Você está na página 1de 16

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE

JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

xxxxxxxxxxxxx, brasileira, divorciada, estudante, RG nº xxxxxx


SSP/SP, inscrita no CPF/MF sob o xxxxxxxxxx, residente e domiciliada na Avenida
xxxxxxxx, CEP xxxxxxxxx, inconformada com a decisã o proferida que indeferiu tutela
antecipada em AÇÃO INDENIZATÓRIA C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER, em trâ mite na 12ª
Vara da Fazenda Pú blica da Comarca da Capital – SP sob o nº xxxxxxxxxxxxxx pelo
Defensor Pú blico do Estado de Sã o Paulo que esta subscreve, vem, tempestivamente,
com fundamento nos artigos 522 e seguintes do Có digo de Processo Civil, interpor o
recurso de

AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA RECURSAL

contra a UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, pessoa jurídica de direito pú blico, autarquia


estadual de regime especial, inscrita no CNPJ sob o nº 63.025.530/001-04, com sede na
Rua da Reitoria, nº374, Cidade Universitá ria “Armando de Salles Oliveira”, Butantã , Sã o
Paulo/SP e o ESTADO DE SÃO PAULO, pessoa jurídica de direito pú blico da
administraçã o direta, com endereço na Av. Morumbi, nº4500, portã o 02, Morumbi, Sã o
Paulo/SP, a fim de ver reformada, em vista das razõ es anexas, a r. decisã o interlocutó ria
impugnada.

Requer seja concedida, com fundamento no art. 527, III do Có digo de


Processo Civil, a TUTELA ANTECIPADA RECURSAL ao presente agravo, tendo em vista

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
os graves prejuízos que advirã o à parte com a manutençã o da r. decisã o interlocutó ria
agravada, conforme restará demonstrado.

Acompanha a presente petiçã o de agravo de instrumento có pia integral dos


autos originais, cuja autenticidade se declara nos termos do artigo 544, §1º, 2ª parte do
CPC, constando todas as peças essenciais ao conhecimento do recurso.

Em atendimento à formalidade legal constante do inciso III do art. 524 do


CPC, informa que o endereço do patrono da Agravante é na Defensoria Pú blica do Estado
de Sã o Paulo – Nú cleo de Cidadania e Direitos Humanos, situada na Rua Boa Vista,
nº103, 11º andar, Centro, Sã o Paulo/SP.

Por oportuno, esclarece o agravante que deixa de juntar procuraçã o, por ser
representado judicialmente pela Defensoria Pú blica do Estado de Sã o Paulo (art. 128, XI
da Lei Complementar nº 80/94), e pugna pelo reconhecimento da gratuidade da justiça,
pelo que deixa de recolher as custas recursais.
Deixa também de juntar procuraçã o dos agravados por nã o terem sido ainda
citados.
Assim, atendidos os requisitos de admissibilidade, a Agravante requer seja
determinado o regular processamento do recurso.
Termos em que,
pede deferimento.

Sã o Paulo, 16 de janeiro de 2015.

Defensor(a) Pú blico(a)
Unidade de XXXXXXXXXXX

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
Autos do processo de origem nº. xxxxxxxxxxxxxxxx
12ª Vara da Fazenda Pú blica da Comarca da Capital - SP

RAZÕES RECURSAIS

EGRÉGIO TRIBUNAL
COLENDA CÂMARA
NOBRES JULGADORES

Seguem abaixo as razõ es do agravo sob a forma de instrumento, com o


objetivo de reformar a decisã o interlocutó ria que indeferiu o pedido de tutela
antecipada em açã o indenizató ria c/c obrigaçã o de fazer.

1. Síntese dos autos

A Agravante ingressou com Açã o Indenizató ria c/c Obrigaçã o de Fazer


com pedido de tutela antecipada com o objetivo de se ver indenizada pelo Estado de Sã o

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
Paulo e pela Universidade de Sã o Paulo por danos morais e materiais decorrentes da sua
exposiçã o a substâ ncias tó xicas no campus USP Leste.
Apó s determinado período de frequência à s aulas no campus da USP Leste,
em 2009, a agravante-agravante apresentou problemas de saú de que jamais tivera. Com
regulares sensaçõ es de mal estar, a agravante procurou atendimento médico para saber
do seu estado clínico e os exames constataram doenças decorrentes da inalaçã o de
substâ ncias tó xicas (fls. 1633 e seguintes), momento em que foi encaminhada para o
Hospital das Clínicas para iniciar um tratamento.
Em 2009, o primeiro quadro apresentado foi a atopia mucocutâ nea
crô nica decorrente da contaminaçã o de ascarel – PCB (substâ ncia cancerígena presente
em motor de veículos, especialmente caminhõ es) até os dias de hoje, com sequelas na
pele por todo o corpo (fls. 1619 e seguintes).
Entre 2010 e 2011, a agravante contraiu alopecia frontal fibrosante,
perdendo parte do cabelo e as sobrancelhas.
Em 2011, o segundo quadro apresentado foi de problemas respirató rios,
gá stricos e crises alérgicas, inclusive com o risco de edema de glote (fechamento dos
canais respirató rios).
No terceiro quadro, já em 2013, em razã o da contaminaçã o do lençol
freá tico da USP Leste, a agravante contraiu os vírus de hepatite A e B. Atualmente, a
agravante sofre restriçõ es com anestesias e medicamentos em funçã o das doenças
contraídas.
Recentemente, nó dulos bem doloridos vêm surgindo pelo corpo da
agravante. Ao tentar agendar consulta médica no posto de saú de do seu bairro, foi
informada que os atendimentos de urgência só seriam possíveis se alguém desistir e que
a agenda do clínico só estaria livre para o ano que vem. No hospital pró ximo de sua
residência só atendem emergência, nã o sendo o seu caso assim considerado, somente
acidentados ou pessoas em estado grave.
A agravante informa que há no campus material radioativo de baixa
intensidade e gá s metano do antigo “lixã o” que existia na mesma localidade, o que pode
ser confirmado com a aná lise da documentaçã o juntada com a inicial, em especial do

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
inquérito civil pú blico em curso na Promotoria do Meio Ambiente do Ministério Pú blico
do Estado de Sã o Paulo. Inclusive alguns prédios foram demolidos por razõ es de
segurança e estã o sendo realizadas obras para remoçã o do metano (fls. 1899 e seguintes
dos autos originá rios).
Ressalta, ainda, a falta de licenciamento ambiental na pró pria EACH/USP
Leste, fato amplamente divulgado pela imprensa. Ironicamente, a pró pria instituiçã o
agravada que ministra o curso de Gestã o Ambiental, onde a agravante estuda,
desrespeita as normas de proteçã o ambiental.
Segundo informaçõ es do inquérito civil pú blico já mencionado, a
contaminaçã o por ó leo ascarel no campus da USP Leste, que afetou a agravante, veio do
solo já contaminado das obras do Templo de Salomã o da Igreja Universal do Reino de
Deus, com a autorizaçã o da universidade agravada para o referido descarte. Frise-se a
existência de áreas contaminadas por ascarel (substância cancerígena) que foram
interditadas no campus para essa investigação, configurando claramente o nexo
causal entre a contaminação ambiental, imputável aos agravados, e os danos
sofridos pela agravante.
A agravante participou, ainda, da CPI das terras contaminadas na Câ mara
Municipal de Sã o Paulo, no qual prestou depoimentos e apresentou documentos,
requerendo providências da USP. Esta universidade informou que prestaria todo o
auxílio necessá rio à saú de da agravante, porém manteve-se inerte até o momento, razã o
pela qual nã o restou alternativa à .
Era de notó rio conhecimento das autoridades competentes e diretores da
USP que o terreno escolhido para sediar o campus da USP-LESTE estava contaminado.
Recentemente, o inquérito civil pú blico do Ministério Pú blico foi judicializado, com a
propositura de ação civil pública de nº xxxxxxxxxxxxxxxxxx, que tramita perante a 2ª
Vara de Fazenda Pú blica da Comarca da Capital. Nessa demanda, foram apuradas
diversas irregularidades no campus USP LESTE, como a presença de substâ ncias tó xicas,
a contaminaçã o do solo e do lençol freá tico, restando, por fim, o requerimento de
interdição do campus, o que de fato ocorreu em meados de 2013 até a autorização
recente para funcionamento.

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
A agravante nã o pretende realizar o tratamento de atopia mucocutâ nea
crô nica, de alopecia frontal fibrosante e de outras doenças derivadas da contaminaçã o
do campus, no Hospital das Clínicas, em razã o desta instituiçã o integrar a pró pria
universidade agravada e nã o ter especializaçã o na á rea, preferindo o tratamento por
entidade médica privada especializada e conveniada ao SUS, a ser custeado pelo Estado
de Sã o Paulo.
Por fim, em razã o do forte abalo em sua saú de física e mental ligados ao
nexo causal de contaminaçã o no campus USP Leste, a agravante pretende efetuar a
transferência para outro campus da universidade ré. Entretanto, o curso de Gestã o
Ambiental só existe no campus USP Leste. Assim, pretende a transferência para o Curso
de Saú de Pú blica no campus Butantã , por haver similaridade de disciplinas (documentos
em anexo), com a manutençã o de sua bolsa-auxílio indispensá vel para a continuidade de
seus estudos.
Apesar de todo o exposto, o r. juízo da 12ª Vara da Fazenda Pú blica da
Comarca da Capital – SP indeferiu a tutela antecipada requerida pela Agravante.
O pedido de antecipaçã o de tutela buscava a realizaçã o imediata de
tratamento médico por entidade privada especializada de prevençã o do câ ncer, de
atopia mucocutâ nea crô nica, de alopecia frontal fibrosante e de outras doenças
derivadas da contaminaçã o da USP Leste que venham a surgir posteriormente, a ser
custeado pelo Estado de Sã o Paulo, ou sucessivamente (art. 289, CPC), realizar o referido
tratamento médico por entidade pú blica especializada do Estado de Sã o Paulo e, ainda,
efetivar transferência interna do atual curso de Gestã o Ambiental (campus Leste) para o
curso de Saú de Pú blica (campus Butantã ) da USP, com a manutençã o da bolsa-auxílio,
pela pró pria universidade ré.
O MM. Juízo a quo fundamentou sua decisã o na suposta inexistência de
nexo de causalidade entre a doença da Agravante e a contaminaçã o do solo da USP Leste,
bem como na ausência de omissã o do Estado, enquanto ente integrante do SUS, no
fornecimento de tratamento adequado a sua patologia.
Porém, nã o pode prevalecer tal entendimento, nã o restando alternativa
senã o recorrer a esse E. Tribunal para que seja sanada a questã o.

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
2. Do cabimento de Agravo de Instrumento

Sabe-se que a Lei nº 11.187/05 alterou de modo significativo os


dispositivos que regem os recursos interpostos contra as decisõ es interlocutó rias, no
intuito de retirar a sobrecarga dos Tribunais pá trios, assim como privilegiar as decisõ es
proferidas pelos juízes singulares.
A mais significativa alteraçã o introduzida pela aludida lei foi a elevaçã o
definitiva do agravo retido à condiçã o de regra, para os recursos a serem manejados
contra as decisõ es interlocutó rias, sendo certo que a interposiçã o de recurso de agravo
na forma instrumental ficou restrita a poucas hipó teses, dentre as quais se encontra
aquela representada pela possibilidade de se tratar de decisã o suscetível de causar à
parte lesã o grave e de difícil reparaçã o.
Pode-se constatar que tal alteraçã o dá força imperativa ao preceito,
obrigando o relator a converter, invariavelmente, o agravo de instrumento em retido,
exceto na ocorrência de uma das hipó teses previstas no artigo 527, inciso II, do Có digo
de Processo Civil.
No caso, mostra-se evidente a necessidade de recebimento do presente
agravo na forma de instrumento, pois, caso ele seja recebido como retido, causará lesã o
grave e de difícil reparaçã o à Agravante, que terá sua saú de prejudicada, sendo privada
do tratamento adequado em hospital especializado e de tratamento preventivo contra o
câ ncer, podendo sofrer danos irrepará veis.
Ademais, caso a Agravante nã o seja transferida de unidade, ela continuará
sendo exposta à s mesmas substâ ncias tó xicas que causaram seus problemas de saú de,
com o risco de agravá -los ainda mais caso ela permaneça na USP Leste.
Por fim, está presente o requisito do fumus boni iuris, dado que foi em
decorrência da contaminaçã o do solo e da á gua na unidade que a Agravante desenvolveu
os diversos problemas de saú de que apresenta, fazendo jus a tratamento médico e a
transferência de curso da entidade causadora dos danos.

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
Nesse sentido, o artigo 196 da CRFB prevê que “a saúde é direito de todos e
dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução
do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. Ainda, o artigo 24, caput da Lei
8080/90, sobre a demanda por atendimento médico especializado, prescreve que,
“quando as suas disponibilidades forem insuficientes para garantir a cobertura
assistencial à população de uma determinada área, o Sistema Único de Saúde - SUS poderá
recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa privada”.
Assim, nos termos do artigo 527, inciso II, do Có digo de Processo Civil, o
presente recurso deverá ser obrigatoriamente recebido na forma de instrumento, tendo
em vista o perigo de lesã o grave e de difícil ou incerta reparaçã o.

3. Do mérito

a) Do nexo de causalidade

Conforme se depreende dos documentos acostados nos autos, o terreno


onde foi construído o campus Leste da USP está contaminado por substâ ncias tó xicas,
como o gá s metano e o ó leo ascarel (sendo esta a substâ ncia que afetou decisivamente a
saú de da agravante), estando evidenciado o evento danoso.
A conduta da administraçã o da universidade ré de permitir o descarte de
terras contaminadas e nã o observar as normas ambientais causou prejuízo ao meio
ambiente, assim como aos seus alunos, especialmente a agravante.
O nexo causal constitui o elemento referencial entre a conduta e o
resultado danoso. No caso, o dano ambiental fora causado pela conduta ilícita da
universidade, existindo entre ambos uma necessá ria relaçã o de causa e efeito, conforme
documentos anexos.
Evidente que os danos ambientais no campus da EACH-USP Leste afetaram
a integridade física e mental da agravante com as seguintes moléstias: atopia
mucocutâ nea crô nica, alopecia frontal fibrosante, hepatite A e B, problemas

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
respirató rios, gá stricos, crises alérgicas, dentre outras que eventualmente podem surgir
futuramente em decorrência de todas estas complicaçõ es de saú de.
De acordo com artigo científico acostado à inicial (fls. 1658 e seguintes dos
autos originá rios), além do relató rio produzido pelo Ministério Pú blico (fls. 1286 e
seguintes dos autos originá rios), as substâ ncias presentes na contaminaçã o do solo sã o
conhecidas por causar as doenças apresentadas pela Agravante, que, frise-se, só passou
a apresentá -las depois de frequentar as aulas no campus.
Conforme o pró prio Parecer Técnico do Ministério Pú blico do Estado de
Sã o Paulo (fls. 1286 e seguintes dos autos originá rios), a presença de substâ ncias tais
como o benzo(a)fluoranteno, que é um dos componentes do ó leo ascarel (de acordo com
artigo em fls. 1599 e 1600), acarreta um grave risco cancerígeno e está ligado ao
aparecimento de tumores. Para além disso, diversas outras substâ ncias cancerígenas
foram encontradas no local, tais como o benzo(a)pireno e o crisênio, assim como
substâ ncias que acarretam problemas de pele, como o antimô nio e o cobalto.
Assim, é evidente que manter a Agravante no ambiente da USP Leste
significa continuar a expô -la aos elementos causadores de suas doenças, além de
perpetuar o contato dela com tó xicos que podem acarretar novos problemas de saú de,
sendo também evidente a necessidade de imediato atendimento especializado para os
complexos problemas de saú de causados na autora pela contaminaçã o ambiental.

b) Da prestação de serviços de saúde pelo Estado de São Paulo

É evidente o prejuízo sofrido pela agravante, haja vista que necessita do


tratamento médico para a manutençã o da sua saú de, razã o pela qual está presente o
elemento URGÊNCIA, isto é, especificamente, o RISCO DE DANO IRREPARÁVEL.
O artigo 196 da CRFB prevê que “a saúde é direito de todos e dever do
Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação”.

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
O artigo 198 da CRFB, por sua vez, consagra o SUS ao mencionar que as
açõ es e serviços pú blicos de saú de integram uma rede regionalizada e hierarquizada e
constituem um sistema ú nico, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I -
descentralizaçã o, com direçã o ú nica em cada esfera de governo; II - atendimento
integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços
assistenciais; III - participaçã o da comunidade.
O § 1º do artigo 198 ainda cita que o sistema ú nico de saú de será
financiado com recursos do orçamento da seguridade social, da Uniã o, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes.
O artigo 24, caput da Lei 8080/90, sobre a demanda por atendimento
médico especializado, prescreve que, “quando as suas disponibilidades forem
insuficientes para garantir a cobertura assistencial à população de uma determinada
área, o Sistema Único de Saúde - SUS poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa
privada”.
O Superior Tribunal de Justiça firma entendimento pacífico no sentido da
responsabilidade solidá ria dos entes federativos na prestaçã o do direito à saú de,
podendo figurar no polo passivo qualquer um deles. Neste sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL,


AgRg no AREsp 350065 / CE, Relator(a) Ministro SÉ RGIO KUKINA
(1155), PRIMEIRA TURMA, Data do Julgamento 18/11/2014, Data
da Publicação/Fonte DJe 24/11/2014, Ementa

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA.
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. RESPONSABILIDADE
SOLIDÁ RIA DOS ENTES FEDERADOS. PRECEDENTES. DIREITO
LÍQUIDO E CERTO. COMPROVAÇÃ O DA NECESSIDADE DO
TRATAMENTO. NOVO EXAME FÁ TICO-PROBATÓ RIO.
IMPOSSIBILIDADE. SÚ MULA 7/STJ. 1. O Superior Tribunal de Justiça,
em reiterados precedentes, tem decidido que o funcionamento do
Sistema Ú nico de Saú de - SUS é de responsabilidade solidá ria dos
entes federados, de forma que qualquer deles tem legitimidade para

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
figurar no polo passivo de demanda que objetive o acesso a
medicamentos. 2. O Tribunal de origem, com base no substrato
fá tico-probató rio, asseverou que a documentaçã o - emitida por
instituiçã o vinculada ao pró prio Estado- era suficiente para
comprovar o direito líquido e certo reclamado, ou seja, a necessidade
do tratamento pleiteado, sendo que a reforma de tal entendimento
esbarraria na Sú mula 7/STJ. 3. Agravo regimental a que se nega
provimento.

Dessas fundamentaçõ es, depreende-se que o fornecimento adequado de


tratamento à saú de é serviço público essencial, devendo compreender todos os meios
materiais possíveis e adequados à busca do tratamento de doenças. Além disso, à
Administraçã o Pú blica nã o é dado o poder discricioná rio de concretizar ou nã o políticas
pú blicas direcionadas à saú de. Nã o lhe cabe simplesmente optar por nã o fornecer
assistência médica e hospitalar.
A agravante iniciou o tratamento médico da atopia mucocutâ nea crô nica e
alopecia frontal fibrosante no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP,
que a tratou emergencialmente (laudos médicos em anexo). O diagnó stico era sempre de
pele seca, ainda que a agravante apresentasse feridas profundas. Mesmo sem o
tratamento adequado, acabou sendo desligada do serviço de imunologia.
Quando as denú ncias de contaminaçã o na USP Leste ganharam destaque, a
autora compreendeu que a exposiçã o aos agentes tó xicos ali presentes
estavarelacionada com suas crises. Buscou se aprofundar no assunto e descobriu a
contaminaçã o pelo ascarel, um produto químico cancerígeno que produz praticamente
todos os sintomas que apresentava: hiperpigmentaçã o, coceiras, dores abdominais,
feridas e laceraçõ es na pele.
Com essas novas informaçõ es, procurou novamente a Imunologia e relata
que lá , mais uma vez, nã o recebeu a devida atençã o. Foi entã o pedir auxílio à diretora de
sua faculdade, que respondeu nã o poder ajudar no tratamento, pois a instituiçã o
conveniada com a USP é o Hospital Universitá rio.
A agravante tentou, ainda, uma entrevista pessoal com o médico Paulo
Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da USP, que a encaminhou para

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
atendimento na Clínica Médica do Hospital das Clínicas. E este tem sido o ú nico local em
que conseguiu atendimento por enquanto, mas ressalta que não é o atendimento
especializado de que necessita.
Recentemente, nó dulos bem doloridos vêm surgindo pelo corpo da
agravante. Ao tentar agendar consulta médica no posto de saú de do seu bairro, foi
informada que os atendimentos de urgência só seriam possíveis se alguém desistisse e
que a agenda do clinico só estaria livre para o ano que vem. No hospital pró ximo de sua
residência só atendem emergência (acidentados ou pessoas em estado grave).
A agravante nã o pretende realizar no Hospital das Clínicas os tratamento
de atopia mucocutâ nea crô nica, de alopecia frontal fibrosante e de outras doenças
derivadas da contaminaçã o da USP Leste que venham a surgir posteriormente, em razã o
de tal Hospital integrar a pró pria universidade agravada. Frise-se que o Hospital das
Clínicas da USP é um ó rgã o técnico, motivo pelo qual a agravante teme por eventual
suspeiçã o na produçã o de provas periciais e documentais, nos termos dos artigos 135 e
138, IV do CPC.
Além disso, conforme já explanado acima, o atendimento prestado pelo
Hospital das Clínicas nã o é especializado para o devido tratamento de contaminaçã o por
ascarel, para curar as sequelas da pele e recomposiçã o do couro cabeludo e das
sobrancelhas. A agravante necessita, ainda, de tratamento preventivo de câ ncer em
razã o do contato com a citada substâ ncia tó xica.
Dessa forma, a agravante clama pelo tratamento por entidade médica
privada especializada e conveniada ao SUS, a ser custeado pelo Estado de Sã o Paulo em
obrigaçã o de fazer com cará ter de urgência. Subsidiariamente, pleiteia o tratamento por
entidade pú blica especializada nos referidos tratamentos com a mesma urgência.

c) Da necessidade de transferência de curso

Para agravar a situaçã o, atualmente a agravante continua a frequentar as


aulas no campus Leste para nã o prejudicar o seu desempenho acadêmico e nã o perder a
vaga com eventual jubilamento.

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
Saliente-se que a agravante continua com severos problemas na pele, no
couro cabeludo e nas sobrancelhas, mas ainda assim convive diariamente com as
substâ ncias tó xicas, fato que impede a evoluçã o de seu quadro clínico. Recorde-se que as
lesõ es em sua pele sã o totalmente visíveis, acarretando diversos constrangimentos em
pú blico, chegando a agravante a apresentar depressã o.
Ademais, a agravante passou por sério trauma psicoló gico, o qual tende a
se agravar pela frequência ao campus da USP Leste, necessitando ser transferida para
outra unidade com urgência, de modo que possa completar um curso de ensino superior
sem estar exposta aos riscos de graves danos físicos e psicoló gicos.
A agravante já manifestou interesse na solicitaçã o da transferência de
campus, mas o curso de Gestã o Ambiental só existe no campus USP Leste. Assim,
pretende a transferência para o Curso de Saú de Pú blica no campus Butantã , por haver
similaridade de disciplinas (grades curriculares em anexo), com a manutençã o de sua
bolsa-auxílio indispensá vel para a continuidade de seus estudos.
Os artigos 77 e 78 do Regimento Geral da USP, porém, só permitem as
transferências de um curso para outro da USP quando houver a existência de vagas e a
aprovaçã o em exame de seleçã o.
O due process of law substancial (artigo 5º, LV da CRFB), no conceito norte-
americano (pró ximo à ideia de equity), representa a realizaçã o do justo nas atividades
estatais. Para que um ato seja justo é essencial uma conduta razoá vel frente ao caso
concreto. Lançar mã o da razoabilidade é “observar o caso concreto como uma luva”
(Gerald Gunther).
Muitas vezes o legislador e o administrador fixam os padrõ es (standards),
mas nem sempre o justo se amoldará a esses modelos. Na aná lise desse caso concreto, o
justo seria nã o observar tal modelo regulamentar, priorizando os valores fundamentais
da agravante consagrados na Constituiçã o da Repú blica, que por sinal foram violados
pela pró pria universidade agravada.
Por ato lesivo da universidade agravada, a agravante já foi privada de seus
direitos à saú de (artigo 196), à dignidade (artigo 1º, III) e ao meio ambiente sadio e
equilibrado (artigo 225), tendo sofrido danos físicos, morais e estéticos.

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
Recorde-se que nã o foi a agravante quem provocou esta situaçã o
inusitada, mas a pró pria universidade ré em sua conduta ilícita, restando ao Judiciá rio
corrigir tal distorçã o do regulamento e proteger o seu direito constitucional à educaçã o
(artigo 205) diante da excepcionalidade do caso que o administrador jamais conseguiria
prever.
Destarte, a agravante pleiteia, em liminar de obrigaçã o de fazer, a
transferência interna do atual curso de Gestã o Ambiental (campus USP Leste) para o
curso de Saú de Pú blica (campus Butantã ) por haver semelhança entre as grades
curriculares (em anexo), com a manutençã o de sua bolsa-auxílio indispensá vel para a
continuidade de seus estudos e a compra de medicamentos.

4. Da tutela antecipada recursal

O artigo 527, inciso III, do Có digo de Processo Civil, autoriza o relator


conceder efeito suspensivo ou a tutela antecipada recursal no agravo de instrumento.
Para tanto, o artigo 558 do mesmo Có digo, estabelece que a liminar no
agravo poderá ser concedida se estiverem presentes os requisitos do perigo de dano
irrepará vel ou de difícil reparaçã o e fundamento relevante.
No presente caso, como restou amplamente demonstrado, a Agravante
tem direito ao tratamento em instituiçã o privada especializada nos seus problemas de
saú de, dado que o tratamento que recebe hoje no Hospital das Clínicas nã o é adequado
à s suas necessidades por ausência de infraestrutura e especializaçã o dos profissionais.
Além disso, a questã o é relativa a tratamento médico, e,
consequentemente, a demora na prestaçã o da tutela jurisdicional, acarreta grave
prejuízo, cabível a tutela antecipada para evitar dano grave. Neste sentido, a
possibilidade de a Agravante ter contraído câ ncer é preocupante, tendo ela apresentado
recentemente sintomas estranhos à sua condiçã o normal.
Ademais, há fundamento relevante, consistente em toda a documentaçã o
juntada na inicial e que acompanha este agravo de instrumento, a qual comprova a
existência de contaminaçã o ambiental no campus USP Leste, o que, aliá s, já é fato

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
notó rio, bem como comprova o nexo de causalidade entre esta contaminaçã o e os danos
sofridos pela autora.
Diante da existência de perigo de dano irrepará vel ou de difícil reparaçã o e
fundamento relevante, necessá ria a concessã o da tutela antecipada recursal neste
agravo, com o fito de determinar imediato custeio de tratamento especializado pelo
Estado em entidade privada ou, subsidiariamente, em entidade pú blica especializada; e a
imediata transferência de curso.

5. Dos pedidos

Ante o exposto, requer a Agravante:


a) Sejam contados em dobro os prazos processuais, visto tratar-se assistida pela
Defensoria Pú blica do Estado de Sã o Paulo, nos termos do que dispõ e o artigo
128, inciso I, da Lei Complementar Federal nº 80, de 12 de janeiro de 1994, com a
redaçã o dada pela Lei Complementar Federal nº 132, de 7 de outubro de 2009;
b) Sejam todas as intimaçõ es de atos processuais realizadas na pessoa do Defensor
Pú blico subscrito, nos termos do que dispõ e a norma invocada no item anterior,
indicando como endereço para intimaçã o a sede do Nú cleo Especializado de
Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pú blica do Estado de Sã o Paulo,
situado à Rua Boa Vista, nº 103, 11º andar. Centro, Sã o Paulo – SP. Telefone (11)
3107 5080;
c) Seja concedida a tutela antecipada recursal ao agravo (art. 527, III do CPC),
para que a Agravante tenha direito a: (I) realizaçã o de tratamento médico por
entidade privada especializada de prevençã o do câ ncer, de atopia mucocutâ nea
crô nica, de alopecia frontal fibrosante e de outras doenças derivadas da
contaminaçã o da USP Leste que venham a surgir posteriormente, a ser custeado
pelo Estado de Sã o Paulo; (II) em pedido de ordem sucessiva (artigo 289 do CPC),
realizaçã o do referido tratamento médico por entidade pú blica especializada do
Estado de Sã o Paulo; (III) realizaçã o de transferência interna do atual curso de
Gestã o Ambiental (campus Leste) para o curso de Saú de Pú blica (campus

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
Butantã ) da USP, com a manutençã o da bolsa-auxílio, pela pró pria universidade
ré;
d) Sejam intimados os agravados para, querendo, oferecer contrarrazõ es ao
presente recurso nos termos e no prazo legal; e
e) Seja, no mérito, e apó s a manifestaçã o das partes agravadas, provido o agravo de
instrumento para reformar a decisã o agravada no sentido de ser concedida a
tutela antecipada no sentido de: (I) realizar tratamento médico por entidade
privada especializada de prevençã o do câ ncer, de atopia mucocutâ nea crô nica, de
alopecia frontal fibrosante e de outras doenças derivadas da contaminaçã o da
USP Leste que venham a surgir posteriormente, a ser custeado pelo Estado de Sã o
Paulo; (II) em pedido de ordem sucessiva (artigo 289 do CPC), para a realizaçã o
do referido tratamento médico por entidade pú blica especializada do Estado de
Sã o Paulo; (III) para a realizaçã o de transferência interna do atual curso de
Gestã o Ambiental (campus Leste) para o curso de Saú de Pú blica (campus
Butantã ) da USP, com a manutençã o da bolsa-auxílio, pela pró pria universidade
ré.

Termos em que,
Pede deferimento.

Sã o Paulo, 16 de janeiro de 2015.

Defensor(a) Pú blico(a)
Unidade de XXXXXXXXXXX

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL

Você também pode gostar