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EXECUÇÃO DE ESTACA HÉLICE CONTÍNUA: UM RELATO DE OBRA

Alessandro Reina Torres1

Resumo
O presente trabalho relata um caso de obra, onde houve problema na execução de uma estaca hélice
contínua de um estaqueamento para fundações do caminho de rolamento de máquinas de pátio para
manuseio de minério. Após a concretagem de uma das estacas ocorreu um abatimento de
aproximadamente 4,0 m, resultando na perda da estaca, sem uma explicação rápida e simples, para
o motivo de tal acontecimento. A partir de registros da execução da estaca, de informações sobre o
histórico de construção do local de implantação da obra e investigações geotécnicas disponíveis,
pôde-se realizar uma investigação do motivo que ocasionou o incidente. Foi realizado o
acompanhamento da execução de estaca vizinha à estaca perdida, para avaliar se a patologia
observada seria recorrente. Adicionalmente discutem-se aspectos da interpretação de resultados de
sondagens (tipo SPT) disponíveis na região, bem como observações sobre o monitoramento da
execução das estacas tipo Hélice Contínua. Por fim, são feitas as conclusões sobre o motivo que
ocasionou o incidente e recomendações pertinentes.

Abstract
The present work reports a case where there was a problem in the execution of a Continuous Flight
Auger pile for the piling foundations of the rolling path of yield stackers machines for iron ore handling.
After the concreting of the pile, the concrete level decreased until approximately 4.0 m, from the top of
the pile, resulting in its loss, with no apparent reason. From the records of the execution of the pile,
information about the construction history of the site and available geotechnical investigations, an
investigation of the reason which caused the incident was performed. The follow-up of the execution of
the pile nearby the lost pile was carried out to evaluate if the observed pathology would be recurrent.
In addition, a discussion about the aspects of the interpretation of SPT results available in the region,
as well as observations on the monitoring of the execution of the Continuous Flight Auger pile type,
was made. Finally, the conclusions about the reason for the incident are presented, as well as relevant
recommendations.

Palavras-chave: patologias, execução e monitoramento de estacas hélice contínua.

GEOSUL 2017 – XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul 1


1
Msc, Universidade Federal Fluminenses, 21.99862-5830 e atorres@id.uff.br
1 - INTRODUÇÃO
As estacas tipo hélice contínua são escavadas e moldadas no local, sendo sua perfuração
executada pela introdução de um trado de maneira contínua no solo, por rotação. Pelo método
executivo da estaca é imperativo que a armadura seja instalada posteriormente a concretagem desta,
já que depois de atingida a cota de fundo da perfuração, a concretagem ocorre de baixo para cima,
através de tubo interno ao trado, sendo recomendada a retirada do trado sem rotação. A figura 1
mostra resumidamente o processo executivo da estaca (Velloso e Lopes, 2010):

d)

Figura 1 – Sequência executiva de estaca hélice contínua: a) introdução do trado helicoidal; b) concretagem; c)
instalação da armadura (Velloso e Lopes, 2010); d) Equipamento para execução das estacas.
Este tipo de estaca tem sido adotado como solução de fundação em diversas obras, sobretudo
pela alta produtividade alcançada na sua execução, ausência de ruídos e vibrações na vizinhança da
obra. Outro aspecto é a possibilidade atual de execução em diâmetros expressivos, que por sua vez
requerem equipamentos de maior potência, possibilitando assim a escavação em solos de elevada
resistência e até em rochas brandas.
Cabe ressaltar que a etapa de concretagem pode se apresentar como uma desvantagem neste
tipo de estaca, já que qualquer atraso no lançamento do concreto no fuste prejudica o seu tempo de
“pega”, e pode comprometer assim a instalação da armadura, que muitas vezes não consegue atingir
a profundidade requerida para esta em projeto para fazer frente às solicitações. Nestes casos a
estaca é desprezada.
O presente artigo relata um caso de obra onde ocorreu um problema na execução de uma
estaca hélice contínua monitorada de um estaqueamento para fundações de um caminho de
rolamento de máquinas de pátio para manuseio de minério. Após a concretagem de uma das estacas
ocorreu um abatimento de aproximadamente 4,0 m, resultando na perda da estaca, sem uma
explicação imediata e simples, para o motivo de tal acontecimento.
A partir de registros da execução da estaca, de informações sobre o histórico de construção do
local de implantação da obra e de dados de investigações geotécnicas disponíveis, pôde-se realizar
uma investigação do motivo que ocasionou o incidente.

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2 - DESCRIÇÃO DA OBRA
A obra trata-se de uma berma, com cerca de 4,0 metros de altura e largura de 35,0 metros na
crista, construída em aterro compactado mecanicamente. Entre as bermas estão os pátios, onde o
minério é estocado em pilhas e recuperado para o posterior embarque.
Sobre a berma é construído o caminho de rolamento para as máquinas de pátio (empilhadeiras
e recuperadoras), onde, no caso do estudo corrente, foram utilizadas fundações profundas em
estacas tipo hélice contínua, com blocos de coroamento ligados por cintas. Estas, por sua vez,
apoiam os trilhos que perfazem o caminho de rolamento dos equipamentos propriamente ditos. Isto
pode ser visualizado na Figura 2 abaixo:

Figura 2 – Bermas e pátio de estocagem, com os caminhos de rolamentos para os equipamentos.


As estacas da região onde ocorreu o problema de execução possuem diâmetro igual a 60 cm e
14,5 metros de comprimento médio, sendo que a ponta geralmente atinge uma camada de argila
siltosa/argila arenosa dura/rija e em alguns casos, chega-se ao embutimento em argilito, de
ocorrência muito comum no local do empreendimento, na região Nordeste do Brasil.

3 - DESCRIÇÃO DO PROBLEMA
Durante a execução de uma das estacas das fundações do caminho de rolamento, cerca de 45
minutos após a concretagem e instalação da armadura, foi observado um abatimento no concreto da
ordem de 4,0 m no fuste da estaca, como pode ser visto na Figura 3a.
a) b)

Figura 3 – a) Estaca “defeituosa” com grande abatimento; b) Estaca adjacente com pequeno abatimento.

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Algumas estacas adjacentes à estaca “defeituosa”, também apresentaram um abatimento do
concreto, porém pequeno, em uma média de 30 cm de profundidade, com acúmulo de água na
superfície, conforme pode ser visualizado na Figura 3b acima. Como as estacas são concretadas 1,0
metro acima da cota de arrasamento, constatou-se que tal fato não era relevante de modo a
prejudicar a integridade destas estacas, já que se procede na concretagem da estaca além da cota
de arrasamento, para se garantir que o concreto a partir desta cota esteja em boas condições.
Constatado o problema, surgiu a preocupação com o avanço da execução do estaqueamento e
a dúvida se o problema poderia se tornar recorrente para as estacas que seriam executadas na
sequência de construção.
Nota-se aqui que, após o insucesso na execução e a perda da referida estaca, optou-se pela
continuação do estaqueamento, com a execução da estaca adjacente do mesmo eixo, conforme
mostra a figura 4 abaixo:

ESTACA ADJACENTE ESTACA PERDIDA


Figura 4 – Continuação do estaqueamento com execução da estaca adjacente do mesmo eixo
No ínterim entre a detecção do problema e decisão de prosseguir com o plano de execução das
estacas, foram investigadas as seguintes informações/registros, na tentativa de avaliar a causa do
problema:
a) Registros de obra da execução da estaca. Como neste caso trata-se de estaca tipo hélice
contínua monitorada, foram avaliados tanto o boletim de execução, quanto o relato do
operador do equipamento, quando de sua execução;
b) Investigações geotécnicas disponíveis, representativas da região;
c) Registros históricos de implantação e construção do empreendimento.
Estas informações/registros serão detalhadas na sequência deste trabalho.
Cabe ressaltar que foi sugerida uma nova campanha de investigações geotécnicas, como
primeira alternativa para a avaliação do problema, com ensaios tipo SPT. Os furos propostos seriam
adjacentes à referida estaca, para mapear a região no entorno, e assim verificar se existia algum
condicionante geotécnico que não havia sido identificado na etapa anterior. No entanto, devido à
necessidade de continuidade na execução das estacas para atendimento de cronograma, e também
pela possível demora na mobilização do serviço, esta alternativa foi descartada.

4 - INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS DISPONÍVEIS


A investigação geotécnica disponível referente à região de ocorrência é do tipo sondagem à
percussão, cujo boletim é apresentado na Figura 5.

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A partir da análise do boletim, pode-se notar um pico de resistência, a uma profundidade de 5,0
m aproximadamente, com NSPT elevado (50/25), que inicialmente foi visto como uma evidência de
falsificação dos resultados do ensaio em termos dos índices de penetração nesta profundidade, já
que logo abaixo o solo apresenta resistência bastante inferior, com acréscimo desta ao longo da
profundidade até se atingir a profundidade de paralização do ensaio, onde o impenetrável à
percussão foi caracterizado.

Figura 5 – Boletim de Sondagem da região de execução das estacas


Os picos de resistência em sondagens tipo SPT à profundidade, geralmente se dão por conta
da presença de pedregulhos ou até mesmo de solos laterizados.
No caso corrente, a classificação dos solos na profundidade do pico de resistência traz a
informação de presença de pedregulhos, no entanto, trata-se de um aterro mecanizado em “silte
arenoso fino”, o que induz certa dúvida quanto à presença de pedregulhos nesta profundidade.
5 - HISTÓRICO DE IMPLANTAÇÃO DO LOCAL DA OBRA
A região onde foi construída o aterro para a berma, anteriormente à sua execução, foi um local
de depósito de material excedente, ocorrendo toda natureza de entulho e materiais resultantes de
obras locais. Também existem registros de lançamento de blocos de rachão para servir de base para
o tráfego de veículos pesados durante o período das obras.
Esta última hipótese sobre a existência de rachão veio ao encontro do pico de resistência
identificado no boletim de sondagem apresentado no item anterior. A esta questão, soma-se o fato de
que a profundidade de ocorrência do pico é maior que a altura da berma, que é aproximadamente 4,0
m. Muito provavelmente, na fase de terraplenagem anterior a construção da berma, não foi
identificada a presença deste material.

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6 - REGISTROS DE EXECUÇÃO DAS ESTACAS
Num primeiro instante, durante a escavação das estacas vizinhas à estaca danificada, o
operador do equipamento relatou que o trado atravessou camadas de menor competência e, durante
a recuperação deste, o material proveniente da escavação se mostrou de baixa resistência.
Posteriormente, a execução da nova estaca adjacente à estaca danificada (ver figura 4) foi
acompanhada pelo autor do artigo para verificar possíveis desvios construtivos do operador da
máquina e observação do material escavado pelo trado hélice, tanto durante o avanço da escavação,
quanto durante a recuperação ou extração do trado e posterior concretagem da estaca.
Ao longo do avanço do trado na escavação, a uma profundidade aproximada de 5,0 metros, o
equipamento encontrou dificuldade para imprimir o torque necessário para o avanço da escavação.
Vencida a resistência, o avanço continuou e foi recuperado um bloco de rachão, conforme mostra a
Figura 6 a seguir.

Figura 6 – Detalhe do bloco de rachão recuperado na escavação da estaca


Logo após a recuperação do bloco de rachão acima citado, observou-se existência de uma
placa de argamassa de concreto, que acreditava-se ser proveniente da concretagem da estaca
danificada. A escavação, então, avançou até a cota prevista no projeto, seguida da concretagem,
com remoção contínua do trado.
Durante a concretagem do fuste e recuperação do trado, foi feita observação do material que
saía da escavação, buscando identificar/confirmar a natureza do solo relatado pelo operador da
máquina, classificado por este como "mole" ou de baixa resistência. Este solo não foi visualizado
durante a subida do trado. O que se notou foi a presença de uma argila arenosa. Uma amostra deste
material pode ser visualizada na figura 7.
A ocorrência desta patologia ou dano, também era esperado para a nova estaca, por causa da
proximidade desta com a defeituosa, numa distância aproximada de 1,3 metros. No entanto, o
processo de concretagem da estaca e colocação de armadura se deu normalmente e não se
observou abatimento do concreto como na estaca perdida.

Figura 7 – Solo proveniente da escavação para execução da estaca

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A execução das estacas Hélice Contínua foi monitorada, com a medida de algumas unidades,
conforme mostra a figura 8 a seguir, com o boletim de execução da estaca danificada.

Figura 8 – Boletim de execução de estaca Hélice Contínua monitorada


Legenda da figura 8:
P1 – Pressão hidráulica do circuito da unidade de rotação (pressão do torque) medida na saída da
bomba hidráulica da máquina. A pressão real na unidade de rotação (pressão do torque) tem uma perda
aproximada de 10% no circuito hidráulico em relação a pressão na saída da bomba;
P2 – Pressão hidráulica do “Pull down” do equipamento medida na saída da bomba hidráulica da
máquina.
Pela observação do gráfico da figura 8, nota-se que as leituras das pressões “P1” e “P2” na
profundidade de 5,0 m percebem um acréscimo significativo, para uma mesma velocidade de
furação, o que confirma a dificuldade de escavação pelo equipamento neste trecho, dando indícios
positivos para a confirmação da existência de uma camada intermediária a profundidade com
resistência elevada à perfuração.

7 - COMENTÁRIOS SOBRE A BOA TÉCNICA DE EXECUÇÃO


Adicionalmente neste item, serão expostos algumas questões sobre a boa técnica de execução
das estacas tipo hélice contínua, em cima do que foi observado na investigação relatada.
A partir da observação do gráfico de monitoramento podem-se verificar aspectos importantes,
tanto da qualidade da execução das estacas hélice contínua, quanto da garantia de uma boa
execução destas, bem como identificar possíveis problemas em sua concretagem.
No caso corrente, a partir da leitura do gráfico de pressões, no trecho final da estaca, observa-
se uma queda no valor "P1", em contrapartida a uma velocidade de rotação decrescente, na mesma
profundidade, o que mostra que o trado não está imprimindo torque. Isto foi constatado em campo,
quando adotava-se um procedimento de que lança mão da seguinte “técnica”: para vencer a
resistência ao atrito lateral mobilizado ao longo do trado, o operador recupera um trecho deste e o
gira sem avanço. Esta técnica era utilizada, na ocasião da perfuração com o trado, quando este tinha
dificuldade em avançar em solos muito competentes.
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O mesmo procedimento foi observado quando da extração do trado. Esta “técnica” deve ser
evitada, pois neste caso pode ocasionar em mistura do concreto com o solo e assim poder vir a
comprometer a qualidade da estaca, bem como pode também implicar em estrangulamento do fuste
da estaca. Não obstante a necessidade de se atingir a cota de projeto para as estacas, ressalta-se
aqui que a adoção deste procedimento, pode incorrer também em alargamento do fuste da estaca e
consequente possível aumento no consumo de concreto destas.
A execução de uma estaca hélice contínua requer equipamentos auxiliares, como pode ser
visto na figura 6. Nota-se que, além da perfuratriz, necessita-se da retroescavadeira, responsável por
manter limpa a área no entorno do furo, e também é utilizada na instalação da armadura da estaca,
embora o ideal seja a utilização de vibrador. Outro elemento indispensável à execução, é a central de
concreto, que deve estar próxima ao furo, e neste caso, se dá por meio de um caminhão betoneira,
também constante na Figura 6.
Como recomendação adicional, para atestar a qualidade de execução de estacas escavadas,
como é o caso das estacas tipo Hélice contínua, toma lugar especial a execução de ensaios PIT (Pile
Integrity Test) para avaliar se existe alguma patologia na estaca ao longo da profundidade, como por
exemplo, estricção do fuste ou até mesmo, seccionamento deste.

8 - CONCLUSÕES
O presente trabalho relata o caso de problema na execução de um tipo destaca de uso corrente
na prática da engenharia de fundações brasileira. O relato parte da investigação das possíveis
causas do problema, buscando dados nas investigações geotécnicas disponíveis, no histórico de
construção da obra, e nas informações oriundas dos registros de monitoramento da execução da
estaca. A partir do acompanhamento da execução de nova estaca em campo, pôde-se confrontar os
dados investigados e confirmar a causa do problema.
Assim, após a execução da estaca adjacente à perdida, e observado o seu tempo de cura, não
foi constatado o abatimento descrito anteriormente. A partir desta confirmação e das constatações
observadas, pôde-se concluir:
a) o abatimento do concreto da estaca perdida foi ocasionado pelo fato de, a certa
profundidade, existirem blocos de rachão, que, ao serem atravessados pela escavação do fuste da
estaca, eventualmente tiveram os seus vazios preenchidos por concreto, que percolou sob efeito do
peso da coluna de concreto sobrejacente;
b) a ocorrência da "camada" de rachão foi evidenciada pelo pico de resistência no boletim de
sondagem SPT disponível e representativa da região onde ocorreu o problema, bem como pela
recuperação de um bloco, quando da execução da estaca vizinha;
c) o abatimento do concreto na estaca defeituosa e a sua percolação por entre os vazios da
camada de rachão, também foi evidenciada pela recuperação de fragmento de argamassa de
concreto, ainda em cura, que foi lançado para a concretagem da estaca perdida;

REFERÊNCIAS
Velloso, D. A. ; Lopes, F. R. (2010). Fundações Volume 2: Fundações Profundas. Rio de
Janeiro-RJ: Oficina de Textos.

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GEOSUL 2017 – XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul – 27-28 Julho, Bento Gonçalves, RS

Avaliação Geotécnica de Um Barramento de uma Lagoa Pluvial em um


Complexo Industrial
Alisson Silveira Sachetti1; Ricardo José Wink de Menezes2; Felipe Gobbi Silveira3

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar e calcular condições para estabilização do
talude do barramento de uma lagoa pluvial, situada em uma unidade industrial na qual foi
identificado a presença de patologias, em especial na área do vertedor. Por isso, foi necessário a
realização de monitoramento e estudos detalhados para sua adequada determinação e resolução.
Para a avaliação das condicionantes de projeto, além de vistorias de campo foram realizados
ensaios de campo e de laboratório. Os ensaios de campo consistiram em ensaios percussivos e
de permeabilidade. Os ensaios de laboratório foram feitos a partir de uma amostra indeformada,
determinando-se granulometria, limites de liquidez e plasticidade, massa específica real dos grãos
e realizando-se ensaios de cisalhamento direto. A partir das informações obtidas, foram
identificados três tipos de solos no perfil geotécnico, sendo um aterro silto-argiloso na porção
mais superficial, um solo silte argiloso na camada intermediária e um solo silte arenoso logo
abaixo. Com o ensaio de permeabilidade, aliado à bibliografia, foram obtidos os coeficientes de
permabilidade dos solos. De posse dos parâmetros geotécnicos de resistência ao cisalhamento e
permeabilidade, procedeu-se às análises de fluxo e estabilidade global do talude. Na análise de
fluxo, utilizou-se uma ferramenta de cálculo bidimensional, cujo método numérico é baseado em
elementos finitos. Em seguida, foram feitas análises de ruptura do talude quanto à estabilidade
global, segundo métodos de equilíbrio-limite. Na sequência, foram propostas soluções para os
problemas. Para a estabilização dos taludes afetados pelas voçorocas propôs-se a execução de
uma chave granular associada a um sistema de drenagem superficial. Para a remediação do
problema de mau direcionamento do fluxo interno da barragem, são recomendadas as seguintes
alternativas: drenos horizontais profundos, trincheiras drenantes ou colunas justapostas/selo de
bentonita.

ABSTRACT: This work aims to analyze and calculate the conditions for the stabilization of an
earth dam in a pluvial lake placed on an industrial unity where was identified some patologies,
specially in the area close to the spillway. Therefore, it was necessary to oversee and to make
more profound studies to its suitable determination and solution. For the evaluation of the project
conditions, beyond the field inspection, it was done in situ and laboratory tests. The field tests
consisted in Standard Penetration Tests (SPTs) and permeability tests. The laboratory tests were
conducted from an undisturbed sample, ascertaining the particle size distribution, liquid limit and
plasticity index, unit weight of the solid particles and direct shear test. In possession of the
obtained informations, there has been identified three types of soils in the barrier, being a silty
clayey landfill in the upper layer, a silty clayey soil in the middle layer and a silty sandy soil right
below. From the permeability tests, ally to the technical bibliography, there were obtained the
permeability coefficients of the layers. With the geotechnical parameters of mechanical resistance
and permeability, flow and global stability analysis was conducted. In the flow analysis, a
bidimensional tool was used for the calculation, which numeric method is based on the Finite
Elements Method (FEM). After that, failure analysis were realized according to the Limit
Equilibrium Method. Then, solutions to solve the problem were proposed. For the stabilization of
the slope affected by the massive erosion, a free flow drainage system along the dam and a
rockfill at the toe were proposed. For the inner flow problem are recommended some solutions like
deep horizontal drains, drain-trenches or bentonite columns.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de taludes, Ensaios de campo, Ensaios de laboratório.

1 Eng., Msc, FGS Geotecnia, alisson@fgs.eng.br


2 Eng., FGS Geotecnia, ricardo@fgs.eng.br
3 Eng., Dr., FGS Geotecnia, felipe@fgs.eng.br

GEOSUL 2017 1
1 INTRODUÇÃO 2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL
Na Engenharia civil, torna-se cada vez 2.1 Geologia e pedologia
mais imprescindível que sejam realizados
estudos técnicos de estabilidade de A área do empreendimento em questão
localiza-se sobre o Grupo Geológico Rosário
taludes e encostas, aliando teoria e prática
do Sul (Rsc), que é composto pela Formação
na proposição de soluções para um dado Santa Maria e Sanga do Cabral. Trata-se de
problema. uma sequência caracterizada em sentido
Com a crescente ocupação de áreas amplo por interdigitações de siltitos e argilitos
antes não aproveitadas e, vermelhos, maciços; arenitos médios e
consequentemente, com maior grosseiros, rosados, com estratificação
suscetibilidade a ocorrência de processos cruzada acanalada e tabular, e arenitos
instabilizantes de maciços de terra, a avermelhados, finos e médios, quartzosos,
engenharia geotécnica contemporânea é com estratificação cruzada acanalada e lentes
desafiada a propor métodos sustentáveis, de conglomerados intraformacionais (CPRM,
viáveis e seguros de estabilização. Além 2006). Em termos de caracterização
disso, com os recentes acontecimentos pedológica, citando Streck et. Al (2008), na
área do empreendimento observa-se a
envolvendo rupturas de barragens, fica
ocorrência de uma única unidade
evidente o quanto ainda precisa-se
pedogenética denominada argissolo vermelho
avançar a fim de se entender melhor os distrófico arênico (PVd1).
mecanismos de instabilidade e melhorar as
condições de segurança de barragens e, 2.2 Tipologia do talude
por isso, a necessidade de estudos Os taludes que fazem parte da
pautados em ensaios geotécnicos torna-se barragem da lagoa são compostos por um
fundamental. corpo de aterro com provável origem de
Desta forma, no caso de barragens, jazidas próximas ao local, dada sua
ainda há uma grande preocupação no semelhança com o solo natural da região.
tocante ao solo de fundação e ao fluxo Por se tratar de um talude de aterro, a
d’água, a fim de se identificar os pontos geometria se mantém praticamente
críticos quanto às poro-pressões e constante ao longo deste. Há um patamar
gradientes hidráulicos no barramento. intermediário na face externa do
O talude em estudo consiste num barramento, e as inclinações médias são
barramento de uma lagoa em um parque da ordem de 1V:2H, mas nos pontos onde
industrial, onde foram identificados foram identificadas voçorocas e outros
processos erosivos e patologias na face processos erosivos a face externa se
externa do talude, principalmente na região encontra mais verticalizada. Na porção de
próxima ao vertedor da barragem. Uma maior dimensão, o talude a jusante do
ruptura do talude em questão poderia patamar atinge alturas da ordem de 6m,
causar danos econômicos, a vidas enquanto o talude a montante alcança
humanas, e até mesmo ambientais. Por alturas de cerca de 4,5m. A Figura 1
isso, propõe-se a realizar um estudo de apresenta a seção geométrica e a
caso do talude deste barramento, bem estratigrafia do talude.
como do motivo da instabilidade, para,
posteriormente, se propor alternativas de
solução com o intuito de estabilizá-lo
seguindo procedimentos em conformidade
com a norma de estabilidade de taludes,
NBR 11682 (ABNT, 2009).

Figura 1. Seção geométrica e estratigráfica.

GEOSUL 2017 2
3 HISTÓRICO E AVALIAÇÃO GEOTÉCNICA envolve um maior grau de complexidade. As
DE CAMPO erosões e voçorocas descritas anteriormente
ocorrem devido à perda de resistência do solo
Logo após a construção do barramento,
que o fluxo de água gera quando não
durante o período de implantação da fábrica,
controlado. Com o aumento do gradiente
foram observados indícios de patologias na
hidráulico, o processo erosivo se agrava
barragem de solo e no vertedor de concreto
progressivamente, percolando
armado. Este barramento foi executado com
regressivamente para o interior do solo.
seção homogênea, sem núcleo de material
Segundo Pinto (2000), este tipo de fenômeno
impermeável e, por isso, a linha freática tende
pode ser chamado de piping, entubamento ou
a se estabelecer ao longo do corpo do aterro.
erosão progressiva, sendo que este tipo de
No caso de a geometria da barragem coincidir
problema é uma das causas mais frequentes
com a superfície do talude de jusante, pode de rupturas em barragens de terra.
ocorrer fluxo em sua face, potencializando a
ocorrência de patologias. O talude vinha sendo Baseado nos problemas supracitados, foi
monitorado há alguns anos, desde o início das traçado um plano de estudo do caso, partindo
patologias, notando-se um aumento dos de investigação de campo e de laboratório.
processos erosivos.
A região próxima ao vertedor é a mais 4 PLANO DE INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA
crítica do barramento, apresentando maior
concentração de patologias e processos O plano de investigação preconizou a
erosivos. Em uma vistoria técnica, os taludes determinação das deformações, resistência
superior e inferior apresentaram surgência de mecânica do solo e do fluxo de água no interior
água na face do talude, e o patamar do maciço. Para isso, foram realizados ensaios
intermediário encontrava-se saturado. in situ e de laboratório.
Observou-se também que, em virtude dos 4.1 Standard Penetration Test (SPT)
processos erosivos, estava ocorrendo uma
diminuição deste patamar. Na Figura 2 é Este ensaio percussivo foi utilizado tanto
possível observar a degradação sofrida pelo para medir a resistência do maciço quanto
talude em função de processos erosivos. para amostrar o solo. Os ensaios foram
realizados na crista (três ensaios), no patamar
intermediário (um ensaio) e no pé do talude
(um ensaio), formando dois eixos. Na crista do
talude, onde se utilizou o hollow stem auger
SPT, pôde-se medir o nível d’água, em virtude
de este procedimento não utilizar lavagem.
4.2 Ensaios de permeabilidade in situ
Os ensaios de permeabilidade in situ foram
executados com dois métodos distintos.
O primeiro foi realizado no topo da barragm,
com um furo de diâmetro de 100 mm e
profundidade de 2,20 m, sendo que o trecho
inicial de 1,40 m era revestido. Este ensaio foi
Figura 2. Vista frontal do talude do patamar realizado com carga hidráulica variável e acima
superior. do nível da água observado nas sondagens. O
ensaio consistiu na introdução de um dado
Com base nas observações e visitas volume de água na cavidade, onde foram
técnicas, foram identificadas duas possíveis registradas as variações de nível de água ao
causas instabilizantes no local. A primeira é longo do tempo.
consequência do mau direcionamento de
águas superficiais no local, o que pode ser O segundo ensaio de permeabilidade foi
corrigido com a introdução de um sistema realizado também no topo da barragem e com
adequado de drenagem pluvial. A segunda carga variável, mas com o trecho drenante
causa é relativa ao direcionamento de fluxo de entre a profundidade de 8,50 e 9,00 m.
água no interior da barragem e, por isso,

GEOSUL 2017 3
4.3 Ensaios de laboratório solo: ângulo de atrito interno (Ø) e intercepto
coesivo (c).
Para a realização dos ensaios de laboratório
foi retirada uma amostra cúbica de solo
indeformado do talude, conforme Figura 3:
5 RESULTADO DE INVESTIGAÇÃO
A seguir, são descritos os resultados dos
ensaios realizados e os parâmetros
geotécnicos encontrados.
5.1 Standard Penetration Test (SPT)
O ensaio apontou um aterro compactado,
composto por solo silto-argiloso com NSPT
entre 4 e 10. Este aterro está assente sobre
um solo de fundação silto-argiloso, com NSPT
variando entre 5 e 14, aumentando conforme a
profundidade. Também foi identificada uma
camada de maior resistência com um solo silte-
arenoso. O aumento da fração de areia foi
Figura 3. Coleta de amostra indeformada do aterro. observado com o aumento do solo natural.
Também foram observados baixos valores de
O local escolhido para a amostragem foi a resistência à penetração no corpo do aterro, o
montante do patamar intermediário, nas que pode indicar problemas na compactação
proximidades do vertedor, onde a ocorrência ou solo pouco competente.
de patologias é mais presente. Com a
amostragem foi possível a realização de Conforme observado em campo, o nível de
ensaios de granulometria, limite de liquidez, água no pé do talude está praticamente na
limite de plasticidade, peso específico real dos cota do terreno e, seguindo-se a jusante do
grãos e cisalhamento direto. seu pé, nota-se que o nível de água alcança
cotas superiores ao nível do terreno.
4.3.1 Análise granulométrica
5.2 Ensaios de permeabilidade in situ
A análise granulométrica foi realizada com
uso de defloculante, de acodo com o Os resultados destes ensaios (EP 1 e EP 2)
procedimento proposto conforme a NBR 7181 podem ser verificados no gráfico da Figura 4, a
(ABNT, 1984). seguir:

4.3.2 Limites de liquidez e plasticidade


Os limites de liquidez e plasticidade foram
utilizados para a determinação do índice de
plasticidade do solo. Estes ensaios seguiram,
respectivamente, os procedimentos das
normas NBR 6459 (ABNT, 1984) e a NBR
7180 (ABNT, 1984).
4.3.3 Peso específico real dos grãos
A determinação do peso específico real dos
grãos seguiu as diretrizes da NBR 6508
(ABNT, 1984). Figura 4. Ensaios de permeabilidade in situ.

4.3.4 Cisalhamento direto


5.3 Ensaios de laboratório
Os ensaios de cisalhamento direto, do tipo
drenado, foram realizados com três tensões 5.3.1 Análise granulométrica
efetivas distintas (20, 50 e 100 kPa), a fim de Na análise granulométrica foi observado
se identificar os parâmetros correspondentes uma quantidade relativamente elevada de
às condições de confinamento próximas à fração de areia fina (Figura 5) em relação às
situação de campo. A partir deste ensaio, frações observadas para silte e argila, que
foram obtidos os parâmetros de resistência do juntas somam quase 60% do material de

GEOSUL 2017 4
aterro. Segundo Massad (2003), o fluxo só é
laminar para solos na faixa granulométrica
entre as argilas e as areias grossas (grãos
com diâmetros iguais ou maiores que 2mm).

Figura 6. Ensaio de cisalhamento direto drenado


(tensão versus deformação horizontal e deformação
vertical versus deformação horizontal).

Assim, foi traçada uma nova envoltória de


resistência, levando-se em conta apenas os
Figura 5. Curva de distribuição granulométrica.
ensaios com tensões de cisalhamento de 20 e
100 kPa. Deste modo, obteve-se um valor de
5.3.2 Limites de liquidez e plasticidade intercepto coesivo de 17 kPa e um ângulo de
Os limites de liquidez, de plasticidade e atrito interno de aproximadamente 27°.
índice de plasticidade encontrados para o solo 5.4 Parâmetros geotécnicos
foram, respectivamente, de 47, 24 e 23%. Com
Com base nos ensaios de cisalhamento
base nisso, pode-se perceber que o material é
direto e em pesquisas bibliográficas, obteve-se
altamente plástico.
os parâmetros apresentados na Tabela 1.
5.3.3 Peso específico real dos grãos
Tabela 1. Parâmetros geotécnicos utilizados
Os resultados obtidos para o peso
específico real dos grãos indicou um valor de
27,60 kN/m³ para o dado solo do aterro. Material Peso Ângulo Coesão Referência
geotécnico específico de (kN/m²)
5.3.4 Cisalhamento direto natural atrito
Dentre os três ensaios realizados, a curva (kN/m³) (º)
para a tensão de confinamento de 50 kPa não Aterro Ensaio de
seguiu a tendência das demais, como pode-se silto- 16 27 6 cisalhamento
observar na Figura 6. Este fato pode ser argiloso direto
explicado pela diferença no índice de vazios Estimados
observado neste ensaio e, portanto, este Silte com base
ensaio foi excluído da análise dos parâmetros argiloso 17 28 10
nos ensaios
de projeto.

Estimados
Silte com base
18 30 17
arenoso nos ensaios

O coeficiente de permeabilidade do aterro


foi definido pelo ensaio de permeabilidade in
situ realizado no topo da barragem, com base
na equação proposta por Ródio (1960 apud
ABGE, 1996) para um ensaio de carga variável
acima do nível da água.
Para o coeficiente de permeabilidade do
solo de fundação, foram utilizados os dados
obtidos no outro ensaio de permeabilidade.
Para isto, aplicou-se a equação Hvorslev
(1951) para carga hidráulica variável. Com

GEOSUL 2017 5
isso, os resultados obtidos se mantiveram vazão não se mostra muito elevada, mas o
dentro da faixa proposta por Pinto (2000) para gradiente hidráulico atinge valores de 0,25 a
materiais siltosos (k variando entre 10-6 até 10- 0,67, sendo que a ocorrência dos maiores
9
), conforme mostrado na Tabela 2. valores se dá próximo ao pé do talude de
Tabela 2: Coeficientes de permeabilidade dos solos.
jusante. Estes valores são superiores ao
gradiente hidráulico crítico, de 0,65 para este
solo. Assim, o talude não resistiria a fatores de
Material Coeficiente de Referência
geotécnico permeabilidade segurança de 1,0, o que explica os processos
(k) de piping ou erosão interna regressiva no
observados, o que poderia acarretar no
(m/s)
rompimento da barragem.
Ensaio de
Aterro silto- 6.2 Análise de estabilidade global
1,25x10-6 Permeabilidade
argiloso
in situ
O principal método de equilíbrio-limite
Ensaio de utilizado neste trabalho foi o Método de
Silte argiloso 3,89x10-7 Permeabilidade Morgenstern & Price (1965). Este método
in situ consiste numa análise de estabilidade de
Silte arenoso 1,00x10-6 Pinto (2000) taludes no qual todas as condições de
equilíbrio (forças e momentos) e de fronteira
(normais e de corte) são satisfeitas, sendo que
6 ANÁLISES NUMÉRICAS a superfície de ruptura poderá tomar qualquer
6.1 Análise de fluxo forma. Este método, também é uma aplicação
do método das fatias, e a obtenção da solução
Nesta etapa, foi utilizada uma ferramenta de
numérica é feita por um complexo processo
cálculo baseada em elementos finitos para
iterativo, em virtude da não linearidade das
análises de redes de fluxo em simulações
expressões, através do método de Newton-
bidimensionais. Na definição das condições de Raphson (Fredlund, 1977).
contorno, considerou-se o talude em sua
condição mais crítica, ou seja, com o nível de Na análise da estabilidade global do talude
água máximo no reservatório e o solo natural a utilizou-se o perfil geotécnico próximo ao
jusante da barragem com o nível de água vertedor, parâmetros geotécnicos obtidos
acompanhando a cota do terreno. Cabe anteriormente e a linha freática encontrada na
ressaltar que o nível de água foi considerado análise de fluxo. Para a análise de estabilidade
estacionário, sem transiente hidráulico. Além global, na condição do reservatório na cota
disso, em função da compactação do aterro, máxima, obteve-se um fator de segurança de
utilizou-se uma relação de anisotropia de 5 1,25, conforme mostrado na Figura 8. Apesar
para a condutividade hidráulica do solo. Cruz de o fator de segurança indicar uma condição
(1998) afirma que esta relação é a mais de segurança, este valor não está em
comumente observada em aterros de conformidade com a norma de estabilidade de
barragens. O resultado da análise, com linhas taludes NBR 11682 (2009), que prevê um fator
de fluxo e gradientes hidráulicos, pode ser de segurança de, pelo menos, 1,3 para um
observado na Figura 7, a seguir: caso desse tipo. Além disso, os processos
erosivos ocasionados pelo piping podem
modificar a geometria do talude, reduzindo
ainda mais o fator de segurança. Por isso,
foram propostas algumas soluções para
aumentar esse fator de segurança e impedir
que ocorram novos processos erosivos.

Figura 7. Análise de fluxo bidimensional da


barragem.

Este resultado expõe o direcionamento do


fluxo para a face de jusante do talude, onde a

GEOSUL 2017 6
jusante do reservatório.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi realizado um diagnóstico do problema,
fundamentado em análises técnicas e em
investigações geotécnicas de campo e
laboratório que corroboraram a principal
hipótese do problema, a de mau
direcionamento de fluxo d’água na face do
talude, resultando em processos erosivos
Figura 8. Superfície crítica de ruptura da análise de agravados pelo fenômeno de piping.
estabilidade global da barragem.
Por isso, foram elaboradas soluções a
fim de estabilizar o talude. As soluções
7 SOLUÇÕES PROPOSTAS
contemplam tanto a estabilização das
Para a elaboração das soluções propostas, erosões e voçorocas quanto o
estudaram-se alternativas que apresentassem direcionamento adequado das redes de
viabilidade técnica e econômica, atendendo a fluxo internas ao talude, obtendo-se fatores
condições de segurança e que estivessem em de segurança em consonância com os
conformidade com as normas vigentes.
valores preconizados pela NBR 11682.
7.1 Chave granular e sistema de drenagem
Para a estabilização dos taludes afetados AGRADECIMENTOS
pelas voçorocas, propõe-se a execução de
uma chave granular composta por rachão e um Os autores agradecem a equipe da FGS
filtro de areia ao longo do tardoz. Esta Geotecnia pelo apoio e dedicação no
intervenção consiste basicamente em desenvolvimento deste trabalho.
terraplenagem, execução de um filtro de areia
junto à face da escavação e recomposição do REFERÊNCIAS
talude com rachão travado por uma chave ABGE. Associação Brasileira de Geologia de
granular junto ao pé. Aliado a esta solução, Engenharia. Ensaios de Permeabilidade em
deverá ser executado um sistema de Solos: orientações para sua execução no
drenagem de águas superficiais composto por campo. 3ª. ed., Boletim 04, 1996.
uma canaleta do tipo meia-cana próximo à ABNT. Estabilidade de taludes. NBR 11682. Rio de
Janeiro, 2009.
crista do talude. Esta drenagem deverá ser ABNT. Grãos de solos que passam na peneira de
interligada ao restante do sistema de 4,8mm – Determinação da massa específica.
drenagem, que será abordado a seguir. NBR 6508. Rio de Janeiro, 1984.
7.2 Soluções para redirecionamento do fluxo ABNT. Solo – Determinação do limite de liquidez.
NBR 6459. Rio de Janeiro, 1984.
interno na barragem
ABNT. Solo – Determinação do limite de
A primeira alternativa de solução consiste plasticidade. NBR 7180. Rio de Janeiro, 1984.
na execução de duas linhas de DHPs (drenos ABNT. Solo – Determinação da granulometria. NBR
horizontais profundos), uma junto ao pé e outra 7181. Rio de Janeiro, 1984.
junto ao patamar intermediário do talude. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS – ANBT. NBR 11682: Estabilidade
Outra alternativa consiste em duas de Encostas. Rio de Janeiro, 2009. 33 páginas.
trincheiras drenantes, sendo executadas tanto CPRM (2006). Mapa Geológico do Rio Grande do
no patamar intermediário quanto no pé do Sul. Companhia de Pesquisa.
talude CRUZ, P. T. 100 Barragens Brasileiras: Casos
Históricos, Materiais de Construção e Projeto.
Por último, é proposta uma alternativa de São Paulo: Oficina de Textos, 1996. 647p.
escavação mecanizada de colunas justapostas DNIT, (2006) Manual de drenagem de Rodovias. -
a serem preenchidas com lama bentonítica, 2. Ed, Departamento Nacional de Infra-Estrutura
nata de cimento ou cal. Esta solução, ao de Transportes. Diretoria de Planejamento e
contrário das demais, visa, além de Pesquisa. Coordenação Geral de Estudos e
Pesquisa. Instituto de Pesquisas Rodoviárias,
redirecionar o fluxo de água, reduzir a vazão a Rio de Janeiro, 333p.

GEOSUL 2017 7
FREDLUND, DG., KRAHN, J. (1977). Comparison
of slope stability methods of analysis. Canadian
Geotechnical Journal, Vol. 14, pp. 429-439.
MASSAD, F. Obras de Terra Curso Básico de
Geotecnia. São Paulo: Oficina de Textos. 2003.
MORGENSTERN, N.R., PRICE, V.E. (1965). The
analysis of the stability of general slip surfaces.
Géotechnique, Vol 15(1), pp. 79-93.
PINTO, C. S. Curso Básico de Mecânica dos Solos.
São Paulo: Oficina de Textos. 2000.
STRECK, E. V.; KAMPF, N.; DALMOLIN, R.S.D.;
KLAMT, E.; NASCIMENTO, P. C.; SCHNEIDER,
P.; GIASSON, E.; PINTO, L.F.S. (2008). Solos
do Rio Grande do Sul. 2 ed. – Porto Alegre:
EMATER/RS-ASCAR, 2008. 222p.
TUCCI, C. E. M.; Porto, R. L.; Barros, M. T. (1995)
Drenagem Urbana. Porto Alegre: Editora da
Universidade (UFRGS)/ABRH. 428p.

GEOSUL 2017 8
Resultado de provas de carga realizadas em estacas de pequeno diâmetro,
escavadas com trado mecânico na camada de solo tropical evoluído do
Campo Experimental da UEM

Verônica Ricken Marques¹; Jorge Luis Augusto Almada²; Ewerton Guelssi³; Eduardo Vedovetto
Santos 4; Jeselay Hemetério Cordeiro dos Reis5; Antonio Belincanta6

RESUMO: Apresenta-se neste trabalho o resultado de duas provas de carga realizadas em


estacas de pequeno diâmetro, escavadas com trado mecânico, sem fluído estabilizante, na
camada superficial de solo argilo-siltoso, laterítico e colapsível, existente no Campus Sede da
Universidade Estadual de Maringá. Objetiva-se avaliar não só a aplicabilidade dos métodos de
estimativa de capacidade de carga semiempíricos: Aoki-Velloso (1975), Décourt-Quaresma (1978)
e Peixoto-Ranzini (2001), e do método empírico: Maringá/PR, bem como a influência da umidade
do solo na capacidade de carga de duas estacas escavadas, sem fluido estabilizante, com
diâmetro nominal de 25 cm, comprimento de 8 m, executadas no Campo Experimental de
Geotecnia da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Na análise foram consideradas não só as
cargas de ruptura obtidas em provas de carga, efetuadas com carregamento lento, preconizados
pela norma NBR 12.131/2006, mas também aquelas estimadas pelo ajuste de curvas
matemáticas. Os métodos de estimativa de capacidade de carga aqui analisados se mostraram
muito conservadores frente aos valores reais obtidos nas provas de carga, excetuando-se o
método Empírico – Maringá/PR, quando do solo umedecido.

ABSTRACT: This paper presents the results of two load tests carried out on small diameter piles,
mechanically excavated, without stabilizing fluid, on the surface layer of clay-silt, lateritic and
collapsible soil found in the Universidade Estadual de Maringá campus. The objective of this study
is to evaluate not only the applicability of semi-empirical bearing capacity estimation methods:
Aoki-Velloso (1975), Décourt-Quaresma (1978) and Peixoto-Ranzini (2001), and the empirical
method: Maringá / PR, as well as the influence of the soil moisture in the load capacity of two
excavated piles, without stabilizing fluid, with nominal diameter of 25 cm, length of 8 m, executed
in the Experimental Field of Geotechnics of the Universidade Estadual de Maringá (UEM). In the
analysis, it was considered not only the rupture loads obtained in load tests, carried out with
maintained test load, recommended by the norm NBR 12.131 / 2006, but also those estimated by
the adjustment of mathematical curves. The bearing capacity estimation methods analyzed here
were very conservative compared to the actual values obtained in the load tests, except for the
Empirical - Maringá / PR method, when the soil was moistened.

PALAVRAS-CHAVE: Estaca escavada, prova de carga, capacidade de carga, curva carga-


recalque.

¹MSc., Universidade Estadual de Maringá, v.ricken.marques@gmail.com; ²Doutorando na Universidade Estadual de Londrina,


almadaeng@gmail.com; ³,4Mestrando na Universidade Estadual de Maringá, eguelssi@gmail.com, vedovettu@gmail.com; 5,6Dr., Prof.,
Universidade Estadual de Maringá, jhcreis@uem.br; abelincanta@hotmail.com

GEOSUL 2017
1. INTRODUÇÃO
No que diz respeito à geologia, o Campus Sede da Universidade Estadual de Maringá-PR
está assente sobre a Formação Serra Geral que se constitui de rochas vulcânicas básicas do tipo
basalto maciço ou vesicular, de coloração escura, com a presença marcante na sua composição
mineralógica de plagioclásio, piroxênio-augita e magnetita.
A camada de solo superficial, resultante de um intenso processo de intemperismo dessas
rochas basálticas, é constituída de solo argiloso, laterítico, do tipo latossolo vermelho férrico, com
índices de vazios variando de 1,5 a 2,3, porosidade de até 70% e teor de umidade natural
variando basicamente de 29 a 35%. Este solo, conforme resultado de ensaios realizados na
Universidade Estadual de Maringá, é considerado metaestável, com tendência ao colapso quando
do aumento da umidade.
Devido ao fato do solo superficial típico da região de Maringá ser de espessura
considerável, normalmente estável na perfuração e com ausência do lençol freático, a maioria das
fundações das obras de pequeno porte é executada com estacas escavadas com trado mecânico,
do tipo helicoidal, sem fluido estabilizante, com fuste totalmente embutido nesta camada
superficial.
Segundo Décourt (2002), as argilas lateríticas apresentam propriedades de rigidez
superiores às de outras argilas não lateríticas, com valores de NSPT semelhantes. Por si só, esta
característica torna conservadores os métodos tradicionais de dimensionamento de estacas, tais
como: Aoki-Velloso (1975), Décourt-Quaresma (1978) e também Peixoto-Ranzini (2001), quando
da comparação com os resultados obtidos em provas de carga. Este fato se observa nos solos
lateríticos da cidade Maringá-PR, que também se mostram colapsíveis, com o sensível aumento
da deformabilidade e redução da capacidade de carga, quando de umedecimento.
Portanto as fundações de edificações implantadas nestes solos podem se comportar
satisfatoriamente por algum tempo, mas bruscamente podem sofrer um recalque adicional,
quando do aparecimento de uma fonte de água que eleve a umidade do solo. Neste sentido, este
artigo apresenta resultados de provas de carga realizadas em duas estacas escavadas, sem
fluido estabilizante, de pequeno diâmetro, comprimento de 8 m, sendo as duas estacas ensaiadas
com o solo em condições diferenciadas de umidade.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Solos do local das provas de carga


O Campo Experimental de Geotecnia da UEM está localizado no Campus Sede da
Universidade Estadual de Maringá, apresenta-se com um subsolo típico da cidade de Maringá,
para locais de alta e média vertente.
Na Tabela 1, são apresentados na forma de resumo os valores médios de NSPT e de torque
máximo, ao longo da profundidade, provenientes de quatro sondagens de simples
reconhecimento, realizadas no Campo Experimental de Geotecnia da UEM.
Neste local, a camada superficial é constituída de solo argiloso tropical, evoluído, do tipo
latossolo vermelho férrico, proveniente da alteração de basalto, poroso, de cor marrom
avermelhado, com teor de argila variando de 52 a 78%, silte de 15 a 38% e areia de 5 a 10%, com
espessura aproximada de nove metros. Na Tabela 2, com referência a esta camada de solo
superficial, são apresentados os índices físicos e parâmetros de comportamento, típicos.

2.2. Execução das Estacas

GEOSUL 2017 2
As duas estacas ensaiadas foram escavadas com trado mecânico do tipo helicoidal, sem
fluido estabilizante, no diâmetro efetivo estimado de 26 cm (diâmetro nominal 25 cm), e
comprimento de fuste de 8 m, denominadas de E203 e E402. Na perfuração destas estacas
permitiu-se o avanço do trado além da cota prevista, ajustando-se posteriormente esta cota com o
lançamento de solo, sem a utilização de qualquer processo de densificação do mesmo e também
pela colocação de uma coluna de isopor de 35cm. A concretagem foi realizada em conformidade
com a norma NBR 6.122/2010, no mesmo dia da perfuração, com concreto de resistência fck 25
MPa, abatimento (slump) 13 cm e módulo de elasticidade estimado de 28.000 MPa.
Tabela 1 - Perfil típico do subsolo, Campo Experimental de Geotecnia da UEM. Fonte: Belincanta (1998)
NSPT TMÁX. (kgf.m) NSPT TMÁX. (kgf.m)
Prof Descrição do Prof Descrição do
Desv Desvio Desv Desv
(m) solo Méd Méd (m) solo Méd Méd
pad Padrão pad Pad
1 1,99 0,29 1,07 0,34 10 Argila siltosa 8,89 2,94 13,61 4,68
2 Argila siltosa 1,98 0,18 1,40 0,32 11 variegada, 10,40 2,13 18,50 4,87
3 marrom 2,79 0,35 1,75 0,27 com
12 11,14 0,94 21,38 1,89
4 avermelhado 3,48 0,64 2,21 0,48 consistência:
13 de média à 13,49 1,58 26,58 3,00
5 consistência: 4,08 0,63 2,48 0,54
de mole à 14 rija. Solo 13,76 1,44 23,83 5,32
6 4,80 0,52 3,13 1,13
média. 15 residual de 13,07 6,90 19,98 10,74
7 4,97 0,78 4,39 0,50 basalto. OBS:
Solo evoluído 6,20 16
8 1,32 5,72 1,38 Nível do lençol 19,54 1,46 22,00 3,46
9 0,82 6,82 1,76 17 freático 15,70m 35,22 4,02 39,00 4,02

Tabela 2 - Valores típicos dos índices físicos e dos parâmetros geotécnicos típicos do solo da camada
superficial. Fonte: Gutierrez e Belincanta (2004)
3
Peso espec. natural 12,5 - 16,5 (kN/m ) Índice de plasticidade 14 – 22%
Peso espec. dos 3 2
29,7 - 30,7 (kN/m ) Tensão pré-adensamento, kN/m NSPT/(0,020 a 0,035)
grãos
Umidade natural 29 – 35% Índice compressão natural 0,500 - 0,750
Grau de saturação 37 – 70% Ângulo atrito interno, efetivo 27 – 32 (graus)
Índice de vazios 1,50 - 2,30 Intercepto de coesão, efetivo 10 – 30 (kN/m2)
Porosidade 60 – 70% Envoltória caract., efetiva 10+σ’tg30º (kN/m2)
-3
Fração argila 52 – 78% Coeficiente de permeabilidade 10 (cm/s)
Fração silte 15 – 38% Peso esp.ap.seco máx. en. nor. 14,0 – 15,5 (kN/m3)
Fração areia 5 – 10% Umidade ótima, energia normal 28 – 34 (%)
Limite de liquidez (LL) 53 – 61% CBR, energia normal 7 – 25 (%)
Limite de plast. (LP) 39 – 45% Expansão, energia normal 0,1 – 0,3 (%)

2.3. Estimativa da Capacidade de Carga


A estimativa de capacidade de carga das estacas ensaiadas foi feita pelos métodos semi-
empíricos: Aoki-Velloso (1975), Décourt-Quaresma (1978), com as devidas alterações de Décourt
(1996), e Peixoto-Ranzini (2001). Esta estimativa também foi feita pela utilização de valores
empíricos tabelados em função do diâmetro e da profundidade da estaca, apresentados por
Belincanta e Reis (2003), sendo estes valores de uso corrente na região de Maringá/PR, na
condição de pré-dimensionamento. Devido ao processo executivo, pela presença de solo solto
abaixo da ponta da estaca e da coluna de isopor, desprezou-se a parcela de resistência de ponta
quando da estimativa da capacidade de carga. Os valores da capacidade de carga em função da
profundidade, para as duas estacas escavadas de diâmetro efetivo de 26 cm, estimados pelos
métodos mencionados, estão apresentados na Tabela 4.

2.4. Umidade do solo

GEOSUL 2017 3
As estacas E302 e E402 foram ensaiadas com o solo em condições distintas de umidade.
Na Tabela 4, posteriormente apresentada, estão registrados os teores de umidade do solo,
referenciados não só à época de execução de cada uma das estacas, mas também à data da
realização da respectiva prova de carga.

2.5. Provas de carga estática


Na execução das provas de carga estática foi utilizado um sistema adequado para a
aplicação de carga de compressão axial no topo da estaca, constituído de: uma reação estável;
um macaco com bomba hidráulica; uma célula de carga elétrica com leitora analógico-digital,
devidamente aferida; relógios comparadores com resolução de centésimo de milímetro e viga de
referência, sendo este sistema apresentado, com os devidos detalhes, na Figura 1.
As estacas E203 e E402, com comprimento de 8 m, foram ensaiadas com carregamento
axial estático do tipo lento. Sendo estas provas de carga realizadas em conformidade com a
norma NBR 12.131/2006, com a aplicação da carga em incrementos iguais e sucessivos, com a
estabilização do recalque em cada incremento de carga aplicado.

Figura 1 - Visão geral e detalhes do sistema utilizado nas provas de carga


Nos ensaios realizados, com referência às curvas carga-recalque obtidas e o contido em
Fellenius (2014), foram feitos ajustes da curva exponencial, proposta por Van der Veen (1953) e
generalizada por Aoki (1976), da curva hiperbólica de Chin-Kondner (1970) e parabólica de
Brinch-Hansen (1963), calculando-se inclusive os valores de carga de ruptura. Também foi feita a
determinação da carga de ruptura convencional, utilizando-se para isto o procedimento
recomendado pela NBR 6.122/2010, apesar destas provas de carga realizadas se caracterizarem
pela presença de ruptura nítida.

3. RESULTADOS
Os resultados, obtidos nas duas provas de carga do tipo estática com carregamento lento
axial, realizadas nas estacas E203 e E402, são apresentados na Tabela 3 e na forma de curva, na
Figura 2. Nesta mesma figura também estão apresentadas as curvas obtidas pelo programa
TableCurve 2D, monótona e de melhor ajuste para cada estaca. Na Figura 3 são apresentados os
pontos de carga-recalque final de cada estágio de carga, com as respectivas curvas matemáticas
geotécnicas consagradas, ajustadas.
Os resultados obtidos nas duas provas de carga realizadas também estão, na forma de
resumo, na Tabela 4. Sendo registrados, além das características das estacas, também o tipo de
carregamento, o tempo de duração da prova de carga, a umidade média do solo, a carga máxima
de ensaio, o recalque máximo correspondente, as estimativas de capacidade de carga, calculadas

GEOSUL 2017 4
pelos métodos Aoki e Velloso (1975), Décourt e Quaresma (1978), Peixoto-Ranzini
Peixoto (2001),
Empírico – Maringá/PR, a carga de ruptura determinada
determinada pelos métodos de Van der Veen, Chin-
Chin
Kondner, Brinch-Hansen e a carga de ruptura convencional da norma brasileira NBR 6.122/2010.
Tabela 3 - Recalque em função
fu da carga aplicada nas estacas E402 e E203

Estaca E402, umidade w = 34,1% Estaca E203, umidade w = 36,7%


estab. estab.
tempo recal. recal. vel. tempo recal. recal. vel.
carga NBR carga NBR
estab. inicial estab. recal. estab. inicial estab. recal.
(kN) 12131 (kN) 12131
(min) (mm) (mm) mm/h (min) (mm) (mm) mm/h
(%) (%)
0 0 0,00 0,00 0,0 - 0 0 0,00 0,00 0,0 0,00
40 30 0,09 0,12 0,0 0,00 30 30 0,05 0,05 0,0 0,00
80 30 0,32 0,46 4,4 0,06 60 30 0,14 0,16 0,0 0,00
120 30 0,81 1,09 4,8 0,09 90 30 0,28 0,34 0,0 0,00
160 60 1,45 2,06 4,6 0,12 120 30 0,54 0,68 4,4 0,03
200 60 2,54 3,56 5,0 0,15 150 130 0,86 1,35 4,4 0,03
220 220 3,70 4,68 3,6 0,03 180 150 2,53 2,77 4,6 0,06
240 200 4,76 6,02 4,1 0,03 210 300 3,28 8,19 3,8 0,18
260 220 6,10 8,19 4,6 0,08 225 370 8,22 18,69 3,6 0,27
280 250 8,28 12,75 4,7 0,18 240 360 18,77 43,79 5,0 1,17
290 410 12,84 40,98 13,2* 4,50 240 600 43,79 47,95 2,7 0,92
240 15 40,95 40,94 0,0 0,00 180 15** 26,81 26,75 - -
160 15 40,64 40,62 0,0 0,00 * Ponto de carga-recalque
recalque não estabilizado.
80 15 40,24 40,19 1,2 0,08 ** Descarregamento interrompido: chuvas
0 15 39,50 39,38 1,2 0,08 com inundação.

Figura 2 - Curvas carga-recalque


recalque das estacas E203 e E402 registradas e ajustadas pelo programa

GEOSUL 2017 5
Figura 3 - Curvas matemáticas ajustadas aos resultados
resultados da prova de carga da estaca E203 e E402

Tabela 4 - Resultado das provas de carga estática, realizadas no Campo Experimental da UEM

Descrição E203 E402 Descrição E203 E402


carga estimada
Capacidade de

Diâmetro efetivo (mm) 260 260 Método Aoki e Velloso 64,3 64,3
Comprimento (m) 8,0 8,0 Décourt-Quaresma
Quaresma 118,2 118,2
(kN)

Tipo de carregamento lento lento Peixoto-Ranzini


Ranzini 88,6 88,6
Tempo de duração ensaio (h:min) 34:05 26:10 Empírico-Maringá/Pr
Maringá/Pr 160,0 160,0
Umidade média do solo na época Van der Veen (1953) 225,1 284, 8
32,1 34,0
Carga de ruptura

de execução da estaca (%)


Umidade média do solo na época Van der Veen, gen.Aoki 225,3 286,8
36,7 34,1
(kN)

de execução do ensaio (%) Chin-Kondner


Kondner 236,9 328,8
Carga máxima aplicada no ensaio 240,0 290,0 Brinch-Hansen
Hansen 80% 225,0 290,0
NBR 6122
Recalque máximo (mm) 47,9 41,0 213,8 270,7
TableCurve 2D

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS E CONCLUSÃO


Analisando as curvas carga-recalque
carga recalque das estacas E203 (solo com umidade natural média de
36,7%) e E402 (solo com umidade média de 34,1%), %), anteriormente apresentadas na Figura 2,
verifica-se
se que a elevação do teor de umidade influi no comportamento das estacas, neste caso
sendo possível verificar um aumento da deformabilidade, acentuada a partir da carga
carg de 180 kN,
e uma redução da capacidade de carga, conforme dados contidos na Tabela 5, de 21,0% a
28,0%, dependendo do método utilizado para a determinação
eterminação da carga de ruptura.
ruptura Em ensaios
realizados no solo colapsível de São Carlos - SP, Fernandes (1995) também observou redução
significativa da capacidade de carga em grupos de estacas escavadas de pequeno diâmetro,

GEOSUL 2017 6
quando do umedecimento do solo. Em ensaios realizados neste mesmo campo experimental
geotécnico da UEM, para estacas de 6,0m, tem-se encontrado uma redução na capacidade carga
variando de 28,5% a 35,3%, quando do umedecimento artificial do solo, Almada et al (2016).

Tabela 5 - Relação entre a capacidade de carga das estacas E203 (w=36,7%) e E402 (w = 34,1%)

Método E203 (w = 36,7%) E402 (w = 34,1%) E203/E402 (%)


Van der Veen (1953) 225,1 284,8 79,0
Van der Veen-mod Aoki (1976) 225,3 286,8 78,6
Chin-Kondner (1970) 236,9 328,8 72,0
Brinch-Hansen (1963) 225,0 290,0 77,6
NBR6.122 TableCurve 2D 213,8 270,7 79,0
Carga máxima aplicada 240,0 290,0 82,8

A carga de ruptura estimada pelo método de Chin-Kondner (1970) é de valor superior


àquelas estimadas pelos outros métodos de ajuste de curvas geotécnicas aqui analisadas,
inclusive das próprias cargas máximas aplicadas nas respectivas provas de carga, como é o caso
da estaca E402. Cumpre lembrar que estas cargas máximas aplicadas se caracterizaram como
cargas que conduziram a uma condição de cravação contínua das estacas, com uma velocidade
de recalque elevada, de 0,92mm/h e 4,5mm/h e 0,92mm/h, respectivamente para as provas de
carga das estacas E402 e E203,
As cargas de ruptura convencional (NBR 6.122/2010), determinadas com auxílio da curva
ajustada pelo programa TableCurve-2D, foram de valor inferior àquelas determinadas pelo método
de Van der Veen (1953), modificado por Aoki (1976), Chin-Kondner (1970) e Brinch-Hansen
(1963), como era de se esperar.
Tomando-se como referência as cargas de ruptura convencional, obtidas pelo emprego do
método NBR 6.122/2010 nas curvas carga-recalque ajustadas por meio do TableCurve-2D, e as
relações contidas na Tabela 6, os valores de capacidades de carga, estimados pelos métodos
semiempíricos, apresentam-se conservadores, inclusive para o solo com teor de umidade mais
elevado. No entanto, começa a ser menos conservador quando do método empírico-Maringá/PR,
no caso do solo umedecido, cujo o valor da capacidade de carga estimada foi da ordem de 74,8%
da carga de ruptura convencional da NBR 6122/2010, estimado na prova de carga, com a curva
ajustada pelo TableCurve 2D.
O método Décourt-Quaresma (1978), se considerado o ganho de resistência de 76% nas
argilas lateríticas, como notificado por Décourt (2002), deixa de ser conservador para o solo com
teor de umidade mais elevado (w=36,7%).

Tabela 6 – Relação entre a capacidade de carga estimada e a carga de ruptura convencional


(NBR 6.122/2010), curva de ajuste TableCurve 2D
Carga estimada/ carga ruptura (%)
Método
E203 (w = 36,7%) E402 (w = 34,1%)
Aoki - Velloso 30,1 23,8
Décourt - Quaresma 55,3 43,7
Peixoto - Ranzini 41,4 32,7
Empírico - Maringá 74,8 59,1

As curvas matemáticas geotécnicas ajustadas do tipo Van der Veen (1953), Van der Veen
modificado por Aoki (1976), Chin-Kondner (1970) e Brinch-Hansen (1963) foram de bom ajuste,
sendo de coeficiente de determinação próximo da unidade (r2 variando de 0,9581 a 0,9995). A
curva ajustada pelo TableCurve 2D se apresentou com o coeficiente de determinação igual a
1,000. Por fim, cumpre lembrar que no ajuste das curvas matemáticas efetuadas neste trabalho,

GEOSUL 2017 7
os pontos de carga-recalque correspondentes aos de carga máxima aplicadas nas provas de
carga, não foram considerados, independente se eram de recalque estabilizado segundo a
NBR12131/2006. Pois as velocidades de recalque eram significativas, conforme os registros
contidos na Tabela 3, respectivamente com valores de 4,50mm/h e 0,92mm/h para as estacas
E402 e E203.

REFERÊNCIAS
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GEOSUL 2017 8
UTILIZAÇÃO DE ENSAIOS DE PLACA PARA ESTIMATIVA DE
RECALQUES DOS SOLOS DA REGIÃO NOROESTE DO RIO GRANDE
DO SUL

Felipe Feron Kirchner1; Alexia Cindy Wagner2; Larissa Fernandes Sasso3;; Gabriel Verdi Leal4;
Yuri Fernando Fragoso5; Carlos Alberto Simões Pires Wayhs6

Resumo
O projeto de fundações de edificações demanda entendimento sobre a ocorrência de
recalques no solo, buscando manter seguras às construções quanto ao estado limite de utilização.
Pode-se estimar valores de recalque por meio de prova direta de carga sobre o terreno. Outra
maneira é estimá-los através de modelos de cálculo semi-empíricos, sendo relevante a relação
entre ambos os resultados, constatando quais métodos apresentam valores mais próximos
àqueles obtidos em campo. Sendo assim, foram executados ensaios de placa, de caracterização
do solo e sondagem SPT nas cidades gaúchas de Ijuí, Santa Rosa, Coronel Barros e Palmeira
das Missões, e, a partir de seus resultados foram comparados com os recalques estimados por
nove métodos. Constatou-se que as metodologias de Ruver, Peck e Bazarra e a Teoria da
Elasticidade aproximaram-se dos valores de recalques da fase elástica do solo, enquanto as
metodologias de Ruver Limite Superior, Agnostopoulos et al e Meyerhof (1974) alcançaram
valores próximos aos de ruptura do solo ou recalque de 25 mm.

Abstract
The project of building foundations demands an understanding of the occurrence of soil
settlements, seeking to keep constructions safe as to the limit state of use. It is possible to
estimate settling values by means of direct load test on the ground. Another way is to estimate
them through semi-empirical calculation models, being relevant the relationship between both
results, finding which methods present values closer to those obtained in the field. Thus, plate, soil
characterization and SPT probe tests were performed in the Gaucho cities of Ijuí, Santa Rosa,
Coronel Barros and Palmeira das Missões, and from their results were compared with the
settlements estimated by nine methods. The Ruver, Peck and Bazarra methodologies and
Elasticity Theory approximated the soil elastic phase setlements values, while the Upper Limit
Ruver methodologies, Agnostopoulos et al and Meyerhof (1974) reached values close to of soil
rupture or settlement of 25 mm.

Palavras-chave: Ensaio de Placa. Projeto de Fundações. Estimativa de recalques.

Acadêmicos do curso de Engenharia Civil, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul –
UNIJUÍ1, 2, 3, 4, 5
Eng., Me, UNIJUÍ, 55-99962-9992, carlos.wayhs@unijui.edu.br6
1. INTRODUÇÃO

A engenharia de fundações pode ser definida como a arte de transmitir cargas estruturais ao
terreno, da maneira mais econômica possível, reprimindo deformações excessivas (SIMONS;
MENZIES, 1981). Qualquer obra de engenharia necessita de fundações, sendo um elemento
estrutural essencial ao suporte da edificação. A partir de tal fato, é fundamental conhecer valores
precisos do comportamento do solo em que a obra será executada para um dimensionamento
preciso. Segundo Caputo (1988), é necessário conhecer a influência da água sob ou sobre a
superfície da crosta e a formação geológica local, como premissa para o projeto de qualquer obra
de modo a garantir segurança e economia à mesma.
Tendo como objetivo um bom projeto de fundações, Terzaghi e Peck (1962) indicam que o
passo mais importante é encontrar a tensão máxima suportada pelo solo sem que este sofra
recalques excessivos ou chegue a ruptura. Cintra, Aoki e Albiero (2014) estabelecem que
recalque define-se como o deslocamento vertical da base de uma sapata, tendo como base uma
referência sem deslocamento.
Conforme a NBR 6122/2010 - Projeto e Execução de Fundações, pode-se definir valores de
recalque por meio de métodos semi-empíricos, empíricos e teóricos, bem como a partir de
resultados de provas de carga sobre placa. Entretanto este último não é constantemente
executado, sendo a tensão e recalque estimados com base em sondagens SPT, por ser uma
maneira de investigação geotécnica disponível com mais facilidade (ABNT, 2010).
A partir do interesse no tema, e da parceria de outro projeto do orientador Mestre Carlos
Wayhs com o Doutor Cesar Alberto Ruver, ex-professor da FURG e UFRGS, decidiu-se criar em
final de maio de 2014, o projeto de pesquisa institucional denominado de “Estudo da Capacidade
de Carga e Recalque de Solos Residuais do Noroeste do Rio Grande de Sul”, vinculado ao Grupo
de Pesquisa em Novos Materiais e Tecnologias para a Construção. Como passo seguinte para
consolidação desta empreitada, foram adquiridos no segundo semestre de 2014 os equipamentos
necessários para a execução de ensaios de placa pela UNIJUÍ (Universidade Regional do
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul). Assim a pesquisa procura estudar o comportamento
dos solos residuais no Noroeste Gaúcho, quanto aos métodos empregados na obtenção da
estimativa de tensão admissível e recalque, comparando-se os valores de campo com os obtidos
através de metodologias de cálculo e serviu de temas do trabalho de conclusão de curso de Bär
(2015) e de Immich (2016).
A partir de tais considerações, o objetivo deste trabalho é apresentar resultados do
comportamento de solos residuais da região noroeste do Rio Grande do Sul em relação ao
recalque. Pretende-se comparar os valores encontrados em diferentes metodologias de cálculo
usuais na engenharia com os obtidos em campo através do ensaio de placas. Assim sendo,
busca-se encontrar uma estimativa confiável de obtenção de valores de recalque para fundações
superficiais, permitindo aos engenheiros de fundações maior conhecimento e segurança ao
desenvolver projetos que envolvam infraestrutura para solos semelhantes aos estudados.
Para caracterizar o solo da região definida já foram realizados oito ensaios de placa nas
cidades do noroeste do Rio Grande do Sul de Coronel Barros, Ijuí, Santa Rosa e Palmeira das
Missões, envolvendo o uso de um conjunto de placas de 48 e 80 cm de diâmetro, além de ensaios
de sondagem de simples reconhecimento com SPT, para possibilitar as estimativas a partir de
métodos semi-empíricos.

2. ENSAIO DE PLACA
O ensaio de placa consiste em um procedimento que utiliza placas de metal onde são
aplicados diferentes carregamentos para a execução de provas de carga de maneira a garantir o
comportamento carga-recalque de um solo destinado a uma futura fundação (RUVER, 2005).
De acordo com a NBR 6489 (1996), depois de nivelar o terreno e instalar o equipamento,
aplica-se carga à placa, considerando que em cada estágio de aplicação deve se acrescentar no
máximo 20% de carga da taxa admissível provável do solo (ABNT, 1996). Durante a execução do

GEOSUL 2017 - XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul


ensaio, os recalques são lidos imediatamente após a aplicação de carga, e após intervalos de
tempo sucessivamente dobrados (1, 2, 4, 8, 15 minutos, etc.), sendo que, só é acrescentada uma
nova carga quando há estabilização dos recalques (ABNT, 1996). Ainda segundo ABNT (1996), o
encerramento do ensaio se dá quando ocorre um recalque de 25 mm, ou até atingir o dobro da
taxa admitida para o solo. Para o descarregamento respeitam-se os mesmos critérios de leitura do
carregamento.
Os ensaios deste trabalho foram executados com duas placas de metal (48 e 80 cm), que
foram carregadas com auxílio de um macaco hidráulico que reagiu contra um sistema de reação
(retroescavadeira de 21 toneladas), buscando simular o comportamento de uma fundação
superficial. A Figura 1 apresenta imagem da realização do ensaio com a placa de 48 cm.

Figura 1. Ensaio com a Placa de 48 cm


O ensaio de placas serve de comparação entre os recalques da placa com possíveis
recalques da sapata que será executada no local. Para argilas (solo predominante na região), de
acordo com Cintra, Aoki e Albieiro (2003), a capacidade de carga não depende da dimensão,
sendo igual para a placa e para a sapata, contudo, os recalques são proporcionais à dimensão
devido ao módulo de deformabilidade conforme pode-se observar na Figura 2.

Figura 2. Cargas de Prova em Placa e Sapata (CINTRA, AOKI E ALBIERO, 2003)


Segundo Cintra, Aoki e Albiero (2003) estima-se o recalque para o solo da sapata a partir
do recalque da placa, de acordo com a Equação (1), onde, 𝜌𝑠 é o recalque da sapata, 𝜌𝑝 é o
recalque da placa, 𝐵𝑠 o diâmetro proporcional da fundação e 𝐵𝑝 é o diâmetro da placa.
Bs
ρs = ρp ∙ (1)
Bp

Como o bulbo de tensões da sapata normalmente é maior que o da placa, para se obter os
valores de recalque através da prova de carga em placa, o ensaio deve ser realizado em solos
uniformes e com maior profundidade, (CINTRA, AOKI E ALBIERO, 2003).
O ensaio realizado em Coronel Barros utilizou-se apenas a placa de 48 cm, já nas demais
cidades utilizou-se ambas as placas. Entretanto, somente em Palmeira das Missões ocorreu à
ruptura do solo para a placa de 80 cm com a tensão de 140 kPa. Nas demais cidade o sistema de
reação chegou ao limite antes que ocorresse a ruptura do solo. Para a placa de 48 cm, a tensão
de ruptura atingiu os seguintes valores: Ijuí Campus com 292 kPa; Santa Rosa com 289 kPa; Ijuí
Costa do Sol com 243 kPa; e Coronel Barros com 369 kPa. Sendo assim, neste trabalho foram
analisados os recalques apenas para a placa de 48 cm, com a qual chegou-se ao rompimento em
todos os locais e pela análise do recalque da ruptura na placa de 80 cm não estar finalizada.

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A Tabela 1 contém as leituras referentes ao deslocamento da base da placa (recalque)
correspondente aos três relógios deflectômetros utilizados para cada ensaio, bem como a média
encontrada para o recalque no momento de ruptura, onde o maior valor foi encontrado para o solo
de Santa Rosa e menor para o solo de Ijuí na região do campus.

Tabela 1. Recalque na Ruptura para os Locais Estudados


De acordo com Bär (2015), a ruptura dos ensaios em todas as cidades referente a placa de
48 cm foi do tipo puncionamento e pode ser observado na Figura 3, comportamento repetido nos
ensaios realizados posteriormente para o solo Costa do Sol e de Palmeira das Missões.

Figura 3. Ruptura do Solo por Puncionamento


Os resultados dos ensaios de placas para a placa de 48 cm estão apresentados por meio de
curvas carga x recalque, sendo possível observar seus resultados obtidos através da Figura 4
(tensão em kPa e recalque em mm).

Figura 4. Curvas Carga x Recalque para Placa de 48 cm

3. SPT
O SPT, ou índice de resistência à penetração, é executado por meio de sondagem e
considera cada metro de profundidade alcançada (Associação Brasileira de Geologia e
Engenharia Ambiental - ABGE, 2013). Tal método consiste na cravação de um amostrador de solo
padrão, por meio de golpes de um martelo de massa igual a 65 kg, em queda livre a uma altura de
75 cm, registrando-se quantos golpes são precisos para que o amostrador penetre três vezes 15
cm do solo, ou seja, 45 cm.
De acordo com ABNT (2001), o ensaio SPT busca determinar os tipos de solo em suas
respectivas profundidades de ocorrência, verificar a posição do nível d’água, e obter os índices de
resistência à penetração (Nspt) a cada metro. Ruver (2005) afirma que esse ensaio é um método
de sondagem do subsolo bastante executado atualmente, uma vez que fornece informações
técnicas sobre o tipo de solo, além de ser considerado um ensaio simples, prático e econômico
quando comparado a outros métodos disponíveis.
GEOSUL 2017 - XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul
Estima-se que cerca de 85% a 90% das fundações convencionais na América do Sul e do
Norte são realizadas utilizando SPT conforme afirmado por Bowles, 1997). Entretanto os valores
obtidos através do SPT podem sofrer variações. De acordo com Schnaid e Odebrecht (2012), uma
parte considerável dessas variações pode ser compreendida e interpretada pela energia do golpe
do martelo e a composição de haste. Devido a essas perspectivas Ruver e Consoli (2006) utilizam
a média aritmética dos valores NSPT na profundidade de duas vezes a menor dimensão da base
da fundação, corrigindo-se a diferença de energia pela multiplicação de um fator de 1,2, resultado
da razão entre as energias do SPT comuns brasileira (72 %) pela americana (60 %).
Para relacionar o ensaio SPT com o ensaio de placa, o NSPT adotado foi referente
à profundidade de duas vezes a sua menor dimensão, sendo adotado para a placa de 48 cm de
diâmetro uma profundidade de 96 cm.
Os valores de NSPT foram retirados dos relatórios de SPT cedidos pelas empresas
de sondagem que realizaram o ensaio nos locais, próximas em média de 6 m dos ensaios de
placa. Os resultados de NSPT para a aplicação nas metodologias de cálculos semi-empíricas,
foram cedidos por empresas de sondagem que realizaram os ensaios próximos em média de 6 m
dos ensaios de placa. Os valores em número de golpes adotados foram 7, 8, 9, 8 e 6 para Ijuí
Campus, Ijuí Costa do Sol, Coronel Barros, Santa Rosa e Palmeira das Missões respectivamente.
Para a obtenção das estimativas de recalque utilizou-se os métodos citados no item a
seguir.

4. ESTIMATIVA DE RECALQUE
Neste item são citadas as metodologias utilizadas para a estimativa dos valores de
recalques referentes aos solos em estudo. Para a comparação de tais metodologias se fez uso
dos resultados obtidos através dos ensaios de placa referentes à placa de 48 cm, uma vez que
para todos os locais estudados obteve-se a tensão de ruptura para essa placa. Não será exibido
neste artigo as formulações e significado das variáveis por questões de limite de espaçamento,
porém estas poderão ser obtidas em Immich (2016).
Os resultados obtidos para cada metodologia serão apresentados no item seguinte,
considerando que os valores de cargas são referentes aos acréscimos utilizados no ensaio de
placas. Assim, os recalques obtidos para diferentes valores de carga podem ser comparados com
os valores de recalque reais retirados do ensaio de placas. Os métodos utilizados foram: Teoria
da Elasticidade, Schultze e Scherif, Meyerhof (1965 e 1974), D’Appolonia et al, Anagnostopoulos
et al, Ruver (limite inferior, médio e superior), Burland e Burbidge, Terzaghi e Peck (1948 e 1967)
e finalmente Peck e Bazarra.

5. RESULTADOS
Referente aos ensaios de placas, percebe-se que a faixa de tensão admissível para os
solos encontra-se entre 121,46 kPa e 180,25 kPa. Notou-se também que a ruptura do solo foi do
tipo puncionamento em todos os locais estudados, seja, levando em consideração, a ruptura ou o
recalque de 25mm.
Foram comparadas as estimativas dos recalques em relação às metodologias semi-
empíricas e teóricas com os recalques reais obtidos através do ensaio de placas.
Para o solo de Coronel Barros, conforme percebe-se na Figura 5, os métodos do Ruver e a
Teoria da Elasticidade foram os mais próximos na fase elástica do solo, enquanto o limite superior
do método de Ruver foi o que mais se aproximou da determinação do recalque na ruptura do solo,
quando comparados aos valores reais do ensaio de placa.
Para o solo do Campus de Ijuí, conforme apresentado na Figura 6, a Teoria da Elasticidade,
e os métodos do valor médio do Método de Ruver e de Peck e Bazarra foram os mais próximos
aos recalques na fase elástica. Já os métodos do limite superior de Ruver, de Anagnostopoulos et
al e de Meyerhof (1974) se aproximaram mais da estimativa do recalque no momento de ruptura.

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No solo de Santa Rosa, conforme destacado na Figura 7, os valores obtidos através da
Teoria da Elasticidade, e pelos métodos do valor médio de Ruver e Peck e Bazarra foram os que
melhor representaram o recalque na fase elástica do solo. Na ruptura, o método de Meyerhof
(1956) foi o mais próximo.

Figura 5: Carga x recalque Coronel Barros Figura 6: Carga x recalque Campus


No solo do loteamento Costa do Sol, em Ijuí, indicado na Figura 8, a Teoria da Elasticidade,
e os métodos do valor médio de Ruver e de Peck e Bazarra se aproximaram mais do recalque na
fase elástica. Já para a previsão do recalque próximo aos 25mm, considerado ruptura teórica, o
método de Meyerhof (1956) foi o que mais se aproximou.

Figura 7: Carga x recalque Santa Rosa Figura 8: Carga x recalque Costa do Sol

Finalmente, analisando o solo de Palmeira das Missões, conforme a Figura 9 destaca, as


estimativas fornecidas pelos métodos do valor médio e inferior de Ruver e de Peck e Bazarra se
aproximaram mais do recalque na fase elástica. Já os métodos de Meyerhof (1956) e limite
superior de Ruver foram os mais próximos da previsão do recalque no momento da ruptura.

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Figura 9: Carga x recalque Palmeira das Missões

6. CONCLUSÕES
Com base em análises dos resultados apresentados, percebe-se que para a fase elástica do
comportamento do solo, os métodos do limite inferior e médio de Ruver, de Peck e Bazarra e da
Teoria da Elasticidade apresentam resultados de recalques próximos aos reais na maioria dos
casos, sendo o método do valor médio de Ruver o mais frequente entre todos.
Em relação ao recalque no momento de ruptura ou aos 25 mm, os métodos do limite
superior de Ruver, Agnostopoulos et al e Meyerhof (1974) melhor representam os valores de
recalque, sendo o limite superior de Ruver o mais próximo para os solos de Coronel Barros e
Campus Ijuí. Já para os solos de Santa Rosa, do loteamento Costa do Sol em Ijuí e de Palmeira
das Missões, o método de Meyerhof (1956) teve resultados mais similares.
Assim, pode-se inferir, ao analisar comportamento de solos residuais do noroeste gaúcho,
que os métodos do limite inferior e médio de Ruver, de Peck e Bazarra e da Teoria da Elasticidade
podem ser utilizados para estimativa do recalque na fase elástica, fase em que se encontram
normalmente os solos na carga de trabalho. E na ruptura, os recalques podem ser estimados de
forma satisfatória pelos métodos do limite superior de Ruver, Agnostopoulos et al e Meyerhof
(1974). Salienta-se que sempre que possível deverão ser realizados ensaios de placa e
sondagens SPT para que se tenha uma percepção melhor do comportamento destes solos.
Dessa maneira, almeja-se que os dados apresentados possam melhorar a compreensão do
comportamento dos solos regionais e auxiliar na elaboração de melhores e mais confiáveis
projetos de fundações.
Por fim, a pesquisa pretende ser ampliada estudando solos de outras localidades, visando
fortalecer os resultados obtidos para elaboração de um banco de dados confiável e que
represente os solos do noroeste do Rio Grande do Sul.

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REFERÊNCIAS

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ADESÃO E MICROSCOPIA DO CONTATO NATA-ROCHA
DE ARENITOS DA SERRA DO ESPIGÃO, SC

Cleber de Freitas Floriano (1); Marco Antonio Grigoletto Conte (2); Luiz Antonio Bressani (3)

RESUMO

Neste trabalho foram estudados dois arenitos pertencentes às formações geológicas Botucatu (Bt)
e Rio do Rasto (RR) envolvidos em processos de instabilização de encostas rochosas na Serra do
Espigão, no estado de Santa Catarina. A adesão nata de cimento-rocha foi avaliada de duas
formas: em laboratório através de ensaios CCBT (Composite Cylinder Bond Test); em campo
através de ensaios de arrancamento de grampos. Foram obtidos valores médios de adesão pelo
método CCBT de 0,38 MPa para o Arenito Bt e 0,37 MPa para o Arenito RR. Estes resultados são
compatíveis com os valores obtidos em campo de 0,39 MPa para o arenito Bt e de 0,40 MPa para
o arenito RR. Assim, o ensaio CCBT pode ser uma alternativa viável para definição do parâmetro
de adesão em etapas iniciais de projeto. À luz da microscopia, é discutida a influência da lavagem
na superfície de corte dos corpos de prova compostos de Arenito Bt e nata de cimento. Nota-se,
preliminarmente, que as condições de aderência da nata e da rocha melhoram em função da
limpeza da superfície de contato. Contudo, a resistência mecânica na interface é afetada por
diversos fatores, como a hidratação da nata de cimento e a friabilidade do contato nata-rocha.

PALAVRAS-CHAVE: Adesão Nata-Rocha. Ensaios CCBT. Microscopia. Ensaios de


Arrancamento. Arenito.

ABSTRACT

In this work, two sandstones belonging to Botucatu (Bt) and Rio do Rasto (RR) geological
formations were studied. They are related to rocky slope instability processes in Serra do Espigão,
Santa Catarina state. The bond strength between grout and rock was evaluated in two ways: at
laboratory through CCBT (Composite Cylinder Bond Test); at field through pullout tests. Were
obtained average adhesion values by the CCBT method of 0,38 MPa for Bt Sandstone and 0,37
MPa for RR Sandstone. These results are compatible with field values of 0,39 MPa for Bt
Sandstone and 0,40 MPa for RR Sandstone. Thus, the CCBT method can be a viable alternative
for defining the adhesion parameter at initial stages of design. The influence of the washing on the
cutting surface of the composite specimens of Bt Sandstone and grout is discussed in the light of
the microscopy. It is noted, preliminarily, that the conditions of adhesion between grout and rock
improve as a function of the cleaning of the contact surface. However, the bond strength at the
interface is affected by several factors, such as the hydration of the cement slurry and the contact
friability.

KEYWORDS: Bond Strength. CCBT Method. Microscopy. Pullout Test. Sandstone.

(1) Professor Assistente da Faculdade de Eng. Civil da PUCRS, Engenheiro Civil, Azambuja Eng. e Geotecnia Ltda,
souza.floriano@gmail.com
(2) Eng. Civil, Mestrando em Engenharia Civil/Geotecnia pela COPPE/UFRJ, marco.conte@hotmail.com
(3) Professor Associado, Departamento de Engenharia Civil, UFRGS, bressani@ufrgs.br

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1 – INTRODUÇÃO

O trecho da BR-116/SC que perpassa a Serra do Espigão é marcado por diversos


problemas geotécnicos. Em uma faixa de 5 km, por exemplo, são contabilizadas mais de 10 obras
de estabilização. Relatos sobre movimentos de massa ocorridos na região, particularmente queda
de blocos rochosos, foram apresentados ainda na década de 1970 por Fernandes et al. (1974).
Estes autores atribuem as quedas de blocos de pequena dimensão à degradação diferencial dos
estratos da Formação Rio do Rasto. Já a queda de blocos de maior magnitude está associada à
perda de suporte basal, em virtude da intemperização do maciço sotoposto (Formação Botucatu).
Desde então, diversas soluções têm sido aventadas com vistas à estabilização e proteção
de algumas das encostas do local inclusive de obras sendo executadas neste ano de 2017. As
propostas que utilizam um sistema de ancoragem através da inserção de grampos ou tirantes no
maciço rochoso tem sido bastante empregada nestas situações. Para o dimensionamento destas
ancoragens, normalmente são realizados ensaios de arrancamento. Entretanto, viabilizar ensaios
em verdadeira grandeza muitas vezes torna-se incompatível com a etapa de estudos preliminares.
Isto ocorre em obras de menor porte e pontuais, como são a maioria das obras de contenção, e
também podem ser citados os locais onde os acessos dependem de trabalho em altura e que
acabam exigindo o uso de manipuladores ou guindastes. Neste caso é comum ocorrer
interferência no tráfego viário, gerando custos ainda mais elevados.
No dimensionamento de uma ancoragem é de extrema importância a determinação da
aderência entre o fluido cimentante e o maciço. Este trabalho dedica-se à determinação deste
parâmetro para os arenitos da Formação Botucatu e Rio do Rasto que são encontrados no local.
Optou-se pelo ensaio de laboratório CCBT (Composity Cylinder Bond Test) porque é de simples
execução e possui baixo custo, portanto viável nas etapas iniciais de um projeto. Também são
discutidos, do ponto de vista microscópico, alguns fatores intervenientes no processo de
ancoragem que ocorre na interface nata de cimento-rocha.

2 – CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA

O local de estudo situa-se no município de Monte Castelo, Santa Catarina. Os problemas


geotécnicos estudados neste trabalho estendem-se por um trecho de aproximadamente 700
metros na BR-116/SC (km 108+000 - km 108+700). De acordo com o mapa litológico, estão
presentes duas formações geológicas originárias de antigos depósitos sedimentares (PERROTTA
et al., 2004). Trata-se da Formação Botucatu e da Formação Rio do Rasto. Além destas, embora
não observadas a partir dos taludes da plataforma rodoviária da BR-116, à montante destaca-se a
Formação Serra Geral, e à jusante a Formação Teresina, bem como depósitos aluvionares
recentes provenientes do Período Quaternário. Uma imagem de satélite identifica o trecho
estudado (Fig. 1), enquanto a Fig. 2 apresenta a coluna estratigráfica do local mostrando
nitidamente a transição entre a Formação Rio do Rasto e a Formação Botucatu, além de suas
diferenças táteis e visuais.

Figura 1. Localização da área de estudo, destacando as formações geológicas presentes e a demarcação


da rodovia no trecho (FLORIANO et al., 2015).

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Coluna Estratigráfica
Arenito Botucatu (Bt) c/
estratificação marcante
paralela e cruzada

Arenito Rio do Rasto (RR) c/


estratificação plano-paralela

Níveis intermediários de
Pelito e Arenito

Figura 2. Coluna estratigráfica observada em um talude exposto junto ao km 108+200 da BR-116/SC


(adaptada de FLORIANO et al., 2015).

3 – MATERIAIS E MÉTODOS

As amostras cilíndricas de rocha foram coletadas através de perfuratriz com coroa


denteada, de pontas diamantadas, diâmetro externo de 21/4” e diâmetro interno equivalente de 50
mm. As amostras de arenito Bt foram extraídas segundo 3 orientações distintas: uma paralela ao
plano de estratificação natural, outra perpendicular a este plano e uma terceira, inclinada. Para
esta última, idealizou-se o mesmo ângulo praticado na execução de obras de grampeamento ou
atirantamento, que varia entre 10 a 30 graus em relação
ArenitoàBotucatu
horizontal. Na prática,
Arenitocontudo,
Botucatu manter
um ângulo de extração perfeitamente constante é difícil. No arenito RR os planos de estratificação
não podem ser amostrados em virtude da escala, embora existam, já que os processos de
sedimentação e posterior diagênese naturalmente promovem planos desse tipo. A Fig. 3
apresenta alguns cilindros amostrados, identificando os planos de estratificação em relação à
posição de corte de cada amostra.

Arenito Botucatu Arenito Botucatu Arenito Botucatu Arenito Rio do Rastro

Figura 3.Arenito
Amostras com diâmetro médio
Botucatu Arenito de 50mm
Rio do Rastroobtidas através de extrator. O tracejado vermelho indica a
posição do plano de estratificação no arenito Botucatu.

3.1 – Composite Cylinder Bond Test (CCBT)

O composite cylinder bond test (CCBT) é um ensaio que determina a tensão de aderência
entre nata e rocha através do cisalhamento de um plano forçado (MACEDO, 1993). Um corpo de
prova composto de nata de cimento e rocha é produzido e, quando submetido à compressão
simples uniaxial, sofre cisalhamento na interface dos dois materiais. Este ensaio simplificado foi
desenvolvido na UFRGS por Macedo (1993).
Os testemunhos rochosos que compõem os corpos de prova compostos são definidos por
dois cortes: um perpendicular (90º) e outro a 30º ou 45º em relação ao eixo de compressão axial.
A interface, portanto, tem uma forma elíptica. Foram seccionadas 88 amostras para formatação
dos corpos de prova. No que tange à nata de cimento, empregou-se cimento Portland Pozolânico
tipo CP IV-32. A relação a/c adotada foi coerente com aquelas normalmente definidas em projetos
executivos, que ficam entre 0,4 a 0,6, com quantidades dosadas em peso.
A moldagem dos corpos de prova compostos ocorre através do despejo cuidadoso da nata sobre
o testemunho rochoso cortado, o qual está inserido em um molde cilíndrico. Durante esta
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operação deve-se evitar a formação de bolhas na nata. Os ensaios foram executados aos 28 dias
de cura, conforme a NBR 7681-4 (ABNT, 2013). Foram moldados 72 corpos de prova, sendo 24
do Arenito RR e 48 do Arenito Bt. A Fig. 4 exibe um conjunto de corpos de prova compostos
sendo confeccionados.

a b c d

Figura 4. Conjunto com 30 moldes metálicos, sendo 24 moldes para a formatação dos corpos de prova do
ensaio CCBT e outros 6 moldes para a verificação da resistência à compressão simples (RCS) da nata de
cimento. A imagem mais a direita mostra o conjunto de corpos de prova prontos para o ensaio.

Os corpos de prova foram levados à câmara úmida e, após três dias de cura dentro do
molde, foram desformados e permaneceram na câmara até o dia da ruptura. A velocidade de
carregamento de todos os corpos de prova compostos e dos corpos de prova de nata de cimento
foi estabelecida como 0,45 MPa/s, conforme a NBR 7681-4 (ABNT, 2013). Todos os ensaios de
resistência à compressão simples indicaram resistência superior a 25 MPa para a nata de
cimento. Na Fig. 5 podem ser vistos exemplos de corpos de prova compostos após a ruptura. As
duas imagens mais à direita exibem corpos de prova cuja ruptura não ocorreu na interface nata-
arenito, e, portanto, são devidamente excluídos dos resultados.

a b c d

Figura 5. (a) Ruptura de um corpo de prova de arenito Bt em corte de 30º. (b) Metade de nata de cimento e
metade de arenito RR após a ruptura de um corpo de prova composto. (c) Ruptura no arenito. (d) Ruptura
no arenito e na nata de cimento.

O ensaio CCBT pode ser interpretado a partir do círculo de Mohr (Fig. 6), onde a tensão
principal maior corresponde à tensão de compressão uniaxial no momento da ruptura (σ1A e σ1B).
O critério de ruptura adotado é o de Mohr-Coulomb (Eq. 1), com parâmetros Sw (adesão) e φ
(ângulo de atrito da junta). No ensaio CCBT as deformações cisalhantes que ocorrem são muito
pequenas, sendo assumido, então, que a parcela de resistência devida ao atrito é inexistente.
Portanto, a resistência ao cisalhamento corresponde apenas à parcela de adesão nata-rocha do
contato. A aderência, derivada dos ensaios CCBT, é obtida quando se resolve o sistema com as
Eq. 2 e 3. A média das tensões de ruptura do conjunto moldado com juntas de 30º é igual a σ1A, e
a média das tensões de ruptura do conjunto moldado com juntas a 45º vale σ1B.

Figura 6. Interpretação gráfica do ensaio CCBT (adaptada de Macedo, 1993).


____________________________________________________________________________________________________________
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(1)

(2)

(3)

3.2 – Ensaios de Arrancamento

Foram realizados três ensaios de arrancamento de campo não instrumentados, sendo um


posicionado no Arenito RR e os outros dois no Arenito Bt. Tais ensaios seguiram as
recomendações estabelecidas na NBR 5629 (ABNT, 2006) quanto à sequência de cargas, similar
ao procedimento de ensaio de qualificação em tirantes. O grampo utilizado foi um modelo Resinex
– RT 06 – 38,1mm, com carga de trabalho de 360 kN. A nata de cimento de injeção foi preparada
com fator a/c de 0,5 e os ensaios foram feitos após 28 dias da injeção. As perfurações foram
realizadas por roto-percussão, sendo o fluido perfurante o ar, de modo a atingir comprimento de
ancoragem de 4 metros com diâmetro do furo igual a 75 mm. Todas as perfurações tiveram auxílio
de um guindaste que ficou patolado em uma faixa de rolamento, junto a BR-116/SC.

3.3 – Lâminas Petrográficas

Lâminas petrográficas delgadas foram extraídas de seis corpos de prova compostos de


Arenito Bt nos quais a ruptura não ocorreu no contato nata-rocha (Fig. 7a). Em três corpos de
prova, durante a sua confecção a interface nata-arenito foi limpa através de lavagem em água
corrente e com leve pressão, de modo a remover o material pulverizado do corte que fica
impregnado na superfície (Fig. 7c). Nos outros três não foi realizado nenhum procedimento de
lavagem na interface (Fig. 7b), ou seja, o material pulverizado do corte permaneceu impregnado
na superfície seccionada (procedimento geral adotado na confecção de todos os outros corpos de
prova destinados ao ensaio CCBT). Após ensaiados, os corpos de prova sofreram um corte
centralizado longitudinal para a extração das lâminas junto ao contato nata-rocha. Para a
produção destas lâminas, foi necessário realizar impregnação com resina em virtude da
friabilidade da rocha. Desta forma, os vazios são facilmente identificáveis pelo matiz azul (Fig. 7d).

a b d

L04 L02 L13 ARENITO Bt

c
NATA DE
CIMENTO
L03 L02A L13

Figura 7. (a) Corpos de prova selecionados para extração de lâminas petrográficas delgadas. (b) Lâminas
dos corpos de prova não submetidos à lavagem. (c) Lâminas dos corpos de prova submetidos à lavagem.
(d) Detalhe de uma lâmina, exibindo as porções com nata de cimento e arenito Bt.

4 – RESULTADOS

4.1 – Composite Cylinder Bond Test (CCBT) e Ensaios de Arrancamento

Somente os resultados dos corpos de prova compostos cuja superfície de ruptura se deu
na interface nata-rocha foram considerados nos cálculos. Para o Arenito RR a adesão obtida é de
0,37 MPa, e para o Arenito Bt é de 0,38 MPa. Estes valores são muito similares e estão
representados graficamente através de círculos de Mohr na Fig. 8.

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Em relação aos ensaios in-situ, as cargas de arrancamento estimadas para os
chumbadores executados no Arenito Bt foram de 0,37 e 0,41 MPa. Já o chumbador ensaiado no
Arenito RR suportou uma carga de arrancamento de 0,40 MPa. Comparando-se os valores de
tensão última de campo (qs) com os valores do ensaio CCBT (Sw), primeiramente observa-se uma
aproximação muito satisfatória em termos de valores médios. As divergências são de apenas
3,4% para o Arenito Bt e 8,9% para o Arenito RR. Em segundo lugar, os valores de Sw são
sempre inferiores aos valores de qs. A Tab. 1 apresenta um comparativo destes resultados
incluindo os valores obtidos por Macedo (1993).
MPa Circulo de Mohr - Arenito Botucatu

a b

tensão cisalhante
a

MPa Circulo de Mohr - Arenito Rio do Rastro

41°
tensão cisalhante

37°

0.37 30° 0.38 30°


MPa MPa
tensão normal tensão normal
1.52 1.72
3.06 5.21

Figura 8. (a) Círculos de Mohr para o arenito RR. (b) Círculos de Mohr para o arenito Bt (FLORIANO, 2014).

Tabela 1. Valores de adesão obtidos em campo (ensaio de arrancamento) e laboratório (CCBT).


qs Médio Sw Médio qs/Sw
MATERIAL
(MPa) (MPa) (MPa)
Dacito*(Formação Serra Geral) 1,70 1,27 1,34
Basalto* (Formação Serra Geral) 4,40 1,55 2,84
Arenito subarcosiano (Formação Botucatu) 0,39 0,38 1,03
Arenito lítico fino (Formação Rio do Rasto) 0,40 0,37 1,09
* Dados obtidos de MACEDO (1993)

4.2 – Lâminas Petrográficas

Durante a confecção de um corpo de prova composto, à medida em que a nata de cimento é


lançada, a água proveniente da sua exsudação penetra no arenito, expulsando parcialmente o ar
existente. Esta migração potencializa a formação de canalículos na nata de cimento,
especialmente junto ao contato com o molde metálico. Em alguns casos surgem bolhas no
entorno de grãos suspensos. A migração dos fluidos também contribui para a definição da
espessura da área exsudada na zona de contato entre arenito e nata durante as reações de
hidratação do cimento. Este processo tem início imediato e reduz sua intensidade quando atinge o
tempo de início de pega, que para o CP-IV é de 1h, segundo a NBR 5736 (ABNT, 1991). A
migração de fluidos continua ocorrendo até o tempo de final de pega, que é de 12h. Após este
período, por tratar-se de cimento pozolânico, as reações perduram por muitos dias.

4.2.1 – Lâminas Extraídas dos Corpos de Prova Submetidos à Lavagem

Observa-se que a penetração do cimento na superfície rochosa é bastante limitada (Fig. 9a).
Nas três lâminas extraídas dos corpos de prova submetidos à lavagem, a migração não atingiu
mais do que três grãos de espessura, ou cerca de 0,5mm. Aparentemente a nata de cimento, no
momento do despejo na superfície de contato com o arenito, tem fluxo impedido por efeito de
tensão superficial, pois a composição cimento e água apresenta viscosidade superior à da água
livre. Assim, a nata de cimento é incapaz de ultrapassar a abertura intergranular do arenito. A
irregularidade (proveniente do corte) na zona de contato é outra feição típica destas lâminas.
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Nota-se que parte da água de hidratação do cimento sofre exsudação na interface rocha-nata.
Este fenômeno é observável em virtude da tonalidade mais escura desta região em relação à
matriz da nata, mais clara (Fig. 9b). A espessura da zona de exsudação junto ao contato varia
entre 0,2 mm e 1,5 mm nas três lâminas.
Observa-se também fissuras de retração na nata de cimento. Sua ocorrência deflagrou-se
mesmo com as amostras sendo curadas em câmera úmida, embora no momento do lançamento
da nata de cimento sobre a superfície, o arenito não se encontra saturado, mas sim, na condição
de umidade natural. No caso da superfície lavada, as fissuras de retração da nata surgem
perpendicularmente ao plano de contato (Fig. 9c). Não se pode afirmar se a origem delas está
associada à consolidação da nata ou se ocorrem em função das tensões absorvidas pelo corpo de
prova no momento do ensaio. Porém é evidente que no instante em que atuarem tensões
cisalhantes devido ao carregamento axial, estas fissuras irão gerar planos de fraqueza.
As fissuras de retração também demarcam uma zona mais escura correspondente à área
de exsudação, pois durante o tempo de cura da nata ocorre passagem livre de fluido por elas,
deixando a nata de cimento super-hidratada. Esse processo é semelhante ao que ocorre ao longo
da superfície de contato com o arenito.

a b ZONA c FISSURA
NÃO-EXSUDADA PERPENDICULAR

ZONA EXSUDADA
ZONA EXSUDADA

ARCABOUÇO
0,5 mm ARENÍTICO

Figura 9. (a) Lâmina 03, luz natural: migração limitada da nata de cimento sobre a superfície rochosa. (b)
Lâmina 06, luz natural: diferença de tonalidade indica a zona de exsudação da nata. (c) Lâmina 03, luz
natural: fissura de retração perpendicular ao contato nata-rocha.

4.2.2 – Lâminas Extraídas dos Corpos de Prova Não Submetidos à Lavagem

Neste caso, o processo de consolidação da nata de cimento é exatamente o mesmo que


na condição anterior, assim como a sua penetração na rocha continua sendo bastante limitada.
No entanto, algumas diferenças importantes junto ao plano de contato entre nata e arenito
puderam ser observadas.

a b
FISSURAS
FISSURA PARALELAS
PARALELA

ZONA EXSUDADA

FISSURA
PERPENDICULAR

Figura 10. (a) Lâmina 13, luz natural: zona de exsudação com menor espessura e fissura paralela ao contato nata-rocha.
(b) Lâmina 04, luz natural: ocorrência de fissuras de retração paralelas junto ao contato nata-rocha em profusão.

Nota-se que a espessura de exsudação é menor na condição não lavada, estando


compreendida no intervalo entre 0,1 mm e 0,6 mm de espessura nas três lâminas (Fig. 10a). Essa
diferença ocorre porque o material pulverizado impregnado na superfície dificulta a migração da
água de exsudação. Além disso, as reações de hidratação que ocorrem nesta faixa também
envolvem este material pulverizado e friável oriundo do corte da superfície rochosa. No que tange
às fissuras de retração, na condição não lavada incidem também em planos posicionados
paralelamente junto à interface entre nata e rocha, aparentemente demarcando a posição do

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Geosul 2017 - XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul 7
material impregnado (Fig. 10a). Ademais, ocorrem em profusão ao longo da superfície de contato
nata-rocha (Fig. 10b).
Essas fissuras paralelas demarcam tempos de reação de hidratação divergentes, em
função da presença de partículas finas pulverizadas e impregnadas que colmatam os primeiros
poros. A película de material pulverizado restringe as reações de hidratação, formando uma
barreira que retém a migração das partículas de cimento até os primeiros poros (inter e
intragranulares) do arenito. Embora ocorra numa zona exsudada, o contato entre a nata de
cimento e os primeiros grãos areníticos é o que efetiva a ligação nata-rocha.

5 – CONCLUSÕES

Os valores de adesão nata-rocha obtidos através dos ensaios CCBT (Sw) e de


arrancamento in-situ (qs) são muito similares. Estes resultados demonstram que a utilização do
CCBT como ensaio de referência para a determinação da adesão nata-rocha é uma alternativa
viável, particularmente para os arenitos estudados neste trabalho. Todavia, mais ensaios em
diferentes tipos de rocha devem ser executados para que seja possível obter parâmetros ainda
mais seguros e também estabelecer relações mais concretas. Destaca-se, contudo, aquilo já
frisado por Macedo (1993): a resistência obtida pelos ensaios CCBT é um limite inferior, pois o
método desconsidera a parcela de atrito e os efeitos de dilatância.
Diferenças significativas de penetração da nata de cimento não foram observadas entre as
lâminas delgadas lavadas e as não lavadas. Mesmo numa superfície com poros abertos (lavada)
a viscosidade da nata é suficiente para gerar tensões capilares que impedem o avanço do fluido
para os poros da rocha, limitando a migração em até três grãos. Nas superfícies lavadas a adesão
passa a ser governada pela friabilidade da superfície de contato com a rocha e também pela
irregularidade desta. Portanto, a diferença de comportamento mecânico através dos ensaios
CCBT observada nos corpos de prova lavados e não-lavados, deve estar associada à presença
de uma película de partículas pulverizadas e impregnada na superfície durante o corte dos
arenitos para formatação dos corpos de prova compostos. Quando esta película impregnada é
removida pela lavagem há um ganho de aderência no contato nata-rocha.
A microscopia indica melhores condições de aderência em função da limpeza da superfície
de contato, porém, a resistência mecânica deste contato sofre interferência de diversos fatores, o
que deve ser melhor investigado. Outros estudos já estão sendo conduzidos neste sentido,
especialmente para compreender se esta melhoria de aderência, proveniente da lavagem da
superfície impregnada pelo material pulverizado, seria relevante para um elemento de ancoragem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Janeiro, 1991.
_____. NBR 5629: Tirantes ancorados no terreno, 2006.
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Serra do Espigão – Santa Catarina. 1974. n.f. 96. Relatório final: Instituto de geociências da UFRJ,
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MACEDO, M. C. Contribuição ao estudo da capacidade de carga de ancoragens em rochas
vulcânicas. 1993. Dissertação (Mestrado em Engenharia – Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Civil): Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 1993.
PERROTTA, M. M. et al. Folha Curitiba SG-22. In: SCHOBBENHAUS, C.; GONÇALVES, J. H.; SANTOS, J.
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Geográficas. Programa Geologia do Brasil.
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Geosul 2017 - XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul 8
TÉCNICAS DE IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DE ESTRUTURAS
GEOLÓGICAS ASSOCIADAS À RELEVOS CÁRSTICOS VISANDO A
IMPLANTAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS RODOVIÁRIOS

Cristhyano Cavali da Luz1; Tennison Freire de Souza Júnior2; Durval Nascimento Neto3;
Sidnei Helder Cardoso Teixeira4, Eduardo Ratton5

RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo apresentar técnicas de identificação de estruturas geológicas
associadas aos relevos cársticos, em estudos que tiveram o intuito de avaliar a viabilidade de
implantação e pavimentação da uma rodovia federal. A área de estudo desta pesquisa compreende
um trecho do norte do estado de Minas Gerais, entre os municípios de Manga e Itacarambi, na
diretriz da rodovia federal BR-135/MG (km 88,7 ao km 139,2), no contexto da margem esquerda do
rio São Francisco. A metodologia adotada consistiu em realizar a fotointerpretação do imageamento
do veículo aéreo não tripulado (VANT), levantamento geológico de campo, levantamento geofísico,
analisar os dados emitidos e por fim propor considerações. Baseado nos estudos realizados
concluiu-se que as técnicas de fotointerpretação a partir do imageamento com VANT impactou
positivamente na dinâmica das atividades além de otimizar os levantamentos geológicos e
geofísicos realizados à posteriori. Quanto ao levantamento geofísico, as técnicas e níveis de
precisão adotadas garantiram a qualidade dos resultados obtidos, consequentemente uma melhor
interpretação.
Palavras-chave: rodovias, gravimetria, carste.

ABSTRACT
The present work has as objective to present techniques of identification of geological structures
associated to the karstic reliefs, in studies that had the intention of evaluating the feasibility of
implantation of a federal highway. The study area of this research comprises a section of the northern
state of Minas Gerais, between the municipalities of Manga and Itacarambi, on the federal highway
BR-135 / MG highway (km 88.7 to km 139.2), in the context of Left bank of the São Francisco River.
The methodology used was to perform the photointerpretation of the image of the unmanned aerial
vehicle (UAV), field geological survey, geophysical survey, analyze the data emitted and finally
propose considerations. Based on the studies carried out, it was concluded that the
photointerpretation techniques from the VANT imaging had a positive impact on the dynamics of the
activities besides optimizing the geological and geophysical surveys carried out a posteriori. As for
the geophysical survey, the techniques and precision levels adopted ensured the quality of the
results obtained, consequently a better interpretation.
Keywords: highways, gravimetry, karst.

1 Eng, Doutorando em Eng. Construção Civil, UFPR, crisccluz@hotmail.com.


2 Eng, Mestrando em Eng. Construção Civil, UFPR, tennisonufpr@outlook.com.
3 Biólogo, Doutorando em Geologia, UFPR, durvalnneto@bol.com.br.
4 Eng, Professor, Departamento Construção Civil, UFPR, sidnteix@outlook.com.
5 Eng, Professor, Departamento Transportes, UFPR, ratton.eduardo@gmail.com.

GEOSUL 2017 – XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul 1


1. – INTRODUÇÃO

As áreas cársticas compreendem cerca de 10 a 15% da superfície terrestre, principalmente,


as desenvolvidas em rochas carbonáticas como o calcário e o dolomito (Ford e Williams, 2007). Em
função da rocha, mais do que qualquer outra variável, o carste é fortemente condicionado por
processos hidrogeoquímicos, através da água rica em CO2 e naturalmente acidulada. A corrosão
das rochas superficiais e subterrâneas favorece os processos morfogenéticos responsáveis pela
dinâmica e evolução do relevo.
Terrenos desenvolvidos em rochas carbonáticas tendem a apresentar uma diversidade de
formas topográficas ocasionadas pelo intemperismo químico de variações climáticas no tempo
geológico. Por essa razão, feições topográficas (dolinas, sumidouros, ressurgências, vales cegos e
afloramentos de maciços rochosos) são condicionadas por controles litológicos, estruturais,
tectônicos e pelo grau de solubilidade da rocha. Assim, o carste deve ser entendido como um
sistema alterado por formas positivas e negativas que se desenvolvem em perfeita harmonia
(Travassos, 2010).
Dos 8,5 milhões de km2 de área continental brasileira, os terrenos cársticos constituem cerca
de 5 a 7% (Karmann, 1994). As principais unidades localizam-se no Cráton São Francisco na região
de Minas Gerais, Goiás e Bahia, sobre litologias carbonáticas e dolomíticas. A dinâmica dos
sistemas cársticos está intrinsecamente relacionada com seu aquífero. Para a maioria das áreas
cársticas, a evolução do sistema está diretamente ligada a processos superficiais, sendo que sua
caracterização geomorfológica é normalmente um dos principais recursos para a compreensão da
sua dinâmica (Godinho e Pereira, 2013).
Sendo assim, o objetivo do presente trabalho foi apresentar técnicas de identificação de
estruturas geológicas associadas aos relevos cársticos, em estudos de viabilidade para a
implantação e pavimentação da rodovia federal BR-135/MG, entre os municípios de Manga/MG e
Itacarambi/MG.

2. – ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo compreende o norte do estado de Minas Gerais, entre os municípios de


Manga e Itacarambi, na diretriz da rodovia federal BR-135/MG (km 88,7 ao km 139,2), no contexto
da margem esquerda do rio São Francisco, sendo fortemente condicionada pelo arcabouço
geológico. Na área, as altitudes variam de cerca de 750m no planalto e cerca de 440m no canal do
Rio São Francisco (Figura 1).

GEOSUL 2017 – XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul 2


Figura 1. Localização do eixo da rodovia e geologia regional.

3. – MATERIAL E MÉTODOS

Os trabalhos foram realizados em etapas de escritório e de campo. As etapas de escritório


serviram para definição da área de estudo a partir de um imageamento com um Veículo Aéreo Não
Tripulado (VANT) e fotointerpretação. As etapas de campo corresponderam ao levantamento
geológico para reconhecimento das feições das estruturas geológicas mapeadas na etapa anterior
e que estivessem associadas ao desenvolvimento de possíveis “dolinamento”, e de um
levantamento geofísico em pontos pré-determinados para a averiguação de anomalias no subleito
do corpo estradal.
O procedimento metodológico empregado na elaboração do presente trabalho encontra-se
descrito na Figura 2 e nos respectivos subitens.

Fotointerpretação Levantamento
Levantamento Análise dos Considerações e
do imageamento geológico de
geofísico resultados Recomendações
com VANT campo

Figura 2. Sequência metodológica realizada na identificação de áreas cársticas e mitigação de


passivos ambientais em um empreendimento linear.

GEOSUL 2017 – XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul 3


3.2.1 – Fotointerpretação do imageamento com VANT

De modo a sanar possíveis problemas oriundos da qualidade espacial das imagens de satélite
disponíveis e da defasagem temporal especificamente para a área de estudo, além de minimizar
distorções angulares que interferem na resolução da imagem utilizou-se um VANT (Figura 3) para
a coleta de fotografias aéreas de alta resolução. No que se refere ao processamento digital das
imagens, seguiu-se a metodologia proposta por Luz e Antunes (2015), com a construção de um
modelo 3D através do software Agisoft PhotoScan, exportando o modelo digital de superfície (MDS)
e a ortofoto, integrando-a com um SIG para a fotointerpretação.

Figura 3. Equipamentos e técnicas utilizadas na fotointerpretação. Esquerda:


Plataforma VANT, modelo Smartbird X-260. Direita: aquisição e posição das
fotografias aéreas com o VANT e geração da ortofoto.

A fotointerpretação permitiu também a visualização de feições de relevo com potencial de


risco ao longo da faixa de domínio e áreas adjacentes da rodovia. A análise espacial integrada
permitiu identificar a natureza dessas feições, bem como as possíveis áreas com alta
susceptibilidade de ocorrência de acidentes de natureza geológico-geotécnica.

3.2.2 – Levantamento geológico de campo

O levantamento geológico de campo identificou as estruturas mapeadas na fotointerpretação,


principalmente aquelas associadas ao desenvolvimento de dolinas calcárias em até 250m para cada
lado do eixo da rodovia. O levantamento foi realizado através de caminhamento prospectivo para a
investigação detalhada das estruturas geológicas. Após a verificação de campo foi possível
identificar os locais onde deveria ser empregado método geofísico de investigação do subleito
estradal.

3.2.3 – Levantamento geofísico (gravimetria)

A prospecção gravimétrica tem como princípio a medição da aceleração gravitacional em


pontos na superfície da terra e permite avaliar a presença vazios em subsuperfície, quando se
verifica um valor de baixo gravimétrico decorrente da diminuição da densidade aparente da rocha.
Os vazios preenchidos por água ou argila (dolinas, fraturas), também diminuem a densidade
aparente da rocha, traduzindo em baixos gravimétricos.
O levantamento geofísico foi realizado em locais pré-identificados na etapa anterior do
levantamento geológico de campo, onde se buscou o reconhecimento detalhados das estruturas

GEOSUL 2017 – XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul 4


mapeadas na fotointerpretação, que estivessem associadas ao desenvolvimento de dolinas
calcárias. O método empregado foi o das poligonais gravimétricas fechadas, também denominado
de Método Gravimétrico Relativo, com o qual é possível a obtenção de anomalias da gravidade que
permitem a medição do contraste de densidade entre os meios em subsuperfície.
Assim, o objetivo desta etapa foi de detectar a presença de dolinas e vazios gravimétricos,
preenchidos ou não por sedimentos e água, por meio de representações de anomalias gravimétricas
e, ainda, oferecer informações geofísicas auxiliares na interpretação geológica da área de estudo.
Para realização desta etapa foram realizadas as seguintes atividades:
a) Transporte de base gravimétrica a partir de uma estação pertencente à Rede
gravimétrica do Sistema Geodésico Brasileiro, para duas Estações Gravimétricas
materializadas nas áreas de interesse. O transporte foi efetivado da estação base para
as estações da área de interesse com fechamento na estação base;
b) Nos levantamentos gravimétricos realizados ao longo da rodovia partiu-se das
estações implantadas nas áreas de interesse para os pontos de perfilamento. Esse
levantamento foi diário e teve início e fechamento em uma destas estações;
c) Levantamento gravimétrico executado em perfis com extensão variada, espaçados de
25 metros na primeira área e 50 metros na segunda área, totalizando 89 estações e
3.030 metros de comprimento;
d) Levantamento de coordenadas geodésicas das estações com uso de receptores
GNSS, método diferencial RTK, concomitante com o levantamento Gravimétrico;
e) Geração, modelagem e interpretação de mapas de anomalias gravimétricas.

Figura 4. Equipamentos e técnicas utilizadas na


fotointerpretação. Esquerda: gravímetro utilizado para a
aquisição dos dados. Direita: levantamento de coordenadas
geodésicas com uso de receptores GNSS, método diferencial
RTK.

4. – RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base nas análises das informações geológica, geomorfológica, hidrogeológica e da


fotointerpretação da área de estudo foram definidos 39 (trinta e nove) “alvos” com características
de feições circulares associadas a possíveis processos de dissolução química do substrato rochoso,
distantes a menos de 100 metros do eixo da rodovia.
Os “alvos” averiguados constituíram feições típicas de superfície aplainada, retocada,
inumada ou conservada, originadas durante fases sucessivas de erosão do Rio São Francisco, sem,
no entanto, perder suas caraterísticas de aplanamento. Estas características geram sistemas de
planos inclinados e, em alguns locais, levemente côncavos com afloramento do lençol freático, até
a formação de pequenas lagoas, zonas alagadas ou, ainda, áreas úmidas circulares, as quais Piló

GEOSUL 2017 – XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul 5


(2000) denominou de dolinas aluvias ou de subsidências, em locais de cobertura detrítica (Figura
5).

Figura 5. Exemplo de fotointerpretação com imageamento via VANT e averiguação in loco dos “alvos” de
interesse, situados a distâncias inferiores à 100m do eixo da rodovia.

No entanto, algumas dessas feições observadas em campo estavam associadas à rede de


drenagens intermitentes que se fecham a jusante, com a ocorrência aparente de sumidouro. Nesses
locais geralmente ocorrem solos argilosos férteis derivados do intemperismo das rochas calcárias,
levando uma maior exuberância da vegetação e dando impressão de tratar-se de dolina no
imageamento aéreo.
O levantamento geofísico foi realizado em áreas nas quais foram identificadas feições
cársticas, identificadas nas etapas anteriores, no eixo de implantação da rodovia. Os principais
resultados obtidos indicaram a presença de zonas frágeis, com presença de rochas fragmentadas
(baixos gravimétricos), características de vazios preenchidos por sedimentos e água em regime de
fluxo variável.
A Figura 6 representa as Anomalias Gravimétricas de Bouguer indicando as tendências
regionais, destacando as rochas do embasamento com densidades mais elevadas (cores em
vermelho) e grande comprimento de onda, contrastando com fontes de menor densidade (cores em
verde e azul).
A Figura 7 ilustra os resultados gravimétricos do trecho ao sul da rodovia, próximo ao
município de Itacarambi, que sobrepõe áreas com afloramentos de calcário. Os resultados
indicaram a presença de pequenos vazios com diâmetros menores que um metro em toda a
extensão, onde ocorrem afloramentos de calcário com fragilidade geotécnica susceptível a colapso.
Constatou-se no levantamento em campo que o terreno ao longo da rodovia é relativamente
plano, corroborando os levantamentos geofísicos que apontaram para a improbabilidade da
ocorrência de cavidades de grande porte (sem entrada conhecida, ou seja, cavernas oclusas) sob
o eixo da estrada, o que poderia provocar abatimentos superficiais. Esta constatação deve-se ao
fato de que, devido à proximidade com o rio São Francisco, eventuais cavernas na planície de
inundação estariam na zona freática, preenchidas por água, o que vem a conferir boa estabilidade
estrutural às mesmas. A ausência de feições de abatimento ao longo da estrada evidencia o
pequeno potencial em relação a este tipo de processo.
Assim, embora os fenômenos geológicos cársticos identificados na área de estudo ocorram
em períodos temporais bem maiores que a própria vida útil da rodovia, têm-se que para a

GEOSUL 2017 – XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul 6


viabilização de empreendimentos lineares, como rodovias em geral, deve-se atentar para o
cumprimento da legislação ambiental pertinente, a qual relata a necessidade de se verificar os
impactos da pavimentação em cavidades naturais e uma possível adequação do traçado com o
objetivo de resguardar às suas áreas de proteção. Neste caso, obedecendo os preceitos ambientais,
sugere-se a confecção de um sistema de drenagem que determine o escoamento das águas
superficiais de forma rápida, a fim de minimizar a infiltração em solo visto que o fluxo de água em
subsuperfície acelera o processo de dissolução ou a erosão interna.

Figura 6. Levantamento geofísico (gravimetria) para detecção de cavidades. Superior: Ilustração


gravimétrica geral das anomalias de Bouguer, sentido Manga-Itacarambi. Inferior: detalhamento em uma
região específica com baixo gravimétrico (pequenos vazios).

Figura 7. Exemplo de fotointerpretação com imageamento via VANT e averiguação in loco dos alvos de
interesse, situados a distâncias inferiores à 100m do eixo da rodovia.

5. CONCLUSÕES

O objetivo deste artigo foi apresentar um estudo e sua metodologia para detectar a presença
de estruturas geológicas associadas ao relevo cárstico regional, caracterizado por dolinas e
eventuais cavernas, preenchidas ou não por sedimentos e/ou água, através de mapas de anomalias
gravimétricas e levantamentos geológicos. O estudo realizado teve o objetivo de avaliar a

GEOSUL 2017 – XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul 7


possibilidade de se manter a posição prevista para eixo do leito estradal da rodovia com base nos
riscos de instabilização do maciço carbonático e viabilizar a execução da rodovia.
As dolinas de subsidências ou aluviais ou depressões interfluviais que ocorrem ao longo de
todo o eixo da rodovia, sendo que em alguns casos estão posicionadas no próprio eixo da mesma,
certamente evoluíram em decorrência de eventos pluviométricos e dos respectivos níveis freáticos.
Tratam-se de feições cársticas rasas e apresentam baixas declividades em suas bordas
colmatadas, marcando níveis de oscilação das águas provenientes de precipitações pluviométricas,
variações de rios ou dos níveis freáticos que ali ocorrem. Através dos resultados obtidos não foram
observados impactos significativos dessas feições na estrada existente, tampouco desta em relação
à elas. No entanto, é possível que a impermeabilização do solo e uma eventual mudança no
posicionamento das drenagens da rodovia alterem um pouco a dinâmica natural de evolução dessas
feições.
Por fim, as técnicas de fotointerpretação a partir do imageamento com VANT deram maior
celeridade às atividades e otimizaram os levantamentos geológicos e geofísicos realizados à
posteriori. O levantamento geofísico, por sua vez, foi executado com as técnicas e níveis de
precisão que garantiram a qualidade dos resultados obtidos, fazendo com que a interpretação dos
destes resultados viabilizasse a execução do empreendimento rodoviário.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e ao


Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura (ITTI) pelo fornecimento da base de dados do
estudo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Karmann, I. Evolução e dinâmica atual do sistema cárstico do alto vale do rio Ribeira de Iguape,
sudeste do estado de São Paulo. 228 f. Tese de Doutoramento – Instituto de Geociências,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1994.
Ford, D.C.; Williams, P.W. Karst geomorphology and hidrology. United Kingdom: Wiley, 2007.
Godinho, L.P.S; Pereira, R.G.F.A. Caracterização geomorfológica preliminar do sistema cárstico do
rio João Rodrigues, São Desidério – BA. In: Anais do 32º Congresso Brasileiro de Espeleologia
Barreiras-BA, 2013.
Luz, C.C; Antunes, A.F.B. Validação da tecnologia Vant na atualização de cases de dados
cartográficos geológicos – Estudo de Caso: Sistema Cárstico do Rio João Rodrigues. Revista
Brasileira de Cartografia, Rio de Janeiro, no 67/7, p. 1439-1452. Nov/dez 2015.
Piló, L.B. Geomorfologia cárstica. Revista Brasileira de Geomorfologia. Volume 1, no 1 (2000] 38-
102. Disponível em: http://www.ugb.org.br/home/artigos/RBG_01/Artigo09_ RBG_2000.pdf.
Acessado em: 02/05/2017.
Travassos, L.E.P. Considerações sobre o carste da região de Cordisburgo, Minas Gerais, Brasil.
Belo Horizonte: Tradição Planalto, 2010. 102 p. Disponível em: ISBN 978-85-99361-17-7.

GEOSUL 2017 – XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul 8


UTILIZAÇÃO DA PROSPECÇÃO GEOFÍSICA PARA A
CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL GEOMECÂNICO EM EMBOQUES DE
TÚNEIS: ESTUDO DE CASO EM PROJETO DE TÚNEL FERROVIÁRIO

Juliano Augusto Nietiedt1; Diones Uiliam Barboza2, André Luiz Hebmuller3; Rodrigo Tusi Costa4

Resumo: Este trabalho apresenta um estudo de caso da aplicação da prospecção geofísica,


concomitantemente com sondagens mecânicas, na caracterização do perfil geomecânico em área
estudada para a implantação do emboque de um túnel ferroviário, localizado na cidade de
Garopaba, no estado de Santa Catarina. A adequada identificação do perfil rochoso e sua
influência nas análises de estabilidade, projeto de contenção e definição dos quantitativos de
escavação em materiais de 1ª, 2ª e 3ª categorias são abordados. Os levantamentos feitos
utilizando os métodos Eletrorresistividade e Sísmica de Refração, aplicando as técnicas de
Imageamento Elétrico Bidimensional - IE2D e Tomografia por Refração Sísmica - TRS,
respectivamente, confrontados com as sondagens SPT e Rotativas, se mostraram ferramentas
eficientes na decisão do modelo geomecânico adotado, permitindo um melhor conhecimento da
região, além de projetos mais detalhados e acurados.

Abstract: This paper presents a case study of geophysical survey application, concomitantly with
mechanical soil surveys, used for geomechanical profile characterization in an area studied for a
railway tunnel portal implementation, situated in Garopaba, state of Santa Catarina. An appropriate
identification of rock surface and your influence in slope stability analysis, retaining structures
design and materials excavation evaluation are reported. The surveys done by Electrical
Resistance and Refraction Seismic methods, applying the Geoelectrical Imaging and Refraction
Seismic Tomography techniques, respectively, compared with Standard Penetration Test and
Rotary Drilling, have proved to be efficient tools for the decision of the geomechanical model
adopted, providing a better site characterization, as well as more detailed and accurate projects.

Palavras-chave: Emboque de túneis; levantamentos geofísicos; projeto de contenções.

1
Eng., Mestrando MSc., MAGNA ENGENHARIA LTDA, (51) 98104.7064, juliano.nietiedt@magnaeng.com.br
2
Téc., Acadêmico Eng., MAGNA ENGENHARIA LTDA, (51) 2104.0389, diones.barboza@magnaeng.com.br
3
Eng., MSc., MAGNA ENGENHARIA LTDA, (51) 2104.0379, andre.hebmuller@magnaeng.com.br
4
Geól., MSc., AFC GEOFÍSICA, (51) 3013.0024, rodrigo@afcgeofisica.com.br

XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul 1


1. INTRODUÇÃO
A adequada caracterização do perfil geomecânico em locais de emboques de túneis é de
fundamental importância, tendo em vista as dificuldades de execução e riscos associados a esse
tipo de obra. As investigações tradicionais, através de furos de sondagem, dão informações
pontuais e sua extrapolação para a definição do perfil geológico/geotécnico implica em elevado
grau de incerteza. Os planos de escavações necessários para a implantação das obras muitas
vezes podem ocasionar situações desfavoráveis, face às condições geológicas existentes,
tornando necessária a previsão de grandes obras de contenções (SILVA, 2010). Grandes obras
demandam altos investimentos, o que confere a necessidade de minimizar eventuais incertezas
de projeto. A utilização de métodos de prospecção que possibilitem obter com maior precisão as
características geológicas/geotécnicas dos locais estudados permitem projetos mais detalhados e
acurados no que diz respeito à segurança e custo da obra.
A utilização de sondagens geofísicas, concomitantemente com sondagens mecânicas, têm
mostrado vasta aplicação em estudos preliminares de obras de grande porte, como por exemplo
barragens e túneis (SOUZA & GANDOLFO, 2012). O desenvolvimentos desses métodos nos
últimos anos tem apresentado resultados relevantes, representando as características geológicas
do subsolo com maior qualidade e precisão (COSTA et al, 2014).
Este trabalho apresenta uma aplicação da prospecção geofísica, por Eletrorresistividade e
Sísmica de Refração, na determinação do perfil geomecânico e projeto de contenção do emboque
de um túnel ferroviário no estado de Santa Catarina.

2. CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO EM ESTUDO


O emboque estudado situa-se na porção litorânea do estado de Santa Catarina, às margens
da BR-101 na cidade de Garopaba. No mapeamento preliminar de campo, realizado pela equipe
projetista, pôde-se observar que a geologia da região é marcada por maciços graníticos com
manto de alteração com cerca de 10 à 15 m, formando matacões de rocha em toda sua extensão.
O emboque do túnel fica próximo à região de contato entre rochas granitoides distintas, junto aos
quais são normais feições de descontinuidades físicas ou heterogeneidades petrográficas. A
hidrogeologia mostrou que o lençol freático é superficial na região, o que foi confirmado pelas
investigações geotécnicas. Devido ao grande corte necessário ao projeto geométrico da ferrovia e
a proximidade com a Rodovia BR-101, uma Cortina Atirantada com 24 m de altura foi projetada. A
Figura 1 apresenta o perfil esquemático do mapeamento preliminar realizado na área estudada.

Figura 1. Caracterização preliminar da área de implantação do emboque

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3. INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS
O plano de sondagem foi elaborado seguindo as diretrizes de Especificação de Projeto 80-
EG-000A-290000: Estudo Geotecnológico da VALEC (s.d.). No que diz respeito às sondagens
mecânicas, foram executadas duas sondagens rotativas mistas e uma sondagem de simples
reconhecimento na região do emboque, as quais serviram de subsídio para a calibração e
interpretação das geofísicas e obtenção dos parâmetros de resistência do solo.
Para o levantamento geofísico, foram executadas quatro linhas de prospecção, uma
longitudinal e três transversais ao eixo do túnel, utilizando os métodos de Eletrorresistividade e
Sísmica de Refração. A localização das sondagens está apresentada na Figura 2.

Figura 2. Localização das sondagens executadas na área de implantação do emboque

4. PROSPECÇÃO GEOFÍSICA
4.1. O MÉTODO DA ELETRORRESISTIVIDADE
Este método mede a variação da resistividade elétrica dos solos e rochas em subsuperfície
através dos sinais emitidos e coletados por eletrodos instalados no terreno. A resistividade elétrica
de materiais rochosos depende basicamente de parâmetros como porosidade, saturação,
resistividade da água subterrânea e fração argilosa (COSTA et al, 2014).
A técnica aplicada foi a de Imageamento Elétrico Bidimensional - IE2D, que mede tanto a
variação lateral quanto em profundidade da resistividade elétrica, obtendo grande número de
dados, tornando possível a geração de uma seção 2D da variação de resistividade elétrica
aparente do terreno.
COSTA, R.T. & COSTA, A.F.U. (2015) descrevem que os valores de resistividade aparente
são transformados em resistividades verdadeiras através de softwares de inversão, que permitem
obter modelos em profundidades verdadeiras com maior precisão. Maiores detalhes sobre o
método podem ser encontrados em LOKE, M.H. & BARKER, R.D. (1996).

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4.2. MÉTODO DA SÍSMICA DE REFRAÇÃO
Os métodos sísmicos se valem das propriedades elásticas dos solos e rochas. Através da
propagação de ondas sísmicas, essas propriedades são avaliadas permitindo identificação de
diferentes estratos litológicos em profundidade (COSTA et al., 2014).
A técnica da Tomografia por Refração Sísmica - TRS pode utilizar tanto fontes de ondas
naturais, como terremotos, ou fontes artificiais, como explosivos ou marretas. Geofones são
instalados na superfície do terreno e as medições ocorrem utilizando as distância entre eles até a
fonte geradora, e o tempo necessário à chegada dessa onda, possibilitando determinar a
velocidade média de propagação. Dessa forma é possível mapear zonas de alta e baixa
velocidade e compor uma seção 2D. A partir da interpretação dos resultados é possível traçar
correlações entre as velocidades de propagação do ensaio e as conhecidas dos materiais.

5. RESULTADOS
Os resultados obtidos com o cruzamento dos métodos consistem basicamente na
caracterização do substrato rochoso, através da determinação das espessuras dos materiais que
compõem as camadas litológicas (solo, rocha muito decomposta, rocha decomposta e rocha
pouco decomposta), com definição do contorno do topo da rocha sã, além da detecção de zonas
de falhas e/ou fraturas. Esses resultados tem impacto direto nas análises de estabilidade e projeto
de contenção.

5.1. DETERMINAÇÃO DO PERFIL GEOLÓGICO/GEOTÉCNICO


A determinação do Perfil Geológico/Geotécnico foi possível devido à interpretação de dados
extraídos dos resultados das sondagens mecânicas e geofísicas, assim como dados coletados no
mapeamento preliminar de campo realizado pela equipe técnica envolvida no projeto. O SPT 2S
atingiu o impenetrável na profundidade de 2 m, parando em possível matacão de rocha. As
Rotativas SRM-07 e SRM-08 foram executadas avançando cerca de 5 m abaixo do greide da
ferrovia, chegando à 18,5 e 24 m respectivamente, transpassando blocos e matacões de rocha,
entretanto sem encontrar rocha sã. A Figura 3 apresenta os testemunhos das sondagens rotativas
mistas SRM-07 e SRM-08:

Figura 3. Testemunhos das sondagens SRM-07 e SRM-08

XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul 4


Na Figura 4 estão apresentados os resultados da prospecção geofísica e a localização das
sondagens mistas (SPT e Rotativa), executadas ao longo do eixo projetado da ferrovia, onde as
distâncias correspondem à quilometragem do projeto. Observa-se que há uma camada superior
de alta resistividade (300 até 2500 ohm.m) sobreposta a uma camada de baixa resistividade (50 a
150 ohm.m), representando solos e rocha muito decomposta seca sobre rocha pouco decomposta
úmida (Figura 4.a). Entretanto, utilizando apenas esse método não foi possível determinar o local
de contato entre a rocha pouco e muito decomposta. Devido a isso, o método da Sísmica de
Refração também foi executado, tornando possível a caracterização do topo rochoso (Figura 4.b),
proporcionando subsídios mais claros para a interpretação dos resultados, gerando como
resultado final o modelo geológico apresentado na Figura 4.c. Pode-se observar pelos resultados
das sondagens mecânicas que de fato há uma camada superficial de solo seco, passando para
solo/alteração de rocha úmida, em que existe a presença de matacões de rocha, confirmando as
previsões das geofísicas.

Figura 4. Resultado das sondagens geofísicas – Linha Longitudinal

É importante salientar que somente pelas sondagens mecânicas, entretanto, não seria
possível definir o topo rochoso, devido às grandes incertezas fornecidas por dados pontuais.
Assim, através da combinação de todas as técnicas e sondagens executadas, definiu-se o perfil
geológico/geotécnico da região do emboque do túnel. Pode-se perceber que no exato local do
emboque o topo rochoso sobe, indicando que a seção de escavação será mista entre solo e
rocha. Mais adiante, cerca de 150 m do emboque (Figura 4.c), a seção passa a estar totalmente
XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul 5
embutida em rocha sã. Na Figura 5 são apresentados apenas os modelos geológicos finais das
linhas transversais onde se constata que a rocha sã está de fato muito profunda na região anterior
ao emboque.

Figura 5. Resultados do Modelo Geológico– Linhas Transversais

5.2. PROJETO DE CONTENÇÃO DOS TALUDES LATERAIS


A Cortina Atirantada foi a solução adotada para a contenção dos taludes laterais do
emboque devido às restrições de espaço e preocupações com a proximidade da Rodovia BR-101,
que poderia ser afetada por movimentações e recalques ocasionados pelas escavações. Na
Figura 6 é apresentada a análise de estabilidade feita com o auxílio do software SLOPE/W,
desenvolvido pela GEO-SLOPE International, para ambos os lados da cortina, seguindo o método
de Morgenstern-Price (MORGENSTERN & PRICE, 1965) por ser considerado mais Rigoroso
(WHITMAN et al.,1967). A seção escolhida para a análise foi a que apresentou condição mais
desfavorável no projeto planialtimétrico e no modelo geomecânico adotado com base nos
resultados das sondagens. Devido à confirmação da prospecção geofísica de que o topo rochoso
estaria muito profundo, tirantes de 24 m e 36 m, com bulbo em alteração de rocha, foram
projetados para garantir FS > 1,5. DHP’s de 20 m de comprimento foram indicados para aliviar as
poropressões incidentes no tardoz da contenção, rebaixando assim o elevado NA da região.
Outro aspecto importante a se observar é a presença de escavação em rocha nos
quantitativos de projeto e, consequentemente, no custo de implantação da obra do túnel. Com a
XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul 6
utilização das Seções do Modelo Geológico, decorrentes da interpretação dos resultados obtidos
pelos métodos Eletrorresistividade e Sísmica de Refração, foi possível determinar com maior
clareza quais os locais em que o túnel seria escavado em solo e rocha, permitindo a quantificação
mais precisa das escavações em materiais de 1ª, 2ª e 3ª categorias.

Figura 6. Resultado da Análise de Estabilidade dos Taludes Laterais

6. CONCLUSÕES
Os resultados obtidos pela prospecção geofísica, conjuntamente com sondagens
mecânicas, mostraram o grande potencial que essas ferramentas tem na identificação do topo
rochoso e zonas de rocha muito alterada em profundidade. A técnica de Eletrorresistividade
indicou a presença de rocha muito alterada, seguido de rocha sã na região do emboque,
entretanto somente com a aplicação do método de Refração Sísmica essa informação pôde ser
confirmada.
O perfil geológico/geotécnico obtido através de todas as investigações executadas foi
fundamental na determinação do modelo geomecânico adotado para o dimensionamento da
cortina e comprimento de tirantes.
As linhas de geofísica executadas transversalmente ao eixo confirmaram a expectativa de
rocha muito profunda, o que foi determinante nas análises de estabilidade.
A aplicação das técnicas de Imageamento Elétrico Bidimensional - IE2D e Tomografia por
Refração Sísmica - TRS permitiram uma quantificação mais precisa dos volumes de escavação
em materiais de 1ª, 2ª e 3ª categorias.
As técnicas aplicadas neste trabalho, apesar de não serem novidade, mostram a
potencialidade da prospecção geofísica, aliadas às sondagens mecânicas, no melhor
conhecimento do subsolo, garantindo maior confiabilidade e acurácia na elaboração de projetos.

REFERÊNCIAS
SILVA, J.C.B.J.de. (2010). Comportamento de Emboques de Túneis em Solos Residuais. Tese de
Doutorado, Publicação G.TD-065/2010, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
Universidade de Brasília, Brasília, DF, 346 p.

XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul 7


SOUZA, L.A.P., & GANDOLFO, O.C.B. Métodos Geofísicos em Geotecnia e Geologia Ambiental.
Revista Brasileira de Geologia e Engenharia Ambiental, v. 2, n. 2, p. 10-27, maio, 2012.

COSTA, A.F., COSTA, R.T, ILHA, L.M. Geofísica de Alta Resolução Aplicada ao Estudo de
Maciços Rochosos, em Projeto de Construção de Túnel. In: VI Simpósio de Geofísica Brasileira,
6., 2014, Porto Alegre.

VALEC–Engenharia, Construções e Ferrovia S/A. Ministério dos Transportes. Especificação de


Projeto 80-EG-000A-290000: Estudo Geotecnológico.s.n.t. 37p.

COSTA, R.T. & COSTA, A.F.U. Imageamento Elétrico 2D Aplicado a Projetos de Túneis e
Barragens: Estudos de Casos em Áreas de Ocorrência de Rochas Basálticas e Graníticas. In: 15º
Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia Ambiental. 2015, Bento Gonçalves.

LOKE, M.H. & BARKER, R.D., 1996. Rapid Least-Squares Inversion of Apparent Resistivity
Pseudosections Using a Quasi-Newton Method. Geophysical Prospecting.44: 131-152.

MORGENSTERN, N. R. & PRICE, V. E. (1965), The Analysis of The Stability of General Slip
Surface, Geotechnique, v.15, n.1, p. 79-93.

WHITMAN, R.V.; BAILEY, W.A. Use of Computers for Slope Stability Analisys. Proc. Journal of the
Soil Mechanics and Foundation Division, ASCE, v. 93, n. SM4, p. 475-498, 1967.

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ESTUDO DO EFEITO DA ADIÇÃO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO EM SOLO ARGILOSO PARA PAVIMENTAÇÃO DE BAIXO
TRÁFEGO

Eclesielter Batista Moreira1; Jair de Jesús Arrieta Baldovino2; Ronaldo Luis dos Santos Izzo3;
Felipe Perretto4; Wagner Teixeira5

Resumo
Os agregados de resíduos reciclados de construção civil (RCC) são aqueles provenientes de
construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil e os resultantes da
preparação e da escavação de terrenos. A utilização destes RCC na construção constitui um passo
significativo, haja vista que se minimiza o uso de recursos não renováveis, bem como possibilita a
utilização de resíduos, criando uma nova oportunidade de mercado a ser explorada. Nos últimos anos,
vários estudos a respeito da utilização de RCC em aplicações geotécnicas emergiram, tais como
materiais de enchimento e em camadas de pavimento. A presente pesquisa objetiva investigar os
efeitos do RCC quando é incorporado a um solo argiloso da formação Guabirotuba (localizada na
cidade de Curitiba e região metropolitana). Esta pesquisa foi composta de ensaios laboratoriais,
visando o aproveitamento deste RCC em construção de bases e sub-bases para pavimentos. Os
ensaios utilizados na etapa experimental foram os de caracterização, índices físicos, compactação e
CBR (na condição imersa). Os resultados mostram que a adição de RCC ao solo da formação
Guabirotuba melhoram as propriedades mecânicas das misturas propostas na pesquisa e possibilita a
utilização do RCC para camadas granulares de pavimento.
Palavras-chave: solo, RCC, ensaio CBR.

Abstract
Aggregates of recycled civil construction waste (CCW) are those from construction, refurbishment,
repairs and demolitions of civil construction and those resulting from the preparation and excavation of
soil. The use of these CCWs in construction is a significant step, since the use of non-renewable
resources is minimized, as well as the use of waste, creating a new market opportunity to be explored.
In recent years, several studies on the use of CCW in geotechnical applications have emerged, such as
fillers and pavement layers. The present research aims to investigate the effects of CCW when it is
incorporated into a clay soil of the Guabirotuba formation (located in the city of Curitiba and surrounding
regions). This research was composed of laboratory tests, aiming the use of this CCW in the
construction of bases and sub-bases for pavements. The tests used in the experimental phase were
those of characterization, physical indexes, compactio and CBR test (in the immersed condition). The
results show that the addition of CCW to the soil of the Guabirotuba formation improves the mechanical
properties of the mixtures proposed in the research and allows the use of CCW for granular layers of
pavement.
Keywords: soil, CCW, CBR test.

1
Eng. Civil, UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 91 992723167, eclesielter_ebm@hotmail.com
2
Eng. Civil, UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 41 997074797, yaderbal@hotmail.com
3
Prof. Dr., UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 41 992560977, izzo@utfpr.edu.br
4
Téc. de Laboratório, UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 41 996963667, fperretto@utfpr.edu.br
5
Eng. Civil, UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 41 996569926, teixeira.wagner@hotmail.com
1
XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul
1 - INTRODUÇÃO

A utilização de Resíduos de Construção Civil (RCC) pode ser uma alternativa interessante aos
materiais convencionalmente utilizados, para promover um aumento na oferta de vias pavimentadas
nos grandes centros urbanos ou mesmo nas cidades de médio porte brasileiras, caracterizadas
principalmente pelo baixo volume de tráfego. O principal atrativo dos agregados reciclados é o aspecto
econômico, pois estes materiais normalmente são vendidos por preços inferiores aos dos granulares
tradicionalmente empregados em pavimentação, além de promover a diminuição do impacto ambiental.
Pesquisas sobre reciclagem de RCC são realizadas em outros países há tempos. A primeira
abordagem à reciclagem de pavimentos surgiu após a 2ª Guerra Mundial, pela necessidade de
recuperar infraestruturas, aplicado no Reino Unido um processo de reaproveitamento chamado
“Retread Process”, ou processo de recauchutagem; que posteriormente na década de 1970 é
largamente atualizado na cultura norte americana (BAPTISTA, 2006).
A necessidade de reconstruir cidades destruídas durante guerras e devido às catástrofes
naturais levou ao desenvolvimento de técnicas de reciclagem do RCC e aplicação na produção de
artefatos, pavimentação e em serviços de construção nos Estados Unidos, Japão e Europa. No Japão,
dois terços do resíduo de concreto demolido já são utilizados para pavimentação de rodovias, e na
Europa que é onde mais se usa reciclado em pavimentação, pois há uma compreensão de que se deve
reservar os agregados naturais para usos mais nobres, como concreto de alta resistência, concreto
protendido, etc. (LIMA, 1999; LEITE, 2001).
O setor público é o grande consumidor de agregados para pavimentação, com um consumo de
cerca de 50 milhões de toneladas por ano. Nesse total se incluem os agregados utilizados para
infraestrutura urbana. Esse setor, no entanto, não pode consumir toda a produção potencial de
agregados de RCC reciclados, tanto no Brasil quanto na Europa, onde se estima que a pavimentação
seja capaz de absorver em torno de 50% da massa total do RCC (JOHN et al., 2006). Destaca-se
também a utilização crescente de resíduo de construção civil em locais onde são ausentes agregados
de origem pétrea, como forma de reduzir os problemas ambientais de disposição destes resíduos
(FERNANDES, 2004).
Em qualquer técnica de aproveitamento de materiais oriundos de reciclagem é fundamental a
realização de estudos preliminares, contemplando principalmente aspectos da geometria do
pavimento, à natureza e modos em que se realizará a manutenção necessária durante o período de
vida útil do pavimento, a caracterização dos materiais reciclados, a espessura de intervenção utilizada
como base e a delimitação de teores da mistura final dos materiais a aplicar para o tipo de pavimento.
(MOREIRA, 2005). Dessa forma, esse estudo delimita tais aspectos para a utilização de RCC em solos
argilosos em construção de bases e sub-bases para pavimentos.

2 - PROGRAMA EXPERIMENTAL

2.1 – MATERIAIS

2.1.1 – Solo
O solo utilizado para o estudo foi coletado em uma obra próximo à cidade de Curitiba, no
município de Fazenda Rio Grande (PR), em um local de construção de casas populares com
localização geográfica 25°41'03.9"S e 49°18'32.5"W. Foi escolhido a terceira camada da formação
Guabirotuba, o qual é composto por 35,5% de argila (< 0,002 mm), 39,5% de silte (0,002 a 0,075 mm)
e 25% de areia fina (0,074 a 0,42 mm). A Figura 1 mostra a curva granulométrica do solo. A umidade
higroscópica encontrada do solo in situ é próxima a 40%.

2
XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul
Figura 1. Curva Granulométrica do Solo

Mostra-se na Tabela 1 as propriedades físicas do solo. Foram realizados ensaios para


determinar os limites de liquidez e plasticidade; o solo apresenta um limite de liquidez alto (53,1%), tal
qual o índice de plasticidade indica que a argila é altamente plástica com 21,3% (IP>15), demonstrado
na Tabela 1. A partir da granulometria e do resultado dos índices físicos, foi realizado a classificação
do solo, segundo o Sistema Unificado de Classificação de Solo – SUCS – sendo classificado como
uma argila grossa arenosa e, segundo o Sistema de Classificação HRB, o solo é A-7-6 (solo argiloso).
Tabela 1. Propriedades físicas do solo.
Valores
Propriedades Físicas
Médios
Peso especifico real dos grãos, Gs 2,71
Areia fina 25%
Silte 39,5%
Argila 35,5%
Limite de liquidez, LL 53,1%
Limite de plasticidade, LP 31,8%
Índice de plasticidade, IP 21,3%

2.1.2 – RCC
O resíduo de construção civil utilizado foi coletado na usina de reciclagem da cidade de
Almirante Tamandaré, Região metropolitana de Curitiba. O tipo de resíduo escolhido é misto, ou seja,
composto por resíduos cinzas (concreto, argamassas, etc.), vermelhos (cerâmicos) e brancos (cal,
gesso, etc.). Foram escolhidas duas granulometrias de RCC: areia (material ≤ 4,8mm) e pedrisco
(material ≤ 19,1mm); sendo realizada a granulometria do RCC, representada na Figura 2:

3
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100
90 AREIA
80
PEDRISCO

% Passante
70
60
50
40
30
20
10
0
0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro (mm)
Figura 2. Curva Granulométrica do RCC

A Tabela 2, mostra algumas propriedades do RCC coletado:

Tabela 2. Propriedade do RCC. Fonte: USIPAR, 2003.


Pedrisco Areia
Propriedade Valores Propriedade Valores
Sulfatos < 1% Sulfatos < 1%
Teor de fragmentos à base de > 90% Teor de combinantes > 3%
cimento e rocha
Cloretos < 1% Cloretos < 1%
Materiais não minerais < 2% Materiais não minerais < 2%
Absorção de água < 8% Absorção de água < 13 %
Torrões de argila < 2% Torrões de argila < 2%
Teor máximo de material < 10% Teor máximo de material < 13%
passante na malha 75μm passante na malha 75μm

Densidade natural Kg/m3 1.384 Densidade natural 1.323


Kg/m3

2.1.3 – Água
A água empregada tanto para os ensaios de caracterização do solo, quanto de Proctor Normal
e de Indice de Suporte Califórnia – ISC – foi destilada conforme as especificações das normas,
enquanto está livre de impurezas e evita as reações não desejadas.

2.2 – MÉTODOS

2.2.1 – Ensaios de pH
Para a das misturas de solo com o RCC se teve que definir qual é a influência da RCC no solo,
e observar se o mesmo reagiria, conforme a Figura 3:

4
XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul
Figura 3. Variação do pH com as diferentes misturas de RCC.

Observa-se que com o aumento do teor de RCC, o pH do solo aumenta, tornando-se neutro
com M1 e básico a partir de M2.

2.2.2 – Dosagem das misturas


Foi realizado uma estabilização granulométrica para determinar o teor ótimo da mistura do solo
com RCC e tendo em consideração diferentes pesquisas sobre reforço de solos com RCC, definiu-se
para o presente estudo 4 teores de RCC. Para facilitar o estudo adotou-se as nomenclaturas: Solo, M1,
M2, M3 e M4; de acordo com a Tabela 3:
Tabela 3. Dosagem dos Insumos.
Porcentagem de cada Insumo
Mistura
Solo Areia Pedrisco
Solo 100% 0% 0%
M1 60% 30% 10%
M2 60% 20% 20%
M3 50% 30% 20%
M4 40% 30% 30%

2.2.3 – Ensaios de Compactação


Foram feitos ensaios de compactação do solo nas três energias (normal, intermediária e
modificada), conforme a norma DNIT – 164/2012 - ME. A Figura 4 mostra as curvas de compactação
da argila estudada. A partir de esses dados e tendo em consideração a natureza de que o presente
trabalho e só uma fração de uma pesquisa complexa, a argila é estudada e apresentada com as
propriedades na compactação normal.

5
XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul
Figura 4. Curvas de compactação da argila

Assim, também foram realizados ensaios de compactação com cada mistura usado na energia
normal. A Tabela 4 apresenta a variação do peso específico seco máximo e a umidade ótima para
diferentes misturas de RCC:
Tabela 4. Propriedades de compactação da argila
com diferentes misturas.
Peso especifico Umidade
Mistura seco máximo, ótima,
γdmax (kN/m )
3
Wot (%)
0 1,358 32,5
M1 1,521 25,2
M2 1,512 24,0
M3 1,581 21,3
M4 1,613 20,2

2.2.4 – Ensaios de Índice de Suporte Califórnia – ISC


Para os ensaios de ISC foram moldados corpos de prova conforme a norma DNIT – 172/2016 -
ME. Foram moldados três corpos de prova por ISC a fim de ter um resultado estatístico. O ensaio foi
realizado com a moldagem do corpo de prova na umidade ótima encontrada no ensaio de compactação
(Proctor Normal), apenas com a energia de compactação normal, usando 12 golpes do soquete padrão
para o solo e para as quatro misturas. Na Tabela 5, é apresentado a média dos três corpos de prova
por mistura.
Tabela 5. Resultados do ISC
Mistura ISC 0,1' ISC 0,2'
Solo 2,06 2,90
M1 1,89 2,80
M2 3,86 4,89
M3 5,16 7,23
M4 8,40 11,57

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XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul
2.2.5 – Ensaios de Expansão
O ensaio de expansão obedeceu a norma DNIT – 172/2016 – ME e DNIT – 160/2012 – ME.
Este ensaio foi realizado enquanto os corpos de prova do ISC estavam submersos, durante 4 dias, nos
quais foram realizadas leituras para ver a expansão diária. Na Tabela 6, são mostrados os resultados
da expansão.
Tabela 6. Resultados da Expansão
Mistura Expansão
Solo 5,61
M1 3,27
M2 2,60
M3 1,18
M4 1,00

3 - RESULTADOS EXPERIMENTAIS

3.1 – ENSAIOS DE COMPACTAÇÃO E ISC

3.1.1 – Influência do RCC


Foi observado que à medida que se aumenta o teor de RCC, tanto a massa específica seca,
quanto o ISC aumentam da mistura aumentam, com exceção de um ponto, como mostra a Figura 5.
Entre a mistura M1 e M2, observa-se um patamar, demonstrando que não houve mudanças, no entanto,
nos valores de ISC houve um acréscimo de 168,62%.

Figura 5. Valores de Massa Específica Seca, ISC e


expansão em função das Misturas

No ensaio de ISC não houve mudanças significativas entre o Solo (0) e a mistura M1, havendo
acréscimo de valor na massa específica seca. Observa-se um acréscimo de ISC conforme se aumenta
a granulometria do RCC na mistura. Entre M3 e M1, houve um acréscimo de 147,85%, e de 298,34%
entre M4 e M3. O aumento de M4 em relação ao solo sem mistura foi de 743,79%. Observa-se também
um decréscimo na expansão, tornando a mistura mais estável na presença de água, obtendo
decréscimo de até 82,17% da expansão inicial do solo. Tendo como base as normas brasileiras para
camadas de pavimentos, observa-se que a partir da 1ª mistura, torna-se viável a utilização da mistura
para pavimentos, pois com a diminuição da expansão para 3,27%, e o ISC maior que 2% a mistura M1
pode ser utilizada como subleito. A mistura M2 e M3, com expansões abaixo de 4%, e ISC acima de
4%, podem ser usadas para reforço de subleito, e a mistura M4, com ISC maior que 20% e expansão
de 1% para sub-base.
7
XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul
4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso de RCC em solos finos melhoram a capacidade de suporte, haja vista que a granulometria
do material muda, e por conseguinte a porcentagem de finos diminui. Dessa forma, a utilização de RCC
proporcionado em teores de adição ao solo diminui a expansão do mesmo, em função da redução de
finos na mistura e da reação entre os resíduos e o solo, com o aumento do pH, tornando a mistura
básica.
Também conclui-se que quanto maior a incorporação de RCC ao solo, maior será a massa
específica, portanto maior será o ISC e menor será a sua expansão. Dentro dessas constatações,
permite-se a sua utilização em camada de sub-base de pavimento, segundo as normas do DER. Em
contrapartida, a quantificação de elementos cimentícios e resíduos cerâmicos presentes no RCC
podem influenciar de modo significante sobre as propriedades de resistência de solos argilosos
misturados com RCC. Portanto, é fundamental a realização de estudos preliminares, tanto no tipo de
solo quanto na qualidade e composição do RCC para que possa garantir um controle tecnológico
primordial para a utilização do solo como base de pavimentos de baixo tráfego.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 15116: Agregados reciclados


de resíduos sólidos da construção civil – Utilização em pavimentação e preparo de concreto
sem função estrutural – Requisitos. Rio de Janeiro, 2004.
BAPTISTA, A. Misturas Betuminosas Recicladas a Quente em Central: contribuição para o seu
estudo e aplicação. Dissertação (Doutorado) - FCTU de Coimbra, grau de Doutor em Engenharia Civil,
Coimbra, 2006.
CARDOSO, R.; SILVA, R. V.; DE BRITO, J.; DHIR, R. Use of recycled aggregates from construction
and demolition waste in geotechnical applications: A literature review. Waste Management. vol.
49, p. 131 – 145, 2016.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE. DNIT 160/2012 – ME -
Determinação da expansibilidade. 2012.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE. DNIT 164/2013 – ME -
Compactação utilizando amostras não trabalhadas. 2013.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE. DNIT 172/2016 – ME -
Determinação do Índice de Suporte Califórnia utilizando amostras não trabalhadas. 2016.
FERNANDES, C. G. Caracterização mecanística de agregados reciclados de resíduos de
construção e demolição dos municípios do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte para uso em
pavimentação, Dissertação (Mestrado) – Coordenação dos Programas de Pós-graduação de
Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2004.
MOREIRA, J. P. Contribuição para a reutilização de material fresado em camadas estruturais de
pavimento. Dissertação (mestrado) - Universidade do Minho. Engenharia Rodoviária. Guimarães,
2005.
ROGERS, C. D. F.; GLENDINNING, S.; ROFF, T. E. J. Lime modification of clay soils for construction
expediency. Proceedings of the Institution of Civil Engineers-Geotechnical Engineering, v. 125,
n. 4, p. 242-249, 1997.

8
XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul
ESTUDO DO MELHORAMNTO MECÂNICO DE UM SOLO ARGILOSO
TRATADO COM DIFERENTES TEORES DE CAL E TEMPOS DE CURA

Jair de Jesús Arrieta Baldovino1; Eclesielter Batista Moreira 2; Ronaldo Luis dos Santos Izzo3;
Felipe Perretto4; Wagner Teixeira5

Resumo
O presente estudo avalia o desempenho de uma mistura de solo-cal visando à estabilização de
um solo argiloso da formação Guabirotuba e sua aptidão para compor a base de um pavimento
rodoviário e uso em barragens. A formação geológica de Guabirotuba está localizada na cidade
de Curitiba e região metropolitana, onde os solos em sua maioria são classificados como finos.
Além disso, os solos da formação não atendem a demanda por suas propriedades físico-
mecânicas para construção de bases para pavimentação, proteção de encostas e taludes ou para
suporte de fundações superficiais. O tratamento de solos com cal o melhora para essas condições
de uso. Quando as argilas são estabilizadas com a cal se reduz o limite plástico, aumenta-se o
limite líquido, melhora sua trabalhabilidade e suas propriedades mecânicas. O estudo apresenta
a relação do crescimento da resistência da compressão não confinada de um solo argiloso dessa
formação em diferentes tempos de cura. O trabalho também apresenta as mudanças de limites
de consistência e as propriedades de compactação do solo. Os parâmetros de controle avaliados
foram: teor de cal, tempo de cura e umidade. Os resultados mostram um crescimento da
resistência da compressão não confinada com o aumento de teor de cal e com o aumento do
tempo de cura.
Palavras-chave: solo-cal, resistência, tempo de cura.

Abstract
The present study evaluates the performance of a mixture of lime-soil for the stabilization of a clay
soil of the Guabirotuba formation and its ability to form the basis of a road pavement and use in
dams. The geological formation of Guabirotuba is located in the city of Curitiba and metropolitan
region, where soils are mostly classified as fine. Moreover, the soils of the formation do not meet
the demand for their physical-mechanical properties for the construction of bases for paving, slope
and slope protection or for support of superficial foundations. The treatment of soils with lime
improves to these conditions of use. When the clays are stabilized with lime the plastic limit is
reduced, the liquid limit is increased, it improves its workability and its mechanical properties. The
study presents the relationship of the growth of the resistance of the unconfined compression of
a clay soil of this formation in different setting times. The work also presents the changes of
consistency limits and soil compaction properties. The control parameters evaluated were: lime
content, setting time and humidity. The results show a growth of the compressive strength not
confined with the increase of lime content and with the increase of the setting time.
Keywords: lime-soil, resistance, setting time.

1 Eng. Civil, UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 91 992723167, eclesielter_ebm@hotmail.com


2 Eng. Civil, UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 41 997074797, yaderbal@hotmail.com
3 Prof. Dr., UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 41 992560977, izzo@utfpr.edu.br
4 Téc. de Laboratório, UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 41 996963667, fperretto@utfpr.edu.br
5 Eng. Civil, UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 41 996569926, teixeira.wagner@hotmail.com
1

XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul


1 - INTRODUÇÃO

O uso de materiais cimentantes como a cal vem sendo empregados com sucesso na
engenharia geotécnica para a estabilização e melhoramento mecânico em solos, principalmente
de tipo argilosos e em siltes. Em período recente, com o salto econômico vivenciado pelo país há
alguns anos atrás, nota-se a necessidade de infraestruturas e têm-se por exigência construções
que sejam técnica e economicamente viáveis, com o menor impacto ambiental possível. Frente
a isso, verifica-se a necessidade de estudos em materiais e técnicas pouco utilizadas
regionalmente, como é o caso da estabilização dos solos com cal. A estabilização permite o uso
de solos locais, melhorando as propriedades geotécnicas, de modo a enquadrá-los dentro das
especificações construtivas vigentes; uso qual é antigo e está sempre em processo de
atualização, principalmente a partir de 1945 (GUIMARÃES, 2002; LIMA et al, 1993). Esta
pesquisa visou quantificar os benefícios alcançados com a estabilização de solos com cal,
visando o uso rodoviário e em barragens.
As pesquisas atuais têm encontrado a influência das quantidades de materiais
cimentantes no comportamento mecânico desses tipos de solo, como as realizadas por Consoli
et al. (2007) e Consoli et al. (2001) onde aplicam-se teores de 3%, 5%, 7% e 9% de cal para
estabilização. Os tipos de cal comumente usados para estabilizar solos finos são a cal hidratada
com conteúdo alto de cálcio e cal calcítica, cal dolomítica monohidratada e cal viva dolomítica. O
teor de cal para usar na estabilização na maioria dos solos varia entre o intervalo de 5 até 10%.
Quando se coloca cal nos solos argilosos, acontecem duas reações químicas pozolânicas:
a troca de cátions e floculação-aglomeração das partículas (DAS, 2016). Os solos da formação
geológica de Guabirotuba, localizados na cidade de Curitiba-PR e região metropolitana, têm por
sua granulometria a maioria de finos. Os solos de Guabirotuba não podem em grande parte serem
empregados para camadas de sub-base e base de pavimentação, para o suporte de fundações
superficiais como as sapatas e para proteção de encostas. A técnica de melhoramento desse
solo também pode ser utilizada nas fundações de edificações de pequeno porte, em solos com
baixa capacidade de suporte ou que apresentam baixa estabilidade volumétrica.
Tais condições são problemáticas na medida em que podem causar severas patologias
na edificação (INGLÊS e METCALF, 1972). A resistência à compressão simples qu de um solo
de grão fino compactado em um teor de umidade ótima pode variar de 170 kPa a 2100 kPa,
dependendo da natureza do solo. Com uma adição de entre 3 a 5% de cal e um período de cura
de 28 dias, a resistência à compressão simples pode aumentar em 700 kPa ou mais (DAS, 2016).
É de interesse fundamental o estudo do melhoramento de solos locais de Curitiba em
quanto se podem aproveitar solos que não estão sendo empregados por más propriedades físico-
mecânicas. Além disso, fazer uma pesquisa para a construção de um banco de dados de locais
de tais solos é essencial, para encontrar soluções técnicas que sejam de fácil execução e
economicamente viáveis. Assim, esta pesquisa busca determinar a influência de diferentes teores
de cal na resistência à compressão não confinada qu de um solo da formação geológica de
Guabirotuba com diferentes tempos de cura.

XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul


2 - PROGRAMA EXPERIMENTAL

2.1 – MATERIAIS

2.1.1 – Solo
O solo usado para o presente estudo foi coletado na terceira camada da formação
Guabirotuba no município de Fazenda Rio Grande (PR), em um local de construção de
habitações populares, com localização geográfica 25°41'03.9"S e 49°18'32.5"W. O solo é
composto por 35,5% de argila (< 0,002 mm), 39,5% de silte (0,002 a 0,075 mm) e 25% de areia
fina (0,074 a 0,42 mm). A Figura 1 mostra a curva granulométrica do solo. A umidade natural
encontrada do solo in-situ é próxima a 40%.

Figura 1. Curva Granulométrica do Solo

Mostra-se também na Tabela 1 as propriedades físicas do solo; segundo o Sistema


Unificado de Classificação de Solos – SUCS – o solo é classificado como uma argila grossa
arenosa. A partir da curva granulométrica e da composição presente na Tabela 1 nota-se que o
solo apresenta um limite de liquidez alto (53,1%), portanto o índice de plasticidade indica que a
argila é altamente plástica com 21,3% (IP>15).

Tabela 1. Propriedades físicas do solo


Valores
Propriedades Físicas
Médios
Peso especifico real dos grãos, Gs 2,71
Areia fina 25%
Silte 39,5%
Argila 35,5%
Limite de liquidez, LL 53,1%
Limite de plasticidade, LP 31,8%
Índice de plasticidade, IP 21,3%

XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul


2.1.2 – Cal
A cal usada para o estudo foi uma cal hidratada dolomítica CH-III composta principalmente
por hidróxidos de cálcio -Ca(OH)2- e magnésio-Mg(OH)2-, produzida no município de Almirante
Tamandaré, região metropolitana de Curitiba. O percentual retido acumulado no diâmetro 0,075
mm foi de 9% (≤15%, como especifica a norma NBR 7175 de 2003). A massa específica da cal
é igual a 2,39 g/cm3.

2.1.3 – Água
A água empregada tanto para a moldagem de corpos de prova como para os ensaios de
caracterização do solo foi destilada conforme as especificações das normas, enquanto está livre
de impurezas e evita as reações não desejadas.

2.2 – MÉTODOS

2.2.1 – Ensaio de pH
Para a realização das misturas de solo com a cal, definiu-se qual é o menor teor que se
pode utilizar para a mistura. Portanto, empregou-se a metodologia proposta por Rogers et al.
(1997), também chamada de método do ICL (Initial Comsumption of Lime), se refere a uma
variação do pH onde o teor mínimo de cal a usar é aquele onde o pH atinge um valor constante
máximo. A Figura 2 mostra a variação do pH das misturas com o teor de cal usado. Nota-se que
alcança um valor máximo de 12,5 depois de chegar ao 3% de cal (teor mínimo usado nas
misturas).

13
12
11
10
pH

9
8
7
6
5
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Teor de Cal (%)
Figura 2. Variação do pH com o teor de cal
2.2.2 – Dosagem das misturas
De acordo com os ensaios de pH do solo e tendo em consideração diferentes pesquisas
sobre reforço de solos com cal, defina-se para o presente estudo 5 teores de cal a usar (0%,3%,
5%, 7% e 9%); incluindo o teor de 0% para verificar a variação da resistência em suas
propriedades físicas. O ensaio de resistência não confinada das misturas constituiu como a
principal variável de estudo e de avaliação. Dessa forma, são definidas as propriedades dos
corpos de prova a partir dos ensaios de compactação.

XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul


2.2.3 – Ensaios de Compactação
Foram realizados ensaios de compactação do solo nas três energias (normal,
intermediaria e modificada). A Figura 3 mostra as curvas de compactação da argila estudada. A
partir de esses dados e tendo em consideração a natureza de que o presente trabalho é uma
fração de uma pesquisa mais extensa, a argila é estudada e apresentada com as propriedades
na compactação normal. Assim, também foram realizados ensaios de compactação com cada
teor de cal utilizado sob condição de energia normal. A Tabela 2 apresenta a variação do peso
específico seco máximo e a umidade ótima para os teores 3%,5%,7% e 9% de cal. Nota-se que
a variação é bem pequena devido aos baixos teores utilizados. As pesquisas apresentadas por
Consoli et al. (2007), onde trata o solo com cimento, e Consoli et al. (2001) - que usa a cal de
carbureto como material cimentante para o solo - pode-se notar que os pontos de moldagem
nestas pesquisas são estratégicos. Assim, variam-se a porosidade, o peso específico aparente
seco e a umidade dos corpos de prova. A presente pesquisa usa como material estabilizador a
cal hidratada, enquanto se usa como ponto de moldagem a umidade ótima da compactação
normal, isto é, 29% de umidade e peso específico seco aparente de 13,8 kN/m3.

Figura 3. Curvas de compactação da argila

Tabela 2. Propriedades de compactação da argila com


diferentes teores de cal

Peso especifico Umidade


Teor de cal ótima,
seco máximo,
(%)
γdmax (kN/m3) Wó (%)
3 1,358 32,5
5 1,35 32,0
7 1,35 31,5
9 1,35 30,0

2.2.4 – Ensaios de Compressão Simples


Para os ensaios de compressão simples foram moldados corpos de prova de 100mm de
altura e 50mm de diâmetro. A argila foi seca totalmente em estufa a 100±5°C e logo colocada em
porções uniformemente distribuídas para serem misturadas com os diferentes teores de cal.
5

XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul


Coloca-se a quantidade de cal seca com referência ao peso seco da amostra da argila. Por
seguinte, realiza-se a mistura de maneira que a mescla final torna-se a mais homogênea possível.
Uma porcentagem de peso de água é colocada na amostra de solo com cal e misturada
novamente para atingir a umidade ótima.
As amostras para a moldagem dos corpos de prova eram compactadas estaticamente em
duas camadas em um molde de aço inox com diâmetro interno de 50 mm, altura de 100 mm e
espessura de 5mm, para atingir o peso específico máximo aparente. Depois de ser compactada
a amostra é retirada do molde com a ajuda de um extrator hidráulico, pesando-a em sequência
em uma balança de precisão de 0,01g; tomando-se suas dimensões com o uso de um
paquímetro. Logo após, eram envoltas com plástico transparente para assegurar a conservação
da umidade. Por último, levam-se os corpos de prova até a câmara úmida para processo de cura
durante 15, 30, 60 e 90 dias, com temperatura média de 25°C. Além disso, as amostras tinham
que respeitar as seguintes condições para serem consideradas no ensaio de compressão
simples:
- Dimensões das amostras: variações de diâmetro em ±0,5 mm e altura em ±1mm;
- Massa específica aparente seca (γd ): dentro de ±1% do valor alvo;
- Teor de umidade (w): dentro de ±0,5% do valor alvo.
Os procedimentos dos ensaios de compressão simples seguiram a norma americana
ASTM D 5102/96.Adota-se a resistência à compressão não confinada ou simples (qu) como o
quociente entre a carga de ruptura (PR) e a área transversal (AT) do corpo de prova. Foram
ensaiados 60 corpos de prova, assegurando para cada tempo de cura e teor de cal 3 corpos de
prova.

2.2.5 – Sucção matricial e sucção total


A sucção é um dos parâmetros que interferem na resistência do solo, já que é definida
como a capacidade do solo para reter a água. Logo, quando o solo está próximo da saturação, a
sucção é quase zero, o que significa que é a melhor situação para fazer ensaios de resistência
mecânica, mas para obter uma saturação total no laboratório é difícil. Portanto, usa-se a curva
característica para obter o valor da sucção na umidade com que foram ensaiados os corpos de
prova.
Nos resultados experimentais são apresentados os valores de resistência do solo sem a
adição de cal na condição não saturada, logo, a influência da sucção está presente, porém os
valores de resistência são colocados no gráfico como base de referência para observar o
acréscimo de qu com a adição da cal hidratada.

3 - RESULTADOS EXPERIMENTAIS

3.1 – ENSAIOS DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES

3.1.1 – Influência do teor de cal


A Figura 4 mostra a variação da resistência à compressão simples com 0%, 3%, 5%, 7%
e 9% de cal, enquanto se denota o crescimento da resistência com 15, 30, 60 e 90 dias de cura.
Observa-se que a variação do qu é exponencial para todos os tempos de cura. Comparando o
6

XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul


0% e 9% de adição de cal no solo para 15 dias de cura, se obtém um crescimento médio de 260%
da resistência; para 30 dias, 290%; para 60 dias, 315%; e para 90, 365%. Tendo em consideração
que o teor mínimo de cal é definido pelo pH ou outras variáveis - como as mudanças das
propriedades físicas - o teor máximo de cal usado depende do aspecto econômico e do tipo de
aplicação, como por exemplo o uso para camadas de pavimento; ou pode depender das
propriedades mecânicas iniciais do solo; ou seja, dependendo da resistência característica do
solo e da resistência desejada.
1350
1250 15 dias cura
1150 30 dias cura R² = 0,9791
1050 60 dias cura
950 R² = 0,9824
qu (kPa)

90 dias cura
850 R² = 0,9791
750
650
550
450 R² = 0,957
350
250
-1 1 3 5 7 9
Cal(%)

Figura 4. Variação da resistência à compressão simples com o teor de cal (Ca)

3.1.2 – Influência do tempo de cura


A Figura 5 mostra a variação da resistência à compressão simples com 15, 30, 60 e 90
dias de cura. Com 0% de cal, a argila aumenta em 5% de resistência. Apesar de não ter cal, o
solo tem reagentes cimentantes, tais como o cálcio ou magnésio em sua composição natural que
fazem novas ligações entre partículas com a presencia da água. A mistura de 3% de cal entre 15
e 90 dias tem um aumento de resistência de 40%; a mistura de 5% tem um aumento de 50%; a
mistura de 7%, 60%; e a mistura de 9% tem um aumento significativo de 80% da resistência. Isto
é, o acréscimo de quantidade de cal e tempo de cura é proporcional ao ganho de resistência.

1400
0% Cal
1200 3% Cal
5% Cal R² = 0,9593
1000 7% Cal
qu (kPa)

800 9% Cal
R² = 0,9154
R² = 0,9404
600
R² = 0,9396
400 R² = 0,8708
200
0
10 100
Tempo de cura (dias)

Figura 5.Variação da resistência à compressão simples com o tempo

XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul


4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se que a mistura solo-cal é uma solução bastante eficaz para estabilizar solos,
principalmente quando o solo encontrado nos locais de obra não atende aos requisitos exigidos
para realização de obras de barragens e pavimentação. O uso de cal em solos com baixas
capacidades mecânicas é de importância significativa, pois a adição de cal ao solo acrescentou
em mais de 300% a resistência à compressão simples do solo usado para a pesquisa.
Existe uma relação direta e proporcional entre o teor de cal usado, o tempo de cura
empregado e a resistência à compressão simples, elevando a resistência gradualmente em curto
período de análise; com resultados satisfatórios à compressão simples. Assim, a resistência à
compressão simples qu tem um aumento exponencial com o aumento do teor da cal e com o
aumento do tempo de cura.
Em contrapartida, o teor de cal mínimo a ser usado está limitado pelas reações imediatas
da cal com o solo e pelo pH. Assim, o maior teor é definido pela resistência do solo e a resistência
desejada.

REFERÊNCIAS

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING MATERIALS. ASTM D 5102: Standard Test Method for
Unconfined Compressive Strength of Compacted Soil-Lime Mixtures. 1996.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7175: Cal hidratada para
argamassas. 2003.
CONSOLI, Nilo Cesar et al. Behavior of compacted soil-fly ash-carbide lime mixtures. Journal of
Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, v. 127, n. 9, p. 774-782, 2001.
CONSOLI, Nilo Cesar et al. Key parameters for strength control of artificially cemented
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2007.
DAS, Braja M.; SIVAKUGAN, Nagaratnam. Fundamentals of geotechnical engineering.
Cengage Learning, 2016.
GUIMARÃES, J. E. P. 2002. A cal – Fundamentos e aplicações na engenharia civil. 2. ed.,
São Paulo: Pini. 341p.
INGLES, O. G.; METCALF, J. B. (1972). Soil Stabilization. In: Principles and Practice. Sidney:
Butterworths. 1972. 374p.
LIMA, D. C.; RÖHM, S. A.; BARBOSA, P. S. A. 1993. Estabilização dos solos III – mistura
solo-cal para fins rodoviários. 1. ed., Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 46p.

XI Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul


ELABORAÇÃO DOS PERFIS ESTRATIGRÁFICOS E AVALIAÇÃO DA
RESISTENCIA NÃO DRENADA DO SUBSOLO DE TRECHO DA VIA
EXPRESSA - BR 282/FLORIANÓPOLIS
Fábio Krueger da Silva1; Carlos Eduardo Junckes2; Ézio Antônio Pucci3; Cesar Schmidt Godoi4

RESUMO

Devido ao crescimento da população, intensificado pela falta de planejamento e a inadequação do


sistema viário, o acesso à cidade de Florianópolis encontra-se em uma situação caótica, assim é
necessário a quadruplicação da rodovia. Dentro desse panorama, apresenta-se um estudo que foi
realizado com o objetivo de refinar os dados que embasam a elaboração de projetos geotécnicos
e que atendam as demandas de possíveis ampliações da rodovia de acesso à capital catarinense,
BR 282. A análise foi feita a partir de ensaios geotécnicos de campo e ensaios de laboratório,
resultando no traçado do perfil estratigráfico da região. A campanha de sondagem foi conduzida
na cidade de São José-SC, onde foram executados ensaios de campo do tipo SPT, CPTU e VST
e, cujos resultados foram utilizados para elaborar os perfis estratigráficos da área de estudo. A
definição dos tipos, extensão, espessuras dos estratos de solo são fundamentais para projetos
geotécnicos de rodovias. As conclusões do trabalho indicaram perfil relativamente homogêneo,
composto por um perfil de aterro superficial, além de camada de argila mole, com uma camada de
lente de areia, típica de solos sedimentares.

ABSTRACT

Due to the population increase, intensified by the few of planning and the inadequacy of the road
system, access to the city of Florianópolis is in a chaotic situation, so it is necessary to quadruple
the highway. Within this scenario, the present a study that was developed with the objective of
refining the data that support the elaboration of geotechnical projects and that meet the demands
of possible extensions of the highway access to the state capital, BR 282. The analysis was made
to from geotechnical in situ and laboratory tests, resulting in the elaboration of the stratigraphic
profile of the region. The soils research campaign was conducted in the city of São José-SC,
where SPT, CPTU, VST in situ tests were performed and the results were used to elaborate the
stratigraphic profiles of the study area. The definition of the types, extent, and thickness of the soil
strata are fundamental for geotechnical road projects. The conclusions of the work indicated a
relatively homogeneous profile, composed of a surface landfill profile, as well as a soft clay layer,
with a layer of sand lens, typical of sedimentary soils.

Palavras-chave: Solos. Perfil Estratigráfico. Ensaios de campo. Investigação Geotécnica.

1
Eng. Civil, Dr., Instituto Federal de Santa Catarina, Florianópolis,(048) 3211 6060, fabio.krueger@ifsc.edu.br
2
Eng. Civil,Universidade do Sul de Santa Catarina, Palhoça, Brasil, carlos.junckes@gmail.com
3
Eng. Civil, Universidade do Sul de Santa Catarina, Palhoça, Brasil, ezio.pucci@hotmail.com
4
Eng. Civil, M.Sc., Tractebel Engineering / Universidade do Sul de Santa Catarina, (48) 996187295, cesargodoi@hotmail.com
1- INTRODUÇÃO

O acesso rodoviário à cidade de Florianópolis é feito através da via expressa BR 282, que
é um trecho extremamente importante para a capital de Santa Catarina, por onde passam cerca
de 120 mil veículos por dia. Esta via conecta a ilha de Florianópolis à BR-101 que dá acesso ao
estado do Rio Grande do Sul, ao sul e ao estado do Paraná, ao norte e, na mesma sequência aos
municípios vizinhos de Palhoça e Biguaçu.
Devido ao aumento de veículos transitando pela BR-282, houve a necessidade de um
projeto de quadruplicação desta via. Esse projeto é de relevante importância, pois permitirá uma
melhoria substancial no tráfego local e entre municípios da grande Florianópolis.
Neste trabalho está apresentada a metodologia para elaboração dos perfis estratigráficos
geotécnicos com base em ensaios de campo de SPT (Standard Penetration Test), CPTU
(Piezocone Penetration Test) e VST (Vane Shear Test) num trecho do traçado de quadruplicação
da via expressa. Busca-se uma caracterização geotécnica representativa do subsolo da região de
maneira que os resultados desta pesquisa possam contribuir para um melhor entendimento do
comportamento dos solos da região, além de apresentar uma metodologia para elaboração de
perfis estratigráficos, com enfoque em projetos rodoviários.

1.1. Objetivo Geral

Elaborar o perfil estratigráfico do subsolo em um trecho do traçado da quadruplicação da


via expressa, rodovia BR 282 em Florianópolis/SC, através da interpretação dos resultados de
ensaios de campo de SPT, CPTU e VST.

2- METODOLOGIA

A metodologia deste trabalho envolve a realização e análise de ensaios laboratoriais e de


campo. Basicamente a metodologia consistiu na análise e coleta das seguintes informações
provenientes das diferentes etapas de Projeto:
 Caracterização da área de estudo;
 Definição da quantidade de furos utilizando como referência a NBR 8036;
 Locação dos furos da sondagem utilizando-se a estação total como equipamento
de medição;
 Desenvolvimento dos ensaios de campo: SPT, CPTU e VST;
 Elaboração dos perfis estratigráficos.

Na área de estudos, também foram realizados diversos ensaios de laboratório


(adensamento, compressão simples, caracterização), no entanto, os mesmos não fazem parte do
objetivo deste trabalho.
Na sequência está descrito os principais aspectos dos ensaios realizados neste trabalho,
além da descrição das técnicas para elaboração de perfis estratigráficos de subsolos. Por fim,
está caracterizada a área de estudos.

2.1 Ensaio de Campo

Na área analisada foram realizados os ensaios de campo descritos na sequência.


 19 furos de sondagem com ensaios SPT;

XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul 2


 1 furo com ensaio CPTU;
 1 furo com ensaios Vane Test.

2.1.1 Ensaio SPT

O ensaio SPT (Standard Penetration Test) que é normatizada pela NBR 6484/10, sendo o
método mais utilizado no Brasil e em alguns países, simples de executar e de baixos custos
quando comparados a outros tipos de sondagem.
A campanha de sondagens envolveu 10 furos com ensaios SPT no lado direito da rodovia,
entre os quilômetros 4+057 até 5+148, a uma distância aproximada de 64,1 metros de
distância de um furo para o outro, e um afastamento aproximado de 25,43 metros da rodovia.
No lado esquerdo da rodovia foram realizados 9 furos com ensaios SPT entre os quilômetros
4+458 até 5+095, a uma distância aproximada de 79,62 metros de distância de um furo de
SPT até o outro furo de SPT, em um afastamento aproximado de 25,42 metros da rodovia.

2.1.2 Ensaio CPTU

O ensaio CPTU é bastante consagrado em diversos países, enquanto que no Brasil é


crescente a demanda por estes ensaios de campo. Os ensaios de CPT (Cone Penetration Test) e
CPTU (Piezocone Test) são de relevante importância na busca pelo conhecimento e
caracterização do solo. Seu principal atrativo são os registros contínuo da resistência à
penetração. E no caso do CPTU, o registro da poro pressão. O ensaio de cone consiste na
cravação no solo, por uma ponteira cônica de 60º de ápice, com uma velocidade constante vai
perfurando o solo e coletando dados que serão analisados posteriormente, o diâmetro da ponteira
vai de 10 cm² a 15 cm², dependendo do equipamento. Conforme Schnaid & Odebrecht (2012), os
procedimentos de ensaios são padronizados, no Brasil usa-se a norma MB 3406.
Na área de estudos, foi realizado 1 ensaio CPTU no lado esquerdo da rodovia entre os
quilômêtro 4+856, a uma distância de 0,2 m de afastamento para o Vane Test e a 6 metros de
distância do SP 37.

2.1.3 Ensaio VST

O ensaio de Palheta é empregado para determinar a resistência ao cisalhamento de


argilas moles saturadas, submetidas a condição de carregamento não drenada (Su). Conforme
citado por Berberian (2012), o Vane Test foi criado em 1919 na Suécia por John Olsson, mas foi
aperfeiçoado em 1940, assumindo a forma empregada até hoje. Em 1949 foi trazido para o Brasil,
e em 1989, o ensaio de Palheta foi normatizado no Brasil (NBR 10905/89). O ensaio consiste na
cravação estática da palheta de aço com secção transversal em formato de cruz, de dimensões
padronizadas. A ponteira é cravada e utiliza o sistema duplo de hastes, assim eliminando qualquer
tipo de atrito da haste da palheta de teste com o solo, assim eliminando interferências nas
medidas de resistência. Assim que posicionada, aplica-se um torque na ponteira por meio de
unidade de medição, com velocidade de 6° por minuto. O torque máximo permite a obtenção do
valor de resistência não drenada do terreno, nas condições de solo natural indeformado.
Na área de estudos, foi realizado 1 ensaio Vane Test no lado esquerdo da rodovia entre os
quilômêtro 4+856, a uma distância de 0,2 m de afastamento para o CPTU e a 6 metros de
distância do SP 37.

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2.2 ENSAIOS DE LABORATÓRIO

2.2.1 Ensaio de Adensamento

Segundo Krueger (2015), o ensaio de adensamento permite o entendimento da tensão x


deformação do solo e conhecer um pouco mais sobre a evolução do solo com base na sua razão
de pré adensamento (OCR). No Brasil, o ensaio é normatizado pela NBR 12007. De uma forma
geral, na realização deste ensaio, uma amostra de solo indeformada é moldada em um anel rígido
de dimensões conhecidas, para posteriormente ser colocada (amostra + anel) em uma célula de
adensamento que impede qualquer deformação horizontal do solo. O conjunto amostra + anel +
célula é colocado em um sistema para receber as cargas axiais. O carregamento é feito em
estágios onde se registram as deformações verticais para determinados intervalos de tempo. A
carga de um estágio sucessivo é sempre o dobro do estágio anterior. As leituras de deformações
verticais são feitas durante 24 horas. Normalmente, o ensaio é feito na condição inundada e
principalmente utilizado para solos sedimentares moles para avaliação do processo de
adensamento. A interpretação deste ensaio é essencial para o cálculo de recalque por
adensamento. Podem-se obter os seguintes resultados: tensão de pré-adensamento, parâmentros
para estimativa do recalque primário e do tempo de ocorrência, qualidade da amotra, entre outros.

2.2.2 Ensaio de Compressão Simples

Conforme Pinto (2002) o ensaio de compressão simples resulta em determinar a


resistência à compressão de amostras indeformadas de solos coesivos, na umidade natural. Este
ensaio é normatizado pela NBR 12770/92 e o ensaio de compressão simples é o método mais
simples e rápido para determinar a resistência ao cisalhamento de solos coesivos. Este ensaio
fornece o valor da coesão (Su) de campo do solo, para isso deve ser feito com amostra
indeformada e conservando sua umidade natural. Pode ainda ser usado para amostras de solos
compactados.
O ensaio tem como objetivo determinar a resistência à compressão simples sem o
confinamento lateral, que é o valor da carga que rompe um cilindro de solo que é submetido a um
carregamento de solo. O valor da resistência a compressão, é o valor da carga máxima de ruptura
do solo, ou o valor da pressão que corresponde a carga na qual ocorre a deformação específica
do cilindro de 20%, nos casos em que a curva de tensão e deformação axial não serem um pico. A
metade da resistência à compressão simples é a resistência ao cisalhamento não drenada. Este
valor medido da resistência neste ensaio é para a condição não drenada, porque este ensaio é
executado tão rápido que não há perda de umidade para o meio ambiente. O ensaio de
compressão simples pode ser aplicado de duas maneiras, uma por deformação controlada, que se
controla a velocidade de deformação do corpo de prova e se mede a carga aplicada, ou por uma
carga controlada, que é quando se controla a carga aplicada ao corpo de prova e se mede a
deformação correspondente.

2.3 Perfil Estratigráfico

Segundo Berberian (2012), o objetivo principal de uma investigação de campo é obter


elementos que caracterizem o traçado do perfil geotécnico. O perfil geotécnico é um sistema
gráfico onde se podem representar as camadas do solo. Basicamente um perfil geotécnico é
composto de: classificação das camadas, espessuras, atitude (inclinação), posição do lençol
freático e diagrama de resistencia das camadas.
O método de prospecção geotécnica é função da complexidade da obra e a técnica
escolhida deve permitir fornecer os subsidios suficientes para o desenvolvimento do projeto
geotécnico. Usualmente, o que se pretende obter com a prospecção é conhecer o tipo de solo,

XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul 4


disposição do terreno no subsolo. Disposição quanto a espessura, cotas, níveis d'água, atitudes
(mergulho) das camadas e a disposição dos estratos. E a sua caracterização, sendo
compressibilidade, resistência ao cisalhamento e permeabilidade.
Quanto a disposição das camadas, Berberian (2012), define o perfil de duas maneiras. A
primeira sendo perfil simples ou regular, que se dá pelos limites dos estratos serem paralelos. E a
segunda de um perfil errático,quando não existem os estratos bem definidos, camadas irregulares,
onde geralmente ocorrem dobramentos ou falhas.
Quanto a origem do perfil ele pode ser classificado como residual ou sedimentar. Num
perfil residual conforme a profundidade aumenta, o solo se torna mais resistente, isso significa que
o solo apresenta características de resistência oriundas da rocha de origem. Conforme aumenta a
profundidade, o solo encontrado é menos decomposto e menos intemperizado até chegar a rocha
mãe (bedrock). Berberian (2012), diz que um perfil residual aumenta as vantagens na obra, ela se
torna mais previsível, mais segura e econômica. O solo abaixo da fundação é mais resistente, e o
sistema necessário para investigação geotécnica é mais facilitado e seguro.
Um perfil sedimentar é aquele que constituí pelo transporte de solos de outra localidade
através de ações da natureza. São transportadas através do vento (solos eólicos), pelas águas
(solos aluviais), por geleiras fundentes (solos glaciais) ou por ações da gravidade (solos coluviais).
Berberian (2012), diz que um perfil sedimentar torna a obra imprevisível, existe probabilidade de
camadas moles sobre solos de camadas mais resistentes. Camadas constituídas por diferentes
solos. Cautela ao projetar fundações, e programas de exploração de solo mais caro e complexo.
Para elaborar os perfis estratigráficos, foram utilizados os ensaios de subsolo SPT e
CPTU. Para o perfil 1 foram utilizados 19 boletins de SPT, para o perfil 2 foram utilizados 9
boletins de SPT, mais no boletim de CPTU SP-37, foi posto lado a lado com um laudo de CPTU
para comparação, e para o perfil 3 foram utilizados 7 boletins de SPT.

2.4 Caracterização da Área de Estudos

Como citado anteriormente, a via expressa BR 282 é a rodovia que promove o principal
acesso a Ilha de Florianópolis, ligando a BR 101 e demais acessos secundários até a ponte Ivo
Silveira. A localização do da região estudada pode ser vista apresentado na Figura 1.
No que diz respeito a pedologia, a região encontra-se classificada dentro da zona (cd3)
cambissolos distróficos e eutóficos, compreendendo solos minerais, não hidromórficos,
caracterizados pela ocorrência de um horizonte B incipiente, definido pelo baixo gradiente textural,
pela média a alta relação silte/argila ou pela presença de minerais primários de fácil
decomposição. Sobre a classificação geológica enquadra-se numa região com presença de um
substrato formado pela presença do embasamento cristalina, das rochas graníticas da suíte
intrusiva Pedras Grandes e por depósitos terciários-quaternários de origem aluvionar, coluvionar e
marinha.
Os pontos de realizam dos ensaios de campo estão locados as margens da via existente.
Em alguns pontos os ensaios de campo foram executados em perfil de solo natural (áreas
adjacentes com solos moles) e outros nos taludes de aterro ás margens na rodovia. No total foram
conduzidos 19 ensaios SPT, 1 ensaio CPTU e 1 ensaio VST. Por serem os materiais mais
problemáticos devido a baixa capacidade de suporte e alta deformabilidade, as regiões escolhidas
para concepção dos perfis geotécnicos das camadas são basicamente formada pela presença de
solos sedimentares moles. Também foram nesta área que se realizou os ensaios complementares
CPTU e VST e a coleta de amostras para realização dos ensaios de laboratório, que permitiram
um melhor entendimento do comportamento mecânico deste material.

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3- RESULTADOS OBTIDOS

3.1 Perfis Estratigráficos

Conforme citado anteriormente, os ensaios de campo foram conduzidos às margens da via


existente. Na Figura 1, tem-se a planta de locação dos furos, bem como a posição do traçado dos
perfis estratigráficos. No sentido BR-101 – Florianópolis, apresenta-se a locação dos ensaios do
lado esquerdo que totalizam 10 ensaios SPT, 1 CPTU e 1 VST, no lado direito,9 ensaio SPT. As
amostras coletadas em tubo shelby para realização dos ensaios de adensamento e compressão
simples foram coletadas em ambos os lados da rodovia nas proximidades dos furos SP-36 e SP-
32.

Perfil Transversal

Perfil Longitudinal

Figura 1 – Planta Indicativa da via expressa e perfis elaborados na cor vermelha

Com base nos resultados dos ensaios de campo foram elaborados dois perfis
estratigráficos do solo do local:
 Perfil Longitudinal ao eixo, localizado no bordo esquerdo da rodovia no sentido BR-
101 – Florianópolis. O perfil longitudinal do bordo esquerdo, por exemplo, foi
traçado com base nos dados obtidos em 08 ensaios SPT (laudos SPT 35 a SPT
42), e, corroborados pelos resultados dos ensaios CPT e VST, conduzidos muito
próximos ao SPT 37.
 Perfil Transversal à via. O perfil traçado no sentido transversal a pista teve como
base os laudos de sondagens SPT (laudos SPT21, SPT33, SPT34 e SPT42).
O perfil das camadas de solo é obtido através da interpretação dos resultados das verticais
de sondagens, ou seja, as informações como o tipo de solos, espessuras, resistência, nível de
agua, entre outros, são extrapoladas lateralmente entre os furos próximos.
A Figura 2 identifica o perfil longitudinal elaborado, enquanto que a Figura 3 apresenta o
perfil transversal.
Nota-se que o perfil das camadas indicou uma primeira camada descrita como uma argila
arenosa marrom, com espessura variando aproximadamente entre 2,0 a 4,5m, com valores de
NSPT entre 5 a 13. Abaixo deste estrato, determinou a presença de uma camada de argila
orgânica, mole a muito mole, de várias colorações, entre os 4,5 e 13,0m de profundidade. O valor
médio de NSPT desta camada é 1. Subjacente, à camada mole, a maior parte dos ensaios de
campo identificou a ocorrência de uma camada de areia grossa com uma variação significava de
resistências e espessuras. As espessuras variam de 1,0 a 2,5m e, o NSPT entre 6 a 22.
Posteriormente, os ensaios de campo indicaram a presença de uma camada de silte arenoso
amarelado com resistência crescente até se atingir o impenetrável à aproximadamente 15,0 a
16,0m de profundidade.

XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul 6


Figura 2 – Perfil estratigráfico obtido – longitudinal

Figura 3 – Perfil estratigráfico obtido – transversal

O CPTu confirmou a estratigrafia obtida no SPT com uma camada argilosa até os 2,0m de
profundidade, seguida de uma camada de turfa até os 4,5m e, até cota final do ensaio, por volta
de 13,0m, uma espessa camada de argila evidenciada pelo altos valores de poropressão. O nível
de água foi obtido na cota de -3,0m. O ensaio VST, não tem objetivo de definir o perfil do solo e,
basicamente, seu principal objetivo é determinar a resistência não drenada da camada argilosa.
Nesse contexto, pelo resultado do VST a espessa camada de argila apresentou uma consistência
de mole a média. Neste perfil também é destacado o nível do terreno natural e do greide de
pavimentação, conforme legenda.
Na figura 4 são apresentados os valores de Su obtidos pelos métodos de investigação
conduzidos na pesquisa. Nota-se que existe grande proximidade dos valores de Su quando
avaliados pelo CPTU e VST, inclusive demostrando aumento da resistencia ao longo da
profundidade. O ensaio de compressão simples indicou valores superiores de Su, mas nada muito
significativo e, percebe-se que as amostras foram coletadas numa profundidade menor e ambos
os corpos de prova indicaram praticamente a mesma resistencia não drenada.

XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul 7


Figura 4 – Comparação de Su pelos resultados obtidos pelo CPTU, VST e Compressão Simples

4- CONCLUSÕES

Considerando as questões inerentes a esse trabalho, destaca-se a importância das


investigações de campo para elaboração de projetos. A sondagem SPT principalmente pela coleta
de amostra e por ser uma pioneira nos estudos geotécnicos de investigações do subsolo, o CPTU
pela análise da poro pressão, enquanto que o ensaio VST pela medida de resistência de solos
argilosos. Nota-se a eficiência desses ensaios de campo, pela qualidade apresentadas nos perfis
estratigráficos desta pesquisa.
Além do trecho estudado, o referente trabalho caracteriza de uma forma geral o subsolo da
região no entorno da rodovia, entretanto, cabe ressaltar que cada obra é passível de estudo
localizado, considerando peculiaridades e as características inerentes a cada tipo de edificação
e/ou obra geotécnica.
O objetivo principal de definir o perfil estratigráfico do subsolo que será suporte para
quadruplicação da Via Expressa, permitiu conceber projetos mais eficientes. Foi possível detalhar
camadas mais fracas, mais espessas, onde cuidados adicionais com reforço de subleito e
previsão de recalques serão importantes para garantir a qualidade da futura pista.

REFERÊNCIAS

BERBERIAN, D. Sondagens e Ensaios in situ para Engenharia, 2012.


KRUEGER. F.S., Caracterização física e mecânica de solos residuais de gnaisse por meio
de ensaios de campo e laboratório. Tese de doutorado. Programa de pós-graduação em
Engenharia Civil da UFSC, 2015.
NBR 6484: Solo - Sondagens De Simples Reconhecimento Com SPT – Método de Ensaio.
Rio de Janeiro, 2010
NBR 10905: Solo - Ensaios De Palheta In Situ. Rio de Janeiro, 1989.
NBR 12007: Solo - Ensaio De Adensamento Unidimensional. Rio de Janeiro, 1990.
PINTO, C.S. Curso Básico de Mecânica dos Solos com Exercícios Resolvidos, 2002. p.
355.
SCHNAID, F.; ODEBRECHT, E.. Ensaios de Campo e suas aplicações à Engenharia de
Fundações, 2012.

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ANÁLISE DA CAPACIDADE DE CARGA À TRAÇÃO EM ESTACA
ESCAVADA SEM FLUIDO ESTABILIZANTE NO SOLO SUPERFICIAL DA
REGIÃO DE MARINGÁ/PR

Fernando Sadao Sakuno1; Antonio Belincanta2; Lillyan Prado Barbosa3; Willyan Prado
Barbosa4

RESUMO: O presente trabalho apresenta um estudo de comportamento referente a estaca


escavada submetida ao esforço de tração. As características principais e determinantes das estacas
de ensaio foram a não utilização de fluido estabilizante quando executadas, as dimensões atribuídas
de seis metros de comprimento e diâmetro de vinte e cinco centímetros (L= 6,00m e D= 0,25m) e a
realização do ensaio em solo nas condições de umidade natural e pré-umedecida. As estacas
ensaiadas foram executadas no Campo Experimental da Universidade Estadual de Maringá (UEM),
Maringá-PR, em local de solo de tipo latossolo vermelho distroférrico, proveniente da alteração do
basalto, de comportamento colapsível. As provas de carga foram realizadas obdecendo as
prescrições da NBR 12131:2006, com carregamento do tipo lenta. Os resultados obtidos
identificaram em uma redução da capacidade de carga de 23,90% quando do solo umedecido. Os
métodos semi-empíricos estimados para a capacidade de carga à tração apresentaram bastantes
proximidades, sendo eles o método de Grenoble e o método do Cone, diferente dos métodos semi-
empíricos a compressão, ajustado, a estimativa de carregamento à tração com valores de 67% a
845% daquelas medidas na prova de carga, quando do solo com umidade natural.

ABSTRACT: The present work presents a behavioral study concerning the excavated pile
subjected to the tensile stress. The main and determining characteristics of the stakes were the non-
use of stabilizing fluid when executed, the dimensions assigned six meters in length and twenty-five
centimeter diameter (L = 6.00m and D = 0.25m) and the realization Of the soil test in the conditions
of natural and pre-moistened humidity. The stakes tested were performed at the Experimental Field
of the State University of Maringá (UEM), Maringá-PR, in a soil of the dystroferric red latosol type,
from the basalt alteration, of collapsible behavior. The load tests were carried out obeying the
requirements of NBR 12131: 2006, with slow type loading. The obtained results identified in a
reduction of the load capacity of 23.90% when of the moist soil. The semi-empirical methods
estimated for the tensile load capacity presented a good number of proximities, being the Grenoble
method and the Cone method, different from the semi-empirical compression methods, adjusted,
the estimate of load to the traction with values of 67% to 845% of those measures in the load test,
when of the soil with natural humidity.
Palavras-chave: Prova de carga. Tração. Estaca escavada.

1
Geosul 2017 – XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul
(1)
Eng. Fernando Sadao Sakuno, fernando.sakuno@gmail.com
(2)
Prof.Dr. Antonio Belincanta, abelincanta@hotmail.com
(3)
Enga. Lillyan Prado Barbosa, lillyan.prado@hotmail.com
(4)
Eng. Willyan Prado Barbosa, wil.ec@hotmail.com
1- INTRODUÇÃO
Define-se como fundação o elemento estrutural com a função de transmitir as cargas
provenientes da obra para o maciço de solo natural. Sendo assim, ao longo da concepção dos
projetos de uma edificação, deve-se escolher o melhor tipo de alicerce bem como sua correta
dimensão, que garantam segurança à estrutura sob a ação da carga de serviço em qualquer
condição.
Segundo Texeira (1993), é incontestável que o aumento da umidade causa uma redução da
resistência de cisalhamento, sua influência em caso de solos inundados é de fato importante, já que
uma sensível evolução de estado, alteração de solo natural para umedecido, é capaz de prejudicar
a capacidade de carga para as fundações profundas.
Segundo Cintra, Aoki e Albiero (2012) alguns solos sofrem um colapso de sua estrutura
quando submetidos à infiltração de água em quantidade suficiente. Dentre os solos não saturados,
os solos com alto índice de vazios, porosos e com baixo teor de umidade merecem uma adequada
atenção. Os solos com as respectivas características são especificados como solos colapsíveis.

1.1- OBJETIVOS
Analisar a capacidade de carga de tração da estaca contida na camada superficial de solo
evoluído da cidade de Maringá(PR), do tipo escavada, sem fluido estabilizante, nas condições de
umidade natural e umedecida.

1.1.1- Objetivo específico

Determinar e avaliar a capacidade de carga à tração de duas estacas escavadas sem fluído
de estabilização na camada superficial de solo evoluído, típico da cidade de Maringá, com fuste de
6m e diâmetro nominal de 25 cm, com solo nas condições de umidade natural e em pre-
umedecimento.
Para se alcançar este objetivo foram necessários:
 A realização de três provas de cargas em estacas com fustes de 6m e diâmetro nominal
de 25 cm, sendo uma com solo na umidade natural e outras duas com solo umedecido,
utilizando-se a metodologia proposta pela NBR 12131:2010, carregamento lento.
 Avaliar a capacidade de carga no carregamento à tração, com solo pré-umidecido e na
umidade natural.
 Estimar a capacidade de carga à tração, utilizando os métodos empíricos e semi-
empíricos consagrados no meio técnico.
 Verificar a influência do aumento do teor de umidade, na capacidade de carga da estaca
sujeita à tração. Confrontar os resultados obtidos nas estimativas de capacidade de
carga à tração, realizados através dos métodos consagrados semi-empíricos, e os
valores de carga de ruptura obtidos em ambas as provas de carga.

1.1.1.2- Estudo de caso


Segundo Bessa (2005), o caso mais comum para a determinação da capacidade de carga
à tração ocorre nas obras de linhas de transmissão, em que a ação do vento ou mesmo rupturas
dos cabos acarretam em esforços de tração nas estacas. Outro caso que pode ser observado é o
caso das torres de alguns tipos de pontes que recebem os cabos de aços protendidos, estruturas
de contenção atirantadas, ação de vento atuante no topo de edificações elevadas e coberturas.
Dentre os diversos métodos de estimativas de capacidade de carga de fundação submetidas
a esforço de tração, foram escolhidos para comparação com as provas de carga o método de tronco
de cone e o método da universidade de Grenoble.

2
Geosul 2017 – XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul
Segundo Albiero e Cintra (1998), os mo método baseia-se na consideração da resistência,
do peso próprio da fundação, acrescidos do peso do solo contido em uma projeção de tronco de
cone, cuja base menor é a base da fundação e abre até encontrar a superfície do terreno, com
geratriz formando um ângulo α com a vertical. Sendo assim, a carga última, ou capacidade de carga,
à tração de uma fundação pode ser dada pela Equação 1.

𝑅 = 𝑃𝑓 + 𝑃𝑠 (1)

Em que R é capacidade de carga última a tração, P f é o peso do elemento de fundação e P s


o peso do solo contido no tronco de cone, descontando-se o peso próprio da fundação.

Outro método de relevância é o método da Universidade de Grenoble, método desenvolvido


na universidade de Grenoble é extremamente abrangente, envolvendo normalmente quase todos
os tipos de fundações executadas. O método da universidade estuda parâmetros como a formação
de superfície de ruptura em função do elemento de fundação, a profundida do elemento de fundação
e o tipo de solo, além de considerar o efeito de sobrecarga na superfície do terreno, o peso
específico (γ), ângulo de atrito (ϕ), e coesão (c’) de todo tipo de solo. O modelo surgiu a partir de
inúmeros ensaios em modelos reduzidos, que desenvolveu a teoria a partir das observações de
ensaios. (BESSA, 2015).
O método tem destaque hoje em dia, devido à grande confiabilidade dos ensaios e estudos,
podendo se dizer que a metodologia é a mais empregada no uso de verificação da capacidade de
carga nas linhas de transmissão no Brasil. (AZEVEDO, 2011)
A estimativa da capacidade de carga submetida a tração pode ser calculada por métodos
semiempiricos consagrados a compressão. Enfatizam-se os métodos de Aoki e Velloso (1975) e
Decourt e Quaresma (1978). Para Velloso e Lopes (2010), regularmente se adota um valor reduzido
para a capacidade de carga à tração, em relação aos valores obtidos a compressão,
desconsiderando a parcela de ponta. Em muitas pesquisas sugerem-se que a escolha das cargas
admissíveis de tração seja feita considerando apenas 70% do valor obtido em relação a
compressão.
Para NBR12131:2006, o princípio da prova de carga é basicamente a aplicação de esforções
estáticos à estaca e o registro dos deslocamentos correspondentes, podendo ser os esforços
aplicados axiais, de tração, de compressão ou ainda de esforços transversais, classificados em dois
grupos principais, estáticas e dinâmicas.
A prova de carga estática é um ensaio típico de tensão por deformação ou em elemento
estrutural de fundação construído para a obra ou especialmente para ser ensaiado. O ensaio de
prova de carga vem evoluindo, se tornando cada dia mais preciso, rápido e econômico, inclusive no
que se refere a instalação, execução, equipamentos, operação e interpretação.
Referente a forma de carregamento, a ABNT NBR 12131:2006, estabelece que o ensaio do
tipo estático, pode ser executado de três formas, sendo elas lenta, rápido ou misto.
Ao realizar a prova de carga a principal finalidade do ensaio é a determinação da curva
carga-recalque, porém nem sempre obtém o resultado nítido da capacidade de carga, devendo
posteriormente, extrapolar a curva caso for necessário para encontrar a correspondente capacidade
de carga. Dentre os diversos métodos de extrapolação, foram elegidos para a pesquisa o método
de Chin Kondner (1970) e o da NBR 6122 (2010).
Segundo Fellenius (2014), a estimativa de carga de ruptura proposta por Chin (1970),
utilizada com frequência entre os pesquisadores, no ajuste da curva matemática representada pela
equação 2, aos pontos de carga-recalque medidos na prova de carga.

S
 C1 .S  C 2 (2)
P

O método se baseia na equação 2, sendo P a carga aplicada em kN, C1 e C2 constantes de


ajustes à curva real e S respectivo deslocamento.

3
Geosul 2017 – XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul
A NBR 6122:2010 estabelece critérios a serem observados na extrapolação da curva carga-
recalque e na obtenção da carga de ruptura, utilizando-se a engenharia geotécnica e a curva carga-
recalque do primeiro carregamento. Neste caso a carga de ruptura é do tipo convencional, com o
valor obtido no cruzamento da curva carga recalque, com a equação 3.

PR .Li D
r   (3)
A.E c 30

Em que Δr é o recalque da ruptura convencional, PR é a carga de ruptura convencional, L i é


o comprimento da estaca, A é a área de seção transversal do elemento estrutural, E c é o módulo de
elasticidade do elemento estrutural e D é o diâmetro do círculo circunscrito à estaca.
A caracterização geol´pgica e geotécnica do subsolo da região de é constituído por um solo
argiloso tropical típico, que em locais de alta e média vertente, possui uma camada superficial de
solo evoluído, com solo do tipo latossolo vermelho distroférrico com origem na alteração do basalto.
Esta massa de solo é estabelecida de argila siltosa porosa, na cor avermelhada (de 5% a 10% de
areia, de 15 a 35% de silte, de 52 a 78% de argila), podendo ter diversas espessuras e alcançando
12 ou mais metros de profundidade. O solo originado na camada superficial tem os valores de
permeabilidade na ordem de grandeza de 10 -3 cm.s-1, isto, por possuir o valor do índice de vazios
em torno de 2 e ter uma característica de um solo com boa drenagem (BELINCANTA; GUTIERREZ,
2004)
As características das estacas escavadas sem fluído estabilizante utilizadas neste trabalho,
foram executadas com o comprimento de 6 m e 25 cm de diâmetro nominal. O concreto empregado
na concretagem das respectivas estacas foi de resistência característica 25 Mpa e Slump ou
abatimento igual a 13.
As armaduras utilizadas foram de 8 barras de ϕ10mm (3/8”), CA 50, com resistência de escoamento
(fyk) de 500 Mpa, ao longo de todo o comprimento, ancorada e fixada antes da concretagem. No uso
do chumbador, foi elegido uma monobarra Incotep D22 (ϕ 30 mm).
Para execução e escavação da estaca foi seguido estritamente os parâmetros prescritos no
Anexo E da ABNT NBR 6122:2010.
O sistema de aplicação de carga utilizado é contemplado pela ABNT NBR 12131:2006. O
macaco hidráulico montado e regulado contra um sistema de reação devidamente projetado,
estável, foi adequado as cargas aplicadas na direção desejada sem nenhuma interferência. O
macaco hidráulico utilizado no experimento tinha capacidade de 200 kN, adequada ao nível
requerido nas provas de carga. A figura 1 apresenta as instrumentações para prova de carga à
tração.

Figura 1- Equipamentos utilizados na prova de carga à tração, protegidos pela tenda de proteção

A ABNT NBR 12131:2006, orienta que a medição dos deslocamentos seja realizada por
quatro defletômetros com sensibilidade de 0,01 mm, instalados em dois eixos ortogonais e fixados
4
Geosul 2017 – XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul
nas vigas de referência, sendo a leitura para medição feita simultaneamente. As vigas de referência
devem ter suas extremidades apoiadas em peças fixas no solo, com os apoios a uma distância
maior que cinco diâmetros ou 1,50 m do eixo da estaca ensaiada, e também, do eixo das estacas
de reação ou do ponto mais próximo do apoio do sistema de reação.
Conforme a NBR 12131:2006, a aplicação de carga foi mensurada por meio de células de
cargas, sendo o manômetro instalado juntamente na bomba hidráulica. As cargas aplicadas foram
corrigidas constantemente no tempo de aguardo da estabilização dos deslocamentos em cada
estágio de carregamento.
No presente trabalho foram utilizadas duas vigas de referência, com dois relógios
comparadores mecânico analógicos prescritos pela NBR12131, instalado no mesmo eixo, apesar
da recomendação da utilização de quatro, segundo a ABNT NBR 12131:2006. Porém as distâncias
mínimas de 1,50 m dos apoios do eixo da estaca ensaiada, foram respeitadas.
No presente trabalho foram executadas duas estacas, sendo ambas com as mesmas
características físicas e submetidas a prova de carga à tração, diferenciando o ensaio em relação
a umidade do solo. A primeira estaca ensaiada T301, executada na forma de carregamento lento ,
no dia 05/02/2016, em solo de umidade natural, com carga máxima aplicada de 195 kN.
Em seguida, foram executados dois ensaios na mesma estaca T302, com aplicação de
esforço axial de tração e carregamento do tipo lento. O primeiro ensaio realizado no dia 31/03/2016
não atingiu a ruptura, com carga máxima de 170kN e com solo pré-umedecido, com volume de água
de aproximadamente 1215 litros, despejados em 9 dias.
O reensaio da estaca T302, foi realizado com o carregamento do tipo lento, no dia
18/07/2016, atingindo a ruptura com carga máxima de 150kN. Houve um acréscimo no volume de
água no reensaio, sendo o volume de água aproximadamente de 2200 litros, despejados também
em 9 dias.
A vala foi executada no primeiro ensaio como 30 cm de largura e 15 cm de profundidade,
com 6 furos adicionais distribuindo ao longo da cava com 10 cm de diâmetro e 30 cm de
profundidade. O objetivo dos furos foi otimizar o processo de umedecimento do solo, conforme
ilustrado na figura 2.

Figura 2- Procedimento de umedecimento do solo utilizado na prova de carga da estaca T302,


segundo carregamento

Para determinar os teores de umidade do solo ao longo de sua profundidade, foram feitas
duas sondagens, uma a 5,00 m de distância do furo e outra a 0,75 m do furo. Em cada sondagem,
chegou-se a uma profundidade de 3,00 m, armazenando-se uma amostra deformada a cada 30 cm,
para determinar o teor de umidade do solo em condição natural e pré-umedecida, sendo, para isto,
utilizado o método da estufa a uma temperatura de 105° a 110°C.
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2- CONCLUSÃO

Na Tabela1 há um resumo de todas as estacas carregadas a prova de carga à tração de


comprimento igual a 6,00 metros de fuste, comparando os respectivos teores de umidade no contato
solo-estaca, o grau de saturação do solo o recalque, a carga de ruptura pelo método de Chin-
Kondner e a redução da capacidade de carga com o pré-umedecimento.

Tabela 1 - Comparação dos resultados da prova de carga em estacas de 6m de comprimento de fuste


realizado no câmpus da UEM
ESTACAS SUBMETIDAS A PROVAS DE Wmed Grau de Recalque
CARGA COM 6m DE FUSTE (%) saturação (mm)
(Sr %)
T302 – 1° Carreg. (Pré-Umedecida) 37,2 59,1 33,2
T302 – 2° Carreg. (Pré-Umedecida) 38,9 61,8 26,8
T301 – (Natural) 33,3 52,9 42,2

A Tabela 2 faz uma comparação dos critérios ruptura entre o método da NBR 6122:2010
com o critério de Chin-Kondner, na estaca T302 primeiro carregamento, na estaca T302 segundo
carregamento e na estaca T301 em umidade natural.

Tabela 2 - Resumo da capacidade de carga pela NBR 6122:2010 e pelo critério de Chin-Kondner
CAPACIDADE DE CARGA (RP)(kN)
MÉTODO T302 1° Carreg. T302 2° Carreg. T301 Natural
Pré-Umedecido Pré- Umedecido Natural
CRITÉRIO NBR 6122:2010 163,58 kN 140,30 kN 178,59 kN
CRITÉRIO DE CHIN-KONDNER 174,10 kN 144,20 kN 186,20 kN

Confrontando os valores obtidos nos carregamentos das provas de cargas, observa-se uma
efetiva redução da capacidade de carga, em relação àquela obtida na umidade natural (T301),
apresentada na tabela 3. Considerando como parâmetro o solo sem umedecimento, verifica-se uma
redução de 7,73% para o primeiro carregamento e de 23,90% para o recarregamento da estaca em
estudo.

Tabela 3 - Comparação dos resultados da prova de carga em estacas de 6m de comprimento de fuste


realizado no câmpus da UEM
Carga de ruptura (Rp) RP
ESTACAS SUBMETIDAS A PROVAS DE 1-
método Chin-Kondner
CARGA COM 6m DE FUSTE 186,2kN
(kN)
T302 – 1° Carreg. (Pré-Umedecida) 171,8 7,7%
T302 – 2° Carreg. (Pré-Umedecida) 141,7 23,9%
T301 – (Natural) 186,2 -

Foram elaborados gráficos com as sobreposições das duas curvas em estudo com auxilio
do software computacional Table Curve, sobrepondo a equação 3 da NBR 6122:2010 com as curvas
carga-recalque ajustadas pelo método de Chin-Kondner para cada ensaio de prova de carga. Desta
forma, obteve-se a carga de ruptura convencional da ABNT NBR 6122:2010, para as três provas
de cargas analisadas no presente trabalho, conforme apresentado no Figura 3.

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(a) (b)

(c)

Figura 2- (a) Indicação da capacidade de carga à tração em solo natural, T301 pelo critério de
ruptura da NBR 6122:2010; (b) Indicação da capacidade de carga à tração em solo pré-umedecido (T302
segundo carregamento) pelo critério de ruptura da NBR 6122:2010; (c) Indicação da capacidade de carga à
tração em solo pré-umedecido (T302 primeiro carregamento) pelo critério de ruptura da NBR 6122:2010

A Tabela demonstra o resumo dos valores de carga lateral de ruptura obtido nos métodos
semi-empíricos e empíricos.

Tabela 4 - Resultados das capacidades de carga lateral pelos métodos de previsão e a relação
entre os valores previsto e o valor da prova de carga - Estaca T301
CAPACIDADE DE CARGA À
MÉTODO (R/RP(2))(3)
TRAÇÃO (R)(kN)
TRONCO DE CONE 149,7(1) 80 %
GRENOBLE (1966) 174,7 94 %
MÉTODO REGIONAL – MARINGÁ 84,0 45 %
AOKI E VELLOSO (1975) 19,7 11 %
DECOURT QUARESMA (1978) 70,7 38 %
DECOURT QUARESMA (1996) 111,4 60 %
Nota: (1) 149,7kN é o valor mínimo estimado para capacidade de carga pelo método de tronco de
cone, considerando α=10°; (2) Valor referente a carga de ruptura pelo método de Chin Kondner da
estaca T301 em umidade natural igual a 186,2kN sendo igual para todos os métodos; (3) Quociente
do valor da capacidade de carga estimada pelos métodos semi-empíricos e empíricos e a
capacidade de carga resistida pela estaca T301 como solo em umidade natural(186,2kN).

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Os métodos desenvolvidos para previsão de carga em estacas tracionadas exigem
parâmetros, como coesão e ângulo de atrito, adesão estaca-solo, coeficiente de empuxo em
repouso, entre outros. Como no presente estudo foram utilizados valores médios para estes tipos
de coeficientes, os resultados dos cálculos foram relativamente distintos da prova de carga.
O método do tronco de cone, mesmo apresentando um valor mais próximo aos demais
resultados, apresenta muitas incertezas do ângulo a ser utilizado, entre o plano vertical e a
superfície de ruptura. Outra observação importante é que a estaca ensaiada mostrou indícios de
que a ruptura ocorreu entre a interface estaca-solo, ou seja, condição contraditória ao estabelecido
pelo método proposto.
O método de Grenoble apresentou resultado muito satisfatório, mesmo utilizando valores de
coeficientes médio e estimativas muito generalizadas.
Conforme a Tabela4, a comparação dos valores de capacidade de carga a tração da estaca
T301, com solo na umidade natural, com os valores da estaca T302, segundo carregamento com o
solo pré-umedecido, verificou-se que, com o aumento do teor de umidade em 5,6%, a resistência à
tração da estaca apresentou uma redução de 23,9%, em relação ao método de ruptura de Chin-
Kodner, sendo essa redução da capacidade de carga, um indicio da característica do solo colapsível
da região de Maringá.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

______. ABNT NBR 6122: Projeto e execução de fundação. Rio de Janeiro, 2010.
______. ABNT NBR 12131: Estacas – Prova de carga estática. Rio de Janeiro, 2006.
AOKI, N.; CINTRA, J. C. A. Fundações por estacas – Projeto geotécnico. São Paulo. 2010.
AOKI, N.; ALBIERO, J. H.; CINTRA, J. C. A. Fundações diretas – Projeto geotécnico. São Paulo.
2012.
AZEVEDO, C. P. B. Projeto de fundações de linha de transmissão baseado em confiabilidade. 2011.
Tese (Doutorado em Geotecnia) – Universidade Federal de Minas Gerais, 2011.
BELINCANTA, A.; FERRAS, R. L.; GUTIERREZ, N. H. M. Uma abordagem geral sobre fundações
profundas de uso corrente na região de Maringá. In: ENCONTRO TÉCNOLOGICO DA
ENGENHARIA CIVIL E ARQU
BESSA, A. A. Avaliação da resistência lateral em estacas escavadas com trado submetido a tração.
2005. B557a Teses (Magister Scientiae) – Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, 2005.
CINTRA, J. C. A.; AOKI, N.; TSUHA, C. H. C.; GIACHETI, H. C. Fundação: Ensaios estáticos e
dinâmicos. 1ed. São Paulo. Oficina de textos, 2014.
CINTRA, J. C. A. Fundações em solos colapsíveis. 1. ed. São Carlos: Rima, 1998.
GUTIERREZ, N. H. M.; BELINCANTA, A. Características básicas dos solos constituintes do subsolo
da cidade de Maringá: Locais de alta a média vertente. In: SIMPÓSIO DE PRÁTICA DE
ENGENHARIA GEOTÉCNICA DA REGIÃO SUL, 4., 2004, Curitiba. Anais. s.L.: s.n. 2004. p. 39-47.
GUTIERREZ, N. H. M; BELINCANTA, A., Características físicas e feotécnicas de perfis de solos da
cidade de Maringá. In: I ENCONTRO GEOTÉCNICO DO TERCEIRO PLANALTO PARANAENSE,
ENGEOPAR 2003, Maringá – Pr. Universidade Estadual de Maringá. LOLLO, J. A. – Solos
colapsíveis: Identificação, comportamento, impactos, riscos e soluções tecnológicas. São Paulo.
Universidade Estadual de Paulista. 2008.
NIYAMA, S.; AOKI, N.; CHAMECKI, P. R. – Fundações teoria e prática. 2. ed. São Paulo. 1998
TEXEIRA, C. Z. Comportamento de estacas escavadas em solo colapsíveis. São Carlos, Faculdade
de engenharia, Universidade de São Paulo, 1993. Dissertação de Mestrado.

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Geosul 2017 – XI Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da Região Sul
PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DO PAVIMENTO NA SC 355, EM
TRECHO DE LIGAÇÃO ENTRE A BR-153 E O MUNICÍPIO DE JABORÁ –
SC

Marina Mores1; Gislaine Luvizão2; Fabiano Alexandre Nienov3; Lucas Quiocca Zampieri4

Resumo: A falta de gerência e planejamento em rodovias é um dos principais fatores que


contribuem para o aumento dos problemas na estrutura de um pavimento. O que muitas vezes
apresetnam estado precário, sem condições de reparo, restauração ou reforma, sendo assim a
única solução a reconstrução do mesmo. Dessa forma, evidencia-se a importância de uma
manutenção realizada com frequência, e da revitalização dos pavimentos, recuperando assim a sua
vida útil, melhorando as condições de trafegabilidade e principalmente, evitando maiores custos
futuramente. Em virtude destas condições o estudo busca elaborar um projeto de restauração do
pavimento visando boas condições de trafegabilidade e segurança a quem transita. Além disso,
visando economia, através de um estudo comparativo entre reciclagem e recapeamento. Com a
aplicação das normativas brasileiras para o dimensionamento das camadas, conclui-se que o
método de reciclagem, apesar de apresentar custo em torno de 15% superior ao recapeamento, foi
a solução adotada devido ao aumento estrutural que proporciona ao pavimento. Com a aplicação
da metodologia de reciclagem, foi acompanhado a execução do processo. Aplicou-se 2,7% de
cimento CPII F 32, 15% de pó de pedra (de forma a ajustar a curva granulométrica), a espessura
de corte teve variação entre 15 e 18cm, devido as características da estrutura. Sobre a camada
reciclada, foi executada duas camadas asfálticas, uma com 3cm de massa fina e outra com 5cm de
CAUQ.
Palavras-chave: Reciclagem. Restauração. Projeto.

Abstract: The lack of highway management and planning is one of the main factors contributing to
the increased problems in the structure of a pavement. This often results in a precarious state,
without conditions of repair, restoration or reform, and the only solution is the reconstruction of it. In
this way, it is evident the importance of frequent maintenance and the revitalization of pavements,
thus recovering their useful life, improving the traffic conditions and especially, avoiding higher costs
in the future. Due to these conditions the study seeks to elaborate a pavement restoration project
aiming at good conditions of trafficability and safety to those who transit. In addition, aiming for
economy, through a comparative study between recycling and recapping. With the application of the
Brazilian regulations for the sizing of the layers, it is concluded that the recycling method, despite
having a cost around 15% higher than the backing, was the solution adopted due to the structural
increase that it provides to the pavement. With the application of the recycling methodology, the
execution of the process was monitored. It was applied 2.7% of CPII F 32 cement, 15% of stone
powder (in order to adjust the grain size curve), the cut thickness had variation between 15 and
18cm, due to the characteristics of the structure. On the recycled layer, two asphaltic layers were
executed, one with 3cm of thin mass and another with 5cm of CAUQ.
Keywords: Recycling. Restoration. Project.

1 Engenheira Civil, Universidade do Oeste de Santa Catarina, 49.999407323, marina_jabo@hotmail.com


2 Eng. Civil MSc, Universidade do Oeste de Santa Catarina, 49.35512118, gislaine.luvizao@unoesc.edu.br
3 Eng. Civil Dr, Universidade do Oeste de Santa Catarina, 49.35512118, fabiano.nienov@unoesc.edu.br
4 Eng. Civil MSc, Universidade do Oeste de Santa Catarina, 49.35512118, lucas.zampieri@unoesc.edu.br

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1
1 - INTRODUÇÃO

A SC 355 faz ligação da BR-153 ao município de Jaborá (Santa Catarina), principal via de
escoamento de tráfego, abrangendo grande frota de veículos utilitários, ônibus, motos, veículos de
carga, entre outros.
A falta de planejamento aliada com a falta de manutenção das estradas, faz com que a
pavimentação apresente problemas significativos as quais vêm acarretando diversas patologias em
todo o pavimento, caracterizado pela inexistência de reforma significativa neste longo tempo.
Desta forma, buscou-se efetuar verificação sobre o subleito e o pavimento de forma geral, a
fim de efetuar um projeto que atenda as normatizações técnicas, econômicas para a revitalização
do pavimento, sem perder em custos, tempo de execução e buscar qualidade na atividade a ser
executada.
Para isso foi optado por dois tipos de revitalização, um com apenas execução de uma camada
de revestimento asfáltico e outro com a reciclagem à frio da camada de revestimento e base (nova
base) e incorporação de uma camada de revestimento com asfalto modificado.

1.1 – OBJETIVOS
1.1.1 – Objetivo Geral

Elaborar um projeto de revitalização do pavimento para a SC 355, trecho que liga a BR – 153
ao município de Jaborá/