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Queijos
com
Olhaduras
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS
COM
OLHADURAS
Projeto e Edição
Fonte Comunicações e Editora Ltda. - Junho 2007
Luiz José de Souza
Produção Gráfica
Fábio Ruiz
Lílian Maria Cardoso Andrade
Thiago Mello
Revisão:
Eduardo Marchiori
Juçara Pivaro
Capa
Foto: Queijo Gruyère nos Alpes suíços
Autor da Foto: Kondrup Nielsen
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QUEIJOS COM OLHADURAS
PATROCÍNIO:
Danisco
A Danisco é uma das líderes mundiais na produção de ingredientes
alimentícios, açúcar e bioprodutos industriais. Desenvolvemos novos
conhecimentos, habilidades e atitudes a fim de melhorar constante-
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
William Blake
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
AGRADECIMENTOS
O autor manifesta seu mais sincero agradecimento a Zacarias
Karacristo, Presidente da Danisco Brasil Ltda, a Maria Cecília
Londoño, Diretora de Negócios da Danisco-Divisão Cultivos para a
América Latina, e à Fermentech, nas pessoas de Nanci Ohata, Se-
bastião Zorzetti e Néveton Picciani, pelo patrocínio oferecido, sem
o qual este livro não teria sido publicado. Obrigado, de coração,
por permitirem que eu continue a dividir meu conhecimento com
os queijeiros de toda a América Latina.
mucio.furtado@danisco.com
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
PREFÁCIO
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Múcio M. Furtado
Carrancas, MG, Maio de 2007
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
ÍNDICE
CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO
Condições gerais .............................................................................................................. 20
Principais tipos de fermentação para formação de olhaduras..................................... 21
Fermentação propiônica....................................................................................................... 21
Fermentação de citratos ....................................................................................................... 22
OS PRINCIPAIS QUEIJOS COM OLHADURAS NO MUNDO: CARACTERÍSTICAS ..... 22
Emmental ............................................................................................................................... 22
Gruyère ..� 23
Gouda .....� 24
Maasdam � 25
Jarlsberg.� 25
Edam ......� 26
Svenbo ....� 26
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Ausência de olhaduras......................................................................................................... 98
Queijos mofados .................................................................................................................... 98
COMPARAÇÃO FINAL ENTRE FERMENTAÇÕES PROPIÔNICA E AROMÁTICA ..... 99
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QUEIJOS COM OLHADURAS
CAPÍTULO 9 - TECNOLOGIABÁSICA DE
ELABORAÇÃO DE ALGUNS QUEIJOS COM OLHOS
Queijo de estilo suíço (Emmental) ............................................................................... 159
Introdução ............................................................................................................................ 159
Composição média esperada (maturado) ......................................................................... 160
Processo básico de elaboração .......................................................................................... 160
Pontos críticos do processo ............................................................................................... 164
Queijo Reino ................................................................................................................... 164
Introdução ............................................................................................................................ 164
Composição média esperada (maturado) ......................................................................... 165
Processo básico de elaboração .......................................................................................... 165
Pontos críticos do processo ............................................................................................... 169
Queijo Estepe ................................................................................................................. 170
Introdução ............................................................................................................................ 170
Composição média esperada (após salmoura) ................................................................ 170
Processo básico de elaboração .......................................................................................... 171
Pontos críticos do processo ............................................................................................... 174
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QUEIJOS COM OLHADURAS
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
Q
ueijos com olhaduras exer-
cem uma atração inquestio-
nável sobre consumidores
de todas as idades. Possivelmente
tal atração esteja ligada ao imagi-
nário de cada um, desde a mais
tenra infância, acostumado à re-
presentação do queijo por uma
fatia bem cortada, de cor amarelo-
palha, e cheia de olhos grandes e Olhaduras lisas, regulares e brilhantes
regulares. Poucos porém, podem,
compreender todo o “mistério” existente por trás de um queijo com
olhaduras... Para um leigo ou iniciado em queijos, é quase impossível
entender as dificuldades existentes no caminho do queijeiro que se
arrisca com esse tipo de produto. Os pilares fundamentais para que
esta se torne uma bem sucedida operação, passam pela qualidade
do leite, que deve ser excelente, por bons fermentos acidificantes e
aqueles produtores de gás, por controles restritos de pH no proces-
so, pela composição físico-quimica do queijo, sobretudo umidade e
gordura, e pelas fases de maturação em câmaras de temperaturas
variadas, em função do desenvolvimento de gás em seu interior. En-
fim, uma operação complexa, que mistura à perfeição os conceitos
mais técnicos com os rigores da tradição e arte.
Como foi definido pelos próprios pesquisadores do renomado ITG
- Institut Technique du Gruyère, na França, as olhaduras do queijo
participam de sua imagem “misteriosa e lúdica”. E os mesmos auto-
res afirmam que , mesmo após dezenas de anos de estudos e testes
práticos ou cientificos, não há uma explicação completa ou satisfa-
tória sobre o mecanismo de formação de olhaduras em um queijo,
ou porque algumas coisas dão certo e outras, errado. Queijos com
uma intensa fermentação propiônica (comprovada por níveis de ácido
propiônico elevados, mais de 700 mg por 100 g de queijo, por exem-
plo) nem sempre apresentam olhaduras numerosas ou regulares. Ou
seja, a fermentação propiônica é uma condição necessária, mas não
suficiente em si, para formar olhaduras. Há muitos outros fatores,
alguns bem conhecidos e outros certamente pouco elucidados.
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Condições gerais
Pode-se dizer que, para o sucesso de uma fabricação de quei-
jos com olhaduras há uma série de condições ou requisitos a
serem preenchidos :
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Tabela 02
Elemento Porcentagens
Sólidos Totais 65
Umidade 35
Proteína (bruta) 29
Gordura 31
Gordura no Extrato Seco 48
Sal 0,6
Ácido propiônico 0,7
Gruyère
Também de origem Suíça, alí elaborado desde o século XII. É
fabricado com leite cru nos arredores do vilarejo de Gruyère, no
cantão de Friburgo, na Suíça. Seu peso varia de 20 a 45 kg, diâmetro
de 40 a 65 cm, e altura de 9 a 13 cm. Sua casca não é lisa e, por ser
tratada por microrganismos de superfície, como o Brevibacterium
linens, apresenta-se rugosa e
de coloração marrom escura e
aroma intenso. Internamente,
a massa é firme e compacta,
de cor amarelada, mais escura,
apresentando poucas ou nenhu-
ma olhadura com tamanho que
varia de pequeno a médio. O
sabor não é tão adocicado como
no Emmental; ao contrário, é
acentuado e marcante. A massa
apresenta-se aparentemente
mais proteolisada do que no Gruyère examinado com sonda
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Gouda
Um dos queijos mais famosos
do mundo. Foi fabricado original-
mente nas imediações da cidade
holandesa de mesmo nome, situ-
ada a sudeste de Haia, perto da
cidade portuária de Rotterdam,
com o nome original de Goudse
kaas. Até hoje se mantem em
Amsterdam o famoso mercado Queijo Gouda holandês
do queijo, numa praça em frente
a Weight House (datado de 1668). O Gouda responde por mais da
metade dos queijos feitos na Holanda, um país tipicamente exportador
de queijos . A denominação Gouda caiu no domínio publico e é usada
mundialmente sem restrições. Na Holanda, o peso varia de 4 a 20 kg
(média de 12 kg) em formato cilíndrico tradicional. O teor de gordura
é alto, cerca de 49% no extrato seco. O queijo pode ser maturado por
diferentes períodos, mas aquele destinado ao mercado externo é ma-
turado, em geral, até seis meses, tipicamente coberto com parafina de
cor vermelha ou amarela. Estes queijos são um pouco mais macios e
podem ser fatiados sem problemas. O sabor é suave, com aroma bem
perceptível, e apresenta alguns olhos, pe-
quenos e ovalados, ou mesmo irregulares.
Na Holanda encontra-se queijo Gouda ex-
tra-maturado, por até 26 meses, coberto
com parafina laranja ou amarela e, com
freqüência, negra. Este queijo tem sabor
muito mais forte e massa mais seca (que
não fatia facilmente) mas que se “dissolve”
na boca, tão alto é o grau de proteólise.
Um dos queijos Gouda de longa ma-
turação mais conhecidos no mundo é o
Oud Amsterdam Kaas (Old Amsterdam)
parafinado em negro, de sabor muito
Gouda de longa maturação
agradável e robusto, meio seco e bastante
firme. A marca mais conhecida é a Prima
Donna. Muito similar também é o Gouda envelhecido conhecido por
Oud Brugge, firme e de massa mais seca e até com cristais de tirosina.
Existem sub-variedades como um Baby-Gouda ou o Lunch Cheese, que
deu origem a denominação queijo Lanche, usada no Brasil para uma
variedade, de menor porte, do queijo Prato.
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Maasdam
O Maasdam (ou também Maasdammer) é o equivalente
na Holanda ao queijo Emmental suíço ou ao Jarslberg no-
rueguês. Trata-se de um queijo mais macio, de maior teor
de umidade do que o Emmental, de maturação mais curta
e sabor suave , tendendo ao adocicado, devido à fermen-
tação propiônica. Também apresenta olhaduras grandes, Queijo Maasdam holandês
numerosas, lisas e redondas. Pode ser parafinado, como o Gouda. A casca
é lisa e bastante flexível. Sua maturação se completa com 12 semanas.
O Maasdam foi introduzido na Holanda depois de 1984, para subs-
tituir no mercado o queijo Leerdammer, que se tornou uma marca
registrada exclusiva de um grupo queijeiro europeu.
Jarlsberg
Este é um queijo de origem norueguesa, muito
similar ao Emmental suíço. Apresenta olhos
grandes e redondos. Possui textura fina,
massa “longa” (flexível), macio, com sabor
suave e ligeiramente adocicado, devido à
presença da flora propiônica na maturação.
É largamente exportado pela Noruega. Suas
origens remontam ao vilarejo de Vâlle, onde
era rusticamente fabricado desde o início
do século XIX, num
condado chamado
Queijo Jarlsberg norueguês
Jarlsberg & Lar vik Amt.
Posteriormente, em 1956, foi desenvolvido
de forma mais industrial em uma univer-
sidade agrícola em Oslo. Hoje o queijo
representa cerca de 60% das exportações
deste produto na Noruega.
É um dos queijos importados mais consumi-
dos nos USA, onde sería vendido em mais de
30.000 supermercados. Apresenta-se em peso
e tamanho variados.
Queijo Edam holandês
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Edam
O queijo Edam (Edammer kaas em holandês) é tra-
dicionalmente vendido em seu formato esférico,
coberto com parafina vermelha ou amarela. Seu
nome vem de sua cidade de origem na Holanda,
Edam, que fica numa província ao norte do país.
Seu sabor é suave, com aroma não muito pronun-
ciado e pode apresentar alguns olhos pequenos e
ovalados. A massa é macia e flexível. Seu teor
de gordura (cerca de 41% no extrato seco) é
mais baixo do que aquele encontrado no Gou-
da. O peso aproximado do Edam é de 2 kg,
mas pode ser também encontrado em peso
de 1 kg, com a denominação de Baby Edam.
As vezes é também elaborado com sementes
de cuminho, que lhe dão um sabor particular.
Quando parafinado de verde, denota a presença de
Queijo Mimolette francês ervas finas na massa. O período de maturação normal
é de seis a sete semanas mas, como no caso do Gouda,
pode ser extra-curado por muitos meses, apresentando um sabor muito
mais acentuado, e nesse caso, é recoberto com parafina negra.
Na França existe uma “variedade” do Edam, chamada Mimolette
(ou Boule de Lille) que carrega uma história curiosa. Sua fabricação
iniciou-se na região de Lille, no norte da França,(hoje divisa com a
Bélgica) na época do reinado de Luiz XIV. Os habitantes da região de
Flandres, hoje pertencente à Bélgica, eram muito ligados culturalmente
à Holanda, mas devido à proibição do rei, não podiam mais importar
os apreciados produtos holandeses, dentre os quais o queijo Edam.
Por isso, tiveram que desenvolver seu próprio produto, que veio a ser
o Mimolette, ainda hoje largamente fabricado e apreciado na França,
apesar de destoar bastante do perfil típico de um queijo francês. O
queijo, também esférico, pesa de 3 a 4 kg e se parece em tudo ao Edam,
com a massa de cor amarelo-alaranjada internamente e sabor suave.
Svenbo
É o equivalente na Dinamarca ao Emmental
suíço e durante algum tempo era chamado de
Jarlsberg dinamarquês, denominação esta trocada
por Svenbo em 1973. É em tudo parecido ao queijo
norueguês, inclusive no tamanho e número de
olhos originados da fermentação propiônica.
Queijo Svenbo, da Dinamarca
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QUEIJOS COM OLHADURAS
CAPÍTULO 2
A FERMENTAÇÃO PROPIÔNICA:
FUNDAMENTOS
Bactérias propiônicas
Bactérias propiônicas pertencem à classe das Actinobacteria e ao
gênero Propionibacterium e são bacilos curtos, Gram+, não formam es-
poros e crescem somente em baixas concentrações de oxigênio (variam
de anaeróbicas a aerotolerantes). Ocorrem naturalmente no rúmen e no
intestino de ruminantes, no solo e na silagem. Dentre as muitas espécies
podemos citar: Propionibacterium acidipropionici, Propionibacterium
jensenii, Propionibacterium thoenii. As principais espécies de uso em
laticínios são Propionibacterium freudenreichii subsp. freudenreichii e
Propionibacterium freudenreichii
subsp. shermanii. O pH ideal de
crescimento é entre 6,0 e 7,0
(mas podem crescer, ainda que
muito lentamente, nos limites
extremos de pH 4,6 até 8,5).
Sendo mesófilas, a temperatura
ideal de crescimento é de 30oC,
mas podem crescer mesmo a
12 oC e há registros de cepas Bacilos e cocos típicos de cultura lática
crescendo a 4oC.
Há uma grande variedade de cepas de bactérias propiônicas e muitas
estão disponíveis comercialmente. Estas cepas apresentam diferenças
sutis em suas atividades metabólicas, mas de grande importância no
resultado final da fermentação propiônica. Elas não crescem em leite
e mesmo em lactato de sódio o tempo de geração é longo, de 7 a 10
horas. No início da maturação do queijo as contagens são ainda baixas,
da ordem de 105 UFC/g. Mas, após meses de maturação, as contagens
podem chegar a 108 – 109 UFC/g.
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Formando a olhadura
A melhor maneira de se entender o complexo fenômeno de for-
mação de olhos em um queijo é tomando-se como exemplo a fermen-
tação propiônica no queijo Emmental. Centenas de artigos técnicos e
científicos já abordaram o assunto, sob distintos ângulos e hoje em dia
sabe-se bastante bem o que se passa no período aproximado de quatro
meses em que o Emmental repousa em câmaras, sob os efeitos da fer-
mentação propiônica, entre outros importantes fenômenos bioquímicos
como a lipólise de triglicérides e oxidações subseqüentes, assim como
a proteólise de cadeias protéicas e reações secundárias relacionadas,
tais como peptidólise, descarboxilações, transaminações, etc.
O queijo Emmental originou-se no vale do Emme, na Suíça há mui-
tos séculos e tornou-se mundialmente conhecido simplesmente como
“queijo suíço”. Trata-se de um queijo cilíndrico, como se fosse uma
roda de um carro, com peso variando entre 60 e 130 kg, possuindo
entre 1.000 e 2.000 olhaduras, cujo diâmetro varia de 1 a 4 cm.
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
P = (2x p)/r
Onde:
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Ou seja :
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Tabela 03
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Tabela 04
Se este queijo estiver sendo maturado a 20oC, cada litro de água pre-
sente em sua composição pode conter até 0,878 litros de CO2 (ver Tabela
03). Como foi anunciado, o queijo em questão, usado como exemplo, tem
38% de umidade, ou seja, a fôrma de 100 kg tem 38 litros de água. Pela
Tabela 04, conclui-se que esse volume de água pode receber até 33,4 litros
de CO2 (38 l x 0,878 l gás/l água) em solução. Qualquer volume de gás
que exceder a esta quantidade, caracteriza um estado de super-saturação
e, em conseqüência, o início de formação de uma olhadura, uma vez que
o gás comece a migrar para um micro-núcleo nas proximidades.
Observando-se ainda a Tabela 04, conclui-se que entre 40 e 50 dias o queijo
já terá acumulado 44,9 litros de gás (29 + 15,9 litros). Assim, o excesso de 11,5
litros (44,9 - 33,4 litros) estaria disponível para olhaduras, mesmo considerando
que parte possa ter se difundido para o exterior através da casca do queijo (o
que não seria de se esperar em grande intensidade num queijo com mais de
seis semanas de cura e boa formação de casca). Em resumo, esses cálculos
permitem prever com razoavel precisão quando ocorrerá a super-saturação
do gás na água e o provável início da formação física da olhadura no queijo.
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Fermentação secundária
A fermentação secundária é um dos problemas mais importantes
na fabricação de queijos “tipo suíço”. Por este termo, entende-se um
prolongamento da produção de CO2 no queijo, mesmo após este ter sido
conduzido para a fase final de maturação a temperaturas mais baixas
(exemplo, entre 10 e 12oC). O excesso de produção de gás pode ser
devido ao uso de uma cultura propiônica com alta atividade de aspartase,
como descrito anteriormente, ou simplesmente devido à descarboxilação
de aminoácidos, em razão de uma alta atividade proteolítica e aminopep-
tidolítica ao final da maturação, quando uma ligeira elevação do pH tende
a favorecer esses fenômenos.
Observando-se o queijo, nota-se
um aumento anormal da altura das
fôrmas, provocado pelo excesso
de gás. Ao corte, observa-se com
freqüência olhaduras bem maio-
res, ovaladas ou irregulares, além
das indesejáveis trincas. Como o
queijo é resfriado nesta última fase
da maturação, sua massa oferece
maior resistência à “deformação”
provocada pela formação de CO2,
facilitando assim o surgimento de
Fermentação secundária: olhos, mas também trincas
trincas e rachaduras.
O excesso de atividade aminopeptidolítica, sobretudo pela ação de descar-
boxilases, estaria na origem da excessiva produção de dióxido de carbono.
Muitos aminoácidos sofrem descarboxilação para formar aminas,
sendo que as descarboxilases são de origens diversas, tanto dos fer-
mentos láticos, em especial de lactobacilli, quanto de contaminantes
como enterococos (um microrganismo frequentemente encontrado é
Streptococcus faecalis), micrococos e outros.
A Tabela 05 apresenta exemplos de aminoácidos que sofrem des-
carboxilação com freqüência no queijo Emmental e os componentes
formados, como amina e dióxido de carbono.
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Tabela 05
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Tabela 06
Bacteriófagos de propiônicas
Embora não seja quase mencionado na literatura específica, já foram
isolados dois fagos de bactérias propiônicas, por pesquisadores fran-
ceses. Os fagos foram encontrados em diferentes tipos de queijos com
fermentação propiônica e acredita-se que a fonte seja o leite cru, já que
eram feitos com leite sem pasteurização. Estes fagos se encontravam
na forma lisogênica, isto é, sem virulência e, portanto, não atacavam
ou destruíam as bactérias propiônicas infectadas. Em todos os casos,
a fermentação não parece ter sido inibida pela presença do vírus e os
queijos não apresentaram sabor normal. Bacteriófagos parecem não
constituir um problema na fermentação propiônica.
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
CAPÍTULO 3
53
QUEIJOS COM OLHADURAS
Micro-núcleos na massa
A presença de micro-núcleos na massa já foi amplamente discutida e
é, de fato, um fator fudamental para a “germinação” da olhadura. O fato é
válido tanto para queijos mais duros como o Emmental, como para queijos
semi-duros, como o Gouda. Infelizmente esse fenômeno ainda é resultante
de fatores pouco controlados e, na maioria das vezes, é desconhecido dos
queijeiros. Os micro-núcleos seriam resultantes de pequenas bolhas de ar
presas na massa e seu tamanho é de apenas 3 a 5 centésimos de milímetro,
conforme observado em microscópico eletrônico. Acredita-se que seriam
necessários em torno de 200 micro-núcleos por quilograma de um queijo
como o Emmental para garantir uma boa formação de olhaduras.
Os principais fatores afetando a formação de micro-núcleos são
resumidos a seguir:
1 - Tamanho do tanque: maior formação de micro-núcleos em tan-
ques menores.
2 - A centrifugação do leite diminui a formação de micro-núcleos
(remoção de sedimentos microscópicos). Muitos autores questionam
a centrifugação do leite para queijos de estilo Suíço.
3 - Mais micro-núcleos são formados em leite cru ou termizado.
4 - Menos micro-núcleos são formados em queijos prensados a vácuo.
5 - O grau de agitação e bombeamento do leite: é complexo estabe-
lecer limites, mas parece influenciar positivamente, até certo ponto.
6 - O manuseio da coalhada no tanque (dessoragem e pré-pren-
sagem) pode permitir a incorporação de mínimas quantidades
de micro-bolhas.
54
QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Tabela 07
Tabela 08
57
QUEIJOS COM OLHADURAS
Temperatura de maturação
Trata-se de um parâmetro de enorme importância, e com efeitos fa-
cilmente notáveis. Em geral, a “câmara quente” é mantida, para o queijo
Emmental, entre 20 e 22oC, podendo chegar a extremos, como 25oC. A
temperatura da “câmara quente” tem um grande impacto no tempo de
multiplicação da flora propiônica, como se vê no quadro abaixo:
pH do queijo
Trata-se de parâmetro da maior importância, devido à alta sensibilidade da
flora propiônica a variações na acidez real do queijo. A regra geral é: quanto
mais elevado for o pH, mais rapidamente se desenvolve a flora propiônica. O
pH realmente crítico para a fermentação propiônica se situa ao redor de 5,0
58
QUEIJOS COM OLHADURAS
e abaixo deste valor, a flora não se desenvolve. Nesta zona de pH, mesmo
pequenas variações, da ordem de 0,03 a 0,05 unidades, influenciam muito.
Por exemplo, se o pH nas 24 horas passa de 5,21 a 5,37 no queijo
Emmental, a fase de latência das bactérias propiônicas diminui em aproxi-
madamente uma semana. No queijo de pH 5,37, após 60 dias, a população
propiônica supera a 109 UFC/g de queijo, com cerca de 4050 ppm de
ácido propiônico, enquanto que o queijo ligeiramente mais ácido, com
pH 5,21, apresenta contagem da flora propiônica inferior a 109 UFC/g, e
apenas 2950 ppm de ácido propiônico. Essa mesma proporção se observa
quando se compara queijos com pH’s iniciais de 5,05 e 5,15.
Deve-se observar ainda que queijos com pH muito baixo (por exem-
plo, menor que 5,1) ou muito alto (superior a 5,4) tendem a apresentar
olhaduras rugosas em seu interior, provavelmente por perda de elasti-
cidade da massa, seja por carência ou excesso de cálcio.
Em pH muito baixo, a massa já terá perdido muito cálcio e, sem
elasticidade, não permite a formação de olhaduras lisas. Em pH muito
alto, a massa ainda está muito mineralizada e fica mais dura, sem elas-
ticidade, produzindo rugosidades no interior da olhadura.
Enquanto que um pH alto favorece o crescimento propiônico, ele
favorece também a formação de trincas, já que a massa ainda está
“verde” para receber o CO2 rapidamente formado.
Para se regular o pH da massa, conta-se com o uso de culturas termofí-
licas pouco acidificantes a baixas temperaturas. Sobretudo deve se contar
com o recurso de delactosar a massa por adição de água (quente ou não)
ao soro (mais freqüente) ou ao leite. De 10 a 20 % de água podem ser
adicionados ao leite, como recomendação para se obter um queijo menos
ácido e com melhores chances de desenvolvimento da flora propiônica.
A delactosagem é um recurso universalmente utilizado na fabricação de
queijos e com resultados muito eficazes no controle do pH. Normalmente
é feita com dessoragem parcial entre 30 e 35%, seguida de adição de água,
que varia entre 20 e 40%, em função do pH final desejado no queijo.
O pH nas 24 horas é tão crítico que uma variação (para menos) de
0,15 unidade de pH pode provocar um aumento de 50% no tempo de
“câmara quente” necessário para provocar uma idêntica formação de
olhaduras (comparado a um pH mais alto em apenas 0,15 unidade), já
que haverá um decréscimo de cerca de 50% na população propiônica.
Um outro fator que deve ser considerado é o teor de Gordura no
Extrato Seco do queijo (GES), por sua influência indireta no pH do
mesmo. Quanto maior o teor de gordura, maior a dificuldade de ex-
pulsão de água da coalhada e, portanto, mais baixo é o pH do queijo.
No quadro abaixo observa-se claramente este impacto, conforme de-
tectado no ITFF na França, quando uma correlação estatística de 0,84
foi encontrada entre os dois parâmetros:
59
QUEIJOS COM OLHADURAS
45,9 220
50,8 100
51,4 60
53,1 30
60
QUEIJOS COM OLHADURAS
Tabela 09
61
QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
63
QUEIJOS COM OLHADURAS
Tabela 11
Tipo de queijo Aw Tipo de queijo Aw
Brie 0,980 Gouda 0,950
Camembert 0,982 Gruyère 0,948
Cheddar 0,950 Muenster 0,977
Cottage 0,988 Saint-Paulin 0,968
Edam O,960 Parmesão 0,917
Emmental 0,972 Sbrinz 0,940
Gorgonzola 0,970 Tilsit 0,962
64
QUEIJOS COM OLHADURAS
Tabela 12
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Altitude do local
Já foi mencionado que a
“explosão” de uma olhadura no
interior de um queijo é depen-
dente de forças físicas que en-
volvem a superação da pressão
externa por uma pressão maior
provocada pela expansão do
CO2 no interior do queijo.
Estudos feitos na Holanda
demonstraram que é neces- Altitude do local: mudança na pressão atmosférica
sário que a pressão interna
seja, no mínimo, cerca de 30% superior à pressão externa circundante
ao queijo, para que se forme um olho na massa.
Considerando esse fator, fica claro que a formação de olhaduras pode
ser facilitada quando o queijo é elaborado em locais mais altos, como
em regiões montanhosas, onde a altitude torna o ar mais rarefeito e faz
baixar a pressão atmosférica. Assim, seria necessário uma fermentação
propiônica mais intensa numa fábrica ao nível do mar, para formar
olhaduras, do que numa elaboração nos Alpes ou na região Andina,
ambas caracterizadas por altitudes médias elevadas, de três a quatro
mil metros, onde se elaboram diferentes tipos de queijos.
Não se sabe até que ponto esse fator é importante ou decisivo no
processo de formação de olhaduras. Mas coincidentemente ou não, uma
boa parte das fábricas que elaboram queijos com olhos, estão situadas
em regiões montanhosas, de altitude mais elevada.
A FERMENTAÇÃO NATURAL:
FLORA PROPIÔNICA ENDÓGENA
Propiônicas na natureza e no leite
Como a grande maioria das bactérias láticas, a flora propiônica se
encontra na natureza e especialmente nos pastos onde se alimentam
as vacas leiteiras.
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CAPÍTULO 4
FERMENTAÇÃO AROMÁTICA
DOS CITRATOS
Introdução
Numa época em que
aumenta cada vez mais o
consumo indireto de quei-
jos, seja na culinária ou em
lanches rápidos e em que as
propriedades funcionais dos
queijos tomam importância
cada vez maior ao lado de
seu próprio flavor, persis-
tem no mercado nichos de
interesse por produtos com
características tradicionais
de sabor, aroma e textura.
Queijo Edam: fermentação aromática típica
Queijos com olhaduras sem-
pre exerceram uma atração especial para os consumidores, o que lhes
agrega maior valor de mercado. Desta categoria de queijos, os mais
renomados são da linha conhecida por “suíços”, uma denominação
que se refere quase sempre ao Emmental e ao Gruyère, queijos mais
firmes, fabricados em seu país de origem como de massa dura e cozida
(umidade cerca de 38%). Na América Latina, esses queijos, um pouco
mais macios, muitas vezes são fabricados como queijos semi-duros
(umidade cerca de 41%), e com alguma semelhança ao Maasdam ho-
landês ou ao Jarlsberg noruegês, pois são feitos com uso de culturas
propiônicas. Mas em alguns países sul-americanos, como no Brasil
(Prato, Gouda, Bola), Argentina (Pategras, Gouda), Chile (Chanco),
Peru e Bolívia (Edam) e Colômbia ( Amarillo ), ainda se fabricam outros
queijos semi-duros cujas origens remontam à Dinamarca e Holanda
sendo que, em muitos casos, as fábricas se mantêm fiéis ao queijo
original, utilizando cultivos mesófilos, que fermentam citratos ( DL )
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Tabela 13
Tabela 14
Distribuição do gás mmols/kg de queijo litros/kg de queijo
CO2 necessário para a saturação 36 0,810
CO2 dissolvido na água do queijo 23 0,515
Volume de gás a completar 13 0,295
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Tabela 15
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Tabela 16
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4 - Composição da cultura
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5 - Incorporação de ar e de N2 no leite
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7 - Pressão da olhadura e
pressão atmosférica
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10 - Formato do queijo
11 - pH do queijo
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13 - Cultura LD ou L?
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Trincas externas
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Olhaduras periféricas
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Ausência de olhaduras
Queijos mofados
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Tabela 17
CARACTERÍSTICA PROPIÔNICA AROMÁTICA
Agentes principais Propionibacterium Lactococcus lactis subsp.
freudenreichii subsp. lactis biovar. diacetylactis
freudenreichii e Leuconostoc
e Propionibacterium mesenteroides subsp.
freudenreichii subsp. cremoris.
shermanii
Morfologia Bacilos mesófilos, Gram+ Cocos mesófilos, Gram+
Cultivos adjuntos Termofílicos, cocos e Mesofílicos tipo O
requeridos bacilos
Fermentação de Negativo Positivo
carboidratos
Crescimento em leite Negativo Positivo
Substrato principal Lactato de cálcio Ácido Cítrico (e lactose)
Presença de substrato Abundante Insuficiente
Pressão de Gás para Basta o CO2 que produz Precisa de N2
olhadura complementar
Principais Componentes Ácido propiônico, ácido Acetaldeído, diacetil, CO2
formados acético, CO2
Produção de gás (CO2) Intensa Pequena
Micro-núcleos Necessários Necessários
Olhaduras Muitas, grandes Poucas, pequenas
Fermentação secundária Pode ocorrer Raramente ocorre
Oxigênio Anaerobiose Microaerófilas
Resistência a sal Pequena Moderada
Sensibilidade a pH < 5,25 Alta Pequena
Potencial de Grande dependência Independente
Oxiredução Eh
Temperatura usada 20 a 22oC 16 a 18oC
para fermentaçao
Aroma Muito suave, fraco Mais acentuado
Sabor Nozes, adocicado Suave, a creme,
sem acidez
Sensibilidade a butíricos Alta, problema freqüente Moderada, média
incidência
Sensibilidade Menor, baixa incidência Moderada, maior
a coliformes incidência
Sensibilidade a nitritos Alta, sofre inibição Leve, sem inibição
Principais queijos Emmental, Maasdam Gouda, Danbo
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CAPÍTULO 5
A PASTEURIZAÇÃO DO LEITE
POR EJETOR DE VAPOR
Introdução
Em termos de formação de olhaduras em queijos, especialmente os
queijos semi-duros, o ejetor de vapor teve e ainda tem uma importância
muito grande: por seu modo de atuar, o equipamento preserva no leite a
totalidade da flora propiônica natural eventualmente presente e propicia
ao queijo condições muito favoráveis a seu crescimento.
Um olhar histórico sobre a introdução do queijo Prato no Brasil não
só revela fatos curiosos sobre suas origens nórdicas, como também
permite vislumbrar passagens fascinantes da saga audaciosa daqueles
corajosos dinamarqueses que, ao embarcarem nos antigos portos de
Copenhague ou de Hamburgo, deixaram seu país natal para cruzar
o Atlântico e se aventurarem no Brasil, onde realizariam sonhos
longamente acalentados, fincariam novas e profundas raízes, teriam
filhos e netos e escreveriam as páginas iniciais e mais marcantes da
epopéia laticinista brasileira. O legado histórico destes escandinavos
sonhadores ultrapassa facilmente seus aspectos industriais e perdu-
rará nos tempos que ainda virão, pelos
reflexos formidáveis que deixou na
arte brasileira de fazer um bom queijo.
A escolha do sul de Minas não terá
sido apenas pela abundância do leite,
mas muito provavelmente porque as
campinas verdejantes e os campos
vertentes lhes evocavam paisagens
Fábrica de queijos pioneira, por
saudosas da Dinamarca distante. volta de 1930
101
QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Nielsen, que havia iniciado uns anos antes a fabricação do queijo Prato
na fazenda Campolindo, nas cercanias de Cruzília, também no sul de
Minas. Kjaer foi então trabalhar numa fábrica em Coqueiral, perto de
Lavras, onde teria sido o primeiro a fabricar o chamado queijo Minas
Meia-Cura. Para tal, ele teria feito uso de um sistema que ele mesmo
criou para pasteurizar e bombear o leite nas pequenas fábricas, o ejetor
de vapor. Reza a lenda que Waldemar teria se inspirado no sistema de
bombeamento de água que era usado nas caldeiras dos barcos a vapor
que cruzavam o Atlântico naquela época. O sistema passou então a ser
usado nas inúmeras fábricas de queijos que foram surgindo no sul de
Minas e tornou-se, com o passar dos anos, um símbolo clássico dessas
queijarias quase artesanais que até hoje fabricam os melhores queijos
do Brasil. O sistema só é usado no Brasil, e dentro do País, quase que
exclusivamente na região sul de Minas Gerais.
O sistema
O sistema é bastante simples, pois ba-
seia-se na utilização de um tubo de Venturi,
onde o vapor em alta pressão sofre um
estrangulamento e, ao expandir-se, aspira o
leite do tanque de recepção por uma outra
tubulação adjacente, aquecendo-o e, por
força da pressão, bombeando-o para um
outro tanque intermediário (instalado a
uns 3 m de altura), onde o leite quente fica
por alguns minutos até cair por gravidade
num resfriador de cascata e daí, já resfriado
à temperatura de coagulação, deslizar por
Típica instalação de ejetor de calhas até o tanque de fabricação de queijos.
vapor, no Sul de Minas
O sistema é sempre montado numa platafor-
ma em plano superior ao da sala de fabricação de queijos, o que permite
o uso da gravidade para levar o leite até o seu interior. Sua eficiência
depende muito do bom funcionamento da caldeira, pois se houver uma
queda súbita de pressão, há o risco de “passar leite cru” em decorrência
de não se atingir a temperatura mínima usada para termizar o leite (em
torno de 66 a 67oC). Obviamente, ocorre sempre uma condensação de
vapor no leite, que pode variar bastante, em função da qualidade do va-
por (se este está mais, ou menos seco). Exige ainda grande experiência
do queijeiro, pois além de requerer uma atenta vigilância da mistura
de vapor e leite e da temperatura final, exige habilidade ao ajustar-se
os volumes do leite que desce pelo resfriador de cascata e da água que
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Considerações finais
É verdade que o sistema de ejetor de vapor, conforme é usado na
maioria das fábricas, não garante a pasteurização do leite conforme
citado nos regulamentos. Por outro lado, há que se considerar que
mesmo que o binômio tempo-temperatura de 72oC/15 segundos não
seja alcançado, na prática o efeito térmico de destruição de coliformes
e outras bactérias patogênicas é alcançado pela combinação de uma
temperatura ligeiramente mais baixa (66 a 68oC) com um tempo de
retenção consideravelmente alongado no tanque intermediário (de 2
a 4 minutos, em média). Na Tabela 18 são apresentados dados de pes-
quisas feitas na Dinamarca sobre a temperatura mínima exigida (por
16 segundos) para eliminar algumas bactérias patogênicas no leite.
Tabela 18
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
CAPÍTULO 6
O QUEIJO REINO
Introdução
O queijo Reino é um exemplo
de um produto tipicamente euro-
peu, que foi inteiramente adaptado
às condições climáticas e ao leite
do Brasil e caiu, de fato, no gosto
popular. Sua história é fascinante,
pois remonta à epopéia de cora-
josos imigrantes batavos que se Edam da Holanda: nas raízes do Reino brasileiro
aventuraram há mais de 100 anos
pelas montanhas mineiras.
A menção ao queijo Reino ou do Reino traz imediatas referências
a Minas Gerais e às mais sólidas tradições queijeiras do estado, pois
trata-se de um dos mais tradicionais queijos brasileiros e que pode
ter sido o primeiro, maturado, a ser elaborado de forma industrial no
Brasil, no final do século XIX. Na região norte da Holanda, há muitos
séculos se fabrica um queijo com o nome de Edam (cidade da região),
sob formato esférico, pintado de vermelho ou recoberto de parafina
da mesma cor, pesando entre 1,5 e 2 kg. Reza a lenda que desde os
remotos tempos coloniais vinha o Brasil importando o queijo Edam
holandês. O queijo seria trazido através do Reino de Portugal, o que
teria originado a expressão, hoje consagrada, queijo “do Reino”, assim
como denominou-se também a “pimenta do reino”, etc.
No Brasil, as marcas mais tradicionais de Reino são embaladas
em latas esféricas. Como este não é um processo utilizado no queijo
Edam holandês, persistem dúvidas sobre a origem deste processo de
embalagem. As latas são feitas de folhas de Flandres, que é justamente
uma região da Holanda. Há versões que atribuem o uso desta emba-
lagem ao fato de que em tempos remotos os queijos eram exportados
para o Brasil em porões de navio e, portanto, a embalagem na lata os
protegeria durante o longo percurso de travessia do Atlântico. Outras
versões sugerem que a lata teria sido criada em Palmyra (hoje Santos
Dumont, MG) o berço do queijo Reino brasileiro, para também faci-
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Características
Apesar de ser oriundo do queijo Edam, o queijo Reino guarda hoje
poucas semelhanças com seu original holandês. Na Holanda, o Edam tra-
dicional consiste num queijo de formato esférico, parafinado ou pintado
em cor avermelhada, com peso variando entre 1,5 e 2,0 Kg, cuja massa
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CAPÍTULO 7
OUTRAS FERMENTAÇÕES
GASÓGENAS
Infelizmente a produção de gás em queijos não é um privilégio de bac-
térias aromáticas ou da flora propiônica. Outros microrganismos podem
produzir gases como o CO2 e o H2 de forma repentina e descontrolada
nos queijos, provocando graves alterações de sabor, aroma e textura.
Características
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Prevenção e combate
O combate à contaminação dos queijos por coliformes passa por uma
série de medidas, todas elas podendo ser aplicadas dentro da fábrica:
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
FERMENTAÇÃO BUTÍRICA
POR ESPORULADOS
Uma comparação entre as duas fermentações:
propiônica e butírica
O queijo Emmental é muito afetado pela fermentação butíri-
ca, o que o torna um dos queijos de mais difícil elaboração. Na
verdade, as características do Emmental e de seu processo de
maturação favorecem tanto o Propionibacterium freudenreichii
subsp. freudenreichii como o Clostridium tyrobutyricum, como se
deduz dos dados apresentados na Tabela 19.
Tabela 19
Características Propionibacterium freudenreichii Clostridium tyrobutyricum
subsp. freudenreichii
Prefere pH > 5,3 sim sim
Pouco tolerante ao sal sim sim
Cresce bem em anaerobiose sim sim
Inibido por nitrato/nitrito sim sim
Fermenta o lactato sim sim
“Câmara quente” favorece sim sim
crescimento
Forte produção de gás sim sim
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O estudo mostra ainda que quanto mais cedo o queijo for trans-
portado da prensa para a salmoura, menor a chance de se apresentar
o problema da fermentação butírica. Nestas condições, o rápido res-
friamento do queijo, aliado à precoce entrada de sal na massa, parece
exercer um efeito negativo sobre os esporos butíricos. Para a germi-
nação e crescimento, os bacilos butíricos requerem temperatura igual
ou superior a 9oC.
- Externamente, abaulados.
- Tocados com os dedos, som oco, típico de gás internamente.
- Ao corte, a textura pode se apresentar com aspecto variado:
1 - Crateras grandes, ao lado de trincas.
2 - Olhaduras irregulares, sem forma definida, rugosas ou não.
3 - Às vezes, olhaduras parecidas com as de bactérias propiônicas
(formação de C02).
- Odor típico, acentuado, à râncido, desagradável.
- Sabor forte, meio râncido, mas que pode vir mesclado com algo
de sabor adocicado também.
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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Tabela 20
PARÂMETRO Unidade 1 dia 20 dias 3 meses 6 meses 1 ano
Ácido lático L(+) mmol/kg 63 67 33 31 25
Ácido lático D(-) mmol/kg 64 66 29 26 22
Ácido acético mmol/kg - 20 46 48,4 48
Ácido propiônico mmol/kg - 0,6 55,4 60 63
Ácido butírico mmol/kg - 0,2 0,8 1,1 1,7
Nitrogênio solúvel mmol/kg - 218 610 693 901
em água
Nitrogênio solúvel mmol/kg - 90 386 469 683
em TCA*
Atividade de água - - - 0,988 0,973 0,972
(Aw)
*TCA = ácido tricloroacético 12%, que determina o NPN-Nitrogênio não-protéico
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Tabela 21
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Tabela 22
Componente Sem fermentação butírica Com fermentação butírica
Ácido butírico (mg/kg) 118 444
Ácido propiônico (mg/kg) 3.404 2.050
Ácido acético (mmol/kg) 52,3 38,4
Ácido succínico (mg/kg) 900 633
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Mas quando a contagem era 100 vezes menor, ou seja, 300 esporos
por litro, o queijo levava até 23 dias para estufar. Deve ser enfatizado
que nos experimentos mencionados, realizados na Dinamarca, esporos
de Clostridium tyrobutyricum foram adicionados em grande quantidade
ao leite, com o intuito de provocar o estufamento e testar a eficácia do
teor de nitrato, pH do queijo e contagem inicial de esporos.
Nitratos e nitrosaminas
Com relação à suposta formação de nitrosaminas (uma substância
carcinogênica) em queijos, devido ao uso de nitratos, inúmeros estudos
feitos notadamente na Holanda (com o Gouda e queijos dinamarqueses,
similares ao Prato) indicam que as quantidades são extremamente
baixas, quando detectáveis: menos de 0,2 micrograma/kg de queijo
(0,2 ppb). Estudos feitos na Alemanha (um país de alto consumo de
queijos, locais ou importados) demonstraram que a ingestão de quei-
jos contribui somente com 0,7% do total de nitrato ingerido por um
indivíduo qualquer, em um dia.
A degerminação do leite
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QUEIJOS COM OLHADURAS
O uso de nisina
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QUEIJOS COM OLHADURAS
O uso de lisozima
A lisozima (muramidase) é uma enzima descober ta por
Alexander Flemming, que a encontrou na clara de ovo. Está
presente em outros elementos, como tecidos de animais e vegetais
e no próprio leite humano, onde seu teor é cerca de 300 vezes
maior do que no leite bovino.
Recentemente tem sido usada com sucesso para combater a
fermentação butírica, pois é capaz de destruir a flora anaeróbica
esporulada sem afetar as culturas propiônicas e láticas usadas na
fabricação. Apesar de seu considerável custo, este produto tem
sido usado, por exemplo, na fabricação do Grana na Itália e do
Emmental na França, que são dois queijos de maturação longa e
muito sensíveis à fermentação butírica. A lisozima está presente na
clara do ovo (de 0,4 a 0,5%). Cerca de 90% da lisozima adicionada
ao leite, ficam retidas na coalhada, onde é muito estável. Calcula-se
que 500 unidades de lisozima por ml de leite (cerca de 2,5 g/100
litros de leite, usando-se o produto comercial) sejam capazes de
inibir esporos do gênero Clostridia sem afetar o crescimento do
fermento lático.Usando-se 2,5 g/100 l de leite, o resíduo no queijo
normalmente não ultrapassa a 300 ppm (ou 300 mg/kg de queijo).
Na França, uma boa parte do queijo Emmental é produzida regu-
larmente com o uso de lisozima. Recomenda-se que, para o uso
conjugado com fermentos láticos termofílicos, o teor de lisozima
no queijo não ultrapasse a 50 ppm. Algumas cepas de lactobacilos
apresentam maior sensibilidade à lisozima.
A lisozima é capaz de romper a parede celular de boa parte das
células gram+, dentre elas os esporulados butíricos. As células vege-
tativas são as que apresentam maior sensibilidade. O uso adequado
da lisozima pode reduzir a contagem de Clostridium tyrobutyricum no
leite em cerca de dois ciclos logarítmicos.
A lisozima parece ser mais eficiente do que o nitrato de sódio e
menos dependente de outros fatores. Somente 10% da lisozima adicio-
nada ao leite se perde no soro, enquanto que o nitrato acompanha a
fase aqüosa no corte da coalhada e se perde em sua grande maioria no
134
QUEIJOS COM OLHADURAS
A microfiltração do leite
Um outro processo que tem sido recomendado para combater a
presença de bactérias contaminantes indesejáveis no queijo é a micro-
filtração do leite. O processo se baseia na separação de esporos através
do uso de membranas cujo tamanho dos poros (entre 0,8 e 1,4 micron
de diâmetro) permite a passagem de virtualmente todos os componentes
do leite desnatado (a gordura é previamente removida por centrifugação
tradicional), com exceção das bactérias. O tratamento é feito a 55oC. O
retentado (parte retida na membrana) pode chegar a 10% do volume
total de leite microfiltrado e é misturado com o creme e, em seguida,
esterilizado a 130oC por 4 segundos, para posterior mistura com o per-
meado (leite desnatado microfiltrado). O conjunto é então pasteurizado
(72oC/15s) e pode ser utilizado na fabricação de queijos. De acordo com
os fabricantes do equipamento, até 99,5% dos esporos podem ser remo-
vidos do leite através deste processo. Estudos feitos na Suécia indicam
que é possível obter queijos de ótima qualidade, ainda que o processo de
maturação seja ligeiramente mais lento. O custo deste processo pode ser
mais elevado se comparado à degerminação, a se considerar os custos
de manutenção e de limpeza das membranas.
135
QUEIJOS COM OLHADURAS
136
QUEIJOS COM OLHADURAS
Recentemente, em estu-
dos feitos na Nova Zelândia
e na Holanda, comprovou-se
que a pré-maturação do queijo
a frio por algumas semanas
reduz sensivelmente o pro-
blema de estufamento tardio.
Os queijos seriam mantidos
por até seis semanas a 7oC
e depois transferidos para
a câmara de cura normal a
15oC. Há duas razões para
tal: primeiro, os esporos do
Clostridium tyrobutyricum
não são capazes de germinar
a 7oC ou menos, requerendo
9oC ou mais para se desen-
volver, e segundo porque,
neste período, o sal poderia
Butíricos podem ser combatidos mantendo-se queijos sob
frio por um período
se difundir para o centro do
queijo, aumentando a prote-
ção nesta região normalmente mais susceptível de apresentar o problema. Na
Holanda, queijos Gouda de 10 kg foram fabricados com leite propositadamente
contaminado com esporos de Clostridium tyrobutyricum e após 12 semanas
de cura, aqueles maturados inicialmente por quatro semanas a 7oC e depois
oito semanas a 15oC só apresentaram 28 mg de ácido butírico/kg de queijo e
nenhum estufamento, enquanto que aqueles maturados diretamente a 15oC
apresentaram estufamento e cerca de 362 mg de ácido butírico/kg de queijo.
Não se pode afirmar que estes resultados sejam aplicáveis inteiramente ao
queijo Prato (queijo menor e maturado sob vácuo, a 10-12oC ), uma vez que
o Gouda é maturado sem embalagem e se desidrata parcialmente durante
a cura, abaixando sua Aw (atividade de água), mas o tema é merecedor de
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Peróxido de Hidrogênio
Características
Este tipo de fermentação pode se manifestar em queijos semi-duros em-
balados em bolsas plásticas impermeáveis, como o queijo Prato e similares,
ou em queijos como o Minas Padrão embalados pelo mesmo sistema.
O problema se apresenta como uma nítida produção de gás entre o queijo
e a sua embalagem. A bolsa plástica estufa, com intensidade variável, mas o
queijo nem sempre apresenta produção interna de gás. Quando observado
140
QUEIJOS COM OLHADURAS
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Prevenção e combate
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QUEIJOS COM OLHADURAS
CAPÍTULO 8
Fermentação butírica
O tema já foi amplamente discutido anteriormente e é reenfatizado aqui.
É provavelmente o defeito mais sério e mais comum observado na fabricação
do Emmental em países tropicais. É causado principalmente pela presença
de Clostridium tyrobutyricum, mas pode ser causado também por Clostridium
butyricum ou Clostridium sporogenes
(que causa putrefação localizada).
A gravidade do problema reside
no fato de que C. tyrobutyricum é
termo-resistente (esporulado resiste
à temperatura de pasteurização do
leite) e encontra no queijo Emmental
excelentes condições para cresci-
mento, tais como:
143
QUEIJOS COM OLHADURAS
Trincas ou rachaduras
Este defeito se caracteriza pelo aparecimento de diversas trincas
ou rachaduras na massa do queijo, geralmente distribuídas horizontal-
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QUEIJOS COM OLHADURAS
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Deterioração interna
O defeito é caracterizado pelo apa-
recimento de zonas esbranquiçadas e
amolecidas no interior da massa, que
apresentam odor e sabor desagradáveis.
O defeito é causado pela presença de Queijo com putrefação interna:
Clostridium sporogenes, que é esporulado e pontos esbranquiçados
anaeróbico. O crescimento deste germe é
facilitado quando o pH do queijo se apresenta mais elevado. O excesso
de aquecimento é uma causa freqüente deste problema: quando ocorre
aglomeração de massa nos cantos do tanque, estes aglomerados são
superaquecidos, destruindo a flora termofílica e ativando os esporos,
o que facilitaria sua germinação no queijo mais tarde, nestas áreas de
pH mais alto.
Este é um defeito de fácil reconhecimento, sobretudo pelo forte
odor de massa putrefata, de evidente coloração esbranquiçada se
destacando na massa.
Quando o problema se apresenta na casca do queijo, isto é, em ae-
robiose, pesquisas recentes indicam que o problema pode ser causado
por dois microrganismos, Acinetobacter calcoaceticus e Pseudomonas
cepacia, aeróbicos estritos, ambos destruídos pela pasteurização. Estes
microrganismos produzem um intensa putrefação superficial, seguida
de forte odor à substância podre. Um dos componentes encontrados
foi o dimetil disulfeto. Trata-se
de uma contaminação ambiental,
originária da salmoura (crescem
em até 7% de sal) ou de tábuas
muito úmidas das câmaras de
maturação. O problema é mais
típico em queijo Emmental cuja
casca não foi secada adequada-
mente, ou em partes onde o teor
de sal é mais baixo. Se o queijo
é embalado a vácuo, o problema
não se manifesta. Putrefação causada por butíricos: mau odor
Má distribuição de olhaduras
A característica deste defeito é formação das olhaduras com maior
concentração em um lado do queijo do que no outro. A causa deste
defeito parece estar relacionada com a formação de um gradiente
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Olhaduras deformadas
As olhaduras do queijo devem se apresentar arredondadas. Even-
tualmente, alguns queijos poderão apresentar olhaduras de formato
completamente irregular, como por exemplo:
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Defeitos de coloração
Diversos defeitos de coloração
podem afetar os queijos de estilo
suíço, dentre os quais se destacam
os seguintes:
1 - Bicoloração
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4 - Pontos brancos
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1 - Fermentação propiônica
muito rápida: pH alto demais,
ou queijo com teor de sal muito
baixo.
2 - Excesso de bactérias
propiônicas no leite: por adição
exagerada de cultivo propiô-
nico ou, com mais freqüência,
pela alta presença eventual de
microrganismos propiônicos
naturais no leite cru.
Olhaduras que se formam umas dentro das outras
2 - Queijo com teor de sal um pouco mais elevado: ainda que o queijo
não se apresente necessariamente salgado, um teor de sal mais alto (por
exemplo, acima de 1,0-1,2%) já seria suficiente para “mascarar” o sabor li-
geiramente adocicado típico causado pela presença do ácido propiônico.
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Olhaduras mecânicas
Olhos mecânicos em quei-
jos geralmente se devem a
problemas de prensagem
deficiente ou de incorporação
(oclusão) de ar na massa,
durante a pré-prensagem. A
incorporação de ar pode ser
causada pela ausência de soro
cobrindo a massa durante a
pré-prensagem ou a agitação
excessiva dos grãos expostos
Queijo com aberturas irregulares, inclusive mecânicas
ao ar. O resfriamento rápido
da massa durante a prensagem final também pode impedir que os
grãos se soldem bem.
A prensagem rápida, com as pressões corretas, evita o resfriamento da
massa e facilita a expulsão do soro intersticial, permitindo que os grãos
se soldem, formando uma massa compacta e sem olhos mecânicos.
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QUEIJOS COM OLHADURAS
CAPÍTULO 9
TECNOLOGIA BÁSICA DE
ELABORAÇÃO DE ALGUNS
QUEIJOS COM OLHOS
Introdução
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Parâmetro Composição
Umidade 35-37%
Sólidos Totais 63-65%
Gordura 28-31 %
Gordura no Extrato Seco 43-49%
Sal 0,6 – 0,8 %
pH 5,2-5,4
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Queijo Reino
Introdução
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QUEIJOS COM OLHADURAS
Parâmetro Composição
Umidade 36-40%
Sólidos Totais 60-64%
Gordura 25-30 %
Gordura no Extrato Seco 40-51%
Sal 1,5-1,8%
pH 5,1-5,3
- Leite: trabalha-se com leite com teor de gordura entre 3,2 e 3,4 %,
buscando um queijo com cerca de 45% de gordura no extrato seco.
Entretanto, muitas fábricas ainda usam leite integral, cujo teor de
gordura pode chegar a 4,0%. Naturalmente, a consistência do queijo
e seu sabor são afetados por variações no seu teor de gordura, as-
sim como a intensidade da eventual separação de gordura na lata,
durante a comercialização.
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Queijo Estepe
Introdução
Parâmetro Composição
Umidade 40-43%
Sólidos Totais 57-60%
Gordura 28-30%
Gordura no Extrato Seco 47-52%
Cloreto de Sodio 1,0-1,2%
pH 5,25-5,40
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QUEIJOS COM OLHADURAS
- Leite pasteurizado
(72 oC/15 s) com cerca de
3,6 % de gordura.
- Temperatura de coagu-
lação: 32oC
- Cloreto de cálcio: 10 a 20g
por 100 litros de leite.
- Nitrato de sódio ou potás-
sio: não mais do que 10g por
100 litros, se necessário.
- Corante vegetal (annato
ou urucum): de 5 a 10 ml/
100 litros
- Cultivos láticos: há varia-
ções na escolha dos fermentos.
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EPÍLOGO
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4acapa.pdf 2/6/2007 11:00:37
O autor
CY
por 2 anos como consultor informal da FAO para América Latina.
CMY
Além de professor e pesquisador do Instituto de Laticínios “Candido
K
Tostes” por muitos anos, exerceu também as mesmas funções na
Universidade Federal de Viçosa, por dois anos, onde orientou diver-
sos estudantes de pós-graduação, na área de laticínios. No início
dos anos 90, transferiu-se para a iniciativa privada, sempre atuando
na área de tecnologia de queijos. Publicou mais de uma centena de
artigos técnicos e científicos em revistas especializadas do Brasil e
de vários outros países. É autor de oito livros em que trata da ciên-
cia e tecnologia dos queijos, um deles em espanhol e dedicado aos
queijeiros latino-americanos. Hoje, Múcio trabalha na Danisco Brasil
Ltda, em Cotia, na grande São Paulo, onde exerce a função de
Gerente de Apoio Técnico-Queijos para a América Latina, viajando
pelo continente, o que o mantém em contato permanente com os
mais experientes queijeiros das Américas.