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Instituto Chico Mendes

de Conservação
da Biodiversidade
ANEXO 2
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Instituto Chico Mendes de


Conservação da Biodiversidade
ROTEIRO METODOLÓGICO PARA MANEJO
DE IMPACTOS DA VISITAÇÃO

ANEXO 1 – SÍNTESE DE METODOLOGIAS E FERRAMENTAS DE CAPACIDADE DE CAR-


GA E MANEJO DE IMPACTOS DA VISITAÇÃO

Este item tem como propósito apresentar uma síntese das principais metodologias de avaliação
e manejo da visitação em áreas protegidas, considerando seus objetivos, sua abordagem e
conceitos fundamentais e as etapas de aplicação do método.

ROS – Recreation Opportunity Spectrum / ROVAP – Rango de Oportunidades para Vi-


sitantes em Áreas Protegidas6

Ano de publicação: 1992


Autor/organização e local: Miguel Cifuentes, Centro Agronômico Tropical de Investigación y
Enseñanza – CATIE, Costa Rica
Objetivo Definir os níveis ou a intensidade do uso que podem ser tolerados
em uma determinada área sem causar impactos ao ambiente.
Conceitos fundamentais
(CIFUENTES, 1992 e AMADOR et al, 1996)

O ROS foi concebido como uma referência de ferramentas e critérios que pudessem ser
incorporados nas metodologias de planejamento de áreas protegidas e não como um
sistema de planejamento em si mesmo. Considera que os gestores de áreas protegidas
onde são oferecidas experiências aos visitantes em espaços naturais ou culturais têm duas
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responsabilidades fundamentais:
• Proteger e manter os recursos naturais e culturais, que são os atrativos para os visitantes
e dos quais todos dependem;
• Prover uma diversidade de experiências de qualidade ao público.
Inicialmente, considerava-se que era suficiente planejar e oferecer atividades específicas
como caminhadas, acampamentos, banhos em cachoeiras e outros. Entretanto, com o passar
do tempo, percebeu-se que os visitantes não buscavam uma atividade propriamente dita e sim
cenários e ambientes que fossem ao encontro de suas expectativas e desejos psicológicos.
Surgiu assim, a necessidade de criar e articular uma série de oportunidades e experiências
que envolvem também os ambientes e atrativos da região onde a UC está inserida. Destacam-
se os seguintes aspectos:
• Cada destino, dentro de uma área protegida, é apto a uma combinação de certas experiências
compatíveis com a categoria e com os objetivos da unidade;
• Os segmentos do mercado turístico podem ser combinados com os ambientes que provêm
oportunidades para as experiências desejadas;
• Nem todas as experiências desejadas são apropriadas em certo lugar nem a determinadas
áreas protegidas;
• O zoneamento de uma região com potencial para visitação se baseia em uma combinação
das preferências dos usuários, a proteção/conservação dos recursos naturais, a capacidade
9 6 O ROVAP é a versão do ROS traduzida para o espanhol com vistas à sua utilização por países
latino americanos. Portanto, nesta síntese nos referiremos ao ROVAP e não à sigla ROS.
de manejo e as diretrizes legais;
• Os ambientes ou as diferentes zonas podem ser representados em mapas e incorporados
a sistemas de informação espacial usados no planejamento.
Os pontos chaves do ROVAP são:
• Satisfação dos visitantes – não existe um visitante “típico”, de modo que é necessário
oferecer uma diversidade de experiências e paisagens para satisfazer uma demanda
complexa;
• É possível agrupar pessoas que buscam experiências parecidas;
• Os grupos de experiências desejadas e benefícios são associados a certos atributos ou
características da paisagem;
• Não podemos manejar a experiência do visitante porque muitos outros elementos
influenciam nos resultados da vivência;
• Para alcançar a meta de atender à demanda de visitantes, à diversidade de necessidades e
de preferências, deve-se desenvolver um sistema de manejo que ofereça um espectro de
oportunidades para diferentes experiências, sempre que estas estejam de acordo como os
objetivos da área protegida.
O espectro de oportunidades recreativas se organiza em zonas de manejo no contexto regional
incluindo o conjunto de parques, zonas turísticas e outras áreas protegidas. O gradiente
de zonas varia entre as mais primitivas às urbanas, considerando as características do
contexto biofísico, social e administrativo da região. Em cada zona, ou classe de oportunidade
52 recreativa, indicadores como naturalidade, evidência de atividades humanas, distância de
áreas humanizadas, tipo de acesso, número de pessoas encontradas, nível de infraestrutura,
presença de pessoal da UC e outros são considerados. O zoneamento é baseado na proteção
e na capacidade dos recursos naturais, na capacidade de manejo e nas diretrizes legais,
nas preferências dos visitantes e de outros usuários. A seguir são descritas as classes de
experiências ou zonas gerais propostas pelo ROVAP:
• Primitiva – alto grau de naturalidade e integridade dos processos ecológicos, há pouca
evidência de atividades humanas e baixa probabilidade de encontros com outras pessoas; a
visitação é altamente controlada, limitada aos gestores da área, pesquisadores e visitantes
com características específicas. O acesso é difícil, o nível de desafio e risco assumido pelo
visitante é alto;
• Semi-primitiva - alto grau de naturalidade e integridade dos processos ecológicos; há
pouca evidência de atividades humanas e os encontros com outros visitantes ou moradores
da área não são muito frequentes. O acesso é normalmente pedestre ou à cavalo e por
trilhas fáceis; há muitos espaços sem trilhas demarcadas; há pouca infraestrutura; existe
oportunidade para experimentar autonomia, solidão e desafios. Nesta zona, são necessários
equipamentos técnicos, conhecimentos de navegação terrestre ou um condutor que
conheça a área.
• Rústica /natural – o ambiente tem características naturais, mas pode haver atividades
humanas sustentáveis; a paisagem tem atributos naturais e culturais; o acesso pode se
dar de forma motorizada, por estradas e também por trilhas bem marcadas; os encontros

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e a interação com outros visitantes são frequentes, inclusive com grupos turísticos; a
infraestrutura de apoio está planejada para o uso intensivo com centros de visitantes,
trilhas auto-guiadas, campings etc.
• Rural – compreende à zona de amortecimento da UC; há áreas de pasto, fazendas,
assentamentos rurais, comunidades tradicionais; o acesso se dá por estradas e trilhas
rurais que conectam propriedades privadas e áreas públicas; há oferta de serviços pela
comunidade e pode-se apreciar a cultura local, as práticas e o modo de vida da região. A
infraestrutura é normalmente simples e rústica.
• Urbana – ambiente caracterizado por uma mescla de usos residenciais e comerciais,
turísticos, industriais, sistemas de transporte e diferentes serviços; a área oferece serviços
diferenciados como atendimento ao turista, grandes hotéis, restaurantes variados,
hospitais e há encontros constantes com pessoas de diferentes origens.
A figura a seguir exemplifica uma das planilhas ilustrativas de critérios para definição das
zonas ou classes de oportunidades.
Ferramenta para estabelecimento de zonas do ROVAP

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Fonte: US Forest Service, CIPAM e International Institute of Tropical Forestry, s/d.


Etapas de aplicação do ROVAP
As principais etapas para aplicação do ROVAP são:
1 – Descrever as classes de oportunidades potenciais na área em planejamento;
2 – Inventariar as oportunidades e ambientes;
3 - Localizar geograficamente as classes de oportunidades/zonas;
4 - Estabelecer padrões para alguns dos indicadores de ambiente para cada classe/zona;
5 – Compatibilizar as ações de manejo e os regulamentos para visitantes.

CC - Capacidade de Carga Turística em Áreas Protegidas

Ano de publicação: 1992


Autor/organização e local: Miguel Cifuentes, Centro Agronômico Tropical de Investigación
y Enseñanza – CATIE, Costa Rica
Objetivo Definir os níveis ou a intensidade do uso que podem ser tolerados
em uma determinada área sem causar impactos ao ambiente.
Conceitos fundamentais
(CIFUENTES, 1992 e AMADOR et al, 1996)

A metodologia de capacidade de carga turística calcula o número de visitas que uma área
específica pode receber por dia sem causar impacto ao ambiente. Surgiu na Costa Rica como
54 uma resposta à necessidade de controlar o uso recreativo em áreas protegidas da América
Latina. Parte do princípio que o procedimento de determinação da capacidade de carga turística
em áreas protegidas de países em desenvolvimento deva considerar:
• A carência de pessoal capacitado;
• A falta de capacidade de manejo;
• A insuficiência de informação e
• A dificuldade de acesso a sistemas e equipamentos de inovação tecnológica.
De acordo com Cifuentes (1992), a capacidade de carga não é um fim em si mesma e nem
a solução dos problemas de visitação de uma área protegida. Ela é, essencialmente, uma
ferramenta de planejamento para apoio a decisões de manejo. Considera que qualquer
determinação de capacidade de carga deve basear-se nos objetivos de manejo da unidade,
pois eles indicam os usos que a área pode ter e se é mais ou menos aberta a atividades de
visitação. Além disso, a capacidade de carga deve ser calculada para cada lugar de uso público,
separadamente, e o valor das capacidades de carga de cada um destes locais não se constitui
na capacidade de carga total para a área protegida.
Outro conceito relevante na metodologia é denominado “limitação crítica”, que se constitui
em fatores que condicionam a capacidade de carga de um determinado local de visitação na
UC. Ou seja, por mais que o lugar em questão suporte uma quantidade maior de visitas, um
fator como a carência de água, poderia levar o gestor a reduzir muito a quantidade de visitas
permitidas na área. Isso também se aplica se vários lugares, como praias, são conectados por
trilhas formando um único complexo ou só têm um acesso. Neste caso, a capacidade de carga

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seria determinada pelo lugar com menor capacidade de carga real, partindo do princípio que
isso evitaria uma sobrecarga sobre alguns locais.
Para a definição da capacidade de carga, devem ser feitos três tipos de cálculos interdependentes:
capacidade de carga física, capacidade de carga real e capacidade de carga efetiva.
Capacidade de carga física (CCF) - relação entre o espaço disponível e a necessidade de espaço
requerido por cada visitante.
CCF=V/a x S x t
V/a = visitante/área ocupada
S= superfície disponível para uso público
t= tempo necessário para executar a visita
Pressupostos:
• 1 pessoa requer geralmente 1m2 para mover-se livremente;
• A superfície disponível será determinada pela condição do lugar avaliado (em caso de
trilhas, as limitações de espaço são dadas pelo tamanho dos grupos e pela distância que,
por prudência, um grupo deve ter em relação ao outro);
• O fator tempo é condicionado ao horário de visita e ao tempo que se necessita para visita
o lugar.
• Nos cálculos, Cifuentes recomenda considerar o atributo “visitas/tempo/lugar” ao invés 55
de “visitantes/tempo/lugar” porque interessa considerar a presença de uma pessoa em
determinado lugar em certo momento para medir o impacto. Deste modo, parte-se do
princípio que se o mesmo visitante passar repetidamente por um certo local, o impacto
também se repetirá.
Capacidade de carga real (CCR) – limite máximo de visitas definido a partir da correção /
redução da CCF em razão de condições/limitações biofísicas e sociais da área.
CCR=(CCF-FC1) - ....FCn
CCR= CCF x (100-FC1)/100 x (100-FC2)/100 x (100-FCn)/100
• FC é um fator de correção expressado em porcentagem.
• Cada lugar analisado tem fatores de correção específicos que não são necessariamente
iguais para outros lugares. Este é um dos motivos que justifica a CC de uma área protegida
necessitar de cálculos diferentes para cada espaço de visitação.
FC=Ml/Mt x 100
FC= fator de correção
Ml= magnitude limitante da variável
Mt= magnitude total da variável
Capacidade de carga efetiva (CCE) – é o limite máximo de visitas permitidas, em função da
capacidade de ordená-las e manejá-las. Obtém-se comparando da CCR com a capacidade de
manejo da unidade (CM). Para isso, é necessário conhecer a capacidade de manejo mínima e
indispensável e conseguir determinar a qual porcentagem ela corresponde da CM existente.
Assim a CCE será calculada por:
CCE= CCR x CM/100
• CM= porcentagem da capacidade de manejo mínima
Para cálculo da CM, considera-se variáveis como: corpo técnico, equipamentos, infraestrutura,
instalações e financiamento.
CIFUENTES (1992) recomenda ainda que seja feita a conversão de visitas/tempo para visitantes/
tempo como variável de cálculo, para facilitar a compreensão pelo público em geral (usuários e
técnicos das UC). A conversão se faz dividindo as visitas/dia (CCE) para o número de vezes que
um visitante, teoricamente, poderia visitar o mesmo lugar em um dia se entrou um e outra vez.
CCE= número total de visitas/dia / número de visitas/dia/visitante
CCE= X visitantes/dia
Além dos cálculos, a metodologia de capacidade de carga turística incorpora também o conceito
LAU – Limite Aceitável de Uso, que corresponde ao mínimo impacto aceitável considerando a
capacidade real de orçamento e controle da UC. Ou seja, se a capacidade de manejo aumentar,
o LAU também pode ser incrementado, possibilitando ajustes na CCE de acordo com a dinâmica
da área. Entretanto, a CCE nunca poderá ser maior do que a CCR, mesmo que a capacidade de
manejo ultrapasse seu nível ótimo.
O conceito de capacidade de carga deve ser dinâmico e relativo, pois depende de variáveis
relacionadas a valores humanos que, dependendo das circunstâncias, podem variar
56 consideravelmente. Isso obriga o gestor da área a fazer revisões periódicas como parte de um
processo de ajustes e planejamento permanente das ações de manejo.

Etapas de aplicação da Capacidade de Carga Turística -


1 - Análise de políticas sobre turismo e manejo de áreas protegidas em nível nacional, regional
e local;
2 - Análise dos objetivos da área em questão, os quais têm estreita relação com a categoria
de manejo;
Questões chave:
• O uso público da área protegida é coerente com os seus objetivos de manejo?
• Os níveis de uso permitidos estão apropriados aos objetivos?
• As projeções e tendências do uso público no local e de outras atividades poderiam ocasionar
conflitos com os objetivos primários da área, reduzindo sua categoria de manejo? A
categoria atual é apropriada à área?
3 - Análise da situação áreas de uso público, dentro da unidade avaliada e seu zoneamento;
Questões chave:
• O zoneamento da unidade está adequado, contribuindo para alcance dos objetivos de
manejo?

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• As zonas de uso público são suficientes e forma corretamente identificadas?


• O uso atual ou o que se planeja dar as áreas é apropriado? Como evitar ou eliminar os
conflitos existentes?
• Quais mudanças no zoneamento são necessários para ajustá-lo às condições reais da
unidade?
4 - Definição, fortalecimento ou mudanças de políticas e decisões a respeito da categoria de
manejo e do zoneamento da área;
• Como proceder para que a área avaliada ocupe o lugar que lhe corresponde no contexto
analisado?
• Que mudanças são necessárias nas diretrizes gerais e nas práticas de manejo? Como
fazer para que responde de forma exitosa às expectativas?
5 - Identificação de fatores/ características que influenciam em cada espaço de uso público;
Trata-se do conhecimento detalhado a respeito da qualidade, a quantidade e do estado dos
recursos de cada lugar destinado ao uso público, além de avaliar a fragilidade e a vulnerabilidade
destes recursos. As características físicas de cada local são distintas e, por isso, a CC é
calculada individualmente.
6 - Determinação da capacidade de carga de cada um dos espaços utilizados para uso público;
Ao término dos cálculos, devem ser fornecidas conclusões e recomendações para o manejo
da visitação na área. 57
Na revisão da CC em 1996, Cifuentes e colaboradores sugerem que sejam definidos indicadores
de monitoramento de impactos recomendados por outras metodologias como LAC e VIM para
monitoramento periódico e contribuição na correção da capacidade de carga.

LAC - Limite Aceitável de Câmbio

Ano de publicação: 1985


Autor/organização e local: Stankey et al, Estados Unidos da América
Objetivo: Melhorar o manejo da visitação em áreas naturais e partir do
foco no alcance de objetivos, das condições desejadas e do uso
aceitável.
Conceitos fundamentais
(McCool, 1996 e Takahashi, 1997)

O LAC foi criado a partir de críticas e de aperfeiçoamentos ao conceito inicial de capacidade


de carga baseado no manejo de pastagens. Estudos e experiências realizados, nos anos 1970
e início da década de 1980, mostraram que o equívoco principal da metodologia de capacidade
de carga foi o de considerar a quantidade de visitantes de um local como o fator chave para os
impactos aos recursos. O cerne da análise era responder: “Quantos são demais?” Entretanto,
os estudos e experiências mostraram que muitos dos problemas dos usos recreativos ocorriam
em função do comportamento dos visitantes não do número de pessoas. Deste modo, o LAC
se contrapõe a essa abordagem e considera que o foco dos gestores deve ser em alcançar
os objetivos para os quais a área foi criada, se perguntando: “Quais condições dos recursos e
sociais são apropriadas e como alcançar essas condições?”
Os princípios que fundamental o LAC são:
1. O manejo adequado depende dos objetivos da Unidades de Conservação.
2. A diversidade dos recursos e das condições sociais é inevitável e pode ser desejável.
3. O manejo é conduzido para influenciar as mudanças produzidas pelo ser humano.
4. Os impactos sobre os recursos e as condições sociais são consequências inevitáveis da
utilização humana. Qualquer ação humana tem algum nível de impacto que não depende
somente do número de pessoas num determinado lugar. Um grupo de 5 pessoas desordeiras
pode ser muito mais impactante do que um grupo de 20 pessoas tranquilas e respeitosas. A
questão a se perguntar é: “Quanto impacto é aceitável nesta área?”
5. Os impactos podem ser descontínuos temporalmente ou em relação ao espaço.
6. Muitas variáveis influenciam a relação uso/impacto.
7. Muitos problemas de manejo não dependem da densidade de uso.
8. Limitar o uso é apenas uma entre várias opções de manejo.
9. O monitoramento é fundamental para o manejo efetivo.
10. O processo de tomada de decisão deve separar decisões técnicas de julgamentos de valores.
11. O consenso entre grupos afetados sobre as ações propostas é necessário para o sucesso
58 das estratégias de manejo. A participação de diferentes atores na tomada de decisões é fator
chave para que as pessoas compreendam a importância de determinada ação de manejo.

Etapas de aplicação do LAC


1 - Identificar valores, questões e interesses especiais na área;
2 - Identificar e descrever classes de oportunidades;
3 - Selecionar indicadores das condições sociais e dos recursos;
Indicadores são elementos específicos utilizados para mensurar as variações nas condições
sociais ou dos recursos. Em geral, são necessários diferentes indicadores para medir as
condições de determinada área.
4 - Inventariar os recursos e as condições sociais existentes;
O inventário é feito a partir dos indicadores definidos na etapa 3 e serve de referência para
verificação da eficácia das ações de manejo.
5 - Definir padrões para os indicadores biofísicos e sociais para cada classe de oportunidade;
Estabelecimento dos níveis máximos admitidos na mensuração dos indicadores para cada
classe de oportunidade. Os padrões são a referência dos limites aceitáveis de câmbio e devem
especificar a extensão das condições aceitáveis, de forma realista e alcançável, para cada
classe de oportunidade.
6 - Identificar alternativas para as classes de oportunidades;

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Trata de identificar as diferentes possibilidades para o manejo para cada classe de


oportunidades. São utilizadas informações das etapas 1 e 4 e recomenda-se que os gestores
envolvam o público para dialogar sobre como conciliar interesses, valores e oportunidades
recreativas.
7 - Identificar ações de manejo para cada alternativa
Neste momento, são comparadas as condições inventariadas com os padrões dos indicadores
e levantadas as ações necessárias para alcançar as condições sociais e de recursos desejadas
para cada alternativa da etapa 6. De forma participativa, o planejamento deve considerar o
custo e o benefício das ações propostas e as condições de implementação.
8 - Avaliação e seleção da alternativa preferida
A avaliação das alternativas requer a análise de critérios que têm relação com os custos, a
real capacidade de implementação das ações e os interesses do público. Assim, cidadãos e
gestores devem realizar um processo claro e transparente na tomada de decisão.
9 - Implementar ações e monitorar as condições
Uma vez selecionada a alternativa, programa de monitoramento é elaborado e as ações
são implementadas. O monitoramento deve criar meios para comparar a mensuração dos
indicadores aos padrões estabelecidos. A avaliação dessa informação contribui para analisar
a evolução das condições dos recursos e sociais e o êxito das ações de manejo. Ao se verificar
a deterioração de determinada condição, torna-se necessário o aumento do esforço de manejo
e a implementação novas ações. O monitoramento no LAC é um processo contínuo. 59
As etapas do LAC fazem parte de um processo cíclico e dinâmico que envolve participação e
aprimoramentos constantes, como sugere a figura a seguir.
Ciclo de etapas do LAC

Fonte: Takahashi, 1997 (adaptado pela autora)


VERP – The Visitor and Resource Protection Framework (Ferramenta para proteção
da visitação e dos recursos)

Ano de publicação: 1997


Autor/organização e Department of Interior - National Park Service, Estados Unidos da
local: América
Objetivo: Criar uma ferramenta de planejamento e manejo focada nos impactos
da visitação na experiência dos visitantes e nos recursos naturais da
área protegida. Esses impactos são principalmente atribuíveis ao
comportamento dos visitantes, níveis de uso, tipos de uso, período do
uso e localização do uso.
Conceitos fundamentais
(NPS, 1997)

O VERP foi criado a partir de adaptações ao LAC a fim de sistematizar procedimentos que
atendessem aos parques nacionais estadunidenses. Compreende a capacidade de carga da
visitação como tipo o nível de visitação que pode ser acomodado enquanto mantém, de forma
aceitável, as condições dos recursos e as condições sociais que complementam o propósito
de um parque.
Os princípios e os elementos chaves do VERP guardam a lógica do LAC relacionados a definição
de condições desejadas da qualidade dos recursos naturais e da experiência do visitante, o
estabelecimento de indicadores da qualidade da experiência e das condições dos recursos, a
60 definição de padrões que indicam as condições mínimas aceitáveis e o desenvolvimento de um
processo de monitoramento para determinar quando uma ação de manejo precisa ser tomada
para manter os padrões e o desenvolvimento de ações de manejo.
Especial destaque é oferecido pelo VERP em relação aos indicadores de qualidade da
experiência e de verificação das condições dos recursos naturais. Os indicadores de recursos
mensuram os impactos da visitação nos recursos biológicos, físicos e culturais da unidade. Os
indicadores sociais mensuram os impactos da visitação na experiência dos visitantes. Além
de indicadores, deve-se definir padrões que são as condições mínimas aceitas na mensuração
de cada indicador. Os indicadores e os padrões devem ser estabelecidos com muito cuidado e
clareza. A seguir os principais fatores a serem considerados nesta definição são abordados.
As quatro principais fontes de informação para o estabelecimento de indicadores são: literatura
científica; resultados de pesquisas científicas realizadas na UC; a opinião dos visitantes; e a
opinião dos gestores da unidade.
Bons indicadores devem os seguintes atributos:
• Específicos (solidão versus número de encontros com outros grupos por dia em trilhas);
• Objetivos (número de impactos severos em áreas de acampamento X número de áreas de
acampamento que excedem 20 m2 de solo exposto);
• Confiáveis e repetíveis;
• Relacionados diretamente aos impactos dos usos dos visitantes (nível de uso, tipo de uso,
localização do uso ou comportamento dos visitantes);

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• Sensíveis ao uso dos visitantes em um curto período de tempo;


• Resiliência – indicadores devem responder rápido às ações manejo;
• Não destrutivos ao ambiente ou à qualidade da experiência do visitante;
• Significativos, capazes de mensurar a integridade dos recursos e a qualidade da experiência
dos visitantes.
A escolha dos indicadores deve considerar a facilidade de mensuração, pouca necessidade
de capacitação para monitoramento, baixo custo para monitorar, mínima variação a outros
fatores não relacionados à visitação, capacidade de resposta em um gradiente de condições,
largo espaço de tempo para monitoramento (durante um ano ou uma temporada); ter uma
linha de base para avaliação comparativa, ou seja, ter um valor de referência no passado.
Bons padrões para os indicadores são:
• Quantitativos;
• Expressos em termos de tempo e espaço;
• Expressos em termos de probabilidade (considerar uma tolerância para que uma
determinada condição seja considerada como inaceitável);
• Orientados a impactos (não mais do que 10 encontros com outros grupos no rio por dia”
versus máximo de 20 grupos por dia flutuando no rio” – o segundo não é orientado a impactos
porque está focado no número de barcos e não de encontros. Neste caso, o indicador e o
padrão não orientariam as ações corretas de manejo); 61
• Realistas.
O plano do VERP pode incluir a descrição do processo de revisão e teste dos indicadores e dos
padrões. Uma vez testados, recomenda-se que os indicadores não sejam alterados durante o
período para qual o plano foi elaborado.
Além de indicadores e padrões, um elemento chave do VERP é o monitoramento. Deve ser
elaborado um plano de monitoramento especificando quando, onde e como os indicadores
serão monitorados. O monitoramento é compreendido como o processo sistemático e periódico
de mensuração dos indicadores de condições sociais e dos recursos. Ele cumpre três papéis
para o VERP: contribui para que os gestores dos parques saibam qual é o status das condições
sociais e dos recursos em relação aos padrões estabelecidos; possibilita que os gestores dos
parques avaliem a efetividade das ações de manejo; cria uma base que justifica as ações de
manejo implementadas.
O monitoramento muitas vezes não tem a dedicação necessária dos gestores dos parques.
Entretanto, elas são fundamentais para avaliar as ações de manejo, para antecipar problemas
e para saber se as condições de conservação e a qualidade da experiência do visitante estão
sendo alcançadas. Deve-se dar prioridade ao monitoramento onde os padrões não estão sendo
alcançados, onde as condições estão mudando rapidamente, onde atributos específicos estão
ameaçados pela visitação e onde os efeitos das ações de manejo são desconhecidas.
Etapas de aplicação do VERP
1 - Formação de uma equipe interdisciplinar para o projeto;
A equipe deve ser formada por pessoas que irão elaborar e também pelos técnicos da UC que
desenvolverão o plano. Um grupo de consultores com diferentes experiências e especialidades
podem ser necessários para participar da equipe. É fundamental definir as responsabilidades
dos participantes do grupo, incluindo um coordenador.
2 - Desenvolvimento de uma estratégia de envolvimento do público;
O VERP pressupõe o desenvolvimento do planejamento de forma participativa envolvendo
visitantes, pessoas do entorno da unidade, organizações envolvidas com a área, empreendedores
locais. Deste modo, uma estratégia de envolvimento deve ser estabelecida no início do processo.
3 - Identificação do objetivo da unidade, sua declaração de significância, dos principais temas
interpretativos da área e das restrições/pressupostos do planejamento;
Estes elementos formam a base na qual o VERP atua, pois os outros passos os têm como
referência. Caso eles não estejam estabelecidos, o trabalho com VERP deve ser descontinuado
até que estes elementos estejam definidos, articulados e claramente compreendidos.
4 - Análise dos recursos da área e das atividades de visitação existentes;
Este elemento tem como objetivo prover à equipe de planejamento um entendimento
comum sobre os recursos naturais, históricos, sociais e culturais do parque e diagnosticar
as experiências recreativas dos visitantes existentes. Os produtos desta etapa devem ser
documentados. As três principais análises da etapa 4 são descritas a seguir:
62
Análise experiencial dos recursos
Envolve a elaboração de um mapa do terreno com a identificação dos principais atributos
físicos, biológicos,culturais e históricos da área. Em seguida, são estabelecidas unidades de
paisagem com os atributos que as caracterizam. A partir das unidades de paisagem é feita uma
descrição das qualidades experienciais que a área tem e feito um agrupamento de áreas com
características e potenciais de experiências recreativas similares em áreas de oportunidades.
As áreas de oportunidade não ficam restritas às atividades de visitação já existentes na
unidade. É muito importante entender como os recursos naturais se correlacionam com as
experiências recreativas, independente da infraestrutura existente. Uma vez definidas as áreas
de oportunidades são descritas as oportunidades de visitação potenciais de cada uma delas.
As unidades de paisagem e as áreas de oportunidades são descritivas, não ferramentas para
o zoneamento da unidade.

Análise dos usos e das facilidades existentes


O objetivo desta análise é documentar as experiências de visitação existentes atualmente na
unidade, com o registro do que as pessoas estão fazendo, onde, como estão utilizando as
diferentes áreas da UC e quais facilidades e infra-estruturas existem. Também devem ser
identificados os principais atrativos, as áreas mais freqüentadas e os “hot spots” da visitação na
unidade. Uma informação importante a ser coletada nesta análise é a quantidade de pessoas
que visita determinado lugar em certo momento.

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Análise da sensibilidade dos recursos naturais


O objetivo desta análise é identificar a as ameaças aos recursos naturais e a sensibilidade
dos recursos ao uso humano da área e a mudanças ambientais. Isso ajuda a equipe de
planejamento a definir potenciais zonas de manejo como forma de minimizar conflitos entre
visitação e proteção dos recursos naturais.
5 - Estabelecimento do potencial conjunto de experiências e oportunidades de visitação e
condições biofísicas (descrição de zonas de manejo potenciais)
O objetivo do elemento 5 é determinar que tipo de condições dos recursos, de manejo e quais
oportunidades de experiências de visitação deveriam existir na UC. Este elemento insere a
perspectiva propositiva das condições futuras da unidade no processo do VERP. Até então o
trabalho foi o de documentar e diagnosticar condições existentes.
Um dos princípios fundamentais deste elemento é contemplar uma diversidade de
oportunidades recreativas na unidade, de modo que diferentes expectativas dos visitantes
possam ser atendidas minimizando conflitos de interesses e atender melhor o público que
visita a área. O VERP busca uma abordagem preventiva, pró-ativa e propositiva considerando
quais oportunidades recreativas devem ser disponibilizadas, quais são os principais atributos
destas experiências, quanto de espaço deveria ser disponibilizado para os diferentes tipos de
visitantes e experiências e onde na unidade as oportunidades recreativas devem acontecer.
Nesta etapa, são definidas zonas de manejo considerando:
• As condições dos recursos; 63
• As condições sociais;
• Tipos e níveis de visitação;
• Tipos e nível de desenvolvimento da unidade;
• Tipos e nível de atividades de manejo.
Uma zona de manejo pode contemplar diferentes experiências recreativas. Conhecer a
opinião do público sobre a suas necessidades e desejos quanto à visitação na unidade é muito
importante. Realizar reuniões participativas com diferentes atores envolvidos ou a aplicação
de questionários são ferramentas que contribuem nesta tarefa. Um fator importante ter foco
nas experiências a serem proporcionadas e não nas atividades a serem realizadas em cada
zona.
6 - Alocação geográfica das potenciais zonas de manejo na área da UC
O trabalho de definição de geográfica das zonas de manejo requer a síntese das informações
levantadas nas etapas anteriores. Recomenda-se que cada área destinada à visitação seja
incluída em apenas uma zona para facilitar as ações de manejo. O zoneamento deve considerar
o planejamento de condições desejadas no futuro e não nas existentes. Caso contrário, tende-
se a manter um estado atual, não contribuindo para que os gestores solucionem os atuais ou
futuros impactos. Para o zoneamento, devem ser definidos critérios, realizar um processo
participativo e documentar todo o processo. Além disso, devem ser consideradas os usos da
terra existentes no entorno da unidade, para que, se possível, o zoneamento seja compatível
com os usos destes locais. Não há área mínima para determinar uma zona. As zonas podem
ser representadas no mapa como polígonos, corredores ou linhas dependendo dos atributos
naturais, das experiências recreativas e das estratégias de manejo.
Além do zoneamento, nesta etapa deve-se analisar se existem diferentes visões ou concepções
para as condições futuras da unidade que necessitem ser consideradas e determinadas
como alternativas. Normalmente, a necessidade de definir alternativas surge quando não há
consenso da equipe sobre um determinado atributo do planejamento. Vale considerar que as
alternativas podem ser formadas em diferentes momentos do processo VERP.
7 - Seleção de indicadores e estandartes específicos para cada zona e desenvolvimento de um
plano de monitoramento
Esta etapa do processo tem o propósito de selecionar características ou condições mensuráveis
(indicadores) que reflitam os status das condições naturais e das experiências dos visitantes
e estabelecer níveis de referência, de modo que a equipe da UC possa avaliar se as condições
ambientais e sociais estão nos níveis aceitáveis e realizar ações de manejo se forem necessárias.
8 e 9 - Monitoramento dos indicadores sociais e das condições dos recursos & Desenvolvimento
de ações de manejo
As últimas duas etapas consistem na execução do monitoramento, na avaliação dos resultados
aferidos em relação ao padrão e à implementação de ações de manejo. O processo de
monitoramento deve ser documentado para gerar um histórico para a gestão.
As ações de manejo devem buscar atuar nas causas de porque as condições dos indicadores
estão se deteriorando. Os gestores devem utilizar um rol de estratégias para responder ao
impacto verificado para que sejam atacadas diferentes dimensões do problema.
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Exemplos de estratégias que podem ser usadas para responder aos impactos de atividades recreativas:
• Aumento das oportunidades recreativas, das áreas disponíveis e da infraestrutura e dos
equipamentos para acomodar a demanda;
• Redução do número de visitantes em áreas específicas ou em toda a unidade;
• Modificação das características dos usos controlando onde eles ocorrem, quando e tipo de
uso e como os visitantes se comportam;
• Alteração das expectativas dos visitantes e atitudes;
• Modificação da base de recursos aumentado a durabilidade do recurso ou mantendo/
reabilitando o recurso.
Para aplicar estas estratégias, diferentes ações podem ser realizadas classificadas em cinco categorias:
• Manejo in loco (redesenho de trilhas, uso de barreiras de vegetação, fechamento de áreas);
• Racionamento e distribuição do uso (solicitar reservas, política de quotas, sorteio, critérios
de elegibilidade, aumento do custo);
• Regulação (definição da localização ou do tempo das visitas, de atividades, comportamento
dos visitantes ou equipamentos necessários);
• Dissuasão e execução (placas, sanções, atuação da fiscalização);
• Educação ambiental (informar, estimular atitudes e usos adequados e desestimular outros etc).

Instituto Chico Mendes de


Conservação da Biodiversidade
ROTEIRO METODOLÓGICO PARA MANEJO
DE IMPACTOS DA VISITAÇÃO

VIM – Visitor Impact Management (Gerenciamento do Impacto da Visitação)

Ano de publicação: 1990


Autor/organização e Graefe et al., 1990 U.S. National Parks and Conservation Association’s,
local: Estados Unidos da América
Objetivo: Reduzir ou controlar os impactos indesejáveis do uso humano que
ameaçam a qualidade e as oportunidades recreativas em contato com
a natureza.
Conceitos fundamentais
(Graefe et al., 1990)

O VIM originou-se dos princípios e da lógica do LAC, já apresentados anteriormente. É uma


sistematização metodológica mais objetiva e simples do que o VERP que se propõe enfrentar
impactos específicos dentro de um plano estabelecido. Assume que os objetivos de manejo já
estão determinados, mesmo que não tenham sido claramente explicitados.
Essa metodologia envolve três condicionantes básicos:
1- Identificação de impactos não aceitáveis da visitação;
2 – Determinação dos potenciais fatores causais que afetam a ocorrência ou a severidade dos
impactos não aceitáveis;
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3-Seleção de estratégias de manejo potenciais para mitigação dos impactos não aceitáveis.

Etapas de aplicação do VIM


1 - Revisão da base de dados para determinar as condições atuais.
2 - Revisão dos objetivos de manejo.
3 - Seleção de indicadores chaves de impacto.
4 - Seleção de padrões para os indicadores chaves.
5 - Comparação dos padrões com as condições existentes. Se uma discrepância for encontrada,
seguem-se os próximos passos:
6 - Identificação das prováveis causas dos impactos.
7- Identificação de estratégias de manejo.
8 - Implementação das estratégias escolhidas.
Esses passos são seguidos de um processo cíclico de monitoramento.

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