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Aula 03

Direito Constitucional p/ OAB 1ª Fase


XXXIII Exame - 2021

Autor:
Diego Cerqueira Berbert
Vasconcelos
Aula 03
04 de Março de 2021
Diego Cerqueira Berbert Vasconcelos
Aula 03

Sumário

Organização do Estado.......................................................................................................................................3

1 - A Federação..............................................................................................................................................5

1.1 - Características da federação..............................................................................................................5

2 - Modelo federativo brasileiro....................................................................................................................7

2.1 - União..................................................................................................................................................8

2.2 - Estados...............................................................................................................................................8

2.3 - Distrito Federal.................................................................................................................................11

2.4 - Municípios........................................................................................................................................12

2.5 - Territórios Federais..........................................................................................................................14

3 - Alteração na estrutura da federação......................................................................................................15

3.1 - Alteração na estrutura dos Estados.................................................................................................15

3.2 - Alteração na estrutura dos Municípios............................................................................................18

4 - Vedações Federativas.............................................................................................................................19

Repartição de Competências...........................................................................................................................25

1 - Distribuição de Competências na CRFB/88.............................................................................................28

1.1 - Competência Exclusiva.....................................................................................................................28

1.2 - Competência Privativa.....................................................................................................................31

1.3 - Competência Comum.......................................................................................................................36

1.4 - Competência Legislativa Concorrente.............................................................................................37

1.5 - Competência dos Estados e do Distrito Federal..............................................................................39

1.6 - Competência dos Municípios...........................................................................................................40

Intervenção......................................................................................................................................................48

1 - Intervenção Federal................................................................................................................................49

Direito Constitucional p/ OAB 1ª Fase XXXIII Exame - 2021 1


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Diego Cerqueira Berbert Vasconcelos
Aula 03

2 - Intervenção Estadual...............................................................................................................................52

3 - Controle Político na Intervenção............................................................................................................53

APRESENTAÇÃO
Olá, alunos do Estratégia OAB!

Direito Constitucional p/ OAB 1ª Fase XXXIII Exame - 2021 2


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Tudo bem com vocês?

Espero que sim, pois a nossa caminhada rumo à aprovação só está começando. (rs)

Na aula de hoje iremos estudar um dos temas “queridinhos da FGV”: Organização do Estado e a
Repartição de Competências. Aqui, temos uma chance grande desse assunto aparecer em prova.

Por conta disso, considero esse um tema fundamental. Indico, inclusive, consolidar o assunto assistindo às
videoaulas.

Uma ótima jornada a todos,

Prof. Diego Cerqueira

https://

@profdiegocerqueira

*Este curso é desenvolvido pelo Prof. Diego Cerqueira, mas conta com a participação da Advogada Lara
Abdala na produção do conteúdo para a 1ª fase em Dir. Constitucional.

ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
Vamos incialmente buscar o conceito de Estado?
No plano teórico importante termos em mente que o Estado possui as três dimensões: povo, território e
governo. Observe o quadro abaixo:

É a dimensão
É a dimensão
física sobre
pessoal
a Édoa dimensão política; o
qual o Estado
Estado;exerce
são osseus
seuspoderes;
nacionais.
Governoé odeve
domínio
ser soberano,
espacial (material)
ou seja, sua
onde
vontade
vigoranão
umasedeterminada
subordina a ordem
nenhumjurídica
outro estatal.
poder, s

Povo Território Governo

Assim, o Estado “é a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em
determinado território”1.

A forma de Estado significa que o poder interno pode ser distribuído em mais de uma maneira. Com base
nas várias formas de distribuição territorial de poder os Estados podem ser classificados como: Estado
unitário e Estado federal.

Mas, professor, o que isso significa? Calma, acompanhe a explicação detalhada abaixo:

 Um Estado é denominado como unitário quando há a centralização política do poder, ou seja, todas as
decisões procedem de um núcleo estatal (órgão ou pessoa). Até a promulgação da Constituição/1891, o
Brasil era um Estado unitário.

 Um Estado é denominado como federal quando os entes federativos possuem capacidade política. Em
decorrência da autonomia política dessas pessoas jurídicas, encontramos internamente uma pluralidade
de ordenamentos jurídicos, já que o Estado possui vários centros produtores de normas. Ex: Brasil -
composto pela U, E, DF e M, entes federativos dotados de autonomia política.

Prof.... não houve menção à confederação. Poderia explicar o que a diferencia da federação? (...)

Atualmente não há Confederação em vigor, sendo essa apenas uma referência histórica. Além disso, tem
origem na união de Estados soberanos. O vínculo decorre de um tratado internacional e pode ser desfeito.

1
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. 16 ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 118.
Por isso a sua característica marcante é a dissolubilidade (presença do direito de secessão). EUA é um
exemplo histórico, pois durante um determinado período (de 1781 a 17872) foi uma Confederação.

Na federação há um Estado Soberano decorrente da união indissolúvel de entes autônomos. Essa união
tem fundamento em uma Constituição Federal e por ser indissolúvel não pode ser desfeita: não existindo
assim o direito de secessão.

Federação Confederação
União Indissolúvel União Dissolúvel
Os Entes Federados São Autônomos Os Entes Federados São Soberanos
Tem Como Fundamento A Constituição Tem Como Fundamento Um Acordo Internacional

1 - A Federação
1.1 - Características da federação

A forma federativa adotada pelo Brasil está prevista expressamente na Constituição Federal de 1988, em
seu art. 1º, caput:

“A República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e


Municípios e do Distrito Federal”.

2
CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional: Teoria do Estado e da Constituição, Direito Constitucional Positivo, 16ª
edição. Ed. Del Rey. Belo Horizonte, 2010.
Com a leitura do dispositivo fica claro que essa foi uma decisão do legislador constituinte. Foi estabelecido
um pacto federativo tendo a atual Constituição disponibilizado mecanismos para protegê-lo.

Da descentralização do poder político decorre a autonomia política dos entes federativos, característica
presente na federação.

(...)

Professor...e o que significa de fato essa autonomia política?

Significa que todos os entes federativos possuem:

a) Auto-organização: atributo que se expressa através da elaboração das Constituições Estaduais (em
relação aos Estados) e das Leis Orgânicas (em relação aos Municípios).

b) Autolegislação: a CRFB/88 estabeleceu a existência de diversos produtores de normas, permitindo que


os entes federativos editem suas próprias leis.

c) Autoadministração: o legislador constituinte fornece aos entes federados a capacidade de exercer


atividades administrativa, tributária e legislativa, sem a necessidade de interferência da União. Por
exemplo: elaboração de orçamentos, arrecadação de tributos e execução de políticas públicas.

d) Autogoverno: capacidade dos entes federados para eleger aqueles que serão os seus representantes.

Além do descrito, a federação possui como características a repartição constitucional de competência,


indissolubilidade do vínculo federativo, nacionalidade única, rigidez constitucional, existência de
mecanismo de intervenção, existência de um tribunal federativo e a participação dos entes federativos na
formação da vontade nacional.

Vamos com calma (rs). Vou explicar cada uma dessas características logo abaixo:

 Repartição constitucional de competências: a CRFB/88 define quais são as atribuições de cada ente
federativo.

 Indissolubilidade do vínculo federativo: não é permitido que os entes se retirem da federação,


rompendo o pacto federativo, porque em uma federação não há a presença do direito de secessão.

 Nacionalidade única: todos os cidadãos da federação possuem a mesma nacionalidade independente


do seu estado-membro de origem.

 Rigidez constitucional: para a manutenção de um Estado federal é preciso que o pacto federativo seja
protegido. Isso ocorre através de uma Constituição escrita e rígida, cujo procedimento de modificação é
mais dificultoso que o procedimento de alteração das demais leis. A Constituição Federal de 1988
estabeleceu expressamente que emenda constitucional não pode abolir a forma federativa (cláusula
pétrea).
 Existência de mecanismo de intervenção: federais ou estaduais que são usados para combater atos
praticados contra o pacto federativo.

 Existência de um Tribunal Federativo: cuja finalidade é solucionar litígios entre os entes federativos. No
Brasil, essa competência é do STF, que processa e julga, originariamente, as causas e os conflitos entre a
União e Estados/DF ou entre os Estados. A CRFB/88 não incluiu aqui os Municípios, portanto não é da
competência do STF os conflitos envolvendo tal ente.

 Participação dos entes federativos na formação da vontade nacional: através de um órgão legislativo.
Na federação brasileira os Estados e o DF participam da vontade nacional através do Senado Federal. Esse
órgão representa os poderes regionais, menos os Municípios. O legislador constituinte não trouxe a
previsão de representantes municipais no Senado.

Auto-organização
(Constituições Estaduais, Leis Orgânicas)

Autogoverno Autolegislação
(Eleger seus representantes) Entes Federativos (Editar próprias leis)

Autoadministração
(Atribuições administrativas)

2 - Modelo federativo brasileiro


Vamos nos aprofundar um pouco no estudo da Federação Brasileira e suas peculiaridades. Dentro desse
contexto, a CRFB/88 estabeleceu no caput do art. 18 quem são os entes federativos, entregando a eles a
chamada autonomia. Vejamos:
“Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil
compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos,
nos termos desta Constituição”.

Uma pequena observação! A partir da leitura do dispositivo acima concluímos que os Territórios federais
não estão entre esses entes, não possuindo dessa forma autonomia política. (calma que um pouquinho
mais à frente explico melhor sobre os territórios)

Já a União, os Estados, o Distrito federal e os Municípios são entes federativos que compõe da República
Federativa do Brasil. Da autonomia garantida pela CRFB/88 surgem: a auto-organização, autolegislação,
autoadministração e autogoverno. Mas, cumpre salientar que estamos diante de atributos que a própria
CRFB/88 impõe limites...

2.1 - União

A União representa a República Federativa do Brasil, realizando as competências do inciso I ao IV, do art.
21 da CRFB/88. É preciso esclarecer que a soberania é uma característica da RFB e não da União.

A RFB é representada no plano internacional (art. 21, I) pela União. Contudo, apenas a
RFB possui soberania. Já a União possui tão somente autonomia.
Soberania

A União é pessoa jurídica de direito público interno, com competências administrativas e legislativas.
Dentro da competência legislativa é permitida, por exemplo, a edição de leis nacionais e leis federais.
“Mas, qual a diferença prof.?”

As leis nacionais são aquelas editas para aplicação em todo o território nacional. Por outro lado, as leis
federais agem apenas no âmbito da União. Como exemplo temos a Lei nº 8.112/90, que dispõe sobre o
regime jurídico dos servidores públicos federais.

2.2- Estados

Os Estados são também pessoas jurídicas de direito público interno. A autonomia política desses entes se
manifesta através da auto-organização, autolegislação, autoadministração e autogoverno. Ao longo da
Constituição Federal encontramos as diversas capacidades previstas para o Estado.

A autoadministração permite que o ente federado tenha uma autonomia para administrar o exercício das
diversas competências constitucionais.
O §3º do art. 25 da CRFB/88, por exemplo, permite aos Estados a instituição de regiões metropolitanas,
aglomerações urbanas e microrregiões, mediante a edição de lei complementar, com o objetivo de
integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

Para tal fato ocorrer, o dispositivo exige o preenchimento de 3 (três) requisitos:

Os Municípios
envolvidos devem
ser limítrofes

Finalidade de integrar
a organização, o
Lei Complementar planejamento e a
Estadual execução de funções
públicas de interesse
comum

Regiões
metropolitanas,
aglomerações
urbanas e
microrregiões

Professor, poderia explicar o significado de região metropolitana, aglomeração urbana e microrregião?


Claro! 

Todas elas decorrem da união de Municípios limítrofes. Contudo, essa reunião possui características
distintas. Vejamos:

Nas regiões metropolitanas é perceptível a existência de uma certa continuidade urbana entre os
Municípios que as formam. Além disso, essa reunião ocorre na circunvizinhança de um Município-polo. Ex:
Região Metropolina de São Paulo, envolvendo São Paulo capital, Barueri, Cajamar, Caieiras, Cotia etc.

Por outro lado, nas microrregiões não há uma continuidade urbana entre os Municípios limítrofes. O que
existe entre eles são características homogêneas, além de problemas administrativos comuns.
Já os Municípios das aglomerações urbanas são limítrofes e também apresentam entre eles uma
continuidade urbana. Entretanto, não há presença de um Município-polo. O que existe entre os Municípios
é uma chamada complementaridade funcional. Ex: Franca em São Paulo é uma das aglomerações urbanas
brasileiras, conforme o IBGE.

Na ADI 1.842, enquanto decidia sobre a criação da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e a
Microrregião dos Lagos3, o STF firmou entendimentos importantes transcritos a seguir. Vamos analisar
com cuidado:

Na criação de regiões metropolitanas o dispositivo constitucional exige a edição de lei complementar


estadual. De acordo com o Supremo, a participação dos Municípios na região metropolitana é
compulsória. Não há exigência de prévia manifestação das Câmaras Municipais como condição.

Ficou estabelecido que as funções públicas de “interesse comum” são funções e serviços públicos que
extrapolam o interesse local (interesse municipal) e por isso são supramunicipais. Como exemplo temos o
saneamento básico.

O §3º do art. 25 da CRFB/88 permite a divisão de responsabilidades entre os entes. Assim, o poder decisão
e o poder concedente (dos serviços públicos) não serão transferidos para o Estado. A gestão será
compartilhada através da formação de um órgão colegiado, que não precisa ter uma composição paritária.
O que o órgão colegiado precisa é ser capaz de prevenir que um ente tenha poder absoluto sobre os
demais.

A auto-organização e autolegislação ficam evidente no caput do art. 25 da CRFB/88 transcrito a seguir:

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
observados os princípios desta Constituição

O poder de autogoverno dado aos Estados pela CRFB/88 se manifesta através da previsão de eleições
estaduais, em que governantes são democraticamente eleitos para exercerem os seus mandatos sem
subordinação ao poder central.

A Assembleia Legislativa é o único órgão do Poder Legislativo Estadual. Conclusão: o legislativo estadual é
unicameral.

Para entender a composição desse órgão é necessária a leitura do art. 27 da CRFB/88:

onderá ao triplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido

3
ADI 1.842, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe: 13.09.2013.
§ 1º - Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando-se-lhes as regras desta Constitu

O caput do dispositivo determina o número de Deputados que uma Assembleia Legislativa deve possuir: o
triplo dos deputados federais. Imaginemos que o número de deputados federais de um Estado-membro
seja 5, logo a sua Assembleia Legislativa será composta por 15 deputados estaduais (3x5=15).

Todavia, se ao multiplicar o número de deputados federais por 3 for alcançado um resultado igual ao
número 36 ou mais, deve ser acrescido tantos quantos forem os Deputados Federais acima de 12.

Vamos mais um exemplo. Imagine Estado-membro Y possui 15 deputados federais. Ao multiplicar 15 por
03 encontraremos um valor acima de 36. Então, seguimos a regra final do caput do art. 27 da CRFB/88.
Assim, a conta para encontrar o número de deputados estaduais (Estado Y) será 36+ (15-12), totalizando
39 deputados estaduais.

O §1º da Constituição ainda dispõe que o mandato do Deputado Estadual dura quatro anos e que o
sistema eleitoral seguirá as regras da CRFB/88. Então, o entendimento é de que o sistema eleitoral será o
mesmo previsto para os deputados federais: sistema proporcional.

2.3- Distrito Federal

Assim como os demais entes federativos, podemos dizer que o Distrito Federal (DF) é um ente autônomo,
o que implica em possuir as características que decorrem dessa autonomia: auto-organização,
autoadministração, autolegislação e autogoverno.

Antes de nos aprofundarmos em cada atributo do DF, destaco aqui a discussão sobre a natureza jurídica
híbrida desse ente, apontada por alguns doutrinadores. O Supremo Tribunal Federal entende que o DF
possui características dos Estados e dos Municípios, mas assegura que se trata de ente federativo
autônomo, com a peculiaridade de ter a autonomia parcialmente tutelada pela União.

A autoadministração se apresenta a partir da manifestação de todas as outras capacidades. O caput do art.


32 da CRFB/88 determina que o Distrito Federal é regido por sua Lei Orgânica, estando evidente aqui a
atribuição Constitucional da auto-organização e também autolegislação. A LO/DF é votada em dois turnos
com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará.

Ao referido ente foram estendidas as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios, nos
moldes do disposto no §1º, do art. 32 e 147 da CRFB/88, complementando o seu poder de autolegislação.
Contudo, o legislador constituinte estabeleceu que parte dessas atribuições é tutelada pela União, como a
competência para legislar sobre a organização judiciária (art. 22, inciso XVII da CFRB/88)

Também existem limitações para a chamada auto-organização. Uma delas é a capacidade da União
organizar e manter os seguintes poderes e órgãos do DF: Ministério Público, o Poder Judiciário, a polícia
civil, a polícia penal, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar (CRFB/88, art. 21, XIII e XIV).
Atenção!!! Recentemente a EC nº 104/2019 criou a polícia penal, um órgão de segurança pública, que
passa a existir na esfera: federal, estadual e distrital. Tal polícia é responsável pela segurança dos
estabelecimentos penais, possuindo vinculação com o órgão que administra o sistema penal da União, do
Estado ou do DF (art. 144, VI e §5º-A da CRFB/88)

O entendimento do Supremo é de que a competência da União acima descrita (organizar e manter)


envolve igualmente legislar sobre a matéria. Então, foi editada a Súmula Vinculante nº. 39 do STF:

Compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias civil e militar e do
corpo de bombeiros militar do Distrito Federal.

Além disso, ao Distrito Federal não é permitida a alteração dos seus limites territoriais, estando expresso
inclusive no caput do art. 32 da CRFB/88 a vedação de sua divisão em Municípios.

Por fim, temos a capacidade de autogoverno que envolve a eleição do Governador e do Vice-Governador e
dos deputados distritais. As regras de eleição para os deputados distritais são as mesmas dispostas para os
deputados estaduais.

Já em relação à eleição do Chefe do Poder Executivo Distrital e seu Vice foi estabelecido que são aplicadas
as normas que regulam a eleição para Presidente da República.

2.4 - Municípios

No plano doutrinário, a típica federação possui como entes federados a União e os Estados. Ao atribuir
autonomia aos Municípios, a Constituição Federal trouxe uma característica peculiar para a federação
brasileira. Talvez por isso recebeu por alguns da doutrina a denominação de federação sui generis.

A autonomia do Município tem tamanha importância que foi alçada pela Constituição à condição de
princípio constitucional sensível (CRFB/88, art. 34, VII, “c”). Está previsto nos dispositivos constitucionais
(arts. 18, 29 e 30) e permite a auto-organização, autolegislação, autogoverno e autoadministração pelos
municípios. Todos esses atributos se apresentam através:

Da Lei Orgânica Municipal que rege o município (auto-organização);

Da edição de leis municipais (autolegislação);

Da existência de eleição direta para Prefeito, Vice e vereador no âmbito dos municípios. Eleições que
ocorrem sem interferência do Governo Federal e Estadual;

Do exercício de suas competências administrativas, tributárias e legislativas.

Destrinchando o art. 29 da CRFB/88 encontramos as regras de votação da Lei Orgânica do município e da


eleição do Prefeito e seu Vice. Vamos realizar a leitura juntos:

e-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros
promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estad
- eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para mandato de quatro anos, mediante pleito di
- eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao térm
- posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de janeiro do ano subsequente ao da eleição;
(...)
V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários Municipais fixados por lei de iniciativa da Câma
(...)
X- julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça

No caput temos que a votação da Lei Orgânica ocorrerá em dois turnos com interstício mínimo de dez
dias, mas para a aprovação do seu texto é necessário que dois terços dos membros da Câmara Legislativa
votem a favor. E por fim a própria Câmara Legislativa é a responsável por promulgar a LO, atendendo os
princípios estabelecidos na CF/88 e na Constituição do respectivo Estado.

Há nos incisos apresentados acima a descrição sobre a realização da eleição do Prefeito e Vice-Prefeito. Ao
citar o art. 77, o inciso II deixa expresso que as regras são as mesmas estabelecidas para a eleição do Chefe
do Poder Executivo Federal, caso o Município possua mais de 200.000 eleitores.

- O Chefe do Poder Executivo Municipal e seu Vice são eleitos por meio do sistema majoritário. O sistema
majoritário de 2 turnos apenas se aplica quando o Município possui mais de 200.000 eleitores.

- O sistema majoritário pode ser o simples ou o absoluto. No simples haverá apenas um turno de votação
(o candidato será eleito se obtiver o maior número de votos do total de votos válidos).

- No absoluto pode haver dois turnos. Afinal, neste último, para que um candidato seja eleito é necessário
que um deles atinja a regra de 50% + 1 dos votos válidos. Caso isso não ocorra, os dois mais votados irão
disputar o segundo turno.
As eleições em âmbito municipal ocorrem no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao fim do
mandato daqueles que serão sucedidos. O mandato de ambos será de 4 (quatro) anos.

Avançando um pouco mais no estudo municipal, importante ainda termos a compreensão do art. 29, inciso
XIII da CRFB/88. Ele estabelece o regramento sobre a iniciativa popular de leis no Município. Há a
necessidade da manifestação de, pelo menos, 5% do eleitorado.

Por fim, em relação aos demais Poderes municipais, o Poder Legislativo é unicameral e não há um Poder
Judiciário.

2.5- Territórios Federais

Os Territórios Federais não receberam autonomia política da Constituição Federal. Eles não são entes
federados. Guarde isso com carinho (rs)

Dada a leitura atenta do art. 1º combinada com o art.18, § 2º, ambos da CRFB/88, temos que os Territórios
Federais decorrem de uma descentralização administrativa. São considerados pela doutrina meras
autarquias territoriais da União. Afinal, o art. 18, §2º determina que eles integram a União.

Agora, muito cuidado!!!! Apesar de não ser um ente federativo, é permitida a divisão dos territórios
federais em Municípios.

“Prof e hoje temos territórios federais?”

O Brasil não possui mais Territórios Federais 4. Porém, a CRFB/88 traz a permissão para a criação deles a
qualquer tempo, por meio de uma lei complementar.

“Então, por não ser um ente federativo, os Territórios Federais não possuem Poder executivo, legislativo e
judiciário?”

Calma, o legislador constituinte buscou esclarecer essa questão. 

A CRFB/88 trouxe a previsão da chamada Câmara Territorial, representante do Poder Legislativo, no


âmbito do Território Federal. Entretanto, estabeleceu que cabe ao legislador infraconstitucional dispor
sobre as eleições e a competência deliberativa da Câmara. Ressalto a competência do Congresso Nacional:
responsável pelo controle externo da Administração dos Territórios, com o auxílio do TCU (§2º do art. 33
da CRFB/88).

4
A CRFB/88 determinou que os antigos territórios de Roraima e do Amapá são estados federados, enquanto Fernando de
Noronha atualmente faz parte do estado de Pernambuco.
Uma curiosidade. Os Territórios Federais não elegem Senadores (representantes somente dos Estados e
DF). Em relação a Câmara dos Deputados (composta de representantes do povo) devem ser eleitos 4
Deputados Federais por cada Território. O número é fixo e não proporcional à população (§2º do art. 45
da CRFB/88).

O Poder Executivo do Território é chefiado por um Governador não eleito pelo povo. Ocorre uma
nomeação por parte do Presidente da República, desde que o sujeito seja aprovado antes pelo Senado
Federal, através de uma votação secreta após arguição pública (alínea c, III, do art. 52 c/c XIV do art. 81 da
CRFB/88)

O legislador constituinte estabeleceu que cabe a lei federal dispor sobre a organização administrativa e
judiciária dos Territórios (art. 33 caput da CRFB/88), sendo competência privativa da União legislar sobre
essas matérias (art. 22, XVII).

Em relação ao judiciário, a competência legislativa da União é voltada para a organização e manutenção do


Poder Judiciário do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Assim, de acordo com o parágrafo único do art.
110 da CRFB/88, os juízes do TJDFT (juízes locais) terão a jurisdição e as atribuições dos juízes federais, na
forma da lei.

Tanto a organização e quanto a manutenção do Poder Judiciário e do Ministério Público do Distrito Federal
e Territórios Federais são da competência da União. Esses são representados pelo TJDFT e o MPDFT
(Ministério Público do Distrito Federal e Territórios). No caso da Defensoria Pública dos Territórios, esta
também é organizada e mantida pela União.

Por último, cumpre destacar que, de acordo com o §3º do art. 33 da CRFB/88, Território Federal com mais
de 100.000 (cem mil) habitantes, além de Governador, possuirá órgãos judiciários de primeira e segunda
instância, membros do Ministério Público e defensores públicos federais. O dispositivo trata da
possibilidade de instalação local de órgão representante do TJDFT, MPDFT e da Defensoria Pública dos
Territórios.

3 - Alteração na estrutura da federação

3.1 - Alteração na estrutura dos Estados

Engana-se quem acredita que, por conta do art. 60 §4º da CRFB/88, a federação brasileira não pode sofrer
alteração.

Como assim professor? A federação não é cláusula pétrea? Calma, vou já vou explicar isso.

Ser cláusula pétrea significa que não é permitida emenda constitucional cujo objeto seja a abolição da
forma federativa. Então, podemos afirmar que apesar de ser cláusula pétrea, não impede alterações na sua
estrutura interna.

Justamente por isso temos previsões constitucionais como o art. 18, § 3º transcrito abaixo:
§ 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se
anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante
aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso
Nacional, por lei complementar.

O dispositivo traz quais as modificações que os Estados podem sofrer. Percebam que o texto constitucional
não veda alterações que sejam realizadas dentro do modelo em si.

Vamos a um exemplo. Assim que entendemos melhor 

Digamos que o Estado do Rio Grande do Sul deseje se desmembrar para formar um novo Estado dotado de
soberania. Isso pode?

“NÃOOO professor. ” exatamente rs. Já vimos isso em aula. É o chamado princípio da indissolubilidade
do vínculo federativo. Não cabe o direito de secessão na nossa ordem jurídica constitucional brasileira.

Pois bem. Mas, será que é possível que uma parte do Estado do Rio Grande do Sul se desmembre para
forma um novo Estado dotado apenas de autonomia, permanecendo dentro do modelo federal? SIMMM.
Dentro do modelo federativo podemos ter alteração na estrutura territorial do Estados-membros, desde
que isso não venha a impactar na soberania do próprio Estado Federal. É a previsão do art. 18, § 3º, da
CRFB/88.

No caso das modalidades de transformação territorial, vamos explicar cada uma delas:

a) Fusão: é a formação de um novo ente federado a partir da união de outros, que deixam de existir.
Exemplificando: o Estado X se une ao Estado Y e forma o Estado Z, novo ente federado com personalidade
própria.

b) Incorporação: aqui um ente federativo (Estado agregado) desaparece após ser incorporado por um
outro Estado (Estado agregador), que terá um aumento no seu território. Ocorre a manutenção da
personalidade do Estado agregador. Ex: Estado de Guanabara se incorporou ao Estado do Rio de Janeiro.

c) Subdivisão ou cisão: ao se subdividir um Estado desaparece dando origem a outros Estados ou


Territórios Federais. Surgem duas ou mais novas personalidades jurídicas. Atualmente há proposta para
que o Maranhão seja cindido dando origem ao Maranhão do Sul e Maranhão do Norte.

d) Desmembramento-anexação: não haverá extinção de personalidade jurídica alguma. Um ou mais


Estados cede apenas parte de seu território, que será anexada a um outro Estado. Assim, o Estado que
perdeu parte de seu território apenas diminui de tamanho e o outro aumenta.

e) Desmembramento-formação: um novo ente é criado a partir de parcela do território cedida por um ou


mais Estados. Não haverá a extinção de ente algum. Tocantins surgiu de um desmembramento-formação.
Parte do território de Goiás foi cedida para a formação do novo Estado (Tocantins).

Avançando um pouco nesse tema, importante ainda ter a compreensão que as alterações, uma vez
realizadas, elas devem respeitar determinados requisitos. Observe que §3º traz no final: “mediante
aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei
complementar”.

O STF definiu que a expressão “população diretamente interessada” abrange toda a população do(s)
Estado(s) afetado(s), devendo essa ser consultada e não apenas a população da área a ser desmembrada,
incorporada ou subdividida (ADI nº 2.650/DF)

Com a leitura do art. 18, § 3º combinado com o VI, do art. 48 da CRFB/88 temos que a consulta ocorre por
meio de um plebiscito e a possibilidade de modificação do(s) Estado(s) depende da aprovação da
população. Enquanto a reprovação implica na não modificação territorial, a aprovação deixa a decisão final
a cargo do Congresso Nacional.

Antes da fase da aprovação do projeto de lei complementar pelo Congresso Nacional e após o plebiscito
temos a possibilidade de oitiva das Assembleias Legislativas dos estados interessados. Entretanto, a oitiva
é uma consulta meramente opinativa. Seja o parecer das Assembleias Legislativas favorável ou
desfavorável, caberá ao Congresso Nacional decidir pela aprovação ou não do projeto de lei
complementar. Estará nas mãos do Congresso decidir. Estamos diante de uma decisão política e
discricionária. (conveniência e oportunidade)

O §3º explicado acima é aplicado também para a formação do Território, ou seja, as regras previstas para a
incorporação, subdivisão e desmembramento de Estado são aplicadas a constituição dos Territórios. Em
resumo, temos:

Alteração nos Estados

Edição de Lei Consulta prévia às


Complementar pelo Congresso Nacional populações diretamente interessadas

Oitiva das Assembleias


Legislativas dos estados interessados
Realização de plebiscito
(opinativa)
3.2- Alteração na estrutura dos Municípios

O legislador constituinte também permitiu a criação, fusão e desmembramento dos Municípios. As regras
foram estabelecidas no art. 18, § 4º da Constituição, com EC nº 15/1996. Vamos fazer a leitura juntos:

§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual,


dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante
plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal,
apresentados e publicados na forma da lei.

A EC nº 15/1996 teve a finalidade de “frear” a proliferação de Municípios que ocorreu entre os anos de
1988 e 1996, estabelecendo assim mais restrições. Para a criação, incorporação, fusão e desmembramento
de municípios, o atual texto constitucional exige o respeito aos seguintes requisitos:

 Lei complementar federal: é editada pelo Congresso Nacional e tem a finalidade de determinar o
período em que poderá ocorrer a criação, incorporação, fusão e desmembramento de municípios. Até hoje
não existe;

 Lei ordinária federal: visa estabelecer a forma de divulgação, apresentação e publicação dos estudos de
viabilidade municipal;

 Estudos de viabilidade municipal (EVM): devem ser divulgados na forma estabelecida pela lei ordinária
federal mencionada acima;

 Plebiscito: apenas se a consulta feita às populações dos Municípios envolvidos for favorável será
possível a aprovação da lei ordinária estadual pela Assembleia Legislativa. Se o plebiscito for desfavorável
não haverá permissão para a criação do novo Município ou qualquer outra alteração.

 Lei ordinária estadual: ao ser aprovada pela Assembleia Legislativa ocorrerá a criação, incorporação,
fusão e desmembramento do(s) município(s). Mesmo que o plebiscito tenha sido favorável, a Assembleia
Legislativa não está obrigada a aprovar a lei ordinária estadual (há discricionariedade);

A lei complementar federal ainda não existe e por isso municípios não podem ser criados. Mesmo existindo
tal impedimento, houve a criação de muitos Municípios após a promulgação da EC nº 15/96. As criações
foram consideradas inválidas e os entes denominados de “Municípios putativos”.

Ao analisar a situação na ADIN nº 3.682/MT, o STF reconheceu a mora do Congresso Nacional, mas
também atestou a inconstitucionalidade da criação dos Municípios sem pronunciar a nulidade dos atos.
Portanto, em nome da segurança jurídica, não determinou a extinção dos Municípios.

Coube ao Congresso Nacional regularizar a situação dos “Municípios putativos” com a promulgação da EC
nº. 57/2008, acrescentando o art. 96 ao ADCT que possui a seguinte redação: “ficam convalidados os atos
de criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31 de
dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado à época de
sua criação.”
Edição de lei complementar federal pelo Congresso Nacional, fixando genericamente o período dentro do qual poderá oco
Aprovação de lei ordinária federal determinando os requisitos ge
Alteração nos Municípios

Consulta prévia, por


Divulgação dos estudos de
plebiscito, às populações
viabilidade municipal -
dos Municí 1 s envolvidos
EVM

Aprovação de lei ordinária


estadual pela Assembleia
Legislativa determinando
a alteração. Trata-se de pio
ato discricionário

4 - Vedações Federativas

No art. 19 da Carta Magna encontramos as denominadas vedações federativas, ou seja, proibições


constitucionalmente estabelecidas para os entes federados. Vejamos:

Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o
funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou
aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
II - recusar fé aos documentos públicos;
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.

Dos 03 incisos dispostos acima, destaco o tema dos cultos religiosos. Embora os entes federativos não
possam manter relações de dependência ou aliança com Igrejas, poderemos ter colaboração do poder
público, na forma da lei.

Além disso, o Supremo5 já decidiu, com fundamento no inciso I do art. 19, que não é possível a imposição
legal de manutenção de exemplares de Bíblias em escolas e bibliotecas públicas estaduais. Porque isso
contraria tanto a laicidade estatal, quanto a liberdade religiosa consagrada pela Carta Magna, já que
5
STF. Plenário. ADI 5258/AM, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 12/4/2021
quando uma norma impõe a compra, pela administração pública, de apenas um dos livros tidos como
sagrados caracteriza evidente privilégio a determinada manifestação religiosa.

1. (FGV/XXVII Exame de Ordem Unificado - 2018) Após o cumprimento de todas as formalidades


constitucionais e legais exigíveis, O Estado Alfa se desmembra (desmembramento por formação),
ocasionando o surgimento de um novo Estado-membro: o Estado Beta. Preocupados com a possibilidade
c gionais, um grupo de cidadãos inicia um movimento
de isso influenciar nas grandes decisões políticas re
exigindo a imediata elaboração de uma Constituição para o novo Estado Beta. Os líderes políticos locais,
sem maiores conhecimentos sobre a temática, buscam assessoramento jurídico junto a advogados
constitucionalistas, sendo-lhes corretamente informado que, segundo a inteligência do sistema jurídico-
constitucional brasileiro,
A) com a criação do Estado Beta no âmbito da República Federativa do Brasil, passou este a fazer parte do
pacto federativo, subordinando-se tão somente à Constituição Federal, e não a qualquer outra
Constituição.
B) tendo passado o Estado Beta a ser reconhecido como um ente autônomo, adquiriu poderes para se
estruturar por meio de uma Constituição, sem a necessidade desta se vincular a padrões de simetria
impostos pela Constituição Federal.
C) pelo fato de o Estado Beta ter sido reconhecido como um ente federado autônomo, passa a ter poderes
para se estruturar por meio de uma Constituição, que deverá observar o princípio da simetria, conforme os
padrões fixados na Constituição Federal.
D) o reconhecimento do Estado Beta como um ente federado autônomo assegurou-lhe poderes para se
estruturar por meio de uma Constituição, cujo texto, porém, não poderá ́ se diferenciar daquele fixado pela
Constituição Federal.
Comentários:
Olha ó que questão interessante! Nossa CRFB/88 estabeleceu a possibilidade dos Estados se
desmembrarem (art. 18, parágrafo 3º, CRFB/88). Mas, no modelo da federação, há uma união indissolúvel
de entes autônomos, que tem como fundamento uma Constituição. A federação não pode ser desfeita.
Assim, não há a possibilidade do chamado “direito de secessão”. É o que a doutrina chama de
“indissolubilidade do vínculo associativo”. Entretanto, há um poder de auto-organização dos estados por
meio da elaboração das Constituições Estaduais, mas devem observar o chamado princípio da simetria.
Gabarito Letra C.
2. (FGV/XX Exame de Ordem Unificado – 2016 – Reaplicação de Prova – Salvador/BA). O modelo
federalista é uma forma de organização e distribuição do poder estatal que pressupõe a relação
entre as esferas de governo federal e local, compondo os chamados entes federativos, todos dotados de
autonomia. Apresenta-se como oposição ao unitarismo, de modo que haja a repartição de competências
entre os entes que integram o Estado federado. A ordem jurídica estabeleceu elementos, no texto
constitucional, que caracterizam essa forma de Estado. A partir das características da Federação
brasileira, assinale a afirmativa correta.
a) A forma federativa de Estado autoriza a secessão de um ente federativo por meio de plebiscito
popular ou referendum.
b) A forma federativa de Estado é estabelecida por um pacto (ou tratado) internacional entre os estados
soberanos.
c) A forma federativa de Estado impõe a necessidade de existência de uma cláusula de garantia ao pacto
federativo, tal como a chamada intervenção federal.
d) Uma vez que, na forma federativa, todos os entes federativos são autônomos, eles estão autorizados
a representar a soberania do Estado em suas relações internacionais.
Comentários:
f
Letra A: errada. Como estudamos há pouco, na federação há uma união indissolúvel de entes autônomos,
que tem como fundamento uma Constituição. Não há direito de secessão.
Letra B: errada. Opa, pegadinha! Não é na federação que isso ocorre. É na confederação. Por meio da
confederação tem-se uma reunião de Estados soberanos e o vínculo é estabelecido com base em um
tratado internacional.
Letra C: correta. Este é o gabarito. O modelo de federação realmente tem como pressuposto a existência
de uma cláusula de garantia ao pacto federativo, sendo esse pacto formado pela união indissolúvel de
entes autônomos.
Letra D: errada. De fato, na federação temos várias pessoas jurídicas com capacidade política, cada uma
delas dotada de autonomia política. São vários os centros produtores de normas; existe uma pluralidade
de ordenamentos jurídicos. Mas, não se pode dizer que todos os entes estão autorizados a representar a
soberania do Estado em suas relações internacionais. Quem representa a República Federativa do
Brasil no plano internacional é a União (art. 21, I, da CF/88).
Portanto, o gabarito é a letra C.
3. (FGV/XVIII Exame de Ordem Unificado – 2015) A parte da população do Estado V situada ao sul do seu
território, insatisfeita com a pouca atenção que vem recebendo dos últimos governos, organiza-se e dá
início a uma campanha para promover a criação de um novo Estado-membro da República Federativa do
Brasil – o Estado N, que passaria a ocupar o território situado na parte sul do Estado V. O tema desperta
muita discussão em todo o Estado, sendo que alguns argumentos favoráveis e outros contrários ao
desmembramento começam a ganhar publicidade na mídia. Reconhecido constitucionalista analisa os
argumentos listados a seguir e afirma que apenas um deles pode ser referendado pelo sistema jurídico-
constitucional brasileiro. Assinale-o.
a) O desmembramento não poderia ocorrer, pois uma das características fundamentais do Estado Federal
é a impossibilidade de ocorrência do chamado direito de secessão.
b) O desmembramento poderá ocorrer, contanto que haja aprovação, por via plebiscitária, exclusivamente
por parte da população que atualmente habita o território que formaria o Estado N.
c) Além de aprovação pela população interessada, o desmembramento também pressupõe a edição de lei
complementar pelo Congresso Nacional com esse objeto.
d) Além de manifestação da população interessada, o sistema constitucional brasileiro exige que o
desmembramento dos Estados seja precedido de divulgação de estudos de viabilidade.
Comentários:
Questão que a FGV adora trazer em prova (rs). A questão da alteração territorial dos estado tem que
‘tatuar no cérebro” (rs). E, aqui, vale a fixação do art. 18, § 3º da CRFb/88; “os Estados podem incorporar-
se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou
Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e
do Congresso Nacional, por lei complementar”.
Portanto, o gabarito da questão é a letra C.
4. (FGV / XIII Exame de Ordem Unificado – 2014) José é cidadão do município W, onde está localizado o
distrito de B. Após consultas informais, José verifica o desejo da população distrital de obter a
emancipação do distrito em relação ao municípi ofde origem. De acordo com as normas constitucionais
federais, dentre outros requisitos para legitimar a criação de um novo Município, são indispensáveis:
a) lei estadual e referendo.
b) lei municipal e plebiscito.
c) lei municipal e referendo.
d) lei estadual e plebiscito.
Comentários:
A criação de Município depende de 5 (cinco) requisitos:
a) lei complementar federal;
b) lei ordinária federal determinados os requisitos genéricos e a forma de divulgação, apresentação e
publicação dos estudos de viabilidade municipal;
c) divulgação dos estudos de viabilidade municipal;
d) consulta prévia, por plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos;
e) aprovação de lei ordinária estadual pela Assembleia Legislativa determinando a criação do Município. A
resposta é a letra D.
5. (FGV / VIII Exame de Ordem Unificado – 2012) Sabendo-se que o Município integra a Federação,
assinale a afirmativa correta, à luz das normas constitucionais.
a) O município será regido por Lei Orgânica própria, votada pela Assembleia Estadual.
b) A organização municipal conterá previsão de eleições para mandato de cinco anos, sem reeleição.
c) Um projeto de lei de iniciativa popular, baseado em interesse local, depende de, pelo menos, cinco por
cento do eleitorado.
d) O limite máximo de dez vereadores deverá ser observado para localidades com até 15.000 (quinze mil)
habitantes.
Comentários:
Letra A: errada. Realmente a Lei maior em termos municipais é a Lei Orgânica, mas esta é votada na
Câmara dos Vereadores do próprio município (não pela Assembleia Legislativa estadual)
Letra B: errada. No ordenamento jurídico pátrio, há previsão de mandato de 4 nãos para os cargos de
Chefes do Poder Executivo Municipal, além da possibilidade de reeleição para o cargo de Prefeito.
Letra C: correta. Isso mesmo. Projeto de lei de iniciativa popular, quando no de interesse local, depende
de, pelo menos, 5% do eleitorado local. (cuidado)
Letra D: errada. Conforme o art 29, IV, a, nos casos de Municípios com até 15 mil habitantes, o número
máximo de Vereadores é 9 (nove). Gabarito letra C.
6. (FGV / V Exame de Ordem Unificado – 2011) Os Estados são autônomos e compõem a Federação com
a União, os Municípios e o Distrito Federal. À luz das normas constitucionais, quanto aos Estados, é
correto afirmar que
a) podem incorporar-se entre si mediante aprovação em referendo.
b) a subdivisão não pode gerar a formação de novos territórios.
0
c) o desmembramento deve ser precedido de autorização por lei ordinária.
d) se requer lei complementar federal aprovando a criação de novos entes estaduais.
Comentários:
Vamos ao gabarito? Questão tiro-curto!!!
Os requisitos para a formação de Estados são os seguintes:
- Consulta prévia, por plebiscito, às populações diretamente interessadas;
- Oitiva das Assembleias Legislativas dos estados interessados (art. 48, VI, CF/88);
- Edição de lei complementar pelo Congresso
Nacional. E o gabarito, professor?
Letra A: errada. Não há que se falar em “referendo”, mas sim em plebiscito.
Letra B: errada. Segundo o art. 18, § 3º, CF/88, “os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou
desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante
aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei
complementar.”
Letra C: errada. O desmembramento deve ser precedido de lei complementar.
Letra D: correta. É necessária a edição de lei complementar para a criação de um novo Estado.
Gabarito letra D.
7. (ESTRATÉGIA OAB/INÉDITA) Após um amplo debate político e social, o Município Alfa resolve realizar
um desmembramento de parte de seu território. Tendo tomado conhecimento através da mídia, o aluno
Igor questionou ao professor Renan se a medida seria constitucional ou não. O Professor prontamente
respondeu ao aluno que:
a) seria constitucional, caso o desmembramento ocorresse através de lei municipal, consulta prévia à
população envolvida e estudo de viabilidade municipal.
b) seria constitucional, caso o desmembramento ocorresse através de lei estadual, referendo popular e
estudo de viabilidade municipal.
c) seria constitucional, caso o desmembramento fosse realizado por meio de lei federal, referendo popular
e estudo de viabilidade municipal.
d) é inconstitucional, porque a matéria de desmembramento de municípios ainda estava pendente de
regulamentação desde o ano de 2013, através de lei complementar ainda não publicada.
Comentários:
Letra A: errada. Conforme o artigo 18, §3°, CF, "a criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de
Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e
dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após
divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei". Todavia, a
legislação federal ainda não foi editada.
Letra B: errada O desmembramento poderá ser efetuado após consulta prévia, mediante plebiscito, às
populações diretamente envolvidas. Logo, não pod ecmos falar em referendo, mas sim plebiscito.
Letra C: errada. Não é matéria de lei federal, mas sim de lei estadual, que será o instrumento necessário
para o desmembramento de Município, que depende da realização de plebiscito.
Letra E: correta. Isso mesmo. tal matéria ainda está pendente de edição. A lei complementar federal que
fixará o período e prazo para a criação, incorporação, fusão ou desmembramento de Município não foi
produzida pelo legislativo federal. Dessa forma, tal desmembramento de Município será considerado
inconstitucional. Gabarito letra E.
8. (ESTRATÉGIA OAB/INÉDITA) Fernando é Deputado Federal representando o Estado da Bahia. Com
problemas de saúde, sua permanência em Brasília se tornou inviável. Desejando continuar na vida
política, consulta seus assessores sobre o número de vagas para Deputado Estadual do Estado “Z”. Em
resposta, sua assessoria indica que o número de Deputados Estaduais deve, nos termos da Constituição
Federal, corresponder, em princípio, ao:
a) dobro da representação do Estado na Câmara dos Deputados.
b) triplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados.
c) quádruplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados.
d) quíntuplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados.
e) sêxtuplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados.
Comentários:
Esse é um bom tema para ser cobrado em prova! Segundo o art. 27, CF/88, o número de Deputados
Estaduais "corresponderá ao triplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o
número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima doze".
Gabarito é a Letra B.
9. (FGV/XXVIII Exame de Ordem Unificado - 2019) A população do Estado X, insatisfeita com os rumos da
política nacional e os sucessivos escândalos de corrupção que assolam todas as esferas do governo, inicia
uma intensa campanha pleiteando sua separação do restante da Federação brasileira. Um plebiscito é
então organizado e 92% dos votantes opinaram favoravelmente à independência do Estado. Sobre a
hipótese, com base no texto constitucional, assinale a afirmativa correta.
A) Diante do expressivo quórum favorável à separação do Estado X, a Assembleia Legislativa do referido
ente deverá encaminhar ao Congresso Nacional proposta de Emenda Constitucional que, se aprovada,
viabilizará a secessão do Estado X.
B) Para o exercício do direito de secessão, exige-se lei estadual do ente separatista, dentro do período
determinado por Lei Complementar federal, dependendo ainda de consulta prévia, mediante plebiscito, às
populações dos demais Estados, após divulgação dos estudos de viabilidade, apresentados e publicados na
forma da lei.
C) Diante da autonomia dos entes federados, admite-se a dissolução do vínculo existente entre eles, de
modo que o Estado X poderia formar um novo país, mas, além da aprovação da população local por meio
de plebiscito ou referendo, seria necessária a edição de Lei Complementar federal autorizando a
separação.
D) A forma federativa de Estado é uma das cláusulas pétreas que norteiam a ordem constitucional
brasileira, o que conduz à conclusão de que se revela inviável o exercício do direito de secessão por parte
de qualquer dos entes federados, o que pode motivar a intervenção federal.
Comentários:
Opa!!! Questão fresquinha saindo do forno.. . .(e muito bem elaborada por sinal)
Nossa Carta Magna em seu artigo inaugural, ou seja, artigo 1º, estabeleceu que a Soberania é um pilar
fundamental da nossa constituição, enquanto Estado Democrático de Direito. Dessa forma, a República
Federativa do Brasil é dotada de Soberania e constitui-se da união indissolúvel dos entes federados. Os
entes assumem um papel de autonomia apenas, jamais soberania. Consequentemente, não é permitido
aos Estados o direito de secessão (para formação de um novo Estado soberano). Além disso, dentre as
cláusulas pétreas, está a forma federativa do Estado, nos termos do art. 60, parágrafo 4º, não podendo ser
objeto de Emenda Constitucional tendente a aboli-la. Gabarito letra D.

REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS
Conforme abordado no começo da aula, a autonomia dos entes federados decorre da existência de
descentralização do poder político na federação. Essa descentralização significa divisão de poder entre os
entes, ou seja, repartição de competências.

A repartição de competências traduz-se num processo de distribuição constitucional de poderes entre as


entidades federadas e constitui o ponto nuclear da noção de Estado Federal6.

A Constituição Federal de 1988 visando estabelecer um federalismo de equilíbrio trouxe a partilha de


poderes entre os entes de forma racional e equilibrada. Assim, a Constituição está harmonizando a
convivência entre eles, viabilizando o pacto federativo.7

6
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional. Ed. Juspodium, Salvador, 2016, pp. 778.
Para a concretização da repartição de competências, a CRFB/88 adotou dois princípios como critérios
básicos: i) princípio da predominância do interesse; e ii) princípio da subsidiariedade.

Com base no princípio da predominância do interesse, temos que a distribuição de competências ocorre
da seguinte forma: enquanto a União é responsável pelas matérias de interesse nacional/geral, as matérias
de interesse regional competem aos Estados; já as matérias de interesse local pertencem aos Municípios.

Como assim professor? Acompanhe alguns exemplos que a doutrina adora nos apresentar (rs):

A chamada emissão de moeda. Será que esse assunto é de interesse local? Regional? Imagine se cada
estado-membro pudesse emitir moeda em nosso território nacional. (rs) Seria um caos....

A CRFB/88 estabeleceu que este assunto é de interesse predominante nacional, logo, a competência será
da União.

Beleza, Diego! Quero outro exemplo ;). Assegurar a defesa nacional. Estamos diante de um assunto de
interesse também nacional, sendo de competência da União. Trata-se de uma ação desenvolvida pelo
Ministério da Defesa e pelos comandos Militares da Marinha, Exército e Aeronáutica.

Aqui nós temos a preparação e execução de uma política de defesa nacional. O foco é preparar e capacitar
nosso estado brasileiro para o resguardo da soberania.

Por fim, vamos pensar na fixação do horário de funcionamento de agências bancárias. Vamos supor que
o Miunicípio de Salvador pudesse definir o horário de abertura das agências bancárias. São Paulo, Minas,
Rio de Janeiro, idem. Imagine o problemão que seria....

Como o que está em jogo é o sistema financeiro nacional, o interesse é geral, de todo o estado brasileiro.
Portanto, temos uma competência da União.

Agora, e quanto à fixação do horário de funcionamento de estabelecimentos comerciais?

Ai mudamos um pouco essa regra rs.

A jurisprudência dos Tribunais entende que, nesse caso, estamos diante de um assunto tipicamente local.
Logo, a competência é dos Municípios.

E, de fato, faz todo o sentido. O que Porto Alegre tem a ver com o horário de funcionamento dos bares no
porto da barra em Salvador? Cada município que regule seu quadrado (rs). Assunto tipicamente de
interesse local!

(...)

7
MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional. Ed. Juspodium, Salvador, 2013, pp. 453.
E o princípio da subsidiariedade? Esse fundamenta a seguinte ideia: as decisões devem ser tomadas pelo
ente federativo com maior proximidade da questão a ser resolvida. Guardem isso com carinho! Como
exemplo, citamos as competências para dispor sobre transporte.

União Estados Municípios

A exploração dos serviços


cia da União. O Estado (sozinho) não consegue regular satisfatoriamente o transporte interestadual e internacional; só a União conseg
A exploração do
A exploração do
transporte municipal é matéria de competência dos Municípios. Veja que cada Município consegue regula
nsporte intermunicipal é matéria de competência dos Estados. O Município (sozinho) não consegue regular o transporte intermunicip

Meus amigos, vamos partir agora para as técnicas de repartição de competências: i) repartição horizontal
e; ii) repartição vertical.

A diferença básica entre as duas técnicas está na permissão ou não para mais de um ente tratar da mesma
matéria.

A repartição horizontal ocorre quando cada ente tem competência constitucional para tratar de uma
matéria específica. Não há intervenção de um ente sobre o outro. É uma técnica típica dos Estados cujo
federalismo é dual ou clássico.

Já a repartição vertical é característica daqueles que adotam um federalismo de cooperação ou


neoclássico. É técnica que importa em uma partilha entre os entes, que irão atuar de forma conjunta ou
concorrente sobre a mesma matéria.

Na nossa atual Constituição há a presença da repartição horizontal, através das competências exclusivas e
privativas da União. Ao mesmo tempo encontramos a repartição vertical por meio das competências
comuns e concorrentes. Apesar de possuir a previsão das duas formas de repartição, entende-se que com
a repartição vertical, o federalismo brasileiro é cooperativo ou neoclássico.

Para uma compreensão aprofundada sobre a repartição de competências na federação brasileira, não
basta se ater ao que foi explanado. Ao ler o texto constitucional notamos a complexidade do tema. Logo
abaixo trouxe um pequeno resumo de como as competências são apresentadas.

 Competências enumeradas de forma expressa:


As competências exclusivas (art. 21) e privativas (art. 22) da União. As exclusivas são indelegáveis e
administrativas, ou seja, ligadas a execução das atividades pelo Poder Público. As privativas são delegáveis
(o dispositivo traz expressamente a permissão para a delegação) e legislativas;

As competências dos Municípios (art. 30).

 Competências não listadas: não há dispositivo específico elencando as diversas matérias que são
atribuídas apenas aos Estados. Da leitura do art. 25 §1º da CRFB/88 é compreendido que foi reservado ao
ente a denominada competência remanescente ou residual. De tal modo, caberá aos Estados tratar de
matérias que a CRFB/88 não determinou ser da competência da União ou dos Municípios.

 Competências que a CRFB/88 atribuiu a mais de um ente, utilizando-se da técnica de repartição vertical,
sendo elas:

Concorrente – conferida, pelo texto constitucional, à União, aos Estados e ao Distrito Federal. Contudo foi
estabelecida uma prevalência da União, que é responsável pela edição das normas gerais (matérias do art.
24). Já aos Estados e Distrito Federal caberá suplementar essas leis.

Comum – aqui as matérias constantes no art. 23 são objeto de uma atuação conjunta de todos os entes
federativos.

Entendi, professor. Mas é possível que uma emenda constitucional venha a alterar a repartição de
competências? Sim!! É possível. Porém a doutrina deixa claro que a alteração não pode ameaçar a forma
federativa de Estado.

E o que isso significa? Não é permitida emenda constitucional capaz de afetar substancialmente a
autonomia conferida pela CRFB/88 a quaisquer dos entes políticos da federação brasileira.

1 - Distribuição de Competências na CRFB/88

1.1 - Competência Exclusiva

A competência exclusiva da União significa que, caso o ente seja omisso, essa atribuição não pode ser
exercida por outro ente federado. As matérias dispostas no art. 21, não podem ser tratadas pelos Estados,
Municípios e DF.

Como já mencionado, a competência exclusiva possui natureza administrativa ou material. Assim, o art.
21 elenca as matérias focadas na atividade da Administração Pública Federal, ou seja, na execução de
serviços públicos pela União.

Pessoal, vamos a seguir dar uma olhadinha nas competências exclusivas mais importantes para fins de
prova, ok? Após isso, vale a pena fazer uma leitura do dispositivo na íntegra...

Art. 21. Compete à União:


I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;
II - declarar a guerra e celebrar a paz; III - assegurar a defesa nacional;
- permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território naci
– decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal

Uma das prerrogativas exercidas pela União, em nome da República Federativa do Brasil, se apresenta no
primeiro inciso. É demonstrado, então, que cabe a União Federal a representação da República Federativa
do Brasil no plano internacional.

Matérias acerca da defesa nacional também se apresentam como de competência da União nos incisos II,
III e IV.

O inciso V traz os institutos do sistema constitucional de crises: estado de sítio, estado de defesa e da
intervenção federal. Elementos de estabilização constitucional cuja decretação cabe exclusivamente à
União.

VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material


bélico; VII - emitir moeda;
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza
financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros
e de previdência privada;

O conteúdo do inciso VIII foi a base para o seguinte entendimento do STF: por ser a fiscalização das
operações financeiras da competência exclusiva da União, há inconstitucionalidade na lei estadual que
traz a obrigatoriedade do uso de equipamento para atestar a autenticidade de cédulas nas transações
bancária.8

X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;


Na ADPF 46 foi questionada atribuição legal dada à Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos: monopólio do serviço postal. Com base no inciso X, o STF decidiu pela
constitucionalidade de tal atribuição.9
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços
de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a
criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais;

8
STF, ADIN 3515, Rel. Min. Cezar Peluso. 01.08.2011

9
STF, ADPF 46, Rel. Min. Eros Grau. 05.08.2009.
De acordo com o STF, há inconstitucionalidade na lei estadual ou distrital que:

vedar a cobrança de taxas para a instalação do segundo ponto de acesso à internet pelas empresas de
telecomunicações. 10

permitir a acumulação das franquias de minutos mensais ofertados pelas operadoras de telefonia. Tal
permissão implicaria na transferência dos minutos não utilizados no mês de sua aquisição para os
próximos meses.

XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:


a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos
de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras
nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;

Os serviços públicos de competência exclusiva da União foram aqui elencados. A posição deles na CRFB/88
demonstra que há o impedimento de delegação da competência para outro ente federado. Contudo, tais
serviços podem ser prestados diretamente pela União ou indiretamente, por meio de autorização,
concessão ou permissão.

XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas


de rádio e televisão;
XVII - conceder anistia;
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas,
especialmente as secas e as inundações;

Para compreender o limite da competência exclusiva de concessão da anistia é preciso fazer uma leitura do
XVII, do art. 21, combinada com o I, do art. 22 da CRFB/88, que trata da competência privativa da União
para legislar sobre direito penal. A interpretação harmônica entre os dois dispositivos resultou no seguinte
entendimento do STF: a concessão de anistia para crimes é de competência da União.

Todavia, cabe aos Estados a concessão de anistia para infrações administrativas de servidores públicos
estaduais.

10
STF, ADIN 4083. Rel. Min. Carmen Lucia. 25.11.2010
A Lei da Anistia editada anteriormente à CRFB/88 teve a sua constitucionalidade questionada na ADPF nº
153. Para o STF a lei foi recepcionada pela Carta Magna e, já que a anistia por ela concedida foi “ampla e
geral”, aqueles que cometeram crimes durante a época da ditadura foram por essa alcançados.11

O XVIII teve destaque na decisão da ADPF 754, em que o Supremo foi chamado a se posicionar sobre o
Plano de Vacinação e os grupos prioritários, durante a pandemia do Covid-19. O entendimento firmado foi:
cabe ao governo federal detalhar a ordem de preferência na vacinação daqueles que se encontram nos
grupos prioritários. Isso porque, conforme trecho da decisão transcrita abaixo:

“a pretensão de que sejam editados e publicados critérios e subcritérios de vacinação por classes e
subclasses no Plano de Vacinação, assim como a ordem de preferência dentro de cada classe e subclasse,
encontra arrimo nos princípios da publicidade e da eficiência, que regem a Administração Pública (art. 37,
caput, da CF); no direito à informação que assiste aos cidadãos em geral (art. 5°, XXXIII, e 37, § 2°, II, da CF);
na obrigação da União de “planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas” (art.
21, XVII, CF); e no dever incontornável cometido ao Estado de assegurar a inviolabilidade do direito à vida
(art. 5°, caput, da CF), traduzida por uma “existência digna” (art. 170, caput, da CF), e no direito à saúde,
este último, repita-se, “garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doenças e outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação” (art. 6°, caput, e 196, caput, da CF)”.

1.2 - Competência Privativa

Vamos entrar agora numa parte do assunto essencial. Temos aqui várias pegadinhas de prova. Atenção
total.

A competência privativa da União é aquela que está relacionada com a elaboração de leis (produção de ato
normativo), como brevemente mencionado em linhas anteriores. Façamos a leitura juntos:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico,
espacial e do trabalho;

Esse dispositivo cai muito em prova. Muito mesmo. Então, de olho no recurso mnemônico para ajudar.
“CAPACETE PM”

11
ADPF 153, Rel. Min. Eros Grau. 29.04.2010
C
CIVIL

A AGRÁRIO

P PENAL

A AERONÁUTICO

C COMERCIAL

E ELEITORAL
==1cff0c==

T TRABALHO

E ESPACIAL

PM PROCESSUAL E MARÍTIMO

Os principais ramos do Direito foram reunidos no inciso I, que determinou ser da União a competência
para legislar sobre esses. Para uma melhor compreensão sobre a referida atribuição e seus limites, foram
proferidas diversas decisões pelo STF.

 Direito processual: fere a Constituição Federal lei estadual que tem como objeto estabelecer o valor
que deve ser dado a uma causa12.

fere a Constituição Federal lei estadual que direcione a atuação do juiz em face de determinadas situações
(a natureza não é meramente procedimental, mas sim processual) 13.

 Direito do trabalho: lei estadual ou distrital que venha a cria nova categoria profissional, definir suas
tarefas e os requisitos para o seu exercício é inconstitucional, sobretudo quando essa diga à segurança de
trânsito14. Por isso, não pode lei estadual ou distrital regulamentar a profissão de motoboy.

 Direito penal e processual penal: “A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das
respectivas normas de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União.” (Súmula
Vinculante nº 46).

12
ADI 2.655, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 09.03.04, DJ de 26.03.04.

13
ADI 2.257, Rel. Min. Eros Grau, j. 06.04.05, DJ de 26.08.05.

14
ADI 3610. Rel. Min. Cezar Peluso. 01.08.2011
 Direito civil: é inconstitucional lei estadual que veda a cobrança de valores dos usuários de
estacionamentos particulares.

Entre os diversos casos ocorridos durante a pandemia do Covid, o STF firmou um entendimento, na ADI
6575: não pode lei estadual determinar a redução do valor das mensalidades escolares durante a
pandemia. Porque quando uma lei estadual reduz os preços fixados nos contratos de serviços
educacionais, adentra em conteúdo de negócios jurídicos. Essa é matéria de Direito Civil e, de acordo com
o I do art. 23 da CRFB/88, pertence a competência privativa da União.

XI - trânsito e transporte;
XX - sistemas de consórcios e sorteios;

A previsão da competência para legislar sobre trânsito e transporte foi fundamento para a declaração de
inconstitucionalidade de algumas leis pelo STF, não sendo permitido que lei estadual ou distrital:

 venha a estipular penalidades para aqueles que forem flagrados conduzindo veículo automotor em
estado de embriaguez;

 estabeleça que veículo automotor deve transitar permanentemente com os faróis acesos nas rodovias;

 determine a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança;

 torna obrigatório veículo automotor transitar permanentemente com os faróis acesos nas rodovias;

 disponha sobre instalação de aparelho, equipamento ou qualquer outro meio tecnológico de controle
de velocidade de veículos automotores nas vias do Distrito Federal.

Importante entender a seguinte diferença: cabe a União legislar sobre trânsito e


transporte (competência privativa legislativa da União); cabe à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e Municípios o estabelecimento e implantação da política de educação
para a segurança do trânsito (competência comum).

No que tange aos sistemas de consórcios e sorteios, o STF determinou que a expressão “sistema de
sorteios” abarca os jogos de azar, as loterias e similares. A partir dessa interpretação ficou estabelecido
que “é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de
consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias” (súmula vinculante nº 2)
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação,
mobilização, inatividades e pensões das polícias militares e dos corpos de bombeiros
militares;

Esse inciso nasceu com a Emenda Constitucional nº 103/2019. A ideia era trazer competência da União
para legislar sobre alguns aspectos importantes envolvendo os militares (e vocês sabem que o Presidente
está alinhado eles, né?)

Dessa forma, a CRFB/88 passou a prever explicitamente a competência da União para tratar sobre normas
gerais em matéria de:

Organização dos militares;

Efetivos dos militares;

Material bélico;

Garantias, convocação e mobilização dos militares;

Inatividades e pensões dos militares.

XXIII - seguridade social;


XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;

A seguridade social, de acordo com nossa CRFB/88, compreende um “conjunto integrado de ações de
iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social”.

Seguridade social, então, é um conceito amplo, sendo a previdência social uma espécie da seguridade. E,
quando tratamos das regras de competência, importante ter em mente que apenas a seguridade social
está no campo da competência legislativa da União. No caso da previdência, temos uma competência
concorrente entre U, E e DF para legislar sobre a matéria.

Em outra perspectiva temos o tema da educação nacional. Legislar sobre diretrizes e base da educação é
competência da União. Cabe à União o aspecto macro, de planejamento. Agora, por outro lado, quando
falamos em educação propriamente dita (aspectos estritos), a competência delineada pelo Constituinte é
concorrente.
Competência Privativa Competência Concorrente

Seguridade Social Previdência Social

Diretrizes e bases da
Educação
Educação Nacional

Importante entendimento firmado pelo STF é encontrado na ADI nº. 4060/SC. Uma lei estadual não viola a
competência privativa da União ao estabelecer o limite máximo de alunos em sala de aula. Afinal, como
legislar sobre educação e ensino faz parte da competência concorrente (CF/88, art. 24, IX), é permitido aos
Estados-membros editar norma sobre seu sistema de ensino, desde que respeitadas as normas gerais da
União.15

XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as


administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e
sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões
específicas das matérias relacionadas neste artigo.

A CRFB/88 trouxe no XXVII a competência privativa da União para a fixação de "normas gerais". Isso não
significa que apenas a União pode legislar sobre todo e qualquer aspecto relacionado com licitação e
contratação administrativa.

De acordo com o Supremo, houve a preservação da competência de outros entes para dispor sobre
"questões específicas acerca de licitação e contratação", independente de delegação.

15
ADI 4060/SC, Rel. Min. Luiz Fux. Data de Julg: 25.02.2015.
A delegação que pode ser realizada pela União (através da lei complementar) trata da delegação de
especificidades de “normas gerais” e não de normas específicas.

Resumindo: normas gerais de licitação e contratação são da competência privativa da União; normas
específicas podem ser editadas pelos demais entes.

Para finalizar, encontramos no parágrafo único do art. 22 a autorização para a delegação da competência
legislativa. A simples omissão da União não permite que os demais entes federados legislem sobre as
matérias. Caso isso ocorra, estaremos diante de uma inconstitucionalidade. É necessário que a União
delegue a competência através de uma lei complementar.

Além do mais, é permitida a delegação apenas sobre questões específicas das matérias relacionadas ao
longo do art. 22 e somente para os Estados e DF (não há permissão para os Municípios).

Quando a delegação ocorre temos que:

os Estados-membros e Distrito Federal apenas podem fazer o que foi permitido pela União, pois a
competência originária permanece exclusivamente dela, em caráter pleno;

essa deve contemplar todos os Estados-membros e o Distrito Federal.

Importante entender que a delegação não é uma renúncia. Então, a União poderá retomar, a qualquer
momento, sua competência, não havendo impedimento para legislar sobre a matéria delegada.

1.3 - Competência Comum

A competência comum é também denominada de competência cumulativa, concorrente administrativa


ou paralela. As matérias constantes no art. 23 serão cumpridas por todos os entes federativos em
conjunto. Não há subordinação, mas sim uma atuação solidária, já que os incisos do dispositivo tratam de
interesses difusos (interesses que dizem respeito a uma coletividade)

Abaixo, temos os incisos mais importantes:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público;
cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência; (...)
proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação;
proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora
...)
- promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneame
- combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setor
XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Dis

Destaco a ADI 6586, em que o STF consolidou que é permitido ao Poder Público determinar a vacinação
compulsória contra a Covid-19.

Mas professor, qual relação dessa decisão com o art. 23 da CRFB/88?

Vamos destrinchar a ementa para que fique mais clara a relação com o dispositivo.

Primeiro, ficou expresso que a vacinação compulsória não significa vacinação forçada. Isso porque na
compulsória é necessário o consentimento do usuário. No entanto, a obrigatoriedade ocorre por meio de
medidas indiretas, como a restrição ao exercício de certas atividades ou da presença do cidadão em
determinados lugares, desde que haja previsão em lei. Além disso é preciso que as vacinas compulsórias:
“(i) tenham como base evidências científicas e análises estratégicas pertinentes, (ii) venham
acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações dos imunizantes, (iii)
respeitem a dignidade humana e os direitos fundamentais das pessoas; (iv) atendam aos critérios de
razoabilidade e proporcionalidade, e (v) sejam as vacinas distribuídas universal e gratuitamente;”16.

Segundo ponto bem interessante para esta aula é o seguinte: por conta da a competência comum para
“cuidar da saúde e assistência pública” (II do art. 23 da CRFB/88), ficou estabelecido na mesma decisão que
tais medidas restritivas podem ser implementadas por todos os entes federados (União, Estados, Distrito
Federal e Municípios), desde que sejam respeitadas as esferas de competência de cada um.

O parágrafo único busca harmonizar justamente o exercício das competências dispostas nos incisos, pois a
permissão para todos os entes atuarem (competência comum) possibilita a ocorrência de conflitos e
desperdícios de recursos (materiais e financeiros). A concretização do equilíbrio acontece com a edição de
lei complementar para normatizar a cooperação.

1.4 - Competência Legislativa Concorrente

Além da competência legislativa privativa da União, a CRFB/88 traz a previsão da competência legislativa
concorrente entre a União, os Estados e DF.

16
ADI 6586, Rel. Min. Ricardo Lewandowski. Data de Julg: 17.12.2021.
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e
urbanístico; (...)
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos
naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de
valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e
inovação;
(...)
XII - previdência social, proteção e defesa da
saúde; (...)
XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;
XV - proteção à infância e à juventude;

Muito cuidado na hora da prova! A regra do art. 24, I e II despenca em prova (rs). Mas,
temos uma salvação! Vamos levar o seguinte mnemônico para prova:
“PUFETO”
Penitenciário – Urbanístico – Financeiro – Econômico – Tributário - Orçamento

§ 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a


estabelecer normas gerais.
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados.
§ 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência
legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§ 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei
estadual, no que lhe for contrário.

Logo de início chamo a atenção para o caput. Como não há menção aos Municípios, esses não são dotados
de competência legislativa concorrente, diferente dos demais entes.

Bem, vamos destrinchar o disposto nos parágrafos do art. 24, para uma melhor compreensão.

É determinado que cabe à União editar normas gerais sobre os temas dos incisos. Aos Estados e DF é
permitido que complementem a legislação federal. A complementação acontece com a edição de normas
de caráter específico (competência suplementar complementar - §1º e §2º).
Entretanto, se a União se mantiver inerte, não editando a norma geral, o §3º autoriza que os Estados e DF
legislem integralmente sobre a matéria, até que a União exerça a sua competência. Essa é a expressão da
competência suplementar supletiva.

Com efeito, caso a União edite a norma geral depois dos Estados e Distrito Federal, o §4º determina que a
lei federal poderá suspender a eficácia da lei estadual/distrital. Tenha uma atenção especial aqui, pois
apenas será suspensa a eficácia do que for contrário ao disposto na lei federal. Não haverá revogação.

1.5 - Competência dos Estados e do Distrito Federal

Em relação à competência dos Estados, é identificado que não existe dispositivo que enumere todas as
matérias de competência administrativa (materiais) e legislativa dos Estados, como ocorre com União e os
Municípios. O que não significa que a CRFB/88 não estabelece competência alguma dos Estados.

Primeiro, o legislador constituinte trouxe o §1º do art. 25 para a compreensão da competência estadual,
determinando que:

§ 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta
Constituição.

A partir do texto constitucional transcrito acima concluímos que: aos Estados foi conferida uma
competência remanescente ou residual.

Professor, o que isso significa? Vamos lá!! Aos Estados foi permitido o exercício das competências não
listadas para a União e nem para os Municípios.

Há exceção. Não foram todas as competências residuais conferidas aos Estados. De acordo com a Carta
Magna, a competência residual tributária é da União. O exercício de tal atribuição resulta na instituição de
impostos residuais, ou seja, aqueles não previstos no texto constitucional, não-cumulativos e que não
tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados na Constituição.

Segundo, no decorrer do texto constitucional são encontradas algumas competências atribuídas apenas
aos Estados. Abaixo disponibilizo o texto das mais cobradas:

Art. 25, § 2º - Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os


serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória
para a sua regulamentação;
Art. 25, § 3º - Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões
metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos
de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de
funções públicas de interesse comum.
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos
nesta Constituição.
Professor, e o DF? Para tal ente foi prevista a competência cumulativa: diversos dispositivos que versam
sobre as competências dos Estados e dos Municípios também concedem a mesma atribuição ao Distrito
Federal. Por exemplo: o art. 147 da CRFB expressamente confere ao DF a competência tributária dos
Municípios.

Também destaco o art. 32 da CRFB/88, pois ao tratar sobre o Distrito Federal fixa em seu §1º que caberá a
esse as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios.

Toda regra tem exceção e aqui não é diferente. (rs) Existem competências estaduais não estendidas ao
Distrito Federal. Nos XIII e XIV do art. 21 da CRFB/88 consta que caberá a União organizar e manter o Poder
Judiciário, o Ministério Público, a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito
Federal. No âmbito estadual é diferente. É o respectivo Estado, onde se localiza tais instituições,
competente pela organização e manutenção.

1.6 - Competência dos Municípios

As mais importantes competências dos Municípios constam no artigo 30, da Carta Magna.

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas,
sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos
fixados em lei;
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os
serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter
essencial;

Identifica-se no dispositivo as seguintes atribuições:

 Competência exclusiva para legislar sobre assuntos de interesse local (I, do art. 30);

 Competência legislativa suplementar complementar – cabendo ao Município editar normas


cuja finalidade é complementar a legislação federal ou estadual, no que couber (II, do art. 30).
Não significa que o ente possui a competência concorrente, já que não pode regular uma
matéria quando há inércia da União ou dos Estados. Portanto, ao Município não é admitido o
exercício da competência plena prevista no art. 24.

A competência suplementar municipal precisa da atuação legislativa federal e estadual. A


legislação federal ou estadual a ser suplementada pode tratar de matéria afeta à competência
concorrente, mas o assunto disciplinado na suplementação (na lei municipal) deve ser de
interesse local. Ex: legislação tributária municipal suplementa a legislação federal e estadual.
 Competência privativa administrativa/material – o legislador constituinte atribuiu
expressamente aos Municípios a competência de algumas matérias (III a IX do art. 30).
Entretanto, essa competência não se limita ao disposto nesses incisos. De acordo com o
princípio da predominância de interesses cabe ao Município atuar sobre matérias de interesse
local. Como a definição do que é considerado interesse local é complexo, se tornou
imprescindível recorrer ao STF em determinadas situações.

Entendimentos importantes do STF. Vamos fazer a leitura juntos?

Não cabe ao Município:

A fixação do horário de funcionamento das agências bancárias. A matéria


extrapola o simples interesse local, pois tem conexão com o sistema
financeiro nacional. Dessa forma, é atribuição da União.

Obrigar, por meio de lei, o uso de cinto de segurança e proibir transporte


de menores de 10 anos no banco dianteiro dos veículos. Tal lei municipal é
inconstitucional. Afinal, compete privativamente a União Federal legislar
sobre trânsito (XI, do art. 22 da CRFB/88).

Impedir a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em


determinada área. De acordo com a Súmula Vinculante nº 49, lei municipal
que trouxer esse impedimento ofende o princípio da livre concorrência.
Então, por exemplo, lei que estabelece uma distância mínima entre
farmácias é inconstitucional.

Conceder “meia passagem” aos estudantes nos transportes coletivos


intermunicipais. Por ultrapassar o interesse local, a competência é do
Estado.

Conceder “meia passagem” aos estudantes nos transportes coletivos


intermunicipais. Por ultrapassar o interesse local, a competência é do
Estado.

Proibir a divulgação de material com referência a “ideologia de gênero”


nas escolas municipais. Porque ao impedir que as escolas públicas tratem de
determinados conteúdos, a lei municipal viola o art. 22, XXIV da CRFB/88. Já
que tal assunto é de competência da União, devendo ter tratamento
uniforme em todo o país (inconstitucionalidade formal). Além disso, se lei
municipal tivesse esse objeto também fica caracterizada a
inconstitucionalidade material, por violar os princípios da liberdade de
aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber (art.
206, II, CF/88); e o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas (art.
206, III, CF/88).

Compete ao Município:
Legislar sobre distância mínima entre postos de combustíveis, por motivo
de segurança. Não ofende os princípios constitucionais da livre iniciativa e
da livre concorrência. A atividade de alto risco justifica o prudente
distanciamento, na mesma área geográfica.

A fixação do horário de funcionamento de estabelecimento comercial


(Súmula Vinculante nº 38). Entre os estabelecimentos estão as lojas,
shopping centers, drogarias, farmácias...

Legislar sobre meio ambiente e controle da poluição, quando se tratar de


interesse local (art. 24, VI, c/c 30, I e II, da CRFB). Dessa forma, é
constitucional lei municipal que determina a aplicação de multas para os
proprietários de veículos automotores que poluem o meio ambiente com a
emissão de fumaça no perímetro urbano17.

Determinar, por meio de lei, que as instituições financeiras instalem, nas


agências, equipamentos destinados a proporcionar aos usuários dos serviços
bancários segurança (portas eletrônicas, detector de metais) ou conforto
(instalações sanitárias, ou fornecimento de cadeiras de espera), com base no
art. 30 I da CRFB/8818.

Dispor sobre o direito dos estudantes à "meia passagem" no serviço de


transporte coletivo municipal/local.

Legislar sobre tempo de atendimento em filas nos estabelecimentos


bancários. A matéria é assunto de interesse local, não se confundindo com a
atividade-fim do banco.

Legislar sobre limite de tempo de espera em fila dos usuários dos serviços
prestados pelos cartórios localizados no seu respectivo território. O assunto
é de interesse local, relativo à disciplina dos registros públicos. Portanto
não há ofensa à competência privativa da União.

17
RE 194.704, Rel. Min. Edson Fachin. Data de Julg: 29.06.2017.

18
RE 266.536, Rel. Min. Dias Toffoli. Data de Julg: 17.04.2012.
10. (FGV / XIX Exame de Ordem – 2016) O Governador do Distrito Federal, ao tomar conhecimento de
que existe jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal a respeito da competência do Município
para legislar sobre os requisitos de segurança das agências bancárias, solicita à Procuradoria Geral do
Distrito Federal que se manifeste acerca da possibilidade de lei distrital tratar da matéria. Sobre a
hipótese apresentada, de acordo com a Constituição Federal de 1988, assinale a afirmativa correta.
a) Haveria tal possibilidade, pois o Distrito Federal possui competências legislativas reservadas aos Estados
e aos Municípios.
b) Haveria tal possibilidade, pois a competência legislativa do Distrito Federal, como sede da União, abarca
as competências legislativas da União, dos Estados e dos Municípios.
c) Não seria possível, pois o Distrito Federal tem competências taxativamente expressas, que não podem
abarcar aquelas concedidas aos Municípios.
d) Não seria possível, pois as competências legislativas do Distrito Federal seriam apenas aquelas
reservadas aos Estados-membros da União.
Comentários:
A Jurisprudência do Supremo é clara no sentido de definir que tal competência é municipal. Desta forma,
como o Distrito Federal acumula as competências legislativas Estaduais e Municipais atribuídas pela
Constituição Federal (art. 32, § 1º, CF/88), cabe ao Distrito Federal legislar sobre requisitos de segurança
de agências bancárias. Gabarito letra A.
11. (XVIII Exame de Ordem Unificado – 2015) A Assembleia Legislativa do Estado M, ao constatar a
ausência de normas gerais sobre matéria em que a União, os Estados e o Distrito Federal possuem
competência legislativa concorrente, resolve tomar providências no sentido de legislar sobre o tema,
preenchendo os vazios normativos decorrentes dessa lacuna. Assim, dois anos após a Lei E/2013 ter sido
promulgada pelo Estado M, o Congresso Nacional promulga a Lei F/2015, estabelecendo normas gerais
sobre a matéria. Sobre esse caso, assinale a afirmativa correta.
a) A Lei E/2013 foi devidamente revogada pela Lei F/2015, posto não ser admissível, no caso, que norma
estadual pudesse preservar a sua eficácia diante da promulgação de norma federal a respeito da mesma
temática.
b) A Lei E/2013 perde a sua eficácia somente naquilo que contrariar as normas gerais introduzidas pela Lei
F/2015, mantendo eficácia a parte que, compatível com a Lei F/2015, seja suplementar a ela.
c) A Lei F/2015 não poderá viger no território do Estado M, já que a edição anterior da Lei E/2013,
veiculando normas específicas, afasta a eficácia das normas gerais editadas pela União em momento
posterior.
d) A competência legislativa concorrente, por ser uma espécie de competência comum entre todos os
entes federativos, pode ser usada indistintamente por qualquer deles, prevalecendo, no caso de conflito, a
lei posterior, editada pelo Estado ou pela União.
Comentários:
Questão interessante! No âmbito da competência concorrente, é importante você saber que a União é
responsável pela edição de normas gerais, cabendo aos Estados o exercício da competência suplementar.
Caso não exista lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena. Foi o
que aconteceu na situação do enunciado. O Estado M exercitou a competência legislativa plena editando a
Lei E/2013, que estabelece normas gerais.
Logo em seguida, a União editou a Lei F/2015, que também é uma lei de normas gerais. O que acontece,
então, com a Lei E/2013?
A resposta está no art. 24, da Constituição Federal/88, que dispõe que “a superveniência de lei federal
sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário”. Vale ressaltar, que a Lei
E/2013 não será revogada, ficando somente com a eficácia suspensa naquilo que não for compatível com a
Lei F/2015. Gabarito letra B.
12. (FGV / XVII Exame de Ordem Unificado – 2015) Determinado Estado da Federação vivencia sérios
problemas de segurança pública, sendo frequentes as fugas dos presos transportados para participar de
atos processuais realizados no âmbito do Poder Judiciário. Para remediar essa situação, foi editada uma
lei estadual estabelecendo a possibilidade de utilização do sistema de videoconferência no âmbito do
Estado. Diante de tal quadro, assinale a afirmativa que se ajusta à ordem constitucional.
a) a lei estadual é constitucional, pois a matéria se insere na competência local dos estados-membros,
versando sobre assunto de interesse local.
b) a lei estadual é inconstitucional, pois afrontou a competência privativa da união de legislar sobre direito
processual penal.
c) a lei estadual é constitucional, pois a matéria se insere no âmbito da competência delegada da união,
versando sobre direito processual.
d) a lei estadual é inconstitucional, pois comando normativo dessa natureza, por força do princípio da
simetria, deveria estar previsto na constituição estadual.
Comentários:
A União tem competência privativa para legislar sobre direito processual (art. 22, I). Logo, a lei estadual
será inconstitucional, por violar a competência da União. A resposta é a letra B.
13. (FGV / XV Exame de Ordem Unificado – 2014) No município de São José dos Cavaleiros, 87% dos
atendimentos médicos nas emergências hospitalares são decorrências de acidentes automobilísticos
ocasionados pelo consumo de bebidas alcoólicas. Uma vereadora do município, Sra. X, ciente das
estatísticas expostas, apresenta projeto de lei propondo que os cidadãos proprietários de veículos
automotores, residentes no município, municiem seus veículos com equipamento que impeça a partida
do carro no caso de o condutor ter consumido álcool. A Câmara Municipal, por voto de 2/3 dos
vereadores, aprova a lei. Esta legislação deve ser considerada:
a) constitucional, por tratar de proteção de direito fundamental.
b) inconstitucional, por tratar de matéria de competência privativa da União.
c) inconstitucional, por vício formal relacionado ao quórum mínimo para votação.
d) constitucional, por tratar de assunto de interesse local e ter sido aprovada por processo legislativo
idôneo.
Comentários:
Opa! Tiro-curo essa.  A União tem competência privativa para legislar sobre trânsito e transporte,
conforme o art. 22, XI, da Constituição Federal/88. Diante disso, a lei municipal aprovada pela Câmara
Municipal será inconstitucional, por tratar de matéria da competência privativa da União. A resposta é a
letra B.
14. (FGV / XII Exame de Ordem Unificado – 2013) A Constituição da República de 1988 adotou elementos
de federalismo cooperativo e de federalismo dual na repartição de competências entre os entes
federados, distribuindo competências exclusivas, privativas, comuns e concorrentes. Assim sendo, a
respeito da organização do Estado estabelecida na Constituição, assinale a afirmativa correta.
a) É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios proteger o meio
ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas, competindo à lei complementar fixar
normas de cooperação entre os entes.
b) É vedado aos Estados criar códigos tributários próprios, uma vez que compete privativamente à União
legislar sobre direito financeiro e tributário.
c) É vedado à União decretar intervenção federal em Município localizado em território federal quando
este não tiver aplicado o mínimo exigido de sua receita na manutenção e desenvolvimento do ensino.
d) Em relação às competências legislativas concorrentes da União e dos Estados, havendo norma federal e
estadual divergentes, deve prevalecer a norma federal, que serve de fundamento de validade à norma
estadual.
Comentários:
Letra A: correta. A proteção do meio ambiente e o combate à poluição é competência comum de todos os
entes federativos (art. 23, VI).
Letra B: errada. É competência concorrente legislar sobre direito tributário e financeiro (art. 24, I).
Letra C: errada. Segundo o art. 35, III, a União poderá intervir nos Municípios localizados em Território
Federal quando não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e
desenvolvimento do ensino.
Letra D: errada. As normas federais não são fundamento de validade para as normas estaduais. Não há,
afinal, hierarquia entre elas. No âmbito da competência concorrente, a União se limita a editar normas
gerais. Gabarito letra A.
15. (FGV / X Exame de Ordem Unificado – 2013) Na ausência de lei federal estabelecendo normas gerais
sobre proteção de ecossistemas ameaçados, determinado estado da Federação editou, no passado, a
sua própria lei sobre o assunto, estabelecendo desde princípios e valores a serem observados até regras
específicas sobre a exploração econômica de tais áreas. Criou, ainda, fiscalização efetiva em seu
território e multou empresas e produtores que desrespeitaram a lei. Anos depois, a União edita lei
contendo normas gerais sobre o tema e muitas de suas disposições conflitavam com a anterior lei
estadual. Com relação a este caso, assinale a afirmativa correta.
a) A União não poderia legislar, uma vez que o assunto é matéria de interesse local, não havendo
justificativa para lei nacional sobre o tema. Houve invasão de competência privativa dos estados.
b) No campo das competências legislativas concorrentes, a União deve legislar sobre normas gerais e o
estado pode editar normas suplementares, mas enquanto inexistir lei federal, a competência do estado é
plena. A superveniência de lei geral nacional suspende a eficácia das disposições contrárias da lei dos
estados.
c) A lei aplicável, no caso concreto, será aquela que estabelecer padrões mais restritivos, em atenção à
proteção do meio ambiente, não importando se tal norma é a federal ou se a editada pelos estados-
membros.
d) O estado não poderia ter estabelecido normas próprias na ausência de lei nacional com disposições
gerais que definissem marcos a serem seguidos pelos estados. Em consequência, são nulas todas as multas
aplicadas anteriormente à publicação da lei editada pela União.
Comentários:
Para resolver essa questão, era importante saber que a proteção do meio ambiente é matéria da
competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal (art. 24, VI, CF/88).
Letra A: errada. No âmbito da competência concorrente, a União poderá estabelecer normas gerais (art.
24, § 1º, CF).
Letra B: correta. É o que preveem os parágrafos do art. 24 da Constituição.
Letra C: errada. No caso de divergência entre norma federal e estadual, a superveniência de lei federal
sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrária. No entanto, no caso de
normas específicas, a norma estadual deverá prevalecer, em virtude da competência suplementar dos
Estados.
Letra D: errada. A Carta Magna prevê que, no âmbito da competência concorrente, inexistindo lei federal
sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas
peculiaridades (art. 24, § 3º, CF). Gabarito letra B.
16. (FGV / IX Exame de Ordem Unificado – 2012) O Estado W, governado por dirigente progressista,
pretende realizar uma ampla reforma agrária no seu território para melhor dividir a terra, incluindo
diversos desempregados na vida produtiva, apresentando, ainda, amplo programa de financiamento das
atividades agrícolas. Com essa proposta política, resolve apresentar projeto de lei, criando formas de
desapropriação e inovando nos procedimentos, dando característica sumária e permitindo o ingresso
nos imóveis sem pagar indenização. Quanto ao tema em foco, legislação sobre desapropriação, nos
termos da Constituição Federal, assinale a afirmativa correta.
a) Trata-se de competência privativa da União
b) Trata-se de competência da União em comum com os Estados.
c) Trata-se de competência privativa dos Estados
d) Trata-se de competência dos Estados em comum com os Municípios.
Comentários:
O art. 22, II, da Carta Magna, prevê que compete privativamente à União legislar sobre desapropriação. A
letra A é o gabarito.
17. (FGV / VII Exame de Ordem Unificado – 2012) O Governador do Estado K, preocupado com o
resultado da balança comercial do seu Estado, conhecido pelo setor exportador, pretende regular a
importação de bens de determinados países, apresentando, nesse sentido, projeto de lei à Assembleia
Legislativa. Em termos de competência legislativa, esse tema é, nos termos da Constituição Federal:
a) dos Estados
b) da União.
c) do Distrito Federal
d) dos Municípios.
Comentários:
Percebam como a FGV adora cobrar essa tal competência legislativa privativa da União. Vai e volta e ela
traz uma questão decoreba. Para fins de estudo é competência privativa da União legislar sobre comércio
exterior (art. 22, VIII, CF/88). O gabarito é a letra B.
18. (FGV / V Exame de Ordem Unificado – 2011) Lei estadual que regulamenta o serviço de mototáxi é:
a) constitucional porque se trata de competência legislativa reservada aos Estados.
b) constitucional porque se trata de competência legislativa remanescente dos Estados.
c) inconstitucional porque se trata de competência legislativa dos Municípios.
d) inconstitucional porque se trata de competência legislativa privativa da União.
Comentários:
Mais uma (rs) Vamos tatuar o cérebro!!!!! É competência privativa da União legislar sobre direito do
trabalho (art. 22, I). Logo, é inconstitucional lei estadual que regulamenta a profissão de mototáxi.
Gabarito letra D.
19. (FGV/ IV Exame de Ordem Unificado – 2011) A respeito da distribuição de competências adotada
pela Constituição brasileira, assinale a alternativa correta.
a) A competência material da União pode ser delegada aos Estados, por lei complementar.
b) À União compete legislar sobre direito processual e normas gerais de procedimentos.
c) A competência para legislar sobre direito urbanístico é privativa dos Municípios, pois é matéria de
interesse local.
d) A competência para legislar sobre defesa dos recursos naturais é privativa da União, pois é matéria de
interesse nacional.
Comentários:
Letra A: errada. Quando se fala em “competência material”, a referência que se faz é às competências
administrativas. As competências administrativas da União estão no art. 21, CF/88. Trata-se de
competências exclusivas, que não podem ser delegadas.
Letra B: correta. A União tem competência privativa para legislar sobre direito processual (art. 22, I). Por
outro lado, é competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal legislar sobre
procedimentos em matéria processual (art. 24, XI). E, no caso da União, ela fica com os aspectos de norma
geral em matéria de competência concorrente. Gabarito é a letra B.
Letra C: errada. É competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal legislar sobre
direito urbanístico (art. 24, I, CF/88).
Letra D: errada. É competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal legislar sobre
defesa dos recursos naturais (art. 24, VI, CF/88).
20. (FGV / II Exame de Ordem Unificado – 2010) Um determinado Estado-membro editou lei
estabelecendo disciplina uniforme para a data de vencimento das mensalidades das instituições de
ensino sediadas no seu território. Examinada a questão à luz da partilha de competência entre os entes
federativos, é correto afirmar que:
a) mensalidade escolar versa sobre direito obrigacional, portanto, de natureza contratual, logo cabe à
União legislar sobre o assunto.
b) a matéria legislada tem por objeto prestação de serviço educacional, devendo ser considerada como de
interesse típico municipal.
c) por versar o conteúdo da lei sobre educação, a competência do Estado-membro é concorrente com a da
União.
d) somente competirá aos Estados-membros legislar sobre o assunto quando se tratar de mensalidades
cobradas por instituições particulares de Ensino Médio.
Comentários:
É competência privativa da União legislar sobre direito civil, o que engloba o direito obrigacional. Logo,
matéria de natureza contratual está na esfera de competência da União. O gabarito é a letra A.
21. (ESTRATEGIA OAB/ INÉDITA) A Constituição do Estado Alfa dispôs que as famílias que possuam terras
estaduais improdutivas por mais de 50 anos ininterruptos, sem contestação, e comprovem que
mantiveram ininterrupta produção de gêneros alimentícios durante todo esse período, adquirem o seu
domínio. Nesse contexto, é possível afirmar a legislação estadual é:
a) inválida, pois compete privativamente à União legislar sobre direito civil;
b) válida, pois somente a Constituição Estadual pode dispor sobre os bens estaduais;
c) inválida, pois somente a lei estadual de iniciativa parlamentar poderia incursionar nessa temática;
d) inválida, pois somente a lei estadual, de iniciativa do Chefe do Poder Executivo, poderia incursionar
nessa temática;
Comentários:
Pessoal, o Direito Civil é responsável por tratar da aquisição de bens imóveis. Como legislar sobre essa
matéria é de competência privativa da União, a norma da Constituição Estadual é inválida. Assim, o
gabarito é a letra A.

INTERVENÇÃO
Respire fundo, pois vamos adentrar num tema denso.  (um dos mais sensíveis)

Reconheço que assunto é um pouco difícil. Então, peço se possível uma atenção redobrada, até para que
possa compreender todos os detalhes. (A FGV tem o hábito de trazer o tema tanto em 1ª quanto 2ª fase.
Cuidado!!!)
Diego Cerqueira Berbert Vasconcelos
Aula 03

1 - Intervenção Federal

O instituto da intervenção é um instrumento trazido pelo legislador Constituinte de 1988 visando permitir
a chamada supressão da autonomia dos entes federados.

Quando pensamos em intervenção devemos ter em mente a possibilidade de um Estado ou Município ter
sua autonomia política limitada. E isso ocorre quando professor? De maneira excepcional e temporária.

A regra é a não intervenção de um ente sobre o outro. Mas, de modo peculiar e excepcional, é possível que
nós tenhamos o instituto da intervenção. Inclusive, vivenciamos isso recentemente no Estado do Rio de
Janeiro (para resguardar a ordem e segurança pública).

A intervenção é, nesse sentido, um mecanismo típico de um modelo de Estado federal. É o que a doutrina
chama de elemento de estabilização constitucional. Deve ser utilizado quando o princípio federativo
estiver em risco.

O próprio Supremo Tribunal Federal entende ser constitucional a medida, desde que adotada em caráter
excepcional e pautada princípio da proporcionalidade.

O ponto de destaque é que as situações que demandam uma medida como essa são determinadas
taxativamente pelo texto constitucional. Tanto que o art. 34 da CRFB/88 começa com a seguinte
expressão: “A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para (...)”

Opa, tome nota!!!!!

Somente podemos falar em decretação de intervenção federal em Municípios


localizados em Territórios Federais. A intervenção em Município situado em um
Estado não poderá ser decretada pela União; É em verdade hipótese de
intervenção estadual.

Sei que você agora deve ter feito a seguinte pergunta: e quem decreta a intervenção?

Bom. A Constituição vai nos dizer que essa competência cabe ao Chefe do Poder Executivo. Se estivermos
diante de uma situação que demande uma intervenção federal, caberá ao Presidente da República realizar
tal medida. Por outro lado, se estivermos diante de uma intervenção estadual, a competência será do
Governador.

Vamos entender agora quais são as hipóteses de intervenção federal. Façamos a leitura juntos do art. 34:

A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
a integridade nacional;
nvasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra; III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública
ntir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;

Direito Constitucional p/ OAB 1ª Fase XXXIII Exame - 2021 49


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Diego Cerqueira Berbert Vasconcelos
Aula 03

V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:


suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força ma
deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estab
- prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
- assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
direitos da pessoa humana;
autonomia municipal;
prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de

Calma que vamos trabalhando ponto a ponto!

Quando vamos mergulhar nos livros de Direito Constitucional, a doutrina vai nos dizer que algumas
situações previstas acima são consideradas de “ação espontânea”. Já outras seriam de ação provocada.
Como assim, Diego?

Pois bem.

A intervenção federal espontânea seria aquela em que o Presidente age de ofício, independentemente de
uma provocação. São os casos previstos no art. 34, incisos I, II, III e V da Constituição. Por exemplo, caso o
PR venha a decretar uma intervenção federal visando “manter a integridade nacional”, esse ato do
Presidente não precisará de uma solicitação ou requisição. Ele atuará de ofício.

Todavia, a intervenção federal provocada é aquela decretação de intervenção realizada pelo Presidente da
República que depende de um ato provocação. Tal fato ocorre por uma solicitação ou requisição.
Acontece, por exemplo, nas hipóteses do art. 34, IV, VI e VII da CRFB/88.

Vejamos a diferença entre provocação e solicitação:

Entende-se que a intervenção dependerá de uma solicitação ao Presidente da República quando houver
“coação ou impedimento ao livre exercício do Poder Executivo e Legislativo”, que é a hipótese prevista no
art. 34, IV CRFB/88.

Quem realizará essa solicitação? O próprio poder que está sofrendo a coação ou o impedimento.
Entretanto, aqui já trago uma observação. Cabe ao Presidente decidir acerca da conveniência e
oportunidade de atender ao pedido. É o que a doutrina chama de ato discricionário do Presidente da
República.

Direito Constitucional p/ OAB 1ª Fase XXXIII Exame - 2021 50


www.estrategiaconcursos.com.br 58
Entende-se que a intervenção dependerá de requisição do STF quando houver coação ou impedimento ao
livre exercício do Poder Judiciário em uma unidade da federação. Trata-se da previsão do art. 34, inciso IV,
combinado com o art. 36, I, segunda parte da CRFB/88. O detalhe é que, como se trata de “requisição”, a
medida enquadra-se como uma espécie de ato vinculado do Presidente da República.

- Solicitação do PR - Requisição do STF


- Ato discricionário - Ato vinculado
- Conveniência e - Deverá decretar
oportunidade

PE e PL PJ

Mais alguns detalhes!!! (rs)

No caso da requisição, cumpre destacar que ela também irá ocorrer para prover a execução de ordem ou
decisão judicial (art.34, VI). Trata-se de um típico caso em que houve descumprimento de ordem emanada
do Poder Judiciário.

Quero um exemplo, professor! Pois bem. O não pagamento de precatórios.19

Porém, vale ressaltar que o Supremo Tribunal tem um entendimento importante. Não é autorizada a
intervenção federal quando os recursos do Estado são limitados e existem outras obrigações relevantes a
serem cumpridas, em respeito à cláusula da reserva do possível. “a intervenção, como medida extrema,
deve atender à máxima da proporcionalidade”.20

(...)

Em relação à competência para proceder à requisição, esta dependerá de onde emanou a decisão judicial
que está sendo descumprida. Vamos ver como seria?

19
O precatório é uma ordem judicial para pagamento de débitos dos entes federativos.

20
IF nº 164 / SP. Rel. Min. Gilmar Mendes. DJe: 13.12.2003.
Descumprimento de
TSE

STF
STJ
Descumprimento de Descumprimento de
ordem ou decisão da ordem ou decisão do STJ ordem ou decisão do
Justiça Eleitoral ou de ordem da Justiça próprio STF, da Justiça do
Estadual ou Federal Trabalho ou da Justiça
Militar

Teremos uma competência do STJ quando a decisão descumprida for da Justiça Federal ou da Justiça
Estadual, salvo quando estiver relacionada a alguma questão constitucional, hipótese em que a requisição
será efetuada pelo STF.

Outrossim, ainda existem casos em que a intervenção provocada dependerá do provimento, pelo STF, de
representação do Procurador-Geral da República (PGR). São as chamadas hipóteses do art. 34, VI, 1ª
parte (“prover a execução de lei federal”) e do art. 34, VII (“assegurar a observância dos princípios
constitucionais sensíveis”).

A doutrina afirma que, nessas situações, o PGR irá efetuar representação junto ao STF; caso haja
provimento da representação pela Corte Suprema, será dada ciência ao Presidente da República para que,
no prazo improrrogável de 15 dias, seja decretada a intervenção.

Por último, a representação do PGR para prover a execução de lei federal é chamada de “ação de
executoriedade de lei federal”. Já a representação do PGR para assegurar a observância dos princípios
constitucionais sensíveis é denominada Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva. É uma ação
que possui duplo efeito, conforme situação abaixo:

 Efeito jurídico: invalidação do ato que violou um princípio constitucional sensível.

 Efeito político: abre caminho para a decretação de intervenção pelo Presidente da República.

2 - Intervenção Estadual

Analisaremos agora o que é intervenção estadual e as circunstâncias constitucionais em que essa é


permitida.

o não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:
aga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada;
tadas contas devidas, na forma da lei;
aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços pú
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios ind

Primeiro ponto, pessoal. A União não tem permissão para intervir nos municípios localizados nos Estados.
O caput do art. 35 da CRFB/88 determina que apenas o Estado pode intervir em seus municípios.

Segundo ponto: a regra é a não intervenção. A autonomia municipal ganhou status de princípio
constitucional sensível. Entretanto, de forma excepcional é possível a ocorrência da intervenção estadual,
mas somente nas hipóteses taxativamente elencadas no dispositivo transcrito acima.

A sua decretação e a execução decorrem de um ato político: o decreto de intervenção, que é editado pelo
Governador do Estado (X, do art. 34 da CRFB/88 – princípio da simetria).

Destaque-se o inciso IV, em que há previsão de intervenção estadual provocada. O Procurador-Geral de


Justiça ingressará com uma representação no Tribunal de Justiça (IV, art. 129 da CRFB/88). A partir daqui
teremos as seguintes situações:

provimento da representação pelo Tribunal de Justiça – a intervenção será decretada pelo Governador;

o Tribunal de Justiça nega o provimento - não ocorrerá a intervenção.

Atenção para a Súmula 637 do STF: “Não cabe recurso extraordinário contra acórdão de tribunal de justiça
que defere pedido de intervenção estadual em município”.

O entendimento firmado na súmula é aplicado seja qual for a decisão do TJ (deferimento ou


indeferimento). O recurso extraordinário para STF não é possível porque a natureza da decisão é político-
administrativa e não jurídica.

Atenção para a ADI 3029 e ADI 2917, cujos objetos foram normas de Constituições Estaduais que tratavam
de intervenção de Estado-membro em Município. O entendimento firmado pelo STF foi de que
Constituição Estadual não tem permissão:

a) para trazer novas hipóteses de intervenção estadual. Já que o rol previsto no art. 35 da CRFB/88 é
taxativo;
b) para atribuir competência ao Tribunal de Contas do Estado de requerer ou decretar a intervenção
estadual em município, pois não é o que consta nos artigos 34 e 36 da CRFB/88.

3 - Controle Político na Intervenção

O decreto interventivo é submetido ao controle político realizado pelo Poder Legislativo, tenha sido esse
editado pelo Governador do Estado ou pelo Presidente da República. Em ambos os casos, o decreto
especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução e, se for o caso, nomeará o interventor.

A apreciação ocorrerá pelo Congresso Nacional, no caso de intervenção federal, ou Assembleia Legislativa,
se intervenção estadual, no prazo de 24 horas.
Entretanto, o legislador constituinte admitiu a convocação extraordinária, também no prazo de 24 horas,
quando o Congresso ou a Assembleia Legislativa não estiverem funcionando. Então, caberá ao Poder
Legislativo aprovar ou rejeitar o decreto interventivo. Ocorrendo a rejeição, a intervenção deve cessar
imediatamente.

De acordo com o texto constitucional (§3º do art. 36) existem situações em que há dispensa do controle
político. São elas:

 Intervenção federal:

para prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial – art. 34 VI;

em caso de afronta aos princípios sensíveis da Constituição – art. 34, VII.

 Intervenção estadual:

para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução
de lei, de ordem ou de decisão judicial – art. 35 IV.

Nas situações supramencionadas, inicialmente o decreto Presidencial apenas suspenderá a execução do


ato impugnado, caso esta medida seja suficiente para o restabelecimento da normalidade.

E se não for suficiente, professor?

Bem, nesse caso temos uma consequência diferente. Não sendo o bastante a suspensão do ato pelo
decreto, o Chefe do Poder Executivo decretará a intervenção, sendo esse ato submetido ao controle
político.

Para finalizar, quando é necessário o afastamento das autoridades envolvidas, o decreto interventivo
designará um interventor. Esse afastamento é temporário. Por isso, o §4º do art. 36 institui que:
“Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo
impedimento legal”.

Ufa... concluímos!!!! Vamos treinar um pouco.

onformado com decisões proferidas pelo Poder Judiciário local, que determinaram o fechamento de diversos estabelecim
subordinados não cumpririam as decisões judiciais. Alegou que os negócios desenvolvidos nesses
estabelecimentos, mesmo sendo ilícitos, geravam empregos e aumentavam a arrecadação do Estado, e
que o não cumprimento das ordens emanadas do Poder Judiciário se justificava em razão da repercussão
econômica que o seu cumprimento teria. Das opções a seguir, assinale a que se mostra consentânea com
a Constituição Federal.
a) O Presidente da República, após a requisição do Supremo Tribunal Federal, decretará a intervenção
federal, dispensado, nesse caso, o controle pelo Congresso Nacional.
b) O Governador de Estado, tendo por base a inafastável autonomia concedida aos Estados em uma
organização federativa, está juridicamente autorizado a adotar o indicado posicionamento.
c) O Presidente da República poderá decretar a intervenção federal, se provocado pelo Procurador Geral
da República e com autorização prévia do Congresso Nacional, que exercerá um controle político.
d) O Supremo Tribunal Federal, prescindindo de qualquer atuação por parte do Presidente da República,
determinará, ele próprio, a intervenção federal, que será posteriormente apreciada pelo Congresso
Nacional.
Comentários:
Letra A: correta. É cabível a intervenção para prover a execução de ordem ou decisão judicial. Havendo
requisição do STF, o Presidente da República é obrigado a decretar a intervenção, sendo dispensado o
controle político pelo Congresso Nacional.
Letra B: errada. O Governador de Estado não pode desrespeitar decisão judicial. A autonomia estadual não
pode ser invocada para descumprir ordem judicial.
Letra C: errada. Quando há representação interventiva do Procurador-Geral da República, fica dispensado
o controle político do Congresso Nacional. Cabe destacar que, nos casos em que aplicável o controle
político, este acontece após ser decretada a intervenção.
Letra D: errada. O STF não pode, por si próprio, decretar intervenção. A competência para decretar
intervenção é do Presidente da República.
23. (FGV / XIV Exame de Ordem Unificado – 2014) O instituto da intervenção é de extrema
excepcionalidade, razão pela qual restam minuciosamente delineadas as hipóteses na CRFB/88. Assinale
a opção que contempla, à luz da CRFB/88, hipótese correta de intervenção.
a) O Estado X, sob o pretexto de celeridade e efetividade, vem realizando somente contratações diretas,
sem a aplicação da Lei Federal de Licitações e Contratos Administrativos – Lei n. 8.666/93. Nessa situação,
poderá a União intervir no Estado X para prover a execução de lei federal.
b) O Município Y, localizado no Estado Z, não vem destinando nos últimos seis meses o mínimo exigido da
receita municipal na manutenção das escolas públicas municipais, sob o fundamento de que a iniciativa
privada realiza melhor ensino. Nesta hipótese, tanto a União quanto o Estado Z, à luz da CRFB/88, poderão
intervir no Município Y para garantir a aplicação do mínimo exigido da receita municipal na aludida
manutenção.
c) Nos casos de desobediência à ordem ou decisão judiciária, a decretação de intervenção independe de
requisição judicial.
d) O Município Z, em razão de problemas orçamentários, em 2013, decidiu, excepcionalmente, pela
primeira vez na sua história, não realizar o pagamento da sua dívida fundada. À luz da CRFB/88, poderá o
Estado W, onde está localizado o referido Município, intervir no ente menor para garantir o pagamento da
dívida fundada.
Comentários:
Letra A: correta. Isso mesmo. Conforme o artigo 34, VI, CF, trata-se de uma das possibilidades de
intervenção federal para “prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial”.
Letra B: errada. A União não pode intervir diretamente em município, salvo quando o Município for
situado em Territórios. Como o Município Y está situado em um Estado, o ente federativo que pode
intervir é o próprio Estado que o Município integra, nesse caso, é caso de intervenção estadual.
Letra C: errada. Estamos diante do caso de intervenção via requisição judicial (STF, STJ ou TSE), por se
tratar de desobediência à ordem ou decisão judiciária.
Letra D: errada. O Município Z deixou de pagar sua dívida fundada por apenas um ano, logo não é caso de
intervenção. O Estado poderá intervir no município quando o Município não efetuar o pagamento, sem
motivo de força maior, por dois anos consecutivos, da sua dívida fundada. Gabarito letra A.
24. (FGV / XX Exame de Ordem 2016 / Reaplicação de Prova Salvador/BA). Determinado Município
localizado no âmbito de um Estado-membro da Federação brasileira deixa de cumprir ordem judicial
emanada do Tribunal de Justiça local. Diante de tal fato, segundo a ordem jurídico-constitucional
brasileira, assinale a afirmativa correta.
A) O Tribunal de Justiça local poderá, por intermédio de requisição, solicitar ao Governador do Estado a
decretação da intervenção estadual no referido Município, sem necessidade de nenhum tipo de Ação
Direta Interventiva.
B) O Procurador-Geral da República poderá ajuizar Representação Interventiva junto ao Supremo Tribunal
Federal, que julgando-a procedente suscitará a intervenção federal no Município em tela, a ser decretada
pelo Presidente da República.
C) O Superior Tribunal de Justiça poderá, por intermédio de requisição ao Chefe do Executivo Estadual,
determinar a intervenção estadual no referido Município, sem a necessidade de nenhum tipo de Ação
Direta Interventiva.
D) O Procurador-Geral de Justiça poderá ajuizar Ação Direta Interventiva estadual junto ao Tribunal de
Justiça Local, que julgando-a procedente autoriza a intervenção estadual no referido Município, a ser
decretada pelo Governador do Estado.
Comentários:
Pessoal! Estamos diante de um caso de Intervenção do Estado no Município, já que em razão de
descumprimento de ordem judicial o Tribunal de Justiça, nos termos do inciso IV, art. 35, CF, pode “dar
provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual,
ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial”.
Neste caso, a representação (ou Ação Direta Interventiva Estadual) é formulada pelo Procurador-Geral de
Justiça. Caso haja provimento pelo TJ, o Governador deverá decretar a intervenção estadual. A resposta é
a letra D.
25. (FGV / XXV Exame de Ordem Unificado – 2018) O Estado Alfa deixou de aplicar, na manutenção e
desenvolvimento do ensino, o mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências. À luz desse quadro, algumas associações de estudantes
procuraram um advogado e o questionam se, nessa hipótese, seria possível decretar a intervenção
federal no Estado Alfa.
A) A intervenção federal da União no Estado Alfa pode ser decretada, ex officio, pelo Presidente da
República.
B) A intervenção federal não é possível, pois, por ser um mecanismo excepcional, o rol previsto na
Constituição que a autoriza é taxativo, não contemplando a situação narrada.
C) A intervenção da União no Estado Alfa dependerá de requerimento do Procurador-Geral da República
perante o Supremo Tribunal Federal.
D) A intervenção federal não seria possível, pois a norma constitucional que exige a aplicação de
percentual mínimo de receita na educação nunca foi regulamentada.
Comentários:
Opa!!! Questão bacana de 2018, aplicada no XXV Exame OAB. E a banca foi buscar o gabarito lá nas
disposições do art. 34. Olha só: “A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: VII
- assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: (...) e) aplicação do mínimo exigido da
receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde”.
Diante do caso prático, caberá então ao PGR o requerimento de intervenção federal, devendo o mesmo
ser realizado perante o Supremo Tribunal Federal, nos termos do Art. 36 III, CRFB/88. Gabarito Letra C.
26. (ESTRATEGIA OAB/ INÉDITA) O instituto da intervenção trata-se de uma medida excepcional de
supressão temporária da autonomia de determinado ente federativo. No entanto, as hipóteses de sua
realização estão previstas taxativamente CRFB/88. No que tange ao tema, é possível afirmar que:
a) a União pode intervir em todos os Municípios, Distrito Federal e Estados, já os Estados podem intervir
apenas nos Municípios, nas hipóteses legais.
b) cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus cargos não poderão reassumi-los,
salvo por força de decisão judicial.
c) é hipótese de intervenção do Estado em seu Município, quando não tiver sido aplicado o mínimo exigido
da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino.
d) é caso de intervenção do Estado em seu Município, quando o Município não estiver assegurando à
população carcerária tratamento condizente com a dignidade da pessoa humana.
Comentários:
Letra A: errada. A União pode intervir nos Estados e no Distrito Federal, mas não pode intervir em todos os
Municípios. Ela só pode intervir nos Municípios localizados em Territórios Federais.
Letra B: errada. O art. 36, § 4º, CF/88, estabelece que “cessados os motivos da intervenção, as autoridades
afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal”.
Letra C: correta. Segundo o art. 35, III, é hipótese de intervenção do Estado em Município quando não tiver
sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas
ações e serviços públicos de saúde.
Letra D: errada. Essa não é uma hipótese de intervenção prevista na CF/88.
(...)

Pessoal, concluímos mais um encontro.

Espero que tenham gostado. ;)

Forte abraço a todos,

Prof. Diego Cerqueira

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