. P
 ara efeitos de contagem, considera­‑se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /opôs­‑se­‑lhe/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos
algarismos que o constituam (ex.: /2016/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados — entre duzentas e trezentas palavras —, há que atender ao seguinte:
— um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
— um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

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UNIDADE

1 Correção das Fichas


Fernando Pessoa

FICHA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA 4

GRUPO I (Cenários de resposta)


A
1
1.1 
Para a expressão da relação de causa e efeito entre o divino e o humano no verso contribuem:
o carácter sintético da afirmação e a construção assindética da frase (justaposição de três orações
coordenadas, sem serem articuladas por uma conjunção); a gradação existente nos três momentos
da afirmação, expressa nas formas verbais «quer», «sonha» e «nasce»; o carácter axiomático da
afirmação (note­‑se o valor durativo do presente do indicativo em que se encontram as formas
verbais), sugerindo uma verdade universal e irrefutável; a estrutura ritmada da frase, evidenciando os
elementos enumerados; a construção trilógica da afirmação, salientando os três elementos («Deus»,
«homem» e «obra») e os três momentos («quer», «sonha» e «nasce») que presidem à realização de
algo grandioso — evocando o simbolismo do número três, associado à perfeição e ao divino
(é pela vontade de Deus que se materializa a obra perfeita, divina).

2
2.1 
Deus desejou a ligação entre continentes e os povos do Planeta («que a terra fosse toda uma, /
Que o mar unisse, já não separasse», vv. 2­‑3). Para tal, «[s]agrou» (v. 4) o Infante D. Henrique — verbo
importante (ocorrendo duas vezes no texto), com uma conotação religiosa, que remete para a
dimensão sagrada da missão das Descobertas e para o carácter predestinado do Infante e pode
aludir ao promontório de Sagres, associado ao Infante D. Henrique. Por vontade divina, o Infante foi
o grande impulsionador dos Descobrimentos, «desvendando a espuma» (v. 4) — isto é, descobrindo
os mares —, fazendo com que essa «espuma» («orla branca») fosse «de ilha em continente» (v. 5) —
ou seja, alargando o espaço conhecido. Com efeito, o Infante foi uma figura da universalidade ao
permitir, pela conquista do mar, o conhecimento do mundo e a comunicação entre os povos
(«E viu­‑se a terra inteira, de repente, / Surgir, redonda, do azul profundo.», vv. 7­‑8).

3 Depois de a obra desejada por Deus se ter concretizado, o Império desmoronou­‑se (ideia que,

abruptamente, interrompe o tom eufórico do poema). Falta, agora, «cumprir­‑se» o desígnio de Portugal.
No verso que fecha o poema, iniciado pela apóstrofe «Senhor», como numa prece, o sujeito poético lança
um apelo a Deus: que se cumpra o destino mítico de Portugal, isto é, que se funde um novo império,
o Quinto Império, agora de cariz espiritual, que pela vontade de Deus pode ser concretizado.

B
4
4.1 
A função didática e edificante da narrativa está patente no comportamento de Jorge de Albuquerque
Coelho. Quando os ventos fortes obrigam a aliviar a carga da nau, é a caixa do comandante, «na qual
ele trazia os seus vestidos e outros objetos de importância», a primeira a ser deitada ao mar.
O protagonista constitui igualmente um exemplo porque, quando todos desanimam e perdem a
esperança, procura incentivar os seus companheiros e revela coragem e capacidade de liderança:
«vendo­‑os assim, começou a falar­‑lhes para lhes dar ânimo, e ordenou a alguns que buscassem meio
com que se pudesse enfim governar a nau».

5
5.1 
A força destruidora da natureza é evidenciada pela presença de vários recursos expressivos:
a personificação do vento («soprasse em fúria», «açoitando»), que sugere um intuito destruidor;
a enumeração das ações dos ventos fortíssimos, com um impacto na nau, nas nuvens e no mar,
associada à utilização expressiva do gerúndio («zunindo, «turbilhonando», «rendilhando» e
«açoitando»), a realçar a continuidade dos estragos; a onomatopeia «zunindo», que sugere sensações
sonoras; a metáfora visual «rendilhando espumas», que expressa a turbulência das ondas; o animismo
em «vagalhões roncantes», com o uso do aumentativo, sugerindo sensações visuais e sonoras.

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GRUPO II
1.4
1   (C)   2   (D)   3   (C)   4   (D)   5   (B)   6   (A)   7   (A)

Mensagem
8   Modificador apositivo do nome.

9   Coesão interfrásica.

10   Oração subordinada adverbial concessiva.

GRUPO III
Construção de um texto de opinião que respeite o tema, a estrutura e os limites propostos. Devem respeitar­‑se
as principais características do género textual em causa:
•  explicitação do ponto de vista;
•  clareza e pertinência da perspetiva adotada, dos argumentos desenvolvidos e dos respetivos exemplos;
•  discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).

FICHA DE COMPREENSÃO DO ORAL 4


(Duração do debate: 13 minutos [00:15­‑13:20])
Transcrição:

Fátima Campos Ferreira: Boa noite! Que tempo é este em que vivemos? Em Portugal, iniciou­‑se um
novo ciclo político. Mas há outros sinais que vêm da Europa e do mundo. Desde logo, está a
decorrer em França uma conferência sobre o clima, que atrai, que está a juntar, em Paris, líderes
de mais de cento e cinquenta países. Há também o agravamento da ameaça terrorista em toda
a Europa, e não só. Portanto, só aqui, temos vários sinais dos tempos que vamos hoje tratar,
debater, com um conjunto de pensadores da sociedade portuguesa. Começo pelo Professor
Carvalho Rodrigues. Eu disse há pouco que, em Portugal, se está a iniciar um novo ciclo político…
Mas nós, quando olhamos e pensamos o nosso tempo, temos de o ver de forma integrada, um
retrato integrado, não só do caso português, mas também do que se passa no resto do mundo.
E porque o caso português, nos últimos tempos, foi diferente do habitual, daquilo que foram os
últimos anos no País, a minha primeira pergunta é: como é que o senhor entende a crispação que
o País viveu e por que caminhos é que acha que vai a sociedade portuguesa a partir de agora?
Fernando Carvalho Rodrigues (físico): Sabe que, cada vez que há um império, quando todas as
possibilidades se esgotam, muda de ciclo. Sempre foi assim. E a crispação resulta de uma coisa
que vem logo no Génesis, 2,7: «Se comeres da árvore do conhecimento do bem e do mal, por
certo, perecerás.» Que é uma coisa curiosa, a árvore do conhecimento. Eu, primeiro, julgava que
era só do conhecimento; depois, o Padre Stilwell é que me mostrou que era do conhecimento
do bem e do mal. Quem se arvora em conhecer o bem e o mal faz este mundo de hoje, que é
aquele que faz as guerras, que é… as verdades. As pessoas, os humanos, nós somos terríveis,
porque guerras económicas nunca houve… Há umas estaladas… Agora, guerra, guerra, guerra,
é por verdade. Isso os humanos, nós, por verdades, vamos até aos últimos limites. De modo que
aqueles debates onde há vozes sobre vozes, os olhos como dardos e a jugular a bater não são
debates: são combates, porque cada um tem a sua verdade.
Fátima Campos Ferreira: Mas não é habitual que essas verdades sejam, de alguma forma, tão
distintivas nas sociedades e causem tanta crispação, como foi o caso aqui nos últimos meses.
Fernando Carvalho Rodrigues: Quando surgem, surgem conflitos que… Agora que se sabe que
é assim… Não, não pode continuar assim. É um novo meio de encarar outras possibilidades.
Havia umas possibilidades. Essas esgotaram­‑se. Agora há outras possibilidades.
Fátima Campos Ferreira: Portanto, antevê um ciclo de apaziguamento a partir daqui.

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