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Monitorização da Performance de Parques Eólicos

Hélder Carvalho, Paulo Pinto, Ricardo Guedes, Miguel Ferreira

Megajoule – Consultoria em Energias Renováveis, Lda.


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Resumo:

Até aos dias de hoje, pouco tem sido feito no que consta à monitorização global da performance de
parques eólicos. A variabilidade e intermitência do funcionamento dos aerogeradores torna
especialmente complicada a identificação de problemas e a optimização da exploração. Casos como
avarias ou mau funcionamento, depreciação da curva de potência, controlo de pitch e yaw ineficientes,
entre outros, raramente são antecipados e muitas vezes apenas tardiamente detectados.

Quando analisados cuidadosamente, os parâmetros existentes no sistema logístico de registo de dados


(SCADA) pode fornecer informação bastante esclarecedora do funcionamento de um parque eólico.

O estudo que se apresenta neste artigo propõem-se a investigar o uso dos registos do sistema logístico
de registo de dados (SCADA) de um parque eólico para acompanhar o seu desempenho global. O
princípio que se pretende aplicar baseia-se na pesquisa e identificação de cenários de referência, ditos
“assinaturas digitais”, compostos por relações simples entre parâmetros básicos da operação do
parque. Cada “assinatura” deverá representar o funcionamento habitual ou expectável do parque, pelo
que, mediante a comparação com os resultados de exploração on-line da central se poderão identificar
tendências, desvios e discrepâncias. Estas indicações serão indiciadoras de alterações no
comportamento do parque, possivelmente manifestações de problemas na sua operação.

Pretende-se testar um diverso conjunto de parâmetros e relações, de forma a encontrar as mais


relevantes como “assinaturas digitais” do parque. Procurar-se-á também avaliar o peso de aspectos
como descontinuidades no funcionamento do parque, resolução temporal dos registos, entre outros, na
melhor definição de referências.

Como objectivo, pretende-se desenvolver um procedimento ou ferramenta de fácil utilização e


compreensão, que permita um acompanhamento expedito da exploração de parques eólicos e do seu
comportamento.

Palavras chave: Performance, monitorização, SCADA.

Introdução:

A variabilidade das características climatéricas - intensidade e orientação do vento, temperatura do ar,


pressão atmosféricas – tão relevantes quer numa escala anual quer numa escala de apenas poucos
minutos, torna especialmente complicado o acompanhamento do desempenho. Por outro lado, as
características de intermitência do funcionamento dos aerogeradores - casos da histerese do arranque e
corte das turbinas – bem como a não-linearidade da resposta em potência, em relação à velocidade
incidente no rotor, torna a avaliação qualitativa da exploração de centrais eólicas mais difícil que para
centrais convencionais.
Identificar e representar comportamentos padrão do parque eólico, definidos por determinados
parâmetros, pode ser uma resposta no sentido da simplificação e clarificação da análise da sua
exploração. Estes podem ser obtidos, em primeira-mão, directamente da análise da da informação
disponível através do sistema de aquisição de dados – SCADA. Relações entre a potência produzida
pelos vários aerogeradores, orientação e velocidade de vento na nacelle, velocidade e potência
(obtenção da curva de potência do aerogerador), entre outras comparações podem demonstrar uma
tendência para se manterem constantes ao longo do tempo.

Estas relações quando analisadas convenientemente podem ser descritas como “assinatura digitais”
que representam o comportamento esperado do parque, e logo as condições que este se deve encontrar
durante o seu funcionamento normal e expectável. Mudanças ou tendências numa “assinatura”
previamente obtida estão directamente ligadas à mudança de performance de um parque eólico e
podem alertar o operador para a necessidade de uma intervenção.

Este artigo apresenta o princípio que se pretende estudar e aplicar, expondo a metodologia geral e
como esta irá ser implementada e testada, com dois casos reais. Expõem-se já algumas conclusões e
considerações derivadas do trabalho já efectuados.

A metodologia apresentada neste artigo será testada em dois parques eólicos em funcionamento em
Portugal continental.

Conceito:

Sujeitos às mesmas condições externas, uma turbina e um parque eólico, deverão responder da mesma
forma. Este é o princípio que baseia o princípio de monitorização da performance que se pretende
aplicar.

Por exemplo: será possível afirmar que, para mesmos valores da intensidade do vento, orientação,
densidade do ar (medidos na área do parque), uma turbina no interior de um parque eólico “deveria”
originar o mesmo débito de potência.

Assim, munido de um histórico de exploração completo, fiável e representativo, deverá ser possível
traçar cenários típicos ou padrão que reflectem o comportamento do parque, a partir de relações entre
os seus parâmetros principais. Convencionou-se chamar a estas relações tipo, “assinaturas digitais”.
Estas funcionam para o parque como um diapasão funciona para um instrumento musical,
possibilitando ao operador avaliar se o “tom” do parque se encontra, ou não, “desafinado”.

A figura 1 mostra uma representação esquemática das relações mencionadas assim como as variáveis
de maior importância a serem analisadas. As relações distribuem-se por 3 grupos dominantes: i)
relações entre dados das estações de monitorização e dados dos aerogeradores, ii) relações entre dados
dos aerogeradores e iii) relações entre as estações de monitorização.

Evidentemente que a identificação de desvios ao padrão típico de produção tanto poderão ser
indiciadores de desvios no comportamento, em primeiro lugar da própria turbina, mas, em segundo,
dos equipamentos de medição meteorológica. Por este facto, será necessário o cruzamento de relações
que permitam uma identificação correcta da origem dos desvios.

Usando o mesmo exemplo: caso o padrão conjunto de operação entre a turbina em causa e as turbinas
que lhe são vizinhas se mantenha dentro da respectiva “assinatura digital”,a origem do desvio deverá
estar nos sensores de medição.
TM1
AEG1 (Aerogerador 1)
(Torre de monitorização 1)

I PAEG = f (VTM) (Curva de Potência (CP))

PAEG = f (VTM, DMT) (Curva de potência por sectores)

PAEG = f (VTM, ρ) (Curva de potência normalizada)

PAEG = f (VTM,TI) (CP em função da turbulência)

VTM = f (VAEG) (Correlação de velocidades)

DTM = f (DAEG) (Correlação de direcções)

...

I II
VTM1 (Velocidade)
VAEG1 (Velocidade)
DTM1 (Direcção)
PAEG1 (Potência)
ρTM1 (Densidade do ar)
DAEG1 (Direcção) TM2
TITM1 (Intensidade de Turb.) AEG2 (Aerogerador 2)
(Torre de monitorização 2)

II
PAEG1 / PAEG2 = f (D) (Razão entre potências em função da direcção)

PAEG1 = f (PAEG2) (Correlação de potências)

DAEG1 = f (DAEG2) (Correlação de direcções)


...

III VTM1 = f (VTM2) (Correlação de velocidades)

DTM1 = f (DTM2) (Correlação de direcções)

...
I
VTM2 (Velocidade)
VAEG2 (Velocidade)
DTM2 (Direcção)
PAEG2 (Potência)
ρTM2 (Densidade do ar)
DAEG2 (Direcção)
TITM2 (Intensidade de Turb.)
III

Figura 1 – Representação esquemática da metodologia proposta

Entre outros aspectos, a escolha das “assinaturas” ideias deverá ter em conta o balanço de alguns
pontos mais importantes:

• Nº de parâmetros em cada relação (“assinaturas” bi e tri-dimensionais) – se por um lado o


aumento do número de parâmetros usados para construir uma “assinatura” aumenta a
possibilidade de obter relações mais sólidas e fiáveis, por outro, torna a processo mais
complexo e a determinação da origem do desvio mais difícil.

• Escala temporal – se por um lado a diminuição da escala temporal de análise da exploração


(tipicamente até um mínimo de 10 minutos) permite alertas mais rápidos e respostas mais
atempadas, por outro, a variabilidade dos processos de conversão (logo à partida, pela
variabilidade do clima) dificultará a identificação de “assinaturas” fiáveis.

Metodologia:

A estratégia para o desenvolvimento deste artigo está apresentada de seguida:

a) Análise dos principais parâmetros de operação de um parque eólico e escolha de possíveis


relações entre eles;

b) Testes relacionais com recurso a dados reais de exploração de parques eólicos: selecção final
das “assinaturas digitais”;

c) Aplicação da metodologia de “assinaturas digitais” a casos reais, procurando identificar


mudanças de comportamento e a sua justificação através de causas reais.

Os casos reais que irão ser estudados provêm de dois parques eólicos em funcionamento em Portugal
Continental, com cerca 7 anos de histórico de exploração. Um deles com 17 aerogeradores de 600 kW
cada, o outro com 20 aerogeradores de 500kW de potência nominal. Ambos os parques estão
equipados com duas torres de monitorização.

Problemas associados a dados de SCADA:

Todos e quaisquer problemas traduzem-se num cuidado redobrado na incorporação de registos de


histórico para a definição das “assinaturas digitais”. Escusado será referir que, a consideração de dados
errados, inconsistentes ou dessincronizados levarão à definição de assinaturas “desafinadas”.com a
realidade, sem capacidade para monitorizar o parque com fiabilidade.

Inesperadamente, os sistemas de SCADA existentes nos parques eólicos nem sempre contem
informação claramente fiável para ser analisada. Vários problemas ligados à consistência e “limpeza”
dos dados podem ser encontrados e devem ser eliminados ou minimizados antes de se proceder a
qualquer tipo de análise. Os mais importantes são os seguintes:

• Ficheiros não simultâneos;

• Inexistência de um diário de manutenção;

• Inconsistência do status de funcionamento dos aerogeradores;

• Razão de aquisição de dados com cadência inconstante;

• Dados com valores fora dos limites normais de funcionamento;

Para além destes aspectos, é importante não descurar a validade dos registos de medições, cuja
validade não é geralmente assinalada nos registos de SCADA, pelo que a validação terá de ser
efectuada antes de qualquer análise de histórico.

É também relevante prestar especial atenção ao registos relativos às gamas de funcionamento perto das
zonas de arranque e corte dos aerogeradores. Estas gamas de operação traduzem-se em grandes
descontinuidades na produção das turbinas, tornando os seus resultados dificilmente aplicáveis para a
construção de “assinaturas”.

Alguns primeiros resultados:

Algumas das análises preliminares efectuadas são apresentadas de seguida. Os resultados apresentados
referem-se a dois aerogeradores vizinhos que se encontram num parque que conta com 17 máquinas
instalados com potência nominal de 600kW.

A figura seguinte mostra a correlação de potências dos dois aerogeradores vizinhos mencionados
anteriormente. Os dados apresentados apesar de filtrados de inconsistências contam ainda com todos
os períodos de funcionamento, ou seja, os períodos de paragem, arranque e corte das máquinas estão
englobados na análise.

Figura 2 – Correlação de potências de dois aerogeradores vizinhos


Como se pode observar, existe uma boa correlação entre potências, pode-se identificar com alguma
clareza uma tendência de valores. Mesmo assim os valores de períodos de corte, arranque e paragem
das máquinas podem ser retirados de modo a que se possa obter uma relação mais fiável. A
representação dessa filtragem está representada na figura 3. Na figura 4 encontra-se um exemplo de
um possível cenário de referência.

Figura 3 – Correlação de potências filtrada Figura 4 – Cenário de referência proposto

Em seguida procedeu-se à analise da razão de potências destas duas máquinas em função da direcção
de vento, tentado assim perceber qual a influência da direcção do vento no seu funcionamento. Na
figura 5 encontra-se representada esta análise mas sem qualquer tipo de filtragem de dados para além
da filtragem de inconsistências.

Figura 5 – Razão de potências em função da direcção do vento

Nas próximas duas figuras procedeu-se a uma filtragem semelhante à da análise de correlação de
potências. Assim sendo na figura 6 encontram-se os dados filtrados e na figura 7 o cenário de
referência proposto para esta análise.
Figura 6 – Correlação de potências filtrada Figura 7 – Cenário de referência proposto

Observações finais:

Relações entre parâmetros de funcionamento do parque eólico podem ajudar a monitorizar


continuamente o desempenho do parque eólico em questão. Ao estar atento ás mudanças de padrão é
possível estar em alerta para possíveis situações de diminuição de desempenho do parque.

A metodologia para este tipo de análises foi proposta pelo autor, assim como foram referenciados
alguns dos problemas que podem ser encontrados quando se leva a cabo este tipo de análise.

Referências bibliográficas:

1. Harmain Cair (Garrad Hassan and Partners), Forensic analysis of SCADA data to understand the
performance of operational wind farms, European 2003 Wind Energy Conference & Exhibition,
EWEA, Madrid, Spain, June2003;

2. B. Smith and H. Link G. Randall and T. Mccoy, Application of Nacelle Anemometer Measurements
for Use in Turbine Power Performance Tests, Association (AWEA) WINDPOWER 2002 Conference,
Portland, Oregon, June, 2002;

3. Dahlberg, J. et. al, Is the Nacelle Anemometer an acceptable Option in Performance Testing?,
European 1999 Wind Energy Conference – Wind Energy for the Next Millenium, Nice, France, March
1999.

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