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de Conservação
da Biodiversidade
ANEXO 2
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Este item tem como propósito apresentar uma síntese das principais metodologias de avaliação
e manejo da visitação em áreas protegidas, considerando seus objetivos, sua abordagem e
conceitos fundamentais e as etapas de aplicação do método.
O ROS foi concebido como uma referência de ferramentas e critérios que pudessem ser
incorporados nas metodologias de planejamento de áreas protegidas e não como um
sistema de planejamento em si mesmo. Considera que os gestores de áreas protegidas
onde são oferecidas experiências aos visitantes em espaços naturais ou culturais têm duas
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responsabilidades fundamentais:
• Proteger e manter os recursos naturais e culturais, que são os atrativos para os visitantes
e dos quais todos dependem;
• Prover uma diversidade de experiências de qualidade ao público.
Inicialmente, considerava-se que era suficiente planejar e oferecer atividades específicas
como caminhadas, acampamentos, banhos em cachoeiras e outros. Entretanto, com o passar
do tempo, percebeu-se que os visitantes não buscavam uma atividade propriamente dita e sim
cenários e ambientes que fossem ao encontro de suas expectativas e desejos psicológicos.
Surgiu assim, a necessidade de criar e articular uma série de oportunidades e experiências
que envolvem também os ambientes e atrativos da região onde a UC está inserida. Destacam-
se os seguintes aspectos:
• Cada destino, dentro de uma área protegida, é apto a uma combinação de certas experiências
compatíveis com a categoria e com os objetivos da unidade;
• Os segmentos do mercado turístico podem ser combinados com os ambientes que provêm
oportunidades para as experiências desejadas;
• Nem todas as experiências desejadas são apropriadas em certo lugar nem a determinadas
áreas protegidas;
• O zoneamento de uma região com potencial para visitação se baseia em uma combinação
das preferências dos usuários, a proteção/conservação dos recursos naturais, a capacidade
9 6 O ROVAP é a versão do ROS traduzida para o espanhol com vistas à sua utilização por países
latino americanos. Portanto, nesta síntese nos referiremos ao ROVAP e não à sigla ROS.
de manejo e as diretrizes legais;
• Os ambientes ou as diferentes zonas podem ser representados em mapas e incorporados
a sistemas de informação espacial usados no planejamento.
Os pontos chaves do ROVAP são:
• Satisfação dos visitantes – não existe um visitante “típico”, de modo que é necessário
oferecer uma diversidade de experiências e paisagens para satisfazer uma demanda
complexa;
• É possível agrupar pessoas que buscam experiências parecidas;
• Os grupos de experiências desejadas e benefícios são associados a certos atributos ou
características da paisagem;
• Não podemos manejar a experiência do visitante porque muitos outros elementos
influenciam nos resultados da vivência;
• Para alcançar a meta de atender à demanda de visitantes, à diversidade de necessidades e
de preferências, deve-se desenvolver um sistema de manejo que ofereça um espectro de
oportunidades para diferentes experiências, sempre que estas estejam de acordo como os
objetivos da área protegida.
O espectro de oportunidades recreativas se organiza em zonas de manejo no contexto regional
incluindo o conjunto de parques, zonas turísticas e outras áreas protegidas. O gradiente
de zonas varia entre as mais primitivas às urbanas, considerando as características do
contexto biofísico, social e administrativo da região. Em cada zona, ou classe de oportunidade
52 recreativa, indicadores como naturalidade, evidência de atividades humanas, distância de
áreas humanizadas, tipo de acesso, número de pessoas encontradas, nível de infraestrutura,
presença de pessoal da UC e outros são considerados. O zoneamento é baseado na proteção
e na capacidade dos recursos naturais, na capacidade de manejo e nas diretrizes legais,
nas preferências dos visitantes e de outros usuários. A seguir são descritas as classes de
experiências ou zonas gerais propostas pelo ROVAP:
• Primitiva – alto grau de naturalidade e integridade dos processos ecológicos, há pouca
evidência de atividades humanas e baixa probabilidade de encontros com outras pessoas; a
visitação é altamente controlada, limitada aos gestores da área, pesquisadores e visitantes
com características específicas. O acesso é difícil, o nível de desafio e risco assumido pelo
visitante é alto;
• Semi-primitiva - alto grau de naturalidade e integridade dos processos ecológicos; há
pouca evidência de atividades humanas e os encontros com outros visitantes ou moradores
da área não são muito frequentes. O acesso é normalmente pedestre ou à cavalo e por
trilhas fáceis; há muitos espaços sem trilhas demarcadas; há pouca infraestrutura; existe
oportunidade para experimentar autonomia, solidão e desafios. Nesta zona, são necessários
equipamentos técnicos, conhecimentos de navegação terrestre ou um condutor que
conheça a área.
• Rústica /natural – o ambiente tem características naturais, mas pode haver atividades
humanas sustentáveis; a paisagem tem atributos naturais e culturais; o acesso pode se
dar de forma motorizada, por estradas e também por trilhas bem marcadas; os encontros
e a interação com outros visitantes são frequentes, inclusive com grupos turísticos; a
infraestrutura de apoio está planejada para o uso intensivo com centros de visitantes,
trilhas auto-guiadas, campings etc.
• Rural – compreende à zona de amortecimento da UC; há áreas de pasto, fazendas,
assentamentos rurais, comunidades tradicionais; o acesso se dá por estradas e trilhas
rurais que conectam propriedades privadas e áreas públicas; há oferta de serviços pela
comunidade e pode-se apreciar a cultura local, as práticas e o modo de vida da região. A
infraestrutura é normalmente simples e rústica.
• Urbana – ambiente caracterizado por uma mescla de usos residenciais e comerciais,
turísticos, industriais, sistemas de transporte e diferentes serviços; a área oferece serviços
diferenciados como atendimento ao turista, grandes hotéis, restaurantes variados,
hospitais e há encontros constantes com pessoas de diferentes origens.
A figura a seguir exemplifica uma das planilhas ilustrativas de critérios para definição das
zonas ou classes de oportunidades.
Ferramenta para estabelecimento de zonas do ROVAP
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A metodologia de capacidade de carga turística calcula o número de visitas que uma área
específica pode receber por dia sem causar impacto ao ambiente. Surgiu na Costa Rica como
54 uma resposta à necessidade de controlar o uso recreativo em áreas protegidas da América
Latina. Parte do princípio que o procedimento de determinação da capacidade de carga turística
em áreas protegidas de países em desenvolvimento deva considerar:
• A carência de pessoal capacitado;
• A falta de capacidade de manejo;
• A insuficiência de informação e
• A dificuldade de acesso a sistemas e equipamentos de inovação tecnológica.
De acordo com Cifuentes (1992), a capacidade de carga não é um fim em si mesma e nem
a solução dos problemas de visitação de uma área protegida. Ela é, essencialmente, uma
ferramenta de planejamento para apoio a decisões de manejo. Considera que qualquer
determinação de capacidade de carga deve basear-se nos objetivos de manejo da unidade,
pois eles indicam os usos que a área pode ter e se é mais ou menos aberta a atividades de
visitação. Além disso, a capacidade de carga deve ser calculada para cada lugar de uso público,
separadamente, e o valor das capacidades de carga de cada um destes locais não se constitui
na capacidade de carga total para a área protegida.
Outro conceito relevante na metodologia é denominado “limitação crítica”, que se constitui
em fatores que condicionam a capacidade de carga de um determinado local de visitação na
UC. Ou seja, por mais que o lugar em questão suporte uma quantidade maior de visitas, um
fator como a carência de água, poderia levar o gestor a reduzir muito a quantidade de visitas
permitidas na área. Isso também se aplica se vários lugares, como praias, são conectados por
trilhas formando um único complexo ou só têm um acesso. Neste caso, a capacidade de carga
seria determinada pelo lugar com menor capacidade de carga real, partindo do princípio que
isso evitaria uma sobrecarga sobre alguns locais.
Para a definição da capacidade de carga, devem ser feitos três tipos de cálculos interdependentes:
capacidade de carga física, capacidade de carga real e capacidade de carga efetiva.
Capacidade de carga física (CCF) - relação entre o espaço disponível e a necessidade de espaço
requerido por cada visitante.
CCF=V/a x S x t
V/a = visitante/área ocupada
S= superfície disponível para uso público
t= tempo necessário para executar a visita
Pressupostos:
• 1 pessoa requer geralmente 1m2 para mover-se livremente;
• A superfície disponível será determinada pela condição do lugar avaliado (em caso de
trilhas, as limitações de espaço são dadas pelo tamanho dos grupos e pela distância que,
por prudência, um grupo deve ter em relação ao outro);
• O fator tempo é condicionado ao horário de visita e ao tempo que se necessita para visita
o lugar.
• Nos cálculos, Cifuentes recomenda considerar o atributo “visitas/tempo/lugar” ao invés 55
de “visitantes/tempo/lugar” porque interessa considerar a presença de uma pessoa em
determinado lugar em certo momento para medir o impacto. Deste modo, parte-se do
princípio que se o mesmo visitante passar repetidamente por um certo local, o impacto
também se repetirá.
Capacidade de carga real (CCR) – limite máximo de visitas definido a partir da correção /
redução da CCF em razão de condições/limitações biofísicas e sociais da área.
CCR=(CCF-FC1) - ....FCn
CCR= CCF x (100-FC1)/100 x (100-FC2)/100 x (100-FCn)/100
• FC é um fator de correção expressado em porcentagem.
• Cada lugar analisado tem fatores de correção específicos que não são necessariamente
iguais para outros lugares. Este é um dos motivos que justifica a CC de uma área protegida
necessitar de cálculos diferentes para cada espaço de visitação.
FC=Ml/Mt x 100
FC= fator de correção
Ml= magnitude limitante da variável
Mt= magnitude total da variável
Capacidade de carga efetiva (CCE) – é o limite máximo de visitas permitidas, em função da
capacidade de ordená-las e manejá-las. Obtém-se comparando da CCR com a capacidade de
manejo da unidade (CM). Para isso, é necessário conhecer a capacidade de manejo mínima e
indispensável e conseguir determinar a qual porcentagem ela corresponde da CM existente.
Assim a CCE será calculada por:
CCE= CCR x CM/100
• CM= porcentagem da capacidade de manejo mínima
Para cálculo da CM, considera-se variáveis como: corpo técnico, equipamentos, infraestrutura,
instalações e financiamento.
CIFUENTES (1992) recomenda ainda que seja feita a conversão de visitas/tempo para visitantes/
tempo como variável de cálculo, para facilitar a compreensão pelo público em geral (usuários e
técnicos das UC). A conversão se faz dividindo as visitas/dia (CCE) para o número de vezes que
um visitante, teoricamente, poderia visitar o mesmo lugar em um dia se entrou um e outra vez.
CCE= número total de visitas/dia / número de visitas/dia/visitante
CCE= X visitantes/dia
Além dos cálculos, a metodologia de capacidade de carga turística incorpora também o conceito
LAU – Limite Aceitável de Uso, que corresponde ao mínimo impacto aceitável considerando a
capacidade real de orçamento e controle da UC. Ou seja, se a capacidade de manejo aumentar,
o LAU também pode ser incrementado, possibilitando ajustes na CCE de acordo com a dinâmica
da área. Entretanto, a CCE nunca poderá ser maior do que a CCR, mesmo que a capacidade de
manejo ultrapasse seu nível ótimo.
O conceito de capacidade de carga deve ser dinâmico e relativo, pois depende de variáveis
relacionadas a valores humanos que, dependendo das circunstâncias, podem variar
56 consideravelmente. Isso obriga o gestor da área a fazer revisões periódicas como parte de um
processo de ajustes e planejamento permanente das ações de manejo.
O VERP foi criado a partir de adaptações ao LAC a fim de sistematizar procedimentos que
atendessem aos parques nacionais estadunidenses. Compreende a capacidade de carga da
visitação como tipo o nível de visitação que pode ser acomodado enquanto mantém, de forma
aceitável, as condições dos recursos e as condições sociais que complementam o propósito
de um parque.
Os princípios e os elementos chaves do VERP guardam a lógica do LAC relacionados a definição
de condições desejadas da qualidade dos recursos naturais e da experiência do visitante, o
estabelecimento de indicadores da qualidade da experiência e das condições dos recursos, a
60 definição de padrões que indicam as condições mínimas aceitáveis e o desenvolvimento de um
processo de monitoramento para determinar quando uma ação de manejo precisa ser tomada
para manter os padrões e o desenvolvimento de ações de manejo.
Especial destaque é oferecido pelo VERP em relação aos indicadores de qualidade da
experiência e de verificação das condições dos recursos naturais. Os indicadores de recursos
mensuram os impactos da visitação nos recursos biológicos, físicos e culturais da unidade. Os
indicadores sociais mensuram os impactos da visitação na experiência dos visitantes. Além
de indicadores, deve-se definir padrões que são as condições mínimas aceitas na mensuração
de cada indicador. Os indicadores e os padrões devem ser estabelecidos com muito cuidado e
clareza. A seguir os principais fatores a serem considerados nesta definição são abordados.
As quatro principais fontes de informação para o estabelecimento de indicadores são: literatura
científica; resultados de pesquisas científicas realizadas na UC; a opinião dos visitantes; e a
opinião dos gestores da unidade.
Bons indicadores devem os seguintes atributos:
• Específicos (solidão versus número de encontros com outros grupos por dia em trilhas);
• Objetivos (número de impactos severos em áreas de acampamento X número de áreas de
acampamento que excedem 20 m2 de solo exposto);
• Confiáveis e repetíveis;
• Relacionados diretamente aos impactos dos usos dos visitantes (nível de uso, tipo de uso,
localização do uso ou comportamento dos visitantes);