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FICHAMENTO

REFERÊNCIA: BERRIOS, G. E. Classificações em psiquiatria: uma história


conceitual. Psiquiatria, História e Arte, v. 35, n. 3, p. 113 – 127, Mar 2008. ISSN
1806-938X. Disponível em: https: //www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-
60832008000300005&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 08/02/2021.

RESUMO

Berrios (2008) evidencia em seu estudo que as análises históricas sobre


classificações psiquiátricas foram até o presente momento escritas sob um viés
preconcebido. Tais análises possuem duas características: a primeira é que a
atitude de classificar faz parte do homem, ou seja, é inerente à mente humana;
já a segunda, evidencia que os ‘fenômenos’ psiquiátricos são objetos naturais
estáveis.
O autor apresentou diferentes concepções de categorias ao longo do
estudo, desde os séculos XVII a XX, evidenciando características comuns, como
o uso social claro para definir e o agrupamento de características equivalentes
em cada objeto. Tal síntese das concepções retratou a evolução das
classificações psiquiátricas sob o ponto de vista da história conceitual, traçada
como uma investigação teórica e empírica dos princípios, das técnicas e dos
contextos nos quais os alienistas conduziram sua tarefa classificatória.
Ainda sobre isto, declara-se que todas as classificações psiquiátricas
são frutos culturais e procura-se responder à questão da possibilidade de os
modelos classificatórios oriundos das ciências naturais serem aplicados a
construtos humanos (tais como doença mental), por definição baseados em
‘semânticas personalizadas’.
Em meados da pesquisa, uma análise do debate francês sobre
classificações, ocorrido em 1860-1861 foi narrada e analisada, na qual
representou:

“um microcosmo onde todas as questões relevantes envolvendo as


dificuldades conceituais e empíricas da área foram apresentadas.
Desruelles et al. viram isso como reflexo do choque entre os
tradicionalistas (defensores do conceito de monomania de Esquirol)
e os inovadores (aqueles que seguiram Morel)” (DESRUELLES, et
al, 1934, p. 648, apud BEIROS, 2008, p. 122).
O estudo conclui que a medicina não é uma ação contemplativa, porém
uma ação modificadora. Dessa forma, as classificações têm valor apenas na
medida em que possam produzir novas informações sobre os objetos
classificados. Outro aspecto importante é que, caso as classificações não
funcionarem bem (ou seja, de se comportarem como meros instrumentos
descritivos), não significa que devam ser descartadas. O trabalho conceitual
precisa continuar identificando ‘invariantes’, elementos estáveis que ancorem as
classificações à ‘natureza’.
Éu
COMENTÁRIOS

No primeiro momento, a leitura foi densa e desafiadora, no entanto as


discussões realizadas posteriormente com o professor e os colegas de turma
proporcionaram uma melhor compreensão.
De forma sucinta, foi possível identificar as lacunas existentes na
literatura, e por esse motivo, é fundamental realizar um trabalho minucioso antes
de apresentar um quadro coerente. Apesar dessa ressalva de que há razões
conceituais de peso na origem dos motivos pelos quais as classificações
psiquiátricas não estejam funcionando, não há motivo para acreditar que a ação
de classificar na psiquiatria seja um trabalho inútil, pois a classificação é uma
ferramenta importante no que tange as psicopatologias.
Isto posto, na medida em que os transtornos mentais constituem mais
do que epifenômenos comportamentais abrangendo alterações moleculares
estáveis, as invariantes ‘neurobiológicas’ podem não funcionar adequadamente.
Assim, Berrios (2008) exibe que a estabilidade depende de contingências
temporais (conjunturas), indicando que é improvável que classificações
baseadas em genes venham a ser consideradas como classificação de
transtornos mentais, uma vez que elas teriam baixo poder preditivo pela falta de
informação sobre os códigos definidores de doença mental. Em contrapartida,
as invariantes ‘sociais’ e ‘psicológicas’ têm seus próprios problemas.
Percebe-se a importância dessas reflexões para se questionar as
classificações e entender os desafios para se realizar um tratamento efetivo no
que diz respeito às doenças da mente, uma vez que não se conhece a etiologia
das psicopatologias, apenas as categorias agrupadas pelos sintomas.
IDEAÇÃO

Ao perceber que a classificação possui um uso social, é possível refletir


os interesses para ditar o que seja doença, principalmente no que tange
interesses econômicos. Ou seja, agrupar um conjunto de comportamento e
defini-los por doença favorece alguns mercados, como a indústria farmacêutica,
medicina e também a própria psicologia.
Apesar desse contexto, classificar não se resume apenas a uma questão
cientifica, mas se constitui por ser uma ferramenta útil, já que agrupa critérios de
organização, descreve os objetos com a finalidade de facilitar a busca em uma
base de dados. Tal agrupamento de informações pode corresponder a uma etapa
do processo de diagnóstico, uma competência necessária ao profissional de
psicologia.
As categorias das psicopatologias não são caracterizadas como
naturais, desta forma, apresenta-se a necessidade de agrupa-las pelos
sintomas, assim, é possível chegar a um tratamento respaldado no diagnostico,
o qual é orientado com base nos sintomas.
Deste modo, estudar e refletir sobre todos esses pontos evidencia a
importância e cautela do trabalho desenvolvido pelo profissional que promove
saúde e bem-estar, ressaltando a relevância de uma atuação baseada em
evidências, que considere aspectos físicos, mentais e sociais no tratamento de
uma psicopatologia, não deixando de considerar uma ação multidisciplinar,
conforme estudado na disciplina de Avaliação de Fenômenos e Processos
Psicológicos. Para isso, ter uma postura empática, respeitosa e competente são
fatores importantes para realizar uma ação assertiva diante dos desafios no
cenário das psicopatologias, visando diminuir os sintomas que causam
sofrimento e prejuízo social.

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