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TÉCNICAS EM PESQUISA

E CONSTRUÇÃO DE
TEXTOS CIENTÍFICOS

Núcleo Comum

Núcleo de Pós-Graduação
Sumário
MÓDULO 1 - Introdução à Metodologia Científica

1.1 Conhecimento: o desejo do universo


1.2 Os tipos de Conhecimento
1.2.1 Conhecimento Popular/Empírico
1.2.2 Conhecimento Religioso/Teológico
1.2.3 Conhecimento Filosófico
1.2.4 Conhecimento Científico
1.2.5 Conhecimento Estético/Artístico
1.2.6 Conhecimento Técnico.
1.3 O Conhecimento Científico e sua correlação com o conhecimento
popular
1.4 Considerações finais

MÓDULO 2 - Metodologias de pesquisa científica

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2.1 Conceito de Método
2.2 Principais Métodos
2.2.1 Método Indutivo
2.2.2 Método Dedutivo
2.2.3 Método Hipotético-Dedutivo
2.2.4 Método Dialético
2.2.5 Métodos específicos das Ciências Sociais

Módulo 3 - A organização dos Estudos na Universidade

3.1 A Universidade e seus instrumentos de trabalho


3.2 A documentação como método de estudo pessoal
3.2.1 A documentação temática: o encontro com o pano de fundo
3.2.2 A documentação bibliográfica: o encontro com o arquivo
3.2.3 A documentação geral: o encontro com a história
3.3 Diretrizes para leitura, estudo, análise e interpretação de textos
3.3.1 Análise textual
3.3.2 Análise temática
3.3.3 Análise interpretativa
3.3.4 Problematização
3.3.5 Síntese Pessoal
3.4 Considerações finais

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MÓDULO 4 - A Pesquisa Científica
4.1 Indicações relevantes sobre a produção do texto
4.1.1Elaboração de monografia: recomendações
4.1.2 Elaboração de artigos científicos: recomendações
4.1.3 Tipos e exemplos de citação
4.1.4 Recomendações essenciais para evitar o plágio
4.2.3 Quadro-síntese: formas de citação dos autores no texto de
pesquisa
4.2.4 Notas de rodapé

MÓDULO 5 – Redação e apresentação do trabalho científico


6.1 Monografia
6.1.2 Elementos pré-textuais
a. Capa
b. Lombada
c. Folha de rosto

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d. Ficha catalográfica
e. Errata
f. Dedicatória
g. Agradecimentos
h. Epígrafe
i. Resumo em língua estrangeira
k. Lista de ilustrações
l. Lista de tabelas
m. Sumário
6.1.3 Elementos textuais
a. Introdução
b. Revisão da Literatura
c. Metodologia
d. Resultados
e. Conclusão
6.1.4 Elementos pós-textuais
a. Referências
b. Glossário
c. Apêndices
d. Anexos
6.2 Artigo Científico
6.2.1 A linguagem do artigo científico

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6.2.2 Estrutura:
a. Introdução
b. Resumo
c. Resumo em língua estrangeira
d. Palavras-chave
e. Desenvolvimento
f. Conclusão
g. Referências Bibliográficas

MÓDULO 6 - Estrutura do artigo científico

6.1 Linguagem do artigo


6.1.1 Introdução

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6.1.2 Resumo
6.1.2 Resumo em língua estrangeira
6.1.3 Palavras-chave
6.2 ARTIGO: corpo
6.2.1 Introdução
6.2.3 Desenvolvimento
6.2.4 Considerações Finais

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MÓDULO 1 – Introdução à Metodologia Científica

Patrícia Helena Ferreira


Disciplina: Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos
Científicos.
Módulo 1 – Introdução à Metodologia Científica -

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Faculdade Campos Elíseos (FCE) – São Paulo – 2016.
Guia de Estudos – Módulo 1 – Introdução à Metodologia
Científica.

1. Conhecimento 2. Ciência 3. Metodologia


Orgs.: Adriana Alves Farias e
Cláudia Regina Esteves

Faculdade Campos Elíseos

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Conversa Inicial

Caro(a) aluno(a),

Bem-vindo à disciplina Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos


Científicos. No primeiro módulo, Introdução à Metodologia Científica,
discutiremos sobre o significado de conhecimento e suas diversas vertentes.
Para tanto, no primeiro momento estudaremos as compreensões sobre o termo
conhecimento e a necessidade de sistematização de uma disciplina que estuda

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as relações do homem com o conhecimento: a epistemologia. Na segunda
parte do módulo destacaremos os principais tipos de conhecimento, a saber:
conhecimento popular/empírico, conhecimento religioso/teológico,
conhecimento filosófico; conhecimento científico, conhecimento
estético/artístico e conhecimento técnico. Por fim, faremos uma breve
correlação entre conhecimento empírico e conhecimento científico e
terminaremos com algumas considerações sobre o “uso” da ciência.
Agora com a descrição de toda a trajetória, podemos iniciar a nossa jornada de
estudos.

Ótimo aprendizado!

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Desde a aurora da civilização as pessoas não se dão por satisfeitas
com a noção de que os eventos são desconectados e inexplicáveis.
Sempre ansiamos por compreender a ordem subjacente do mundo. Hoje,
ainda almejamos saber por que estamos aqui e de onde viemos. O desejo
profundo da humanidade pelo conhecimento é justificativo suficiente para
nossa busca contínua.
Stephen Hawking

1.1 Conhecimento: o desejo do universo

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Vivemos em um mundo onde “conhecimento” parece ser uma das
palavras mais utilizadas e valorizadas atualmente. No excerto acima, o físico
Stephen Hawkingi assevera que, desde o início do que se pode chamar de
espécie humana, os homens têm o desejo de conhecer a ordem do mundo e
também sobre si mesmos.

Podemos então ir mais além e fazermo-nos mais algumas perguntas:

- O que significa conhecer?

- A capacidade de conhecer é inerente à espécie humana?

- O que nos diferencia dos diversos seres vivos que habitam nosso
planeta?

- Como conhecemos?

- De que forma o conhecimento faz parte de nossas vidas?

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Para aprofundarmos um pouco mais essa discussão, necessitamos buscar
mais elementos que possam contribuir sobre o entendimento que temos
atualmente sobre a própria ideia de conhecimento.

A palavra “conhecimento” tem sua origem no latim. Ela provém do


vocábulo COGNOSCERE, traduzido como “conhecer” ou “saber”. Este termo
latino é composto por:

COM - “junto” + GNOSCERE - “obter conhecimento”

Conhecer implica uma relação entre aquele que será o sujeito que
conhece e o objeto a ser conhecido. Segundo Aranha e Martins (2002, p. 21),
“a apropriação intelectual do objeto supõe que haja regularidade nos
acontecimentos do mundo; caso contrário, a consciência cognoscível nunca

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poderia superar o caos”.

Todos os dias “conhecemos”, isto é, entramos em contato/relação com


os acontecimentos e coisas. Dessa forma, nos apropriamos desse
conhecimento em prol de novos conhecimentos, mesmo quando não temos
consciência de tal fato. Por exemplo, ao conhecermos uma nova “palavra”
mobilizaremos nossas funções cognitivas para que essa seja aplicada em
diversas situações da nossa vida cotidiana, desde as mais pessoais até as que
estão relacionadas à atuação na sociedade, como profissionalmente ou em um
contexto acadêmico. Podemos concluir então que conhecer é construir
significados sobre algo que nos é apresentado.

De forma geral, entende-se que o conhecimento pode tanto designar o


ato de conhecer, como abordado acima (relação entre sujeito cognoscente e
objeto), quanto referir-se ao produto, a sistematização, o conhecimento
acumulado pelo homem historicamente. O conhecimento, nesta última
acepção, deixa de ser uma questão do ponto de vista individual para ser
tratado como um patrimônio da humanidade. Em nossa disciplina abordaremos
mais a concepção de conhecimento a partir da segunda compreensão, ou seja,
conhecimento como construção histórica.

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Embora tratemos do conhecimento como tal conjunto de saberes
acumulados, não podemos deixar de considerar que a apreensão que fazemos
mundo não é sempre tematizada, sendo inicialmente pré-reflexiva, mais no
nível da intuição e da experiência (ARANHA; MARTINS, 2002).

Pelo esforço constante do questionamento podemos sair desse grau de


apreensão do mundo para nos aproximarmos de um pensamento cada vez
mais complexo, que questiona as suas próprias bases.

Desta forma, conforme as autoras supracitadas, podemos sintetizar que


nossa relação de apreensão com o real (conhecimento) pode se dar de duas
formas:

• Pela intuição – forma de conhecimento imediato, feito sem intermediários. A


intuição é uma visão súbita, o ponto de partida do conhecimento e está ligada à

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questão da inventividade. Pode ser classificada em:
• Intuição sensível – ligada ao conhecimento imediato dos órgãos do sentido. Por
exemplo, as sensações de frio e de calor.
• Intuição inventiva – é da ordem do súbito. Está ligada aos sábios, cientistas e
artistas, além de também transitar na vida cotidiana.
• Intuição intelectual – representa o esforço para captar a essência do objeto.
Como exemplo temos o cogito, de Descartes.
• Pelo Conhecimento Discursivo – O conhecimento discursivo se dá por meio
de conceitos, operando por etapas. Nesse modo de apreensão do real a razão
(faculdade de julgar) necessita fazer abstrações (a abstração é o processo de
pensamento em que as ideias são distanciadas dos objetos, usando a
estratégia de simplificação). Podemos exemplificar: quando abstraímos a ideia
de “casa”, conseguimos isolar e simplificá-la a tal ponto que a representação
intelectual da casa independe dos diversos tipos de habitação.
Aranha e Martins (2002), por fim, discorrem que que tanto a intuição
quanto o conhecimento discursivo são importantes, pois, o conhecimento
necessita transitar entre essas duas formas de apreensão do real, entre o
vivido e o teorizado, entre o concreto e o abstrato.

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Epistemologia: a teoria do conhecimento

Chamamos de epistemologia ou gnosiologia o ramo da filosofia que


se ocupa do conhecimento humano, especialmente nas relações que se
estabelecem entre o sujeito e o objeto do conhecimento, pelo que também é
designada de “teoria do conhecimento”. Em sentido mais restrito, a
epistemologia refere-se às condições sob as quais se pode produzir o
conhecimento científico e dos modos para alcançá-lo, avaliando a
consistência lógica de teorias. Nesse caso, identifica-se com a filosofia da
ciência.

A epistemologia surge como disciplina autônoma na Idade Moderna,


quando os filósofos começam a se preocupar sistematicamente com as
questões de origem, essência e certeza do conhecimento humano e até hoje
continua a estudar os fundamentos e as implicações ético-políticas do mesmo.

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Sintese

A palavra conhecimento provém do vocábulo COGNOSCERE, traduzido como


“conhecer” ou “saber”. O termo conhecimento possui várias acepções, podendo
ser destacadas:

- ato de conhecer - relação entre o sujeito cognoscente e objeto);

- o conjunto de saberes acumulados pelo homem historicamente.

A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do


conhecimento. Também é conhecida como teoria do conhecimento e relaciona-
se com a metafísica, a lógica e a filosofia da ciência

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1.2 Os tipos de conhecimento

Embora a disciplina de metodologia científica esteja preocupada com o


conhecimento científico, não podemos deixar de considerar que este não é o
único existente. Ao longo de toda sua existência o homem vem
acumulando conhecimentos desde o seu nascimento, conhecimentos
vitais e necessários para a sua sobrevivência.

Podemos distinguir, a partir dos principais livros e compêndios sobre


metodologia científica, quatro tipos principais de conhecimento: o
conhecimento popular ou senso comum, o conhecimento teológico/religioso, o

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conhecimento filosófico e o conhecimento científico. Acrescentaríamos a esta
lista o conhecimento técnico e o conhecimento estético/artístico. Cada um
deles presenta características próprias e específicas, mas não podemos
referenciar uma ordem de importância entre eles. Não existe um conhecimento
que seja melhor do que outro; cada um deles, dentro de seu escopo, possui o
mesmo objetivo: responder às nossas dúvidas atuais e criar novas dúvidas.
Apesar do conhecimento científico ser o mais sistematizado, podemos afirmar
que a ciência não é o único caminho que leva à verdade.

A seguir, analisaremos cada um deles.

1.2.1 Conhecimento Popular/Empírico

Leia o texto a seguir com atenção.

O excerto abaixo demonstra que a dona de casa que necessita fazer


compras para a família realizou várias operações mentais para saber adequar
a quantia de dinheiro que possuía com o preço das mercadorias, os gostos de
cada membro e até os benefícios de cada alimento.

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Nesse trecho temos um exemplo concreto de conhecimentos que são
ativados/mobilizados no dia-a-dia por todos nós, sem que muitas vezes o
percebamos.

Ela é uma dona de casa. Pega o dinheiro e vai à feira. Não se formou em coisa
alguma. Uma pessoa comum, como milhares de outras. Vamos pensar como ela
funciona, lá na feira, de barraca em barraca. Seu senso comum trabalha com
problemas econômicos: como adequar os recursos que dispõe, em dinheiro, às
necessidades de sua família, em comida. E para isso ela tem de processar uma série
de informações. Os alimentos oferecidos são classificados em indispensáveis,
desejáveis e supérfluos. Os preços são comparados. A estação dos produtos é
verificada: produtos fora de estação são mais caros. Seu senso econômico, por sua
vez, está acoplado às outras ciências. Ciências humanas, por exemplo. Ela sabe que

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os alimentos não são apenas alimentos. Sem nunca ter lido Veblen ou Lévi-Strauss,
ela sabe do valor simbólico dos alimentos. Uma refeição é uma dádiva da dona de
casa, um presente. Com a refeição ela diz algo. Oferecer chouriço para um marido de
religião adventista, ou feijoada para uma sogra que tem úlceras, é romper claramente
com uma política de coexistência pacífica. A escolha dos alimentos, aqui, não está
regulada apenas por fatores econômicos, mas por fatores simbólicos, sociais e
políticos. Além disso, a economia e a política devem dar lugar ao estético: o gostoso,
o cheiroso, o bonito. E para o dietético. Assim, ela ajunta o bom para comprar, o bom
para dar, com o bom para ver, cheirar e comer, com o bom para viver.

ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras.


19. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2015.

Embora saibamos que a Sra. “X”, como escolhemos denominá-la,


recorreu a saberes advindos dos mais variados campos, que tipo de
conhecimento ela mais mobilizou em suas escolhas?
O conhecimento popular, empírico ou do senso comum, é aquele que se
se adquire no trato direto com as coisas e os seres humanos. As informações
são assimiladas pela tradição e por meio de experiências causais e

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assistemáticas. Tem como objetivo primeiro a resolução dos problemas
cotidianos. Nossas crenças, tradições e saberes populares são exemplos
nítidos dessa forma de conhecer.
Segundo Trujillo (1974, Apud MARCONI; LAKATOS, 2004), o
conhecimento popular possui as seguintes características:
• É valorativo – fundamenta-se numa seleção com base em estados de
ânimo e sensações. Os valores do sujeito contribuem para a construção do
objeto de conhecimento;
• É reflexivo – faz análise de um determinado objeto, mas a mesma está
limitada à familiaridade com o elemento, não podendo ser reduzido a uma
formulação geral;
• É assistemático – casual, baseia-se na organização particular própria
do sujeito e não na sistematização de ideias.

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• É verificável – confirmado dentro da sua especificidade, que é a vida
cotidiana.
• É falível e inexato – pelas suas características de assistematicidade e
informalidade. Tal tipo de conhecimento não permite a formulação de
hipóteses.

1.2.2 Conhecimento Religioso/Teológico

O conhecimento religioso é aquele adquirido a partir da aceitação de


axiomas1 da fé teológica, é fruto da revelação da divindade, por meio de
indivíduos inspirados que apresentam respostas aos mistérios que permeiam a
mente humana. O conhecimento teológico ou religioso preocupa-se com
verdades absolutas, verdades correlacionadas à fé. O sagrado é explicado por
si só. Há, nesse tipo de conhecimento, uma tentativa mítica ou mágica de
explicação do mundo.

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Embora considerado como religioso, não está ligado diretamente a uma
fé específica, mas sim a uma relação com o sagrado e com explicações
ritualísticas e mágicas do mundo.

Vejamos o exemplo abaixo:

Morená: a praia sagrada

O largo e comprido rio Xingu não tem nascente própria. O encontro de três rios, dois
largos, Kuluene e Ronuru, e um estreito, Batovi, é que forma o grande rio. Nessa
confluência, esses três rios formam também uma praia extensa e muito bonita que os
índios chamam de Morená.

Essa praia é muito importante na vida de muitas aldeias da região. Foi ali que o

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criador Mavutsinin criou os índios. No cerimonial do Kuarup, os índios fazem uma
verdadeira representação do ato de criação.

- Pai, como é que a gente apareceu no mundo? – perguntou Acanai.


- Mavutsinin criou todos nós – respondeu o pai, Cuiparé.
- Quem é esse? Não é aquele que na festa do Kuarup canta a noite inteira e de
madrugada chora? – indagou o menino.
- Os nossos Aramoên contavam que Mavutsinin cortou alguns toros de madeira e
transformou, lá no Morená, todos em gente.
(...)
- Quando o dia estava clareando Mavutsinin começou a cantar e chorar. Daí o sol
apareceu e, com o seu calor, os toros tomaram vida. Foi assim que Mavutsinin criou
todo o pessoal – explicou Cuiaparé.
In: VILLAS BOAS, Cláudio e Orlando. Histórias do Xingu. São Paulo: Companhia das
Letrinhas, 2013.

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Tal como em outras narrativas religiosas, a narrativa indígena acerca da
criação do mundo, segundo o ritual do Kuarup, tem como objetivo oferecer uma
verdade acerca da ordem terrena, a partir de lógicas que não podem ser
explicadas sistematicamente, somente podem ser aceitas e interiorizadas. O
fiel não está à procura da evidência lógica dos fatos, mas sim da causa
primeira, ou seja, a revelação divina.
Sintetizando, podemos dizer que o conhecimento teológico possui as
seguintes características (TRUJILLO, 1974, Apud MARCONI; LAKATOS,
2004):

• É valorativo – suas doutrinas são inspiradas em proposições sagradas;


• É inspiracional – sua verdade provém da revelação da palavra;
• É Infalível e exato – indiscutível e preciso. Não há do quê duvidar;

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• É sistemático – apresenta uma explicação causal e organizada do mundo;
• Não é verificável – Sendo obra do criador divino, suas evidências não podem
ser verificáveis. Tais evidências provêm de uma relação com o sobrenatural;

1.2.3 Conhecimento Filosófico

A Filosofia e Ciência podiam ser consideradas como um só corpo de


conhecimento até o final do século XIX, quando houve uma cisão mais
definitiva entre as duas devido ao Positivismo2. Ambas têm como objetivo a
busca da verdade. Ambas buscam uma sistematização do conhecimento.
Mas o que diferencia a Filosofia da Ciência e dos demais tipos de
conhecimento?
Vejamos como Bertrand Russel, conhecido filósofo do século XX,
discorre a respeito de algumas das proposições da Filosofia

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Em si, a filosofia não pretende resolver as nossas dificuldades nem salvar as nossas almas.
Como dizem os gregos, é uma espécie de aventura turística que se empreende por gosto.
Portanto, em princípio, não há nenhuma questão de dogma, nem de ritos, nem de entidades
sagradas de qualquer tipo, ainda que os filósofos, individualmente, possam ser
obstinadamente dogmáticos.

RUSSELL, Bertrand. História do pensamento ocidental: a aventura dos pré-socráticos à


Wittgenstein. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.

O conhecimento filosófico, segundo Marconi e Lakatos (2004),

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caracteriza-se pelo esforço da razão em questionar os problemas humanos,
recorrendo à razão. O objeto de análise da filosofia são as ideias, as relações
conceituais, a existência enfim. Dessa forma, não há como reduzir tais
questionamentos à verificação e à comprovação por meio da experiência.
Para Aranha e Martins (2002), enquanto que a ciência tende a
especificidade, a filosofia considera seu objeto de estudo do ponto de vista da
totalidade. Sua visão é de conjunto, tentando superar a fragmentação do real.
Ainda, a filosofia não elabora juízos de realidade, como a ciência, mas juízos
de valor, procurando dar sentido à experiência. Por fim, continuam as autoras,
por meio da reflexão filosófica que o homem sai da dimensão puramente
prática e toma o distanciamento necessário para a avaliação dos fundamentos
dos atos humanos.
Sintetizando, de acordo com Trujillo (1974, Apud MARCONI; LAKATOS,
2004), o conhecimento filosófico pode ser considerado como:

• Valorativo – suas hipóteses não podem ser submetidas à observação.


• Não verificável – os resultados dessas hipóteses não podem ser
confirmados, nem refutados;

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• Racional – pois está configurado a partir de um conjunto de enunciados
logicamente correlacionados;
• Sistemático – pois visa a uma compreensão coerente da realidade, com
objetivo de apreendê-la;
• Infalível e exato – seus postulados não são submetidos à observação.

Por fim, adentraremos na discussão do conhecimento científico, o qual, para


fins da elaboração de trabalhos de conclusão de curso e monografias, é o que se
apresenta como referência por apresentar características que objetivam a
sistematização, a racionalização e a generalização do saber.

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Na primeira metade do século XX, Einstein descreveu a trama do espaço e do
tempo coma teoria da relatividade, enquanto Bohr e seus jovens amigos
capturaram em equações a estranha natureza quântica da matéria. Na
segunda metade do século XX, os físicos trabalharam a partir desses
fundamentos, aplicando as duas novas teorias aos mais variados domínios da
natureza: do macrocosmo da estrutura do universo ao microcosmo das
partículas elementares.

......

A ciência, antes de ser um conjunto de experimentos, medições, matemáticas


e deduções rigorosas, constitui-se principalmente de visões. O pensamento
científico se nutre da capacidade de “ver” as coisas de modo diferente de
como elas eram vistas antes.

ROVELLI, Carlo. Sete breves lições de física. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.

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Conhecimento Científico

Há diversas tentativas de definição de Ciência. Etimologicamente, o vocábulo


procede do latim SCIENTIA, “conhecimento”, de SCIRE, “conhecer, saber”, que
provavelmente no seu início significava “distinguir, separar coisas” e também
de uma raiz Indoeuropeia SKEI, “cortar, separar”.
Nos dicionários, dentre outros significados mais gerais, o vocábulo
ciência costuma ser designado por um “conjunto organizado de conhecimentos
relacionados a uma determinada área do saber, obtidos por meio da
observação e método experimental para formulr leis gerais e que expliquem os
fenômenos ou fatos estudados” (BECHARA, 2011, p. 414).

Para Marconi e Lakatos (2004), a ciência está relacionada a uma

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sistematização dos conhecimentos, por meio de um conjunto de proposições
logicamente relacionadas sobre um fenômeno que se quer estudar. Essas
proposições são passíveis de verificação. Pode-se dizer também que existem
critérios comuns que compõem a ciência: a confiabilidade do seu corpo de
conhecimentos, sua organização e seu método. Embora saibamos que o
conceito de ciência ultrapassou a área das chamadas ciências físicas e
biológica, incorporando nesse entendimento também as ciências humanas,
ainda há grande divergência acerca dos pressupostos apontados acima,
principalmente no que diz respeito à área das humanidades.

O que não se pode discordar é que o conhecimento científico traz


consigo, desde o seu nascimento, nas raízes da modernidade, um novo modo
de apreender as coisas, não de maneira ocasional, mas a partir da correlação
causa-efeito, buscando a organização de leis explicativas a partir desta
correlação.

Segundo Ander-Egg (1978, Apud MARCONI; LAKATOS, 2004), a


ciência é um tipo de conhecimento racional, certo ou provável, obtido
metodicamente, sistemático e verificável, que está relacionado a objetos da
mesma natureza.

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Complementando, Trujillo (1974, Apud MARCONI; LAKATOS, 2004), sisntetiza
as principais características do conhecimento científico:

• É contingente – suas proposições são submetidas à verificação por meio da


experimentação;
• É sistemático – é uma saber logicamente ordenado, formado por um sistema
de ideias;
• É verificável – suas hipóteses são testadas e comprovadas;
• É falível – em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final;
• É aproximadamente exato – pois está sempre em reformulação.

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Síntese

Após tomarmos contato com os principais tipos de conhecimento


apontados por diversos autores, façamos um quadro comparativo das
principais características dos principais tipos de conhecimento:

CONHECIMENTO CONHECIMENTO CONHECIMENTO CONHECIMENTO


POPULAR/EMPÍRICO CIENTÍFICO FILOSÓFICO TEOLÓGICO

Valorativo Real (factual) Valorativo Valorativo


Reflexivo Contingente Racional Inspiracional
Assistemático Sistemático Sistemático Sistemático
Verificável Verificável Não verificável Não verificável
Falível Falível Infalível Infalível
Inexato Aproximadamente Exato Exato
exato

* MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Científica.


São Paulo: Atlas, 2004.

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1.2.5 Conhecimento Estético/Artístico

René Magritte – Les Deux Mystères, 1966.

- O que esse quadro de René Magritte representa?


- Por que podemos caracterizá-lo como uma obra de arte?
- Quais sensações essa obra causa nos que entram em contato com a
mesma?

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- Que relações podemos estabelecer entre tal obra e nossas formas de
conhecer o mundo?
Para Martins, Picosque e Guerra (1998), a relação que o homem
estabelece com a realidade é mediada por diferentes linguagens e sistemas
simbólicos. O mundo tem o significado que construímos para ele. A arte é uma
forma privilegiada de conhecimento porque prescinde das certezas da ciência.
Segundo Aranha e Martins (2002), assim como a ciência e o mito são
um tipo de organização da experiência humana, a arte é um caso de
entendimento intuitivo do mundo, uma forma de expressão.
O conhecimento estético/artístico não tem como objetivo recriar a
natureza ou descrevê-la, mas criar símbolos que são as obras de arte, objetos
sensíveis, individuais que expressam a vitalidade da relação do homem com o
mundo. A arte tem por uma de suas funções o alargamento da experiência
humana com a sensível.
Em suas diversas manifestações, na pintura, desenho, música, dança,
teatro e outras formas de expressão, o conhecimento artístico é uma das
formas privilegiadas de contato do homem com o mundo, daí sua entrada na
classificação dos tipos de conhecimentos aqui apresentada.

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1.2.6 Conhecimento Técnico

O termo grego tecné corresponde ao nosso saber fazer, o know how.


Este tipo de conhecimento requer a intervenção da razão, a qual que
estabelece regras de procedimentos para a execução de diferentes atividades
ou tarefas. A técnica é o conhecimento do “como” fazer algo e dos meios que
podem ser utilizados para a realização de tarefas.

Utiliza-se o conhecimento técnico como aplicação de formas e métodos


para resolução de problemas, tendo como objetivo o domínio do mundo e da
natureza. Por fim, trata-se de um saber que auxilia o homem na sua relação
com o mundo, pelo modo como orienta, sistematiza e procedimentaliza os
saberes. Frequentemente, o conhecimento técnico está na base da
profissionalização.

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Agora que tomamos contato com os diferentes tipos de conhecimento e
concluímos que a coexistência entre os mesmos não se dá de uma forma
hierarquizada, embora o pareça, faremos uma breve análise de uma relação
por muitas vezes debatida, principalmente no meio educativo: a do
conhecimento popular versus conhecimento científico.

1.3 O Conhecimento Científico e sua correlação com o conhecimento


popular

A admiração é filha da ignorância, porque ninguém se admira senão das


coisas que ignora, principalmente se são grandes; e mãe da ciência,
porque admirados os homens das coisas que ignoram, inquirem e
investigam as causas delas até as alcançarem, e isto é o que se chama
ciência.

Padre Antônio Vieira


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Nos últimos tempos, o conhecimento científico e a ciência começaram a
ocupar um patamar na vida da sociedade que nos leva, muitas vezes, à
compreensão de que só este tipo de relação com o mundo e com o saber é tido
como válido. As imagens sobre a ciência e os cientistas os transformaram em
objetos quase divinos e por vezes sacralizados. Alves (2015, p. 10) adverte-nos
sobre esse perigo: “o cientista virou um mito. E todo o mito é perigoso, porque
induz o comportamento e inibe o pensamento. Esse é um dos resultados
engraçados (e trágicos) da ciência”. O propósito dessa seção é, de certa
forma, dar a importância devida ao conhecimento científico, mas, ao mesmo
tempo dessacralizá-lo.
Desde a Antiguidade o homem, em sua relação com o mundo, constrói
uma série de conhecimentos que permitem sua sobrevivência e adaptação aos
diferentes meios em que vive. Desde um simples processo de plantio e colheita

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de hortaliças, legumes e tubérculos até um sofisticado procedimento de
confecção de alimentos industrializados e sintetizados. Os dois processos
convivem até hoje e não são excludentes entre si.
Conforme Marconi e Lakatos (2004) o que difere o conhecimento
popular do científico não é nem a veracidade, nem a natureza do objeto
conhecido. A diferença reside na forma, modo ou método e os instrumentos
de conhecer.
Isso faz com que cheguemos à seguinte conclusão:
• A ciência não é a única forma de conhecimento;
• Pode-se analisar um mesmo fenômeno ou objeto sob o ponto de vista do
homem “comum” ou da ciência.

Tanto o senso comum quanto a ciência buscam a coerência e a


objetividade, buscam a ordem. Para Alves (2015), a ciência não é uma forma
de conhecimento diferente do senso comum. Fazendo uma analogia com os
órgãos do corpo humano, o autor argumenta que a ciência é uma hipertrofia e
especialização de um desses órgãos, de uma forma mais sistemática. Ambos
(senso comum e ciência) partem de um problema e vão, a partir de sua

22
observação e análise, tentar resolvê-lo. O que difere é a forma, o controle e a
sistematização dos modos de resolução.

O conhecimento popular ou do senso comum talvez seja a primeira


forma de conhecimento a ter surgido sobre a face da Terra. Tal forma de
conhecimento da realidade é extremamente importante. Sem ele não
poderíamos resolver os problemas mais simples do nosso dia-a-dia, pois nos
defrontamos diretamente e a todo momento com fenômenos os quais exigem
respostas rápidas. Não há, entretanto, nesse tipo de relação com o mundo uma
preocupação com o método, com a organização e sistematização do
conhecimento, nem com uma formulação teórica generalizante do que ali se
apreendeu.

Já a ciência se distingue por ser um tipo de conhecimento que se

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


caracteriza como racional, analítico, sistemático, cumulativo, explicativo,
preditivo e generalizante. Essa configuração o diferencia do conhecimento
popular/empírico e dos demais estudados no presente módulo, mas não lhe
assegura o status de “sagrado”, até porque, como já visto anteriormente, ele é
falível e está em constante renovação.

Um último ponto necessita aqui ser destacado. O “poder” da ciência


deve ser objeto de constante vigília do pensamento, pois a mesma pode estar
a serviço do homem ou contra o mesmo. Não há, embora muitos o digam, a
neutralidade da ciência. Ela está sempre imersa no debate ético e político das
sociedades. Todos nós, com lugar especial dado aos cientistas e aos governos,
temos responsabilidade pelos rumos que são dados a partir das inúmeras
descobertas que nos assolam diuturnamente. Temos que constantemente nos
perguntar: o que estamos fazendo de nós e dos outros, como já diria Michel
Foucault, importante pensador do século XX.

23
1.4 Considerações finais

Chegamos ao fim do Módulo 1, “Introdução à metodologia científica”.


Neste segmento iniciamos nossa conversa com questões que perpassarão sua
vida enquanto estudante de pós-graduação, das quais destacamos a definição
do que é conhecimento, os diferentes tipos de conhecimento e a correlação
entre conhecimento popular ou empírico e o conhecimento científico.

Esperamos que esse início sirva como plataforma para os módulos


posteriores, os quais afunilarão as questões abordadas aqui e desembocarão
em orientações para escrita dos trabalhos acadêmicos.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Não se esqueçam de aprofundarem seus estudos consultando as
referências bibliográficas e a indicação de leitura suplementar.

Por fim, lançaremos modos de conversa com todos alunos a partir do


nosso fórum e também por meio de algumas questões sobre o tema abordado
neste módulo. Até o próximo encontro!!

NOTAS EXPLICATIVAS

Stephen William Hawking é um físico teórico e cosmólogo britânico e um dos mais consagrados
cientistas da atualidade. Atualmente, é diretor de pesquisa do Departamento de Matemática
Aplicada e Física Teórica (DAMTP) e fundador do Centro de Cosmologia Teórica (CTC)
da Universidade de Cambridge. Publicou diversos livros, dentre eles “Uma breve história do
tempo”, best seller internacional que sintetiza suas pesquisas no campo da cosmologia.
1 Proposição que se admite como verdadeira e que serve de fundamento a uma teoria;
postulado; princípio ou afirmação sancionada pela experiência e tida pela generalidade das
pessoas como clara e evidente.

1
O positivismo é uma corrente filosófica que surgiu na França no começo do século XIX, tendo
como principais defensores Augusto Comte e John Stuart Mill. O positivismo defende a ideia de
que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro e que somente
podemos afirmar que uma teoria é válida se for passível de comprovação por meio de
métodos científicos válidos. Fonte: http://www.suapesquisa.com/o_que_e/positivismo.htm

24
MÓDULO 2 - Metodologias de pesquisa científica

Cláudia Ribeiro Calixto

Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos


Científicos.
Módulo 2 – Métodos Científicos – Faculdade Campos
Elíseos (FCE) – São Paulo – 2016.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Guia de Estudos – Módulo 2 – Métodos Científicos.
1. Metodologia 2. Métodos Científicos 3.
Orgs.: Adriana Alves Farias e
Cláudia Regina Esteves

Faculdade Campos Elíseos

25
Retomando a conversa

Caro (a) aluno (a),

No primeiro módulo, percorremos as bases epistemológicas do conhecimento –


origem, estrutura, métodos e processos de validação do conhecimento. No
trajeto, destacamos os diferentes tipos de conhecimentos (popular, teológico,
filosófico, científico, estético, técnico). Retomamos nossa jornada de estudos

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


nesse segundo módulo, tematizando uma questão de relevância no trajeto de
uma pesquisa: a metodologia de investigação. Aportaremos no tema métodos
científicos e nos ateremos ao modo como, sob o paradigma científico, o
homem produziu, e vem produzindo, uma forma específica de acesso ao
conhecimento, e que prevê procedimentos próprios de acesso à realidade e
estabelecimento de conhecimentos – científicos. Disporemos os principais
métodos constantes de literatura acadêmica, suas características e o contexto
histórico de sua produção.

Retomemos, então, nossa jornada de estudos!

26
Uma prática de pesquisa é um modo de pensar, sentir, desejar, amar,
odiar, uma forma de interrogar, de suscitar acontecimentos, de exercitar a
capacidade de resistência e de submissão ao controle (CORAZZA, 2002,
p.124).

A atividade de investigação no campo de qualquer saber que se intitule


científico pressupõe o emprego de um caminho que permita ao pesquisador
uma afirmação assertiva acerca de um fenômeno físico, biológico, matemático,
químico ou social. Ao final de uma pesquisa afirma-se ou se nega uma
resposta a um problema. Essa resposta, sempre provisória, comporá um
corpus3 de conhecimento de determinada área de saber.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Historicamente constituído, o método científico pressupõe um modo de
aproximação e tratamento do objeto de pesquisa que se pretende interrogar. É
o que veremos a seguir.

2.1 Conceito de Método

Etimologicamente, a palavra método deriva do vocábulo méthodos do


latim tardio (meta) e da palavra grega hodós (vida, caminho). Como conceitua
Antônio Geraldo da Cunha (2010, p.424) a palavra refere-se à “ordem que se
segue na investigação da verdade, no estudo de uma ciência ou para alcançar
um fim determinado”.

O método científico é, por sua vez, “um conjunto de procedimentos por


intermédio dos quais (a) se propõe os problemas científicos e (b) colocam-se à
prova as hipóteses científicas” (BUNGE apud LAKATOS e MARCONI, 2004,

33
Do latim cörpus (CUNHA, 2010, p.182), o termo remete à coletânea ou conjunto de documentos,
de pesquisas científicas, acerca de determinado tema.

27
p.45). Assim, conforme asseveram Eva Maria Lakatos e Marina de Andrade
Marconi (ibidem), o método constitui-se das atividades sistemáticas e racionais
que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo, qual seja,
o conhecimento considerado válido e verdadeiro. O método permite traçar um
caminho a ser seguido e, por um emprego sistemático de procedimentos,
possibilita a detecção de erros e orienta as decisões do pesquisador.

Sob a égide desse paradigma epistemológico, o conhecimento científico,


para ser validado como tal, deveria ser passado por dados procedimentos
(LAKATOS e MARCONI, 2004):

• a experimentação, a qual pressupõe a observação, o registro


sistemático e experimentos acerca de dado problema de
pesquisa;

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


• a formulação de hipóteses, as quais procuraram estabelecer
relações de causa e efeito implicados e determinantes no
fenômeno estudado;
• a repetição, ou seja, um experimento deve obter os mesmos
resultados sob condições diferentes de ambiente e sob realização
de outros cientistas;
• a testagem das hipóteses, por meio da qual busca-se novos
dados, elementos, variáveis e evidências que a confirmem;
• a formulação de generalizações e leis, fundamentadas nas
evidências constadas, generalizando suas explicações para os
fenômenos da mesma natureza.

A título de localização teórica, façamos um brevíssimo recuo histórico


do método científico.

Suas disposições originam-se em investigações acerca dos fenômenos


físicos e da natureza efetivadas no alvorecer da Modernidade, no século XVII,
com destaque às pesquisas e formulações de Galileu Galilei (1564-1642), cuja
teoria heliocêntrica, dentre outras, veio a abalar as crenças, a alterar
radicalmente percepção do homem sobre o mundo e sobre si mesmo, bem

28
como ensejou o desenvolvimento de procedimentos inaugurais de indagação e
investigação dos fenômenos e estabelecimento de conhecimentos validados
como verdadeiros. A partir desse período da história da humanidade, a ciência
ganhou proeminência nas narrativas sobre o mundo e sobre o homem: surge o
indivíduo moderno.

A partir do século XIX, os métodos de investigação científica são


reivindicados às ciências sociais, que almejam o estatuto de saber científico.
Assentados em procedimentos originários das chamadas ciências “duras”
(física, matemática, astronomia etc.) são migrados para o estudo em
diferenciados campos de saber, como a educação e a psicologia, por exemplo.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


2.2 Principais Métodos

Convém destacarmos, a essa altura de nosso estudo, que a emergência


de uma pesquisa provém de uma inquietação com alguma pergunta, com um
problema a ser investigado e o trabalho de investigação está crivado de
decisões importantes, dentre as quais: O que, por que e para que investigar?
Que passos seguir? Em quais fontes pesquisar?

Tais perguntas estão impregnadas de implicações ético-políticas e


metodológicas, dentre as quais a escolha do método. Hora, pois, de o
pesquisador, uma vez definido o objeto, a finalidade e a abordagem teórica que
orientará o estudo, debruçar-se sobre o caminho que permitirá a melhor
abordagem ao seu problema de pesquisa. Nesse momento, então, nos
deparamos com uma questão crucial e importante, a saber: Qual o melhor
método para o objeto que se pretende investigar?

Todo método está inserido em dada tradição epistemológica, ou seja,


ele pressupõe um conjunto de crenças e apostas acerca do conhecimento e
das formas de conhecer.

29
Seguiremos, agora, com uma disposição dos principais métodos de
pesquisa científica constantes da literatura acadêmica e que historicamente
foram inseridos como procedimentos de investigação dos fenômenos na
empreitada do homem na busca pelo conhecimento.

2.2.1 Método Indutivo

A melhor prova é a experiência.


Francis Bacon

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


No início do século XVII, período da chamada Revolução Científica, sob
impacto das pesquisas e formulações acerca do mundo, então desenvolvidas,
em especial as teorias de Galileu e Newton, Francis Bacon (1561-1626),
cientista e filósofo britânico, estabeleceu um novo sistema de investigação,
definindo o método indutivo para conduzir as experiências científicas
(BUCKNGHAM, 2011). Lembremos que, até esse momento da história, a visão
de mundo vigente na Europa Ocidental era teocêntrica e o conhecimento era
efeito de uma revelação externa, a palavra de Deus, não passando pelo crivo
das percepções ou da razão humanas.

Para Bacon, a boa ciência, o bom conhecimento, deveria gerar uma


produção. De orientação utilitária e pragmática, emerge uma percepção de que
os frutos da prática científica deveriam produzir efeitos positivos para maioria
das pessoas. Tem-se aqui o nascimento da metodologia científica moderna e
da tradição da pesquisa científica voltada à intervenção na natureza.

O método indutivo firmou-se como procedimento do Empirismo4, sendo


que a fonte e a base do conhecimento dar-se-iam pela experiência empírica, ou

4
Trata-se de uma teoria do conhecimento segundo a qual a fonte do conhecimento provém da
experiência empírica, ou seja, só é passível de conhecimento aquilo que for passível pela experiência e

30
seja, passariam necessariamente pela experiência sensível, em que os
sentidos seriam fatores decisivos na apreensão do verdadeiro. Por essa lógica,
um fato ou fenômeno só existe e é explicável se percebido pelos sentidos.
Aqui, os dados apreendidos da experimentação, da observação, pelos
sentidos, seriam sistematizados pela razão, a qual permitiria, então, chegar-se
a uma lei geral e ao estabelecimento de relações de causa e efeito.

Vejamos alguns exemplos (LAKATOS e MARCONI, 2004, p.53-54):

O corvo 1 é negro.
O corvo 2 é negro.
O corvo 3 é negro.
O corvo n é negro.
Conclusão: (todo) corvo é negro.

Cobre conduz energia.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Zinco conduz energia.
Cobalto conduz energia.
Ora, Cobre, zinco e cobalto são metais.
Logo (todo) metal conduz energia

O homem Pedro é mortal.


O homem José é mortal.
O homem João é mortal.
Conclusão: (todo) homem é mortal.

Como podemos observar no exemplo supracitado, a indução parte de


fatos, fenômenos particulares, dados singulares, os quais passam pelo
tratamento do método científico, deles infere-se uma verdade geral ou
universal. A parte analisada isoladamente não dá conta da explicação de um
fenômeno ou categoria, o que não permitiria extrair-lhe, isoladamente, uma lei
geral. É a análise de um conjunto de elementos ou partes que se poderá
chegar a uma generalização e extrair relações causais aos fenômenos
analisados.

pela sensação (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006).São alinhados a essa doutrina além de Francis Bacon,
Locke e Hume.

31
No emprego desse método de pesquisa, uma premissa acertada
conduzirá a um resultado válido: se uma premissa é verdadeira, a conclusão
que se chegará será verdadeira.

Na indução, o caminho de raciocínio e de definição do conhecimento vai,


pois, do específico ao geral, do particular ao universal, dos indivíduos às
espécies, das espécies ao gênero, dos fatos às leis. Ela se realiza em três
etapas:

• observação dos fenômenos,


• estabelecimento da relação entre eles (hipótese) e
• generalização dessa relação.

Conforme destacam Lakatos e Marconi (2004), a utilização da indução


como procedimento implica ao pesquisador, no momento de sua decisão

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


metodológica, o levantamento de pelo menos duas perguntas fundamentais:

Qual a justificativa para as inferências indutivas?

Qual a justificativa para a crença de que o futuro será como o


passado?

Síntese

O método indutivo vai da análise dos elementos e das


partes para alcançar uma lei geral ou universal. Seu
procedimento se apoia na experiência e os sentidos
desempenham um papel essencial: um fenômeno ou
objeto só são apreensíveis à medida que passam pela
experiência sensorial. Trata-se da síntese como método.

32
2.2.2 Método Dedutivo

É necessário que ao menos uma vez na vida você duvide, tanto


quanto possível, de todas as coisas.
René Descartes

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


O método dedutivo foi investido pelos pensadores alinhados ao
Racionalismo5, dentre os quais seu mais proeminente representante: René
Descartes (1596-1650). Em meio à Revolução Científica do século XVII, o
filósofo francês deslocou o paradigma do entendimento humano sobre o
homem e os objetos, fundando o pensamento moderno, o qual alicerça uma
forma de compreender o mundo e a forma de conhecimento por meio da lógica
racional.

Descartes com sua obra Discurso sobre o método questiona a lógica da


indução. Para o filósofo, os sentidos são falhos e podem nos induzir ao erro.
Quem garante que o que vejo ou percebo são de fato reais ou são fruto de uma
ilusão, de um sonho? – pergunta-se.

Nessa linha de raciocínio, Descartes defende a dúvida como método.


Uma vez que os sentidos podem induzir ao erro, é necessário pautar-se na
razão. Para ele, a radicalidade da dúvida geraria a radicalidade da primeira
certeza. Por meio da célebre frase: “Penso, logo existo” (DESCARTES, 2016,

5
Trata-se de uma escola de pensamento que apregoa a supremacia da razão sobre todas as faculdades
humanas, bastando o juízo racional para a elaboração de preceitos considerados verdadeiros. A razão
constitui o fundamento de todo o conhecimento possível (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006). São filiados a
essa doutrina, além de Descartes, Espinoza, Leibniz e Kant.

33
p.24). defendeu que a razão é o único meio seguro e infalível de se chegar ao
conhecimento verdadeiro. Podemos duvidar de tudo o que existe, mas ao
duvidar estamos fazendo uso da razão. No próprio ato de duvidar temos o
entendimento que estamos duvidando – e disso não podemos duvidar.

Assim, para o filósofo, existem verdades universais que somente podem


ser acessadas pelo uso eficiente da razão. Ele desenvolve uma teoria inatista
do conhecimento, defendendo que os conhecimentos já existiriam dentro de
cada um de nós, e pela razão, e apenas por meio dela, seria possível acessá-lo
e produzir, a partir dele, outros conhecimentos.

A dedução constitui o cerne do método cartesiano. Trata-se de uma


forma de raciocínio por meio da qual se chega a conclusões a partir de uma
suposição geral, de um princípio ou de uma proposição; parte-se de verdades

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


estabelecidas para a análise dos fatos e fenômenos particulares, verificando
sua adequação à teoria, usando-os para comprová-la. Opera, pois, uma lógica
inversa ao indutivo: vai da lei geral para a particular, do todo para a parte, por
meio de análise.

Vejamos um exemplo (LAKATOS e MARCONI, 2004, p.63):

Todo mamífero tem um coração.

Ora, todos os cães são mamíferos.

Logo, todos os cães têm um coração.

Nos argumentos dedutivos pode-se perceber que as informações


constantes da conclusão já estavam, ainda que implicitamente, nas premissas
(SALMON apud LAKATOS e MARCONI, 2004, p.53-54). Para que a conclusão
fosse falsa, bastaria que uma das duas premissas fosse falsa: se nem todos os
cães fossem mamíferos, nem todos teriam um coração; se nem todos os
mamíferos tivessem um coração, não necessariamente todos os cães teriam
um coração.

34
O modelo cartesiano acabou por postar uma percepção dicotômica da
realidade, separando corpo e alma, sujeito de objeto de conhecimento,
instaurando no pensamento moderno a primazia da razão.

Síntese

O método dedutivo, na lógica inversa do indutivo, vai da


lei geral ou universal às partes. Seu procedimento se

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


apoia na razão refutando-se a importância das
experiências sensoriais no acesso ao conhecimento.
Trata-se de um método analítico.

2.2.3 Método Hipotético-Dedutivo

Toda solução para um problema cria novos problemas não


solucionados.
Karl Popper

Do século XVII ao XIX, operou-se com uma ideia de que competiria à


ciência provar as verdades sobre o mundo, fosse pela vida da indução, fosse
pela via da dedução. Uma boa teoria científica seria capaz de provar
conclusivamente ser verdadeira. No século XX, Karl Raimund Pooper (1902-

35
1994) posta uma nova questão ao fazer científico: “o que constitui uma teoria
científica é que ela seja capaz de ser falsificada ou demonstrada como errônea
pela experiência” (BUCKINGHAM, 2011).

O filósofo austríaco defende a ideia de que toda intervenção


experimental altera a realidade que havia antes, trazendo novas questões e
alterando as condições ou realidade de um fenômeno. Caberia à ciência, e,
portanto, ao pesquisador, “descobrir problemas novos, mais profundos e mais
gerais e sujeitar suas respostas sempre a testes provisórios, sempre renovados
e sempre mais rigorosos (POPPER apud LAKATOS; MARCONI, p. 73)

Para Popper, o único método de fato científico seria o hipotético-


dedutivo, pois permitiria, por meio de tentativas e erros, demonstrar seu grau
de falibilidade e falseamento. Segundo o filósofo, o conhecimento científico

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


opera por indução, ou seja, parte de observações particulares em direção a
princípios gerais. Observemos um exemplo:

Todo cisne que vejo é branco.


Todos os cisnes são brancos.

Diferentemente dos racionalistas, para o filósofo, esses princípios não


poderiam ser comprovados, mas refutados, pela observação, por exemplo, de
um cisne negro (BUCKINGHAM, 2011).

Analisa, Popper, que toda pesquisa principia com um “problema para o


qual se procura uma solução, por meio de tentativas (conjecturas, hipóteses,
teorias) e eliminação de erros” (LAKATOS; MARCONI, 2004, p.73). O papel da
metodologia de investigação, nesse sentido, seria de um instrumento de busca
aos problemas e detecção e eliminação de erros. Assim, toda teoria deve
passar pelo crivo da falseabilidade de modo a cercear as conclusões de
possíveis contradições ou lacunas que induzam ao erro nas conclusivas.

Popper destaca a importância da escolha de problemas: “eu tenho


tentado desenvolver a tese de que o método científico consiste na escolha de
problemas interessantes e na crítica de nossas permanentes tentativas

36
experimentais e provisórias de solucioná-los” (POPPER apud LAKATOS;
MARCONI, 2004, p.74).

O método hipotético-dedutivo prevê as seguintes etapas:

✓ expectativas ou conhecimento prévio


✓ lacuna, contradição ou problema
✓ conjecturas, soluções ou hipóteses
✓ consequências falseáveis, enunciados deduzidos
✓ técnicas de falseabilidade
✓ testagem
✓ análise dos resultados
✓ avaliação das conjecturas, soluções ou hipóteses

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✓ rejeição com retorno às hipóteses/ validação das hipóteses – nova teoria
✓ nova lacuna, contradição ou problema desdobrando-se novas pesquisas

Síntese

O método hipotético-dedutivo prevê um movimento de


análise e síntese, que visa, por meio de um procedimento
de tentativa e erro, passar o objeto de estudo e o próprio
método ao teste de falseamento, como atitude crítica de
investigação, refutando o caráter de objetividade
geralmente atribuído aos métodos científicos.

37
2.2.4 Método Dialético

As ideias dominantes de cada época sempre foram as


ideias de sua classe dominante.
Karl Marx

A dialética moderna tem em Hegel, Marx e Engels seus nomes mais

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


proeminentes e entende a realidade não como um estado de coisas, mas como
um processo contínuo de mudança. Essa perspectiva contrapõe a ideia
instaurada pelo pensamento cartesiano de separação entre o sujeito e o objeto
do conhecimento. Aqui, é o sistema no seu conjunto que importa, mais do que
o individual (RUSSEL, 2015).

É atribuído a Karl Marx (1818-1883) o termo materialismo histórico o


qual prevê a dialética como método. Como afirma Pedro Demo (2005, p.12), “a
dialética considera a realidade intrinsecamente contraditória porque sua
dinâmica é tipicamente contrária”. Mais do que desvendar o mundo e seu
funcionamento, o materialismo dialético propõe uma transformação da
realidade:

“Os filósofos não fizeram mais do que interpretar o mundo de diversas


maneiras; a verdadeira tarefa é transformá-lo” (MARX apud RUSSEL, 2015,
p.353).

A perspectiva dialética considera que todos os aspectos da realidade,


seja da natureza ou da sociedade, prendem-se por laços necessários e
recíprocos (ibidem), não podendo ser, portanto, analisados e investigados

38
como se determinado evento, fenômeno estivesse apartado do contexto e do
ambiente circundante, isoladamente.

Vejamos um exemplo (POLITZER et alii apud LAKATOS; MARCONI,


2004):

Uma simples mola de metal não pode ser considerada à parte do universo que
a rodeia: ela foi produzida pelo homem com material extraído da natureza.
Ainda que em repouso, a mola não está independente do ambiente: sobre ela
atuam o calor, a oxidação, a gravidade etc. Tais condições podem alterar tanto
a posição quanto a natureza da mola (ferrugem). Imaginemos que um pedaço
de chumbo seja suspenso na mola: sobre ela será exercida uma força,
distendendo-a até seu ponto de resistência. Assim, o peso age sobre a mola

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


que age sobre o peso. Mola e peso formam um todo em que há interação e
conexão recíproca.

A dialética, como procedimento de investigação científica, propõe como


etapas:

 Análise objetiva e crítica da realidade, para aprofundar o seu


conhecimento com vistas à transformação.

 Reflexão a respeito da relação sujeito e objeto, confrotando as variáveis


e sua contradições para chegar a uma síntese, uma vez que nada está
isolado, tudo é movimento e mudança, tudo depende de tudo.

Assim, constituem seus passos:

 Elaboração da tese – afirmação inicial

 Elaboração da antítese – oposição à tese

 Elaboração da síntese – do conflito resultante da análise da tese e da


antítese surge a síntese que, por sua vez, transforma-se em tese pra um

39
 novo ciclo, com interposição de nova antítese, resultando em nova
síntese e assim por diante.

Síntese

O método dialético considera que a realidade deve ser


analisada como um todo de partes interdependentes e
interpenetráveis. Traz como etapas a elaboração da tese,
da antítese e síntese.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


2.2.5 Métodos Específicos das Ciências Sociais

São muitas as possibilidades metodológicas e vários são os tipos de


pesquisas investidos no campo das ciências sociais. Considerando os métodos
mais veiculados na literatura pedagógica, tomaremos por base aqui a
compilação feita por Lakatos e Marconi (2004), o que nos possibilitará
vislumbrar e inspirar algumas dessas possibilidades a partir do que se tem
investido metodologicamente:

Método histórico – esse método se ramifica em algumas abordagens,


dentre as quais destacaremos duas de maior relevância.

a. abordagem histórica clássica – Parte da noção de que as atuais


formas organização social, as instituições, os fenômenos sociais do
presente, encontram origem no passado. Tal investigação busca o
estabelecimento de relações causais ao longo de um período
histórico de modo a justificar e explicar a ocorrência do objeto
investigado.

40
b. abordagem genealógica. Refuta a ideia de origem, para pensar os
fenômenos do presente como produções contingenciais. Essa
perspectiva investiga as condições de possibilidade em que, em
determinada contingência histórica, certo fenômeno, certa forma de
pensar, certa prática ou organização social se instituiu. Tal proposta
almeja evidenciar o caráter arbitrário, não natural das produções
sociais humanas, desnaturalizando sua ocorrência.

Método comparativo – considera-se aqui que o estudo das


semelhanças e diferenças entre diversos tipos de grupos, sociedades ou povos
contribui para uma melhor compreensão do comportamento humano,
desdobrando-se uma explicação dos fenômenos, pela dedução dos elementos

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


constantes, abstratos, gerais.

Método monográfico – consiste no estudo de determinados indivíduos,


instituições, grupos, com objetivo de extrair generalizações.

Método estatístico – consiste na redução de fenômenos sociológicos,


políticos, econômicos, educacionais etc. a termos quantitativos. Pelo manejo
dos dados estatísticos estabelece-se e busca-se a comprovação de relações
dos fenômenos entre si e a obtenção de generalizações sobre sua natureza,
ocorrência ou significado.

Método tipológico – esse procedimento metodológico foi o empregado


pelo sociólogo Max Weber (1864-1920). Por meio da classificação e
comparação de fenômenos, organizações etc. extrai-se uma tipologia
qualitativa, criando-se tipos ou modelos ideais a partir dos aspectos do
fenômeno considerados essenciais pela análise do pesquisador.

Método funcionalista – trata-se mais de um método de interpretação.


Toma-se o objeto de estudo a partir da função de suas unidades,
considerando-se o fenômeno como parte de um sistema organizado de
atividades.

41
Método estruturalista – Inaugurado por Lévi-Strauss, parte de um
fenômeno concreto para alcançar um nível abstrato, por meio da produção de
um modelo que represente o objeto do estudo, retornando, ao final, ao
concreto, tomando-se então como uma realidade estruturada e relacionada
com a experiência do sujeito social.

Para finalizar o módulo, cabe-nos citar uma importante reflexão de


Gaston Bachelard (1884- 1962) acerca do método:

A aplicação de um bom método de pesquisa é, no início, sempre


fecunda. (...) Cada método é destinado a cair em desuso e a
caducar. a metodologia científica é obrigada a seguir a ciência
em sua evolução e seus progressos. Cristalizar a metodologia

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


numa forma fixa equivale a comprometer o futuro e a paralisar o
espírito de iniciativa (2004, p.65).

Acompanhando essa reflexão do filósofo e poeta francês, destacamos que a


metodologia constitui um caminho. O que definirá esse caminho é uma
inquietação daquele que pesquisa, o objeto e a abordagem teórica que irá
eleger. Aqui, advertências são cabíveis quanto aos cuidados e a
responsabilidade daquele que pesquisa: é preciso ter em mente que, como
mencionado no módulo 1, a ciência não é neutra – seus resultados produzem
efeitos.

42
Síntese

Conforme anunciamos no início do módulo, a questão do


método num processo investigativo é fundamental e sua
escolha não deve ser aleatória. Um método se coloca a
serviço de uma pergunta, de um objeto de investigação –
nem todos os caminhos levam a Roma!

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Considerações Finais

No módulo 2, “Métodos Científicos”, percorremos os principais métodos de


pesquisa científica e destacamos suas características e caminhos, situando, ainda e
brevemente, a contextualização histórica de seus surgimentos.

Vimos que duas formas de raciocínio originaram dois métodos de investigação


científica já no início da Modernidade: o indutivo (que vai do particular ao geral –
síntese) e o dedutivo (que parte da lei geral para a parte – análise). Ambos
preconizavam, ainda que por via inversa, o estabelecimento de leis gerais, de
verdades universais. Vimos, ainda, o método hipotético-dedutivo e o dialético, e, ao
final, alguns métodos específicos das ciências sociais, dentre os quais o método
histórico, o tipológico, funcionalista e o estruturalista.

Esperamos que esse breve percurso lhe tenha ajudado a identificar os


pressupostos de uma metodologia científica e a vislumbrar possibilidades
metodológicas em seu caminho de pesquisa.

43
Advertimos que nenhum método está isento de críticas ou de ser posto à prova
a qualquer momento, bem como o resultado de uma pesquisa qualquer. A pesquisa é
uma aventura do pensamento e seus caminhos são traçados tendo em vista um
problema que se mira enfrentar com as ferramentas metodológicas e teóricas e que
possam colocar em xeque primados anteriormente estabelecidos ou lançar novas
perguntas para o próprio objeto de pesquisa.

Na sequência adentraremos a normatização e aspectos formais da escrita


acadêmica – o jogo da pesquisa e suas regras. Por ora, dê prosseguimento a seus
estudos no tema do módulo pela indicação de leitura suplementar e consulte a
indicação bibliográfica.

Não se esqueça de participar do fórum de debate e responder as questões ao


final. Até o próximo!!

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto

44
Módulo 3 – A ORGANIZAÇÃO DOS ESTUDOS NA UNIVERSIDADE

Patrícia Helena Ferreira

Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos


Científicos.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Módulo 3 – A organização dos estudos na Universidade -
Faculdade Campos Elíseos (FCE) – São Paulo – 2016.
Guia de Estudos – Módulo 3 – A organização dos estudos
na Universidade.
1. Universidade 2. Documentação 3. Metodologia da
Pesquisa

Orgs.: Adriana Alves Farias e


Cláudia Regina Esteves

Faculdade Campos Elíseos

45
Conversa Inicial

Caro(a) aluno(a),

Chegamos ao terceiro módulo da Disciplina Técnicas em Pesquisa e

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Construção de Textos Científicos. Neste módulo, “A organização dos
estudos na Universidade”, discutiremos sobre o papel das universidades na
formação do indivíduo, fazendo um breve recuo na história das universidades.
Após essa breve introdução adentraremos na discussão dos principais
instrumentos de estudo que o aluno deve se valer na sua passagem
acadêmica. Destacaremos a importância da documentação como método de
estudo pessoal, enfatizando a documentação temática, a documentação
bibliográfica e a documentação geral. Por fim, conheceremos algumas
diretrizes para leitura, análise e estudo de textos na universidade, a partir da
contribuição de pesquisadores como Severino e Marconi e Lakatos, dando
ênfase às análises textual, temática e interpretativa, para podermos chegar à
problematização dos textos estudados.

Desejamos ótimos encontros nesse percurso!

46
3.1 A Universidade e seus instrumentos de trabalho

Para início de conversa....

A universidade existe para produzir conhecimento, gerar pensamento


crítico, organizar e articular os saberes, formar cidadãos, profissionais e
lideranças intelectuais. O desempenho dessas nobres e decisivas funções, porém,

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


não é algo que se resolva no plano abstrato. Do mesmo modo que as demais
instituições, a universidade está sempre historicamente determinada. Pode
funcionar bem ou mal, cumprir com maior ou menor efetividade suas atribuições,
ser mais ou menos admirada e respeitada. Ela não é perfeita nem inquestionável.
Não está acima da sociedade nem desconectada dela. As próprias circunstâncias
internas da instituição - seu corpo docente, sua estrutura administrativa, seus
dirigentes, estatutos e tradições - incidem sobre sua imagem e seu desempenho.
Em certa medida, cada época, cada sociedade e cada Estado têm a universidade
que podem ter, por mais que a instituição universitária, por sua própria natureza,
tenha luz própria e possa, justamente por isso, operar com alguma liberdade em
relação às circunstâncias histórico-sociais que lhe estão na base. Não se trata de
dependência ou limitação, mas de determinação.

Marco Aurélio Nogueira

47
No Brasil do século XXI assistimos à expansão do ensino superior. Essa
expansão, em dados numéricos, superou em muito qualquer outro índice já
atingido anteriormente. Se tal expansão, em termos quantitativos, pode
representar um aumento do nível de escolaridade da população, em termos
qualitativos, traz em seu bojo a discussão da função da universidade e o papel
do estudante do ensino superior.

Nossa intenção, no presente módulo, não é fazermos uma discussão


das atuais condições da universidade na sociedade atual, mas sim, ao nos
depararmos com a especificidade de tal instituição, oferecermos alguns
instrumentos importantes para o prosseguimento na vida acadêmica. Para tal,
iniciaremos com uma rápida abordagem histórica do ensino Universitário.

A palavra universidade origina-se do latim Universitas. Ela está

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


relacionada à própria noção de universalidade, companhia, corporação,
colégio, associação. Historicamente, o vocábulo advém do século XIV, porém
a ideia de Universidade aparece desde o século IV A.C., na Grécia, por meio
da Academia de Platão, a qual buscava o conhecimento e a especulação
desinteressada e indagadora (SILVA; DAVEL, 2005).

Na Idade Média a universidade desenvolveu muitas de suas


características que prevalecem até hoje: um nome e uma localização central,
mestres com nível de autonomia, estudantes, sistema baseado em aulas,
procedimentos avaliativos e até uma estrutura administrativa com suas
faculdades. Não podemos nos esquecer, porém, que em tal momento esses
espaços tinham natureza confessional e voltavam-se a atender as
necessidades do feudalismo (BARROS; LEHFELD, 2000).

Mais tarde, com o Renascimento científico e cultural, as universidades


desviam do seu foco o ensino confessional e começam a ser guiadas pela
pesquisa empírica.

48
Com a implementação da pesquisa ou da investigação
científica na França, Inglaterra, Alemanha, as universidades
vão se reestruturando através de respostas substanciais às
reformas solicitadas para o desenvolvimento, ora mais utilitário,
através do paradigma epistemológico da racionalidade e do
experimentalismo, ora voltado para o conhecimento das
questões socioeconômicas da sociedade, como forma de
superação de seus problemas (BARROS; LEHFELD, 2000, p.
8).

No Brasil, as primeiras instituições de ensino superior foram criadas a


partir da vinda da família real portuguesa e sua corte, no início do século XIX. A
expansão das Universidades deu-se, porém, a partir da segunda metade do
século XX, culminando com a publicação da Lei 5.540, de 28 de novembro de
1968, a qual fixava normas de organização e funcionamento do ensino superior
e sua articulação com a escola média. Tal lei conferiu ao ensino superior no

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Brasil uma organicidade nunca vista anteriormente. A lei da reforma
universitária, como tal dispositivo foi chamado, foi modificada quando da
promulgação da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

A Lei Federal número 9.394, de 20 de dezembro de 1996, destaca,


dentre as principais finalidades do ensino superior, as que seguem abaixo:

I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito


científico e do pensamento reflexivo;

II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento,


aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e
colaborar na sua formação contínua;

III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica,


visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da
criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o
entendimento do homem e do meio em que vive;

IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais,


científicos e técnicos que constituem patrimônio da
humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicações ou de outras formas de comunicação;

V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e


profissional e possibilitar a correspondente concretização,

49
integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa
estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada
geração;

VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo


presente, em particular os nacionais e regionais, prestar
serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta
uma relação de reciprocidade;

VII - promover a extensão, aberta à participação da população,


visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da
criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas
na instituição.

VIII - atuar em favor da universalização e do aprimoramento da


educação básica, mediante a formação e a capacitação de
profissionais, a realização de pesquisas pedagógicas e o
desenvolvimento de atividades de extensão que aproximem os
dois níveis escolares (BRASIL, 1996).

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Se nos voltarmos à ideia de ensino superior como um espaço de estudo,
criação expansão do ensino científico, tal fórum deve estar alicerçado no
exercício de pensamento crítico e endereçado à pesquisa como um todo. Para
tal, exige do aluno mudança na sua postura de estudante, baseada
principalmente numa “maior autonomia para efetivação da aprendizagem,
maior independência em relação aos subsídios da estrutura do ensino e dos
recursos institucionais” (SEVERINO, 2002, p.23). O aluno deverá, então,
tomado de tal espírito, utilizar-se de diversos instrumentos de trabalho com o
fim de organizar sua vida de estudos.

Antes de adentrar às atividades práticas, de laboratório ou de campo, é


necessário que o aluno obtenha embasamento teórico da área de estudo que
escolheu para sua formação. Tal embasamento não poderá ser feito somente
nas aulas presenciais, nem também com a simples leitura das apostilas da
Educação à Distância – EAD. Segundo Antônio Joaquim Severino (2002) os
instrumentos de trabalho na universidade são principalmente bibliográficos,
podendo ser destacados:

50
• Obras de referência geral – textos básicos para estudo de sua área
específica: um dicionário da área, um texto introdutório à área, algum
texto de história da área, um tratado mais amplo, revistas especializadas
• e até mesmo algumas monografias. Tais textos têm a função de iniciar o
aluno no estudo de sua área, fornecer um vocabulário básico e os
principais conceitos da área, além de complementar as aulas
presenciais;
• Textos especializados – à medida que o aluno adquire o conhecimento
básico da sua área, buscará textos mais específicos, estudos
monográficos e continuará buscando informações nas revistas
especializadas. As revistas publicam as pesquisas recentes da área e
tornam públicos os repertórios bibliográficos da sua ciência e das
ciências afins;

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


• Participação em simpósios, congressos, seminários – tais eventos
são espaços de socialização das pesquisas da área e são fonte de
material para publicação das revistas e periódicos especializados. O
aluno pode inicialmente participar como ouvinte e posteriormente já
iniciar a publicização de sua pesquisa.
• Recursos tecnológicos gerados pela tecnologia educacional – as
próprias revistas e periódicos estão, em sua grande maioria,
disponibilizados em meio digital, o que facilita a consulta do aluno.
Existem alguns sites que reúnem publicações importantes decorrentes
das pesquisas acadêmicas, dentre os quais podemos citar:

I. Scielo – Scientific Eletronic Library Online: Coleção de revistas e


artigos científicos. Possui uma grande variedade de temas
relacionados à filosofia, com artigos completos disponíveis para
download. www.scielo.org/
II. Portal de Periódicos da CAPES: oferece acesso aos textos
completos de artigos selecionados de mais de 21.500 revistas
internacionais, nacionais e estrangeiras.
www.periodicos.capes.gov.br/

51
Síntese

O vocábulo universidade provém do latim universitas e, atualmente, podemos


relacioná-lo a uma associação de docentes e alunos que objetiva fomentar o ensino, a
pesquisa e a formação profissional.

No ensino superior o aluno deve munir-se de vários instrumentos para se apropriar da


metodologia de trabalho própria dessa etapa da educação, dentre eles: obras de
referência geral, revistas especializadas, periódicos, participação em congressos e
outros eventos e sites especializados da internet.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


3.2 A documentação como método de estudo pessoal

Sou um visual. O que na memória trago, trago-o visualmente, se susceptível é de

assim ser trazido. Mesmo ao querer evocar em mim uma qualquer voz, um perfume

qualquer, não evito que antes que ela ou ele me vislumbre no horizonte do espírito,

me apareça à visão rememorativa a pessoa que fala, a coisa donde o perfume

partiu. Não dou isto por absolutamente certo; pode ser que, radicada em mim de

vez a persuasão de que sou um visual, no lugar final do sofisma que é a escuridão

íntima do ser me fosse desde então impossível evitar que a ideia de que sou um

visual não levantasse imediatamente uma imagem falsamente inspiradora. Seja

como for, o menos que sou, é um visual predominantemente. Vejo, e vendo, vivo.

Fernando Pessoa

52
Após qualquer atividade de aula ou de leitura de material bibliográfico é
necessário que o aluno do ensino superior passe a uma fase muito importante
da vida acadêmica: a documentação. Muitos se perguntam sobre a
necessidade de documentar o processo de estudos, que vai desde a simples
documentação das aulas até a sistematização de livros, artigos e outros textos
referentes às disciplinas que fazem parte do currículo da área.

O processo de documentar reúne fontes de informação diversas,


anotações pessoais e registros impressos e digitais que podem contribuir para
o aprimoramento da vida acadêmica. O processo de produzir fichas,
anotações, resumos, em diversos meios (fichas de cartolina, folhas
organizadas em pastas, arquivos virtuais etc) contribui para aprimorar a
disciplina de estudos e formar um arquivo intelectual precioso para vida

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


estudantil.

Não se trata de decorar, memorizar e sim de proceder a um processo de


estudos que leve o aluno ao exercício da reflexão e pesquisa, por meio da
análise, comparação e exercício da escrita sistemática de anotações. A
memória visual, tal como descrita por Fernando Pessoa, ajuda o
estudante/pesquisador

Vale lembrarmos que estudar, na universidade é um ato “consciente e


volitivo determinado” (BARROS; LEHFELD, 2000, p. 16). Há, nesse processo,
uma passagem gradativa de conceitos frouxos para um quadro de elaboração
e de formulação de juízos sistematizados, que auxilia o aluno na construção da
sua vida acadêmica e nos seus encaminhamentos profissionais posteriores.

Antônio Joaquim Severino nos lembra que o ato de sistematizar nossos


estudos envolve alguns passos importantes, como a própria participação em
aula e o estudo em casa (o qual envolve a reorganização da matéria estudada
e a elaboração de fichamentos, relatórios e exercícios). Abaixo o fluxograma
da vida de estudos indicado pelo autor:

53
(SEVERINO,
2002, p. 31)

Diante do fluxograma descrito acima, o qual envolve várias fases do processo

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


de estudo e da nossa vida enquanto estudantes de graduação/pós-graduação,
podemos nos fazer algumas perguntas:

- Quais foram as suas decisões, tomadas em prol de um ato de estudar voltado


para a efetiva aprendizagem?

- Quais elementos contribuíram para uma melhor organização de estudos?

- Como sua rotina de estudos está organizada? Tal rotina inclui momentos para
a documentação das aulas e das fontes bibliográficas?

Se a resposta à terceira questão não inclui momentos para


documentação do material de aula e do acervo bibliográfico, a primeira
recomendação é que se dê, de imiediato, o início de tal procedimento.

O fichamento, técnica que se iniciou com a prática de registros em fichas


de cartolina e evoluiu até os mais sofisticados meios digitais, é uma ferramenta
muito importante para todo aluno e pesquisador. Tal documento condensa
informações do autor, indicações bibliográficas, citações diretas e indiretas,
além de comentários pessoais que facilitam a organização pessoal e o
encadeamento de ideias. Há várias formas de documentar, de acordo com
regras estabelecidas por cada autor.

54
Escolhemos apresentar neste material os tipos de documentação apresentados
por Antônio Joaquim Severino, em seu livro Metodologia do Trabalho Científico
(SEVERINO, 2002):

3.2.1 A documentação temática: o encontro com o pano de fundo

Tal como próprio nome já designa, a documentação temática tem como


objetivo reunir elementos importantes para o estudo em geral ou para a
realização de um trabalho sob um tema específico da área de trabalho
escolhida pelo estudante.

Os temas podem ainda ser divididos em subtemas, conforme a


complexificação ou extensão do mesmo. Toda reunião de material deve ser

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


feita a partir desse tema e as fontes podem ser diversas: informações das
aulas, artigos científicos, livros, periódicos, dicionários, participação em
congressos etc.

Exemplo de ficha de documentação temática

SOCIOLOGIA
Conceituação

Segundo o dicionário eletrônico Aurélio, a sociologia é o “estudo científico das


sociedades humanas e dos fatos sociais”.
https://dicionariodoaurelio.com/sociologia

Para Durkheim, “ela [a Sociologia] tem um objeto claramente definido e um método


para estudá-lo. O objeto são os fatos sociais; o método e a observação e a experimentação
indireta, em outros termos, o método comparativo. O que falta atualmente é traçar os quadros
gerais da ciência e assinalar suas divisões essenciais. (...) Uma ciência não se constitui
verdadeiramente senão quando é dividida e subdividida, quando compreende um certo
número de problemas diferentes e solidários entre si” “
DURKHEIM, 1953, p. 100

“Weber compreendeu a possibilidade de uma sociologia que, mediante rigorosos


estudos históricos e comparativos, lograsse separar as fronteiras entre as situações históricas
e fenômenos específicos, e por meio da identificação das forças causais relevantes extraísse
conclusões sobre as circunstâncias em que ocorre a mudança social, o desenvolvimento da
ação orientada a valores e a formação do sentido subjetivo”
KALBERG, 2010, p. 27

Dentre os vários ramos da sociologia podemos destacar a sociologia da religião, a


sociologia da educação, a sociologia do trabalho e a sociologia do direito (anotações em
classe).

55
3.2.2 A documentação bibliográfica: o encontro com o arquivo

De posse das informações sobre o tema a ser estudado, há a


necessidade de complementação do estudo da questão, explorando
referências bibliográficas que aprofundem o tratamento do tema. É o momento
de recorrer aos livros, aos artigos e às monografias que discorrem sobre o
tema.
Para Severino (2002) a documentação bibliográfica deve ser feita
paulatinamente e iniciar com uma leitura um pouco mais superficial do texto
(sumário, orelhas, introdução, prefácio, considerações finais). Cabe também
procurar em revistas especializadas as resenhas e resumos sobre o livro. Após

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


esse primeiro contato, caberá uma leitura mais aprofundada do texto.
Cabe ainda lembrar que não é necessário complementar as informações
da ficha bibliográfica de uma só vez, podendo ser acrescentados elementos à
medida que novas leituras forem feitas e novas informações forem
apreendidas.
Para facilitar a visualização é necessário que sigamos alguns
procedimentos de organização, como, por exemplo, definir no alto, à esquerda,
a citação bibliográfica completa do texto e à direita o tema e eventuais
subtítulos.
Com intuito de exemplificar tal tipo de documentação apresentaremos
um tipo possível de ficha bibliográfica.

56
Exemplo de Ficha de Documentação Bibliográfica

SOCIOLOGIA

DURKHEIM, Emile.
As regras do Método Sociológico
São Paulo, Martins Fontes, 3. Ed., 2007, 165 p.

O livro, publicado inicialmente em 1895, teve duas novas edições com algumas
alterações. A estrutura do livro está assim delineada:
Prefácio
Introdução
I. O que é um fato social?
II. Regras relativas à observação dos fatos sociais
III. Regras relativas à distinção entre normal e patológico

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


IV. Regras relativas à constituição dos tipos sociais
V. Regras relativas à explicação dos fatos sociais
VI. Regras relativas à administração da prova
Conclusão
Notas

“O objetivo de Durkheim é demonstrar que pode e deve existir uma sociologia


objetiva e científica, tendo por objeto o fato social. Para que haja tal sociologia, duas
coisas são necessárias: que seu objeto seja específico, distinguindo-se do objeto
das outras ciências, e que possa ser observado e explicado de modo semelhante ao
que acontece com os fatos observados pelas outras ciências. Esta dupla exigência
leva às duas fórmulas que servem de fundamento para a metodologia de
Durkheim: é preciso considerar os fatos sociais como coisas; a característica
do fato social é que ele exerce uma coerção sobre os indivíduos”
http://resumodaobra.com/raymond-aron-emile-durkheim-geracao-passagem-seculo-
regras-metodo-sociologico/

57
3.2.3 A documentação geral: o encontro com a memória

A documentação geral, segundo Severino (2002) é aquela que provém


de fontes perecíveis (recortes de jornais, cópias de revistas, apostilas,
documentos pessoais etc) cuja fonte não foi meio de digitalização à época.
Os documentos acima descritos podem ser arquivados em pastas e até
mesmos digitalizados, formando um material que poderá ser utilizado pelo
estudante à medida que as questões de sua pesquisa forem surgindo, sendo
importante fonte de dados para a mesma.

Exemplos de Documentação geral

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Jornal Correio de São Paulo, 16 de junho de 1932.
http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2012/09/jornais-e-revistas-antigos-sao-
digitalizados-pela-biblioteca-nacional

Carta do Beatle, Paul McCartner, escrita em 1962.


http://www.thebeatles.com.br/new/carta-de-paul-mccartney-foi-vendida-por-97-mil/

58
Síntese

O processo de documentar reúne fontes de informação diversas, anotações


pessoais e registros impressos e digitais que podem contribuir para o
aprimoramento da vida acadêmica, para a disciplina de estudos e para
formar um arquivo intelectual precioso para vida estudantil.

Dentre os vários tipos de documentação podemos citar a classificação de


Antônio Joaquim Severino, a saber: a documentação temática, a
documentação bibliográfica e a documentação geral.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


3.3 Diretrizes para leitura, estudo, análise e interpretação de textos

Estudar seriamente um texto é estudar o estudo de quem, estudando, o


escreveu. É perceber o condicionamento histórico-sociológico do
conhecimento. É buscar as relações entre o conteúdo em estudo e outras
dimensões do conhecimento. Estudar é uma forma de uma forma de
reinventar, de recriar, de reescrever – tarefa de sujeito e não de objeto. Desta
maneira, não é possível a quem estuda, numa tal perspectiva, alienar-se ao
texto, renunciando assim à sua atitude crítica em face dele.

Paulo Freire

59
Paulo Freire, importante educador brasileiro, em seus vários escritos,
denunciava a importância dos atos de ler e de estudar como correlatos de um
processo de formação de um indivíduo crítico e reflexivo. Não podemos deixar
de considerar, então, na especificidade da disciplina Metodologia Científica,
algumas questões acerca do ler e do estudar, coadunadas com o objetivo de
inserir o aluno no domínio da pesquisa e da ciência.

De acordo com Barros e Lehfeld (2000) o estudo pós-aula é benéfico


porque pode levar o aluno a compreender detalhes da mesma, memorizar
conceitos imprescindíveis à disciplina, complementar o conteúdo das aulas
com leituras afins, conhecer novas terminologias e o vocabulário afeito à
disciplina e proceder a análises gerais e temáticas a partir dos estudos feitos.

O estudo está intimamente relacionado à leitura. A leitura é a porta de


entrada para o estudo. O ato de ler envolve conhecimento, interpretação e

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


escolhas e constitui-se como “um dos fatores decisivos do estudo e
imprescindível em qualquer tipo de investigação científica. Favorece a
obtenção de informações já existentes, poupando o trabalho da pesquisa de
campo ou experimental” (MARCONI; LAKATOS, 2001, p. 15).

Para as referidas autoras há três espécies de leitura, segundo suas


finalidades:

a. A leitura de Entretenimento ou Distração – sem nenhuma destinação


de sistematização, a não ser o próprio prazer do ato de ler;
b. A leitura de Cultura Geral ou Informativa – tem como objetivo fazer
uma apreensão mais panorâmica do mundo, mas sem grandes
aprofundamentos;
c. A leitura de Aproveitamento ou Formativa – é aquela que se destina a
aprofundar determinada questão e vai exigir do leitor concentração e
atenção. Este tipo de leitura é o que será base para construção de
análises dos textos dos cursos de graduação e pós-graduação.

60
Antes de procedermos à leitura e estudo de qualquer obra é necessário que
façamos a identificação da mesma, a qual consiste na leitura básica do título,
da data de publicação (incluindo suas edições e reimpressões), da ficha
catalográfica (a qual reúne as informações básicas do livro e do autor), da
orelha e da contracapa (para que possamos ter uma primeira apreciação da
obra), do índice ou sumário, da introdução ou prefácio e da bibliografia. Este
contato inicial nos apresenta a obra e seu contexto geral.

Faz-se necessário, posteriormente, no caso de uma leitura formativa,


procedermos a uma delimitação da unidade de leitura, ou setor de determinado
texto escolhido para leitura que configure uma totalidade de sentido
(SEVERINO, 2002). Ao término de cada unidade o leitor terá a possibilidade de
retomá-la e fazer as considerações gerais e específicas. Não é recomendável a
leitura de um livro inteiro sem delimitar os tópicos principais, pois a leitura por

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


etapas é muito mais proveitosa.

Por fim, não podemos deixar de considerar que toda leitura envolve três
elementos: o emissor (aquele que escreve, emite a mensagem), a mensagem
(o texto em si) e o receptor (o leitor, o qual terá a tarefa de ler, decodificar e
compreender a mensagem). Complementando, podemos falar ainda do
código, ou linguagem e dos canais de comunicação. Neste processo há a
interferência de vários fatores que poderão contribuir para facilitação ou
dificultação do entendimento da mensagem, fatores esses que podem estar
localizados no próprio emissor e no seu processo de construção da mensagem,
quanto no receptor e seu contexto sociocultural. Tal advertência reafirma a
necessidade de organização de procedimentos básicos de análise com objetivo
de evitar distorções e garantir maior objetividade à leitura e à análise.

61
O Processo de Comunicação:

Fonte: https://sites.google.com/site/revolucaodosmeiosdecomunicacao/o-processo-de-

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


comunicacao

3.3.1 Análise textual

A análise textual é, segundo Severino (2002), a primeira abordagem do


texto com vistas à preparação da leitura. No início, faz-se uma leitura “seguida
e completa da unidade do texto em estudo” (SEVERINO, 2002, p.51). Essa
leitura não tem como objetivo esgotar toda análise do texto, mas sim ter uma
visão panorâmica do mesmo.

Neste momento deverão ser feitos alguns esclarecimentos em relação:

a. Ao autor – resumo de sua vida, obra e pensamento, detendo-se mais ao


último;
b. Ao vocabulário – iniciar um levantamento dos conceitos fundamentais
do texto e fazer uma sistematização dos mesmos;
c. Aos fatos históricos, doutrinas e outros autores – realizar pesquisa
sobre todos esses itens, de modo a clarificar a compreensão do texto.

62
A análise textual tem vital importância para se ter um conhecimento amplo e
prévio do texto e pode ser encerrada com a elaboração de um esquema do
mesmo.

O esquema permite uma visualização global do texto e ainda é uma


tentativa de sistematização mais simplificada do mesmo. Ele pode ser dividido
em três momentos: introdução, desenvolvimento e conclusão. Segundo Barros
e Lehfeld, o esquema pode “ser expresso através de ideias centrais do texto; é
a representação gráfica do que se leu” (2000, p. 22). Ainda, possui como
características a fidelidade ao texto original, a estrutura lógica e a flexibilidade e
funcionalidade.

Exemplo de esquema:

A ciberdependência

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


I – Introdução:

1. Tema: a ciberdependência;
2. Uma realidade social que pode tornar-se preocupante.

II – Desenvolvimento:

1. Comparação do uso da web a uma doença ou vício;


2. Público mais influenciável;
3. Aspectos positivos e negativos do uso da web.

III – Conclusão:

1. Retomada do Tema;
2. Considerações acerca da importância da leitura.

Adaptado de http://slideplayer.com.br/slide/2900259/

3.3.2 Análise temática

Nesta fase o leitor passará à compreensão da mensagem do autor, sem


intervir no conteúdo da sua mensagem. Para isso, o estudante ficará atento
aos seguintes tópicos:

63
a. O tema – o qual não está expresso necessariamente no título da obra. É
preciso ir mais além para inferir sobre o tema do texto, tentando captar
as diversas relações que o autor faz entre os diferentes elementos;
b. A problematização do tema – qual foi a questão que provocou o autor?
Como o assunto foi problematizado?;
c. A tese – qual é a ideia central que o autor quis defender com a escrita
do texto? Essa tese pode ser apresentada logo no início do texto ou
pode estar diluída nos capítulos/incisos. É importante notar, neste
momento, o raciocínio do autor no desenvolvimento do problema;
d. As ideias secundárias – que podem ser consideradas subtemas ou
subteses do texto. Isso ocorre em textos mais longos.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


A análise temática dá condições para que o aluno realize o resumo ou a
síntese do texto. Este resumo deverá demonstrar como foi a construção do
raciocínio do autor na elaboração do texto. Para Barros e Lehfeld (2000), o
resumo é a condensação das ideias principais do texto, com coerência à
mensagem do autor. O resumo compõe-se das seguintes fases:

▪ Leitura atenta do texto;


▪ Levantamento da ideia-chave de cada parágrafo;
▪ Ordenação das ideias dos parágrafos em geral, num encadeamento
lógico;
▪ Escrita da síntese em que conte as ideias principais do texto;
▪ Retomada da escrita, para confronto com as ideias do autor;
▪ Escrita final, respeitando as ideias do autor, mas utilizando de linguagem
própria.
Por fim, a análise temática permite a elaboração de roteiros de leitura e
de organogramas (descrição geometrizada do raciocínio).

64
Exemplo de uma possível formatação para um
organograma

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Fonte: http://www.miniwebcursos.com.br/curso_aprender/modulos/aula_3/sintetizar.html

3.3.3 Análise interpretativa

A interpretação é a fase que decorre das duas primeiras análises, pois,


neste momento, após a compreensão das ideias do autor, o estudante toma
uma posição pessoal a respeito do texto e inicia um diálogo com o mesmo.
Neste momento devem ser observadas algumas etapas (SEVERINO, 2002):

a. Delimitação do pensamento desenvolvido pelo autor;


b. Delimitação do pensamento do autor no contexto mais amplo da cultura
epistêmica geral – quais são suas posições diante das várias
orientações existentes;
c. Delimitação dos pressupostos do texto – princípios que justificam a
posição assumida pelo autor;
d. Aproximação e associação das ideias expostas no texto com outras
ideias semelhantes;
e. Crítica – formulação de um juízo crítico, ou seja, de uma tomada de
posição. Dessa forma, o texto pode ser analisado:

65
I. Do ponto de vista da sua coerência interna;
II. Do ponto de vista da sua originalidade, alcance, validade e
contribuição

3.3.4 Problematização

A problematização tem por objetivo o levantamento de problemas para


discussão, a qual pode ser feita individualmente ou em grupo. A mesma pode
ser feita nos mesmos níveis citados anteriormente:
▪ A problematização textual;
▪ A problematização temática;
▪ A problematização interpretativa;

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


É importante distinguirmos essa fase de problematização do texto, a
qual será feita pelo leitor, a partir da análise sistemática do mesmo, da análise
do problema do texto (estabelecido pelo autor), feita na análise temática. A
problematização aqui aludida diz respeito às questões gerais que o texto gerou
nos leitores, isto é, é a crítica fundamentada do leitor para com os argumentos
do autor.

3.3.5 Síntese pessoal


A síntese pessoal é a finalização de todo processo de análise textual. É
o momento em que o aluno elabora uma redação final que dê conta de todas
as análises feitas até então. Segundo Marconi e Lakatos (2001, p. 29), a
síntese é uma operação mental que “permite conhecer as relações
determinantes da unidade do objeto em estudo, dando-lhe um sentido global”.

66
Síntese

Analisar significa estudar, decompor, dissecar, interpretar e criticar. Consiste no estudo extenso de
uma obra ou de parte dela, para tentar captar o todo e suas partes constitutivas. O seu fim conduz a
uma visão crítica e coerente das ideias do autor e num exercício de síntese e disciplina intelectual do
leitor.

Para Severino (2000) existe a possibilidade de fazermos uma análise de uma obra sob os pontos de
vista: textual, temático e interpretativo. Ainda, é necessário proceder à problematização e à síntese
pessoal.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


3.4 Considerações finais

Chegamos ao fim do Módulo 3, “A organização dos estudos na


Universidade”. Neste segmento aprofundamos nossa conversa dos módulos
anteriores, trazendo à baila a questão do papel da universidade e da
importância do estudo como balizador da vida acadêmica. Neste módulo
também conhecemos algumas formas de documentar e de proceder à análise
de textos acadêmicos.

Lembramos que a consulta às referências bibliográficas e as indicações


de leitura complementam toda discussão aqui apresentadas.

Por fim, para socializarmos algumas ideias e partilharmos dúvidas e


inquietações conversaremos por meio do nosso fórum e lançaremos algumas
questões para verificação da sua aprendizagem.

Fique ligado!!!

67
MÓDULO 4 - Redação e apresentação do trabalho científico

Cláudia Ribeiro Calixto

Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Científicos.
Módulo 4 – A Pesquisa Científica – Faculdade Campos
Elíseos (FCE) – São Paulo – 2016.
Guia de Estudos – Módulo 4 – A Pesquisa Científica.
1. Metodologia. 2. Métodos Científicos. 3. Pesquisa.
Orgs.: Adriana Alves Farias e
Cláudia Regina Esteves

Faculdade Campos Elíseos

68
Retomando a conversa

Caro (a) aluno (a),

Nos módulos anteriores vimos os tipos de conhecimentos, métodos científicos


de investigação, técnicas de pesquisa e construção de textos científicos. A
essa altura do nosso estudo, nos deparamos com questões que remetem ao
nosso exercício direto de pesquisa, tais como: Que tema será investigado?
Qual o objeto e o problema da pesquisa? Como e onde serão coletados os

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


dados? Que tipo de dados? Que tipos de fontes serão explorados? Quais
autores e teorias servirão de arcabouço teórico? Que métodos serão
escolhidos? Chegou o momento, então, de adentrarmos a estruturação de um
projeto de pesquisa. Pois bem, neste módulo, A pesquisa científica,
trataremos do desenvolvimento do projeto. Inicialmente, disporemos os
conceitos e tipologia que são apontados na literatura sobre projetos de
pesquisa. Destacaremos as dimensões éticas que implicam a escolha e o
caminho da pesquisa, a questão da “neutralidade”, a relevância e função social
de um estudo. Veremos os tópicos relevantes, a forma de estruturação de um
projeto, algumas possibilidades de caminhos de investigação. Destacaremos
os itens que devem conter um projeto, procedimentos possíveis e algumas
precauções. Percorreremos as etapas de uma pesquisa: definição do tema e
objeto/problema, justificativa, objetivos, levantamento bibliográfico,
metodologia, coleta e apresentação de dados, análise e conclusão. Esperamos
que ao final você possa visualizar um passo a passo possível para pensar
começar a estruturar seu projeto.

Bom estudo!

69
4.1 A pesquisa

4.1.1 Conceitos

A pesquisa constitui uma procura, fruto de uma inquietação, de um


incômodo, de uma dúvida; é uma vontade e um trabalho laborioso, tão
apreensível por outrem quanto passível de ser questionável a qualquer tempo.
Assim, podemos dizer que é aventura e risco.

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Questionar é desejar saber uma coisa.

Roland Barthes

Para viabilizar uma pesquisa é preciso cadenciar o pensamento, garantir


um caminho lógico e sistematizado. É preciso, então, escolher uma
metodologia.

A palavra método vem do grego e significa caminho; o verbete lógica


também de origem grega, estudo. Ainda no campo da etimologia, o termo
pesquisa é empregado já no século XVI e se refere à “busca com investigação”
(CUNHA, 2010, p.493) e o verbo investigar significa “seguir os vestígios de,
indagar, pesquisar” (p.364). Eis, então, uma tarefa fundamental que nos
colocamos na pós-graduação: aventurarmo-nos em um trabalho de
investigação.

70
Uma pesquisa não é uma reposição de conhecimentos já disponíveis ou
presumidos de antemão. Como conceitua Pedro Demo (2005), constitui um
procedimento de fabricação do conhecimento, havendo nele um processo
reconstrutivo e produtivo de conhecimentos, sempre provisórios, parciais e
prontos a serem questionados.
Para que as conclusões de um estudo sejam incorporadas ao conjunto
de saberes acadêmicos, para que lhe seja conferida credibilidade,
confiabilidade e validade, é necessário que os dados e a análise passem por
uma metodologia científica, qual pudemos estudar no segundo módulo.
Segundo Umberto Eco (2016), para um trabalho merecer ser
denominado científico, deverá atender aos seguintes requisitos: debruçar-se
sobre um objeto reconhecível e definido de tal forma que seja reconhecível por
outros, dizer algo que ainda não foi dito sobre o objeto e ser útil aos demais.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Em complementação às afirmações de Eco, Pedro Demo (2005) destaca que
uma pesquisa científica deve atender aos critérios de coerência,
sistematicidade, consistência, originalidade, objetivação e discutibilidade
e Gilberto de A. Martins e Carlos R. Theóphilo (2016) apontam que o estudo
deverá ser, ao mesmo tempo, importante, original e viável.
Ao final, a pesquisa se materializará numa escritura: o texto! No ensino
superior tomará a forma de um trabalho acadêmico: uma monografia, uma
dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado. Nesse texto, o estudante
contará a história da própria pesquisa; a história de sua escrita. Ou seja, ali se
disporá além do objeto da investigação, o próprio caminho levado a cabo, pelo
pesquisador, mediante um problema definido, os dados levantados, seu
tratamento teórico-metodológico efetivado num percurso de raciocínio e suas
conclusões. Exporá, pois, tanto os procedimentos de investigação, como os
conceitos e a fundamentação teórica que informou a análise dos dados
levantados no decorrer do estudo. Esse registro permitirá a reconstituição de
um caminho e suas escolhas, remontar, desmontar e refazer a análise que foi
produzida quando de possíveis questionamentos acerca das assertivas
concluídas pelo pesquisador e do modo da pesquisa que foi por ele procedido.

71
4.1.2 Tipos de pesquisa

Na atualidade, muitas são as abordagens teórico-metodológicas e tipos


de pesquisa em produção no meio acadêmico.

As pesquisas podem ser classificadas de variadas formas, de acordo


com diferentes critérios, dentre os quais, conforme dispõe Elisa Pereira
Gonçalves (2003): em função dos objetivos a que se propõe (explorar,
descrever, explicar um fenômeno, bibliográfica, participativa, documental),
segundo os procedimentos de investigação que emprega (experimental,
levantamento, estudo de caso etc.), em função das fontes de informação que
lançará mão (laboratório, campo, bibliografia, documentos), segundo a
natureza dos dados (quantitativos ou qualitativos).

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Para que você possa visualizar alguns caminhos possíveis, destacamos,
a seguir, tipos de acordo com algumas classificações.

Em relação à forma de abordagem do problema (SEVERINO, 2002):

a) Quantitativa: esse tipo de pesquisa intenta medir em quantidade os


dados coletados acerca de um fenômeno. Aqui, busca-se dispor sua
constância, a variação ou mesmo a raridade de sua ocorrência. Por
exemplo, quando se pretende levantar o perfil econômico e/ou cultural
e/ou de consumo e/ou de ideias e suposições sobre um assunto e/ou
critérios de avaliações e decisões de determinada comunidade. Os
dados são expressos em números e lança-se mão de instrumental
estatístico para tratamento do material empírico6: dados, cálculos
numéricos, emprego de gráficos e tabelas. Nesse tipo, é frequente o
emprego de entrevistas com questões fechadas e de questionários com
perguntas de múltipla escolha.

6
Material empírico remete ao conjunto de informações acerca do objeto que se pretende investigar que
serão retirados

72
b) Qualitativa – nesse tipo, objetiva-se atribuir um significado aos
fatos/fenômenos. Caracteriza-se, pois, pelo tratamento qualitativo dos dados
empíricos. A defesa desse tipo de método advoga que a qualidade é menos
questão de extensão do que de intensidade (DEMO, 2005, p.34). Poderão se
constituir material de análise fotos, filmagens, observação direta, dentre outros.
Também questionários e entrevistas com questões abertas são, mormente,
utilizados.

Em relação aos objetivos (SEVERINO, 2002), ao que intenta a


pesquisa, podemos classificar:

a) Exploratória – esse tipo de pesquisa visa estudar em profundidade


um assunto. Não é estatística e sua análise explora com vagar os dados

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


coletados. Por exemplo, levantamento e análise das impressões e narrativas
de determinados grupo de alunos e/ou professores acerca de seu processo
avaliativo e resultados aprendizagem. Podem envolver levantamento
bibliográfico, entrevistas, experimentos práticos, estudos de caso, análise de
exemplos;

b) Descritiva – esse tipo busca descrever as características o fenômeno


ou da população investigada, estabelecendo relações entre variáveis: estas se
pautam em dados coletados por meio de métodos padronizados de coleta.

Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, as pesquisas podem


ser categorizadas em, de acordo com Gil (1994):

a) Bibliográfica ou “pesquisa de ideias” – esse tipo de pesquisa é


eminentemente teórico: os “dados” são as próprias teorias e autores
(DEMO, 2005). Assim poderia ser uma pesquisa sobre o conceito de
biopolítica em Michel Foucault e sua atualidade para os estudos sociais.
b) Documental – esse tipo de pesquisa toma por fontes, documentos ainda
não analisados por outras pesquisas. Esses documentos podem ser de
outro(s) período(s) histórico(s) ou da atualidade.

73
c) Experimentais

✓ levantamento – este tipo envolve o questionamento direto das


pessoas cujo comportamento se deseja conhecer;
✓ experimental – este tipo de pesquisa, majoritariamente utilizado
nas pesquisa sobre fenômenos físicos e biológicos, pressupõe a
seleção de variáveis que influenciam o fenômeno, define formas
de controle e observação dos efeitos que as mesmas exercem
sobre o mesmo.
✓ ex-post-facto – aqui a análise recai sobre fatos já acontecidos,
nos quais não há como fazer qualquer intervenção. A análise de
muitos fenômenos naturais enquadram-se neste tipo, como por

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


exemplo, a ocorrência de um furacão.
✓ estudos de caso – esse tipo de pesquisa destaca uma
determinada experiência que tenha se dado para analisar seu
contexto e as variáveis. Nesse tipo, busca-se um estudo
minucioso e focado;
✓ Etnografia – constitui, segundo Lakatos e Marconi (2004), uma
forma específica de investigação qualitativa e refere-se ao estudo
da cultura. Pressupõe a hipótese da existência de um mundo
cultural desconhecido, a necessidade de descrever o modo de
vida dos povos tendo em vista a compreender seu significado e
entender o funcionamento da sociedade de grupos, e ainda,
prevê a participação ativa na vida da comunidade, com o fito de
conhecê-la melhor (LAKATOS;MARCONI, 2004).

Destacamos, aqui, outra possibilidade de agrupar tipos de pesquisa,


está apontada por Pedro Demo (2005), a qual, podemos dizer, está relacionada
à natureza do objeto do estudo.

74
a) Teórica – busca “reconstruir teorias, conceitos, ideias, ideologias,
polêmicas (...) – suas polêmicas, seus acordos, os conteúdos implícitos
e explícitos” (DEMO, 2005, p.22), para depois, com condições mais
adequadas poder até se contrapor, se assim lhe convier a análise. Trata-
se de, ao final, desconstruir teorias para reconstruí-las em outro patamar
e momento;
b) Metodológica – visa “inquirir métodos e procedimentos a serviço da
cientificidade, polêmicas e paradigmas metodológicos; seu uso e abuso,
tanto em âmbito epistemológico quanto no do controle empírico” (DEMO,
2005,
p.22). Podemos dizer que ao se posicionar com essa intencionalidade
esse tipo de pesquisa parte da problematização que põe em xeque os
modos de fazer;

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


c) Empírica – empenha-se em “tratar a face empírica e fatual de uma
realidade preferencialmente mensurável; produz e analisa dados,
procedendo sempre pela vida do controle empírico e fatual” (DEMO,
2005, p.23);
d) Prática – liga-se “à práxis, ou seja, à prática histórica em termos de usar
conhecimento científico para fins explícitos de intervenção” (DEMO,
2005, 23). Aqui se posicionam alguns métodos identificados como
qualitativos como a pesquisa participante e a pesquisa-ação.

✓ pesquisa participante – neste tipo de pesquisa, há uma


interação entre pesquisadores e pessoas envolvidas nas
situações investigadas (GIL, 1994).
✓ pesquisa ação – aqui pesquisador e participantes da situação ou
problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
Neste tipo de pesquisa, após um diagnóstico inicial do problema,
propõe-se uma forma de intervenção, a qual é vivenciada,
registrada e os resultados serão analisados pelo pesquisador.

75
Disposto esse panorama com alguns tipos de pesquisa possíveis,
destacamos que, conforme alerta Pedro Demo (2005), para que você avalie
seu procedimento, é importante que você considere as seguintes questões:

➢ “quais são, dentro dos conhecimentos que possuo, os que me


ajudam a escolher meu problema e de que ordem são estes
conhecimentos?
➢ são apenas fatuais ou possuem bases conceituais e teóricas?
➢ meus valores e minha visão de mundo orientaram minha escolha
dos problemas?” (DEMO, 2005, 126).

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Síntese

Como acabamos de ver, as pesquisas podem ser


classificadas de acordo com seu objetivo, com os
procedimentos de investigação que foram adotados,
com a natureza de seu objeto, com a forma de
abordagem etc. Assim, uma mesma pesquisa pode ser
classificada como qualitativa, como prática, como
experimental, dependendo do critério que se tome
como referência. O importante é ter em mente que ao
se propor uma pesquisa, deve-se ter clareza do que se
quer, do objeto que se pretende investigar, para melhor
pensar o modo de fazê-la.

76
4.2. O projeto de Pesquisa

Antes de ser efetivada, a pesquisa precisa ser planejada. Aqui, veremos


um caminho possível, seguindo alguns passos que poderão nortear sua
trajetória, percurso esse apontado pela maioria dos textos que tematizam a
construção de um projeto de pesquisa científica.

Antes de adentrarmos na disposição formal do projeto, enfatizamos que


a escritura da pesquisa também deverá explicitar o percurso de investigação e
de pensamento do pesquisador.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Alguém cujos trabalhos são, grosso modo, e apesar de tudo, trabalhos
de história, alguém que pretende enunciar discursos relativamente objetivos,
que pensa que seus discursos têm certa relação com a verdade, esse alguém
tem realmente o direito de contar assim a história de sua escrita, de
comprometer assim a verdade a que pretende com uma série de impressões,
de lembranças, de experiências que são profundamente subjetivas?

Michel Foucault

No questionamento acima, Michel Foucault, importante pesquisador


francês, versa sobre a importância de desfiar, percorrer a desordem primeira
do pensamento que se estrutura em trabalho de pesquisa e se organiza
racionalmente em forma de comunicação escrita.

77
No momento da idealização do projeto, o pensamento pode apresentar
certa desorganização e um emaranhado, por vezes, confuso e caótico de
ideias. Para planificar e organizar essas ideias é importante que elaboremos o
esboço de um roteiro que possa orientar e organizar tanto o pensamento
quanto as ações que serão necessárias para a investigação.

4.2.1 Desenvolvimento do projeto

Como apontamos no segundo módulo, para que a conclusões de uma


pesquisa entrem no jogo dos conhecimentos validados, é necessário que se

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


observem algumas exigências. É preciso que a pesquisa se justifique no
campo, apresente rigor e apuro metodológico e teórico. O pesquisador
necessita, para tanto, ter muito claras as questões que seguem:

O que, por que, para que e como pesquisar? Que passos seguir?

E agora, por onde ir?

O projeto de pesquisa constitui um rascunho inicial, um esboço em que


o estudante apresentará o interesse temático, o problema que o inquieta, o
caminho que incialmente visualiza, as ideias/autores teóricos com os quais
conversará e que hipóteses iniciais formula sobre o fenômeno.

A seguir, veremos alguns tópicos fundamentais que lhe poderão ajudar


nesse momento de planificação de seu projeto.

a. Tópicos relevantes na estrutura de um projeto de pesquisa

Um projeto, em linhas gerais, se compõe de algumas partes principais


(DEMO, 2005): definição do tema, objeto e hipóteses de trabalho, avanço do
referencial teórico, possível base empírica ou fatual, alicerces metodológicos,
resultados esperados ou realização da hipótese e conclusão.

78
É necessário que se elaborem hipóteses acerca do fenômeno que se
pretende investigar. Mas também é fato que, se pensamos ter as respostas e
explicações sobre o problema, não estaremos propondo uma pesquisa e não
haverá vigor analítico, pois não haverá, de fato, uma pergunta. Assim, cabe a
advertência que uma pesquisa não deve ter por objetivo panfletar uma ideia,
advogar um ponto de vista ou um modo de investigação. É preciso um não-
saber do próprio pesquisador para se definir um projeto.

b. Projeto de estudo e plano de pesquisa

Um projeto de pesquisa constitui, antes de qualquer coisa, um exercício


de análise. Trata-se de um trabalho que demanda a aplicação de uma
metodologia de investigação e de uma forma de abordagem teórica que
permita a discussão do problema. O projeto é provisório, delineia um roteiro,

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


um caminho e é disparado pelas informações primeiras do pesquisador e por
sua afetação intelectual por determinado tema. Ele trará as linhas mestras do
trabalho de investigação, uma construção lógica e a coordenação de ideias e
etapas do percurso.

Muitas são as decisões e ações que envolvem um estudo, bem como


amplas são as possibilidades de problematização e recorte de um tema, afinal,
como observa Alfredo Veiga-Neto (2002), infinitos recortes e combinações
compõem o mundo. É preciso que o pesquisador estabeleça uma rotina
organizativa. Assim, para que o processo aconteça com certa economia de
tempo e de esforços, cadência, concentração e objetivação na pesquisa, é
importante que o estudante elabore um plano de trabalho e de estudo. Neste
plano, deverão ser previstas as etapas da investigação, consideradas as fases
que devem ser contempladas, no período cronológico em que se deverá dar
conta de todo o processo, ou seja, até a data-fim prevista no seu programa de
pós-graduação. A elaboração do plano possibilitará que você evite repetições
desnecessárias de tarefas.

79
Sua elaboração envolve um trabalho prévio que, conforme apontam
Lakatos e Marconi (2004, p.264), três aspectos: a orientação geral sobre a
matéria; o conhecimento de uma bibliografia pertinente; a reunião, seleção e
ordenação do material levantado.

Ainda, é preciso planificar as atividades de leitura e de constituição do


arquivo para a pesquisa (fichamentos, resenhas) e pensar os passos que serão
dados até o final do estudo, perspectivando-as no tempo – quando cada ação
deverá estar concluída. Evidente que se trata de um plano que será
redimensionado no processo e que os resultados de cada ação vão se
entremeando, mas tê-lo elaborado o ajudará a percorrer o trajeto com mais
tranquilidade e de forma organizada.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


c. A “neutralidade” do pesquisador

Já nos módulos anteriores, destacamos que o conhecimento científico


não é neutro. Ainda que se persiga um grau de objetividade, há um consenso
na literatura acerca da metodologia de pesquisa que tanto pela forma de
aproximação e tratamento do objeto, pela metodologia, quanto por sua entrada
no campo das produções de qualquer área, não há neutralidade na disposição
e produção de conhecimentos. Como afirma Eagleton (apud DEMO, 2005,
p.27), “Não vemos a realidade de modo neutro, mas postados em algum lugar
da sociedade. Tendo, por trás de nós, história que já passou e à frente de nós,
história que está por vir”.

Nem mesmo a metodologia pode ser descrita como neutra: tanto os


métodos de investigação quanto a linguagem já constituem a rede de
conhecimentos no quais nos vemos, ou seja, já conduzem o nosso olhar e
dispõe aquilo que conseguimos ver e pensar. Alfredo Veiga-Neto (2002, p.36)
aponta haver

“total impossibilidade do distanciamento e da assepsia


metodológica ao lançar nossos olhares sobre o mundo. Isso não
significa falta de rigor, mas significa que devermos ter sempre
presente que somos irremediavelmente parte daquilo que
analisamos e que, tantas vezes, queremos modificar”.

80
Atente, contudo, que não é papel de um pesquisador posicionar-se a
favor, defender, panfletar acerca de qualquer objeto, ideia ou forma. É preciso
garantir na pesquisa o rigor e vigor investigativo e analítico. O posicionamento
ético-político do pesquisador deve assentar-se na atitude crítica que assume ao
questionar-se acerca do lugar público de sua pesquisa. Segundo Pedro Demo
(2005), as metodologias a serem utilizadas não devem produzir um discurso
marcado pela justificação, como o é o discurso ideológico, não devendo se
constituir na postulação de meras especulações.

d. Função social da pesquisa

Segundo Wayne C Booth, Gregory G. Colomb e Joseph M. Williams


(2005) a pesquisa é uma atividade inteiramente social e deve almejar o
benefício de todos os envolvidos por ela e da coletividade como um todo.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Uma pesquisa precisa dizer a que veio. Não é possível defini-la e pensá-
la apenas do ponto de vista formal. É necessário que um estudo explicite as
contribuições que podem advir de suas conclusões tanto para o campo quanto

para a sociedade e para o seu tempo. Suas contribuições poderão ser desde
um novo foco, uma nova perspectiva ou um novo caminho de investigação. Ela
pode pôr em xeque primados anteriormente estabelecidos ou, ainda, lançar
novas perguntas para um mesmo problema.

Lembremos que o conhecimento científico tem sua emergência no


século XVII e trazia como promessa a “descoberta de verdades universais”,
pregava uma suposta objetividade, certeza e neutralidade à ciência: seus
métodos, resultados e aplicações. Ao lado das inquestionáveis contribuições às
formas de produção, terapêuticas à saúde dentre outras, as trágicas
experiências que vimos a partir do século passado (tecnologias de guerra,
genocídios, devastação do meio natural etc.), envolvendo o uso dos saberes
científicos, desmontaram tais crenças e colocaram aos pesquisadores
questões inquietantes, bem como colocaram em xeque os paradigmas do
conhecimento científico (KUHN, 2011). Como alerta Pedro Demo (2005, p.39),

81
“torna-se problema candente o abuso do conhecimento científico par fins
eticamente escusos, a começar por tipo de crescimento econômico deletério ao
meio ambiente, além de espoliativo das maiorias”. Não raro, vimos emergir
“teorias científicas” produzidas para afirmar, justificar e naturalizar diferenças
que foram historicamente construídas (raças, etnias, gêneros, classes etc.)
estabelecendo relações de superioridade-inferioridade.

No plano metodológico podemos afirmar que existe certo relativismo


epistemológico, contudo, conforme assevera Veiga-Neto (2002), o mesmo não
deve ser confundido com relativismo ético. Isso significa que noções tais como
solidariedade, justiça social e igualdade de direitos devem balizar nosso
trabalho.

e. Levantamento bibliográfico

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Tendo em vista garantir a coerência e consistência à pesquisa, é
necessário fazer um levantamento das produções teóricas e dos autores
considerados importantes no campo temático da pesquisa.

Podemos dividir o levantamento bibliográfico em dois campos: um


referente à metodologia e à abordagem teórica que informará a análise do
pesquisador; e outro referente à literatura existente sobre o objeto de
estudo – aquilo que se dispõe no campo e que possa interessar à pesquisa;
aquilo que já se sabe, que já se investigou e sob quais perspectivas teóricas e
metodológicas.

Uma teoria, ou um conjunto teórico-metodológico o ajudará a pensar o


problema e pesquisar o seu objeto e o auxiliará no seu exercício de
argumentação.

Lembre-se, contudo, que uma pesquisa não deve repor o já dito.


Destaque-se que o pesquisador irá fazer a sua leitura e sua própria
interpretação do fenômeno. Há que se ter certa infidelidade aos autores que
nos convocam a pensar. Mais que suas conclusões e postulações acerca de
um objeto/tempo deve nos interessar seu modo de investigação. O modo de

82
melhor reverenciá-lo é, no mais das vezes, sendo-lhe infiel. Nossos referenciais
teóricos não devem, pois, nos aprisionar no pensamento. A forma de
investigação, os caminhos metodológicos já trilhados por outros podem nos
interessar, inspirar, inquietar e até nos orientar. O conteúdo deve nos desafiar.

Lemos autores para nos tornamos autores, não vassalos.


Pedro Demo

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Sintetizando...

Uma pesquisa deve atender aos critérios de coerência,


sistematicidade, consistência, originalidade, objetivação e
discutibilidade. Traz para o campo de saber no qual se
insere não somente questões formais, mas também
políticas. Não há assepsia possível no campo da
produção do conhecimento. Uma pesquisa precisa dizer
ao que veio e seu projeto deve explicitar quais as
contribuições que ela pode trazer ao campo, bem como
suas contribuições de ordem social.

83
4.2.1 A pesquisa científica: Etapas

Veremos um passo-a-passo que poderá lhe orientar no desenvolvimento


do seu estudo, dispondo os aspectos formais, os quais seu projeto deverá
contemplar. Atentem, pois, aos itens que se seguem:

a. Definição do Tema

Segundo Martins e Theóphilo (2016, p.7), “o processo de escolha de um


tema assemelha-se à elaboração de um roteiro para iluminação de uma peça
teatral”. Com criatividade e engenhosidade, é preciso escolher onde se deve
jogar luz, dar o zoom”. Trata-se de buscar e engendrar uma perspectiva, um
ângulo que possibilite dizer algo que ainda não foi dito, ou rever, sob outra
perspectiva, o que já foi dito sobre o assunto.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


O tema constitui, pois, o principal assunto que a pesquisa abordará. Ele
anuncia um horizonte vasto de possibilidades de recortes de fenômenos e
problemas, como, por exemplo: direito civil, avaliação da aprendizagem,
administração escolar, planejamento operacional, história da arte, políticas de
saúde pública, sucesso e fracasso escolar etc.

O tema deve ser um assunto de interesse do estudante, algo que de


alguma forma a intriga, o inquieta, o convoca a pensar e o desafia a investigar.
Tendo em vista tornar o trabalho mais interessante e eficiente, convém que o
tema tenha alguma relação com a área de atuação profissional do pesquisador,
ou que faça parte de sua experiência pessoal. Nessas condições, o
pesquisador já possui conhecimento prévios que poderão facilitar sua entrada
no tema, a interpretação dos textos, ideias e jargões da área, orientando na
busca de bibliografia e consulta a profissionais especializados (MARTINS;
THEÓPHILO, 2016).

84
Nessa decisão, contudo, deve-se observar a relevância desse tema e
dessa investigação. Para tanto, é fundamental fazer um contato prévio com a
bibliografia que existe disponível sobre o tema – as controvérsias, a
insuficiência de informações ou abordagens. É necessário ler, fichar, planificar
informações de estudos já realizados. Aqui os instrumentos apontados no
módulo 3 o ajudarão. Convém iniciar por trabalhos mais gerais, para, após
abordar estudos mais especializados (LAKATOS; MARCONI, 2004). Costuma-
se desenvolver temas da atualidade – eventos, fenômenos em ocorrência no
tempo presente (Currículo na Educação Infantil, na atualidade, por exemplo) ou
temas históricos (a escravidão no Brasil no século XVIII, por exemplo).

É importante, ainda nesse momento, definir o período de tempo que


será investigado (marco temporal), o espaço, a população e o tipo de
amostragem de onde se extrairão os dados (marco empírico). Assim, deverá o

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


pesquisador “fixar as circunstâncias, sobretudo de tempo, espaço e sob que
ponto de vista ou perspectiva o tema será focalizado” (MARTINS; THEÓPHILO,
2016, p.7).

Nas palavras de Antônio Joaquim Severino (2002, p.76), o


desdobramento de um trabalho de pesquisa pode se dar em três fases:

há o momento da invenção, da intuição, da descoberta, da


formulação de hipóteses, fase eminentemente lógica em que o
pensamento é provocador, o espírito é atuante; logo após, parte
para a pesquisa positiva, seja experimental, seja de campo ou
bibliográfica.

Para Severino, nesse momento, o pesquisador é posto diante dos fatos,


de outras analíticas já desenvolvidas acerca do objeto. É do confronto com
essa produção que ideias poderão ser abandonadas, outras poderão surgir e
algumas ainda poderão ser reformuladas

b. Formulação do problema, hipóteses e proposições

Definido o tema, deverá o pesquisador fazer um corte e definir, então, o


objeto de estudo, ou seja, o centro da atenção e a pergunta que irá perseguir.
Como apontam Gilberto de Andrade Martins, um tema precisa ser

85
problematizado. Aqui, o estudante irá delimitar aquele assunto – o tema – e
especificar o problema que irá investigar: deverá formular com clareza e
precisão um problema concreto a ser estudado. Deve-se cuidar para que o
problema seja genérico demais ou restrito demais, cujo solução se aproxime de
resultados óbvios, com alertam Martins e Theóphilo (2016).

A formulação do problema é um momento crucial – constitui uma


delimitação fundamental a qual norteará o caminho da investigação. O tema, o
qual remete a um assunto geral, amplo, precisa ser problematizado pelo
pesquisador. Essa etapa constitui, pois, no exercício de delimitar o problema
dentro do espectro vasto que é o tema. Assim, define-se um objeto que será
convertido em pergunta orientadora.

Para Martins e Theóphilo, nessa primeira etapa do processo de

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


pesquisa, o investigador deverá responder com clareza e precisão às questões:
O que fazer? Por que fazer? Ao responder essas perguntas, o pesquisador
estará caracterizando o seu objeto de estudo.

O problema de pesquisa deve estabelecer relações entre duas ou mais


variáveis, ser formulado em forma de questão de forma clara, objetiva, concisa
e deve ser passível de comprovação.

Vejamos um exemplo:

TEMA: Sucesso e fracasso escolar


OBJETO: Relações entre aproveitamento escolar e identidade de
gênero e raça no ensino fundamental
PROBLEMA: É possível estabelecer entre sucesso/fracasso escolar no
ensino fundamental e identidade de gênero e raça? Como se distribui e
funciona o processo de produção do fracasso escolar entre meninos e
meninas/raça?

86
Destacamos que a definição de um problema de pesquisa é
determinada pela abordagem teórica do pesquisador. No exemplo acima, o
tema foi problematizado por uma abordagem teórica pós-crítica, trazendo à
baila variáveis como gênero e raça, por uma perspectiva que problematiza as
relações de poder que (se) produzem socialmente. O mesmo tema definido no
exemplo acima poderia ser problematizado por várias outras perspectivas
teóricas, levantando questões diferentes. Numa outra perspectiva teórica, por
exemplo, poderia definir-se como problema: como surgiu a problematização da
relação entre fracasso/sucesso escolar e gênero? Como se deu a emergência
e a proveniência da noção de gênero?

Como analisa Sandra Mara Corazza (2002, p.115), “as questões feitas

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


àquilo que chamamos de realidade são constituídas pela(s) perspectiva(s)
teórica(s) de onde olhamos e pensamos esta mesma realidade”. Para a
pesquisadora, um problema não existe em si mesmo, mas é engendrado por
nós. Defende, ainda que

constituir um problema de pesquisa é começar a suspeitar de


todo e qualquer sentido consensual, de toda e qualquer
concepção partilhada, como os quais estamos habituadas/os;
indagar se aquele elemento do mundo – da realidade, das
coisas, das práticas, do real – é assim tão natural nas
significações que lhe são próprias; duvidar dos sentidos
cristalizados, dos significados que são transcendentais e que
possuem estatuto de verdade (...) é virar a própria mesa,
rachando os conceitos e fazendo ranger as articulações das
teorias (CORAZZA, 2002, p.118).

Muito possivelmente, no desenvolvimento da pesquisa um problema


inicial poderá remeter o pesquisador a outro problema e, até, a outro objeto.

Destacamos que a definição clara do problema permitirá o


desdobramento da(s) hipótese(s) que orientará(ão) o tratamento analítico e o
encaminhamento lógico do raciocínio. Detenha-se a essa tarefa com atenção.

87
c. Justificativa do estudo

Nesse momento, o pesquisador apresentará a proposta de sua


pesquisa: relatará a forma como se aproximou do tema e suas inquietações e
problematizações acerca do objeto, justificando a pertinência desse estudo,
expondo a relevância para o campo, para a área do tema a ser estudado. A
justificativa deverá informar ao leitor o porquê do projeto de pesquisa
proposto, ou seja, o seu foco de atenção, a pergunta central do estudo e a
problematização do tema.

Destacamos a importância de ser apontada a relevância social da


pesquisa. Sem assumir uma intenção utilitarista, uma pesquisa deve dispor um
exercício crítico das práticas. Implicam-se aqui algumas questões de relevância

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


ética: A que serve essa pesquisa? O bem comum, questão tanto destacada na
filosofia, não pode estar ausente nos momentos de propositura, escolha de
caminhos e análise do investigador.

d. Definição dos objetivos – geral e específico

O objetivo geral indicará a extensão do estudo, explicitará até onde se


deseja chegar e deve ser amplo e possível de ser desdobrado em objetivos
específicos. Assim, para o tema e objeto citados no exemplo, citamos os
objetivos proposto por Marília Pinto de Carvalho (2004, p.247): “conhecer os
processos através dos quais se produz, no ensino fundamental, o fracasso
escolar mais acentuado entre crianças negras do sexo masculino, conforme
vêm indicando as estatísticas educacionais brasileiras há algumas décadas”.

Os objetivos específicos expressam o que se pretende fazer tendo em


vista responder ao problema proposto pela pesquisa. Desdobrados do objetivo
geral, apresentam as ações que precisam ser efetivadas, tendo em vista a
consecução do objetivo geral. Devem ser alcançáveis. Do exemplo citado como
objetivo geral, poderíamos desdobrar, também a título de exemplo, alguns

88
inventariar as variáveis que são mobilizadas na literatura acadêmica quando se
analisa a questão do fracasso escolar;

➢ levantar o conceito de raça em circulação no meio acadêmico;


➢ identificar se e quando a identificação racial passou a compor o discurso
acadêmico e/ou as estatísticas estatais e/ou os discursos docente e discente;
➢ planificar os resultados do aproveitamento escolar nos quartos anos do ensino
fundamental de uma escola estadual de São Paulo;
➢ realizar entrevistas com alunos, professores e pais acerca das expectativas
escolares e representação racial dos alunos – pertencimento étnico-racial;
➢ observar e analisar o contexto cotidiano de uma turma de 4º ano na escola
estudada;
➢ realizar entrevistas com os professores dos alunos dessa turma – aula regular

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


e recuperação paralela – sobre a percepção das causas da diferença no
desempenho escolar entre meninos e meninas;
➢ investigar os critérios de avaliação dos professores e suas ideias sobre as
relações raciais (CARVALHO, 2004, P.268).

Note-se que os objetivos devem ser enunciados a partir de um verbo no


infinitivo: analisar, investigar, comparar, especificar, estabelecer etc.

e. Revisão da Literatura/ levantamento da bibliografia

Nesta etapa, mapeamos o terreno, ou seja, levantaremos o que já existe


pesquisado sobre o tema/objeto. É importante fazer uma compilação do
conjunto de produções já em circulação na área de modo a garantir a
consistência e pertinência da pesquisa. Esse é o trabalho de levantamento do
“estado da arte”, ou seja, o levantamento do que já existe de produção no
campo: investiga-se o que já foi pesquisado sobre o tema, que abordagens são
circuladas na literatura sobre o problema que se quer perseguir, que
tratamentos teórico-metodológicos e conexões e articulações temáticas e
conceituais já foram produzidas, para, então, rever o próprio problema: que
perguntas e contribuições ele pode trazer à área e a esse debate?

89
Aqui, deparamos com o excesso ou a escassez de pesquisas e
produções sobre o tema e, em especial, sobre o objeto que se pretende
investigar: o que se tem problematizado, que informações e dados se tem
(insuficientes, abundantes, excessivos, insatisfatórios, inexistentes). Isso para
evitar repetições, reiterações ou vícios analíticos. É importante que se
proponha, na pesquisa, um tratamento diferenciado do objeto ou uma nova
problematização sobre o mesmo.

Esse momento constitui-se, pois, de procedimentos para localização e


busca criteriosa de documentos que tangenciam e podem interessar ao tema
do projeto (SEVERINO, 2002). Do compêndio de documentos passíveis de
consulta e escrutínio destacam-se livros, artigos científicos, dissertações e

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


teses.

Lembramos que esse levantamento e sua leitura deverão ser realizados


com uma atitude crítica – ou seja, localizando aquela produção no contexto em
que foi produzida, a escola de pensamento que assenta a análise daquela
produção, sob que motivações e justificativas o estudo foi realizado e, se for o
caso, quais efeitos ele produz sobre o fenômeno e o papel que desempenha no
meio acadêmico – as reverberações de determinadas teorias e abordagens
sobre um fenômeno.

f. Metodologia de pesquisa

Os métodos de pesquisa remetem às formas de raciocínio que


orientarão a análise do pesquisador. No segundo módulo desta disciplina,
destacamos os métodos de investigação mais referenciados, dentre os quais, o
indutivo, o dedutivo, o hipotético-dedutivo e o dialético. Indução, dedução
dialética referem-se modos de raciocínio aos quais lançamos mão para dar o
devido tratamento ao objeto.

Os métodos de pesquisa são muitos, assim como os tipos de pesquisa,


conforme citamos na primeira parte deste módulo. Como aponta Demo (2005,

90
p.24) “nenhum tipo de pesquisa é autossuficiente”. Na prática, mesclamos
diferentes métodos, “apenas dando ênfase a um tipo” (DEMO, 2005, p.24).
Para a escolha do método, ou da composição metodológica, deveremos
investigar as ferramentas da área e pensar qual o tipo será enfatizado,
levando-se em consideração os objetivos, a natureza de do objeto, o campo
teórico em que se movimentará. Como alerta Eco (2016), ao definir a
metodologia, o caminho de investigação, é necessário avaliar se o quadro
metodológico está ao alcance da experiência do pesquisador, tendo em vista
garantir o percurso e a efetivação da pesquisa.

Destaque-se que um estudo pode ser orientado por diferentes


procedimentos metodológicos ou por uma combinação de dois ou mais

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


(DEMO, 2005).

g. Coleta de dados

Trata-se aqui da obtenção de informações. Nesse momento, o


pesquisador disporá a forma e os lugares (fontes) onde irá coletar dados para
informar a análise do problema a que se propõe e levantar informações acerca
do acontecimento, do fenômeno. Conforme aponta Eco (2016), para se
elaborar um projeto de pesquisa exequível necessário definir fontes de consulta
que sejam acessíveis e manejáveis.

Vários podem ser os lugares onde buscar os dados: arquivos públicos


(bibliotecas, banco de dados de órgãos governamentais e não
governamentais), arquivos particulares, coleções particulares etc.

Conforme destaca Eco (2016, p. 45), uma pesquisa científica “estuda um


objeto por meio de determinados instrumentos. Muitas vezes o objeto é um
livro e os instrumentos, outros livros”. Quando a pesquisa utiliza os escritos de
determinado pensador, dizemos que estamos lidando com fontes primárias.

91
Quando se analisa os textos sobre esse pensador, estamos lidando com
fontes secundárias.
Os dados de um estudo podem ser coletados de documentos
historiográficos (textos, documentos oficiais, jurídicos, fotos, filmes, mapas
etc.), de entrevistas e de questionários, dentre outros.
No caso da entrevista e do questionário, o pesquisador deve estar
atento à formulação das perguntas e do roteiro. Os espectros de informações
que podem ser levantadas são incontáveis. Assim, mais uma vez, destacamos
que o objeto e o problema da pesquisa é que deverão orientar o planejamento
e elaboração desses instrumentos.
No caso do questionário, convém destacar que se trata de um
instrumento que pode ser aplicado a várias pessoas, em diferentes localidades

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


ao mesmo tempo ou não. Assim, convém que o mesmo seja acompanhado de
um texto introdutório em que sejam explicitados os objetivos e intenções da
pesquisa. As questões devem ser claras de modo a não deixarem dúvida em
relação às opções de respostas possíveis e devem seguir uma lógica de
acordo com o tema, das mais simples às mais complexas. Deve-se levar em
conta o público alvo da pesquisa, adequando-lhe a linguagem.
Idas a campo são outras formas de observação direta para obtenção de
dados cujo emprego depende das intenções da pesquisa e da natureza do
objeto. Para esse procedimento é importante que o pesquisador elabore um
cronograma com data, horário, atividade, objetivo e observações tendo em
vista a organização e orientação do trabalho, com a devida atenção aos
prazos.

h. Tabulação e apresentação dos dados

Nesta parte, será organizado e apresentado o compêndio dos dados


coletados na pesquisa. Aqui, o material empírico deverá ser apresentado de
forma objetiva e clara.

92
Os dados quantitativos podem ser dispostos em gráficos de diversos
tipos (em barras, em colunas, em pizza, em linhas, em áreas etc.) e/ou tabelas
etc. Nesse caso, então, é interessante que os dados sejam visualmente
apresentados.

Os dados levantados por pesquisas de foco mais qualitativo podem ser


categorizados, perfilados em tabelas e, normalmente, são descritos em textos
que vão dispondo as informações em acordo com o roteiro e com os itens
importantes para a construção da análise e do argumento – a próxima fase dos
procedimentos da pesquisa.

Análise e discussão dos resultados

Recolhidos e organizados os dados, chegou o momento de encará-los


com acuidade, atenção e criticidade. Na análise e discussão dos resultados

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


entrarão em jogo e, em certa medida, em confronto, o arcabouço teórico do
pesquisador e os dados coletados. Deve-se atentar ao critério da consistência
e coerência no tratamento dos dados coletados na pesquisa. É necessário
“saber orquestrar os componentes do caminho percorrido, de modo que
realizem convergência consistente nessa parte” (DEMO, 2005, p.150).

Será feita, nessa parte, a discussão e interpretação dos resultados.


Serão estabelecidas as relações lógicas, os dados serão comparados e
analisados à luz das teorias e abordagem circulantes acerca do
objeto/fenômeno, anteriormente levantadas. Desse exercício emergirá uma
possível generalização de princípios e da análise. Aqui serão refutadas ou
confirmadas as hipóteses iniciais, devendo haver uma amarração entre dados,
teoria e metodologia.

Então, é hora de tecer os argumentos. Do confronto entre dados,


teorias, hipótese, confirmar ou rechaçar as hipóteses iniciais e construir uma
analítica sobre o objeto de pesquisa, já de posse dos dados coletados – isso é
o que podemos chamar de tratamento analítico dos dados.

93
Destacamos que, conforme dispõe Demo (2005, p150), uma das
qualidades centrais de uma tese é “saber orquestrar os componentes do
caminho percorrido, de modo que realizem convergência consistente” na
realização da hipótese. É importante que se faça uma amarração teórica e
metodológica.

Conclusões.

Aqui, efetiva-se um recolhimento sintético do que se produziu na


pesquisa. Trata-se da mensagem final. Dedica-se em média nessa parte uma
página ou pouco mais. Deve, pois, ser breve e conciso (DEMO, 2005).

Ao final, deverá o pesquisador apontar sugestões para pesquisas

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


posteriores ao estudo então apresentado. Lembramos que os resultados de
qualquer pesquisa são provisórios e que o conhecimento está sempre em
movimento. Afinal...

A ciência é edifício bastante frágil: o melhor que pode alcançar é a oferta de


apreciações continuamente cambiantes de como as coisas funcionam. Nosso
conhecimento científico é sempre atacável e provisório. Cada nova teoria
científica está condenada a ser objetada sempre pela seguinte.

HOROWITZ e JANIS, 1994, p.151 apud DEMO, 2005, p. 60.

94
Síntese

O processo de uma investigação científica passa por


algumas etapas. Cada parte do processo influencia as
outras. A escolha e delimitação do tema e objeto de
pesquisa são fundamentais para as decisões e ações
subsequentes. Um tema precisa ser problematizado. É
necessário levantar hipóteses iniciais, os objetivos gerais
e específicos, realizar um estudo bibliográfico acerca do

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


que já existe sobre o tema, definir tempo e espaço de
investigação, tipos de dados e fontes e escolher a
metodologia de investigação. Do confronto entre o que já
existe pesquisado sobre o tema, os dados coletados, pelo
tratamento analítico do pesquisador, chegar-se-á às
conclusões do estudo, com a confirmação ou negação
das hipóteses do estudo. Ao final, o investigador deverá
indicar possibilidades futuras de pesquisa a partir dos
resultados de seus estudos.

95
Considerações Finais

Roland Barthes em um de seus cursos no Collége de France, no ano de


1979, comparou a aula e o livro a um filme. Tomemos de empréstimo essa
analogia do filósofo francês: a pesquisa pode ser comparada a uma obra
fílmica: o pesquisador escolhe o assunto, compõe o enredo, define os ângulos
das tomadas, realiza os cortes, a edição, os focos de luz e define a trilha
sonora. Ao final dá-lhe um título. Podemos dizer que ao idealizar, planejar e
efetivar uma pesquisa que, ao final, resultará numa comunicação na forma de
texto, estamos realizando a roteirização e direção de um filme.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Esperamos que esse breve percurso lhe tenha ajudado a identificar os
principais tópicos de uma pesquisa e que, ao dispor as etapas de uma
pesquisa, lhe oriente em seu percurso e que, concluído o caminho, resulte um
“filme” analiticamente consistente, que apresente para o campo de estudo o ar
da atitude crítica trazendo boas perguntas.

Dê prosseguimento a seus estudos no tema do módulo pela indicação


de leitura suplementar e consulte a indicação bibliográfica. E não se esqueça
de participar do fórum. Por fim, verifique seus conhecimentos nas questões ao
final.

96
MÓDULO 5 – Redação e apresentação do trabalho científico

Patrícia Helena Ferreira

Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos


Científicos.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Módulo 5 – Redação e apresentação do trabalho científico
(FCE) – São Paulo – 2016.
Guia de Estudos – Módulo 5 – Redação e apresentação
do trabalho científico.
1. Trabalho científico 2. Produção textual 3.
Metodologia da Pesquisa
Orgs.: Adriana Alves Farias e
Cláudia Regina Esteves

Faculdade Campos Elíseos

97
Conversa Inicial

Caro (a) aluno(a),

Eis-nos caminhando rumo ao quinto módulo da disciplina Técnicas em Pesquisa e


Construção de Textos Científicos. Neste trajeto, intitulado “Redação e
apresentação do trabalho científico”, iniciaremos nossos trabalhos refletindo sobre o

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


papel social da pesquisa e o momento de apresentação de todo trabalho desenvolvido
no decorrer dos estudos na universidade. Posteriormente, adentraremos à algumas
questões relevantes na escritura do texto, tanto do ponto de vista do léxico, quanto
das regras de textualização. Destacaremos algumas características das monografias e
dos artigos científicos, dois dos principais gêneros utilizados na escrita acadêmica. A
temática da ética e o plágio também farão parte da presente discussão, por se
tratarem de questões cruciais quando pensamos na questão da finalidade da pesquisa
e no seu devido exercício autoral. Por fim, conheceremos algumas diretrizes básicas
para a utilização das citações, notas de rodapé e referências.

Bons estudos!

98
Para início de conversa....

Então, é como se o nosso próprio fazer de pesquisadoras/es colocasse um ponto


de basta, onde é necessário parar e pensar: Afinal, como é mesmo que venho
fazendo meu movimento de pesquisa? Até para que se possa estabelecer suas
principais coordenadas; desenhar suas curvas de visibilidade e de enunciação;
reconhecer suas linhas de sedimentação e também de fraturas; reordenar os
percursos e manter os cursos; direcionar as luzes em outra direção e conservar
alguns focos lá onde já estavam; em poucas palavras, mapear o terreno e a
cartografar as linhas do trabalho nele realizado. Assim é que vimos emergir

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


condições atuais de nosso percurso intelectual, das quais é chegada a hora de
prestar contas às/aos outras/os, que também investigam e pensam territórios
teóricos, para que a interlocução se estabeleça com os materiais aproveitáveis, e
também se processe sobre os resíduos a serem dejetados.

CORAZZA, 2002, p. 106.

Como diria Sandra Corazza (2002), em seu texto Labirintos da pesquisa,


diante dos ferrolhos, é chegada a hora dos estudantes comunicarem sua
pesquisa, decorrente de anos de estudo, sistematização de saberes e
investigações teóricas e empíricas.

Esse momento é a finalização de todo um processo, que pode continuar


em novas perguntas e, por consequência, novas pesquisas. Todavia, a
comunicação desse percurso utiliza-se de uma linguagem específica para tal e
está formatada dentro de uma ordem do discursoii, como nos diria o pensador
francês Michel Foucault.

Caberia a todo estudante a formulação de algumas questões:

- Por que pesquisar?

99
- Qual a necessidade de comunicar a pesquisa realizada de uma maneira
formal?
- De que maneira é feita essa comunicação?
- Quais os procedimentos básicos a serem seguidos?
- Como demonstrar autoria intelectual?
Essas e outras perguntas assolam os estudantes-pesquisadores quando
da aproximação do final dos seus respectivos cursos. A escrita e apresentação
do trabalho científico representa a etapa crucial de toda caminhada acadêmica,
em que o aluno vai, finalmente, demonstrar a que veio e qual foi o seu
amadurecimento intelectual no percurso que se propôs a trilhar.
Este módulo adentrará em algumas questões importantes acerca da
redação e apresentação dos trabalhos científicos, procurando ajudá-lo em suas
principais dúvidas e procedendo a orientações de cunho metodológico.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


5.1 Indicações relevantes sobre a produção do texto

A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender

A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,


e vai desmatando
o Amazonas da minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,


em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.

Andrade, Carlos Drummond.

100
Na leitura do poema de Carlos Drummond de Andrade, vemos como a
sociedade utiliza a linguagem como meio de comunicação social (SARMENTO,
2012, 2013). Desde a linguagem não verbal, a linguagem oral e a linguagem
escrita, o homem usa de símbolos para expressar suas ideias e se comunicar
com os outros. Cada tipo de linguagem possui seus códigos, seus ditos e
interditos. Segundo Sarmento (2012) existem três concepções de linguagem:

• A linguagem como expressão do pensamento – seguem-se regras


gramaticais, mas não existe a preocupação com a interatividade verbal;
• A linguagem como instrumento de comunicação – a língua é
considerada como um código que é necessário dominar para que exista
comunicação
com outros indivíduos, mas não há preocupação com o processo

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


histórico-social de construção da língua;
• A linguagem como forma de interação – o falante/escritor usa a língua
para interagir comunicativamente com o ouvinte/leitor, criando efeitos de
sentido entre os interlocutores.

Se pensarmos na escrita de um trabalho científico como uma forma de


interação com um determinado grupo de leitores, precisaremos observar
regras/requisitos mínimos para que esse tipo de comunicação se dê de uma
forma mais próxima da precisão em termos da enunciação de uma mensagem
que se quer transmitir, possibilitando diversas conversas.

É necessário, primeiramente, o conhecimento do léxico (vocabulário) e


da gramática (conjunto de regras e normas acerca do funcionamento de uma
língua). Ainda, para melhor compreensão/escrita de um texto, é imperativo que
se conheçam as regras de textualização (relativas à organização do texto) e as
regras de interação verbal (fusão do léxico e da gramática). Todos esses
elementos contribuem para que a redação de um trabalho acadêmico seja feita
de uma forma que possa, de fato, produzir uma interlocução com seus
possíveis leitores.

101
De forma diversa da linguagem informal, feita principalmente por meio
da oralidade, a comunicação escrita é mais precisa e extensa, pois necessita
prestar as devidas informações ao leitor, utilizando-se de recursos de
expressão, como a pontuação, e de outros recursos linguísticos.
Para transformarmos uma sequência linguística em um texto precisamos
fazer com que ele adquira elementos de textualização, dos quais fazem parte a
coesão, a coerência e informatividade e a intertextualidade. Ainda, não
podemos esquecer que esse texto pertence a um determinado contexto e faz
parte de um discurso, a saber, “o uso da língua em uma determinada situação
de comunicação entre interlocutores” (SARMENTO, 2012, p. 66).

Resumindo:

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


• A coesão textual diz respeito à conexão estabelecida entre as partes de um
texto por meio de conectivos (conjunções, preposições, advérbios etc.) e outros
recursos linguísticos, com objetivo de dar ao mesmo um sentido lógico,
coerente;
• Para que um escrito seja eficaz também é necessário que ele tenha coerência
textual, que representa a estruturação lógica das ideias, conferindo-lhe sentido
unitário;
• A informatividade diz respeito à relevância do que o texto apresenta;
• A intertextualidade é o diálogo entre dois ou mais textos. De certa forma, ela
demonstra o domínio e o arquivo bibliográfico que o escritor tem.
De posse destes conhecimentos, os quais devem fazer parte do
arcabouço de qualquer escrita que se pretenda interativa, destacaremos alguns
critérios que devem ser observados na escrita de um texto científico, objeto de
nosso estudo do módulo.

102
1. Quanto aos aspectos sintáticos:

• Deve-se utilizar a 1ª pessoa do plural ou a 3ª pessoa do singular para


elaboração do texto: “O presente estudo tem por objetivos....”, “realizamos a
pesquisa a partir de...”;

• A voz verbal indicada é a voz passiva sintéticaiii: “Comprovou-se que os dados


foram....”, “Elaborar-se-á, ao final, a tabela de......”;

• Estruturas frasais – como já descrito anteriormente, o texto deve ser escrito em


língua culta, observando os critérios de coesão, coerência, clareza e concisão.
Para tal, a construção dos períodos deve se dar de forma que os mesmos não
sejam muito longos e que se utilizem de linguagem clara. Quanto à utilização

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


da norma culta, deve-se evitar a escrita coloquial. A mesóclise é uma das
formas indicadas para a construção do texto quando o autor demonstrar algo
no futuro do presente e no futuro do pretérito. “Definir-se-iam novos vetores,
caso os resultados aludissem para tal”, “No presente estudo, elencar-se-ão
elementos que contribuam para...”.

2. Quanto aos aspectos morfológicos e semânticos - devem ser


observados os seguintes critérios:

• Sobriedade – utilização de linguagem clara, sintética e precisa. O texto não


deve possuir exagero em adjetivos qualitativos, de modo que se torne o mais
objetivo possível;

• Propriedade - relaciona-se à apropriação de linguagem técnico-científica da


área (utilização de termos e conceitos adequados), bem como à utilização de
verbos mais formais, evitando-se o coloquialismo. Exemplos de alguns verbos
que podem ser utilizados: “resultar”, “constituir”, “compreender”, “realizar”,
“conter”, “referir-se”, “constatar”, “observar” etc.

103
Síntese

Na escrita de um trabalho científico faz-se necessário observarmos


regras/requisitos mínimos para que esse tipo de comunicação se dê de
uma forma mais próxima da precisão em termos da enunciação de uma
mensagem que se quer transmitir.

É necessário, para tal feito, o conhecimento do léxico, da gramática, das


regras de textualização e das regras de interação verbal.

Para considerarmos qualquer escrita como um texto é necessário que

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


ele observe os elementos de textualização, dos quais fazem parte a
coesão, a coerência e informatividade e a intertextualidade

5.1.1 Recomendações na elaboração de monografias e de artigos


científicos

a. A monografia: características e recomendações

Etimologicamente, a palavra monografia vem do grego monos, que


significa "única", e graphein, que quer dizer "escrita".

104
A monografia, segundo Marconi e Lakatos (2001, p. 151),

é um estudo sobre um tema específico ou particular, com


suficiente valor representativo e que obedece a rigorosa
metodologia. Investiga determinado assunto não só em
profundidade, mas em todos seus ângulos e aspectos,
dependendo dos fins a que se destina.

Uma monografia apresenta algumas características que a diferenciam


de outro tipo de produção, como a escrita de um trabalho sistemático e
completo, de um tema específico, que revela um estudo pormenorizado sobre o
mesmo. Apesar de sua profundidade, é um estudo limitado que se utiliza da
metodologia científica para contribuir para algum aspecto relevante da ciência
estudada.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


A monografia, de acordo com Prodanov e Freitas (2013) possui sentido
estrito e sentido lato.

• Em sentido estrito, identifica-se com a tese7: “relatório escrito sobre um


tema específico que decorre de uma pesquisa realizada com o objetivo
de fornecer uma contribuição original” (PRODANOV; FREITAS, 2013, p.
170);

• em sentido lato, é todo trabalho científico resultante de uma pesquisa,


realizado pela primeira vez, como é o caso das dissertaçõesiv em geral e
os Trabalho de Conclusão de Cursov (TCC) de graduação ou de pós-
graduação lato sensu.

Pensando como um exercício de pesquisa, a monografia tem vital


importância na formação do aluno pesquisador, porque independentemente do
nível, lato ou estrito, é um trabalho que envolve observação, coleta de
informações, organização de elementos, sistematização de ideias e
comunicação de resultados.

105
Lembramos que a monografia, tal qual outros tipos de trabalho científico,
necessita ser escrita de acordo com as normas da ABNT - Associação
Brasileira de Normas Técnicas. No caso das monografias, vige a norma
14724:2002, a qual trata de informação e documentação de trabalhos
acadêmicos. Essa é a fonte principal de normatização ao elaborarmos uma
monografia, além dos manuais de orientação das diversas instituições de
ensino superior e dos livros de metodologia científica.
Antônio Joaquim Severino (2002) enfatiza algumas etapas para a
preparação e execução de uma monografia científica:
• a determinação do tema e do problema do trabalho;
• o levantamento da bibliografia acerca desse tema;
• a leitura e a documentação dessa bibliografia;
• a construção lógica do trabalho;

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


• a redação do texto.

A escolha do tema é o primeiro passo da tarefa, tendo que ser esse muito
bem delimitado para que possa facilitar o processo de pesquisa do aluno, como
por exemplo, falar sobre a liberdade em geral e falar sobre a liberdade de
imprensa (a delimitação do segundo tema permite ao pesquisador maior foco
na pesquisa). É do tema que serão estabelecidas as estruturas de relações
com outras variáveis: históricas, sociais, geográficas etc. A escolha do tema
também definirá o tipo de pesquisa a ser feita: bibliográfica, de campo,
etnográfica etc.

A visão clara do trabalho levará o pesquisador à formulação do


problema, isto é, uma questão que será desenvolvida a partir do tema. “A
gênese dessa problemática dar-se-á pela reflexão surgida por ocasião das
leituras, dos debates, das experiências, da aprendizagem, enfim da vivência
intelectual no meio de estudo universitário e no ambiente científico e cultural”
(SEVERINO, 2002, p. 75).

106
Da formulação do problema, que representa uma questão que guiará o
pesquisador no desenrolar de seu trabalho, desencadear-se-á a hipótese
central, que poderá ser comprovada ou refutada no desenvolvimento do
raciocínio. A partir dessa tomada de posição sobre o tema e seu problema,
firma-se a tese, ou ideia central, “proposição portadora da mensagem principal
do trabalho que deverá ser demonstrada logicamente através do raciocínio
(SEVERINO, 2002, p. 75).

O levantamento da bibliografia e sua documentação caracteriza-se


pelo trabalho de “garimpagem” de fontes bibliográficas de diversos tipos (livros,
artigos, repertórios, catálogos bibliográficos, boletins, dicionários
especializados, monografias, revistas e periódicos acadêmicos). Parte-se para
documentação de tal repertório, por meio de fichas bibliográficas, como já
visto no módulo 3.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


O aluno deverá, para tal, elaborar um roteiro primeiro de seu trabalho,
ainda provisório. De posse desse roteiro, partirá para análise dos documentos,
os quais já foram selecionados em uma primeira triagem, feita a partir da
elaboração das fichas de síntese das obras. Combina-se, na leitura, o critério
da atualidade (das mais atuais às mais antigas) e da generalidade (obras
gerais, enciclopédias, dicionários especializados, monografias e revistas
especializadas). Essa leitura deve ser feita em função do tema e do problema
eleitos como foco de trabalho da monografia e não deve ter caráter generalista
pois, nessa fase, são escolhidos os aspectos das obras que interessarão à
pesquisa.

A construção lógica do trabalho “é a coordenação inteligente das


ideias conforme as exigências racionais de sistematização própria do trabalho”
(SEVERINO, 2002, p. 81-82). Essa construção é expressa por meio do
encadeamento dos raciocínios utilizados para demonstração da hipótese
formulada no início do trabalho. Neste momento, vale voltarmos às regras de
coesão, coerência, concisão e intertextualidade, apresentadas anteriormente,
as quais fornecem ao trabalho clareza e objetividade.

107
Do ponto de vista formal, o trabalho apresenta três fases:

1. Introdução – demonstra a questão, articulando-a a outros trabalhos já


escritos e justificando a pertinência e a relevância do trabalho. Nesse
momento também são delimitados os objetivos, anunciados o tema e
problema, a tese e os procedimentos de pesquisa. Tal texto deve ser
sintético e objetivo.

Atenção! A introdução é a última parte do


trabalho que deve ser escrita.

2. Desenvolvimento – corresponde ao corpo do trabalho, em toda sua


estrutura de seções, capítulos e itens, formando uma estrutura lógica e

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de sentido. Cada capítulo deve ter títulos expressivos, que anunciam a
ideia do conteúdo do mesmo. Nesta fase também é feita a
fundamentação lógica do encadeamento de raciocínio apresentado, com
a discussão, análise e demonstração do percurso;

3. Conclusão – é a síntese final do trabalho, momento em que será feito


um balanço geral do mesmo, resgatando brevemente seu percurso e
apresentando os resultados obtidos.

Na fase de redação do texto, serão observados os critérios já


elencados anteriormente, transformados num texto que se dirige a um possível
leitor interessado pelas questões apresentadas pelo trabalho. Essa redação
não será, de início, definitiva e será composta por vários rascunhos (nesse
ponto, a importância e a facilidade que o meio eletrônico trouxe é fundamental,
dando a liberdade do autor produzir tantos rascunhos necessitar e salvá-los).

A linguagem deve ser sóbria, precisa e clara, sem dar lugar a


hermetismos, esoterismos, sentimentalismos ou pomposidades. Cabe,
finalmente, alertarmos para a construção do parágrafo, cabendo a justa
medida entre o excesso de parágrafos e a quase inexistência dos mesmos. Os

108
parágrafos representam a articulação do raciocínio do autor e devem colaborar
para tal função.

b. O artigo científico: características e recomendações

Os artigos científicos são “pequenos estudos, porém completos, que


tratam de uma questão verdadeiramente científica, mas que não se constituem
em matéria de um livro” (MARCONI; LAKATOS, 2001, p. 84). Os mesmos,
geralmente, demonstram o resultado de uma pesquisa ou estudo e são
apresentados em evento (congressos, encontros, seminários) ou publicado
num periódico especializado. Por meio destes discutem-se ideias, métodos,
técnicas, processos e resultados encontrados nas diversas áreas do

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


conhecimento. O artigo pode resumir, analisar e discutir informações já
publicadas, bem como apresentar temas ou abordagens originais.

Segundo a NBR 6022 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE


NORMAS TÉCNICAS, 2003), que estabelece as regras para
artigo em publicação periódica impressa, artigo científico é a
parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta
e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas
diversas áreas do conhecimento. A norma reconhece dois tipos
de artigos: artigo original, também chamado de científico, é
aquele que apresenta temas ou abordagens próprias,
geralmente relatando resultados de pesquisa; e artigo de
revisão, em geral, resultado de pesquisa bibliográfica,
caracteriza-se por analisar e discutir informações já publicadas
(PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 159).

Por seu caráter sintético e objetivo, os artigos científicos são de grande


circulação no meio acadêmico e facilitam a inserção dos estudantes no
universo das pesquisas científicas, demonstrando uma trajetória de pesquisa
ou argumentativa.

109
Os artigos científicos são muito utilizados como exercício de
pensamento e ensaio de pesquisas que ainda estão em andamento, podendo
ser classificados, segundo Marconi e Lakatos (2001), em três tipos:

• Artigo de Argumento Teórico – é um artigo que apresenta argumentos


favoráveis ou contrários a uma opinião. Só é recomendável quando o
pesquisador se encontrar em um nível de experiência diferenciado, pois
requer aprofundamento de pesquisa;
• Artigo de análise – o autor realiza uma análise dos elementos
constitutivos de um assunto, englobando a descrição, a definição, a
classificação do assunto. Tem como objetivo estabelecer uma relação
das partes com o todo.
• Artigo classificatório – o pesquisador classifica os aspectos de

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determinado assunto e explica suas partes. Costuma ser o tipo mais
utilizado e divide-se em: definição, descrição objetiva e análise.

Em suma, a redação de um artigo científico dá a oportunidade do


pesquisador introduzir aspectos de um assunto ainda não estudado, dar uma
nova interpretação a assuntos já estudados ou até mesmo apresentar questões
secundárias que não caberiam em uma obra que está sendo escrita. Sua forma
estilística deve ser clara, concisa e simples, de modo que exerça a sua função
comunicativa.

A estrutura formal do artigo científico será apresentada no módulo 6. No


presente módulo destacaremos algumas recomendações para a escrita do
mesmo.

Segundo Campana (2000), antes da redação de um artigo ou


comunicação científica, algumas questões devem ocupar a atenção do
pesquisador;

a. O que se pretende dizer com o trabalho? Essa pergunta tem a ver com a
relevância e o objetivo do mesmo, relacionado ao público a que se
destina;

110
b. Como a pesquisa foi delineada? Qual a metodologia utilizada? A mesma
atendeu aos propósitos da pesquisa?
c. O artigo é merecedor de ser publicado? Uma vez que o mesmo destinar-
se-á à publicação no meio científico ele deve trazer alguma contribuição
para discussão de determinada questão.
d. Qual é a melhor forma para apresentação da pesquisa? Além do artigo
científico, há outras formas de publicação, como o paper, carta ao editor,
revisão etc.
e. Para qual meio de publicação deve ser enviado? Essa pergunta
dependerá da própria natureza do trabalho e da temática que as revistas
científicas abordam.
Acrescentaríamos a essas questões formuladas por Campana, a
necessidade da abordagem ética sobre a pertinência e originalidade da

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publicação, para que possa, de fato, analisar a viabilidade da sua execução.
Deve ser feita uma avaliação de sua adequação, exatidão, unidade,
honestidade em termos acadêmicos e contribuição para posteriores estudos.

Síntese

A monografia e o artigo científico são duas modalidades de escrita


acadêmica que, embora distintas, seguem as recomendações técnicas
da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, e apresentam
rigor teórico-metodológico na sua elaboração e redação.

Além da técnica, a questão ética deve permear toda formulação e


escrita de um trabalho científico, seja qual for a sua natureza.

111
5.1.2 Recomendações para evitar o plágio

Segundo o Dicionário On-line de Português, o plágio é a “ação de


apresentar alguma coisa (trabalho, livro, teoria etc.) como se esta fosse de sua
própria autoria, embora tenha sido criada e/ou desenvolvida por outrem”
(https://www.dicio.com.br/)

Tal ação não se restringe somente às obras oriundas da Academia, mas


também da literatura, música, jornalismo, direito e outras áreas onde se
configure a noção de autoria. Nos últimos anos, com a difusão da rede
internacional de computadores, essa ação vem sendo constantemente
discutida por diversas áreas da sociedade civil, incluindo as comissões de ética
das áreas relativas. Foram elaboradas, então, orientações e normatizações a

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respeito da utilização do plágio, as quais implicam em sanções da ordem dos
próprios comitês de ética até sanções jurídicas, ligadas ao direito.

Na área acadêmica, as comissões de ética têm elaborado documentos


a respeito do direcionamento ético das pesquisas, explicitando nessas
recomendações, a questão do plágio.

Prodanov e Freitas (2013), destacam alguns princípios éticos que devem


ser observados na produção de trabalhos acadêmicos, sejam eles de diversos
tipos:

I. A responsabilidade do pesquisador no que diz respeito à sua


investigação científica;

II. O caráter antiético da apropriação indevida de obras intelectuais,


considerada como crime de violação de direitos autorais;

III. A autoria como esteio balizador da pesquisa;

IV. A observação às normatizações da ABNT na execução e formatação


dos referidos trabalhos.

112
Especificamente falando em pesquisas acadêmicas e plágio, existem
recomendações da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Ensino Superior – em nível federal e da FAPESP – Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo, para que as instituições de ensino superior
adotem políticas de conscientização e informação sobre a chamada
propriedade intelectual, como forma de evitar o plágio acadêmico. Além disso,
existem comitês específicos para discussão da ética nas pesquisas
acadêmicas nas diversas áreas do conhecimento. Os comitês de ética em
pesquisa são responsáveis pela avaliação ética dos projetos de pesquisa e
devem informar e educar seus membros e a comunidade quanto a sua função
no controle social.
No âmbito jurídico, como bem destacam Pithan e Vidal (2013), a questão
do plágio insere-se na problemática dos direitos autorais, direitos esses que

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são assegurados pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei Federal 9.610,
de 19 de fevereiro de 1998, a qual altera, atualiza e consolida a legislação
sobre direitos autorais. Segunda tal legislação, o autor é definido como “a
pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica” (BRASIL, 1998),
cabendo-lhe proteção quando da violação de sua autoria e responsabilizando
quem se utilizar de sua obra, sem referenciá-lo, por danos morais.
Cabe aqui destacarmos que é função das universidades e faculdades a
orientação e o acompanhamento dos trabalhos de seus alunos, dando-lhes
suporte teórico e metodológico para evitar a apropriação de ideias de outrem
sem a devida referenciação.
Acrescido ao acompanhamento institucional, o estudante de
graduação/pós-graduação deve ter em mente as principais recomendações:
a. A consulta às fontes bibliográficas é um exercício saudável e necessário
para que o mesmo adquira amadurecimento intelectual;
b. Tal consulta deve, primeiramente, ser fonte de estudo aprofundado,
documentação minuciosa, para verificação da sua contribuição no trabalho a
ser desenvolvido pelo aluno-pesquisador;
c. Os documentos apurados de tal consulta poderão fazer parte do corpus
teórico do trabalho do aluno, desde que sempre referenciados em sua autoria e

113
que tenham servido como inspiração, premissa ou mesmo fonte de
contestação;
d. Quando da necessidade de citação de algum trecho de artigo, livro ou outra
documentação, o aluno deverá seguir as regras da ABNT, tanto no caso de
citação direta quanto no de paráfrase8;
e. A elaboração de um arquivo virtual contendo todos textos e fontes citados é
recomendável, em caso de necessidade de nova consulta ou de sanar alguma
dúvida.
f. A revisão do texto é um ótimo meio do autor verificar se foram utilizadas muitas
citações e referências e quanto de pensamento autoral foi ali despendido.
g. A escrita do texto sempre deverá ser acompanhada pelo professor orientador
do trabalho. Tal acompanhamento deverá ser sistemático e não somente ao
final do trabalho.

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h. Existem hoje softwares que fazem o trabalho de revisão de possíveis escritos
sem referenciação. O aluno e a instituição de ensino podem utilizar-se dos
mesmos.
Por fim, o trabalho de autoria, um dos objetivos principais do ensino
superior, demanda do aluno um exercício de rigor intelectual e esse exercício
só será bem feito se o mesmo tiver seriedade nos estudos e acompanhamento
devido.

Síntese

O tema do plágio na elaboração de trabalhos acadêmicos está relacionado a


questões de cunho institucional, legal e ético.
Cabe ao aluno-pesquisador além do estudo rigoroso do campo teórico e da realização
da pesquisa empírica, a observância das regras de referenciação aos autores,
conforme o que preveem as normatizações existentes.
Cabe às Instituições de ensino superior a orientação e o acompanhamento aos seus
alunos.

114
Após analisarmos as questões estilísticas e de ética na pesquisa
acadêmica, adentraremos a tópicos mais técnicos na elaboração de trabalhos,
os quais demonstram a seriedade na elaboração do trabalho e a necessidade
do aluno-pesquisador em seguir as orientações dadas pelas normatizações
específicas.

Serão, pois, apresentadas algumas orientações gerais sobre citações,


notas de rodapé e referências bibliográficas, ancoradas pela normatização da
ABNT e dos manuais de metodologia científica.

É importante destacarmos que, para uma consulta minuciosa e


pormenorizada, deverá sempre ser utilizada a normatização específica da
ABNT.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


5.1.3 Citações

As citações são “elementos retirados dos documentos pesquisados


durante a leitura da documentação e que se revelam úteis para corroborar as
ideias desenvolvidas pelo autor no decorrer do seu raciocínio” (SEVERINO,
2002, p. 106).

De acordo com a NBR 10520:2002b, podemos definir:

▪ citação: menção de uma informação extraída de outra fonte.


▪ citação de citação: citação direta ou indireta de um texto em que não se
teve acesso ao original. É o chamado apud.
▪ citação direta: transcrição textual de parte da obra do autor consultado.
▪ citação indireta: texto baseado na obra do autor consultado, com
pequenas alterações.

115
Algumas orientações devem ser seguidas quando utilizamos citações.
a. Quando o texto citado possuir até três linhas:
• A citação deve ser feita no próprio texto, entre aspas duplas (“),
no mesmo tamanho e fonte utilizada no texto;
• Caso o texto já tenha palavras com aspas duplas, o autor deve
substituí-las por aspas simples (‘);
• Os autores podem ser enunciados antes da citação ou somente
ao final dela (nesse caso, o sobrenome é escrito em caixa alta,
ficando entre parênteses).
Exemplos:

De acordo com Veiga-Neto (2002, p. 25), “para compreender como as Ciências


Humanas estabeleceram suas representações acerca da realidade, é preciso

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


rastrear as origens da sua racionalidade”.
ou
“Para compreender como as Ciências Humanas estabeleceram suas
representações acerca da realidade, é preciso rastrear as origens da sua
racionalidade”. (VEIGA-NETO, 2002, p. 25)

b. Quando o texto a ser citado possuir mais de três linhas:


• As citações longas devem ter um recuo de 4 cm da margem esquerda,
com texto, justificado, com fonte menor (geralmente 11).

116
Exemplo:

Quanto à questão da moral:


Expor as condições de criação dos valores vigentes, sua
arbitrariedade, sua historicidade, não significa sumariamente
invalidá-los. Significa, em vez disso, tão somente situá-los,
colocá-los em sua devida e respeitável posição de criaturas, de
invenções, de artefatos. Um valor deve saber o seu lugar. (SILVA,
2002, p.8).

ou

Quanto à questão da moral, Tomaz Tadeu da Silva (2002, p.8), alerta:

Expor as condições de criação dos valores vigentes, sua


arbitrariedade, sua historicidade, não significa sumariamente
invalidá-los. Significa, em vez disso, tão somente situá-los,
colocá-los em sua devida e respeitável posição de criaturas, de

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


invenções, de artefatos. Um valor deve saber o seu lugar.

c. Quando a citação for indireta: a citação indireta é um texto baseado na obra


consultada, podendo ser uma paráfrase ou comentário da obra. Nesse caso,
deve ser acrescentado, entre parênteses, o nome do autor em caixa alta, e o
ano. Por ser um comentário ou paráfrase não é necessário inserir aspas, nem
indicar a página, até porque a ideia descrita pode estar distribuída em várias
páginas.

Exemplo:

A escola é um ambiente de comunicação em que determinados atos têm


efeitos tanto para que a frequenta, quanto para a sociedade como um todo
(CORREA, 2004). Na escola o principal exercício é o da imobilidade,
promovido em pelo menos quatro horas diárias de rituais particulares.

117
d. Citação de citação: é a menção de um documento ao qual não se teve
acesso, mas que foi citado em outro trabalho. Tal recurso somente é
recomendado quando da impossibilidade de ter acesso ao texto original ou
quando o mesmo for um documento histórico muito antigo, ou em língua
diversa.

• Usa-se a expressão apud que em latim significa “citado por”, após as


informações do texto citado e em seguida cita-se a fonte pesquisada
(onde a citação estava inserida).

Exemplo:

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


“Ele quer falar de alguma coisa para além da lenda, de algo que não
conhecemos e que ele mesmo não saberia, em consequência, designar
com mais precisão.” (KAKFA, 1980, p. 727 apud LINS, 2004, p. 109).

ou

Segundo o que nos diria Kafka (1980, p. 727 apud LINS, 2004, p. 109), “ele
quer falar de alguma coisa para além da lenda, de algo que não
conhecemos e que ele mesmo não saberia, em consequência, designar
com mais precisão”.

Algumas outras observações podem ser feitas ainda em relação às citações:

✓ Caso haja no texto citado algo que se julgue estranho, que deva ser
corrigido, coloca-se a expressão (sic!), entre parênteses, indicando que
era dessa forma que o texto estava escrito;

✓ Caso queira se dar ênfase a uma palavra, a mesma pode ser escrita em
negrito. Essa alteração deve ser assinalada com a expressão “grifo
nosso”, colocada entre parênteses no texto ou em nota de rodapé;

118
Exemplo: “A arte de desenvolver uma estratégia bem-sucedida e
sustentável [...]” (KAPLAN; NORTON, 2OOO, P. 103, grifo nosso). O
mesmo ocorre quando o autor citado grifa uma palavra e trecho do seu
texto. Neste caso usa-se “grifo do autor”;

✓ Os textos em outras línguas são traduzidos no corpo do trabalho.


Somente em trabalhos de estudos linguísticos devem ser mantidos em
sua língua original;

✓ Supressões de texto, comentários e acréscimos devem ser indicados


dentro de colchetes. Exemplo: “Há um vaivém permanente entre um
raciocínio ordenado [...] e o sentimento.” (LINS, 2004. P. 108).

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5.1.4 Notas de Rodapé

Segundo Severino (2002), as notas de rodapé têm três finalidades:

• Indicar a fonte de onde é retirada a citação, quando a mesma não for


feita no corpo do próprio texto;
• Inserir considerações complementares que podem ser úteis aos leitores;
• Trazer a versão original de um texto que foi traduzido no corpo do
trabalho, a fim de compará-los.

A NBR 10520:2002b conceitua as notas como:

a. Notas de referência – aquelas que indicam as fontes consultadas


ou remetem a outras partes da obra onde o assunto foi
consultado;
b. Notas de rodapé – são as indicações, observações ou
acréscimos feitos pelo autor;

119
c. Notas explicativas – utilizadas para comentários,
esclarecimentos ou explanações.

De toda forma, todas essas notas costumam aparecer no rodapé da


página e são digitadas em espaço simples, com fonte 10.

Exemplos:

Quanto às notas de referência há algumas considerações a fazer:

Notas de referência:
________________________________

1. FARIA, José Eduardo (Org.). Direitos Humanos, direitos sociais e justiça. São Paulo: Malheiros,

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1994.

Notas explicativas ou de rodapé:


_______________________________

2. Veja-se, como exemplo, o estudo feito por Corazza (2002).

a. A numeração das mesmas deve ser única e consecutiva para cada


capítulo ou parte;
b. A primeira citação de uma obra deve ter a sua referência completa
(autor, título, cidade da publicação, editora e ano);
c. As citações subsequentes da mesma obra podem ser referenciadas de
forma abreviada, utilizando-se as seguintes expressões, conforme o
caso.

120
EXPRESSÃO LATINA UTILIZAÇÃO EXEMPLO

ABREVIATURA

Apud Pode ser usada tanto no Segundo Kafka (1980, p. 727


texto quanto na nota de apud LINS, 2004, p. 109).
(citado por) rodapé.

Idem ou Id. * Usada em substituição ao 1. FOUCAULT, 1978.


nome do autor, quando se
(do mesmo autor) tratar de citação de 2. Id., 1994.
diferentes obras de um
3. Id. 2000.
mesmo autor.

Ibidem ou Ibid. * Usada em substituição aos 1.DELEUZE, Giles. A ilha


dados da citação anterior, deserta. São Paulo:
(na mesma obra) pois o que difere apenas é o Iluminuras, 2006, p. 177.
número da página.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


2. Ibid., p. 180.

Opus citatum ou op. cit. * Usada no caso de obra 1. FOUCAULT, 1978, p. 123.
citada anteriormente, na
(obra citada) mesma página, quando 2. DELEUZE, 2006, p. 177.
houver outras notas.
3. FOUCAULT, op. cit., p. 40.

4. DELEUZE, op. cit., p.196.

Passim Usada quando a informação 1. LINS, 2004, passim.


é retirada de diversas
(em diversas passagens) páginas do documento
citado.

Loco citado ou loc. cit. Usada para designar a 1. FOUCAULT, 1978, p. 123.
mesma página de uma obra
(no lugar citado) já citada anteriormente, mas 2. LINS, 2006, p. 177.
com intercalação de notas.
3. FOUCAULT, 1978, loc. cit.

Confira ou Cf. * Usada como abreviatura 1. Cf. DELEUZE, 2006, p.


para recomendar a consulta 177.
(confronte) a um trabalho ou nota.
2. Cf. nota 2 desta seção.

Sequentia ou et. seq. Usada quando não quer se 1. DELEUZE, 2006, p. 177
citar todas as páginas da et. seq.
(seguinte) obra referenciada.

121
* Só podem ser utilizadas na mesma página da citação a que se referem.
** Todas essas expressões, à exceção do apud, só podem ser utilizadas em
notas de rodapé e não no corpo do texto.

5.1.5 Referências

A NBR 6023:2002 conceitua referência como “conjunto padronizado de


elementos descritivos, retirados de um documento, que permite sua
identificação

Individual” (ABNT, 2002a). As referências, tanto utilizadas nas notas de

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referência, quanto ao final do texto, são de fundamental importância para que o
autor forneça a informação completa de todas as obras consultadas, em
diversos meios (livros, periódicos, internet etc.).

Há uma pormenorização de toda a normatização das referências na


NBR 6023:2002, a qual não pretendemos abarcar, dada a amplitude de nosso
trabalho. Apenas faremos alguns pequenos destaques que podem ser úteis
quando da elaboração das referências bibliográficas:

a. As referências sempre dão atenção ao autor da obra, título da obra,


cidade de publicação, editora e ano de publicação. Essa é a
formatação mais simples que é apresentada. Exemplo:
DELEUZE, Giles. A ilha deserta. São Paulo: Iluminuras, 2006.

b. Devem ser observadas questões relativas à apresentação desses itens,


como:
I. Sobrenome do autor em caixa alta;
II. Título da obra em negrito ou itálico;
III. Após a informação da cidade utiliza-se dois pontos ( : );
IV. Após a informação da editora utiliza-se a vírgula.

122
c. Para cada caso de obra há um acréscimo de informações ou modos de
separação das informações específicos. Como o estudante se utiliza de
diversas fontes, é necessário que o mesmo proceda à pesquisa da
referenciação das mesmas na própria NBR 6023:2002 ou nos manuais
para elaboração de trabalhos de conclusão de curso de sua respectiva
instituição de ensino superior;

d. Os artigos científicos costumam utilizar-se da mesma referenciação das


monografias e trabalhos de conclusão de curso – TCC;

e. O importante é proceder à correta referenciação para que o leitor do


trabalho possa, caso queira, ter acesso à mesma com facilidade.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Síntese

As citações, notas de rodapé e as referências bibliográficas são elementos


importantes na elaboração dos trabalhos acadêmicos. Os mesmos conferem
rigor e organicidade ao trabalho e contribuem para torná-lo autoral,
obedecendo aos critérios de ética e transparência na pesquisa. Todos esses
elementos obedecem às normatizações elaboradas pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.

123
5.2 Considerações finais

Chegamos ao fim do Módulo 5, “Redação e apresentação do trabalho


científico”. Estamos nos aproximando do final da nossa disciplina e, finalmente,
no módulo 6, serão apresentadas a estruturação formal do artigo científico e da
monografia. Para chegarmos até lá vivenciamos 5 módulos que apresentaram
orientações e questões diversas sobre tipos de conhecimento, métodos
científicos, a organização dos estudos na universidade, a pesquisa científica e
a redação do trabalho científico.

Lembramos que a consulta às referências bibliográficas e as indicações

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


de leitura complementam toda discussão aqui apresentadas.

Por fim, para socializarmos algumas ideias e partilharmos dúvidas e


inquietações conversaremos por meio do nosso fórum e lançaremos algumas
questões para verificação da sua aprendizagem.

Até a próxima!

124
Notas explicativas:

1A Ordem do Discurso - livro que reproduz a aula inaugural ministrada por Michel Foucault ao
assumir a cátedra no Collège de France pela morte de Jean Hyppolite em 2 de Dezembro de
1970.

1 A voz passiva sintética ou pronominal constrói-se com o verbo na 3ª pessoa, seguido do


pronome apassivador “se”. O agente da passiva não costuma vir expresso na voz passiva
sintética.

1
Tese: “Documento que representa o resultado de um trabalho experimental ou exposição de
um estudo científico de tema único e bem delimitado. Deve ser elaborado com base em
investigação original, constituindo-se em real contribuição para a especialidade em questão. É
feito sob a coordenação de um orientador (doutor) e visa a obtenção do título de doutor, ou
similar” (NBR 14724:2002c, p. 3).

1 Dissertação: “Documento que representa o resultado de um trabalho experimental ou


exposição de um estudo científico retrospectivo, de tema único e bem delimitado em sua

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


extensão, com o objetivo de reunir, analisar e interpretar informações. Deve evidenciar o
conhecimento de literatura existente sobre o assunto e a capacidade de sistematização do
candidato. É feito sob a coordenação de um orientador (doutor), visando a obtenção do título
de mestre” (NBR 14724:2002c, p. 2).

1 O TCC é um trabalho que o estudante universitário deve desenvolver para demonstrar o


conhecimento cientifico adquirido ao longo de sua graduação ou pós-graduação. Ele pode ser
apresentado de várias formas: monografia, artigo cientifico, relatório de estágio, tese de
doutorado e dissertação de mestrado.

1
A paráfrase é um recurso de linguística que pretende explicar e ampliar uma informação. Para
tal, faz uma espécie de imitação do discurso original, ainda que recorrendo a uma linguagem
diferente.
Fonte: http://conceito.de/parafrase

125
MÓDULO 6 - Estrutura da monografia: orientações

Cláudia Ribeiro Calixto

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos
Científicos.
Módulo 6 – Estrutura do trabalho científico (FCE) – São
Paulo – 2016.
Guia de Estudos – Módulo 6 – Estrutura do trabalho
científico
3. Trabalho científico. 2. Monografia. 3. Artigo Científico.

Orgs.: Adriana Alves Farias e


Cláudia Regina Esteves

Faculdade Campos Elíseos

126
Conversa Inicial

Caro(a) aluno(a),

No trajeto até aqui percorrido, vimos uma tipologia de conhecimentos,


enfocamos as características do conhecimento científico, dispusemos os
métodos científicos mais circulados, situando sua construção histórica e
destacamos o papel e a história das universidades. Enfatizamos a importância
da documentação como método de estudo pessoal, em especial a

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


documentação temática, a bibliográfica e a documentação geral. A partir desse
ponto, centramos nossa atenção na pesquisa científica, quando destacamos os
tópicos relevantes na estrutura de um projeto de pesquisa, os elementos e
etapas de um projeto. No módulo anterior, permeamos o conceito de autoria,
tematizamos a questão da ética e problemática do plágio, conceituamos
monografia e artigo científico. Chegamos, enfim, ao último módulo da disciplina
Técnicas em Pesquisa e Construção de Textos Científicos, intitulado
Estrutura do trabalho científico. Neste módulo, serão abordadas, de forma
geral, a estrutura formal e as regras de apresentação do trabalho, de acordo
com as normas dispostas pela Associação Brasileira de Notas Técnicas, tanto
para a escrita de uma monografia quanto para o texto de um artigo científico.

Bons estudos e boa escrita!

127
Para início de conversa....

Por que a escrita de um trabalho científico deve seguir certas normas


técnicas e padronização? Qual é a forma que devemos conferir ao texto? O
que devermos observar quanto à formalização da escrita de um estudo? Quais
são e onde estão disponíveis as normas de escrita do trabalho científico? É o

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


que veremos neste módulo.

As normas definem a forma e estrutura do trabalho e são estabelecidas


por pesquisadores envolvidos nos debates acerca dos estudos acadêmicos e
das áreas de conhecimento.

A normatização, conforme defendem Martins e Theóphilo (2016),


possibilita, por um lado, a efetivação de uma circulação orgânica aos textos e,
por outro, nos libera para concentrarmos nosso exercício criativo e analítico
àquilo que realmente confere relevância ao trabalho: o tratamento analítico. As
normas nos liberam de responder questões de ordem de forma, tais como:

- Que elementos devem ser observados nessa escrita?

- Como o texto deve ser estruturado?

- Que itens registrar? Em que sequência? Com que formatação?

- Quais os procedimentos básicos a serem seguidos?

128
Assim, a normatização e utilização de padrões técnicos possibilitam
organização e fluxo ao acesso e circulação das comunicações dos trabalhos
científicos, a comparação entre diferentes pesquisas e catalogação para fins de
diferentes tipos de consultas e para diferentes tipos de leitores (pesquisadores
e interessados).

Fundada no ano de 1940, a Associação Brasileira de Normas Técnicas


(ABNT) regula e define a normatização técnica no Brasil. As normas, por ela
publicadas, via de regra, orientam a formatação e a edição dos trabalhos
científicos das instituições de ensino superior no país. As deliberações da
ABNT são editadas por meio de normas técnicas sob a sigla NBR (Norma
Brasileira Editada).

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


6.1 Monografia

O trabalho científico, segundo Antônio Joaquim Severino (2002), tem por


fim comunicar os resultados de uma pesquisa. Essa comunicação assumirá a
forma escrita de uma monografia que, como já vimos, poderá ser resultado de
um trabalho de conclusão de curso ou especialização, de uma dissertação de
mestrado ou de uma tese de doutoramento. Sua estrutura formal prevê três
partes constitutivas (ABNT, 2003): elementos pré-textuais, textuais e pós-
textuais. Vejamos a seguir tais elementos.

129
6.1.2 Elementos pré-textuais

Os elementos pré-textuais (ABNT, 2002c) referem-se àquelas


informações que auxiliam na identificação, consulta e utilização do trabalho por
outras pessoas. Note que alguns são obrigatórios, outros opcionais. Veja na
ilustração abaixo os elementos pré-textuais no conjunto e, abaixo, a
discriminação de cada um desses tópicos.

LISTAS (se necessário)


ABSTRACT

RESUMO
EPÍGRAFE (opcional)
AGRADECIMENTOS (opcional
DEDICATÓRIA (opcional)

FOLHA DE APROVAÇÃO

FOLHA DE ROSTO

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


FACULDADE CAMPOS ELÍSIOS
PEDAGOGIA
PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO ESCOLAR

ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR E RELAÇÕES DE PODER: um


estudo sobre as racionalidades políticas nas práticas de
gestão escolar na atualidade

Clarice Pallazzi Ribeiro


Orientadora: Profa. Dra. Sônia da Silva

SÃO PAULO
2016

São Paulo
a. Capa (item obrigatório)
201

Refere-se à proteção externa do trabalho, sobre a qual são impressas as


informações indispensáveis de identificação. Nela, todo o texto deverá ser

redigido em fonte Times New Roman ou Arial, tamanho 12, em negrito, com
espaçamento entre linhas de 1,5. Deverá conter as seguintes informações:

✓ Nome da instituição (todo em letra maiúscula – centralizado)


✓ Nome da faculdade (todo em letra maiúscula – centralizado)
✓ Nome do departamento (todo em letra maiúscula – centralizado)
✓ Nome do programa de pós-graduação – (todo em letra maiúscula –
centralizado).

130
✓ Título e subtítulo do trabalho (10 espaços abaixo da linha do programa)
✓ Nome completo do autor (dois espaços, após o anterior – primeira letra
em maiúscula)
✓ Nome do orientador (na linha seguinte ao anterior – primeira letra em
maiúscula)
✓ Local – penúltima linha da folha – todas as letras maiúsculas
✓ Ano de defesa – última linha da folha

b. Lombada (opcional)

As informações devem ser impressas, conforme NBR 12.225, do alto


para o pé da lombada, constando o nome do autor impresso longitudinalmente,
de forma legível, o título do trabalho e elementos alfanuméricos de identificação
(por exemplo, v.2). Veja um exemplo:

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


FCE
FACULDADE CAMPOS ELÍSIOS
PEDAGOGIA

CLARICE PALLAZZI
RIBEIRO

Clarice Pallazzi Ribeiro

ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR E RELAÇÕES DE PODER: um estudo sobre as racionalidades políticas nas práticas
de gestão escolar na atualidade

ADMINISTRAÇÃO
ESCOLAR E
RELAÇÕES DE
PODER: um estudo
sobre as
racionalidades
políticas nas
práticas de gestão São Paulo
escolar na
2016
atualidade

2016

131
c. Folha de rosto (obrigatório)

Nela, devem ser registradas as informações essenciais do trabalho, na


ordem:

✓ nome do autor (responsável intelectual do trabalho);


✓ título principal do trabalho;
✓ subtítulo, se houver, subordinado ao título principal, precedido de
dois pontos;
✓ número de volumes (se houver mais de um);
✓ natureza (tese, dissertação, trabalho de conclusão de curso,
outros), objetivo (aprovação em disciplina, grau pretendido e
outros), nome da instituição a que é submetido e área de
concentração;

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


✓ nome do orientador e coorientador (se houver);
✓ local onde deve ser apresentado;
✓ ano de depósito (entrega).

3 cm

NOME DO AUTOR

Fonte tamanho 12
Fonte tamanho 12

TÍTULO DO TRABALHO:
(SUBTÍTULO, SE HOUVER)

3 cm
2cm

Trabalho de conclusão de
curso apresentado à banca
examinadora da
Faculdade Campos Elísios
como requisito para
aprovação no curso (nome).

Orientador: (nome do professor)

Fonte tamanho 12
Fonte tamanho 10

CIDADE
ANO

2cm

132
d. Ficha catalográfica (obrigatório)

Trata-se de um quadro que contém as informações básicas do trabalho


para fins de catálogo bibliográfico. Observe no exemplo os elementos e
disposições das informações:

Sobrenome, Nome.

Título da monografia: subtítulo/ Autor (nome e


sobrenome), ano. Total de folhas.

Orientador: Nome e sobrenome.

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Monografia (Especialização) – Faculdade Campos
Elíseos, cidade, ano.
Sobrenome, Nome.
1. Assunto. 2. Assunto. 3. Assunto. I. Faculdade Título da monografia: subtítulo/ Autor (na ordem
direta – nome e sobrenome), ano. Total de folhas.
Campos Elíseos. Nome da faculdade (Ex: Pedagogia). Orientador: Nome e sobrenome.

Monografia (Especialização) – Faculdade Campos


II. Sobrenome, nome do autor. III. Título. Elíseos, cidade, ano.

1. Assunto. 2. Assunto. 3. Assunto. I. Faculdade


Campos Elíseos. Nome da faculdade (Ex: Pedagogia).
II. Sobrenome, nome do autor. III. Título.

A ficha catalográfica deve ser registrada no verso da folha de rosto.

e. Errata (opcional)

É possível que, concluído e impresso o trabalho, alguma informação


equivocada ou erros de digitação sejam identificados. Nesse caso, elabora-se
uma lista de correções na qual se relacionam as folhas e linhas que contém
erros, seguidas das devidas correções. Essa folha pode ser encartada no
trabalho ou apresentada à parte.

133
f. Dedicatórias (opcional):

Alinhamento à
direita, com
espaçamento
de 1,5, ao final
da página.

A meus pais,
pelo apoio de sempre.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


g. Agradecimentos (opcional): após a dedicatória.

Nesse item, o autor poderá manifestar seu agradecimento àqueles que


tiveram papel relevante no desenvolvimento de seu processo.

Agradeço ao professor e orientador (nome) por


... e aos demais professores desta Faculdade
por...

Alinhamento
justificado, com
espaçamento de 1,5
e em negrito.

134
h. Epígrafe (opcional)

Uma citação relacionada com a matéria do trabalho que pode funcionar


como uma espécie de aguilhão do texto – evidencia uma ideia que perpassa o
trabalho.

Alinhamento à direita, com


espaçamento de 1,5. O texto
não deve ultrapassar a
metade da folha e o nome do
autor deve ser registrado em
itálico. Texto ao final da
página, entre aspas.

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“Anseios de felicidade
anseios de verdade
anseios de eternidade,
olhem só!”
Wislawa Szymborska

i. Resumo na língua do texto

O resumo deve apresentar, numa sequência de frases sucintas, como


define a NBR 6022 (ABNT, 2003). Nessa parte, os objetivos, a metodologia e
os resultados devem ser apresentados de forma enxuta. O texto deve alcançar
um total de até quinhentas palavras. Na linha abaixo, devem ser registradas as
palavras-chave (palavras que remetam ao conteúdo do texto). Não se deve
fazer uso de citações e parágrafos. Emprega-se a terceira pessoa e o verbo
deve estar na voz ativa. Veja o modelo e formatação a ser observada:

Título: letras RESUMO


maiúsculas,
Jojojo jojoj ojojo jojojj ojojojoj ojojo jojo
centralizado. ojojo joojojoj oooo ojojojojoj oojo
Espaço de 1,5 entre jojojoo joj ojoj ojojo jojo ojojo jojoo jojoj
título e texto. oojoj ojojo joojjo joojo joj ojoj ojojojo
jojoojo joj ojojoj ojojo ojojo jojoj oojoj
ojo jojojojojo jojojojojo joojoj ojojojo
jojojoj ojoj oojoj ojoj ojojoo joj ojoj ojjo.
Alinhamento justificado.
Texto iniciado junto à
margem, esquerda, em um
só parágrafo, espaçamento
simples, sem negrito e em
itálico.

135
j. Resumo em língua estrangeira (obrigatório)

É o resumo tal qual apresentado no item anterior, em língua estrangeira


(Abstract – em inglês, Resumem – em espanhol, Résumé – em francês)

Título: fonte Times New


ABSTRACT
Roman, tamanho 12,
letras maiúsculas, Jojojo jojoj ojojo jojojj ojojojoj ojojo jojo

centralizado, em itálico.
ojojo joojojoj oooo ojojojojoj oojo Fonte: Times New
jojojoo joj ojoj ojojo jojo ojojo jojoo jojoj
Espaço de 1,5 entre oojoj ojojo joojjo joojo joj ojoj ojojojo
Roman, tamanho 12,
título e texto. jojoojo joj ojojoj ojojo ojojo jojoj oojoj alinhamento
ojo jojojojojo jojojojojo joojoj ojojojo justificado. Texto
jojojoj ojoj oojoj ojoj ojojoo joj ojoj ojjo.
iniciado junto à
margem, esquerda, em
um só parágrafo em
espaçamento simples,
sem negrito e em

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


itálico.

k. Lista de ilustrações (opcional)

Trata-se da relação de desenhos, gravuras, imagens que


acompanharam o texto.

l. Lista de tabelas (opcional)

Apenas para os trabalhos em que o pesquisador fez uso de tabelas para


demonstrar de forma sintética e organizada os dados que serviram de
elementos para alguma análise.

m. Sumário (obrigatório)

Trata-se da enumeração das principais divisões e subdivisões do


trabalho, de acordo com a ordem e grafia que aparecem no texto, com
indicação do número da página em que se inicia. Veja o modelo abaixo:

136
SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS..........................4


LISTA DE QUADROS......................................................5
1. CAPÍTULO I: .....................................................9
1.1 SUBTÍTULO ..................................................13
1.2 SUBTÍTULO ..................................................21
2. CAPÍTULO II: ...................................................32
2.1 SUBTÍTULO .................................................41
2.2 SUBTÍTULO .................................................50
3. CAPÍTULO III: ...................................................54
3.1 SUBTÍTULO ..................................................62
3.2 SUBTÍTULO ..................................................71
4. CONCLUSÃO ......................................................83
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................86
6. GLÓSSÁRIO .......................................................99
7. APÊNDICE 1 .....................................................100
8. ANEXO A ..........................................................104

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


6.1.3 Elementos textuais

Nessa parte, a mais substancial, a matéria do trabalho será


desenvolvida. Ela é composta de um encadeamento que permite ao leitor
acompanhar o caminho da pesquisa, da sua intenção, do problema proposto,
do levantamento do que existe já estudado sobre o tema, dos procedimentos
metodológicos e da conclusão a que o pesquisador chegou.

Texto - conclusão

Texto -
desenvolvimento

Texto - introdução

137
a. Introdução

Nessa parte, o pesquisador apresenta a justificativa do trabalho: as


razões da escolha do tema, sua problematização e apresenta os objetivos,
destacando a relevância de seu objeto, anunciando a abordagem teórica e
metodológica que escolheu.

b. Desenvolvimento

Essa é a parte principal e mais substantiva a qual deverá expor o


assunto: da revisão bibliográfica à conclusão de suas análises.

Aqui, o texto deverá mostrar a revisão da literatura: o pesquisador


apresentará todo o trabalho realizado na pesquisa bibliográfica, dispondo os

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autores mais reconhecidos, as abordagens e ideias já existentes acerca do
problema da pesquisa.

Também deverá ser apresentada a sua problematização do tema: que


novas perguntas e/ou abordagens propôs como diferencial em relação ao que
já se sabe e já de diz sobre o objeto de estudo.

O estudante-pesquisador deverá, então, dar a saber o embasamento


teórico, sua filiação de pensamento, bem como explicitar e explicar a
metodologia que escolheu para a coleta e tratamento analítico dos dados.
Apresentará, então as fontes e os dados recolhidos.

Apresentará, enfim, os resultados, procedendo a uma análise e


apresentando suas conclusões com a confirmação ou negação das hipóteses
iniciais da pesquisa.

Nessa segunda parte da estrutura da monografia, o texto pode ser divido


em seções e subseções, em função da abordagem e do método.

138
c. Conclusão

É a parte final do texto. Aqui, o autor fará suas considerações finais,


quando apresentará uma síntese das conclusões, focando na delimitação do
problema apresentado na primeira parte e indicando se os objetivos da
pesquisa foram alcançados ou não. Não deve haver citações de outras obras,
bem como ser acrescidas novas informações, de modo que são evocadas
apenas informações advindas do próprio trabalho, nesse momento.

Ainda, devem ser apontadas possiblidades de outros estudos a partir


dos resultados dessa que se encerrou, ou seja, que novas perguntas podem
ser formuladas a partir dos que se investigou e que novas pesquisas podem
ser suscitadas.

Veja bem, nessa última parte, a escrita é curta e deve ser redigida de
forma clara e concisa, ocupando-se, em média, uma folha e meia (SEVERINO,

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2002).

6.1.4 Elementos pós-textuais

ÍNDICES (se necessários)

ANEXOS (se necessários)

APÊNDICES (se necessários)

GLOSSÁRIO (se necessário)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

139
a. Referências Bibliográficas

Conforme conceituado na NBR 6023:2002 (ABNT, 2002a), a referência


constitui o “conjunto padronizado de elementos descritivos, retirado de um
documento, que permite a sua identificação individual”. A referência, consoante
essa definição, constitui a listagem das obras citadas no texto, de onde foi
extraída a informação de um documento – impressos, manuscritos, registros
audiovisuais, sonoros, magnéticos eletrônicos etc.

O título (REFERÊNCIAS) é centralizado na folha. As referências têm


espaçamento simples entre as linhas e espaço duplo entre uma e outra.

Um equívoco comum apresentado em muitas monografias é a

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formatação justificada das referências. Veja bem: esse registro deve ser
alinhado apenas à margem esquerda da página.

São elementos essenciais aqueles indispensáveis à identificação do


documento e, quando necessário, são acrescidos elementos complementares.

A seguir, apontaremos a forma de referência de tipo de fontes e


documentos mais comuns e em acordo com as normas publicadas pela ABNT.

Para a escrita de monografias, usa-se a referenciação das obras pelo


sistema autor-data. São consideradas monografias: livros e/ou folhetos
(manual, guia, catálogo, enciclopédia, dicionário etc.) e trabalho acadêmicos
(teses, dissertações, trabalhos de conclusão de curso etc.).

Quando a referência for de uma monografia com apenas um autor,


seus elementos essenciais para o registro da referência são: autor(es), título,
edição, local, editora e data de publicação. Assim, a indicação da fonte deve
ser feita pelo sobrenome autor em letra maiúscula, seguido dos nomes em letra
minúscula, após vírgula. Na sequência, são informados o título da obra e o
subtítulo, se houver, separados por dois pontos. Na sequência, o número da
edição, cidade de publicação, editora, ano e páginas, na conformidade que
segue no exemplo:

140
AQUINO, Julio Groppa. Da autoridade pedagógica à amizade intelectual:
uma plataforma para o éthos docente.1.ed. São Paulo: Cortez, 2014.

LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. 5.ed.


Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

Note que o título, em caso de livros ou artigos é grafado em negrito


(pode-se fazer uso de outro recurso tipográfico para destaque – itálico ou grifo).

No caso de haver mais de uma obra de um mesmo autor no mesmo


ano de edição, deve ser acrescida uma letra à frente do ano da edição em
ordem alfabética:

LEVI, Primo. A assimetria e a vida: artigos e ensaios 1955-1987. Organização


Marco Belpoliti. Tradução Ivone Benedetti. 1.ed. São Paulo: Unesp, 2016a.

_________. O ofício alheio: com um ensaio de Ítalo Calvino. Tradução Silvia


Massimini Felix. 1.ed. São Paulo: Unesp, 2016b.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Observe, ainda, no exemplo acima, que quando o nome do autor se
repete, não é necessário escrevê-lo novamente, bastando estender uma
sublinha (underline) em dois centímetros.

Quando houver mais de um autor, os nomes devem ser separados por


ponto e vírgula:

BOOTH, Wayne C.; COLOMB, Gregory G.; WILLIAMS, Joseph M. A arte da


pesquisa. Tradução Henrique A. Rego Monteiro. 2.ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2005.

Quando se tratar de obras cujo suporte seja a internet, o endereço


eletrônico passa a constituir elemento essencial da referência, sendo
registrado entre os sinais < >, precedido da expressão Disponível em:, e a
data de acesso ao documento, precedida da expressão Acesso em: Vejamos
um exemplo:

CARVALHO, Marília Pinto de. O fracasso escolar de meninos e meninas:


articulações entre gênero e cor/raça. Cadernos pagu (22) 2004: p.247-290.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cpa/n22/n22a10.pdf>, Acesso em:
10/09/2016.

141
Quando o documento é parte de outra obra (como o capítulo de um livro,
por exemplo), os elementos essenciais são autor(es), título da parte, seguidos
da expressão In:, e da referência completa da monografia no todo. No final da
referência, deve ser informada a paginação ou outra forma de individualizar a
parte referenciada. Note-se que o título da obra em que o documento está
contido, deve ser grafado em negrito:

CORAZZA, Sandra Mara. Labirintos da pesquisa, diante dos ferrolhos. In:


COSTA, Marisa Vorraber (org.). Caminhos investigativos: novos olhares na
pesquisa em educação. 2.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002, p.105-131.
Temos, com frequência, citações de periódicos (jornais, revistas,
boletins etc.). Conforme conceituam Gilberto de Andrade Martins e Carlos
Renato Theóphilo (2016, p.175) referem-se àquelas publicações que têm

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


frequência periódica e “que apresentam artigos científicos, editoriais, matérias
jornalísticas ou reportagens e seções”. A referência de periódicos tem uma
diferenciação nos elementos essenciais, sequência e no destaque tipográfico
(negrito, itálico ou grifo), que recai, nesse caso, no título do periódico.

Seus termos essenciais são: título do periódico, subtítulo, local de


publicação, editora, número, volume (e/ou fascículo), data de início e de
encerramento da publicação, se houver:

EDUCAÇÃO & REALIDADE. Porto Alegre: UFRS/FACED, 1975 -.


Quadrimestral.

Quando a referência for de partes ou matéria existente em um periódico


(coleções, fascículo, número de revista, de jornal, caderno etc.; artigos
científicos de revistas, editoriais, matérias jornalísticas, seções, reportagens
etc.), devem ser incluídas as seguintes informações: volume, número do
fascículo, números especiais e suplementos.

EDUCAÇÃO E PESQUISA. Quadrimestral. Faculdade de Educação.


Universidade de São Paulo. São Paulo, v.29, n.1, p. 185-193, jan./jun. 2003.

EDUCAÇÃO & REALIDADE. Porto Alegre: UFRS/FACED, 1975 - .


Quadrimestral. nº 41, vol. 3, 2016.

142
Vejamos alguns exemplos de citação de matérias ou capítulos retirados
de periódicos:

CIDADES e territórios. Folha de São Paulo, São Paulo, 18 jun, 2016,


p.2,3,6,7. Seminários Folha.

CORAZZA, Sandra Mara. Currículo e didática da tradução: vontade, criação e


crítica. Educação & Realidade. Faculdade de Educação. Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, v. 41, n. 4, p. 1313-1335, out./dez. 2016.

SAYÃO, Rosely. A questão do gênero na escola. Folha de São Paulo. São


Paulo, 31/05/2016. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/roselysayao/2016/05/1776526-a-
questao-de-genero-na-escola.shtml#_=_>. Acesso em: 10/10/2016.

Para o registro das referências de documentos jurídicos – legislação


– tais como Constituição, leis, resoluções, portarias e normas emanadas por

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


instituições públicas e privadas (ato normativo, portaria, comunicado, circular,
decisão administrativa, entre outros) segue-se o modelo padrão como
apresentado a seguir:

JURISDIÇÃO. Título do documento (se houver), data (se houver), Título da


obra: subtítulo. Edição (se houver). Local: Editora, data.

Veja alguns exemplos:

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOTAS TÉCNICAS. NBR 6023: Elaboração


de referências. Rio de Janeiro, ago. 2002.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: informação


e documentação: artigo em publicação periódica científica impressa:
apresentação. Rio de Janeiro, 2003. 5p.

BRASIL. Código Civil. 46.ed. São Paulo: Saraiva, 1995.

Para referenciar obras de imagem em movimento (filmes, DVD,


videocassetes etc.), devem ser registrados os seguintes elementos: título,
diretor, produtor, local, produtora, data e especificação do suporte em unidades
físicas.

LIXO extraordinário. Direção: João Jardim; Karen Harley; Lucy Walker. Reino
Unido/Brasil: Angus Aynshey; O2 Filmes, 2010. 1 DVD (99 min). DVD son.,
color.

143
Por fim, nas referências, as obras são apresentadas em ordem
alfabética do sobrenome dos autores, nome da Instituição ou obra: como
vimos, um tipo de documento (monografia, por exemplo) pode ter um elemento
inicial, para registro na referência, diferente de outro tipo (filme, por exemplo):

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOTAS TÉCNICAS. NBR 6023: Elaboração


de referências. Rio de Janeiro, ago. 2002.

CIDADES e territórios. Seminários Folha. Folha de São Paulo, São Paulo, 18


jun, 2016, p.2,3,6,7.

FOUCAULT, Michel. O Governo de Si e dos Outros: curso dado no Collège


de France (1982-1983) São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010b.

LIXO extraordinário. Direção: João Jardim; Karen Harley; Lucy Walker. Reino
Unido/Brasil: Angus Aynshey; O2 Filmes, 2010. 1 DVD (99 min). DVD son.,
color.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


São muito variados os tipos de documentos e fontes. Caso utilize algum tipo
que não estiver contemplado na lista de situações arroladas neste módulo,
consulte a NBR 6023 da ABNT.

b. Glossário

Nessa seção do trabalho, optativa, efetua-se uma relação alfabética em


que se explicam os significados das palavras, termos, conceitos e “expressões
técnicas de uso restrito ou de sentido não comum na linguagem trivial que
foram utilizadas no texto” (MARTINS; THEÓPHILO, 2016, p.182).
A listagem do glossário deve ser registrada em página própria. Seu título
deve estar centralizado, escrito com todas as letras maiúsculas. O
espaçamento entre as linhas deve ser simples e entre cada item do glossário, o
espaçamento de 1,5. Não deve haver espaço entre a margem e a palavra.
Entre a palavra e a explicação do conceito, devem ser interpostos dois pontos.
c. Apêndice
Nessa parte, são incluídos materiais complementares, elaborados pelo
próprio autor do trabalho, caso o mesmo julgue necessário ou
conveniente, em função de sua pesquisa.

144
d. Anexos

Nessa parte, também opcional, são incluídos materiais complementares,


textos ou documentos (gráficos, tabelas, imagens etc.), elaborados por outros
autores e servem de fundamentação, comprovação ou ilustração do trabalho,
os quais o autor julgou por bem incluir. Tal como o apêndice, os anexos devem
ser empregados com parcimônia.

Para você ter uma visualização gráfica da sequência dos elementos


acima discriminados, conforme disposto pela ABNT, apresentamos uma
ilustração

ÍNDICES

ANEXOS
APÊNDICE

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


GLOSSÁRIO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CONCLUSÃO

DESENVOLVIMENTO
INTRODUÇÃO

LISTAS (se necessário)


ABSTRACT

RESUMO
EPÍGRAFE (opcional)
AGRADECIMENTOS (opcional
DEDICATÓRIA (opcional)

FOLHA DE APROVAÇÃO

FOLHA DE ROSTO

FACULDADE CAMPOS ELÍSIOS


PEDAGOGIA
PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO ESCOLAR

ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR E RELAÇÕES DE PODER: um


estudo sobre as racionalidades políticas nas práticas de
gestão escolar na atualidade

Clarice Pallazzi Ribeiro


Orientadora: Profa. Dra. Sônia da Silva

SÃO PAULO
2016

145
Em todas as páginas do trabalho, as margens devem ser constantes:

3 cm

3 cm 2 cm

2 cm

Também a fonte deve ser a mesma – do início ao fim (escolher entre


Times New Roman ou Arial), tamanho 12, excetuando as referências recuadas.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


ATENÇÃO: a ABNT define as linhas gerais de formatação dos textos.
Entretanto, o estudante deverá consultar a normatização publicada por sua
faculdade ou normas editoriais do periódico, em caso de artigo científico, para
certificar se há alguma complementação ou orientação a ser observada na
escrita e formatação de seu texto.

146
Síntese

A normatização dos trabalhos científicos (trabalho de conclusão de curso,


dissertações, teses, entre outros) é realizada pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas a qual edita normas técnicas que devem ser observados
quando da redação das monografias. As monografias devem ser estruturadas
em três elementos essenciais: elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais.
Cada elemento é constituído de seções cuja formatação (margem e
alinhamento, tamanho da fonte, tipografia etc.) e sequência são especificadas
em normas próprias. Há seções que são obrigatórias e outras opcionais,

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


dependendo, estas, do que o autor julgar pertinente ou necessário em função
da natureza e abordagem de seu trabalho.

6.2 Artigo Científico

Como abordamos no quinto módulo, o artigo é um trabalho técnico-


científico escrito por um ou mais autores e constitui “parte de uma publicação
com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas,
processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento” (ABNT, 2003).
Ele pode ser de revisão (resume, analisa e discute informações já publicadas)
ou original (apresenta temas ou abordagens originais).

O artigo científico apresenta estrutura similar à monografia, devendo ser


constituído por:

➢ elementos pré-textuais: título e subtítulo (se houver), nome do(s)


autor(es), resumo na língua do texto e palavras-chave na língua
do texto;
➢ textuais: introdução, desenvolvimento e conclusão;

147
➢ pós-textuais: título e subtítulo (se houver) em língua estrangeira,
resumo em língua estrangeira, palavras-chave em língua
estrangeira, nota(s)explicativa(s), referências, glossário,
apêndice(s), anexo(s).

O texto deverá ser escrito, conforme definido pela ABNT, em editor de


texto com fonte Times New Roman ou Arial, nº 12. Entre as linhas, deverá ser
formatado o espaçamento de 1,5 e entre os parágrafos, espaço duplo. As
citações, referências e notas de rodapé, ao longo do texto, devem ser
formatadas conforme informamos no quinto módulo.

6.2.1 A linguagem do artigo científico

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


A linguagem empregada no texto é fundamental para a sua leitura e
compreensão. Para o artigo ser capaz de comunicar os resultados de um
estudo, deve-se buscar a fluidez e a clareza. Devemos escrever o texto, como
se fôssemos seus leitores (BOOTH; COLOMB; WILLIAMS, 2005).

É preciso que o texto seja generoso com o leitor, que não deixe lacunas
conceituais ou omita informações importantes, ao mesmo tempo em que é
recomendável que seja econômico, evitando detalhamentos desnecessários,
“firulas” e hermetismos. Assim, deve-se utilizar de uma linguagem clara,
objetiva e concisa. As frases devem ser curtas e simples, comunicando-se uma
ideia por vez.

As ideias devem ser logicamente encadeadas, devendo-se observar a


coesão e coerência em sua redação. O texto deve ser impessoal, de modo que
é recomendável o emprego da terceira pessoa do singular e do verbo na voz
ativa, com emprego das normas gramaticais e ortográficas, evitando-se o
emprego de gírias, jargões e linguagem coloquial.

A estrutura do artigo deve observar a estrutura e normas previstas pela


ABNT. É o que veremos na sequência.

148
6.2.2 Estrutura

a. Introdução

Nessa parte, o tema deve ser apresentado de maneira clara, precisa e


sintética. Não se deve, portanto, fazer considerações históricas ou antecipar os
resultados do estudo. Podemos dizer que a introdução apresenta, mas com
certo suspense, o problema e o caminho que se evidenciará ao longo do
desenvolvimento do texto. Deve conter quatro ideias básicas: o que foi
tematizado, a razão da escolha do tema, as contribuições e resultados que se
pretende alcançar e qual a trajetória traçada para solução do problema
proposto (MARTINS, THEÓPHILO, 2016).

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


b. Resumo

O resumo consiste na apresentação sucinta de todos os pontos


relevantes do artigo. Tem por objetivo oferecer elementos capazes de permitir
ao leitor decidir sobre a necessidade e interesse de consulta e leitura integral
do artigo (MARTINS, THEÓPHILO, 2016). O resumo deve evidenciar o
problema, apresentar os objetivos, a abordagem metodológica, os resultados e
as conclusões, destacando os achados da pesquisa: surgimento de fatos
novos, diferenças com análise anteriores, relações e efeitos novos verificados.
Deve se constituir pelo encaminhamento lógico de frases sucintas.

Não se utilizam parágrafos, frases negativas, fórmulas e diagramas no


resumo. Na formatação deve-se fazer uso de espaço simples entre linhas. O
texto deve alcançar até duzentas e cinquenta palavras. Há periódicos que
pedem resumo e abstract. Mas há aqueles que admitem outra língua para o
resumo em língua estrangeira.

c. Abstract

O abstract é o resumo convertido em língua inglesa. Deve ser redigido


com a mesma formatação e conteúdo do resumo na língua do texto.

149
d. Palavras-chave

Também designadas como descritores, as palavras-chave aparecem


logo na linha abaixo do resumo e devem expressar as principais ideias ou
conceitos movimentados pelo artigo. Sua quantidade varia de três a cinco.

e. Desenvolvimento

Essa é a parte principal e mais extensa do artigo. Nela, devem ser


apresentados a fundamentação teórica, a metodologia de investigação
empregada, os resultados alcançados e a discussão.

Nos artigos de revisão, evidentemente, não serão registrados elementos


como material de análise, metodologia de investigação e resultados
alcançados.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


f. Considerações Finais

Essa é a parte da conclusão em que são respondidas as questões da


pesquisa, a consecução dos objetivos do estudo e as hipóteses que foram
confirmadas, informando se o problema proposto foi atingido. Seu conteúdo
compreende, basicamente, “afirmação sintética da ideia central do trabalho e
dos pontos relevantes apresentados no texto” (MARTINS; THEÓPHILO, 2016,
p.224). É interessante que sejam apontados sugestões de outra pesquisa e/ou
novos enfoques vislumbrados pelo autor para trabalhos futuros a partir dos
resultados da pesquisa comunicada.

g. Referências bibliográficas

Nessa parte, são relacionadas as referências bibliográficas consultadas


para elaboração do artigo, na mesma configuração apontada quando
desenvolvemos os elementos pós-textuais da monografia.

150
Síntese

Os textos dos artigos científicos deverão contem três partes essenciais:


introdução, desenvolvimento e conclusão. Deve-se buscar uma linguagem
clara, concisa, simples e objetiva.

6.3 Considerações finais

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


Com o fim do Módulo 6, finalizamos a disciplina Técnicas. Neste,
apresentamos a estruturação formal do artigo científico e da monografia.

Lembramos que a consulta às referências bibliográficas e as indicações


de leitura complementam toda discussão aqui apresentada.

Por fim, para socializarmos algumas ideias e partilharmos dúvidas desse


último módulo e inquietações conversaremos por meio do nosso fórum e
lançaremos algumas questões para verificação da sua aprendizagem.

Esperamos que o caminho da disciplina, que até aqui percorremos, lhe


tenha sido útil no sentido de fornecer algumas coordenadas e noções para a
construção e registro de seu estudo, que tenha lhe dado uma ideia da
elaboração de um trabalho de pesquisa, desde sua concepção (a escolha do
tema, a problematização, a definição de um caminho metodológico etc.) e
permitido visualizar caminhos possíveis de investigação, informações úteis
quanto à normatização do registro de uma monografia e de um artigo.

151
Referências Bibliográficas

Módulo 1

ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. 19. ed.
São Paulo: Edições Loyola, 2015.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à Filosofia. 2. Ed.
São Paulo: Editora Moderna, 2002.
BECHARA, Evanildo. Dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2011.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica.
São Paulo: Atlas, 2004.
MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, Maria Terezinha
Telles. Didática do ensino da arte: a língua do mundo. Poetizar, fruir e conhecer

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


arte. São Paulo: FTD, 1998.
ROVELLI, Carlo. Sete breves lições de física. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.
RUSSELL, Bertrand. História do pensamento ocidental: a aventura dos pré-
socráticos à Wittgenstein. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
VILLAS BOAS, Cláudio e Orlando. Histórias do Xingu. São Paulo: Companhia
das Letrinhas, 2013.

Módulo 2

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5.ed. São Paulo: Martins Fontes,


2007.
BACHELAR, Gaston. Ensaio sobre o conhecimento aproximado. Tradução
Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004.
BUNCKINGHAM, Will et alii. O livro da filosofia. Tradução Rosemarie
Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.
CERVO, Amado L. ; BERVIAN, Pedro A. Metodologia Científica. 5.ed. São
Paulo: Prentice Hall, 2002.
COSTA, Marisa Vorraber (Org.). Caminhos Investigativos: novos olhares na
pesquisa em educação. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico da língua portuguesa.
4.ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2010.

152
DEMO, Pedro. Metodologia da Investigação em Educação. Curitiba: Ibpex,
2005.
DESCARTES, René. Discurso del Método. Edición: Disponível em eBooket
www.eBooket.net. Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download
/texto/bk000197.pdf. Acesso em 09/10/2016.
_________. Discurso do método; As paixões da alma; Meditações; Objeções e
respostas; Cartas. Introdução Gilles-Gaston Granger. Tradução J. Guinsburg e
Bento Prado Junior. 4ed. – Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural,
1988.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 4ed.
Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica.
4. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
LALANDE, André. Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. 3.ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1999.
RUSSEL, Bertrand. História do pensamento ocidental: a aventura dos pré-

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


socráticos a Wittgenstein. Tradução Laura Alves, Aurélio Rebello. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
WEINBERG, Steven. Para explicar o mundo: a descoberta da ciência moderna.
Tradução Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

Módulo 3

BECHARA, Evanildo. Dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova


Fronteira, 2011.
BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza.
Fundamentos de metodologia científica: um guia para a iniciação científica. 2
ed. São Paulo: Makron Books, 2000.
BRASIL. Lei Federal 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
LARROSA, Jorge. Leitura, experiência e formação. In: COSTA, Marisa
Vorraber (org.). Caminhos Investigativos: novos olhares da pesquisa em
educação. 2. Ed. Rio de Janeiro. DP&A, 2002.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Científica.
São Paulo: Atlas, 2004.
___________. Metodologia do trabalho Científico. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2001.
PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar. Metodologia do
trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2
ed. Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul: Universidade FEEVALE, 2013.
RUSSELL, Bertrand. História do pensamento ocidental: a aventura dos pré-
socráticos à Wittgenstein. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho Científico. 22 ed. São
Paulo: Cortez, 2002.

153
SOUZA-SILVA, Jader C.; DAVEL, Eduardo. Concepções, práticas e Desafios
na formação do Professor: examinando o caso do ensino superior de
Administração no Brasil. O&S - v.12 - n.35 - Outubro/Dezembro – 2005.

Módulo 4

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: referências:


elaboração. Rio de Janeiro, ago. 2002a.

___________. NBR 10520: informação e documentação: apresentação de


citações em documentos. Rio de Janeiro, ago. 2002b.

___________. NBR 6022: Informação e documentação - Artigo em publicação

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


periódica científica impressa – Apresentação. Rio de Janeiro, maio 2003.

___________. NBR 14724: Informação e documentação - Trabalhos


acadêmicos – Apresentação. Rio de Janeiro, ago. 2002c.

BECHARA, Evanildo. Dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova


Fronteira, 2011.
BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza.
Fundamentos de metodologia científica: um guia para a iniciação científica. 2
ed. São Paulo: Makron Books, 2000.
BRASIL. Lei Federal 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
___________. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
CAMPANA, ÁLVARO OSCAR. Redação de Trabalho
Científico. J. Pneumologia, São Paulo, v. 26, n. 1, p. 30-35, fevereiro de
2000. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
35862000000100007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 23 de outubro de 2016.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-35862000000100007.

154
CORAZZA, Sandra Mara. Labirintos da pesquisa: diante dos ferrolhos. In:
COSTA, Marisa Vorraber (org.). Caminhos investigativos: novos olhares da
pesquisa em educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. p. 105-131.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Científica.
São Paulo: Atlas, 2004.
___________. Metodologia do trabalho Científico. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2001.

PITHAN, Lívia H.; VIDAL, Tatiane Regina Amando. O plágio acadêmico como
um problema ético, jurídico e pedagógico. Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 39,
n. 1, p. 77-82, jan./jun. 2013.
PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar. Metodologia do
trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


ed. Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul: Universidade FEEVALE, 2013.
SARMENTO, Leila Lauar. Gramática em textos. 3 ed. São Paulo: Moderna,
2012.
___________. Oficina de Redação. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho Científico. 22 ed. São
Paulo: Cortez, 2002.

Módulo 5

BARTHES. Roland. A preparação do romance II: a obra como vontade.


Tradução Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
BOOTH, Wayne C.; COLOMB, Gregory G.; WILLIAMS, Joseph M. A arte da
pesquisa. Tradução Henrique A. Rego Monteiro. 2.ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2005.
BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência. Tradução Denice Bárbara
Catani. São Paulo: Editora UNESP, 2004.
CARVALHO, Marília Pinto de. Sucesso e fracasso escolar: uma questão de
gênero. Educação e Pesquisa. São Paulo, v.29, n.1, p. 185-193, jan./jun. 2003.

155
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v29n1/a13v29n1.pdf>. Acesso em:
10/09/2016.
CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A. Metodologia Científica. 5. ed. São
Paulo: Prentice Hall, 2002.
COSTA, Marisa Vorraber (Org.). Caminhos Investigativos: novos olhares na
pesquisa em educação. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
CORAZZA, Sandra Mara. Labirintos da pesquisa, diante dos ferrolhos. In:
COSTA, Marisa Vorraber (Org.). Caminhos Investigativos: novos olhares na
pesquisa em educação. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico da língua portuguesa. 4.
ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2010.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


DEMO, Pedro. Metodologia da Investigação em Educação. Curitiba: Ibpex,
2005.
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 26.ed. São Paulo: Perspectiva, 2016
FOUCAULT, Michel. O belo perigo: conversa com Claude Nonnefoy. Tradução
Fernando Scheibe. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 1994.
KUHN, Thomas. S. A estrutura das revoluções científicas. Tradução Beatriz
Vianna Boeira e Nelson Boeira. 10. ed. São Paulo: Perspectiva, 2011.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica.
4. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
________. Metodologia do Trabalho Científico. 6ed. São Paulo: Atlas, 2001.
LALANDE, André. Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1999.
MARTINS, Gilberto de Andrade; THEÓPHILO, Carlos Renato. Metodologia da
investigação científica para ciências sociais aplicadas. 3.ed. São Paulo: Atlas,
2016.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 22. ed. São
Paulo: Cortez, 2002.

156
VEIGA-NETO, Alfredo. Olhares... In: COSTA, Marisa Vorraber (Org.).
Caminhos Investigativos: novos olhares na pesquisa em educação. 2. ed. Rio
de Janeiro: DP&A, 2002, p.23-38.

Módulo 6

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: referências:


elaboração. Rio de Janeiro, ago. 2002a.

___________. NBR 10520: informação e documentação: apresentação de


citações em documentos. Rio de Janeiro, ago. 2002b.

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto


___________. NBR 14724: Informação e documentação - Trabalhos
acadêmicos – Apresentação. Rio de Janeiro, ago. 2002c.

___________. NBR 6022: Informação e documentação - Artigo em publicação


periódica científica impressa – Apresentação. Rio de Janeiro, maio 2003.

BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza.


Fundamentos de metodologia científica: um guia para a iniciação científica. 2
ed. São Paulo: Makron Books, 2000.
BOOTH, Wayne C.; COLOMB, Gregory G.; WILLIAMS, Joseph M. A arte da
pesquisa. Tradução Henrique A. Rego Monteiro. 2.ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2005.
CORAZZA, Sandra Mara. Labirintos da pesquisa: diante dos ferrolhos. In:
COSTA, Marisa Vorraber (org.). Caminhos investigativos: novos olhares da
pesquisa em educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. p. 105-131.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Científica.
São Paulo: Atlas, 2004.

Metodologia do trabalho Científico. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2001.

157
MARTINS, Gilberto de Andrade; THEÓPHILO, Carlos Renato. Metodologia da
investigação científica para ciências sociais aplicadas. 3.ed. São Paulo: Atlas,
2016.
PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar. Metodologia do
trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2
ed. Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul: Universidade FEEVALE, 2013.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho Científico. 22ed. São
Paulo: Cortez, 2010

Técnicas em Pesquisa e Construção de Texto

158

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